o poder da contabilidade É a contabilidade, estúpido...

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Crise Econômico-Financeira na Geração Nuclear B.MUNDIAL UNSD FMI IASB IFRS BPM6 BCB SCN IBGE IAS CPC / CVM É a Contabilidade, Estúpido! A Continuidade de Angra 3 Atualização do Padrão Técnico e de Segurança do Projeto de Angra 3 O Poder da Contabilidade

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Crise Econômico-Financeira na Geração Nuclear

B.MUNDIALUNSD

FMI

IASBIFRS

BPM6

BCB

SCN

IBGE

IAS

CPC / CVM

É a Contabilidade, Estúpido!

A Continuidade de Angra 3

Atualização do Padrão Técnico e

de Segurança do Projeto de Angra 3

O Poder da Contabilidade

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Economy and Energy – E&E – Economia e Energia 32

Normas Empresariais

Figura 3: As normas internacionais ISA (International Accounting Standard)são aprovadas pelo Comitê Diretor do IASB International AccountingStandard Board e são divulgadas e difundidas pela Fundação IFRS. Estasnormas são traduzidas e adaptadas pelo Comitê de PronunciamentosContábeis – CPC, órgão privado criado pela Resolução CFC n° CFC 1055/05e composto pelas organizações (ABRASCA, APIMEC NACIONAL,BOVESPA, Conselho Federal de Contabilidade, FIPECAFI e IBRACON). Ocaso exemplo mostrado é da IAS 36 sobre impairment “traduzida” (sempresão necessárias adaptações) pelo “pronunciamento” CPC 01. A CVM, naDeliberação 639 de 07/10/2010, aprovou e tornou obrigatória a adoção doCPC 01 para as companhias de capital aberto. Igualmente a ANEEL, naResolução normativa 605 de 19/02/2014, aprovou o Manual de Contabilidadedo Setor Elétrico – MCSE (não mostrado na figura) que também adotou oCPC 01.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEISPRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 01

REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOSCorrelação às Normas Internacionais de Contabilidade –

IAS 36 (IASB)

DELIBERAÇÃO CVM Nº 639, DE 7 DE OUTUBRO DE 2010

Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 01(R1)

Economia e Energia

N° 98, janeiro/março 2018ISSN 1518-2932 - Disponível em: http://ecen.com.br e emhttp://ecen.com (números anteriores e exemplares em inglês)

Palavra do Editor

É a Contabilidade, Estúpido!Foi uma surpresa constatar que convergiam os dois principais temas

deste número da E&E: a Crise na Eletronuclear e o Poder da Contabilidade.Isso inspirou o título desse editorial que busca chamar a atenção daimportância da Contabilidade. Parafraseamos o “É a Economia, estúpido!” dopublicitário James Carville, cuja contundente frase foi considerada a chave dasurpreendente vitória do até então pouco conhecido Governador de Arkansas,Bill Clinton, na eleição americana de 1992 sobre o Presidente Bush (pai) quevinha simplesmente de vitória na Guerra do Iraque e do desmonte da UniãoSoviética, consagrado pela queda do muro de Berlin.

A construção de Angra 3 colocou a Eletronuclear, proprietária de duasusinas em funcionamento, em situação de patrimônio negativo já em 2015.Isso aconteceu porque a tarifa futura negociada não era suficiente para cobriros custos da usina. O patrimônio negativo resulta do impairment que écalculado projetando o déficit tarifário por toda a vida da usina.

Esta situação (que ainda persiste), aliada às intervenções da Justiça ePolícia Federal no âmbito das operações Lava-Jato, levaram a interrupção dasobras em 2015. Essa interrupção gerou o vencimento de compromissos comos bancos financiadores de 55 milhões de reais que absorveriam cerca de20% de sua receita, advinda da geração de Angra 1 e 2, e inviabilizariam (ouestão inviabilizando) a continuidade da geração elétrica nuclear de formasegura. Chamamos a atenção neste número para essa grave Crise naEletronuclear.

O Brasil encontra-se mais uma vez em uma encruzilhada em relação àAngra 3. No pressuposto de que se resolva o problema operacional daEletronuclear, caberá tomar uma decisão sensata sobre terminar ou nãoAngra 3. Alguma decisão talvez ainda seja possível nesse ano eleitoral de2018 e o fórum de decisão seria o Conselho Nacional de Política Energética –CNPE.

Um aspecto fundamental nessa decisão é responder a questão se essausina, por seu longo período de construção, não estaria defasada do ponto

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de vista técnico e de segurança. A questão não é trivial uma vez queexistem equipamentos fabricados há 30 anos e projetados há 40 anos. Umbom estudo sobre a questão foi realizado pela Eletronuclear; seu resumoexecutivo é publicado nesta edição.

Apresentamos também mais um artigo, O Poder da Contabilidade quefaz parte da série de problemas levantados no Número 96 dessa revista.Chama-se a atenção para o poder dos órgãos de arrecadação sobre aeconomia das empresas. Este poder é exercido via emissão de normascontábeis que empresas (e também cidadãos) devem cumprir e é apoiado porum arsenal informático crescente que amplia seu alcance. A Lei 11.638 de2007, que modificou a Lei 6.385 de 1976, facilitou o processo de assimilaçãodas normas internacionais. No caso das empresas de capital aberto isto jáestá sendo feito via Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Isto deslocaparte do poder sobre a contabilidade das empresas para os órgãosinternacionais.

As normas que regem a contabilidade do País (Contabilidade Nacional) edo comércio exterior (Balanço de Pagamentos) já são diretamente derivadasdas internacionais. No primeiro caso, o processo de elaboração e discussão éliderado pelo Banco Mundial e, no segundo, as normas são estabelecidas peloFMI. A internacionalização das normas aplicadas na contabilidade empresarialbrasileira facilita o objetivo de estabelecer um conjunto normativo contábil paratodos os países.

Nas análises realizadas nesta revista (E&E No 96 e 97), foi mostradocomo as normas contábeis internacionais adotadas no País já apresentamimpactos sobre a contabilidade nacional e sobre o balanço de pagamentos decentenas de bilhões de dólares. O exame da crise da Eletronuclear mostrouque sua origem está vinculada a uma norma internacional contábil de recenteintrodução no Brasil. O valor do impairment é cerca de 9 bilhões de reaisnegativos, cancela o valor de Angra 1 e 2.

Com efeito, a apuração do impairment (que deu origem à paralisação deAngra 3) é prevista na norma internacional IAS 36 (de 2004); o Comitê dePronunciamentos Contábeis – CPC “traduziu” a norma internacional para ospadrões locais em seu primeiro pronunciamento CPC 01 (em 06/08/2010). ACVM (Deliberação 639 de 07/10/2010) aprovou e tornou obrigatória a adoçãodo CPC 01 para as companhias de capital aberto. Igualmente a ANEEL (naResolução normativa 605 de 19/02/2014 de aprovação de Manual deContabilidade do Setor Elétrico - MCSE) adotou o CPC 01. Uma inesperadarelação surgiu entre os dois temas abordados que leva a nos dizer: É aContabilidade, estúpido!

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ANEXO: Os Caminhos das Normas ContábeisBalanço de Pagamentos:

Figura 1: Manual BPM6 e Notas Metodológicas do Banco Central

Contas Nacionais:

Figura 2: Sistema de Contas Nacionais e Notas Metodológicas IBGE

6ª edição do Manual de Balanço dePagamentos e Posição de InvestimentoInternacional (BPM6)

ComunicadoNota Metodológica nº 1 – Estatísticas do SetorExterno – Adoção da 6ª Edição do Manual deBalanço de Pagamentos e Posição de InvestimentoInternacional (BPM6)

Nota Metodológica nº 2 – Transações correntes –Adoção da 6ª Edição do Manual de Balanço dePagamentos e Posição de InvestimentoInternacional (BPM6) - Atualizada em 23.4.2015

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suas múltiplas funções, tem agora a oportunidade de enfrentar asnovas frentes de trabalho que se apresentam.

Referências1. LEI Nº 11.638 de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivosda Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 dedezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposiçõesrelativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. [Online]http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm.

2. FEA - USP. O que é Contabilidade. FEAUSP. [Online]https://www.fea.usp.br/contabilidade/pos-graduacao.

3. Accounting in the Bible. HAGERMAN, ROBERT L. 2, Birminghan,Alabama : The Birmingham Publishing Company, 1980, Vol. 7.

4. Só Contabilidade. Biografias. socontabilidade. [Online]http://www.socontabilidade.com.br/conteudo/biografia_autores.php

5. Sena, Patrícia. Contabilidade - seu Valor "do passado ao futuro". Linquedin. [Online] fevereiro de 2016. https://pt.linkedin.com/pulse/contabilidade-seu-valor-do-passado-ao-futuro-patr%C3%ADcia-sena.

6. Conselho Federal de Contabilidade. RESOLUÇÃO CFC N.º 774/94. .Apêndice à Resolução sobre os Princípios Fundamentais de. Contabilidade.[Online] 16 de dezembro de 1994.http://app.senar.org.br/legislacao/setor_cont/res_cfc_774.pdf.

7. Carlos Feu-Alvim, Andreza Starling, Olga Mafra. Mudanças noBalanço de Pagamentos. Economia e Energia. 96, julho-setembro de 2017.http://ecen.com.br/?page_id=661.

8. International Monetary Fund. Sixth Edition of the IMF's Balance ofPayments and International Investment Position Manual (BPM6). IMF.[Online] november de 2013.http://www.imf.org/external/pubs/ft/bop/2007/bopman6.htm.

9. Banco Central do Brasil. Série histórica do Balanço de Pagamentos - 5ªedição do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição de InvestimentoInternacional (BPM5). BCB. [Online]http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/Seriehist_bpm5.asp.

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Sumário

É a Contabilidade, Estúpido! ...........................................................................1Crise Econômico-Financeira na Geração Nuclear ...........................................4

Resumo.....................................................................................................4Palavras Chave: ......................................................................................4

Resumo da situação da Geração Elétrica Nuclear no Brasil em dezembro de2017 .............................................................................................................5Bibliografia ..................................................................................................9

A Continuidade de Angra 3 ........................................................................... 10Atualização do Padrão Técnico e de Segurança do Projeto de Angra 3 ........ 13

Resumo................................................................................................... 13Palavras Chave: .................................................................................... 13

1. Introdução .............................................................................................. 142. Atualização da Base Normativa............................................................. 153. Atualização da Proteção contra Eventos Externos................................. 154. Atualização de Sistemas e Equipamentos .............................................. 155. Atualização devido a experiência internacional..................................... 166. Atualização para acidentes severos........................................................ 177. Conclusões............................................................................................. 18

O Poder da Contabilidade .............................................................................. 19Resumo................................................................................................... 19Palavras Chave: .................................................................................... 19

1. Objetivo do Trabalho ............................................................................. 192. A Contabilidade e as Influências da Matemática em seus Primórdios naEuropa........................................................................................................ 213. A Contabilidade e o Poder da Informação ............................................. 224. A contabilidade ampliou seus Poderes com a Informática .................... 235. A Contabilidade é mais Ampla que a do Dinheiro ................................ 246. A Contabilidade Nacional e Externa e suas Recentes Mudanças .......... 257. O Poder da Contabilidade e os Desafios ao Contador ........................... 28Referências ................................................................................................ 30ANEXO: Os Caminhos das Normas Contábeis ......................................... 31

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Artigo:

Crise Econômico-Financeira naGeração Nuclear

José Israel Vargas,Carlos Feu Alvim e

Olga Mafra

Resumo

A situação financeira da Eletronuclear já vinha apresentando problemas,desde 2015, com a crescente transferência de responsabilidade peloinvestimento na construção de Angra 3. Este conjunto inicial de eventosprovocaria virtual insustentabilidade da empresa no ano de 2015. Nopresente o Brasil encontra-se novamente em uma encruzilhada emrelação à Angra 3. A interrupção das obras em 2015 gerou o vencimentode compromissos com os bancos financiadores em valores de 55 milhõesde R$ que absorveriam cerca de 20% de sua receita, advinda da geraçãode Angra 1 e 2. A desestruturação do Setor Nuclear Brasileiro,considerado estratégico para a Segurança Nacional, terá gravesimplicações na estabilidade de atividades ligadas à defesa nacional.Também terá fortes impactos na independência e sustentabilidade de todoo complexo nuclear, do qual depende não só o abastecimento de energiada Região Sudeste, mas também a estabilidade do Sistema ElétricoInterligado.

Palavras Chave:

Eletronuclear, programa nuclear, geração de eletricidade, Central deAngra, Angra 3, INB, crise financeira, segurança do sistema, SegurançaNacional.

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Mais e mais melhorias em infraestrutura são necessárias paraatender, com e eficácia, os exigentes relatórios demandados pelosdiferentes órgãos públicos. Se no século XV o contador eranecessário, no século XXI ele é primordial para a existência,sobrevivência e continuidade das empresas.

Como no passado, a superação profissional, mais uma vez,abre caminho para as oportunidades de mercado para os profissionaisda Contabilidade. A base fundamental, do trabalho dos contadoresatuais junto aos clientes, é de aconselhamento e consultoria comomedidas preventivas contra irregularidades.

O profissional da contabilidade tem um duplo desafio:

Por um lado, tem que se preparar para apoiar o cliente. Nessenovo tempo, os contadores cumprem todos os prazos,aconselham seus clientes e oferecem consultoria preventiva. Asmultas são altas, sendo a base das autuações o faturamento dogoverno. Investem em suas empresas contábeis, compramsoftwares de altas tecnologias, legalizados e bem integrados. Acontabilidade do futuro tem regras editadas pela Receita Federal.A ciência social entrou no campo da ciência da tecnologiaaplicada às Leis. O versátil profissional da contabilidade, além dedominar as mais modernas ferramentas tecnológicas, deve aindaprocurar atualização constante e aprofundada de estudos legaisnos ramos em que atuam.

Por outro lado, a contabilidade passou a ser instrumento de poderna área internacional tanto no que se refere a valores monetárioscomo em outras áreas de atividade. Os profissionais dacontabilidade devem estar preparados para grandes desafios, quepodem incluir colaboração para enfrentar regras internacionaisque podem atingir a saúde econômico-financeira do País.Complementarmente, a extensão da aplicação das técnicascontábeis a outras áreas também é uma oportunidade a elesaberta.

A valorização da Classe Contábil passa certamente poralcançar a capacidade para enfrentar os grandes desafios que lheestão sendo impostos por tantas novidades políticas, econômicas etecnológicas. Esses profissionais que já merecem o reconhecimentoda sociedade, por contribuírem para o desenvolvimento do País em

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metodologia FMI, utiliza-se o valor do déficit menos o do “hiatofinanceiro”1.

Nele também passou a figurar os juros pagos por títulos derenda fixa no Brasil (novidade no BPM6), abatidas despesas com asreservas. No período de 2010 a 2014 isso resultou, conforme aavaliação do próprio BC, em um agravamento do déficit de 73,1bilhões de dólares. Houve ainda um ganho no setor serviços de 3,9bilhões de dólares sendo o resultado global sobre as transaçõescorrentes de –79,6 bilhões de dólares. Além disto, a mudança decritérios entre as duas revisões metodológicas (incorporação dostítulos de renda fixa de não residentes) fez crescer a dívida externaem 127 bilhões de dólares (dados de 2017).

7. O Poder da Contabilidade e os Desafios aoContador

Os exemplos apontados mostram claramente o poder quevem sendo exercido através da contabilidade nas mais diversasesferas de atuação tanto no nível nacional como no nívelinternacional. A Contabilidade permeia muitas outras áreas doconhecimento humano e certamente a contribuição dos profissionaisda contabilidade é sempre bem-vinda. Eugênio Staub afirma que a“Capacidade de adaptação é uma das virtudes exigidas doscandidatos à sobrevivência na economia globalizada”.

No atendimento dos clientes habituais, o contador enfrentahoje um arsenal tecnológico dos entes Federais, Estaduais eMunicipais, que já trabalham integrados, desenvolvido e custeadopelos próprios contribuintes. E, em certa medida, consideram válidoque “todos são culpados até que provem o contrário”.

As empresas contábeis são obrigadas a investir pesado paraconseguir acompanhar o ritmo frenético e alucinante em inovaçõestecnológicas. Tudo para cumprir os ritos e obrigações impostas pelosórgãos da Receita que se apoiam em um imenso poderio tecnológico.

1 Uma “pedalada” que deve fazer corar os profissionais da Contabilidade.

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Resumo da situação da Geração Elétrica Nuclear noBrasil em dezembro de 2017

Em 13 de Novembro do ano passado as direções daEletronuclear e da INB reuniram-se com o Presidente da Câmara,deputado Rodrigo Maia, para chamar a atenção sobre a gravesituação econômico-financeira da área da geração de energiaeletronuclear (1). O Diretor Presidente da Eletronuclear, LeonamGuimarães confirma que esta situação é fundamentalmente devidaaos dispêndios induzidos pelo estado em que se encontra o projeto deconstrução de Angra 3.

Os gastos com a interrupção de Angra 3 absorvem as tarifasgeradas por Angra 1 e 2, já reduzidas em valor real de 14%, pelaação ANEEL. Embora os recursos gerados sejam suficientes paramanter as duas usinas, em pleno funcionamento, a inadimplência dasresponsáveis contratuais pela construção de Angra 3 quais sejam aEletrobras e os financiamentos dos bancos BNDES e CaixaEconômica Federal, com a transferência dos encargos assumidos,tornou insustentável a situação da empresa.

De fato o não cumprimento pela Eletrobrás dos encargos,tanto o inicialmente acordado (de 20%), como o ampliadoposteriormente (de 40%), bem como daqueles de responsabilidadedos referidos bancos, em decorrência da mencionada interrupção doprojeto Angra 3, agravou-se mais ainda pelo início de cobrança pelosbancos de juros sobre os passados investimentos, atualmente em 30milhões de reais mensais (do BNDES) e que alcançariammensalmente 55 milhões de reais com a prevista incorporação dospagamentos devidos à CEF.

A situação financeira da Eletronuclear já vinha apresentandoproblemas, desde 2015, com a crescente transferência deresponsabilidade pelo investimento na construção de Angra 3. Esteconjunto inicial de eventos provocara virtual insustentabilidade daempresa no ano de 2015. Com efeito, a declaração de impairment(redução do valor de recuperação de um ativo) de 3,4 bilhões de reaisreduziu a zero, naquele ano, o patrimônio líquido da Empresa. Alémdisso, a impossibilidade da controladora Eletrobrás de aportar, comoapontado acima, recursos próprios conforme previsto em contrato

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tanto inicial como o posterior já tornara o empreendimentoproblemático. A situação do impairment poderia ter sido, em princípio,resolvida com a repactuação da tarifa de Angra 3, persistindo, noentanto, o problema do aporte de recursos próprios cujoequacionamento estava em estudo.

Isso se tornou politicamente inviável quando as operações daPolícia Federal e Justiça Brasileira com as operações “Lava Jato” e“Pripyat” atingiram membros da alta direção da Empresa.

Foi nesse quadro que se decidiu suspender a construção deAngra 3, no entanto não motivada diretamente por essas operações,mas, pela incapacidade política de equacionar os problemas jáexistentes.

A paralisação da construção de Angra 3 (2) agravou asituação como esclarece o Presidente da Eletrobras, Wilson FerreiraJr., fazendo cessar o fluxo financeiro dos empréstimos assumidos enaturalmente, acrescentadas despesas com o adiantamento dovencimento de juros já referidos e exorbitantes na conjuntura, queseriam normalmente pagos após a conclusão do empreendimento,pela geração de recursos resultantes do funcionamento de Angra 3.

Além disto, a Empresa deve arcar com a manutenção docanteiro de obras que é uma obrigação que envolve a preservação doinvestimento já realizado com a construção de Angra 3 e osrequerimentos de segurança das centrais em operação. Com aparalisação das obras, foram geradas obrigações vencidas comfornecedores, que atualmente alcançam 50 milhões de reais.

A crise atual envolve, em virtude dos encargos referidos, aprópria produção de combustível nuclear pela empresa IndústriasNucleares do Brasil – INB com a qual a Eletronuclear já reduziu seuscompromissos de pagamento de combustíveis, a partir de outubrodeste ano, face à previsível indisponibilidade de recursos. A situaçãoda INB ficou crítica, além disto, em virtude dos cortes linearesrealizados no orçamento limitarem seus gastos anuais, afetando,inclusive, a utilização dos recursos próprios gerados pela venda decombustíveis, mesmo os decorrentes de exportação.

Concretamente, embora o combustível para 2018 já estejaassegurado (3) (4), a ser mantida a atual situação, a energia elétrica

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tailandês. Assim, não haveria dupla contagem quando ele fosse“importado” da Tailândia para o Brasil.

Para completar o quadro, foi criado o conceito de extensão do“território econômico” de um país sobre as fronteiras físicas do outro.Na nova sistemática, a empresa tailandesa no Brasil passa a fazerparte do “território econômico” da Tailândia. A produção tailandesa emterritório físico brasileiro (que poderia ser água extraída dosmananciais brasileiros) seria considerada como produzida no territórioeconômico tailandês e, naturalmente, seu consumo no Brasil só épossível contabilmente através de sua “importação” da Tailândia.Naturalmente as Contas Nacionais da Tailândia registrarão aprodução, no caso suposto, de água da fonte brasileira.

O Banco Central que cuida do Balanço de Pagamentos doBrasil adotou a Metodologia PBM6 do FMI em 2016 e a aplicou aosdados de 2015 e, retroativamente, aos de 2010 a 2014. Comparou osresultados obtidos com o resultante da aplicação da versão anterior(BPM5) (9). Mesmo sem nenhuma mudança metodológicasubstancial, apenas variando os critérios de sua aplicação, istoresultou numa redução das exportações brasileiras e um aumento dasimportações com impacto acumulado de 10,4 bilhões de dólares noperíodo.

Mudança ainda mais importante ocorreu em relação àstransações correntes. Na nova metodologia do FMI, mesmo com oscritérios do BPM5, os reinvestimentos das companhias de capitalestrangeiro (de não residentes) no Brasil passaram a serconsiderados como investimentos externos. Notar que essasempresas, na maioria, são consideradas pelas leis brasileiras comoempresas nacionais, desde que sejam registradas no Brasil. Essesreinvestimentos resultam, portanto, de lucros auferidos em reais noBrasil de empresas consideradas nacionais. O Balanço dePagamentos foi concebido para dar, como resultado, as necessidadesde financiamento em moeda estrangeira. Para transformar essesreinvestimentos em investimentos externos foi preciso registrá-los noque se chamou de “hiato financeiro”. Para fechar as contas externas,ao invés de utilizar-se o déficit das transações correntes apurado pela

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essas contabilidades: as transações externas não são mais entrepaíses, mas entre residentes e não residentes.

Esta definição poderia levar a conclusão que não existe maiscomércio entre países, mas, entre pessoas. Ou então, poderia serconsiderada uma “nação virtual” composta por não residentes com aqual seria registrado o comércio dos residentes, com os nãoresidentes no país.

Mas não foi esta a solução adotada pelo FMI: quando umresidente nacional negocia com um “não residente” ele estánegociando com o país onde este “não residente” efetivamente reside.Ou seja, se uma empresa de brasileiros vende um produto para outraempresa cujo capital é de um residente tailandês está havendo umaexportação do Brasil para a Tailândia. Isto é válido, mesmo se oproduto permanecer no Brasil e o comércio for realizado em reais.Nota-se que o residente tailandês pode ser, inclusive, denacionalidade brasileira. Os critérios de residência permanente dopossuidor do capital são cuidadosamente definidos no Manual deBalanço de Pagamentos do FMI, agora em sua sexta edição - PBM6(8). Nada impede também que o possuidor do capital que fixa anacionalidade do importador esteja temporariamente residindo noBrasil.

O raciocínio também funciona no sentido inverso: Se aempresa do residente tailandês instalada no Brasil vende seu produtopara uma empresa brasileira (propriedade de residente no Brasil) estáhavendo uma exportação da Tailândia para o Brasil e,consequentemente, o Brasil está importando um produto feito nopróprio Brasil. As normas do FMI explicitam que isso é válido mesmoque o produto seja um recurso natural como a água, petróleo ou gásnatural e que as transações tenham sido feitas em reais.

Quem lida com contabilidade, pode claramente compreender,as dificuldades que isto gera no sistema das contas nacionais. O FMIpensou no assunto e tratou, em associação com o Banco Mundial quelidera a metodologia das Contas Nacionais, de como equacionar oproblema. Para que as contas nacionais possam “fechar” é necessárioque o produto da empresa tailandesa, fabricado no Brasil, sejaretirado da produção brasileira e passe a ser registrado como produto

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de origem nuclear poderia ter seu fornecimento suspenso a partir de2019. Este atraso pode configurar-se irreversível pela antecedêncianecessária para a fabricação do combustível.

A produção de energia nuclear é um assunto da mais altasensibilidade internacional e não pode estar sujeita a restrições quelimitem a segurança do sistema, inclusive no que concerne asegurança da população. Ressalte-se enfaticamente que problemasde fluxo de recursos nessa indústria podem provocar tragédiashumanas e ambientais de consequências imprevisíveis. O Brasil correo risco de vir a violar (ou já estar fazendo) o Protocolo da Convençãode Segurança Nuclear da qual é signatário e onde se compromete,entre outras obrigações a:

Assegurar que os recursos financeiros adequados estejamdisponíveis para apoiar a segurança de cada instalaçãonuclear ao longo de sua vida;

Assegurar que número suficiente de pessoal qualificadoesteja disponível, para todas as atividades relacionadas comsegurança para cada instalação, ao longo de sua vida.

A nomeação e o afastamento de sucessivos diretores-presidentes interinos claramente não ajudou o processo derecuperação da Empresa. A clara exposição da grave situação quevem fazendo, em diversos fora, o atual diretor-presidente LeonamGuimaraes e sua recente efetivação no cargo (5) criaram ascondições para que o Governo Federal assuma sua responsabilidadepara a urgente solução do problema.

Não fazê-lo implica desestruturar o estratégico Setor Nuclearbrasileiro resultante de mais de 60 anos de esforços, com fortesimpactos na Segurança Nacional, na independência esustentabilidade de todo o complexo nuclear do qual depende não sóabastecimento de energia da Região Sudeste, mas a estabilidade doSistema Elétrico Interligado, com graves implicações na estabilidadede atividades ligadas à defesa nacional, inclusive no que diz respeitoos compromissos assumidos em Acordos Internacionais, e à saúde dapopulação brasileira.

Claramente é necessário equacionar separadamente asituação de Angra 3, já que praticamente a totalidade dos agentes

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envolvidos está diretamente vinculada ao Governo Federal. Issopermitiria dar continuidade a geração segura de energia nuclearatravés das usinas Angra 1 e 2 com os recursos provenientes da tarifaassim auferidas.

O Setor Nuclear necessita de urgente reestruturação que ofortaleça para garantir o cumprimento das atividades de suaresponsabilidade, inclusive constitucionais. A geração de energianuclear elétrica é seu principal eixo econômico e esta reestruturaçãodeve levar em conta este amplo papel.

Recorde-se ainda que o Setor Nuclear, em todos os paísesonde essa atividade é relevante, vincula-se diretamente à alta esferado Governo Central que assume também toda responsabilidade porsua estratégia.

No Brasil, a responsabilidade pela proteção das atividades doPrograma Nuclear, bem como, da Secretaria Executiva do ComitêInterministerial que cuida do assunto está concentrada no Gabinetede Segurança Institucional, na Presidência da República.

Pode-se resumir assim as medidas urgentes necessárias:

Equacionar separadamente a situação de Angra 3 daprodução de energia por Angra 1 e 2 possibilitando autilização integral da tarifa à destinação prevista,

Complementar o orçamento da INB de maneira apossibilitar, pelo menos, o uso dos recursos da venda decombustível para assegurar a geração nuclear em 2019,

Cuidar para que sejam mantidas as condições técnicas,pessoais e financeiras para operação com mínimo risco dascentrais existentes e do canteiro de obras,

Adicionalmente é necessário tomar medidas paraequacionar problemas emergentes,

Encaminhar a decisão sobre o prosseguimento daconstrução de Angra 3 através de decisão do ConselhoNacional de Política Energética CNPE,

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Também se aplica o mesmo conceito ao controle de materiaisnucleares para evitar que eles sejam desviados para a fabricação dearmas nucleares. Para monitorar essas atividades existem órgãos daONU, nacionais e regionais que controlam essas atividades“contábeis”. Por exemplo, o Brasil é parte da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares(ABACC). Na área energética, cada país elabora seu BalançoEnergético anual onde toda a energia produzida, transformada econsumida nas empresas, unidades residenciais e locais públicos éigualmente monitorada por processos contábeis.

Essas contabilidades também se prestam ao exercício dopoder. O controle de materiais nucleares derivou diretamente dodesejo de conter a proliferação das armas nucleares, entretanto essaação decorre do desejo dos países dominantes de manterem aexclusividade no uso dessas armas. O inventário de gases de efeitoestufa serve para que países se submetam a limitações que, se nãocumpridas, podem resultar em punições ou perdas de vantagenspolíticas e econômicas.

6. A Contabilidade Nacional e Externa e suasRecentes Mudanças

O ponto nevrálgico deste artigo é, no entanto, chamar aatenção para duas contabilidades que afetam diretamente a economiados países. É a chamada Contabilidade Nacional e o Balanço dePagamentos que corresponde (ou correspondia) à contabilidade entrepaíses. Os líderes da formulação da metodologia que rege essascontabilidades são respectivamente o Banco Mundial e o FundoMonetário Internacional – FMI. Um resumo de como as normasinternacionais são internalizada no Brasil é mostrado no Anexo.

O Conceito tradicional da Contabilidade Nacional é que elareferia-se a contabilidade dentro das fronteiras físicas de um país, ouseja, no Território Nacional, dentro de seus limites físico-geográficos.A contabilidade externa se ocupava das trocas entre territórios, ouseja, através das fronteiras dos países.

Sem muito alarde, conforme exposto na referência (7), esteconceito foi mudado por norma do FMI. No novo conceito, que rege

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Hal. A partir da estreia do Hal, com um simples clique, COAF,Ministério Público, Polícia Federal e qualquer juiz têm acesso a todasas contas que um cidadão ou uma empresa mantêm no Brasil.

Este quadro mostra como a contabilidade, aliada àinformática, transformou-se em uma nova forma de exercício do poderque é muito mais amplo e atinge a um número pouco conhecido deatividades. O exercício deste poder tem escapado aos profissionaisda área, o que renova a importância do aperfeiçoamento das ciênciascontábeis e dos seus profissionais. O novo poder da Contabilidade éum desafio aos profissionais da área. É também um desafio aoexercício da Democracia, uma vez que resoluções que afetamprofundamente as vidas dos cidadãos têm sido tomadas fora do seuconhecimento e quase sem nenhum controle da Sociedade.

5. A Contabilidade é mais Ampla que a do DinheiroAo abordar o poder associado à Contabilidade, devemos

começar por lembrar que ela não envolve apenas valores monetários,nem se restringe a pessoas físicas e empresas ou outras entidadesjurídicas, públicas e/ou privadas. Existe a Contabilidade Nacional queenvolve todas as atividades de um país e a Contabilidade Externa ouBalanço de Pagamentos que se refere (ou se referia) às transaçõesentre países cujos conceitos estão em fase de mudança.

Além disso, a contabilidade, que parece ter nascido paraavaliar rebanhos, continua a ser usada para isso. Entretanto, ela seaplica também a frota de veículos, estradas, movimento aéreo, cargastransportadas, população, residências, doenças, pragas e a um semnúmero de assuntos que se enquadram ou não na contabilidade devalores monetários.

Com ligeiras adaptações, as técnicas contábeis aplicam-se,por exemplo, à avaliação das emissões de gases causadores deefeito estufa, de imensa importância, para o futuro do planeta. Acontribuição de cada país para a emissão dos diversos gases écontabilizada. Para cada gás se atribui um valor (como o preço nacontabilidade monetária) em unidades de equivalente a gáscarbônico. Fluxo e estoque desses gases são avaliados para sededuzir o esperado efeito sobre o aquecimento global. Este controletambém está sendo feito a nível empresarial.

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Iniciar a reestruturação do Setor Nuclear para impedir suadeterioração administrativa e técnica e aproveitar suaspotencialidades e oportunidades comerciais, facilitando aparticipação do setor privado e a operação dos organismosdo Estado nas tarefas de sua responsabilidade,

Reunir os elementos para a formulação de uma políticanuclear de longo prazo, coerente com a importânciaestratégica dos assuntos do Setor.

Bibliografia

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2. Pamplona, Nicola. Parada, Angra 3 dá prejuízo adicional deR$ 30 milhões por mês à Eletrobras. UOl Folha de São Paulo.[Online] 14 de novembro de 2017.http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1935328-parada-angra-3-da-prejuizo-adicional-de-r-30-milhoes-por-mes-a-eletrobras.shtml.

3. Petronoticias. INB recebe aporte de R$ 190 milhões quegarante o abastecimento de combustível para Angra 1 eAngra 2. Petronoticias. [Online] 04 de janeiro de 2018.https://petronoticias.com.br/archives/107162.

4. Luna, Denise. Governo faz aporte de R$ 190 mi para garantirabastecimento de usinas de Angra em 2018. Estadão.[Online] 04 de janeiro de 2018.http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,governo-faz-aporte-de-r-190-mi-para-garantir-abastecimento-de-usinas-de-angra-em-2018,70002138572 .

5. Petronotícias. Governo acaba a interinidade e confirmaLeonam Guimarães como presidente da Eletronuclear.Petronoticias.[Online] dezembro de 20 de 2017.https://petronoticias.com.br/archives/106678.

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Opinião:

A Continuidade de Angra 3Mais uma vez coloca-se a questão sobre dar prosseguimento ou

não de Angra 3. Tem sido lembrado que Angra 3 é importante para ofuturo da energia nuclear no Brasil. Uma boa contribuição para o debatefoi dada pelo professor Aquilino Senra em recente artigo “Desmonte dosetor nuclear exclui Brasil do jogo no mercado global”. Justamente porqueAngra 3 tem essa relevância, deve-se cuidar que o arranjo institucional efinanceiro, a ser encontrado, não sacrifique esse futuro.

Várias questões estão sendo (re)colocadas, a predominante ésobre sua viabilidade econômica. Como primeiro passo, é útil admitir que,aplicando juros de 7% ou 5% ao ano, não é possível pagar o custo totalhistórico de uma obra, com duração superior a 40 anos1. Por isso, as

1 Início das obras civis em 1984, interrompidas em 1986, reiniciadas em 2007e novamente interrompidas em 2015, primeiros equipamentos encomendadosem 1975.

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sociedade e, por sua vez, exercem influência sobre ela com suasdecisões. Torna-se assim a contabilidade uma ciência envolvidano contexto geral da sociedade, sendo, como já foi aquilembrado, uma ciência social.

A contabilidade, aliada à informação, que é produzida pormeio de seus relatórios e instrumentos financeiros, principalmente nospontos citados, reforça seu poder com o da informação. O poder dacontabilidade não se restringe somente em orientar onde decidirinvestir, ou meramente, liberar linhas de créditos, vai além atingindo adecisão de importar ou exportar, bem como, de permitir a participaçãoem processos licitatórios. O poder de fazer provas judiciais, porexemplo, pode inclusive restringir a liberdade, entre outros. Fica claroque o poder da informação contábil, expressa em relatóriosfidedignos, pode muito por seus efeitos.

4. A contabilidade ampliou seus Poderes com aInformática

Os estreitos laços com a ciência dos números sãoresponsáveis, também, pelo grande impacto que tem o progresso dainformática sobre a prática contábil moderna. Hoje não são mais oscontadores “cientistas de números e cálculos”. Aqueles profissionais,especializados em contabilidade simples e pura, partidas dobradas,pesquisadores do estudo do patrimônio, estão em extinção. Asvertentes da tecnologia e a busca contínua pelo aumento daarrecadação dos governos transformaram esses profissionais emverdadeiros “infomaníacos”, guardando pouca relação com osaspectos científicos de sua disciplina.

Este domínio das atividades dos contadores visando atendera normatizações, no caso do Brasil, emanadas principalmente daReceita Federal e do Banco Central, pode ser descrito como o poderda Receita submetendo cidadãos, empresários e contadores a seucontrole (4). Com efeito, o poder arrecadador acrescentou à ReceitaFederal uma nova ferramenta o T-Rex, um supercomputador que levao nome do “Tiranossauro Rex”, e o software Harpia, ave de rapina,que teria até a capacidade de aprender com o “comportamento” doscontribuintes para detectar irregularidades. A isso se soma umpoderoso computador do Banco Central, que já está sendo chamado

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principal da contabilidade é o patrimônio, seja ele de pessoas físicasjurídicas, Estado ou Nação, visando seu controle.

3. A Contabilidade e o Poder da InformaçãoO registro das transações de uma companhia é de suma

importância para sua sobrevivência no mercado; é por meio dessasinformações que portas para negócios e oportunidades, se abrem ouse fecham. Pode-se assim dizer que, a Contabilidade é Informaçãoexpressa em números, e é por meio dessas informações que aContabilidade produz em seus relatórios financeiros, que o realpatrimônio da organização é revelado. Senão vejamos:

1. - As mutações decorrentes das operações empresariaisconstituem o único veículo que um investidor nacional ouestrangeiro tem de diagnosticar a qualidade de vida e a saúdefinanceira de uma empresa;

2. - É um meio também, pelo qual toda a empresa fica registrada demodo a ser avaliada no passado, presente e futuro, para que setenha conhecimento do seu progresso, estagnação financeira ouretrocesso;

3. - A contabilidade fornece o máximo de informações úteis para atomada de decisões dentro e fora da empresa. É onde seenquadra o papel do contador, o qual deverá estar interagindocom os gestores de modo que, essas informações, sejam asmais objetivas e precisas possíveis, levando para a entidade osrelatórios mais fidedignos da realidade empresarial e ser, assim,o melhor instrumento para a tomada de decisão;

4. - É por meio de balanços contábeis que a organização tem ounão acesso a uma linha de crédito de instituições financeiras,seja ela pública ou privada, e até mesmo a processos licitatórios;

5. - A contabilidade deve atender a necessidade de cada segmento,vise ele o lucro ou não. Ela permite a busca constante derespostas no mundo dos negócios, possibilitando não só queinvestidores se beneficiem de suas informações na corridaconstante pelo lucro, como os demais cidadãos as usem nabusca de melhores condições sociais. As empresas, como asorganizações sem fim lucrativo, são parte integrante da

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decisões sobre reiniciar as obras de Angra 2 (1996) e Angra 3 (2001 a2007) foram tomadas baseadas em seu custo incremental. A novidade éque, desta vez, os custos de parar Angra 3, após a interrupção de 2015, jáestão atropelando a Eletronuclear e terão que ser levados em conta.Análises econômicas foram realizadas para a decisão anterior deretomada. Como houve um considerável avanço na obra, é muito provávelque a resposta continue positiva apesar do custo maior constatado.

Quanto às necessidades energéticas vale lembrar que Angra 2 foiterminada justo quando se configurou o “apagão” de 2001. A situação dosreservatórios nos últimos anos mostrou que estivemos muito perto de umaoutra crise de abastecimento e que a energia firme de Angra é necessária.Não será talvez surpresa que Angra 3 venha, justamente, ajudar aremediar o próximo apagão.

Outra questão fundamental é o da segurança da energianuclear no que se refere a possíveis acidentes nas usinas de geração deenergia elétrica. É um assunto cuja resposta definitiva pertence ao futuro.

Depois de muita discussão sobre o acidente de Fukushima, aresposta pragmática dos países a essa questão é indicada por sua atitudefrente a energia nuclear. De uma maneira esquemática, o uso parageração nuclear elétrica continua crescendo em países emergentes(China, Rússia e índia principalmente), outros (França, EUA e ReinoUnido) estão retomando lentamente a construção de usinas (UK aindanão iniciou a construção), com grandes problemas econômicos que nãodiferem muito dos de Angra 3, e, finalmente, no grupo de países (Itália,Alemanha e Japão), cada país (nessa ordem), ou já abandonou, ou estáem processo de abandonar, ou está com sérias dúvidas sobre acontinuidade da geração nuclear elétrica. É interessante observar quetodos esses grandes países, inclusive o último grupo (de perdedores daSegunda Guerra Mundial), não abriram mão de possuir, de compartir oudesfrutar da proteção das armas nucleares para sua defesa2.

2Nesse resumo, faltam as duas Coreias: ambas consideram, a seu modo, aenergia nuclear fundamental (geração ou bombas). Nas potências nucleares,uma corrida trilionária de modernização das armas nucleares está em curso;isso responde a questão (não colocada) da importância estratégica da energianuclear.

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Outra questão importante é se Angra 3, considerando seu projeto(anos setenta) e alguns equipamentos (anos oitenta) não estaria obsoletaou insegura. É a questão abordada no abrangente relatório “Atualizaçãodo Padrão Técnico e de Segurança do Projeto de Angra 3” divulgado pelaEletronuclear recentemente e cujo sumário está aqui publicado. Otrabalho confronta as exigências técnicas e de segurança, expressa empadrões e normas adaptadas às novas exigências, com a realidade deAngra 3 e aponta as modificações realizadas para atender essasexigências que evoluíram em função da experiência mundial acumulada,incluindo os acidentes.

Quanto aos equipamentos, fundamentalmente deve-se considerarque os adquiridos são equipamentos estruturais, de muito lentaobsolescência, ou que mereceram cuidadoso esquema de manutenção,orientado pelo fabricante e ainda receberam algum tipo de atualizaçãocomo é o caso do turbogerador. Outros equipamentos, como a mesa decontrole e os equipamentos eletrônicos, ainda não haviam sido adquiridose são atuais.

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2. A Contabilidade e as Influências da Matemáticaem seus Primórdios na Europa

A Contabilidade é a ciência que estuda, interpreta e registraos fenômenos que afetam o patrimônio de uma entidade (2). Asprimeiras manifestações contábeis datam de 2000 a. C. com ossumérios. A própria Bíblia, cujos primeiros relatos são considerados apartir de (1800 a. C.) apresenta várias referências à contabilidade (3)inclusive a de ovelhas, associada à origem das técnicas contábeis.Igualmente são atribuídas à necessidades da Contabilidade, o própriodesenvolvimento da numeração e da escrita e muitos progressos naMatemática.

Não é, pois, uma coincidência que tenha sido o matemáticoLeonardo Fibonacci quem introduziu na cultura europeia tanto osalgarismos arábicos como as técnicas contábeis. Seu livro Liber Abacitrata da Aritmética Comercial e de vários problemas ligados aocomércio. A partir do século XV coube ao Frei Luca Pacioli adivulgação do método das partidas dobradas, encerrando a fasemenos organizada da contabilidade. O método consta de um capítulode seu livro “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni etProportionalità”. Luca Pacioli é considerado o pai da contabilidadeModerna (4).

Apesar da influência matemática, a Contabilidade não éconsiderada uma ciência exata. Ela é uma ciência social, pois é aação humana que gera e modifica o fenômeno patrimonial. Todavia, acontabilidade utiliza os métodos quantitativos como sua principalferramenta, pois eles mostram o valor do patrimônio da empresa. Seucampo de atuação é bastante vasto e aplica-se a todos os aspectossocioeconômicos de uma sociedade (5). De acordo com a doutrinaoficial brasileira (6) (organizada pelo CFC – Conselho Federall deContabilidade) a contabilidade é uma ciência social, assim como,a economia e a administração.

A contabilidade como ciência social se reflete na vida de todasociedade seja por meios da obrigatoriedade da contabilidade para asempresas (hoje imposta pelo Novo Código Civil), seja na utilizaçãopara arrecadação de impostos pelos governos. Porém o objetivo

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acarretou um acréscimo na dívida externa brasileira de mais de 120bilhões de dólares. Foi ainda uma diferença contábil o motivo formaldo impeachment da Presidente do Brasil. A contabilidade também seestende as áreas não monetárias onde é utilizada como instrumentode conhecimento e de tomada de decisão gerencial e política.

É interessante notar que este poder passa diretamente pelosprofissionais da área, os contadores, mas que normalmente aparecemapenas como produtores das informações intermediárias. E é atécurioso que não se tenha dado destaque a opinião de autoridades doconhecimento contábil no caso do impeachment presidencial. No casodas profundas mudanças ocorridas nas Contas Nacionais e noBalanço de Pagamentos, não consta que tenham sido ouvidos osconselhos da classe contábil.

As mudanças ocorridas nas Contas Nacionais e no Balançode Pagamentos foram tão significativas quanto às mudançasocorridas na contabilidade empresarial a partir de Dezembro de 2007,com a sanção da Lei 11.638 (1) (para alteração da Lei 6.404),momento que marcou a maior revolução contábil no Brasil dos últimos30 anos. E nesse momento, os profissionais da Contabilidadeaprofundaram seus conhecimentos acerca das mudançasintroduzidas para adequar, ao padrão internacional, asdemonstrações Financeiras.

A Lei 11.638 usou a estrutura já existente do CPC (Comitê dePronunciamentos Contábeis), que havia sido criado em 2005 peloCFC (Conselho Federal de Contabilidade). Este órgão ficouresponsável por traduzir os padrões internacionais para o portuguêse, também, por adaptá-los à realidade brasileira, emitindoPronunciamentos, Interpretações e Orientações técnicasconvergentes com as normas internacionais.

Este artigo tem como objetivo chamar a atenção para o aimportância dessas contabilidades (nacional e externa) e danecessidade da contribuição do conhecimento dos profissionais daCiência Contábil na análise das profundas mudanças que estão sendointroduzidas. Também busca chamar a atenção sobre a oportunidadeaberta aos profissionais da Ciência Contábil no Brasil de assumiremum papel mais ativo na discussão dos problemas apresentados, hojeenfatizado e discutido por economistas.

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Relatório Técnico Externo:

Atualização do Padrão Técnico e deSegurança do Projeto de Angra 3

Sumário executivo de documento preparado pela Superintendência deEngenharia de Projetos - SET da Eletronuclear

Responsável:Jorge Mendes

Gerente de Sistemas eInstrumentação do Reator

Resumo

A Eletronuclear divulgou em fevereiro deste ano um estudo intitulado“Atualização do Padrão Técnico e de Segurança do Projeto de Angra 3”(finalizado em 2017) sobre as atualizações técnicas e de segurançaacrescentadas ao projeto de Angra 3 com relação à segurança doempreendimento. Apesar de Angra 3 ter sido planejada nos anos 1970, aolongo do tempo, mudanças foram feitas na concepção original paraincorporar modernizações tecnológicas, a experiência operacional dosetor nuclear e as exigências das normas nacionais e internacionais, queforam revisadas no período. Isto permite que Angra 3 mantenha asegurança e o desempenho adequados aos padrões internacionais atuais.Apresenta-se aqui o sumário executivo, o Relatório Completo estádisponível no site da Eletronuclear1.

Palavras Chave:

Eletronuclear, Angra 3, programa nuclear, geração de eletricidade, crisefinanceira, segurança, normas internacionais, desempenho de usinanuclear.

1

http://www.eletronuclear.gov.br/LinkClick.aspx?fileticket=tcCBiUp1yAw%3D&tabid=69

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1. IntroduçãoEste Sumário Executivo apresenta os pontos principais do

processo utilizado pela Eletronuclear para fazer com que o projeto dausina Angra 3 mantenha a segurança e o desempenho adequadosaos padrões atuais, são os seguintes:

O tipo de reator adotado em Angra 3, como nas demaisunidades da CNAAA, o PWR – Reator a Água Pressurizada,permanece como o modelo internacionalmente predominante (277 de438 reatores), tanto entre as unidades em operação como nas novasunidades em construção (50 de 60 reatores).

No processo evolutivo da tecnologia dos sistemas desegurança, 42 das 50 usinas em construção utilizando reatores PWRdispõe de sistemas de segurança de concepção similar aos de Angra3 e apenas 8 têm sua segurança baseada extensivamente emsistemas passivos.

A usina de Angra 3 pertence ao padrão PWR 1.300 MW daSiemens, que se caracteriza por um elevado padrão de segurança edesempenho operacional, em função de suas características deprojeto, dentre elas, o elevado grau de automação e o nível deredundância e diversidade adotados no projeto dos sistemas desegurança, e dos elevados requisitos de qualidade aplicados aoprojeto e à fabricação dos equipamentos.

O projeto de Angra 3 utiliza Angra 2 como usina de referência,incorporando todas as modificações nela introduzidas com o objetivode melhoria de segurança e desempenho. Um empreendimentotestado e comprovado com altos índices de segurança e performance.

O projeto de Angra 3 incorpora as lições aprendidas com osacidentes já verificados em usinas nucleares de potência, aexperiência internacional das últimas décadas, as alterações na basenormativa nacional e internacional, além da evolução da basenormativa e tecnológica de componentes e sistemas como se resumenos itens abaixo.

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Artigo:

O Poder da ContabilidadePatrícia Sena,

Carlos Feu Alvim eLeonam Guimarães

Resumo

O poder da Contabilidade está também presente em nossas contasexternas (Balanço de Pagamentos) e nas Contas Nacionais. A maisrecente mudança de critério do FMI acarretou um acréscimo na dívidaexterna brasileira de mais de 120 bilhões de dólares. O Conceitotradicional da Contabilidade Nacional é que ela referia-se a contabilidadedentro das fronteiras físicas de um país, ou seja, no Território Nacional,dentro de seus limites geográficos. A contabilidade externa se ocupavadas trocas entre territórios, ou seja, através das fronteiras dos países.

Sem muito alarde, este conceito foi mudado por norma do FMI. No novoconceito, que rege essas contabilidades: as transações externas não sãomais entre países, mas entre residentes e não residentes. As normas doFMI explicitam que isso é válido mesmo que o produto seja um recursonatural como a água, petróleo ou gás natural e que as transações tenhamsido feitas em reais.

Palavras Chave:

Contabilidade, Receita Federal, Balanço de Pagamentos, ContasNacionais, Contas externas, Lei 11.638, poder da contabilidade, BancoCentral, FMI, BPM6.

1. Objetivo do TrabalhoA contabilidade está inevitavelmente associada ao exercício

do poder em suas diversas esferas. É através dela que o cidadão e,sobretudo, o empresário brasileiro sente o peso da Receita Federal,Estadual ou Municipal. O poder da Contabilidade está tambémpresente em nossas contas externas (Balanço de Pagamentos) e nasContas Nacionais. A mais recente mudança de critério do FMI

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7. ConclusõesO desempenho operacional de Angra 2 é compatível com a

tecnologia atual e com os melhores desempenhos das usinas emoperação. Angra 3 terá um desempenho similar e, em alguns casossuperior, devido às melhorias da instrumentação e controle digital ede novos equipamentos. As melhorias introduzidas em Angra 3, parapossíveis acidentes além da base de projeto, são similares àssoluções implantadas recentemente nas usinas existentes e emprojetos atuais de concepção similar a Angra 3. Estas característicasdo projeto mostram que Angra 3 será uma usina moderna e com umpadrão de segurança compatível com as usinas atualmente emconstrução.

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2. Atualização da Base NormativaO projeto de Angra 3 foi atualizado com base nas normas

alemãs válidas em 2003 quando foi solicitada a licença de construçãoao órgão licenciador CNEN. No caso de componentes do circuitoprimário, já fornecidos com base em normas anteriores, avaliou-seque as versões mais recentes das normas não traziam alteraçõesrelevantes, permitindo validar a adequação dos mesmos para suasrespectivas funções. O alto grau de requisitos técnicos das normasalemãs utilizadas em Angra 2 e 3, garante um padrão de segurançade alto nível. A base normativa e os critérios de projeto foramsubmetidos à CNEN, que os avaliou e concedeu a licença deconstrução para Angra 3 em 2010.

3. Atualização da Proteção contra Eventos ExternosNo projeto de Angra 3, todos os carregamentos atuantes

sobre as estruturas foram revisados e atualizados, em especial, noque diz respeito àqueles gerados pelos eventos externos. Foirealizado um estudo sobre a ocorrência de ventos extremos, com umlevantamento dos registros de tornados no Brasil e adotou-se umtornado de categoria 3 na escala Fujita, correspondente aos maioreseventos já registrados no país. Foram realizadas análises detalhadasde ameaça sísmica em bases probabilísticas, por um grupo deconsultores formado por geólogos, sismólogos e engenheirosestruturais renomados do Brasil e do exterior, utilizando-se ametodologia mais avançada. Estes resultados já estão sendoutilizados na Análise Probabilística de Segurança (APS) das usinas.Os primeiros resultados indicam que o risco sísmico das usinas estáem níveis compatíveis com os índices de segurança internacionais.Além disso, a APS permitirá investigar os pontos mais críticos nosquais será possível atuar para aumentar ainda mais as margens desegurança já existentes.

4. Atualização de Sistemas e EquipamentosAngra 3 terá equipamentos de Instrumentação e Controle

digital no mesmo padrão dos projetos mais recentes de usinasnucleares, que deve contribuir para um melhor desempenho e

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segurança da planta. A sala de controle de Angra 3 é projetada comtecnologia digital e reflete o estado da arte em projetos de sala decontrole. As atuações de componentes e monitoração de processos ealarmes são realizadas através de telas digitais em computadores.Em caso de perda da interface homem/máquina digital, estará aindadisponível um painel de segurança convencional para a operação dausina.

O aumento da capacidade de geração de Angra 3 (de 1350para 1405 MWe) e a adequação às novas exigências das normas,inclui um novo disjuntor do gerador elétrico, equipamento fundamentalpara a conexão e desconexão com segurança da Usina ao sistemaelétrico interligado nacional, considerando os 1405 MWe previstos.

O conjunto turbo-gerador foi fabricado em meados da décadade 1980 pelas empresas SIEMENS AG/KWU tanto para Angra 2como para Angra 3. Para atender ao aumento de potência de Angra 3,estão sendo promovidas mudanças indicadas pelo fabricante,incluindo a instalação de um Sistema Digital de Controle e Proteçãoda Turbina.

5. Atualização devido a experiência internacionalCom base nas lições aprendidas com as experiências

resultantes dos acidentes relevantes acontecidos em outras usinasnucleares, o impacto em Angra 2 e 3 foi o seguinte:

O projeto das usinas alemãs, referência para Angra 2 e 3, foiverificado conforme a experiência e recomendaçõesresultantes do acidente de Three Mile Island - TMI 2 (1979,EUA) e as modificações recomendadas pelo órgãolicenciador US-NRC (United States - Nuclear RegulatoryCommission) já haviam sido implementadas em Angra 2.Em 2010, para a licença de construção de Angra 3, foiemitido um documento para o órgão licenciador CNEN,registrando a verificação formal da aplicação de todas asrecomendações da US-NRC devidas ao acidente de TMI-2.

Devido à experiência com o acidente de Chernobyl (1986,Ucrânia), as recomendações pertinentes foram

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consideradas em Angra 2 e 3, apesar da tecnologia deChernobyl ser diferente da tecnologia de Angra 2 e 3.

Devido ao acidente de Fukushima Daiichi (2011, Japão), osprincípios básicos de projeto, que levaram ao acidente,foram reavaliados para Angra 2 e 3 pela equipe técnica daEletronuclear. Este trabalho é registrado em relatóriosperiódicos enviados e acompanhados pela CNEN. Osrelatórios apresentam os resultados dos estudos e asmodificações efetuadas nas usinas devidas ao acidente deFukushima.

Eventos significantes ocorridos em usinas nucleares sãoanalisados para Angra 2 e 3 através das informaçõesobtidas por meio de convênios existentes entre aEletronuclear e diversos órgãos como WANO (WorldAssociation of Nuclear Operators), IAEA (InternationalAtomic Energy Agency), EPRI (Electric Power ResearchInstitute) que nos pemitem demonstrar a adequação dasegurança de Angra 2 e 3.

6. Atualização para acidentes severosEm relação ao projeto robusto para fazer frente a eventos

além da base de projeto incluindo acidentes severos com fusão donúcleo, foram introduzidas, ou já estão planejadas modificações emAngra 2, sendo introduzidas modificações no projeto de Angra 3. Porexemplo, foram projetados recombinadores passivos de Hidrogênio,dimensionados para a concentração máxima admissível deHidrogênio no interior do edifício da Contenção do reator, de talmaneira que explosões possam ser evitadas. Adicionalmente seráinstalado um sistema de alívio filtrado da contenção que impede que apressão interna supere a base de projeto. Todas as provisões paraeventos além da base de projeto introduzidas em Angra 3, sãosimilares às provisões incluídas em projetos atuais de usinasnucleares em construção.

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segurança da planta. A sala de controle de Angra 3 é projetada comtecnologia digital e reflete o estado da arte em projetos de sala decontrole. As atuações de componentes e monitoração de processos ealarmes são realizadas através de telas digitais em computadores.Em caso de perda da interface homem/máquina digital, estará aindadisponível um painel de segurança convencional para a operação dausina.

O aumento da capacidade de geração de Angra 3 (de 1350para 1405 MWe) e a adequação às novas exigências das normas,inclui um novo disjuntor do gerador elétrico, equipamento fundamentalpara a conexão e desconexão com segurança da Usina ao sistemaelétrico interligado nacional, considerando os 1405 MWe previstos.

O conjunto turbo-gerador foi fabricado em meados da décadade 1980 pelas empresas SIEMENS AG/KWU tanto para Angra 2como para Angra 3. Para atender ao aumento de potência de Angra 3,estão sendo promovidas mudanças indicadas pelo fabricante,incluindo a instalação de um Sistema Digital de Controle e Proteçãoda Turbina.

5. Atualização devido a experiência internacionalCom base nas lições aprendidas com as experiências

resultantes dos acidentes relevantes acontecidos em outras usinasnucleares, o impacto em Angra 2 e 3 foi o seguinte:

O projeto das usinas alemãs, referência para Angra 2 e 3, foiverificado conforme a experiência e recomendaçõesresultantes do acidente de Three Mile Island - TMI 2 (1979,EUA) e as modificações recomendadas pelo órgãolicenciador US-NRC (United States - Nuclear RegulatoryCommission) já haviam sido implementadas em Angra 2.Em 2010, para a licença de construção de Angra 3, foiemitido um documento para o órgão licenciador CNEN,registrando a verificação formal da aplicação de todas asrecomendações da US-NRC devidas ao acidente de TMI-2.

Devido à experiência com o acidente de Chernobyl (1986,Ucrânia), as recomendações pertinentes foram

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consideradas em Angra 2 e 3, apesar da tecnologia deChernobyl ser diferente da tecnologia de Angra 2 e 3.

Devido ao acidente de Fukushima Daiichi (2011, Japão), osprincípios básicos de projeto, que levaram ao acidente,foram reavaliados para Angra 2 e 3 pela equipe técnica daEletronuclear. Este trabalho é registrado em relatóriosperiódicos enviados e acompanhados pela CNEN. Osrelatórios apresentam os resultados dos estudos e asmodificações efetuadas nas usinas devidas ao acidente deFukushima.

Eventos significantes ocorridos em usinas nucleares sãoanalisados para Angra 2 e 3 através das informaçõesobtidas por meio de convênios existentes entre aEletronuclear e diversos órgãos como WANO (WorldAssociation of Nuclear Operators), IAEA (InternationalAtomic Energy Agency), EPRI (Electric Power ResearchInstitute) que nos pemitem demonstrar a adequação dasegurança de Angra 2 e 3.

6. Atualização para acidentes severosEm relação ao projeto robusto para fazer frente a eventos

além da base de projeto incluindo acidentes severos com fusão donúcleo, foram introduzidas, ou já estão planejadas modificações emAngra 2, sendo introduzidas modificações no projeto de Angra 3. Porexemplo, foram projetados recombinadores passivos de Hidrogênio,dimensionados para a concentração máxima admissível deHidrogênio no interior do edifício da Contenção do reator, de talmaneira que explosões possam ser evitadas. Adicionalmente seráinstalado um sistema de alívio filtrado da contenção que impede que apressão interna supere a base de projeto. Todas as provisões paraeventos além da base de projeto introduzidas em Angra 3, sãosimilares às provisões incluídas em projetos atuais de usinasnucleares em construção.

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7. ConclusõesO desempenho operacional de Angra 2 é compatível com a

tecnologia atual e com os melhores desempenhos das usinas emoperação. Angra 3 terá um desempenho similar e, em alguns casossuperior, devido às melhorias da instrumentação e controle digital ede novos equipamentos. As melhorias introduzidas em Angra 3, parapossíveis acidentes além da base de projeto, são similares àssoluções implantadas recentemente nas usinas existentes e emprojetos atuais de concepção similar a Angra 3. Estas característicasdo projeto mostram que Angra 3 será uma usina moderna e com umpadrão de segurança compatível com as usinas atualmente emconstrução.

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2. Atualização da Base NormativaO projeto de Angra 3 foi atualizado com base nas normas

alemãs válidas em 2003 quando foi solicitada a licença de construçãoao órgão licenciador CNEN. No caso de componentes do circuitoprimário, já fornecidos com base em normas anteriores, avaliou-seque as versões mais recentes das normas não traziam alteraçõesrelevantes, permitindo validar a adequação dos mesmos para suasrespectivas funções. O alto grau de requisitos técnicos das normasalemãs utilizadas em Angra 2 e 3, garante um padrão de segurançade alto nível. A base normativa e os critérios de projeto foramsubmetidos à CNEN, que os avaliou e concedeu a licença deconstrução para Angra 3 em 2010.

3. Atualização da Proteção contra Eventos ExternosNo projeto de Angra 3, todos os carregamentos atuantes

sobre as estruturas foram revisados e atualizados, em especial, noque diz respeito àqueles gerados pelos eventos externos. Foirealizado um estudo sobre a ocorrência de ventos extremos, com umlevantamento dos registros de tornados no Brasil e adotou-se umtornado de categoria 3 na escala Fujita, correspondente aos maioreseventos já registrados no país. Foram realizadas análises detalhadasde ameaça sísmica em bases probabilísticas, por um grupo deconsultores formado por geólogos, sismólogos e engenheirosestruturais renomados do Brasil e do exterior, utilizando-se ametodologia mais avançada. Estes resultados já estão sendoutilizados na Análise Probabilística de Segurança (APS) das usinas.Os primeiros resultados indicam que o risco sísmico das usinas estáem níveis compatíveis com os índices de segurança internacionais.Além disso, a APS permitirá investigar os pontos mais críticos nosquais será possível atuar para aumentar ainda mais as margens desegurança já existentes.

4. Atualização de Sistemas e EquipamentosAngra 3 terá equipamentos de Instrumentação e Controle

digital no mesmo padrão dos projetos mais recentes de usinasnucleares, que deve contribuir para um melhor desempenho e

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1. IntroduçãoEste Sumário Executivo apresenta os pontos principais do

processo utilizado pela Eletronuclear para fazer com que o projeto dausina Angra 3 mantenha a segurança e o desempenho adequadosaos padrões atuais, são os seguintes:

O tipo de reator adotado em Angra 3, como nas demaisunidades da CNAAA, o PWR – Reator a Água Pressurizada,permanece como o modelo internacionalmente predominante (277 de438 reatores), tanto entre as unidades em operação como nas novasunidades em construção (50 de 60 reatores).

No processo evolutivo da tecnologia dos sistemas desegurança, 42 das 50 usinas em construção utilizando reatores PWRdispõe de sistemas de segurança de concepção similar aos de Angra3 e apenas 8 têm sua segurança baseada extensivamente emsistemas passivos.

A usina de Angra 3 pertence ao padrão PWR 1.300 MW daSiemens, que se caracteriza por um elevado padrão de segurança edesempenho operacional, em função de suas características deprojeto, dentre elas, o elevado grau de automação e o nível deredundância e diversidade adotados no projeto dos sistemas desegurança, e dos elevados requisitos de qualidade aplicados aoprojeto e à fabricação dos equipamentos.

O projeto de Angra 3 utiliza Angra 2 como usina de referência,incorporando todas as modificações nela introduzidas com o objetivode melhoria de segurança e desempenho. Um empreendimentotestado e comprovado com altos índices de segurança e performance.

O projeto de Angra 3 incorpora as lições aprendidas com osacidentes já verificados em usinas nucleares de potência, aexperiência internacional das últimas décadas, as alterações na basenormativa nacional e internacional, além da evolução da basenormativa e tecnológica de componentes e sistemas como se resumenos itens abaixo.

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Artigo:

O Poder da ContabilidadePatrícia Sena,

Carlos Feu Alvim eLeonam Guimarães

Resumo

O poder da Contabilidade está também presente em nossas contasexternas (Balanço de Pagamentos) e nas Contas Nacionais. A maisrecente mudança de critério do FMI acarretou um acréscimo na dívidaexterna brasileira de mais de 120 bilhões de dólares. O Conceitotradicional da Contabilidade Nacional é que ela referia-se a contabilidadedentro das fronteiras físicas de um país, ou seja, no Território Nacional,dentro de seus limites geográficos. A contabilidade externa se ocupavadas trocas entre territórios, ou seja, através das fronteiras dos países.

Sem muito alarde, este conceito foi mudado por norma do FMI. No novoconceito, que rege essas contabilidades: as transações externas não sãomais entre países, mas entre residentes e não residentes. As normas doFMI explicitam que isso é válido mesmo que o produto seja um recursonatural como a água, petróleo ou gás natural e que as transações tenhamsido feitas em reais.

Palavras Chave:

Contabilidade, Receita Federal, Balanço de Pagamentos, ContasNacionais, Contas externas, Lei 11.638, poder da contabilidade, BancoCentral, FMI, BPM6.

1. Objetivo do TrabalhoA contabilidade está inevitavelmente associada ao exercício

do poder em suas diversas esferas. É através dela que o cidadão e,sobretudo, o empresário brasileiro sente o peso da Receita Federal,Estadual ou Municipal. O poder da Contabilidade está tambémpresente em nossas contas externas (Balanço de Pagamentos) e nasContas Nacionais. A mais recente mudança de critério do FMI

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acarretou um acréscimo na dívida externa brasileira de mais de 120bilhões de dólares. Foi ainda uma diferença contábil o motivo formaldo impeachment da Presidente do Brasil. A contabilidade também seestende as áreas não monetárias onde é utilizada como instrumentode conhecimento e de tomada de decisão gerencial e política.

É interessante notar que este poder passa diretamente pelosprofissionais da área, os contadores, mas que normalmente aparecemapenas como produtores das informações intermediárias. E é atécurioso que não se tenha dado destaque a opinião de autoridades doconhecimento contábil no caso do impeachment presidencial. No casodas profundas mudanças ocorridas nas Contas Nacionais e noBalanço de Pagamentos, não consta que tenham sido ouvidos osconselhos da classe contábil.

As mudanças ocorridas nas Contas Nacionais e no Balançode Pagamentos foram tão significativas quanto às mudançasocorridas na contabilidade empresarial a partir de Dezembro de 2007,com a sanção da Lei 11.638 (1) (para alteração da Lei 6.404),momento que marcou a maior revolução contábil no Brasil dos últimos30 anos. E nesse momento, os profissionais da Contabilidadeaprofundaram seus conhecimentos acerca das mudançasintroduzidas para adequar, ao padrão internacional, asdemonstrações Financeiras.

A Lei 11.638 usou a estrutura já existente do CPC (Comitê dePronunciamentos Contábeis), que havia sido criado em 2005 peloCFC (Conselho Federal de Contabilidade). Este órgão ficouresponsável por traduzir os padrões internacionais para o portuguêse, também, por adaptá-los à realidade brasileira, emitindoPronunciamentos, Interpretações e Orientações técnicasconvergentes com as normas internacionais.

Este artigo tem como objetivo chamar a atenção para o aimportância dessas contabilidades (nacional e externa) e danecessidade da contribuição do conhecimento dos profissionais daCiência Contábil na análise das profundas mudanças que estão sendointroduzidas. Também busca chamar a atenção sobre a oportunidadeaberta aos profissionais da Ciência Contábil no Brasil de assumiremum papel mais ativo na discussão dos problemas apresentados, hojeenfatizado e discutido por economistas.

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Relatório Técnico Externo:

Atualização do Padrão Técnico e deSegurança do Projeto de Angra 3

Sumário executivo de documento preparado pela Superintendência deEngenharia de Projetos - SET da Eletronuclear

Responsável:Jorge Mendes

Gerente de Sistemas eInstrumentação do Reator

Resumo

A Eletronuclear divulgou em fevereiro deste ano um estudo intitulado“Atualização do Padrão Técnico e de Segurança do Projeto de Angra 3”(finalizado em 2017) sobre as atualizações técnicas e de segurançaacrescentadas ao projeto de Angra 3 com relação à segurança doempreendimento. Apesar de Angra 3 ter sido planejada nos anos 1970, aolongo do tempo, mudanças foram feitas na concepção original paraincorporar modernizações tecnológicas, a experiência operacional dosetor nuclear e as exigências das normas nacionais e internacionais, queforam revisadas no período. Isto permite que Angra 3 mantenha asegurança e o desempenho adequados aos padrões internacionais atuais.Apresenta-se aqui o sumário executivo, o Relatório Completo estádisponível no site da Eletronuclear1.

Palavras Chave:

Eletronuclear, Angra 3, programa nuclear, geração de eletricidade, crisefinanceira, segurança, normas internacionais, desempenho de usinanuclear.

1

http://www.eletronuclear.gov.br/LinkClick.aspx?fileticket=tcCBiUp1yAw%3D&tabid=69

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Outra questão importante é se Angra 3, considerando seu projeto(anos setenta) e alguns equipamentos (anos oitenta) não estaria obsoletaou insegura. É a questão abordada no abrangente relatório “Atualizaçãodo Padrão Técnico e de Segurança do Projeto de Angra 3” divulgado pelaEletronuclear recentemente e cujo sumário está aqui publicado. Otrabalho confronta as exigências técnicas e de segurança, expressa empadrões e normas adaptadas às novas exigências, com a realidade deAngra 3 e aponta as modificações realizadas para atender essasexigências que evoluíram em função da experiência mundial acumulada,incluindo os acidentes.

Quanto aos equipamentos, fundamentalmente deve-se considerarque os adquiridos são equipamentos estruturais, de muito lentaobsolescência, ou que mereceram cuidadoso esquema de manutenção,orientado pelo fabricante e ainda receberam algum tipo de atualizaçãocomo é o caso do turbogerador. Outros equipamentos, como a mesa decontrole e os equipamentos eletrônicos, ainda não haviam sido adquiridose são atuais.

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2. A Contabilidade e as Influências da Matemáticaem seus Primórdios na Europa

A Contabilidade é a ciência que estuda, interpreta e registraos fenômenos que afetam o patrimônio de uma entidade (2). Asprimeiras manifestações contábeis datam de 2000 a. C. com ossumérios. A própria Bíblia, cujos primeiros relatos são considerados apartir de (1800 a. C.) apresenta várias referências à contabilidade (3)inclusive a de ovelhas, associada à origem das técnicas contábeis.Igualmente são atribuídas à necessidades da Contabilidade, o própriodesenvolvimento da numeração e da escrita e muitos progressos naMatemática.

Não é, pois, uma coincidência que tenha sido o matemáticoLeonardo Fibonacci quem introduziu na cultura europeia tanto osalgarismos arábicos como as técnicas contábeis. Seu livro Liber Abacitrata da Aritmética Comercial e de vários problemas ligados aocomércio. A partir do século XV coube ao Frei Luca Pacioli adivulgação do método das partidas dobradas, encerrando a fasemenos organizada da contabilidade. O método consta de um capítulode seu livro “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni etProportionalità”. Luca Pacioli é considerado o pai da contabilidadeModerna (4).

Apesar da influência matemática, a Contabilidade não éconsiderada uma ciência exata. Ela é uma ciência social, pois é aação humana que gera e modifica o fenômeno patrimonial. Todavia, acontabilidade utiliza os métodos quantitativos como sua principalferramenta, pois eles mostram o valor do patrimônio da empresa. Seucampo de atuação é bastante vasto e aplica-se a todos os aspectossocioeconômicos de uma sociedade (5). De acordo com a doutrinaoficial brasileira (6) (organizada pelo CFC – Conselho Federall deContabilidade) a contabilidade é uma ciência social, assim como,a economia e a administração.

A contabilidade como ciência social se reflete na vida de todasociedade seja por meios da obrigatoriedade da contabilidade para asempresas (hoje imposta pelo Novo Código Civil), seja na utilizaçãopara arrecadação de impostos pelos governos. Porém o objetivo

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principal da contabilidade é o patrimônio, seja ele de pessoas físicasjurídicas, Estado ou Nação, visando seu controle.

3. A Contabilidade e o Poder da InformaçãoO registro das transações de uma companhia é de suma

importância para sua sobrevivência no mercado; é por meio dessasinformações que portas para negócios e oportunidades, se abrem ouse fecham. Pode-se assim dizer que, a Contabilidade é Informaçãoexpressa em números, e é por meio dessas informações que aContabilidade produz em seus relatórios financeiros, que o realpatrimônio da organização é revelado. Senão vejamos:

1. - As mutações decorrentes das operações empresariaisconstituem o único veículo que um investidor nacional ouestrangeiro tem de diagnosticar a qualidade de vida e a saúdefinanceira de uma empresa;

2. - É um meio também, pelo qual toda a empresa fica registrada demodo a ser avaliada no passado, presente e futuro, para que setenha conhecimento do seu progresso, estagnação financeira ouretrocesso;

3. - A contabilidade fornece o máximo de informações úteis para atomada de decisões dentro e fora da empresa. É onde seenquadra o papel do contador, o qual deverá estar interagindocom os gestores de modo que, essas informações, sejam asmais objetivas e precisas possíveis, levando para a entidade osrelatórios mais fidedignos da realidade empresarial e ser, assim,o melhor instrumento para a tomada de decisão;

4. - É por meio de balanços contábeis que a organização tem ounão acesso a uma linha de crédito de instituições financeiras,seja ela pública ou privada, e até mesmo a processos licitatórios;

5. - A contabilidade deve atender a necessidade de cada segmento,vise ele o lucro ou não. Ela permite a busca constante derespostas no mundo dos negócios, possibilitando não só queinvestidores se beneficiem de suas informações na corridaconstante pelo lucro, como os demais cidadãos as usem nabusca de melhores condições sociais. As empresas, como asorganizações sem fim lucrativo, são parte integrante da

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decisões sobre reiniciar as obras de Angra 2 (1996) e Angra 3 (2001 a2007) foram tomadas baseadas em seu custo incremental. A novidade éque, desta vez, os custos de parar Angra 3, após a interrupção de 2015, jáestão atropelando a Eletronuclear e terão que ser levados em conta.Análises econômicas foram realizadas para a decisão anterior deretomada. Como houve um considerável avanço na obra, é muito provávelque a resposta continue positiva apesar do custo maior constatado.

Quanto às necessidades energéticas vale lembrar que Angra 2 foiterminada justo quando se configurou o “apagão” de 2001. A situação dosreservatórios nos últimos anos mostrou que estivemos muito perto de umaoutra crise de abastecimento e que a energia firme de Angra é necessária.Não será talvez surpresa que Angra 3 venha, justamente, ajudar aremediar o próximo apagão.

Outra questão fundamental é o da segurança da energianuclear no que se refere a possíveis acidentes nas usinas de geração deenergia elétrica. É um assunto cuja resposta definitiva pertence ao futuro.

Depois de muita discussão sobre o acidente de Fukushima, aresposta pragmática dos países a essa questão é indicada por sua atitudefrente a energia nuclear. De uma maneira esquemática, o uso parageração nuclear elétrica continua crescendo em países emergentes(China, Rússia e índia principalmente), outros (França, EUA e ReinoUnido) estão retomando lentamente a construção de usinas (UK aindanão iniciou a construção), com grandes problemas econômicos que nãodiferem muito dos de Angra 3, e, finalmente, no grupo de países (Itália,Alemanha e Japão), cada país (nessa ordem), ou já abandonou, ou estáem processo de abandonar, ou está com sérias dúvidas sobre acontinuidade da geração nuclear elétrica. É interessante observar quetodos esses grandes países, inclusive o último grupo (de perdedores daSegunda Guerra Mundial), não abriram mão de possuir, de compartir oudesfrutar da proteção das armas nucleares para sua defesa2.

2Nesse resumo, faltam as duas Coreias: ambas consideram, a seu modo, aenergia nuclear fundamental (geração ou bombas). Nas potências nucleares,uma corrida trilionária de modernização das armas nucleares está em curso;isso responde a questão (não colocada) da importância estratégica da energianuclear.

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Opinião:

A Continuidade de Angra 3Mais uma vez coloca-se a questão sobre dar prosseguimento ou

não de Angra 3. Tem sido lembrado que Angra 3 é importante para ofuturo da energia nuclear no Brasil. Uma boa contribuição para o debatefoi dada pelo professor Aquilino Senra em recente artigo “Desmonte dosetor nuclear exclui Brasil do jogo no mercado global”. Justamente porqueAngra 3 tem essa relevância, deve-se cuidar que o arranjo institucional efinanceiro, a ser encontrado, não sacrifique esse futuro.

Várias questões estão sendo (re)colocadas, a predominante ésobre sua viabilidade econômica. Como primeiro passo, é útil admitir que,aplicando juros de 7% ou 5% ao ano, não é possível pagar o custo totalhistórico de uma obra, com duração superior a 40 anos1. Por isso, as

1 Início das obras civis em 1984, interrompidas em 1986, reiniciadas em 2007e novamente interrompidas em 2015, primeiros equipamentos encomendadosem 1975.

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sociedade e, por sua vez, exercem influência sobre ela com suasdecisões. Torna-se assim a contabilidade uma ciência envolvidano contexto geral da sociedade, sendo, como já foi aquilembrado, uma ciência social.

A contabilidade, aliada à informação, que é produzida pormeio de seus relatórios e instrumentos financeiros, principalmente nospontos citados, reforça seu poder com o da informação. O poder dacontabilidade não se restringe somente em orientar onde decidirinvestir, ou meramente, liberar linhas de créditos, vai além atingindo adecisão de importar ou exportar, bem como, de permitir a participaçãoem processos licitatórios. O poder de fazer provas judiciais, porexemplo, pode inclusive restringir a liberdade, entre outros. Fica claroque o poder da informação contábil, expressa em relatóriosfidedignos, pode muito por seus efeitos.

4. A contabilidade ampliou seus Poderes com aInformática

Os estreitos laços com a ciência dos números sãoresponsáveis, também, pelo grande impacto que tem o progresso dainformática sobre a prática contábil moderna. Hoje não são mais oscontadores “cientistas de números e cálculos”. Aqueles profissionais,especializados em contabilidade simples e pura, partidas dobradas,pesquisadores do estudo do patrimônio, estão em extinção. Asvertentes da tecnologia e a busca contínua pelo aumento daarrecadação dos governos transformaram esses profissionais emverdadeiros “infomaníacos”, guardando pouca relação com osaspectos científicos de sua disciplina.

Este domínio das atividades dos contadores visando atendera normatizações, no caso do Brasil, emanadas principalmente daReceita Federal e do Banco Central, pode ser descrito como o poderda Receita submetendo cidadãos, empresários e contadores a seucontrole (4). Com efeito, o poder arrecadador acrescentou à ReceitaFederal uma nova ferramenta o T-Rex, um supercomputador que levao nome do “Tiranossauro Rex”, e o software Harpia, ave de rapina,que teria até a capacidade de aprender com o “comportamento” doscontribuintes para detectar irregularidades. A isso se soma umpoderoso computador do Banco Central, que já está sendo chamado

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Hal. A partir da estreia do Hal, com um simples clique, COAF,Ministério Público, Polícia Federal e qualquer juiz têm acesso a todasas contas que um cidadão ou uma empresa mantêm no Brasil.

Este quadro mostra como a contabilidade, aliada àinformática, transformou-se em uma nova forma de exercício do poderque é muito mais amplo e atinge a um número pouco conhecido deatividades. O exercício deste poder tem escapado aos profissionaisda área, o que renova a importância do aperfeiçoamento das ciênciascontábeis e dos seus profissionais. O novo poder da Contabilidade éum desafio aos profissionais da área. É também um desafio aoexercício da Democracia, uma vez que resoluções que afetamprofundamente as vidas dos cidadãos têm sido tomadas fora do seuconhecimento e quase sem nenhum controle da Sociedade.

5. A Contabilidade é mais Ampla que a do DinheiroAo abordar o poder associado à Contabilidade, devemos

começar por lembrar que ela não envolve apenas valores monetários,nem se restringe a pessoas físicas e empresas ou outras entidadesjurídicas, públicas e/ou privadas. Existe a Contabilidade Nacional queenvolve todas as atividades de um país e a Contabilidade Externa ouBalanço de Pagamentos que se refere (ou se referia) às transaçõesentre países cujos conceitos estão em fase de mudança.

Além disso, a contabilidade, que parece ter nascido paraavaliar rebanhos, continua a ser usada para isso. Entretanto, ela seaplica também a frota de veículos, estradas, movimento aéreo, cargastransportadas, população, residências, doenças, pragas e a um semnúmero de assuntos que se enquadram ou não na contabilidade devalores monetários.

Com ligeiras adaptações, as técnicas contábeis aplicam-se,por exemplo, à avaliação das emissões de gases causadores deefeito estufa, de imensa importância, para o futuro do planeta. Acontribuição de cada país para a emissão dos diversos gases écontabilizada. Para cada gás se atribui um valor (como o preço nacontabilidade monetária) em unidades de equivalente a gáscarbônico. Fluxo e estoque desses gases são avaliados para sededuzir o esperado efeito sobre o aquecimento global. Este controletambém está sendo feito a nível empresarial.

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Iniciar a reestruturação do Setor Nuclear para impedir suadeterioração administrativa e técnica e aproveitar suaspotencialidades e oportunidades comerciais, facilitando aparticipação do setor privado e a operação dos organismosdo Estado nas tarefas de sua responsabilidade,

Reunir os elementos para a formulação de uma políticanuclear de longo prazo, coerente com a importânciaestratégica dos assuntos do Setor.

Bibliografia

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3. Petronoticias. INB recebe aporte de R$ 190 milhões quegarante o abastecimento de combustível para Angra 1 eAngra 2. Petronoticias. [Online] 04 de janeiro de 2018.https://petronoticias.com.br/archives/107162.

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envolvidos está diretamente vinculada ao Governo Federal. Issopermitiria dar continuidade a geração segura de energia nuclearatravés das usinas Angra 1 e 2 com os recursos provenientes da tarifaassim auferidas.

O Setor Nuclear necessita de urgente reestruturação que ofortaleça para garantir o cumprimento das atividades de suaresponsabilidade, inclusive constitucionais. A geração de energianuclear elétrica é seu principal eixo econômico e esta reestruturaçãodeve levar em conta este amplo papel.

Recorde-se ainda que o Setor Nuclear, em todos os paísesonde essa atividade é relevante, vincula-se diretamente à alta esferado Governo Central que assume também toda responsabilidade porsua estratégia.

No Brasil, a responsabilidade pela proteção das atividades doPrograma Nuclear, bem como, da Secretaria Executiva do ComitêInterministerial que cuida do assunto está concentrada no Gabinetede Segurança Institucional, na Presidência da República.

Pode-se resumir assim as medidas urgentes necessárias:

Equacionar separadamente a situação de Angra 3 daprodução de energia por Angra 1 e 2 possibilitando autilização integral da tarifa à destinação prevista,

Complementar o orçamento da INB de maneira apossibilitar, pelo menos, o uso dos recursos da venda decombustível para assegurar a geração nuclear em 2019,

Cuidar para que sejam mantidas as condições técnicas,pessoais e financeiras para operação com mínimo risco dascentrais existentes e do canteiro de obras,

Adicionalmente é necessário tomar medidas paraequacionar problemas emergentes,

Encaminhar a decisão sobre o prosseguimento daconstrução de Angra 3 através de decisão do ConselhoNacional de Política Energética CNPE,

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Também se aplica o mesmo conceito ao controle de materiaisnucleares para evitar que eles sejam desviados para a fabricação dearmas nucleares. Para monitorar essas atividades existem órgãos daONU, nacionais e regionais que controlam essas atividades“contábeis”. Por exemplo, o Brasil é parte da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares(ABACC). Na área energética, cada país elabora seu BalançoEnergético anual onde toda a energia produzida, transformada econsumida nas empresas, unidades residenciais e locais públicos éigualmente monitorada por processos contábeis.

Essas contabilidades também se prestam ao exercício dopoder. O controle de materiais nucleares derivou diretamente dodesejo de conter a proliferação das armas nucleares, entretanto essaação decorre do desejo dos países dominantes de manterem aexclusividade no uso dessas armas. O inventário de gases de efeitoestufa serve para que países se submetam a limitações que, se nãocumpridas, podem resultar em punições ou perdas de vantagenspolíticas e econômicas.

6. A Contabilidade Nacional e Externa e suasRecentes Mudanças

O ponto nevrálgico deste artigo é, no entanto, chamar aatenção para duas contabilidades que afetam diretamente a economiados países. É a chamada Contabilidade Nacional e o Balanço dePagamentos que corresponde (ou correspondia) à contabilidade entrepaíses. Os líderes da formulação da metodologia que rege essascontabilidades são respectivamente o Banco Mundial e o FundoMonetário Internacional – FMI. Um resumo de como as normasinternacionais são internalizada no Brasil é mostrado no Anexo.

O Conceito tradicional da Contabilidade Nacional é que elareferia-se a contabilidade dentro das fronteiras físicas de um país, ouseja, no Território Nacional, dentro de seus limites físico-geográficos.A contabilidade externa se ocupava das trocas entre territórios, ouseja, através das fronteiras dos países.

Sem muito alarde, conforme exposto na referência (7), esteconceito foi mudado por norma do FMI. No novo conceito, que rege

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essas contabilidades: as transações externas não são mais entrepaíses, mas entre residentes e não residentes.

Esta definição poderia levar a conclusão que não existe maiscomércio entre países, mas, entre pessoas. Ou então, poderia serconsiderada uma “nação virtual” composta por não residentes com aqual seria registrado o comércio dos residentes, com os nãoresidentes no país.

Mas não foi esta a solução adotada pelo FMI: quando umresidente nacional negocia com um “não residente” ele estánegociando com o país onde este “não residente” efetivamente reside.Ou seja, se uma empresa de brasileiros vende um produto para outraempresa cujo capital é de um residente tailandês está havendo umaexportação do Brasil para a Tailândia. Isto é válido, mesmo se oproduto permanecer no Brasil e o comércio for realizado em reais.Nota-se que o residente tailandês pode ser, inclusive, denacionalidade brasileira. Os critérios de residência permanente dopossuidor do capital são cuidadosamente definidos no Manual deBalanço de Pagamentos do FMI, agora em sua sexta edição - PBM6(8). Nada impede também que o possuidor do capital que fixa anacionalidade do importador esteja temporariamente residindo noBrasil.

O raciocínio também funciona no sentido inverso: Se aempresa do residente tailandês instalada no Brasil vende seu produtopara uma empresa brasileira (propriedade de residente no Brasil) estáhavendo uma exportação da Tailândia para o Brasil e,consequentemente, o Brasil está importando um produto feito nopróprio Brasil. As normas do FMI explicitam que isso é válido mesmoque o produto seja um recurso natural como a água, petróleo ou gásnatural e que as transações tenham sido feitas em reais.

Quem lida com contabilidade, pode claramente compreender,as dificuldades que isto gera no sistema das contas nacionais. O FMIpensou no assunto e tratou, em associação com o Banco Mundial quelidera a metodologia das Contas Nacionais, de como equacionar oproblema. Para que as contas nacionais possam “fechar” é necessárioque o produto da empresa tailandesa, fabricado no Brasil, sejaretirado da produção brasileira e passe a ser registrado como produto

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de origem nuclear poderia ter seu fornecimento suspenso a partir de2019. Este atraso pode configurar-se irreversível pela antecedêncianecessária para a fabricação do combustível.

A produção de energia nuclear é um assunto da mais altasensibilidade internacional e não pode estar sujeita a restrições quelimitem a segurança do sistema, inclusive no que concerne asegurança da população. Ressalte-se enfaticamente que problemasde fluxo de recursos nessa indústria podem provocar tragédiashumanas e ambientais de consequências imprevisíveis. O Brasil correo risco de vir a violar (ou já estar fazendo) o Protocolo da Convençãode Segurança Nuclear da qual é signatário e onde se compromete,entre outras obrigações a:

Assegurar que os recursos financeiros adequados estejamdisponíveis para apoiar a segurança de cada instalaçãonuclear ao longo de sua vida;

Assegurar que número suficiente de pessoal qualificadoesteja disponível, para todas as atividades relacionadas comsegurança para cada instalação, ao longo de sua vida.

A nomeação e o afastamento de sucessivos diretores-presidentes interinos claramente não ajudou o processo derecuperação da Empresa. A clara exposição da grave situação quevem fazendo, em diversos fora, o atual diretor-presidente LeonamGuimaraes e sua recente efetivação no cargo (5) criaram ascondições para que o Governo Federal assuma sua responsabilidadepara a urgente solução do problema.

Não fazê-lo implica desestruturar o estratégico Setor Nuclearbrasileiro resultante de mais de 60 anos de esforços, com fortesimpactos na Segurança Nacional, na independência esustentabilidade de todo o complexo nuclear do qual depende não sóabastecimento de energia da Região Sudeste, mas a estabilidade doSistema Elétrico Interligado, com graves implicações na estabilidadede atividades ligadas à defesa nacional, inclusive no que diz respeitoos compromissos assumidos em Acordos Internacionais, e à saúde dapopulação brasileira.

Claramente é necessário equacionar separadamente asituação de Angra 3, já que praticamente a totalidade dos agentes

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tanto inicial como o posterior já tornara o empreendimentoproblemático. A situação do impairment poderia ter sido, em princípio,resolvida com a repactuação da tarifa de Angra 3, persistindo, noentanto, o problema do aporte de recursos próprios cujoequacionamento estava em estudo.

Isso se tornou politicamente inviável quando as operações daPolícia Federal e Justiça Brasileira com as operações “Lava Jato” e“Pripyat” atingiram membros da alta direção da Empresa.

Foi nesse quadro que se decidiu suspender a construção deAngra 3, no entanto não motivada diretamente por essas operações,mas, pela incapacidade política de equacionar os problemas jáexistentes.

A paralisação da construção de Angra 3 (2) agravou asituação como esclarece o Presidente da Eletrobras, Wilson FerreiraJr., fazendo cessar o fluxo financeiro dos empréstimos assumidos enaturalmente, acrescentadas despesas com o adiantamento dovencimento de juros já referidos e exorbitantes na conjuntura, queseriam normalmente pagos após a conclusão do empreendimento,pela geração de recursos resultantes do funcionamento de Angra 3.

Além disto, a Empresa deve arcar com a manutenção docanteiro de obras que é uma obrigação que envolve a preservação doinvestimento já realizado com a construção de Angra 3 e osrequerimentos de segurança das centrais em operação. Com aparalisação das obras, foram geradas obrigações vencidas comfornecedores, que atualmente alcançam 50 milhões de reais.

A crise atual envolve, em virtude dos encargos referidos, aprópria produção de combustível nuclear pela empresa IndústriasNucleares do Brasil – INB com a qual a Eletronuclear já reduziu seuscompromissos de pagamento de combustíveis, a partir de outubrodeste ano, face à previsível indisponibilidade de recursos. A situaçãoda INB ficou crítica, além disto, em virtude dos cortes linearesrealizados no orçamento limitarem seus gastos anuais, afetando,inclusive, a utilização dos recursos próprios gerados pela venda decombustíveis, mesmo os decorrentes de exportação.

Concretamente, embora o combustível para 2018 já estejaassegurado (3) (4), a ser mantida a atual situação, a energia elétrica

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tailandês. Assim, não haveria dupla contagem quando ele fosse“importado” da Tailândia para o Brasil.

Para completar o quadro, foi criado o conceito de extensão do“território econômico” de um país sobre as fronteiras físicas do outro.Na nova sistemática, a empresa tailandesa no Brasil passa a fazerparte do “território econômico” da Tailândia. A produção tailandesa emterritório físico brasileiro (que poderia ser água extraída dosmananciais brasileiros) seria considerada como produzida no territórioeconômico tailandês e, naturalmente, seu consumo no Brasil só épossível contabilmente através de sua “importação” da Tailândia.Naturalmente as Contas Nacionais da Tailândia registrarão aprodução, no caso suposto, de água da fonte brasileira.

O Banco Central que cuida do Balanço de Pagamentos doBrasil adotou a Metodologia PBM6 do FMI em 2016 e a aplicou aosdados de 2015 e, retroativamente, aos de 2010 a 2014. Comparou osresultados obtidos com o resultante da aplicação da versão anterior(BPM5) (9). Mesmo sem nenhuma mudança metodológicasubstancial, apenas variando os critérios de sua aplicação, istoresultou numa redução das exportações brasileiras e um aumento dasimportações com impacto acumulado de 10,4 bilhões de dólares noperíodo.

Mudança ainda mais importante ocorreu em relação àstransações correntes. Na nova metodologia do FMI, mesmo com oscritérios do BPM5, os reinvestimentos das companhias de capitalestrangeiro (de não residentes) no Brasil passaram a serconsiderados como investimentos externos. Notar que essasempresas, na maioria, são consideradas pelas leis brasileiras comoempresas nacionais, desde que sejam registradas no Brasil. Essesreinvestimentos resultam, portanto, de lucros auferidos em reais noBrasil de empresas consideradas nacionais. O Balanço dePagamentos foi concebido para dar, como resultado, as necessidadesde financiamento em moeda estrangeira. Para transformar essesreinvestimentos em investimentos externos foi preciso registrá-los noque se chamou de “hiato financeiro”. Para fechar as contas externas,ao invés de utilizar-se o déficit das transações correntes apurado pela

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metodologia FMI, utiliza-se o valor do déficit menos o do “hiatofinanceiro”1.

Nele também passou a figurar os juros pagos por títulos derenda fixa no Brasil (novidade no BPM6), abatidas despesas com asreservas. No período de 2010 a 2014 isso resultou, conforme aavaliação do próprio BC, em um agravamento do déficit de 73,1bilhões de dólares. Houve ainda um ganho no setor serviços de 3,9bilhões de dólares sendo o resultado global sobre as transaçõescorrentes de –79,6 bilhões de dólares. Além disto, a mudança decritérios entre as duas revisões metodológicas (incorporação dostítulos de renda fixa de não residentes) fez crescer a dívida externaem 127 bilhões de dólares (dados de 2017).

7. O Poder da Contabilidade e os Desafios aoContador

Os exemplos apontados mostram claramente o poder quevem sendo exercido através da contabilidade nas mais diversasesferas de atuação tanto no nível nacional como no nívelinternacional. A Contabilidade permeia muitas outras áreas doconhecimento humano e certamente a contribuição dos profissionaisda contabilidade é sempre bem-vinda. Eugênio Staub afirma que a“Capacidade de adaptação é uma das virtudes exigidas doscandidatos à sobrevivência na economia globalizada”.

No atendimento dos clientes habituais, o contador enfrentahoje um arsenal tecnológico dos entes Federais, Estaduais eMunicipais, que já trabalham integrados, desenvolvido e custeadopelos próprios contribuintes. E, em certa medida, consideram válidoque “todos são culpados até que provem o contrário”.

As empresas contábeis são obrigadas a investir pesado paraconseguir acompanhar o ritmo frenético e alucinante em inovaçõestecnológicas. Tudo para cumprir os ritos e obrigações impostas pelosórgãos da Receita que se apoiam em um imenso poderio tecnológico.

1 Uma “pedalada” que deve fazer corar os profissionais da Contabilidade.

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Resumo da situação da Geração Elétrica Nuclear noBrasil em dezembro de 2017

Em 13 de Novembro do ano passado as direções daEletronuclear e da INB reuniram-se com o Presidente da Câmara,deputado Rodrigo Maia, para chamar a atenção sobre a gravesituação econômico-financeira da área da geração de energiaeletronuclear (1). O Diretor Presidente da Eletronuclear, LeonamGuimarães confirma que esta situação é fundamentalmente devidaaos dispêndios induzidos pelo estado em que se encontra o projeto deconstrução de Angra 3.

Os gastos com a interrupção de Angra 3 absorvem as tarifasgeradas por Angra 1 e 2, já reduzidas em valor real de 14%, pelaação ANEEL. Embora os recursos gerados sejam suficientes paramanter as duas usinas, em pleno funcionamento, a inadimplência dasresponsáveis contratuais pela construção de Angra 3 quais sejam aEletrobras e os financiamentos dos bancos BNDES e CaixaEconômica Federal, com a transferência dos encargos assumidos,tornou insustentável a situação da empresa.

De fato o não cumprimento pela Eletrobrás dos encargos,tanto o inicialmente acordado (de 20%), como o ampliadoposteriormente (de 40%), bem como daqueles de responsabilidadedos referidos bancos, em decorrência da mencionada interrupção doprojeto Angra 3, agravou-se mais ainda pelo início de cobrança pelosbancos de juros sobre os passados investimentos, atualmente em 30milhões de reais mensais (do BNDES) e que alcançariammensalmente 55 milhões de reais com a prevista incorporação dospagamentos devidos à CEF.

A situação financeira da Eletronuclear já vinha apresentandoproblemas, desde 2015, com a crescente transferência deresponsabilidade pelo investimento na construção de Angra 3. Esteconjunto inicial de eventos provocara virtual insustentabilidade daempresa no ano de 2015. Com efeito, a declaração de impairment(redução do valor de recuperação de um ativo) de 3,4 bilhões de reaisreduziu a zero, naquele ano, o patrimônio líquido da Empresa. Alémdisso, a impossibilidade da controladora Eletrobrás de aportar, comoapontado acima, recursos próprios conforme previsto em contrato

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Artigo:

Crise Econômico-Financeira naGeração Nuclear

José Israel Vargas,Carlos Feu Alvim e

Olga Mafra

Resumo

A situação financeira da Eletronuclear já vinha apresentando problemas,desde 2015, com a crescente transferência de responsabilidade peloinvestimento na construção de Angra 3. Este conjunto inicial de eventosprovocaria virtual insustentabilidade da empresa no ano de 2015. Nopresente o Brasil encontra-se novamente em uma encruzilhada emrelação à Angra 3. A interrupção das obras em 2015 gerou o vencimentode compromissos com os bancos financiadores em valores de 55 milhõesde R$ que absorveriam cerca de 20% de sua receita, advinda da geraçãode Angra 1 e 2. A desestruturação do Setor Nuclear Brasileiro,considerado estratégico para a Segurança Nacional, terá gravesimplicações na estabilidade de atividades ligadas à defesa nacional.Também terá fortes impactos na independência e sustentabilidade de todoo complexo nuclear, do qual depende não só o abastecimento de energiada Região Sudeste, mas também a estabilidade do Sistema ElétricoInterligado.

Palavras Chave:

Eletronuclear, programa nuclear, geração de eletricidade, Central deAngra, Angra 3, INB, crise financeira, segurança do sistema, SegurançaNacional.

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Mais e mais melhorias em infraestrutura são necessárias paraatender, com e eficácia, os exigentes relatórios demandados pelosdiferentes órgãos públicos. Se no século XV o contador eranecessário, no século XXI ele é primordial para a existência,sobrevivência e continuidade das empresas.

Como no passado, a superação profissional, mais uma vez,abre caminho para as oportunidades de mercado para os profissionaisda Contabilidade. A base fundamental, do trabalho dos contadoresatuais junto aos clientes, é de aconselhamento e consultoria comomedidas preventivas contra irregularidades.

O profissional da contabilidade tem um duplo desafio:

Por um lado, tem que se preparar para apoiar o cliente. Nessenovo tempo, os contadores cumprem todos os prazos,aconselham seus clientes e oferecem consultoria preventiva. Asmultas são altas, sendo a base das autuações o faturamento dogoverno. Investem em suas empresas contábeis, compramsoftwares de altas tecnologias, legalizados e bem integrados. Acontabilidade do futuro tem regras editadas pela Receita Federal.A ciência social entrou no campo da ciência da tecnologiaaplicada às Leis. O versátil profissional da contabilidade, além dedominar as mais modernas ferramentas tecnológicas, deve aindaprocurar atualização constante e aprofundada de estudos legaisnos ramos em que atuam.

Por outro lado, a contabilidade passou a ser instrumento de poderna área internacional tanto no que se refere a valores monetárioscomo em outras áreas de atividade. Os profissionais dacontabilidade devem estar preparados para grandes desafios, quepodem incluir colaboração para enfrentar regras internacionaisque podem atingir a saúde econômico-financeira do País.Complementarmente, a extensão da aplicação das técnicascontábeis a outras áreas também é uma oportunidade a elesaberta.

A valorização da Classe Contábil passa certamente poralcançar a capacidade para enfrentar os grandes desafios que lheestão sendo impostos por tantas novidades políticas, econômicas etecnológicas. Esses profissionais que já merecem o reconhecimentoda sociedade, por contribuírem para o desenvolvimento do País em

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suas múltiplas funções, tem agora a oportunidade de enfrentar asnovas frentes de trabalho que se apresentam.

Referências1. LEI Nº 11.638 de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivosda Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 dedezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposiçõesrelativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. [Online]http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm.

2. FEA - USP. O que é Contabilidade. FEAUSP. [Online]https://www.fea.usp.br/contabilidade/pos-graduacao.

3. Accounting in the Bible. HAGERMAN, ROBERT L. 2, Birminghan,Alabama : The Birmingham Publishing Company, 1980, Vol. 7.

4. Só Contabilidade. Biografias. socontabilidade. [Online]http://www.socontabilidade.com.br/conteudo/biografia_autores.php

5. Sena, Patrícia. Contabilidade - seu Valor "do passado ao futuro". Linquedin. [Online] fevereiro de 2016. https://pt.linkedin.com/pulse/contabilidade-seu-valor-do-passado-ao-futuro-patr%C3%ADcia-sena.

6. Conselho Federal de Contabilidade. RESOLUÇÃO CFC N.º 774/94. .Apêndice à Resolução sobre os Princípios Fundamentais de. Contabilidade.[Online] 16 de dezembro de 1994.http://app.senar.org.br/legislacao/setor_cont/res_cfc_774.pdf.

7. Carlos Feu-Alvim, Andreza Starling, Olga Mafra. Mudanças noBalanço de Pagamentos. Economia e Energia. 96, julho-setembro de 2017.http://ecen.com.br/?page_id=661.

8. International Monetary Fund. Sixth Edition of the IMF's Balance ofPayments and International Investment Position Manual (BPM6). IMF.[Online] november de 2013.http://www.imf.org/external/pubs/ft/bop/2007/bopman6.htm.

9. Banco Central do Brasil. Série histórica do Balanço de Pagamentos - 5ªedição do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição de InvestimentoInternacional (BPM5). BCB. [Online]http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/Seriehist_bpm5.asp.

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Sumário

É a Contabilidade, Estúpido! ...........................................................................1Crise Econômico-Financeira na Geração Nuclear ...........................................4

Resumo.....................................................................................................4Palavras Chave: ......................................................................................4

Resumo da situação da Geração Elétrica Nuclear no Brasil em dezembro de2017 .............................................................................................................5Bibliografia ..................................................................................................9

A Continuidade de Angra 3 ........................................................................... 10Atualização do Padrão Técnico e de Segurança do Projeto de Angra 3 ........ 13

Resumo................................................................................................... 13Palavras Chave: .................................................................................... 13

1. Introdução .............................................................................................. 142. Atualização da Base Normativa............................................................. 153. Atualização da Proteção contra Eventos Externos................................. 154. Atualização de Sistemas e Equipamentos .............................................. 155. Atualização devido a experiência internacional..................................... 166. Atualização para acidentes severos........................................................ 177. Conclusões............................................................................................. 18

O Poder da Contabilidade .............................................................................. 19Resumo................................................................................................... 19Palavras Chave: .................................................................................... 19

1. Objetivo do Trabalho ............................................................................. 192. A Contabilidade e as Influências da Matemática em seus Primórdios naEuropa........................................................................................................ 213. A Contabilidade e o Poder da Informação ............................................. 224. A contabilidade ampliou seus Poderes com a Informática .................... 235. A Contabilidade é mais Ampla que a do Dinheiro ................................ 246. A Contabilidade Nacional e Externa e suas Recentes Mudanças .......... 257. O Poder da Contabilidade e os Desafios ao Contador ........................... 28Referências ................................................................................................ 30ANEXO: Os Caminhos das Normas Contábeis ......................................... 31

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Economia e Energia – e&e 2

de vista técnico e de segurança. A questão não é trivial uma vez queexistem equipamentos fabricados há 30 anos e projetados há 40 anos. Umbom estudo sobre a questão foi realizado pela Eletronuclear; seu resumoexecutivo é publicado nesta edição.

Apresentamos também mais um artigo, O Poder da Contabilidade quefaz parte da série de problemas levantados no Número 96 dessa revista.Chama-se a atenção para o poder dos órgãos de arrecadação sobre aeconomia das empresas. Este poder é exercido via emissão de normascontábeis que empresas (e também cidadãos) devem cumprir e é apoiado porum arsenal informático crescente que amplia seu alcance. A Lei 11.638 de2007, que modificou a Lei 6.385 de 1976, facilitou o processo de assimilaçãodas normas internacionais. No caso das empresas de capital aberto isto jáestá sendo feito via Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Isto deslocaparte do poder sobre a contabilidade das empresas para os órgãosinternacionais.

As normas que regem a contabilidade do País (Contabilidade Nacional) edo comércio exterior (Balanço de Pagamentos) já são diretamente derivadasdas internacionais. No primeiro caso, o processo de elaboração e discussão éliderado pelo Banco Mundial e, no segundo, as normas são estabelecidas peloFMI. A internacionalização das normas aplicadas na contabilidade empresarialbrasileira facilita o objetivo de estabelecer um conjunto normativo contábil paratodos os países.

Nas análises realizadas nesta revista (E&E No 96 e 97), foi mostradocomo as normas contábeis internacionais adotadas no País já apresentamimpactos sobre a contabilidade nacional e sobre o balanço de pagamentos decentenas de bilhões de dólares. O exame da crise da Eletronuclear mostrouque sua origem está vinculada a uma norma internacional contábil de recenteintrodução no Brasil. O valor do impairment é cerca de 9 bilhões de reaisnegativos, cancela o valor de Angra 1 e 2.

Com efeito, a apuração do impairment (que deu origem à paralisação deAngra 3) é prevista na norma internacional IAS 36 (de 2004); o Comitê dePronunciamentos Contábeis – CPC “traduziu” a norma internacional para ospadrões locais em seu primeiro pronunciamento CPC 01 (em 06/08/2010). ACVM (Deliberação 639 de 07/10/2010) aprovou e tornou obrigatória a adoçãodo CPC 01 para as companhias de capital aberto. Igualmente a ANEEL (naResolução normativa 605 de 19/02/2014 de aprovação de Manual deContabilidade do Setor Elétrico - MCSE) adotou o CPC 01. Uma inesperadarelação surgiu entre os dois temas abordados que leva a nos dizer: É aContabilidade, estúpido!

Janeiro a março de 2018 Nº 98 31

ANEXO: Os Caminhos das Normas ContábeisBalanço de Pagamentos:

Figura 1: Manual BPM6 e Notas Metodológicas do Banco Central

Contas Nacionais:

Figura 2: Sistema de Contas Nacionais e Notas Metodológicas IBGE

6ª edição do Manual de Balanço dePagamentos e Posição de InvestimentoInternacional (BPM6)

ComunicadoNota Metodológica nº 1 – Estatísticas do SetorExterno – Adoção da 6ª Edição do Manual deBalanço de Pagamentos e Posição de InvestimentoInternacional (BPM6)

Nota Metodológica nº 2 – Transações correntes –Adoção da 6ª Edição do Manual de Balanço dePagamentos e Posição de InvestimentoInternacional (BPM6) - Atualizada em 23.4.2015

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Economy and Energy – E&E – Economia e Energia 32

Normas Empresariais

Figura 3: As normas internacionais ISA (International Accounting Standard)são aprovadas pelo Comitê Diretor do IASB International AccountingStandard Board e são divulgadas e difundidas pela Fundação IFRS. Estasnormas são traduzidas e adaptadas pelo Comitê de PronunciamentosContábeis – CPC, órgão privado criado pela Resolução CFC n° CFC 1055/05e composto pelas organizações (ABRASCA, APIMEC NACIONAL,BOVESPA, Conselho Federal de Contabilidade, FIPECAFI e IBRACON). Ocaso exemplo mostrado é da IAS 36 sobre impairment “traduzida” (sempresão necessárias adaptações) pelo “pronunciamento” CPC 01. A CVM, naDeliberação 639 de 07/10/2010, aprovou e tornou obrigatória a adoção doCPC 01 para as companhias de capital aberto. Igualmente a ANEEL, naResolução normativa 605 de 19/02/2014, aprovou o Manual de Contabilidadedo Setor Elétrico – MCSE (não mostrado na figura) que também adotou oCPC 01.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEISPRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 01

REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOSCorrelação às Normas Internacionais de Contabilidade –

IAS 36 (IASB)

DELIBERAÇÃO CVM Nº 639, DE 7 DE OUTUBRO DE 2010

Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 01(R1)

Economia e Energia

N° 98, janeiro/março 2018ISSN 1518-2932 - Disponível em: http://ecen.com.br e emhttp://ecen.com (números anteriores e exemplares em inglês)

Palavra do Editor

É a Contabilidade, Estúpido!Foi uma surpresa constatar que convergiam os dois principais temas

deste número da E&E: a Crise na Eletronuclear e o Poder da Contabilidade.Isso inspirou o título desse editorial que busca chamar a atenção daimportância da Contabilidade. Parafraseamos o “É a Economia, estúpido!” dopublicitário James Carville, cuja contundente frase foi considerada a chave dasurpreendente vitória do até então pouco conhecido Governador de Arkansas,Bill Clinton, na eleição americana de 1992 sobre o Presidente Bush (pai) quevinha simplesmente de vitória na Guerra do Iraque e do desmonte da UniãoSoviética, consagrado pela queda do muro de Berlin.

A construção de Angra 3 colocou a Eletronuclear, proprietária de duasusinas em funcionamento, em situação de patrimônio negativo já em 2015.Isso aconteceu porque a tarifa futura negociada não era suficiente para cobriros custos da usina. O patrimônio negativo resulta do impairment que écalculado projetando o déficit tarifário por toda a vida da usina.

Esta situação (que ainda persiste), aliada às intervenções da Justiça ePolícia Federal no âmbito das operações Lava-Jato, levaram a interrupção dasobras em 2015. Essa interrupção gerou o vencimento de compromissos comos bancos financiadores de 55 milhões de reais que absorveriam cerca de20% de sua receita, advinda da geração de Angra 1 e 2, e inviabilizariam (ouestão inviabilizando) a continuidade da geração elétrica nuclear de formasegura. Chamamos a atenção neste número para essa grave Crise naEletronuclear.

O Brasil encontra-se mais uma vez em uma encruzilhada em relação àAngra 3. No pressuposto de que se resolva o problema operacional daEletronuclear, caberá tomar uma decisão sensata sobre terminar ou nãoAngra 3. Alguma decisão talvez ainda seja possível nesse ano eleitoral de2018 e o fórum de decisão seria o Conselho Nacional de Política Energética –CNPE.

Um aspecto fundamental nessa decisão é responder a questão se essausina, por seu longo período de construção, não estaria defasada do ponto

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