o penitenciÁrista- edição julho/agosto

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O Penitenciarista 1 O Penitenciarista 1 No dia 24 de setembro, no auditório da Sede II da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), foi reali- zada a abertura da Exposição Histórica “O Trabalho como Meio de Reintegração do Preso à Sociedade”. Organizada pela Secretaria, por meio do Museu Penitenciário Paulista - MPP, da Fundação Prof. Dr Manuel Pe- dro Pimentel-FUNAP e da Co- ordenadoria de Reintegração Social e Cidadania - CRSC. integraram a mesa de aber- tura, os Secretários de Estado da Administração Penitenciá- ria, Lourival Gomes, e da Jus- tiça, Eloisa de Sousa Arruda; o Presidente e a Diretora Execu- tiva da FUNAP, Arthur Alegret- ti Joly e Lúcia Maria Casali de Oliveira, respectivamente; o Diretor do Museu Penitenciário Paulista, Sidney Soares de Oli- veira e o Coordnador de Rein- tegração Social e Cidadania, Mauro Rogério Bitencourt. Na cerimônia, o Diretor do Museu Penitenciário cita que:“As coleções que com- põem o acervo do MPP levam à compreensão de uma estética que reflete a “cultura prisio- nal” e ajudam a pensar sobre a aplicação da pena e do cer- ceamento da liberdade. Nos- so acervo nos dá pistas que a solução para o crescimento no índice do aprisonamento está na educação. Nesse ponto, en- caixam-se também as ações para a profissionalização de pessoas em situação de apri- sionamento. Essa exposição, que hoje inauguramos, apresenta situ- ações, imagens e casos sobre o trabalho como uma ferra- menta para inserção social e alternativas profissionais ao egresso”. O Secretário Lourival Go- mes afirmou em sua fala: “Os números revelam que mais da metade dos homens e mulhe- res presos e condenados no Estado de São Paulo trabalham. Nosso objetivo é que todos sejam alcançados, que o trabalho é parte essencial no processo de ressocialização”. MUSEU PENITENCIÁRIO EM AÇÃO

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Page 1: O PENITENCIÁRISTA- edição JULHO/AGOSTO

O Penitenciarista • 1 O Penitenciarista • 1

No dia 24 de setembro, no auditório da Sede II da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), foi reali-zada a abertura da Exposição Histórica “O Trabalho como Meio de Reintegração do Preso à Sociedade”. Organizada pela Secretaria, por meio do Museu Penitenciário Paulista - MPP, da Fundação Prof. Dr Manuel Pe-dro Pimentel-FUNAP e da Co-ordenadoria de Reintegração Social e Cidadania - CRSC.

integraram a mesa de aber-tura, os Secretários de Estado da Administração Penitenciá-ria, Lourival Gomes, e da Jus-tiça, Eloisa de Sousa Arruda; o Presidente e a Diretora Execu-tiva da FUNAP, Arthur Alegret-ti Joly e Lúcia Maria Casali de Oliveira, respectivamente; o Diretor do Museu Penitenciário Paulista, Sidney Soares de Oli-veira e o Coordnador de Rein-tegração Social e Cidadania, Mauro Rogério Bitencourt.

Na cerimônia, o Diretor do Museu Penitenciário cita que:“As coleções que com-põem o acervo do MPP levam à compreensão de uma estética

que refl ete a “cultura prisio-nal” e ajudam a pensar sobre a aplicação da pena e do cer-ceamento da liberdade. Nos-so acervo nos dá pistas que a solução para o crescimento no índice do aprisonamento está na educação. Nesse ponto, en-caixam-se também as ações para a profi ssionalização de pessoas em situação de apri-sionamento.

Essa exposição, que hoje inauguramos, apresenta situ-ações, imagens e casos sobre o trabalho como uma ferra-menta para inserção social e alternativas profi ssionais ao egresso”.

O Secretário Lourival Go-mes afi rmou em sua fala: “Os números revelam que mais da metade dos homens e mulhe-res presos e condenados no Estado de São Paulo trabalham. Nosso objetivo é que todos sejam alcançados, já que o trabalho é parte essencial no processo de ressocialização”.

MUSEU PENITENCIÁRIO EM AÇÃO

No dia 24 de setembro, que refl ete a “cultura prisio-

MUSEU PENITENCIÁRIO EM AÇÃO MUSEU PENITENCIÁRIO EM AÇÃO

so acervo nos dá pistas que a solução para o crescimento no índice do aprisonamento está

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2 • O Penitenciarista

Em Setem-bro de 2012 a penitenciária de Pacaembu com-pletou quatorze anos de funcio-namento, conta-dos a partir da sua inauguração ofi cial.

Localizada as margens da rodovia Co-mandante João Ribeiro de Barros – SP-294, a unidade prisional foi construída com capacidade para abrigar 792 detentos.

HISTÓRIA DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS

LUPA

Trabalhei na Casa de Detenção Profº. Flamínio Favero por cinco anos, na assessoria do diretor Luizão, lá conheci um preso incomparável. “Lupa”, “Mala”, “Nego Lupércio”, estes eram alguns de seus apelidos.

Figura de boa índole, contava ele, que tinha mais ou menos 60 anos de idade. Não tinha família, era sua décima

quinta entrada na Casa de Detenção e, pas-mem, todas por tráfi co de drogas.

Durante o período em que lá estive Lupa foi e voltou três vezes e, curioso, todas as vezes que saia de liberdade, no portão de saída virava-se para o interior da unidade

e dizia com sua voz rouca: “Não fi quem tristes. Volto logo”. E voltava.

Era comum nego Lupa juntar uma roda de funcionários e contar suas histórias.

Contava ele nos tempos de juventude ter sido massagista de times grandes, o que sempre acreditei, tal seu conheci-mento a respeito. Era o massagista da seleção da Casa.

Sempre rindo, para ele não havia tristeza, contava tam-bém ter sido lutador de Box e, olha, levava jeito. Dentre suas histórias, algumas eram fruto de sua imaginação. Cito a que mais me marcou.

Numa de minhas saídas em liberdade, contou ele, estava sem dinheiro e procurei logo um conhecido meu que me-xia com entorpecente, e claro, consegui uma quantidade de fumo para enrolar uns parangos e arrumar uma nota, tudo em consignação, peguei a mercadoria e lá fui para a pensão onde morava, ali na Tiradentes onde eu já era conhecido da dona... Peguei uns cigarros o resto escondi na cama de um bobo que também dormia no local. “Se rodasse, ele sim ia em cana”. Saí dando umas voltas até chegar na Praça Prin-cesa Isabel, eu já estava ligadão e procurava um lugar para esconder os pacau...Mas parecia que todo mundo estava de olho em mim. Até que passou por mim uns otários e que-riam comprar. Mandei os tontos irem andando na frente e fui atrás para servi-los. Sempre esperto, pois não podia marcar bobeira.

Foi quando de repente me vi encurralado por dois solda-dos a cavalo que fi caram me cheirando, caguetando que a droga estava na cueca. Cana dura. Não teve acerto, tentei fazer a cabeça dos policiais, chorei “na nossa”, mas não tive oportunidade. Vamos nessa e me grampearam.

“Oh! oh! oh! Lá ia eu de volta para a Casa de Banha. Che-guei no bondão, maior recepção, tinha até banda. Os malan-dros não são brinquedo, uns tremendo Chico Anysio.

PENITENCIÁRIA DE PACAEMBU COMPLETA QUATORZE ANOS.No dia 31 de agosto de 1998, hou-

ve a pose e exercício dos funcionários, todavia, a unidade foi inaugurada ofi -cialmente em 29 do mês seguinte.

Atualmente “aproximadamente xxx presos prestam serviços diariamen-te no interior do presídio. Nas fotos, imagens de inauguração e trabalho dos presos.

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O Penitenciarista • 3

Na tese de mestrado da historiadora Angela Artur, a pesquisadora esclarece que o Presídio de Mulheres de São Paulo foi a primeira instituição prisional orientada pelo Códi-go Penal de 1940, que exigia que mulheres cumprissem sua pena em estabelecimentos penais próprios.

Segundo ela, embora o en-carceramento de mulheres em

seções separadas dos homens fosse prática recorrente, até o ano de 1940, não havia qual-quer diretriz legal que a exi-gisse ou regulamentasse.

Sendo assim, diferente-mente da versão adotada na edição N° 8 de “O Penitencia-rista”, o primeiro presídio es-pecífi co para mulheres no Bra-sil pode ter sido o Presídio de Mulheres de São Paulo.

PRESÍDIO DE MULHERES

“Seu Guilherme, não ouvi os cavalos fazen-do barulho, então olhei nos pés deles. Calçavam tênis Montreal”.

Essa é mais uma das histórias da Casa de Detenção, esse tipo de preso não existe mais... Lamentavelmente “Nego Lupércio”, terminou seus dias em liberdade morando de favor em um Box de visita na Casa de Detenção. Hoje deve estar sorrindo no Céu.

MUSEUS PENITENCIÁRIOS PELO MUNDO

GUILHERME SILVEIRA RODRIGUES

DE OLHO NO ACERVO

O Museu conta a história de um dos presídios mais famosos

da Inglaterra, Dartmoor Pri-son, com uma interessante coleção de artefatos que ofe-

rece uma perspectiva sobre a vida na prisão do passado e do presen-te.

Em Dartmoor se desenvol-veu um dos sistemas prisio-nais mais bem sucedidos e respeitados.

Em uma história fascinante o Museu expõe a vanguarda da prática penal moderna, que busca e proteger a socie-dade desenvolvendo formas de ajudar criminosos a mu-dar suas vidas.

Dartmoor Prison Museum

Lupércio

Site: www.dartmoor-prison.co.uk

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4 • O Penitenciarista4 • O Penitenciarista

Participe: envie-nos fotos, histórias dos estabelecimentos penais do Estado para a próxima edição de “O Penitenciarista”.

Mande sua opinião para o informativo: museupenitenciá[email protected] Visite nosso Blog: www.museupenitenciario.blogspot.com.br

Foi para mim muito valioso a gravação para o projeto de me-mória oral do sistema penitenciá-rio paulista. Louvável, importante e altamente signifi cativa à ideia da colheita de dados a serem uti-lizados numa peça única sobre as atividades desenvolvidas pelo sistema penitenciário, vivenciado por antigos servidores, propician-do melhor entendimento dos vi-sitantes na apreciação das peças que irão compor a nova sede do museu. Na minha manifestação, procurei vencer as difi culdades de

abordagem aberta de um tema que implica grande variedade de conhecimentos doutrinários e em-píricos referentes ao desempenho da administração penitenciária, dando sequência lógica, - apre-sentação, discussão – e conclu-são, embora de forma genérica e superfi cial própria de um mero pronunciamento. No caso especí-fi co da minha abordagem, enten-do que ela pode ser comentada, discutida, analisada, etc.

Luiz Carlos Berbare de Souza Ex Diretor de Estabelecimentos Penais

COLUNA: COM A PALAVRA O SERVIDOR

SISTEMA PENITENCIÁRIO PAULISTA: AVANÇOS, DESAFIOS E SUPERAÇÕESSISTEMA PENITENCIÁRIO PAULISTA: AVANÇOS, DESAFIOS E SUPERAÇÕES

As desigualdades sociais, pre-sentes em todas as sociedades modernas criam, em seus núcleos mais esquecidos pelo poder público e pela sociedade, mais criminosos do que os já superlotados sistemas penitenciários podem absorver. Esse é um fenômeno mundial.

Com a catalogação do acervo histórico do sistema penitenciário, que vem em curso e, com a nova sede do Museu Penitenciário Paulis-ta, que deverá ser inaugurada no primeiro semestre de 2013, a ad-ministração penitenciária passou a dispor de um olhar histórico, per-mitindo análises, comparações e refl exões.

Esse olhar privilegiado da exe-cução da pena nos permite enten-der que vivemos um momento de grandes desafi os, um dos maiores é o de tentar encontrar soluções para super população do sistema peni-tenciário.

Vários especialistas e estudiosos da área acreditam numa ação em duas frentes.

A primeira, com a aplicação mais efetiva das penas restritivas de direito, em especial às alternati-vas à prisão, mas isso implica num

trabalho árduo de convencimento junto ao Poder Judiciário, que des-de 1994, passou a considerar essa possibilidade em face da introdução desse tipo de pena no atual Código Penal.

A segunda, que consiste na recu-peração e ressocialização do apena-do. Essa é muito mais complicada, pois envolve dar um voto de con-fi ança para quem já pagou à socie-dade por seu delito. Digo ser mais complicada, também, por envolver um juízo de valores da sociedade, que é extremamente subjetivo e, que, por falta de conhecimento das ações desenvolvidas, seja pelo Go-verno, seja por demais entidades com fi nalidade social que atuam no sistema penitenciário, ou ainda, por puro desinteresse, é previamente desacreditada.

Enfi m, reduzir a população car-cerária, priorizando a reeducação dos presos são medidas a ser al-cançadas, com urgência, e a atu-al administração está no caminho certo.

38, advogado, é mestre em Filosofi a do Direito, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.

Cláudio Tucci Junior

DICAS: LIVROS E FILMES

EQUIPE SAP/MPP: Sidney Soares de Oliveira Edson Galdino (Designer)Gisele Ribeiro Guimarães

Colaboradores: Guilherme Silveira Rodrigues Rosa Alice Taschetti Ricci Claudio Tucci Junior Eric de Moura Alves (Fotos Exposição)

Acompanhe-nos:“O PENITENCIARISTA”

PROGRAMA DE DIFUSÃO CULTURAL

Imagine uma prisão com cerca de 10 mil detentos, muitos deles peri-gosos e reincidentes.

Para controlá-los, apenas alguns funcionários desarmados, que vi-vem como quase-presos, numa ro-tina de tensão, mas, também, de humor e emoção. O documentário mostra como funcionava o presí-dio sob a ética desses funcionários, que detinham as chaves e o deli-cado equilíbrio das relações com os detentos.

Filme: Deus e o Diabo em Cima da MuralhaDuração: 54 minutos Genero: Drama Estréia: 2006Diretores: Tocha Alves e Daniel Lieff

O livro conta as memórias de Ju-lita Lemgruber, na época em que esteve à frente do sistema peniten-ciário do estado do Rio de Janeiro. A socióloga relata a participação em diversas situações importantes e perigosas.

Titulo: A DONA DAS CHAVESGênero: Biografi a/ MemóriaPÁGINAS: 266ANO: 2010Editora: Record