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O PARÁGRAFO E A REDAÇÃO JURÍDICA “Cometer injustiça é pior do que sofrê-la” (Platão)

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O PARÁGRAFO E A REDAÇÃO JURÍDICA

“Cometer injustiça é pior do que sofrê-la” (Platão)

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Toda narrativa é a exposição de fatos (reais ou fictícios) que se passam em determinado lugar e com certa duração, em atmosfera carregada de elementos circunstanciais. São elementos essenciais da narrativa:a) o quê: o fato que se pretende contar;

b) quem: as partes envolvidas; c) como: o modo como o fato aconteceu; d) quando: a época, o momento, o tempo do fato; e) onde: o registro espacial do fato; f) porquê: a causa ou motivo do fato; g) por isso: resultado ou conseqüência do fato.

O PARÁGRAFO NARRATIVO NA REDAÇÃO JURÍDICA

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1. No dia 15 de maio do corrente ano, o Autor , tendo vendido o Réu o imóvel constituído do apartamento nº 56 do prédio denominado “Monte Castelo”, na Rua José do Patrocínio, 603, confiou a este o telefone de número 813-4672, que ali se encontrava instalado, e do qual o autor é assinante, conforme recibo da TELESP (doc.2).

2. Tal fato se deveu à única e exclusiva circunstância de que, tendo de proceder à entrega do imóvel vendido, nos termos da escritura de compra e venda, lavrada em notas do Tabelião do 26º Oficio, Livro nº 2, fls. 56, não conseguia o Autor a retirada do referido aparelho telefônico, embora tinha pedido, por escrito, tal retirada, desde o dia 16 de maio (doc.3).

PARÁGRAFO NARRATIVO

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Mostra ao leitor como se processa a narrativa: períodos curtos, perfeito do indicativo, indicando no início o tempo dos acontecimentos e demais circunstâncias que permitem revelar como aconteceram os fatos e o porquê deles, para que dessa narrativa se chegue logicamente a uma conclusão, resultado ou conseqüência do fato vivenciado pelas partes envolvidas.

Pequeno trecho de um modelo de Petição

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“Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a intenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomavam juntamente conselho”.(Guimarães Rosa, 1962:32)

Comentários: a narrativa em 1ª pessoa revela a visão do autor em relação ao fato contado. Os verbos no perfeito (consummatum est) trazem a dor da situação real,acontecida. O verbo acontecia (no imperfeito) indica a continuidade da situação no espírito do narrador, porque as horas devem ter-lhe sido penosas e o fato difícil de se aceitá-lo verdadeiro. O momento do texto é o início do clímax, havendo mais intensidade na seqüência dos atos, prenunciando o desfecho.

Exemplo de narrativa:

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A descrição é amplamente empregada na redação jurídica porque a narrativa dos fatos é tecida por meio da descrição desses fatos, buscando os elementos e pormenores que “pintem o quadro”, segundo a versão da parte processual.

A descrição não é uma técnica empregada com exclusividade no mundo jurídico mas que assenta os juízos dissertativos, robustecendo a narrativa dos fatos.

O PARÁGRAFO DESCRITIVO NA REDAÇÃO JURÍDICA

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“Este é o acusado. Um acusado que vem aqui e mente, se Vossas Excelências observarem, hoje ele diz que é casado consta no outro interrogatório que ele estava separado, procura modificar aquilo que já declarou para o próprio juiz, procurando confundi-lo, procurando inverter pequenos detalhes para se amoldar a uma possível e imaginária tese de defesa. É um elemento perigoso, mesquinho, mesquinho porque quando de uma discussão com um funcionário da SAMAE por uma questão de água sacou um revólver e também atirou”.

Veja o discurso da acusação (p. 43-45):

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“Às vezes escapou que, ao invés de justificar, passa a castigar. É o caso, senhores, típico do acusado. Hoje pintaram um quadro aqui, que se não houvesse alguém pra rebater, o acusado apodreceria na cadeia. Excelências, nós vamos nos referir ao acusado o cidadão. Honesto, trabalhador, não é vadio, não é malandro. O acusado foi vítima das circunstâncias. Aconteceu um fato na vida do acusado. O acusado tem uma vida anterior ao crime, e tem uma vida posterior como vou mostrar a Vossas Excelências. Não é como disse a nobre promotoria que o acusado se praticou crimes. É o primeiro. Ele e primário. É o primeiro delito do acusado. O outro, ele já pagou, Excelências”.

A versão da defesa: (p. 81-83)

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exige do redator um posicionamento diante de determinado assunto,

quer expressando sua opinião, quer postulando uma tese.

O PARÁGRAFO DISSERTATIVO NA REDAÇÃO JURÍDICA

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Dissertação expositiva: É a discussão de uma idéia, de um assunto.

A intenção do redator é a de expor um assunto, comentando-o .É bem elaborada quando se discute um assunto com profundidade, de forma clara, estando as idéias “amarradas” a um tópico frasal (uma introdução) que apresente, com segurança, a idéia central.

- Dissertação expositiva/Dissertação argumentativa

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É aquela em que o redator se mune das técnicas de persuasão com o objetivo de convencer o leitor a partilhar de sua opinião ou mudar de ponto de vista. Na atividade jurídica é imprescindível esse tipo de dissertação, por corresponder à própria natureza persuasiva do discurso forense. Entretanto, toda idéia só tem força persuasiva se as razões que a fundamentam estiverem claras e bem sustentadas. Somente as provas podem completar o plano argumentativo.

Dissertação argumentativa

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LEGÍTIMA DEFESA

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O advogado de defesa planeja centrar sua tese na legítima defesa.

Ao levantar os dados constantes dos autos encontra: a) três testemunhas que afirmam ter visto seu cliente provocando a vítima;

b) declaração dos policiais que efetuaram a prisão em flagrante- logo após o homicídio – afirmando estar a vítima desarmada;

c) o laudo médico informa que a vítima foi atacada repentinamente e pelas costas, em face da trajetória das duas balas contra ela disparadas.

Observe:

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Terá que reformular seu plano de defesa, porque as evidências processuais se dirigem pela culpa do cliente e não autorizam a tese pretendida(legítima defesa).

Assim, ou ele muda sua linha defensiva ou busca nos autos evidências mais fortes do que as acusatórias.

Em última análise, não há discurso sem o elemento dissertativo, pois a presença de diferentes opiniões para um só fato se dá pela força argumentativa obrigatória no discurso jurídico.

Percebe o advogado que:

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Retórica —a ciência teorética que investiga a arte da persuasão

SISTEMATIZANDO

§            A retórica pode ser bem ou mal usada, não é ela que é

moral, mas sim quem a utiliza.

§            Pode-se distinguir três domínios: retórica, moral e

verdade.

§            A retórica é a técnica da argumentação do verossímil.

§            A retórica de Aristóteles apresenta-se como retórica

de raciocínio, por oposição a uma retórica das paixões.  

Estrutura da dissertação Aristóteles ,em sua arte retórica

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•Em A Arte da Retórica, Aristóteles define três gêneros de retórica: –Deliberativo – futuro – delibera aconselhando

ou desaconselhando para uma ação futura; –Judiciário – passado – acusação ou defesa

incidem sobre fatos já ocorridos; –Demonstrativo – presente – para elogiar ou censurar se toma sempre por base a

atualidade.

A publicidade é um discurso deliberativo

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Foi Aristóteles quem, segundo Citelli, apresentou o esquema segundo o qual o texto deve ser dividido em quatro partes seqüenciais e integradas: exórdio,desenvolvimento( narração, provas )e peroração. A primeira parte é, na verdade, uma introdução ao que se vai dizer no discurso, de maneira a conquistar a fidelidade do ouvinte. Segue-se à narração, isto é, a argumentação propriamente dita, na qual deve-se apresentar a idéia que se pretende difundir, ou um fato segundo os interesses do orador, a fim de lhe atribuir importância. A terceira parte, as provas, é composta dos elementos que darão sustentação à argumentação sendo, como ensina o autor, a fase do discurso jurídico mais importante. Por último, a peroração, que concluiria o que raciocínio do discurso, de maneira a reforçar as idéias nele defendidas.

Aristóteles em sua arte da retórica,estrutura a dissertação em três partes bem definidas.

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O raciocínio, em geral, é a operação pela qual o espírito, de duas ou mais relações conhecidas, concluí uma outra relação que desta decorre logicamente.

Argumento é a expressão verbal do raciocínio

Raciocínio e argumentação

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a) Apodítico- Do grego apodeiktkós .Possui o tom da verdade inquestionável; a argumentação é redigida com tal grau de fechamento que não resta ao receptor qualquer dúvida quanto à verdade do emissor.

b) Dialético-é aberto a discussões permitindo controvérsias e constetação.

Tipos de raciocínio

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C)Retórico :concilia dados racionais e emocionais;é variante do raciocínio dialético,diferindo-se dele por ampliar o envolvimento do ouvinte alvo

d)Silogístico- segue a estrutura do silogismo:duas proposições(premissas)encadeiam-se e delas e delas se chega a uma conclusão.

Todo círculo é redondo.(premissa maior) Ora,nenhum triangulo é redondo.(premissa

menor) Logo nenhum triangulo é circulo.conclusão.

Tipos de raciocínio

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Por exclusão:o redator propõe várias hipóteses e vai eliminando uma por uma para se fixar no seu objetivo.

Pelo absurdo:consiste em refutar uma asserção ,mostrando-lhe a falta de cabimento ao contrariar a evidência.

De autoridade:a intenção é mais confirmatória do que comprobatória.O argumento apoia-se na validade das declarações de um especialista da questão (que partilha da opinião do redator)

Tipos de argumentação

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1 -Posturas filosóficas

Duas são as posturas básicas na elaboração do parágrafo dissertativo: a dialética e a disputa.

a) Dialética de Platão É o exame da questão polêmica. Pela dialética o redator deve refletir sobre os prós e contras, antes de tomar posição. Em primeiro plano ele analisa a questão “A”, em seguida, coloca ele a questão “B”.

Finalmente, na conclusão ele decide seu posicionamento: opta por “A” ou”B” ou promove a conciliação “AB”. b) Disputa de São Tomás de Aquino

A disputa pressupõe a defesa da tese. O redator irá ter um ponto de vista (sim ou não) sobre determinada questão e apresentará os argumentos que motivaram sua eleição por esta ou aquela postura. Na disputa, os argumentos (não mais do que três, recomenda-se) devem ser distribuídos em gradação crescente, cada qual reforçando o anterior e todos relacionados entre si, rumo à conclusão.

Posturas do emissor na elaboração do parágrafo

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2-Posturas psicológicas

Entende-se por postura psicológica a posição que o observador assume, isto é, de estar mais ou menos envolvido afetivamente com o assunto.

O observador pode ter duas posições:

a) fora do campo observado: Behaviorismo - maior neutralidade; - mais objetividade; - observação centrada no comportamento, realizando relações de causa/efeito entre estímulos e respostas ocorridos dentro do campo observado; - ênfase para substantivos e verbos – agente da ação e ação (e ainda objetos sobre os quais ele recai). b) dentro do campo observado:Gestalt

- o observador envolve-se afetivamente com a realidade observada; - mais subjetividade; - observação centrada na percepção, procurando perceber a estrutura global a partir dos elementos sensoriais;

Posturas do emissor na elaboração do parágrafo

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BibliografiaPortuguês Jurídico :Damião e Henriques –Editora Atual

PORTUGUÊS JURÍDICOPROFESSORA MARIA GLAUCIA QUAGGIO d’ALBERGARIA