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ADERBAL OLIVEIRA DAMASCENO O PLANO REAL E O COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO: CONDICIONANTES DO COMPORTAMENTO DEFICITÁRIO DA BALANÇA COMERCIAL (1994-2000) SALVADOR 2002

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ADERBAL OLIVEIRA DAMASCENO

O PLANO REAL E O COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO:

CONDICIONANTES DO COMPORTAMENTO DEFICITÁRIO DA

BALANÇA COMERCIAL (1994-2000)

SALVADOR 2002

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ADERBAL OLIVEIRA DAMASCENO

O PLANO REAL E O COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO:

PRINCIPAIS CONDICIONANTES DO COMPORTAMENTO

DEFICITÁRIO DA BALANÇA COMERCIAL (1994-2000)

Monografia apresentada no curso de graduação de

Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia

como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Ciências Econômicas

Orientadora: Profa. Celeste Maria Philigret Baptista

SALVADOR

2002

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Aderbal Oliveira Damasceno

O PLANO REAL E O COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO:

CONDICIONANTES DO COMPORTAMENTO DEFICITÁRIO DA

BALANÇA COMERCIAL (1994-2000)

Aprovada em Fevereiro de 2002

Orientador: _________________________________________________

Celeste Maria Philigret Baptista

Professora da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA

__________________________________________________

Luíz Alberto Petitinga

Professor da Faculdade de Ciências Economicas da UFBA

___________________________________________________

Paulo Antônio de Freitas Balanco

Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meus pais, Roberval Alves Damasceno e Reumisse de Oliveira

Alves.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar à minha orientadora, professora Celeste Maria Philigret

Baptista, tanto por ter me orientado na realização deste trabalho quanto pelos trabalhos

realizados por mim no Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC), dispensando bastante

atenção e contribuindo de forma significativa para a minha formação.

Agradeço também aos professores e colegas do NEC. A oportunidade de ouvi-los e discutir

foi de fundamental importância na reflexão sobre o objeto de esudo.

Agradeço também a Clécio Cruz, Alexnaldo Cerqueira e André Motta, parceiros de estudo

e amigos, com os quais pude discutir muitas idéias presentes no trabalho.

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RESUMO

O objeto de investigação deste trabalho é a balança comercial brasileira, tendo como

objetivo explicar os fluxos de comércio do país no período 1994-1995. A questão que guiou

a pesquisa foi a busca de explicações para o comportamento deficitário observado no

período 1995-2000. Constatou-se que a política de estabilização do Plano Real, calcada na

sobrevalorização do câmbio e abertura comercial, ao expor o mercado interno à

concorrência internacional, barateando as importações e tirando a competitividade das

exportações, são elementos fundamentais na explicação do comportamento deficitário do

comércio exterior brasileiro no período. Deve-se levar em consideração também as

mudanças na estrutura de comércio do país, ou seja, a partir de 1994 verificam-se mudanças

importantes no padrão de especialização do país.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 9 2 PROBLEMATIZAÇÃO E METODOLOGIA ...................................... 11 2.1 OBJETO ......................................................................................................11 2.2 PROBLEMA ...............................................................................................11 2.3 HIPÓTESES ................................................................................................11 2.4 METODOLOGIA .......................................................................................13 3 TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, CÂMBIO E

BALANÇA COMERCIAL ...................................................................... 14 3.1 LEI DAS VANTAGENS COMPARATIVAS ...........................................14 3.2 MODELO CLÁSSICO DE COMÉRCIO ...................................................17 3.3 TEORIA NEOCLÁSSICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL:

MODELO DE HECKSCHER-OHLIN-SAMUELSON .............................20 3.3.1 Teorema de Heckscher-Ohlin ................................................................. 21 3.3.1.1 Versão de Proporções de Fatores do Teorema ........................................... 22 3.3.1.2 Versão de Preços Relativos do Teorema de Heckscher-Ohlin .................. 25 3.3.1.1 Teorema de Rybczynski ........................................................................... 25 3.3.2 Teorema de Stolper-Samuelson .............................................................. 26 3.3.3 Teorema de Equalização de Preços dos Fatores ................................... 27 3.4 ECONOMIAS DE ESCALA, CONCORRÊNCIA IMPERFEITA E

COMÉRCIO INTERNACIONAL.............................................................. 27 3.5 CÂMBIO E BALANÇA COMERCIAL ................................................... 32 4 BALANÇA COMERCIAL NO PERÍODO PRÉ-REAL (1980-1994). 34 4.1 CRISE DA DÍVIDA EXTERNA E AJUSTE INTERNO ..........................34 4.2 BALANÇA COMERCIAL DURANTE A DÉCADA DE 80 ....................36 4.3 ABERTURA COMERCIAL DA ECONOMIA BRASILEIRA .................39 4.3.1 Primeira Fase da Abertura Comercial ....................................................40 4.3.2 Segunda Fase da Abertura Comercial: A Aceleração do Processo ......41 5 PLANO REAL E OS IMPACTOS NA BALANÇA COMERCIAL

BRASILEIRA ............................................................................................43 5.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E A IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO...43 5.1.1 Fundamentos Teóricos ..............................................................................43 5.1.2 As Três Fases de Implementação da Nova Moeda .................................45 5.2 CONTINUAÇÃO DA ABERTURA COMERCIAL: A POLÍTICA DE

IMPORTAÇÃO DO PLANO REAL ..........................................................47

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5.3 POLÍTICA CAMBIAL: SOBREVALIRIZAÇÃO DO CÂMBIO E BALANÇA COMERCIAL .........................................................................52

5.4 FRAGILIZAÇÃO DAS CONTAS EXTERNAS (1994-1998) ..................58 5.4.1 Transações Correntes ...............................................................................68 5.4.2 Balanço de Capitais ...................................................................................60 5.5 CONJUNTURA INTERNACIONAL: CRISE DA RÚSSIA .....................62 5.6 DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL E BALANÇA COMERCIAL (1999-

2000) ...........................................................................................................63 6 A PAUTA DE EXPORTAÇÕES ............................................................ 70 6.1 MATRIZ DE COMPETITIVIDADE .........................................................70 6.2 VANTAGEM COMPARATIVA ...............................................................76 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................82

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1 INTRODUÇÃO

Certamente, o acontecimento mais marcante da economia brasileira na segunda metade da

década de 90 é o amplo programa de estabilização da moeda implementado pelo governo

em 1994. No bojo do conjunto de políticas econômicas adotadas, cabe destacar uma relação

que iria nortear todo o perfil da economia durante o período, qual seja, a articulação

perversa entre o setor externo e a política de estabilização.

No programa de estabilização o setor externo assume um papel extremamente importante,

constituindo-se, em verdade, em um dos seus pilares, fato que mudaria sensivelmente a

inserção da economia do país relativamente à economia mundial, seja em termos dos fluxos

de bens e serviços ou das transações financeiras.

Um dos fatos que chama mais atenção no conjunto dos indicadores externos nesse período,

é a inflexão no perfil do fluxo de comércio do país em 1995. Esse ano marca o início de

uma fase onde se verifica um movimento de deterioração crescente do comércio exterior

brasileiro (vis-à-vis os grandes superávits da década de 80 e início dos anos 90), revelado

pelos grandes e sucessivos déficits na balança comercial a partir de então e que se

constituíram em um dos pontos de maior sensibilidade na condução da política econômica e

relacionamento do país com a economia mundial, sendo em alguns momentos, fator

limitante do nível de atividade e emprego da economia.

Os sucessivos déficits da conta comercial a partir de 1995, e o aprofundamento do

problema estrutural da conta de serviços, foram os principais responsáveis pelo processo de

fragilização da posição externa do país e dependência crescente relativamente aos fluxos

financeiros internacionais. Isso fica bastante evidente em momentos críticos da conjuntura,

como por exemplo, nas duas principais crises no cenário internacional ocorridas no

período: a asiática em 1997 e a russa no final de 1998.

O comportamento deficitário da balança comercial, além de estar relacionado diretamente à

política cambial e de importação (abertura) reflete também as transformações ocorridas na

pauta de exportação do país, que resultaram em um novo padrão de especialização.

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De acordo com as questões levantadas o presente trabalho tem como objetivo explicar os

fluxos de comércio do país no período em análise (1994-2000), considerando que o

comportamento da balança comercial é um dos aspectos de um conjunto de transformações

pelas quais passou a economia brasileira na segunda metade da década de 90.

Os motivos que justificam a realização desse trabalho estão relacionados à importância do

comércio exterior para a determinação do nível de emprego e renda da economia.

Entretanto, essa questão assume maior relevância no período pela reversão do saldo

ocorrida em 1995 e o comportamento deficitário a partir de então (até 2000), se revelando

em alguns momentos, como destacado acima, um dos fatores limitantes do crescimento do

emprego.

Esse trabalho está estruturado em seis capítulos, além desta Introdução. No 2º capítulo são

apresentados os elementos metodológicos. No 3º capítulo é apresentado um resumo das

principais teorias de comércio internacional, bem como da relação entre movimentos da

taxa de câmbio e a balança comercial. No 4º capítulo faz-se uma abordagem histórica da

balança comercial a partir de 1980, tendo como objetivo destacar a importância da reversão

do saldo em 1995, dando especial ênfase ao processo de abertura da economia. No 5º

discute-se o impacto das políticas macroeconômicas do Plano Real, bem como se faz

referência a momentos importantes da conjuntura internacional. O 6º capítulo tem como

objetivo estudar o padrão de especialização do comércio exterior brasileiro, destacando as

principais mudanças ocorridas ao longo da década. O 7º e último capítulo tem como

objetivo alinhar as principais conclusões a que foi possível chegar.

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2 PROBLEMATIZAÇÃO E METODOLOGIA

2.1 OBJETO

O objeto deste estudo é a balança comercial brasileira durante o período 1994-2000. Em

1994 é implementado o Plano Real, concebido com o objetivo de por fim ao processo

inflacionário pelo qual passava a economia há um longo período. Dentre as políticas

implementadas objetivando conter a inflação, o setor externo assume papel importante

através do incentivo que as importações tiveram, impulsionadas tanto pela continuação da

liberalização comercial iniciada em 1988/89, quanto, principalmente, pela política de

sobrevalorização da moeda.

2.2 PROBLEMA

Com a implantação do Plano Real o que se observa quase que imediatamente é uma

reversão brusca do comportamento da balança comercial. Durante quase uma década e

meia o país, ano a ano, obteve grandes superávits comerciais. A partir da adoção de um

conjunto de políticas com o objetivo de conter o processo inflacionário, os superávits

desaparecem, verificando-se a partir de então, em todos os anos (1995-2000), saldos

negativos.

O problema do qual esse trabalho se ocupa é explicar quais fatores são responsáveis pelo

comportamento deficitário da balança comercial brasileira no período 1995-2000. O ano de

1994 foi incluído no período em análise porque, embora o saldo comercial anual ainda seja

superavitário, é a partir de novembro de 1994 que os impactos das políticas adotadas

podem ser mais bem visualizados, com o aparecimento do 1° déficit mensal.

2.3 HIPÓTESES

A primeira hipótese desse trabalho diz respeito à relação entre o comportamento da balança

comercial e a política de estabilização do Plano Real. O aprofundamento da abertura da

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economia a partir de 1994 e a sobrevalorização da moeda são os principais responsáveis

pela reversão do saldo comercial em 1995 e os sucessivos déficits até 2000.

Portanto, a primeira hipótese é de que os déficits na balança de comércio, fruto de uma

política de estabilização da moeda calcada na abertura comercial e sobrevalorização do

câmbio, engendraram um processo de fragilização do conjunto das contas externas no

período 1994-1998, que por sua vez levaria, dada a conjuntura internacional desfavorável

no final de 1998, à necessidade de uma nova política cambial (jan/1999), conferindo um

novo perfil aos resultados da balança comercial em 1999 e 2000.

A segunda hipótese1, diz respeito a mudanças na pauta de exportações do país ocorridas a

partir de 1994 com a implementação do Plano Real. Ou seja, as mudanças na pauta de

exportações são elementos que também explicam o comportamento deficitário da balança

comercial brasileira no período 1995-2000.

O que cabe observar, na tentativa de explicitar a relação entre as duas hipóteses enunciadas,

é que essas mudanças na pauta de exportação (padrão de especialização) foram

conseqüência do desestímulo ao setor exportador que prevaleceu no período em análise. Ou

seja, se de um lado a abertura da economia e a sobrevalorização da moeda são responsáveis

pelo comportamento deficitário da balança comercial, por outro lado esses mesmos fatores

provocaram mudanças qualitativas na composição da pauta de exportações, de modo que

essas mudanças são parte da explicação dos déficits no período 1995-2000.

Para ressaltar a importância da segunda hipótese na explicação do comportamento

deficitário da balança comercial no período, cabe mencionar que os déficits comerciais a

partir da desvalorização da moeda, ocorrida no início de 1999, estariam refletindo

principalmente as mudanças no padrão de especialização do país ocorridas no período

1994-1998.

1 Para efeitos metodológicos, considera-se que o enunciado da primeira hipótese está relacionado aos elementos conjunturais que dão conta da explicação dos déficits da balança comercial, enquanto que as mudanças na pauta de exportações podem ser consideradas mudanças qualitativas e/ou estruturais.

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2.4 METODOLOGIA

O método utilizado é o teórico/explicativo pretendendo-se explicar o comportamento de

uma variável (déficit da balança comercial) ao longo do tempo, fazendo uso dos principais

instrumentais teóricos.

Os dados utilizados foram coletados em bancos de dados de instituições oficiais e não

oficiais, bem como em trabalhos que versam sobre o tema. A bibliografia concentra-se em

artigos de revistas especializadas e manuais de macroeconomia e economia internacional.

Na verificação da veracidade da 1ª hipótese, utiliza-se indicadores da abertura da economia,

taxa de câmbio nominal e real, bem como as contas do balanço de pagamentos. Para inferir

sobre o grau de abertura da economia foram utilizadas a tarifa nominal, efetiva e as

alíquotas de importação, cobrindo um período de 1988 a 1999. Com relação ao balanço de

pagamentos, foram trabalhadas principalmente (além das outras contas), séries mensais e

anuais, a valores fob, de exportações e importações.

A análise das mudanças da pauta de exportação (2ª hipótese), baseou-se nos dados e

metodologia divulgados pelo Iedi (2000c; 2002). Nesse sentido, foi utilizado o seguinte

instrumental para averiguar as mudanças no padrão de especialização do país: matriz de

competitividade e um indicador de vantagens comparativas. Na tentativa de apresentar de

forma clara os conceitos, procurou-se fazer uma discussão detalhada do instrumental

utilizado. Os dados2 cobrem três períodos (1991-1994, 1994-1998 e 1998-2000).

2 Valores de exportação e importação dos 237 grupos setoriais a 3 dígitos em conformidade com a Standard International Trade Classification (SITC), agregados pela classificação a 1 dígito (capítulo da SITC). Os capítulos são os seguintes: 0- alimentos; 1-bebidas e fumo; 2-matérias-primas, exclusive combustíveis; 3- combustíveis; 4- óleos e gorduras; 5- produtos químicos; 6- manufaturas por tipo de material; 7- maquinaria e material de transporte; 8- artigos manufaturados diversos; 9- outros.

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3 TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, CÂMBIO E BALANÇA

COMERCIAL

3.1 LEI DAS VANTAGENS COMPARATIVAS

Essa seção tem como objetivo discutir a lei das vantagens comparativas e ilustrá-la através

de um tratamento formal, ressaltando os motivos que levam os países a se engajarem no

comércio, quais os ganhos que o comércio proporciona em termos de bem-estar e como são

definidos os padrões de especialização.

De acordo com a lei das vantagens comparativas, o motivo básico para a existência do

comércio internacional é a diferença de preços existentes de um país para outro. Essa

diferença de preços reflete as condições de oferta de cada nação, ou seja, ela reflete a

disponibilidade de recursos de produção, tecnologia e o modo como estes são combinados

no processo produtivo, tendo como resultado uma determinada estrutura de custos.

Se certos bens são mais baratos quando produzidos em outros países, é razoável supor que

seria mais vantajoso importar do que alocar recursos internos para produzi-los, já no caso

de alguns artigos serem mais baratos se produzidos internamente justifica exportá-los.

Desse modo, o comércio, como observado por Kenen (1998, p.21):

[...] serve para minimizar os custos reais dos recursos da produção mundial [...] Isto ocorre porque ele permite e encoraja os produtores de cada país a se especializarem em atividades econômicas que aproveitem da melhor forma possível os recursos físicos e humanos de seu país.

O comércio leva os países a alocarem seus recursos na produção de bens dos quais

desfrutam de uma certa vantagem de custos, relativamente à produção de outros bens.

Portanto, pode-se dizer que as diferentes condições de oferta das nações as levam ao

comércio, encorajando cada país a se especializar na produção de bens com menores custos

relativos e que isso proporciona ganhos de bem-estar. Essa é a essência da lei das vantagens

comparativas e cabe aqui uma citação mais bem elaborada de Samuelson (1988, p.1035):

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Os países especializar-se-ão na produção de mercadorias em que são mais produtivas. O princípio da vantagem comparativa mostra que a especialização beneficiará todos os países, mesmo quando um deles é em absoluto mais eficiente na produção de todos os bens. Se os países se especializarem em produtos nos quais têm vantagens comparativas (ou maior eficiência relativa) então o comércio beneficiará todos os intervenientes.

Para ilustrar o princípio das vantagens comparativas de maneira formal, adota-se aqui um

modelo simples de equilíbrio geral3 (Gráfico1), com dois países comercializando dois bens

(máquinas fotográficas e cereais). Através do uso do diagrama será possível observar as

condições de oferta de cada nação, as condições de demanda, o equilíbrio interno antes da

abertura do comércio, o equilíbrio depois da abertura, os impactos do comércio na

produção e consumo internos, e por fim, caracterizar a natureza dos ganhos de comércio.

GRÁFICO 1

Cada país é representado por uma curva de possibilidade de produção, que mostra as

quantidades combinadas de dois bens que podem ser produzidos levando em consideração

seus recursos, sua tecnologia e o modo como são combinados, ou seja, a curva de

3 Esse modelo, copiado integralmente, foi utilizado por KENEN, Peter B. Economia Internacional: teoria e política. (tradução da 3ª ed. do

original), Rio de Janeiro, Campus, 1998, p.39.

Fonte: KENEN (1998)

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possibilidade de produção mostra as condições de oferta de cada nação. Pela observação do

gráfico é fácil perceber que os países têm diferentes condições de oferta. A curva de

possibilidade de produção de um país é TT’ e podemos dizer que esse país tem melhores

condições de produzir cereais do que máquinas fotográficas. A curva de transformação do

outro país é Tf Tf’ e esse país tem melhores condições de produzir máquinas fotográficas do

que cereais.

As condições de demanda de cada país são representadas por mapas de indiferença da

população (desenhado com base em mapas de indiferença individuais), sendo que cada

curva de indiferença pode ser definida como o lugar geométrico de todas as combinações

das quantidades dos dois bens (neste caso cereais e máquinas fotográficas) que dá à

comunidade o mesmo nível de utilidade. Como pode ser observado no gráfico, as curvas de

indiferença, representadas por U0, U1, U2, são idênticas, significando que os dois países têm

condições de demanda similares.

Antes da abertura do comércio cada país encontra-se em equilíbrio (no ponto de tangência

entre a curva de indiferença U0, curva de possibilidade de produção e uma reta de restrição

orçamentária que foi omitida) consumindo o que produz. A economia interna (TT’)

encontra-se em equilíbrio no ponto E, e a economia externa (Tf Tf’) no ponto E*. Antes da

abertura o preço relativo de máquinas fotográficas é menor na economia externa, pelo fato

de ter melhores condições de produzi-las. Cabe salientar também que após a unificação dos

mercados dos dois países deve prevalecer preços comuns e a zeragem dos dois mercados.

Após a abertura do comércio a economia interna (TT’) passa a produzir em D e a consumir

em P, significando dizer que vai importar a quantidade MP de máquinas fotográficas e

exportar a quantidade DM de cereais, o que é representado pelo triângulo de comércio

DMP. A economia externa (Tf Tf’) passa a produzir no ponto D* e a consumir no ponto P*,

importando a quantidade M*P* de cereais e exportando a M*D* de máquinas fotográficas

resultando no triângulo de comércio D*M*P*, portanto a quantidade exportada por um país

é igual à quantidade importada pelo outro. Outro fato relevante é que após a abertura do

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comércio o preço relativo de máquinas fotográficas diminuiu na economia interna (TT’) e

na economia externa (TfTf’) aumentou.

Os efeitos da abertura do comércio sobre a produção podem ser vistos pelo fato de que a

economia interna tem melhores condições de produzir cereais e após a abertura ela explora

sua vantagem aumentando a produção de cereais e diminuindo a produção de máquinas

fotográficas. A economia externa tem melhores condições de produzir máquinas

fotográficas e após a abertura do comércio ela explora sua vantagem, aumentando a

produção de máquinas fotográficas e diminuindo a produção de cereais.

O efeito sobre a demanda pode ser notado porque após a abertura do comércio as

economias interna e externa podem atingir curvas de indiferença mais altas, portanto

aumenta o bem-estar nas duas economias, ressaltando que o aumento é maior na economia

externa porque ela alcança uma curva de indiferença mais alta do que a alcançada pela

economia interna.

Os ganhos do comércio são justamente o aumento de bem-estar nas duas economias, e estes

podem ser decompostos em dois tipos: uma parte dos ganhos de comércio é advinda do

intercâmbio internacional e outra parte da especialização. Nós poderíamos dizer também

que após a abertura do comércio ocorre o efeito renda e o efeito substituição em cada

economia, dado que a abertura ao comércio mudou a inclinação da reta orçamentária como

resultado de uma diminuição do preço relativo do bem importado por cada nação, o efeito-

substituição sendo os ganhos com o intercâmbio internacional e o efeito-renda os ganhos

com a especialização.

3.2 MODELO CLÁSSICO DE COMÉRCIO

O princípio das vantagens comparativas foi elaborado originalmente por David Ricardo no

início do século XIX em seu Princípios de Economia Política e Tributação. A tese

levantada por ele se baseia na proposição de que se dois países tiverem diferentes condições

de oferta o comércio será benéfico para ambos. Essa foi a idéia básica que norteou a

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argumentação da seção anterior, porém, o modelo apresentado neste capítulo tem como

cerne a idéia de que as distinções das condições de oferta entre as nações, que é a fonte das

vantagens comparativas, é conseqüência das diferenças tecnológicas (produtividade do

trabalho).

Se duas economias (“A” e “B”) produzem dois produtos, tecido e vinho por exemplo, sendo

que a “A” emprega uma quantidade de trabalho Lv e Lt na produção de vinho e tecido,

respectivamente, e a “B” para produzir as mesmas quantidades desses produtos emprega

uma quantidade de trabalho Lv* e Lt*, para que seja possível o comércio benéfico entre

essas duas economias é necessário e suficiente que as quantidades relativas de trabalho para

produzir vinho e tecido sejam distintas em cada nação.

No seu modelo, Ricardo assume que os salários reais (w) são idênticos dentro de cada

economia, de modo que o custo de se produzir uma unidade de vinho no país “A” seria

Lv.w e o custo de se produzir uma unidade de tecido seria Lt.w, e no país “B” seria Lv*w*

o custo de produzir uma unidade de vinho e Lt*w* uma unidade de tecido, o que significa

dizer que os preços relativos no interior dessa economia dependem somente das

quantidades de trabalho necessárias para a produção de cada bem. Ora, isso tem fortes

implicações e significa dizer que as condições de oferta dentro de cada nação são

representadas pelas quantidades relativas de trabalho necessárias para produzir vinho e

tecido (Lv/Lt no país “A”), e dado que o salário é suposto constante, o estado da tecnologia

em cada país depende exclusivamente das quantidades relativas de trabalho para produzir

vinho e tecido, tendo como resultado o fato de que “o comércio internacional é estritamente

o resultado das diferenças internacionais na produtividade do trabalho” (KRUGMAN;

OBSTFELD, 1999, p.15).

Para ilustrar como as vantagens comparativas determinam os padrões e ganhos de

comércio, pode-se utilizar como exemplo o comércio bilateral entre Inglaterra e Portugal.

Supondo que na Inglaterra fossem necessários 100 homens/hora para produzir uma certa

quantidade de tecido e que fossem necessários 120 homens/hora para produzir uma

quantidade qualquer de vinho, e em Portugal para produzir a mesma quantidade de tecido

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que a Inglaterra fossem necessários 90 homens/hora e 80 homens/hora para produzir a

mesma quantidade de vinho, pode-se mostrar que o comércio é benéfico para ambos e que

cada país se especializará exclusivamente na produção do bem que tiver maiores vantagens

comparativas.

Do exemplo acima se pode ver que os países têm diferentes estruturas de custos relativos,

dado o fato de que as quantidades relativas de trabalho para produzir ambos os bens são

distintas entre os países, e cabe salientar também que Portugal tem vantagem absoluta na

produção dos dois artigos, mas possui vantagem comparativa na produção de vinho porque

sua vantagem absoluta é maior.

Pode ser visto que o comércio é benéfico para ambos, e os países se especializariam

exclusivamente na produção do artigo que tivesse vantagem comparativa (Portugal se

especializaria na produção de vinho e Inglaterra na produção de tecido). A Inglaterra pagará

por vinho que custa o trabalho de 80 homens/hora uma quantidade de tecido que custa o

trabalho de 100 homens/hora e mesmo assim sairia ganhando porque se tivesse que

produzir a mesma quantidade de vinho lhe custaria o trabalho de 120 homens/hora.

Portugal também sairia ganhando, por que pagou com o trabalho de 80 homens/hora uma

quantidade de tecido que iria lhe custar 90 homem/ horas para produzir4 .

Segundo Gonçalves et alli. (1998, pg. 15), o modelo clássico (ricardiano) de comércio

assume as seguintes premissas:

• Comércio entre dois países e dois bens.

• Só existe um fator de produção, o trabalho, e este é perfeitamente móvel no interior de

um país e imóvel internacionalmente.

• Há diferentes tecnologias em diferentes países.

4 Esse exemplo foi baseado em GONÇALVES, Reinaldo, et alli. A Nova Economia Internacional: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro, Campus, 1998, p.15.

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20

• A balança comercial está sempre equilibrada e os custos dos transportes é igual a zero.

• Há rendimentos constantes de escala.

A única premissa que parece guardar alguma relação com a realidade é a de que os países

possuem diferentes tecnologias, sendo que as outras expõem as fragilidades desse modelo

relativamente à faculdade de explicar os fluxos de comércio internacional.

3.3 TEORIA NEOCLÁSSICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL: MODELO DE

HECKSCHER-OHLIN-SAMUELSON

Na seção anterior foi analisado o modelo ricardiano, o qual explica as diferentes estruturas

de oferta entre os países como resultado exclusivamente de diferenças tecnológicas. Aqui

será analisado o papel da dotação de fatores nas diferentes estruturas de oferta e padrões de

comércio dos países, procurando comprovar a proposição de que a diferença na dotação de

fatores entre os países leva a distintas estruturas de oferta, possibilitando o comércio

benéfico para ambos, cada um se especializando na produção do bem que usa de forma

relativamente mais intensiva o fator que é mais abundante internamente.

O modelo Heckscher–Ohlin-Samuelson é, em essência, uma discussão do conceito de

vantagens comparativas, só que ao contrário do modelo ricardiano que tinha como fonte das

vantagens comparativas as diferenças tecnológicas entre os países, este se baseia nas

diferentes dotações de fatores entre as nações como fonte das vantagens comparativas, o

que torna oportuno uma observação de Gonçalves et alli. (op. cit., p.14):

A teoria neoclássica do comércio internacional, que tem no modelo Heckcher-Ohlin-Samuelson sua principal contribuição, é, em última análise, uma elegante discussão sobre os fundamentos do conceito de vantagens comparativas e os ganhos do comércio exterior, dentro do universo conceitual dessa corrente de pensamento.

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Uma interpretação parecida pode ser encontrada em Carvalho (1993, p.10), ao considerar o

modelo H-O-S uma extensão do paradigma neoclássico ao âmbito do comércio

internacional, com a incorporação do conceito de vantagens comparativas. Este autor

destaca as seguintes hipóteses do modelo:

• Concorrência perfeita- atomismo, homogeneidade de produtos, informação perfeita e

livre entrada (mobilidade dos fatores no âmbito nacional);

• Equilíbrio geral - é suposta a vigência de mecanismos de ajustamento via preços e

quantidades, com os preços sendo determinados pela oferta e demanda;

• Comportamento maximizador dos agentes em face de restrições orçamentárias;

• As diferenças tecnológicas podem ser convenientemente representadas por funções de

produção caracterizadas como contínuas e diferenciáveis, apresentando rendimentos

marginais (físicos) decrescentes e sendo considerados idênticos para cada produto em

qualquer país;

• Identidades das preferências dos consumidores de cada país;

• Imobilidade internacional dos fatores produtivos (capital e trabalho).

O núcleo da teoria neoclássica do comércio internacional é formado por quatro teoremas,

que dão conta dos resultados fundamentais do modelo. Esses quatro teoremas são: o

teorema de Heckscher-Ohlin; teorema de Rybczynski, teorema de Stolper-Samuelson e; o

teorema da equalização de preços dos fatores.

3.3.1 Teorema de Heckscher-Ohlin

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A abordagem de Heckscher-Ohlin baseia-se em dois pressupostos. O primeiro concebe que

os bens são diferentes em termos de exigência de fatores, enquanto o segundo diz que os

países têm diferentes dotações de fatores.

Esses dois pressupostos levam à idéia que serve de pilar para o modelo de Heckscher-

Ohlin, de que um país tende a se especializar na produção de bens que sejam intensivos nos

fatores mais abundantes, exportando-os em troca de bens intensivos nos fatores mais

escassos, ou seja, “o comércio baseia-se nas diferenças de abundância de fatores, reduzindo

os efeitos principais dessas diferenças” (KENEN, op. cit., p.71).

O teorema pode ser comprovado de duas maneiras. A primeira é a versão de proporções de

fatores do teorema, segundo a qual a diferença na dotação de fatores entre os países levaria

a diferentes curvas de possibilidade de produção (estrutura de oferta). A segunda maneira

de comprovar o teorema é através da versão de preços relativos, que mostra que as

diferenças entre os preços dos fatores levam a diferenças entre os preços dos bens.

3.3.1.1 Versão de Proporções de Fatores do Teorema

Para analisar a versão de proporções de fatores do teorema é utilizado aqui um modelo de

equilíbrio geral5 (Gráfico 2) que permite verificar dois países comercializando dois bens

entre si com o uso de dois fatores de produção (capital e trabalho), ilustrando as condições

de oferta e demanda dos dois países, a produção e o consumo, antes e após a abertura do

comércio, bem como analisar os ganhos proporcionados pelo comércio.

5 Esse modelo, copiado integralmente, foi utilizado por KENEN, Peter B. Economia Internacional: teoria e política. (tradução da 3ª ed. do

original), Rio de Janeiro, Campus, 1998, p.77.

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GRÁFICO 2

As condições de oferta de cada país são representadas por sua fronteira de possibilidade de

produção, no caso, a fronteira de possibilidade de produção L*K* representa um país, e a

fronteira LK representa o outro, sendo que o país L*K* tem uma grande quantidade de

capital e pequena quantidade de força de trabalho e o país LK tem grande quantidade de

força de trabalho e pouco capital. Em uma primeira análise pode ser visto que o país L*K*,

que é abundante em capital, tem melhores condições de produzir aço, bem intensivo em

capital. E o país LK tem melhores condições de produzir milho, bem intensivo em trabalho.

Antes da abertura do comércio o país L*K* encontra-se em equilíbrio no ponto E*, onde a

inclinação da fronteira de possibilidade de produção é igual à inclinação da curva de

indiferença U0, produzindo e consumindo neste ponto. O país LK encontra-se em equilíbrio

no ponto Q, tangenciando a curva de indiferença U0 neste ponto, cabendo observar que esse

país opera em pleno emprego.

Após a abertura do comércio o preço relativo do milho tem que ser igual tanto no país

L*K*, quanto no país LK, representado pelas inclinações das linhas paralelas Q*P* e QP.

Isso significa que após a abertura do comércio o preço relativo do milho deve aumentar no

país LK e diminuir no país L*K*.

Fonte: KENEN (1998)

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24

No que diz respeito à produção, com a abertura do comércio o país L*K* passa do ponto de

produção E* para o ponto Q*, aumentando a produção de aço, bem que é mais intensivo no

fator abundante internamente, e diminuindo a produção de milho, bem intensivo em

trabalho, fator relativamente escasso. Já o país LK, permanece no mesmo ponto de

produção, porque o ponto Q é um ponto de pleno emprego.

O efeito do comércio sobre o consumo pode ser visto pelo fato de que após a abertura o

país L*K*(consumidores) passa do ponto de consumo anterior à abertura, E*, para o ponto

P*, atingindo uma curva de indiferença superior U2. O país LK (consumidores) que antes

do comércio consumia no ponto Q, passa para o ponto P após a abertura, atingindo uma

curva de indiferença superior, U1.

Podemos ver que após a abertura do comércio nenhum dos dois países consome exatamente

aquilo que produz, de modo que o país L*K* pode exportar uma quantidade M*Q* de aço,

que excede seu consumo, em troca de uma quantidade de importação M*P* de milho,

porque não produz o suficiente para seu consumo. O país LK pode exportar a quantidade

MQ de milho e importar a quantidade MP de aço. Desse modo, o comércio entre os dois

países está em equilíbrio, visto que a exportação de um país é exatamente igual à

importação do outro, o que pode ser comprovado pela congruência dos triângulos de

comércio P*M*Q* do país L*K* e QMP do país LK.

Da análise do modelo, fica comprovada a versão de proporções de fatores do teorema de

Heckscher-Ohlin, pelo fato de que a diferença na dotação de fatores entre os dois países

levou a diferentes condições de oferta (diferentes fronteiras de possibilidade de produção),

sendo que após a abertura do comércio cada país exportou o bem que era intensivo no fator

que tinha em abundância (o país LK exportou milho, porque é mais abundante em mão-de-

obra e o país L*K*, mais abundante em capital, exportou aço, que é mais intensivo em

capital). Pode-se ver também que os dois países ganharam com o comércio, pelo fato de

que os consumidores dos dois países puderam atingir uma curva de indiferença superior.

Cabe ressaltar que os ganhos de comércio de país LK devem-se exclusivamente ao

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25

intercâmbio internacional, já que este não mudou o seu padrão de produção após a abertura

comercial.

3.3.1.2 Versão de Preços Relativos do Teorema de Heckscher-Ohlin

A versão de preços relativos do teorema diz que se o preço relativo de um fator for mais

barato em um país antes da abertura do comércio, o preço relativo do bem intensivo neste

fator também deveria ser mais barato, de modo que o país exportaria este bem.

Isso pode ser ilustrado com o país LK do gráfico 2. Antes da abertura do comércio o preço

relativo da mão-de-obra é menor no país LK, de modo que o preço relativo do milho, bem

intensivo em mão-de-obra, também é menor, e após a abertura do comércio o país LK

exportou milho.

3.3.2 Teorema de Rybczynski

O teorema de Rybczynski nos permite analisar as alterações que ocorrem nos padrões de

produção de um país quando mudam os recursos disponíveis, ou seja, nos mostra o que

aconteceria com os padrões de produção se aumentasse a oferta de um dos fatores que o

país utiliza. Pode-se enunciar as implicações de um aumento na oferta de um fator de

produção com uma observação de Kenen (op. cit., p.73):

Quando as ofertas de fatores se encontram em seu ponto de pleno emprego e dadas as exigências de fatores, o aumento da oferta de um fator de produção aumenta a produção do bem que utiliza o fator com maior intensidade e reduz a produção do outro bem.

Uma qualificação ao argumento apresentado na citação anterior pode ser feita levando em

consideração o fato de que o aumento na oferta de um dos fatores leva a um crescimento na

produção do bem que utiliza o fator relativamente de forma mais intensiva, mais do que

proporcionalmente ao aumento na oferta do fator e cai em absoluto a produção do bem que

utiliza o fator de maneira menos intensiva (KRUGMAN; OBSTFELD, op. cit., p.73-75).

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Pode-se ainda fazer uma generalização, no sentido de que se houvesse um aumento na

oferta de todos os fatores, “embora possa haver um crescimento no produto de ambas as

mercadorias, crescerá relativamente mais o produto que usa intensivamente o fator cujo

crescimento da oferta for mais dinâmico” (GONÇALVES, op. cit., p.29).

3.3.3 Teorema de Stolper-Samuelson

O teorema de Stolper-Samuelson descreve os efeitos do comércio sobre os preços dos

fatores e a distribuição de renda. A essência do teorema é a idéia de que a abertura do

comércio aumenta o preço relativo do fator abundante em cada país.

Tomando como base o modelo representado pelo gráfico 2, pode-se dizer que o comércio

aumenta o preço relativo do trabalho no país com abundância de trabalho (LK) e aumenta o

preço relativo do capital no país com abundância de capital (L*K*). Isso significa que o

comércio aumenta a participação do trabalho na renda do país LK e aumenta a participação

do capital na renda do país L*K*.

Exemplificando com o país LK do Gráfico 2, pode ser visto que o comércio aumentou o

preço relativo do milho no país com abundância de trabalho. O aumento do preço relativo

do milho leva ao aumento no preço relativo do trabalho, fator usado com intensidade na

produção de milho. O aumento no preço relativo do milho estimula a produção de milho e

desencoraja a produção de aço. Como o milho requer grande intensidade de trabalho, o

aumento na produção de milho aumenta a demanda por trabalho mais do que a redução na

produção de aço a diminui, tendo como conseqüência o aumento da taxa salarial. Do

mesmo modo, a diminuição na produção de aço diminuiria a demanda por bens de capital

mais do que o aumento na produção de milho a aumentaria, reduzindo o retorno do capital

(KENEN, op. cit., p.80).

As conclusões acerca dos efeitos do comércio internacional sobre a distribuição de renda

em um país podem ser colocadas de forma genérica com uma observação de Krugman e

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Obstfeld (op. cit., p.78): “Os proprietários dos fatores abundantes de um país ganham com

o comércio, mas os proprietários dos fatores escassos de um país perdem”.

3.3.4 Teorema de Equalização de Preços dos Fatores

Para demonstrar o teorema de equalização dos preços dos fatores usaremos o gráfico 2, que

mostra os países L*K* e LK comercializando dois bens (milho e aço) com o uso de dois

fatores de produção (capital e trabalho).

Na ausência do comércio, o trabalho seria menos remunerado na economia LK do que na

L*K* e o capital seria mais remunerado no país LK que no L*K*. Na economia LK,

abundante em trabalho, o preço do milho seria relativamente menor do que em L*K*,

abundante em capital, e essa diferença nos preços relativos dos bens implica em diferença

nos preços relativos dos fatores.

Quando os dois países comercializam os preços relativos dos bens convergem e isso leva a

convergência dos preços relativos do capital e do trabalho. Como pode ser visto no Gráfico

2, após a abertura do comércio prevalecem preços iguais nos dois países, ou seja, os preços

de milho e aço são os mesmos nos dois países, e dessa forma o comércio equaliza

plenamente os preços relativos do capital e do trabalho logo, os preços dos fatores também

serão equalizados. Um comentário de Kenen (op. cit., p.80) aborda o teorema mais

formalmente:

Se não houvesse barreiras ao comércio nem custos de transporte, o comércio equalizaria os preços de fatores dos países que fizessem comércio entre se, ou seja, não reduziria apenas a diferença entre eles. Assim, ele compensaria totalmente os efeitos da diferença de dotação de fatores.

3.4 ECONOMIAS DE ESCALA, CONCORRÊNCIA IMPERFEITA E COMÉRCIO INTERNACIONAL

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Nos modelos de comércio analisados até o momento foi ressaltado que a diferença na

estrutura de oferta entre os países, seja em termos de dotação de fatores (Heckscher-Ohlin-

Samuelson) ou diferenças tecnológicas (Ricardiano), leva ao comércio benéfico, cada país

se especializando na produção dos bens que tem maior vantagem comparativa. Aqui será

ressaltado o papel das economias de escala como fonte independente para o comércio

internacional, ou seja, mesmo que os países não sejam diferentes quanto à dotação de

fatores ou tecnologia, o comércio oferece uma oportunidade de ganhos mútuos como fruto

das economias de escala.

Uma indústria está sujeita a economias de escala (rendimentos crescentes de escala), se ao

dobrar a quantidade de todos os insumos utilizados, a produção mais do que dobrar, ou seja,

o aumento da produção tem que ser mais do que proporcional ao aumento na quantidade

dos fatores. Sendo as economias de escala de dois tipos, internas e externas, cabe defini-las

e ressaltar a importância de cada uma para o tipo de estrutura de mercado.

As economias de escala externas ocorrem quando o custo unitário depende do tamanho da

indústria como um todo e não da firma em particular. Já nas economias de escala internas o

custo unitário depende do tamanho da firma individual. Os tipos de economias de escala

(interna, externa) implicam em diferentes estruturas de mercado. Uma indústria

caracterizada unicamente por economias de escala externas, consistirá em um grande

número de pequenas firmas e será perfeitamente competitiva. Já quando uma indústria é

caracterizada por economia de escalas internas, as grandes firmas tem uma vantagem de

custos sobre as pequenas, o que leva a uma estrutura de mercado imperfeitamente

competitiva.

Esse modelo leva em consideração os efeitos das economias de escala internas para o

comércio internacional e, portanto, relaxa duas hipóteses. A primeira hipótese é a da

existência de rendimentos constante de escala, o que consequentemente implica o

relaxamento da hipótese de que o mercado é perfeitamente competitivo.

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A estrutura de mercado mais amplamente utilizada para explicar o papel das economias de

escala no comércio internacional é a concorrência monopolística, sem embargo, esta não

capta algumas características do mundo real, dado que a estrutura de mercado

predominante é o oligopólio. Um comentário de Krugman e Obstfeld (op. cit., p.130) deixa

claro esta opção:

O apelo principal do modelo de concorrência monopolística não é seu realismo e sim sua simplicidade [...] o modelo de concorrência monopolística dá-nos uma visão muito clara de como as economias de escala podem aumentar um comércio mutuamente benéfico.

A análise do papel das economias de escala para o comércio internacional está centrada na

importância que assume o aumento do tamanho do mercado no ambiente de concorrência

monopolística, ou seja, quando os países comercializam entre si formam um mercado

mundial integrado que é maior do que o mercado de qualquer país.

Com o comércio cada país pode se especializar na produção de uma variedade menor de

bens para atender a um mercado maior. Isso permite que cada bem seja produzido em uma

escala maior, o que resulta em aumento de produtividade, diminuição dos custos, e

consequentemente dos preços, ou seja, os ganhos de escala resultante da especialização dos

países em uma pequena variedade de bens leva a economia mundial a produzir mais de

cada bem, a um preço menor.

Os consumidores de cada país são beneficiados pelo fato de que o comércio aumenta a

variedade de bens disponíveis. O papel das economias de escala para o comércio

internacional pode ser resumido com um comentário de Krugman e Obstfeld (op. cit.,

p.135):

Nas indústrias em que existem economias de escala, tanto a variedade dos bens que um país pode produzir como a escala de sua produção são restringidas pelo tamanho do mercado. Comercializando entre si e, portanto, formando um mercado mundial integrado que é maior que qualquer mercado nacional individual, os países estão aptos a livrar-se dessas restrições. Cada país pode especializar-se na produção de uma variedade menor de produtos do que o faria na ausência de comércio; mesmo comprando de outros países bens que ele não produz, cada país pode aumentar simultaneamente a variedade dos bens disponíveis a seus consumidores.

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O modelo baseado em economias de escala e mercado de concorrência monopolística leva

à indefinição dos padrões de comércio. É preciso examinar a interação entre economias de

escala e vantagens comparativas para definir como os padrões de comércio são

determinados.

Tomemos como exemplo dois países (LK e L*K*) comercializando entre si e a existência

de duas indústrias, uma de manufatura e uma de alimentos, sendo que a indústria de

manufaturas é relativamente intensiva em capital e a indústria de alimentos intensiva em

trabalho, e no que diz respeito à dotação de fatores dos dois países, o país LK é abundante

em trabalho relativamente a capital e L*K* é relativamente abundante em capital. Sob a

hipótese de concorrência perfeita e rendimentos constantes de escala, seria plausível que o

país LK se especializasse na produção de alimentos, exportando-os em troca de

manufaturas, e o país L*K* se especializasse na produção de manufaturas, exportando-as

em troca de alimentos, de modo que as importações de um país seriam exatamente iguais às

exportações do outro.

Porém, segundo Krugman e Obstfeld (op. cit., p.141), o comércio sob a hipótese de

concorrência monopolística e economias de escalas é constituído de duas partes. Existirá

comércio entre os dois países no setor de manufaturas (comércio intra-indústrias), e a outra

parte do comércio é constituída de troca de manufaturas por alimentos entre os dois países

(comércio interindústrias). Os autores destacam ainda quatro aspectos sobre esse padrão de

comércio:

• O comércio interindústrias, troca de manufaturas por alimentos, reflete as vantagens

comparativas. O padrão resultante do comércio interindústrias é que o país L*K*,

abundante em capital, é um exportador líquido de manufaturas e importador líquido de

alimentos.

• O comércio intra-indústrias, troca de manufaturas por manufaturas, é reflexo da

concorrência monopolística e das economias de escala (dado que esta leva os países a se

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especializarem em uma pequena variedade de produtos), e desse modo, mesmo se os

países fossem idênticos na sua razão capital-trabalho, a produção de produtos

diferenciados pela firmas e a demanda dos consumidores por produtos de outros países

continuaria gerando o comércio intra-indústrias.

• Não há nada no modelo que defina o padrão de comércio intra-indústrias, ou seja, não

pode-se dizer qual país produz qual bem dentro do setor de manufaturas.

• Quanto mais os países forem semelhantes nas razões capital/trabalho, as economias de

escala forem significativas e houver grande diferenciação dos produtos, maior será o

comércio intra-indústrias. Isso significa que o comércio entre países com estruturas de

ofertas semelhantes se dá preponderantemente intra-indústrias. Por outro lado, quanto

mais os países forem diferentes relativamente à dotação de fatores, maior será a parte

do comércio interindústrias baseado em vantagens comparativas.

Outro ponto importante a ser ressaltado é o efeito do comércio sobre a distribuição de

renda. No modelo Heckscher-Ohlin-Samuelson, que tem como premissas as economias

constantes de escala e concorrência perfeita, foi visto que o comércio beneficia os

proprietários dos fatores abundantes e os proprietários dos fatores escassos perdem. Sem

embargo, quando as economias de escala tornam vantajosa a especialização em uma

variedade restrita de bens, deixa de existir esse efeito perverso sobre a distribuição de

renda, e pode ser que todos venham a ganhar com o comércio.

O que se espera é que o comércio intra-indústrias - norteado pelas economias de escala -

seja mais preponderante entre os países industrializados avançados, dado que estes têm

estruturas de oferta relativamente semelhantes, e suas indústrias produzem manufaturas

sofisticadas sujeitas a grandes economias de escala e fortemente diferenciadas.

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3.5 CÂMBIO E BALANÇA COMERCIAL Essa seção tem como objetivo examinar as relações entre variações na taxa de câmbio e os

efeitos sobre a balança comercial. A abordagem adotada aqui é a das elasticidades, também

conhecida como condição de Marshal-Lerner-Robinson, tendo esse nome em homenagem a

três economistas que chegaram aos mesmos resultados de forma independente.

Taxa de câmbio pode ser definida como o preço da moeda nacional em termos de uma

moeda estrangeira (bilateral), ou uma cesta de moedas (multilateral). As taxas de câmbio

podem ser classificadas como nominais e reais. A taxa nominal mede o preço da moeda

nacional em termos do preço de uma moeda (cesta de moedas) estrangeira. Com relação à

taxa de câmbio real (ε = e . Pf/P, onde e é a taxa de câmbio nominal e P e Pf são índices de

preço interno e do país estrangeiro), Dornbush e Fisher (1991, p.213) argumentam que: “a

taxa de câmbio real mede a competitividade de um país no comércio internacional”.

Existem, basicamente, dois sistemas de taxa de câmbio, fixa e flutuante. Em um sistema de

câmbio fixo o Banco Central está disposto a comprar ou vender moeda estrangeira a um

preço fixo, de modo que “em um sistema de taxas de câmbio fixas, os bancos centrais têm

que financiar quaisquer superávites ou déficits de balanço de pagamentos que surjam à taxa

de câmbio oficial” (DORNBUSH; FISHER, op. cit., p.207).

Em um sistema de taxa de câmbio flexível, o preço da moeda é determinado no mercado de

divisas pela interação entre oferta e demanda. Pode-se considerar também a existência de

flutuação controlada e flutuação limpa. Na flutuação controlada o banco central vende e

compra moeda estrangeira para influenciar a taxa de câmbio. Na flutuação limpa o banco

central fica de fora e deixa que a taxa de câmbio seja determinada livremente no mercado

de divisas.

A relação entre a taxa de câmbio e balança comercial pode ser resumida em três pontos: (1)

uma depreciação torna os bens domésticos relativamente mais baratos no exterior, o que

aumenta a demanda estrangeira, aumentando dessa forma as exportações; (2) pelo fato de

tornar as importações relativamente mais caras, uma depreciação impulsiona a demanda

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interna em direção aos bens domésticos; (3) o preço das importações aumenta, de modo que

a mesma quantidade de importações agora custa mais caro para comprar. Sem embargo,

isso não diz muito sobre o resultado em termos de saldo da balança comercial, dado que

este depende do quanto as exportações irão aumentar e quanto as importações irão

diminuir, ou seja, o resultado depende das elasticidades-preço das exportações e

importações.

A condição segundo a qual uma desvalorização (depreciação) da moeda melhoraria o saldo

da balança comercial é conhecida como condição de Marshal-Lerner-Robinson e pode ser

enunciada com uma observação de Kenen (op. cit., p.371):“A depreciação ou

desvalorização da moeda de um país aumentará seu saldo da conta corrente se a soma das

elasticidades-preço das demandas nacional e estrangeira de importações for maior que a

unidade”.

O que se espera é que no curto prazo a condição de Marshall-Lerner-Robinson não se

verifique. Como argumenta Kenen (op. cit., p.371):

[...] as elasticidades estão relacionadas com reações de longo prazo; elas descrevem os efeitos de uma variação da taxa de câmbio depois de passado tempo suficiente para que os consumidores e produtores cumpram compromissos antigos e encontrem novos fornecedores e clientes. As elasticidades de curto prazo são menores e nem sempre obedecem à condição de MLR.

Por isso, no curto prazo espera-se que haja uma deterioração no saldo comercial. O efeito

que descreve o ajustamento do saldo comercial como consequência de uma desvalorização

(depreciação) da moeda é chamado na literatura de curva J.

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4 BALANÇA COMERCIAL NO PERÍODO PRÉ-REAL (1980-1994)

4.1 CRISE DA DÍVIDA EXTERNA E AJUSTE INTERNO

Quando se observa os principais indicadores do setor externo da economia brasileira

durante a década de 80, dois aspectos chamam bastante atenção. O primeiro aspecto diz

respeito aos grandes superávits da conta de comércio do país durante o período, que têm

início a partir de 1981 e se estende até meados dos anos 90. O segundo aspecto é o fluxo

crescente de divisas para pagamento do serviço da dívida externa.

Como argumentado a seguir, a explicação dos superávits comerciais da década de 80

(contrastando com o comportamento deficitário dos anos 70), e de certa forma, com o

acréscimo de alguns elementos, até meados dos anos 90, está intimamente relacionada ao

pagamento de compromissos assumidos principalmente durante a década de 70.

Portanto, para entender a geração de superávits na conta de comércio do país durante a

década de 80, se torna imperioso considerar o projeto de desenvolvimento colocado em

prática pelas autoridades durante a década de 70, principalmente a partir da primeira crise

do petróleo. Esse período é caracterizado por forte crescimento da economia brasileira,

sendo que para isso as autoridades se empenharam em um projeto do qual fazem parte um

amplo programa de substituição de importações e a constituição de infra-estrutura

necessária para o florescimento de uma gama de atividades econômicas. O crescimento do

produto interno verificado no período foi financiado, principalmente, através de captação

de poupança externa.

A idéia era de que em países subdesenvolvidos, onde o nível da Renda Nacional é

relativamente baixo, registra-se, de um modo geral, uma elevada propensão marginal a

consumir por parte da população, fenômeno este que provoca uma escassez de poupanças,

pois, uma vez que da renda auferida a maior parte é consumida, o que sobra a título de

economia é uma parcela pequena. É neste contexto que a captação de poupança externa era

vista como uma alternativa para o desenvolvimento econômico do país, dado o fato de que

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a poupança interna não era suficiente para fazer face às inversões necessárias à acumulação

de capital que se pretendia.

Esse processo de endividamento externo foi facilitado por dois fatores. O primeiro deles diz

respeito ao fortalecimento da OPEP, cartel formado pelos produtores de petróleo que

controlam a oferta do produto no mercado mundial. Através da redução da oferta fez-se

com que o preço desse insumo se elevasse fortemente em um curto espaço de tempo o que

significou um fluxo crescente de dólares para os países formadores do cartel. Esses países

ao acumularem grandes quantidades de divisas, reaplicaram esse dinheiro no mercado

financeiro internacional, os chamados petrodólares, o que causou grande liquidez e

facilidade de crédito.

Outro fator que contribuiu significativamente para o endividamento do período foi o baixo

nível da taxa de juros no mercado mundial, que também está relacionado à liquidez então

existente. Assim, o quadro estava traçado: facilidade de empréstimos no mercado

financeiro internacional a juros baixos. Era uma oportunidade para o país dar o salto de

desenvolvimento almejado.

Esse modelo de crescimento econômico promovido, basicamente, através da absorção de

poupança externa, entrou em crise por causa de dois acontecimentos. O primeiro deles foi a

segunda crise do petróleo. Como argumenta Galvêas ( 1984, p.41) :

Os novos e substanciais incrementos dos preços fizeram com que nossas importações de petróleo passassem de US$ 4,5 bilhões em 1978 para US$ 10,2 bilhões em 1980 e US$ 11,3 bilhões em 1981, agravando sensivelmente os problemas de balanço de pagamentos do país.

Aliado à segunda crise do petróleo, está o aumento das taxas de juros no mercado

financeiro internacional provocado pela política monetária restritiva adotada pelo Banco

Central americano no final dos anos 70, com objetivo de financiar seus déficits fiscal e

comercial, bem como conter a inflação, elevando os custos de nossa dívida externa devido a

maiores pagamentos de juros, dado que a maioria dos empréstimos tinha taxa pós-fixada. A

partir desse momento parte substancial dos empréstimos passou a ser contraída com o

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36

objetivo de fazer frente ao pagamento de juros e amortizações. Dessa forma a nova crise

energética e o aumento dos juros no mercado financeiro internacional se refletiram de

forma violenta no balanço de pagamentos.

A situação foi agravada por uma série de acontecimentos que ocorreram no ano de 1982,

com destaque para a crise cambial mexicana, o que é bem comentado por Filgueiras (2000,

p.71):

[...] com o segundo choque do petróleo e a elevação da taxa de juros americana, e, na década seguinte, com a crise do México em 1982, a situação internacional se modificou completamente, e para pior, no que se refere à oferta de recursos financeiros aos países em desenvolvimento. De uma situação de excesso de liquidez nos mercados financeiros, passou-se à outra de extrema escassez, inaugurando-se para esses países um período de estagnação do crescimento, aceleração inflacionária e exportação de capitais [...]

Essa crise financeira provocou retração dos financiamentos bancários e tornou difícil o

fechamento das contas externas, exigindo todo um esforço de reestruturação da economia

brasileira para fazer face aos estrangulamentos do balanço de pagamentos. É nesse sentido

que a geração de grandes superávits na conta de comércio torna-se uma alternativa

imperiosa como meio de gerar divisas para o pagamento da dívida externa e o governo

brasileiro, assim como o governo de vários países que adotaram a mesma estratégia na

década de 70, se empenha neste esforço.

4.2 BALANÇA COMERCIAL DURANTE A DÉCADA DE 80

Os ajustes pelos quais a economia iria passar foram monitorados diretamente pelo FMI, e

consistia basicamente em um conjunto de metas referentes à inflação, déficit público,

balança comercial, taxas de juros e de câmbio.

O ajustamento interno seria obtido, principalmente, através da diminuição do déficit

público e controle monetário rígido, com o intuito de fazer face ao processo inflacionário.

Isso significa diminuição dos gastos do governo e contração dos investimentos privados,

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37

comprimindo a demanda agregada e consequentemente o nível de emprego e renda da

economia.

No fronte externo os principais instrumentos utilizados foram as políticas cambiais e de

juros, que tinham claramente o objetivo de facilitar a disponibilidade de divisas para

pagamento dos serviços da dívida. No entanto, o mais importante ajustamento se deu na

conta de comércio do país, através de um conjunto de medidas objetivando a obtenção de

grandes superávits.

Com o intuito de incentivar as exportações realiza-se desvalorização da moeda, mudando

os preços relativos em favor dos bens exportados, concede-se subsídios aos produtores

nacionais, linhas de créditos especiais para os exportadores e contrai-se a demanda interna,

o que é bem observado por Furtado ( 1989, p. 14):

A desvalorização cambial aumenta a rentabilidade das atividades de exportação e comprime a demanda de importações [...] Conseguida a baixa da demanda interna e criada a capacidade ociosa nas empresas, a opção pelas exportações faz-se muito atrativa. Mesmo vendendo no exterior a preços inferiores aos praticados no mercado interno, as empresas dão preferência às exportações, pois os custos de produção “na margem” são inferiores aos custos médios.

Como meio de comprimir as importações, além da desvalorização da moeda, que se tornou

difícil dado o acelerado processo inflacionário, o governo lança mão de um conjunto de

políticas de comércio exterior, no qual destacava-se a adoção de barreiras comerciais

tarifárias e não tarifárias, conferindo um alto grau de proteção ao mercado interno, que mais

tarde provocaria tanto atraso tecnológico quanto dos métodos de gestão, se refletindo em

produtividade muito aquém da observada nos países capitalistas desenvolvidos que no

mesmo período estavam passando por um intenso processo de reestruturação produtiva.

Os efeitos de todas essas medidas já se fazem sentir em 1981 com a reversão do saldo

comercial, e se prolongam por mais de uma década, com a obtenção de elevados saldos

positivos na conta de comércio, denotando os impactos que as medidas adotadas tiveram ao

conferir um novo perfil ao comércio exterior do país, onde os pilares foram os subsídios, as

linhas especiais de crédito e um conjunto de barreiras protecionistas, incluindo barreiras

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fito sanitárias, que tinham como objetivo deixar a indústria nacional longe da competição

internacional.

O que fica evidente é que o bom desempenho da balança comercial durante a década de 80

(ver tabela a seguir), ao contrário da década de 70 onde era deficitária, com os grandes

superávits alcançados, está ligado à necessidade de fazer face aos problemas de balanço de

pagamentos provocados pela crise da dívida externa. Aqui cabe um comentário

esclarecedor do Iedi (2000c, p.234):

A geração de superávits comerciais, amparada na restrição de importações e na concessão de subsídios e incentivos às exportações, era a alternativa possível de financiamento dos déficits em serviços (onde preponderava a conta de juros da dívida externa, já que os gastos com o envio de lucros e dividendos, viagens internacionais e transporte ainda eram de reduzido valor), em virtude da interrupção dos fluxos de novos financiamentos externos para a economia brasileira.

Esses superávits na conta de comércio do país foram persistentes até 1994, cabendo

ressaltar o fato de que a partir de 1988 tem início o processo de abertura da economia

brasileira e, portanto, uma mudança na lógica da política de comércio exterior, sendo que a

abertura é um dos fatores que estão relacionados à reversão do saldo ocorrida em 1995.

TABELA 1

P e r í o d o E xp o r t a ç õ e s I m p o r t a ç õ e s S a ld o1 9 8 0 2 0 .1 3 2 2 2 .9 5 4 - 2 .8 2 21 9 8 1 2 3 .2 9 3 2 2 .0 9 1 1 .2 0 21 9 8 2 2 0 .1 7 5 1 9 .3 9 5 7 8 01 9 8 3 2 1 .8 9 9 1 5 .4 2 9 6 .4 7 01 9 8 4 2 7 .0 0 5 1 3 .9 1 6 1 3 .0 8 91 9 8 5 2 5 .6 3 9 1 3 .1 5 3 1 2 .4 8 61 9 8 6 2 2 .3 4 9 1 4 .0 4 5 8 .3 0 41 9 8 7 2 6 .2 2 4 1 5 .0 5 1 1 1 .1 7 31 9 8 8 3 3 .7 8 9 1 4 .6 0 4 1 9 .1 8 51 9 8 9 3 4 .3 8 3 1 8 .2 6 5 1 6 .1 1 81 9 9 0 3 1 .4 1 4 2 0 .6 6 1 1 0 .7 5 31 9 9 1 3 1 .6 2 0 2 1 .0 4 1 1 0 .5 7 91 9 9 2 3 5 .7 9 3 2 0 .5 5 4 1 5 .2 3 91 9 9 3 3 8 .5 5 5 2 5 .2 5 6 1 3 .2 9 91 9 9 4 4 3 .5 4 5 3 3 .0 7 9 1 0 .4 6 6

F o n t e : Ip e a d a t a

B a la n ç a C o m e r c ia l - F o b e m U S $ m ilh õ e s

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Aqui, torna-se necessária uma breve análise do processo de abertura da economia brasileira

para traçar o cenário que nos permitirá explicar o comportamento da balança comercial

durante o Plano Real, mostrando como a continuação do processo de abertura se inclui na

lógica do referido plano e, portanto, é de fundamental importância para nossos propósitos.

4.3 ABERTURA COMERCIAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

De acordo com a teoria clássica e neoclássica, o que justifica os fluxos de comércio

internacional é o fato de que os países têm diferentes condições de oferta, levando a

distintas estruturas de custos e consequentemente de preços. Desse modo, as diferentes

estruturas de oferta faz com que cada país tenha vantagens relativas de custos na produção

de certos bens.

Na versão Clássica da teoria (ricardiana), as distintas condições de oferta são o resultado de

diferenças tecnológicas, dando a cada país uma vantagem relativa de custos na produção de

certos bens. Já para a versão Neoclássica da teoria (Heckscher-Ohlin-Samuelson) o que

justifica os países terem diferentes estruturas de oferta são as distintas dotações de fatores

produtivos, o que, assim como na versão ricardiana, dá a cada país uma vantagem relativa

de custos na produção de certos bens.

Se cada país, após a abertura, se especializasse na produção de bens nos quais desfruta de

uma vantagem relativa de custos (vantagem comparativa), o resultado seria um aumento de

bem-estar em todos os países envolvidos no comércio, ou seja, a diferença na estrutura de

oferta entre os países leva ao comércio benéfico. Como observado por Moreira e Correa

(1996, pg.6):

[...] seria possível elevar a renda real da população através da especialização da produção nos setores nos quais o país possua vantagens comparativas, seja em termos de tecnologia (no caso ricardiano) ou de dotação de fatores (no caso Heckscher-Ohlin). Este argumento permanece até hoje como a mais sólida defesa da política de liberalização comercial.

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Desse modo, a idéia é de que a estrutura de proteção vigente na economia brasileira

impedia o país de especializar-se na produção de bens nos quais desfrutava de vantagens

comparativas, privando a sociedade dos benefícios do livre comércio.A liberalização

comercial da economia brasileira que teve início em 1998 pode ser dividida em três fases

distintas. A primeira fase de abertura ocorreu no biênio 1988/89, uma segunda fase durante

o governo Collor 1990/1993, e uma terceira fase que compreende o período do Plano Real.

Essa última será abordada no próximo capítulo.

4.3.1 Primeira Fase da Abertura Comercial

Os elementos que caracterizam a primeira fase do processo de liberalização (1988/89) são

os seguintes: início da redução das tarifas nominais, no sentido de diminuir a redundância

tarifária e aplicação da algumas medidas direcionadas à diminuição das barreiras não-

tarifárias. Sobre essa fase do processo de liberalização cabe uma observação de Moreira e

Correa (op. cit., p.17):

[...] entre 1988 e 1989, caracterizou-se pela redução da redundância tarifária média (de 41,2% para 17,8%) e pela pequena alteração na estrutura tarifária, tendo sido abolidos os regimes especiais de importação e unificados os diversos tributos sobre as compras externas, reduzindo-se levemente o nível e a variação do grau de proteção tarifária da indústria local [...]

As reformas ocorridas tiveram como medidas mais importantes, de acordo com Azevedo e

Portugal (1998, p. 39), a redução das alíquotas e a eliminação do IOF incidente sobre as

importações, diminuição da taxa de melhoramento dos portos e eliminação de alguns

regimes especiais de isenção, significando, embora de modo incipiente, uma ruptura com o

padrão protecionista inaugurado desde o início da década. Como pode ser observado na

tabela abaixo, houve uma substancial queda no nível da tarifa nominal média de 1988 a

1990, mas os autores acima citados observam que a reforma não foi suficiente para eliminar

a redundância tarifária no período.

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TABELA 2

4.3.2 Segunda Fase da Abertura Comercia: A Aceleração do Processo

As principais características dessa fase foram o aprofundamento das políticas de

liberalização comercial, destacando a eliminação de barreiras não tarifárias, redução

gradual das alíquotas de importação e abolição da maior parte dos regimes especiais de

importação.

No que diz respeito à tarifas, implementou-se um cronograma de redução das alíquotas de

importação, onde previu-se a queda gradual da tarifa média, modal e de seu desvio padrão,

previsto para o período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994. O cronograma foi

antecipado em 1992, 1993 e 1994, devido à utilização da abertura comercial como

instrumento de estabilização de preços, tanto no período anterior, quanto principalmente,

com a implementação do Plano Real. Torna-se oportuno aqui um comentário de Moreira e

Correa (op. cit., p.17):

[...] a segunda etapa do processo de liberalização comercial teve início em 1990, com a definição de novas diretrizes para a política de comércio exterior, e estava prevista para ser concluída em dezembro de 1994, tendo a nova política industrial e de comércio exterior extinguindo a maior parte das barreiras não tarifárias herdadas do período de SI6 e definido um cronograma de redução das tarifas de importação [...]

TABELA 3

6 Essa abreviação, SI, significa Substituição de Importações.

%Ano 1985 1986 1987 1988 1989 1990

Média 51,3 51,3 51 41 35,5 32,2Moda 30 30 30 40 40 40

Desvio Padrão 26 26 26,3 17,6 20,8 19,6Fonte:Az evedo e Portugal

Tarifa Nominal de Importação Brasileira

Ano 1991 1992 1993 1994 1995

Tarifa nominal Média 25,30 20,80 16,50 14,00 12,60

efetiva Desvio Padrão 17,40 14,20 10,70 8,30 9,00

Cronograma previsto Média 25,30 21,2* 17,1* 14,2* 12,6*

de redução da tarifa Desvio Padrão 17,40 14,20 10,70 7,90 9,00Fonte: Azevedo e Portugal (1998)( * ) O cronograma tarifário previsto em 1991 foi posteriormente antecipado em 01-10-92, 01-07-93 e 01-04-94

Evolução Efetiva da Tarifa Legal de Importação x Cronograma

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Com esse conjunto de medidas adotadas no sentido de diminuir o grau de proteção da

economia brasileira, esperava-se impactos razoáveis na conta de comércio do país, no

entanto, o saldo comercial do período não revela isso, cabendo notar que os grandes

superávits que estavam ligados à lógica precedente de condução das políticas de comércio

exterior, adotadas no início da década de 80, persistiram. Sem embargo, todas essas

medidas adotadas não foram inócuas e tiveram impactos na conta de comércio do país, mas

foram atenuados pela conjuntura do período, caracterizada por taxa de câmbio

relativamente desvalorizada e diminuição do ritmo de crescimento do produto interno. Com

relação aos aspectos principais do comércio exterior brasileiro nessa segunda fase de

abertura um comentário de Azevedo e Portugal (op. cit., p.45) torna-se bastante

esclarecedor:

Entre 1990 e 1992, o valor das importações permaneceu estagnado em torno de US$ 20,5 bilhões, enquanto o volume importado cresceu a uma taxa anual média de 8,6%. Apesar da forte desaceleração da economia, provocada pelo Plano Collor, quando o PIB real declinou, nos três primeiros anos da década, em aproximadamente 5% e da tendência de desvalorização real do câmbio, o volume importado cresceu em função do processo de abertura comercial. Neste sentido, a desvalorização real do câmbio, que é considerada o elemento central de todo receituário a respeito das medidas que devem ser adotadas no início de um processo de liberalização comercial, desempenhou um papel importante no sentido de reter o avanço das importações.

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5 PLANO REAL E OS IMPACTOS NA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA

O Plano Real, implementado em julho de 1994, constituiu-se em um conjunto de políticas

macroeconômicas que teve como objetivo principal por fim ao processo inflacionário que

perdurava na economia brasileira de longa data. Os planos anteriores, formulados com esse

objetivo, obtiveram resultados fugazes e a inflação retornava com maior voracidade após

curtos períodos de arrefecimento.

5.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E A IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO

Pelo fato de abranger tanto elementos da ortodoxia quanto da heterodoxia pode-se

caracterizar o Plano Real como híbrido do pondo de vista teórico. Esse hibridismo fica

evidente ao levar-se em conta, como é argumentado por Filgueiras (op. cit., p. 93-94), as

duas vertentes básicas que influenciaram na elaboração e execução do Plano: o Consenso

de Washington (expressando os fundamentos alinhados à ortodoxia) e a experiência com o

Plano Cruzado7, nessa última cabendo destacar a discussão acerca da inflação inercial e a

proposta de uma "moeda indexada" (elementos heterodoxos).

5.1.1 Fundamentos Teóricos O Consenso de Washington foi estabelecido a partir da reunião realizada em 1989 em

Washington, convocada pelo Instituto de Economia Internacional, cujo objetivo foi avaliar

o conjunto de reformas de caráter liberal já em andamento nos países da região (América-

Latina). O exame das propostas de política econômica que emergiram do Consenso deixa

clara a sua influência na elaboração e execução do Plano Real. Estas podem ser sintetizadas

da seguinte forma: ferrenha disciplina orçamentária, através da diminuição dos gastos

públicos (Estado mínimo), e a realização de uma reforma tributária; regime de dolarização

direta ou indireta da economia, com sobrevalorização do câmbio e política monetária

passiva; abertura dos mercados, tanto de bens quanto financeiro; realização de privatizações

e desregulamentação dos mercados.

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O conjunto de medidas adotadas no bojo do Plano corrobora a hipótese da influência

exercida pelo “Consenso”. Dentre as medidas adotadas destacam-se as seguintes: amplo

programa de privatizações, abertura comercial e financeira, sobrevalorização do câmbio,

tratamento dado ao capital internacional, ênfase na realização de um ajuste fiscal.

Quanto à influência exercida pela experiência do Plano Cruzado, o aspecto relevante a

observar é o debate sobre a natureza da inflação inercial, principalmente a proposta de uma

moeda indexada (versus o choque heterodoxo), derrotada na época de implementação do

Plano, que mais tarde influenciaria na criação da Unidade Real de Valor (URV).

A proposta da moeda indexada parte do princípio de que em um ambiente de alta inflação,

a desindexação da economia não pode ser feita através do congelamento (proposta de

choque heterodoxo). Em qualquer ponto do tempo a estrutura de preços relativos está

distorcida pela assincronia dos reajustes, de modo que o congelamento cristalizaria essa

distorção, provocando, na nova moeda, ganhos e perdas de renda real para os diversos

agentes econômicos, o que levaria a uma nova espiral inflacionária.

O aspecto importante dessa proposta reside no fato de que "a moeda indexada diariamente

eqüivale à indexação total e instantânea da economia. Com isto não tem sentido o cruzeiro

e a inflação medida em cruzeiros e desaparecem, portanto, os problemas de indexação e de

inércia inflacionária" (RESENDE, 1985, apud FILGUEIRAS, op. cit., p.99). A proposta de

uma moeda indexada exerceu forte influência na criação da Unidade Real de Valor (URV),

como é bem destacado por Filgueiras (op.cit., p.99):

[...] a função da URV no Plano Real foi a mesma da “moeda indexada” proposta na época do Plano Cruzado, isto é, a de resolver o problema da indexação e da inflação inercial, levando a indexação da economia, gradualmente, às últimas conseqüências e, num determinado momento, extinguindo-a de vez, de foram abrupta [...] A diferença entre ambas é que a chamada proposta da' moeda indexada' preconizava a criação de uma nova moeda, que circularia paralelamente à moeda já existente, enquanto a URV se constituiu apenas num embrião de uma nova moeda, uma vez que não exerceu a função de meio de pagamento[...]

7 O Plano Cruzado foi implementado em fevereiro de 1986, quando o Ministro da Fazenda era Dílson Funaro.

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5.1.2 As Três Fases da Implementação da Nova Moeda

Desde seu anúncio, em 7 de dezembro de 1993, até o surgimento da nova moeda em julho

de 1994, o Plano Real constituiu-se em três fases distintas: o ajuste fiscal, compreendido

entre o período 07/12/93 a 28/02/1994; a criação da Unidade Real de Valor (URV),

01/03/1994 a 01/07/1994; e a criação da nova moeda, em 1º de julho de 1994. A

compreensão de cada uma dessas etapas é importante para entender como se deu o processo

de estabilização dos preços.

O que justifica a ênfase colocada na necessidade de realizar um ajuste fiscal, primeira fase

do Plano, é o argumento de que o Governo, ao incorrer em déficits, os financiaria através

da venda de títulos ao Banco Central, o que corresponde a uma expansão da base

monetária, de modo que o aumento de liquidez na economia estimularia o investimento e

consumo privados, expandindo a demanda agregada e resultando em pressões

inflacionárias. Desse modo, Filgueiras (op. cit., p.102) argumenta que:

[...] as iniciativas tomadas nesse período procuraram responder ao problema do desequilíbrio orçamentário do Estado, em particular a sua fragilidade de financiamento, considerado como um dos elementos cruciais da aceleração da inflação no Brasil.

Dentre as iniciativas tomadas nesse período, merece destaque a criação do Fundo Social de

Emergência (que mais tarde se chamaria Fundo de Estabilização Fiscal). A importância do

Fundo Social de Emergência foi permitir ao governo cortar gastos do orçamento de 1994,

dar maior flexibilidade na utilização dos recursos e maior controle no fluxo de caixa.

Portanto, a primeira etapa foi importante por construir a chamada "ancora fiscal" dos

preços, ou seja, acabar com uma das fontes do processo inflacionário, qual seja, o

financiamento dos déficits públicos através de emissão primária. Sem embargo, cabe

acrescentar que essa etapa foi também importante por mostrar o grau de compromisso do

governo com o programa de estabilização, de modo a influenciar na formação de

expectativas dos agentes econômicos. A esse respeito Filgueiras (op. cit., p.103) comenta

que:

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[...] essa primeira parte do plano se propôs a construir a chamada 'âncora fiscal' dos preços, isto é, procurou garantir aos diversos agentes econômicos que o Governo só gastaria o que arrecadasse, não havendo, portanto, possibilidade de emissão primária de títulos e moeda com o intuito de cobrir gastos correntes[...]

A segunda etapa do Plano Real, iniciada em 1º de março de 1994, diz respeito à criação da

Unidade Real de Valor (URV). A importância dessa fase reside no fato de ter permitido,

através da utilização da URV, a transição para um novo regime monetário, de modo que

possibilitasse a eliminação do componente inercial da inflação. De acorodo com o Iedi (op.

cit., p. 11), a segunda etapa,

[...] iniciada em março de 1994, promoveu a conversão dos salários pela média e a criação de uma nova unidade de conta, a URV ( a “unidade real de valor”, ajustada diariamente de acordo com uma média de três índices de preços) para onde convergiram salários (nesse caso de forma compulsória – os salários foram convertidos pela média dos 4 meses anteriores), preços, contratos e, além desses, também a taxa de câmbio.

O papel da URV foi permitir a transição da velha para a nova moeda, tirando o caráter

abrupto dessa passagem, tais como uso do congelamento, que cristalizaria o conflito

distributivo existente. Ou seja, a URV cumpriu o papel de alinhar todos os preços relativos

da economia, de modo que não se transmitisse para a nova moeda a distorção na estrutura

de preços relativos provocada pela assincronia nos reajustes, o que corresponde,

exatamente, à eliminação do componente inercial da inflação. A esse respeito Filgueiras

(op. cit., p.105) comenta que:

[...] Quando quase toda a economia estivesse operando com base em URV, esta se transformaria na nova moeda, o Real. Nesse momento, quase todos os preços relativos da economia estariam alinhados, isto é, não haveria pressão para qualquer modificação na posição relativa dos diversos agentes econômicos, garantindo-se, assim, que a inflação existente em Cruzeiro Real não viesse a contaminar a nova moeda.

Por fim, cabe analisar a última etapa de implementação do Plano Real, qual seja, a mudança

no regime monetário, ocorrida em 1º de julho de 1994 com a criação da nova moeda, o

Real. Essa última etapa consistiu na conversão da URV em Real, na proporção de 1 URV=

R$ 1, quando a URV valia então CR$ 2.750,00.

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Após a adoção da nova moeda, assistiu-se nos primeiros meses uma valorização excessiva

do Real frente ao Dólar, o que permitiu uma desinflação mais rápida. Essa valorização da

moeda nacional foi respaldada no acúmulo de reservas, principalmente a partir de 1993.

Esse acúmulo foi o resultado da confluência de dois fatores: o primeiro deles foi o excesso

de liquidez no mercado financeiro internacional que se verifica desde o final dos 80 e a

incorporação das economias emergentes a esses fluxos; o segundo, de ordem interna, diz

respeito tanto aos superávits na conta de comércio do país até 1994 quanto à

desregulamentação (abertura) do mercado financeiro nacional alinhada à política de juros

elevados. Desse modo, como comenta Filgueiras (op. cit., p.108), essa última etapa:

[...] trouxe consigo a explicitação da 'âncora cambial', que estava subentendida no período anterior. A taxa de câmbio foi fixada, pelo Banco Central, em US$ 1 = R$ 1, com o apoio e a garantia das reservas em dólar acumuladas desde 1993, mas sem instituição da conversão do Real em Dólar.

5.2 CONTINUAÇÃO DA ABERTURA COMERCIAL: A POLÍTICA DE IMPORTAÇÃO DO PLANO REAL

Como foi assinalado no capítulo anterior, a abertura da economia brasileira pode ser

dividida em três fases. Aqui será analisada a terceira fase da abertura comercial (política de

importação do Plano Real), de modo a explicitar sua relação com a estabilização dos preços

e os impactos no comportamento da balança comercial.

De acordo com Azevedo e Portugal (op. cit., p.37), a política de importação do Plano Real

pode ser dividida em três etapas. A primeira estendeu-se de julho de 1994 ao 1º trimestre de

1995 e foi marcada pela adoção de políticas nitidamente liberalizantes. Na segunda etapa,

2º trimestre de 1995 ao 2º trimestre de 1996, verifica-se um recuo na política de abertura

comercial. A terceira etapa, com início desde o 3º trimestre de 1996, se caracterizou como

um período de nova flexibilização da política de importação, mas com um ritmo e uma

intensidade menor dos que a verificada no final de 1994, cabendo salientar o aumento

tímido no grau de proteção da economia, principalmente no biênio 1997-1998.

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O que caracteriza a primeira etapa é a utilização da política tarifária como instrumento de

estabilização de preços, ou seja, a intenção era expor ao máximo o mercado nacional à

concorrência externa, de modo que os produtores nacionais tivessem menos liberdade para

praticar aumento de preços e/ou até reduzissem os preços praticados internamente. Isso fica

claro ao observar que o governo diminuiu a alíquota de importação de produtos com

elevada participação na formação dos índices de preços internos. Esse aspecto é bem

comentado em Moreira e Correa (op. cit., p.18):

A partir de março de 1994, a condução da política de importações passou a se subordinar ao objetivo de estabilização de preços, e várias alíquotas de produtos com participação elevada nos índices de preços internos foram reduzidas para 0% ou 2%, com o objetivo de impedir aumentos de preços a curto prazo.

Além da queda substancial das tarifas de uma série de produtos com peso nos índices de

preços, merece destaque a antecipação da Tarifa Externa Comum do Mercosul, que iria

vigorar em janeiro de 1995 e foi antecipada para setembro de 1994. De acordo com Kume

(1996, p.5), as principais mudanças ocorridas em 1994 podem ser resumidas da seguinte

forma:

a) diminuição das alíquotas do imposto de importação para 0 ou 2%, sobretudo nos casos de insumos e bens de consumo com peso significativo nos índices de preços, como mecanismo auxiliar no combate à inflação. Esta medida representava uma punição aos aumentos de preços considerados inadequados [...] b) antecipação para setembro de 1994 da tarifa externa comum do Mercosul que vigoraria a partir de janeiro de 1995. Como regra geral, nos casos em que ocorreria uma elevação da tarifa, em virtude da tarifa vigente no Brasil ser inferior a aprovada no Mercosul, foi mantida a menor alíquota.

A evolução da alíquota nominal média de importação, que diminuiu de 13,2 em julho de

1993 para 11,2% em dezembro de 1994, permite dimensionar o efeito desse conjunto de

medidas liberalizantes. A tabela 4 mostra a evolução da tarifa nominal por atividade, de

modo que torna possível verificar quais os setores sofreram maiores impactos com as

medidas tomadas, bem como o retrocesso que se verificou na política de importação em

1995.

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49

TABELA 4

A partir do início de 1995, segunda etapa, a política de importação retrocede. Esse recuo

pode ser explicado por dois fatores: o primeiro deles foi o acúmulo de crescentes déficits na

conta de comércio do país, gerando desequilíbrio nas contas externas; o segundo fator foi a

dificuldade para financiar esse desequilíbrio por conta da conjuntura internacional

desfavorável (crise cambial mexicana), que afugentou os capitais voláteis das economias

emergentes, entre elas o Brasil. Esse aspecto é bem comentado em Azevedo e Portugal (op.

cit., p.45):

[...] no início de 1995, novos rumos foram dados à política de importação. Devido aos déficits contínuos da balança comercial, e após a formação de um quadro externo desfavorável ao financiamento destes déficits, marcado pela crise cambial mexicana e a elevação das taxas de juros internacionais, a situação se alterou. Buscando evitar que os déficits comerciais sinalizassem uma situação de risco potencial para os investidores externos – o que inviabilizaria o equilíbrio do balanço de pagamentos via entrada líquida de capitais -, a política econômica teve de se alterada, com reflexos na política de importações.

A t iv id a d e ju l /9 3 d e z /9 4 d e z /9 5 2 0 0 6 /T E CA g ro p e c u á r ia 4 ,5 4 ,1 4 ,7 4 ,7E x tra t iv a m in e ra l (e x c e to c o m b u s tív e is ) 2 ,8 2 ,6 4 ,0 4 ,0E x tra ç ã o d e p e tró le o e c a rv ã o 0 ,0 0 ,0 0 ,0 0 ,0P ro d u to s m in e ra is m e tá l ic o s 1 0 ,7 9 ,2 1 1 ,5 1 1 ,5S id e ru rg ia 5 ,5 5 ,9 7 ,9 7 ,3M e ta lu rg ia d o s n ã o - fe r ro s o s 7 ,4 7 ,6 1 0 ,0 9 ,8O u tro s p ro d u to s m e ta lú rg ic o s 1 6 ,3 1 4 ,3 1 6 ,0 1 5 ,0M á q u in a s e t ra to re s 1 9 ,1 1 8 ,9 1 8 ,2 1 3 ,9M a te r ia l e lé t r ic o 1 8 ,8 1 8 ,4 2 1 ,5 1 6 ,0E q u ip a m e n to s e le trô n ic o s 2 0 ,7 1 9 ,0 2 2 ,1 1 3 ,1A u to m ó v e is , c a m in h õ e s e ô n ib u s 3 4 ,0 1 9 ,9 5 5 ,5 1 9 ,6O u tro s v e íc u lo s e p e ç a s 1 7 ,9 1 7 ,4 1 7 ,9 1 3 ,8M a d e ira e m o b i l iá r io 9 ,5 8 ,8 1 1 ,0 1 1 ,0C e lu lo s e , p a p e l e g rá f ic a 9 ,3 8 ,3 1 0 ,5 1 1 ,9In d ú s tr ia d a b o r ra c h a 1 4 ,4 1 2 ,1 1 2 ,8 1 2 ,8F a b r ic a ç ã o d e e le m e n to s q u ím ic o s 1 2 ,4 8 ,8 6 ,7 1 4 ,2R e fin o d e p e tró le o 3 ,3 1 ,8 2 ,6 2 ,7P ro d u to s q u ím ic o s d iv e rs o s 1 0 ,9 6 ,6 7 ,6 7 ,8In d ú s tr ia fa rm a c ê u t ic a e p e r fu m a r ia 1 2 ,8 4 ,6 9 ,8 1 0 ,0A r t ig o s d e p lá s t ic o 1 6 ,8 1 5 ,7 1 6 ,7 1 6 ,5In d ú s tr ia tê x t i l 1 4 ,4 1 2 ,4 1 6 ,4 1 5 ,8A r t ig o s d o v e s tu á r io 2 0 ,0 1 9 ,4 1 9 ,6 1 9 ,6C o u ro s e c a lç a d o s 1 4 ,2 1 3 ,2 1 7 ,3 1 4 ,2In d ú s tr ia d o c a fé 1 2 ,2 9 ,8 1 1 ,3 1 1 ,3B e n e fd ic ia m e n to d e p ro d u to s v e g e ta is 1 0 ,5 9 ,7 1 2 ,8 1 1 ,8A b a te d e a n im a is 9 ,9 7 ,1 9 ,6 9 ,7In d ú s tr ia d e la t ic ín io s 2 0 ,0 2 4 ,7 2 3 ,0 1 5 ,5A ç u c a r 2 0 ,0 1 0 ,1 1 6 ,0 1 6 ,0F a b r ic a ç ã o d e ó le o s v e g e ta is 8 ,8 8 ,0 8 ,6 8 ,7B e b id a s e o u tro s p ro d u to s a l im e n ta re s 1 6 ,3 1 2 ,8 1 4 ,1 1 4 ,5P ro d u to s d iv e rs o s 1 6 ,4 1 4 ,4 1 5 ,0 1 4 ,4F o n te : K u m e (1 9 9 6 )

T a r ifa N o m in a l (e m % ) p o r A t iv id a d e - D a ta s S e le c io n a d a s e T a r ifa E x te rn a C o m u m

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50

Mesmo recuando no processo de liberalização, de acordo com Moreira e Correa (op. cit.,

p.19): "a preocupação com a estabilidade de preços, entretanto, tornou a induzir, ainda

neste ano, a redução para zero das alíquotas de alimentos (milho em grão, tomates etc.),

química (acrilonitrila, estireno etc.) e têxtil (linhas de costura, fibras sintéticas etc.)". A

tabela 5 mostra o comportamento das tarifas nominal e efetiva, desde o início do processo

de abertura da economia brasileira.

TABELA 5

Na terceira etapa, com início desde o 3º trimestre de 1996, observou-se que o governo

voltou a assumir uma política de importações de cunho mais liberalizante, cujos fatores que

contribuíram para isso foram: pressão exercida pelos países do Mercosul, risco de

retaliação junto a OMC e o retorno dos capitais voláteis que haviam migrado por conta da

crise cambial mexicana. A esse respeito, Azevedo e Portugal (op. cit., p.47) argumentam

que:

No segundo semestre de 1996, o governo reassumiu uma postura liberalizante, tanto em função da pressão exercida pelos seus parceiros do Mercosul e do risco de retaliações junto à OMC, como pela solução da crise externa, com o retorno dos capitais voláteis que haviam migrado com o advento da crise cambial mexicana.

No ano de 1996 as principais modificações na política tarifária foram as seguintes (IEDI,

op. cit., p. 333-334):

Discriminação Jul/88 Set/89 Set/90 Fev/91 Jan/92 Out/92 Jul/93 Dez/94 Dez/95

Tarifa nominal

Média simples 38,5 31,6 30,0 23,3 19,2 15,4 13,2 11,2 13,9 Média ponderada 34,7 27,4 25,4 19,8 16,4 13,3 11,4 9,9 11,5 Mediana 40,2 32,6 31,3 20,8 20,2 14,4 12,8 9,8 12,8 Mínimo 0,2 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Máximo 76,0 75,0 78,7 58,7 48,8 39,0 34,0 24,7 55,5 Desvio Padrão 15,4 15,9 15,1 12,7 10,5 8,2 6,7 5,9 9,5

Tarifa efetiva

Média simples 50,4 45,0 45,5 35,1 28,9 22,5 18,9 14,4 23,4 Média ponderada 42,6 35,7 33,7 26,5 21,7 17,2 14,5 12,3 12,9 Mediana 52,6 38,1 34,6 24,0 20,0 16,7 15,1 11,3 14,6 Mínimo 54,5 -4,4 -4,3 -3,3 -2,8 -2,3 -2,0 -1,9 -1,9 Máximo 183,0 219,5 312,9 225,2 185,5 146,8 129,8 44,6 270,9 Desvio Padrão 33,4 39,8 53,3 39,7 32,7 25,2 21,7 9,7 45,9Fonte: Kume (1996)

Evolução das Tarifas Nominais e Efetivas - 1988/1995

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51

• Retirada dos produtos petroquímicos da Lista de Exceção Nacional e formulação de um

cronograma de redução tarifária. O cronograma previa uma redução gradual das tarifas

de 2, 3 e 4% ao ano, a depender do produto, até alcançar a Tarifa Externa Comum em

2001.

• Adição de 50% sobre a Tarifa Externa Comum de 20% aplicável aos brinquedos. Essa

medida foi tomada em junho de 1996, com validade até 31 de dezembro do mesmo ano.

• Publicação do decreto 2.072 em novembro de 1996, estabelecendo um aumento das

alíquotas do imposto de importação para o setor de autopeças (4,8 no restante de 1996,

7,2% em 1997, 9,6 em 1998 e 1999, até atingir o limite da Tarifa Externa Comum de

16% em 2000).

No biênio 1997-1998, o que se observa é uma mudança na gestão da política de

importação, no sentido de conferir um maior grau de proteção ao mercado nacional, o que é

bem comentado pelo Iedi (op. cit., p. 336):

Se no período anterior (1994-1996) teve preponderância as mudanças de tarifas de importação sob justificativa de estabilização dos preços, além da adequação à TEC, no período 1997-1998, a excessiva exposição externa da produção nacional motivada pela política cambial e o baixo nível de tarifas determinaram – no contexto de sucessivas crises externas e elevados déficits comerciais do setor externo brasileiro -, o predomínio de medidas na direção de uma proteção um pouco maior.

De acordo com o Iedi (op. cit., p. 334-336), no biênio 1997-1998, as principais medidas

tomadas na gestão da política tarifária foram as seguintes:

Portaria Interministerial nº 174 de 25/07/1997. Revogou as isenções do imposto de

importação para os produtos incluídos no regime "ex-tarifário"8.

Decreto 2.376 de 13/11/1997. Negociação com os demais participantes do Mercosul,

para elevação de três pontos percentuais da Tarifa Externa Comum (TEC).

8 Mecanismo através do qual, desde 1990, era concedida isenção do imposto de importação para as compras de máquinas e equipamentos sem similar nacional.

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Redução, em 01/01/1998, das alíquotas do imposto de importação de produtos

constantes da Lista de Exceção Nacional à Tarifa Externa Comum em conformidade

com o cronograma estabelecido em 1996.

Decreto 2.638 de julho de 1998, mudando o regime automotivo brasileiro em função de

uma queixa formal feita pelo governo dos EUA à OMC.

A tabela 6 mostra importantes mudanças na alíquota média total do imposto de importação.

A variação de três pontos percentuais na alíquota no período 1997-1998 reflete a elevação

3% da TEC, promovida pelo decreto 2.376 (11/1997), bem como a revogação do regime

"ex-tarifário". Em 1999, a alíquota média do imposto de importação apresenta diminuição

acentuada como conseqüência da diminuição ocorrida tanto em material de transporte

quanto em bens de consumo.

Desse modo, mesmo com o aumento no grau de proteção do mercado nacional, a partir,

principalmente, de 1997, "é importante observar que os números mostram que a economia

brasileira, dadas as atuais alíquotas de importação e a composição da pauta de importações,

é uma economia aberta" (IEDI, op. cit., p. 338).

TABELA 6

5.3 POLÍTICA CAMBIAL: SOBREVALORIZAÇÃO DO CÂMBIO E BALANÇA COMERCIAL

Tendo em vista a utilização da sobrevalorização cambial como instrumento de estabilização

de preços, cabe destacar os impactos dessa política em termos do comportamento da

1997 1998 1999Mat. Primas e Prod. Intermediários 9,4 12,5 9Bens de Capital 11,2 16,2 14,1Bens de Consumo 25,9 26,7 12,6Equipamentos de Transporte 19,4 20,6 10,6Combustíveis e Lubrificantes 9,1 9,6 5,4Materiais de Construção 14 17,4 14,2Total 13,8 16,7 10,7Fonte: IEDI (2000c)

Alíquotas Médias de Importação Calculadas (%)

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balança comercial. O período em análise se estende de julho de 1994 a janeiro de 1999, isso

porque no início de 1999 tem-se uma mudança significativa na política cambial que será

analisada em uma seção posterior. Azevedo e Portugal (op. cit., p.48) dividem a política

cambial do Plano Real em três fases distintas (jul/1994 a out/1994, out/1994 a mar/1995, a

terceira fase com início desde março de 1995).

Na primeira fase, que compreendeu o período de julho a outubro de 1994, observou-se

relativa flexibilidade na política cambial, provocando, dado a grande oferta de divisas no

mercado interno, uma valorização demasiada da moeda nacional. Desse modo, o Iedi (op.

cit., p. 16) comenta que:

A introdução da nova moeda em julho de 1994, foi acompanhada do estabelecimento de um teto formal para a cotação do dólar (1 real por dólar), o que, associado ao alto nível de taxa de câmbio real, reservas e juros prevalecentes, levaram a uma forte entrada de capitais e a uma apreciação da nova moeda. Vista pela equipe econômica como desejável para assegurar o processo de estabilização, esta apreciação foi, no entanto, excessiva [...]

Na segunda fase, que perdurou de outubro de 1994 a março de 1995, assistiu-se ao

aprofundamento da valorização da moeda nacional, de modo que foi estabelecido um

sistema informal de bandas (intervalo de R$ 0,83/US$ 1 a R$ 0,85/US$ 1).

A terceira fase da política cambial, que pode ser considerada como uma resposta do

governo brasileiro à crise cambial mexicana, é caracterizada pelo estabelecimento de um

regime formal de bandas e atuação efetiva do Banco Central para manter a cotação da

moeda no intervalo. Essa mudança na política cambial é também destacada pelo Iedi (op.

cit., p. 17):

[...] O Banco Central promoveu uma minidesvalorização do Real no início de março de 1995, estabelecendo um sistema de bandas formais para a taxa de câmbio. O piso, fixado em R$ 0,88 por dólar, e o teto, estabelecido R$ 0,93por dólar, são alterados após alguns dias para 0,91 e 0,99, respectivamente. A desvalorização foi em torno de 8 a 9%. Com a alteração, o Banco Central aliviou as pressões sobre o câmbio ocasionadas pela expectativa de uma depreciação da moeda brasileira, enquanto uma política de juros altos procurava estancar a perda de reservas.

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Esse sistema de bandas, com a desvalorização lenta e gradual da taxa nominal de câmbio,

prevaleceu até janeiro de 1999.Entretanto, a partir do início de 1995 o governo passou a

operar no mercado com a chamada intra-banda, ou seja, além do piso e do teto, o Banco

Central passou a intervir no mercado para determinar o sentido da variação da taxa no

interior do intervalo, sem, contudo, se comprometer oficialmente com a trajetória da

variação.

Para esse trabalho, o aspecto que mais interessa é o uso da política de sobrevalorização

cambial como instrumento de estabilização de preços e seus impactos no comércio exterior

brasileiro. Ou seja, como Guerra (1997, p.3) deixa claro: “A possibilidade de importar a

baixo preço, viabilizada pela queda das alíquotas de importação e pela política cambial, foi

e continua sendo uma das principais explicações para o notável progresso no combate à

inflação.”

A sobrevalorização da moeda constitui-se em importante instrumento de estabilização de

preços, na medida em que expõe o mercado nacional à concorrência internacional, cujas

empresas, grandes conglomerados tecnologicamente avançados, produzindo com

rendimentos crescentes tanto dinâmicos quanto estáticos, operam a custos unitários baixos e

com preços bastante competitivos.

Não é difícil imaginar os impactos que uma política de estabilização calcada na

sobrevalorização da moeda provoca nos setores produtivos. A indústria brasileira passara

mais de uma década protegida da concorrência externa, deixando de incorporar progressos

tecnológicos e de gestão em andamento nos países do centro do capitalismo (reestruturação

produtiva), produzindo a custos elevados e com grande ineficiência. Pode-se então ter idéia

do quão predatória foi a política cambial, exigindo um esforço extremo de reestruturação

das empresas e, principalmente, causando impactos significativos na conta de comércio do

país.

A sobrevalorização cambial incentiva as importações e desestimula as exportações, na

medida em que muda os preços relativos em favor das primeiras, tornando os bens

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domésticos mais caros em termos das moedas estrangeiras, e em sentido inverso,

barateando as importações, o que é comentado em Damasceno (2001, p.18):

Com a sobrevalorização da moeda os nossos bens ficam mais caros em termos da moeda estrangeira e os bens importados ficam mais baratos em moeda nacional, causando impactos negativos na conta de comércio do país, e dessa forma os bens importados podem concorrer com os domésticos, pressionando o nível de preços para baixo, ou seja, passamos a importar deflação.

Somando à magnitude da sobrevalorização cambial, a abertura em curso na economia

brasileira, e o que é mais importante, a relação interativa entre esses dois fenômenos, pode-

se inferir, tendo em vista a estrutura produtiva do país, a dimensão dessas medidas em

termos de seus impactos na competitividade das nossas exportações e comportamento do

comércio exterior.

Dessa forma, tem-se duas forças atuando ao mesmo tempo e no mesmo sentido,

estimulando as importações e comprimindo as exportações. A sobrevalorização da moeda

por si só já produz efeitos significativos, e a interação com a abertura comercial,

potencializando os efeitos desta, se refletiram desastrosamente no comércio internacional

do país, com significativo crescimento das importações a partir de 1994 e desempenho

tímido das exportações. Como argumenta Filgueiras (op. cit., p.149): “A abertura da

economia e a sobrevalorização do Real escancarou o país às importações e tirou a

competitividade das exportações, que cresceram num ritmo bem inferior ao das

importações”.

Os efeitos da sobrevalorização da moeda puderam ser sentidos rapidamente. Isso fica claro

se observarmos o desempenho da balança comercial a partir de novembro de 1994 (ver

tabela 7), quando passamos a ter, mês a mês, saldos negativos, revelando os efeitos

perversos da nova política cambial. Cabe observar também, que é no segundo semestre de

1994 que se intensifica o processo de abertura da economia brasileira (primeira etapa da

política de importação do Plano Real), de modo que a persistência de superávits no período

compreendido entre julho e outubro de 1994 estaria refletindo o tempo de ajustamento dos

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contratos e formação de expectativas pelos agentes econômicos quanto ao comportamento

das variáveis macroeconômicas afetadas pelas políticas implementadas.

TABELA 7

Porém, mesmo com os sucessivos déficits mensais no final do segundo semestre, a balança

comercial ainda teve um superávit da ordem de US$ 10.466 milhões em 1994, mas já

sinalizando os efeitos das políticas adotadas, que iriam delinear o comportamento futuro do

saldo comercial. A ruptura histórica só se concretizou em 1995, quando as exportações

líquidas foram deficitárias em UR$ 3.464 milhões, reversão de US$13.930 milhões,

revelando, a partir desse momento, o perfil do comércio exterior do país pelo menos até

1998, quando sofreria nova inflexão.

A observação da tabela 8 permite notar dois momentos distintos, em termos de saldo, no

comportamento da balança comercial. No primeiro momento, que se estende de 1989 a

1994, tem-se como característica marcante a obtenção de grandes superávites, com saldo

médio de US$ 12.742 milhões, e acumulado de US$ 76.454 milhões. É válido lembrar que

nesse momento está em curso o processo de abertura da economia brasileira, que começou

em 1988, tendo seus efeitos atenuados, como já foi comentado, pelo câmbio relativamente

desvalorizado e profunda recessão que atingiu a economia brasileira no período.

Período Exp Imp Saldo Exp Imp SaldoJan 2.747 1.769 978 2.980 3.284 -304Fev 2.778 2.030 748 2.952 4.012 -1.060Mar 3.351 2.249 1.102 3.799 4.721 -922Abr 3.635 2.152 1.483 3.394 3.863 -469Mai 3.862 2.625 1.237 4.205 4.897 -692Jun 3.728 2.499 1.229 4.119 4.897 -778Jul 3.738 2.514 1.224 4.004 4.003 1

Ago 4.282 2.776 1.506 4.558 4.461 97Set 4.162 2.641 1.521 4.167 3.687 480O ut 3.842 3.186 656 4.405 4.076 329Nov 3.706 4.115 -409 4.048 4.137 -89Dez 3.714 4.523 -809 3.875 3.932 -57

Fonte: Ipeadata

1994 1995Balança Comercial - Fob em US$ M ilhões

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57

TABELA 8

O segundo período (1995-2000), pode ser dividido em dois momentos distintos em termos

do resultado comercial. Um primeiro (1995-1998), com a balança comercial registrando

déficit médio anual de US$ 5.613 milhões, e acumulado de US$ -22.453. A característica

mais marcante dessa fase do segundo período é que prevaleceu uma política cambial

altamente prejudicial às exportações, com a sobrevalorização da taxa a partir de julho de

1994, aliada à continuidade do processo de abertura da economia, que ocorreu de forma

mais intensa no período compreendido entre julho de 1994 e o primeiro trimestre de 1995.

Ou seja, um contraste muito grande com relação ao primeiro período (1989-1994). A partir

de 1999 até 2000, apesar da persistência dos déficits, tem-se um novo perfil no resultado

comercial, provocado pela mudança na política cambial, bem como, com importância

menor, pelo pequeno aumento no grau de proteção da economia.

O que fica claro nessa discussão é que a política cambial adotada a partir de julho de 1994,

aliada á abertura da economia, teve impactos significativos na conta de comércio do país,

delineando seu perfil deficitário a partir de então. Essa estratégia de utilizar a

sobrevalorização cambial e a política tarifária como instrumentos de estabilização de

preços, teve impacto desastroso não só na conta de comércio, mas também em todo o setor

externo da economia.

P e r ío d o E xp o r ta ç õ e s Im p o r ta ç õ e s S a ld o

1989 34 .383 18 .265 16 .1181990 31 .414 20 .661 10 .7531991 31 .620 21 .041 10 .5791992 35 .793 20 .554 15 .2391993 38 .555 25 .256 13 .2991994 43 .545 33 .079 10 .4661995 46 .506 49 .970 -3 .4641996 47 .747 53 .286 -5 .5391997 52 .986 59 .842 -6 .8561998 51 .120 57 .714 -6 .5941999 48 .011 49 .210 -1 .1992000 55 .086 55 .773 -687

F onte : Ipeadata

B a la n ç a C o m e r c ia l - F o b e m U S $ m ilh õ e s

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58

Desse modo, o que se pode observar é que os déficits da balança comercial (bem como o

aprofundamento do problema estrutural da conta de serviços), geraram desequilíbrio nas

contas externas, com crescimento dos déficits em transações correntes. Esse desequilíbrio

tornou necessária a implementação de um conjunto de políticas de atração de investimentos

externos (juros elevados) para fechar o balanço de pagamentos, provocando dependência do

país em relação aos fluxos financeiros internacionais, com crescente fragilização das contas

externas, que posteriormente, em um ambiente externo deteriorado, levaria forçosamente à

adoção de uma nova política cambial.

5.4 FRAGILIZAÇÃO DAS CONTAS EXTERNAS (1994-1998)

Foi enfatizado acima que a utilização da política cambial e da abertura da economia como

instrumentos de estabilização de preços, levou ao comportamento deficitário da balança

comercial que, aliado ao aprofundamento do problema estrutural da conta de serviços,

aprofundou a dependência do país relativamente aos fluxos financeiros internacionais. A

compreensão do desequilíbrio gerado no setor externo a partir de 1994 é de fundamental

importância no entendimento da crise cambial de janeiro de 1999.

5.4.1 Transações Correntes Do lado das transações correntes a sobrevalorização da moeda impactou, negativa e

diretamente, tanto a conta de comércio do país quanto a conta de serviços, com o

surgimento de déficits na primeira e elevação do gastos com viagens internacionais na

segunda. Indiretamente causou, na conta de serviços, através dos mecanismos de atração de

capitais, o aprofundamento do problema estrutural, verificando-se crescimento tanto no

pagamento de juros quanto na remessa de lucros e dividendos.

O aumento nas despesas com viagens internacionais a partir de 1994 foi conseqüência da

sobrevalorização do câmbio, ao tornar mais barata a viagem para o exterior. O crescimento

no pagamento de juros é explicado pela expansão do montante da dívida externa. A partir

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59

de 1994 ocorre um crescimento considerável da dívida externa do país, principalmente a

privada, que teve como causa principal a política de juros altos levada a cabo pelo governo.

O crescimento na remessa de lucros e dividendos no período é conseqüência do

extraordinário ingresso de investimentos estrangeiros diretos a partir de 1994, bem como o

resultado de um conjunto de medidas adotadas, cujo objetivo era dar um tratamento mais

favorável ao capital estrangeiro. Esse aspecto é bem comentado em Laplane e Sarti (1999,

p.29):

O aumento das remessas de lucros pode ser principalmente explicado pelo próprio aumento dos fluxos de investimento que, como foi visto, iniciaram trajetória bastante ascendente a partir de 1994 [...] Também contribuíram para esses maiores volumes de remessas as medidas de desregulamentação na área. A Lei nº 9 249/95 e a Medida Provisória nº 1 602 concedem isenção ao imposto de 15% que havia sobre as remessas de lucros e dividendos a partir de 1996.

TABELA 9

O agravamento do desequilíbrio externo a partir de 1994 (crescimento dos déficits em

transações correntes), pode ser visualizado na tabela a 10. Dados os grandes déficits em

transações correntes, tornou-se necessárioa a implementação de um conjunto de políticas,

para que se criasse, do lado da conta de capitais, os meios de financiar esse desequilíbrio.

Período Juros Viagens Inter. Lucros e Div. Saldo1990 -9.748 -121 -1.591 -15.3691991 -8.621 -211 -665 -13.5421992 -7.253 -319 -574 -11.3381993 -8.280 -799 -1.831 -15.5851994 -6.337 -1.181 -2.483 -14.7431995 -8.158 -2.420 -2.590 -18.5951996 -9.173 -3.598 -2.374 -20.4431997 -10.388 -4.377 -5.597 -26.2781998 -11.947 -4.146 -7.181 -28.800

Fonte: Ipeadata

Conta de Serviços: Itens Selecionados e Saldo em US$ milhões

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60

TABELA 10

5.4.1 Balanço de Capitais Concomitante ao programa de abertura comercial da economia brasileira, ocorria, a partir

do início da década, o movimento de liberalização da conta de capitais, que tornou-se,

como explicado em Filgueiras (op. cit., p.158), fundamental para o programa de

estabilização colocado em prática:

Com relação à balança de capitais, houve notoriamente um crescimento da entrada líquida de capitais no país, a partir de 1992, que expressou exatamente a nova situação, de grande liquidez, dos mercados financeiros internacionais, bem como a incorporação dos “mercados emergentes” nos novos circuitos internacionais de capital, circunstância em que se apoiou a estratégia de estabilização do Plano Real.

TABELA 11

A tendência de crescimento no superávit da conta de capitais a partir de 1992 foi reforçada

pela política de juros altos colocada em prática pelo governo a partir de 1994. Merece

Discriminação 1 992 1 993 1 994 1 995 1996 1997 1998 1999 2000Balança comercial - FOB 15 239 13 307 10 466 -3 352 -5 599 -6 748 -6 604 -1 260 - 698

Serviços (líquido) -11 339 -15 585 -14 743 -18 594 -20 443 -26 278 -28 800 -25 829 -25 706

Transferências unilaterais 2 243 1 686 2 588 3 974 2 900 2 216 1 778 2 027 1 796

Transações correntes 6 143 - 592 -1 689 -17 972 -23 142 -30 811 -33 625 -25 062 -24 608

Fonte: Banco Central do Brasil

Transações Correntes em US$ milhões

Discriminação 1 992 1 993 1 994 1 995 1996 1997 1998 1999 2000 Investimento (líquido) 2 972 6 170 8 131 4 663 15 540 20 662 20 498 30 042 29 559

Reinvestimentos 175 100 83 384 531 151 124 ... ...

Financiamentos 13 258 2 380 1 939 2 834 4 307 19 616 22 156 15 948 11 295

Amortizações -8 572 -9 978 -50 411 -11 023 -14 419 -28 714 -31 381 -49 120 -34 690

Empréstimos a médio e longo prazos 14 975 10 790 52 893 14 736 22 886 28 964 42 648 28 316 31 199

Capitais a curto prazo 2 602 869 909 18 834 5 403 -19 025 -31 591 -8 452 -6 384

Outros capitais - 139 - 216 750 -1 069 - 290 4 224 -1 859 -2 569 - 764

Conta Capital 25 271 10 115 14 294 29 359 33 959 25 877 20 596 14 165 30 215Fonte: Banco Centra do Brasil

Balanço de Capitais em US$ Milhões

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61

destaque o aumento nos fluxos de empréstimos e financiamentos, bem como o crescente

ingresso de investimentos, principalmente investimentos estrangeiros diretos (gráfico 3).

GRÁFICO 3

Os investimentos estrangeiros diretos constituem-se em importante fonte de financiamento

dos déficits em conta corrente, porque são menos sensíveis à conjuntura e estão

relacionados com perspectivas de mais longo prazo. Outro aspecto que merece destaque é

sua contribuição para a modernização do parque produtivo do país, tanto em termos da

incorporação de novas tecnologias, quanto de avançadas técnicas de gestão, de modo a

gerar aumentos de produtividade.

A maioria dos investimentos estrangeiros diretos se dirigiu para setores produtores de não

exportáveis e, como observado por Laplane e Sarti (op. cit., p.43), apresentam um viés pró-

importação, impactando negativamente a balança comercial:

[...] o investimento externo estrangeiro tem contribuído para financiar parcela significativa do déficit em transações correntes, principal restrição externa ao crescimento. Por outro lado, os atuais projetos de investimento apresentam elevados coeficientes de importação de bens de capital, e isso pressiona a balança comercial.

Outro aspecto a ser notado sobre o desempenho da conta de capitais do país nesse período é

o contínuo aumento no pagamento de amortizações. Mesmo considerando o crescimento

das amortizações pagas, o saldo acumulado na conta de capitais, em vários momentos,

4.313

9.976

17.083

26.13329.996 30.498

05.000

10.00015.00020.00025.00030.00035.000

1995 1996 1997 1998 1999 2000

Investimento Externo Direto líquido em US$ Milhões

Fonte: Banco Central do Brasil

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ainda foi suficiente para cobrir os déficits em transações correntes e acumular significativas

somas de reservas.

Apesar da significativa participação dos investimentos externos diretos, cabe destacar a

relevância assumida pelos capitais de curto prazo no financiamento dos déficits em

transações correntes, expressando a fragilidade da inserção externa do país, dado que esses

capitais são altamente voláteis e sensíveis à conjuntura, de modo que qualquer sinal de

risco cambial os afugenta.

Sem embargo, o comportamento do setor externo no período em análise evidencia um

crescente desequilíbrio, tanto na conta corrente, ocasionado pelos déficits nas contas

comercial e de serviços, quanto na conta de capitais, pelo papel que assumiram os capitais

de curto prazo no financiamento do balanço de pagamentos. Essa situação de extrema

vulnerabilidade e dependência em relação aos fluxos financeiros internacionais torna-se

especialmente importante nesse período, tendo em vista os vários momentos de conjuntura

desfavorável na economia internacional, com ênfase para a crise da Rússia no final de

1998, que forçou o governo a abandonar a âncora cambial.

5.5 CONJUNTURA INTERNACIONAL:CRISE DA RÚSSIA

Com a situação de fragilidade das contas externas, o país ficou exposto às contingências da

conjuntura internacional, fato que ficou evidente em três momentos. O primeiro foi a crise

do México em 1995, seguido da crise asiática de 1997, e finalmente a mais impactante, a

crise russa no final de 1998.

A crise manifestou seus primeiros sinais no início do 2º semestre de 1998, mas tornou-se

realmente dramática a partir de agosto com a decretação da moratória por parte do governo

russo e a desvalorização do rublo.

Diante da instabilidade na economia mundial as medidas de política econômica adotadas

pelo governo foram as seguintes: elevação da taxa de juros; concessão de facilidades

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tributárias para o capital estrangeiro; e em outubro, um pacote fiscal, com elevação nos

impostos e cortes nas despesas.

Ao contrário da crise mexicana e asiática, ocasiões em que o governo conseguiu reverter os

efeitos adversos da conjuntura, não se verifica o mesmo com a crise russa. Neste último

caso os impactos se verificaram não só sobre os fluxos financeiros internacionais, mas

também sobre os fluxos de comércio do país, através da contração tanto dos financiamentos

às exportações quanto dos mercados de destino de nossos produtos.Porém, o principal

efeito da crise foi sobre o balanço de capitais do país, o que acarretou sérias conseqüências

sobre a política de sobrevalorização do real, fato observado por Damasceno (op. cit., p.18):

[...] Estabelecida a crise naquele país os mercados passaram a não acreditar na capacidade de o governo brasileiro manter a moeda sobrevalorizada, e a elevação da taxa de juros não mais se configurava em elemento indutor de investimentos externos [...] Ou seja, os agentes financeiros internacionais investem em função do diferencial de taxa de juros entre os países e da expectativa de comportamento do câmbio, porém, se eles acreditam que o governo não vai ser capaz de manter a moeda valorizada, as taxas de juros deixam de ser um atrativo, pois uma desvalorização da moeda corroeria o diferencial de taxa de juros. Com a formação de expectativas negativas com relação ao comportamento da taxa de câmbio os agentes tiram os seus investimentos do país e com a saída de divisas, o governo não tem como sustentar a moeda e é obrigado a desvalorizar.

Foi exatamente isso o que aconteceu com o Brasil no final de 1998 e início de 1999,

quando o governo não pode mais sustentar o Real sobrevalorizado e foi obrigado a deixar o

câmbio flutuar.

5.6 DESVALIRIZAÇÃO CAMBIAL E BALANÇA COMERCIAL (1999-2000)

A crise cambial brasileira foi o resultado, principalmente, do desequilíbrio criado no setor

externo a partir de 1994, de modo que com o advento da crise russa e posterior ataque

especulativo contra a moeda nacional, o governo foi obrigado a deixar o câmbio flutuar,

observando-se uma desvalorização de proporções significativas, que pode ser visualizada

nos gráficos 4 e 5.

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GRÁFICO 4 GRÁFICO 5

Com a desvalorização da moeda e mudança dos preços relativos em favor das exportações,

espera-se um impacto positivo na conta de comércio, o chamado efeito Marshall-Lerner,

que é comentado por Blanchard (1999, p. 224):

Assim, para que o balanço comercial melhore após uma depreciação, as exportações tem de aumentar e as importações têm de diminuir o suficiente para compensar o aumento do preço das importações. A condição segundo a qual a depreciação real conduz ao aumento das exportações líquidas é conhecida como condição de Marshall-Lerner.

Entretanto, uma desvalorização da moeda causa impactos positivos na balança comercial

se, e somente se, a soma das elasticidades-preço das demandas nacional e estrangeira de

importações for maior que a unidade. Como o conceito de elasticidade está relacionado a

ajustamentos de longo prazo, espera-se que no curto prazo a condição de Marshall-Lerner-

Robinson não se verifique, tendo em vista o tempo necessário para que os consumidores e

produtores cumpram compromissos antigos e encontrem novos fornecedores e clientes. Ou

seja, no curto prazo, espera-se uma deterioração do resultado comercial. Na literatura, o

ajustamento que ocorre no saldo comercial após uma desvalorização, é chamado, com

muita imaginação, de “curva J”.

A tabela a seguir mostra o comportamento da balança comercial, série mensal, durante o

ano de 1999 e 2000. O impacto da desvalorização sobre o comportamento da balança

comercial em 1999 deve levar em consideração os seguintes aspectos: o tempo de

Taxa de câmbio - efetiva real - IPA-OG - exportações -índice (dez. 1998 = 100)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Taxa de câmbio - R$ / US$ - comercial - compra - média

0

0,5

1

1,5

2

2,5

Fonte: Ipeadata Fonte: Ipeadata

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ajustamento (discutido acima); o impacto da crise cambial e da instabilidade do mercado

financeiro internacional sobre as linhas de financiamento das exportações; o

comportamento dos mercados compradores e; o comportamento dos preços.

TABELA 12

Como destacado anteriormente, é preciso tempo para que as empresas se ajustem às novas

condições de competitividade desencadeadas pela mudança de preços relativos, cabendo

observar que esse ajustamento tende a ser mais lento no caso das exportações de bens

manufaturados.

A crise cambial, ao desorganizar os fluxos financeiros internacionais, impacta

negativamente o comportamento da balança comercial, pelo fato de contrair as linhas de

financiamento para as exportações, ou seja, "as repercussões de uma crise cambial podem

ainda inibir as exportações devido à redução do financiamento, como ocorreu com as

operações de ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio) que financiam o capital de giro

do exportador com recursos captados no exterior" (IEDI, op. cit., p. 311).

Com a crise russa e posterior crise cambial brasileira, o que se verifica no início de 1999,

devido à contração dos fluxos financeiros internacionais, é uma menor disponibilidade de

linhas de financiamento para as exportações, como observado pelo Mdic (1999, p.2):

A instabilidade do mercado financeiro internacional também reduziu, significativamente, a disponibilidade de linhas de crédito para financiamento dos

Período Exp Imp Saldo Exp Imp SaldoJan 2.949 3.645 -696 3.453 3.568 -115Fev 3.267 3.164 103 4.123 4.048 75Mar 3.829 4.051 -222 4.472 4.451 21Abr 3.707 3.669 38 4.181 3.995 186Mai 4.386 4.078 308 5.063 4.701 362Jun 4.313 4.459 -146 4.861 4.605 256Jul 4.117 4.027 90 5.003 4.887 116

Ago 4.277 4.461 -184 5.519 5.422 97Set 4.187 4.243 -56 4.724 5.046 -322Out 4.304 4.458 -154 4.638 5.165 -527Nov 4.002 4.530 -528 4.390 5.023 -633Dez 4.673 4.424 249 4.659 4.872 -213

Fonte: Ipeadata

1999 2000Balança Comercial - Fob em US$ M ilhões

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exportadores brasileiros, ao final de 1998. Em janeiro de 1999, o volume de Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC) caiu ao nível mais baixo desde 1994 e as taxas de juros aumentaram substancialmente, situação que perdurou por todo o primeiro semestre do ano.

Outro aspecto da crise cambial a ser observado é o impacto causado em outras economias,

principalmente nas latino-americanas, importante mercado para as exportações brasileiras.

Esse aspecto é ressaltado pelo Iedi (op. cit., p. 311):

A recessão da economia brasileira que se iniciou antes mesmo da crise cambial, já no segundo semestre de 1998, juntamente com a desvalorização de janeiro de 1999, contribuíram para agravar a retração de economias latino-americanas e suscitar reações de proteção de mercados, deprimindo o comércio em uma região para a qual o Brasil destina parcela expressiva de suas exportações[...]

Mesmo com toda essa conjuntura desfavorável, dada a dimensão da desvalorização do

câmbio, o que o governo esperava era uma reversão do saldo comercial em 1999, o que não

ocorreu, com a balança comercial registrando déficit na magnitude de US$ 1.199 milhões,

resultado de exportações no valor de US$ 48.011 milhões, e importações da ordem de US$

49.210 milhões. As exportações e importações decresceram em valor 6% e 14.7%,

respectivamente, em relação a 1998.

Apesar de apresentar saldo anual negativo, pode-se afirmar que tanto as exportações quanto

as importações reagiram à desvalorização do câmbio, o que é justificado pelo crescimento

do quantum exportado, e diminuição do quantum importado.

As exportações físicas de produtos básicos e semi-manufaturados reagiram prontamente à

desvalorização cambial, com o quantum apresentando crescimento de 8,4% e 16%,

re0spectivamente em 1999 com relação ao ano anterior. Já as exportações físicas de

produtos manufaturados não reagiram da mesma forma, com o quantum exportado

apresentando crescimento de apenas 2%.

Em valor, as exportações de produtos básicos, semi-manufaturados e manufaturados

decresceram 1,8%, 8,8% e 6,9%, respectivamente, em relação a 1998. Já que o quantum

exportado apresentou crescimento, a queda em valor das exportações é explicada pelo

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comportamento dos preços, que caíram 11,4% (15,1%, 15,2% e 8,9%, para básicos, semi-

manufaturados e manufaturados, respectivamente. Já o preço médio das importações subiu

6,5%, o que ocasionou forte deterioração dos termos de troca.

Desse modo, pode-se afirmar que o comportamento da balança comercial no ano de 1999,

muito ruim em comparação ao que foi antecipado por diversos analistas, inclusive

governamentais, deveu-se principalmente à deterioração dos termos de troca provocada

pela queda de 11,4% no preço dos bens exportados e alta de 6,5% dos bens importados.

Em 2000 a balança comercial apresentou déficit menor, da ordem de US$ 697 milhões,

resultado de exportações no valor de US$ 55.086 milhões e importações de US$ 55.783

milhões. As exportações cresceram 14,7% em relação a 1999, contra crescimento de 13,3%

das importações.

O significativo crescimento das exportações reflete o ajustamento em relação à

desvalorização cambial, merecendo destaque a expansão das vendas de manufaturados (ver

tabela 13), que como foi dito acima, demora mais tempo para responder à mudança de

preços relativos.

TABELA 13

Outro aspecto importante na análise da balança comercial em 2000 diz respeito à relação

entre o comportamento das importações e a aceleração do crescimento da economia

brasileira. O aumento das importações, principalmente de matérias-primas e intermediários

(ver tabela 14), reflete a “recuperação da atividade industrial do país, em um contexto de

2000 Part. % 1999 Part.% Var.% (2000/1999)Básicos 12.561,0 22,8 11.828,0 24,6 6,2

Semimanufaturados 8.499,0 15,4 7.982,0 16,6 6,5

Manufaturados 32.528,0 59,0 37.329,0 56,9 19,0

Op. Especiais 1.498,0 2,7 872,0 1,8 71,8Fonte: SISCOMEX

Janeiro-DezembroExportação por Fator Agregado em US$ Milhões

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maior coeficiente de importação, após o processo de abertura comercial iniciado nos anos

90” (ALEM, 2000, p.234).

TABELA 14

Verifica-se também em 2000 (dados da FUNCEX), uma melhora nos termos de troca, com

recuperação de 3,2% nos preços das exportações e aumento de 0,3% nos preços dos bens

importados.

Desse modo, pode-se dizer que em 2000 os principais elementos de explicação do

comportamento da balança comercial foram o aquecimento da economia, principal

responsável pelo crescimento das importações, e a resposta das exportações à

desvalorização do câmbio em um contexto de pequena recuperação dos preços dos bens

exportados. Ou seja, a desvalorização cambial é o elemento que explica a diminuição dos

déficits, dando um novo perfil ao resultado comercial do país.

Entretanto, apesar da melhora considerável do resultado comercial nos anos 1999 e 2000, a

nova política cambial não foi suficiente para transformar os déficits em superávits,

fortalecendo a hipótese de que o problema comercial do país não é apenas uma questão de

preços relativos que poderia ser resolvido com a desvalorização do cambio. Isso faz crer

que a explicação do mau desempenho da balança comercial neste período (1995-2000) não

está centrada somente na política cambial e de importação, mas também no nosso padrão de

especialização, que é refletido na composição da pauta de exportações. Por isso, é

necessário examinar o padrão de especialização, relativamente às tendências do comércio

2000 Part.% 1999 Part.% Var. %(2000/99)

Bens de Capital 13.590,0 24,4 13.568,0 27,5 0,2

Matérias-Primas e Interm. 28.524,0 51,1 24.101,0 48,9 18,4

Bens de Consumo 7.307,0 13,1 7.345,0 14,9 -0,5

Combustíveis e Lubrificantes 6.362,0 11,4 4.258,0 8,6 49,4Fonte:SISCOMEX

Janeiro-DezembroImportações por Categorias de Uso em US$ Milhões

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mundial, para averiguar em que medida ele pode ter influenciado no comportamento

deficitário da balança comercial.

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6 A PAUTA DE EXPORTAÇÕES

A análise da pauta de exportação procura avaliar as transformações ocorridas no padrão de

especialização do país ao longo da década de 90. Nesse sentido, são utilizados dois

critérios: a matriz de competitividade e um indicador de vantagens comparativas.

6.1 MATRIZ DE COMPETITIVIDADE

A matriz de competitividade permite avaliar a convergência das exportações de um país à

dinâmica das exportações mundiais. De acordo com Xavier (2001, p.10):

[...] a matriz de competitividade indica a posição competitiva de um país em um determinado grupo setorial e sua correlação com o dinamismo (fragilidade) desse grupo setorial no comércio internacional a partir de uma determinada zona de referência geográfica.

Os conceitos e fórmulas apresentados aqui foram resumidos de Bauman e Neves (1998 p.6-

9).A matriz é construída9 a partir de dois indicadores: o indicador PM, que mede a

participação de mercado, e o indicador CS, que mede o peso do setor nas importações totais

do mercado em questão 10.

A partir da utilização dos indicadores VPM e VCS, podem ser definidos os conceitos de

competitividade e dinamismo de um determinado setor da pauta de exportação de um país.

9 Essa metodologia foi também utilizada em vários outros trabalhos, entre os quais: Xavier (2001), Oliveira (1998) e, finalmente, o trabalho que serve de base para essa análise, IEDI (2000). 10 As fórmulas desses indicadores são dadas por:

PM = ( Mij/Mi). 100 e CS = ( Mij/M). 100, onde:

Mij = Importações totais realizadas pelo mercado em questão, de produtos de setor i do país j.

Mi = Importações totais realizadas pelo mercado em questão, de produtos do setor i de todos os países.

M = Importações totais realizadas pelo mercado em questão.

A variação desses dois indicadores em um dado período é dada por:

VPM = [(PM2 – PM1)/PM1] . 100 e VCS = [(CS2 – CS1)/CS1] . 100, onde:

PM1 = Participação das exportações de um país em um dado mercado no início do período em questão.

PM2 = Participação das exportações de um país em um dado mercado no final do período em questão.

CS1 = Peso de um setor nas importações totais do mercado em questão no início do período considerado.

CS2 = Peso de um setor nas importações totais do mercado em questão no final do período considerado.

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• Competitividade: quando um setor da pauta de exportação de um país apresenta

indicador VPM>0 (VPM<0), diz-se que houve ganho (perda) de competitividade nesse

setor. Desse modo, em um determinado período, um setor da pauta de exportação de um

país obtém ganho de competitividade em relação aos demais fornecedores se aumentar

o seu “market-share” no contexto do mercado considerado (no casso, o mercado

mundial desse setor).

• Demanda mundial crescente (dinâmico) e decrescente (estagnado): um setor da pauta de

exportação é de “demanda crescente” (“demanda decrescente”) no mercado mundial

quando apresenta indicador VCS>0 (VCS<0). Ou seja, em um determinado período, um

setor é classificado como dinâmico (estagnado) se aumentar (diminuir) sua participação

no total do comércio mundial.

As possibilidades de combinação das variáveis VPM e VCS permitem estabelecer um

critério de convergência (matriz competitiva) das exportações de um país à dinâmica do

mercado mundial.

• Setores Ótimos: combina ganho de competitividade (VPM>0) em um setor de

“demanda crescente” (VCS>0) no mercado mundial.

• Setores em Declínio: ganho de competitividade (VPM>0) em um setor de “demanda

decrescente” (VCS<0) no mercado mundial.

• Oportunidades Perdidas: perda de competitividade (VPM<0) em um setor de

“demanda crescente” (VCS>0) no mercado mundial.

• Setores em Retrocesso: perda de competitividade (VPM<0) em um setor de “demanda

decrescente” (VCS<0) no mercado mundial.

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TABELA 15

GRÁFICO 6 GRÁFICO 7 GRÁFICO 8

Utilizando o conceito de competitividade pode-se observar na tabela 15 acima que ocorreu

um retrocesso significativo no comércio exterior brasileiro entre o primeiro e o segundo

período (1991-1994 e 1994-1998). O número de setores nos quais o país obteve ganhos de

competitividade diminui de 128 no primeiro período para 99 no segundo. Isso significa que

entre um período e outro diminuiu o número de setores da pauta de exportação nos quais o

país logrou aumentar o seu "market-share" no mercado mundial desses setores.

Os setores com ganho de competitividade no período 1991-1994 correspondem a 61% das

exportações totais de 1994, considerando os setores com ganho de competitividade no

período 1994-1998, essa participação se reduz a 52% das exportações totais de 1998.No

entanto, aumenta de 99 no período 1994-1998, para 148 no período 1998-2000, o número

de setores nos quais o país obteve ganhos de competitividade.

Como resultado, os setores com ganho de competitividade no período 1998-2000

correspondem a 67% das exportações totais de 2000. O aumento do número de setores com

Ganho / P erda de C o mp.(1991-1994)

39%61%

Ganho Perda

Ganho / P erda de C o mp. (1994-1998)

52%48%

Ganho Perda

Ganho / P erda de C o mp. (1998-2000)

67%

33%

Ganho Perda

Ganho Perda Ganho Perda Ganho Perda

Nº de Setores 128 76 99 129 148 101

% das Exportações 61 39 52 48 67 33Fonte: IEDI (2000;2002)

1991-1994 1994-1998 1998-2000Setores com Ganho/Perda de Competitividade no Mercado Mundial

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ganho de competitividade no último período (1998-2000), bem como a participação destes

no total exportado, reflete a mudança na política cambial ocorrida em janeiro de 1999.

Portanto, resultou das políticas adotadas no período 1994-1998, com destaque para a

sobrevalorização do câmbio, um padrão de especialização com fortes restrições de

competitividade, situação essa que se altera drasticamente no período 1998-2000, como

resultado, principalmente, da desvalorização cambial acima referida.

TABELA 16

GRÁFICO 9 GRÁFICO 10 GRÁFICO 11

Em termos de setores de demanda crescente (dinâmicos) e decrescente (estagnado) no

comércio mundial, verifica-se também um retrocesso significativo no comércio exterior

brasileiro. Diminuiu de 107 no período 1991-1994 para 84 no período (1994-1998) o

número de setores da pauta de exportação que são de demanda crescente no comércio

mundial.

D . C resc. e D ecrsc. (1991-1994)

52%48%

D. Cresc. D. Decresc

D . C res. e D ecres. (1994-1998)

64%

36%

D. Cresc. D. Decresc.

D. Cres. e Decres. (1998-2000)

28%

72%

D. Cresc. D. Decresc.

D. Cresc. D. Decresc D. Cresc. D. Decresc. D. Cresc. D. Decresc.

Nº de Setores 107 97 84 144 56 193

% nas Exportaç 52 48 36 64 28 72Fonte: IEDI ( 2000;2002)

1991-1994 1994-1998 1998-2000Setores com Demanda Crescente e Decrescente no Comércio Mundial

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Se no primeiro período (1991-1994) os setores de demanda crescente representavam 52%

das exportações totais de 1994, essa participação regride, com os setores de demanda

crescente no período 1994-1998, representando 36% das exportações totais de 1998.

Retrocesso maior se vitrifica no terceiro período (1998-2000), com os setores de demanda

crescente no comércio mundial representando apenas 28% das exportações totais de 2000.

Ou seja, o país passou a ser preponderantemente, considerando os três períodos (1991-

1994, 1994-1998, 1998-2000), exportador de produtos estagnados no comércio mundial.

Os critérios de setores com ganho/perda de competitividade e setores dinâmicos/estagnados

no comércio mundial mostram um significativo retrocesso da pauta de exportação do país

entre o primeiro e segundo período (1991-1994 e 1994-1998). No período 1998-2000, o

padrão de especialização deixa de apresentar restrições de competitividade, embora o país

passa a ser exportador, preponderantemente, de produtos estagnados no comércio mundial,

com os setores de demanda decrescente nesse período, representando 72% das exportações

totais de 2000.

TABELA 17

A melhor situação em termos da convergência das exportações de um país à dinâmica do

comércio mundial é “Setores Ótimos”, isso porque combina ganho de competitividade em

setores dinâmicos do comércio mundial. Desse modo, dentro de uma perspectiva

intertemporal, quanto maior o número de “Setores Ótimos”, e quanto maior a participação

Set. Ótimos S. em Declínio Set. em Retrocesso Op. Perdidas Total1991-1994 63 65 32 44 2041994-1998 32 67 77 52 2281998-2000 31 117 76 25 249

1991-1994 28 33 15 24 1001994-1998 18 34 30 18 1001998-2000 15 52 21 12 100Fonte: IEDI (2000 e 2002)

Matriz de Convergência das Exportações BrasileirasNúmero de Setores

% do Setores na Pauta de Exportação

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desses setores na pauta de exportação, melhor para o país. Como pode ser observado na

tabela 17, entre 1991-1994 e1994-1998, diminuem tanto o número de "setores ótimos"

quanto a participação destes no total das exportações.

De modo inverso, entre 1991-1994 e 1994-1998, aumenta tanto o número de "setores em

retrocesso" quanto a participação destes setores no total exportado, lembrando que

combinam perda de competitividade em setores estagnados, ou seja, é a pior situação em

termos da convergência das exportações de um país à dinâmica do comércio mundial. A

esse respeito merece destaque um comentário do Iedi (op. cit., p.279):

Cabe frisar que um país estará acompanhando o padrão de comércio internacional se, de um lado, o número de setores e a proporção nas exportações de setores “ótimos” aumentam e, de outro, diminuem o número e a participação nas exportações dos setores “em retrocesso”. O percurso brasileiro no período 1994-1998 foi o inverso ao ideal.

Como resultado do balanço feito para setores com ganho/perda de competitividade e setores

de demanda crescente/decrescente no comércio mundial, tem-se uma nova configuração no

padrão de especialização do país no período 1998-2000, onde, além de verificar-se

diminuição do número de “setores ótimos” bem como a participação destes setores nas

exportações totais, tem-se um significativo aumento do número de “setores em declínio” e

a participação destes no total das exportações. A esse respeito, cabe um comentário de

Bauman e Neves (1998, p.9):

No caso dos setores em declínio, ganhar competitividade em um setor estagnado não é necessariamente um mau resultado, uma vez que a perda de dinamismo desse setor pode ser apenas temporária. Um número elevado de “setores em declínio” só será prejudicial para o país exportador se houver um desvio de recursos de setores dinâmicos para esses setores, o que provavelmente resultaria em um número menor de setores ótimos [...]

No entanto, como é argumentado por Xavier (op, cit., p.5):

[...] a persistência no longo prazo dessa forte concentração em “setores declínio” pode estar indicando a existência de restrições estruturais-setoriais ao crescimento das exportações. Por outro lado, mesmo no curto prazo, pode ocorrer transferência e desvio de recursos de setores dinâmicos (“situação ótima” e “oportunidades perdidas”) para estes setores, constituindo-se então em

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uma restrição alocativa presente no padrão de especialização, a qual limita o crescimento das exportações.

No caso do padrão de especialização brasileiro, verifica-se entre 1994-1998 e 1998-2000,

um aumento acentuado do número de “setores em declínio” e da participação desses

setores no total das exportações de 2000, ocorrendo o contrário com os “setores ótimos”, o

que, de acordo com Baumen e Neves (op. cit., p. 9), é um resultado ruim, por significar

desvio de recursos de setores dinâmicos para setores estagnados. Além do que, ao longo da

década, cresce a participação dos “setores em declínio” no total das exportações, 33%,

34% e 52%, respectivamente, nos períodos 1991-1994, 1994-1998 e 1998-2000, o que, de

acordo com Xavier (op. cit., p. 5), representa restrições estruturais-setoriais ao crescimento

das exportações.

Através dos critérios acima adotados é clara a mudança no padrão de especialização do país

entre 1991-1994 e 1994-1998. O país passou a ser preponderantemente exportador de

produtos estagnados no comércio mundial, bem como diminuiu o número de setores com

ganho de competitividade e a participação desses setores no total exportado. Como

resultado, a matriz de competitividade mostrou que diminuiu o número de "setores ótimos"

e a participação destes no total exportado, ocorrendo o inverso com os “setores em

retrocesso”.

No período 1998-2000, como resultado, certamente, da desvalorização cambial, o padrão

de especialização do país deixa de apresentar restrições de competitividades. No entanto,

aumenta a participação dos setores estagnados na pauta de exportação do país, tendo como

resultado um padrão de especialização concentrado em “setores em declínio”. Isso explica

a persistência dos déficits na balança comercial nos anos de 1999 e 2000, ou seja, a

mudança na política cambial a partir de 1999 não foi suficiente para eliminar as distorções

no comércio exterior do país, que resultaram das políticas aplicadas no período 1994-1998.

6.2 VANTAGEM COMPARATIVA

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O indicador de vantagem comparativa CS (Contribuição ao Saldo) foi desenvolvido durante

a década de 80 pelo Centro de Estudos Prospectivos em Informações Internacionais

(CEPII), da França.

De acordo com o Iedi (op. cit., p.275), o indicador CS11 resulta da diferença entre dois

termos: o saldo efetivo do setor; e um “saldo teórico”, que é definido como o saldo que

ocorreria caso a participação de cada grupo setorial no saldo comercial fosse igual à sua

participação no fluxo de comércio do país.

Um país apresentará vantagens comparativas em um determinado grupo setorial se o

indicador CS for positivo, caso contrário, apresentando CS<0, o país terá desvantagem

comparativa. A respeito desse indicador, merece destaque um comentário de Xavier (op.

cit., p.9):

Tal indicador de CS também procuraria expressar “ex-post” as vantagens relativas de diferentes países a partir de suas diferentes competitividades setoriais, significando que um país abundante em capital deveria apresentar um saldo comercial positivo naqueles grupos setoriais intensivos em capital. Do mesmo modo que um país abundante em trabalho e/ou recursos naturais apresentaria um saldo comercial positivo nestes grupos setoriais. No mesmo sentido, a diminuição relativa de custos, em função da inovação microeconômica dos processos de produção e/ou a obtenção de economia de escalas, juntamente com o poder de monopólio obtido com a diferenciação microeconômica do produto, determinariam tais vantagens comparativas.

TABELA 18

11 A forma analítica do indicador CS utilizado no trabalho do IEDI (2000), e em vários outros, como em Xavier (2001, p.9), é a seguinte:

CS = 1000/PIBi * {(Xki – Mki) – {[(Xki + Mki)/(Xi + Mi)] * (Xi – Mi)]},onde:

- Xk e Mk são respectivamente as exportações e importações do setor “k” efetuadas pelo país “i”.

- Xi e Mi são respectivamente as exportações e importações totais do país “i”.

Van. Desv. Van. Desv. Van. Desv. Van. Desv.

Nº de Setores 95 134 105 130 87 147 106 152

% das ExportaçõesMundo 40 60 39 61 32 68 36 64Brasil 79 21 79 21 77 23 76 24Fonte: IEDI (2000, 2002)

Setores com Vantagem e Desvantagem Comparativa1991 1994 1998 2000

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78

É nítida a tendência de melhora do comércio exterior brasileiro no período 1991-1994, com

o número de setores com vantagem comparativa crescendo de 95 para 105. Em sentido

inverso, no período 1994-1998 o número desses setores diminui de 105 para 87. O aumento

no número de setores com vantagem comparativa no período 1998-2000, de 87 em 1998

para 106 em 2000, reflete a desvalorização cambial de janeiro de 1999.

Merece destaque o fato de que em 1991 ou 1994 a participação no comércio mundial dos

setores nos quais o país apresentou vantagem comparativa correspondia aproximadamente a

40%, com essa participação diminuindo para 32% e 36% respectivamente, em 1998 e 2000,

o que pode ser considerado um percentual pequeno. A esse respeito o Iedi (2000c, p.31)

comenta que:

Uma comparação muito importante dez respeito ao indicador que informa a participação no comércio mundial dos setores nos quais um determinado país apresenta vantagem comparativa. Evidentemente, para um país, quanto maior a expressão no comércio mundial dos produtos de que dispõe de vantagem comparativa, maior o seu potencial de exercer sua vantagem através de aumento de exportações e geração de saldos de comércio.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste trabalho procurou-se estabelecer uma relação entre a política de

estabilização do Plano Real e o comportamento da balança comercial no período 1994-

2000. Assumiu-se o pressuposto de que, ao apoiar-se na sobrevalorização do câmbio e

abertura comercial e, portanto, expor a economia ao mercado mundial, essa política

provocaria efeitos perversos no comércio exterior do país.

No que se refere à abertura da economia, apesar de ter iniciado no final dos anos 80,

verifica-se a partir de 1994 uma intensificação, com a política tarifária sendo submetida aos

objetivos de estabilização de preços. A importância da abertura residiu em permitir que os

bens importados se tornassem mais competitivos no mercado interno, forçando os

produtores nacionais (sobreviventes), através da reestruturação produtiva, a comprimir

custos e preços, com grande desemprego dos fatores produtivos nacionais.

Na política cambial, pretendeu-se estabelecer uma das principais âncoras dos preços, com a

sobrevalorização acentuada da moeda em relação ao dólar. Essa política foi respaldada no

acumulo de reservas, principalmente a partir de 1993, como resultado dos grandes

superávits da balança comercial e da grande liquidez no mercado financeiro internacional,

com os capitais sendo atraídos através de uma política de juros altos.

Dessa forma, é bastante claro o efeito das políticas tarifária e cambial sobre o

comportamento da balança comercial, tendo como resultado uma reversão de RS$ 13.930

milhões, de um superávit de US$ 10.466 milhões em 1994 para um déficit US$ 3.464

milhões em 1995. A partir de 1995 ocorrem sucessivos déficits até 2000, sendo que em

1999 e 2000 estes diminuem sensivelmente.

A política de importação (cambial e tarifária) adotada a partir de 1994, provocou acentuado

crescimento dos déficits em transações correntes, levando o governo a praticar uma política

de juros altos para poder atrair capitais e fechar o balanço de pagamentos. Apesar da

relevância que assumiram os investimentos externos diretos, cabe destacar a participação

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dos capitais de curto prazo no financiamento do desequilíbrio externo. Como resultado, o

país ficou em uma situação de extrema dependência em relação aos fluxos financeiros

internacionais, fato que se explicitou de forma mais concreta com o advento da crise russa e

posterior ataque especulativo contra o Real, forçando o governo a abandonar a política de

sobrevalorização da moeda, resultando em significativa desvalorização.

A expectativa do governo, como constava nos acordos com o FMI, era que a balança

comercial respondesse prontamente à desvalorização da moeda e revertesse o saldo

comercial já em 1999. Apesar do quantum exportado e importado ter reagido, as

expectativas não se confirmaram, sendo frustradas pela deterioração dos termos de troca,

resultado de diminuição dos preços dos bens exportados e elevação dos preços dos bens

importados. Em 2000, tem-se uma nova conjuntura, onde desponta a aceleração do

crescimento da economia, de modo a pressionar a balança comercial e revelar acentuado

coeficiente de importação da produção nacional. Ou seja, a desvalorização da moeda não

foi suficiente para reverter a trajetória deficitária da balança comercial que teve início em

1995.

O fato de a balança comercial não ter reagido de forma vigorosa aos incentivos da nova

política cambial leva a crer que houve mudanças significativas na estrutura de comércio

exterior do país, resultado das políticas de desincentivos ao setor exportador adotadas a

partir de meados da década. Desse modo, os déficits de comércio no período 1999-2000

refletem justamente a mudança no padrão de especialização do país.

O uso da matriz de competitividade ilustra essas mudanças, ao mostrar que entre um

período e outro (1991-1994 e 1994-1998), diminuiu o número de setores da pauta de

exportação nos quais o país obteve ganho de competitividade. O mesmo quadro se

configura para os setores de demanda crescente e decrescente no comércio mundial, com o

país passando de exportador de setores dinâmicos no comércio mundial para setores

estagnados. Como resultado, o padrão de especialização do país mostra significativa

mudança entre um período e outro, aumentando o número de “setores em retrocesso” e a

participação destes no total exportados, bem como diminuindo o número de “setores

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ótimos” e a participação destes no total exportado, ou seja, o país percorreu um caminho

inverso ao ideal. O indicador de vantagens comparativas também ilustra sobremaneira o

retrocesso do padrão de especialização do país entre esses dois períodos.

No entanto, como resultado da mudança da política cambial, o padrão de especialização do

país deixa de apresentar restrições de competitividade no período 1998-2000. Entretanto,

verifica-se um significativo aumento dos setores estagnados no comércio mundial na pauta

de exportação, bem como a participação destes, o que, como a matriz de competitividade

mostrou, resultou em um padrão de especialização concentrado em “setores em declínio”

no comércio mundial, o que representa uma restrição ao crescimento das exportações, pelo

fato de o país está aumentando a sua participação de mercado em setores estagnados no

comércio mundial. Ou seja, apesar de a mudança na política cambial ter removido as

restrições de competitividade da pauta de exportação, não foi suficiente para eliminar as

distorções causadas pelas políticas do período 1994-1998, o que seria uma explicação para

a obtenção dos déficits de 1999 e 2000.

A principal conclusão a que foi possível chegar é que a estratégia de estabilização do Plano

Real, calcada na política cambial e tarifária, provocou significativas mudanças no comércio

exterior do país, reveladas pelos sucessivos déficitis verificados de 1995 a 2000. Esses

déficits, além de refletirem a própria política cambial e tarifária, refletem também as

mudanças na pauta de exportação do país provocadas por essas mesmas políticas, haja vista

a resposta da balança comercial à desvalorização.

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