o papel dos meios de comunicação na feromação de espaços da...

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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 O PAPEL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE ESPAÇOS DA POLÍTICA EM ESCALA LOCAL Tatiana Lemos dos Santos Borges Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ [email protected] INTRODUÇÃO Este trabalho buscará abordar a relação entre a geografia, o território e as rádios comunitárias. Entende-se que esta será uma análise preliminar em que será feito um panorama das rádios comunitárias brasileiras e uma primeira análise destes dados, levantando assim hipóteses que posteriormente poderão ou não se comprovar. O rádio foi o primeiro meio de comunicação de massa a se instalar no Brasil, em 1922. Desde então ele vem se firmando como um meio de comunicação consistente, capaz de alcançar diversas camadas sociais e de se relacionar diretamente com o cidadão, tornando-se, em alguns momentos da história do país personagem principal do cenário político-eleitoral e da comunicação entre o governo e a população. Ao considerar a efetividade política de um meio de comunicação, Charaudeau (2007) argumenta que todo meio de comunicação é regido por duas lógicas: uma econômica e outra simbólica. O autor entende que a lógica simbólica compreende a vocação que todo meio de comunicação possui para participar diretamente da formação da opinião pública. Desta forma, Ferreira (2006) afirma que o rádio apesar de ser um veículo muitas vezes posto de lado, ele se relaciona claramente com a formação da opinião pública: via de regra, figura como um meio menor, sempre ameaçado pelos meios que lhe sucederam. Primeiro a televisão e, recentemente, a Internet: adventos de grande impacto que colaboraram para formação da imagem do rádio como um veículo obsoleto e ultrapassado. No entanto, ainda hoje, mais de 80 anos após as primeiras transmissões no Brasil, o rádio se mantém como o meio de comunicação de maior alcance e o que tem sido mais diretamente associado à 861

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O PAPEL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NAFORMAÇÃO DE ESPAÇOS DA POLÍTICA EM

ESCALA LOCAL

Tatiana Lemos dos Santos Borges

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

[email protected]

INTRODUÇÃO

Este trabalho buscará abordar a relação entre a geografia, o território e as rádios

comunitárias. Entende-se que esta será uma análise preliminar em que será feito um

panorama das rádios comunitárias brasileiras e uma primeira análise destes dados,

levantando assim hipóteses que posteriormente poderão ou não se comprovar.

O rádio foi o primeiro meio de comunicação de massa a se instalar no Brasil, em

1922. Desde então ele vem se firmando como um meio de comunicação consistente, capaz

de alcançar diversas camadas sociais e de se relacionar diretamente com o cidadão,

tornando-se, em alguns momentos da história do país personagem principal do cenário

político-eleitoral e da comunicação entre o governo e a população.

Ao considerar a efetividade política de um meio de comunicação, Charaudeau

(2007) argumenta que todo meio de comunicação é regido por duas lógicas: uma econômica

e outra simbólica. O autor entende que a lógica simbólica compreende a vocação que todo

meio de comunicação possui para participar diretamente da formação da opinião pública.

Desta forma, Ferreira (2006) afirma que o rádio apesar de ser um veículo muitas vezes posto

de lado, ele se relaciona claramente com a formação da opinião pública:

via de regra, figura como um meio menor, sempre ameaçado pelos meios que

lhe sucederam. Primeiro a televisão e, recentemente, a Internet: adventos de

grande impacto que colaboraram para formação da imagem do rádio como um

veículo obsoleto e ultrapassado. No entanto, ainda hoje, mais de 80 anos após

as primeiras transmissões no Brasil, o rádio se mantém como o meio de

comunicação de maior alcance e o que tem sido mais diretamente associado à

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formação da opinião pública, principalmente dos segmentos historicamente

excluídos. Ele foi e continua sendo um veículo decisivo em várias etapas da

história contemporânea. (FERREIRA, 2006, pp.21)

Como abordado por Ferreira (2006), nas últimas décadas a importância deste

meio de comunicação tem sido subavaliadas (ou depreciadas) em favor de novos meios e

novas tecnologias. Ao mesmo tempo, dados fornecidos pelo Ministério das Comunicações

comprovam que o número de rádios autorizadas no país tem crescido consideravelmente,

chegando, em 2011, ao total de 9.184 emissoras. Destas, 4.196 são comunitárias e 465

educativas. (OBSERVATÓRIO DE IMPRENSA, 2011)

Ao considerarmos a formação da opinião pública como lógica simbólica,

argumentada por Charaudeau, o rádio se destaca. A facilidade de acesso (tanto quanto ao

custo de um aparelho de rádio, quanto pela quantidade de rádios instaladas no país), sua

ubiqüidade no território brasileiro e o fato de acompanhar o ouvinte em diversas atividades

têm feito do rádio um meio de comunicação diferenciado, fazendo parte do cotidiano do

cidadão. Outras características marcantes deste meio de comunicação se destacam: a

facilidade de instalação, o baixo custo de manutenção das emissoras e sua forte relação

com a escala local fazendo dele um meio de comunicação ideal para pequenas

comunidades.

Baptista (2009) acrescenta que ainda na década de 1930, o dramaturgo Bertold

Brecht, propôs modificar a utilização do rádio observando a necessidade de o rádio se

“comunicar” com a sociedade e com as comunidades. Na década de 1970 este texto serviu

para embasar o movimento das rádios livres, que anos depois foi assim reproduzido em seu

manifesto

A rádio poderia ser o mais formidável aparelho de comunicação imaginável para

a vida pública, um enorme sistema de canalização, ou antes, poderia sê-lo, se

não soubesse unicamente emitir, mas receber; não somente fazer o auditor

escutar, mas fazê-lo falar; não isolá-lo, mas colocá-lo em relação com os outros.

Seria então necessário que a rádio abandonasse a sua actividade de

fornecedora, organizasse este aprovisionamento com os próprios auditores.

(MATTELART, 1991:74).

Desta forma, o grande crescimento das rádios comunitárias no país reaviva os

debates sobre o tema e reafirma a tendência de valorização das relações em escala local.

Nesta escala a cidadania se apresenta e a democracia entra em prática, sendo a rádio

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comunitária um novo aspecto destas relações, servindo como mediadora das relações

políticas entre os interesses da comunidade e dos líderes locais. Estas rádios podem servir

como agentes de mobilização local, articulando a comunidade em prol da defesa dos

problemas e questões do lugar, bem como podem ser cooptadas por interesses

particulares, sendo usada com fins meramente eleitoreiros.

ESPAÇO POLÍTICO LOCAL, ESCALAS E TERRITÓRIO

Apesar da temática dos meios de comunicações serem pouco abordada pela

geografia, as rádios comunitárias apresentam uma territorialidade e um aspecto espacial de

grande interesse para a geografia. Estas estão relacionadas a uma ação em diversas escalas,

bem como a formação e mobilização de espaços políticos locais e a política em território

nacional.

A discussão das rádios comunitárias enquanto espaços de formação da opinião

pública é necessária para que possamos compreender qual será a função destas na

formação dos espaços políticos, de decisão e discussão das necessidades e aspirações de

uma determinada comunidade.

Segundo Gomes (2012), o espaço público se caracteriza como o lugar em que se

institui o debate, onde os conflitos tomam forma pública, onde podem surgir soluções e

compromissos, onde os problemas adquirem visibilidade e reconhecimento. O autor ainda

afirma que o espaço público pode ser visto simultaneamente como um lugar material e

imaterial, já que estes são capazes de unir uma dimensão física a uma dimensão abstrata de

comunicação social.

A partir da definição do espaço público é possível relacioná-lo a definição e

principio de uma rádio comunitária. Neste caso a rádio comunitária se caracteriza

justamente por dar voz e visibilidade a necessidades da comunidade em que se insere,

sendo também um espaço de discussão comunitária. Todavia, para atingir as aspirações

apresentadas neste trabalho é preciso buscar avançar na discussão destes espaços,

buscando compreender a dimensão política que lhes é inerente.

Castro (2012) aprofunda a discussão, entendendo que apesar de um espaço

público ser em essência um espaço político, estas definições não devem ser reduzidas uma

a outra. Em artigo de 2004, a autora afirma que existem dois tipos de espaços públicos,

aqueles políticos e não políticos. O espaço não político seria aquele do ver e ser visto, da

publicidade, dos iguais. Em contrapartida o espaço público político seria o das regras

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necessárias ao convívio dos livres diferentes. Neste sentido, Castro (2012) argumenta que

um espaço público político seria um território onde interesses se organizam, as ações

possuem efeitos necessariamente abrangentes em relação à sociedade e ao uso do espaço.

Portanto, a ideia de um espaço da política está relacionada à aceitação de que a política

possui autonomia na vida social e que fenômenos políticos podem qualificar o espaço.

Para a autora o “espaço político seria aquele circunscrito pelas ações das

instituições políticas (instituído) e das forças instituíntes, que lhe conferem um limite, dentro

do qual há efeitos identificáveis e mensuráveis” (Castro, 2012). Portanto, em sua concepção,

o espaço político é:

Delimitado pelas regras e estratégias do poder político; é um espaço dos

interesses e de seus conflitos, da norma, do controle e da coerção legitimados

pelos atores sociais. Em outras palavras, um espaço político demarca um

território onde interesses se organizam, as ações possuem efeitos

necessariamente abrangentes em relação à sociedade e ao seu espaço e onde

existe a possibilidade do recurso à coerção, pela lei ou pela força legítima.

(CASTRO, 1995)

Estes espaços se diferem por ser o lugar do livre enfrentamento das diferenças,

onde a política é utilizada como forma de mediação dos conflitos e interesses. No caso das

comunidades em que as rádios comunitárias se inserem, o espaço político seria justamente

o do debate entre os diferentes, visando aprimorar a convivência social.

Segundo Lourenço (1997) as rádios comunitárias se tornam uma arena pública

de discussão e definição de opinião e posicionamento da própria comunidade, dependendo

do contexto de sua criação e funcionamento.

Portanto, a escolha deste conceito se fundamenta na necessidade de

compreender qual o espaço concreto da política local e como ele se forma, entendendo que

a existência de um meio de comunicação como o rádio, em escala local, terá um papel

diferenciado na formação da opinião pública, na organização destes espaços e na

disseminação de ações e decisões estabelecidas nos mesmos.

Estas rádios apresentam forte ligação com a escala local, principalmente no

espaço urbano. Esta ligação reforça a sua importância, pois sua área de atuação permite um

nível diferenciando de conexão com a comunidade, Ferreira (2006) centra sua discussão no

fato destas rádios permitirem a valorização do “local” e o protagonismo do ouvinte, que

passa a fazer parte de um espaço em que as mensagens são produzidas, passa a ter voz

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ativa, e não apenas destinatário da mesma. Desta forma, o caminho percorrido pelas rádios

livres e comunitárias e as definições atribuídas ao veículo estão ligadas a construção de um

espaço político local.

Logo, a escala deste fenômeno – as rádios comunitárias - é a local, apesar de

compreender a escala como uma construção social, Souza (2013) fornecerá subsídios para a

definição de uma tipologia que auxilie esta análise, de acordo com o autor a escala local é:

A escala local propriamente dita se refere a recortes espaciais que, em graus

variáveis, de acordo com seu tamanho, expressam a possibilidade de uma

vivência pessoal intensa do espaço, para além do nível nano – e, adicionalmente,

a possibilidade de formação de identidades sócio-espaciais bastante particulares

sobre a base dessa vivência (...) precisamente na escala local, a participação

política direta se mostra mais viável, notadamente no que concerne à

possibilidade de interações entre as pessoas em situação de copresença (ou

seja, contatos face a face). (SOUZA, 2013)

Todavia, apesar de entender a escala local como a escala da possibilidade da

participação direta, o autor introduz uma subdivisão que será interessante para o

desenvolvimento das análises propostas neste trabalho, à escala Micro local:

(...) Equivale a recortes territoriais que, a despeito de apresentarem tamanhos

diversos, teriam, todos eles, em comum o fato de que se referem a espaços

passíveis de serem experienciados intensa e diretamente no quotidiano. Esses

recortes (ou subníveis específicos da escala micro local) são, sistematicamente

(...) o quarteirão, o sub-bairro (quando um bairro for grande e complexo a ponto

de comportar diferenciações internas perceptíveis), o bairro, o setor geográfico.

Os diversos subníveis da escala micro local são, além do mais, relevantes do

ponto de vista tanto da auto-organização comunitário-associativa dos cidadãos

(associações e comitês de moradores) quanto do planejamento e da gestão

promovidos pelo Estado (...) é precisamente na escala do quarteirão, do

sub-bairro ou do bairro que os indivíduos poderão constituir instâncias

primárias de tomada de decisão (plenárias, assembléias etc.), e é também nessa

escala que eles poderão monitorar mais eficientemente a implementação de

decisões que influenciam sua qualidade de vida no quotidiano. (SOUZA, 2013)

Portanto, é possível perceber que o fenômeno das rádios comunitárias, por estar

diretamente relacionado a escala local, fornece novos elementos para a discussão política

nas comunidades em que estão inseridas.

Por fim, entende-se que as rádios comunitárias apresentam uma territorialidade

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diferenciada, uma vez que seu raio de atuação é bem delimitado e de curto alcance.

Contudo, a forma como o processo de concessão e outorga é encaminhada faz com que

haja certa aproximação entre a escala local e nacional, esta proximidade muitas vezes tem

levado a utilização deste meio como barganha política.

AS RÁDIOS COMUNITÁRIAS BRASILEIRAS E O FORTALECIMENTO DA ESCALA LOCAL

De acordo com Matos (1994), com o advento da democracia de massa na

sociedade moderna, a política, seja como discurso, estratégia ou ação, não se realiza de

forma eficaz sem a mediação comunicativa e seu suporte: Os meios de comunicação.

As rádios comunitárias brasileiras tiveram origem no movimento de rádios livres

surgido na Europa e nos E.U.A na década de 1970. Estas se caracterizam pelo discurso de

democratização dos meios de comunicação e pela ilegalidade. Contudo, ao mesmo tempo

em que sua formalização visava à construção de uma comunicação mais democrática, o

histórico de seus usos mostram que muitas vezes estas são usadas para manter monopólios

e articular a manutenção de elites políticas locais.

As rádios livres, em essência, se caracterizavam pela tentativa de constituição de

um espaço autônomo de manifestação política longe dos laços institucionais, de acordo com

Guatarri (2005) apud Leal (2007) estas rádios representavam a utopia de ajudar movimentos

de emancipação dos países em que se localizavam.

Andriotti (2004) argumenta que as rádios livres desafiavam o monopólio Estatal

através de transmissões ilegais, segundo a autora seus integrantes buscavam a

democratização dos meios de comunicação e elas seriam na realidade as precursoras dos

movimentos democratizantes que surgiriam nos anos 80. Uma das principais características

destas rádios seria o caráter coletivo de sua gestão. Todavia, autores como Cunha (2005) e

Cheval (2003) apud Leal (2007), argumentam que estas rádios não desafiariam o monopólio

Estatal, uma vez que não questionariam o modelo de concessão por parte do Estado, suas

reivindicações giravam em torno do modelo econômico das rádios comerciais.

De acordo com a autora, “As rádios livres criadas nas décadas de 1970 e 1980

em vários países do mundo podem ser compreendidas como resultado do rompimento do

estado de subordinação da sociedade civil em relação à estrutura organizativa da mídia

oficial” (LEAL, 2007. p. 112)

No Brasil, assim como em países europeus, as rádios livres foram importantes

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para a consolidação e institucionalização das rádios comunitárias. Esta luta pela

institucionalização destas rádios ganhou ecos nacionais durante a constituinte e o processo

de redemocratização, dando destaque principalmente a discussão sobre a democratização

da mídia. De acordo com Leal (2007), este tipo de rádio se proliferou pelo mundo, com

diferentes designações em diversos países, e em contextos de instalação diversos, contudo

sua bandeira sempre foi a democratização do acesso a comunicação. Para a autora:

Na América do Norte, como em alguns países na América Latina (Brasil e

Colômbia),utiliza-se mais o termo “rádios comunitárias” para designar o

pertencimento da rádio local a uma comunidade religiosa ou à sociedade civil,

geograficamente limitada. Nos países de tradição legal anglo-saxão, a rádio local,

também designada mídia comunitária, está atrelada ao significado do termo

comunidade remetendo-se, assim, a um conjunto de pessoas que compartilham

uma dimensão humana, um assento territorial e um poder de ação local. A rádio

livre é o termo utilizado na Europa latina para colocar em destaque um espaço

de liberdade da palavra fora das estruturas do Estado e da iniciativa privada

comercial. As rádios educativas na África designam as experiências de utilização

das mídias eletrônicas com finalidade de alfabetização e de desenvolvimento.

Mas na América existem redes de estações educativas públicas, às vezes, ligadas

a universidades. (LEAL, 2007, p. 114)

Na América Latina espanhola1, estas rádios sempre foram vinculadas a

movimentos de protesto político e econômico, principalmente na época das ditaduras

impostas no continente. Neste período foram intituladas de rádios populares. Em um

primeiro momento, por não haver nenhum tipo de regulação sobre este tipo de rádio, estas

eram tomadas como um modelo de comunicação alternativa a radiodifusão comercial e

tradicional. Este viés não é mais comum a estas rádios, uma vez que após sua

regulamentação estas passaram a não concorrer com rádios comerciais tradicionais, se

tornando uma forma de mobilização restrita a escala local.

Considerando o contexto em que as rádios comunitárias se institucionalizaram

no país, Perruzo (2003) define as rádios comunitárias como tendo a finalidade de servir à

comunidade e contribuir efetivamente para o desenvolvimento social e a construção da

cidadania. A autora ainda afirma que a programação destas rádios deve ser definida de

forma a se centrar na realidade da comunidade, preocupando-se principalmente com a

difusão da cultura e compromisso com a cidadania.

1 A escolha do termo se deu na tentativa de diferenciar o processo ocorrido no Brasil do processo pelo qual as rádios livres passaram em outros países da América Latina.

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Entretanto, Leal (2007) acredita que a definição dos usos das rádios livres ou

comunitárias é permeada por uma lógica ambígua, de acordo com a autora:

(...) Às rádios livres, compreendidas também como piratas, desde sua origem na

Europa, oscilam entre finalidade publicitária, como negócio rentável, como um

veículo para divulgação de mercadorias e suas marcas, como também são

percebidas pelas suas atribuições sociopolíticas e culturais, vinculadas a

movimentos sociais, protestos coletivos, comprometidas com o questionamento

do monopólio estatal ou privado dos meios de comunicação, inspiradas na

perspectiva do exercício direto da democracia. (LEAL, 2007. P. 120)

Todavia, enquanto na América Latina estas rádios surgiram como forma de

comunicação e levantamento das bandeiras dos operários, trabalhadores rurais, indígenas e

povos marginalizados, no Brasil, a institucionalização das rádios comunitárias não passou

por este histórico de guerrilhas, porém, não se pode negar o papel político destas uma vez

que muitas vezes estão relacionadas a denuncia de injustiças sociais contra a população

local.

Como já apontado, o movimento das rádios locais brasileiras coincide o declínio

da ditadura militar e a luta pela democratização do país. Leal (2007) argumenta que apesar

desta busca pela democratização das comunicações, no Brasil, a comunicação sempre

esteve fortemente atrelada a grandes famílias detentoras de concessões de outorga,

formando grandes conglomerados de comunicação que dominam o setor. Portanto, a luta

pela institucionalização das rádios locais brasileiras enfrentou fortes barreiras por parte

destes grandes conglomerados que dominam o setor. Contudo, Lima e Lopes argumentam

que as rádios comunitárias não se apresentam como um contraponto para a este modelo

dominante. Para os autores:

No entanto, não se pretende afirmar que as rádioscomunitárias como meios de

comunicação locais, sem fins lucrativos, representem a contra-hegemonia, no

sentido gramisciano do termo, sobretudo porque a concentração da apropriação

privada e teleológica recorrente no cenário da mídia de grande alcance tem se

reproduzido nomeio das rádios comunitárias. (LIMA e LOPES, 2007).

Desta forma, as rádios comunitárias brasileiras, mesmo que se caracterizem

legalmente como um mecanismo de democratização da mídia, muitas vezes tem se

mostrado como um mecanismo de reprodução de velhos vínculos políticos.

O reconhecimento destas rádios e sua legalização só ocorreram em 1998 a partir

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da Lei nº 9.612, desde então estas apresentam um crescimento constante, apesar da

quantidade de processos de outorga que ainda estão em tramitação. De acordo com o

Ministério das Comunicações (2013) define radiodifusão comunitária como:

Radiodifusão de sons, em frequência modulada (FM), de baixa potência (25

Watts – 1 Km), que dá condições à comunidade de ter um canal de comunicação

inteiramente dedicado a ela, abrindo oportunidade para divulgação de suas

ideias, manifestações culturais, tradições e hábitos sociais (...). As entidades

detentoras de outorga para execução do serviço de radiodifusão comunitária

devem ser abertas à participação de todos os residentes na área de cobertura da

rádio, bem como a sua programação deve ser aberta à participação da

sociedade (...). Uma rádio comunitária não pode ter fins lucrativos nem vínculos

de qualquer tipo, tais como: partidos políticos, instituições religiosas etc.

(MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2013, s/p)

Atualmente o Brasil conta com 4.888 rádios comunitárias, estima-se que em

2011 o Ministério das Comunicações possuía mais de 11.000 projetos ainda não analisados.

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Figura 1 – Localização das rádios comunitárias brasileiras

Fonte: Ministério das Comunicações, Anatel e IBGE.

A análise da imagem acima remete não somente ao grande número de rádios na

faixa litorânea como também aponta a ubiqüidade do fenômeno, pois mesmo sendo de

menor densidade do interior, como no Centro-Oeste e no Norte do país, estas rádios ainda

estão presentes nestas áreas mostrando o quanto estão se disseminando e como seu papel

pode ser diferencial, por diversos motivos, em diferentes áreas.

Esta forte presença das rádios comunitárias em todo o território também pode

ser atribuída a um diferencial destas rádios, seu baixo custo de instalação e manutenção.

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Segundo a AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitárias):

No Brasil, a popularidade desse tipo de emissoras entre as comunidades se deve

em muito às facilidades técnicas e ao baixo custo de instalação do meio, além de

sua abrangência e universalidade. No aspecto político e social, a multiplicação

das rádios comunitárias, no início da década de 1980, coincide com o processo

de reabertura democrática, sendo, ao mesmo tempo, consequência e

instrumento da então recente rearticulação da sociedade civil por

transformações políticas e sociais (...)É importante notar que as rádios

comunitárias brasileiras iam surgindo justamente em regiões economicamente

desfavorecidas e muitas vezes distantes dos grandes centros urbanos. Após uma

rápida articulação, a comunidade já conseguia os recursos e o equipamento

necessários para montar uma rádio de baixa potência: ali se formava um novo

canal de informação e mais um espaço de articulação para os atores sociais

locais. (AMARC, S/D)

Portanto, o grande crescimento de rádios comunitárias no Brasil pode

representar sua forte ligação com o espaço político local, suas necessidades e bandeiras.

Contudo, como veremos a seguir, o modelo de concessão de radiodifusão comunitária no

Brasil apresenta um contraponto ao objetivo inicial destas rádios ao centralizar a decisão na

esfera federal, articulando-a a escala local ao mesmo tempo em que promove a utilização

das mesmas para fins próprios e políticos.

O modelo de Concessão brasileiro e o uso político da RADCOM

O modelo de concessão de outorgas de radiodifusão no Brasil tem sido

duramente criticado ao longo dos últimos anos. Todavia, quando se aborda a temática das

rádios comunitárias o problema da concessão da radiodifusão brasileira se acentua,

mostrando como as diferentes escalas políticas interagem ao mesmo tempo em que mostra

como este meio de comunicação pode ser utilizado como estratégia eleitoral de

determinados candidatos para sua eleição.

Conforme já abordado, a legislação brasileira, apesar de definir regras rígidas

sobre o conteúdo a ser veiculado pelas rádios comunitárias parte de um pressuposto

territorial para defini-las, são rádios comunitárias aquelas que têm alcance máximo de 1 km,

atendendo somente a pequenos bairros e vilas.

Atualmente as outorgas destinadas a radiodifusão comunitária são concedidas

pelo Ministério das Comunicações e autorizadas pelo Congresso Nacional. Isto ocorre

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porque a constituição nacional define que a única esfera capaz de legislar sobre a

telecomunicação e a radiodifusão é a esfera federal. Desta forma, a radiodifusão

comunitária que atua em escala local tem de se articular a esfera nacional para que possa

funcionar.

Para que uma comunidade receba uma rádio comunitária esta deve

primeiramente manifestar junto ao MinCom o desejo de sediar uma rádio, em seguida o

ministério analisará a viabilidade e dará seu parecer quanto a instalação da mesma. Por

último os gestores da rádio deverão entregar toda a documentação que comprove estar

cumprindo com todos os requisitos e após a análise desta o ministério deferirá ou não o

pedido, se deferido o processo segue para o congresso nacional onde a outorga é

autorizada por um período de dez anos, renováveis por mais dez.

Todo este trajeto é demorado, o que tem levado a um grande número de

processos parados no ministério e de rádios piratas em funcionamento. A centralização

desta etapa em esfera federal tem feito com que muitas das rádios que são autorizadas

tenham apadrinhamento político, levando a um quadro chamado de coronelismo eletrônico.

De acordo com Santos (2006):

(...) Desse modo, chamamos de coronelismo eletrônico o sistema organizacional

da recente estrutura brasileira de comunicações, baseado no compromisso

recíproco entre poder nacional e poder local, configurando uma complexa rede

de influências entre o poder público e o poder privado dos chefes locais,

proprietários de meios de comunicação. (SANTOS, 2006, p. 9)

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Figura 2 – Rádios Comunitárias por Município

Fonte: Ministério das Comunicações, Anatel e IBGE

A figura acima apresenta o número de rádios comunitárias por município no

Brasil. É possível perceber que a centralização do processo decisório das rádios

comunitárias em escala federal tem causado certa concentração destas rádios em

municípios mais populosos, capitais e áreas de maior visibilidade. Destacam-se, portanto,

Brasília e São Paulo como as cidades que possuem maior número de rádios comunitárias,

leva-se em consideração que Brasília está no centro deste processo decisório e São Paulo o

principal centro financeiro no país. Destacam-se também outras capitais como Porto Alegre

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e Maceió. Há também uma faixa no Noroeste do Rio Grande do Sul que analisaremos mais a

frente.

OS DIVERSOS USOS DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS NO BRASIL

Ao longo desta abordagem é possível perceber que a radiodifusão comunitária

foi pensada para suprir a lacuna da comunicação local, tendo como objetivo reunir a

população de determinada comunidade e mobilizá-la em prol de assuntos e demandas

locais. Lourenço (1997) vincula a discussão das rádios comunitárias com a esfera pública

proposta por Habermans (1984), ele argumenta que na medida em que existe uma

superexposição de um determinado tema – ou uma opinião pública específica – na esfera

pública, torna-se inevitável à atenção por parte das autoridades políticas, dando destaque às

demandas de comunidades ou grupos menores. Desta forma, o autor acredita que as rádios

comunitárias se tornariam uma arena pública de discussão e definição de opinião e

posicionamento da própria comunidade, é claro, dependendo do contexto de sua criação e

funcionamento. Contudo, o que se apresenta é um quadro onde estas rádios têm servido

em grande parte como mecanismo para a preservação e expansão do eleitorado, em suas

bases locais, de determinados políticos.

Apesar de não permitido por lei que rádios comunitárias tenham qualquer tipo

de ligação com políticos, Lima e Lopes (2007) acreditam existir um novo tipo de coronelismo

eletrônico. Para os mesmos após a constituição de 1988, quando o município passa a ter

maior autonomia e importância na organização política nacional este fenômeno se

intensifica. Neste contexto de valorização da política local este novo tipo de coronelismo se

desenvolve, direcionando-se as permissões e autorizações destinadas a comunidades locais.

Portanto, apesar de concebida para valorizar comunidades locais e servir como

arena de debates e discussões, sendo de livre acesso aos moradores das mesmas, o uso

dessas rádios tem sido subvertido em algumas comunidades. De acordo com Lima e Lopes:

“As rádios comunitárias, na sua maioria, são controladas, direta ou

indiretamente, por políticos locais – vereadores, prefeitos, candidatos

derrotados a esses cargos, líderes partidários – vindo num distante segundo

lugar o vínculo religioso, predominantemente da Igreja Católica. Vereadores,

prefeitos, candidatos derrotados a esses cargos, líderes partidários representam,

portanto, uma nova mediação dentro do sistema maior do coronelismo

eletrônico que sobrevive como prática política, nem sempre bem-sucedida, mas

ainda fundamental em muitos municípios brasileiros.” (LIMA e LOPES, 2007).

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A forma de concessão e o fato de que o órgão regulamentador destas rádios se

encontra centralizado na capital federal a fiscalização e o combate às rádios dominadas por

políticos. Todavia, torna-se necessária uma análise concreta destes dados, uma vez que

apesar deste aparente domínio de rádios com fins políticos e pessoais, estas em muitos

espaços serão importantes para a comunicação e mobilização locais.

Figura 3.0 – Rádios Comunitárias/População Municipal2

Fonte: Ministério das Comunicações, Anatel e IBGE

2 Para facilitar a análise os dados das rádios foram divididos por 1.000 habitantes: RadCom/1.000 hab.

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Na figura acima é considerado o número de rádios por 1000 habitantes. Esta

figura se diferencia das outras por mostrar o coeficiente de rádios considerando-se o peso

da população municipal. Nesta destacam-se principalmente Tocantins, Paraíba, Goiás,

Roraima, Amapá e mais uma vez o Noroeste do Rio Grande do Sul.

Ressalta-se que o fato de estados não tão populosos apresentarem um alto

número de rádios pelo total da população pode estar diretamente relacionado ao poder dos

grupos políticos locais (já tradicionais nestas regiões) e sua forte ligação com o poder

central, evidenciando que a relação entre estas escalas não depende somente da força

política de mobilização da população local. Contudo, não se pode atribuir a estas elites locais

o peso pela instalação de uma RadCom, este também pode estar ligado ao histórico de

ativismo e mobilização de uma comunidade, como no caso da região norte do país onde há

relatos de que as rádios tem papel importante na comunicação ao longo dos rios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho tentou mostrar como a geografia poderá contribuir com a temática

das rádios comunitárias em diversos aspectos. Entender a comunicação comunitária como

instância importante para a percepção do funcionamento da política para além dos meios

institucionais, mesmo que este seja um meio criado e regulamentado pela maquina estatal,

revela sua importância para a percepção das espacialidades da política e sua relação com as

articulações de base e formas não institucionalizadas de participação, como as associações

de moradores e organizações políticas locais.

Portanto, por fim serão pontuadas as principais contribuições e conclusões as

quais este trabalho chegou:

• A articulação direta entre a escala local e a nacional por meio do processo de

outorga e licença que é centralizado.

• A mobilização dos espaços da política em escala local, estas rádios, como todo

meio de comunicação, possuem um poder de mobilização diferenciado principalmente pelo

seu raio de alcance.

• O maior número de rádios comunitárias em grandes capitais e no espaço

urbano.

• O contraste entre o valor absoluto e o percentual de rádios pela população, a

força das elites locais que através de barganha política consegue obter licença para

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municípios menores.

Este trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado sobre Meios de

Comunicação, Política e Espaço Político, na qual muitas das lacunas não abordadas neste

trabalho serão tema de debate. Dentro da temática ainda se inserem outros trabalhos

realizados dentro do Grupo de Pesquisa sobre Política e Território – GEOPPOL – coordenado

pela Profª Dr.ª Iná Elias de Castro no Programa de Pós graduação em Geografia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPGG UFRJ.

REFERÊNCIAS

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O PAPEL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE ESPAÇOSDA POLÍTICA EM ESCALA LOCAL

EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas

RESUMO

A prática democrática se constrói no cotidiano, por meio das relações locais e das formas de

deliberação e formação da opinião pública. A esfera local ressalta sua importância e se apresenta

como a escala onde a democracia realmente acontece e a política é posta em prática. Neste

sentido, compreender como a política local toma forma e quais são os diferentes atores na

formação da opinião pública se torna um grande desafio.

Ao analisarmos esses atores, devemos destacar a importância da comunicação para a construção

da opinião pública, nesta escala, mais especificamente, do rádio. Segundo Regô (2008), as

relações com a imprensa e sua instrumentalização, constituem uma forma de exercer poder

simbólico. A tentativa de controlar uma radiodifusão são meios importantes de acumular poder. A

lógica do poder simbólico fornecido pelos meios de comunicação tanto pode servir para o

controle dos mesmos por meio de políticos e da classe hegemônica, quanto servir como

mecanismo de organização e mobilização da política local e seus espaços. Desta forma, o papel

das rádios comunitárias no espaço urbano tem tido grande destaque, estimulando o numeroso

crescimento das mesmas.

Em 2011 o Brasil contava com 9.184 emissoras de rádio, das quais 4.196 eram comunitárias. Este

número corrobora com a hipótese de valorização da escala local, sendo as rádios comunitárias

mediadoras das relações políticas entre os interesses da comunidade e líderes locais.

Para compreender o papel destas no espaço urbano e na formação da opinião pública, tornam-se

necessários dois tipos de análises: Uma quantitativa, abordando a ubiqüidade destas no território,

e uma análise local, sobre como estas rádios funcionam, seus discursos e usos. Por se tratar de

um extenso trabalho, nesta etapa serão apresentados os principais resultados concernentes a

primeira etapa metodológica.

Para cumprir a proposta metodológica apresentada serão elaborados mapas e gráficos para

demonstrar a ubiqüidade destas, bem como sua presença no espaço urbano. Outros dados sobre

como estas rádios se impõem neste espaço e suas possíveis localizações serão levantados e

tabulados, a fim de responder a questão inicial sobre a presença destas rádios e sua real inserção

na política local. Resultados iniciais dão conta da forte presença do rádio em todo o território

nacional, com ênfase para a presença das rádios comunitárias que em sua maioria tem se

localizado nas grandes cidades.

Por fim, este trabalho faz parte de uma pesquisa ampla, que se tornará uma dissertação de

mestrado a ser defendida no Programa de Pós Graduação em Geografia – PPGG - da

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sendo os questionamentos e resultados apresentados

neste resumo de extrema importância para a redação final do trabalho, se inserindo num

panorama geral da relação entre o espaço urbano, a comunicação comunitária e a política local.

Palavras-chave: democracia; rádios comunitárias; espaços políticos.

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