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Comrcio Exterior

Braslia, 2006

Reitor Lauro Morhy Vice-Reitor Timothy Martin Mulholland

Diretor-Presidente Alberto Borges Matias Instituidores Responsveis Carlos Alberto Campello David Forli Inocente Gestor de Operaes Joo Delo Professor Autor Comrcio Exterior Prof. Jos Lopes VazquezO autor responsvel pelo contedo.

Diretor Bernardo Kipnis Coordenadora Pedaggica Maria de Ftima Guerra de Sousa Designer Educacional Bruno Silveira Duarte Ilustradores do Projeto Carlos Miguel Rodrigues; Andr Tunes; Tatiana Tibrcio; Ribamar Arajo e Paulo Rodrigues Capa Rodrigo Mafra e Eduardo Miranda Editorao Alissom Lazaro; Evaldo Abreu; Gibran Lima e Tlyo Nunes

Universidade de Braslia UnB Centro de Educao a Distncia CEAD Campus Universitrio Darcy Ribeiro, Multiuso 1 Bl. B Ent. B1/14 CEP: 70919-790 Braslia-DF Tel (61) 3349-0996 Fax (61) 3307-3048 www.cead.unb.br [email protected]

INEPAD Instituto de Ensino e Pesquisa em Administrao Rua Marechal Rondon, 571 Jardim Amrica CEP: 14020-220 Ribeiro Preto-SP Tel (16) 3911-2212 www.inepad.org.br [email protected]

SUMRIOAPRESENTAO ......................................................................................................7 TEMA 1 - TEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL .......................................9 TEMA 2 - BARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONAL .................................................. 23 TEMA 3 - DIREITO INTERNACIONAL E COMRCIO EXTERIOR ......................................... 35 TEMA 4 - BLOCOS ECONMICOS E ORGANISMOS REGIONAIS ...................................... 43 TEMA 5 - MERCADO CAMBIAL ................................................................................... 61 TEMA 6 - OPERAES FINANCEIRAS E NEGCIOS INTERNACIONAIS............................... 79 TEMA 7 - TAXA DE CMBIO ....................................................................................... 91 TEMA 8 - TRIBUTAO NO COMRCIO EXTERIOR ......................................................... 97 TEMA 9 - REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS ................................................................107 SIGLAS, TERMOS TCNICOS E GLOSSRIO ............................................116 BIBLIOGRAFIA BSICA ....................................................................................118

APRESENTAOEste material apresenta temas cuidadosamente selecionados e contm no apenas teorias, doutrinas, prticas comerciais, tributrias e bancrias mas tambm dispositivos jurdicos brasileiros em sua relao imediata com a malha internacional da exportao e importao. O pensamento dominante no planejamento e elaborao desse material foi o de buscar um canal capaz de levar saber e conhecimento para sua vida prossional e seus projetos pessoais. A matria vale tanto para pessoas que j esto prossionalmente na rea como para pessoas que desejam conhecer a natureza do comrcio exterior. Inicialmente voc perceber que o modo como a matria se apresenta ir pedir bastante ateno. Mas isso natural. Um texto como uma casa. preciso entrar, olh-la e v-la pessoalmente para sabermos bem o que ela tem por dentro. Acontecer que, progressivamente, voc se familiarizar com os temas e com o processo de exposio adotado. Chegar o momento em que as temticas passaro a ganhar espao em sua mente, e a despertar suas habilidades, e a consolidar suas competncias. O mdulo desenvolver a matria na base de nove temas. Veja os ttulos: teorias clssicas sobre comrcio exterior, barreiras ao comrcio internacional, direito internacional e comrcio exterior, blocos econmicos, mercado cambial, operaes nanceiras e pagamentos, taxa de cmbio, tributao no comrcio exterior, e regimes aduaneiros especiais. Cada um desses temas levar a voc um conjunto de informaes que lhe daro uma idia sobre aquilo que mais ocupa o centro de atenes dos estudiosos, dos empresrios, dos governos, dos bancos, dos scais, e dos trabalhadores no campo do comrcio exterior. A m de facilitar o acompanhamento da exposio, h uma tbua de siglas, glossrio e termos tcnicos mais usados. Uma bibliograa bsica nal ajudar voc a ampliar suas leituras e a descobrir um caminho para novos conhecimentos. Bom estudo!

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TEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

TEMA 1 - TEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONALTEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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Objetivos do Tema Apresentar os fundamentos que norteiam o comrcio internacional, em sua ntima conjugao com a realidade do mercado brasileiro, no duplo captulo das semelhanas e das diferenas.

Conhecer a essencialidade das trs teorias clssicas que ajudaro a entender melhor o jogo do comrcio exterior. 1.1 ALGUMAS OBSERVAES SOBRE O MERCADO INTERNACIONAL Muitas vezes as pessoas imaginam que o mercado internacional apenas um mero prolongamento do mercado domstico. Mas mais do que isso. No fundo, os dois se assemelham na medida em que tratam de compras e vendas de bens e servios. Tambm verdade que o mercado internacional pode ser analisado mediante a aplicao dos mesmos critrios e mtodos comumente utilizados para a explicao do comrcio interno. Ambos, comrcio interno e internacional, se encontram alicerados no atendimento das necessidades e desejos dos indivduos . E neste aspecto, esto muito prximos. Outra aproximao pode ser feita quando examinamos os motivos que do origem aos dois tipos de comrcio, o internacional e o nacional. O principal motivo, tanto para regies como para pases, reside na impossibilidade de uns e outros produzirem vantajosamente todos os bens e servios para atender as necessidades de demanda de seu mercado interno . Isto proveniente de fatores diversos, dentre os quais pode-se destacar a desigualdade na distribuio geogrca dos recursos naturais, as diferenas de clima e de solo e as diferenas nos processos de produo. 1.1.1 Desigualdades e diferenas entre o comrcio domstico e o internacional Algumas regies ou pases so possuidores de recursos naturais que outros no tm. O carvo abundante na Amrica do Norte e em alguns pases europeus, enquanto que escasso em outras regies. O petrleo, de igual forma, pode ser encontrado apenas em determinadas regies . O Estado de Minas Gerais possui abundncia de minrio de ferro ao contrrio de outros Estados que no possuem jazidas deste mineral ou, ento, o possuem em menores quantidades. As diferenas de clima e de solo tambm contribuem para essa desigual distribuio. A cana-de-acar e o caf, por exemplo, podem ser produzidos em larga escala em certas regies do Brasil. E o trigo apresenta melhor produtividade em pases como a Rssia e a Argentina, ao contrrio dos pases de climas quentes, como nos de vrias regies do continente africano. Estes e outros fatores de origem natural fazem com que alguns pases tenham a possibilidade de produzir determinados produtos, enquanto que outros no tm essa mesma possibilidade. Alm do mais, oportuno ressaltar que, mesmo quando h igualdade de condies quanto ao aspecto fsico da produo, poder ser mais interessante produzir os mesmos bens em outras regies, em funo de uma simples diferena de preos dos recursos produtivos, tributos etc.

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No ambiente internacional sempre bom considerar, tambm, as diferenas de preos provenientes das relaes de valor das diferentes moedas. Em conseqncia, torna-se mais vantajoso, para cada pas e regio, aplicar o princpio da diviso de trabalho, buscando a especializao naquelas atividades produtivas que oferecerem melhores condies e vantagens deixando como alternativa a permuta dos produtos entre si. 1.1.2 Semelhanas entre comrcio domstico e o internacional Ainda no tocante s caractersticas dos dois tipos de comrcio, outros pontos de semelhana podem ser encontrados. Tanto o comrcio internacional quanto o comrcio interno de pases e regies tm como ponto fundamental a troca de determinados bens e servios. De igual modo, ambos envolvem compradores e vendedores, benefcios mtuos para as partes, polticas de produo e de vendas, problemas de assistncia creditcia, preferncias de consumidores, faturamento, detalhes de transportes, seguros domsticos e internacionais da carga transportadas, e no caso especco de comrcio externo, seguro de crdito exportao etc. 1.1.3 Algumas diferenas importantes entre comrcio domstico e o internacional Apesar de tudo, no obstante a existncia dessas semelhanas, possui o comrcio internacional tantos pontos divergentes em relao ao comrcio interno, que se justica o seu tratamento como assunto parte. Essas diferenas podem ser sistematizadas da seguinte maneira, observandose o grau de mobilidade dos fatores de produo: A mobilidade de fatores no mercado interno Embora a mobilidade dos fatores ocorra tanto no mercado interno como no internacional, ela apresenta-se em maior grau no campo interno do que no internacional, especialmente em relao ao fator-trabalho. Se, por exemplo, para a instalao de uma determinada indstria no interior de So Paulo So Jos do Rio Preto, por exemplo - se zer necessria uma produo complementar na cidade de So Paulo, o deslocamento de mquinas ou de equipamentos produzidos pela indstria paulistana para aquela regio farse- sem maiores diculdades de ordem jurdica, poltica etc. De igual forma, se em uma regio houver falta de mo-de-obra, ao mesmo tempo em que outra se registra excesso dela, natural que em virtude disso se produzam movimentos migratrios, que num curto prazo podero atender a diculdade, antes apresentada, de falta de mo-de-obra. No caso de um empreendimento a ser feito, se uma regio necessitar de recursos nanceiros lgico pensar que os necessrios recursos no deixaro de aparecer desde que a regio oferea adequada compensao aos donos do capital que se dispem a investir no local. A mobilidade de fatores no mercado internacional No mercado internacional a mobilidade de fatores muito menor, por uma srie de motivos. Assim como observa Killough (In: Ratti, 2000:342), a especializao prossional, associaes, laos de famlia, costumes, idioma e legislao imigratria restritiva retardam os movimentos de trabalhadores de um para outro pas H pases como o Brasil que no oferecem maiores diculdades entra. da de estrangeiros. O mesmo no acontece em certos pases como, por exemplo, nos Estados Unidos, onde a legislao imigratria e as associaes prossionais dicultam grandemente a entrada de trabalhadores de outras nacionalidades.

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Transferncia de matrias-primas e outros produtosTEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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As transferncias de matrias-primas e de outros produtos tambm esto sujeitas a restries de diversas naturezas. Alm das barreiras aduaneiras, existem outros impedimentos como as quotas de importao, regulamentos sanitrios, proteo aos produtores locais etc. Diculdades e riscos de movimentao de capitais nanceiros O mesmo ocorre em relao aos capitais nanceiros, cuja movimentao pode ser dicultada ou, em casos extremos, impedida de entrar em determinados pases. Isso sem mencionar os maiores riscos a que esto sujeitos, como o caso do risco poltico e cambial. O risco poltico est condicionado implementao de regras e regulamentos que se manifestam sob a forma de nacionalizao, desapropriao e consco. O risco cambial, por sua vez, causado pela variao da taxa de cmbio entre duas moedas que podem causar exposies de natureza contbil e econmica ao detentor do capital nanceiro 1.1.2 Natureza do mercado No mercado interno predominam os fatores de coeso, enquanto no mercado internacional a predominncia dos fatores de disperso. 1.1.2.1 fator de coeso no mercado interno Quando se analisa o mercado interno de um pas, chama a ateno a unidade de idioma, costumes, hbitos de comrcio, sistemas de pesos e medidas etc. Essa unidade tende a padronizar os hbitos de consumo e os bens produzidos, o que, indiscutivelmente, oferecer maiores facilidades para a adoo de um sistema de produo em larga escala. 1.1.2.2 O fator de disperso no mercado internacional No mercado internacional, porm, as diferenas existentes em relao aos aspectos apontados tornam problemtica essa padronizao. Uma empresa que opere no mercado internacional dever se aprofundar no estudo dos hbitos e comportamentos dos habitantes dos pases com os quais comercia. De igual modo, dever adaptar os seus produtos de modo a atender, na medida do possvel, s peculiaridades de cada populao. Isso, evidentemente, dicultar de certo modo a aplicao de uma poltica de produo em massa. 1.1.3 Existncia de barreiras aduaneiras e outras restries Durante a Idade Mdia, era comum a ocorrncia de barreiras aduaneiras internas, condicionando o comrcio entre cidades de um mesmo pas. Tais barreiras foram desaparecendo progressivamente, com o surgimento dos Estados-Pases. Mas no totalmente. Elas ainda persistem no campo internacional. Essas barreiras, juntamente com outras restries, alm de dicultarem a circulao de mercadorias entre os pases, contriburam para o surgimento do que se chama cobrana de direitos aduaneiros. Tal cobrana acarreta maiores diculdades para as empresas que se dedicam ao comrcio internacional, uma vez que devero ser considerados os reexos da cobrana desses direitos nos preos de seus produtos e nas possibilidades de sua colocao junto aos consumidores de outros pases.

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1.1.4 Longas distncias Embora possa haver excees, as distncias a serem percorridas pelos produtos no campo internacional so, de modo geral, muitos maiores do que no mercado interno, salvo excees especcas. Alm das elevadas despesas com fretes, outros fatores devem ser considerados. Entre esses fatores est o tempo gasto nos transportes e sua inuncia sobre as condies fsicas dos produtos transportados. Esse fato implica a necessidade de embalagens e condies especiais de transportes, entre outras coisas. 1.1.5 Variaes de ordem monetria A utilizao de diferentes moedas no comrcio internacional um dos fatores de distino comumente apontados no confronto entre o comrcio interno e o internacional. No mercado interno, inexiste o problema do poder liberatrio da moeda nacional. Todas as transaes realizadas internamente so liquidadas na moeda do pas. No mercado internacional isso no ocorre. Exatamente por ser quase impossvel impor a um exportador que ele aceite como pagamento de sua exportao outra moeda que no seja a de seu pas. Surge assim a necessidade de se trocar diferentes moedas, para que as liquidaes nanceiras do comrcio internacional possam se efetivar. A est o problema do cmbio. 1.1.6 Variaes de ordem legal No mercado interno, as transaes comerciais esto sujeitas a um mesmo sistema legal, o que implica unidade de regulamentos, tributos etc., embora possam surgir pequenas variaes de uma regio para outra. No mercado internacional, contudo, poder haver grandes diferenas entre os sistemas legais, o que implica numa diversidade de critrios de arbitramento das pendncias que porventura ocorram. Ainda que o Direito tenda a se universalizar, essas distines persistem. Em conseqncia, deve o comerciante internacional levar em considerao uma grande variedade de dispositivos e complexidades de ordem legal, que inexistem quando se considera apenas o mercado interno. 1.1.7 A grande questo que aqui se debate De que maneira um pas determinar o que lhe ser mais vantajoso Produzir, exportar ou importar? A resposta para esta pergunta pode ser encontrada nas Teorias Clssicas dos economistas ingleses do sculo XIX sobre comrcio exterior, apresentadas a seguir. 1.2 AS TEORIAS SOBRE O MERCADO EXTERIOR De acordo com Passos e Nogami (2005:522), por diversas questes que envolvem desde a sobrevivncia de uma nao at a satisfao de necessidades menos vitais, fortes razes induzem os pases ao comrcio exterior de bens e servios. Entre essas razes pode-se citar: as desigualdades entre as naes no tocante s reservas no reprodutivas (reTEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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cursos naturais);

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diferenas internacionais no tocante a fatores climticos (que so determinados por fatores relativamente estticos como altitude, latitude, topograa e tipo de superfcie) e a fatores edcos (natureza e distribuio de solos); desigualdades nas disponibilidades estruturais de capital e trabalho; e diferenas nos estgios de desenvolvimento tecnolgico. a partir da combinao desses quatro fatores que surge a diviso internacional do trabalho, a especializao das naes. Por decorrncia, o comrcio externo tem contribudo, contnuo e persistentemente, para a internacionalizao dos processos econmicos e, inegvel, para o gradativo aumento das taxas de dependncia de cada economia com relao ao resto do mundo. Trs so as principais teorias que procuram explicar a existncia do comrcio internacional. A primeira a chamada Teoria da Vantagem Absoluta. Seu formulador foi Adam Smith (1723-1790), economista ingls, que a desenvolve em seu livro Uma Pesquisa sobre a natureza e as causas da Riqueza das Naes (Inquiry into the nature and the causes of the Wealth of the Nations), publicado em 1776. A segunda, a Teoria das vantagens comparativas de David Ricardo (1772-1823), considerado o mais legtimo sucessor de Adam Smith, aperfeioou as idias contidas na Teoria da Vantagem Absoluta. A terceira chama-se Teoria da Demanda Recproca, e foi desenvolvida por John Stuart Mill(1806-1873), lsofo e economista ingls, em Princpios de economia poltica com algumas de suas aplicaes losoa social (Principles of political economy and some of the applications to social philosophy) em 1848, obra que se tornou no principal guia dos estudos em economia no sculo XIX, durante muitos anos. 1.2.1 A TEORIA DAS VANTAGENS ABSOLUTAS DE ADAM SMITH A Teoria das Vantagens Absolutas mostra em que condies determinado produto ou servio pode ser oferecido, com preos de custos inferiores aos dos concorrentes. Em geral, essa situao criada pela especializao, mas no caso de produtos agrcolas, a condio climtica fundamental. A teoria ca mais clara quando dizemos que um pas tem uma vantagem absoluta na produo de um determinado produto, ao ser comparado com outro pas produtor. Isso signica que as necessidades de insumo por unidade de produto na indstria so menores em certos pases do que em outros. Para entender melhor, compare dois pases, Rssia e Inglaterra, ambos produtores de trigo e ao. Na Rssia, um operrio poder produzir por ano, por exemplo , 30 unidades de trigo ou seis unidades de ao. Procurando entender melhor: se, nessa perspectiva, um operrio resolver produzir 30 unidades de trigo, produzir zero unidades de ao. Se resolver produzir seis unidades de ao, produzir zero unidades de trigo. Tudo vai depender da maneira como ele vai distribuir seu tempo de trabalho. Se ele distribuir o tempo de produo pelos dois artigos, poder produzir, por exemplo, 15 unidades de trigo e trs unidades de ao. Outras combinaes de produo tambm so possveis. Isso, na Rssia. Por outro lado, na Inglaterra, um operrio poder produzir 20 unidades de trigo ou dez unidades de ao ou, ento, uma combinao dos dois, se resolver distribuir seu tempo na produo de ambos. Com base nas hipteses assinaladas acima, pode-se construir uma tabela contendo as alternativas de produo, tal como apresentada abaixo:

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Quadro 1.1 Possibilidades de produo por homem/ano PAS RSSIA INGLATERRA TRIGO 30 20 ou ou AO 6 10TEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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Observa-se que a Rssia tem uma vantagem absoluta na produo de trigo e a Inglaterra uma vantagem absoluta na produo de ao. Assim, de acordo com Adam Smith, a Rssia se especializar na produo de trigo e a Inglaterra na produo de ao, trocando entre si, posteriormente, os excedentes de produo. A condio de vantagem absoluta pode, entretanto, sofrer restries em termos de comrcio internacional. comum que novos produtores ou fabricantes peam medidas protecionistas ao Estado. O argumento fundamental tese da indstria nascente que s com essa proteo a indstria nacional poderia desenvolver-se e criar novos mercados. Um exemplo o da indstria automobilstica brasileira: a economia de escala (vantagem absoluta) conseguida tantos nos EUA como na Europa, tornava invivel um parque automobilstico brasileiro; apenas o protecionismo do Estado, sobretaxando a importao permitiu que a produo local, embora mantida por multinacionais, se desenvolvesse e chegasse a concorrer no mercado mundial.

1.2.2 TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS (OU DOS CUSTOS COMPARATIVOS) O conceito de custos foi introduzido na teoria de comrcio exterior pelo economista ingls David Ricardo em 1817. Relacionam-se os custos de produo dos produtos A e B, produzidos por dois pases distintos, N e W, comparando-os. Os custos de produo do produto A so expressos em relao aos custos de produo do produto B. Possui a vantagem comparativa o pas onde for menor a relao de custos de produo dos produtos A e B. Ricardo introduziu esse conceito como prova de que vantajosa para um pas sua especializao internacional. Ricardo aperfeioou o modelo de Smith, mostrando que, para que os pases se beneciem dessa atividade, necessrio que apenas haja vantagens comparativas. Desse modo, na hiptese de comrcio entre dois pases, poderia ocorrer que um pas obtivesse vantagens absolutas na produo de todos os bens em relao ao seu parceiro. Nesse caso, a teoria das vantagens comparativas esclarece que, mesmo assim, benco o comrcio entre dois pases, desde que a desvantagem absoluta no seja da mesma quantia em todas as linhas de produo. Em outras palavras, as trocas bencas entre pases so possveis sempre que a capacidade relativa de produzir bens for diferente entre eles, quer dizer, sempre que um pas tiver uma vantagem comparativa, mesmo que seja absolutamente mais ou menos produtivo que o outro na produo de todos os bens (Willianson, 1996). A condio bsica para a existncia de comrcio seria apenas que o custo de oportunidade de produzir um bem fosse diferente entre diferentes pases. No contexto da teoria clssica, as diferenas nos custos comparativos existem somente quando os pases apresentam diferentes funes de produo, ou seja, o grau de especializao de cada pas depender de sua funo de produo.

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Quadro 1.2TEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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Possibilidades de produo por homem/ ano PAS RSSIA INGLATERRA TRIGO 18 20 ou ou AO 6 10

Neste caso, a Inglaterra possui uma vantagem absoluta sobre a Rssia na produo dos dois produtos. De acordo com Adam Smith, no haveria a especializao da produo, nem a troca entre os dois pases. O grande mrito de Ricardo foi mostrar que o comrcio tambm ser proveitoso para os dois pases, mesmo que um deles tenha vantagem absoluta sobre o outro na produo de todas as mercadorias. Sua vantagem, porm, sempre ser maior em alguns produtos do que em outros. Dito de outra maneira, devem ser consideradas no as vantagens absolutas, mas sim as vantagens comparativas ou relativas. No Quadro 1.2 nota-se que, embora a Inglaterra tenha uma vantagem absoluta sobre a Rssia na produo dos dois artigos, sua vantagem maior na produo de ao (10 contra6) e menor na produo de trigo (20 contra18). Assim, a Inglaterra tem uma vantagem comparativa na produo de ao (onde sua vantagem absoluta maior) e uma desvantagem comparativa na produo de trigo (onde sua vantagem absoluta menor). A Rssia, por sua vez, tem uma vantagem comparativa na produo de trigo, onde sua desvantagem comparativa menor, e uma desvantagem comparativa na produo de ao, onde sua desvantagem comparativa maior. Desse modo, compensar Inglaterra especializar-se na produo de ao e Rssia a especializao na produo de trigo, trocando entre si os excedentes de produo. 1.2.3 Custos de Oportunidade Embora de grande utilidade, a teoria das vantagens comparativas apresentava uma limitao muito sria, por estipular que as relaes de valores entre dois bens eram determinados pelas quantidades de trabalho incorporadas na produo de cada um deles. Um trabalhador, durante um certo perodo de tempo, pode produzir 30 unidades de trigo ou 15 unidades de ao. Portanto, 30 unidades de trigo valeriam tanto quanto 15 unidades de ao. Isto signica que o valor de uma unidade de ao igual a duas unidades de trigo e o valor de uma unidade trigo seria igual a meia unidade ao. A relao de valor considera, portanto, um nico fator de produo : o trabalho. Na realidade, porm, h uma srie de outros fatores de produo que tambm tm sua participao no processo produtivo, como a terra, as matrias-primas, os capitais, as tecnologias etc. Todos esses fatores, portanto, devem ser considerados. Em 1933, Gottfried Von Haberler procurou renar a Teoria das Vantagens Comparativas, introduzindo o conceito de custo de oportunidade, o qual permite considerar todos os fatores de produo e no apenas o fator trabalho. Segundo Haberler (In: Ratti, 2000:359) que, com uma certa dotao de recursos, um pas pode produzir vrias combinaes de mercadorias. Consideremos apenas dois produtos: trigo e ao. Com os recursos de que dispe e admitindo-se o pleno

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emprego de fatores de produo, o pas poder produzir apenas trigo ou apenas ao ou, ainda, ou fazer combinaes de dois produtos, como vamos exemplicar a seguir. Quadro 1.3 Possibilidades de Produo na relao de quantidades COMBINAES A B C D E TRIGO 400 300 200 100 0 AO 0 150 300 450 600

TEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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Colocando esses valores em um grco, teremos o seguinte: Grco 1.1 Curva de possibilidades de produo

Observando o Quadro 1.3 nota-se que a tabela mostra apenas algumas das possveis combinaes. Na realidade, qualquer ponto localizado na reta, apresentada no Grco 1.1 indica uma combinao possvel. Acima da reta no possvel. Abaixo da reta possvel; porm, seria uma combinao que, ou no estaria utilizando plenamente todos os fatores de produo (capacidade ociosa) ou, ento, no estaria obtendo o mximo de aproveitamento desses fatores. Essa curva (no caso, uma reta) conhecida como curva de possibilidades de produo, e nos mostra as combinaes mximas entre dois bens que a sociedade est apta a produzir (Passos, Nogami, 2005:54). Os preos ou custos do trigo sero expressos em termos de ao e vice-versa. No grco, a linha reta representa no apenas a curva de possibilidades de produo dos dois artigos, mas tambm a relao de valor (preos) entre eles, dada pela inclinao da reta. Quanto mais ao for produzido, menor ser a produo de trigo. Por outro lado, se quisermos produzir mais trigo teremos de produzir menos ao. O custo de oportunidade corresponde ao nmero de unidades de um produto que devero ser sacricadas para que se possa produzir uma unidade do outro produto.

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Exemplo: Examinando o Quadro 1.3 pode-se vericar que para um pas produzir 150 unidades de ao (A) deve deixar de produzir 100 unidades de trigo (T). Estes dados permitem estabelecer a seguinte relao de que 100 unidades de trigo so iguais a 150 unidades de ao. Desta forma, podemos dizer que uma unidade de trigo equivale a 1,5 unidades de trigo, ou que uma unidade de ao equivalente a 0,67 unidades de trigo. No caso focalizado, a curva de possibilidades de produo representada por uma reta. Isso signica que os custos de produo (custos de oportunidade), tanto do trigo como do ao, so constantes. Isto signica dizer que o custo para produzir uma unidade adicional do produto ser sempre idntico ao custo da unidade anterior produzida. Quando os custos de oportunidade foram crescentes, ou seja, quando o custo de cada unidade produzida for superior ao custo da unidade anteriormente produzida, a curva de possibilidades de produo deixa de ser uma reta, passando a ser cncava em relao origem. Figura 1.2

Curva de possibilidades de produo com custos de oportunidade crescente No caso apresentado na Figura 1.2, teremos diferentes custos de oportunidade para cada ponto da curva. No ponto C, por exemplo, a relao de custos representada pela inclinao da reta tangente PP. Conforme o ponto que escolhermos na curva, teremos retas com diferentes inclinaes e, portanto, diferentes relaes de custos. 1.2.4 TEORIA DA DEMANDA RECPROCA Na exposio anterior vericou-se que David Ricardo havia formulado sua teoria da vantagem comparativa comparando o custo de produo de uma unidade de uma mesma mercadoria em dois pases diferentes. Portanto, a base de comparao a unidade do produto. Exemplicando: 100 toneladas de acar no pas A custam 80 horas/homem; 100 toneladas de acar no pas B custam 120 horas/homem.

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Posteriormente, John Stuart Mill formulou a Teoria da Demanda Recproca de modo inverso a Ricardo. Na teoria de Stuart Mill, a base no ser mais a unidade do produto, mas o que em um determinado nmero de horas dois pases dife-

rentes podem produzir. Seno vejamos: Em 10 horas o pas A produz 20 toneladas de ao; Em 10 horas o pas B produz 10 toneladas de ao.TEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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Aparentemente a diferena parece no ser grande, mas pelas anlises que se pode fazer , as verdadeiras diferenas se tornaro mais claras. Antes de mais nada, observa-se que Mill procura evidenciar a ecincia comparativa, conforme apresentado no Quadro 1.4. Quadro 1.4 Produo comparativa entre dois pases INSUMO DE TRABALHO (HOMENS/ HORA) 10 10 PAS PRODUO DE PRODUO DE AO TRIGO (toneladas) A B 20 10 (toneladas) 20 15

No quadro acima verica-se que pas A tem vantagem absoluta nos dois produtos apresentados (ao e trigo). Mas tem maior vantagem comparativa no ao. Por outro lado, o pas B no tem vantagem absoluta nos dois produtos. Tem menor desvantagem comparativa no trigo. Se no houver comrcio entre os dois pases, as trocas sero apenas internas e nas seguintes condies: O pas B pode trocar 10 toneladas de ao por 15 toneladas de trigo na base de

10 homens/horas; O pas A pode trocar 10 toneladas de ao por 10 toneladas de trigo tomando

por base 5 homens/horas. Admitindo-se que o pas B est disposto a vender 15 toneladas de trigo por 11 toneladas de ao, pode-se considerar que est havendo a um bom negcio, exatamente porque o custo de produo de 15 toneladas de trigo nesse pas equivale ao custo de produo de 10 toneladas de ao. Vamos admitir ainda que o pas A aceite vender 11 toneladas de ao por 15 toneladas de trigo. Tambm um bom negcio porque o custo de produo no pas A de 11 toneladas de ao, que equivalem a 11 toneladas de trigo. Diante dos nmeros acima, B exportaria trigo para A e compraria ao de A, desde que tivesse nisso alguma vantagem. Dito de outra maneira, haver vantagem para o pas B: se este conseguir trocar pelo menos, mais de 10 toneladas de ao por 15 toneladas de trigo (ou + 10A : 15tr.); Por sua vez, o pas A ter vantagem se conseguir trocar pelo menos, 10 toneladas de ao por mais de 10 toneladas de trigo. As condies sero vantajosas se os pases conseguirem fazer trocas externas mais vantajosas que as trocas internas. Ser vantajoso para A trocar 10 toneladas de ao por mais de 10 toneladas de trigo e para B trocar mais de 10 toneladas de ao por 15 toneladas de trigo. Esses nmeros constituem os limites de possibilidade de troca, como est representado no Quadro 1.5.

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Quadro 1.5TEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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Limites de possibilidade de troca mostrados em gr co gr PAS A B AO 10 toneladas + 10 toneladas Por Por TRIGO + 10 toneladas 15 toneladas

Portanto, poder ser realizado o comrcio entre os dois pases dentro desses limites. Porm h um fator novo que vai estabelecer o valor exato de troca. Esse fator a demanda por essas mercadorias nos dois pases. Da o nome de Teoria da Demanda Recproca. De acordo com essa teoria, o comrcio se realizar quando os preos equalizarem as demandas nos dois pases. Em outras palavras, suponhamos que os preos desses produtos sejam: Quadro 1.6 Grau de interesse de troca Valor de Troca A = ao Tr = trigo 10A :10Tr Demanda de A Grau de interesse No h interesse em comprar trigo de B Demanda de B Grau de interesse H interesse em comprar ao de A

Em face da situao acima, B prope nova condio de troca. Quadro 1.7 Condio de Troca Valor de Troca 10A : 12Tr Demanda de A H interesse, porm a demanda pequena Demanda de B Continua grande interesse

Para que haja comrcio, B melhora as condies de troca. Quadro 1.8 Nova Condio de troca Valor de Troca 10A :14Tr Demanda de A Aumenta o interesse de A Demanda de B H interesse de B

Agora, supondo que as condies de troca fossem tal como apresentadas no quadro abaixo, tem-se uma nova possibilidade de troca.

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Quadro 1.9 Condio de Troca Valor de troca 10A : 15Tr 10A : 20Tr Demanda de A Demanda de B H interesse H pouco interesse H alto interesse de A Neste caso, no h na troca interesse de B na trocaTEORIAS CLSSICAS DO COMRCIO INTERNACIONAL

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Desta forma , sucessivamente, os preos vo se alterando at chegar ao ponto de equilbrio, que poderia ser 10 toneladas de ao por 14 toneladas de trigo. Entretanto, essa relao de troca (10A : 14Tr) se altera de acordo com a maior ou menor demanda pelos respectivos produtos. Essa demanda sofre os efeitos dos problemas conjunturais que podem determinar a maior ou menor necessidade de mercadorias negociadas em cada pas. Deste modo, luz das Teorias Clssicas do Comrcio Internacional (Vantagens Absolutas, Vantagens Comparativas e da Demanda Recproca), pode-se dizer que vivel a troca de produtos sempre que os pases tiverem recursos semelhantes em economias de escala. A utilizao de novas tecnologias enseja um rendimento crescente de escala.

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ANOTE

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BARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONAL

TEMA 2 - BARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONALBARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONAL

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Objetivos do Tema Mostrar o protecionismo adotado por certos Estados no que toca defesa de algumas de suas matrias-primas e entrada de capital estrangeiro. Evidenciar como os pases organizam seus esquemas protecionistas concretizados em barreiras alfandegrias, em taxas mltiplas de cmbio para estimular a exportao, e em subsdios a certos produtos nacionais a m de os tornarem mais competitivos Mostrar que, apesar do estatuto do livre comrcio internacional, h tacitamente ou declaradamente limites na concorrncia mundial e os Estados procuram se proteger contra o dumping1, os trustes2 e os cartis3 internacionais.

2.1 PROTEO PRODUO Embora se pregue, at com ardor, o livre comrcio, as naes preocupam-se em proteger sua produo nacional. Anal, a invaso de produtos vindos do exterior, acaba tomando o lugar daqueles que so produzidos domesticamente. E com eles, vo-se as matrias-primas (que seriam adquiridas), o trabalho (o emprego) e o capital. A teoria econmica estabelece que os recursos produtivos (tambm denominados fatores de produo) so elementos utilizados no processo de fabricao dos mais variados tipos de mercadorias, as quais, por sua vez, so utilizadas para satisfazer necessidades e desejos. O trabalho, a terra, as matrias-primas, os combustveis, a energia e os equipamentos so, entre outros, exemplos de recursos produtivos. Estes recursos produtivos podem ser classicados em quatro grandes grupos: terra, trabalho, capital e capacidade empresarial. Assim, com o objetivo de manter o equilbrio da economia domstica, no sentido da manuteno do pleno emprego (utilizao plena dos recursos produtivos disponveis), os pases podem criar medidas protecionistas utilizando o argumento, por exemplo, de proteger a indstria nascente. Uma indstria nascente pode no estar em condies de sobreviver competio externa. O argumento da indstria nascente sustenta que tais indstrias deveriam ser protegidas, ao menos temporariamente, por altas tarifas ou cotas at que conseguissem desenvolver ecincia tecnolgica e economias de escala que lhes possibilitassem competir com as indstrias estrangeiras. 2.2 PROTEO AO MEIO AMBIENTE Em dezembro de 1997, em Kyoto, no Japo, realizou-se a terceira conferncia das Naes Unidas sobre a mudana do clima, com a presena de representantes de mais de 160 pases. Seus objetivos eram, em primeiro lugar, o de obter o compromisso dos pases desenvolvidos em reduzir e limitar a emisso de dixido de carbono e de outros gases responsveis pelo efeito estufa. Em segundo lugar, pretendia a Conferncia da ONU criar a possibilidade de utilizao de mecanisPrtica comercial que consiste em vender produtos a preos inferiores aos custos, com a nalidade de eliminar concorrentes e/ou ganhar maiores fatias de mercado. 2 Tipo de estrutura empresarial na qual vrias empresas, j detendo a maior parte de um mercado, combinam-se ou fundem-se para assegurar esse controle, estabelecendo preos elevados que lhes garantam elevadas margens de lucros. 3 Grupo de empresas independentes que formalizam um acordo para sua atuao coordenada, com vistas a interesses comuns.1

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mos de exibilidade para que os pases em desenvolvimento pudessem atingir os objetivos de reduo de gases do efeito-estufa. 2.2.1 Em que consiste o efeito-estufa O efeito-estufa consiste, basicamente, na ao do dixido de carbono e de outros gases sobre os raios infravermelhos reetidos pela superfcie da terra, reenviando-os para ela, mantendo assim uma temperatura estvel no planeta. Ao irradiarem para a Terra, parte dos raios luminosos oriundos do Sol so absorvidos e transformados em calor, outros so reetidos para o espao, mas s parte destes chega a deixar a Terra, em conseqncia da ao reetora que os chamados gases de efeito-estufa (dixido de carbono, metano, clorouorocarbonetos (CFCs) e xidos de azoto) tm sobre tal radiao reenviando-a para a superfcie terrestre na forma de raios infravermelhos. Desde a poca pr-histrica o dixido de carbono tem tido um papel determinante na regulao da temperatura global do planeta. Com o aumento da utilizao de combustveis fsseis (carvo, petrleo e gs natural), a concentrao de dixido de carbono na atmosfera duplicou nos ltimos cem anos. Neste ritmo e com o abatimento massivo de orestas que se tem praticado ( nas plantas que o dixido de carbono, atravs da fotossntese, forma oxignio e carbono, que utilizado pela prpria planta), o dixido de carbono comear a proliferar levando, muito certamente, a um aumento da temperatura global. Este aumento de temperatura, mesmo que seja de poucos graus, levar ao degelo das calotas polares e a grandes alteraes a nvel topogrco e ecolgico do planeta. 2.2.2 Seqestro de Carbono O refm desse seqestro todo o carbono que capturado e mantido pela vegetao, durante o processo respiratrio da fotossntese. Sua nalidade conter e reverter o acmulo de CO2 na atmosfera visando a diminuio do efeitoestufa. Dessa maneira, o seqestro de carbono se tornou assunto presente em questes ambientais, pois, apesar de as quantidades de CO2 retiradas da atmosfera pela vegetao no estarem denidas, esse tipo de medida visto como uma importante atitude para sinalizar uma reduo na emisso de carbono e atingir as metas estabelecidas pelo protocolo de Kyoto (diminuio de, no mnimo, 5,8% da quantidade de carbono presente na atmosfera). 2.2.3 Crditos de Carbono Para tanto, foram criados mecanismos de exibilizao atravs dos quais os pases ricos podem promover a reduo fora de seu territrio. Esta alternativa cou conhecida como Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), sendo a negociao de crditos de carbono sua forma transacional. A negociao de crditos de carbono j benecia uma srie de empresas no Brasil. So empresas de diversos setores, como siderurgia, papel e celulose, saneamento e recursos renovveis, entre outras. Estas empresas esto acessando um mercado que, segundo alguns especialistas, deve movimentar US$10 bilhes de dlares em crdito de carbono ao ano, e o Brasil deve ser responsvel por 10% desta quantia.

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2.2.4 O que o crdito de carbonoBARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONAL

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O crdito de carbono consiste em certicar redues de emisses de gazes de efeito estufa (GHG Protocol4), que atravs de um custo marginal de reduo no Brasil possam compensar um possvel custo de oportunidade nos pases desenvolvidos. 2.3 PROTEO AO TRABALHO Todo governo tem entre seus objetivos principais a proteo ao trabalho e toda a gama de preocupaes que o tema carrega. um escopo social. Isto posto, podemos armar que os pases podem enfrentar, em relao ao emprego, trs situaes: falta de mo-de-obra, pleno emprego de mo-de-obra e desemprego. 2.3.1 Falta de mo-de-obra O mundo passou por muitas transformaes aps a segunda guerra mundial (1939-1945). No incio, havia a necessidade de mo-de-obra. A Europa se recuperava dos estragos e empresas eram reconstitudas. Mas, em grande parte, o avano da tecnologia veio substituir o trabalho humano. E com isso, grandes quantidades de trabalhadores foram colocadas na rua. Os pases passaram a proteger-se dicultando a entrada de trabalhadores de outros pases. o reverso da medalha. Na medida em que a tecnologia avana, cresce o recuo no recrutamento de trabalho humano. uma situao que tende a se agravar em todo o mundo. 2.3.2 Pleno emprego da mo-de-obra Pleno emprego da mo-de-obra signica todas as vagas preenchidas. Neste caso no h necessidade de se contratar no exterior e a fora de trabalho local, com a tecnologia disponvel, ocupa as vagas ofertadas. Nas palavras de Sandroni (1999:474), uma situao em que a demanda de trabalho igual ou maior que a oferta. Isso signica que todos que desejarem vender sua fora de trabalho pelo salrio corrente tero condies de obter um emprego. Ainda segundo o autor, numa economia dinmica muito difcil que ocorra a eliminao total do desemprego, pois: h atividades como a agricultura que no ocupam continuamente a mes-

ma fora de trabalho (desemprego sazonal); necessrio certo tempo para que as pessoas troquem de emprego ( o cha-

mado desemprego friccional); alm disso, certas pessoas podem optar por viver desempregadas.

Por essa razo, considera-se haver uma situao de pleno emprego de mode-obra quando no mais que 3 a 4% da fora de trabalho est desempregada.

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GHG Protocol The Greenhouse Gas Protocol Initiative.

2.3.3 Desemprego de mo-de-obra a pior situao para o trabalhador. Dependendo de seu grau de empregabilidade, ser mais fcil ou difcil sua volta ao mercado. O que seria empregabilidade? A palavra vem do ingls employability e signica o conjunto de conhecimentos, habilidades e comportamentos que tornam um executivo/ prossional importante. Ter conhecimentos, habilidades e comportamentos compatveis para desempenhar tarefas trabalhistas importante no apenas para o indivduo, mas para toda e qualquer empresa. Esses dotes so caractersticas que transcendem a organizao, pois atendem s necessidades do mercado de executivos/ prossionais como um todo. O desemprego da mo-de-obra pode ocorrer, devido recesso econmica, ao crescimento econmico menor que o crescimento demogrco, s novas tecnologias que dispensam a mo-de-obra, e a polticas econmicas governamentais inadequadas. Analisando-se as estatsticas da atividade econmica brasileira pode-se observar que o desemprego vem crescendo nos ltimos anos no pas. Segundo o IBGE, 7,14% da populao economicamente ativa estava desempregada em 2002, 12,30% em 2003, e 11,50% em 2004. De acordo com o ex-ministro Roberto Campos, citado por Maia (1999:127), os promotores do desemprego no Brasil so os sindicatos agressivos, o nacionalismo, os monoplios estatais e a legislao trabalhista. 2.3.4 Sindicatos agressivos Os investidores (particularmente os donos do capital estrangeiro) procuram defender-se das excessivas reivindicaes, estabelecendo-se em pases onde a atividade sindical no seja muito forte. 2.3.5 Nacionalismo A legislao nacionalista, criando restries ao capital estrangeiro faz com que as multinacionais procurem outros pases para se instalar. Este um argumento morto, posto que a abertura efetuada nos ltimos anos equiparou o capital estrangeiro ao nacional em muitos aspectos. Problemas aos estrangeiros so comuns aos nacionais, como a insegurana da propriedade, s para citar um exemplo. 2.3.6 Monoplios estatais Argumento j desqualicado tendo em vista o grande nmero de privatizaes ocorridas no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). 2.3.7 Legislao trabalhista Este argumento ainda perdura. As empresas, de qualquer porte, sofrem com os pesados encargos sociais, tendo como conseqncia o desemprego e o aumento da economia informal5.BARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONAL

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Esta denominao vem do fato de que a maioria dessas unidades dedicadas produo ou venda de mercadorias ou produo de servios no constituda de acordo com as leis vigentes, no recolhe impostos, no mantm uma contabilidade de suas atividades.5

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2.4 PROTEO AO CAPITALBARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONAL

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Os pases procuram proteger o capital nacional, criando barreiras entrada do capital estrangeiro, seja ele capital nanceiro ou representado pela entrada de mquinas e equipamentos (uma fbrica nova, por exemplo). Muitas vezes, como j ocorreu aqui mesmo no Brasil, a proteo um guardachuva que protege a inecincia. Muito se falou sobre a invaso dos produtos txteis, notadamente chineses, mas nada se disse sobre a obsolescncia de nosso parque fabril. A cidade de Americana, no interior paulista, um bom exemplo do antes e do depois. Antes, havia uma indstria obsoleta que quase foi dizimada quando da invaso de produtos txteis chineses e coreanos. Hoje, h uma indstria moderna e competitiva que no teme os asiticos. Nos ltimos tempos tem-se travado uma dura batalha entre empresrios da Associao Brasileira da Indstria de Mquinas e Equipamentos (ABIMAQ) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES). O motivo est em o Banco ocial ter anunciado que voltar a nanciar a importao de mquinas e equipamentos sem similar nacional. Trata-se de crdito salutar e que deve ser incentivado. S beneciar as importaes de produtos no fabricados no Brasil. No haver concorrncia predatria com os fabricantes nacionais uma vez que sero nanciados somente aqueles equipamentos que no so produzidos no Brasil. 2.5 DESVIOS DO MODELO DO COMRCIO LIVRE H um esforo muito grande da comunidade internacional em tornar o comrcio exterior mais livre, mais uente. Entretanto, o trnsito comercial mundial pode se defrontar com algumas formas de obstculos como o dumping, os oligoplios, os trustes e dos cartis. 2.5.1 Dumping Como j foi denido anteriormente, o dumping consiste em vender uma mercadoria ou um servio, no exterior ou no mercado domstico, por preo abaixo do custo de produo. Conforme especica Sandroni (1999:187), no mercado internacional, o dumping pode ser persistente quando existem subsdios governamentais para o incremento das exportaes e as condies de mercado permitem uma discriminao de preos tal que a maior parte dos lucros de uma empresa que o pratica seja obtida no mercado interno. O dumping temporrio utilizado para afastar concorrentes de determinados mercados quando um pas necessita colocar neles excedentes de certos produtos, sem prejudicar os preos praticados em seu mercado interno. A Unio Europia probe o dumping. A Organizao Mundial do Comrcio (OMC), por sua vez, permite a introduo de tarifas especiais ou sobretaxas de importao como forma de limitar os efeitos de tal poltica. 2.5.2 Oligoplio

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De acordo com Passos e Nogami (2005:349) o oligoplio a forma de mercado que atualmente prevalece nas economias do mundo ocidental. Ele pode ser conceituado como uma estrutura de mercado em que um pequeno nmero de

empresas controla a oferta de um determinado bem ou servio. De acordo com essa conceituao, a indstria automobilstica um exemplo de indstria com pequeno nmero de rmas. Entretanto, o oligoplio pode tambm ser entendido como uma indstria em que h um grande nmero de rmas, mas poucas dominam o mercado. Como exemplo, pode-se citar a indstria de bebidas. Atualmente, podemos incluir alguns outros oligoplios como os de produtores de suco de laranja, as indstrias de ao e de fumo e a atividade de comercializao de soja. Desta forma, o oligoplio uma tendncia que reete a concentrao da propriedade em poucas empresas de grande porte, pela fuso entre elas, incorporao ou mesmo eliminao (por compra, dumping e outras prticas restritivas) das pequenas empresas. 2.5.3 Trustes Os trustes representam a fuso de vrias empresas, levando ao monoplio. A indstria siderrgica est passando por esse processo. Os trustes tm sido proibidos em vrios pases, mas a eccia dessa proibio no muito grande. 2.5.4 Cartel Nas palavras de Maia (1997:93) o cartel uma forma de eliminar a concorrncia. Vrios produtores fazem um acordo comercial para distribuir entre si cotas de produo, determinar preos, suprimindo a livre concorrncia. Uma das caractersticas importantes que cada empresa conserva sua autonomia interna. Um bom exemplo de cartel a OPEP (Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo), que determina o preo do barril de petrleo e estabelece a cota de produo de cada associado. Na verdade, existem muitos tipos de cartel. Em sua forma mais perfeita temse o Cartel Centralizado, que determina todas as decises para todas as rmasmembro. Assim, por meio de uma agncia coordenadora, organizam-se as rmas de modo que elas ajam como se participassem de um grande conglomerado monopolista, possuidor de vrias fbricas. Por essa razo tal forma perfeita de conluio leva soluo de monoplio. 2.6 ESQUEMAS PROTECIONISTRAS Constituem, tambm, barreiras ao comrcio internacional as seguintes medidas protecionistas: Subsdios; Barreiras tarifrias; Taxas mltiplas de cmbio; e Licenas de importao e exportao.

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2.6.1 Subsdios comum os governos subsidiarem alguns setores produtivos com a nalidade de os tornarem competitivos com os similares produzidos no exterior. Se o

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subsdio for apenas direcionado para baixar os preos, sem a contrapartida da melhoria de qualidade, o subsdio , na verdade, uma proteo inecincia e ao atraso. Quando o subsdio destinado exportao, ele poder constituir-se num dumping, sobre o qual j foi comentado anteriormente. Outras vezes o subsdio aplicado para a produo de mercadorias destinadas ao consumo interno, com o objetivo de manter a competitividade da produo nacional, que em condies normais no poderia competir com a produo estrangeira. Isso onera o bolso do consumidor nacional, que acaba pagando mais por um produto igual ou pior que o importado. Conforme salienta Maia (1999:94), normalmente os subsdios trazem outras distores que mais prejudicam do que ajudam. A produo nacional no melhora porque est protegida e torna-se obsoleta. Como exemplo de subsdio inecincia cabe lembrar a proteo implementada ao setor de informtica, na dcada de 1970, quando foi criada a reserva de mercado para este setor. O subsdio, se mal direcionado caro e acaba punindo o pas. 2.6.2 Barreiras tarifrias O governo pode aplicar uma barreira tarifria, isto , um imposto que, adicionado ao preo internacional do produto, poder fazer que o preo da mercadoria produzida internamente se torne competitivo; dessa forma, o governo protege os produtores nacionais a m de que no sofram a concorrncia de produtos importados mais baratos. As barreiras tarifrias representam verdadeiro agelo para o setor importador. Muitas vezes so baixadas medidas sem critrios claros e objetivos consistentes. Barreiras tarifrias podem ser estabelecidas para proteger indstrias nascentes. Citamos o caso do setor de informtica, que acabou se revelando um fracasso monumental. Hoje temos alquotas no setor siderrgico que tornam o produto nal do setor altamente caro internamente. Seria o caso de baixar ou reduzir a zero as alquotas de importao, forando a baixa dos produtos internamente. Segundo o empresrio Srgio Machado6, , os estaleiros nacionais estariam pagando 30% a mais pela matria-prima do que os concorrentes internacionais. Mas a reclamao mais antiga7: em 2004 , as montadoras j reclamavam do preo do ao que s no perodo de janeiro a agosto subira cerca de 41%. A ABIMAQ espera um aumento de at 15% no preo de ao para o ano de 2006. A indstria automobilstica uma das mais atingidas por essa onda altista. O consumidor nal, obviamente quem est pagando por isso. No caso das exportaes, prticas alfandegrias tornam nosso acar pouco competitivo na Europa e nos Estados Unidos. A Unio Europia tem que proteger os inecientes produtores franceses. Nos EUA o suco de laranja tambm agravado com altas taxas de imposto de importao.

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Presidente da Transpetro, em Globo Online, edio de 16 de janeiro de 2.006 Folha Online, de 6 de outubro de 2004.

2.6.3 Taxas Mltiplas de Cmbio O sistema de taxas mltiplas foi criado para estimular a exportao e favorecer a importao de produtos considerados essenciais. E, tambm, para inibir ou favorecer entradas e sadas nanceiras. Assim, um pas pode ter uma moeda local desvalorizada, beneciando a exportao e inibindo a importao, uma outra taxa de cmbio para a importao de produtos essenciais, como o petrleo, e uma terceira taxa para operaes nanceiras. O sistema de taxas mltiplas j foi utilizado no passado, at por pases da Unio Europia (Peseta A e Peseta B, na Espanha), mas no encontra guarida nos mercados cambiais em funcionamento no mundo atual. Mesmo o Brasil passou por essa experincia nos anos 1950, quando o Governo xou cinco categorias de enquadramento dos bens importveis. Perdurou por pouco tempo, sendo substitudo pela xao de uma cotao cambial que era manejada pelos dirigentes do Ministrio da Fazenda. Tal prtica terminou com a criao do Banco Central do Brasil em 31 de dezembro de 1964 (Lei 4.595/64, ou Lei do Mercado de Capitais). 2.6.4 Licenas de Importao e Exportao necessrio entender que licenciamentos de importao e exportao para ns estatsticos so uma coisa, e licenciamentos com a nalidade de tornar difcil a importao ou exportao de determinados produtos so outra coisa. A licena de importao emitida para permitir a entrada de mercadorias no pas. O que ocorre que essa licena pode estar condicionada ao cumprimento de alguma exigncia, como a sujeio a uma determinada cota, exame por diferentes rgos (IBAMA8, se produto que sensibiliza o meio ambiente; Ministrio do Exrcito, no caso de armas; DETRAN9, se veculo etc.). Tais exigncias costumam travar o processo de uma importao. Na rea das exportaes existem poucas exigncias. H que se emitir o Registro de Exportao (RE), um documento obtido via SISCOMEX10 e autorizado on line pelos rgos competentes. Embora condenada no mbito da Organizao Mundial do Comrcio (OMC) esta prtica utilizada por muitos pases, inclusive pelo Brasil. Sistemas de licenciamento engessam as operaes de comrcio internacional. O processo burocrtico torna-se lento, impaciente e altamente corruptvel. As decises passam a ser subjetivas, tirando todo o aspecto tcnico da questo. 2.7 NOVAS BARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONAL A intensicao do comrcio internacional, seu crescimento em volume, valor e tecnologia, com a entrada de novos atores, especialmente da China, tornaram a arena muito competitiva e novas formas de protecionismo surgiram, representadas por barreiras tcnicas e ecolgicas. Nesses casos, assim como no caso da barreira tarifria, o governo visa dar maior competitividade ao produto nacional. A diferena bsica que no se aplica um imposto, mas sim obstculos quantitativos ou burocrticos, segundo Passos e Nogami (2005:527), que oneram ou inviabilizam as importaes. Como novas restries pode-se citar os certicados de origem e vistos consulares, xao de cotas etc.8 9

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis Departamento Estadual de Trnsito

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2.7.1 Barreiras TcnicasBARREIRAS AO COMRCIO INTERNACIONAL

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A abertura dos mercados incrementou o processo de trocas entre os pases e aprofundou a necessidade do uso de uma linguagem comum para o estabelecimento de requisitos de desempenho e de ausncia de riscos para o consumidor e o meio ambiente. Sob esta tica, o texto do Acordo sobre Barreiras Tcnicas ao Comrcio (Technical Barrier to Trade - TBT), resultante da reviso do GATT11 na Rodada Uruguai, apresenta o critrio de que um regulamento tcnico no se consistiria em barreira desnecessria ao comrcio quando, buscando o alcance de objetivos legtimos, fosse baseado em norma internacional . A democracia do acesso participao em uma organizao internacional de normalizao foi o princpio que poderia assegurar as condies necessrias para que a norma internacional reetisse um consenso entre os interesses de todos os pases. Todavia, ter as condies necessrias para a elaborao de uma norma verdadeiramente internacional no implica que elas tenham sido sucientes, at hoje. Embora o objetivo seja no se constituir em barreira desnecessria ao comrcio, alguns pases vm exagerando no estabelecimento e implementao de tais regulamentos. 2.7.2 Dumping Social Dumping Social o termo utilizado para caracterizar a venda, no mercado internacional, de produtos a um preo inferior ao praticado no mercado domstico, em virtude da falta ou da no-observncia dos padres trabalhistas internacionalmente reconhecidos. O trabalho infantil, o trabalho escravo ou a falta de respeito aos padres trabalhistas serviriam como fatores diferenciais na composio do preo dos produtos. O tema sensvel e ope os pases desenvolvidos, que defendem a incluso de clusulas trabalhistas nas regras do comrcio internacional, aos pases em desenvolvimento, que preferem que o tema seja tratado no mbito da Organizao Internacional do Trabalho. 2.7.3 Responsabilidade Scio-Ambiental Os desequilbrios do homem ao tratar das relaes que estabelece entre seus objetivos econmico-nanceiros e o espao natural tm despertado a sociedade, cujas preocupaes se voltam cada vez mais para iniciativas de preservao do meio ambiente, visando o bem estar comum. A atuao socialmente responsvel de todos os segmentos da sociedade, com destaque para os fatores econmicos e educacionais, est se transformando numa questo fundamental, que requer estudo, reexo e comportamentos, principalmente pr-ativos, e em ltima instncia, reativos, haja vista tratar-se da mola propulsora para manuteno da qualidade de vida presente sem comprometer as possibilidades de sobrevivncia das geraes futuras.Sistema Integrado de Comrcio Exterior - SISCOMEX, institudo pelo Decreto n 660, de 25.9.92, a sistemtica administrativa do comrcio exterior brasileiro, que integra as atividades ans da Secretaria de Comrcio Exterior - SECEX, da Secretaria da Receita Federal-SRF e do Banco Central do Brasil - BACEN, no registro, acompanhamento e controle das diferentes etapas das operaes de exportao. 11 Acordo Geral sobre Tarifas de Comrcio (General Agreement on Tariffs and Trade). A sigla GATT denomina o organismo internacional que visava propiciar a reduo de obstculos ao comrcio entre as naes. Dentre os 23 pases que, em 1947, assinaram o acordo de criao do GATT, estava o Brasil. O sucesso e a importncia do GATT atestado pelo fato do comrcio internacional, desde o m da Segunda Grande Guerra, ter crescido at multiplicar-se por dez. Em 1995, os ento 95 pases membros do GATT, assinaram um acordo constituindo a Organizao Mundial do Comrcio (OMC), organismo de carter permanente, em substituio ao GATT, que tinha um carter temporrio.10

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Durante anos, os recursos naturais foram explorados sem nenhum critrio de propriedade e preservao, apenas, como bens teis ao desenvolvimento. Neste sentido, o meio ambiente tem sido um bem econmico gratuito que a empresa utiliza, sem considerar ou inuenciar no preo do produto ou servio e sem considerar, principalmente, a nitude dos recursos naturais. Assim, por no se ater ao futuro, at pela falta de planejamento em longo prazo, vericam-se inmeros problemas, que esto atingindo o planeta, e agora o homem se volta para a sua prpria sobrevivncia, preocupando-se tambm com o futuro. Mas, este lento processo de transformao no tem sido galgado com espontaneidade, tendo em vista que o comportamento da sociedade em relao ao meio ambiente sempre foi inuenciado por acontecimentos de natureza poltico-social. Essa mudana de postura iniciou-se em Paris, no ano de 1968, quando se realizou a Conferncia sobre a Biosfera. A ocasio serviu como base para o lanamento do programa O Homem e a Biosfera em 1971, pela UNESCO12. Outros eventos seguiram-se a este, como a reu, nio do Clube de Roma, em 1970, a qual chamava a ateno para a necessidade de conter o crescimento econmico mundial. Em 1972, realizou-se em Estocolmo a Conferncia Mundial sobre o Meio Ambiente. Seu objetivo era a conscientizao dos governos e instituies internacionais quanto necessidade de implementar medidas efetivas para preservar e diminuir a degradao ambiental. No Brasil, a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, promoveu uma srie de debates sobre problemas prementes de hoje e a preparao do mundo para este sculo. A Declarao do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento destaca que este deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas eqitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das geraes presentes e futuras que cou conhecida como Agenda 2113. , Nesse sentido, um dos maiores desaos, em se tratando da questo ambiental, a compatibilizao entre o crescimento econmico e a preservao do meio ambiente. Aqueles que buscam apenas a gerao de valor econmico, em poucos anos, tero diculdades em sobreviver. A relao do ser humano com o meio ambiente tem, obrigatoriamente, que se tornar harmoniosa. A mesma vital no processo de sobrevivncia e possibilita reexes a respeito da capacidade competitiva e da permanncia no mercado das indstrias poluidoras, da inuncia dos acordos internacionais no perl das empresas e a tendncia que comea a aorar no sentido de direcionar os recursos nanceiros para projetos que renam, alm de vantagens econmicas, segurana ambiental.

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United Nations Educational, Scientic and Cultural Organization (Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura) Agenda 21 um programa de ao para viabilizar a adoo do desenvolvimento sustentvel e ambientalmente racional em todos os pases. Nesse sentido, o documento da Agenda constitui, fundamentalmente, um roteiro para a implementao de um novo modelo de desenvolvimento que se quer sustentvel quanto ao manejo dos recursos naturais e preservao da biodiversidade, equnime e justo tanto nas relaes econmicas entre os pases como na distribuio da riqueza nacional entre os diferentes segmentos sociais, economicamente eciente e politicamente participativo e democrtico.12 13

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ANOTE

TEMA 3

DIREITO INTERNACIONAL E COMRCIO EXTERIOR

DIREITO INTERNACIONAL E COMRCIO EXTERIOR

TEMA 3

TEMA 3 DIREITO INTERNACIONAL E COMRCIO EXTERIORObjetivos do Tema Apresentar as linhas gerais do Direito Internacional Privado e dar a conhecer os princpios que regulam a relao internacional entre os Estados; Mostrar os pressupostos do Direito Internacional Privado que tenham interferncia no Comrcio Exterior. So eles: a nacionalidade, a condio jurdica do estrangeiro, o conito de leis e o conito de jurisdies; Dar a conhecer o sistema brasileiro de Direito Internacional Privado na sua relao com o sistema aduaneiro, tarifrio, de direito anti-dumping etc.

3.1 INTRODUO AO DIREITO INTERNACIONAL PBLICO E PRIVADO Segundo Costa (2005:196), nos ltimos anos, o desenvolvimento das trocas econmicas internacionais gerou uma srie de mudanas no cenrio do comrcio internacional. O fenmeno comrcio internacional interessa a vrios atores. O economista, por exemplo, por meio de suas observaes e at mesmo previses, fornece os dados de base. J o cientista poltico, levando em conta os dados fornecidos, determina as metas e os objetivos a serem seguidos. E, por m, o jurista concretiza os instrumentos legais que serviro de fundamento para as transaes internacionais de bens e servios. Desta forma, os contratos internacionais so, segundo Strenger (2003:43) fruto de uma multiplicidade de fatores, envolvendo mtodos e sistemas interdisciplinares, inspirados na economia, na poltica, no comrcio exterior, nas cincias sociais e com muitos frutos colhidos nas relaes internacionais. 3.1.1 Direito Internacional Pblico o conjunto de normas que regem as relaes dos direitos e deveres coletivos, quanto aos tratados, convenes e acordos entre as naes. Tambm se chama Direito das Gentes. O Direito Internacional Privado tido como um ramo do Direito Pblico, que compreende um conjunto de normas reguladoras das relaes entre as naes no tocante proteo das pessoas, direitos e interesses particulares dos seus nacionais em pas estrangeiro e, reciprocamente, dos estrangeiros radicados no pas. Quanto ao Direito Internacional, arma Alessandro Groppali, que se trata de uma ordem normativa ainda em formao, sendo seus dispositivos desprovidos da eccia que caracteriza as normas estatais. O Direito Internacional no possui outras fontes alm dos tratados e do costume. No so suas normas dotadas do poder coercitivo que caracteriza a ordem estatal. Enquanto os ramos do Direito Positivo j apresentam certo grau de estabilidade, o Direito Internacional nem codicado se acha, estando impossibilitado, portanto, de atuar coercitivamente. O Estado totalitrio, seguindo as pegadas de Hans Kelsen, considerou como Direito apenas as normas estatais, sendo confrontado pela doutrina corporativista crist, que arma a necessidade de o Estado atuar s supletivamente perante

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os indivduos e as sociedades menores. No contexto desta doutrina, o Estado no seria a nica fonte de normas jurdicas. Na verdade, Estado e Direito so irmos xifpagos, predestinados a viver unidos, sem poderem separar-se. Se, na verdade, a idia de um direito difuso, espalhado na comunidade primitiva, representado pelo totem ou mana, entidade espiritual que governaria os destinos da comunidade, pode ser uma hiptese encantadora para explicar a precedncia do Direito sobre o Estado, na verdade, quando surge o Estado, tal entidade passa a ser a fonte suprema do Direito, superior em poder e eccia a todas as outras, embora a existncia destas no possa ser negada. 3.1.2 O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO De acordo com Ledel (2004), para compreender adequadamente o tema , faz-se necessrio, primeiramente, fazer uma anlise, ainda que breve, de alguns pontos gerais de Direito Internacional Privado, visando estabelecer o mbito de aplicao dessa rea do direito . Assim, segundo Jos Maria Rossani Garcez, o direito internacional privado, em sntese, pode ser apresentado como o conjunto de normas ou princpios aplicados ou admitidos por cada Estado, destinadas a regular os direitos, atos ou fatos que tenham conexo internacional e se destinem a ter efeitos entre pessoas naturais ou jurdicas privadas ou a entidades pblicas ou privadas no exerccio de atividades jusprivatistas. O direito internacional privado, apesar da denominao, um conjunto de normas de direito pblico e interno. Interno porque se compe de normas que cada pas adota voluntariamente, como Estado soberano que . E direito pblico porque consiste em uma das espcies de normas de superdireito, ou sobredireito, que no disciplinam diretamente o comportamento dos homens em sociedade, mas a aplicao de outras normas. Quanto ao objeto do direito internacional privado, entende Jacob Dolinger que a disciplina envolve as seguintes matrias: a nacionalidade, a condio jurdica do estrangeiro, o conito de leis e o conito de jurisdies. J para a corrente liderada por Irineu Strenger, a nalidade principal do direito internacional privado seria a normatividade selecionadora para a aplicao da lei estrangeira em determinado pas e da lei nacional deste pas a casos que comportem algum elemento de conexo com mais de uma legislao nacional, algum elemento de estraneidade. Enm, as normas de conito elaboradas pelos Estados soberanos visam facilitar a aplicao e disciplinar da forma mais adequada o relacionamento internacional, oferecendo aos operadores do direito os princpios regulamentares que permitam a aplicao da legislao estrangeira ou nacional a casos que guardem alguma conexo internacional. Com isso busca-se evitar a possibilidade de julgamentos contraditrios nos diferentes Estados, capazes de disciplinar a mesma relao social. As normas de direito internacional privado indicam o direito aplicvel s diversas situaes jurdicas conectadas a mais de um sistema legal. Essas normas so constitudas pelos elementos de conexo, que so expresses legais, de contedos variveis, que tm o efeito de indicar e permitir a determinao do direito ou sistema legal que deve tutelar uma determinada relao jurdica.

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No sistema de direito internacional privado brasileiro, so estes os principais elementos de conexo: a) domiclio; b) nacionalidade; c) residncia; d) lugar do nascimento ou falecimento; e) lugar da constituio da pessoa jurdica; f ) lugar da situao do bem; g) lugar da constituio ou execuo da obrigao; h) lugar em que se encontre o proponente do contrato; i) lugar da prtica do ato ilcito. Assim, observa-se que apesar de existir o princpio de que as leis no valem ou no produzem efeitos ultraterritorialmente, na verdade ele mitigado, pois vrios so os ordenamentos jurdicos que inserem normas e mecanismos relativos ao seu direito internacional privado , propiciando formas de aplicao em seu territrio da legislao estrangeira e estabelecendo critrios para que suas leis tambm possam aplicar-se em outros pases, quando for o caso., de acordo com Daiana Vasconcellos. 3.2 ATOS INTERNACIONAIS Segundo deniu a Conveno de Viena do Direito dos Tratados, de 1969, em seu artigo 2, alnea a, tratado internacional um acordo internacional concludo por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento nico, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominao especca . No Brasil, o Ato internacional necessita, para a sua concluso, da colaborao dos Poderes Executivo e Legislativo. Segundo a vigente Constituio Brasileira, celebrar tratados, convenes e atos internacionais competncia privativa do Presidente da Repblica (art. 84, inciso VIII), embora estejam sujeitos ao referendo do Congresso Nacional, a quem cabe, ademais, resolver denitivamente sobre tratados, acordos e atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimnio nacional (art. 49, inciso I). Portanto, embora o Presidente da Repblica seja o titular da dinmica das relaes internacionais, cabendo-lhe decidir tanto sobre a convenincia de iniciar negociaes, como a de raticar o ato internacional j concludo, a intervenincia do Poder Legislativo, sob a forma de aprovao congressual, , via de regra, necessria. A tradio constitucional brasileira no concede o direito de concluir tratados aos Estados-membros da Federao. Nessa linha, a atual Constituio diz competir Unio, manter relaes com Estados estrangeiros e participar de organizaes internacionais (art. 21, inciso I). Por tal razo, qualquer acordo que um Estado federado ou Municpio deseje concluir com Estado estrangeiro, ou Unidade dos mesmos que possua poder de concluir tratados, dever ser feito pela Unio, com a intermediao do Ministrio das Relaes Exteriores, decorrente de sua prpria competncia legal. Cabe registrar, nalmente, que, na prtica de muitos Estados, vicejou, por vrias razes, o costume de concluir certos tratados sem aprovao legislativa. Eles passaram a ser conhecidos como acordos em forma simplicada ou acordos do Executivo. As Constituies brasileiras, inclusive a vigente, desconhecem tal expediente. 3.3 SISTEMA BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Existem estudos na rea do Direito Internacional, abrangendo tpicos focados nas reas de comrcio exterior e suas atividades complementares (cmbio, seguros, nanciamentos, tributao, etc).

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Assim, o estudo de Introduo ao Direito Aduaneiro, produzido por Leonardo Correia Lima Macedo, Auditor Fiscal da Receita Federal, se nos agura como instrumento esclarecedor e de apoio no entendimento do Direito Internacional aplicvel matria. Devido s especicidades de princpios e normas relativas ao comrcio exterior, alguns autores argumentam sobre a existncia de um Direito Aduaneiro. 3.3.1 Conceituao do Direito Aduaneiro Vejamos como o conceitua Jos Lence Carluci: Na esteira de Idelfonso Snchez Gonzlez podemos conceituar o Direito Aduaneiro como o conjunto de normas e princpios que disciplinam juridicamente a poltica aduaneira, entendida esta como a interveno pblica no intercmbio internacional de mercadorias e que constitui um sistema de controle e de limitaes com ns pblicos . 3.3.2 Objetivo do Direito Aduaneiro O objetivo deste ramo do Direito seria disciplinar os controles de ingressos e sadas de veculos, pessoas e mercadorias, em harmonia com os tratados internacionais e, ainda, atender aos interesses ptrios de interveno na poltica de comrcio exterior. Juridicamente, seria composto pelo conjunto de normas internas aplicveis s importaes e exportaes, assim como pelos tratados internacionais sobre comrcio exterior. Neste sentido, apresenta uma ambivalncia entre normas internas e internacionais. Roosevelt Baldomir Sosa, citando Eduardo Raposo de Medeiros, lembra: Uma questo est fora de dvida: o Direito Aduaneiro no tem nada a ver com o Direito Fiscal, quer pelo seu prprio contorno conceitual, quer pela especicidade da ao em funo dos regimes mais diversos devido a espaos econmicos, aos tipos de acordos internacionais, a procedimentos normalizados ou simplicados de facilitao do comrcio externo, a suportes documentais de declarao das mercadorias, etc. Por outras palavras, o Direito Aduaneiro tem particularidades tcnicas e econmicas susceptveis de considerar os seus mecanismos jurdicos de interveno no comrcio internacional, como um conjunto parte, com uma tcnica e originalidades independentes do Direito Fiscal, e com uma terminologia prpria. Da espraiar-se pela nomenclatura pautal em conexo com questes da taxao em eventuais alternativas de aplicao dos regimes geral ou preferencial, passando pelos regimes suspensivos de contedo econmico das mercadorias e regime aduaneiro dos meios de transporte, e terminando no contencioso aduaneiro . Diante do exposto, ca claro que os direitos exercidos por um pas na poltica de comrcio exterior so, na maioria das vezes, direitos aduaneiros. o caso, por exemplo, dos direitos antidumping e compensatrio. Supondo a existncia de tal ramo do direito, devemos delimitar suas vertentes. Ainda segundo Roosevelt, as vertentes que contribuem para a formao do Direito Aduaneiro seriam: Direito Interno: Regime legal das operaes de Comrcio Exterior (controle administrativo); Regime cambirio sobre pagamentos e

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recebimentos das operaes de Comrcio Exterior (controle do valor aduaneiro); Regimes scal e de controle aduaneiro sobre pessoas que demandam ou saem do territrio aduaneiro e, principalmente, sobre os uxos de transporte e de mercadorias, objeto de operaes de Comrcio Exterior, inclusive ingressos temporrios; Regime legal de combate s contravenes em matrias alfandegria e penal . 3.4 DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO ADUANEIRO Fazem parte do Direito Internacional os acordos sobre tarifao ou tributao das mercadorias, objeto do comrcio exterior, os acordos sobre certicao de origem das mercadorias, os acordos sobre valorao de mercadorias, os acordos sobre classicao de mercadorias e os acordos de cooperao internacional em matria aduaneira. Devido sua forte caracterstica internacional, o Direito Aduaneiro tem uma tendncia natural de universalizar-se, ou seja, de produzir normas, cujo principal objetivo seja harmonizar procedimentos em nvel mundial do comrcio exterior. No Brasil, tal ramo do direito no reconhecido como autnomo e para muitos considerado um sub-ramo do Direito Tributrio. Este no reconhecimento leva a um conito de competncias (Ministrio da Fazenda, Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior e Ministrio das Relaes Exteriores), o que contribui para a ineccia de polticas no setor. Independentemente do reconhecimento, no Brasil, da existncia do direito aduaneiro como um ramo autnomo, existem poucos prossionais qualicados para assuntos aduaneiros. Na imensa maioria dos casos, os prossionais que atuam no setor so especialistas em outras reas, dicultando excessivamente o entendimento das regras de comrcio exterior e, principalmente, da problemtica aduaneira.

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ANOTE

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TEMA 4 BLOCOS ECONMICOS E ORGANISMOS REGIONAISObjetivos do Tema Oferecer a oportunidade de conhecer os diversos blocos econmicos regio-

nais existentes no mundo, suas nalidades, seus participantes e seus objetivos; Dar a conhecer os principais debates levantados na opinio pblica que

mexem com a poltica de sustentao destes blocos. 4.1 BLOCOS ECONMICOS Os blocos econmicos foram criados com a nalidade de desenvolver o comrcio de terminada regio, segundo Maia (1999:117). Para alcanar esse objetivo, eliminam as barreiras alfandegrias, o que torna o custo do produtos menor. Este tipo de integrao regional visa criar melhor poder de compra dentro do bloco econmico, melhorando o nvel de vida de sua populao. Assim, como os mercados domsticos passam a ser disputados tambm por empresas dos outros pases, membros do bloco, cresce a concorrncia, o que acaba implicando em uma melhoria na qualidade dos produtos e reduo nos custos de produo. Desta forma, com a economia mundial globalizada, a tendncia comercial a formao de blocos econmicos por todo o mundo. Adotam reduo ou iseno de impostos ou de tarifas alfandegrias e buscam solues em comum para problemas comerciais. Em tese, o comrcio entre os pases constituintes de um bloco econmico aumenta e gera crescimento econmico para os pases. Geralmente estes blocos so formados por pases vizinhos ou que possuem anidades culturais ou comerciais. Esta a nova tendncia mundial pois, cada vez mais, o comrcio entre blocos econmicos cresce. Economistas armam que car de fora de um bloco econmico viver isolado do mundo comercial. Segundo Balassa (1964:13), cinco so as fases para a constituio de um bloco econmico, que podem evoluir at atingir a integrao total: Zona de Livre Comrcio

Sistema no qual as tarifas alfandegrias so zero para os pases que integram uma zona de livre comrcio, embora cada pas tenha um nvel diferente de tarifas para os pases externos ao acordo de livre comrcio. Cada pas-membro mantm a ampla liberdade no que se refere sua poltica interna, bem como no tocante poltica comercial com os pases no associados. Unio Aduaneira

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Tambm conhecida como Unio Alfandegria, um acordo entre dois ou mais pases que visa a eliminao das barreiras alfandegrias, estabelecendo uma tarifa comum externa em relao aos pases no-membros. O acordo, em

geral, abrange taxas de importao e exportao e quaisquer encargos ou cotas que tendem a restringir o comrcio. Este tipo de integrao pode limitar-se a um grupo de produtos, como ferro e ao, ou constituir uma integrao econmica completa, tal como existia no Mercado Comum Europeu. Mercado Comum

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O Mercado Comum um tipo de integrao econmica que vai alm do que estabelece a Unio Aduaneira, no admitindo restries aos fatores de produo, isto , capital e trabalho. Unio Econmica

Extenso do Mercado Comum, a Unio Econmica procura harmonizar as polticas econmicas nacionais. Assim, os pases membros mudam suas legislaes, para torna-las coerentes com os princpios estabelecidos neste tipo de bloco econmico. Integrao Econmica Total

Neste estgio, os pases componentes do bloco concordam com as condies estabelecidas na unio econmica e vo alm. Adotam uma poltica monetria comum. Os pases membros passam a adotar, tambm, uma poltica monetria, scal, social e anticclica uniforme, bem como delega-se a uma autoridade supra-nacional poderes para elaborar e aplicar essas polticas. As decises dessa autoridade devem ser acatadas por todos os Estados-Membros. 4.2 PRINCIPAIS BLOCOS ECONMICOS 4.2.1 UNIO EUROPIA (UE) Dentre os blocos econmicos formados, destacamos em primeiro lugar, a Unio Europia (UE). um bloco econmico, poltico e social de 25 pases europeus que participam de um projeto de integrao poltica e econmica. 4.2.1.1 Pases participantes Os pases integrantes desse bloco, atualmente, so: Alemanha, ustria, Blgica, Chipre, Dinamarca, Eslovquia, Eslovnia, Espanha, Estnia, Finlndia, Frana, Grcia, Hungria, Irlanda, Itlia, Letnia, Litunia, Luxemburgo, Malta, Pases Baixos (Holanda), Polnia, Portugal, Reino Unido, Repblica Checa e Sucia. Estes pases so politicamente democrticos, com um Estado de Direito. Observa-se que a maioria dos dez ltimos pases que aderiram ao bloco, foram pases comunistas. Com o total de 25 pases, em 2004 o bloco passou a ter uma populao de 455 milhes de habitantes e um PIB de US$ 12,56 trilhes. 4.2.1.2 Tratados que deniram a constituio jurdica, poltica e econmica da UE Os tratados que denem a Unio Europia so: o Tratado da Comunidade Europia do Carvo e do Ao (CECA), o Tratado da Comunidade Econmica Europia (CEE), o Tratado da Comunidade Europia da Energia Atmica (EURATOM) e o Tratado da Unio Europia (UE), conhecido tambm pelo nome de Tratado

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de Maastricht. Este tratado, assinado em 7 de fevereiro de 1992 na cidade holandesa de Maastricht, estabelece os fundamentos da integrao poltica, que sustentada por trs pilares: o mercado nico constitudo pela Unio Econmica e Monetria e mais dois pilares inter-governamentais constitudos pela Poltica Externa e Segurana Comum (PESC) e Justia e Assuntos Internos (JAI). 4.2.1.3 Instituies bsicas da Unio Europia A Unio Europia no uma federao, nem uma organizao de cooperao entre governos como as Naes Unidas. Possui, de fato, um carter nico. Seus Estados membros congregaram as suas soberanias em algumas reas para ganharem uma fora e uma inuncia no mundo que no poderiam obter isoladamente. Entenda-se por congregao de soberanias o fato de os Estados membrosdelegarem alguns de seus poderes a instituies comuns que criaram, de modo a assegurar que assuntos de interesse comum possam ser decididos democraticamente no mbito da Comunidade Europia. Desta forma, para alcanar seus objetivos, a Unio Europia conta com trs instituies bsicas:

O Parlamento Europeu;

O Parlamento possui trs funes principais: partilha o poder legislativo com o Conselho; exerce o controle democrtico de todas as instituies da Unio Europia, especialmente da Comisso; e partilha com o Conselho, a autoridade sobre o oramento da Unio Europia, o que signica que pode inuenciar as despesas relativas ao bloco. O Parlamento Europeu tem sedes na Frana, na Blgica e em Luxemburgo. A Comisso Europia;

o rgo executivo da Unio Europia. A Comisso a instituio politicamente independente que representa e salvaguarda os interesses da Unio Europia. Ela a fora impulsionadora do sistema institucional: prope legislao, polticas, programas de ao e responsvel pela execuo das decises do Parlamento e do Conselho. O Conselho da Unio Europia,

O Conselho o principal rgo de tomada de decises da Unio Europia, tendo sido institudo atravs dos tratados de fundao da dcada de 1950-1960. Representa os Estados membros e, nas suas reunies participa um ministro do governo nacional de cada um dos pases do bloco. A deciso de qual o ministro que ir participar depende do tema a ser tratado. 4.2.1.4 A Moeda nica: o euro Com o propsito de unicao monetria e facilitao do comrcio entre os pases membros, a Unio Europia adotou o euro como moeda nica. A partir de janeiro de 2002, doze pases ou Estados-membros, dentre os 15 que ento a constituam, adotaram o Euro para livre circulao. Esses pases so: Alemanha,

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ustria, Blgica, Espanha, Finlndia, Frana, Grcia, Irlanda, Itlia Luxemburgo, Pases Baixos e Portugal. Gr-Bretanha, Sucia e Dinamarca caram de fora da zona do euro por opo poltica. 4.2.1.5 Objetivos da Unio Europia Os objetivos prioritrios da Unio Europia so: Promover a unidade poltica e econmica da Europa; Melhorar as condies de vida e de trabalho dos cidados europeus; Melhorar as condies de livre comrcio entre os pases-membros; Reduzir as desigualdades sociais e econmicas entre as regies; Fomentar o desenvolvimento econmico dos pases em fase de crescimento; Proporcionar um ambiente de paz, de harmonia e de equilbrio na Europa.

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4.2.2 MERCADO COMUM DO SUL - MERCOSUL O Mercado Comum do Sul ou Mercado Comum do Cone Sul, tambm conhecido de forma simplicada como MERCOSUL , foi institudo pelo Tratado de Assuno, assinado em 26.03.91, pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o objetivo de promover o desenvolvimento dos quatro pases mediante a conformao de um espao econmico ampliado e, por via de conseqncia, de uma insero mais competitiva na economia internacional. A concepo do bloco evoluiu a partir do programa de aproximao econmica entre Brasil e Argentina de meados dos anos 80 e tem dois grandes pilares: a democratizao poltica e a liberalizao econmico-comercial. 4.2.2.1 A base legal do MERCOSUL A base legal do MERCOSUL no Brasil est contida nos seguintes diplomas legais: Decreto n 350, de 21.11.91, que promulga o Tratado de Assuno. Decreto n 922, de 10.09.93, que promulga o Protocolo de Braslia, assinado

em 17.12.91, que estabelece as distintas etapas e procedimentos para a soluo de controvrsias no MERCOSUL. Decreto n 1.901, de 09.05.96, que promulga o Protocolo de Ouro Preto, assi-

nado em 17.12.94, que deniu a estrutura institucional do MERCOSUL e conferiu ao MERCOSUL personalidade jurdica de Direito Internacional.

4.2.2.2 Objetivo do MERCOSUL O objetivo principal do MERCOSUL a constituio de um Mercado Comum entre os pases integrantes e, para tanto, se preocupa com: a) eliminao de barreiras tarifrias e no-tarifrias no comrcio entre os pases membros; b) adoo de uma Tarifa Externa Comum (TEC); A Tarifa Externa Comum (TEC) o pilar da Unio Aduaneira. A TEC, composta das alquotas de importao e da Nomenclatura Comum do MERCOSUL - NCM foi implantada pelos Estados-Partes, a partir de 01.01.95.

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Em funo da TEC, todos os produtos importados de pases no-participantes do MERCOSUL, esto sujeitos mesma alquota de imposto de importao ao serem internalizados em qualquer dos Estados-Partes. c) coordenao de polticas macroeconmicas; d) livre comrcio de servios; e) livre circulao de mo-de-obra; f ) livre circulao de capitais. 4.2.2.3 Procedimentos indispensveis Exportao A empresa que quiser exportar para o MERCOSUL deve vericar a classicao tarifria da sua mercadoria (NCM) e se esta consta da lista do Regime de Adequao do pas de destino, para conhecer a alquota a ser aplicada. A empresa deve fazer essa consulta porque, em princpio, todos os participantes da rea podem importar e exportar entre si sem gravames tarifrios. S os produtos constantes da lista do Regime de Adequao que so tarifados. Da a necessidade do exame prvio. O Registro de Exportao, que um documento bsico de exportao, dever conter o Cdigo do Acordo de Complementao Econmica n. 18 (ACE 18), que poder ser vericado na tabela do SISCOMEX. Finalmente, o exportador dever providenciar o Certicado de Origem a ser enviado ao importador, emitido por entidades de classe privadas, que tenham jurisdio federal ou estadual, relacionadas na Portaria Interministerial MF-MICTMRE n. 11, de 21.01.97. Esse documento comprova que a mercadoria foi produzida no pas de origem, integrante do bloco econmico. 4.2.2.4 Estrutura do Mercosul Conselho do Mercado Comum

rgo superior do bloco, formado pelos ministros de Economia e Relaes Exteriores que trata da conduo do processo de integrao e dos acordos com outros pases, organismos e blocos econmicos. Grupo do Mercado Comum

rgo executivo do Mercosul, formado por tcnicos e especialistas em integrao. Suas funes so as de propor projetos de deciso do Mercado Comum e xar programas de trabalho que garantam avanos. Comisso de Comrcio do Mercosul

rgo de assistncia do Grupo do Mercado Comum, com o objetivo de cuidar da aplicao dos instrumentos de poltica comercial. Comisso Parlamentar Conjunta

rgo representativo dos Parlamentos dos pases do Mercosul.

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Foro Consultivo Econmico-Social

rgo representativo dos setores econmicos, sociais, integrado por entidades empresariais e trabalhistas. Secretaria Administrativa do Mercosul

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rgo de apoio operacional, responsvel pela prestao de servios aos demais rgos do bloco, fornecendo documentos e publicaes das decises tomadas no Mercosul. 4.2.2.5 O Mercosul e a consolidao da zona de livre comrcio No ano de 1997, o MERCOSUL deu continuidade aos esforos para a consolidao da zona de livre comrcio e para o aprofundamento da unio aduaneira. Nesse sentido, tentando melhor aproximao internacional, quer seja com blocos econmicos, quer seja com pases, o MERCOSUL avanou na discusso de diversos temas, com destaque para: a) cdigo aduaneiro e gesto aduaneira; b) circulao intra-zona de mercadorias sujeitas ao pagamento de Tarifa Externa Comum (TEC); c) medidas e restries no-tarifrias; d) regulamentos tcnicos; e) regime automotor. f ) regime aucareiro. regime de adequao. g) anti-dumping e subsdios h) defesa do consumid