O ouro das Minas e o O ouro das Minas e o BarrocoBarroco

Professor Rodolfo Alves Pereira

Origens do BarrocoOrigens do Barroco

A arte barroca surge na Itália, no século XVII, em um contexto de mudanças econômicas, sociais e religiosas. Ver mais sobre barroco na Europa (http://educacao.uol.com.br/artes/barroco-na-europa.jhtm)

O barroco ocorre no Brasil entre os séculos XVII e XVIII. A influência do barroco brasileiro é européia, sobretudo, ibérica

(Portugal e Espanha). O barroco está profundamente interligado a religião, e a tentativa

da Igreja Católica de retomar o prestígio abalado pela Reforma Protestante e o Renascimento cultural que ocorreu na Europa, ao longo dos séculos XV e XVI.

O estilo barroco influenciou as manifestações culturais e artísticas do Brasil colônia e chegou aqui através dos colonizadores.

A descoberta de ouro e pedras preciosas acelerou o processo de urbanização no interior da colônia. As cidades enriqueciam e as Irmandades tornavam as Igrejas cada vez mais exuberantes, o que contribuiu para a formação de um valioso acervo artístico e arquitetônico, que podemos admirar até os dias de hoje, nas cidades onde o barroco existiu.

O barroco também influenciou a produção literária e a obra de alguns escritores no Brasil, como Gregório de Matos e Padre Vieira.

2

Características gerais do BarrocoCaracterísticas gerais do Barroco

Na literatura:“valorização exagerada da forma, que resultou numa literatura marcada pelo rebuscamento da linguagem, sobrecarregando o texto com figuras de estilo, como a metáfora, a alegoria, a hipérbole e a antítese.”

Acentua a emoção sobre a razão pregada pelo renascimento. Pintura realista, com cores marcantes e efeitos visuais de luz. Escultura exaltava as curvas e os detalhes. Os personagens

revelam emoções e são carregados de dramaticidade. Música: ritmos enérgicos e dramáticos, com a finalidade de

emocionar o ouvinte. Destaca-se o italiano Vivaldi e o alemão Bach.

3

Principais nomes do barroco brasileiroPrincipais nomes do barroco brasileiro

LITERATURA Gregório de Matos (1623-1696): Gregório passou pela vida a criticar e

ridicularizar os vícios, desmandos e torpezas dos colonizadores, da política local, da igreja católica, da nobreza, dos padres, dos governadores, dos comerciantes mercantilistas e da empáfia dos mulatos. Quase ninguém escapou das suas observações mordazes, por isso tornou-se popular, temido e odiado.

Seus temas mais frequentes eram a religião, o amor, os costumes, reflexão moral e também o sensualismo e o erotismo, além da sátira social.

Veja no slide a seguir um trecho de poema de Gregório:

4

Poema de Gregório de MatosPoema de Gregório de Matos

A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar a cabana e vinha,

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para o levar à praça, e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,

Traziam sob os pés de homens nobres,

Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam muito pobres,

Eis aqui a cidade da Bahia. (BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1996.).

5

Padre Antônio Vieira (1608-1697): Seu interesse maior era a catequese

dos índios. Para isso aprendeu suas línguas e percorreu por cinco anos as aldeias indígenas da Bahia, pregando para os nativos. Tal interesse o fez defender os índios do cativeiro, provocando a raiva dos colonos, que queriam escravizá-los no trabalho da lavoura e das minas.

Em 1653, no Maranhão, o "Paiaçu" (Padre Grande) - como o chamavam os índios - fez o "Sermão da Primeira Dominga da Quaresma" defendendo os nativos da escravidão, comparando-os aos hebreus escravizados no Egito. Esta é a técnica da analogia, uma das muitas que caracterizam o texto barroco.

Confira um trecho da obra de Padre Vieira:

6

Trecho do Sermão da Sexagésima de Pe. Trecho do Sermão da Sexagésima de Pe. Antônio VieiraAntônio Vieira

“O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um...”

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000034.pdf

acesso em 16 out 2011.

7

O Barroco na Arquitetura e nas artesO Barroco na Arquitetura e nas artes

A arquitetura barroca alterou a fachada das igrejas; Os Arquitetos, pintores e escultores tinham a "missão" de

transformar as igrejas em espaços cênicos para a representação de uma espécie de "teatro sagrado". A meta era converter ao catolicismo todas as pessoas;

No Renascimento, pregava-se a força da razão sobre a emoção e as figuras eram representadas de forma estática, como se estivessem posando para um retrato;

No Barroco o conceito é outro. Para exaltar os sentimentos, as cenas são representadas de forma teatral, isto é, os personagens parecem estar em movimento e a religiosidade é expressa de forma dramática, de forma a atingir, inclusive, a emoção de quem observa o quadro;

O Barroco também apresenta como característica a oposição entre o poder humano e o poder divino, o céu e o inferno, o antropocentrismo e o teocentrismo.

No Brasil, o estilo barroco foi estimulado e patrocinado pelas irmandades religiosas. Assim, igrejas, pinturas, esculturas e altares ricamente decorados começaram a surgir em Salvador, Minas Gerais e no Sul, no século XVIII.

8

A riqueza das Minas GeraisA riqueza das Minas Gerais Pela participação de escravos e índios, o

barroco é considerado, por muitos historiadores da arte, a primeira manifestação artística e cultural genuinamente brasileira.

O ouro, descoberto principalmente em Minas Gerais, além de enriquecer os cofres portugueses, transformou a sociedade brasileira.

As cidades cresceram e enriqueceram e as construções se aprimoraram graças à corrida em busca do ouro.

No entanto, as cidades litorâneas do Nordeste (Recife e Salvador) também assistiram à estética barroca, financiada pela cana-de-açúcar.

Os escravos produziam os frisos, entalhes das igrejas.

Eles dominavam a metalurgia, a fabricação de cerâmica e a escultura em madeira.

Como o barroco tinha a intenção de converter todos ao catolicismo, aceitava-se a contribuição de índios e escravos na arte. Exemplo disto são as representações de imagens de santos com traços étnicos africanos e peças de teatro escritas pelo padre José de Anchieta para serem representadas pelos índios nas igrejas.

Vamos observar imagens sobre o barroco mineiro e a riqueza de nosso patrimônio histórico: 9

Igreja de São Francisco de Assis

Ouro Preto (MG). Iniciada em 1766. Aleijadinho fez os

riscos gerais do prédio.

Ele também fez esculturas para a portada e o púlpito.

Mestre Ataíde pintou o teto, representando Nossa Senhora.

Nossa senhora é retratada como uma mulata, o que indica a influência local, de índios e negros, sobre a arte barroca.

10

Detalhes do altar e do teto da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Observe que na pintura do teto Nossa Senhora, personagem central, é retratada como uma mulata, tipicamente brasileira, miscigenada.

11

Matriz N. Sra. do Pilar

Ouro Preto (MG). Inaugurada em

1733. Projeto atribuído a

Pedro Gomes Chaves.

Possui talha coberta de ouro e mais de quatrocentos anjos esculpidos.

Para decorar a igreja foram utilizados 400 kg de ouro e mais 400 kg de prata.

12

A Matriz Nossa Senhora do Pilar é ricamente decorada com ouro e prata. Acima temos detalhes da parede do altar.

13

Igreja São Francisco de Assis

São João Del Rei (MG).

Construção: 1774

Aleijadinho participou desta obra, fez a portada e projetou os detalhes esculpidos na frente da Igreja.

14

Antônio Francisco da Costa Antônio Francisco da Costa Lisboa (Aleijadinho) 1730 - Lisboa (Aleijadinho) 1730 - 18141814 Escultor e entalhador, filho de um português com uma

escrava. Nasceu em Vila Rica (Ouro Preto). Aos 40 anos de idade contraiu grave doença, que o

deixou deformado. Apesar da doença continuou esculpindo. Suas obras mais famosas são o conjunto do Santuário de

Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo, um patrimônio histórico e artístico com 66 imagens esculpidas em madeira de cedro (1796-1799) e os 12 majestosos profetas em pedra-sabão (1800-1805).

Seus trabalhos podem ser vistos em Ouro Preto, Sabará e em outras cidades mineiras.

Aprecie a seguir algumas das grandes obras de Aleijadinho.

15

16

Ceia [A Última Ceia] , 1795 - 1796 madeira policromada Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)

17

Colocação na Cruz [A Crucificação] , 1796 - 1799 madeira policromada Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)

18

Profeta Baruc (Adro da Basílica de Congonhas) , 1800 - 1805 pedra-sabão Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas do Campo, MG)

Manuel da Costa Manuel da Costa Ataíde(Mestre Ataíde) 1762-Ataíde(Mestre Ataíde) 1762-18371837 Nasceu em Mariana (MG). Foi um dos pintores mais

importantes do barroco mineiro. Seus painéis e telas podem ser vistos em 18 igrejas

de Minas Gerais. Sua obra mais famosa está pintada no teto da igreja

de São Francisco de Assis, em Outro Preto.

19

20

Assunção da Virgem 1804/1087 e Nave da Igreja de São Francisco.

RococóRococóEstilo artístico que se desenvolveu na

Europa no século XVIII.Era mais leve e intimista do que o estilo

Barroco. Suas características eram: o uso de dourado, formas de curvas e de elementos decorativos, como laços e flores. Era usado, inicialmente, em decoração de interiores.

O rococó se desenvolveu no Brasil no mesmo período em que a extração do ouro começava a diminuir. Assim sendo, os artistas começaram a utilizar cores mais leves, como o branco, tons claros de rosa, azul em substituição do dourado.

21