o patrimônio líquido a luz da teoria contábil

Upload: joseluiz

Post on 05-Mar-2016

14 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

O PATRIMÔNIO LÍQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTÁBIL

TRANSCRIPT

  • [email protected], So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014 149

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBIL

    Alex Borges 1Marcelo Bernardino Arajo 2

    Vilson Vendramin Junior 3

    No passado o conceito de Patrimnio Lquido se restringia simplesmente a diferena entre ativo e passivo. Apesar da sua utilizao e aceitao, este conceito era muito subjetivo, ou seja, a sua utilizao limitava a importncia da estrutura do patrimnio lquido. Desta forma, o objetivo deste estudo demonstrar, de maneira simples e prtica com observaes pontuais e por intermdio de reviso bibliogrfi ca, os vrios conceitos e as principais alteraes no patrimnio lquido que remetem desde o Decreto n 2.627/40, modifi cado pela Lei n 6.404 de 15 de dezembro de 1976 e que recentemente foi alterada pelas Leis n 11.638 de 2007 e a Lei n 11.941 de 2009, com o intuito de harmonizar as normas contbeis aos padres internacionais de contabilidade. Pode-se dizer que aps a criao dessas Leis e com a criao do Comit de Pronunciamentos Tcnicos (CPC), direcionado a criar normas contbeis a partir de normas internacionais, a contabilidade deu um grande salto para a harmonizao das normas contbeis brasileiras com as normas contbeis internacionais e mais ainda.

    Palavras-Chave: Patrimnio Lquido. Lei n 6.404/76. Lei n 11.638/07. CPC.

    In the past the concept of equity was restricted simply the di erence between assets and liabilities. Despite its use and acceptance, this concept was very subjective, or, its use limited the importance of the structure of equity. Thus, the aim of this study is to demonstrate, in a simple and practical with specifi c observations and through literature review, the various concepts and the main changes in equity since that refer Decree 2.627/40, as amended by Law No. 6404 of December 15, 1976 and which was recently amended by Law No. 11.638 of 2007 and Law No. 11.941 of 2009 in order to harmonize accounting standards with international accounting standards. You could say that after the creation of these laws and the creation of the Comit de Pronunciamentos Contbeis (CPC), aimed at creating accounting standards from international standards, accounting took a great leap to harmonize Brazilian GAAP with standards international accounting and more.

    Keywords: Equity. Law 6.404/76. Law 11.638/07. CPC.

    1 Mestrando em Cincias Contbeis pela Fundao Escola de Comrcio lvares Penteado.2 Mestre em Cincias Contbeis de Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.3 Mestrando em Cincias Contbeis pela Fundao Escola de Comrcio lvares Penteado.

    Data de entrega dos originais redao em 31/10/2013e recebido para diagramao em 05/05/2014.

    1 INTRODUOO Patrimnio Lquido pode ser simplesmente

    defi nido como a diferena, em determinado momento, entre o valor do ativo e do passivo, atribuindo-se a este ltimo a conotao restritiva de dvidas e obrigaes.

    Embora o Patrimnio Lquido, em uma avaliao global possa ser mensurado por diferena entre Ativo e Passivo, contm elementos que caracterizam: interesses residuais em casos de liquidao; interesses em participar em distribuies de dividendos; e direitos de participao no Patrimnio Lquido de uma entidade em continuidade, no sentido de possvel alienao de sua participao ou de aumento de tal participao.

    medida que uma boa evidenciao dos elementos constitutivos do Patrimnio Lquido possa auxiliar no discernimento de tais interesses, estaremos cumprindo a fi nalidade principal das demonstraes contbeis, ou seja, a de ajudar o investidor a avaliar a tendncia do empreendimento.

    O objetivo deste trabalho demonstrar a atual estrutura do Patrimnio Lquido, sem esquecer de mencionar as alteraes que este grupo do Balano Patrimonial passou desde o decreto Lei n 2.627/40, passando pela Lei n 6.404/76 at a Lei n 11.638/07.

    2 PATRIMNIO LIQUIDO2.1 ABORDAGENS SOBRE O PATRIMNIO LQUIDO

    O ensino da contabilidade geralmente apresenta, inicialmente, que o patrimnio liquido diferena ente o ativo e o passivo de uma sociedade. Em um linguagem simplifi cada, o patrimnio liquido aquilo que sobraria dos direitos de uma sociedade aps o pagamento de todas as suas obrigaes.

    Ao longo da histria da contabilidade, surgiram algumas teorias sobre os direitos de participao dos proprietrios, sendo que umas das mais antigas e usadas so a teoria do proprietrio e a teoria da entidade.

    2.1.1 TEORIA DO PROPRIETRIOA mais antiga abordagem do patrimnio lquido

    , sem dvida, a da teoria do proprietrio, que foi a maneira imaginada para revestir as partidas dobradas de sua lgica formal. Nela:

    Ativo Passivo = Proprietrio

    Esta forma de entender o patrimnio lquido facilita a aplicao e a explicao do funcionamento das contas e tem estado em grande evidncia, principalmente

  • 150 http://www2.ifsp.edu.br/edu/prp/sinergia Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    devido a este fato. De acordo com esta teoria, o proprietrio o centro de ateno da Contabilidade.

    Obedecendo ao entendimento segundo o qual o proprietrio o foco principal da contabilidade da empresa, considera-se que as receitas e despesas representam aumento ou reduo da riqueza do dono. E nesse caso receitas menos despesas constituem o lucro do proprietrio. (TOSTES, 2009, p. 122).

    As receitas so consideradas como acrscimos de propriedade e as despesas como decrscimos. Assim, o lucro lquido, diferena entre receitas e despesas, adicionado diretamente ao proprietrio. Os dividendos representariam retiradas de capital, e os lucros acumulados so parte da propriedade. Os dividendos em aes representam to somente uma transferncia de uma parte da propriedade para outra; no representam, como afirma Hendriksen e Van Breda (1999), lucro para os acionistas.

    2.1.2 TEORIA DA ENTIDADEDe acordo com a teoria da entidade, ao contrrio,

    preciso, antes de mais nada, esclarecer que a entidade tem uma vida distinta das atividades e dos interesses pessoais dos proprietrios de parcelas de seu capital. A entidade tem personalidade prpria. A teoria da entidade baseada na equao:

    Ativo = Obrigaes + Patrimnio lquido ou, simplesmente: Ativo = Passivo

    A essncia da teoria da entidade que os credores, contribuem com recursos para empresa, sendo que a empresa existe como uma entidade separada e distinta. Logo ativos e passivos pertencem empresa e no aos proprietrios. Toda receita recebida torna-se propriedade da entidade, e as despesas incorridas so obrigaes da entidade.

    A renda gerada pela atividade da sociedade ser da sociedade e no de seus proprietrios. Dessa forma, por consequncia desta Teoria, a sociedade que ir determinar quando e quanto de renda ir para os proprietrios, na medida em que os propriet-rios possuem um direito residual sobre os ativos, a renda gerada ser contabilizada junto com o capital realizado, demonstrando que aps a satisfao dos demais credores, os ativos, na liquidao, sero des-tinados aos proprietrios. (ABE, 2007, p. 61).

    A grande diferena, segundo Hendriksen e Van Breda (1999), entre obrigaes e patrimnio lquido que a avaliao dos direitos dos credores pode ser determinada separada ou independentemente de outras avaliaes, se a empresa estiver com bom grau de solvncia, enquanto os direitos dos acionistas so mensurados pela avaliao dos ativos, originariamente investidos, mais a avaliao dos lucros reinvestidos e as reavaliaes subsequentes dos ativos.

    2.1.3 TEORIA DO ACIONISTA ORDINRIODe acordo com a teoria do acionista ordinrio,

    caracteriza-se uma variante da teoria da entidade. Segundo essa teoria, todos os investimentos em uma sociedade por aes, exceto os acionistas ordinrios, so considerados como outsiders, ao passo que do ponto de vista da teoria da entidade pura todos os investidores so outsiders. Assim, a equao patrimonial altera-se para:

    Ativos Passivos especficos = Interesse residual (dos acionistas ordinrios)

    O objetivo principal desta abordagem seria fornecer melhor informao para o acionista ordinrio. De certa forma, esta teoria de utilidade para a rea de administrao financeira. Apresenta definidas vantagens de representao e conceituao, considerando os acionistas preferenciais como de fora. Na verdade, os pagamentos a tais acionistas seriam equivalentes a despesas. Embora seja vivel, para efeitos de evidenciao de clculo de alavancagem e para as alternativas financeiras, no pode ser totalmente aceita pela Contabilidade, pois bastante forte afirmar que o acionista preferencial , em tudo e por tudo, semelhante a um emprestador de dinheiro. Seus direitos e obrigaes so semelhantes, verdade, mas ainda assim o acionista preferencial possuidor de um ttulo de propriedade, mais que de crdito.

    Especialmente na realidade brasileira, na qual os preferencialistas tm uma caracterstica mista de participao nos lucros, a Teoria do Interesse Residual do Acionista Ordinrio tem que ser analisada com algum cuidado. Esta teoria d nfase diferena entre Fluxo de Caixa Gerado para a Entidade, em contrapo-sio ao Fluxo de Caixa Gerado para os Acionistas. Esse ltimo, a rigor, somente seria o que sobra para os acionistas ordinrios.(IUDCIBUS, 2010, p. 169-170).

    2.1.4 TEORIA DO COMANDODe acordo com a teoria do comando, a ateno

    principal da Contabilidade deveria ser centralizada no controle econmico efetivo dos recursos pelos gerentes ou comandantes de uma empresa. De acordo com ela, as demonstraes financeiras so feitas sob a forma de relatrio de progresso. O balano patrimonial representa um relatrio de desempenho sobre os recursos afianados aos gerentes. A demonstrao de resultados expressa os resultados das atividades do comandante e as formas utilizadas na mobilizao de recursos para atingi-los.

    Assim, na medida que as demonstraes contbeis so preparadas sob o ponto de vista do comandante, o balano representa os ativos que ele recebeu e as obri-gaes que ele ter que cumprir em funo dos ativos recebidos; e a demonstrao de resultado demonstra o uso dos recursos recebidos, isto , a aplicao que foi feita com os ativos, no mesmo sentido de uma presta-o de contas. a explicao dos resultados alcanados pelo comandante dos recursos.(ABE, 2007, p. 73-74).

  • [email protected] 151Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    Segundo Hendriksen e Van Breda (1999), embora seja de interesse para entender melhor a natureza da Contabilidade, a teoria do comando falha, da mesma forma que as teorias do proprietrio e da entidade, em desenvolver um conceito geral que possa ser utilizado para descrever e avaliar a teoria contbil. A teoria do comando preocupa-se mais com o que o comandante fez do que para quem os relatrios contbeis so dirigidos. Isto contraria, em parte, a essncia informativa e os objetivos da Contabilidade.

    2.1.5 TEORIA DO FUNDODe acordo com a teoria do fundo, so

    abandonadas as relaes pessoais que consubstanciam a teoria do proprietrio e a personalizao da firma como entidade legal e econmica artificial, implcitas na teoria da entidade. O fundo o ncleo de interesse. A equao patrimonial fica assim expressa:

    Ativos = Restries sobre os ativos (fundos)

    O fundo inclui um grupo de ativos e obrigaes relacionadas. Os ativos representam servios para o fundo ou unidade operacional constituda por ele. Conforme citado por Hendriksen e Van Breda (1999), o capital investido representa uma restrio financeira ou legal para o uso dos ativos, isto , o capital investido precisa ser mantido intacto, a no ser que uma autorizao especfica tenha sido obtida para uma liquidao completa ou mesmo parcial. Os passivos (no sentido restrito) representam restries contra ativos especficos ou gerais do fundo.

    Embora o conceito de lucro possa ser mantido na teoria do fundo, no o conceito principal na contabilidade financeira. Em lugar disso, a descrio da operao do fundo apresentada mais claramente na demonstrao de fluxo de fundos. As principais demonstraes financeiras so resumos estatsticos das fontes e aplicaes de fundos. Uma demonstrao do resultado, se chegar a existir, ser um acessrio da demonstrao de fluxo de fundos uma descrio dos fundos gerados pelas operaes. (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p. 470).

    necessrio considerar que, de acordo com esta teoria, o lucro no o ponto central da Contabilidade. A descrio das operaes do fundo realizada com muito detalhe e clareza. Uma demonstrao de resultados, se que dever aparecer, ser um detalhe da demonstrao de movimentao de fundos, uma descrio dos fundos providos pelas operaes.

    2.1.6 TEORIA DOS DIREITOS RESIDUAISDe acordo com essa teoria, o acionista possui

    direitos em relao empresa tal como outros titulares de direitos, mas o acionista no considerado como proprietrio.

    O ponto de vista residual um conceito intermedirio em relao teoria da propriedade e teoria da entidade. De acordo com esse ponto de vista, a equao :

    Ativos - Direitos especficos = Direitos Residuais

    Os direitos especficos incluem os direitos de credores e os acionistas preferenciais. Entretanto, em certos casos nos quais tenham ocorrido prejuzos substanciais, ou quando a empresa se acha em concordata ou falncia, os direitos dos acionistas ordinrios podem desaparecer, transformando-se os direitos dos acionistas preferenciais e dos debenturistas em direitos residuais.

    O objetivo do enfoque de direitos residuais proporcio-nar melhor informao aos acionistas ordinrios para a tomada de decises de investimento. Numa sociedade por aes de continuidade indeterminada, o valor corrente de uma ao ordinria depende fundamen-talmente das expectativas em relao aos dividendos futuros. (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p. 468)

    A demonstrao do resultado ou a combinao entre a demonstrao de resultado e a demonstrao de lucros retidos deve indicar o lucro disponvel para os titulares de direitos residuais aps o cumprimento de todas as obrigaes prioritrias, incluindo os dividendos dos acionistas preferenciais.

    2.1.7 TEORIA EMPRESARIALA teoria empresarial um conceito mais amplo

    do que o da entidade, mas menos definido em termos de escopo e aplicao. Na teoria da entidade, a empresa vista como uma unidade econmica separada, que funciona primordialmente em benefcio dos proprietrios, ao passo que na teoria empresarial a empresa uma instituio social que age em nome de muitos grupos de interesses. Em sua forma mais ampla, esses grupos incluem, alm dos acionistas e credores, funcionrios, clientes, o governo como autoridade tributria e como organismo regulamentador, e o pblico em geral. Portanto, a forma mais ampla da teoria empresarial pode ser encarada como uma teoria social da contabilidade.

    Esse conceito de empresa [instituio social] mais aplicvel moderna sociedade por aes, que tem sido forada a levar em conta o efeito de suas atividades sobre diversos grupos e sobre toda a sociedade. De um ponto de vista contbil, isto quer dizer que a responsabilidade de divulgao apropriada aplica-se no apenas a acionistas e credores, como tambm a muitos outros grupos e ao pblico em geral.(HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p. 469)

    2.2 DEFINIES DE PATRIMNIO LQUIDOSegundo descrito no CPC 00 Estrutura Conceitual

    (CPC, 2011), no seu item 4.4, patrimnio lquido o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos.

    Seguindo esta mesma linha de pensamento, Iudcibus, S. et al. (2010, p. 342), mencionam que no balano patrimonial, a diferena entre valor dos ativos, e o dos passivos representa o Patrimnio Lquido, que o valor contbil pertencente aos acionistas ou scios.

  • 152 http://www2.ifsp.edu.br/edu/prp/sinergia Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    A definio, bem como outros aspectos que dizem respeito ao Patrimnio Liquido e que so tratados na estrutura conceitual bsica, so aplicveis no somente as sociedades por aes como a outros tipos de sociedades.

    Atividades comerciais e industriais, bem como outros negcios so frequentemente exercidos por meio de firmas individuais, sociedades limitadas, entidades estatais e outras organizaes cujas estruturas, legal e regulamentar, em regra, so diferentes daquelas aplicveis s sociedades por aes. Por exemplo, pode haver poucas restries, caso haja, sobre a distribuio aos proprietrios ou a outros beneficirios de montantes includos no patrimnio lquido. No obstante, a definio de pa-trimnio lquido e os outros aspectos dessa Estrutura Conceitual que tratam do patrimnio lquido so igualmente aplicveis a tais entidades. (CPC, 2011).

    2.2.1 ESTRUTURA ATUAL DO PATRIMNIO LQUIDONo artigo 178 (Lei n 11.638/07) o Patrimnio

    Liquido dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliao patrimonial, reservas de lucros, aes em tesouraria e prejuzos acumulados.

    Dessa forma, a estrutura pode ser apresentada da seguinte maneira, conforme demonstrado no quadro 1:

    contribuies em dinheiro ou em qualquer espcie de bens suscetveis de avaliao em dinheiro.

    2.2.1.2 Reservas de CapitalAs contas de Reservas de Capital, so reservas

    que no tem origem no lucro da empresa. O artigo 182 da Lei n 6.404/76, menciona que devem ser classificadas nas Contas de Reservas de Capital, as contas que apresentarem as seguintes caractersticas:

    a) a contribuio do subscritor de aes que ultrapassar o valor nominal e a parte do preo de emisso das aes sem valor nominal que ultrapassar a importncia destinada formao do capital social, inclusive nos casos de converso em aes de debntures ou partes beneficirias;

    b) o produto da alienao de partes beneficirias e bnus de subscrio.

    De acordo com Iudcibus, S. et al. (2010, p. 347):

    As Reservas de Capital so constitudas de valores recebidos pela companhia e que no transitam pelo Resultado como receitas, por se referirem a valores destinados a reforo de seu capital, sem terem como contrapartidas qualquer esforo da empresa em termos de entrega de bens ou de prestao de servios. Constam como tais reservas o gio na emisso de aes, a alienao de partes beneficirias e de bnus de subscrio. Essas so transaes de capital com os scios.

    Quanto a sua utilizao, o artigo 200 da Lei n 6.404/76, determina que as reservas de capital somente podero ser utilizadas para:

    I absoro de prejuzos que ultrapassarem os lucros acumulados e as reservas de lucros (artigo 189, pargrafo nico);

    II resgate, reembolso ou compra de aes;III resgate de partes beneficirias;IV incorporao ao capital social;V pagamento de dividendo a aes preferen-

    ciais, quando essa vantagem lhes for assegu-rada (artigo 17, 5).

    Pargrafo nico. A reserva constituda com o produto da venda de partes beneficirias poder ser destinada ao resgate desses ttulos. (BRASIL, 1976).

    2.2.1.3 Ajustes de Avaliao PatrimonialEste reserva foi criada em substituio a Reserva

    de Reavaliao que eram constitudas com base na atualizao do ativo da empresa a valor de mercado. Conforme o artigo 182 da Lei n 11.638/07, na conta de Ajustes de Avaliao Patrimonial:

    Sero classificadas como ajustes de avaliao patri-monial, enquanto no computadas no resultado do exerccio em obedincia ao regime de competn-cia, as contrapartidas de aumentos ou diminuies

    Patrimnio Lquido

    Capital Social Reservas de Capital Ajustes de Avaliao Patrimonial Reservas de Lucros Aes em Tesouraria Prejuzos Acumulados

    Quadro 1 Composio do Patrimnio Lquido atual

    A principal alterao em relao a estrutura que era determinada pela Lei n 6.404/76 se refere a eliminao da conta de Reserva de Reavaliao e a criao da conta de Ajustes de Avaliao Patrimonial.

    2.2.1.1 Capital SocialSegundo Iudcibus, S. et. al. (2010, p. 343), o

    investimento efetuado na companhia pelos acionistas representado pelo Capital Social.

    As principais contas do Capital Social so: Capital Subscrito e Capital a Integralizar. Na primeira so registrados o capital j integralizado pelos scios, enquanto que na segunda so registrados os valores a serem integralizados, portanto, esta ltima acaba sendo uma conta redutora da primeira.

    O artigo 5 da Lei n 6.404/76, menciona que o estatuto da companhia fixar o valor do capital social, expresso em moeda nacional.

    Ainda de acordo com o artigo 7 da Lei n 6.404/76, o capital social poder ser formado com

    Fonte: Adaptado de Brasil (2007)

  • [email protected] 153Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    de valor atribudo a elementos do ativo ( 5o do art. 177, inciso I do caput do art. 183 e 3o do art. 226 desta Lei) e do passivo, em decorrncia da sua avaliao a preo de mercado. (BRASIL, 2007).

    2.2.1.4 Reservas de LucrosAs reservas de lucros, diferentemente das

    reservas de capital, tem origem no lucro da companhia e de acordo Iudcibus, S. et al. (2010, p. 349), possvel ter as seguintes Reservas de Lucros:

    a) Reserva legal;b) Reserva estatutria;c) Reserva para contingncias;d) Reserva de lucros a realizar;e) Reserva de lucros para expanso;f ) Reserva de incentivos fiscais;g) Reserva especial para dividendo obrigatrio

    no distribudo.

    2.2.1.4.1 Reserva LegalA reserva legal tem por finalidade assegurar a

    integridade do Capital Social, e s pode ser utilizada para compensar prejuzos ou aumentar o capital. Os Prejuzos Acumulados so deduzidos da base de clculo da Reserva Legal, importante ressaltar que ela a nica Reserva de Lucro obrigatria. O artigo 193 da Lei n 6.404/76, menciona que:

    Do lucro lquido do exerccio, 5% (cinco por cento) sero aplicados, antes de qualquer outra destinao, na constituio da reserva legal, que no exceder de 20% (vinte por cento) do capital social. 1 A companhia poder deixar de constituir a reser-va legal no exerccio em que o saldo dessa reserva, acrescido do montante das reservas de capital de que trata o 1 do art. 182, exceder de 30% (trinta por cento) do capital social. 2 A reserva legal tem por fim assegurar a integri-dade do capital social e somente poder ser utilizada para compensar prejuzos ou aumentar o capital.

    O limite do valor da reserva legal o valor do capital social, e no o do capital social integralizado, uma vez que a Lei diz que o limite o valor do capital social. Ento, em obedincia ao princpio da legalidade, esse o limite.

    Mesmo que o capital social de uma empresa no esteja integralizado, o valor do capital social aquele previsto no contrato ou no estatuto social, e sobre esse valor que os scios subscritores assumem as suas responsabilidades.

    Esta reserva foi, basicamente, instituda para assegu-rar a integridade do Capital Social. Sua utilizao est limitada compensao de prejuzos, se ainda houver saldo negativo na conta prejuzos aps terem sido absorvidas as demais reservas de lucro; e ao aumen-to do capital social, que poder ser feita a qualquer momento. Esta reserva representa, na realidade, um forte conservadorismo. (TOSTES, 2009, p. 130).

    O capital social no integralizado corresponde, para o subscritor desse capital, a um compromisso, uma responsabilidade; e, para a empresa detentora desse capital, a um direito realizvel. O quotista ou acionista que no integraliza suas quotas ou aes, dentro das condies e prazos estabelecidos no contrato, poder sofrer as sanes estabelecidas no Cdigo Civil, na Lei das S/As e nas Leis fiscais e tributrias.

    2.2.1.4.2 Reserva EstatutriaAs reservas estatutrias so constitudas por

    determinao do estatuto da sociedade, so constitudas atravs da destinao de uma parcela dos lucros do exerccio, e no podem restringir o pagamento do dividendo obrigatrio.

    De acordo Iudcibus, S. et al. (2010, p. 350):

    A empresa dever criar subcontas conforme a natureza a que se refere, e com intitulao que indique sua finalidade. Para cada reserva estatutria, todavia, a empresa ter que, em seu estatuto:a) definir sua finalidade de modo preciso e completo;b) fixar os critrios para determinar a parcela

    anual do lucro lquido a ser utilizada;c) estabelecer seu limite mximo.

    2.2.1.4.3 Reserva de ContingnciasEssa reserva tem por finalidade proteger a empresa

    de um fato futuro, que possa ser mensurvel, e que produzir um efeito negativo sobre o lucro.

    De acordo com o artigo 195 da Lei n 6.404/76, a assembleia geral poder, por proposta dos rgos de administrao, destinar parte do lucro lquido formao de reserva com a finalidade de compensar, em exerccio futuro, a diminuio do lucro decorrente de perda julgada provvel, cujo valor possa ser estimado.

    2.2.1.4.4 Reserva de Lucros a RealizarNo exerccio em que o montante do dividendo

    obrigatrio, calculado nos termos do estatuto ou do art. 202 da Lei das S/A, ultrapassar a parcela realizada do lucro lquido do exerccio, a assembleia-geral poder, por proposta dos rgos da administrao, destinar o excesso constituio de reserva de lucros a realizar.

    Esta reserva tem por finalidade postergar o paga-mento de dividendos obrigatrios. Muitas vezes, a contabilidade da empresa mostra resultado, mais precisamente lucro, que no foi realizado finan-ceiramente, isto , de acordo com o contrato no houve ainda o recebimento de dinheiro. (TOSTES, 2009, p. 131)

    Com finalidade de proteger a empresa contra pagamentos de dividendos sobre o lucro no realizado, constitui-se a Reserva de Lucros a Realizar, e quando o caixa entrar na empresa, o valor ento acrescido distribuio de dividendos.

  • 154 http://www2.ifsp.edu.br/edu/prp/sinergia Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    Dessa forma, segundo Iudcibus, S. et al. (2010, p. 350):

    O objetivo de constitu-la no distribuir dividen-dos obrigatrios sobre a parcela de lucros ainda no realizada financeiramente (apesar de contbil e economicamente realizada) pela companhia, quando tais dividendos excederem a parcela finan-ceiramente realizada do lucro lquido do exerccio.

    2.2.1.4.5 Reserva de Lucros para ExpansoPara atender a projetos de investimento e expanso,

    a companhia poder reter parte dos lucros do exerccio. Essa reteno dever estar justificada com o respectivo oramento de capital aprovado pela assembleia geral do artigo 196 da Lei n 6.404/76.

    Ainda de acordo com o artigo 198 da Lei n 6.404/76, a destinao dos lucros para constituio das reservas de que trata o artigo 194 e a reteno nos termos do artigo 196 no podero ser aprovadas, em cada exerccio, em prejuzo da distribuio do dividendo obrigatrio (artigo 202).

    2.2.1.4.6 Reserva de Incentivos FiscaisDe acordo com o artigo 195 da Lei n 6.404/76:

    A assembleia geral poder, por proposta dos r-gos de administrao, destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro lquido decor-rente de doaes ou subvenes governamentais para investimentos, que poder ser excluda da base de clculo do dividendo obrigatrio (inciso I do caput do art. 202 desta Lei). (BRASIL, 1976).

    Em relao ao seu reconhecimento, de acordo com o CPC 7:

    A subveno governamental no deve ser reco-nhecida at que exista uma razovel segurana de que a entidade cumprir todas as condies estabelecidas e relacionadas subveno e de que ela ser recebida. O simples recebimento da subveno no prova conclusiva de que as condies a ela vinculadas tenham sido ou sero cumpridas. (CPC, 2010).

    A subveno e assistncia governamentais, devem transitar pelo resultado, sendo a receita reconhecida no mesmo instante que os custos relacionados a esses benefcios governamentais.

    2.2.1.4.7 Reserva Especial para Dividendo Obrigatrio No Distribudo

    De acordo com Iudcibus, S. et al. (2010, p. 358), nesta reserva de a companhia dever constituir essa Reserva de Lucros quando tiver dividendo obrigatrio a distribuir, mas sem condies financeiras para o seu pagamento, situao em que se utilizar do expediente previsto nos 4 e 5 do art. 202 da Lei das Sociedades por Aes.

    Conforme descrito acima, o artigo 202 da Lei n 6.404/76, menciona a possibilidade da no distribuio

    de dividendos obrigados e por a obrigatoriedade da constituio de uma reserva em seu lugar:

    4 O dividendo previsto neste artigo no ser obrigatrio no exerccio social em que os rgos da administrao informarem assemblia-geral ordin-ria ser ele incompatvel com a situao financeira da companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, dever dar parecer sobre essa informao e, na com-panhia aberta, seus administradores encaminharo Comisso de Valores Mobilirios, dentro de 5 (cinco) dias da realizao da assemblia-geral, exposio justificativa da informao transmitida assemblia. 5 Os lucros que deixarem de ser distribudos nos termos do 4 sero registrados como reserva espe-cial e, se no absorvidos por prejuzos em exerccios subsequentes, devero ser pagos como dividendo assim que o permitir a situao financeira da com-panhia. (BRASIL, 1976).

    2.2.1.5 Aes em TesourariaAs aes da companhia que forem adquiridas

    pela prpria sociedade so denominadas Aes em Tesouraria. Este fato, no se configura em investimento para companhia. Um dos motivos que pode levar a empresa comprar suas prprias aes pode ser a inteno de distribuio do excesso de caixa para os acionistas.

    No permitido s companhias (abertas ou fechadas) adquirir suas prprias aes a no ser quando:

    a) de operaes de resgate, reembolso ou amortizao de aes;

    b) aquisio para permanncia em tesouraria ou cancelamento, desde que at o valor do saldo de lucros ou reservas (exceto a legal) e sem diminuio do capital social ou recebimento dessas aes por doao;

    c) aquisio para diminuio do capital.

    Essas operaes com as prprias aes esto previstas no artigo 30 da Lei n 6.404/76. Em se tratando de companhia aberta, devero ser obedecidas as normas expedidas pela CVM, particularmente as disposies sobre aquisio de aes de sua prpria emisso, contidas na Instruo CVM n 10, de 14.02.1980, inclusive as relativas ao contedo das notas explicativas que devero ser divulgadas sobre o assunto.

    2.2.1.6 Prejuzos AcumuladosO plano de contas pode apresentar as duas

    contas: Lucros Acumulados (credora) e Prejuzos Acumulados (devedora), mas usualmente o saldo mantido em uma s conta, ou seja, na conta de Lucros ou Prejuzos Acumulados.

    O saldo credor representa a parcela do resultado da empresa no destinada especificamente.

    O saldo devedor - prejuzos acumulados, representa o saldo dos resultados negativos da empresa e no absorvidos por reservas anteriormente existentes e que dever ser compensado com lucros a serem auferidos futuramente.

  • [email protected] 155Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    Se ocorrer de o resultado do exerccio ser negativo (prejuzo), este ser obrigatoriamente absorvido pelos lucros acumulados, pelas reservas de lucros e pela reserva legal, nessa ordem.

    Com o advento da Lei n 11.638/07, para as sociedades por aes, e para os balanos do exerccio social terminado a partir de 31 de dezembro de 2008, o saldo final de Lucros ou Prejuzos Acumulados no poder mais ser credor.

    Isto no significa, entretanto, que a conta Lucros Acumulados deixou de existir. Porm, essa conta possui natureza transitria, e ser utilizada para servir de contrapartida s reverses das reservas de lucros e s destinaes do lucro.

    2.2.2 OUTRAS RESERVASAlm das Reservas obrigatrias mencionadas

    acima, Pereira (1994, p. 7), sugere outras duas voltadas para rea social:

    a) Reserva de Assistncia Tcnica, Educacional e Social RATES;

    b) Fundo de Assistncia Tcnica, Educacional e Social FATES.

    Ainda de acordo com Pereira (1994, p. 7):

    A RATES demonstraria o saldo de recursos sociais a aplicar e a FATES, o saldo de recursos j aplicados. A FATES teria tambm como objetivo, alm de controlar os bens aplicados em Ativo Fixo, oferecer condies de conhecermos as Despesas Sociais ocorridas no perodo considerado.

    Dessa forma, a estrutura pode ser apresentada da seguinte maneira, conforme quadro 2:

    Com a incluso dessas novas Reservas, o Patrimnio Lquido passaria a Demonstrar no somente a evoluo econmica da empresa, mas os investimentos sociais realizados por ela ao longo do seu exerccio social, bem como os recursos a serem aplicados na rea social.

    2.3 CONSIDERAES SOBRE AS LEIS BRASILEIRAS VOLTADAS PARA A CONTABILIDADE

    A partir de meados do sculo XX, diversas Leis foram aprovadas no Brasil votadas para a normatizao da contabilidade brasileira. A comear pelo decreto Lei n 2.627/40, a Lei n 6.404/76 e por ltimo a Lei n 11.638/07, conforme mencionado no quadro 3:

    A partir do quadro 3, possvel mencionar o que cada uma dessas Leis dispe sobre o grupo do Patrimnio Lquido, que o objeto deste trabalho, a comear pelo Decreto Lei n 2.627, de 26 de setembro de e que no seu artigo 135 menciona a composio do grupo do passivo onde tem-se que: o passivo ser dividido em passivo exigvel, a longo e curto prazo, e passivo no exigvel, neste compreendidos o capital e as reservas legais e estatutrias, e compreender tambm as contas de resultado pendente e as contas de compensao.

    Com base nas Leis j mencionadas anteriormente, possvel demonstrar atravs do quadro 4 as alteraes no Patrimnio Lquido:

    Patrimnio Lquido

    Capital Social

    Reservas de Capital

    Ajustes de Avaliao Patrimonial

    Reservas de Lucros

    Aes em Tesouraria

    Prejuzos Acumulados Reserva de Assistncia Tcnica, Educacional e Social RATES

    Fundo de Assistncia Tcnica, Educacional e Social FATES

    Quadro 2 Nova Composio do Patrimnio Lquido (Sugerido)

    Fonte: Adaptado de Brasil (2007) e Pereira (1994, p. 10)

    LEI/ANO ACONTECIMENTO

    Lei n 2.627/40Podemos dizer que o Decreto de Lei n 2.627 de 1940, foi o primeiro modelo de Lei das Sociedades Annimas, mais prximo dos modelos europeus, dava mais nfase aos donos da empresa, sem uma preocupao com a transparncia contbil, com a clareza da informao.

    Lei n 6.404/76Com o advento da Lei n 6.404/76, j um modelo de Lei das S.A. mais prximo do norte-americano, muitos avanos foram observados em relao ao decreto acima referido. A principal nfase desta Lei era o acionista brasileiro, o mercado de capitais no Brasil.

    Lei n 11.638/07

    Com a chegada da Lei n11.638/07 observamos a nfase num modelo internacional de Lei societria. As perspectivas para a profisso contbil, no contexto desta Lei, num mundo globalizado, levam a um reposicionamento das prticas e comportamentos tradicionais dos profissionais de Contabilidade.

    Quadro 3 - Leis Brasileiras sobre Contabilidade

    Fonte: Marion (2010, p. 49)

  • 156 http://www2.ifsp.edu.br/edu/prp/sinergia Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    2.3.1 LEI N 11.638/07 ALTERAES NA ESTRUTURA DO PATRIMNIO LQUIDO

    O Patrimnio Lquido foi um dos grupos que mais sofreu alteraes com a Lei n 11.638/07. Foram criadas algumas contas e outras passaram a no ser mais utilizadas. Alguns grupos de contas foram extintos e outros criados, como foi o caso do grupo Diferido que exista na Lei n 6.404/76 e que com o advento da Lei n 11.638/07 passou a no mais existir.

    Com o advento da Lei n 11.638/07, no Patrimnio Lquido desaparecem as Reserva de Reavaliao, de Premio de Emisso de Debntures e por Doaes e Subvenes para Investimento. As reservas de Reavaliao eram as contrapartidas de aumentos de valor atribudos a elementos do Ativo Permanente em virtude de novas avaliaes. Todavia, esta prtica, que durou at 2007, deixa de existir, por fora legal, por no ser uma norma internacional. Ou seja, nenhum pas tem esta prtica. A Lei n 11.638/07 visa conduzir a Contabilidade brasileira Normas Internacionais de Contabilidade. (MARION, 2010, p. 49).

    De acordo com o artigo 178 da Lei n 11.638/07, o Patrimnio Liquido est dividido em: capital social, reservas de capital, ajustes de avaliao patrimonial, reservas de lucros, aes em tesouraria e prejuzos acumulados.

    Dessa forma, com esta nova composio, as empresas ao apresentarem suas Demonstraes Financeiras em 2008, no puderam mais deixar saldo na conta Lucros ou Prejuzos Acumulados. O item 42 do Comit de Pronunciamento Contbil CPC 13 (CPC, 2008), que trata da Adoo inicial da Lei n 11.638/07 e da Lei n 11.941/09, menciona que:

    Segundo a Lei das S.A., conforme modificao introduzida pela Lei n 11.638/07, o lucro lquido do exerccio deve ser integralmente destinado de acordo com os fundamentos contidos nos arts. 193 a 197 da Lei das S.A. A referida Lei no eliminou a conta de lucros acumulados nem a demonstrao de sua movimentao, que devem ser apresentadas como parte da demonstrao das mutaes do patrimnio lquido. Essa conta, entretanto, tem natureza

    absolutamente transitria e deve ser utilizada para a transferncia do lucro apurado no pe-rodo, contrapartida das reverses das reser-vas de lucros e para as destinaes do lucro. (CPC13, 2008).

    Assim, segundo Marion (2010, p. 49), Logo, fica extinta a conta Lucros Acumulados, por no evidenciar uma definio do destino do lucro. Todo o resultado dever, obrigatoriamente, ser destinado, e as parcelas do resultado a serem retidas precisaro ser contabilizadas nas reservas prprias.

    Ainda de acordo com o CPC 13, no seu item 43: Na elaborao das demonstraes contbeis ao trmino do exerccio social em que adotar pela primeira vez a Lei n 11.638/07, a administrao da entidade deve propor a destinao de eventuais saldos de lucros acumulados existentes.

    2.4 DIFERENAS ENTRE RESERVAS E PROVISESDe acordo com o CPC 25 (CPC, 2009), proviso

    um Passivo de prazo ou valores incertos. Por outro lado, segundo o CPC 25 (CPC, 2009), uma obrigao presente da entidade, derivada de eventos j ocorridos, cuja liquidao se espera que resulte em sada de recursos da entidade capazes de gerar benefcios econmicos. Ainda de acordo com o CPC 25 (CPC, 2009), uma proviso deve ser reconhecida quando:

    (a) a entidade tem uma obrigao presente (legal ou no formalizada) como resultado de evento passado;

    (b) seja provvel que ser necessria uma sada de recursos que incorporam benefcios econmicos para liquidar a obrigao; e

    (c) possa ser feita uma estimativa confivel do valor da obrigao.

    Se essas condies no forem satisfeitas, nenhuma proviso deve ser reconhecida. De uma forma em geral, provises esto atreladas as obrigaes com terceiros e reduzem o lucro, j reservas esto atreladas ao lucro propriamente dito.

    3 METODOLOGIAEste trabalho ir fazer uso de tcnicas de

    pesquisa bibliogrfica e pesquisa descritiva para seu desenvolvimento.

    Lei n 2.627/40 Lei n 6.404/76 Lei n 11.638/07

    Passivo No ExigvelCapital Reservas Legais Reservas Estatutrias Contas de Resultado Pendente Contas de Compensao

    Patrimnio Lquido Capital Social Reservas de Capital Reservas de Reavaliao Reservas de Lucros Lucros ou Prejuzos Acumulados

    Patrimnio Lquido Capital Social Reservas de Capital Ajustes de Avaliao Patrimonial Reservas de Lucros Aes em Tesouraria Prejuzos Acumulados

    Quadro 4 - Comparativo do Patrimnio Lquido

    Fonte: Adaptado de Brasil (1940), Brasil (1976) e Brasil (2007)

  • [email protected] 157Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    Pesquisa bibliogrfica a que se desenvolve ten-tando explicar um problema utilizando o conhe-cimento disponvel a partir das teorias publicadas em livros ou obras congneres. [...] O objetivo da pesquisa bibliogrfica, portanto, o de conhecer e analisar as principais contribuies tericas exis-tentes sobre um determinado tema ou problema, tornando-se um instrumento indispensvel para qualquer tipo de pesquisa. (KCHE, 2009, p.122).

    Segundo Appolinrio (2004, p. 153) pesquisa descritiva : Pesquisa na qual o pesquisador limita-se a descrever o fenmeno observado, sem inferir relaes de causalidade entre as variveis estudadas.

    Ir procurar analisar o problema a partir de referncias tericas como documentos, revistas, artigos cientficos, livros, dissertaes e teses, publicao de rgos reguladores e web sites com aplicao do mtodo dedutivo.

    Aps a coleta de dados sero mensuradas as informaes obtidas, atravs de pesquisa descritiva a fim de realizar anlise comparativa da Estrutura do Patrimnio Lquido com base na Lei n 2.627/40, Lei n 6.404/76 e Lei n 11.638/07.

    4 ANLISE DOS RESULTADOSCom base nos dados obtidos foi possvel elaborar

    o quadro 6, que demonstra as estruturas resumidas do Balano Patrimonial de acordo com o Decreto Lei n 2.627; Lei n 6.404/76 e Lei n 11.638/07.

    Alterao na forma da apresentao do Balano Patrimonial do Decreto Lei n 2.627 para a Lei n 6.404/76. No primeiro as contas eram expostas dos itens menos lquido para os mais lquidos, ou seja, a ordem de liquidez era crescente, j a partir da Lei n 6.404/76, os itens passaram a ser apresentados de uma forma mais parecida com a que utilizamos atualmente. Em relao s alteraes na estrutura do Balano Patrimonial da Lei n 6.404/76 para a Lei n 11.638/07, possvel destacar no Ativo, a excluso do grupo Diferido e a incluso do Intangvel. No passivo, a excluso do grupo Resultado de Exerccios Futuros, e no grupo do Patrimnio Lquido a substituio das Reservas de Reavaliao pelos Ajustes de Avaliao Patrimonial, alm da no mais apresentao da conta Lucros Acumulados, pois com a entrada em vigor da Lei n 11.638/07, esta conta passou a funcionar apenas como uma conta de apurao de resultado, sendo seu saldo distribudo em outras contas no encerramento do exerccio social.

    5 CONSIDERAES FINAISO objetivo deste trabalho foi demonstrar como

    ficou a composio do Patrimnio Lquido aps o a entrada em vigor da Lei n 11.638/07. Para tanto foram utilizados conceitos empregados na literatura contbil brasileira, alm de Leis que tratam sobre a Contabilidade no Brasil.

    Ao longo do trabalho foram mencionados conceitos sobre o que Patrimnio Lquido e as teorias que abordam este tema. Alm de demonstrado as mudanas ocorridas na sua estrutura bsica desde o Decreto Lei n 2.627/40, passando pela Lei n 6.404/76 at a Lei n 11.638/07.

    Lei n 2.627/40 Lei n 6.404/76 Lei n 11.638/07

    ATIVO ATIVO ATIVO

    Ativo Imobilizado Estvel FixoAtivo DisponvelAtivo Realizvel a Curto PrazoAtivo Realizvel a Longo PrazoContas de Resultado PendenteContas de Compensao

    Ativo CirculanteAtivo Realizvel a Longo PrazoAtivo Permanente Investimento Imobilizado Diferido

    Ativo CirculanteAtivo No Circulante Realizvel a Longo Prazo Investimento Imobilizado Intangvel

    PASSIVO PASSIVO PASSIVO

    Passivo Exigvel a Longo PrazoPassivo Exigvel a Curto Prazo

    Passivo CirculantePassivo Exigvel a Longo PrazoResultado de Exerccios Futuros

    Passivo CirculantePassivo No Circulante Exigvel a Longo Prazo

    PASSIVO NO EXIGIVEL PATRIMNIO LQUIDO PATRIMNIO LQUIDO

    Capital Reservas Legais Reservas Estatutrias Contas de Resultado Pendente Contas de Compensao

    Capital Social Reservas de Capital Reservas de Reavaliao Reservas de Lucro (+/-) Lucros ou Prejuzos Acumulados

    Capital SocialReservas de CapitalAjuste de Avaliao PatrimonialReservas de LucroAes em Tesouraria(-) Prejuzos Acumulados

    Quadro 6 - Comparativo das estruturas do Balano Patrimonial

    Fonte: Adaptado de Brasil (1940), Brasil (1976) e Brasil (2007)

  • 158 http://www2.ifsp.edu.br/edu/prp/sinergia Sinergia, So Paulo, v. 15, n. 2, p. 149-158, abr./jun. 2014

    O PATRIMNIO LQUIDO A LUZ DA TEORIA CONTBILAlex Borges/Marcelo Bernardino Arajo/Vilson Vendramin Junior

    As ltimas alteraes implementadas pelas Leis n 11.638 de 2007 e a Lei n 11.941 de 2009, tiveram como objetivo harmonizar a estrutura da contabilidade brasileira as normas internacionais. de se considerar que o Patrimnio Lquido representa um dos principais grupos do Balano Patrimonial, uma vez que neste grupo so registrados tanto o Capital inicial investido pelos proprietrios como o resultado econmico que a empresa apresentou no seu exerccio social.

    Dessa forma, foi possvel chegar concluso que a criao dessas Leis, fez com que a estrutura do patrimnio lquido sofresse alteraes ao longo do tempo. Algumas contas foram criadas, enquanto outras deixaram de existir. Fazendo com que a estrutura atual brasileira ficasse o mais prximo possvel da utilizada pela contabilidade internacional.

    REFERNCIASABE, C. H. S. Teorias contbeis sobre o patrimnio lquido e teoria da renda-acrscimo patrimonial: um estudo interdisciplinar. 2007. Dissertao (Mestrado em Controladoria e Contabilidade: Contabilidade) - Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 10 mar. 2013.

    APPOLINRIO, Fbio. Dicionrio de Metodologia Cientfica: um guia para a produo do conhecimento cientfico. So Paulo: Atlas, 2004.

    BRASIL. Lei n 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende s sociedades de grande porte disposies relativas elaborao e divulgao de demonstraes financeiras. Disponvel em: . Acesso em: 10 mar. 2013.

    ______. Lei n 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a legislao tributria federal relativa ao parcelamento ordinrio de dbitos tributrios; concede remisso nos casos em que especifica; institui regime tributrio de transio. Disponvel em: . Acesso em: 15 mar. 2013.

    ______. Decreto Lei n 2.627, de 26 de setembro de 1940. Dispe sobre as sociedades por aes. Disponivel

    em: . Acesso em: 12 mar. 2013.

    ______. Lei n 6.404.76, de 15 de dezembro de 1976. Dispe sobre as sociedades por aes. Disponivel em: . Acesso em: 24 mar. 2013.

    COMITE DE PRONUNCIAMENTOS CONTBEIS CPC. CPC 00 (R1): Pronunciamento conceitual bsico (R1). Braslia, dez. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 09 mar. 2013.

    ______. CPC 7 (R1): Subveno e assistncia governa-mentais. Braslia, nov. 2010. Disponvel: em . Acesso em: 16 mar. 2013.

    ______. CPC 13: Adoo inicial da lei n 11.638/07 e da medida provisria n 449/08. Braslia, dez. 2008. Disponvel em: . Acesso em: 15 mar. 2013.

    ______. CPC 25: Provises, passivos contingentes e ativos contingentes. Braslia, jun. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 09 mar. 2013.

    HENDRIKSEN, E. S; VAN BREDA, M. Teoria da contabilidade. So Paulo: Atlas, 1999.

    IUDCIBUS, S. et al. Manual de Contabilidade Societria: Aplicvel a todas as sociedade. So Paulo: Atlas, 2010.

    ______. Teoria da contabilidade. 10. ed. So Paulo: Atlas, 2010.

    KCHE, J. C. Fundamentos de metodologia cientifica: Teoria da cincia e iniciao pesquisa. Petrpolis, RJ : Vozes, 2009.

    MARION, J. C. Anlise das demonstraes contbeis: contabilidade empresarial. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2010.

    PEREIRA, Ansio Cndido. Contribuio anlise e estruturao das demonstraes financeiras das sociedades cooperativas brasileiras: Ensaio de abordagem social. Revista USP, So Paulo, SP, Caderno de Estudos FIPECAFI, So Paulo, n.10, p.7-10, maio 1994. Disponvel em: . Acesso em: 16 mar. 2013.

    TOSTES, F. Patrimnio lquido. In: RIBEIRO FILHO, J. F.; LOPES, J.; PEDERNEIRAS, M. (Orgs.). Estudando teoria da contabilidade. So Paulo: Atlas, 2009. Cap. 8, p. 119-134.

    sinergia_2014_v15_n2capa_v15_n2sinergia_2014_v15_n2capa_v15_n2