livro tapie victor o-barroco

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco http://slidepdf.com/reader/full/livro-tapie-victor-o-barroco 1/58 .  . () BAR ROCO .Victor L. Tapié O livro ora em mãos do leitor, O Barroco de Victor-L. Tapi6, é parte de uma série, Atualização Cultural , que objcti· va oferecer- nos l m b alanço, seguido de visão crítico be m ( un· damentacla , d e assun t os bas t an t e vivos nos dias que corre m. Dividido em duas secções, Concepções B arrocas e Experi ên· cias Barrocas , o vo l ume examina esse fenômeno de arte nota damente nos séculos XVII c XV II I, sem esconder do leitor observações realmente novas e sugestivas concernentes ao estilo que muitos re put a m ser de glória, outros digno dos períodos de decad6ncia , mas que , todavi a, emi>restou às cidades históricas de Minas o seu faus to e o ar sempiterno qu e ressu mam. Sem sombra de dúvida, a obra será de muita utilidade nos cursos de graduação e pós - graduação na área das Ciências Humanas. EDITORA CU L TRIX / EDITORA DA UN IVERS ID ADE DE SÃO PAULO ··; . B RROCO Victor L. . Tapié · . . Editora Cu r b Edi t ora da UnMrsJd d de lo aulo

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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.

 

.

() BARROCO

.Victor L. Tapié

O livro ora em mãos do leitor, O Barroco de Victor-L.

Tapi6,

é

parte de uma série, Atualização Cultural , que objcti·

va oferece

r-

nos

l

m balanço, seguido de visão crítico bem (un·

damentacla, de assuntos bastan te vivos nos dias que

co

rrem.

Dividido em duas secções, Concepções Barrocas  e

Expe

riên·

cias Barrocas , o volume examina esse fenômeno de arte nota

damente nos séculos XVII c XVII I, sem esconder do leitor

observações realmente novas e sugestivas concernentes ao estilo

que muitos rep

ut

am ser de glória, outros digno dos períodos de

decad6ncia , mas que, todavia, emi>restou às cidades históricas

de Minas o seu fausto e o ar sempiterno

qu

e ressumam.

Sem sombra de dúvida, a obra será de muita utilidade

nos cursos de graduação e pós-graduação na área das Ciências

Humanas.

EDITORA

CU

LTRIX/

EDITORA DA UN IVERSIDADE DE SÃO PAULO

··;

.

B RROCO

Victor L..

Tapié

· . .

Editora

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I

r.

--

 

-

...

-

cr

1< 

utras

ob

ras

de

interesse 

Li

TERATURA E ARTES VISUAIS. de

Mario Praz

Este livro

co

nstitui indubituvelmcnte

uma

im

portante

contribuição para

a bibliograua da

Estética Comparada. Nele se desenha um vasto

: pai nel das escolas

de

Literat

ur

a, de

Pintur

a

· c de Arquitetura,

com

ilu>traçõcs copiosas e

pertinentes, fielmente

rep

rodu

zidas

na

pre·

sente edição

b r a ~ l e i r a .

O

capítulo

111,

' '

lden·

tidade de estrutura

nu

ma va riedade

de

meios",

representa um vn lioso contt·ibuto metodológico

para

um

a

aproximação

ent

re Lítcrotura

e

r t ~

Visuois. O

capitulo VI, Estrutu

ra teles·

cópico, microscópica c fotosrop

ica

, é bastante

fér

til e

suge>tivo em aproximações:

o

Aut

or

c.• tnbelece relações e ntre Lite

ratura

e Pi

ntu

ra

em

diversas épocas

e con

texto.s socioculturais,

da Renascença ao seeulo XX, che&ando, de

certo

modo, a un1a tipologia de toJn8S; M

parulclos fascinantes

ent

re

El Greg

o

e

Bosch .

Goya e Beckctt et

c.

ESTé

TI

CA DO

CINEMA, de

enri

Age

Henri Age analisa em t

étic I do Cinema

s

prindpais concepções

do

cinema como arte.

A

< Omeçar

dos que, como

Gancc,

Epstein ou

Reué Clair,

o

vêe

m como instr

um

ent

o

po

ético

m

ois

~ o c u p a d o com a su rrealidade do q

ue

com

o

mundo

cotidiano. Depoi•,

com s que

quiseram fazer

dele

um fiel espelho

da

reoli·

dade contemporânea, u ex

emp

lo

dos

realistas

do Kammerspicl al

emã

o c da cincmatograria

soviética dos anos 20s, Jean Vigo e so:us

conlinuadores

dos

neo·rcalistas ilaliana.s da

linha de ZQ

vuttini.

Nos

quatro

capít

ulo

s

se·

guintes,

Henrl

Agel estu

da

as idéias

a

quem considera

os

grandes teóricos

do

ci·

. ncmll: Balaz.s,

Pudovkin.

Einscnstein e

Ar

·

nheim. O penúltimo c ; ~ p l t foca izQ o

espi

·

rit

ualismo

de

Bazin

c

as

investigações

scm

lo·

lógicas de Mitry e Metz; o capitulo linal,

"Alguns problemas de Est

éti

ca  , passe em r

vista questões

atuais

da esrética c inematográ

fica, tais

como

as

opo

sições c r el

ões e

nt

re

imp

roviso e cálculo, cin

ema

c teatro, músic11

e cinema.

r

I

~

I

- .

......_

O BARROCO

_

....

.

... ___

_ _ - - .

.

-------------

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  brapublicada

com a colaboração d

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Reitor : Prof. Or. Antonio Hélio Guerra Vieira

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CIP-Brasil. Cat.alogaçáo-na-Publicação

Càm<U a

Brasileira

do

Uvro,

SP

Tnpi6, Victor-Lucien, 1900-1974.

Tl76b O barroco Víctor-Lucien Tapié ; tradução de Armando

Ribeiro Pinto. - Slío Paulo : Cult.rix : Ed. da Universidade

de

.

82-1023

ão

Paulo, 1983.

(Mestres da modernidade)

:Bibliografia.

1. Arte barroca I. Titulo.

lndius para catálogo sistemático:

17.

CDD-709.033

18. -709.Q32

1. ~ barroca. 709,033 17.) .709.,032

18.)

2. Barroco :

Arte

709.Q33 17.) 709.032 18.)

'

I

VICTOR-LUCIEN TAP E

(Membro do Instituto de França

e professor honorário da Sorbonne)

O B  CO

Tradução de

ARMANDO RlBEIRO PINTO

EDITORA CULTR1X

São Paulq ·

EDITORA

DA

UNIVERSIDADE DE SÃO P

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Titulo o original:

·

LE

BAROQUB

Copyright @ 1961 Pruses Universitaires de France

publicado na coleção Que Sais-Je?

MCLXXXIJJ

Di.reitos

de

tcadução para o Brasil ~ q u i t i o s com exclusividade pela

EDITORA CULTRIX

Rua Dr

. Mirio Vicente,

37

4 fone 63·3141, 04270 São Paulo, SP

que se reserva a 'propriedade literária desta tradução

l m p r ~ na TORA PENSAMENTO.

· .

..

_ .

-

 · •

,•

fNDICE

Primeira Parte

Condições

do

Barroco

I. - Definição e História da Palavra Barroco

I{ O Renascimento

e

o Barroco

Ill.

Sociedades da Europa Moderna e o Barroco

Segunda Parte

As Experiências Barrocas

I. - O Barroco na Itália

n.

-

Barroco e Classicismo na França

ni - O Barroco na Espanha e Países Ibéricos

IV. - O Barroco nos Países Danubianos

onclusão

Bibliografia

3

15

27

43

57

71

85

97

103

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Primeira Parte

CONDI

ÇO ES

DO B RROCO

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Capítulo I ·

DEFINIÇÃO E HISTóRIA

DA

PALAVRA BARROCO

Da palavra

barroc

o, tão em voga hoje, embora imprecisa,

compete retraçar a história e indicar as acepções

qu

e

se

lhe atri

buem atualmente.

Se nos reportarmos ao primeiro dicionário da língua francesa

qu

e consignou o termo, o de Furetiere em 1690, encontramo-lo ali

revestido de um sentido claro e defio.ido: ":E um termo de ' joa

lheria, designativo de pérolas de csfericidade imperfeita."

Des

de então

.muito

se

tem discutido

sobre

a origem da pala

v

ra

barroco, devendo-se considerar atualmente

que

ela remonta,

sem dúvida, à palavra portuguesa barroco empregada para desig

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nenhuma irregularidade, imperfeição ou extravagância no modo

de pensar. A rigor, admite-se que para ridicularizar as concep

ções muito formais das Universidades francesas, os estrangeiros se

divertiam,

em

determinada época,

em

tratar seus doutores de ba

roco,

assim como Moliere zomba dos sábios em "us", que em

prestavam a seus nomes uma forma latina. Sutilezas, talvet. Se

o sentido ~ r i m i t da palavra fosse o da pérola irregular, como

·o reconhecm Furetiere, a derivação

para

o sentido figurado c de

intenção pejorativa aparece

em

Saint-Simon. m . suas Mémoires,

em 1711, ele a empregava

para

definir uma idéia estranha e chO-

cante:

O

inconveniente

era

que esses postos estavam destin.ados

aos bispos mais eminentes e

era

assaz barroco fater o abade

Bignon suceder a

M.

de Tonnerre, bispo-conde

de

Noyon. Tam

bém o Dicionário da Academia Francesa, em sua primeira edição

de 1694, retoma"'a a definição de Furetiere: "Barroco, adjetivo.

Diz-se somente das pérolas de esfericidade muito ·imperfeita.

Um

colar de pérolas barrocas." A edição de 1718 nada mudava a

respeito, mas a de 1740 admitia o sentido figurado: "Barroco se

diz

também do figurado

por

irregular, bizarro, desigual. Um es

pírito barroco, uma expressão barroca, uma figura barroca." A

edição de 1762 retomava a mesma definição.

Quanto à Enciclopédia,

não

acolheu o termo

em

sua primei

ra

edição. f

<?

i somente no Suplemento

de

1776 que

ela

o

incor_po-

 QY

LP.ara

apltcâ-lo à música. A breve defüiJçãOestâ assma<ía S,

ou seja, de Jean-Jacques Rousseau:

Bar

roco, em música: uma

música barroca é aquela de harmonia confusa, sobrecarregada de

modulações e dissonâncias, a entonação difícil e o movimento afe

tado. Segue uma nota, que deve ser de outro que não Rousseau:

"Aparentemente este termo provém do baroco dos lógicos." Indi

cação para nós preciosa, pois revela como a etimologia erudita

era admitida injustamente

em

meados do século

xvm:

ela devia

predominar durante quase dutentos anos.

Na Enciclopédia Metódica o trabalho reservado à arquitetura

e confiado ao jovem t r e m ~ r e de Quincy dá em

1788

uma

definição do barroco, desta vez aplicada

à

a;te edificar:

'

Bar

r()CO, adjetivo .

Em

arq

l ,i

 ct

\ JL..Q

12 a m>29

uma g r a d a s ; ª bj

  Ele,.i,_se-se quer, o refinamento (sic), oÜ'S'i:fossLPQssívcj

~ o - l o , o abuso. A austeridade está para a sabedoria do gosto

como está para o bitarro, do qual é o superlativo. A idéia de

barroco implica a do excesso de ridículo. Borromini proporcio

nou os ma1ores modelos de bizarrice. Guarini pode passar como

4

I

r

1

I

o mestre do barroco. A capela do Santo Sudário em Turim, cons

truída por este arquiteto, é o mais notável exemplo desse gosto

.

Esse texto foi reproduzido integralmente pelo Dicionário Histórico

e Arquitetura, publicado por, Q u a t r e m ~ r e de Quincy en1 1832.

Entrementes, o teórico italiano

F.

Milizia havia adotado a formu

lação no seu

Dicionário das Belas--Artes (I.a

ed. 1797; 2.a ed.

1804) : "Barocco

é

il superlati'lo del biz.arro, l'eccesso de  ridicolo.

Borromoni d iede in deliri, ma

Gu

arini, Pozzi, Marchione nella

sagrestia di San Pietro in barocco." * Em outra obra, Delt arte i

vedere (Veneza, 1798) , Fraocesco Milizia emprega a palavra

locco

numa acepção

em

que

barocco

seria mais adequado:

"D

le

gislatore oon permcttera che le belle arti vadano alia stravaganza,

al buffonesco, al balocco .   "

A

palavra balocco tem, porém, desde

o fim do século XITl

,

um valor taxativo de grosseiro e néscio.

Por isso, o general Pommçreuil, que traduziu Milizia no ano VI,

teve sem dúvida razão de escrever: O legislador não permiti_rá

que as belas-artes enveredem para a extravagância, o bufo, . o

néscio " Não houve provavelmente contágio, mas uma simples

relação de assonância. ·

A distinção que

Q u a t r e p l i ~ r e

de Quincy estabelece entre bar

roco e bizarro justifica um .breve retrospecto. Os numerosos dou

á r i o s

~ ~ ~ ~ ~ _d_? século_(yp:,_

p a ~ d á r i o s

do classicismo, ad

~ ~ l ~

~ a n c i r , l

gue

dele

- ª f a s t â v â m ,

c e o s ( J e ~

dos exces

sos de engenhosidade, de fantasia, das liberdades tomadas eom o

. ídeã l e"ãs-regras:Oão r

ecõm

rãin

m a í . ~ p a l a

~ I J . " l;larroco" •p-ªra

desígilãrerep

rõVã

r o- qüe lhes-

a g r a a a v à ~

·Outros . termos lhes

oãs iirain:·

·

_gótico; bárbaro, bizarr

o.

Retenhamos bizarro ou bigearre,

oriundo do espanhol c que quer dizer estranho cuja acepção foi

antes a da audácia maravilhosa do que da singularidade grotesca.

Blondel, intérprete da Academia, reprovaYa em Borromini "as ve

lutas invertidas e mil outras bizarrices que corrompem a beleza dos

edifícios que construiu, os quais, fora isso, são na maior parte

de uma inventiva e disposição admiráveis" 1.

B

para condenar a

arte medieval esclarecia: "Assim como existem nações que, ha

bituadas com s ~ a s bizarrices, acham-nas agradáveis, embora em

si

mesmas n_da ofereçam que proporcione pcazer, também não

se deve es

tr

anhar que existam pessoas que, poc hábito, se delei-

• Barroco é o supcr at.ivo do bizarro, o cxc.:sso do ridículo. Borromini

deu em delírio, mas Guarini, 'Poui, Marcbiooe na :sacristia de São Pedro em

barroco" (em ilaliano no origi.oal - N.T.).

t. Trairé d archírecrure, liv. li p. 250.

5

)

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(

\

tem com edificações góticu. Bizarrícé, comenta Quatremcre de

Quincy num artigo de

seu Dicionário é

substantivo feminin'

o,

ter

mo

que

na

. arquitctur.a éxpiime gosto avesso aos princípios esta

belecidos, pesquisa afetada de formas extravagantes, cujo único

mérito consiste na novidade, que constitui seu vício. . . Distingui

mos em moral o capricho e a bizarrice. O primeiro pode ser fruto

da imaginação, o segundo, do caráter. . .

Esta

distinção moral

pode apUcar-se

à

arquitetura e aos diferentes efeitos do capricho

e

da

bizarrice que nela

ocorrem.

. . Vignola e Miguel Ângelo

admitiram algumas vezes

em

suas arquiteturas detalhes caprichosos.

Borromini e Guarioi foram os mestres do gênero bizarro. Desse

modo, temos a ventura de ver, de relance, os termos .bizarro, bi

zarrice assentados em língua francesa para designarem a arte romana

do

Seiscentos

e o que lhe é correlato. Falaríamos do bizarro e da

bizarrice ali onde empregamos a palavra barroco, como ·adjetivo

e substantivo. _

a b e m o s

q_ue. barroc.o.

er _

_o superlativq

do bizarro. . . O uso não consagrou absolutamente essas nuanças

e a pahivra barroco prevaleceu.

Por

que e desde quando? - Os

críticos italianos acreditam que,

do

borocco e do

berrueco c a s t ~

lhano, foi o derivado francês

boroque

que se impôs aos italianos

(de Quatremêrc a Milizia) e talvez dos italianos pass

ou

para os

alemães.

A

filiação ainda é duvidosa. Mas não

é

mais possível

contestar quo o sucesso internacional do termo lhe tenha sido

assegurado pela

Ungua

alemã, a pártir de meados . do século XIX

e da célebre obra de Burckbardt, o

Cicerone

(1860) . . Com os

anos 80 do século XVI, escreve Burckbardt; deixamos de carac

terizar uniformemente os artistas. Em vez disso, podemos acom- .

panhar uma imagem de conjunto do estilo barroco que sucedeu,

contanto que estejamos aptos a aceitá-lo. . .

Não

.é nossa .culpa,

acrescenta, se o estilo

barroco domina, se Roma, Nápoles, Turim

e outras _idades e s t e j a ~ repletas de suas formas

2

.

Condenando o barroco como inferior ao estilo do Renasci

mento, Burckbardt lhe concedia não ser tão desprovido de in

teresse como amiúde

se

acredita. A arquitetura barroca fala a

mesma língua que o Renascimento, mas à maneira de uni dia

leto selvagem. Die Barockbaukunst spricht dieselbe Sprache wie

die Renaissance, aber einen v e r w i l d e r t ~ n Dialekt davon . . . ·

2. J. BURCI<HARDT, D•r Cicerone  p. 328.

3.

lbid.  p.

329 (  A arquitetura barroca fala a mesma llngua

da

Renas·

ccnça;

trata

·se, porém, de um dialeto selvagem . (em alemão no

original -

N.T.

6

•• ••

Ih.

Atentemos para a conquista definitiva alcançada por

c s ~ a

opinião de pioneiro: a conexão entre o

e n a s ~ i m c n t o

e

t> •

barroco,

a derivação

um

do outro, :

bem

como o caminho

percomdo

pela

crítica desde

cem anos. Ninguémlacredita m-ais em filiação tão

simples e direta, c a etapa do maneirismo é d_oravan_te admitida;

discutiremos isto mais tarde.

Não

se pode mrus duvtdar que os

trabalhos de Burckhardt tenham despertado

um

novo

intcrcS C

-para

um

estilo que o classicismo condenara - c

que

os adeptos

de·

um

certo classicismo persistirão e persistem ainda

em

rejeitar

-

e contribuído

para

o sucesso definitivo do

termo

barroco, em

pregado doravante pelos alemães.

Desse modo, Comelius Gurlitt publicava um alentado estudo

sobre o barroco, o rococó e. o classicismo nos palses da Europa

ocidental (1887

-1889),

e Henri •Wõlfflin

um

primeiro livro, pe-

netrante e vigoroso, sobre

ReiUlissonce und arock (1888). Na

segunda edição

da

obra

(1906),

e le confessaria seu débito para c?m

o iniciador:

cerca· de vinte anos que este modesto escnto,

elaborado sob a impressão de uma primeira estada em Roma e

das obras de Burckhardt. . .

Se palavra barroco foi . realmente transmitida aos . alemães

pelos italianos,

a

partir do termo francês, é deveras cunoso ob

servar que, enquanto a critica dos países get:mânicos favorecia

amplamente

sua

difusão, a cntica francesa se recusava, com certa

obstinação, a admiti-la

na

prática. Compreendemos,

e ~ t a n t o

o

porquê: a Europa ocidental possuía, em superabundancta,

o b r ~ s

vinculadas ao estilo

da

ltálja barroca, enquanto a

França

conh

nuava a nutrir sua predileção pelas prescrições clássicas, harmo

niosas ou severas, e

a

sustentar que a. seu gênio nacional, impreg

nado de clareza e 16gica, repugnava as fantasias e exuberâncias da

arte italiana. Sem dúvida, os atrativos do estilo Regência

ou

Luiz

XV preservavam, não obstante, seu prestígio e inspiravam o gosto

fim de século

c

o

rrwdem-.style

mas ignorava-se completamente

que laços pudessem te.r com o barroco. Os críticos de arte da

Áustria-Hungria ( austriacos, checas, húngaros ou

po

loneses) e os

da

ssia adotavam,

em

compensação, a palavra barroco.

O êxito procedia, em grande parte, de sua ·identidade eufônica

nas mais diversas línguas: com ligeira diferença da terminação,

conserva o mesmo som nos idiomas latinos, eslavos

ou

germânicos.

Com suas duas

c l a r a . ~

vogais bem engastadas,

que

parecem evocar

sua

amplitude

e

brilho, ela assumiu, _por isso,

uma

autoridade eu

ropéia, depois mundial.

7

l

i

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l

Durante muito tempo o termo se aplicava somente às artes

plásticas. Os limites cronológicos do período em que o barroco

dominara eram, contudo, difíceis

de

determinar. Como distinguir

o fim do Renascimento e o início do barroco Spiitrenaissance e

Frilhbarock), o barroco tardio Spiitbtuock) e o rococó? Ain da

hoje persiste esta incerteza em muitas obras . O belo livro de Mareei

Raymond, De Michel Ange à Tiepolo (1912), um dos melhores

da bibliografia barroca, c que pode escandalizar por ter ~ r m a n e -

cido tão confidencial, esgotado sem reedição, sério demais para

encantar os esnobes, discreto demais para acarretar uma revisão

cientifica do problema, _

c.ontrap,9e

à arte severa da

CQ. ltra

-Refo.r

ma _o r r o o rpmano, que. é _o prolongamento

e

o desenvolvi

mento dela. H. Wõlfflin, além de sua primeira obra, embrenhou

se· nüma- pàciente e profunda reflexão. O confronto entre

os

ca

racteres do Renascimento e

os

do barroco permite-.lbe melbor des

cobrir os caracteres próprios de um e outro estilos e elaborar, a

partir deles, uma teoria dos princípios fundamentais da .história

da arte. O Barroco lhe pareceu traduzir um ideal peculiar, oposto

ao do Renascimento, à maneira de uma réplica, como se o gosto

e a sensibilidade dos homens da época pudessem ter atuado em

dois registros alternados. A propósito, comenta-se injustamente

que tal tese pecaria por excesso de sutileza. Entretanto, os

Kunstgeschichtliche Grundbergriffe

(1915) atestam um entendi

mento profundo

da

sociedade moderna e ajudam a compreender

que o barroco, como o Renascimento, soubera traduzir o espírito

de uma época.

Por consegui nte, era apenas um estilo

de ar

te

ou

uma fase

da civilização? A guerra de 1914-1918 renovou singularmente o

interesse pelo período em que o barroco triunfou e a visão que

dele se podia captar. IllUito revelad

or

que na Boêmia o sut

il

analista Acne Novák tenha consagrado à Praga Barroca

(1915),

um ensaio em q

ue

descobria

na

arte de uma época habitualmente

condenada pelos historiadores

do

seu país sob o epíteto

de

Tem11o

o tempo sombrio, a autêntica expressão dos sofrimentos e espe

ranças dos

an

cestrais. Paul Klee, no seu diário de 1915, estabe

lecia relação

an

áloga entre

as

e

xp

er

iênc4Js

do

barroco e as ·

do

tempo atual.

Por isso, não se deve espantar com a floração de es tudos

sobre o barroco após o retotoo à paz, nem com a .repentina am

pliação do problema . ~ Weisbach .tDe. B arock

.

  ls Kunst der

Gegenre{ormation, t92J)_ demon.str..ava

qJ.Ie

o

oaaoco

_foi a ex-

~

8

.

·

,;

.

' ..

P ~ ~ J ã o _de uml} ciyilgação atólica, ~ o m seus valores peculiares,

.suas contradições e seu impulso geral. Depois, imprudentemente

talvez, com um fervor maculado de arrogância intelectual, colo

cava sob a rubrica do barroco o estudo que, na coleção enciclopé

dica "P

ro

pylaen-Kunstgescb ichte", consagra(ia à arte dos país

es

Ia

tinos e germânicos, Die Kumt des Barock in ltalien, Frarikreich,

Deutschland und Spanien

(1

9

24).

Na Itália, Antonio Muiíoz interpretava, numa bela e abali

zada obra,

Roma

Barocca, o esplêndido tesouro de arte que se

produzia na Cidade Eterna desde o tempo do

Papa

Sisto" (Sisto

V) até o

de

Canova. Analisando a originalidade dos artistas, res

tituía

a cada monumento seu papel no incomparável conjunto, re

velando-lbes todo o encanto. Processo análogo foi o de Emile Mâle,

que uma nova estada romana ensejava a contemplação dessas

obras. _Ele admitira, na..Jiuha_ t 1 1 d i c i o - ª 1   a p . Q s a .Idade Média

nã? ~ x i ~ ª a m is.

ar. e

cristã, mas a

e r i ~ c i a

j e v ~ v a ~ ~ a corrigir

SU l

.primeira opinião e a reconhecer na arte ditundjda .no scculo

XVII

na I tá_ ia, Espanha, na França e na Flandres, os carac

teres

de

um ideal e de uma vida

e s p i r i ~ l ~ r e n o v _ d

p ~ l o s .en

sinamenfos do-col:icilíõ de

Tr

ento.

No

entanto, n e . ~ s a

no

tável con

hiõuiç

ãõ

da ciência francesa·, ao estudo

do

S ~ i s c e n t o s rõmaoo- e

df

prÕp g

Ç o

pela

u i o p a c a t § . ~ ~ a

palavra ·:

pa.fr<ico",

por ·

causa êfe um P.

\ld.Of. c ~ s 1 c o ,

não

era

mencionada.

Ela

não inspirava, no entanto, a mesma restrição a outros, in

fensos ao sortilégio. Benedetto Croce admitia que se pudesse fa

lar de uma idade barroca; considerava legítima a extensão da ca

tegoria ao mundo do pensamento, da poesia, da literatura, da vida

moral de toda a época Storia del/a Etti barocca in lta ia. Pen-

siero, poesia letteratura, vita morale, Bari, 1925). Porém, enér

gico

e

impenitente liberal, denunciava no barroco uma decadên

cia do

Ren

ascimento e de seu ideal racional, uma condescendên

cia aos esgar

es

e contorsões de mau gosto, até os anos 1670, quan

do ressurgiram de novo

os

verdadeiros valores preparando o pro

gresso

da

ciência experimental e

a

necessária serenidade da tole

rância.

Simultaneamente,

pe

lo método que es tabeleceu,

por

sua re

solução de aplicar a toda a vida cspiril\lal de uma época

urn

termo reservado precipuamente às categorias

da

arte, e enfim, pela

cntica intrínseca do barroco, a obra

de

Benedetto Croce tomava

se e continua sendo uma importante etapa dos estudos

bar

rocos.

9

Page 11: Livro TAPIE Victor O-Barroco

8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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'

No

decurso desses anos de ardoroso interesse pelo barroco,

Ja agora inquietante moda, o escritor Eugenio d'Ors expôs uma

fascinante teoria, já embrionária,

é

verdade, em Wollilin, nos

K u n s t g e ~ C h i c h t l i c h e Grundbegriffe e num artigo de Arthur Hübs

cher sobre o barroco, figura de um sentimento contrastado da

vida Euphorion, t. XXN

1922).

Porém, observam-se em todos

os tempos essas coincidências c reencontros na descoberta ou na

expressão. Se o barroco, dizia Eugenio d'Ors, é a arte em que as

linhas se entrecruzam, se retorcem ou se rompem, em que os vo

lumes, inflados ou vazados, se animam nos efeitos de contraste,

em que, sobretudo, o movimento se opõe ao equilíbrio,

à

harmo-.

nia e à estabilidade, se assim ele interpreta agilmente a paixão

ou a fantasia, não o reencontraríamos nas

mais

diversas épocas

da história humana? Características

reCOllhecidas

para definir a

arte do

S e t ~ • c e n t o s

romano: tendência ao pitOTesco, dinamismo das

formas, propensão ao teatral. Um exemplo entre mil: o da janela

da sala capitular, no convento de Thomar (Portugal), com o pro.

digioso entrelaçamento de torçais, seu relevo e sua pujança, não

ofereceria a prova? Rompendo o quadro cronológi

co

em que

se

pretendia encerrá-lo, para ver nele apenas o infiel herdeiro do

Renascimento italiano, o barroco podia, desse modo, ressurgir em

outros tempos e lugares, intérprete perene do que a regra e a pro

porção não logravam exprimir, revelador de uma constante

da

alma humana e de sua tradução nas formas, de

um

éon

Eugenio d'Ors distinguia mais de vinte espécies de barroco,

desde a Pré-História (não obstante, ainda mal definida à época em

que ele intentava tal c l a s s i f i c a ~ o ) até o após-guerra de

1914

ba·

rocchus posteabellicus),

com os contrastes e inquietações que

lhe

h ~ v i a m provocado maior atração pelo barroco. Tanta engenhos

i

dade encantou. O interesse pelo barroco estava definitivamente

consagrado. Doravante, a arte da Itália, da Espanha, da Europa

central suscitaria a máxima atenção. Os que amaram e estudaram

o baTioco conhecem c procla

mam

seus débitos para com Eugenio

d'Ors. Mas os trabalhos circunspectos progrediram paralelamente

com especiosas improvisações: pesquisa e confusão, quase no

mesmo ritmo.

No elogio c na crítica do que Eugenio d'Ors pretendera, não

se

avaliou atentamente a justeza da observação que constituiu seu

ponto de partida, da qual ele me smo poderia ter. resgatado maior

veracidade. Ele observara muito bem que no momento em que,

na Itália do Renascimento, se processava uma transformação de

10

::. j

.1

'

valores que deveria encontrar, em seguida , sua expressão na arte

barroca, uma evolução de carát

er

análogo se revelava na arte da

e n í n s u l ~

I ~ r i ~ a Colocava-se, assim, para o historiador da arte

ou da ctvtltzaçao, um. problema de coincidência e de afinidade.

Tol problema me recena ser aprofundado e seria danoso substituir

esse estudo por uma metafisica do barroco.

Pois se

se

decidisse

a priori

rotular de barroco

nn

arte

na

li

teratura e em outr

os

domínios, tudo o que não fosse fiel

;o

ide

al

da razão harmoniosa, da beleza das proporções, de regras defini

das

por

d o ~ t r i n a s coerentes, podíamos estar seguros

de

descobri.r

lhe as m a n t ~ c s _ t a ç õ e s em t ~ d a s

as

fases da história, em que

as

forças da patXao, da fantasta prevalecéram sobre o equilfbrio da

disciplina. Era

um

círculo encantado. Em

vez

de aprofundar a

noção de barroco nos tempos modernos, encontravam-

no

em toda

parte, ameaçando fa?.ê-lo diluir-se.

Em seus últimos anos, Lucien FebvTe acompanhava o jogo

com humor e lançava uma pilhéria

que

mereceria ser encarada

co?'o um a ad  :ertência da moderação: Vamos, procure-se outra

cotsa, quero dtzer,

um

outro título para designar

os

verdadeiros

b a r r ~ s

já 9uc se tcansvasa seu barroquismo para com ele as

pcrgu ImparCJalmente todos os séculos.

Mais grave

ai

nda. Sem dúvida, Eugenio d'Ors jamais

i n t e ~ -

pretara o barroco como uma arte de decadência; afirmara mesmo

o contrário. Porém, levando mais longe a análise dessa rejeição

ou dessa superação das regras, ele o desçrevia como o clima em

q.ue as personalidades se desagregam: Quando este estado

sup<r

nor que poderíamos chamar

de

consciência clássica está em de

p.ressão, livre . franqueado a uma floração múltipla c vi

< ; t ~ s a

do eu, subshtutça  arroca do eu singular. Em 1954, numa

ultuna mensagem que a proximidade de sua morte tomou mais

c o ~ o v e n t c ,

ele se felicitava por ter logrado ganho de causa, con

fenndo ao barroco es te . sentido ampliado e especificava que o ca

ráter barroco era normal ou, se for lícito falar

de

.doença, o é

no

senttdo em que Michelct dizia:

A

mulher

e

uma perene en-

ferma. ·

Como não ·perceber a que ponto as conseqüências dessas de

clarações podem tornar-se inquietantes? Elas estabelecem uma an

tinomia e d u t í v e l entre o barroco e o clássico, o que. não é ver

dade senao

nos

extremos. Elas consignam ao barroco um caráter

de dispersão, de deliqüescência, de mau gosto que justificaria a

11

l

I

f:

I

1

I

r

,

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\

condenaç

ão

que incidia antigamente contra ele. Olvidava-se que

o barroco, muito pelo contrário,

foi

o intérpre

te

dos valores posi

tivos e vigorosos. Ele canto,u a glória, a força, a alegria, a liber

dade, a conquista de Deu s pela fé e o sacrifício lucidamente acei

to. Dir-se-á que são florações viciosas, dissolução do eu?

Contemporânea das teses de Eugenio d'Ors, outra interpre

tação, a do grande historiador de arte que

foi

Henri Pocillon, im

primiu unl

novo

sentido

à

noção de barroco.

~ l l i . l i P < Q .

ulrrap:ssar a

i D J . p l ~ a n á l ~ e

das formas, a des

cobrir no seu desenvolvimento uma vida análoga aos outros

rei..-

nos

d_ 

l ) a ~ u r e z a ,

Henri Focíllon

.

spstentou que todos

os

estilos

atrl vessam sucessivamente três fases. Ao sair de

um

período inde

ci

so

de esboço arcaico, em que não falecem, aliás,

nem

o encan

to

nem

. a força, eles atingem a plenitude e o equilíbrio, e depois

superando-os, desabrocham na exuberância e na fantasia. Tal evo

lução

é, de 1·esto, salutar, para prevenir o academismo e a es

clerose das repetições estéreis. Graças a ela as formas conhecem

uma nova juventude, reencontram vigor e liberdade. P

or

isso, todos

os estilos, quer se trate

do

antigo, do medieval

ou

do moderno,

apresentaram sua fase barroca: barrocas, portanto, a arte helê

nica e a imperial romana, barroco o romance rebarbativo de An-

goulême ou o gótico flamejante, e se a arte que sucedeu ao Re

nascimento merece bem a denominação barroca que logo recebeu,

não se lhe pode conceder a exclusividade do uso.

Se as formas têm sua vida, as palavras também

'O

têm. Aca

bamos de indicar sumariamente a da palavra barroco desde há

dois séculos.

Atualmente, compete verificar como ela se aplica.

Cem anos após o

Cic

erone  é empregada amiúde para desig

  rformas de estilo

em

todas as épocas. :g de admitir, portanto,

que a causa, talvez após todos. os percalços, é compreendida?

Não

se

pode, em todo caso, resignar-se a isso sem a precau-

ção de algumas ressalvas. · ·

Primeiramente, não se suprimiu, para tanto, o uso que a

consagrava no período cronológico que sucede ao Renascimento

e,

ademais, não

se

resolveram todos

os

problemas relativos a este

assunto. Em que consiste o barroco posterior ao Renascimento?

De

onde vem? O que

é?

Onde começa e onde acaba o seu domí

nio? Em vez de empreender as necessárias investigações, dizem-

12

-.

·•

.;:. •.

i-·

..

..

- - ~

.

:, _

.

·

..

'

.:..

-

 

.

nos: "Mas existem outros barrocos." Para o que, é legítima a

resposta: ''Talvez. Se isto vos apraz, tanto melhor Não obstante

permiti que não nos afastemos do seu estudo: ele está apenas es:

boçado."

Em segundo lugar, a lei inferida por Henri Pocilloo

se

aplica

melhor à história das artes plásticas do que à literatura, por exem

plo.

Os

historiadores da literatura reconheceram nas obras escritas

na França, no tempo de Luís XIll, uma fantasia, uma e x u b e r ~ n -

eia de imagens, uma complacência com os contrastes que, por ana

logia cem a arte

pl

ástica, lhes pareceu justificar o epíteto de bar

roca. Também na França, onde a tese encontrou mestres como

intérpretes,

na

Alemanha, na Polônia, os historiadores reabilita

ram o barroco. Mas não se pode dizer, acerca desse barroco, que

desenvolva as formas de um classicismo anterior a menos que se

veja classicismo

na

Plêiade), mas

é

claro que, desembo

ca

ndo no

período do classicismo francês por excelência, ele

é

predecessor c

não suces

so r.

_Em r c e i r l u g a r 9.f _ando

se

tra·l _ u r ~ p a

dos tempos

d e m o

o barro

CQ

. é

à.f ro j.dq_

antes .c;Qmo uo;a_ noçãõ _geral de

C J V t _ ~ ª Ç J l S L qç

com 9_ ll.Ql eSJi

lo. Todos

os

aspectos

áa

lústõ-

riil

do século

XIII

são classificados com a etiqueta banoca: fala-se

de ciência barroca, alusivamente à de Galileu ou de

Ha

rvey; de

filosofia barroca,

de

barroco de coloração clássica para a arte de

Versalhes, e a corrente parece irreversível. Em tudo isso, porém,

há muita imprudência, pois não se criticou

nem

definiu previa

me

nte, com suficiente rigor, a categoria empregada:

Podemos achar, sem dúvida, insuficientemente elucidativo o

uso tradicional que fazia designar um período de civilização pelo

nome do um soberano contemporâneo ou apenas por um epíteto

de

louvor: século de Leão X para o Renascimento romano, século

de Lúís XIV, século de ouro para a Espanha. Um termo como o

de Renascimento apresenta,

ao

mesmo tempo, a vantagem

de

des

tacar

um

aspecto mais relevante do período (retorno aos modelos

da

Antigüidade), e o inconveniente

de

revestir fen6menos muito

numerosos e diferentes, para que seja inteiramente justo defini-los

com uma só palavra. O inconveniente reside

no

conceito geral

de barroco. A civilização européia do século XVI ao

XVlll

en

cerra também extraordinária riqueza intrlnseca, para que se possa

submetê-la a uma categoria exclusiva. Por outro lado, alguns

desses caracteres, cujas ·formas barrocas

da

arte,

da

literatura, do

estilo de vida ofereceram original expressão, merecem ser mais

13

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\

be

m compreendidos hoje do que no; tempo em que se menospre

zava e ridiculariz

ava

a

en

g

en

hosidade. ou a eloqüência dos artistas

que chamamos barrocos. Longe, no entanto, de declarar barroco

todo esse período, a moderação e a cautela do verdadeiro conhe

cimento recomendam discernir o que compete incluir na categoria

c o que deve ser· preterido. Não é indubitável que um estu

do

desse gênero revele

en

tre o classicismo e o barroco antinomias ir

redutíveis e, talvez, para retomar uma expressão feliz de

M. M

Raymond num Colóquio celebrado em Roma, em abril de 1960:

A

linha de demarcação

do

barroco stricro sensu passa entre

<>ru-

pos de escritor

es

do século XVII ou de formas de estilo cuja ten

tação é considerar em bloco, seja para reatá-las ao barroco ou dele

distingui-las." Poder-se-iâ dizer assim: entre grupos de artistas e

de

grupos sociais em geral. ~ t r e t a n 2 . , . _ essas a p t i d ~ ou resistên

ctas ao barroco têm causas profundas vinculadas à história· não o

sup?sio e i n ~ _ s

·

~ ~ l .

p a ~ a ne;p.

.

~ i s p o s i ç õ e s

de gênio

nac10nal , mas o conJunto das circunstâncias de então <üe; · ias

formas -

do

pensamento e da sensibilidade religiosa,

nas

condições

da

econ

omia

_e das trocas, nas estruturas sociais, na permeabili

dade ou iropermeabilidade a

um

ideal talvez nem· sempre consci-

. ente,_ pesavam escolha dos homens e orientavam- l

hes

as

pr

efe

r ê _ ?

~ a . s - ~ s t é t

i c a s

. .

Eis o que justifi

ca

um

estudo do barroco, estilo artístico ou

literário revelador das sociedades, para o qual este b r ~ v e esboço

desej

aria contrib

ui

r.

Uma última observação ainda. Poder-se-ia, . à moda do dia,

traçar um mapa, não apenas do barroco (cartógrafos alemães em

penharam-se nisso com algum êxito), mas dos estudos barrocos

em meados do século XX.

As

tintas mais fortes colorariam a Itá

lia, a Alemanha, toda a Euro

pa ce

ntral, a Suíça, a- França (prin

cipalmente

no

domínio da história literária), a Bélgica, a Espa

nha e PortugaL A América e a Rússia teriam também seu lugar.

Assim, em face

da

ignorância da indiferença ou da incompre

en

são que persistem numa grande parte

do

público de numerosos

países, em contraposição ao uso imoderado do termo e

à

sua con

fusa noção em meios amadorísticos, a pesquisa

ci

entífica se orga

niza em toda a parte a propósito do barroco. Falta-lhe ainda CO-

ordenar melhor os esforços, estabelecer o balanço do que

se

pode

considerar adquirido e d

es

tac

ar os

problemas ainda inex

pl

orados.

14

·

.

>

..

.:

Capítulo

r

O

R

EN

ASCIMEN

TO

E O

RRO O

Quer

se

considere urna decadl ncia quer uma renovação de

valores, a ligação entre o Renascimento e o barroco continua sen

do o problema fundamental. De qualquer maneira o barroco está

r e l ~ 9

~ s 1 2 ,

C . . Q . . . . . . L . l . P . ~ ~ < . i u ~ } E r i o ~ a r c n t e ~

aicãnÇâdo

. ' S ~ ~ e J ? : ? ~ r ~ n t i n o e, em outra _esca'lã, ~ i f á S c T i i i ê n t ô

r o m ~ ~ o ,

em q ~ e .as ~ x i g ê n c i a s do espírito, o esforço para o co

J h ~ _ : ~ t o

umversal, a consonância das paixões humanas e das

r <.l_l ezas ?.a n a t u

c.om o ideal platônic9 de beleza pareciam

ter en

c<mtra_9s>

sua. realiZação. Compreende-se por que numa certa

etapa da pesquisa - c em razão do caráter

de ca

tástrofe que a

opinião contemporânea emprestara ao acontecimento

-

a data

do saque

de

Roma, em 1527, tenha sido aceita como o término

do

Renascimento e o marco inaugural de novos tempos. Mas esta

interpretação não é mais acatada hoje, pois fortes argumentos po

dem ser invocados em contrário. Assim como não é possível acre

ditar na cessação, em dia marcado,

de

um movimento como o do

Renascimento, compreende-se perfeitamente que nem o grande pe

ríodo romano de Miguel Ângelo (1534-

15

64

),

nem o sucesso de

Veneza; on

de

durante

os

mesmos anos os mai

or

es arquitetos e

pintares realizaram sua obra, podem

se

r subtrafdos ao

R e n a ~ c i

mento. Deve-se mesmo, segundo a feliz expressão

de

André Chas

tel, reputar o século XVl como· a idade das aquisições definitivas .

Mas

el

e traz também grand

es

mu

danças e profunda renova

ção d?s valores.

O

Miguel

Ange

lo da capela dos Médicis, de

São Pedro, da Ultima Ceia da Pietil de Florença não é mais aque

le

do

' teto da Sistina e menos ainda da Pietil de São .Pedro. Não

que

el

e

se

mostre então infi

el ao

ideal do Renascimento floren

Hno,

no qual formara. ~ a t e s  

l i a n d

. Q . . ~ . . . Q Q E . l . . . . J l . . H . . S a g e m ,

~ ~ n s e ~ C t r a d U ~

~ O O t r a ~ Ç Õ C ~ a m a,_a d ~ r

~ a ,

O

dramf

15

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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da salvação, J.ue são, em sum-ª...Jlreoeupações estranhas ao mundo

'óa nüiiíãnidae feliZ que o·- Renascimento criam.. Revelando-se'

·rrancãmenie, Miguel Angelo nem por isso se tornara ba.rroco.

Porém,

sua

arte, mais patética, menos intelectual

no

sentido em

que se entendera a vida do espírito, estava destinada a repereu

tir, com toda a força do seu exemplo, nos intérpretes ulteriores das

grandes emoções

barr

ocas. Em

torno

dele a crise da Reforma se

desenrolava, e cujo drama acolhia ern sua prodigiosa sensibilidade

e em seu gênio. Por Reforma é preciso c o n s i d   _âo _apenas ..Lu

tero e

seu

rompiiiiento com

a

Igrej

a, mas

.a angústia

u n i ~ e r s a l

que

atmge stroultaneamente as classes instruídas e as camadas popula

res, ültrapassa e abala as sutis interpretações dos círculos de le

trados e filósofos - como âs especulações das antigas Unlversi:

aãães:-

tomad-as êStéreis

à

meàida das inqui'etações atuais . obri

ga a ~ i v i l i z a ç ã o a despir seus

c a r a c t e r e ~

~ t ~ r á t i c o s para minis

trar

ao mundo cristão respostas que o revitalizem.. erá, porém,

ã t_eforina

mlli

:rmPAD.a, antit.cllmlillruL tall).bém

,_

..Q.\h.

p e i < > I . : á _

~ r á

c u ~ r i d a

p ~ ~ a J g r _ ç j , .

. i l l l ~ greja que s ~ ~ e n e r a tanto por

suããíSciplina quanto pela definição do que 6 preciso crer para

ser -Sãlv-â? Aresposta não i n t e r e s s a ~ a a p e ; ~ a s às almas_ é ~ o s a s

aos fiéis de

um

culto

ou

aos teólogos, como

se

acreditava no

é

.

i::ull

X X e como m

uiiOsã

mda

h < ? f e ã C r J l ~

Elã _não p o u g : ~ ~

.as a t i v . i d . r u l ~ ~ c o t i ç l i é Q a ~ . pois para essa Europ.a cristã tudo pqdja_

ser motivo de pecado:

a

ordem política e s o c i a l ~ < ~ m d i ç õ ~ do

_trabalho, a aj)\icação do dinheiro nos investimentos, o desperdício

a_ f u _ a _ ~ : ~ n ~ ~ "·ª

 =

.  ? 'ª

=   a .

EPfo9lii Ç@..::

da é -

 e_ ria transformar a

_..:

co11omia geral E e l o

~ l ~ O

metais P.re

ctosos

na

Europa e em que_ _ s ; . o . m é r ~ ..maótimo,

12cla

P . r i m e ~

. ez, _ç i ( " u n d a v ~ . . Q _ P-laneta. R,eencontraremos_mais t8fde ç s t ~ s pro

b ] : m a ~ .

Que a filosofia geral da vida fosse modificada; que essas

mudanças tivessem sua repercussão

na

arte, não

nenhuma dú

vida.

Por isso o século

XVI

é,

na

história do mundo moderno, um

s6cu1o de transição e de gestação. Se se pretender que,

por

causa

disso, seja necessário colocá-lo sob uma etiqueta que o diferencie

do Renascimento, pergunta-se se convém chamá-lo de barroco.

Desde

alguns anos concorda-se a favor de outra expressão, o

maneirismo, e discute-se para saber se o maneirismo é um conceito

de estilo ou um conceito de civilização. Conforme observou o P.

Dattlori, parece reconhecido hoje que o barroco não · sucedeu ime

diatamente ao Renascimento e que, para designar o período in-

16

l

·o

,)

<

I

: 1

.

•,

.

. .

.

\ )

- ' ~

termediãrio, um termo pode ser útil e deve-se aceitá-lo, ao menos

como hipótese fecunda de trabalho. Mas o que se deve eutender

por maneirismo?

A palavra encontra a sua mais justa aplicação no que con

cerne

às

artes

da

Itália,

onde

grandes mudanças se processaram.

Do ponto de vista político, a empresa espanhola se impôs em

Milão e Nápoles, onde os reis de França não mais se estabelece

rão nem mesmo para o domínio de uma secundogenitura. Embora

o Concílio não tenha firmado sua jurisdição entre seus muros,

Roma confirma o prestígio de seu papel de capital mundial, s-

mosstadt Roma  como diz um historiador da Geistesgeschichte

Friedrich Hcer; e, num belo

o

lúcido livro, Jean Delumeau mostrou

o paradoxo dessa cidade universal embasada num território que

se empobrece e se torna incapaz de sustentá-la. A evolução eco

nômica e social acarreta então, cin etapas imperceptíveis, o de

clínio

da

cidade

en1

proveito da dominação senhorial e do Estado

· tcnitorial; entre os príncipes uma vida de corte mais oficial e

ciosa da decoração, menos nervosa, menos tensa do que aquela

das peque::1as capitais humanistas do século XV, e, nos esplritos,

uma

curiosidade pela análise e a doutrina das artes que

se ex

primiu na crítica de Vasari, nos tratados de Serlio, Vignola, Pal

ladio. Daí um certo deslize para o ecletismo, em que se afigura

ria que cada maneira (e eis o termo revelador) fosse boa para

exprimir ao menos uma parte do que o

Ren

ascimento pretendia

consubstanciar. Por isso, o maneirismo parece representar, ao mesmo

tempo, o interesse pelo segredo de um gênero, a adoção de uma

técnica ou de um gosto e por outro lado, wna pesquisa de atra

tivos, de elegância acrimoniosa, um refinamento das formas já ad

quiridas.

Pod

er-se-ia dizer que no Renascimento, como mais tarde

no barroco, o estilo propcndia para um valor universal e que o

maneirismo se limitou ao particular.

Na

Itália, após as eJtperiências

do

primeiro terço

do

século,

a atividade das construções retoma um ritmo intenso. Cumpria

reparar os estragos das guerras, reencetar projetos interrompidos,

retomar as tradições faustosas do Renascimento, atender às neces

sidades práticas de novas clientelas, como as das ordens religiosas.

Explica-se, assim, a variedade das tentativas, a multiplicação das

experiências. Trata-se da Itália do Norte? Foi em Mãntua, o pa

lácio

do Te,

de

J.

Romain, com a gravidade de seus bastiães e

a graça de suas arcadas. Foi em Gênova, a igreja de Santa Maria

de Carignano, de Alessi, de planta central. Foi em Veneza, a ri-

17

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\

.

queza decorativa da Libreria; depois, com a intenção de reagir

contra o descomedimcnto, a arte de Palladio, de aparência mais

regular;

na

realidade, de uma estrutura artística e sutil. A Florença

dos Médicis e a Toscana admiram

as

formas rebuscadas, alon

gadas e sinuosas de Benvenuto Cellini.

As

elegantes composições

dos

ja

r

di

ns, onde os terraços ornamentados de está

tu

as, os tanques

de pedras e os repuxos, os pavilhões decorados de afrescos que

desenrolam nos muros cenas mitológicas ou paisagens agrestes -

uma natureza retocada pelo bom gosto - se organizam

para

um

cenário incomparável. Decoração e desejo de originalidade -

neste maneirismo se prolonga o aspecto aristocrático do Renasci

mento. Em Roma se quis marcar época com a construção do

Gesu, de Vigoola, porque se identificou há muito tempo Contra

Reforma e Companhia de Jesus, ao ponto de se chamar de arte

jesufta a arte barroca. Mas a verdade está além· dessas simplifi

cações.

Por

admirável que seja, a igreja do Gesu não é, de modo ai·

gum, inovadora. Seu arquiteto, Vignola, conhecedor de Vitrúvio,

admirador de Alberti, ele mesmo doutrinário, inspira-se livremen

te em modelos anteriores, perfilhando a planta em cruz latina, a

nave única com os capelas comunicantes

ent

re os contrafortes. Ele

havia sido designado como

a r q ~ ~ i t e t o

igreja pelo doador, o

cardeal Alexandre Famese, e é a' este magnífico prelado, neto do

Pa

pa

Paulo

li ,

que se deve atribuir, muito mais do que aos pri

meiros gerais da Companhia, a escolha de um edifício suntuoso.

A adoção de uma fachada com volutas, de Giacomo della Por ta

que

conferiu depois a São Lu.ís dos Franceses um exemplo ainda

mais austero do seu estilo) concedia preferência

à

regularidade

antes que à cogenhosidade de um projeto de Vignola, mais exube

rante e mais rico. Enfim, é preciso atentar que a decoração inte

rior, aqui maneirista, com as figuras de estuque

em

torno das ja

nelas, acolá de uma suntuosidade barroca (os altares do

P.

Pozzo,

de fins de século XVII), não. é contemporânea da construção. Eta

data do tem

po

em que se afirmava o sucesso de um novo estilo

que não poderia ter por origem nem

ju

stificativa, apenas o em

penho de propaganda da Companhia.

Seja na Santa Maria in Navicella

1575)

ou na São Luís

dos Franceses, .a

.}f

e

.il-ª..Q.Qptr< :RefQ IDa

não

. ~ ~ f e r ê J ~ ~ ·

forma

ora

graciosa, ora austera, c o austero prevaleceria.

Che

  runÕs assim, e m tios do século, ao breve porém exigente ponti..

ficado de Sisto V (1585-1590) , para cuja evocação Antonio

18

.Muiioz abria, há quarenta anos, seu belo livro, Roma Barroca

Roma, dizia esse Papa, não tem apenas necessidade da proteção

divina e

da

força sagrada e espiritual, mas também

da

beleza

que

oferecem o conforto e os ornamentos naturai s. Terminar São

Pedr

o, ligar através de largas vias Santa Maria Maggiore à

ci-

dade do Campo de Marte, erguer obeliscos nas praças, distribuir

água pelas fontes da cidade: a realização deste programa, antes

e depois do ano

ju

bi

lar

de

l600,

faz expandir o maneirismo ao

grande estilo ·romano.

Por

isso, o desenvolvimento desde o Renascimento mostra-se,

dessarte, lógico e claro. I mpõe-se cçnsiderar, porém, que essa

visão é essencialmente italiana, válida para a Itália, mas a gênese

que conduz ao barroco

não

pode ser reconhecida do mesmo modo

nos, demais países europeus.

Convém colocá-la igualmente sob a etiqueta materialista? Al

guns optam favoravelmente: seus argumentos são de molde a in

duzir-nos a descobrir maneirismo não apenas entre os

arq

uitetos

e decoradores de Fontainebleau

se

se tratasse de Serlio ou de

Primaticcio, de Rosso ou de Bcnvenuto Cellini, seria evidente) ,

mas também em Rabelais ou Montaigne.

Este

uso das categorias,

repitamo-lo, é um instrumento de trabalho. A verdade, porém, é

que ·nem para a arte

do

Renascimento florentino ou romano, nem

para

o do barroco romano, o exemplo da Itália foi aceito docil

mente pelas diversas nações européias.

Os crfticos se indagaram se a origem do ba

rr

oco era italiana,

espanhola ou alemã e sua interrogação deixa entrever uma ob

servação justa. Não se pode crer que o barroco romano seja,

em

si mesmo, todo o barroco, oem único na origem dos demais. Em

sua interpretação ou aplicação dos pdncípios do ideal do Renas-

. cimento italiano, os diversos países europeus mantiveram sua ori

ginalidade que torna legitimas

as

expressões: renascimento fran

cês, renascimento alemão ou flamengo, renascimento espanhoL

M as esses renascimentos do século XVI eram, em certos aspectos,

fases de incerteza, de ecletismo e de transição que podemos de

clarar também maneiristas c n

as

quais

se reconhecem igual

mente características barrocas.

Impõe-se aqui esclarecer com

um exe

mplo. Reconhecer que

a janela de Thomar apresenta características de pitoresco, de pro

fundidade, de movimento (termo que, no caso, se deve prefetir

ao de dinamismo} e, acima de tudo esta propensão ao teatral,

19

-

.

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\

.

luxuoso e burilado, que a sensibilidade menos exercitada observa

imediatamente no barroco" (Eugenio d'Ors)

(o

u seja, encontra

na

arte ulterior de Berninie de Churriguera), é de assinalar que

na

dat\t em que Diego· de Arruda esculpia essa fabulosa moldura,

superava as tradições medievais sem submeter-se absolutamente às

regras do Renascimento. Mas não se pode afirmar que o Renas

cimento lhe fosse estranho.

Se

se falou de epopéia colonial

para

. a arte maouelina, esta entusiástica definição tem o mérito de re

velar a grande l vontura vinculada às descobertas do Renascimen

to assim como ao espírito. de Cruzada e que transforma o pequeno

povo lusitano em conq

ui

stador de uma parte

do

mundo. Melhor

do

que apoiar-se nesse exemplo admirável para elaborar uma

teoria

do

barroco universal, que trouxe tanto embaraço quanto

benefício à interpretação da civilização moderna (benefício e em

baraço, ambos incontestáveis, em minha opinião), teria sido ne

cessário partir para outro estudo: co.mo . J \ ~ l l i l $ í m n t ç _ y o l u

nos diferentes países d a E.ut.OP \.. nQ. decurso do sé.culo XVI e quais

as"fãzões?

Ã

partir

de

modelos italianos, mas também de tradi

Ções góticas que se mantinham com espantosa tenacidade, o que

teria sucedido para que preparasse

para

o futuro, ao mesmo tem

po

afinidades e incompatibilidades com a arte italiana

do

Seis

cenlos ela própria originária

do

Renascimento, através

da

fase de

maneirismo?

* • *

Conviria sem dúvida retomar a história de ·cada pais. Não

é nos limites dessa exposição que nos arriscaremos a fazê-lo. M as

é preciso, · não obstante, dirigir a atenção para um certo níimero

de características primordiais, para discemir ao .mesmo tempo o

que aproxima as sociedades nos mesmos consensos e o que as

isola numa atitude mutuamente irredutível.

. Primeiramente, através de suas

t r a n . s f o r m ~ § e s .§iQgu

lare:t,.._o

c r i l o P . ~ F m a n e ~ u

medieval tanto

q u a n t ~

.JmM..u....moder

no, .

J.llM

é dilícil

d i z e ~

.com çerteza por que foi assim. Muito

_P.TO-

vavelmente, p o r g _ ' ~ ~ ' ~ d __ ~ ~ s _ ~ _ d e s c o b e r t ~  

transformou i d a m e n t c a economta das

~ 9 e s

~ o s t e l f a ~ d_

~ ~ r O J ? I - que contribuiu para o surgimento de cidades como

· tsboa, depois Sevilha, Antuérpia, Amsterdã, para renovar ao

longo das rotas transcontinentais a fortuna de Milão, de Nurem

bergue, de Augsburgo - ,

não

pôde penetrar em pr? UE-didade, por

20

.

falta de meios .rápidos, na massa

a ~ á r i a

e rur

al

_< .o continente.

i i i S í s t e - s e c o m r ~ õ S õ õ r e essanqÜeza

que, advinda dos negócios

ou de· frutuosos i n v e . ~ t i m e o t o s , torna-se força motriz nas mãos dos

banqueiros e dos armadores, e sem a qual não se teria descoberto

nem colonizado a América, fora da qual os soberanos não sabe

riam como prosseguir sua política. Por isso, um sábio espanhol

consagrou um belo livro a

rlo

 r

V e seus banqueiros.

Do

Atlântico

por

Sevilha se derramam sobre o continente,

para estimular o comércio (e acarretando uma alta geral dos p r ~

ços, indício de prosperidade geral), o ouro e a prata que o con

quistador espanhol extrai das minas americanas. Tais mudanças

não

deixam de ter influência nas c . < ? n d i ç õ e ~ das ru rais ma1s ,

distantes. De r ato, a massa agrária varia

po

uco, muito pouco. Sem

. - -  -. ···- -.-....;---. - - .---

.

úvida, onde uer ue se a, e uma condi ão do homem e da gle-

ba, muito diferente da anhga _ ependê_

1cia

i e " ~ l . _

Q_s

grupos

SõcTais

aõmillam

JUeu..a..e

. . a . . . e x p L o . r a n L ~ . l L

re

novam entãg:

P 9 d f 1 . r . : § . e - ~ a . . r u . z ~ r : - : : U m a

u i ç ã o _da Íllrisd.ição_íéucl.a.L

_gela

risdição d

om

inial, e em nossos dias. alguns historiador<:ll não erram

ao falar

daliOvãTeudalidade

. Ma

ís,""

tãfvez,, que -

e S lpÔs

· -a

pe.-

"qüeõa cidade

a s s ~ : ~ m e

imfortâiiêia, é _

t r ~ v ~

_dela o

p e q ~ o - l ? _ u r

güêS e i D l - r l r a l o.

c o ~ e r c 1 a n t e ,

às vezC i usurários

no m o m e n ~

pício. Eles estão na periferia dessa imensa sociedade de campone

ses, ·

da

qual

ve

remos mais tarde a importância

na

c l i c

e l a da

arte barroca, e seu grupo, lenta mas seguramente, prognde para

o mundo dos juristas e se insinua na n o b r e z ~ Contudo, essa massa

do rurícolas, pouco dessemelhante de um país a outro, se encon

tra distribuída entre · Estados de estnituras diferentes. Está longe

das monarquias que são a França dos Valois, a Espanha dos Habs

burgo, a Inglaterra dos Tudor e dos Stuart,

administrativas

modernas; encontra-se no inorgânico Santo Império, em que o

pn-

vilégio medieval dos príncipes conserva toda a sua força

(q

uando

alguns de seus príncipes não o conciliam com um esboço de mo

~ a r q u i a

moderna), nos países aristocráticos

da

Boêmia,

da

Hun

gria

ou da Polônia, na República

de

ricos

c o m e r c i a n ~ e s

que

s.e

converte no decurso

da

luta contra a Espanh

a,

nas Provmcms Um

das

dos

Pafses Baixos e qlle relembraria Veneza, porém com mais

bonomia do que a astuciosa e secreta Sereníssima, impregnada de

orgulho bizantino. Esses Estados que i m p u

s i o n a ~

e formam na

ções em imensos

te

rritórios e captam para a plemtude

de

seu go

verno as vantagens que a conjuntura .econômica garante aos pa

r-

ticulares, eis também uma grande novidade da época.

21

;

I

• l

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\

,

'

Por isso, não. surpreende que um governo como aquele dos

Valois tenha desenvolvido em seu benefício, o empreendimento em

que, antes dele, se engajara o grupo dos financistas, o mais rico do

reino, c que tenha aspirado a proporcionar à sua Corte o panorama

de suntuosas residências, contratando para construí-las e ornamen

tá-las os mais renomados artistas da Itália. O mecenato de Fran

cisco·x, mencionado como exemplo

no

tempo de Lu

fs XN

foi se

guido, como tradição necessária da monarquia, por Henrique

li,

que não tinha o gosto tão apurado como seu pai, mas nem por isso

foi menos construtor do Lo

uv

re. Assim, desenvolveu-se um Re

nascimento franc

ês

que, em meados do século XVI,

se

emancipara

do Renascimento italiano e

prod\17..Ía,

por sua vez, obras diretamen

te inspiradas na antigüidade, em que a t

éc l

ica artisticd, a medida, a

harmonia e a graça atingiam uma perfeição clássica.

Na

Espanha, desde 1525, Carlos V encomenda a Pedro Ma

chuca, para o Alhambra de Granada, um palácio que é uma rO Unda

à romana e sem conexão com

as

tradições espanholas. Uma gera

ção mais tarde, F'ilipe

l

faz construir por Herrera o .surpreendente

conjunto do Escoriai, palácio, monastério, túmulo dos Reis, obra

de arquiteto e engenheiro, cujo vigor é logrado pela magnitude das

proporções, a severidade das linhas e o peso das massas. Rup

tura com o gótico, ·indiferença pelo gosto da decoração extJberante

que florescia no estilo plateresco. Herrcra, tutelado pelo soberano,

promovido à dignidade de

aestro mayor

de Ias

obras reales

impri

me

às

construções espanholas do tim do século, seu gosto da regu

laridade e sua arte austera.

Dessa arte monárquica, coro aplícações diferentes de um pais

a outro,

as

fontes são as mesmas: os modelos antigos e os tratados

científicos que ensinam o meio de imitá-los. Não se trata mais de

reproduzi-los servilmente, em plágios que sempre carecem de alma,

mas antes reencontrar o espírito que os instigou, o amor das formas

belas e puras, o entendimento das regras artísticas, da proporção e,

na disciplina que elas exigem, o gosto que garante à obra seu valor

e sua perenidade. Do

mesmo modo, as Alemanhas, os Pa ises Baixos,

a Inglaterra admitem, em suas elites, esses modelos transmitidos

pela Itália, e essa doutrina de aplicação universal.

Portanto, em · parte alguma pode haver submissão geral ao

gosto do Renascimento italiano, clássico ou maneirista. Pois

os

paí

ses da Europa ocidental são populosos demais, ricos demais de' tra

dições duráveis e múltiplas, percorrem novas experiênéias para que

22

'

..

..

.

I

..

.:· I

.

,

outras formas· emprestam sua expressão ao gosto da clientela e à

maneira de pensar e viver das sociedades. Por isso, o Renascimento

do século XVI, existente em toda parte - herdeiro da Itália, po

rém herdeiro emancipado - , assume, conforme os países, aspectos

peculiares e sua história se reduz, segundo a justa expresslio

de-

Pierre

Lavedan, à de uma conquista que não foi, em nenhuma parte,

lograda sem combates" ou simplesmente, de uma luta e de uma

competição com outros valores.

Ora, essa luta não é apenas entre correntes de pensamento e

formas de arte.

o

que se passa

o

dom.ínio artístico é o reflexo de

uma evolução em outros domínios.

À

influência das massas cam

ponesas que têm atuado certamente nwn sentido conservador para

a manutenção e o gosto das antigas formas, se .contrapõem as mu

danças que alteram a relação

de

poder entre os países da Europa,

segundo o resultado das crises que cada povo atravessou de modo

diferente.

O prestígio da Espanha numa parte da Europa, com a düusão

de sua língua, de sua literatura,

dos

produtos de sua indústria, não

deve menos à conquista da América, à audaciosa política de Car

los V e de Ftlipe do que

à

unidade de fé preservada no reino.

No exterior, por seus teólogos, a Espanha atua junto ao Concilio

de Trento e lhe imprime a sua marca. Sem dúvida, ela continua

aberta

às

influências artísticas da Itália florentina e romana, aco

lhe-as principalmen te na região do Levante, enriqu.ece-se através de

trocas ininterruptas com a Sicflia e o reino de Nápoles. Porém, vi

gorosa, resoluta, com a intensa vida de suas Universidades; o ardor

de seus reformadores da ordem, as personalidades proeminentes que

vicejam entre políticos, diplomatas, comandantes militares, enge

nheiros, comerciantes, como deixaria de promover sua própria ci

vilização e contrabalançar o Renascimento italiano? A F rança, re

freada em seu impulso criador a partir de 1560, já que se consome

nas guerras religiosas agravadas por

i n t r v   n ç õ ~

estrangeiras, como

não estaria aberta às influências espanholas assim como o estava

anteriormente

às

influencias da Itália? Como deixaria de refletir no

gosto francês a

pr

oximidade dos Países Baixos espanhóis,

de

onde

procediam esses artistas, pintores e escultores .tão numerosos em

Paris no fim do século XVI? ·

Quanto ao Império, t ~ o diversificado, Qnde a paz de Augsburgo

não .restabeleceu de modo algum a tranqüilidade religiosa, onde o

espirito luterano se opunha ao espírito calvinista, onde as influên-

23

l

I ,

I

I

j

I

li

.

..

·J·

1

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I

l.,

cias espanholas restabelecem o catolicismo na ."Baviera e reconquis- ~ - - ·

tam posições na Boêmia, tem também sua experiência própria. O .

fim do século encontra-o novamente próspero e populoso, com es- .,.

túdios

em

franca produção, que abastecem com seus tecidos e ferros

i...

lavrados,

as

feiras internacionais.

A diversidade

da

Europa foi

um

obstáculo à influência exclu

siva da Itália. Entre o momento em que o Renascimento italiano

parecia terminado e propunha s·cus mode

lo

s a uma Europa solicita

e aquiesccnte, e aquele

em

que o barroco roma,no estabelecido podia

tomar-se, por sua

vez,

mode

lo

suscetível

de

ser aceito e imitado,

interpôs-se um periodo carregado de experiências para cada povo;

em que as escolhas em matéria

de

arte foram consumadas, em que

traços novos

da

sensibilidade

se

afirmaram.

:e.

evidente, por exem

plo, que a Espanha, os Países Baixos, a França, a Inglaterra alcan

çavam uma autonomia espiritual capaz

de

frutificar as lições do

Renascimento italiano, desenvolvendo tradições específicas, impri

mindo uma expressão original

ao

que se recebia de fora. Qual o

país, aliás, que não tivesse sido, ao menos em alguns de seus grupos

sociais, participante do Renascimento? No século XVI,

na

Boêmia,

mais além nas duas vertentes dos Cárpatos, seja em direção de Cra

cóvia e da Polônia, ou descendo de novo em direção da planicie

húngara, a nobreza feudal, enriquecida com novos métodos

de

ges-

tão de seus domínios, restaura suas antigas fortalezas, transforma-

. ....

.  

lhes o aspecto externo com galerias à italiana, decora-lhes

as sa

las ·:·· .

com tapeçatias, acumulando-as com coleções de objetos de arte, ~ i · ·

quadros, livros raros e belos. Até na própria Rússia, aparentemente

retraída e ainda longe dos grandes movimentos europeus, percebe

se-lhe o refluxo.

muito tempo arquitetos italianos já tinham to.

mado o caminho de Moscou, ensinando suas técnicas aos estúdios

locais, contornando o K.remlin com um moro à italiana, edificando

nesse cinturão in1perial um palácio com graffiti que lembram aque

. les de Bolonha, e que surgiu à sombra das igrejas de cúpulas dou-

radas.

~ n e n h u m

Pl _rle

da Euro a o Renascimento italiano est?ve

~ e ,

mas

em neõliuma J llrte

tami>.Quco_

fez t ula

ràsa -orrim

pondo, sem ~ b a r g < h _ s e u s w . o d e l Q § . Q ~ . ) n ~ i p u a n ª o _ a F n a s c ü ~ P"ro•

cessos em conjuntos que permaneciam estranhos a seu espírito. ·

- -  

-· . .__

.

Hesita-se, em conseqüência, em empregar desde logo o epíteto

de barroco a esse período de indecisão e de ecletismo do século XVI.

Se se preocupa, ao mesmo tempo, de determinar uma categoria e

24

I

._ 

;

·

··

--:

; _ ,

.:

·

{ ·

fixar datas aproximativas para comodidade

do

espirito, sofre-se a

tenta.ção

de

· aplicar também ao período entre 1530 e 1580 o epíteto

de maneirista, fascinante em seu atual suéesso. A exprenão- seria

justüicada no sentido em que se trata, no fim d

as

contas, de ma

neiras e, muitas vezes, saborosas de interpretar o Renascim.ento

italiano, sem evidenciar um esiilo novo e mantendo-se distante ( ~ x

ceto alguns êxitos)

da

autoridade doutrina e da harmonia equili

brada que fazem íus ao epíteto de clássico.

Não é menos verdade que tudo o que se desenrolou no tempo

a partir do Renascimento só existiu

à

sua sombra e alimentado de

suas grandezas. ·Maneirismo, barroco e classicismo originaram-se

dele. O que se. produl.iu na Itália, ou seja; a passagem do Renasci

mento ao barroco, através do maneirismo, pode ~ o r t a n t o ser obser

vado em outros países. Nesse sentido, não- se deve acreditar que ao

barroco italiano do eiscentos cabe a paternidade dos outros bar

rocos,

nem

talvez uma anterioridade cronológ

ica.

A arquitçtura religiosa, ali onde se mantém isenta da tradição

g ~ t i c a ,

inspira-se paralelamente nos· modelos italianos, renascentistas

ou maneiristas e nos modelos flamengos, estes mesmos inspiràdos

na Itália, mas conservando seu modo próprio. A arquitetura civil,

nos hotéis do Marais em Paris, se evade

da

tradição medieval e

adota as 'Ílecorações exageradas, das quais o Renascimento belüontano e o Renascimento flamengo propagaram

o

gosto: são guirlan

das de flores, folhagens e frutos, couros lavrados ou frontões cor

tados. O conjunto deriva da Itália, mas nada tem a ver ainda com

o barroco italiano, e se lhe conferimos o epíteto de barroco, cumpre

advertir qoe Bernini, voltando a

Pa

ris em meados do século XVII,

após trinta anos de êxito romano, escandalizava-se com arte cor

rompida que nela descobria.

Pensando

na

indecisão do período e nessas derivações do Re

nascimento

na

Alem'anha e na Europa central, compreendemos des

de logo que os histqriadores desses ·países tenham alado de um

barroco protestante nessa data, pois os protestantes conheciam essas

formas de estilo tanto quanto os países católicos. Alguns defenderam

mesmo que o barroco, nessas condições, não lhes havia sido trazido

apenas pela Contra-Reforma ou que, pelo menos, o terreno lhe es

tava preparado com antecedência. Contudo, não se trata, na ver

dade, do mesmo barroco. Em compensação, é mais correto dizer

que o século XVI manifesta, por toda a parte, uma ebulição, uma

multiplicidade de gêneros que, superando

ou

até ignorando o ma-

25

--

r s= z

 

)

ti· f

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http://slidepdf.com/reader/full/livro-tapie-victor-o-barroco 19/58

l

..

netnsroo italiano,

acusam caracteres barrocos. No século

xvn

essas forças serão captadas pelo barroco romano e pelo classicismo

francês, impelidos sem dúvida em direções opostas pelo exemplo

de obras maiores que cada corrente imporá como modelos

Não se deve

CQncluir

da( que barroco

e

classicismo, possuindo

cada

um

sua

autonõ.lllJà,

constituiram dois mundos espirituais

he-

terogêneos, reciprocamente irredutfvcis. Seria reportar ao passado

uma antinomia

do

gosto que s6 existiu muito mais tarde e em de·

corrência de uma longa evolução

das

cricunstâncias e dos espíritos.

...

conhecimento imparcial da época revela, ao contrário, contami.

nações, intercâmbios, interferências cujas condições históricas, devi

damente" compreendidas, fornecem a chave. O estudo do barroco e

do classicismo enseja conhecer essas relações, mas nossa atenção

deve incidir somente sobre o barroco, para inferir-lhe o caráter e a · 1

evolução nos diversos países europeus e naqueles que dependeram

diretamente da civilização européia.

. , I

, ~ , ,

.

;

\'

26

·. I

:

1

Capítulo

SOCIEDADES DA EUROPA MODERNA E

O BARROCO .

. .Convém resgatar, nas sociedades européias em que o barroco

se desenvolveu a partir do século XVI, OS valores que

se

·revelaram,

comprovadamente, mais favoráveis a seu sucesso.

O primeiro que

se

deve mencionar é a concepção que muitos

homens tiveram então da religião e do culto . A crise_ eligiosa

dQ

século Y l.guestiq,no_u_J

Q:S .a il... J:ran

ça espiritual dª ®9e . é d i a .

A

~ ~ ~ < . , l p ,

V ~ _ J a l i z a d a em c o n j } l _ p t ~ é \ J I l ~ rugtura q : ~ m essa

' c i ~ d o s

s é . c u l   ero _ g ~ e

} d ~ . a l c r i ~ t

i _ o

p a r e c e u  

· romper-se aq cçntato dos interesses

~ : u n d a

_ q s ,

ym retomo

às

ori.

géns

do c n s t í i i n i S i i i õ

Dcüs, porém

s6

Deus.

o

Cristo redentor, po·

·- rem .o Cristo tal como ·

se

retrata no testemunho ·

da

Escritura, o

puro evangelho. A comunhão, por certo, mas. não a missa. A fra

ternidade dos

fiéis

e não mais a hierarquia da Igreja. A recordação

dos defuntos, porém não mais as preces aos mortos e que se atre

vem,

ob

ras imperfeitas

do

homem, a infletir o julgamento

de

Deus

e as secretas

razões de sua cleiç1lo e de sua justiça. Por isso, a

intercessão

da

Virgem e dos santos, a reversibilidade dos méritos

se vêem rejeitados como indiscretos, até atentatórios à onipotência

do. Criador. Disso resulta senão condenação

da

arte religiosa ·

(Lu-

tero o demonstrou por sua preocupação com os belos cantos; Cal

v

in

o, mesmo negando que seja lícito representar Deus, reconhece

,que as artes de pintar e esculpir. são dons de Deus), pelo menos

:uma tendência à austeridade,

à

gravidade sem atrativo, à antítese

do barroco. O iconoclasmo surge assim, na violência das lutas,

ç;om

a obstinação

de

suprimir imagens cuja simples vjsão fomentaria

opiniões nocivas. À Reforma respondeu a Contra-Reforma. Empre

endendo, à sua

m a ~ e i r a ,

urna regeneração

da

Igreja:,

da

quàl

nin-

27

I

I

~

·

'

..

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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~ é m contestava a urgência, o Concílio

de

Trento.

e s ~ i . f i c ~ m

nu

merosos dog01as

ou

diferiu a definição

de

outros - m dubus libertas

Porém, ao invés de uma .ruptura ele assinalava uma evolução: Re- .

novar a vida cristã e a espiritualidade como a Reforma precomzara,

mas

desta vez no

âma<>

o e através

de

uma Igreja romana depurada,

conjugada o l u t a m e n ~ e ao que o passado contivera de ~ u t _ ê n ~ c o e

ortodoxo. Vêem-se, assinr, proclamados o culto

da

Eucanst1a, wde

pendentcmente da consumação·das santas

~ e s J?Clos

fiéis, a

i ~ ·

tercessão dos santos e a obrigação de venerar suas

Image

ns,. .a

_POSI·

·ção excepcionaíCl'ãVirgem nesse culto dos Santos, a l e ~ t I l l d a d e

'

élas

devo

·ões

à

sua giória._aotecjpand

( i.a..prQm.QÇâo

de

noy

dogom

(Imaculada Concepção, Assunção), a primazia

dO

trono Pedro

e a autoridade do Papa, ainda não declarado infal vel. A mtenção

de reconquistar aqueles que a Reforma afastara da

romana, de

iluminar os que viviam

na

an tiga e coníusa rotina, p r e s s ~ ~ a

prppagação

da

liturgia e novos locais de culto. A ~ r t e r e h g t ~ s a era

assim reanimada, promovida a um novo surto. Nao bá

dúv1da de

que o Concüio de Trento, onde nas últimas sessões prindpal n_ente,

teólogos franceses imprimiram .energicamente a sua marca,

fo1 um

Concílio dos ltalianos e

Es

panhóis, filhos de dois países em que as

artes ocupavam um lugar primordial, em que o i c o n o c l a s repug

nava às tradições. O Concílio, em reação contra o pagamsmo, · ape-

nas

um

dos aspectos do Renascimento, não renegava, •portanto, todo

o Renascimento, dele conservando as lições disponíveis

p a r ~

uma

nova arte religiosa. Além disso, foi ' a pomposidade do Renasc1mento

que reapareceu na arte barroca. :a .preciso, porém, prevenir-se

p a ~ a

não identificar Contra-Reforma.e estilo barroco como dados estávets,

ligados necessariamente

um ao

o

uu

o, já que, .ao ·contrário, se trata

de uma evolução.

Porque o Concílio não ministrou P escriçõe _I:Jl\ matéria

-º.e

arte.

Ele falou muito do que era pre

ci

so banir_das igrejas:

ima.M_ns

lasc

·.

v

as,

profanas ou gue ameaçavam arreda

r_g

s

e s p í r i t o  

doutrin

l .

.Nesse ponto, mais

um

a advertência negativa do que

ulllSI....J Q .lll.ri.P.a

·positiva. Colocados os princípios da liturgia e

da

disciplina, o meio

de aplicá-los dependia das circunstâncias e do gosto de cada um.

Tanto isto é verdade, que a

ane

religiosa

da

Itália nos anos próxim

os

ao Concílio

foi

uma arte severa,. cujos laços com o .barroco triunfal

do século seguinte quase nlío se identificam

à

primeira vista,

Na

com·

posiç

ão

necessár

ia

das categorias os historiadores falaram, a propó

. ]'

:.;.··

• t ;

·-1-

, I

'

r

1

li J

'

' .

f

:J

,·,'/

..1

.

I

I

i

l

. ·

i

:1

ilo, de um esúlo d l Contra-Reforma, o que

é

dizer demais, ou

de

barroco severo, o ·que talvez seja contradição nos termos. A verdade, · .

,.

no entanto, reside no fato

de

que

os p r i n ç í ~ ~ ~ ô r u c o s e as ·-i

....

28

.I

·

;

formas do Renascimento e do maneirismo foram C_Q lserva o del'Ois

i n t e ~ : r c t O ' o r r l l l ' l ' r m i J d o

cada

vez

mais (avorá

vt'l

ao movimento,

3

prõcura d õ e f e

r t o ~ o

contraste c -

a_

suntuo

s1dade,

que

se

form

ou

assim úm novo cSt lO ao qual

se

a p h c _ ] u s t a m ~ C ? ~ _ e í t e t o _ 

roco. Essa evolução está ligada muito menos às mtençoes

tmcaaJS ao

-cõ'tlcffio

do

que ao destino de sua mensagem.

:

·

Sem dúvida cercando o sacrifício

da

missa de uma liturgia so

lene, afirmando ·que \tm culto peculiar deveria ser rendido

à

hóstia,

consagrando a legitimidade das cerimônias de homenagem

COll\O

as

procissões, o Concílio planejava, para a--.arte religiosa q':'c ? e v e ~

desenvolver-se a partir dele,

um

carátér de esplendor. Hoje

J t u r g ~ s

tas severos ou preocupados

em

atenuar o que separa a Igreja romana

das igrejas reformadas, deixam transparecer seu

d e ~ g o s t o

ante a mag

nitude atingida pelo gosto da suntuosidade. Eles receiam, retrospec

tivamente, que os Salves ·do Santo Sacramento, com ·as luzes, as

flores, o incenso, não tenham distraído a piedade

do

que a teria

ma

is

substancialmente alimentado:

uma

inteligência mais profunda

do

sa

crifício eucarístico, uma participação mais ativa

ou

menos passiva do

povo cristão, do caráter comunitário

da

missa. Mas são juízos

de valor e não explicação. A época ainda era de luta: Convinha-lhe

afirmar de forma ostensiva, as verdades dogmáticas do Concílio, de

marcar 'assim a retomada das posições abandonadas. Não se acredi

tava que a religião Intima das almas pudesse s

er

J_Ilenos

intensa, se

tivesse

na

sociedade inteira, as manifestações grand1osas de

um

. culto

.

'

-

úblico. Era portanto natural

q u ~ apos

uma

r e ~ ç _ a o

contra

as

con-

descendências sensuais

do

Renascimento, o catoltctsmo reencotttrasse

o gosto das decorações pomposas. Principalmente na

E s p ~ n h a ,

;

na

Itália onde tais tendências já existiam, ou na Flandres cat6hca, con

servada espanhola porque continuava católica.

A espiritualidadc da ''álegria, na acepção do O tório e de São

Fe.lipe Néri, também predispunha as almas a

t r ~ d . u z r e m

em cantos

e gestos seu regozijo inter

ior.

Ih

hymnis et cannczs.

Em Roma, en

fim. capital

do

mundo religioso, na cúria romana, atenta

à r e t o ~ a d a

do destino dos povos por príncipes católicos - um duque

da

Bav1era,

um Habsburgo em Praga,

no

centro

de

sociedades quase. o t a l m e o ~ e

conquistadas

à

Reforma,

um

Henrique

IV

que se

~ ~ n v ~ r u

pa:a

r ~ l -

n

ar

e restabelecer a paz civil na França - a consctencJa

pas

vJt6nas

alcançadas· acarretava a exigência de ações de graç

a.

"Onde estão,

pois, os outros nove?" dissera o Cristo ao constatar a

i n g r ~ t i d ã o

da

queles que havia curado. Agradecer a Deus e r ~ ~ e v ~ r ..

A ingratidão representava Üma forma de '6Iasfêmia, um pecado do

29

I I

I

,

I

I

I

~

--

..

t ; : , , · , ~ ~ ·

"}

: . . ~

t

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' '

orgulho. Quer queiram ou não, havia também buinildadc c simplici-

> ~ ~ ~

dade de coração nessa necessidade

de

preito e magnificência. Porém,

. ' d

esse conjunto de opiniões e sentimentos provocava uma renovação :

·

da arte religiosa pela riqueza e a profusão. Não um estilo. inventado · ; . ~ _ ~ ; f

para surpreender as imaginações, perturbar os sentidos, submergir a - •

razão, captar as adesões religiosas

por

um aparato de sedução, mas <;:

um estilo sem dúvida triunfal, porque se conciliava

'coro

a experiência ;

.:.

do

t.éropq

e que, sob esta forma, representava uma expressão da prece. ·: J ·

l .

· Deve ser aqui dissipado o preconceito que associou muito tempo ·

o barroco e a atividade da Companhia de Jesus, ao ponto de se fazer ~ ; j

admitir a expressão de estilo jesuíta. Este, para ser autêntico, pres-

~ - = ~ .

suporia que a Companhia tivesse adotado um tipo uniforme de ar- \lj

quitetura religiosa e de decoração, ou que a igreja do Gesil em Roma,

: ~ i :

cOntemporânea do Concílio, tivesse servido de modelo à arte posterior.

= . ~ ~ ~ - - I i

Duas asserções contraditadas pelos fatos. Vimos o carát

er

-da igreja

do

Gesu. • :_;I

' í '

I

Atentos ao perfeito acordo da arte religiosa com as prescrições . :;

do Concflio,

os

jesuítas só pensavam em fins práticos. Suas igrejas

.;..:

deviaD:J ser iluminadas para que o fiel pudesse acompanhar bem o

: : . ~ ·

ofício, ler as orações de seu livro; a acítstica. impostada de modo · j

que se ouv

isse

o pregador e o canto ressoasse em sua plenitude.

: : ;

Um

acesso fácil

à

Mesa Sagrada devia garantir sem desordem a :'-';

distribuiç

ão

da comunhão. Ainda algumas

pa

rticularidades, como

a ausência de um grande coro, in(llil já que não havia ofício pú

blico, a presença de oratórios onde os padres, isolados. do resto da

igreja, adorariam o Santo Sacramento num recolhimento ma

is

ínti

. ,,

. : ' '

",

mo, e a

isso

se r

es

umia íl modo nostro, a

i r a

própria dos

jesuítas. O resto, isto é, o principal: planta do edifício, estilo

da

construção, submetidos à preferência dos doadores, ao gosto dos

arquitetos e subordinados às circunstâncias. Houve no tempo do

generalato do P. Mcrcurian (1580), efêmera veleidade de impor

às diversas provfncias da Companhia o mesmo tipo de edifício, mas

o princípio da liberdade prevaleceu. Da modesta igreja de Anchieta,

na· bafa do Rio de Janeiro, simples como uma igreja paroquial de

vila, ao hábil, 'porém livre apelo

do

Gesu, a igreja professa de

Paris (hoje São

t>a

ulo-5ão

Luís),

mais prima afastada

do

que filha

do santuário romano (P. Moisy); à pura e romana igreja do no

viciado parisiense; à capela

La

Flêche, onde se conserva a vo

luta de ogivas; à oora-prima barroca do noviciado romano, Santo

André do Quirinal, de Bernini, em San Salvator de Praga, com

suas três naves e seus púlpitos; à igreja Am Hof de Viena, com sua

30

.• • l •

.

;.

.I

- 1

. .

decoração manemsta e seu admirável terraço (a lista· seria ines

gotável), é uma variedade surpreendente tipos e sua diversidade

se explica, acima de tudo, pelo desejo de ser eficaz. Flexibilidade

c moderação da Companhia: o importante não era fascinar pela uni

formidade e exclusividade de .um modelo, mas tornar uma igreja

agradável aos usuários, respeitando a escolha dos doadores, a d a p

tando-se aos hábitos da região, tis condições do espaço.

Di

ssolve-se assim o fantasma do estilo jesuíta. Mas fica evi

denciado, em compensação, que

os

jesuítas, construindo·. muito na

época em que triunfava o barroco, elegeram esse estilo para alguns

de seus mais notáveis resultados e mui

to

contribuiram para seu su

cesso e reputação.

B preciso conceber como os valores religiosos

ca

tólicos se

propagaram então amplamente na sociedade européia. A partir das

prescrições conciliares, favorecidas aqui, combatidas

ali

pelos gover

nos, o catolicismo renovado progrediu e reconquistou almas. Algu

mas delas ascenderam até à santidade ou conheceram as graças ex

cepcionais do êxtase: por injunções da fraqueza humana, um red

u-

zido número. \

\

. Em

c o m p c n ã o , socie.dl :des

inteiras se banham

na

f ~ ~ a \

, da

reügi

ão e,

principalmente, sua estrutura mental_

é_

religiOS

, l.

Do '

fiãScimeniÔ à morte, O clêrÕ 'inferve m emtoÕâsãs eta_E

aS

de

uma

existência. Nenhum estado clvd a

não

ser o

da

-·rgreja. ·

a u ~ s

W1íriêiito.s.;:::taleg mentoJ ,

tücloe ~ & l f a d º - ~ º ç _ l r b . .

J i i i i

l n l i t i s

países mant6m-se o registro das confissões e comunhões pascais, pres

critas pelo Concílio de Trcnto. Se o trabalho é regulado somente pela

luz do dia e, no campo, pelo ciclo

das es

tações, também o é pelas

fa

ses do ano litúrgico. Os d o m i n g o ~

o de folga e

de

numerosas

festas de santos. Os açougues são feébados

du

rante a quaresma. Os

divertimentos populares acompanham os júbilos da Igreja .B ela que

empresta a alguns dias seu ritmo de festa e a outros seu caráter de

penitência. Celebra-se o Natal para lembrar o nascimento do Salva

dor, a Páscoa para o dia da Ressurreição, as festas

da

Virgem para

evocar suas graças insignes e anunciar a vinda do Cristo.

Cada

pais,

cada cidade venera u.m santo protetor, cujo nome se reproduz nas

famílias de uma

ge

ração a outra.

Existe algo de mais direto ainda, principalmente nas sociedades

rurais. Apesar do progresso da ciência, do qual só se desfrutaria com

lentidão os benefícios, e que, além disso, só interessam a uma mi

ooria da população, a tcrecariedade das técnicas deixa os homens

tragicameote desampara

os

em face das calamidades que os anl < l.-

- -- -

31

'l

: - ~ l o .

i

'

1

J

1

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http://slidepdf.com/reader/full/livro-tapie-victor-o-barroco 22/58

çam. Trata-se da sa6de? As epidemias que

na

da previne nem detém,

\ · - -ruãStram-sc com um ritmo de catástrofe e desencadeiam terríveis

es

' · tragos.

Em

tempos normais a medicina empírica, a ignorância da

I

L

cirurgia deixam as doenças s6bitas e fatais destruir existências em

pleno vigor da idade. Muitas mulheres sucumb

em

aos partos. e a

mo

rt

alidade infantil permanece cons

id

erável, não atingindo sequ

er

25

anos a média de vida humana.

Trata-se dos bens da terra

 ?

Numa época em qu e os rendimento{

do solo cultivado são irrisoriamente baixos, em q

ue

os costumes vi

gentes arrebatam do produtor uma parte importante de sua colheita

e

interditam-

lhe as

reservas necessárias,

as

intempéries, desastrosas

mesmo hoje em dia, conduzem rapidamente

à

miséria uma população

subalimentada e cedo esgotada pelo uabalho.

As

privações degeneram

En-fome- e - a c a r ~ a m . _ P..ara ª q y e $ ~ Q. JC

_

t i . . l g ~ ~ ~ ~ m s

e : . o ' . s ~ q i } t r i :

J [ á g i ç ~ :

) l l Ç J <

~ ~ i t ~ v _ :

dos .

m ais

fracos, dãs cnanças,

velhos, mulheres grav1da.s·-e queõa d'a:- natãhdade durante anos.

:§JEd\lbi ll\vel

. _ s ~ J l ~ g y r

m ~ _ ç _ ~ . a ~ J l . ~ ç l ~ l ~ a .• l . . . m

a sollc

Jt

ar a mtercessão i:Jas forças espmtuais. 1Jma rehg.tOSidade di

fusa, uma cren)a um p Õ ~ ~ e m e r o s a no maravilhoso e;r.:plicam, con- ·

forme a maneira pela qual podia ser iluminada ou captada, a recep

tividade mais dócil ao ensinamento das igrejas

JU

o refúgio nos mis-

:.. ;

térios da feitiçaria. A Contra-Reforma, multiplicando as imagens, en

corajando o apelo

à

intercessão dos Santos, norteia para a doutrina

definida pela Igreja uma inquietação que derivaria facilmente para ·· ·

a m

ag

ia. AJJ exigências inerentes a nosso tempo levam muitas vez

es

.. · ; '

.a de sconhe cer que esse ritual, se deixava numerosas alma.s ao nív

e1

....> ·

de práticas mescladas de superstições,

fo

mentava em

mu1tas

outras ;·;· ; t

uma vida religiosa autêntica. As prescrições conciliar

es

tinham sido

formais a esse respeito: recomendavam a invocação pessoal dos san

.

tos e o culto de suas relíquias e imagens, como uma coisa boa e útil,

condenavam aqueles que defendem que os Santos não rogam a Deus

pelos homens ou que

é

uma idolatria invocá-

lo

s, a fim

de

que oreJD

pa ra cada um de n

ós

eni particular (25.a sessão, dezembro

Cada um de nós em pa rticular. Cento e vinte anos depois do

Concílio, esta m

es

ma idéia é reafirma

da por

Bossuet na oração

fú-

nebre da rainba da França: Que eu menospreze esses filósofos que

avaliando os consel

hos

de Deus à medida dos seus pensamentos, não

o fariam autor senão de uma certa ordem geral, onde o resto se de

senvolve como pode ·c omo se a soberana inteligência não pu

desse compreender em .seus desfgnios as coisas individuais que, sós,

subsistem verdadeiramente. Não duvidemos disso, éristãos. Deus or-

3

·

_.;,

' - ' ~ ...

j

..

denou também nas nações as familias individua.s de·que elas são com

postas. Disposição que prepara e fomenta, na arte religi?sa,

não

ape

nas o caráter transcendental das visões de paraíso e eterrudade, as ma

ravilhas dos santos na glória, mas os testemunhos concretos e simpl

es

de uma proteção familiar, mesclada à atividade de cada dia, que,

an

tecipadamente, empresta a algumas estátuas uma e r s o n a l i d a d ~ ,

tl m

-

bérn específica, encoraja

os

fiéis a depositarem nelas.  

~ n t u ~ e n t o

de predileção, a visitá-las em peregrinações ou em mstan c1as Isola

das, ·como seres vivos e ericazes.

No decurso dos debates

do

Concilio, os perigos da idolatria

eram salientados nessas práticas, mas não contrabalançavam·a amea

ç·a mais grave de um culto abstrato que poderia levar à i n d i ( e r e n ~ a .

Por isso, os padres espanhóis tinham feito reconhecer nas imagens,

como tais, em primeiro lugar pelo que el

as

r

cpresc.ntavam,_

mas Iam·

bém diretamente e em razão das bênçãos ·de que

ll

nham sido obJeto

e das graças

de

que

es

tavam ilJvcstidas, um caráter venerável de ob

jeto consagrado que as distinguia da imagem profana e

as

banh_va

de

cs

piritualidade. Quando no dia subseqüente

à

guerra dos

Tr

mta

Anos, o Imperador Fernando UI ordenava reerguer no Império

os

calvários e as imagens das encruzilhadas, erigidos pela piedade dos

antigos cristãos e destruidos no decurso de a ~ i t a ç õ e s , não fazia

~ ~ s

do que aplicar o próprio espírito do n c ~ J _ ? e r e a ~ a a t r a d 1 ~ a o

Mas se se considerar até que ponto as cond1çocs da

VIda

favoreciam

esses recursos à intercessão c preparavam um uso .constante dessas

imagens, compreende-se o sucesso que poderia v l ~ de tal ~ e d i d a

e corno ela facilitava, muito mais do que as piescnçõcs polthcas e

talvez melhor do que os sermões, a propagação de uma religião

sensível" e familiar.

Poder-se-ia perguntar em que essas tendências sociológicas e

religiosas garantiam o sucesso

de

uma arte que fosse antes barroca

do que outra coisa. Mas a resposta é fácil. · .

Em

primeiro lugar, essa. religião das imagens era conforme ao

gosto da Europ·a e, naturalmente, · os model

os

espanhóis

~ x p a n

diram nos p

s

es

católicos para se associar à

j ? O P l i _ S ~ 4

a . . . . J : ~ O . ~ _ a

Como o caso da estatueta do Menino· Jesus ideotif•c11da até hoJe soõ ·

a denominação de Menino Jesus

e

Praga- e que tem

po

r modelo

autêntico unia pequena estátua de cera trazida da s p ~ a por M

""'

de Pcmstejn e oferecida

por

sua filha ao Imperador Ferdmando, q ~ e

a colocou numa igreja de Praga. D

ess

e modo, às vezes a própn a

33

I

I

I

:

I

I

t

I

.. ~ r . · : r . i j

't.';Í .:.Jj

li

(

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http://slidepdf.com/reader/full/livro-tapie-victor-o-barroco 23/58

'l

figura, porém mais freqüentemente ainda o santo cuja devoção se

· : { j ~

adquirir, reuni-las em

tomo

dele, se acrescenta

uma

condescendên-

' expandia com sucesso, procediam da Espanha, como Santo l sidoro, ' · ~ · ; ' : : 5 cia geral da opinião, em que entram, ao mesmo tempo, gosto po-

reconhecido como padroeiro dos trabalhadores c amplamente aceito · , { : . ~ : ~ u ar do espetáculo e m · ecente convicção de ue o e .1

nos meios rurais de toda a Europa. Nos países da América Latina, · . : · ~ ~ ~ : · · . · · : : -

1

  ~ l i z ~ e ~ ~ i f e s o _os_ e t os, p_;,2.__ ilho

culto e expressão do culto caminharam juntos e difundiram no novo . cen

áii.o em

que se exerce.l:omo nãõ ficar

im

presstonado pêlã D-

I continente o feito da F.spanha. Encontram-se, pois, tanto as devoções sisiencla di 1(ichelieu, depois de Bossuet o defender, um no

Tes-

"\

espanholas como a forma de arte que as

tr

aduzia. M:as onde o novo ·

i ·

• tamem p()/itique, o outro na Politique tirée des propres paroles de

, impulso de espiritualidade dos santos

não

adotava f0rçosamente os ~ i { : : L

Escriture

sainte, de que o luxo da casa real deve ser

re

buscado,

•3

modelos ibéricos, o culto se desenvolvia num llllndo já habituado

~

para impô-lo aos estrangeiros?

"As

d e . ~ p e s com magnificência e

l

com a arte iluminista do gótico e cuja sensibilidade se satisfazia : . ~ . :   \, dignidade não

ãO

menos necessárias para a manutenção da majes

• menos com uma beleza ideal do que com imagens familiares e to- :·;,;.

~

tade aos olhos dos povos estrangeiros."

Há,

portanto, intenção de

\C

0 cantes que a aproximavam da doçura ou da dor, dos sofrimentos e

;. fi1

deslumbrar, vontade de parecer faustoso, por r117.ões de oportunidade

da misericórdia. :'.reciso, pgrtanto, que a iml gem enteiJ CÇA_

'

U

~ - · jp

política. D c s e n v o ~ assim. além do Renascimento, p a r a l e l a m ~ ~

0

acalme, que ensmê,- porém inquietando o coração   e n h u m a · · : > . ' i ao es[OIÇO dos juristas e doutrinários para f o m e c e ~ o _ _ re1

l

.a

rte, a med

id _

clássica ou a harmonia p\atônlcãParecem basta

i';'

. : , · . ~ ' i

justificações de ordem intelectual, a

re

so

luç_ão

 

c o m o v e r

as

'b. nem_a__aptada_ aq_ objc ,ivo visado. Norriialrneri.te:' O: culto_aos t o s , ~ . ~ . , ~ i . Sibilidades pela grandeza do esoe tácülo r,eal; )ossue

 

ala.

Oeli.ão

como era

cornpftlÇ1 lH

9o na Contra-Reforma, encontrava-se asso- ~ : - ~ i

11  ·

se1 que encanto emana da pessoa do

p n n ~ p e .

Se se acrescentar .a

• ciado a um clima de maravilhoso e de realismo, que aTIOer'dlül'e do ' : . - : } .   idéia geralmente aceita, tanto entre os catóhcos como entfe os pro-

  I 'barroco podia mêlhor evocar e"satts[aze

r.

)-)" F testantes '(Jaime I da Inglaterra),_ de que o poder do rei eman_a di-

- --::---'-

-,;_-=::=:.:..:..-7. 7 .:..:..::...:.....

-:-:- ....::..:,:...:..:..._

_ . ··;".·:

'

retamente de

De

us, de

que

o ret é o representante da autondade

.Entre os valores

CI

VIS ~ J ~ v o ~ ~ . . ~ ~ arte ~ , I J

t u o ~ d l d f ?

·

; j.:i divina e, nesse sentido, digno de homenagens que não se tributam

\_ ?arroca,. ev - . n ar ara a .UIStitUtçao mon wca e

~

, . a outros homen.s; se se pensar enfim numa espécie de contaminação

os prmctpes ac:e t t i - ' l ~

L

  \ L ~ l . J W J l ~ J U ? r ~ _ t í ~ Dir-se-á que ,:·,

J

do culto da monarquia pelos ritos

da

r e l i ~ o nos pafses cat6licos,

~ s a

p r e ~ ç

a . o

eXJstu

a no do

R c n ~ s ~ e n t o ,

e que propor- ·,

1

ter-se

0

elenco de componentes do maravilhoso que

se

desenvolve

cwnou bons resultados ao espmto do classtctsmo. Isto é verdade c ;

':.

·' em

to

rno da instituição

assinala uma ligação a mais ent

re

o Renascimento e o barroco, ent re ~ ? · A' d ' . · · . á

1

·

d'

1

81

5

R

. · • 1 · · d é 1 XVII E · é

•, ,

''r JO a mats: a monarquta ser anto mats gran

10sa

quan o

o

e n a s

u n c n t e o c a s ~ C l s o s .cu o : ntretanto, .a d t,a

....

misteriosa for. Em 1648, parlamentares parisienses, pressionados por

de ~ r : _ a r maJest.ade real de um aparato de t q u e z a , assulllla mats ' : - : ~ l  Mazarin

para

definirem clarame

nt

e os respectivos direitos do Parla

conststencta à med1da em que grandes E s t a ~ o s se ror:naram na Fran- mento e do rei,

80

invés de aproveitarem a ocasião para amesquinhar

ça,. ~ ~ g l a t e ~ _a. ~ p a n h a , e que com

1sso

se qUIS marcar a pre-

> ~ · ,;

um poder do qual eles

não

cansam de denunciar os abusos, protes

e m m e n c t ~ da

msut11 çao

e do

p e r s o n ~ g e m

no ~ u a l ela se

. e ~ c a m a

: ,

l

taro, como diante de

um

sacrilégi

o,

declaram que seóa violar os selos

t e m p o r a n a m ~ n t e Amda uma ve L m a l ~ é. à Itába que se.dmge,. pro-

- i ~ i

I-  do segredo da majestade do Império. Tudo isso pode parecer es

Cutando segmr o exemplo das Cortes Italianas, que manunharn JUn to .• . 1 tranho ao barroco mas na realidade o repete.

delas os artistas e cujos príncipes se di.vertiam ·ein construir palácios, ':-·." Nã pod d · d éculo

XVII

d I Ih

· · · é · · · • o llC erta, para comprecn cr a monarqma o s ,

em remo e

ar

- es os arranJOS mtenores. Surpreendente o caso de

,,-:

:

1

  · át

1

d ·xar de v'slumbrar

uma

d'ts-

H

· IV h b' d ' · · · d..

1

·d · d . · ,

il

neg t g e n c ~ a r esse car er sacra , nem e1 1

ennque , a ttua o as VIC

 SS t

u es ce uma VI . a guerreira e e

..

;·.: 't

. •

b . t as ·nst"nct'as

0

que possibilita fomentar a

· d . . , d d

'b -

, ,

ç,

postçao em uscar

em

ou

r

1 "

pengos, urante

~ o .

tempo pouco

~ r e o c u p a

o

e.

er o

gt

ao r as-

s

; - . i i i '

emoção em torno .dela.

n ~ e

as f

ys

tas das quais a

Idad

e Média,

gado as vestes SUas, roas que, uma vez

e s t a b e l ~ d o

no ~ e r de

,:'':·

. sem dúvida, · transmitira a tradição, mas que recorrem a

tudo

o que

um rc:1 de França, tom_a logo o gosto de co

nstC1ll.r.

em

~ n s e em ;: -rj a ar te contemporânea oferece de mais deslumbrante para  a inaugu

Fontamebleau, de orgam.zar no Louvce a grande Galena à berra dágua. ,-J

.J

ração de reinados, para os casamentos, nascimentos, lutos

na

casa

Ao humor pessoal do príncipe, que pode, se o quiser, ser um _ : i1 real. Com diferenças que resultam das disponibilidades financeiras

amador esclarecido, apreciar as belas coisas e, pela facilidade de as

<

de cada Estado, no decorrer do.s acontecimentos politicos mais ou

34 •

.;;

,:; 35

. . '(

.

1 ( 1 : ~ - :

·:. ) ~ t i

 

I

;

~ \ 1

'

,

r

Page 24: Livro TAPIE Victor O-Barroco

8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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\

· '

menos propícios,

c ~ n f o r m e

os paíse, e as datas, ess.a

pompa

monár-

~ : J i

grupo social, mas é, c o ~

~ r e q ü ê n c i ~ f r u s t r a d ~

pelas

~ i t u d ~ s

das

quica esteve associada, cedo

ou

tarde, em maior

ou

menor grau, em . más g e s t õ e . ~ , dos inforturuós ·dos filhos pró<hgos, dos nscos 11Dpre-

todos os países europeus - Espanha, França, Império, mesmo a

. ~ ; ~ : : f .

visíveis. Por isso, a continuidade dessa tradição não é

uma

regra tão

Inglaterra - a manifestações barrocas. E as outras classes sociais? .   ::·:· i. genética como se tem dito;

ma

s s.e se te n dito ou d e s e j ~ d ~

f a ~ ~ r

crer,

se

viu como

0

modo

de

vida dos· camponeses os pre- . .

é

justamente porque correspondLa ao rdeal por excelencta. Temos

dispunha à forma

de

sensibilidade religiosa que a arte barroca

era •:;

poucos bens, di.zia orgulhosamente

um

Lefevre d'Ormesson, mas es-

a mais

apta

a traduzir.

Um

estudo mais aprofundado obstaria, sem ..};} tes bens nos vêm

de

nossos pais."

Há,

desse modo,

no

senhor e

dílVida, considerar a classe. camponesa como um tqd

o;

propiciària .

: _

1

.{

proprietário fundiário,

ao.

mesmo ten:po, camponês rei, pois.

reconhecer nela os grupos que, mais específica

ou

conscientemente, ·•;:·

· exerce sobre seus vassalos uma proteçao e uma autondade adnum.s-

contribuíram para as realizações da arte religiosa barroca

no

cam- · trativa que relembram as dos príncipes sobre seus súditos. E muitos

pcsinato

da

Europa católica, mas têm-se como certas as alinidades .

k

valores

da

concepção monárquica como a possessão territorial, a

do mundo rural com uma ane

de

imagínação e

de

iluminura.

-·. : : 1 ~ •

·

continuidade hereditária, o comportamento

pa

ternal, encontram-se

. ,. ,

na

concepção senhorial.

também é

um

mundo

da

imaginação e

Ma

is complexos parecem

os

casos

da

aristocracia e

da

burguesia.

,. 1-.,

lo

da

scnsibilidad'

e.

· , : - ' · ~ -

Uma e outra classes, detentoras da fortuna, constituem a clien-

1

' Nesse sentido

0

mundo

da

burguesia se apresentaria, em con-

tela dos artistas e tem-se o direito de procu.

rar

o que,

em sua

ideo-

 

i

8

traste, ligado a vaiores mais positivos. Todavia, quando os negócios

logia especifica, as impeliria a outorgar sua preferência a

um

estilo ·  

a manipulação do dinheiro asseguraram .a riqueza (deve-se con-

mais do que a outro. . siderar que as maiores fortunas

são

as dos financistas, principalmente

Na

base

da

economia geral

do

tempo,

o b s e r v a ~ s e em

todos , , . nos países em

que

a economia capitalista

se

desenvolve

mais),

o

Í

á · d · · •·.

;1;

prestígio da nobreza, ao mesmo tempo odiada e inveJ a da,

per

ma-

os pa se.s a progressão do dommio fundi

no,

quer se tratasse a re-  

constimição de parcelas de terras desmembradas, em herdades ar-

+:I l

necc tão poderoso que a passagem

para

o modo de vida da aristo-

rendadas por seus proprietários, nobres ou burgueses,

ou de

mais ·

,;

cracia e a adoção de seus hábitos acontecem muito depressa. Mas

·

~

não

é

necessário deter-se nesses êxitos excepcionais ou rápidos da

amplos dominios, cujo senhorio

se

reserva a exploração, confiando-a · .

..

·.

minoria

da

burguesia.

um

· fato deve reter

maiS

a atenção.

R

que

·

n_a

na práti

ca

a intendentes e fazendo garantir a

maior parte do11

tra-

~ ed f ·

d

: ; • ~ u r p ~ y a _ 9 o . ' ; 9 . . Y . J . . . p ~ pa

js_:

s__ ue . eram pre

c r c ; n c ~

balhos, a títul.o de

v a s s a l a g ~ m

gratuita, pelos

c a m p o n ~ e s

detentores

;.

. f. ara a_ à - í . r . 9 1 . l

t ~ t u r a

_

1

_

11

decoraçao ba;rooa, . com seu f.a\fsi? ou

de.

dependêncras

ou

loca.tános terras

de u g ~ e l

. .Se.Ja .guaUqr a ·.

j-

apenas seu gosto do excesso c da ilummura, joram

' q ~ ~

L 9 . ? J

·;on

em

das rendas, a arJStocracta

ou _a

burgyesta_q1;1e se.

o . f ? n ~ e

dominava

0

elemento

rura

l e

3 ~ .. ã ~ } J i u w . ~ i ~

c ? ~

e a e tem a . o reza

na

F r ~ n a, a.tra' és

de

Cl f8o§. 1udi- . ·, ecia mrus redUZJdr..a difíc

1

1, nessas condições, deixar .de estabe ecer

~ S t

ortemelll.e...ligada à term...

Nao há

nqueza sem

uma

gran- . · : l ·

;;"ma

prÕVâvelre ãção de causalidade

en

tre a economra senhonal c

de proporçl o de domínios e de florestas,

nem

nobre poderoso que ·

0

barroco aeconomia urbana e uma arte mais sóbria, que

seri\1

a

n ~ o

seja

p ~ o p r i e t á r i o c.

orgulhoso

de

o ser.

Por

muitos aspectos a

·,, ·i I

>;

do

ctassiclsmo. A coisa

é

bastante surpreendente

no que

diz respeito

Vida

senhonal se aprox1ma da vida camponesa, desenrola-se

na

mes- ..

1

.:

à França

.

Embora faltem ainda as estatísticas comprobatórias, pode-

ma moldura natural e, malgrado as diferenças de recursos, participa . · ; · se admitir que a sociedade burguesa na França era proporcional-

das mesmas representações coletivas.

No

solar aristocrático

de pro-

· : . mente mais numerosa do que

na Europa

central, na Espanha

ou

na

vineia francesa, o nobre, caçador

ou

agricultor,

é

antes

de tudo um

· _

f

Itália;

que

pequenos patrimônios lhe asseguravam a abastança

na

par-

.rudcola.

Como

sua fortuna seja mais extensa e, sem dúvida, garan-

·,<

cimôn.ia

do

ritmo

de

vida, sem autorizar despesas supérfluas. E in-

tida

P< r.

alguma

h e r a n ~ ~ b u r g u ~ s a ,

comporta uma dessas residências ·,;;

j

; dubitável que,

para

clientela burguesa das

c i d a ~ e s ,

a arquit_etura

senhona1s,

que

as

farn.J ias

consideram questão

de

honra, e

que

pas- .

;:

l francesa adotou

f ~ e q u e n ~ e ~ 1 e n t e

uma postura de

f ~ r e z a

e sevenda

de

sam

de

uma

geração a outra, embelezadas e readaptadas à

moda

· , : que se prefere dtzcr classLca, apenas

para

reduzrr. as

d ~ p e s a s

ao

do

dia. O orgulho de transmitir uma herança permanece, através

de

.

i

mínimo.

Ela

se satisfez

em obter

um resultado sa_:tsfatóno pela re-

três séculos,

um

dos

traç

os mais marcantes·

da

sensibilidade desse

~ ~ ·

; gularidade relativa

ou

pela harmonia

da

s proporçoes, sem excessos

'

36 37

)

I

,,

) \

 :(:; :.:,,

~ J .

; , ~ , ~ ? i . ~ · ~

r ~ - _ · ' - { . : ~ . \

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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nem decorações

e,

mais tarde, desta simplicidade, às vezes um pouco . { ; , ; , '  

árida, ·se f

ez.

o princfpio de uma qualidade elegante, em que o booi

· : ~ ~ ~ · . :

f..

gosto francês atestava sua maestria e sua medida. :;-:,;'' i

Não

se

pode, além disso, contestar a existência de uma tradiÇão

da

França severa, para retomar uma feliz expressão de Henri Fo-

;.

"

f

cillon,

e

nessa severidade a doutrina calvinista, o rigor jansenista, · '

os estudos jurídicos estimulados pela multiplicidade dos cargos, têm

uma parte muito grande de influência.

Têm, porém, um valor geral essas considerações justificadas pelo

exemplo franc s? Pois não se pode esquecer

na

mesma época, o su

cesso do barroco em grandes cidades e o desdobramento

de

belos : _

conjuntos urbanos nesse estilo. Certamente Pierre Lavedan observava •  

recentemente que os planos de cidades p e r m a n e c e r ~ quase em toda · ~

a parte fiéis à tradição regular e geométrica instituída pelo Renas-   }; i

cimento e que só

as

decorações introduziram nelas a estética bar- ,;

"i'--

roca. Ainda que os séculos XVII e XVIII tenham multiplicado, áo ;

longo

de

uma rua inteira ou em torno de uma praça,\ as fachadas

movimentadas, os portais com colunas, os frontões cortados, uma

decoração de estátuas sobre os áticos ou a turgidez dos balcões

sustentados por atlantes emprest

am

a toda uina cidade ou a .todo

u1n

bairro um caráter barroco. Assim é Roma, Viena, Praga, · Mu

nique c mais longe na Itália

do

Sul, a encantadora Lecce, cujo ca

ráter vai dissolver-se hoje no

de

unia .cidade moderna. ;é possível

contestar à V cneza do palácio Rezzonico e do palácio 'Labia um

caráter barroco?

Em contrapartida, nas cidades marítimas dos séculos

XV1

I e

XVJII;, :õellO YA

.

Th.líli n,

_

a l ~ : c i a ; P - 1 > í ~

no

  _:P-ortps ~ _<:çsta At âo

tica..2 f a n t a s i ~ e. a c x u b e r â n c i a _ a r r ~ ~ e ~ l o ~ ; n dec_oração _dos

_ ] l O n ~ n O S

p ~ l ] l \ Ç Q , t ~ da

 

n.fradas

. ~ v ~ ~ · o r a

_

da

.

r ~ e

prospendadc do comércu:Lmantnuo. sem hgaçao com os m c t ~ ~ S -

tocráticos e rurais. A riqueza

se

traduz

por

uma ostentação, uma

prodtgâhdade que antigamente nem Amsterdã, nem Antuérpia

se

permitem a

esse

grau

.'

Este barroco

da

riqueza marítima, que con

tradiz a aliança

cxclusi'Và ~ ~ ~ m

a ec_?I_ OE:Ua

~ i i â } i ~

re

e o c o O r a . : : O T . ~ ~ c l ~

i S t ~ n c i _ l l ~

~ \ l e r

mõaõ, aJc Zaao,

o cspirito da

~ e l a

~ o m l

Enfim, mesmo a serviço de uma ·clientela aristocrática, religiosa.

ou rural,

..

os artistas eram, em sua maior Earte,

de

r i ~ I I ; l

~ u r g u e s ~ ,

procedentes de

um

meio artesanãl, formados nos estud1os Õl S'-1:1-

dades. A liberdade da imaginação criadora os eximia das coações

gerais

de

sou

grupo,

tornando-se os intérpretes

das

ideologi

as

re

ligiosas ou senhoriais que a arte barroca ilustrou. Todavia,

se

não

se cogitar apenas acerca das artes plásti.cas e se se considerarem as

obras escritas

e, de

um modo mais geral, o estilo

de

vida, não se

pode deixar de reconhecer o predomínio dos elementos burgueses

nos

·países em que se desenvolveu uma literatura de an:ílise e ob

servação,

em

que a aptidão para o raciocínio abstrato,

a

preocupa

ção de uma verdade geral

c

satisfatória para o

espicito

ganharam

, mais importância

c

prepararam o classicismo. As gradações, no en

Provavelmente, mas esses conjuntos barrocos não estão todos

ligados

a

uma atividade burguesa. Às vezes até, .eies a

t ~ m

provo

cado, promovendo encomendas ao.s empreiteiros, pedreiros, serra

lheiros, ferreiros, estucadores, cuja atividade foi estimulada por es

sas construções.

Os

palácios nobres de Viena e Praga, edificados

com os

lu

cros da propriedade dominial ou tributos de corte, refletem

o poder

da

aristocracia e o aumento

de

glória que ela adquirira a

serviço de um Império em franca ascensão política. Nem o palácio

de inverno

do

príncipe Eugênio, em Viena,

nem

aquele que o conãe

Gallas, vice-rei de Nápoles,

fez.

construir em Praga e para os quais

um o outro reclamavam

(o

que não aconteceu), a abertura de .uma

praça como vestíbulo

à

sua magnificência, têm relação com a ati

vidade ~ e s a das duas cidades. Pod.

er

-se-ia dizer, ainda, que em

L ~ c c e ,

cap1tal de

uma região de grandes domínios

da

Igreja

e da

ans

tocrac1a, o caráter b ~ r r o c o e o caráter urbano não estão asso

ciados, que a condição de Roma permane<;e excepcional.

tanto,

dev

em ser discretas. Esta disciplina da literatura só se impôs

i.:i i

pouco

a

pouco e através de debates para harmonizar o verdadeiro

?."3 '

com

o

verossímil, para refrear

a

imaginação pelo raciocínio ou a

38

~ experiência, e os escritores cujas obras testemunham a passagem de

:.i ) .

uma concepção a outra eram bem burgueses. _ •

.

l a t i - . : : _ ~ . m e n t e

.

à d e ~ i n i ç ã o _·

çrescen.te

i.dea}

c l á _ s s i ~ o :

C h e g a - ~ e

~ o t ã 9

' ( •

P. preciso dar-se conta

das

datas, da evoluçao dos generos .

e-

V$ .;( ~ u : : ~ d i ~ ~ o

~ : r ; ~ ~ s ~ ; o ; : o ~ ~ ~ ~ c ~ ' ~ ~ ~ : ~ à r n ~ : ~ : r ~ d ~ ~ :

·.

·

os

est

ilos toin.am

claramente consciênc

ia

·de sua natureza e

de

seus

f: - · Tios,

as sociedades burguesas propendem a preferir a medida e a

• .I

ordem;

a q u c l

 

q u e

são

mais.

especificam lll_e aristOÇ_rátjcas e ter

: • i

.renas concedem seu beneficio

à

imaginação e

à

liberdade barrocas.

, ,

1

Assim, a Europa divide-se em dois grupos: num predomina o es-

\

pirita

de

racionalismo e abstração, no outro a imaginação e a sen-

.... sibilidadc. J

-

\

39

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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l

Quando essas tendências foram reveladas numa literatura e

em.

formas

de

arte plástica com características equilibtadas e a consis

tência -interior do classicismo,

ou

em monumentos de arquitetura,

na

decoração dos edifícios religiosos,

no

folclore florido dos en-

. cantos rebuscados ou ingênuos do barroco, a contradição entre

ós

dois estilos surpreendeu os espíritos ao ponto de fazer admitir que,

por sua · nature

za

cada

qu

al procedia de

um

gênio profundamente

diferente do outro.

Na

verdade, porém, as coisas não aconteceram

desse modo. Cada um dos fatores indicados nesta breve análise, sem

acarretar, necessariamente, o sucesso exclusivo de

um

estilo num país,

predispunha-o, distintamente, a maior favorecimento ou restrição.

Principalmente, as condições históricas - ou seja, ao mesmo tempo.

econômicas, politicas,. religiosas e sóciais - determinaram-lhe o

desenvolvimento e emprestaram à civilização da Europa moderna a

comovente diversidade que continua a representar o testemunho de

sua riqueza espiritual e exige,

nesse-

sentido, daqueles que a estudam,

o respeito a todas as suas inanifestações e

um

a simpatia compreensi

va, suscetível

à

qualidade de todas

os

suas mensagens.

40

.

.

'

:::

: . ~ .

·,;

:;:} .

··

·

..

.·,

Segunda ·Parte

AS EXPERIE.NCIAS BARROCAS

I

I

I

'

  :

I

'

:·· .

 

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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f

j

i

Capítulo I

O B RROCO N ITÁLI

. A arte que sé desenvolveu em Roma no século XVII e que

representa

os

maís belos resultados do barroco, abebera-se ·nas dou

  trinas do Renascimento, interpretadas e definidas pelas obras . de

Vignola (

t

1573) e Palladio, mas recebe sua inspiração essencial

da renovação religiosa, do · entusiasmo demonstrado pelos papas em

'

, face das conquistas espirituais e políticas aparentemente asseguradas,

de sua vontade, enfim, de conferir uma beleza exaltante à. capital

de uma cristandade restaurada. Roma triumphans Dir-se-á que os

teóricos citados ensinaram uma arte regular e clássica, quando muito

'

· abrandada

em

disposições sagazes, como no interior do Redentorc,

em Veneza. Mas suas obras recomendam e propõem à inventiva

I

I

  M t t ~

; , ~ ? t k : ; · l t ; i

- ~ ~ ( ~ 1 ~

- ~ : t §

t:::

tf.i..

Numa especJe de

~ m u l a ç ã o ,

: o n s t ~ u . ç õ e s de i ~ e j a s ?e

Os nomes.que citamos traduzem, por si sós, a riqueza das. equi

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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i

cedem, cada qual assummdo uma ·ferçao ongmal. A m a ~ . o r vanedade, ,J.

•:'lj}

possível, dentro dos mesmos princípios diretivos. As l.'Ópulas,

· ; ; ~ ; J

quais as preocupações arquitetôniCiiS reencontram o desígnio

do

srm .:.

~ , : ~ ~

bolo cósmico, proliferam. Ao mesmo tempo, análogas e

d e s s e m e :

· r ~

lhantes, esféricas, ovóides, segmentadas por nervuras, s u s t e n t a d a s

; . . ~

mais

ou

menos alto pelos tambores,

ali

jadas com maior ou meoo

}; ./'?.

lZJ

tenção pelas lanternas, e fazendo um estranho acompanhamento a·;;:.;'·

mais elevada, a suprema, ?e São Pedro, e m p r e s ~ a?

c é ~

de R o m l \ .

e à paisagem da crdade mterra um de seus m<Us rotstenoso_s e . [ . ' ~ : ~

cantador

es

aspectos. Igualmente as fachadas. Elas se replicam,

a

\i

:

;:z

pouca distância uma da outra, sempre regulares com seus dois · i j

dares, a continuidade das volutas, seus frontões triangulares, e r g u i d a s

· ~ : ; , ; ;

i í

ao longo das mais largas vias ou enredadas, sern recuo, no labirinto

X•::,

J;

das pequenas ruas. Eias revelam assim a fecunda · n g e n h o s i d a d ) ~ {

dos arquitetos, entre os quais uns inovam e outros "arcaízam", todos;'? /;:· t

porém, ate

st

ando tanto liberdade comogosto. Carla Maderno ( 1 5 5 6

{ . : i .

iJ

162?)

era sobrinho de Domenico

F o n t a n ~ .

Ele trouxe

p ~ a .

a s q _ a { : 5 ~

I#

equtpe um Jovem parente, que se torna mats tarde Borromrm, a s s t ; . ; : -

nalando assim em suas filiações e atividades, a transição entre doi§>..;.

11

grupos e duas épocas. A

M a ~ e r n o

não cabe o mérito de uma

d e s ;

/ ' f

coberta,

rnas

de uma inovaçao pelo emprego que soube fazer d.c:t

;

).':',; 1

coluna e por. sua

in

terpretação do espaço:

as

superfícies d e s p o j ~ d a s ; ; ~

são restringidas, ·os mur?S c.obertos de nichos

e

estátuas

( e x e m p l ~

 

Santa Suz(lna,

1603).

Ptetro

da

Cortona

(1590-1669),

pelo movt- .

,:·;. ?

mento que imprime à fachada

de

São Lucas e

de

Santa Martinha;

,;<:

no Forum, inaugura o tema das fachadas encurvadas ou contras? .:.'. li

tadas, que se toma um dos mais caros ao barroco durante dof.L ~ · ~

, I . . , . "

seco os. · . : > · , ~ ·

Sobretudo, .o canteiro :de obras principal permanece,

d w : a n t

; f : : · [

todo o período, o de São Pedro de Roma. O pensamento de Mtguel ;,

. ~ .

Angelo 'sempre o presidiu, e a ele se devia a concepção grandiosa;<:,l Fá

do espaço central e ·

da o ú p u l ~

\

:sta r e a l i z a d ~ .

por ·Giacomo

d ~ l l a

·. . :

1

1

Porta, 1593), mas a planta pmmttva fot modificada. Mademo J U S ~ : \ j

tapôs, por assim dizer, no templo poderoso em forma de cruz gregl '; '·

::

. ;

as três traves de uma nave, com du

as

laterais: Ele concluiu o con

7

.·;

'·.

: . .

junto p r o m o v ~ n d o ,

p ~ r a

fachada greja, um p a l á c ~ o c?m

i l a s t r ~ : ~ : 1

{

e colunas, CUJa loggta central servma de moldura as bênçaos urbt :;::;_ ?.

t

orbi. Mas

?.

~ a b ~ m e o t o desse b e l c ~ proj7to

(1612)

, ainda não'':;j

.era o da basílica mteua. Faltava orgamzar dtante dela uma praça

à

. : · ; ~ 1

s

ua

altura, conferir uma decoração ao interior. Doze anos mais tarde·

,.

.{.,'

Beroini empreende. a construção do Baldaquino. · · .

·;

) • 

, ) ~ · : 1 t

« ~ ~

• :1•

pes q ú ~ trabalharam em Roma. Na tradição .do Renascimento, a

maior parte dos artistas não se limitava a uma só expressão: eles

se pretendiam, ao mesmo telJ)pO, arquitetos, escultores e pintores.

No entanto, mais do que uma escolha .deliberada de sua parte, as

circunstâncias dos encargos determinaram-lhe, com freqüência, a es

pecialização. A pintura de Roma ainda permanecia fiel a um ma

.neirismo elegante

e

árido O Cavaleiro Arpin, na cúpula de São

Pedro), quando o cardeal Farnese féz vir da Academia de Bolonha

três pintores: os Carracci, impregnados dos exemplos de Veneza e

Parma. Sem conferir aos afrescos mitológicos, com

que

decoraram

o palácio Farnese, o caráter de uma arte nova, eles revelaram em

·Roma o gosto das. grandes composições para as igrejas, bem como

para as residências privadas. Donde a sedutora decoração que Guido

e Guercino emprestaram aos tetos dos cassinos Rospigliosi e Lu

dovisi : os de

li

cados triunfos de A Aurora. A pintura religiosa, pela

necessidade de guarnecer grandes es paços, adotou proporções quase

gigantescas para cenas de apoteose ou martírio. Com belas quali

dades de desenho, de ha rmonia das cores, de majestade ou de pro

funda emoção, como a última Comunhão de São Jer6nimo, de Do

rnenichino ern que o ardor da fé, mais do que o adjutório dos

assistentes, dirige e faz palpitar dian

te

da hóstia o corpo descarnado

do velho doutor , esta pintura ·parece amiúde declamatória.

Em

contraste coro ela, menos exímia, traindo a formação incomple

ta

ou

desigual do artista, a obra de Caravaggio vibra

de

urna paiJtão surda

e

de uma genial inwiração. Ela é, todavia, barroca, também ela

insepar ável do espírito

e

da verdade da Roma de então, onde ,for

migava essa humanidade popular, da qual Caravaggio ·tornou em

prestadas as faces e a inflexão 'ara os personag:ns do E v a n g e l h ~ ,

A Virgem dos peregrinos na San Agosboo, o Sao Mateus da Sao

Luís dos Franceses, A

morte

da

Virgem

(Louvre) puderam chocar

os delicados e os doutos. Além de ter, melhor

do

que ninguém,

"evocado o duelo entre a luz e a sombra", Caravaggio proporcionou

à arte pictórica admiráveis exemplos de independência. e verdade.

Sua maneira exerceu influência até

nos

discípulos de seus adversários,

os Carracci. Por isso, Roma torna-se, não apenas na Academia São

Lucas, ·mas na diversidad.e. profunda do que oferecia aos visitant

es

estrangeiros: a presença dos antigos,

as

obras de várias escolas, sua

luz envolvendo tudo, a cidade por excelência onde se aprendia a

pintar, isto é, a ver e a meditar. Explica-se, por conseguinte, que

uma etapa roman'a torna-se indispensável à formação dos maiores

pintores; que Rubens, Velásquez ali tenham vindo, que a Rorna

bar

-

45

i

I'

il

:1

,.

l

I

l

I

I,

I

i

:J

> i:

- - - - - - - -

- - - - - - - - - - - - L - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - a - - - - - - ~ - - ~ ~ ~ ~ - - - - 7 ~

§

 

(.

'

.

roca tenha sido o lugar em que os pintores clássicos Poussin,

J de

fazer esquecer o peso dos materiais, de esculpir sua própria arqui

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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Lorrain; se sentissem mais

à

vontade

c

fixassem residê ncia. Ao mesi / tetura . Permanecendo fiéis a si m e s m , ~ , , . J l l ) . b . o s , . c q l ) t r i l w i ; c . l m

. p ~ r ª - 2

mo tempo, outra pintura de caráter singular se afirmou, não mahf sucesso

da

interpretação bar roca dos componentes

do

Renascimento,

através de cenas heróicas, mas de ·cenas quiméricas c, dir-sc-ia, de·.·', ·

.':

desenvolvendo até as óltimas éonsegiiênctas os

pdndpws

_

ri'ãl)adJO

imaginação celestial.

Ela

começa com Baciccio (Giovanni Battisti{ ,: ; ; ~ e

V

gnota: linha curvat. planta em elipse,

c ú p t . 4 ~ , _

ê o t a s ~ ~ ; ~ ~ < ; > S

Gaulli, cognome, 1639-1709), o decorador das abóbadas do ....

(;

·_ das fachadas,

i n t ~ p r c ~ a ç ã o j o s P ~ ~

. : _ Ç > l l l W ,

Í r ; t ~ e

a 'epl ça

desabrocha no fim do século com o P. Pozzo (1642-1709), que·

· ~ J .

do c§ncayo c <Io convexo c onde se

p r ~ ~ l i . P U _ n b ~

~ ~ v e l • 

reintroduz as influências v e n e z i a n a ~ e realiza uma obra-prima

conf.

. . ;.;

.Jàme.ntQ.l,

_a arte epúm

c ª p t a

e

fixar

.P -Jledra a

tuz

e o :vento.

a grande composição cósmica que ocupa toda a abóbada de Santo' Um como o out.ro assoberbados

de

encomendas, donde o número

Inácio, em que se vê a arquitetura da igreja prolongar-se,

por

u.ni

_

:_ ;i êõiiSfderáyel de suâs obrâs·. - . - ----   -

hábil

l r o m p e ~ ' o e i l ,

e abrir-se sobre uma perspectiva de céu,

com()_

__

·

: · ~

A B

tencc uma lória mais

am

1

r ue se

lhe

deve

a de

Corr

ewo nas cúpulas de Parma.

::r

.

. .

o

a c a b a o : : ~

s : rSão Pedro várias eta:::: q primeiro lugar

~ a s é efetivamente na arquitetura que a maestria dos R:omanêl$,. · : (1623-1634), o baldaquino, gigantesco dossel de bronie, com co

se afirma, entre

1630

e. 680, pela presença de ~ ~ 1 s arqwtetos e

.·;

unas torsas, que sobrepuja a confissão; depois, no tempo de

n

o

escultores ímpares: Berrum (1598-1680), e

Borro

lll_lru.

1 ~ 9 9 - 1 6 6 7 )

:. cêncio X, a engenhosa decoração das traves e dos contrafortes da

N_em um nem outro eram

r o m a ~ o s

de ~ a s c e n ç a ; o

prtme fO,

prove- : . fr nave, transformados numa galeria triunfal que termina junto aos

mente de Nápoles, com pa1 de ? ~ g e m florentma, ? segundo;,. · í muros dos pilares da cúpula, por sua vez dissimulados por um grande

parente Maderno e nasctdo na

It_alia

dos lagos. Do1s t e m p e r ~ · : g motivo de pin.tura numa m o l d u ~ a , ~ c

c o 1 u n ~ s ; .

finalme':te, o monu

m e ~ t . o s d1íerentes, qua.se. opostos, a _ t ~ l ponto q ~ e s ~ a descendêncJB,.. ": mento da ábstde central:

0

relicano do púlptto de Sao Pedro. :e

e s p m t u a l . ~ a r e ~ e constitUir duas arnJhas, e, no . m t ~ n o r do b a r r o c ~ . . : um dos pináculos da escultura moderna e que

0

engenh_oso artista

q u a s ~

do1s

eshlos mas tanto

um

como outro IndiSsoluvelmente h;) . ·. distribui m duas cenas: embaixo, as estátuas de bronze g ~ g a n t e s que

gados à Roma tnunfal. --:,.·< .1 suportam o relicário, e em cima, uma glória em estuque dourado

. Conferiu-se em seu tempo a Bernini a

rep1.1tação

de ser o

s e ~

,,

'

i>

com seu fluxo de anjos

e,

na janela que ela envolve, a pomba do

guodo Miguel Angelo, e há nele uma monumeotalidade, uma pu; :.· Espírito Santo.

jan'ça de imaginação, um sopro de

~ r a n d e z à

épica, um estreito

pa

2

:. ' .> Acrescentemos t·úmulos entre os mais eloqüentes da basílica: o

fentesco com o Renascimento. Borromioj, menos próximo do sublime, ·, : de Urbano VIII (

1647

) e, mais patético ainda,

0

de Alexandre VII

pçssui

1

'em

contrapartida, mais sutileza ( inda, uma exaltação, uma "·,

IJ

M

d

(1672), com

os esqueletos, figurações

da

orte que vem surpreen-

vivacida e de invenção que

o

levam

a sur

preendentes audácias : ·.;

· ·

d

que parecem. derivar os

refina.

mentos

e.

as gra.ças

cx.ccssivas d.

0

r o-..... der

um

dos pontífices na plenitude de sua auton a e e outro no

6

I d b

â

d

r recolhimento de sua prece. Isso para o interior. Mas no exterior São

coe . n u Itavelmente - e

1sto

permtte avaliar a tmport neta os .. :

; I

• d'

1

d ld

Ih

dois· mestres . não se pode imaginar sem eles nem São Paulo de· ·- 'l

'Pedro

se encontra, por asstm v.er, reco oca o na mo ura que e

Londres, nem o barroco de Fischer von Erlach, nem a arte das aba.:  .: ·. · convém: a colunata

em

elipse que cnce{fa

0

espaço

de

suas duas

dias da Áustria, da Boêmia e da Baviera. Porém, um como o outro,:. '

:j

alas e cujos terraços sustentam uma fileira de estátuas.

r;omanos autênticos, dotados de uma delicadeza e sensibilidade

I

Bernini linha como

obra

preferida

de sua

arquitetura, a pequena

tinas, e refreando, por

um

gosto muito seguro

(o que

seus adver-· ,Í igreja de Santo André do Quirinal,

de

proporções perfeitas, em que

sários nunca reconhecerão) , o perigo

da

·vulgaridade

em

que teriam

j l

a decoração

em

mármores de cor se incorpora com o próprio edi-

soçobrado, em seu lugar, artistas_prcocupados

com

o efeito de sur- ·:, I; fício. Escultor, ele ofereceu, sem dúvida, a imagem mais poderosa

presa ou a novidade, pelo prazer exclusivo da proeza. ,

i::. da

estatuária barroca:

êxtase de Santa Teresa

traduzindo no már-

Um

e outro poetas e, nesse sentido, inventores; porém Bernini more, com a precisão

de

um historiador, a cena do êxtase, sobre o

entusiasta da gr:mdcza, da majestade das perspectivas, e Borromini qual a santa legou a narrativa· e fazendo o espectador quase sentir

mais sugerindo do que mostrando, menos monumental, hábil a ponto

>

o sopro do vento.

' , A ~ ~

46

47

 

;.'.(":

l;

.:.L

tr

ti

À suda obra de escu1Ãtura r e l i

o s l i ~

A bem-avbenturadaf A IEbertoni,_

·.·

h

duzir, como esta, o triunfo da espi.ritualidade, nem a evocar a ima

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I

O

8

s anjos ponte ão nge o rep ca uma o ra pro ·ana. m sua ' •

1

ti

juventude, a Me tamorfose de Dafne de um encanto ático; nas exp. ;'· , ;I

riências

da

maturidade, a emocionante alegoria do Tempo e s c o

.,.

brindo a Verdade;

depois, as estátuas reais

A visão de Constantino, • -;::

1

Luis XIV   ou

os retratos de um espa.otoso realismo: bustos de · ·.'

Urbano VID do cardeal Borghese, de Luis X1V (no ' salão de Dianá ::

em Versalb

es),

das t ~ : s enfim, das quais a mais . impone

nie é ~ . ,

aquela da praça Navooa, com o símbolo cósmico dos rios dos quatro :;.::·

Co

ntinentes. , ·

~ . : . ·

Borromi.oi, durante uma carreira menos longa, trabalhou

na

São

João de Latrão, da qu;tl renovou a disposição interior; na Sapienza,

.,.

da qual compôs a extraordinária capela, com sua cúpula e a lanterna . >;,

em espiral; na Santo And

delle Fra

tt

e, que lhe deve seu

cam

pa- ·

?<.

nário, transportado; diriam, pelos anjos; na Propaganda, que ehi :. ·

proveu de uma fachada movimentada e encantadora, desdobrada e .,

i

redobrada como um catavento. Mas sua obra-p

rima

não

é,

no i n í c i o ~

..

no fim de sua carre

ira

(interior, 1638 - fachada, 1667), a igrcja1.,

·:

chamada San Carlino, em que, na nave única, de capela mais dó ' ,,:

que·

ig

reja, a composição das colunas segue a ondulação das .,; • (

il i 

paredeS, c

n

fachada, escavada como uma

peq

uena urna, eleva-se

ao abrigo do campanário. Virtuose da linha curva, Borromini a m · : :t

prega na fachada

do

Oratório e, mais tarde, na de Santa

Inês,

cuja . ·..

Í

cúpula ovóide e as torres determinam um tipo de igreja que os . : ' , (

arquitetos barrocos deviam difundir na Europa. , ·:. ";,

Os dois art istas, enfim, traballiaram para a arquitetura civil, uà F , . . :

c

out

ro no palácio Barberini, Bernin.i no palácio Chigi· Odescalchi c. .

no Quirinal, Borromini no palácio Spada. Eles imprimiram à morada . •I

oma.oa de então, menos gravidade do que tivera o palácio do Re-•. : ..

nascimento

fl

orentino, menos finura castiça que a vila palladiana,

,

· .:;: ,

menos intimidade que o palácio veneziano, .mas asseguraram uma;' .

.-:

.

qualidade original de nobreza e enca.oto, pelo equilíbrio atingido ' ,;,

entre a harmonia funcional dos espaços despojados, das janelas de-" . • .

coradas e o aparato solene dos pó_ ficos

_com c o l u n ~ s ,

das pilastrafi •.

e das balaustradas. Uma consec

uç.ao

sáb1a dá

med1d

a e do gosto: ·· 1

Seni

dúvida, o palácio ·romano ·

da

época barroca deriva do Capit6Jia· .: ··

c da

La

urenciana, por

ém

com algo de mais amável, como uma ~ · i

tenção para o agrado do seu uso e o prazer de viver nele. E nfim, se ' li

se reconhece que essa arquitetura civil acusa menos audácia que

1

;

:;• '= "ligioo•,

' ' '

" ~ q

oo

' ' ' oão • ~

> 1

• ••

, &

·:-'l:

:t 

gem de outro mundo.

An tonio Mu.iioz, de quem a obra Roma bar

occ

a continua a ser

o mais compreensivo estudo, vê morrer a arte barroca, por volta

de 1780,

com

Canova e, como símbol

o,

o túmulo do papa Cle

mente XIV. Roma, na realidade, quase não

c o n h e c ~ u

o rococó, do

q

ual, todavia, a Santa Madalena, de Sardi (1735), seria tíllvez o

exemplo, e também a admirável pracinha com .bastidores imaginada

do XVIII, diante da Santo Inác

io.

Mas à médida das equipes

de arquitetos e escultores que trabalhavam, contemporâneos de

De

r

ni

ni e Borrorni.oi, os Rainaldi, os Lungh

i,

o Algarde, Duqucsnoy,

Mocchi, ta.oto pelo número como pela q ualidade, a época que sucede

a Bernini (morto octogenário e sem velllice em

1680), pa r

ece menos

rica em talentos. Não obstante, mestres incontestáveis nela se re

velam : Carlo Fontana, Vanvitelli, Fuga (Santa Maria Maggiore)

apresentam obras muito belas e a inolvidável Fontana de Trevi )lQora

tão bem a tradição de Bemini, que se lha têm atribuído ao próprio

mestre.

Mas

o grande per odo criativo passou: não se sabe que

frieza acadêmica inibe doravante o entusiasmo

e

a paixão do pleno

eis e

ntos. f alma não é mais

 

m . C j m . a . : . . . . . . a .

  §

  < ? . J . : '

Inocêncio XI, as dificuldades do papado no século XVIIl, a eco-

-

nóm"l'a decadente dos

Esta

dos ·pontificais;

õ

·espírito

C Q . ~

im.Ple.:.

doso que os ricos viajantes - turistas e não mais

.ll..C 'min

OL

'trazem

à

Cidade

San

ta e de uo os sarcasmos do. magistrado De

Brosscs diante da Santa_lE_ - _g_ L . . ~ S t ~

u

.. ó revCiãdor,

tudo cont

ri

bui, de _ l l ~ e r a ç ã a t ~ a r a des

tru

ir O encanto.

.Kilas as obras aguar<lã'raO

o

retomo dosrê rvorosos que as redes

cobrirão e reconhecerlío que delas procedem o barroco da Europa

central e as renovações que, da Espanha e de Portugal, conquistaram

a América latina.

*

* *

O barroco italiano não

é

s6 o barroco de Roma. Em toda a

península, esse estilo de rique-a e brilho conheceu admiráveis êxitos.

E m nenhuma parte ele

apar

ece em oposição aos monumentOs do

Renascimento ou do maneirismo, no meio dos qua

is

se insere. A

filiação, o parentesco são evidentes. No entanto, se as circunstâncias

pa

rt

iculares a Roma não se reencontram em outras cidades italianas,

nem os jubileus, nem a residência de Pedro, o espírito geral da

C

on

tra-Reforma está presente. E para o Santo Sudário que um dos

arquitetos mais originais do barroco, o P. Guarini (1624-1683),

49 .

I

I I

t :

:.

li

I

=

l

t } , f ]

levanta uma c a ~ e l a

em

Turim;

é

no dia subseqüente a uma peste,P l l

I

I

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l

I

I

l

i

i

que Veneza dec1de erguer,

à

entrada do Grande Canal, um

t m p o

: }

monumental a Nossa Senhora da Saúde.

Os

ricos patriciados das

ci

_: .··

dades marítimas, Genova e Veneza, os príncipes dos pequenos

Es.-

; .:

tados italianos - em Parma os Famese, em Modena os Este, em  · ..

Mântua os Gonzaga - retomam as tradições do mecemito   do R

l,l-'

· ..

nascimento e adotam, para suas residências, o estilo de que as ilns1 :· . -;

trações de Roma consagraram o prestígio.

> · • •

Em

Nápoles, e em todo esse reino que depende

da

Espanha:.

. : ~ -

os vice-reis, a rica nobreza (há também uma pobre e necessitada, e . :

cuja altivez aristocrática não

é

menos arde

nte),

as ordens religiosas.·

·;

constituem no século XVll uma clientela,

por

certo menos numerosa.

e

mel)OS

ativa que em Roma, mas cujo gosto se endereça com re

-,

solução

para

os grandes conjuntos decorativos. :Na extremidade. : .,

oriental da p e n f o s ~ l a Lecce, na Apúlia, é palco

de

um êxito curioso.· :

·

Assim se expandiram,

em

toda a

Itá

lia, obras barrocas, e o prestígio, •

de -algumas devia, no fim do século e no século seguinte, resplan- \

deccr além da Itália. ·;

;,

,

Em

Turim, o grande nome

é

o do

P.

Guarini. Ele pertencia à·

ordem dos Teatinos, cuja vocação era cercar da maior s o l e n i d a d . ·

possível o culto religióso c,

pelrus

luzes,

as

fiares e o canto, p r o ~ .

porci011ar · aos ofícios um atrativo quimérico e maravilhoso. O P: ;;:,._

Guarioi formara-se na escola de

Bl l

rromini. Ele vem a Paris onde

construiu , na margem esquerda do Sena, uma igreja

em

rotunda, ··.:  { l

Sainte Anne ia Royalc, da qual se pode lamentar agora o desapa-

  : ; ~ . v

recjme.nto. Ele era também matemático, com uma atração particular

>;•

pela composição das linhas e a combinação das forças. Na França, ,

\

as riquezas do gótico, desacreditadas em seu tempo, interessaram-no ,

.c foi um aos raros em compreender o que essa suposta barbárie ...

abrangia de ciBncia arquitetônica. .

A partir de 1666 fixou-se em Turim. A capela do Santo Su-. ; ,

dário, na catedral, a igreja San Lorcnzo (1668-1687) revelam-se à

análise como obras ecléticas, que mobilizam, para urn efeito monu-

...

mental, todas

as

sutilezas do maneirismo e do flamejante. O desenho

da San Lorenzo é de extrema complexidade, formando com as com

binações de suas capelas um conjunto que se acreditaria de planta

central, logrando contrastes pelas êntases e reentrâncias, preparando · :.

efeitos de bastidor que Palladio

utilizara, fazendo suceder as

cúpulas e os arcos, retomando nas tribunaS a janela tríplice, fre

qüente na Itália dos lagos, e recreando-se com as volutas, os 6culos,

as guirlandas, recortando enfim

as

cúpulas com enredamentos de

50

,I

I

I

\

·

'. .

· : ~ ~ 7 ~

róco. ~ a s é m u ~ t o importante que, no século XVII, Veneza t e o l l - ~ ' ~ <

absidíólas. O aspecto exterior traduz a complexididade da intençãe:

às faces -do octógono çorrespondem. pórticos o

do

centro, magnifico

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conllecJdo um chma peculiar de festa e música;- de que se inspú-ól{<·'-,>  J 

todo um aspecto do

~ a r r o c o

eur,opeu. Nos num:rosos teatros de

  . : : ; ~ : ;

neza_, as peças mecantzadas, as operas de um genero novo (o draiii

à'

:1< :

mUSICal

), OS

_p

rogresSOS

da música inStrumental demandavam OS s e r -

V I ~ o s de c o p J O ~ o pessoal de t ~ ~ a s as c a t e g o r i ~ s . _ A  lista seria imer0.'.· . i ; ; '

m m ~ v e l .

Os

p m t ~ r e s

de cenanos, os

m

aqu1mstas ' que eram

; ; ; -

<H

e n g e n h e ~ r o s

hábeis ein construir e manipular aparelhos:;·· .

comphcados, precasos como e ~ g r

e n a g e n s

de relojoaria, e que, t r a n s ~ \ L ~ , \ >

f o r ~ l a n d o

a cena sob os olhos dos espectadores, multiplicavam · r . r - - : , : . : i

erettos de. surpresa e ilusão; os cantor:s. de vozes

m ~ r a v i l h o s ~ : : : f S ;

raras, mulheres, cnanças, falsetes; os mustcos tocanllo mstrumeritos·i

.:i i

-9

de qualidade_ perfeita, seus b r i ~ n t e s elC:S próprios artistas m a i s g

do que artesaos, e os mats humlldes operarios, associados à a p r e ~ v < , · .s:5· i

sentação desses espetáculos - que alcançavam uma habilidade téé  .

/ ;:

iJ

nica e uma fineza de gosto sem iguais

__:_

todos contribuíram

' ' , , _ ; : ·

fazer então da civilização veneziana uma' experiência de seleção

a r ~ ~ · sem a qual as

fes

tas de corte na Europa do século XVII, nà · · ~ : ;r ·

Italia, na França, Espanha, na Áustria, não teriam jamais logradó ~ : : ' t i

tanto encanto e bnlho. :e rud t; e injusto demais omitir a lembrança:.:<·:\

do nome dos grandes coruposttores como Monteverdi Cava

Ui

mais ::. '·''

tarde Vivaldi, e esquecer esse mundo formigante d

e'

x e c u t ~ t e s ·é ·:;::·} i

participantes.

< , \

: \: •:, •:

'(en_eza

foi, mais

do

que qualq

uer

o u ~ a

cidade, o estúdio

da /:

{

festa

ttahaua do século XVII, . que prosseguiU a tradição do

R e n a s · ; <

:,_.

ctmento e o reJuvenesceu. E

IS

to sem esquecer que nem todos· os : .

-

11;

arhstas

~ a s c e r a m

em : neza e que a maior parte deles não perma• :.\

;, I

neceu ali toda a sua

VIda.

Tal é sua

h l e n ~ a

contribuição ao barroco·

: ; : ;

_europeu, sob a forma profana em pnmerro lugar m·as quando se  · · - - ~ - ~ · : ·

• 1 I •. • l

pensa na mustca sacra, sob a forma religiosa também.

:

?· :.l .i

: partir

do_s

. anos

1630,. B a l t ~ a z a r

Longhena

(1598-1682); ; ; : f

formado no estúd10 de ScamozZI, reahza uma grande obra de a r q u i ~ .\·.,:· :;

te tura barroca.: Ele

é

o autor da Salute, da escada interior da San

_,:

,.,

~ E o r ? i o

M a g g i ~ r _ e ,

~ o s

palácios Pesaro e Rezzonico. Em toda a parte

'.:,;;,

e

ev1dente

a fthaçao com .

as

tradições locais: ' Sansovino

P a l l a ;_- 1

S c a ~ ~ z z . i .

S ~ a

~ r q u i t e t u r a

civil é obra de ciência e inteligência:

: . ~

concilia

e l e g ~ ~ t a

e força. Mas a audácia e a novidade resplandecem ·

r :

na S a l u t ~ , e ~ t f l c ~ d a de 1631 a 1687' em honra da Virgem da Saúde; .. X n

após as epJ?emtas de p ~ t e . A planta central, um octógono com ; ;

deambulatóno, é o ~ r a n d 1 o s o , vestíbulo do verdadeiro santuário: o : i I

co

ro

arredondado, sttuado alem de um transepto estendido até as · :.;:·

§

J?: fi

·:·· , . .

entre

ca

lunas, os later

ai

s mais sóbrios e

de

caráter palladino.

Um

tambor octogooal sustenta a ampla cúpula de pedra, acima da parte

central; uma outra cúpula, menos grande, sobrepuja o coro e

é

pro

tegida por dois campanários. No detalhe

da

gigautesca composição

recon11ecem-se, ampliados, elementos da San Giorgio Maggiore c

da

Redentore. O efeito de conjunto

é

prodigioso, como o de um imenso

carro de procissão, dominado pela estátua dourada

da

Virgem e que

as

enol'lÍ:les vohltas de mármore, em forma de rodas, teriam arras

tado até a margem do Grànde Canal. A influência da Salute se

reencontra, cinqüenta anos mais tarde,

na

bela igreja de Fischer von

Erlach, em Viena, a Karlskirche: mesma concepção de uma planta

centrada desta vez em elipse, transferindo o santuário para .um se

gundo edifício; mesmos pórticos exteriores, correspóndendo· a ca

pelas laterais. À medida dessa excepcional grande7.3, as outras igrejas

não têm a .mesma originalidade. Entretanto, a fachada da San Moise,

com o ritmo das colunas moldtu'adas e a sobrecarga de sua abun

dan te decoração (Trémignon,

1668),

a de Santa · Maria Zoberugo,

com seus bustos e relevos, a dos Scalzi (Sardi, 1680) , com as ré

plicas, poderosas e graciosas de suas colunas geminadas e seus ni

chos a ordem colossal dos Jesuates (Massari,

1725),

cujo interior,

cinzento e branco, foi decorado depois por Tiépolo conferem

uma

generosa parte a Veneza na arquitetura religiosa barroca dos séculos

XVII

e XVIIl. Um lugar original deve st;r reconhecido à igreja dos

Jesuítas, de Rossi

(1729).

Além

da

fachada rebuscada

de

Fasso

retto, o interior oferece uma das mais curiosas ilusões do barroco,

pelo revestimento com mármores de cor, que simulam o veludo de

Gênova, e o admirável drapeado

Ço

púlpito.

No conjunto,· a tradição e a arquitetura anterior de Veneza

gravaram seu timbre no barroco veneziano, harmoniosamente equi

librado em sua rique_u e intensidade.

Na

outra extremidade da peninsula, o Napolitano tem, também,

~ é u destino na história do -barroco. O reinó estreitamente ligado

à

Espanha, para a qual constituía uma espécie de baluarte protetor

em .direção

do

mundo otomano, era,

por

causa da atividade

de

seus

por tos (Nápoles, Messina) , uma encruzilhada internacional do co

mércio e da riqueza. Os caminhos da arte ali também se cruzaram.

Dos grandes barrocos romanos, Domenico Fontana trabalhou

em

Nápoles; os

i m p r ~ v i s t o s da

carreira paterna ali fizeram nascer Ber

nini. O pintor

R i b ~ r a (1588-1655),

nascido

na

margem oposta

do

53

..

;:1

k

·-··· ·---·_____ _   _ : : : ; : ~  

~ r r

·:

.

m

Meditec{âneo, em Valência, vem es tabelecer-se em Nápoles, após ter

t ~ ~ / ·

pandc em profusão nos frisos e cntablamentos das igrejas, em -

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I

I

I

I

i

(

sofrido inauencias caravagescas. Suas composições emprestam às

~ : J ·u

cenas de martírio e às_ figuras de eremitas, iluminações contrastadas, .

em que as carnes macilentas emergem de sombras profundas, mas as ·. ·

cenas de glória embebem-se numa luz clara e alegre. Sua reputação

I h ~ valeu encomendas que reconduziraro muitas de suas obras para

â

· :;:

I

metrópole:

à

igreja dos Agostinhos de Salamanca pertence uma Pu-

risima, enlee as mais belas do tema, e um São anuário mitrado

·

levado pelas nuvens, de uma autoridade e magnificência inesquC.:·

veis

1

:;

: ·

Nascido napolitano, Luca Giordano (1632-1705

),

p a s s a d ~

<

também pela experiSncia de Caravaggio, adotou tonalidades claras

e animadas, compondo conjuntos de ritmo teatral, em que as enge-  :;:

nhosas perspectivas de

nu

vens envolvem os céus. Seu renome de

·.

decorador por excelência lbe valeu numerosos alusos e impôs-lhe · ·

viagens

ao

exterior: trabalhou

dez.

anos no Escoriai. Comparavam-no y·

a Pietro da Conona. Mais movimentado ainda, Solimena (1657- I

1747) conferiu sua consagração ao barroco napolitano e recebeu .

encomendas até o fim

de

·sua vida. J l

Em contraste com esse renome internacional da pintura barroca = {

napolitana, a arquitetura conheceu um êxito curioso, l)a afastada

provfncia de Apúlia. Aplica-se ainda hoje à cidade de Lecce o epí-  

teto de Florença do barroco. O número considerável de suas igrejas .

,

·

· explic_a-sc .pela emulação de construtor

es

entre as ordens religiosas,

.

·.

propnetános de grandes domínios·no século xvnr, mas a qualidade ,y:

da arte deve-se

à

vigência, na cidade, de uma tradição de escultura ·: ,,.

que

se

executava com uma pedra branca de grão fino, endurecendo·· · .

:;.

e dourando-se

ao ar

livre. Daí resultava a possibilidade de multi-

· ~ :

{

plicar

as

decorações em alto-relevo ou em motivos: guirlandas, ro-

)

sáceas, molduras de janelas, altos vasos de flores sobre os ediffcios . ..

de forma trad

icio

nal. Nesse virtuosismo geral, os arquitetos deleita-

•·

·  i

ram-se com plantas ein elipse (San Matteo), em oval com panos de

:

,.

muros (Santa Chiara) ç com bastidores (Carmine), com contrastes ·

entre a pa.

ne

inferior convexa e a superior côncava do edificio .(San

Matt

eo). com

audácias como o impulso do alto campanário junto

I

do zimbório Gius. Zimballo, 168 1). Escultores, os irmãOs Zim- ..

ballo ornamentaram a fachada dos Ceies inos ou Santa Croce) de

colunas, de ca riátides grotescas, zoomorfas ou antropomorfas, dcco- I

ração prolifera e sem igual na Europa, e tanto mais admirável se .

a estrutura geral do edifício for clara e simples. Por isso, a escultura i

ornamental empresta a Lecce seu sutpreendente caráter. Ela se ex- •· ·

-

54 · i

....J

gantescas pinhas, em vasos, em figuras de anjos; emoldura com seus

listões, seus motivos aljofrados, de couros ou pequenas máscaras, as

janelas do convento dos Celestinos e as do palácio episcopal, cons

truído.por Cino, de 1694 a 1709, em torno de uma praça de teatro

que se pode incluir entre as mais esquisitas da Itália. O caso . de

Lecce é apenas um episódio do barroco geral e as circunstâncias

não lhe concediam o renome de uma escola. Ele reclama ainda esta

observação: mais decorativo do que arquitetônico, ele ê,

à

maneira

espanhola, uma espécie de revestimento do edifício, uma sobrecarga

colocada sobre

as

formas, mais do que uma disposição nova das

massas.

Roma em primeiro lugar, mas também Turim, Veneza, Gênova

mesmo, centros criadores, Náp9les com a reputação seus pintores

mantiveram, desse modo,

na Itál

ia do

Seiscentos,

uma atividade e

prestígio que sem igualar aqueles do Renascimento, a impunham

como fonte de inspiração e modelo

à

vida artistica de toda a Europa

contemporânea.

55

I

.,

;

i

li

J

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Capítulo l

BARROCO E CLA

SS

ICISMO

NA

FRANÇA

A França passou muito tempo por um país essencialmente re

fratário ao barroco. Um gênio nacional inflamado de claridade, de

bom senso, o culto da vontade idealizada por Corneille, o da razão

ensinada por Descartes, tais foram, por sustentáculo, os argumentos

invocados e aceitos pela opinião comum. Ao nível de

um

maior

exigência, fala-se das regras editadas pelas Academias, da precaução

da verossimilhança, do bom gosto, até do não-sei-que que confere

o segre

do

de um sucesso ideal. A expressão consagrada

por

Voltairc

do século de Luís

XN

encontra-se associada a uma literatura e

a uma arte clássicas, de prudente disposição e sutil harmonia, dignas

de serem reconhecidas como modelos universais e cuja u s ~ n c i em

I

I

l

·

l

I

l

I

l

agora num erro oposto: mormente no exterior, mas até ria própria }.; ··.

França, por complacência à moda do dia e por leviandade também;·<.;>.: 1

clarados barrocos. Talvez amanhã serão reivindicados pel? manei

rismo.

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chegam· a subestimá-lo abusivamente e a ignorar sua importânda . ; ~ ~ ]

autonomia. Colocar sob a etiqueta barroca todo o século XVII curo- r

peu, e principalmente considerar o classicismo f r a n c ~

.como

um setor . :.:f

classicizante de

um

barroco geral, é uma atitude

prec1p1tada

e que não . ~ ~

presta nenhuma contribuição à análise nem

à

interpretação do fenô-  

meno. Outra coisa seria melhor apreciar nele as afinidades barrocas •

que não deixam de ser numerosas. Por exemplo, o castelo de Versa-

 :f

1

.

lhes, no seu conjunto sobretudo, na impressão de ordem, de tranqüila

majestade,

de

harmonia que desperta no visitante, pode ser reconhe-

cido como um produto clássico. O que não impede que esse classi-

cismo revele, a uma anâlisc mais atenta, muitos caracteres barrocos, v

I

que não autorizam, no entanto, a fazer dele um episódio num mo- ; ~ ;

t

vimento mais genérico. · .::' I·

Tudo isso vale ser dito, nem que fosse para dirigir o espírito ·

numa questão difícil, simplificada demais pela critica de outrora, e .:

que ameaça confundir novamente uma interpretação apressada. Por :.

outro lado, um fato estã demonstrado.

À

construção lógica demais, ,:; ,

segundo a qual

0

classicismo francês de Luís XIV, sendo uma

p'et-

 \

1

feição, não se podiam encontrdr antes dele senão ineptos e confuso·s ; .,,

esforços para. alcançar, em suma, o dogma de Boileau, Afinal veio) (

1

Malherbel

após o declínio, seja por uma imitação sem fiama ( trâ-

  ·

 {

g ~ d i a de Vollaire , seja pelo equívoco (romantismo

de

Rousseau)', ,;;.t

substitui-se hoje outra opinião mais judiciosa. · ; < ; ~

I

ma literatura francesa desabrochou generosamente no

fim

d.o ~ · : ,. I

século XVI e na primeira metade do século XVII. Procura-se

de;-

~ ~ : · ~

fini-la pelo que quis exprimir e pela qualidade de sua mensageD;l , : ~ : ;

c forma saborosa, e não porque ela

é

anterior ao classicismo e pouco ·

: .

conforme

ao

ideal de Boileau. Os anômalos, os dolorosos, os < : : ~

tál.gicos, os imaginativos, .os amantes da natureza que foram Sponde, '

·;

Théophile

de

Viau, Saint-Amaot, reencontraram assim seu justo;

;

lugar na cidade das letras francesas. E o que vale ainda mais que; .

:

uma áurea, encantam de oovo e são amados. Ao público de wrià ·· ·

época

i n c e

e z a ,

audácia e angústia, eles· parecem insinuantes

por

 

i

serem contrastados, passando sem cerimônia de um gênero a oiltrÔ, · ·

realistas, sutis, ásperos, de.licados e sensíveis sucessiva ou simulta.- ;·

neamente, por não faz.erem da razão - nem arrazoadora nem ra- :

wável - ,

de

modo algum sua regra, a fim de traduzir

as

paixõeS '.

em imagens, em música e não em idéias. Por isso é que foram dC:. :

1

58

>

{

.......-

. <

; . : ; . ) - . ; - ~

Num

caso como noutro, é reconhecer o que os

dife;t;encia

dos

clássic01J

e os toma ao mesmo tempo solidários das literaturas es

trangeiras - a italiana, a alemã, a inglesa - , nessa época

trans

bordantes de lirismo, complacentes à paixão, pululantes d'e imagens,

aliterações, trocadilhos, e também consonantes com a t e n d ê ~ c i a geral

dos espíritos e dos costumes.

Os

estilos de vida, a conc lpção

da

honra e

do

amor estavam então mais próximos

do

desregramento

(di.Jfamos de uma anárquica liberdade) do que da ordem_,; do equi

líbno clássicos. Pode-se falar

de

maneírismo se

se

procura discernir

os procedimentos do gosto que são variações sobre os ensinamentos

e os resultados do Renascimento, ou do'barrcco, se se concilia mais

com a inspiração, a (orça interior e as características principais ·do

tempo, Esses escritores .viveram durante o período movimentado e

sem disciplina da regência de Maria de Médicis e do reinado de

Luís XDI,

no

transcurso

de

uma luta entre um poder real consciente

de seus desígnios, e uma sociedade sem unidade interna nem desejo

de atingi-la.

Malherbe, "

em

quem se reconhece

um

precursor do classicismo,

permanece, por muitos aspectos, um barroco. No esforço de orga

.nização geral do reino, que é a obra de Richelieu (mas que nunca

ultrapassou, não obstante a grandeza dos resultados alcançados, os

limites de um mero empirismo

  ,

a Academia Francesa introduz

um

elemento controle sobre a língua e as obras literárias, · prepara

o que será o classicismo, mas não pode mudar, de um d

ia

· para

outro, nem o gosto nem

as

tendências. Corneille, conforme o estado

de esplrito, é clássico ou barroco; clássico pelo progresso da língua,

a inteligência do ideal e da vontade, barroco por muitas de suas

formas c imagens, pela dificuldade, que ele confessa, em submeter

sua inspiração generosa e seu gosto do romanesco às imposiçõ.es de

regularidade ou de verossimilhança. Há, em todo caso, em Corneille,

uma grandeza patética que se pode dizer barroca, mas que dificil

mente se sustentaria requestar a etiqueta de maneirista.

Enfim, esse período é aquele em que a ação da Contra-ReforD;la,

triunfante em Roma, se exerce profundamente na França. Mas o

protestantismo, contido em suas pretensões políticas, ali permanece

sólido ao abrigo do Edito de Nantes, e ativo justamente numa elite

social dos nobres, dos oficiais e da burguesia mercantil. Se se tem

razão de pensar que, em torno de 1660, o barroco triunfal revelou-se

em Roma para conhecer, no tempo· de Urbano VIII, seu floresci-

59

,. ,;

~ · r

:H

.. ·o l

roento, observa-se

que

a França ainda

não

o acolhe.

Ela

·é dema-; ·

: , : ~

siadaroente variada em

sua

estrutura social, solicitada demais ·entre· : ;

se

devem reatar

não

apenas os procedimentos formais

as cuuosas

iluminações, mas o interesse pelos personagens

p o p u l a r ~

e

as

cenas

I

d

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diversas correntes, para

que

possa ser de outro modo. Suas tradições .. i.

próprias são sólidas e variadas: a medieval

do

gótico à qual, terra · ~ ~ ; ª

de <:amponcscs e de pequenas cidades conservadoras, permanece te.: ~ ~ ~ _ 

nazmente fiel,

e

a

de seu

próprio Renascimento. Se

ela se

abre às. ,';"'

influências externas, o faz sem permitir a nenhuma tomar-se p r ~ - ·;

;:

 i

pondcrante

'

exclusiva. ·

; t i ~

Constroem-se muitas igrejas, ornam-nas, renovam-

se

a d é c o r a ~ · :? j

ção

dos velhos santuários. Os arquitetos formados nos estúdios fran>- . _ : ~ J

ceses

estão

atemos aos anseios

de

uma clientela

de

ordens que tem;

:.

ela

própr

ia, a experiência, direta

ou

indireta, da

Espanha

e

da It á

lia: ··

.

Assim,

Lemercier se inspira,

para

a capela da Sorbonne,

nas

igrejas

romanas

para

a planta engenhosa, a regularidade da fachada

com _ :..

·

nichos

e

volutas, a majestosa

c ú p ~ l a

..O P. M a ~ t ~ l l a n g e jesuít? arqui-

·_::_;

teto, retoma para a hannomosa •greJa

do

NoV1c1ado, o espínto e

os

.·::;. .

detalhes da igreja de Santa Maria dei Menti,

obra

de Della Porta ,·:.;,,

(1580). Desse modo,

a Roma

barroca

se

reencontra

em

Paris. No·

f

fim do

reinado

de

Luís

XITI,

a construção

da

igreja dos Jesuítas ·

:

(São Paulo-S

ão Luís) pode

ilustrar, como o demonstrou o P. Moisy,

\ .

um conflito entre o clássico e o barroco. A nave

de

MarteUange) "-'

é estreitamente inspirada no Gesu. Mas a fachada m o v i m e n t a d a ~ · :

obra de Deran, combina reminiscências de Saint

Gerv

ais com o gosto :. ·..

das decorações sobrecarregadas,

à

maneira dos Países Baixos espa-_

:

nhóis e que, malgrado as reservas dos doutrinários, satisfaz o

pú-

; ,:

blico. ·'

.:::

Esses

Pa í

ses Baixos espanhóis, tão próximos

da

França,

i n f l u e n ~ : : . ~

[

ciam as artes no reino. Há curioso rclé. Rubens.

é

um dos mais · .

autênticos e prestigiosos barrocos. Seu gosto do lirismo, sua imagi- \_

nação magnífica,

sua

complacência sensual

pela carne

e a carnação· · ·

das

mulheres

de

seu país, evocadas até

nas

figuras mitológicas,

sua

cálida

luz.,

emprestam

à sua obra

vigor e maestria.

Ma

s

não

se

pode

d i ~ s o c i á - l o daáltália,

onde

se fordmou. De

~ o d o

que

o barroco

da

· -

 

lt

alia

não

est ausente

das

gran es compos1ções em homenagem ·a· · ~ . :

l

Maria de Médicis, para a qual ele decorou o palácio

do

Luxemburgo,.

cjue o francês Salomon

de

Drosscs edificou inspirando-se nos palácios .

florentinos. Os pintores

da

realidade, pintores de cenas

de

gênero,, :. 

de flores,

de

objetos familiares, conhecem

então uma

grande voga.

·

Muitos

são

f l a m e n g o ~ estabelecidos

na Fraoça

e

sua

colônia

é

nu: ,

merosa em Paris. Outros,

por

volta

de

meados do século,

são

lo- ·

renas, como Georges

de La

Tour. Deste, porém, é a Caravaggio

que

. ,

60

·. : : · 1

. _ , • , ~

de humilde e cotidiana existência: nada é mais afastado dos refi

namentos e das elegâncias maneiristas ou

da

ênfase barroca.

Não

se

pode, pois, resumir

numa

s6

fórmula

esse

gosto eclético

dos fran

ceses, colocar

so_b_

o patrócínio

do

barroco esse período anferior

ao classtctsmo, .manerrtsta e barroco às suas horas,

mas já

rico

de

obras clássicas. Vouet, pintor

de

Luís XJll, é um barroco profun

damente marcado

por

uJ la expcriílncia

da It

ália religiosa

c

artística

do tc.IQpo.

Opõe-se-lhe Poussin

que se

fez

retornar de Roma), por

sua arte muito mais intelectual e inspiração mais artística·. Poussin

não se demora

em Paris, mas continua a

produzir

em

Roma

para

uma clientela francesa, do círculo

de

Richelicu,

as

·grandes compo

sições solenes, majestosas e eruditas

da

série dos Sacramentos. Será

preciso tentar conjugar nessa época a preferência barroca ou a pre

ferência . clássica a esferas' diferentes, inclusive as províncias? A pro

víncia tem mais pertinazes fidelidades tradicionais. A nobreza, em

seu

gênero

de

vida

e

suas representações mentais, está certamente

mais próxima

do que

impressiona vivamente a imaginação c o

co

ração, do

q ~ e

do realismo ou das imagens austeras, em

que

.

se en

contram ma1s afinidades com o espírito circunspecto dos burgueSes.

Erra-se, porém,

sempre que se quer

generalizar.

e

um personagem

bem estranho

ao

espírito clássico, Gaston d'Orléans,

que

aceita o

projeto harmonioso e equilibrado

de

Mansart

para

o castelo

de

Blois,

enquaoto o mesmo Mansart,

no

Vai

de

Grâce, co.u1põe

uma

igreja

romana, cujos caracteres barrocos

o mais marcantes do

que

·

na

capela da Sorborme.

. . , A. tradição e também, -convém dizer, uin preconceito

que

teme

dliDmUtr a honra do governo da monarquia, se

se

niio

lhe

reportar

todo o mérito do

que

foi realizado

de grande na França

dessa

época)

associa

os

resultados clássicos

à

vontade

de Lui

s

XIV

e

de

seu

~ f r c u l o . Parece

que Luís

XIV

teve pessoalmente um gosto

pro

n u ~ c · a ~ o pelas artes: Bernini o disse, sem

que

se

possa

suspeitar

de

bajul

aça

o. Mas esse gosto levava-o antes, pelo menos em

sua

ju

ventude, para o brilho e o fausto do barroco. Em · todo c a . ~ o a ma

neir.a

suntuosa, colorida c sensual

da

Itália contemporânea

d e ~ f e c b o u

no t e ~ p o da

regência

de

Ana da Áustria, ·uma ofensiva· vitoriosa. '

Com

os encorajamentos

de

Mazarin, afirmou-se, antes e depois

da

Fronda, o sucesso

das

óperas italiana, peças mecanizadas, balés

de corte, para os quais se convocavam decoradores e executantes de

reputação já c o n s a g ~ a d a em Veneza ou nas cortes italianas. Em

61

I

,i

'

Jl

J

\J

· ; ~ = :

< •O'·

§

Paris h.ouve uma reação contra eles, menos talvez p o ~ uma

o p i n i ã O

· · : , ~ _ · . Í

c o ~ ~ á r i a de

arte do que por

p r c o ~ p a ç ã o de

econoiiDa e escrúJ?ulo ··

·-.c

reminiscências do projeto de Bemini nas obras francesas subseqüen

tes. O projeto foi, portanto, aceito, e a pedra fundamental colocada

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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I

'

I

I

I

I

I

I

I

r e h g ~ o s o . Os devotos e a Companhia do Santo Sacramento, os

Jan

  :;:·.. · 1.)'

senistas, os rendeiros, os protestantes, pelas mesmas razões ou r a z õ e s '· '::· j

diferentes, encontravam-se associados no partido (se

se

pode dizer

)f

.

;

.

do gosto severo.

; j ; f . ' · ; ' · • ( . . ~

.

... . . . . : . ~ ~ ) ; " i , ~ : '

Por

ocasmo da entrada

do

ret e

da ra10ha

em Pans, a

  • . ; . ~

agosto de

1660

,- uma das mais magn(ficas festas urbanas e

rnonái-

  ·\;f

quicas .do tempo, os arcos de triunfo, realizados por artistas p a r i ~ : o . . ; . ~ ~

sienses apresentam; alguns .a pureza clássica, a maior parte uoia·:;::·;

abundância e ostentação barrocas. Essa decoração traz um ensina-:

· : _ : ~

mento acerca do gosto da França nessa época. Também não é

•.

de mais dizer que os artistas atuam indiferentemente num ou

n o u t

·

registro através de agradáveis variações. Não

se

trata

mais

de

c ó í [ : ~ · : : · ~ :

trapor aqui classicismo e barroco numa espécie

éle

antinomia mruu? ':

J;

queísta. a verdade porém que, nessa data, 'a opinião írancesa, a

a provação de uma guerra civil e

de

uma guerra externa que

: ; ) ; ; :

deixaram terríveis lembranças, aspira tanto à paz corno à glória.

Bla

· :: :t_

.

deseja, nas igrejas, nos monumentos públicos, em torno da corte .1 

:;•

~ e s s e

jovem rei cuja graça e reputação a encantam,

um

a arte in

:

·· 1

· fluente. Ela procura depreender e definir

um

ideal, e as razões são ·, ; t

incisivas, nessa sociedade complexa e viva, para que a arte adotê '":":,.

uma fórmula inspirada na autoridade das obras, das regras,

n u m ~ - ~ ~

harmonia a atingir entre o savoir faire e o não-sei-que (uma

a r t e

I

ortanto, que será reconhecida modelo

do

belo e de um

a l c a n c e , : ~ '

geral) ou que prefira a

. l i ~ e r

a d e , as _antasias i ? J ~ g i n a ç ã o , ~ : ~ \

se recusar nenhuma audacta. Se essa mtcrpretaçao e JUSta,

p o d e s e . · ~ ·

.

então dizer que a França de Luís XIV realizou efetivamente, entre. '·''. ·

o clássico e o barroco, a experiência de uma escolha. : } <

·

• •

'= '

Mas essa escolha em arquitetura não foi determinada pela : ;

gero

do Cavaleiro Bernini a

~ r i s

(1665

).

Nada mais avesso à ve[,l

dade dos fatos do que fafar de uma impugnação a Bernini, porq1,1i.i .: ·

seu estilo teria escandalizado. Colbert havia insistido para que elé:" :J

viesse, após ter apreciado e discutido seus projetos de caráter . bai.

1

• .''

roca ·bem maís pronunciado que o plano definitivo, que o

C a v a l e i

_ . , : .. ::

compôs em Paris mesmo. Era um imenso palácio à romana, : ~ . · ·

mais amplo que o Louvre atual, mais suntuoso também, como

umâ

·

>

galeria de estátuas sobre o ático, e, no pátio, um cenário de galerias.

É bem possível que a presença, na capital francesa, de tal palácio;

sem confronto com nenhum outro da Europa de então, tivesse mo: -

dificado o gosto francês. Não obstante, alguns críticos identificaram

62

em outubro de 1665.

As

razões por que, desde 1667, foi abandonada

a sua execução, são de duas ordens: o temor de despesas excessivas

numa hora em que se

se

engajava renome e muito gosto (Le Vau:

d'Orbay, Perrault), e a convicção de que suas obras seriam prova

velmente belas.

Nada

de

uniforme em seu g8nio: os projetos de Perrault com

sua

c o l u ~ a t a

muito p u ~ a . mas um pouco árida, possuem a harmonia

e a

g r a v t d a ~ e

do c l a s s ~ C I S ~ O . as o palãcio de Versalhes que

c

Vau construiu era

de

mspuação e gosto barrocos: ele envolvia o

pequeno castelo Luís

Xlll

numa soberba construção, cuja fachada

sobre o jardim permitia o recuo da edificação central c o avanço

de um terraço entre os pavilhões angulados. Modificando esse mo

vimento pelo alinhamento da fachada e pelo arranjo da galeria dos

Espelhos,

ali

onde se havia deixado um vazio articulando ao edifício

as do e i o -

D i ~

e do Norte, que

á c u s a ~

a impressão de hori

zontalidade, Hardoum-Mansart restabeleceram, no conjunto de Ver

s ~ C : S ·

a

m a j e s ~ a d e

calma e harmoniosa que lhe consagra a aparência

clásstca: _Idênticas qualidades na igreja dos Inválidos, cuja sábia

c o ~ p o s t ç a o superpondo as colunas das três ordens e alijando o

efeJto poderoso do zimbódo pelo enlaçamento da Bccha alia ao

respeito escrupuloso das regras a originalidade da

invcnr;'ão.

Em toda a parte uma elegância peculiar, um senso do efeito

. nuançado, a harmonia do detalhe e do conjunto. Houve mais fan

tasia, .sem dúvida, algo que resvalava da grandeza para a graça,

aprmomava-se do barroco, a n u n ~ i a v a

t a l v e ~

o .rococó, na ordenação

do cas;elo de

M ~ r l y

e seus

p a ~ l l h õ e

destmados ao agrado pessoal

de Lws XIV ma1s do que a Vtda de representação como em Ver

salhes que, na opinião francesa c estrangeira, evocava principalmente

s:u

poder. S e i ~ . dú_vida, porém, deve-se atentar para essa prcocupa

çao de converucncta, sempre zelosa em adaptar o aspecto exterior

de

um

monuwcoto a seus fins c que consegue assim sem nunca

trair a doutrina, variar-lhe

os

efeitos. •

. O classicismo francês, vitorioso nessa competição entre dois es

tilos ou ~ u a s aspira?ões do gosto, deveu seu sucesso ao prestígio

en:p-an

dectdo

do

anhgo e

à

doutrina da Academia de arquitetura.

F01.

e l ~

que .

s : lanço.u

o anãtema contra o

es

tilo gótico, por

uma

cunosa m . g r ~ u d a o nactonal, e que, embora sem tudo desaprovar dos

b ~ r . o c o s Italianos, nem de Cortona nem de Bemini, até de Borro

mtru, condenaram-se as práticas extravagantesJ as inovações, os

63

.

'

\

: . · .

:.·

'S·

efeitos de surpresa e

de

engenhosidade. Enfim, foram revalorizadõs ·;

Vignola, Palladio, Scamozzi, mas sobretudo Vitrúvio e o antigo

. : · ~ ~ ~ : ··

manista oas escolas. Literatura, porém, de surprendente amplitude

de acesso, inteligível aos simples, desde

qu

e dotados de razoável ins·

,

I ·j

'

i

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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,,

I

I

.

I

i

1

i

I

Respeito às norma

s,

observância rigorosa das proporções, conve.l } ·:;;

niência na escolha dos motivos

de

ornamentação;

raz.'io

e medida

: :":

foram apresentadas como condições indispensáveis de uma obra bela, . , ; . ~ .

e a conformidade a essas regras como o segredo do gosto. Nasceú

·;'i:-\;;.

assim

um

estilo, aparentado ao

do

Renascimento norentino e

ro.:

.

·.,.

:

/

mano, não desprovido de afinidades com o barroco romano, /J. ·1

quanto der-vado

do

mesmo Renascimento, possuindo porém seu .• ;r, .

ráter próprio, s u ~ indiscutível

o r i g i n ~ l i d a d e na. eiê_ncia

de

~ r g ~ i z a ~ - :

os

elementos a

1m

de

obter um

efe1to de

eqmlflmo e elegancta, de .

plácido vigor, em que a graça nunca seja frág

il,

em que a força

n J i ~

·

õ

:;-'

.

seja opressiva, a majestade sem ostentação. No entanto, esse

e s t i l · -

.

que, do lado da elegância, espreita a afetação como o academism9

· ~ · :

do lado do equillbrio, era o fruto de uma doutrina insinuante e séria, .

que elevava a arquitetura a um ideal e interditava-lhe. a facilidade·;

.·:t' .

Mas a invenção era, doravante, uma maneira pessoal de aplicar as · ~ . :

regras a um .fim particular; não podia ser nem i m a g i n a ~ ã o pura; .. ,

nem ultrapassar a doutrina. Poder-se-iam observar traços

s e m e l h a n ~

"

t

tes no classicismo literário. Ele procede também de uma doutrina

elaborada na Academia, no círculo· do abade Aubignac, e que cn-

. :·:: ·

.

centrou sua expressão na

rt

poétique. Boileau é impiedoso a r e s ~

:''';

peito do realismo e do maneirismo, posto que duas fontes

da

beleza ,;·

literária. Ele detesta a literatura barroca

da

Itália. Uma vez que só ·-

..

o genio está isento de discussão,

é

para a observância das regra,s

·

que ele ensina a conduzir um incansável esforço a fim de logr

ar

uma· ;; :

obra

da

qual o gosto e a conveniência devem constituir

as

qualf·

dades essenciais. Consegue-se assim comover a sensibilidade confe:

rindo à inteligência uma satisfação completa. Mas essa fidelidade a .

um ideal de doutrina não bastaria para consagrar como. clássica u m ~

literatura. Ela o

é

pela qualidade de expressão de uma língua · . ~

ravante rica, precisa e matizada, apta para decretar, numa frase.

ou num verso, uma etapa da sensibilidade em que se sente a expe: -

riência, o sofrimento e a esperança

de

toda uma vida. Numa forma

clara e inteligível a cada um, é sua intcrioridade e sua humanidade

que conferem a essa literatura seu classicismo. Assim ela entrou

na:

.

formação

do

Francês desde há gerações, cada uma delas interpre

tando-a à sua maneira, procurando e descobrindo nela aspectos ..

novos, como tantas respostas a suas aspirações profundas. Literatura

em certa medida aristocrática, que não

po

deria ter sido escrita sem

uma elite exigente e informada, na Corte e na cidade, mas que o

foi por burgueses nutridos de antigüidade clássica e

de

espírito hu-

64

trução e aptidão

à

sabedoria da exper ência. Pensa-se aqui

sm La

Fontaine, em seu prodigioso papel na formação dos franceses até

nas camadas populares.

O classicismo n

ão é

completo apenas

em

gêneros que requerem

o critério das regras e doutrinas - queremos dizer o teatro trágico

ou cômico, até pensamentos como os

de

La Bruyere, calcados em

modelos antigos -, mas impregna escritos independentes como as

Cartas

de

Mme. de Sévigne,

as

Memórias do cardeal

de Retz: ou de

Saint

-S

imon. Nada disso pode ser classificado sob a etiqueta barroca,

como tampouco, verossimilmente, O século de Luis XIV de Vol

taíre, sob a etiqueta rococó.

A civilização francesa, por seus caracteres gerais, pela quali

dade de sua disciplina, de

ve

ser reconhecida como irredutível

às

outras civilizações, apesar de aparentemente necessárias. E la

se

apre

senta como

um

produto clássico e não pode aceitar outro nome

Mas não é menos verdade que,

com

freqüência, uma interpretação

monocórdia, acadêmica ou

un

iversitária, tem dissimulado

os

limites

que ela reencontra do lado do lirismo, da im

agi

nação e

da

fantasia,

e deixado ignorar que a sua presença

no

século XVII não pode

golpear de descrédito o que ela não é: o comovente e sugestivo

barroco, por cujo fervor, afinal, ela

foi

com freqüência rcvitalizada.

Le

Bron, pintor oficial do reino, foi por sua arte o intérprete

de uma doutrina clássica.

O

ideal era uma pintura agradável à vista,

mas outro tanto inteligível

ao

espírito. Impunha-se, portanto, temas

nobres e uma expressão à sua medida, que fosse sempre ciosa

de

circunspecção. Convinha apresentar uma idéia que a obra comen

t ~ s

respeitando a verdade histórica e não se afastando jamais da

verossimilhança. O que não. impede traços barrocos em Le Bruo.

Desde o arco

de

triunfo simulando a pedra, erigido

na

praça Dau

phine em 1660, até o poema que se deSenrola no teto da Galeria

dos Espelhos, em homenagem

à

campanha da Holanda e grandes

ações do rei, seu temperamento sensível

ao

fausto do poder, seu

gosto por cores raras (um certo azul-marinho ou pedra-preciosa),

pelo movimento, pelos cost

umes

de teatro, barretes empenachados,

peplos, couraças, perucas encaracoladas, desabrocham num incontes

tável lirismo. Ele desenhou um mobiliário suntuoso, preparou para

os

Gobelins essas tapeçarias com molduras de lâminas e couros,

onde rcbrilham as vestes de seda dos príncipes, dos cortesãos e dos

sacerdotes. O estilo Luís XIV deve a esse mestre da Academia uma

65

I i,

' 'i

i [1

l

;

• ; I

I

)

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 l

I

  .

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.

~ - -

- - - - - - - - - - =

~ ~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

- - -  

\

complacência

à

riqueza, que preserva da severidade esse sábio elas

.,

sicismo. Ele não é

UD)

partidário

da

simplicidade (que pode, tam-,

b a ~ o c o

o d o m í ~ i o em q_ue devem ser eounciaiias a dor e a energia.

Alem da doutnna clásssca abertamente declarada e da diversidade

I

f

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bém, lograr efeitos de grandeza), ele ama o brilho e o movimento:• '

é um glorioso. Mas não outorga à cor o primado sobre o desenho(

não procura os deslumbramentos da luz, nem os prestígios do

trom-,

pe-l oeil. Verdadeiramente, todo um mundo separa seu estilo da:

quele do P. Poz

r.o

decorador de Roma e Viena. . ...

\1 •

Uma disputa se desenrola, de 1660 a 1680, entre os partidá.tios>

de uma arte realista ou do lirismo em pintura, na tradiçãode Rubens;·

de Van Dyck, dos Venezianos, e os adeptos de composições etií•

que o desenho desempenha o primeiro papel, relegando a

cor

a mero.

enfeite. A mesma_querela sucede em Roma e Paris. Poussin, no fim

de sua vida, impele o gosto do antigo até a minúcia arqueológica

e conduz à perleição sua maneira intelectual e harmoniosa. Claude

le Lorrain ( t 1682) mantém, dentro de um admirável equilíbrio, a

inapreel)sível luz dos sóis poentes e a ecoa histórica, o encantamentó:

•·

da vista· e a presença da idéia, e o critico Bellori, enfim, dcdlca ( ;

Colbert, em l 675, a

Vie des Peintres,

que 6 um elogio determinadó:

. ~ .

da regra, do desenho e

dos

Antigos. Em Paris, a crítica ataca

pintura

de

Miguel Ângelo, os maneiristas, os Flamengos, para exaltar

Rafael; depois, até na Academia se digladiarn os poussinistas, parti

..

dários do desenho e do costume, e os rubenistas, defensores do

co-

lorido. Fmalmentç, o crítico Roger de Piles, depois A. Félibien (estê

numa linguagem admirável), elaboram uma filosofia do gosto.

; ·

libien reconhece para o ideal da pintura a necessidade, com iguais · :.

direitos,

da

composição, do desenho e do colorido, e, conforme

::

importância conferida a um desses caracteres, ele distingue o gosto '·::

de cada nação: Para o da França ele o declama .  tão dividido; qúé

é

difícil oferecer uma idéia justa , mas os mais düerentcs pintores

..

tem, outrossim, tão belos predicados e trataram seus temas com

tanta elevação , que suas obras servirão sempre de ornamentos à .·

França e serão admiradas pela posteridade . ··:

Assim coexistem Van der Meulen, mais próximo dos l a m e ~ \

gos, Mignard ou Nantcuil, cujas elegâncias roçam a

lao gu.idez

e

&

·:

hábi l Rigaud que imprime em seus retratos oficiais a grandeza

dO.

. ;.

um símbolo. • ·

·

'

..

A escultura pesquisa a maneira antiga: Girardoa empresta: · ·.

s:_us p e r s o a

a ~ e n s

de

anatomia escrupulosamente estudada e propor- ·

çoes harmo01osas, a calma ou o movimento calculado de uma figura .

de

dança. Mas, para o

Milo

e

Crotona

ou os

Atla11tes

de Toulon; .

Picrre Puget

as1ima

figuras atormentadas c trágicas: ele Testitui ·ao

66

dos_ gêneros, convém pensar sempre na variedade da França e da

sOCiedade francesa que constitui a clientela c o público. No centro

Paris e ';'ersalhes. O classicismo que, por tantos aspectos, p r e s s u p õ ~

u ~ a s o ~ • e d a d e u.rbana, não suscitaria hcccssariaroente um incompa

r ~ v e l êxsto longe da capstat. Não foi, portanto, o ·gosto racional do

seculo X

Vil

que

d ~ i d i u

a criação

de

.Versalhcs, mas sim o fausto

Corte e e ~ s e C O O J U ~ t o de representa0es sentimentais, mais plás

t t c ~ s do que mtelcctuats, em torno da pessoa reaL Os divertimentos

r e a ~ s

desde os que corre:spondiam ao gosto do prazer num jovcl)l

soberano, aos que

assUDUam um

caráter político celebranêlo

as

vi

~ ó r i a s do Grande Rei, passaram assim da decoração efêmera

de

uma

JOrnada , ao palácio.

r r n a ~ e n t e

residência do pnncipe I logo centro

da monarqu1a admiDlstrahva. Numa certa medida Versalhes traauz

a vitória

do

prazer pessoal de Luis XIV sobre pensamento p.re-

ccphvo de Colbert. .B verdade, porém; que Versalhes representa a

obra dos estúd

io

s; que a organi:.:ação interior filia-o parcialmente ao

estilo dos hotéis construídos em Paris em meados do século; que o

t r a ~ a d

c a arquitetura dos jardins, canteiros e tanques, sua deco

r ~ a o com estátuas de mármore e de bronze, ofereceram a oportu

n J d a d ~ de aplicar,

~ ~ m

empreendimento excepcionalmente amplo, as

doutnnas do

clasSICismo.

Também, segundo o ponto de vista que

se adote para interpretar Versalhes, pode-'se falar seja de barroco

?e

c o l o r ~ ç ã o

clássica - e

é

considerar então a intenção de coa

  ~ l o ma1s do que o método francês de realização - seja de clas

SICISmo .de coloração barroca, c, neste caso,

é

talvez compreender·

melhor o caráter profúndo dessa obra francesa inviável Jora da c o n ~

dição do país nessa época, mas inspirada por' essas grandes ideolo

gias t r i u ~ a i s e religiosas.que, nos países meridionais principalmente,

o Renascunento e o barroco fizeram amadurecer.

_Havia

ainda outros domínios aos quais o gosto clássico não

c o n V ~ à absolutamente e o_nde_penetrava mal. A fé religiosa tinha

.neccsstdadc de ser reaquec1da e

as

abstrações

da

doutrina clatifi

cad as

}jaca

as rcprcscn:ações sensíveis. A Igreja da França, que con

clmra com a monarquia uma aliança mais e mais estreita, difundia

entre os

fiéis

uma concepção da vida religiosa ritual hierarquizada

patriarcal, e a necessidade das intercessões c m a n i f e ~ t a ç õ e s

p ú b l i c a ~

de homenagens

à

Divindade e aos santos. A religião

do

tempo de

Luís XIV, na linha

do

período precedente, foi uma religião de mis

sas, de fundações piedosas, de reverências do Santo Sacramento· de

procissões tcofóricas ou · mariais. O jansenismo podia controlar' em

67

\

certos mé os o que, a seus olhos, ameaçava concessões demasiadaS ,

à prática sobre a gruça. O ca lvinismo peJlllanecia vivo, combatido

Imperador, compunha para a vida paroquial dos franceses e sua

piedade específica, um quadro ostentatório e pomposo. Seria um

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e agressivo ao mesmo tempo. Mas as lutas contra a heresia, dccla'.

rada ou latente, só faziam acentuar, por outro lado, a necessidade

de ritos e brilho. Principalmente, a imensa maioria da população

francesa era camponesa, sem outra evasão de sua dura. existência

senão para os esplendores que lhe pareciam perspectivas de paraíso.

Acrescentemos que, permanecendo ignorante e incli nada

à

supers

tição, era sempre necessário canalizar e clarificar sua espiritualidade.

. Tais foram as razões da construção de igrejas em todas as provindas

c, onde não

se

edificava, da decoração com retábulos, das

i g r _ ~ j a s

antigas. A moda veio da Flandres, mas principalmente da Itália.

As

gravuras, das quais Félibicn assinala a necessidade e o papel eficaz,

fizeram conhecer pelo buril de Lepautre c outros gravadores, .

os

altares

à

romana,

os

baldaquinos - de que se inspiraram incansa-·

velmente os esr(tdios locais

-

e os santeiros rústicos. Toda uma

floração viceja durante cinqüenta anos, multiplicando as pilastras,

as guirlandas, os potes cozidos, as corbélias, as estátuas pintadas

em cores vivas. Já engajada em alguns estudos locais, a história

co.mpleta desses retábulos franceses ainda éstá por escrever. Sua pro

dução escapou ao controle da Academia; a atividade foi muito gran 

de, um pouco em toda a parte, do país de Auge

à

Provença, ·do

Périgord à regiões do Loire, onde algumas escolas (Lavai) tiveram

uma fama muito extensa.

Na

ex

tremidade

da

Bretanha, os

e s c u l

tores que trabolhavam na decoração dos navios, num estilo suntuoso

c barroco, legaram obras completas e artísticas, entre as canhestras.

porém saborosas composições, ainda medievais, dos artesãos ·locais:

Nas províncias de recente anexação, manteve-se o gosto

fla 

.mengo dos entablamentos regulares, dos frontões interrompidos, dos

· pequenos edifícios negro e ouro, em que o gosto espanhol das sÓ-

.brecargas decorativas acumulava os

de

talhes sem deixar vazia ne:

nhuma superfície. Com pequena diferença de anos e, às vezes, no

decurso d

os

mesmos anos coexistiram, nas províncias francesas, as

fidelidades retardadas ao maneirismo, com arabescos, candelabros,

guirlandas, pilastras,

putti

anjos cariátides, a voga mais romana das

colunas torsas, volutas, grandes figuras de anjos alados, e , o aco

lhimento a efeitos classicizantes, cuja solenidade era ritmada por pos

santes colunas retas, pela horizontalidade das arquitraves e coroada

de grandes frontõM triangulares. Toda essa decoração interior, à

qual se associava o mobiliário, estalas, púlpitos, confessionários, com

seus relevos de escultura, seus balaústres, conchas, fusos, embora

menos exuberante sem dúvida do que na Itália ou nos países dq

I

I

:

'

I

I

• I

erro ver nisso, em vez do espírito barroco, uma complacência aris

tocrática à qual os humildes teriam

pe=anecído

estranhos. A santi

dade e a santificação do trabalho eram evocadas incessantemente

pelas imagens dos santos pad.toeiros de corporações ou de trabalhos

da terra,

ao

lado das imagens dos santos reis que sustentavam a

idéia monárquica. A sociedade francesa, ao menos de confissão ca

tólica, era plenamente interessada por essa iconografia barroca das

igrejas. Afinal, o exemplo dos êxitos italianos num outro gênero da

decoração, e este verdadeiramente a r i s t o c r á ~ c o seduziu os artistas

da França. Por ocasião dos serviços celebrados para o repouso da

alma dos grandes desse mundo, decorava-se a igreja com jogos de

tapeçarias, quadros, figuras de descarnados ou de esqueletos em torno

de um cadafalso, o

castrum doloris

guarnecido também de estátuas

e luzes. Era uma pompa f ú n e b ~ plena de símbolos, num temoo

em que o conhecimento dessa linguagem mística era difundido enire

os doadores e pessoas cultivadas. Por si só, representava um co

m e n t ~ r i o da vida do defunto. Ela sustentava a oração fúnebre, pro

nunciada do púlpito nessa ocasião. A moda veio da Itália, conquistou

a França, a Espanha, depois os países austríacos. Os grandes artistas

do tempo, Fontana, Bernini, desenharam pompas fúnebres. Houve

em Paris a resolução de realizar tão bem como Roma eSS« gênero

de suntuosidade macabra, mas da qual não

se

deve ignorar a gran

deza patética e re

li

giosa. Gissey, desenhista da Câmara do rei rea

li:Gou

uma bela composição para Notre Dame, em honra do duque

de Dcaufort ( 1670) . Em maio de 1672, quaodo a serviço do chan

ce\er Séguler no Oratório, Le Brun real iwu t:ima obra-prima, pela

engenhosa invenção de um a pirâmide de luzes acima do' castmm

doloris

e pela distribuição das fig uras, caixões e cartuchos, de um

gosto muito seguro. Um j

es

uíta, o P. Menestrier, bem informado da lj

man

1

eir.a

italiana, quis ser o doutrinário do gênero. Seu entusiasmo 1.

pc o Simbolismo levou-o até ao enigma: imaginava para a pompa 1

fúnebre de Turenne em Notre Dame, 1675 ), uma torre ameada lil

que lembrasse a torre de Auvergne, a torre de David, a

Turris ebur-

1

1

nea das litanias da Virgem, alértl de outras idéias. Bérain, sucessor r

de Gissey, empenhado em variar sua invenção a cada cerimônia

fú-

 i

nebre, atingiu o sucesso quando a serviço do Grand Condé em Notre ,l

Dame ( 1687) : Bossuet, pronunciando a oração fúnebre, incorpo-

l

ra

va ao

seu discurso o sentido dessa decoração de troféus, palmas '

1

 

e baldaquino de colunas compondo o cadafalso, para contrapor

as

I

memórias dessa vida ilustre e o espetáculo

da

morte.

i

1

 

~ ~ ____

68

· · - ~ . . . . . . .

. . :

~ ; ~ \ ( . ' t

P.

Assim, o século XVII francês tinha, a um só tempo, depreeíif'

:.,:;{

dido das diversas correntes uma doutrina : multiplicado, em ~ ; :

fi

os

gêneros, as belas ·obras que .podtam serv1r de modelos ao e s t . a n : J : ; ; ; : t

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geiro . .Nesse estilo,. dominan

te

clássica. P ~ n c i p a l m e n t e uma v o n ~

tade mtelectual de cnt' ca e de gosto que repelia os excessos c, numa  ,.

certa medida, continha o lirismo. Mas não se deve crer num esii.tõ  f

.sem imaginação, nem esquecer todos os aspectos em que a i n t e r

prelação dos sentimentos e das emoções reencontrara sua l i b e r d a d e . _ . ; · : ; .

Por razões profundas, a França clássica n

ão

podia ser, a b s o l u t a ~

l

mente, estranha ao barroco. .J 

._

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.. .

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70

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J

. Capítulo

III

O B RROCO N ESP NH E P íSES IBÉRICOS

Se o bar-roco está intimamente associado· à doutrina do Concí

lio de Trento e

à

difusão de valores sensíveis· na vida religiosa;

se ele procede do Renascimento, mas nutre-se igualmente de tra

dições mais antigas; enfim, se ele é, com freqüência, ao mesmo tempo

aristocrático e popular, é exatamente a experiência espanhola que

·se deve interrogar a seu respeito. A Espanha reunificada pela re

conquista, ainda que províncias permaneçam obstinadamente par

ticularistas, enriquecida - mas não toda - pelo comércio e

p )s

suindo em seu território o <:entro administrativo de uma economia

em escala mundial, atinge · no século XVI e na primeira metade

do XVII um poderio político, um resplendor espiritual, uma força

da língua e da literatura, que. justificaram a denominação de século

de ouro.

O pensamento erasmiano

çlos

doutores de ·sa amanca, a

audácia renqvadora de Santa Teresa, de San Juan de la Cruz, de

Santo Inácio de Loyola exercem, a despeito das restriÇões c rigores

da Inquisição, uma influência preponderante, não apenas sobre o·

Concílio mas sobre a reforma católica em seu espírito c em seus

fins

práticos.

:S

uma extraordinária confrontação entre um país -

o qual sua estrutura social e seu passado (não se pode esquecer

a · prolongada dominação muçulmana · e a importância dos comp<;>

nentes mouros c judeus) colocam· um pouco

à

margem·da Europa

-

e o resto da Europa em plena renovação do Renascimento.

Diante da exuberância decorativa dos portais

de

catedral, nos

séculos XV e XVI, da complacência às composições das linhas, dos

refinamentos ·da escultura ornamental, não se pode deixar de reco

nhecer na arte plateresca qualidades formais e talv

ez

um espírito

que se identificou depois no barroco. Tal é o ponto de partida da

célebre teoria de Eugenio d'Ors. Sem dúvida, o cenário peculiar da

71

: I o

I

, :

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E:sJ,anha, a extrema riqueza das obras góticas, a forte pressão que, · : : i

em algumas regiões, a abundâ.ncia da arte islâ.niica podia exercer .

sobre os estúdios locais, fa1.em desse país uma e ~ p é c i c de pólo de • 

foi condizente, como uma expressão de. altiva gravidade correspon

dcndo ao caráter espanhol.

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I.

resistência à investida geral

de

íof uências exteriores. Assim, o Re-

nascimento o n t ~ a v ne

le

tadições que ~ ã ~ lhe ensejavam ser j

rapidamente acolh1do nem tnunfar. Ele se msrnuou até no plate..

resco que, em Salamanca sobretudo, assume o car

át

er de· u

ma

arte · .

de transição. Não se pode admiti r, no entanto, que o barroco espa- ·

obol se tenha desenvolvido a partir do plateresco. E

le

deriva de . ..

v á r i ~

~ s ~ ~ s t n ~ d e ; ; ~ ~ ; i ~ ~ ~ ~ a

a.rte

nutrida de modelos antigos n

fio

podia

im

po N

e senão pela vontade .

dos príncipes, conhecedores de seu prestígio. O fator dinástico

é

aqui de importância primacial, sem ser exclusivo. Carlos V eneo-

menda a Pedro Machuca um

pa

lácio em rotunda, que transplante

para Granada o

es

tilo difundido

na

T á

lia,

mas para assumir, em· Jl

·contraste com o cenário árabe circundante, um caráter mais acen- J

tuado de inovação. Contudo, as grandes rea

liz

ações se vinculam a

Filipe li. Nas solitudes despojadas da Serra de Guadarrama, o rei l

Ca

tólico fez levantar por arquitetos formados na Itália, Juan dé

Toledo e Herrera, um palácio-monastério e uma igreja que e v ~ 1

abranger as sepulturas

da

dinastia. A própria igreja é inspirada "de

4

Bramante. No interior, as amplas proporções, a majestade dos p i l a ~

res, a pujança da cúpula,

os

arcos

da

capilla mayor

sobre os lados

da qual percebem-se em prece das famílias reais (em bronze doú.- 1

rado com dalmáticas incrustadas de esmalte) , emprestam a essà

obra do Renascimento italiano uma augusta qualidade de grande .

A cor sombria·

da

pedra acrescenta a impressão

de

solene tristeza.

Nenhuma alegria. No exterior, a aparência de fortaleza, nos quatro

ângulos

da

qual se elevam pavilhões com flechas lembrando o gos

to

da Flandres, e ncontra-se corrigida pela perfeita ordenação dos pátios

e a harmoniosa beleza do zimb6río, que reaparece em todas as pers-

pectivas, assistido das duas torres. }

Conjuga-se com freqüência a essa obra clássica o barroco ulte-

rior da Espanha, mas confunde-se então par.a explicar a transição.

I

ais exato seria dizer que o Escoriai representou doravante pa

ra

a

Espanha, à maneira de São Pedro

de

Roma para a Itália, o tipo

de

arquitetura da qual as gerações subseqüentes guardaram a lição, pelo

espírito, pelo detalhe, em toda a península ibérica. O motivo da ,

cúpula sobre um alto tambor recebeu dela sua consagração e, em

regiões de granito e pedra dura, a severidade do estilo herreriano

1

72

· ·

I

- '

Na medida em que o barroco executa váriações sobre os temas

do Renascimento, era

eSsen

cial para a arte ·espanhola possuir essa

obra, na qual o caráter severo e o pensamento de Felipe U, ao

mesmo tempo político e religioso, haviam gravado seu timbre.

O quadro cortesão teve uma irnportância de outra ordem. Carlos

V, Felipe II, depois seus sucessores, foram colecionadores e mecenas

à

maneira

de

Rodolio n em Prag11. Assim nasceram os maravilhosos

conjuntos onde confinavam, não sem ecletismo, as obras dos grandes

italianos, Correggio, Rafae

l,

Ticiano e as encomendas dirigidas aos

estódios ·da Espanha contemporânea de El Greco e de Velásquez.

Mas à margem dessas coleções reais, essenciais por sua qualidade e

virtude

de

ensinamento, desenvolviam-se outros centros

de

arte, al

guns cultivados como em Sevilha, a cidade do pod

er

econômico -

em relações constamcs com Antuér

pia,

aberta

aos

pintores flamen

gos

c aos maneiristas italianos - outros populares, e é aqui q

ue

compete falar da escultura policroma.

Seu progresso é inseparável do poderio c da difusão do cato

licismo espanhol. Do século XVI ao XVII, pode-se dizer, de modo

ininterrupto e quase sem relação com as vicissitudes econômicas e

políticas, tiveram pross

eg

uimento, para os conventos emergent

es na

s

cidades espanholas, para

as

igrejas paroquiais, encomendas e pro

duções

de

estátuas

de

Madonas e santos, de comp

os

ições

de

cenas

da Pai:r.:ão que correspondi

am

à ardente fé de toda a nação e cuja

acumulação Lhe emprestava, em retribuição, um caráter peculiar de

fervor eJ\altado, ostentação e real

ismo

. Existe aí verdadeiramente

um

mun

do

de espiritualidade e arte de que nenbum outro país

da

Europa (nem a França, mais sóbria e ponderada,

nem

a Itál

ia,

cujo

ideal de beleza permanece platônico,

nem os

pa

ís

es da Áustda, mais

far

niliares, nem os Poloneses, oem os R

us

sos, mais marcados pela

arte hierática de Bizâncio) deu o exemplo. Deve-se acre.'iCCntar que

as formas

da

devoção espanhola, atingindo outros países, neles en

contraram sucesso, mas sob a condição de temperar seu ardor. Nessa

recusa da medida,

da

harmoni

a,

do equ

ilí

brio, da

~ e r e n i d a d e

nessa

vontade de comover e inquietar,

ne

ssa retórica do espetáculo, como

não

elll .ergar

valores incompatíveis com o classicismo? Como não

reconhecer uma veia barroca? Esta não é estranha ao Renascimento.

Ela possui seus reflexos, pois os ar tistas são de seu tempo c sofre

ram su·a ,influên

ci

a de várias maneiras. Mas não procede de seu

espírito. Sua presença acarreta

uma

dificuldade a mais na explicação

73

1

l i

i

,

·I

i

'

'

l

I

J

I

,.

do

barroco proveniente do 'Renascimento. Alonso Berruguete

1 4 8 8 ~

1561'j trabalhara na Itália

no

tempo de Miguel Ângelo e na corte

de Urbino. Ele é bem mais bacroco do que renascentista. Seu São

cada hoje

de

seu cenano tradicional, parece mais expressiva e to- .

cante, r e ~ e l ~ d o o valor eterno

de

um estilo· que se' poderia crer

local e lumtado. Desse barroco inspirando tantas críticas aos

es

I

: i

I

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'

.•.

Sebastião, de rosto espantosamente calmo na · dor, seus profetas ·

de

expressões transtornadas pela inspiração, não são efetivamente per

.. onagens.gesticulantes, mas suas formas estiradas,

as

fraturás

abrup7

tas de seus movimentos surpreendem o espectador e o transportam

ma

is alto do que o cotidiano, ao ll'lllndo da espiritualidade e da

invocação. Diferente dele e, todavia, da mesma ordem

de

inspiração,

Juan de Juni (1506-1577), esse borguinhão hispa.túzado, agrupa,

em suas descidas

de

cruz e sepultamentos, figuras mais compactas,

movimentadas e declamatórias, porém como aquelas de gentes sim

ples que, em torno do· Cristo morto, seguem todos os impulsos

de

sua dor incontrolável. No museu

de

Valladolid, o São

oão

de

Ari,

matéia que se volve mostrando um espinho da cproa, parece tomar

o visitante como testemunha do excesso

de

ignomínia e

de

abandono

do Salvador: ele se converte numa obsediante insistência. Idealista

porque o animam uma vontade de edilicação e uma emoção reli

giosa profunda; realista porque a técnica dos meios procu,ra con

ferir, pela forma, pelas proporções, pela cor, uma

e s . ~ ã o i m p i e ~ ..

dosamcnte fiel do sofrimento fisico,

da

dor, do horror e da morte, ·

essa escultura policroma, formigante ·na Espanha dos século.s ho

diernos, é a mais importante contribuição ao barroco. Nada se opu

nha, em ·princípio, para que fosse apaziguante e sorridente. Mas·

preferiu o drama, por causa das representações da Semana .Santa;

sem .dúvida,

em

que

as

imagens, como quadros vivos, visavam criar

a ilusão de um Cristo de carne e osso a caminhar pela cidade, e n ~

sangüentado sob o peso da cruz

e,

verdadeiramente, a Madona sé

midesmaiada

ao

do

Calvário ou vestida de luto ao encontro. dy

. -seu filho. Donde as alucinantes figuras

de

Crist'o jacente e as Virgens

desfalecidas,

de

Gregorio Fern.ández ( 1566-1636), capaz

de

sere

rúdade e medida em outros temas

Santa Teresa, São Francisco de

Assis,

São

Bru u).

Valladolid e Sevilha, cidades refinadas ou opu

lentas, foram os principais centros dessa arte para a qual estúdios .

trabalharam incansavelmente - curiosa transição

da

prática artesa

nal para a obra maior. Juan de Mart

ine-L

Montai\és (1568-1649) ,

escultor admirável, participa

da

decoração de retábulos, com arqui

tetos e pintores. Homem de intensa fé , só compunha após a comunl1ão

c a prece, em verdadeiras inspirações de fervor, para oferecer ines-

. quecíveis obras-primas: a

lmaculadtl Concepção,

justamente célebre

como uma das maravilhas do gênero e, menos conhecida, a cabeça

de Dolorosa conservada em Berlim-Dahlem

e

que, '

POr

estar desta-

74

, h

.:.,,;.:J/;- ...

·t: :

~ f j . } . t : ~ ..» ;... ; t : t : :

I

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. . .

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trangeiros (imaginário sensual, cenografia, drama sacro substituindo

a prece _ntima  a J i t u r ~ i a ) , profanado numa certa medida pela·

e x p l

n ç o

lunsttca de hoJe em

d1a

, reconhece-se que continua a

suscilar, no povo castelhano ou sevilhano, uma séria verdadeira e

autênt;ica emoção religiosa. ' '

A obra de El Greco é contemporânea dos êxitos dessa arte

Mas quase não tem pontos comuns com ela, sem .lhe ser a b s o l u t a ~

mente estranha (séries dos Apóstolos).

única

pela qualidade irre

dutível

da

. orma e da intensidade da inspiração,

or

iginária de Tin

toretto,_ provavelmente com reminiscências bizantinas, ela está, no

entanto, indissoluvelmente associada à F.spanha religiosa, mística, se

nho.nal do século XVI. Fora desse contexto não podiam ser con

cebtdos nemA visão de Filipe 11 nem O martírio de São Maurício

nem principalmente a incomparável obra-prima O ·enterro do c o n d ~

Orgaz, com .o yigor e a elegância de suas figuras, ·a espantosa relação

e_ntre a c e ~ de milagre na terra,

contelJ1.plada

sem surpresa pelos

fidalgos de golas plissadas e o.s sacerdotes, e a visão do Paraíso.

Clássico ou barroco? El Greco, e basta. · ·

Pode-se, em contrapartida, aproximar da inspiração da escultura

policmma

as obras da pintura espanhola do século seguinte, liberadas das fórmulas escolásticas, posto que mantendo a influência, e

que

~ f e r e c e r a m

da sensibilidade

~ e l i g i o s a

p r ó p ~ i a da Espanha e da

sua v1da monacal uma interpretação verídica. Obras de críticos es

panhóis e um belo estudo de um francês, M. Paul Guinard recon

duziram a a t e n ~ ã o para Zurbarán (1598-16

64 ,

que .se beneficia

de uma revalonzagão. Ele chegou na hora em que, após.

-as

crises

e os debates do seculo precedente, o espírito de reforma havia do

minado. Os numerosos conventos eram habitados por inces-santes vo

cações em todas as classes sociais, sobretudo nas mais humildes. As

e?comcndas afluíam. Profundamente religi

os

o, Zurbarán

con

hecia a

VIda

dos monges. Em Sevilha, onde trabalhava, tinha familiaridade

com

a.

escultura policroma

e;

sob os olhos, os exemplos de diversas

modalidades de pintura . Sua arte, mais preocupada com a oportuni

dade -de um estilo do .que com a autoridade geral de uma doutrina,

afasta-se assim do classicismo. Ele traduz a inserção

da

mais alta

espiritualidade na mais

humild<;

ação. De uma representação realista

ele extrai um s'entido místico. Nesse aspecto pode ser tido como

barroco. Mas o uso reservou antes essa designação aos pintores in-

75

;

)

l:

I

.·.

 

\

fluenciad_?s pela

It

ália e fiéis

à

beleza ideal: a Mnrillo e a suas in-

t ~ r p ~ e t a ç o e s

da Imaculada Concepção. A

Pl ITlSsima

era, por eltce

l e n ~ l a

?

tema espanhol, aquele de uma opinião teológica cara às

Sob a influência dos tratados de Serlio, Vignola e Scamozzi,

conceituados em toda a Europa, muitàs construções adotam as or -

dens, as colunas, os frontões e misturam à arquitetura tradicional

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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U_mversJdades c qual se deplorava, na Espanha, que o Coneílio

nao t l v ~ s s e coo(endo a autoridade de um dogma. Mas a maneira

de

~ u n l l o

.revela bem

a

i n d i v i ~ u a l i c l a d c do país: suas Virgens na

glóna celestial ou suas Ylrgens-lllrantes junto de uma Sant'Ana mo

rena ·são ·inteiramente espanholas, e seus pequenos mendigos pare

cem o retra.

o

d_

os

moleques

que

pululam ainda hoje nas praças.

Por

~ m a ~ b r a

sábia e vigorosa, Vclásquez proporcionou uma

consagraçao

à

pmtura espanhola do sécu

lo

xvn.

Seu estilo de corte

desembaraçado

da

convenção e da condescendência, é um

t e s t c m u ~

nho

de

arte sobre

as

grandezas militares do poder As

Lanças) ·

ou

os r i g o r ~ da etiqueta As Meninas). Seus retratos de reis, de in

fantes, brmcando ou caçando nas paisagens ·da Síetra traduzem, com

s ~ a s

cores sombrias

e.

fortes; em composições nas .quais a prcocupa

ç.ao verdade se alia

à

vontade de grandeza, uma etapa da civi- .

bzaçao. Desse modo, a arte espanhola, intérprete de uma religião

profundamente vivida pela sociedade em todas as suas camadas, d: ·

altivez castelhana, do poderio - se bem que à beira do declínio ·

de uma

m ~ n a r q u i a

ainda temível em toda a Europa, apl'escnta uma ·

forma .de mdcpcndência arrogante que rejeita a etiqueta de uma

c a ~ e ~ o n ~ .

Falou-se de anticlassicisrno. n verdade que a despeito da. ·

ex stcncta alguns tratados de doutrina, nem a corte nem o pú- .

bhco se preocuparam em .associar ao renome da Espanha um siste

ma de princfpios c de obras que seriam modelos para o resto do·

m u ~ d o .

~ ã o

o aspecto Íntelectual que domina a arte; preocupa-se

mu1to

~ a 1 s

com a impressão imediata de verdade ou de emoção a

p ~ o d u z r r

do que da consonância com um ideal definido pelos eru

d t t ~ s Donde a formação artesanal julgada tão fecunda quanto o

.

ensmamento das escolas; donde o ecletismo na escolha da forma·

donde a

f o ~ ç a de

uma tradição perpetuamente enriquecida,

p o r q ü ~

sempre serv1da por novas gerações. Essa resistência sentimental, essa

vontade de perseverança nas condições de ser explicam a duração

de certas ío:rmas ou de certos gêneros, sem que percam sua eficá.cia.

Exphcam ainda que, embora as classes dirigentes, ma

is

acessíve

is

aos valores internacionais, se tenham pouco a pouco aberto a outras

opiniões, a naÇão ~ t e i r a conservava e fomentava sua vinculação ao

que ela compreendia desde longo tempo. Tudo isso compondo um

c h m ~ ~ e g u r a m e n t c barroco, porém de um caráter peculiar e que não

propiClava o sucesso imediato do estilo italiano.

76

elementos da arte internacional. Ora

é

o estilo regular e severo de

Herrera que se escolhe para uma nova catedral {Valladolid), o da

Contra.Rcforma romana para uma igreja (Las Angustias, de Juan

de Na ( 1597-1604) em Valladolid), ora as colunas de ordem

colossal para a igreja dos Jesuítas em Madri,

as

plantas em elipse

das igrejas de colégios em Sevilha, uma basílica barroca solicitada

a Carlo Fon tana para o santuário de Loyola {1

681 .

J>or vezes, é apenas uma fachada moda da época I{Ue.vem mo

dificar o a$pecto geral de uma igreja antiga (Gerona). Sobretudo,

no decorrer do século XVU, a decoração interjor das catedrais e a

de todas as igrejas paroquiais ou conventuais provocam efeitos no

vos. Nas catedrais espanhol

as

prevalece o costume

de

cercar a nave

principal de

gràdes de ferro ou de alvenarja ornadas

de

estátuas em

nichos, de colllnas e motivos: é o coro onde os cônegos celebram

seu ofício e, em toda a parte, o altar principal capil/a

mayor

ou

presbyterium que córre&ponde ao coro das igrejas francesas)

é

so

brepujado por um retábu lo , segundo a tradição da época precedente,

mas que, em

vez

de ser compartimentado em pequenos quadros,

assume mais e mais o caráter de uma grande composição arquite- ·

tônica, articulada em vários corpos,

à

maneira de um arco de triunfo.

As colunas, os frontões,

s

cntablamentos impõem uma estrutura ao

espaço; as cenas pintadas e as estátuas se replicam, e o resultado é

compor um

gr.ande

aparato cenográf

ico

. Aí ainda reaparece o cuidado

de comovc.r c impressionar a imaginação, conferindo um comentário

à

doutrina, de tornar ao mesmo tempo mais familiares por sua pre

sença e mais honoráveis pelo cenário onde se localizam,

as

imagens

dos santos padroeiros.

Em

toda a parte, a intensidade de um efeito

.de espetáculo.

Esses traços gerais não impedem a diversidade regional das

obras. A arte de cada província reflete-lhe o destino diferente eco

nômico c social.

Por

causa do

do IÚnio

das tndias, Sevilha perma

nece sempre, conforme a palavra de M. Çorbacho, a região que

m e ~ o r

acolhe as novidades, deixando de submet8-las a seu critériop ~ · ó p r i o ; Valência, Barcelona e o Levante são as regiões mais pró-

XImas da Itália e as mais abertas à sua influência. Madri quer hon

rar-se de uma fidelidade castelhana mais obstinada ( mas pode-o?);

Salamanca, até em sua maneira de compreender a arte sofre a in

fluência da Universidade e dos Jesuítas. 'Principalmente, ' a existência

77

,

I

I

I

I

I

I

f

I

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I

I

I

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· ..

~

  ~   ~

 

I

do lmpê_rio ultramarino influi nos destinos artísticos da metrópole

Mextco, .no Pero, nas outras províncias ou audiências da Amé

nc?, pa.ra edificar. palá:ios ou igrejas adot \-se·o estilo da metrópole.

do retábulo resplandece e prolifera: até ao arco da ogiva os mo

tivos de decoração se multiplicam, as colun;)s

se

replicam; po

r6m

,

em planos diferentes, salientando o relevo do conjunto, seus passa

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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Fo1 : a s s ~ m que J.uan Gomez

de

Mora, considerado por alguns com·d

o pnnc1pal arqu iteto barroco e que iniciou· a Clerecía de Salarnanca

(1617), forneceu numerosos planos ao México. Rapidamente, um

barroco sobrecarregado, intensamente decorativo, expandiu-se no

Novo Mundo. Muitos funcionários, colonos enriquecidos retornando

à

Espanha no crepúsculo ·da vida, se ali faziam constroir residências

ou igrejas fundações,.atribuíam sua preferência ao estilo ao qual

estavam hab1tuad

os

acola antes que à maneira antiga.

fim do século XVJJ, .em todo caso, a arte arquitetônica e

d e ~ o r a t l renovou na Espanha para atingir seu apogeu nos pri

metros decemos do século XVlll. Após uma longa decadência, a

co

.njuntura econômica então

se

recompunha, a despeito da crise po

líuca e do retalhamento da Espanha enlre duas obediências monár

quicas (Filipe V em Madri c Carlos UI em Barcelona). Assim no

decorrer de várias gerações, sucessivos arquitetos acentuaram o' ca

ráter barroco da Clcrecía em Salamanca. Eles terminaram a elegante

fachada com um elevado pináculo muito ornado entre duas altas

torres em cúpulas, e ergueram,

à

entrada do coro sobre um tambor

octogonal, o soberbo zimbório esférico, um dos ~ belos no gênero.

Na cidade do.s pátios renascimento e mudejar, de uma delica

deza e encanto

one

ntats, o claustro

da

Clcrccía (André Garcia de

Qui.õ.ones por volta de I750?) introduz uma nota toda diferente.

As colunas redondas ~ l e v a d sobre um pedestal regular suportam

de seu capttel compóstto,

um

vigoroso entablamento. Elas alternam

com_ os arcos aos quais se sobrepõem um pórtico, uma janela com

b a l ~ a o

e .largo óculo. O conjunto, de uma ordenação solene, de

sábta elegancta, oferece uma visão de barroco romano. Em Sevilha

m

ag

níficas i g r e j ~ obras dos artJuitetos Figueroa o pai, Leonard

o:

165 _7-1730, o

f 1 ~ o

Ambrosio, nascido em 1700), são notáveis pela

amplitude e vanedade de suas cúpulas,

ora

elevadas sem tambor

Pablo), ora sustentadas por

um

tambor octogonal. Elas con

jugam_em sua

e s t r ~ t u

e sua

de

coração elementos de todas as fon

~ e s

arbsticas (galena.s de madeira, ferragen

s

molduras de prata das .

n e l a ~ e acabam nos enredamentos encantadores de suas lanternas.

O retabulo do altar-mor da Clcrccla ern Salamanca ( Cristobal H o

no ato

),

com suas poderosas colunas torsas e a sábia elegância de

sua composição, confere sua conclusão a uma fase estilística e seu

ponto de

pa

rtida a

um

novo estilo. Um toque a mais e a decoração

78

.j

.

manes ondulam,

os

entablamentos têm mais vigor, nenhum espaço

que não seja recoberto de algum motivo esculpido. O ouro espalha

em tudo o seu esplendor, e a cúpula dourada de um alto tabernáculo

toma-se o centro para o qual tudo converge, um santo dos santos

de um a comovente majestade. Tal é o retábulo que José Churriguera

(nascido em

1665) terminou em 16

93

·para a igreja dominicana de

San Esteban

Essa arte churrigueresca deve ser reconhecida como uma nova

etap.a do barroco europeu. Pensou-se reconhecer suas fontes no pla

teresco ou no go sto da sutileza, desenvolvido então pelo cns4tamento

de Salamanca. Ainda ma is: ela confere sua expressão a uma sen

sibilidade geral, a uma atração pela suntuosidade que as influêllCias

conjuntas do gótico, do plateresco, do Renascimento e do barroco

tinham elaborado na Espanha. Ela empresta seus motivos decorativos

e talvez .sua tendência a diferentes ccnografias, mesmo ou sobretudo

àquelas das pompas fúnebres. Ela transporta esses motivos

pa r

a os

retábulos, mas estes conservam; em sua arquitetura, as grandes linhas

impostas pelo maneirismo e o gosto romaoo. Os detalhes c a riqueza

se multiplicam, para emprestar ao conjunto o

ar

de mag

ni

ficência de

uma surpreendente tapeçaria. Assim, o churrigueresço atinge uma

riqueza elegante, ousa-se dizer, uma alegria e um sorriso que fal

taram até então à arte religiosa da Ilspanha .

Embora contemporânea do rococó, a arte churrigueresca

é

com

pletamente distinta. A Andaluzia retomou-a em seguida, mas para

colorir-lhe a interpretação. Pedro Duq

ue

Cornejo ergueu o retábulo

de Umbrctc, perto de Sevilha, em que as

u n a ~

se transformam

numa série de guirlandas, mas onde possantes volutas se replicam

e restabelecem no conjunto um caráter arquitetôn

i

co: uma admirável

maestria do gênero. Tem-se dito que a ordem geral da catedral de

Burgos era rompida pela inserção, nesse cenário gótico e renascen

tista.  da capela Santa Tecla. A parede é inteiramente recoberta por

um grande retábulo dourado, no qual se descobrem pouco a pouco

os inumeráveis motivos, até bustos sem braços e atlantes. A ogiva

da capela é revestida, qual magnífica tapeçaria sobre fundo branco,

de cordões, flores e putti, de cores suaves c delicadas. Porém, nessa

elegância festi

va nã

o há mais artitício do que

na

aparência exaltada

da escritura policroma:

é

o testemunho s.incero de uma época. O re

sultado mais emocionante é talvez o intefior da capela

da

V era Cruz,

9

  ~ l _ _ _.....;J

em Salamanca, decorada por Joaquin de Chuuiguera, em contraste.

com a austeridade da fachada. A luz cai

de

uma cúpula trabalhada :

sobre o retábulo cintilante, recortado como uma renda de ouro. A .

presença do Santo Sacramento velado por religiosos em preces, prec

reintroduz

na

Espanha o mesmo esfílo que Berninin escolhera para

o Louvre de Luís XIV. Harmoniosa e solene, uma residência real

deve sempre traduzir a importância de quem a habita e evocar,

para os que dela se aproximam, a grandeza da monarquia.

)

l

i

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8/18/2019 Livro TAPIE Victor O-Barroco

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.

serva na obra seu ·caráter e seu sentido profUl)do: aquele de um .

relicário, cinzelado com amor para a gl

ór

ia de Deus. Não uma arte :

teatral, mas uma arte de prestigio e fervor. ·

Arquitetos e escultores, os irmãos -mais novos de José h u r r i ~

guera, Joaquin e Alberto, trabalharam ambos na nova catedral de ·

.Salamanca; o segundo forneceu o plano dessa Plaza Mayor, que

renova o aspecto da praça tradicional sem trair-lhe o espírito. Re

encontra-se ali o caráter de lugar de reunião e de passeio, mas esta

vez com uma graça refinada, completamente distinta da severidade

madrilenha. Decorativo ou arquitetônico e os dois conjuntamente, o

barroco

no

estilo de Churrig11era movimenta

as

· linhas verticais dos

edifícios, multiplica a decoração ornamental, sem requerer à massa

arquitetônica abandonar sua ordem tradicional c

de

propiciar ela

própria efeitos de contraste . Semelhante

é

ainda ern São· Jaime de

Compostela o estilo do Obradoiro, em .que Fernando de Casas y

Novoa confere ao corpo central da fachá.da o aspecto de um colos

sai retábulo, ritmado por ordens de colunas, assistido de duas torres

em andares que, adelgaçando-se de

um

a outro, ascendem como fle

chas, tenninadas por lanternas cinzeladas à maneira de peças de ou

rivesaria. A arte churrigueresca

é

vizinha daquela de Pedro de Ri

bera, escultor, decorador e arquiteto madrileobo uo tempo de

Fi-

lipe V. Suas obras são movimentadas e pitorescas, cheias

de

inven

ções e generosidade, porém de estilo mais pesado (porta do hos-.

picio San Fernando, com retábulo, fonte da Renomada, baldaquinos

ou

homacinas

que decoram a ponte de Toledo, outorgando-lhe um

lugar, mas não o primeiro, na série européia das pontes barrocas).

Outra m1ança do barroco, ainda: o extraordinário santuário da Car

tuxa do Paular, peno de Segóvia, obra

de

Francisco Hurtado

1718) ..

Muito perto de uma igreja monástiéa severa, uma maravilhosa pu

Julação de vo otas, de colunas e estátuas fulgura para compor um

elevado baldaquino, ao qual se religava uma série de capelas em

estrela brilhantemente decoradas. . ;

um

dos melhores produtos da

c e t ; ~ o g r a f i a religiosa

o

conjunto mais

011

menos em ruínas em 1960).

No início

do

século XVITI as influências estrangeiras reapareceram

quando

Filipe-

V empreende a renovação

de

seus palácios. Ele so

licitou a Robert de Cotte e a Ardemans transformar o antigo Alçázar

e, após o incêndio de 1734, recorreo aos italianos Juvara e Sachetti.

O palácio realizado pelo segundo - o atual palacio de Oriente :

80

Enfim, a Granja

de

San Iidefonso, edificada no decorrer dos

mesmos anos, mas conforme projetos sucessivos, justapõe, por causa

disso, sem fundi-las num ve,rdadeiro conjunto, panes barrocas como

tantas variações

de

um mesmo estilo.

A adoção de uma nova arquitetura religiosa introduz, no século

XVIII, no barroco espanhol um caráter todo diferente da arte

rigueresca. Não é mais uma decoração,

por

superabundante que se)a,

desdobrada como mn tapete sobre as fachadas planas e altas da ar

qu itetura tradicional . São as próprias paredes que se inflam e se re

traem, contrapondo êntases e reentrâncias. As grandes janelas ovais

ou red011das, os medalhões e os nichos compõem os motivos deco

rativos -mais importantes. Não há mais esse cinzelamento minucioso

de ourives, mas movintentos

de

massas, efeitos muito' mais anchos.

Reconhece-se o barroco de Borromini e de Guarini, do modo como

o interpretam, nos mesmos anos, os arquitetos da Eúropa central.

Em Múrcia o portal, obra de Jaime Bot1 174

.

1),

é

uma gran

de concha e n q ~ a d r a d a por colunas coríntias;

no

plano inferior se

engasta um átrio com pináculo; seu aspecto, suas linhas buriladas, a

profusão dos motivos lembram os procedimentos muito semelhantes

q11e Hildebrandt empregava

na

Peterskirche de Viena. A fachada de

Valência apresenta um corpo central convexo entre duas alas côn

cavas. Aí ainda o aspecto

de

retábulo domina, com uma composição

em três andares; a porta sobrepujada por um grande escudo escul

pido, um óculo oval cercado de listões, um grande relevo represen

timdo a Assunção e, para terminar, um frontão cortado. Valência

possui, no campo da arquitetura civil, uma das mais curiosas resi

dências da Europa: o palácio do marquês de Dos Aguas. Uma .de

coração de uma fantasia e exuberância ex.tremas recobre a fachada.

Ela lembra o hospital de San Femando, mas também os palácios

do Freyung em Viena ou os de Malá Strana em Praga. a obra

de

Vergara. Seu pai (1681-1753) trabalhara na fachada

da

catedral

com escultores alemães, Conrado Rudolf e Francisco Stolf. Uma

e s t ~ t u a

de São Miguel

obra de uma escultora, Luísa Roldán

( 1656-1704), pelo movimento geral, o desenho das asas, o detalhe

do ·costume teatral, o elmo empenachado, .impõe um relacionamento

com as obras da estatuária alemã ou danubiana: o célebre arcanjo

.

de

Ottavio Mosto,

no

ângulo do

pa

lácio Toscano em Praga. Este

81

.

i .

l :

curioso problema de analogias

é

ainda pouco estudado. Tais afini,

dades levam a crer em fontes comuns: coletâneas de estampas e

plantas de arquitetos. Assim como

os

projetos dos omamentistas

franceses inspi

rar

am os cenários alemães

do

rococó, os espanhóis

novações, as províncias permaneciam tenazes em suas tradições e,

entretanto, as ordens

r e l i g i o s a ~

provedoras

de

numerosas enco

mendas, favoreciam compromissos entre a arte local e a maneira

romana: aí ainda, as obras de Vignola e

de

Serlio inspiravam as

;

'I

,,

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puderam inspirar-se, pelas estampas, em realizações

da

Itália e da

Europa centraL Somente uma investigação arquivística para cada

<;áso poderia confer-ir uma certe:r.a.

Assim, a Espanha se abriu bastante timidamente ao

b_arroco

da

Itália para acolhê-lo sem entusiasmo. Ela já soubera atribmr o gosto

do Reoascimento a suas tradições góticas. Do classicismo

de

Bra

mante ela extraíra a gravidade do estilo herreriano . Em seguida,

reservou sua preferência a formas do barroco elaboradas por seu

próprio gênio e que levaram, com os Churriguera, ao rejuvenesci-.

mente do estilo. Mais tarde, e por partes, e

la

adotou o barroco que

se pbde dizer austríaco. Disso resulta ·uma curiosa variedade, quase.

uma dispersão no caráter das obras acumuladas em seu território;

mas o que sustenta, durante dois

culos, uma autêntica experiência

barroca fértil em belezas, é efetivamente o caráter dessa sociedade

de bas; amplamente rural, que delega autoridade e prestígio à .aris

tocracia e ao clero,

em

que os mais pobres e os mais afortunados

se irmanam

na

mesma fé ardente e desejam, acima de tudo, que

a riqueza e o brilho se acumulem, em reverência, nas casas

de Deus.

O barroco português tem numerosas afinidades com o barroco

espanhol e não se deve esquecer que, de 1580 a 1640, os dois

reinos tiveram o mesmo príncipe. Mas ele mantém sua originalidade.

No conjunto, as igrejas do· século XVII português, inscritas numa

planta retangular, em que as sacristias envolvem a própria nave,

providas de fachadas regulares com duas torres, janelas dispostas

em V, oferecem uma impressão de simplicidade quase austera.

Quando muito, ela é corrigida pela decoração

do

átrio (pirâmides

ou

bolas) ou pela engenhosidade das cúpulas em bulbo, pelos de

senhos extremamente variados que enfeitam as torres. Outrossim,

após· a ·prosperidade da grande aventura e das descobertas, que

a exuberância do manuelino traduziu

na

arte, o período em que

o barroco desabrochou na Euro

pa

foi

para Portugal aquele das· di

ficuldades e da recessão. No século XVI produziu-se uma reação

dirigida para o classicismo das formas e a sobriedade da decoração.

Sob a influência do italiano Terzi Ct 1597), a arquitetura adotou o

gosto severo de Herrera. Mas nenhum estilo predominava v e r d ~

deiramente: as condições econômicas se ·Opunham às grandes re-

82

I

\

inovações. 'Apareceram assim,

um

pouco mais tarde, no· tempo de

uma

di

llastia de arquitetos investidos de cargos de corte (os ·Tinoco),

as igrejas redondas e a surpreendente fachada do seminário

de

Santarém (1676) , atribuída a

João

Nunes Tinoco o Jovem

(1631-1684). Seus três andares regulares, fachada

de

palácio mais

.

do

que de igreja,

o coroados por

um

pináculo entre enormes vo-

lutas em forma de conchas e

du

as . altas pirâmides. No início do

século XVIII, artistas suábios, .

os

Ludwig

ou

Ludo

vi

ce, fazem aco

lher as riquezas do barroco germflnieo pam o conjunto de Mafra,

este Escori

a]

português de João V, e, como o primeiro ele também

igreja, convento e palác

io.

Estátuas de mármore, de formas mo

vitncntadas, completam a decoração. São porém preocupações de

corte e triunfo de gosto internaciona

l.

A tradição verdadeiramente

portuguesa

se

renova

na

ornamentação interior das igrejas e o con

traste é doravante flagrante entre a simplicidade das fachadas,

mesmo com frontões esculpidos, e a riqueza do interior. Revestem-se

as naves com uma decoração de madeira esculpida e dourada

a talha ,

erguem-se no coro das igrejas ou sobre

os

altares later.ais

magníficos retábulos. Alguns se inspiram, assaz curiosamente, dos

átrios romanos, tão numerosos no Portugal

do

Norte, país

de

pedra

dura e arquitetura sóbria; donde os belos arcos e

as

curvaturas, ao

abrigo dos quais se vê antes que um quadro ou um motivo esculpido,

uma seqüência de pequenos deg raus o trono , onde se comprimem

os vasos de flor

es

,

os

círios e as palmas. Outros adotam a proli

f e r ~ ç ã o mot

ivos

à

maneira churrigueresca, e a estatuária pintada,

ma1s sorndente e familiar que a espanhola, multiplica as efígies.

Enfim, nas igrejas, as sacristias e os claustros, e os revestimentos

de

faiança braoca e

azu

l, os azulejos, espalham sobre

os

muros zonas

de frescor e claridade.

O barroco da Espanha e de Portugal se propagou, além-mar,

em ~ e u s Impérios colonia

is

. A conquista política

es

t

ava

intimamente

ligada a evangelização: impunham-se igrejas e conventos. Mas aqui,

a ausência

de

tradição de arte cristã tornava natural que se ado

tasse a da época. Seriam os ind ígenas s e n s v e i s ao aspecto sun

tuoso dos templos construídos para a nova religião? Foi da Europa

que se levaram as plantas e, às vezes, as próprias pedras

do

edifício,

para serem amalgamadas. Muito cedo os indígenas foram associados

à empresa e confiou-se a decoração ao seu gosto e à sua invenção.

83

jt

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  ~

No .México e no Peru, os dois países de civilizações locais. evo

luídas, parece efetivamente que as formas e o espírito da arte

indígena se tenham reveJado e aliado seus efeitos .para conferir ao ·

barroco colonial um caráter ainda mais veemente do que aquele das

: .I

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metrópoles (portal

da

Companhia,

em

Arequipa, 1698). A escultura

pol

icr

oma se multiplicou .à medida ( o sucesso

das

procissões · e do

culto ao ar livre. Os estúdios indígenas levaram tão · longe qu·anto .

possível o realismo trágico e atroz dos modelos espanhóis.

Até o fim do séCulo XVIJI, o

bar

roc

o,

enquanto refluía na

.Europa, toma

va

um novo impulso

na

América, por tão numerosas e

curiosas obras, pela história da arquitetura e

da

ane .mouumentaf,

um imenso campo· de es udo apenas esboçado. A associação c

om

a metrópole ·foi sempre estreita. A arte churrigueresca se expandiu

muito depressa

na

América espanhola: nela apresentou suas mafs

belas composições (Tepotzotlan, Zacatecas, no México),

as

igrejàs

do Brasil adotaram a

talha

e .as capelas douradas (Bahia;

Rio de Janeiro). No século XVill, a exploração das jazidas de

ouro c de pedras preciosas na região de Minas Gerais suscitou

·

a

floração de igrejas no estilo borrominesco, ainda inusitado

(Ouro Preio e Rio de Janeiro) , a. exemplo de obras de Portugal

1

i n s p

r a d ~

elas próprias, da Europa central. Enfim, a persistência

das formas de vida colonial

até

a

In

dependência, mesmo além dela,

explica a duração tenaz do barroco até o século

XIX

e que um

dos artistas mais expressivos de todo o barroco, o mulato brasileiro

Aleijadinho (1738?-1814

,

tenha sido contempo

rân

eo de Nàpoleão.

84

í

l

I

.J

Capítulo IV

O B RROCO NOS P íSES D A N U B I A . J . ~ O S

A Europa central foi um dos domínios privilegiados do barroco,

em que e

le

apresenta mais originalidàiie,. mas também cuja análise

e interpretação enfrentam mais dificuldades.

Por

Europa central .

deve-se considerar a Alemanha do Sul e os países da

Ca

sa d.a

1

Austria, sem esquecer que o ba·rroco

da

Polônia, da Ucrânia,

da

l1ússia não está isento de afinidades c

0

m o daquele domínio.

Por

<;>u tro lado, se o período em

que

esse barroco desabrochou está

situado entre o fim do século XVI e meados. do XVII, cumpre

assinalar que, embora ricos em acontecimentos e transformações

sociais, estes dois séculos atormentados não compõem um conjunto

homogêneo .Em nenhuma parte, tampouco, o uso das e g o r

comporta

ta

ntos riscos: ao período de 1580 a 1620 podem cqm

razão aplicar-se · os epítetos pós-Renascimento

Spiitrenaissance),

prebarroco Frühbarock) ou

m ~ n e i r i s m o

e expe1i menta-se algum

embaraço para delimitar

e x t m ~ n t e

o pleno períodc;> do barroco,

.entre

1630

ou

l

650 e 1720 ou 1740. Idênticas dificuldades se se ·

trata do rococó, tanto pa

ra

definir esse estilo quanto

para

saber que

datas devem ser judiciosamente escolhid.as

para

enquadrar o período

de ·seu sucesso.

Conceder muita atenção às · datas políticas, além de procedi

mento desacreditado pelos métodos atuais, ameaça .fazer desconhecer

que .o barroco está ligado a uma evolução - perceptível desde o

século

XVI -

que determinou o poderio ·econômico e social do

grande domínio, o

re

traimento das liberdades .camponesas, o de- .

clínio da pequena nobreza em benefício da grande aristocracia

fun-

diária, o escasso progresso da burguesia urbana. Mas essa evolução·

provocou, por outro lado, o triunfo da Contra-Reforma católica,

com

a pujança das ordeiis religiosas e a impregnação de

toda

a socie-

85·

I I

. I

i

I

l

'

dade por uma civilização plástica, interessante à vista e ao ouvido ·

muito mais aberta à sensibilidade do que à ponderação .

n t e l e c t u l ~

Estilo de grandes senhoreS e camponeses católicos ane de ·

ele julga caducas, mas que tinham justamente alimentado a lVI·

lização barroca. Pode-se guardar es te símbolo: na Kapuziuergruft

de Viena, aos pés do monumento

pomposo

de Maria Teresa e

de Francisco I, todo em figuras movimentadas e em sobrecargas, o

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palácios e abadias, mas também de imagmário, de d e c o r ~ ç ã o e

cie

festas rústicas, é exatamente este aspecto que o barroco apresentou

na Europa central. . .

Mas não se deve tampouco negligenciar, sob pena de erros a

importância

da contingência política. Nada é inteligível se se

on,;ite

a guerra dos Trinta Anos: ela interrompeu o progresso de urna ci

viliza?ã.o oriunda do Renascimento, acarret

ou

uma grave crise .de

mografica e

uma

renovação das estruturas sociais,

I

suscitou na bacia

danubiana a formação de um conjunto dinástico : os Estados da

Casa da Áustria, mais sólida do que nunca, mas que não se tornou,

à maneira ocidental, um país unificado e coerente. ·Ela permitiu

não

o ~ s t a n t e

ao facilitar os intercâmbios entre umá região e outra:

o nascunento de uma civilização comum. O sítio de Viena (1683)

a reconquista da Hungria e de uma .parte dos Bálcãs, as curiosa;

incidências da guerra · de Sucessão

da

Espanha devem ser conside

rados como fatos proeminentes. Sem

eles,

como interpretar o barroco

impe_rial ~ s s o c i a d p nome de Fischer von dach e

as

novas vagas

de mfluenc1as · Italianas que renovaram o barroco nos · países

da

Áustria, até as influências francesas · que contribuíram para as

graças delicadas e encantadoras do rococó

ua

Baviera?

Nessas condições, para comodidade do espírito e sem esquecer

que esses episódios só têm um valor relativo, é útil distinguir um

período que

vai

de· 1580 a 1630 ou 1650 cujo tenno não tem

importância senão par.a traduzir resultados e;senciais: o triunfo da

,Contra-Reforma e

da

Casa

da

Áustria, o retorno à paz pÜblica após

os tratados de Westfália; outro que vai de 1650 a 1730 aproxima"

~ a m e n t e porém com um ponto culminante de. 1685 a 1720 e que

e exatamente aquele do alto-barroco

ou

do barroco àutêntico· um

último, enfim, até mais

ou

menos 11a0: nele 6 barroco se dis;olve

não falando propriamente num declínio, antes num "maneirismo':

·em que surge o rococó,

no

qual já d e ~ o n t a m os ·primeiros sinais

de uma reação "classicizante".

1780

é.

a data da morte de

Maria

Teresa ·e ainda que u m ~ mu

~ a n ç a de ramha não possa ser por si só decisiva, não é de somenos

~ ~ o r t â n que se instale imediatamente a expeúência .revolucio

uana

e concreta de José

IL

A fim de renovar a' ordem· social o

imperador

se

empenha em combater ou destruir as tradições _q\ie

simples caixão de chumbo, sem ornamento, onde repousa o

imperador-fi lósofo. Dois mundos.

Durante o primeiro período 1580-1650, as relações mantêm-se

florescentes .entre a Alemanha de Nurembergue e de Augsburgo e os

paises da Casa da Áustria. Nem Viena, nem Praga, mais impor

tante por causa

da

residência imperial (Rodolfo II é tlm notável

colecionador, curioso de arte e de ciência), ainda não são grandes

cidades. Uma clientela senhorial e burguesa movimenta o mercado

que lhe

fo

rnece estofos , armas, livros, tudo o que se fabrica na

Alem anha e na It

áli

a do Norte. No cenário .arquitetônico das .ci

dades, o gosto do Renascimento alemão persiste (casas em pinhão,

poços em terragem) , mas não ex iste moradia senhorial, mesmo for

taleza, que não tenha sua galeria à italiana. Muitos senhores orga

nizam coleções e possuem urna cultura ·humanista (Slavata, Zero io) .

Mas desde o iníc

io

do século os turcos se haviam instalado na

planície húngara. Al i

in

troduziram sua cultura e seus costumes, mu

tilavam as es tátuas por horror à idolatria e, face às igrejas cristãs,

erigjam minarctes e casas de banho recobertas de cúpulas. Desse

modo, a Hungria do Renascimento, penetrada de italianismo

no

tempo de Hunyadi, era arrebatada

ao

domínio cultural do

Oci

dente.

Entretanto no Oeste, as

lu

tas entre católicos e protestantes se acirram

até. o conflito de 1618. A Boêmia entra no jogo. Que um rei cal

vinista se instale em Praga e, sob pretexto de reformar sua capela

privada, de

ixe

despojar a catedral de São Guido

de

seus tesouros

de arte e que, um ano mais tarde, a Boêmia protelaante seja esma

gada pelas armas catóUcas, são outras tantas circunstâncias rele

vantes que decidem o futuro.

Para a l1istória da civilização e da arte, o epis6dio de

.Walleustein merece atenção. Ele significa que a rupttua com o Re

nascimento humanista é consumada. Wallenstein, de cultura me-

diana e espírito inseguro (Pekar o demonstrou melhor do que

nii1guém)

foi o .pri

mei

ro a dar - graças ao r.ápido progresso de

sua riqueza - , o e,.;emplo da ·necessidade de fausto; da febre de

construções: palác ios, igrejajl conventuais que pareceram doravante

indispensáveis para sustentar a honra de

um

grande nome. Seu pa

lácro. de Praga, um dos mais belos de então, nem por isso é ino

vador: a fachada conserva ainda o gosto do Renascimento alemão,

87

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ttrrtiUI sobre os jardins se inspira do palácio do Te e, nos

próprios jardins, a gruta de embrecbado relembra o que

deco

rava a

residência ele Maximiliano em Munique.

Man

eirismo ou

barroco? Maneirismo, se se cinge apenas às formas, mas

barroco,

.. 'que o arrebata

obra do

jesuíta Bohuslav Baibin, que celebra

as tradições mariais de seu país, · como, um pouco mais tarde, 'nos

sermões c escritos do monge agostino Abraham em Sancta

Clara

a mais surpreendente figura do barroco austríaco (1646-1709):

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se se pensa no novo espírito de uma grandeza senhorial, jamais

atingida a esse ponto nas regiões. Trinta anos mais tarde, o palácio

Czernin, construído pelo italiano Carratti, inspirado de Vene7

a

c

da arquitetura palladiana, porém de proporções colossais, ·marca a

vitória irreversível do gosto italiano. O triunfo do catolicismo se

trdduz pela construção ou a transformação das igrejas:

em

Viena,

a igreja da Universidade (Jesuítas) adota a fachada plana e o frontão

da Contra-Reforma romana

1627).

s

decorações em estuque

puui,

anjos alados de fonnas alongadas, arabescos e couros) ani

mam a nave dos Dominicanos (1631, larga fachada com volutas) e

a igreja ro ·u or que, em 1662, Carlo Antonio

carlone

remata com

uma engenhosa fachada com terraços.

Em

Praga, uma igreja lute

cana, doravante atribuída aos Carmos, é provida de uma fachada

romana, inspirada da Trindade dos Montes; a igr

eja

San Salvador,

capela do colégio dos Jesuítas (que se

toma

a Universidade

Carlos-Fernando) é barroquizada pelo italiano Lurago, que

l h ~

con

fere, perto da ponte Carlos, uma

bo

nita fachada, precedida de

um

peristilo de três arcos, cujo terraço é ornado de balaústres e

estátuas.

It

alianos dirigem os estúdios. Embora formados

na

Itália, os

artistas da Boêmia, como o pintor Karel Skréta 1610-1674) ou

o escultor nendl (1625-1680

),

colocam seu talento a serviço da

tr

adição do país. Eles contribuem para renovar o cu

lto

de

São Venceslau.

Desse período

a data de 1650 pode ser considerada como

fecho, porque ela traduz, com a retirada das tropas suecas que su

cede

à

paz de Westfá lia, o retorno doravante incontestado

a

uma

ordem católica e senhorial, isto

é,

a condições ·gentis que vão sus

tentar, durante quase todo um século, uma grande experiência

barroca.

Esta se desenrolou simultaneamente na Áustria, na Boêmia c

na parte da

Hu

ngria que permaneceu "real", onde a obra do car

deal Pazmany, fundador da Universidade de Nagy Sombatb em 1635,

favorecera a Contra-Reforma sem fazê-la triunfar inteiramente. Não

se pode d i ~ que a influência alemã foi sustada: a ardente poesia

de Angelus Silesius encorajava poetas e escritores em sua compla

cência às imagens, numa grandiloqüência apaixonada.

e

o lirismo

88

A influência italiana regula o estilo de vida

e

as artes. Na corte

do imperador Leopoldo, para satisfazer ao gosto do jovem .sobe

rano c ao da imperatriz-mãe, uma Gonzaga Mântua, os carrosséis,

os balés de corte, as óperas, as recepçõeJ; ·principescas se inspiram

do que. se passa e " Veneza e nas capitais da península. A paixão

da mústca, que fot uma grande característica do barroco austríaco

é entreüda por essa predileção. O compositor máis apreciado

capital

é

um italiano, Cesti. Durante muito tempo os modelos são

requcstados

à

Itália

do

Norte e a Florença.

Em tomo

de 1670 o

arcebispo Jean-Frédéric de Wallenstein assegura o sucesso do gosto

romano, trJzendo a

Prag

a um arquiteto de origem francesa, porém

f ~ r r n d o Roma, J .B. Mathey.

De

ve-se-lhe a bela igreja de

Sao ~ r a n c s c o

para

os .Cavaleiros da Cruz: planta central, decoração

extenor

em

bastião, cúpula ovóide com nervuras, inconcebível sem

o e x e m ~ l o de Roma; o palácio arquiepiscopal, o palácio Buq uoy

(remaneJados) e o

pa

lácio toscano (cuja denominação nada tem

a ver

com o estilo: ele recorda que o palácio foi propriedade dos

· duques de Tosca

na).

Sua el.egância regular e os pavilhões em bel

vcdere correspondem ao ideal - de Roma. Os pa lácios de Viena ado

tara

e s s ~ ~ s t i l o

. mais ou

~ e n o s

nos mesmos anos: o graciosopalác1o Dietnchstem Lobkowtc-z, obra de Tencala,

um

pouco mais

tarde ( 1694) o palácio Liechtenstein de Domenico Martinclli

com

'

seu de monumentalidade, sua majestosa. ordenação e de

coraçao de estátuas. Desde então, na arquitetura civil, o impulso era

deílagrado c o gêne

ro

se desenvolveu até meados do século XVIII.

s cidades se transformaram. Uma delas principalmente Praga

t ~ v e z por c ~ s

de seu sítio, colinas da margem

e s q u e ~ d

m m a n ~ o o no (Hradcany e Malá

Strana),

tomou um caráter

excepciOnal com a acumulação dos palácios e jardins, surgindo

uns

após outros, como um cenário de sonho.

As

velhas ruas de Viena

renovaram

seu.

aspecto, doravante bordadas

de

fachad;ls suntuosas.

No campo, enfim, no centro desses domínios que eles regiam como

pequenos Estados, os senhores almejaram residências à altura de

s7u fausto. Castelos desenvolveram em tomo de um

lar

go pátio prin

Cipal a, ordenação de seus edifícios, com o corpo central coberto de

uma cupula de sarapanel ou movimentado por um ressalto alas

em

retomo.

Em

tudo, até nos pavilhões de caça, uma

e l e g â ~ c i

com

plexa e encantadora.

89

l •

 

'  I

i

I

O reatamento da guerra turca em 1682 (após 18 anos de paz),

o alerta do sítio de Viena, a capital salva pelo exército dos príncipes

cristãos - João lll da Polônia e o duque de Lorena à sua testa

- outras t n t ~ razões de prestígio para a Casa da Austria. A

·fOfiilOU. o intedor da igreja da Universidade em Viena com úma

cúpula simulada e os pórticos de mármore das capelas; decorou o .

palácio. de outono dos príncipes LiechtedStein em Rosau.

Sua:

arte

do

trompe-l oeil

e da ilusão· esteve na origem  de uma tradição de

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.

reconquista ulterior da Hungria estava .inscrita nesse primeiro su

cesso. Em 1686, ~ u d e foi restituída da servidão

à

liberdade. Em

todo o país um sentimento de triunfo, uma sensação ·geral ·de ·se

gurança coloriram doravante o clima espiritual. Razões que os con

temporâneos apenas suspeitavam contribuíram esse. êxito. Um

reerguiroento demográfico rápido, embora dificultado pelo abâlo das

epidemias de peste (1679, 1713), compensava as perdas da guerra

dos Trinta Anos. Sem que se aplicassem novas ·formas de trabalho,

a despeito das pavorosas misérias locais, o conjunto

da

economia

agrária se saneava. Abraham em Sancta Clara preconizava então,

como a mais conforme ao ideal cristão e

à

ordem .de Deus, uma

· c i e d a d ~ hierarquizada, na qual cada

um

praticaria, de preferência,

as

virtudes nos moldes de seus antepassados.

paternalismo imóvel

desse·mundo de base rural consagrava o poderio dos grandes .Pro

prietários, nobres e clero monástico. Ele 9onservava em sua clién:têla

uma burguesia c um campesinato, da qual os mais {avorecJdos

conheciam uma·mediocridade feliz. Tudo tornava favorável, não a

inquietude intelectual (nenhum nome para contrapor

 

aos de Spinoza

e Leibniz), para uma civilização essencialmente plástica, o sucesso

de um estilo decorativo que podia· conhecer seus êxitos nas

~ ; : o n s -

truções de palácios, abadias, igrejas votivas, ao ·mesmo tempo. pom

posas c familiares.

Foi, com efeito, durante uma quarentena de anos, uma época

de grandes arquitetos, escultores e. pintores. Os italianos m n t i n h ~

seu lugar (os arquitetos Aliprandi, Santini), mas :aumentava o

número de súditos do Imperador, formados nos. estúdios . da Itália.

Três• grandes nomes entre os arquitetos: Johan.o· Bernhard

Fischer von Erlacb ( 1656-1723), Joban Lukas .

wn

Hildebrandt

·:

(1668-1745), Jakub Prandtauer (1658-1726) . Entre os dois pri

pi.eiros ressurge, nos países austríacos, a competição que, meio século

mais cedo, existira em Roma entre ·Bernini ·e Borrolll,ioi. Fisch.er

von Erlach, que conhec:;era o estúdio de Carlo Fontana, ·possuía

mais . vigor, uma cultura · internacional mais extensa, porém

Hildcbrandt, admirador de Guarini e familiarizado com o barroco

romano, .tinha mais inventiva e graça em seu gênio sutil. No fim

do. século, Leopoldo. I éharnou para a sua capital o m ~ o r deco

rador. do tempo, o P. Pozzo, autor da esplêndida ·composição da.

abóbad11, de Santo Inácio c dos altares do Gesu. O P. Pozzo trans-

90

··.  . :

~ ; ~ i   ~ t ] · \ ~ ~

j

:  . ..

corativa, à qual se devem tantas composiÇões bonitas na abóbada.

das igrejas, no teto dos salões nobres . dos castelos e abadias. Os

estúdios de escultura se multiplicaram. f>queles da Boêmia foram

t i ~ u l a r m e n t e ativos. Escultores eslovacos,

os

Brokoff, um Tirolês,

Mathias Braun, forneceram à ponte Carlos em Praga os magníficos e

movimentados grupos em que reaparece o sopro da estatuária

de

Bernini.

Palou-se

.de

barroco imperial para esse período de intensa e

· soberba produção: Fischer von Erlach empreende a reconstrução da

Hofburg

a

  ala da Chancelaria, a admirável biblioteca; concluída

por

seu filho, e projetos que, malgrado a debilidade do plágio,

os . arquitetos do século XIX realizaram). Ele ·. imaginara para

Schonbrunn um palácio grandioso que ele restabeleceu no ·projeto

.do castelo atual. COmpôs o palácio de inverno do Príncipe Eugênio,

com· a soberba escada susteQtada .por atlantes. Na arquitetura re

ligiosa, quinze < nos após ter conferido a Salzburgo igrej

as

inspiradas

ent Borromini

Tri

ndade, Kollegiimkirche), inventou para Viena,

po r

encomenda do imperador Carlos VI, a Karlskirche, .onde as ·mais

diversas:reminiscências se fu.Iidem num .conjunto original, ao mesmo

tempo imponente e gracioso. A nave .p{incipal da igreja, aqui uma

·eclipse, abre-se sobre o verdadeiro santuário, t r n s ~ e r i d o para · uma

construção anexa, aqáloga à da Salute, e é nesta que ·OS pórticos

e x t ~ r i o r e s correspondendo

às

capelas laterais, fazem pensar. A fa

chada retoma num modo menor o peristilo e os arcos de São Pedro

de

Roina, .associando-lhe duas . colunas, ·réplicas da Antonina e

da Trajano: Um zimbótio ovóide recobre o m.onume)lta de uma

amplitude solene. ·

Não há menos inventiva e nem menos gqsto nas obras ·.civis ·

. de I;It

ld

ebr·andt o palácio Daun Kinsky), ·na Peterskirche (V

ie

na),

no palácio de outono que ele ergueu

para

o príncipe -Eugênio: o ·

admirável Belvedere, composição de pavilhões e de

loggie

de sutil

elegância. ·

Em Melk, sobre um espigão dominando o Danúbio, Prandtauer

ergue um mos.teiro, .talvez o mais belo da Austria. Os terraços, os

pavilhões que ·assistem a igreja, e a própria igreja, ppr suas duas

torres em bulbos e seu vasto zimbório, produzem um. efeito gran

dioso, porém de uma graça perfeita.

Em

Praga, rica ·em igrejas

9i .

barrocas, os arquitetos Dientzenhoffer pl

li

(Christoph} e filho

(IGlian Ignác) colocaram, no flanco da colina, a igreja são Nicolau

de Malá Strana, imponente e leve, com sua fachada encurvada ,e

a nobre hannoniu do alto tambor sustentando 'o zimbório, e do

século XVIII ) e de vozes humanas, para revelar dessas igrejas o

verdadeiro caráter, para reanimar a intenção de .harmonia entre

várias expressões da

arte e descobrir em sua complexidade essa ci

vilização plástica. Tem-se insistido bastante, e do Ocidente com

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campanário (de 1703 a 1752). Sempre um senso notável da

perspectiva, uma composição

q_ue

conjuga a paisagem, agreste ou

urbana,

ao

efeito do monumento (Fischer von Er ach cogitava abrir

praças diante do palácio de inverno em Viena e do palácio Clam

Gallas em Praga, e em ambos os casos, sua obra

é,

portanto,

inacabada). ·

Falou-se

de um

retorno à inspiração

de

Borromini A ligaçãocom o barroco italiano, .tanto de Bemini, Borroplini e Guarini, é

evidente. Mas a interpretação

é

nova. A originalidade do conjunto

cria

um

barroco diferente daquele de Roma e da Espanha. A

i n s i ~ -

tência com que os arquitetos conferem um lugar às torres restá

bele<;e nas fachadas a verticalidade e o ímpeto do gótico. As flechas

terminam por CQmposições

de

bulb<?s .e lanternas. A associação das

torres c do zimbório se presta a infinitas variações: ora as torres

são colocadas a distância do zimbório, como Santa Inês da praça

Navona o ilustra, ora se comprimem contfa ele, num amplo motivo

de verticais e es(eras, como

na

Peterskirche de Viena (Hildebrandt,

1702-1708), interpretação nova do

es

paço, freqüentemente adotada

depois

na

Boêmia,

na

Morávia, na Polônia. Sobretudo, que{ seja

no exterior ou no interior

da

igreja, a escolha se decide pelos efeitos

.de

contraste, pelas massas em movimento pelo jogo e o contrajogo

d

os

.átrios em

ên

ta

se

(Kollegienkirche, de Fischer V

OJJ

Erlach, em

Salzburgo, 1696) ou em forma

de

polígonos, pel

os

espaços côncavos

é·

convexos, pelas tor

re

s e pilares colocados em diagonal, pelas ca

pelas em forma de conchas, pelas cornijas sinuosas que criam a

ilusão de movimento de toda a nave. São assim levados a extremas

o n s q ü em. monumentos de

va

stas ·dimensões,

os

efeitos en

·genh.osos que os barrocos italianos empregavam para ( bras de di

mensões ~ a i s reduzidas. Uma flexibilidade e uma mobilidade nunca

.atingidas ainda, um virtuosismo que joga com as massas e os vo

lumes: A coluna reta ou torsa, a pilastra, a atlante, ·os ni

ch

os, as

estátuas em alto relévo e os bustos sobre mísulas, tudo parece

arrastado numa dança alegre. Djr-se-ia que a arquitetura tomou-se

música: o que perinanece estável assume a ·fluidez do circundante.

Outrossim, a importância assumida·pela música nessa civilização não

pode ser esquecida, até para interpretar a

arte

arquitetônica e a de

coração: a preciso um concerto· espiritual, o canto dos órgãos (as

caixas de ó ~ g ã o dlío lugar a soberbas composições no decorcer do

9

injustas críticas,

so

bre o aspect6

de

sala de ópera, sobre a tendência

profana dessas aparências cintilantes. Elas abrangem uma realidade,

testemunham uma s e n s i b l i d ~ d e peculiar, e é melhor recusar com

preendê-las do que negar a sua espiritualidade.

D

uas

observações importantes: a civilização barroca estendeu-se

a todos

os

países da Casa da Áustria (com um certo retardo para

a Hungria, que apresenta em maior número obras da metade do

século

XVlli

),

assegurando-lhes uma unidade relativa do cspúito e

do gosto, sem no entanto despertar um sentimento comum nas di

versas nações, pois outras forças já se lhe contrapunham.· Existe

uma outra experiência barroca no espaço g<(ográfico entre os Alpes e

o Danúbio e, franqueando o rio, até o vale do Main.

Encarada sob o aspecto sociológico, ela está em relação com

o sistema senhorial e os lucros da propriedade fundiária; aqui rendas

e foros antes que o benefício do tr_abalho penoso. Os abades dos

grandes monastérios, beneditinos, bemardos, cistcfcienses dispu

seram então dos meios para .reconslruir conventos e igrejas. A .po

pulação rural restabelecera os locais de peregrinaçã.o. Ê preciso .levar

conta, enfim, o resplendor da corte de Bavieta, quando a di·

nastia foi reimplantada em Munique após

-1715,

a in

fl

uência de

.

Augsbvrgo, cidade de opulentos burgueses, de Salzburgo (episcopado

e Universidade) e o gosto. do fausto entre alguns bisp

os

(o's

SchOnbom em Würzburgo). · .

Para a orientação do estilo outr

os

fatores intervieram. O ptes

-

t{gio dos grandes modelos da Itália não enfraqueceu, nem a rep utação

do que a França realizara. O

mais

importante, porém, foi que

em torno do lago de Constança, pequeno Mediterrâneo alpino,

reuniam-se < S e ~ t u c a d o r e s vindos da Itália através dos vales, e os

pedreiros do Vorarlberg, qlle empregavam para suas igrejas um modo

'peculiar

de

pilares-mucos, isto

é,

de contrafortes interiores sustc·n-

tando a nave. Outros artesãos-artistas, os de Wessobrunn, erar;n

reputados pela delicada fatura de seus estuques pintados, de sua

estatuária elegante e ·movimentada e tomaram o lugar dos italianos:

Enfim, os livreiros-editores

e

Augsburgo difundiam gravuras

representando palácios reais ou imaginários, de desenho complicado

e tendência suntuosa; a imaginação dos arquitetos e decoradores

93

delas · se inspirou e sua influencia repercutiu além do mundo

germânico (ver

p. 83 .

Desse modo,

as

construções de igrejas se multiplicar

am

, nessas

pacificas regiões,- de 1700 a 1760 aproximadamente. O barroco tra

igreja de Vicr7.ehnhciligen (Baviera), a mais característica do rococó .

em que .. le

ju

stapôs um exterior basilical aos muros retos,

uma

fa

chada com duas torres, tão delgada como na arte gótica c, no inte

rior, uma combinação de elipses que produzem o efeito de

um pl

ano

centrado, em tomo do altar miraculoso. A Residência

de

Würzburgo

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: dicional forneceu a tônica para as naves

de

Obermarchtal, sobre

i

o Danúbio,

e de

)Veingarten,

na

Suãbia, mas as

dua

s torres da pri-

• ~ e i r

e o átrio em Sntase da segunda, também entre .duas torres,

.

atestam seu parentesco com a igreja de Einssiedeln

na

Suíça e

a intervenção dos mesmos mestres: Thumb e Moosburger.

Nas igrejas de Johann Michael Fischer (1691-1766  , a de

coração se alia estreitamente

à

arquitetura

para

captar o espaço en

tr

e

zonas

de

cintilante brancura ou

de

cores suaves,

para

emprestar a

um ediffcio, mesmo poderoso, uma aparência

de

leveza yçgetal. .A

obr

a-prima é a abadia de Ottobeureo, construída e decorada entre

1748 e 1766. Estabilidade e movimento, profusão e vacuidade nela

se conciliam numa perfeita harmonia. ·

ll preciso ainda falar de barroco,

por

causa da monumenta

lidade, ou de

r ~ o c ó

para a pesquisa de graciosidade? O perigo

das categorias e das perioclizações

é

particularmente sensível nesse

caso.

Ma

s para definir uma arte renovada, que deriva do. barroco

sem

ser

dele o sobrdaoço ou a alteração, um estilo a.daptado a um

período e a uma sociedade bem definidos, o termo rococ6, assumindo

uma acepção independente, parece de

j

use emprego. ·

Aplica-se-lhe sem hesitar, às igrejas de peregrinação: Steinhau

sen e a Wies (Baviera) ; edificaqas entre 1735 e 1745 pelos irmãos

Zimmcrmann, um, arquiteto, e outro, pintor, e que provam que o

rococ6 pode, tanto quanto outro estilo, traduzir uma emoção reli

giosa. Nada de profano nem ele mundano nesses santuários que não

pretendem perturbar por seu mistério , mas onde a simplicidade gra

ciosa .

da

planta, o jogo, .delicado das col

unaS

o cinzelado das .de

corações inspiram uma paz alegre e confiante. hnpressões anãlogas

se

reen

contram à margem do lago de Constança, na branca igreja

de Birnau, obra de Pierre Thum b, em que a célebre figura de an

jo

de

F euchtmayr, o lambe-mel,

simboliu

a doçura

da

palavra divina.

Há mais efeito nas igrejas dos irmãos Asam: sua capela

votiva de Munique, o grupo

da

Assunção no coro da abadia

de

·

Rohr

ou aquele ·de São .Jorge sobre o altar

-m

or da

· rotunda.

de

·

·weltenburg. · .

Enfun, Bal thazar Neumann (1687-1753}, engenheiro antes

de

se

tomar

arquiteto, mostrou tanta ciência quanto vinuosismo ·na

94-

é

um

dos mais suntuosos palácios do século xvm

.

que mescla

reminiscSncias da arte francesa às rotundas e

às

cúpulas

da

Viena

imperial, sem comprometer-lhe a originalidade

B TicRolo vem trazer à decoração da escada os recursos da

arte luminosa e soberba que renovava então a reputação dos estú

di

os

venezianos. Seria, porém, mais prudente retomar à parte 

o

estudo

do roeocó. \

95

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CONCLUSÃO  

Os limites desta obra não ensejam empreender a análise do

barroco nos países· setentrionais: o assunto mereceria, no entanto,

um longo estudo, nem que fosse para averiguar a opinião geral·

mente aceita, segundo

r

qual a Europa do Norte contrapôs uina

resistência · ao barroco: Este,

por

certo, não conheceu nela o fio··

rescimento comparável ao dos países latinos e mediterrâneos. Aos

Países Baixos espanhóis está, contudo, associada a lembmnça do

maior pintor barroco, Rubens, e a cidade de Ant uérpia, de sua

residência e

de

sua família, contém igrejas e palácios entre os mais

..

represeniativos do .barroco no sécu

lo

XVII. Sem dúvida, coloca-se

à .parte essa Bélgica , em razão de

sua

liga

çã

o à

romana e laços

que ela conservou, do sécplo XVI ao XVI

I :,

com

os

países católicos:

zelo das proporções e da regularidade: a casa da tainba em

Grccnwich, a Quecn's Chapel em Londres. Todavia, e apesar da

persistência das

·tradições góticas e do estilo Tudor; da incompa

tibilidade

do

espírito puritano com uma ·arte suntuosa e sensível, a

Corte e a aristocracia no tempo dos primeiros Stual't conc.ediamseu

Os historiadores e críticos da Europa oriental preocupam-se

atualmente com o barroco eslavo. Existe um setor do barroco

peculiar ao mundo eslavo, uma inspiração eslava·

do

·barroco? Na

realidade, a contribu ição dos eslavos à civilização barroca é muito .

importante. As cóndições sociais, econômicas .e religiosas mais favo

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i

li

r

I

.

favor à Itália barroca. Dela reuniam as obras para suas coleções

- junto das quais se formou Van Dyck

-

requisitavam-lhe

os

artistas, dirigiam encomendas a Rubens (teto da Banqueting House)

e a Bernini. Acima da Revolução, o retorno da monarquia e a

ne-

cessidade de reconstruir Londres e a catedral de São Paulo após o

incêndio de I666, foram circunstâncias favoráveis a um novo im

pulso do barroco.

Disc.

ípulo

de

Jnigo Jones, cujo exemplo nunca

foi renegado, conhecedor das obras

dO

continente, pessoalmente do

tado de grande inventiva, mantido em vigília pela multiplicidade das

encomendas, o arquiteto Wren

1632-1723)

c.onstruiu numerosas

igrejas da Cidade, consoante a um maneirismo elegante· e eclético,

em que fulgurou uma fantasia barroca. Principalmente a catedral

çle

S ~ o Paulo, erigida de 1 >7 a 1713 e cujo plano original foi várias

vezes remanejado, pertence

ao

barroco por sua interpretação do

.espaço, no interior e no exteriqr, pela hábil composição das naves,

a magnificência do zimb6rio c a combinação de seu efeito com

aquele das torres. Durante o período de sucesso e de poderio que

a Inglaterra conheceu no início do século XVID, os discípulos de

Wren, · Vanbrugh em Greenwich e em

Bl

cnheim, Hawksmoor nasígrejas de Londres e em Seaton Delaval, Gibbs enfim, .adotaram

um estilo .de ostentação e de contrastes, que dispõe dos elementos

clássicos com uma cngenhosidade comparável à dos barrocos ro

manos. Gibbs,

que

trabalham juqio a Carlo Fontana, retoma, numa

resolução de arcaísmo, o estilo .de Pietro da Cortona para Saint

Mary Strand. Thornhill, que dec.orou Greenwich, era um ·autêntico

barroco. Entretanto, pode-se dizer que essa participação da Inglaterra

do .bar:roc.o, embora traduzida por vãrias obras-primas, permanece

episódica e limitada. O classicismo. palladiano logo reencontra .sua·

autoridade. Os doutrinários ( Campbell) consideravam-no como o

estilo mais conveniente ao espírito britânico. · ·

Afinal, nas monarquias do Norte (Dinamarca; Suêcia) o inte

resse dos arquitetos (Tessin em Estocolmo) · não .se voltou menos

para

.

o .gosto de Roma do que . para o exemplo francês. Trata-se,

porém, de um estilo de c.orte, em suma internacional, mais

çlo

que

de uma. expressão profunda das tendGncias peculiares à socíedade

desses países. ·

98

- j

r á ~ e i s ao p r o g r ~ s o do barroco se enc.ontram. na maior parte desses

P.a1ses. Viu-se, porém, que o barroco da Boêmia; do qual parti

Cipou

amplamente o elemento

chec.o,

portanto eslavo, se conjuga a

uma ordem geral dos pa.ses danubianos. O mesmo acontece com

a Polônia. Este país em que ·c,lominàva uma aristocracia civil e reli

giosa, propnctãria de grandes domínios, onde a Contra-Reforma

exercera uma ação

pr

ofunda

a

Espanha

do

Norte), adotou, parasua arquitetura religiosa, .os ·modelos da Itália maneirista e barroca.

O

~ s t i l o

de suas igrejas (torres e campanários em bulbo) é amiúde

VIZinho daquele dos países da Áustria. Mas a tradição autóctone .era

consciente e forte. Os poloneses se orgulhavam de ser

Sármatas

(sem

qualqurr conotação pejorativa.). Eles imprimiam uma marca nacional

.nas obras de arte plástica e em sua litératura (Sarbiewski).

As

guerras do século XVII entre poloneses e russos não im

P<:diram absolutamente à civilização polonesa de exercer influência

s o ~ r e a Rússia. Sem dúvida, a Polônia serviu de intermediária para

a mtrodução

na

Rússia,

do

estilo arquitetônic.o e· decorativ.o da

Eu;o.I:a

ocider.Jtal.

Pois há muito de barroco naquele país: · Uma

.opm1ao autonzada associa-lhe o desenvolvimento aos empreendi

m e n ~ o s

de .Pe?ro o Grande,

à

arte monãr.quica e internacional

que

. arquitetos 1tahanos c.omo Rastrelli empregaram a serviço do Czar

ná construção de São Petersburgo. Importa, porém, dizer que antes

Pedro o Grande, no decurso da difícil reedificação que .sucedeu

ao Tempo das Agitações, uma época se destaca em que se expandiu

barroco russo bem mais saboroso e . odginal. A despeito da

d1ferença de religião que interdita praticamente

à

Igreja ortodoxa a

escultura em alto-relevo donde .a exclusão da estatuária), numero

sos elementos da arquitetura e da decoração barrocas se implanta

na arte ~ e l i g i o s a .Rússia.

As

iconostases assumiram a apa

.ccnc1a de r ~ t a ~ m l o s Port1cos c.om frontões interrompidos, volut ls,

fachadas

à

1tahana sob as tradic.ionais cúpulas em bulbos (São Ni

c o ~ a u ~ a u r i J a t u r g o e ~

Moscou,a Dormição em Riazan) ou as pró

pnas cupulas subst1tumdo os tetos em forma

de

dosséis (monastério

da Ressurreição em Istra, .Perto de Moscou), conferiram às igrejas

· russas surpreendentes afinidades com as igrejas latinas. .

No domínio · dos boiardos Narychkin, na rei;ão .de Moscou,

uma

in:venção

barro ca, muito próxima do Ocidente e certamente sob

. 99

sua influência, logrou, pelo efeito ascensional de um q u d r i l ~ b d o

de pavilhões octogonais, pelo jogo de oposição cn re os muros de

tijolo e molduras recortadas de pedra branca, a admii-ável igreja de

Fui (1693) . A essa arte, em que o espírito russo adapta a seus fins

os exemplos da Itália e da Polônia, convém a justa denominação de

solução que não se 'apoiasse na necessária demonstração seria pre

·matura.

De maneira geral, o rococó é graça, enquanto o barroco é

eloqüência. Roma pouco conheceu o rococ6. Seria imprudente

v n ~

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barroco Narychkin. Falou-se ainda de barroco Mazepa para admi·

ráveis composições das igrejas da Ucrânia, no início do século XVII I.

A suntuosidade, a fantasia se dão livre curso sobre os temas decora

tivos do mundo atino. Elas correspondem assim ao gosto de íausto

e de maravilhoso que a religião ortodoxa,· ritual e sensível, .não

cultiva menos que sua rival (

U

sua irmã .apartada?), a Igreja· ro ·

mana. Barroco eslavo? A expressão, por demais genérica , corre o

risco de ser inexata. Porém, barroc.o das experiências ·eslavas, não

se pode duvidar.

• •

Uma conclusão para um estudo sobre o barroco deve ser uma

interrogação sobre as circunstâncias e a dat.a de sua desaparição.

Se o barroco era a expressão uma éj?oca preocupada com

valores religiosos, com um

dcte Tl}inado

modo da sensibilidade reli

giosa, em que a sociedade de numerosos países oferecia uma estru·

tnra

hie

rarqu izada,. de base rural, cercava de · glória a instituição

monárquica, cabe conjeturar que ele. perdia sentido e eficácia à me

dida que se elevava uma classe burguesa

de

espírito racionalista; e

que uma filosofia geral de caráter menos imaginativo, mais experi·

mental, impunha-se

~ o r a v a n t e

Essa evolução é dificilmente contestável. A u kliirung, na u·

ropa central , comporta uma ofensiva resoluta contra o espírito e o

gosto barrocos, e já se viu que estes jamais puderam expandir-se

completamente num clima mais racional. Mas, em compensação, a

força da civilização barroca e os hábitos espirituais que ela mitigara

constituíram obstáculo aos novos valores e retardaram-lhes o suces

so. Aqui, pois, tudo é questão de datas, segundo os países.

1

Restam outras questões: o barroco foi detido por uma ofensiva

classicizante (Inglaterra, Itália)? Di.ssolveu-se num estilo apárentado

a ele, o rococó?

Ou

então, como entre o Renascimento e o fbarroco

admite-se a existência de um maneirismo, ao mesmo tempb forma

de

estilo e etapa da civilização, compete 'recpnhccer, entre o barroco

e o neoclassicismo, u.m período intermediário, o rococó, revestido

de uma autonomia? São problemas em vias de estudos. Qualquer·

1

culá-lo exclusivamente a Borromini, porquanto ele

é

bem mais com

plexo: conslatou-se, verossimilmente, revelar-se nele a influência dos

ornamentistas franceses (Bérain) e

do

estilo embrechado. Foi ainda,

principalmente na Europa. central, um maneirismo do barroco,

um

.jeito de exceder a seus procedimentos e, exacerbando-os, debilitar-lhe

o alcance;

po

r ve7.-es , também, um barroco transposto para um modo

menor, com mais ingenuidade e doçura.

Prosseguindo a investigação, seríamos sem dúvida levados a

distinguir vários aspectos do rococó, assim

< <>mo

este estudo," apli

cando-se em definir, na civilização européia, entre os séculos

XVI

e

XVli, O mUJldO Original do barroco, procurou identificar-lhe OS

BS ) :Clos que ele pôde assumir, conforme as tradições e as experiên

cias peculiares :)OS palses que .o acolhiam. ·

r

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E ~ t l l

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de

um Con

gresso

em Vcocz.a em

1954

6

reputada com

a

melhor atualizâção

da

matéria.

Não

se deve, pOrém, coosiderá

 13:

dcfiilitiva.

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· · ,

A FICÇÃO E

AS IIVIAGENS

DA VIDA,

WilliamJ1. Ga.ss

Ao

longo dos capítulos

deste

livro . numa

'lii1guagem ágil c muito pessoal,

Gass

discute .

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Paris, Arthaud,

1973

· 

i

\

n ~ o só problemas gerais da arte da ficção,

tats como suas. formas, seus instrumentos, sua

re

lação com a vida real, o conceito de perso

n a g e o binômio artista-sociedade, como

tamb

ém analisa aspectos

de

romances e

contos

· de Gertrude Stein, Donald llanhehne, Vladi

mir

Nabokov, Jorge Luis Borges, 1. B.

Si

nger,

Henry

)ames,

lohn

Updike,

D. H.

Lawre

nce

c outros. PAra Gass, o não existem descrições

em ficção, há

apenas construções"

e ele cuida

de provar sua afirmativa recorrendo a exem·

pios

de obras

de ficção a nalisados coru

finura

e pertinência.

ARTAUD,

de

Martin

Esslin

Conforme mostra Mo.rlin Ess lin.

neste

volume

da série .. Mes tre s da Mo

de

rnidade , e impor

tância de Artaud não está simplesmente em

ter sido

um

inspirado inovador do teatro ou

um pesquisador

de

estilos alternatiVos

de

vidn.

Artaud

foi, sob

re

tudo, o criador de uma ima

gem viva

um homem

que enc rnou em

su

própria vida o personalidade, as contradições

e

discórdias do século

XX.

Buscando explicar

lhe a difusa influência - entre atores, dire·

tores de t c ~ t t r o , c e o ó g r ~ f o s psicólogos radicnis,

líderes da contracuhura, r

evo

lucioní1rios

p o l í ~

Lcos - . Mart in Esslin, estuda aqui a estranha

vida de Artoud e as origens biográficas

de

suas idéias centrais, assim como su  s con

cepções llce

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-