o olho e a névoa: considerações sobre a teoria do teatro

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  • 7/26/2019 O olho e a nvoa: consideraes sobre a teoria do teatro

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    o Olho e a Nvoa

    Consideraes

    obre a teoria do teatro

    Angela Materno

    Isso, primeira vista, parece claro. Mas, me- A teoria como inquietao do olhar

    dida em que os olhos se detm, vai ficando obscu-

    ro. Na verdade, uanto mais osolhossedetm, e no h como negar que "todo olho traz

    maisobscuroica. At que osolhosseecham e, consigo sua nvo' (Didi- Huberman, 1998:

    livre da observao tenta, a mente indaga. 77), tornando assim o ato de ver uma luta-

    Que significa isso?Que, afinal, significa isso, com o que parcialmente vemos, com o que

    queparecia claro primeira vista?At que a no vemos ainda, ou jamais, e com o que

    mente tambm dd a impressode se echar. nos olha no que vemos - e se tambm no

    Comoseecharia a anela de um quarto escuro possvel ignorar o j to citado verbo grego the-

    e vazio.A nica anela que ddpara a escurido orein (ver), raiz comum das palavras teatro e teo-

    exterio1:Depois, nada mais. No. Infelizmen- ria, associadas,ento, por modalidades do vis-

    te, no.Restam inda os nuesampejos e uz, vel, talvez se possa pensar inicialmente a no

    e a agitao. busca ega ndefinida da men- de teoria do teatro como esse ugar ou momen-

    te. Incessante. to agonstico em que as vises o espetculo, do

    Samuel Beckett - Companhia texto dramatrgico ou das concepes teatrais

    so expostas s suas prprias nvoas - aos seus

    pressupostos, limites e expectativas. E confron-

    Temos ue nos exercitarpara um ato visual tadas no apenas com outras perspectivas (e

    complexo. embaamentos), mas tambm com a luta pela

    Bertolt Brecht

    - "Notas sobre a 6pera de trs formulao e construo do que visto, con-

    vintns" fronto este que desnaturaliza o olhar e desfaz a

    evidncia do objeto.

    Angela Materno professorado Departamento de Teoria do Teatro, da Escola de Teatro da UNI-Rio.

    1 Refiro-me aqui idia central do livro O que vemos,o que nosolha, de GeorgesDidi-Huberman, ou

    seja,a de que todo ver marcado por uma ciso entre o que vemos e o que a nos olha, sendo que isto

    que nos olha

    -

    "e que retoma constantemente no que acreditamos apenas ver" - conceme ao trabalho

    da perda, ao jogo do esvaziamento.Na primeira frase do primeiro captulo, diz Huberman: " O que

    vemos s vale

    -

    s vive

    -

    em nossos olhos pelo que nos olh' (p. 29). E nmais adiante: " [...] cada coisa

    a ver, por mais exposta,por mais neutra de aparnciaque seja orna-se nelutdvel quando uma perda a

    suporta - ainda que pelo vis de uma simples associao e idias, mas constrangedora,ou de um jogo

    de linguagem

    -,

    e desse ponto nos olha, nos conceme, nos persegue." (p. 33).

    .

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    sala preta

    ':~~i~~~;('~ ";'i ".;,;::'f~: :5:~ ~

    Neste sentido, talvez se possa entender a que este ltimo "recebe" o sentido do texto ao

    teorizao como o gesto de tensionar os pontos constitu-lo (Iser, 1996; 51), pois o que emerge

    de vista, assim como as categorias e critrios que da experincia ficcional e literria, e dos atos de

    os constituem, no para conduzir tal conflito a apreenso do texto, "o no-idntico ao de an-

    um bom termo, ou a uma sntese apaziguadora, temo existente no mundo" (Iser, 1996: 53),

    mas para repor em jogo constantemente, e cri- o que resulta da assimetria e hiatos existentes

    ticamente, os prprios termos e as idias em entre o leitor e a obra, e dos vazios e indetermi-

    questo. Teorizar seria, ento, dinamizar as naes a ela inerentes. Tarefa da teoria , ento,

    contradies, no para resolv-Ias, mas para dar a meu ver, construir uma atuao reflexiva que,

    a ver as "cises em obr'2 (expresso de Didi- sempre atenta relao do pensamento consigo

    Huberman, novamente; CL 1998: 75). mesmo, procure articular a formulao de con-

    Sejam feitas, entretanto, duas ressalvas. ceitos e perspectivas de abordagem com a per-

    Em primeiro lugar, dar a ver no significa, aqui, manente sinalizao crtica do momento e do

    evidenciar o que j estaria previamente - e su- lugar a partir dos quais o que se v visado. la-

    postamente - dado (na obra ou no objeto em refa que inclui construo e problematizao

    foco), mas sim constituir, a partir dos embates incessantes destes dois horizontes: o que se es-

    e da dialtica visual que vigoram em todo pro- tende diante de nossos olhos e o que forja o

    cesso perceptivo, tanto o olhar quanto aquilo nosso olhar.

    que olhado. Dar a ver produzir disjunes e Em segundo lugar - esta a segunda das

    espaamentos na aparente inteireza e orga- duas ressalvas mencionadas anteriormente - a

    nicidade do objeto, abrir lacunas em sua espes- dinamizao das contradies a que me refiro

    sura, estabelecer suas diferenas e antinomias como outro dos gestos ericos implica tambm

    internas, flagrar o espedaamento e obscureci- uma espcie de dinamizao s avessas, ue, por

    mento do visvel implicados em tudo o que se um lado, partilha com Baudelaire a concepo

    mostra. Dar a ver abismar. de que o movimento no se d apenas no des-

    Como destaca Wolfgang Iser, "No h locamento - "Odeio o movimento que desloca

    percepo imediata, como tampouco conheci- as linhas", diz o poeta - (Baudelaire, 1972: 32;

    mento imediato. Ao contrrio, sempre preci- poema "La Beaut"), e por outro, entende,

    so captar um trao do no-dado no dado para como Walter Benjamin, que "pensar no inclui

    que este - qualquer que seja o ponto de vista

    -

    apenas o movimento das idias, mas tambm

    possa ser apreendido" (Iser, 1996: 119). Ao pos- sua imobilizao" (Benjamin, 1987: 231). As- ,

    tular sua teoria do efeito esttico, centrada no sim sendo, dinamizar as contradies no sig-

    estudo da obra literria e dos modos de nifica apenasou necessariamentearticul-Ias por

    interao entre o texto e o leitor, Iser observa meio de relaes emporalmente extensivas, mas

    2 Tendo como um dos ncleos centrais de sua reflexo a anlisede obras minimalistas, como os cubos

    negrosde Tony Smith, por exemplo, GeorgesDidi-Huberman, em O que vemos, que nosolha, recusa-

    sea pensara imagem a partir do dilema entre tautologiae crena termos do autor) - que seriam modos

    de tentar evitar a inelutvel ciso do ver, refugiando-seaqum ou alm desta ciso, e afirmando, por-

    tanto, no primeiro caso, que o que se v s6 o que se v, ou buscando, no segundo caso, superar

    imaginariamente o que visto pela afirmao da existnciade algo para alm das evidncias.Conside-

    rando que os pensamentosbinrios, ou os pensamentos o dilema, so ncapazes e dar conta da ciso

    do ver, Didi-Huberman prope a dialetizaodo que vemos e do que nos olha a partir de seuponto de

    inquietude, de suspenso.

    .

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    tambm acion-Ias, e portanto constitu-Ias (dar que escapa dos esquemas duais que balizam a

    a ver), a partir do enfoque das diferentes tem- percepo e o conhecimento com alternativas

    poralidades que muitas vezes disputam, interna excludentes e redutoras.

    e intensivamente, uma mesma obra, ou um E se o pensamento terico, tal como o

    mesmo perodo histrico, ou um mesmo pen- compreendo, lida justamente com os lampejos

    samento. Dinamizar as contradies significa, e as nvoas que possibilitam e dificultam todo

    neste caso, nterromper o fluxo do prprio pen- exerccio do ver, o trabalho terico sempre,

    samento, para surpreender, imobilizando, uma ento, tateante - no apenas por no se pautar

    "configurao saturada de tenses".3 (Benja- pela clareza definidora, mas tambm porque

    min, 1987: 231). sabe que precisa constituir, a cada momento, as

    Se recorro mais de uma vez interlocuo condies de possibilidade do prprio pensa-

    com Georges Didi-Huberman porque consi- mento. tateante como o era, na descrio de

    dero que ao desenvolver, em O que vemos,o que Trotsky (citada por Benjamin em um de seus

    nosolha, uma teoria da imagem, o autor elabo- fragmentos) o trabalho de seu pai na seara: "

    ra, tambm e simultaneamente, uma reflexo Olho-o comovido. Meu pai faz movimentos

    sobre a prxis terica, fazendo com que sua con- simples e completamente usuais, no se pode-

    cepo de imagem retome em uma concei- ria pensar que estivesse rabalhando; seus pas-

    tuao da prpria teoria e de seusmodos de pro- sos so guais, so passos ateantes como se pro-

    duzir imagens do pensamento. Ao afirmar que curasse o lugar onde enfim pudesse comear

    a imagem s pode ser pensada ("s h imagem corretamente. " (Benjamin, s/d: 272). O labor

    a pensar radicalmente", repete-se em vrios mo- do conceito - tarefa da teoria - pressupe esta

    mentos do livro) para alm das oposies ca- contnua e cuidadosa procura pelo lugar de

    nnicas entre o visvel e o invisvel, entre o pr- onde olhar, de onde indagar, de onde comear.

    ximo e o distante (oposio pertinente noo Pressupe, portanto, constantes recomeos: ne-

    extensiva de espao), entre o visvel e o legvel, cessrios para que o pensamento no se dete-

    e para alm do princpio usual de historicida- nha no j pensado, no j realizado.

    de, Didi-Huberman reivindica para o prprio Mas se o pensar terico, no esforo de

    pensamento da imagem - ou seja, para sua visualizao de seus objetos (sejam eles o teatro,

    teorizao - uma espacial dade e uma tempora- a literatura, o conceito de imagem etc), cami-

    lidade tambm ambguas e no fixveis em no- nha de modo tateante entre interrupes e

    es ou dicotomias habituais e simplificadoras. recomeos porque ao mesmo tempo em que

    Alm disto, atribui teoria - e ao pensamento no deve se deter no j alcanado (no j estabe-

    que ela projeta - uma dimenso, por assim di- lecido), mas sim refundar sua perspectiva a cada

    zer, quase cnica, j que seus procedimentos re- confronto com novas paisagens e outros olha-

    flexivos demandam, segundo o autor, uma de- res, ele tambm precisa deter o movimento das

    terminada disposio espao-temporal: aquela coisas e das idias para que elas possam se tor-

    3 desta mobilizao do pensamento em uma configurao marcada por tensese ambigidades que

    surge, segundo Benjamin, a imagem dialtica (em que a imagem a prpria dialtica em estado de

    suspenso),uma das principais categorias ericas de seusmtodos crtico e filosfico, analisadospor

    Susan Buck-Morss, em seu estudo sobre o Projeto das Passagens,omo uma dialtica do olhar (Buck-

    Morss, Susan. Dialtica do olhar. Walter Benjamin e o Projeto das Passagens.raduo de Ana Luiza

    Andrade; reviso cnica de David Lopes de Silva. Belo Horizonte, Editora UFMG; Chapec, Editora

    Universitria Argos, 2002)

    .

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    sala preta ~~""

    nar visveis.Em um dos trechos do fragmento histria universal,Benjamin a acusa,ustamen-

    "Vestirio de mscaras",Walter Benjamin alu- te, de no ter "qualquer armao erica" e pro-

    de imbricada relaoentre imobilizao, visi- . cederde forma meramenteaditiva. Derivada do

    bilidade e teatro. Diz ele: " Semprede novo, em historicismo e da concepo inear de tempo

    Shakespeare,m Caldern, combatentespreen- que he subjacente, histria universal,segun-

    chem o ltimo ato e reis, prncipes, pagense do Benjamin, "utiliza a massados fatos para

    squitos entram em cena fugindo'. O instante com elespreenchero tempo homogneoe va-

    em que se tornam visveis aos espectadores s zio" (Benjamin, 1987: 231).

    faz deter-se.A fuga daspersonagens ramticas, Configura-se,assim,na obra benjaminia-

    a cenad voz de alto. " (Benjamin, s/d: 65). na, uma indissocivel elaoentre eoria, crtica

    Ao movimento contnuo e fugidio das e histria que me parece elevanteapontar, pois

    personagens, cena - como numa brincadeira emborasejapossvel iferenciar,em pane, a pr-

    de criana - diz '~to ". E, ento, o congela,o tica terica das prticas crtica e historiogrfica

    imobiliza. E por meio desta interrupo, propriamente ditas, a teoria impensvelsem

    quando o olhar dos espectadores s detm, que uma dimensohistrico-crtica. Dimenso his-

    aspersonagensornam-sevisveis.Apropriando- trica que seconstitui na medida em que a his-

    me desta imagem, arrisco dizer que a teoria toricidade entendida como uma dupla marca,

    (cujas afinidades etimolgicas com o teatro j ou seja, ndica tanto o momento em que algo

    foram mencionadas) encena torna visvel a aconteceu quanto o momento em que este

    panir de determinado enquadramentoespao- acontecimento torna-se visvel, legvel, (re)co-

    temporal- uma luta. No a que os "combaten- nhecvel e, ento, histrico. Como observa

    tes" ravavamantesde entrarem no palco, no a Walter Benjamin em O livro das Passagens,~

    luta dos reis e dos prncipes. Mas outra: a luta marca histrica das magensno indica apenas

    do olho com o que foge ao seualcanceem tudo que elaspenencem a uma poca determinada,

    o que ele v; a luta do pensamentopara dar for- ela indica sobretudo que elas s chegam

    ma e consistncia o que "semprede novo" atra- legibilidade em uma pocadeterminada (. . . )

    .J

    vessar, m fuga, o seu campo de viso. O pen- cada Agora o Agora de uma recognoscibi-J

    sar e~i~o,o gnoraq~e ida to-som~nt,eom lidaded~term~nad~"~enjamin,1993:4 9). ~

    a possIbIlIdade desses Instantes espacIahzados DImensao hIStrIcaque se COnStItuI, am- 1

    (pelos pontos de observao linhas de pensa- bm, na medida em que a historicidade, como;

    mento)em quea captura a significaoealgo prope Giorgio Agambenno ensaio n Play- J

    sempre ovamente rovisria. /and' rejlectionsn historyandp/ay, sejaconce-

    As referncias Walter Benjamin, que se- bida n~o como o~iza~o ~ronolgica,mas, im 1

    ro constantes neste texto, devem-se ao fato de como margem dIferencIal entre tempos dIver-

    que, tanto em seu trabalho como crtico liter- sos: entre o "era uma vez" e o "no mais", e en-

    rio (inclusive quando trata de temas teatrais), tre diacronia e sincronia. "Todo acontecimento

    quanto em suas reflexes sobre a histria, so histrico representa uma margem diferencial

    de fundamental imponncia as construes te- entre diacronia e sincronia, estabelecendo uma

    ricas de seu pensamento, decisivas para sua pro- relao significativa entre elas" (Agamben,

    duo ensastica.A visada crtica de Benjamin, 1993: 75). Se o histricoemerge,ponanto, da .

    como assinalaHenri Meschonnic, no somen- diferenae colisoentre temporalidadesdistin- :

    te sobre tal ou qual tema, mas sobre o modo tas entre o outrorae o agora o agoraem queo

    mesmo de significar (Wismann, 1986: 709), ou outrora trazido cena, pensado)

    -

    a reflexo

    seja,sobre o modo de armar o pensamento,de terica nevitavelmenteo inclui, pois seumodo

    formular conceitos e significaes. Por outro de pensar amais anula as diferenas,ou elimi-

    lado, quando critica, por exemplo, a noo de na os intervalos. Pelo contrrio, pane do prin-

    I. :-i'i j ~~~l4l ~,

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    cpio de que sem eles no h viso nem conhe- sentido, como destaca Irene Cardoso em "His-

    cimento possveis. tria, memria e crtica do presente", "a atua-

    A partir da, pode-se dizer tambm que a lidade constitui-se, ento, como uma alteridade

    problematizao do visvel empreendida pelo em relao ao passado e ao prprio presente.

    pensar terico faz do estabelecimento da dife- Caracteriza-se como um movimento de disjun-

    rena histrica a prpria condio de possibili- o desse presente, de uma no-contempo-

    dade das formulaes que ele engendra. Pois o raneidade dele em relao a si prprio" (Cardo-

    prprio momento (a atualidade) da ao refle- so, 2001: 16).

    xiva - o agora do pensamento e da escrita - j J a dimenso crtica da teoria advm no

    supe e requer a configurao de uma margem s das problematizaes que ela instaura - e in-

    temporalmente diferencial, constituda a partir quietam o ver

    -,

    e da crise que ela abre na per-

    de uma "desatualizao do presente". Dialogo cepo, mas tambm de seu confronto com ob-

    aqui com a anlise realizada por Irene Cardoso jetos e realidades particulares, pois o pensamen-

    das concepes de atualidade e de presente de- to terico no o que se interessa apenas pelas

    senvolvidaspor Foucault em suas ltimas obras. categorias gerais, ou lida somente com abstra-

    Destacando a distino que ele estabeleceentre es. Pelo contrrio, a teoria organiza seu pen-

    essasduas noes tendo em vista "sua escolha samento no contato e no embate com a con-

    filosfica de um pensamento crtico que toma cretude das obras e das experincias artsticas. E

    a forma de uma ontologia da atualidade" e que, s assim poderia faz-Io, pois a separao entre

    portanto, interroga: "O que a nossa atual i- pensamento e criao (variante da separao

    dade? Qual o campo atual das experincias entre teoria e prtica) j indica a ausncia de um

    possveis?" (Cardoso, 2001: 215). Irene Car- olhar terico e faz parte do equvoco de imagi-

    doso, em "Foucault e a noo de acontecimen- nar que haja reflexo sem corpos (corpus) e cria-

    to", argumenta: o artstica sem pensamento.

    H uma distino, portanto, entre o presente

    e o atual, entre o hoje e o agora. O atual A teoria do teatro como provocao

    construdo a partir de um "certo elemento

    do presente ue se rata de reconhecer", omo Se minhas tentativas de conceituar a teoria (vi-

    "diferena histrica". Este reconhecimento, sando O campo teatral) privilegiaram, at agora,

    que o da crtica, da problematizao,desa- as formas e as foras de seu empenho em cons-

    tualiza o presente,desatualiza hoje, no mo- tituir uma prxis reflexiva, e no a focalizaram

    vimento de uma interpelao. Nessesentido em sua pluralidade, em suasdiversas orientaes

    o presente o dado, nem enquadradonuma possveis- semiolgica,ociolgica,ntropol-

    linearidade entre o passadoe o futuro (Car- gica etc. -, isto no significa que haja aqui a in-

    doso, 2001: 219). teno de estabelecer uma suposta natureza

    terica que unifique todas as suas modalidades,

    Nesta perspectiva, a prpria reflexo te- ultrapasse suas variaes histricas, metodol-

    rica opera uma temporalizao, pois ao atentar gicas, ideolgicas, culturais e supere a multipli-

    para o momento e condies em que interroga cidade de objetos dos quais ela pode se ocupar.

    seu objeto ela tambm problematiza a atualida- Muito longe de qualquer concepo essencialis-

    de e viabilidade de sua interrogao, criando, ta, o que pretendi, na verdade, foi enfatizar que

    assim, margens, diferenas, espaamentos tem- toda percepo ou compreenso de algo sem-

    porais no prprio presente em que atua, e fa- pre um esforo, uma luta, um trabalho de cons-

    zendo deste presente no s o lugar mas tam- truo e demolio de perspectivas, e que este

    bm o objeto de uma problematizao. Nesse esforo e trabalho concernem reflexo terica

    .

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    so por ela realizados e explicitados. O que sig- ria costuma ser olhada como algo que paira aci-

    nifica dizer que a teoria sempre uma provoca- ma da experincia. Mas no acima do bem e do

    o s diversas formas de defesa e de afirmao mal, pois ela , muitas vezes, de modo velado

    da espontaneidade e da imediaticidade. ou explcito, considerada malfica para o bom

    Por contrariar as convices mais arraiga- andamento da criatividade dos artistas.

    das e interromper a torrente de idias que se Em O demnio da teoria, sugestivo ttulo

    avolumam desde h muito, por atuar inneras do livro de Antoine Compagnon (O demnio

    vezes, portanto, como a pedra no caminho, ou da teoria: literatura e senso omum, esse o ttu-

    como o rochedo que, no meio do ri04, obriga 10 completo), o autor discute, principalmente

    as guas a refluirem e os pensamentos a salta- nos captulos introdutrio e conclusivo, quais

    rem de seus eitos e pensarem sobre seu prprio seriam, no mbito da teoria literria (ou da teo-

    curso, a teoria provoca, no raramente, descon- ria da literatura), as possveis tarefas e especi-

    forto, suspeitas, ou mesmo um desprezo irrita- ficidades do primeiro desses ois termos. E mes-

    do que mal disfara a tola arrogncia que se sa- mo ressaltando que o "impulso terico" sempre

    tisfaz com seu estoque de certezas teis e opi- corre o risco de acomodar-se em disciplinas

    nies de bolso. (acadmicas) compartimentadas e inofensivas,

    O contracurso da teoria em relao aos ou deformar-se em manuais explicativos,

    conceitos j estabelecidos e j asseguradosgera Compagnon considera que a teoria eminen-

    resistncias. Ao tematizar a teoria do teatro, e a temente crtica e opositiva (Compagnon, 1999: -

    teoria e o teatro, considero importante assina- 16). E como o objeto de anlise do autor so os

    lar essas esistncias, at porque elas ainda se estudos literrios, ele afirma: "H teoria quan-

    verificam, e de forma algumas vezes acentuada, do as premissas do discurso corrente sobre a li-

    tanto na esfera da criao e da realizao tea- teratura no so mais aceitas como evidentes,

    trais, quanto no mbito da formao dos artis- quando so questionadas, expostas como cons-

    tas de teatro, como, por exemplo, nos cursos trues histricas, como convenes." (Com-

    universitrios de artes cnicas, onde essas esis- pagnori, 1999: 18).

    tncias manifestam-se no s em alguns alunos, A substituio da palavra literatura pela

    mas tambm em alguns professores. palavra teatro no altera o teor provocativo da

    Resistncias, desconfianas e preconceito teoria em relao s concepes e valores mais

    que se materializam em determinados usos difundidos Do mesmo modo como esta outra

    vocabulares. Se o adjetivo terico poucas vezes observao de Antoine Compagnon poderia

    vem isento de um certo tom acusativo (ou pe- tambm se referir importncia da teoria na

    jorativo) quando escolhido para qualificar formao teatral: '~teoria da literatura', diz ele,

    projetos ou pontos de vista, o advrbio quase " uma aprendizagem da no-ingenuidade"

    sempre indica algo que no nem ser concre- (Compagnon, 1999: 24). E neste sentido con-

    tizvel, praticvel ("Teoricamente. . . "). A teo- sidero que a teoria pode ser, sim, demonaca.

    4 Remeto-me aqui, explicitamente, imagem que finaliza a primeira verso 1931) do ensaio de Walter

    Benjamin sobre Brecht intitulado O que o teatro pico?Um estudosobreBrecht. Para conceituar a

    noo de assombro (estranhamento) no teatro brechtiano, Benjamin o compara ao refluxo produzido

    pela interrupo ou retesamento do fluxo real da vid'

    -

    "o assombro este refluxo". Mas tambm

    compara o assombroao rochedo "do qual contemplamosa torrente das coisas" Benjamin, 1987: 90) e

    onde ela - a torrente - vem se quebrar. Ainda segundo Benjamin, "o objeto mais autntico desseas-

    sombro a dialtica em estadode repouso" (p. 90-1).

    ~

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    o Olho e a Nvoa:Consideraesobrea teoria do teatro

    Fragilizandonossas renashabituais e nos fa- e semapriori o espetculoaracompreend-

    zendo perder a inocncia, ela nos expulsa do 10e usufrui-lo.Esta eoriadano-teoria ma-

    parasoe nos condenaao trabalho: isto , luta joritria na medidaem que ela se apiaem

    do ver e ao esforo da reflexo. No chamado um consenso parente o pblico, freqen-

    meio eatral a palavra eoria adquire, quasesem- tementemantidopeloscrticos,e segundo

    pre, um sentido bem amplo e passaa abranger qual o espetculo um bem mediatamente

    o conjunto de estudos, anlisese reflexesso- consumvel empreparao rvia,sem c-

    bre O eatro. E a parecepersistir, em muitos ca- nica de anlise onstruda, emutilizao e

    sos,a velha e injustificada desconfianade que uma metalinguagemxplcita:ela sed ares

    a viso erica sobrea obra teatral, por parte do de bom senso de nocncia noseprivade

    artista ou do espectador,possa prejudicar ou ridicularizar jargodos ericos bstratos

    macular seja o processode sua criao, seja a prolixos Pavis, 990: 112).

    pretensa spontaneidade e sua apreciao.

    Em um texto de 1940, intitulado Notas Considerando-se este comentrio de

    sobre escrita ealista,Bertolt Brecht comenta a Pavis,a questoque se coloca no , portanto,

    freqente superstiodos artistas"em relao "com ou sem teoria?", mas qual teoria?A que

    cincia,ao conhecimentoe auto-reflexo. fir- no se percebea si mesmae reproduz automa-

    mando que esta superstio", omo ele mesmo ticamente diase critrios adotadospela maio-

    denomina,vincula-seao medo que os artistas e- ria como se eles brotassemespontaneamente

    riam de perder sua originalidade, Brecht critica s tivessemcomo suporte a intuio e aquilo

    "o pudor religioso om que o escritor se nega a que se chama de indiscutvelgosto essoal, u a

    contemplar a origem das suas dias e dos seus teoria que, autoconscientede seusprocedimen-

    sentimentos"e o "receio de que ele no sejaca- tos reflexivos, e limites, redesenha,constante-

    pazde continuar a ser poeta depois de saberde- mente, seu horizonte crtico no contato e no

    masiado". Brecht, 1978: 117). Mais adiante, confronto com aquilo que contempla?A teoria

    com a ironia que sempre he foi peculiar, arre- da no-teoria, que se torna, por isso mesmo,

    mata: "Os nossospoetas perderam a voz, no unvoca, homogneae rgida na certezade sua

    tanto em facedo livro O Capital como do pr- intuio do que " bom" e da validade nape-

    prio capital" (Brecht, 1978: 118). lvel do consenso?Ou a teoria que, plural em

    Quanto recepo eatral, insiste-seain- suas diversas perspectivascrticas possveis,e

    da, muitas vezes,na mesma e insustentvel e- sempre recolocadasem xeque, no se cr, em

    cla: a apregoada ruio espontnea.S que, a nenhuma de suas ormas, totalizante ?

    rigor, no existe este olhar absolutamente es- Seh atorese encenadores ue ainda pro-

    pontneo, sento de premissas expectativas, fessama dicotomia entre teorizao e prtica

    relacionando-se ireta e imediatamente com a teatral porque no conseguem, ensoeu, per-

    obra. Este suposto olhar , na verdade,molda- ceber na teoria esseapelo por uma constante

    do pelasconvenes abituais e pelasperspecti- problem4tizaodo olhar, das escolhasartsti-

    vasdominantes to habituais e dominantesque cas realizadas, os meios expressivos tlizados,

    parecemnaturais, no construdas). do pensamentoproduzido, e das ormas e rela-

    Da mesma orma que, como bem obser- esde criaoe de produo experimentadas.

    va Patrice Pavis, Problematizao staque seconstitui a partir do

    confronto de leituras, do tensionamento de

    A teoriamajoritria a teoriada no-teoria, pontos de vista, da reflexo sobre as experin-

    querdizer,a convico e que noh neces- cias artsticas,e da cumplicidade crtica com o

    sidade e reflexo lobalparapensar prti- processode criao da obra. Esses torese en-

    ca eatrale quebasta preciarntuitivamente cenadores arecementender a teoria como um

    .

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    8/11

    sala preta

    conjunto fechadode idiase avaliaessobrea como destacaE. H. Gombrichno final de seu

    obra, o autor, seucontexto) completamenteex- livro Arte e iluso (Gombrich, 1986: 342), en-

    terior ao trabalho artstico propriamente dito. to duas das tarefasda teoria so: ensionar os

    E a partir destaequvocaconcepo ue seale- limites de nossa iso nossoolho e nossas -

    ga, muitas vezes,que a teoria pode prejudicar voas

    -

    problematizando o que sabemos, pro-

    ou contaminar a relao supostamente)direta vocar conhecimentos inquietando o nosso

    do artista com a obra emsi mesma.Como seele olhar. Desta dupla via terica resultam novos

    e ela pudessem se relacionar para alm (ou horizontes e novas experinciasde visibilidade

    aqum) de qualquer mediao e de quaisquer e de inteligibilidade da arte e do mundo.

    outros conhecimentose interpelaes. No casoespecfico o Brasil, o desconfor-

    Mas h tambm aquelesatorese encena- to em relao teoria pareceassociar-seor um

    dores que, como JosCelso Martinez Corra, lado, ao culto da personalidade,do talento, do

    fazem de suasexperincias omo artistase pen- gnio nato, e, por outro, conseqente esvalo-

    sadores do teatro o palco de mltiplas inquieta- rizao do trabalho, que se manifesta, no pas,

    es,a partir dasquais procuram olhar e pensar sob as mais variadas formas, inclusive nessa

    a teoria. Em entrevistaa Edelcio Mostao e F- auto-suficincia da intuio e da genialidade

    ti ma Saadi,publicadana revistaFolhetim,Z tantas ezes reconizada.

    Celso afirma que o teatro o lugar de relembrar Explico melhor: a rejeioao pensamen-

    o poder - da inteligncia, da imaginao que to terico e ao que ele em de aborioso, ateante

    o ser humano tem. E acrescenta: e precrio parece corresponder ao que Srgio

    Buarquede Holanda diagnosticava, m Razes

    O teatro em que tocar nesse oderio mas, do Brasil, como "o horror ao vago, ao hesitante,

    para ocarnesse oderio,eleprecisa er ido, ao fluido, que obrigam colaborao, o esfor-

    interpretadoe, para sto, ele precisa emais o e, por conseguinte, a certa dependnciae

    da teoria do teatro

    [...]

    Durante muito tem- mesmo abdicao da personalidade"

    - trao

    po,houveum desprestgio uito grande essa que, segundo o autor, tem determinado fre-

    coisade pensaro teatro [...] a maioria dos qentemente nossa ormao espiritual". Nes-

    atores,principalmente uem vai muito pra ta mesma inha de argumentao,Srgio Buar-

    televiso,em uma rejeio ela eoria, pela que ressalta: Tudo quanto dispensequalquer

    reflexo. parao teatropoderser ecebido, trabalho mental aturado e fatigante, as idias

    necessriamaatividade rtica... crticaoga claras, cidas, definitivas que favorecemuma

    luz no quevoc az (Folhetim, 002: 138). espciede atonia da inteligncia parecem-nos

    constituir a verdadeira essnciada sabedori'

    Mais adiante, explicitando a estreita ela- (Holanda, 1982: 117).

    o entre produo artstica e produo terica, A extrema valorizaodo talento e a sua

    e apontando para a necessidade e novaspers- contraface a desconfiana m relao neces-

    pectivas crticas para que novas propostas ea- sidadede muito trabalho , no dizem respeito

    trais possam e ornar efetivamentevisveise le- estritamentea uma determinada concepode

    Z Celso delara:"Eu sinto que, pra mui- artista, mas tambm ecoam, como mostra Sr-

    ta gente, meu trabalho no tem leitura: a pessoa gio Buarque, o rano de certos pontos de vista

    pode estar de corpo presenteali mas est com conservadores:

    os preconceitosdela e aquelespreconceitosno

    foram trabalhadose ela no v, no estaqui e Mash raos or ondenossantelectualidade

    agora. " (Folhetim,2002: 139). ainda evela uamisso itidamente onser-

    E se, portanto, "nunca podemos separar vadorae senhorial.Um deles a presuno,

    com nitidez o que vemos do que sabemos", aindaem nossos ias o generalizadantre

    I.

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    o Olho e a Nvoa:Consideraesobrea teoria do teatro

    seus xpoentes, e que o verdadeiroalento no nem explicativa, nem generalizante.No

    h de ser espontneo, e nascena,omo a elaboramodelosde anliseque possam erapli-

    verdadeira obreza, ois os rabalhos o es- cados obra (cnico-dramatrgica) para dela

    tudo acurado odemconduzirao saber,mas extrair sua gica de funcionamento e seusigni-

    assemelham-se,or suamonotoniae reitera- ficado supostamente culto. Tambm no esta-

    o,aosofciosvis que degradam homem" beleceos princpios geraisdo chamado enme-

    (Holanda,1982: 123). no teatral.

    A teoria do teatro no coincide com a

    O exerccioda teoria nos mbitos da cria- apresentao os conceitos undamentaisdo te-

    oe da formao eatraisadquire, assim,a meu atro (at porque a arte teatral permanente...

    ver,uma irrecusvel mportncia, pois ao requi- mente refundada). Tambm no responde,

    sitar um contnuo trabalho de reflexo, um es- como muitas vezesse esperaou se imagina,

    foro de argumentaoe uma rotina de estudos pergunta "O que o teatro?" Em primeiro lu-

    e interlocues,ele (o exerccio da teoria) pro- gar, porque o enfoque terico, a meu ver, no

    pe um modo diferenciado de entender e rea- se coaduna com concepes ssencialistas. m

    lizar a prtica teatral. Um modo que, na con- segundo, porque no campo atual da criao e

    tramo de certos parmetrosartsticos e cultu- da reflexo artsticase teatrais, no campoatual

    rais ortemente enraizados e embre-seque no de nossas xperinciasosslveis retomando s

    Brasil a relaoentre ator e talento, por exem- formulaesde Foucault citadase analisadas or

    pIo, quasesempre foi dada como evidente

    -,

    Irene Cardoso , a questodos territrios niti-

    .

    acaba razendo para as salasde ensaioe para as damentedemarcados u dasespecificidadesn-

    salas e aula no apenas confronto entre pers- teiramente determinadas alvez no seja aquilo

    pectivas iversas inerente, nclusive, prpria que devaserpensado.A teoria do teatro solicita,

    multiplicidade de abordagensem que a teoria hoje - mais do que nunca, talvez -, a configu-

    se configura -, mas tambm o dissensopoliti- raode um espao eflexivo hbrido, compos-

    camentenecessrio toda atividade artstica e to de relaes intersees rticas com outras

    intelectual. formas de expresso rtsticae com outros carn-

    E se a teoria tambm a aprendizagem pos de conhecimento.

    da mprecisodos olhos e da &agilidadedasevi- Vale lembrar, por fim, que as obras, pro-

    dncias "Isso, primeira vista, parece claro. postase experinciaseatrais ambm produzem

    Mas, medida em que os olhossedetm,vai fi- a seu modo, e de modo diferenciado, teorias-

    candoobscuro.", e se , ainda, a aprendizagem pensamentosobre a arte e o teatro, inquieta-

    da irredutvel agitao da mente e do carter esdo olhar. Na obra de Brecht, por exemplo,

    nuncadefinitivo de suasespeculaes "Depois, a intrnseca elaoentre reflexoartsticae ati-

    nadamais.No. Infelizmente,no.Restam inda vidade terica foi determinante para seu proje-

    os nuesampejos e luz, e a agitao", ento a to teatral, e certamente muito contribuiu para

    teoria nos exercita no s para a complexidade que a prpria idia de teatro fosse, para o

    do ato visual, mas ambm para a historicidade dramaturgo e encenadoralemo, algo constan-

    de nossas isese indagaes. temente problematizvel e nunca definitiva-

    Toda tentativa de definir a teoria do tea- mente resolvido

    tro , de certo modo, uma contradio, pois faz Em "Notas sobrea perade trsvintns",

    parte da reflexo terica problematizar e rela- Brecht faz uma curiosa e instigante sugesto

    tivizar asdefinies,mostrando seucarterpre- que, at onde sei, nunca foi por ele efetivamen-

    cirio, provisrio. Talvez se possapensar,entre- te realizada,mas que revela seu propsito de

    tanto, o que ela no , principalmente em rela- tensionar a idia e a estrutura convencionaisdo

    o prtica de seu ensino. A teoria do teatro teatro com uma

    -

    digamos assim - provocao

    .

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    sala preta

    terica.Diz ele: " Tambm na arte dramticah corpos parcialmente expostosesto racamente

    que introduzir as notas de rodap e a consulta iluminados, mas esto , ainda l, e sempre

    de confronto" (Brecht, 1978: 26). Visando - pois raramente bandonam cena , tam-

    tensionar o palco e o livro - problematizando bm nesses alcosem que o visvel e o intelig-

    seussuportese inquietando o visvel e o legvel vel so ensionadosao extremo, at o limite do

    - Brecht prope que se introduza no teatro o possvel,do dizvel, at o limite do teatralizvel,

    agon da formulao de idias e o embate dos tambm nesses palcos est em jogo uma

    desdobramentos eflexivos. teorizaodo teatro - figurada, por exemplo,

    Tambm na quase completa escurido no retorno infindvel da indagao: Que, afi-

    dos palcosde Beckett, em que cabeas, ocase nal significa sso?

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    \

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