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O Ofício da História Prof. Ubiratã F. Freitas O Ofício da História Profº Me. Ubiratã F. Freitas APOSTILA DE HISTÓRIA 3º ANO ENSINO MÉDIO

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O Ofício da História Prof. Ubiratã F. Freitas

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O Ofício da História

Profº Me. Ubiratã F. Freitas

APOSTILA DE HISTÓRIA

3º ANO

ENSINO MÉDIO

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O Ofício da História Prof. Ubiratã F.

Freitas

SUMÁRIO

AULA 01 ......................................................................

AULA 02 ......................................................................

AULA 03 ......................................................................

AULA 04 .....................................................................

AULA 05 ..........................................................................

AULA 06 ..........................................................................

AULA 07 ..........................................................................

AULA 08 ..........................................................................

AULA 09 .....................................................................

AULA 10 .......................................................................

AULA 11 ..........................................................................

AULA 12 .......................................................................

AULA 13 ......................................................................

AULA 14 .........................................................................

AULA 15 ........................................................................

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Aula 01

História – 3º Ano Ensino Médio

O Período Regencial no Brasil

Introdução Durante o século XVIII, o Antigo Regime foi duramente criticado pelos filósofos iluministas

franceses e pelos pensadores liberais de toda a Europa. No Brasil, a Conjuração Mineira de 1789, a Baiana

de 1798 e a Revolução Pernambucana de 1817 foram manifestações contra o Antigo Regime e o sistema

colonial português. Esses movimentos protestavam contra a opressão política, a censura, a cobrança

extorsiva de impostos e contra os privilégios destinados aos altos funcionários do Estado português. Apenas

a Conjuração Baiana teve como um dos objetivos o fim da escravidão. Todos esses movimentos foram

violentamente reprimidos.

Em 1820, outra revolta de caráter liberal na Europa pôs fim ao absolutismo em Portugal, porem as

intenções portuguesas em relação ao Brasil não era nada liberal. As cortes de Lisboa pretendia reconduzir o

Brasil a Colônia portuguesa novamente. No entanto, a mobilização da elite brasileira em torno do príncipe

regente – D. Pedro I – acelerou o processo de independência. Dom Pedro declarou sua intenção de

permanecer no Brasil contra as ordens das Cortes de Lisboa e proclamou a independência pouco depois, em

7 de setembro de 1822, sendo proclamado imperador em 12 de outubro do mesmo ano.

As Guerras de Independência e a Constituição de 1824

Alinhadas com as Cortes de Lisboa, os oficiais que controlavam as províncias do Grão-Pará,

Maranhão, Piauí, Bahia e Cisplatina – Uruguai – resistiram aos mandos de D Pedro antes mesmo da

proclamação da Independência. Retomar o controle nas localidades rebeladas não foi tarefa fácil, mas

somente depois de dez meses de Independência oficial foram anexados as regiões rebeladas.

Os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer a Independência do Brasil, no contexto da

Doutrina Monroe, que defendia a autonomia das recém-formadas nações da América. A Inglaterra

reconheceu a Independência em 1825. Na época, o Brasil representava o terceiro maior mercado externo

para os produtos ingleses. A Inglaterra também interceio nas negociações entre Brasil e Portugal,

financiando a quantia de 2 milhões de libras esterlinas, paga pelo Brasil à ex-Metrópole a título de

indenização. Com isso, a dívida brasileira com os bancos ingleses cresceu de maneira expressiva.

A Assembleia Constituinte

Proclamada a Independência, era preciso elaborar uma Constituição. A assembleia Constituinte

reuniu-se em maio de 1823, formada por cem deputados eleitos por voto censitário e Indireto.

Latifundiários, grandes comerciantes, juízes, médicos, militares e representantes da Igreja Católica

compunham o grupo de constituintes.

O projeto de Constituição foi redigido por Antônio Carlos de Andrade que Ra conservador, mas

naquele momento foi apoiado pelo Partido Brasileiro, que defendia a soberania do Legislativo diante do

imperador. O texto do projeto determinava que o poder Executivo, representado pelo imperador, não poderia

vetar completamente uma lei aprovada pela Câmara dos Deputados, ou dissolvê-la. Alem disso, proibia o

imperador de ser rei em outro país.

Contrário a esse projeto e adepto da Monarquia absolutista, havia o Partido Português, formado por

militares de alta patente, funcionários públicos e comerciantes, quase todos portugueses. Com o apoio desse

grupo político, dom Pedro I rejeitou o projeto e dissolveu a assembleia constituinte. Em seguida, reuniu um

Conselho de Estado formado por dez membros de sua confiança e elaborou a nova Constituição. A primeira

Carta Constitucional brasileira foi outorgada pelo imperador em 1824.

Os termos da Constituição não diferiam muito do projeto de Antônio Carlo, a não ser pela introdução

do poder Moderador, que dava ao imperador total controle sobre os demais Poderes. O poder Legislativo era

constituído do Senado, formado por senadores eleitos, mas com cargo vitalício, e da Câmara dos Deputados,

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com cargo temporário. As eleições mantiveram-se indiretas e censitárias. Para tornar-se senador era

necessário comprovar renda anual de mínima de 800 mil-réis.

A Confederação do Equador

Na província de Pernambuco, a reação à Constituição de 1824 não demorou a acontecer: os

republicanos não aceitavam o país autoritário e centralizador que estava surgindo, além das divergências

entre portugueses e brasileiros em Pernambuco, o crescimento do poder político e econômico das províncias

do sul e do sudeste também alimentavam o medo de que as províncias do norte e nordeste perdessem sua

influência.

A revolta começou com a exigência de que o presidente de província, Francisco Pais Barreto,

indicado por Dom Pedro I, renunciasse ao cargo diante da imensa oposição que sofria em Pernambuco. Em

seu, os liberais escolheram Manuel de carvalho pais Andrade. Recife foi cercada pela marinha imperial por

três meses, mas resistiu, e no dia 2 de julho de 1824 Pais de Andrade proclamou a Confederação do

Equador, unindo as províncias de Pernambuco, Paraíba, Ceará, e do Rio Grande do Norte em torno da causa

republicana e pelo fim do tráfico de escravos. Após quatro meses de resistência, os rebeldes se entregaram.

A Independência do Brasil teve muitos projetos políticos que foram calados como a Confederação do

Equador, com ordens expressas de Dom Pedro I para colocar fim aos movimentos republicanos.

Impopularidade e Abdicação de D. Pedro I

Após a dissolução da Constituinte, imposição da Constituição de 1824 e a repressão violenta a

Confederação do Equador a popularidade de D. Pedro I ficou seriamente abalada. Outros problemas como a

derrota na guerra Cisplatina, a morte de D. João VI em Portugal e os sentimentos antilusitanos, acabaram

levando D. Pedro I a abdicar o trono brasileiro em favor de seu filho Pedro de Alcântara.

Problema principal: o Brasil era uma sociedade extremamente heterogênea onde os diversos grupos

disputavam o poder (entre estes diversos grupos de elite só havia um denominador comum; a manutenção da

escravidão).

Problemas enfrentados por D. Pedro I a partir de 1825 que o levaram a abdicação:

- envolvimento do imperador em problemas dinásticos em Portugal gerando críticas

- derrota na guerra da Cisplatina (1828)

- quebra do banco do Brasil

- endividamento com a Inglaterra para a compra da independência

As Regências

A Constituição de 1824 previa que, em caso de morte ou abdicação do imperador e com o herdeiro

do trono sendo menor de 18 anos, o país seria governado por três regentes até que o sucessor ao trono

atingisse maioridade.

O Período Regencial (1831-1840)

“A primeira experiência republicana brasileira”.

Significado da abdicação: vitória de um liberalismo calcado na escravidão e no latifúndio.

Principais grupos políticos: Liberais exaltados ou farroupilhas: defendiam maior autonomia para as

províncias e o fim do poder moderador. Restauradores ou caramurus: portugueses que queriam a volta de

Dom Pedro I. Liberais moderados ou chimangos: defensores da centralização do poder,

Com a morte de D. Pedro I acontece uma rearticulação partidária: parte dos moderados se une com

os exaltados formando os liberais e outra parte se une com os restauradores formando os conservadores.

Tendências Políticas no Período Regencial:

1831-37 - Maré Liberal (regências trinas e una de Feijó) - medidas descentralizadoras: guarda

nacional (origem do coronelismo), código do processo criminal (judiciário municipal com juiz de paz eleito

na paróquia), ato adicional de 1834 (eleição direta para regentes e criação das assembleias legislativas

municipais).

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1838-40 – Maré Conservadora (regência una de Araújo Lima) - medidas centralizadoras: anulou o

ato adicional, o código do processo e passou a nomear os chefes das guardas nacionais. O período ficou

conhecido como Regresso.

Revoltas Regenciais:

Expressam os diferentes interesses locais que lutavam por maior participação do poder. A ruptura de

elites permite manifestações de setores marginalizados.

- Guerra Dos Farrapos – Rio Grande do Sul - entre 1835 e 45 - luta dos produtores de charque do sul por

maior autonomia econômica. A Revolução farroupilha foi liderada por estancieiros, criadores de gado

estabelecidos principalmente na fronteira com o Uruguai, e por charqueadores, produtores de carne seca,

vendida às outras regiões do país.

- Sabinada - Bahia em 1837 - movimento autonomista de classe média. Em 1837, mais uma revolta agitou

Salvador. O que mobilizou os rebeldes foi à luta pela autonomia da província e o forte sentimento

antilusitano. O comércio local era dominado por portugueses, e a população considerava-se explorada por

eles.

- Cabanagem – Pará - entre 1836 e 37 - movimento popular contra o autoritarismo do governo central. As

pessoas pobres da província do Grão-Pará tinham ascendência indígena e/ou africana, viviam em cabanas

simples à beira dos rios da região. Por essa razão eram chamadas de cabanos. Desde a guerra pela

Independência do Grão-Pará em 1823, os cabanos lutavam para que a província tivesse um representante

local.

- Revolta dos Malês - Bahia em 1835- revolta de escravos muçulmanos aproveitando-se de divergências nas

elites. Em 24 de Janeiro de 1835, começou em Salvador a Revolta do Malês, muçulmanos africanos, muitos

deles alfabetizados em árabe, reuniram 600 rebeldes e pretendiam tomar Salvador matar os europeus, manter

a escravidão africana, menos os muçulmanos, e fundar uma nação muçulmana negra africana no Brasil.

- Balaiada - Maranhão e Piauí em 1838-39- movimento popular contra as arbitrariedades das elites.

Aproveitam-se dos atritos entre conservadores e liberais. Várias revoltas ocorridas entre 1838 e 1842 foram

chamadas de Balaiada. O nome é uma referencia a um dos lideres do movimento, o artesão de balaios

Manuel dos Anjos Ferreira, conhecido como Balaio. A forte crise econômica que atingiu o Maranhão nessa

época fez aumentar os níveis de pobreza e contribuiu para que a população se rebelasse contra a elite local,

composta de comerciantes portugueses e latifundiários produtores de algodão.

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Aula 02

História – 3º Ano Ensino Médio

Imperialismo – Unificação Italiana e Alemã

Introdução

A partir do século XV, a cristandade ocidental lançou-se ao mar. De início os navegadores buscavam

mercadorias que a Europa valorizava e consumia. Mas logo passou a haver a conquista militar e a ocupação

das terras que os navios alcançavam. A principal região conquistada pela Europa nos séculos XVI e XVIII

foi a América, colonizada por milhões de imigrantes ocidentais.

Seguindo os pioneiros navegadores de Portugal, navios da Espanha, da França, da Holanda e da

Inglaterra cruzaram os oceanos em busca de mercadorias exóticas, no contexto do sistema mercantilista. No

século XVIII, o início da Revolução industrial veio mudar esse quadro. As novas máquinas processavam

novos materiais e, produziam mercadorias em quantidades nunca vistas, exigiam um mercado gigantesco. A

burguesia industrial se fortalecia e passava a influir cada vez mais no rumo dos Estados. Houve revoluções

burguesas em quase todos os países ocidentais, e um novo sentido nacionalista surgiu, ensejando a união dos

povos que ainda viviam em Estados fragmentados.

Avanços técnicos ditaram as marinhas e os exércitos ocidentais de armas com incrível poder de

destruição. Possuindo dinheiro, mercadorias e armas, o Ocidente estava pronto para mais uma fase de

expansão pelo mundo.

Unificação Italiana e Alemã

Na primeira metade do século XIX, duas regiões da Europa – a península Itálica e os estados alemães

– encontravam-se divididas em Estados de vários tamanhos, pesar de possuírem cultura e língua comuns.

Durante a segunda metade do século XIX, o nacionalismo cresceu nessas regiões. O jogo de interesses

políticos e econômicos, aliados a ideias nacionalistas, resultou na criação de dois novos estados nacionais;

Itália e Alemanha.

A Itália dividida

Desde o fim do Renascimento, a maior parte da península Itálica esteve sob o domínio de Estados

estrangeiros. O norte das cidades de Veneza e Milão era governado pelos imperadores austríacos do Sacro

Império Romano Germânico. No sul, a rica região da cidade de Nápoles e da ilha da Sicília era dominada

por dinastias espanholas desde o século XIII. Ao centro, situavam-se os Estados Pontifícios, governados

pelo papa e sediados na cidade Roma.

No início do século XIX, os italianos governavam apenas dois Estados: a República de Veneza e o

Reino da Sardenha. Napoleão Bonaparte, comandando os exércitos da França revolucionária, conquistou

vários Estados italianos, abolindo os direitos feudais e os privilégios da Igreja. Os ideais iluministas da

Revolução Francesa trazidos por Napoleão animaram o povo a lutar por sua união e independência.

A Opressão Estrangeira

A derrota de Napoleão trouxe de volta à península italiana os antigos dominadores, que defendiam o

Absolutismo. O congresso de Viena (1815) determinou que as regiões como Lombardia, Vêneto e Toscana

ficassem sob domínio austríaco, enquanto o reino das Duas Sicílias foi devolvido aos nobres Bourbons

espanhóis. O papa também recebeu de volta seus Estados. Apenas o reino do Piemonte-Sardenha continuou

governado por uma dinastia italiana. Os ideais de independência e união não havia, porém, desaparecido.

Em 1848, acompanhando outras insurreições européias, os italianos revoltaram-se contra seus dominadores.

Os revoltosos concordavam sobre a necessidade de expulsar os austríacos e os Bourbons. Mas discordavam

em muitos aspectos.

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Os Nacionalistas Italianos

Os partidos do Risorgimento (ressurgimento) de um Estado nacional italiano dividiam-se

principalmente entre os revolucionários e moderados. Os revolucionários, liderados por Giuseppe Mazzini e

Giuseppe Garibaldi, pretendiam implantar uma república democrática que aumentasse o poder e os direitos

dos trabalhadores diante da burguesia. Os nacionalistas, moderados defendiam uma monarquia

constitucional, sob o comando dos reis de Piemonte-Sardenha. Essa opção era apoiada pela burguesia

italiana, por ampliar o mercado consumidor e eliminar tarifas alfandegárias sem provocar mudanças sociais

revolucionárias. A principal liderança dos moderados era Camilo Benso, conde de Cavour, nomeado em

1852, primeiro-ministro do reino da Sardenha. Em 1859, com apoio da França, Cavour iniciou a guerra de

unificação italiana, conquistando a Lombardia austríaca.

A Criação do Reino da Itália

Em 1860, mil soldados revolucionários, comandados por Garibaldi, conquistaram o reino das Duas

Sicílias. No entanto, em nome da unidade italiana eles abriram mão do projeto republicano e aderiram ao

reino sardo. Venceram os moderados, e em 1861, Vitor Emanuel II, rei do Piemonte-Sardenha, foi coroado

Rei da Itália. Após a conquista de Veneza, em 1866, restava Roma, símbolo da antiga grandeza italiana.

Após muitas tentativas, em 1870 o papa foi vencido e Roma foi anexada, tornando-se a capital do reino da

Itália.

A Unificação da Alemanha

O povo de cultura alemã estava dividido desde a Baixa Idade Média em Estados de tamanhos e

importância variados. Havia desde cidades-estados até grandes e poderosos reinos. No século XVIII, dois

reinos se destacam: Prússia e Áustria. No início do século XIX, a maior parte dos Estados alemães foi

conquistada por Napoleão Bonaparte. Entretanto, após a derrota de Napoleão o Congresso de Viena criou a

Confederação Germânica, composta de cerca de quarenta Estados, sob comando da Áustria e da Prússia.

Com o crescimento dos ideais nacionalistas e a necessidade dos Estados mais industrializados de

ampliar seus mercados, Prússia e Áustria passaram a disputar o comando da reunificação alemã. Durante os

levantes burgueses e populares de 1848, os alemães reuniram-se na cidade de Frankfurt e votaram uma

constituição da nação alemã.

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A Prússia de Bismarck A Prússia era o Estado alemão mais industrializado e possuía o exército mais poderoso. Interessados

em obter mercados para seus produtos, os prussianos criaram, em 1834, uma união aduaneira, chamada

Zollverin, reunindo vários Estados alemães do norte. Otto Von Bismarck, primeiro-ministro do rei prussiano

Guilherme I, comandou o processo de união econômica, que visava à unificação política. O governo de

Bismarck tentou unir a sociedade prussiana em torno do projeto de unificação alemã. Para isso, garantiu os

direitos dos grandes proprietários de terra, nobres conhecidos como junkers, o fortalecimento do exército

também beneficiou os junkers, que tradicionalmente ocupavam os mais altos postos militares. Ao mesmo

tempo, Bismarck entendia os interesses da burguesia, ampliando o parque industrial prussiano com

investimentos do Estado na siderurgia, em ferrovias e na indústria bélica.

O Processo de Expansão

Sob a liderança de Bismarck, a Prússia pôs em prática seu projeto expansionista com base em uma

política de alianças (diplomacia) e em ações militares (guerras). Os prussianos promoveram e venceram

guerras contra a Dinamarca (1864) e a Áustria (1866). Como resultado, ampliaram seu território e a

influência sobre os Estados alemães menores. Porém, os Estados germânicos do sul, principalmente a

Baviera, eram predominantemente católicos e se opunham à hegemonia prussiana protestante. Somente uma

guerra de grandes proporções, que inspirasse o espírito nacionalista, poderia reuni-los.

O Novo Império Alemão

O crescimento da Prússia preocupava a França, potência que temia a ascensão de um poderoso

vizinho continental. Havia ainda a possibilidade de a Espanha ser governada por um príncipe prussiano,

primo de Guilherme I, o que provocou uma dura reação do governo Francês. O imperador Napoleão III

exigiu que a candidatura prussiana fosse retirada. Bismarck soube manipular a tensão que essa situação

causou entre alemães e franceses, forjando documentos que insultavam os franceses. A França caiu na

armadilha e declarou guerra à Prússia em 1870.

A agressão francesa provocou uma onda de nacionalismo nos Estados alemães, que se uniram para

defender a Prússia. A própria Baviera engajou-se na luta. A vitória alemã foi esmagadora. Animados pela

força de sua união, os alemães aceitaram a liderança do rei prussiano. Em 1871, Guilherme I foi coroado

imperador da Alemanha no palácio de Versalhes.

A Formação dos Impérios

Ao longo dos séculos XIX, enquanto alemães e italianos lutavam para se unir, alguns Estados

nacionais – principalmente da Europa –, desenvolviam uma política de que ficou conhecida como

imperialismo. As potências imperialistas submeteram grandes regiões da Ásia, da África e da América

Latina a seus interesses econômicos, militares e políticos, impondo-lhes também suam cultura. A maioria

dos estudiosos defende que a origem do imperialismo foi o desenvolvimento do capitalismo nesse período,

desencadeado pela segunda Revolução Industrial.

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Aula 03

História – 3º Ano Ensino Médio

Imperialismo Inglês

A Segunda Revolução Industrial

As transformações da economia mundial no século XIX, não se limitavam ao rompimento do sistema

colonial. A segunda metade desse século foi um período de grande crescimento econômico para a Europa

ocidental e os Estados Unidos. Com a ampliação do comércio mundial e o acúmulo de capitais entre os

empresários das grandes potências. Calcula-se que 80% do capital mundial ficou concentrado nas mãos de

poucos países ricos como: Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos. O desenvolvimento do

capitalismo está vinculado ao grande desenvolvimento tecnológico científico durante o período de 1850 a

1900. Esse desenvolvimento se refletiu com a energia, o aço, transporte e comunicação.

A partir de 1870, inúmeras invenções tecnológicas foram aplicadas à indústria dos países do

Ocidente. A energia elétrica, o gás e os derivados de petróleo começam a substituir a energia a vapor.

Grandes inventos surgiram como o motor à explosão, o telefone, os corantes sintéticos, novas técnicas que

permitiram a produção de um aço mais barato e resistente. Nas fábricas as maquinas funcionavam cada vez

mais de modo automático, deixando de depender de grande número de trabalhadores para operá-las. A

automação gerou um considerável aumento de produtividade, com duas consequências imediatas: o

desemprego de operários e o barateamento dos produtos industrializados.

Capitalismo Financeiro e Monopolista

A concentração do capital e uma produção em grande escala, favoreceu a capitalização e formação

de grandes empresas. A livre concorrência transformou-se em uma luta acirrada de poder econômico,

vencendo os grandes centros com maior concentração de capital, favorecendo as grandes indústrias e

formando monopólios industriais, representado pelos cartéis das indústrias monopolistas. Surgiram, assim,

grandes conglomerados industriais concentrados nas mãos de poucos empresários, resultou na forma de

grande grupos:

- Trustes – é a reunião de várias empresas sob o comando de um mesmo monopólio;

- Holding – é uma empresa criada para controlar as várias empresas que compõem o triste;

- Cartel – é quando empresas independentes entram e, acordo para controlar o mercado (estabelecem preços

a ser pagos e vendidos de matérias-primas e produto acabado).

Os bancos passaram então a financiar as indústrias em larga escala. Os interesses bancários e

industriais se fundiram dando origem ao capital bancário com o industrial, marcando essa fase do

capitalismo, que ficou conhecido como capitalismo financeiro monopolista, cujo principais características

são: 1) aumento da produção industrial e busca de novos mercados consumidores; 2) acúmulo de capitais

que passaram a ser investidos em novos projetos lucrativos.

Imperialismo Inglês

A Inglaterra foi o primeiro país industrializado do mundo. Mas na segunda metade do século XIX,

países como a Bélgica, a França, a Alemanha e a Itália unificadas, os Estados Unidos e o Japão passaram a

competir com a indústria inglesa pelos mercados consumidores. Os industriais desses países ambicionavam

ter acesso a mercados que consumissem sua crescente produção. Eles necessitavam também de fontes de

matérias-primas, como algodão, minérios, cacau, couro, borracha, petróleo, etc.

A solução encontrada por esses países empresários, apoiadas pelos governos de seus países de

origem, foi controlar territórios estrangeiros não industrializados. Na América Latina, esse controle deu-se

de forma indireta, pela ação da diplomacia, da pressão militar e do investimento agressivo, que sufocava as

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empresas locais. Na África e Ásia, ocorreu o controle direto de extensos territórios, que passaram a ser

governados por autoridades coloniais.

Neocolonialismo O controle de extensos territórios na África e Ásia no século XIX pelas potências imperialistas

apresentavam uma série de diferenças em relação ao colonialismo europeu aplicado nos séculos XVI e

XVIII. Para marcar essas diferenças, essa nova forma de dominação ficou conhecida como

Neocolonialismo, neo= a novo + colonialismo, ou seja, novo colonialismo. As formas de dominação

colonial foram basicamente três:

- Colônia de enraizamento – com a imigração de grandes contingentes populacionais e a ocupação da terra

pelos colonos;

- Colônia de enquadramento – com o domínio político e administrativo e a exploração da mão de obra

nativa, sem tomada das terras;

- Protetorado – com a imposição da autoridade da Metrópole sobre um Estado de pretexto de protegê-lo de

ameaças estrangeiras.

Mudando o foco de mercado, os países não desenvolvidos industrialmente como África, Ásia e

Oceania, foram atingidos pelo capitalismo monopolista. Para a expansão das grandes potências, a prática

política foi o Imperialismo, onde as grandes nações passaram a dominar outros países do mundo. O termo

Imperialismo denomina a política de dominação empregada em dois sentidos, territorial e econômico, ou

seja, os grandes impérios industriais dividiram o mundo entre eles, ampliando e integrando mercados

mundiais.

Dominação e Legitimação Ideológica

Os países imperialistas tentaram legitimar a dominação neocolonial baseando-se no etnocentrismo,

isto é, na convicção de sua superioridade sobre os povos dominados. A posição etnocêntrica tinha como

componente essencial à recusa em entender as características das civilizações e culturas dos países e

sociedades dominadas. Tradições culturais e científicas antigas complexas, como as existentes na Índia, na

China, na Birmânia, no Mundo Árabe, no Congo, na Guiné, etc. foram ignoradas. Os discursos etnocêntricos

rotulava como bárbaro ou primitivo tudo o que fosse diferente dos países imperialistas.

No Ocidente, os países imperialistas criaram a ideia de que possuíam a missão de civilizar os povos

considerados “primitivos”. Os ocidentais consideravam essa pretensa missão o fardo do homem branco,

sob a justificativa desse fardo fictício, as sociedades ocidentais imperialistas, lançaram-se à exploração

econômica e à dominação política de vastas regiões da Ásia e da África.

Poder Político-Militar e Segurança nacional A luta internacional pelo controle das fontes de matérias-primas, a disputa por novos mercados e a

necessidade de exportação de capitais (investimentos no exterior) não eram apenas problemas econômicos

gerados pelo capitalismo monopolista. Era também problemas políticos, cuja solução exigia a participação

ativa dos governos das principais potências. Esses governos passaram a estimular a expansão colonialista,

movidos por questões estratégicas. Assim, a conquista de territórios em diversas partes do mundo assumiu

grande importância em termos de poderio militar e de segurança nacional.

Dominação da África e da Ásia

O processo de dominação imperialista européia sobre os continentes africano e asiático é conhecido,

respectivamente, como partilha da África e partilha da Ásia. Os governos de Portugal, Bélgica, Espanha,

Alemanha, Itália, Holanda e Japão desenvolveram políticas voltadas para a conquista colonial. Entretanto, os

maiores impérios coloniais foram estabelecidos, principalmente, pelos governantes e grupos econômicos da

França e Inglaterra. Essas conquistas desencadearam em diversas regiões da África e da Ásia uma série de

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rebeliões anticolonialista, organizadas por grupos locais. Diante do poderio militar e econômico destas

potências coloniais, a maior parte dessas revoltas foi sufocada pelo poderio bélico dos imperialistas.

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Aula 04

História – 3º Ano Ensino Médio

Partilha da África

A África foi o primeiro continente a ser ocupado pelos europeus, no processo de expansão marítima

européia, no século XV. Contudo, durante séculos essa ocupação limitou-se a algumas feitorias comerciais

na costa, onde se negociava ouro, marfim, pimenta e escravos. Em 1880, apenas 10% do continente africano

estava sob domínio europeu. Entre esses territórios, destacava-se a Argélia, dominada pela França, Angola,

colônia portuguesa, e a colônia do Cabo, possessão da Inglaterra. Nas décadas seguintes, todo continente foi

dividido entre as potência coloniais européias: Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália, Portugal, França e

Inglaterra.

A justificativa formal dos governos para essa partilha era a missão civilizadora, o fardo do homem

branco em levar aos povos “atrasados” o desenvolvimento. A motivação real era a cobiça por terras,

matérias-primas, produtos tropicais e metais preciosos, e a expansão dos investimentos capitalistas para

além da Europa. Mais de 90% do território africano foi dominado por nações europeias entre a segunda

metade do século XIX e o início do século XX. A divisão do território africano, tal como aparece no mapa,

resultou em um processo iniciado no século XIX. Na conferencia de Berlin, que aconteceu de novembro de

1884 a 1885, onde reuniram representantes dos EUA, Rússia e de outros 14 países europeus, foram

definidos os critérios para a conquista dos territórios da África e que ainda eram livres.

Partilha da Ásia

Na Ásia a expansão europeia enfrentou forte resistência em alguns países, como China e Japão.

Entretanto, o poderio militar dos europeus foi vencendo gradativamente essa resistência. A partir de 1867, a

economia e a sociedade japonesa entraram em rápida modernização, caminhando no sentido de tornar o

Japão uma potência imperialista na Ásia.

Na Índia, os portugueses foram os primeiros europeus a chegar nessa região, com Vasco da Gama,

em 1498, sendo seguidos no século XVI por holandeses, franceses e ingleses. A partir do século XVIII, o

predomínio sobre a região, entretanto, coube à Inglaterra, que fez da Índia um protetorado, em 1763, com a

Guerra dos Sete Anos (1756-1763). A situação do protetorado dava à Índia proteção por parte da Inglaterra,

mas, na prática, estabelecia ocupação e controle da administração local. Em 1806, o Império Britânico

anexou a Birmânia, na península da Indochina.

O controle sobre a região intensificou-se a partir de 1848, com a introdução de uma estrutura

administrativa britânica, que constituiu estradas e organizou missões políticas e religiosas. O resultado desse

processo afetou profundamente os costumes locais, destruindo a tradicional economia indiana, voltada para

a subsistência e sustentada em manufaturas têxteis, incapazes de concorrer com a produção industrial inglesa

de tecidos de algodão. O nacionalismo indiano, despertado pela presença inglesa, culminou, em 1857, na

Guerra dos Sipaios (1735-1741). Mas, foi sufocada pelo militarismo inglês. Em 1876, a Rainha Vitória foi

coroada com o título de Imperatriz da Índia.

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A Conferência de Berlim

Foi Leopoldo II, rei da Bélgica, que iniciou a corrida pelas terras africanas. A ação de Leopoldo chamou a

atenção dos governos europeus para a África. A possibilidade de o rei belga tornar-se dono de enormes

territórios provocou uma corrida por conquistas de territórios africanos. Evitando uma guerra que

enfraquecesse a posição européia na África, entre novembro de 1848 e fevereiro de 1885 ocorreu a

Conferência de Berlim, na Alemanha. A ideia era que a disputa e a divisão dos territórios africanos fossem

feitas pela diplomacia.

Participara da Conferência: Portugal, Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca,

Suécia, Áustria, Império Otomano e EUA. A Conferência determinou que Leopoldo II governaria o Estado

do Livre do Congo, “de sua propriedade”. Foi determinado também, o fim da escravidão e do tráfico de

escravos na África. Além disso, estabeleceu-se a norma segundo a qual um território africano só poderia ser

reconhecido como pertencente a um país se fosse ocupado por ele.

As Potências Imperialistas

O império colonial francês foi o segundo do mundo em extensão, menos apenas que o britânico. As

conquistas coloniais francesas tiveram impulso no governo de Luís Felipe (1830-1848). Em 1832, os

franceses conquistaram a Argélia, situada no norte da África. O domínio francês no território argelino foi

assegurado pelas tropas especiais chamadas de Legiões Estrangeiras, formadas por criminosos e

aventureiros a traz de riquezas. Aos domínios franceses ampliaram-se por quase toda a África, criando

regiões específicas conhecidas como África Ocidental Francesa e África Equatorial Francesa. Na Ásia, as

forças francesas conquistaram a Indochina (Vietnã), Camboja e Laos. Nessas áreas foram exploradas

plantações de seringueiras.

A expansão colonial britânica chegou a dominar um quinto da superfície do planeta – compreendida

pelo Canadá, Austrália e vastas porções da Ásia e África – onde viviam aproximadamente 23% da

população mundial. Na África, a exploração de diamantes e de ouro na região do Orange provocou lutas

entre os ingleses e africanos de origem holandesa que habitavam a região, os bôeres. Foi vencido pelos

britânicos. Na Ásia, uma das principais regiões sob o domínio imperialista britânico foi à Índia, cuja

dominação, iniciada no século XVIII, estendeu-se a uma área que hoje corresponde aos territórios da Índia,

Paquistão e Bangladesh. A China foi outro território que foi explorado pelos britânicos, fazendo um

clandestino comércio do ópio, quando os chineses decidiram reprimir o comércio desse produto, a Inglaterra

declarou guerra com os indianos ficando conhecida como Guerra do Ópio. Chegando o final desse conflito,

os chineses foram obrigados a assinar o Tratado de Nanquim, que favoreceu a exploração dos ingleses.

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Aula 05

História – 3º Ano Ensino Médio

O Segundo Reinado

Com o fracasso dos governos regenciais, evidenciados pelas revoltas separatistas, a solução foi uma

manobra liberal para garantir no poder uma autoridade reconhecida por todos. Foi assim que se deu a

antecipação da coroação de D. Pedro II em 1840, com reformas constitucionais que asseguraram plenos

poderes ao jovem imperador.

O Golpe da Maioria

Com a ascensão de D Pedro II ao poder com 15 anos, evidenciou a vitória do projeto centralizador

defendido por José Bonifácio. Os liberais abriram mão de qualquer desejo de autonomia em nome da união

de Estados e da estabilidade política da nação, o que só poderia ser alcançado com a autoridade e a tradição

representadas pelo poder da dinastia de Bragança. Inicialmente, o governo de D. Pedro II ainda se deu sobre

uma nação agitada politicamente por revoltas, como a Balaiada, e a Farroupilha, que só terminaria em 1845.

A Revolução Praieira

Os políticos liberais pernambucanos discordavam da necessidade de um governo centralizador.

Representavam uma parcela expressiva da Assembléia Provincial, limitando o comando dos senhores de

engenho e dos comerciantes portugueses. O domínio liberal deu vazão ao ódio contra os antigos donos do

poder. A agitação em Pernambuco fez com que o governo central indicasse um novo presidente provincial,

conservador, em 1848. Os liberais se opuseram e decidiram depô-lo por meio de uma revolta armada.

O governo reagiu violentamente. Para tornar o movimento mais coeso, os liberais decidiram

organizar propostas que conferiram à Revolução Praieira amplo caráter político e social contrário à

monarquia. Em 1849, a revolução já estava completamente derrotada, marcando o fim do ciclo de revoltas

que se iniciou logo antes do movimento de independência, a partir daí, o império brasileiro entrou em uma

fase de calmaria.

O Governo de D. Pedro II

A ascensão de D. Pedro II trouxe pontos de concordância fundamentais para o funcionamento do

Estado, como a monarquia centralizadora – o voto censitário – de modo a excluir a grande maioria da

população da participação política – e o controle político nas mãos dos homens brancos, latifundiários e

escravistas. Os desacordos eram muitos: como dividir o poder do imperador com a Câmara e o Senado?

Como se daria o sistema eleitoral? Os debates resultaram na criação de um parlamento, o primeiro da

história do país. O primeiro-ministro deveria ser indicado pelo Poder Moderador (ou seja, pelo imperador) e,

então, formar o ministério, a ser aprovado pelo parlamento. Se o ministério não fosse aprovado, o imperador

poderia indicar um novo primeiro-ministro ou dissolver a Câmara, convocando novas eleições

parlamentares. Isso se tornou a regra geral, fazendo com que o foco da política fossem, de fato, as eleições.

Por isso, ficou conhecido como “parlamentarismo às avessas”.

Para ser eleito, valia tudo: violência, fraude, irregularidades nas urnas. Isso porque era preciso eleger

a todo custo o ministério que fosse indicado pelo imperador. Esse método eleitoral, cuja única função era

legitimar as decisões imperiais. De modo geral, na havia, entre conservadores e liberais, divergências que

justificassem uma revolta contra o sistema eleitoral. Eram quase todos os latifundiários e proprietários de

escravos que buscavam defender seus interesses.

As Relações Entre Brasil e Inglaterra

Na segunda metade do século XIX, a Inglaterra vivia a Segunda Revolução Industrial. Isso

significava um novo interesse no Brasil como mercado e local de investimentos; o Brasil continuava a

depender dos produtos ingleses de seus empresários. A questão da escravidão, contudo, se tornava um

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problema maior. Capitalista e industrial, a Inglaterra via na escravidão um empecilho à expansão do

mercado consumidor, além de viabilizar a produção de artigos que concorriam com os ingleses. Era preciso

abolir o sistema escravocrata, ou seja, a lógica de trabalho que sustentava a economia nacional, além de

parte fundamental das relações sociais brasileiras. O governo brasileiro não poderia desagradar às elites,

tampouco desejava romper com a Inglaterra. A saída foi tomar medidas para acalmar os ânimos ingleses,

mas sem prejudicar, de forma repentina e profunda, os latifundiários. A Inglaterra, então decidiu intensificar

as pressões sobre o governo imperial, com uma série de leis visando diminuir a entrada de escravos no

Brasil, mas o império fez o possível para proteger os produtos nacionais. Teve início, assim, um conflito

legal entre os dois países:

- Lei Alves Branco (1848): aumentava os impostos sobre os produtos importados que concorressem com um

similar nacional.

- Lei Bill Alberdeen (1845): a lei que inglesa que colocava fim ao tráfico internacional de escravos. Os

infratores seriam julgados e punidos de acordo com as leis britânicas. Sabendo, contudo, que o tráfico estava

com os dias contados, os latifundiários brasileiros fizeram de tudo para burlar essa lei, o que aumentou

muito a entrada de negros no país.

- Lei Eusébio de Queiros (1850): extinguia o tráfico negreiro no Brasil.

A necessidade do fim do escravismo faz com que o governo imperial se tornasse cada vez mais forte

e coeso entorno do projeto centralizador. As elites locais, cientes de sua impotência diante do poderio inglês,

fizeram o possível para reforçar a solidez do governo, o que foi fundamental para assegurar a integridade

territorial.

A Economia Imperial

Entre 1850 e 1870, a economia nacional estava focada na produção de cafeeira do vale do Parnaíba

fluminense. Produzido em grandes latifúndios monocultores escravistas, o café era o principal produto de

exportação e podia ser ameaçado pelo fim do trafico negreiro.com alei Eusébio de Queirós, intensificou-se a

venda de escravos entre as próprias províncias: Nordeste e Sul, que passava por dificuldades, começavam a

vender sua mão de obra para o Sudeste. Foi um passo fundamental para que as tornassem menos

dependentes da escravidão. A produção cafeeira transformou profundamente o interior do país, com

destaque para:

- o surgimento da rede de transporte ferroviário e investimentos na sua modernização: a Inglaterra exerceu

papel fundamental nesse processo, fazendo empréstimos e exportando matéria-prima para implementação

das ferrovias no Brasil.

- o aumento da exportação cafeeira, que fez o governo saldar parte de suas dívidas externas e investir na

diversificação da economia: empresas de navegação, telégrafos e bancos. Esses processos lançou uma

personalidade importante na política brasileira: o Barão de Mauá.

A Decadência do Império

Uma das principais razões para a crise do império brasileiro foi o lento, porém irreversível, fim da

escravidão. O movimento abolicionista crescia, incentivado pela política de países como Estados Unidos,

após a Guerra de Secessão (1865). Apesar da pressão exercida pelas elites urbanas sobre o governo central,

duas importantes leis adiaram a abolição.

- Lei do ventre Livre 1871: filhos de escravos nascidos após essa data eram homens livres, embora fossem

obrigados a permanecer nas fazendas em que haviam nascido até os 20 anos, sustentando o sistema

escravista.

- Lei do Sexagenário, 1885: os escravos com mais de 60 anos deveriam ser liberados a permanência nas

fazendas por mais cinco anos. De modo geral, essa lei significava, para os escravos, o abandono e a miséria

na velhice; para os fazendeiros, bocas a menos para alimentar.

O café, no vale do Parnaíba fluminense, começava a entrava em colapso graças a uma série de

fatores, sendo substituído pela produção do oeste paulista. Os fazendeiros dessa região já usavam mão de

obra imigrante assalariada Em 1888, a princesa Isabel, filha de D. Pedro II, assinou a Lei Aurea, declarando

extinta a escravidão. O governo imperial contava diminuir a oposição, mas o resultado foi o inverso: a elite

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rural tradicional, única base de apoio do governo imperial, sentiu-se traída e apoiou a iniciativa oferecida

pelos militares – a instituição da República.

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Aula 06

História – 3º Ano Ensino Médio

A Primeira República do Brasil – Os Militares

Na segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira sofreu uma série de transformações. Nas

províncias ao sul do Rio de Janeiro, a mão de obra escrava foi substituída pelo trabalho dos imigrantes.

Capitalistas instalaram ferrovias para escoar as mercadorias até os portos. Em 1889, o Brasil possuía cerca

de 10 mil quilômetros de ferrovias. Enquanto isso crescia a insatisfação de vários grupos sociais em relação

à monarquia. Aos a Guerra do Paraguai, os militares exigiam um tratamento privilegiado, o que era recusado

pelo Estado imperial. Depois de maio de1888, até mesmo os donos de escravos estavam descontentes com a

monarquia, pois se sentiram lesados com o fim da escravidão. Havia ainda uma percepção entre as elites de

que a monarquia era incapaz de modernizar o país e, com isso, aproximar o Brasil de países considerados

“adiantados”, como a França e a Inglaterra o fim da monarquia representou, para muitos grupos, o início da

modernidade no Brasil. Um dos símbolos dessa modernização foi a remodelação das ruas e dos edifícios das

principais cidades brasileiras, ocorrida a partir do início do século XX.

Civis e Militares Derrubam a Monarquia

Em 1870, um grupo formado por políticos liberais dissidentes, jornalistas e intelectuais publicaram

no Rio de janeiro, no jornal A República. O Manifesto Republicano. Liderados por Quintino Bocaiúva e por

Saldanha Marinha, esses republicanos repudiam o poder centralizado do Império e defendiam a criação de

uma República Federativa. Em 1873, um grupo de cafeicultores do Oeste de São Paulo, insatisfeitos com a

monarquia, reuniram-se na chamada Convenção de Itu e fundou o Partido Republicano Paulista. Mas esses

vários grupos de republicanos não seguiam um projeto político único. Havia uma multiplicidade de projetos

visando à construção de um novo país.

Projetos de República

Durante a gestação da República destacaram-se três projetos políticos:

Liberalismo à Monarquia – defendia uma sociedade regulada pelo mercado, sem intervenção do

Estado na vida dos cidadãos. Era adotada principalmente pelas oligarquias rurais paulistas (PRP)

e mineiras.

Jacobinismo à francesa – prega a participação direta dos cidadãos no governo. Alguns setores

urbanos, como os profissionais liberais, os estudantes, os jornalistas e os professores, defendiam

o jacobinismo.

Positivismo – criado pelo francês Augusto Comte, defendia um Poder Executivo forte e um

Estado intervencionista. Grande parte dos militares brasileiros identificava-se com esse projeto.

Os republicanos civis, liderados pelo jornalista Quintino Bocaiúva, aproximaram-se do exército e

conseguiram convencer o veterano marechal Deodoro da Fonseca a derrubar D. Pedro II do

poder.

No dia 15 de novembro de 1889, as unidades militares marcharam pelas ruas do Rio de Janeiro e

Deodoro depôs o ministério sem nenhuma resistência. Dom Pedro II e sua família foram banidos e partiram

para a Europa na Madrugada do dia 17 de novembro. A população não participou do golpe, apenas assistiu à

movimentação de tropas.

A República da Espada

Os presidentes da República entre 1889 e 1894 eram militares. Por esse motivo, o período ficou

conhecido como República da Espada. Foi um período de transição marcado por conflitos entre os grupos

políticos que disputavam o poder. Nesse momento o exército garantiu o controle do país pelas oligarquias do

sudeste, principalmente os cafeicultores de São Paulo.

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O Encilhamento Deodoro escolheu Rui Barbosa para comandar o Ministério da Fazenda. O novo ministro adotou

medidas de estímulo à industrialização do país. O governo passou a conceder empréstimos generosos e

autorizou os bancos particulares a emitir papel-moeda. Esse dinheiro deveria financiar a criação de novas

empresas, principalmente indústrias. Outra fonte de dinheiro que deveria ser aplicada nas indústrias foi a

bolsa de valores, que teve um alto índice de vendas de ações. A grande quantidade de dinheiro em circulação

permitiu aos investidores comprar muitas ações. Os preços dispararam, atraindo mais investidores. Quando o

mercado percebeu que muitas empresas eram “fantasmas”, o crédito foi cortado e todos quiseram vender as

ações. Os preços despencaram e a maioria das novas empresas, fictícias e reais, faliu. O primeiro plano

econômico da República foi um fiasco. Rui Barbosa pediu demissão, deixando uma imensa crise econômica.

Constituição de 1891

A primeira Constituição republicana alterava a organização política nacional. A forma de governo

adotada era a Republicana presidencialista. Os poderes constituídos passaram a ser: Executivo, Legislativo e

Judiciário. O voto era limitado aos homens alfabetizados maiores de 21 anos. Não votavam: mulheres,

mendigos, soldados, membros de ordens religiosas, estrangeiros e analfabetos. As regras da nova

constituição afastavam o povo da vida política, principalmente os ex-escravos e os pobres em geral, tanto

brancos quanto negros, que raramente eram alfabetizados, além de todas as mulheres.

Governo Constitucional

Os deputados da Assembléia Constituinte elegeram Deodoro da Fonseca como presidente e o

Marechal Floriano Peixoto como vice. Dessa forma, Deodoro permanecia chefiando o governo, mas sob

novas condições: devia dividir o poder com o Congresso e o Judiciário. Essa nova situação não agradou ao

militar, que passou a agir de forma autoritária. Destituiu os governadores estaduais que não eram seus

aliados e entrou em conflito com a oposição no Congresso Nacional. No auge do conflito com os

republicanos civis, o presidente fechou o Congresso. Pressionado por uma rebelião da marinha, Deodoro da

Fonseca renunciou à presidência em novembro de 1891.o vice-presidente Floriano Peixoto, assumiu o

governo.

O Autoritarismo Florianista

Floriano Peixoto era partidário de um Estado forte que incentivasse a industrialização e a melhora

das condições de vida do povo. Em seu governo, os aluguéis forma congelados e praticou-se o co0ntrole de

preços dos produtos de primeira necessidade. Floriano manteve hábitos simples, evitando o luxo e o aparato

oficial da presidência da República. Com essas medidas, conquistou o apoio das camadas populares.

Contudo, setores das elites regionais não aceitavam o governo. Muitos republicanos entendiam que Floriano

deveria ter convocado novas eleições para substituir Deodoro. A firme decisão de Floriano de permanecer

no poder causava grande insatisfação nas correntes divergentes dos florianistas. A união dos monarquistas a

esses grupos descontentes gerou duas rebeliões armadas: Revolução Federalista e Revolta Armada que

tentaram derrubar o presidente, pondo em risco a jovem república.

A República Civil

Ao afastar-se da política, Floriano Peixoto deixou o caminho aberto para as oligarquias do Centro-

Sul, principalmente os cafeicultores, estabelecerem um mecanismo político capaz de garantir estabilidade

econômica e sua manutenção no poder. O paulista Prudente de Moraes, advogado ligado aos interesses dos

cafeicultores, foi o primeiro presidente civil do Brasil. As afinidades existentes entre o governador do Rio

Grande do Sul, Júlio de Castilhos; e os políticos paulistas permitiram que Prudente de Morais negociasse o

fim da Revolução Federalista em 1895. O problema mais sério dessa administração foi a Guerra de

Canudos.

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Campos Sales e seu Governo

Campos Sales, herdou uma enorme dívida externa do governo anterior, em um momento em que os

preços do café caia no mercado internacional. O governo brasileiro fez um empréstimo ao banco inglês

Rothschild e suspendeu o pagamento da dívida. A garantia, se não houvesse pagamento, era a renda da

alfândega do Rio de Janeiro. Essa negociação ficou conhecida como Dívida Flutuante, o que na realidade era

outro empréstimo para pagar o anterior. Para diminuir as despesas e aumentar a receita, o ministro da

Fazenda Joaquim Murtinho foi rigoroso: cortou as despesas do governo em infraestrutura, como construção

de estradas, escolas e hospitais, e aumentou os impostos. Durante seu governo, a economia foi saneada, mas

quem pagou a conta foi o povo: mais imposto e menos emprego.

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Aula 07

História – 3º Ano Ensino Médio

A Política dos Governadores na Primeira República

A Política dos Governadores

Após solucionar os problemas financeiros, a administração de Campos Sales criou alguns

mecanismos para garantir a permanência das oligarquias no poder, o que ficou conhecido como política dos

governadores. Por trinta anos, as oligarquias conseguiram anular todos os projetos políticos de oposição.

O Coronelismo e o Voto de Cabresto

A manipulação das eleições era uma das bases da política dos governadores. Os latifundiários ou

“coronéis”, denominação originada na Guerra Nacional, indicavam o seu candidato para qualquer cargo. O

“voto aberto” determinava o processo de controle, permitindo a formação do “curral eleitoral”, grupo de

eleitores que seguiam a indicação do chefe local. O coronel determinava os votos de seus comandados em

troca de favores, que iam de cargos públicos até presentes variados, como um par de botas, remédios ou uma

garrafa de cachaça. Essa disposição do eleitorado em vender seu voto contribuía para o “voto de cabresto”,

controlado pelos coronéis. Caso a influência política, os discursos ou os presentes não gerassem o resultado

esperado, apelava-se para a violência ou para a fraude, comum desde as eleições do Império.

O Poder dos Governadores

As oligarquias de cada estado se organizavam principalmente nas eleições para o Congresso

Nacional. Por meio dos coronéis e de seus currais eleitorais, eram eleitos os deputados e os senadores,

aliados políticos das oligarquias. Para evitar a vitória de candidatos de oposição, o governo de Campos Sales

criou a Comissão Verificadora de Poderes para apurar possíveis irregularidades do candidato eleito. Na

realidade, essa comissão encontrava irregularidades apenas entre os candidatos de oposição, que não

conseguiam assumir seus cargos. Essa prática era conhecida como degola, e permitia ao presidente da

República governar sem uma oposição significativa.

Nos Estados, os mesmos mecanismos possibilitavam aos governadores controlar os legislativos

estaduais. Havia, na verdade, um sistema de convivência pacífica entre o poder federal, controlado pelos

grandes estados, e os poderes estaduais, controlados pelas oligarquias locais. Como o presidente da

República não sofria oposição significativa na Câmara Federal e no Senado, as oligarquias estaduais, em

troca, ficavam livres para fazer o que bem entendessem dentro de seus estados. A política dos governadores

era essa cordial troca de favores entre o presidente da República e os governadores de estados aliados. O

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rompimento do equilíbrio entre União e estados ocorreu pela insatisfação crescente dos estados médios,

como o Rio grande do Sul, Bahia e Pernambuco, com a predominância de São Paulo e Minas Gerais.

A Política Café com Leite

São Paulo era o estado mais rico da federação, e Minas Gerais era o estado mais populoso e o

segundo mais rico. As oligarquias dos dois estados eram representadas pelo PRP (partido republicano

paulista) e pelo PRM (partido republicano mineiro), o PRM é que organizaram a máquina eleitoral para

eternizá-los no poder federal. A alternância de políticos de São Paulo e de Minas na presidência da

República ficou conhecida como política café com leite, integrante da política dos governadores.

Convênio de Taubaté

Em 1906, a economia baseada na exportação de café enfrentava grave crise. A produção de café

atingia 20 milhões de sacas, enquanto o consumo mundial era inferior a 16 milhões. O excesso de produção

fazia os preços despencarem. Os governadores dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro

reuniram-se no chamado Convênio de Taubaté, em Taubaté SP, e tomaram uma série de medidas para os

preços: realização de um empréstimo externo de 15 milhões de libras esterlinas; estabelecimento de um

preço mínimo para a saca de café; proibição de novas plantações de café e a criação de estoques regulares.

O convênio de Taubaté permitiu que as oligarquias cafeicultoras permanecessem no poder, fortalecendo a

política dos governadores.

A Campanha Civilista

Nas eleições de 1910, pela primeira vez, houve uma campanha eleitoral realmente disputada, com

comícios, discursos e bandas de música. O jurista baiano Rui Barbosa, apoiado pelo PRP, concorreu com o

marechal Hermes da Fonseca. Essa campanha eleitoral ficou conhecida como Civilista, devido à luta de Rui

Barbosa em nome da moralização das eleições e contra a volta dos militares ao poder. Houve fraudes

praticadas pelos partidários dos dois candidatos. No final das apurações, Hermes da Fonseca foi aclamado

vencedor. A espada voltava ao poder.

A campanha civilista materializou as dissidências entre oligarquias do Brasil. O domínio político de

São Paulo causava profunda insatisfação nas demais oligarquias do país. A política dos governadores, que

produzira uma relativa estabilidade no início da República, entrava em crise.

A Dissidência Militar

Os militares estavam muito insatisfeitos com o governo das oligarquias estaduais. Epitácio Pessoa,

eleito em 1919, manteve uma relação tensa com o meio militar, negando o aumento nos soldos e mandou

prender, por desacato, o ex- presidente Hermes da Fonseca. Em 1921, a eleição do mineiro Artur Bernardes

para a presidência foi considerada uma afronta pelo exército. No mesmo ano o Correio da Manhã publicou

cartas atribuídas a Bernardes em que Hermes da Fonseca era chamado de sargentão sem compostura, e nas

quais se afirmava que o Exército era formado por elementos Venais.

O Tenentismo e as Revoltas dos Tenentes

Durante o mandato de Artur Bernardes, jovens oficiais do Exército iniciaram o movimento

conhecido como Tenentismo. Eles definiram reformas como o voto secreto, a centralização do poder, o

ensino primário e o profissional obrigatório, etc. Em nome desses ideais, lideraram inúmeras rebeliões:

Revolta dos 18 do Forte de Copacabana – tentando evitar a posso de Artur Bernardes, em 1922,

foi planejada sublevação dos fortes do Rio de Janeiro. Só o forte de Copacabana aderiu à revolta.

Isolados e bombardeados, os soldados do forte se renderam, com a exceção de 17 homens, que

saíram e enfrentaram as tropas do governo. A eles juntou-se um civil apenas. Apenas dois

sobreviveram.

Revolução Paulista de 1924 – em julho de 1924, tropas de Exército sediadas em São Paulo se

rebelaram contra o governo federal. O plano era que fossem acompanhadas pelas tropas gaúchas,

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o que não ocorreu. Isolados na capital, as tropas rebeldes foram cercadas e bombardeadas pelas

forças fiéis ao governo. Abandonaram então a cidade para cessar o ataque que atingia os civis.

Coluna Prestes – as tropas que participaram da Revolução Paulista uniram-se aos militares

gaúchos rebelados, liderados pelo capitão Luis Carlos Prestes. Juntos, formaram a chamada

Coluna Prestes. O plano de Prestes era levar a revolução ao interior do país, conquistando o apoio

da população. Entre 1925 e 1927, a coluna percorreu cerca de 25 mil quilômetros em treze

estados do país, perseguidas por tropas legalistas. Sem apoio popular e reforços militares, acabou

refugiando-se na Bolívia, onde se dissolveu.

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Aula 08

História – 3º Ano Ensino Médio

Século XX no Brasil: A Semana de Arte Moderna de São Paulo 1922

Introdução

O começo do século XX no Brasil foi marcado por fatos que mudaram sua história. Dentre eles

destacam-se o início da produção industrial e a vinda de grande número de imigrantes de diversos países.

Como consequência o país assistiu a um expressivo crescimento econômico e a grandes transformações

sociais, resultantes do convívio com diferentes culturas.

Uma Nova Arte Brasileira

Nesse contexto de grandes mudanças sociais começou a se desenvolver uma nova arte brasileira, a

princípio na literatura. Escritores como Oswald de Andrade, Menoti Del Pichia, Mario de Andrade e outros

foram se conscientizando da época em que viviam. Para Oswald de Andrade, os artistas brasileiros deveriam

ter como ponto de partida as raízes nacionais. Assim, ele passou a expor nos jornais suas ideias renovadoras

e a participar de grupos de artistas unidos em torno de uma nova proposta para a arte brasileira.

Essa busca por novos caminhos ganhou força com a Semana de Arte Moderna, realizada em

fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. No evento foram apresentados concertos e

conferências, além de exposição de artistas plásticos.

A Busca pela Cultura Brasileira

Com a Semana de Arte Moderna, os modernistas buscaram outro sentido para o “nacional” na

cultura brasileira. Ela foi o ponto de partida para um questionamento das concepções culturais europeias que

orientavam a maioria da produção cultural do país. Em conformidade com a rapidez das transformações

materiais que se operavam na sociedade brasileira, cujos benefícios eram restritos, no entanto, às camadas

médias e setores da elite, o modernismo, situado historicamente, pretendia romper com o formalismo, a

retórica, o academicismo.

Ao mesmo tempo, buscou-se a aproximação com o poder, o regional, “descobriu” o folclore,

“redescobriu” o Brasil e procurou fixar o “nacional” numa perspectiva diferente do que havia sido tentado

até então, como, por exemplo, pelos românticos. Em fim, procurou, sobretudo em sua vertente mais

nacionalista, reelaborar o conceito de “cultura brasileira”. Ao fazê-lo, construiu, ainda, uma nova identidade

cultural do “brasileiro”. A obra Macunaíma, de Mario de Andrade, em essência, representaria esse “novo

homem”. Impossível em outros tempos, o anti-herói macunaímico, novo símbolo da brasilidade, afirma,

logo após nascer: “Ai, que preguiça”.

A busca do “nacional” na cultura brasileira ganhou um novo sentido e uma nova dimensão a partir

da década de 1930 e, mais particularmente, com a implantação da ditadura de Vargas, em 1937 - Estado

Novo. Conceituar a “cultura brasileira” de acordo com a perspectiva ditatorial da época passou a ser uma

preocupação ainda maior nesse período e nesse novo contexto político marcado pelo intervencionismo do

Estado, inclusive no plano cultural.

Autoridades políticas e mesmo intelectuais – a favor ou cooptados pelo regime – procuraram efetivar

um projeto nacionalista que incorporasse a classe trabalhadora urbana. Esta representava uma novidade do

cenário social, assim como o surgimento de uma sociedade de massa, reflexos da nova dinâmica industrial

do país. Na perspectiva de um regime autoritário e centralizador, as camadas populares urbanas deveriam

estar sob a tutela do Estado e para elas seria construída uma nova concepção de “cultura brasileira”.

Identidade Cultural Brasileira

A partir do Estado Novo o Brasil passou a se preocupar com a sua “identidade nacional”, pois antes

desse período as tentativas sempre sofreram resistência às tendências de uma nacionalização. Um exemplo

dessa preocupação foi a ampla distribuição de verbas às escolas de samba do Rio de Janeiro que se

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dispuseram a trocar a apologia à malandragem por temas patrióticos e de incentivo ao trabalho. Para difundir

as ideias nacionalistas entre os jovens estudantes, o Estado tornou obrigatória a disciplina de Educação

Moral e Cívica nas escolas.

Resistências às tentativas de disciplinarização na cultura também se manifestaram no período do

Estado Novo. Lançada em1908e com circulação até 1960, a revista Careta, que adotava um tom

humorístico, sempre encontrou meios para fazer críticas as Estado Novo, recorrendo, dentre outras formas, a

temas da política internacional para denunciar o que acontecia no país.

A Crescente Penetração Cultural Norte-americana

Nos dias atuais, se transformou em verdadeira avalanche, geralmente encoberta pela ideia de

globalização que tem acompanhado a internacionalização da economia. Um efeito, sem dúvida, nocivo,

desse processo em nossa cultura, é a preocupação que manifestamos com a imagem que os outros, em

especial quando estes outros fazem parte do chamado primeiro mundo, têm de nós mesmo. No início da

década de 1960, ganhou intensidade, entre intelectuais de esquerda, uma tendência que vinha se

manifestando desde os anos 40.

A Construção de uma Cultura Nacional e Popular

Buscou-se uma identidade, um rosto para o Brasil. O projeto passou também pela incorporação das

manifestações culturais populares ou, como se afirmava na época, resgatar o “nacional-popular”. Uma das

preocupações características dessa nova tendência era a de que a cultura deveria ser detonadora de uma

consciência social e de classe, visando, em última instância, a construção de uma utopia: um projeto global

de Brasil que transformasse as estruturas socieconô-micas. Assim, a noção de cultura (nacional-popular)

estava associada à ideia de revolução.

É nessa perspectiva que surgem, por exemplo, o Teatro de Arena, o Cinema Novo e o Centro Popular

de Cultura (CPC), este último vinculado à União Nacional dos Estudantes (UNE). O Teatro de Arena

encenou peças Arena contra Zumbi e Arena contra Tiradentes. O engajamento político e o compromisso

com os oprimidos e excluídos definiam o sentido maior do trabalho de seus integrantes.

O Cinema Novo, rompendo com os padrões estéticos estabelecidos pela indústria cinematográfica,

explorou uma temática em que os problemas sociais, em especial os do Nordeste e do mundo rural, eram

denunciados: Vidas Secas, baseado no romance de Graciliano Ramos, e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de

Glauber Rocha, são bons exemplos, por fim, o CPC, quase sempre integrado por universitários com

tendências de esquerda, buscou, por meio do teatro e principalmente da música, o engajamento político, a

popularização e a democratização dos meios de cultura.

A Busca do “Nacional-Popular”

Implicava a percepção de que era necessária uma vanguarda, formada por intelectuais

comprometidos com a mudança, e que trabalhasse, nos vários campos das manifestações artísticas e

culturais, para que o “homem do povo” adquirisse consciência de sua real dimensão na sociedade.

Considerado tradicionalmente alienado e submetido ao controle e à manipulação ideológica das elites, era

necessário “libertar” o homem do povo, sem o que a ideia de revolução estaria comprometida. Por esta

razão, muito do que se fez tinha um caráter quase didático.

O golpe de 1964, obviamente, representou um retrocesso nas tentativas que vinham sendo feitas de

se construir um “novo espelho” em que o país se refletisse. Peças teatrais engavetadas e censuradas, músicas

proibidas, teatros invadidos, rigoroso controle da imprensa, invasão de universidades, prisão de líderes

estudantis, teatrólogos, compositores. Este foi o saldo inicial da longa “noite de trevas” que se iniciou para

o país e para a produção cultural nacional. Trevas que, a partir de 13 de Dezembro de 1968, com a

implantação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), transformaram-se nos “anos de chumbo”.

Durante o regime militar, as autoridades responsáveis pelo controle das manifestações culturais

procuraram se contrapor ao conceito de “nacional-popular” na cultura brasileira, tão caro ás esquerdas,

definindo o que era para eles deveria ser o essencial na cultura produzida no país: a construção de uma ideia

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de unidade e “paz social”, uma vez que a autoproclamada “Revolução de 1964” havia livrado o país de

“ideologias exóticas” que o ameaçavam.

O que é o Brasil e sua Cultura Uma constante tentativa de interpretar o contexto do fim do regime militar e da “redemocratização”,

em 19885. Descobrir qual era a “cara” do Brasil foi uma preocupação que tomou conta de novos

compositores que surgiram no cenário da cultura brasileira a partir de então. Um ano antes, à época da

campanha das Direto Já, amplo movimento social que tomou conta das ruas das principais cidades

brasileiras exigindo eleições diretas para presidente, essa “nova cara” do Brasil e dos brasileiros – um povo,

em última instância, pretendia tomar o seu destino em suas mãos – começou a emergir.

Em nossos dias, o dilema sobre a presença do “nacional” em nossa cultura ainda é objeto de

controvérsias e debates. Passados quinhentos anos desde a chegada dos portugueses a um território que se

constituiu no Brasil, nossa identidade cultural talvez ainda não esteja claramente definida. No entanto, suas

marcas continuam sendo a enorme diversidade e uma grande criatividade.

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Aula 09

História – 3º Ano Ensino Médio

A Primeira Guerra Mundial

Introdução

O final do século XIX e a primeira década do século XX forma, marcadas, na Europa, por um clima

de confiança e de otimismo, reforçado por uma hegemonia em escala global que, naquele momento, ainda

não estava ameaçada. Os europeus ocidentais, sobretudo os grandes industriais, os banqueiros, a classe

política, os formadores de opinião, como os proprietários de jornais, dentre outros, tinham a sensação de que

a Europa teria o domínio em definitivo sobre as chamadas “áreas periféricas” – Ásia, África e América

Latina, esta última inserida no contexto do Imperialismo informal. Entretanto, sob a aparência de

tranquilidade e da crença no processo ilimitado e sem fronteiras, existiam grandes problemas, como os

choques entre nações resultantes da corrida imperialista iniciada em fins do século XIX.

As Origens da Primeira Guerra Mundial

As contradições geradas pelo Imperialismo, dentre outros fatores, levaram o mundo a um conflito de

grandes proporções: a “Grande Guerra” (1914-1918). Suas origens tem sido objeto de estudo por diversos

historiadores que chegaram a conclusões de maneira geral, a compreensão de diversos fatores:

A expansão imperialista – como o sistema capitalista evolui para o chamado capitalismo

monopolista, tornou-se necessário o domínio sobre vastas regiões da áfrica e da Ásia, devido

à necessidade crescente de matéria- prima industrial, novos mercados consumidores e áreas

para investimentos de excedentes de capital. Tal expansão acarretou, para os países

envolvidos na corrida imperialista, problemas de toda ordem, principalmente no que se refere

à divisão das áreas incorporadas e a serem incorporadas;

O rompimento do equilíbrio europeu – tal ruptura se deu com o advento da Alemanha como

potência a partir de sua unificação, na década de 1870. O crescimento econômico da

Alemanha foi surpreendente. Em pouco mais de duas décadas, ela superou a produção de aço

francesa e, no início do século XX, já podia abalar a posição hegemônica da Grã-Bretanha,

pioneira no processo de industrialização;

O nacionalismo – a questão do nacionalismo tem suas origens no século XIX e intensificou-

se perigosamente no início do século XX. As unificações da Alemanha e da Itália forma

exemplos significativos da emergência do nacionalismo na Europa que, de forma agressiva,

associava-se diretamente à ideia de vitórias militares. Essa corrente ideológica foi responsável

pelo fortalecimento do sentimento das pessoas em relação à Nação e ao Estado. Ela serviu

ainda para justificar pretensões expansionistas da maioria dos Estados europeus, atendendo,

dessa maneira, a objetivos econômicos e militares. Ao mesmo tempo, o nacionalismo foi uma

das bases para as lutas das minorias nacionais submetidas aos grandes impérios,

particularmente o Império Austro-húngaro, que mantinha sob seu domínio várias

nacionalidades, como eslovenos, croatas, bósnios, etc.

A corrida armamentista – o nacionalismo exaltado atendeu, em grande parte, aos interesses

da indústria de armas. Ele contribuiu para que houvesse, às véspera de 1914, uma corrida

armamentista. Acreditava-se que, se todas as potências estivessem muito bem armadas e

possuíssem poderosas forças militares, a guerra poderia ser evitada. Esse conceito ficou

conhecido como paz armada.

A política de Alianças – reflexo do clima de rivalidade e hostilidade que envolvia as grandes

potências europeias. Nesse contexto, surgiram dois blocos antagônicos: a Tríplice aliança,

formada por Alemanha, Áustria- Hungria e Itália; e a Tríplice Entente, constituída por Grã-

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Bretanha, França e Rússia. Na formação desses blocos, a questão do nacionalismo teve

grande importância.

As questões balcânicas – a região dos Bálcãs, às vésperas da Primeira Guerra, era formada

por Grécia, Albânia, Bulgária, Montenegro, Romênia e Sérvia, países que surgiram no

contexto da decadência do Império Turco-Otomano que dominou a região durante séculos.

Essa região era disputada por russos, alemães e austríacos que pretendiam ampliar suas

respectivas áreas de influências nos Bálcãs. Os interesses das grandes potências entravam em

choque com as pretensões autonomistas de pequenos países, como a Sérvia, por exemplo,

tornado a Península Balcânica potencialmente explosiva.

O incidente em Sarajevo – o assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco

Ferdinando, em junho de1914, projetou a Europa numa guerra de grandes proporções.o

incidente, ocorrido na cidade de Sarajevo, na Bósnia, é considerado a causa imediata do

início da Primeira Guerra.

A Evolução do Conflito

Diante da impossibilidade de se conciliar os antagonismos internacionais e de se encontrar soluções

diplomáticas para o incidente de Sarajevo, um mês após o assassinato de Ferdinando, o herdeiro, topas

austríacas invadiram a Sérvia, país que, segundo o governo austríaco, estava implicado no atentado. A

invasão deu início ao conflito que teve os seguintes desdobramentos:

Diante da invasão da Sérvia, o Império Russo, em nome do Pan-eslavismo, mobilizou suas

forças armadas a favor deste país.

No dia 1º de agosto de 1914, a Alemanha, aliada da Áustria-Hungria, declarava guerra a

Rússia e, dois dias depois, à França.

O Império turco-Otomano entrou na guerra ao lado dos Impérios Centrais (Alemanha e

Áustria-Hungria), devido a antigas disputas territoriais com a Rússia.

A Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha quando o exército alemão invadiu a Bélgica,

violando a neutralidade desse país. A seguir, a França também foi invadida.

O Japão, que tinha interesses em ocupar bases alemãs na China, declarou guerra à Alemanha.

A Itália, que no início do conflito havia declarado sua neutralidade, apesar de oficialmente

estar ligada à Tríplice Aliança, entrou na guerra, em 1915, ao lado dos aliados, denominação

dos países que participavam da guerra ao lado da Tríplice aliança.

Em 1917, os Estados Unidos entraram na guerra, em função do bombardeamento de navios

mercantes norte-americanos por submarinos alemães. Outra razão que justifica o envolvimento deste país no

conflito são as significativas dívidas de guerra contraída pelos aliados com o próprio governo norte-

americano. Nesse contexto, o governo brasileiro, sob presidência de Venceslau Brás, sensível aos apelos do

pan-americanismo – e também de vido ao fato de navios mercantes brasileiros que navegavam em águas sob

bloqueio alemão terem sido torpedeados –, declarou guerra às potencias centrais. A participação brasileira se

restringiu ao envio de uma missão médica, um grupo de aviadores e no apoio ao patrulhamento do Atlântico.

O Tratado De Versalhes

Em novembro de 1918, os alemães se renderam aos aliados. Alguns meses mais tarde, assinaram ao

Tratado de Versalhes, aceitando novos limites territoriais e pesadas penalidades. As cláusulas do tratado

foram elaboradas com o objetivo de impedir a reorganização militar da Alemanha. Uma das condições de

paz, imposta pelos aliados, pode ser resumida em poucas palavras: reparação por danos causados. Essa

condição de natureza econômica foi uma das primeiras a serem discutidas durante as negociações que

antecederam a redação final do tratado. A ideia de reparação por danos causados contribuiu poderosamente

para o fortalecimento do nacionalismo alemão no período pós-guerra e para a ideia de revanche.

A primeira Grande Guerra provocou profundas transformações de todas as ordens. De uma maneira

geral, os principais reflexos da Grande Guerra foram:

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Declínio dos ideais liberais e democráticos, percebido principalmente na Itália e na

Alemanha, países nos quais ocorreu a ascensão dos fascismos.

Fortalecimento das paixões e dos sentimentos do nacionalismo, em especial entre a população

alemã.

O aumento do desemprego nos países europeus, como decorrência, dentre outros fatores, da

desmobilização militar e da diminuição da produção bélica.

Progressivo declínio da Europa, continente que, desde a época das grandes navegações

(século XV e XVI), tornou-se hegemônico numa escala mundial.

Desaparecimento dos grandes impérios, em especial o Império alemão, o Império Austro-

Húngaro, o Império Russo Czarista e o Império Turco-Otomano. Com isso, a Alemanha e a

Rússia foram eliminadas temporariamente do currículo das grandes potências, enquanto a

Áustria perdeu definitivamente a condição de Estado de primeira grandeza, o mesmo

acontecendo com o Império Otomano. Por outro lado, verificou-se a supremacia da França e

da Grã-Bretanha.

Surgimento de novos estados independentes, como a Finlândia, a Estônia, a Letônia, a

Lituânia, a Polônia, a Tchecoslováquia, a Hungria e a Iugoslávia (Reino dos Servo-Croatas e

Eslovenos).

A ascensão dos Estados Unidos como grande potência mundial.

Desencadeamento da Revolução Socialista na Rússia (1917), em grande parte resultante das

derrotas ante o exército alemão e do aprofundamento dos problemas sociais no país.

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Aula 10

História – 3º Ano Ensino Médio

A Segunda Guerra Mundial – Parte I

Introdução

As crises do período entre guerras e a ascensão do nazifascismo – na década de 1930, o mundo se

encontrava mergulhado numa grave crise do capitalismo. Recessão, desemprego, colapso do comércio

internacional, falências, eram apenas alguns dos grandes problemas da economia mundial. As alternativas

encontradas pelas principais economias foram várias, entretanto o estabelecimento de barreiras

protecionistas foi uma solução – em maior ou menos escala – predominante, pois, antes de tudo, era

necessário preservar os respectivos mercados.

O período entre guerras foi, portanto, assinalado por uma grande crise do capitalismo em escala

global. Apenas a União Soviética, isolada desde 1922 não foi abalada pela crise. Mas este período também

foi mascado por uma grave crise de valores democráticos e da ideologia liberal. Foi nesse contexto que

emergiram os fascismos, cujos modelos clássicos foram implantados na Itália, a partir de 1922, por Benedito

Mussolini; e na Alemanha, a partir de 1933, sendo o que neste país a experiência fascista ficou conhecida

pela expressão nazismo, numa referência ao partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores alemães,

fundado após a Primeira Guerra e cuja principal liderança era Adolf Hitler.

Em resposta à crise de 1929, intensificou-se, em muitos países, o nacionalismo econômico, ao qual,

nos regimes totalitários, italiano e alemão, acrescentou-se a chamada “solução militarista” como mecanismo

de contenção do desemprego. O exemplo da Alemanha hitlerista é bastante sintomático: em 1933, quando os

nazistas assumiram o poder, havia mais de 6 milhões de desempregados: em 1939, às vésperas da Segunda

Guerra Mundial, o desemprego praticamente não existia mais. O favorecimento ao grande capital, o rápido

crescimento da indústria bélica, a repressão brutal ao movimento sindical alemão e o militarismo explicam a

drástica redução do desemprego no país.

Os Regimes Totalitários

Entre as décadas de 1920 e 1940, uma profunda crise econômica atingiu diferentes países do mundo, e

as potências hegemônicas passaram por transformações sociais. “Foi também nesse período que ganhou

vigor, em alguns setores sociais da Europa, a crença da ‘superioridade de uma raça’, transformada, na

Alemanha, em doutrina do Estado, que levou è discriminação e até mesmo ao extermínio dos considerados

“diferentes””.

Eram muitos os problemas socioeconômicos que, em proporções diferentes, atingiram o governo e a

sociedade dos países que se haviam envolvidos na Primeira Guerra Mundial. Havia a necessidade de

reconstruir obras públicas, restabelecer a produção industrial, criar em pregos e pagar dividas de guerra. A

crise contribuiu ainda para agravar os conflitos entre as classes sociais, tornando-os mais profundos e

explosivos.

A democracia liberal, em várias partes do mundo, mostrou-se incapaz de administrar os graves

problemas da época. Preocupadas, as elites (industriais, banqueiros, comerciantes) mostraram-se, então,

favoráveis à transformação de governos fortes e autoritários, capazes de impor disciplina social para

recompor a ordem capitalista.

Essas ideias políticas levaram ao recuo das democracias liberais, abrindo espaço para o avanço dos

regimes totalitários, nos quais o governo forte controlava os diversos setores da vida social: os meios de

comunicação, os órgãos de segurança, os sindicatos dos trabalhadores etc. Além disso, prega o fim da

democracia liberal e a eliminação das oposições por meio de uma propaganda agressiva ou até da violência

física. A linha política do Estado é determinada por um partido único.

Outro importante fator que contribuiu para o recuo do liberalismo e a crise das democracias liberais

foi o término das elites europeias em relação às lutas proletário-socialistas. Para se projetar dos movimentos

socialistas, grande parcela das elites apoiou a ascensão dos regimes totalitários que prometiam impor ordem

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e disciplina em toda a sociedade europeia. Entre os exemplos mais significativos de regimes totalitários

estão o fascismo na Itália, e o nazismo, na Alemanha.

O Fascismo na Itália

Após a Primeira Guerra Mundial, a Itália teve um saldo de 700 mil mortos, 500 mil feridos e uma

dívida contraída aos bancos dos Estados Unidos e Inglaterra. Além disso, a fome, a inflação e o desemprego

afetavam os operários e os camponeses, provocando grande agitação social. Foi nesse clima de instabilidade

que Benedito Mussolini (1883-1945) fundou, em 1921, o Partido Nacional Fascista. Mussolini afirmava ser

capaz de acabar com as greves operárias e com a agitação dos socialistas e de encaminhar a economia do

país ao crescimento. Muitos industriários acreditaram e financiaram a ascensão fascista em 1922.

O movimento fascista representava uma enérgica vontade de ação de cunho nacionalista dirigida

contra o liberalismo e o socialismo. Sendo também antiproletário, atraiu as classes médicas conservadoras e

a alta burguesia. Aos poucos, definiram-se as concepções fascistas sobre a sociedade-modelo a ser

construída. Nessa sociedade, o indivíduo deveria ser totalmente submisso às necessidades do Estado, que se

tornaria, então, uma entidade poderosa, capaz de controlar a vida social. “Tudo para o Estado, nada contra o

Estado, nada fora do Estado”.

O Governo de Mussolini

Na primeira fase de seu governo (1924-1924), Mussolini organizou milícias (tropas fascistas), que

promoveram uma série de atentados terroristas contra políticos de oposição. Duas são as características

dessa fase: o nacionalismo extremado e a construção de um Estado autoritário. Na segunda fase de seu

governo (1925-1939), Mussolini reunira poder suficiente para implantar a ditadura Fascista na Itália.

Tornou-se o chefe supremo do Estado. Com ações violentas, os fascistas reprimiam os protestos sociais dos

trabalhadores (fascismo x proletário).

O governo fascista empenhou-se em fazer uma educação pública, que visava impor sua doutrina e

disciplina a sociedade. O ideal básico da educação fascista era submeter o indivíduo à total obediência ao

Estado: “crer, obedecer e combater” era um dos lemas pedagógicos do fascismo. No plano externo,

Mussolini conduziu a expansão colonial italiana. Em maio de 1936, tropas italianas ocuparam Adis-Abebe,

capital da Etiópia.

Nazismo na Alemanha

Vencida na primeira Guerra Mundial e humilhada pelas duras condições impostas pelo Tratado de

Versalhes, a sociedade alemã enfrentou os anos 20, com imensas dificuldades econômicas e sociais. Mesmo

retomando o desenvolvimento industrial, a população do país ainda sofria com o elevado número de

desemprego e altas taxas de inflação. Diversos setores do operariado protestavam contra a exploração

capitalista em greves organizadas pelo Partido Comunista Alemão (KPD) e pelo Partido Social Democrata

(SPD). Temendo a expansão do socialismo, considerável parcela da elite política e econômica alemã passou

a apoiar o Partido Nazista – autoritário e antidemocrático, com seu líder Adolf Hitler.

A Ascensão de Hitler

Nascido em Braunau, na Áustria, Adolf Hitler (1889-1945) teve uma juventude marcada por magoas,

fracassos e dificuldades econômicas. Tentou ser artista, mas não foi aceito na Academia de Belas Artes em

Viena. Em 1914 alistou-se como voluntário no exército alemão, foi condecorado com a cruz de ferro depois

de ferido em combate. Em setembro de 1919, filhou-se ao Partido dos Trabalhadores Alemães, rebatizado

em 1920, como Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães – cujas letras iniciais formam siglas

NAZI, de onde deriva o termo nazismo. Em julho de 1921, Hitler tornou-se chefe absoluto do Partido

Nazista.

A Doutrina Nazista

Em 1923, os nazistas promoveram, sem sucesso, um golpe militar para derrubar o governo alemão.

Hitler foi condenado à prisão em Leandsberg, lá escreveu a primeira parte do livro Mein Kampf (Minha

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Vida), que se tornou a obra fundamental do nazismo. Nesse livro foram expostas as bases da doutrina

nazista – um conjunto de ideias autoritárias e pseudocientíficas. Entre as principais teses da doutrina nazista

estavam:

A superioridade da raça ariana: o povo alemão descendia de uma “raça superior” (os arianos)

e, por isso, tinha o direito de dominar as ditas “raças inferiores”, judeus, eslavos, etc.

O antissemitismo: os judeus (semitas) faziam parte de uma “raça inferior”, e poderiam

corromper e destruir a pureza alemã. Os casamentos entre judeus e alemães deveriam ser

proibidos, e os judeus, aniquilados.

O total fortalecimento do Estado: o indivíduo devia submeter-se totalmente à autoridade

soberana do Estado personificada na figura do Führer (chefe).

O expansionismo: o povo alemão tinha o direito de conquistar seu espaço vital, expandindo

militarmente seu território para reunir as comunidades alemãs em outros países e sustentar seu

desenvolvimento. As ideias nazistas foram difundidas de várias maneiras: os discursos de

Hitler para grandes concentrações de massa, nas publicações do partido e nos grandes

espetáculos criados para influenciar a opinião pública – destacam-se desfiles militares e um

conjunto de ritos pomposos, adotados para transmitir a ideia de ordem, disciplina e

organização.

A Educação Nazista

Na educação Hitler buscou impor os preceitos de sua obra, o Mein Kampf.

“O povo alemão, hoje destruído, morrendo, entregue sem defesa, aos pontapés do resto do mundo,

tem absoluta necessidade de força que a confiança em si proporciona. Todo o sistema educacional deve ter

como objetivo dar às crianças de nosso povo a certeza de que são absolutamente superiores aos outros

povos”.

Embora tivesse semelhanças com o fascismo italiano, o sistema educacional nazista foi mais

intensamente marcado pelo militarismo, pelo racismo e pelo antissemitismo. O governo passou a controlar

mais duramente o setor educacional, obrigando os professores a aprender e a ensinar os princípios

nazifascistas, destacando-se a crença na “superioridade da raça ariana”

Das Eleições a Ditadura

Em 1925, Von Hindenburg foi eleito presidente da Alemanha. No entanto, não conseguiu realizar a

estabilização política nem superar as dificuldades econômicas do país, que representava uma herança da

Primeira Guerra Mundial. Os nazistas fizeram duras críticas à ineficiência dos dirigentes alemães e, com

base principalmente nesse argumento, conquistaram a maior bancada do Parlamento alemão, 38% dos

deputados nas eleições de 1932.

A tumultuada situação política e social no final de 1932 foi favorável à ascensão de Hitler, que, com a

aprovação do presidente Hindenburg, tornou-se chanceler (chefe do governo alemão) em 30 de janeiro de

1933.

A Ditadura Nazista

Hitler empenhou-se em consolidar o poder alcançado pelo Partido Nazista, utilizando para isso a

violência e a propaganda enganosa junto à população, ou seja, uma propaganda mal feita, mas repetida mais

de cem vezes, torna-se verdadeira e eficaz, foi o caso da propaganda nazista em busca de uma unidade

político-social de dominação.

O uso da violência contra adversários políticos do nazismo ficava a cargo da Gestapo (policia secreta

do Estado), que tinha poderes de prender e executar os suspeitos de deslealdade contra o nazismo.

Esmagando as oposições, em dezembro de 1933, o Partido Nazista tornou-se o único partido do Estado

alemão. Com a morte de Hindenburg, em agosto de 1934, Hitler assume a presidência do país, tornando-se,

então, o chefe supremo da Alemanha.

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A Difusão do Totalitarismo

As doutrinas totalitárias de inspiração nazifascista tiveram repercussão em diversas partes do mundo.

Foi ocaso da Espanha, de Portugal e do Brasil.

A ditadura de Franco: na Espanha, o general Francisco Franco (1892-1975), apoiado pela elite

proprietária de terras e o alto clero e exército, reuniu forças para lutar contra a república espanhola,

instala em 1931. Nesse ano teve início a guerra civil espanhola que perdurou até 1939 com vitória

franquista. Franco impôs uma ditadura totalitária, sustentada por uma organização política

denominada Falange. Os falangistas passaram a exercer um controle autoritário sobre diversos

setores da vida social: educação, sindicalismo, meios de comunicação e órgãos de segurança. Esse

regime ditatorial, apesar de modificações sofridas nos anos seguintes, foi mantido até 1976. Somente

depois desse período é que foi restaurada, então, a monarquia parlamentar, voltando a existir

eleições democráticas, disputadas por partidos políticos.

Portugal e a ditadura de Salazar: em Portugal, António de Oliveira Salazar assumiu, em 1932, a

presidência do Conselho de Ministros e, a partir de então, conduziu a vida política do país como

chefe do governo até 1968. Salazar implantou uma ditadura autoritária, tendo como base jurídica a

Constituição de 1933. Acabando com a atividade dos diversos partidos políticos portugueses,

instituindo a União Nacional como partido único. O movimento dos trabalhadores foi severamente

controlado pelo Estado. A democracia política de Portugal desenvolveu-se somente após a morte de

Salazar, em 1970.

Brasil: o integralismo de Plínio Salgado: no Brasil, a ideologia nazifascista foi assimilada pela Ação

Integralista Brasileira fundada por Plínio Salgado em 1932. Com o apoio dos integralistas, Getúlio

Vargas implantou a ditadura do Estado Novo em 1937.

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Aula 11

História – 3º Ano Ensino Médio

A Segunda Guerra Mundial – Parte II

Introdução

De acordo com a historiografia marxista, a guerra pode ser entendida, também, como o resultado da

necessidade que algumas potências capitalistas sentiram de redefinir a ordem mundial e redividir mercados.

Nesse sentido, segundo o historiador Eric Hobsbawm, as duas guerras são indissociáveis no que diz respeito

às suas origens.

As Origens da Segunda Guerra Mundial

Durante a década de 1930, as potências capitalistas se organizaram em dois blocos antagônicos: de

um lado, as potências emergentes, fortemente militarizadas e dispostas a ampliar seus espaços na economia

mundial. Tal é o caso das potências do Eixo – Alemanha, Itália e Japão –, que buscavam, a qualquer preço, a

expansão de suas respectivas economias e áreas de influência. De outro, as potências Tradicionais e

Democráticas – Grã-Bretanha, França e Estados Unidos –, que pretendiam resguardar seus espaços

econômicos e suas colônias. Às confrontações econômicas, podem ser acrescentadas as de ordem político-

ideológico, que contribuíram para ampliar a divisão no bloco capitalista. Enquanto as potências do Eixo se

identificavam pelo caráter totalitário de seus respectivos regimes, Inglaterra, França e Estados Unidos

representariam os regimes democrático-liberais.

A necessidade de uma “nova partilha do mundo”, ou de uma redefinição da geopolítica mundial,

pode ser entendida como um reflexo dos acordos firmados pelos aliados quando da Conferência de

Versalhes, em 1919, notadamente no que diz respeito às áreas coloniais ou semicoloniais. Estas ficaram

sobcontrole quase total da Grã-Bretanha, França, Estados Unidos, Bélgica, Holanda, e, em menor escala,

Itália e Japão. Para a burguesia industrial e financiadora alemã, e também os conglomerados italianos e

japoneses, eram vitais rever essa situação. Assim, durante a década de 1930, as relações internacionais

tornaram-se cada vez mais tensas.

Política de Apaziguamento

Na medida em que a situação internacional tornou-se mais tensa ao longo da década de 1930, em

especial devido ao militarismo fascista (japonês, italiano e alemão), as potências ocidentais democráticas,

aparentemente para evitar um confronto de maiores proporções ou adiar uma confrontação inevitável,

“fecharam os olhos” às agressões do nazismo contra regiões e países vizinhos. Dentre os principais “lances”

da “política de apaziguamento” destacam-se:

A invasão da Manchúria (região pertencente a China) por tropas japonesas em 1931;

A invasão da Etiópia: em 1935, por tropas italianas;

A remilitarização da Renânia, em 1936, região fronteira com a França, Bélgica e Alemanha, e

considerada uma área desmilitarizada pelo Tratado de Versalhes;

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que envolveu um grupo de generais ligados ao líder

fascista Franco e o governo republicano de esquerda, legalmente constituído na Espanha.

Itália e Alemanha prontamente apoiaram os fascistas espanhóis. Apesar de algum apoio da

União Soviética ao governo republicano espanhol, França e Inglaterra não se envolveram e

assistiram à destruição de mais um regime democrático na Europa;

A anexação da Áustria, em 1938, pela Alemanha;

A anexação da região dos Sudetos, em 1938, região pertencente à Tchecoslováquia, mas

habitada por minoria alemã.

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O Início do Conflito e as Fases da Guerra

A guerra teve início no dia 1º de setembro de 1939, quando tropas alemãs cruzaram as fronteiras

polonesas. Pouco antes, a 23 de agosto de 1939, Hitler se precaveu contra a União Soviética, assinando um

pacto de não agressão “Pacto Nazi-Soviético”.

Na Ásia a guerra já avia começado, desde 1937, com a ofensiva japonesa sobre a China. As duas

guerras tornaram-se uma só em dezembro de 1941, quando os japoneses atacaram a base aeronaval

americana de Pearl Harbour no Havaí, no Pacífico. Ante a declaração de guerra dos Estados Unidos ao

Japão, Alemanha e Itália, aliadas dos japoneses no Eixo, declaram guerra aos norte americano.

A Segunda Guerra e Suas Fases

1ª fase: (de setembro de 1939 a junho de 1942) – Fase marcada pela expansão das potências do Eixo.

Em abril de 1940, os alemães ocuparam a Dinamarca e a Noruega. Holanda e Bélgica foram invadidas em

maio de 1940. No mesmo ano, a França foi invadida e dominada. No leste, a Iugoslávia e a Grécia foram

invadidas em Abril de 1941 e a União Soviética foi atacada. Os italianos avançaram sobre o Egito e os

alemães desembarcaram na África. Ocorreu o avanço japonês no pacifico e as Filipinas e as Índias

Holandesas foram dominadas em 1942.

2ª fase: (de junho de1942 a fevereiro de 1943) – Esse período foi marcado pela contenção das forças

do Eixo na Europa, África e Ásia. Iniciaram-se os ataques aéreos americanos e ingleses contra cidades

alemãs. Em 1943, soviéticos iniciaram o contra-ataque. As tropas aliadas rechaçaram alemães e italianos no

norte da África. Na Ásia , em junho de 1942, com a batalha de Midway, teve início a contraofensiva norte-

americana.

3ª fase: (de março de 1943 a setembro de 1945) – Nessa fase, ocorreu a derrota das forças do Eixo.

Em maio de 1943, o eixo perdeu o controle do Mar Mediterrâneo. No dia 6 de junho de 1944, Dia D, os

aliados desembarcaram na Normandia, litoral norte da França. Paris foi libertada em agosto, e os aliados

atravessaram a fronteira alemã no início de 1945 e se uniram aos soviéticos na ocupação de Berlim, capital

do III Reich. Os alemães aceitaram a rendição incondicional em maio de 1945. Os japoneses se renderam

em agosto de 1945 após o lançamento das bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima (dia 6/09) e

Nagasaki (dia 9/09/1945). A rendição japonesa foi assinada em setembro.

As Conferências dos Países Vencedores da Guerra

A questão da redefinição do papel que caberia às grandes potências no pós-guerra foi discutida

enquanto o próprio conflito se desenrolava e a vitória dos aliados já era dada como certa nos primeiros

meses de 1945. Nesse contexto, realizaram-se duas importantes conferências que reuniram os líderes das três

potências vitoriosas: Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética.

Conferência de Yalta (Península da Crimeia, na Ucrânia, na época território soviético – em 4

e 11 de fevereiro de 1945): Roosevelt, Churchill e Stálin elaboraram planos para o avanço

dos exércitos aliados e discutiram, entre vários outros assuntos, a redefinição das fronteiras

da Europa. Definiu-se que a Alemanha seria dividida em quatro zonas de ocupação (Estados

Unidos, Grã-Bretanha, União Soviética e França). Também foram aprovados os planos para

a Organização das Naçoes Unidas.

Conferência de Potsdam (Alemanha – entre 17 de junho e 2 de agosto de 1945): Estados

Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética definiram como seria a ocupação da Alemanha (a

divisão do país e da sua capital – Berlim – em quatro zonas bem definidas) e quais princípios

deveriam nortear essa ocupação (desmilitarização, desnazificação e democratização). O

acordo de Potsdam foi altamente favorável à União Soviética, pois esta conseguiu liberdade

de ação no Leste Europeu.

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As Principais Consequências da Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Guerra, foram mobilizados cerca de 110 milhões de soldados pelos 72 países

envolvidos no conflito. Esses países gastaram um trilhão e meio de dólares, aproximadamente, e o número

de mortos ultrapassou a casa dos 50 milhões, enquanto o número de feridos chegou a 35 milhões. Dos 50

milhões de mortos, quase 6 milhões eram judeus, vítimas não apenas do conflito em si mas também, e

principalmente, do extermínio sistemática colocado em prática pelos nazistas.

Em 1945, com o termino da guerra, o Holocausto, uma tragédia sem paralelo na história da

humanidade, veio à tona. Com a libertação dos campos de concentração no Leste Europeu pelo Exército

Vermelho, o mundo tomou conhecimento de que, na verdade, tratava-se de campos de extermínio nos quais

milhões de prisioneiros judeus foram eliminados. Os massacres de prisioneiros eslavos, ciganos, comunistas

e judeus se multiplicaram à medida que a Alemanha nazista procurou construir sua hegemonia no continente

europeu. Dentre as principais consequências da guerra destacam-se:

Redefinição da ordem mundial em favor das superpotências: Estados Unidos, que

confirmaram a sua hegemonia no bloco capitalista, e União soviética, que passou a exercer

uma forte influencia na Europa Oriental;

Declínio da influência política, econômica e mesmo cultural da Europa;

Descolonização afro-asiática;

Expansão do bloco de países socialistas,

Intensificação do intervencionismo estatal na economia;

Criação da Organização das Nações Unidas (ONU);

Início de um conflito político-ideológico entre as duas grandes potências (Estado Unidos e

União Soviética), conhecido como Guerra Fria e que assinalou o começo de um sistema

bipolar de poder.

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Aula 12

História – 3º Ano Ensino Médio

Revolução de 1930: A Era Vargas

Introdução

É preciso destacar, num primeiro momento, que as lideranças civis e militares que estiveram à frente

do movimento político de 1930 é que o denominaram de “Revolução de 1930”. Essa expressão, embora

inadequada, foi consagrada a partir da construção de uma memória oficial sobre os acontecimentos daquele

ano que levaram ao poder um representante da oligarquia rio-grandense, Getúlio Vargas. Afinal, não

ocorreram mudanças revolucionárias no contexto do movimento de 1930.em linhas gerais, podem ser

apontadas as seguintes causas para a Revolução de 1930:

A crescente inquietação política e militar da década de 1920 que se traduziu nas ações

tenentistas;

Os interesses da burguesia industrial em redefinir o papel do Estado com o objetivo de

impulsionar a industrialização e estabelecer um controle mais rígido sobre o proletariado;

A insatisfação social generalizada, em particular da classe média, como os “os políticos

corroídos” da República Oligárquica;

A crise de 29, que abalou a economia mundial, diminuiu drasticamente o volume do comércio

internacional, reduziu os preços do café que o Brasil exportava e levou muitos cafeicultores à

falência;

As eleições presidenciais de 1930, quando ocorreu uma ruptura entre as oligarquias

tradicionais de São Paulo e Minas Gerais, pois as oligarquias situacionistas, isto é,

dominantes, com São Paulo à frente lançaram o paulista Júlio Prestes como candidato à

presidência, rompendo uma alternância que se estabelecia que o presidente para o mandato de

1930-1934 deveria ser um mineiro. Sentindo-se desprestigiada, a oligarquia mineira aliou-se

às oligarquias gaúcha e paraibana, criando uma frente de oposição denominada Aliança

Liberal. Esta lançou Getúlio Vargas à presidência, tendo como vice o paraibano João Pessoa,

e procurou conquistar o apoio da classe média, dos tenentes e até mesmo do operariado, com

a promessa de aprovação de leis trabalhistas.

A Revolução de 1930 assinalou o colapso da República oligárquico-elitista e a redefinição do papel

do Estado brasileiro, que assumiu a função de um grande impulsionador de um projeto industrial e

“modernização”, ao mesmo tempo e, que se fortaleceram os mecanismos de controle sobre a classe

trabalhadora. Iniciou-se o que convencionou denominar de “Era Vargas” e que se estendeu de 1930 a 1945,

período marcadamente centralizador e de tendência mais autoritária. Esse período, considerando-se as

transformações político-institucional, é dividido em três momentos:

Governo Provisório – 1930-1934;

Governo Constitucional – 1934-1937;

Governo Ditatorial – 1937-1945.

A Era Vargas

Com a vitória do movimento político de 1930, Getúlio Vargas (1882-1945) assumiu o poder,

primeiramente, como chefe de um governo provisório. “Em nome dos altos interesses da Revolução”,

destituiu os presidentes estaduais, exceto o de Minas Gerais, nomeado interventor, grande parte deles

antigos tenentes que haviam apoiado a Revolução. Também dissolveu o congresso Nacional, as Assembleias

Legislativas e as Câmaras Municipais, além de prometer eleições para uma Assembleia Constituinte,

afastando assim as antigas oligarquias agrário-estaduais desses órgãos.

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O centralismo e o autoritarismo seriam características do longo governo Vargas, ao mesmo tempo

em que a crença nas virtudes históricas do liberalismo ficava abalada. Paralelamente à implantação de uma

política econômica apoiada na intervenção estatal, foram criadas condições para uma rápida industrialização

do país. Até 1930, havia 14727 indústrias no Brasil e, entre 1930 e 1940, foram criadas 34691, totalizando

49418, segundo o Censo Industrial realizado em setembro de 1940. Dentre as medidas que possibilitaram a

industrialização, destacaram-se:

Limitação às importações por meio de altas tarifas alfandegárias;

Amplas facilidades de créditos aos industriais concedidos pelo Banco do Brasil;

Regulamentação das relações entre capital e trabalho por meio do corporativismo, segundo o

qual cabia ao Estado controlar e fiscalizar empregadores e empregados, buscando a

harmonia e cooperação entre a burguesia industrial e o proletariado. Ao mesmo tempo,

programou-se uma legislação trabalhista que concedeu, “de cima para baixo”, as leis sociais

que garantiriam a redução da jornada de trabalho, férias remuneradas, direto de

aposentadoria e, no início da década de 1940, o salário mínimo;

Atuação do poder político no processo de industrialização com a criação de empresas estatais

em setores considerados estratégicos à soberania nacional, como extração mineral,

siderurgia, geração de energia, etc. o nacionalismo econômico foi outra marca da Era

Vargas.

Durante o governo Provisório (1930-1934), verificou-se a criação de novos ministérios como

Educação e Saúde Pública, Trabalho, Indústria e Comércio. A aprovação do Código Eleitoral de 1932, que

estabeleceu o voto secreto e obrigatório, o voto feminino e a Justiça Eleitoral, e a convocação de uma

Assembleia Constituinte que, em 1933, elaborou a nova Constituição do Brasil. Nesse período, ocorreu a

Revolução Constitucionalista, em São Paulo.

O Governo Constitucional (1934-1937)

No período do Governo Constitucional, foi promulgada a Constituição de 1934, de tendência

centralizadora, que incorporou a legislação trabalhista elaborada até então. A Constituição estabeleceu que o

presidente para o mandato 1934-1938 seria eleito de forma indireta pela Assembleia Constituinte, sem

possibilidade de reeleição. Nesse contexto, Vargas manteve-se no poder, iniciando a fase constitucional de

seu governo. Nessa época, também se ampliou o clima de confrontação ideológica entre a direita,

representada principalmente pela Ação Integralista Brasileira, e uma grande frente de esquerda,

representada pela Aliança Nacional Libertadora.

O Governo Ditatorial (1937-1945)

Sob o pretexto de que um perigoso plano comunista (Plano Cohen) – forjado pelo próprio governo

com o apoio dos integralistas – havia sido descoberto, Getúlio Vargas s seus aliados, dentre os quais o alto

comando das Forças Armadas, suspendeu as eleições presidenciais marcadas para o início de 1938,

dissolveu o Congresso Nacional, destituiu os governadores e outorgou uma nova Constituição (1937).

Assim, no dia 10 de novembro de 1937, Vargas consolidou um projeto de Estado autoritário e tornou-se

ditador, inaugurando o “Estado Novo” que implementou as seguintes medidas:

Controle dos Estados por meio da nomeação de interventores em substituição aos

governadores até então eleitos;

Direito do Estado de estabelecer a censura prévia, limitar as manifestações públicas, proibir o

funcionamento e fechar sindicatos e autorizar prisões e processos judiciais em tribunais

especiais;

Proibição de greve e sindicalismo oficial, segundo o qual apenas os sindicatos reconhecidos

pelo governo podiam representar os trabalhadores;

Controle do Estado sobre a educação e manifestações culturais;

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Promulgação da Consolidação da Leis Trabalhistas, em 1943, documento inspirado na Carta

Del Lavoro (Carta do Trabalho), de 1926, que institucionalizou o corporativismo na Itália

fascista. A CLT, em suas linhas básicas, ainda rege as relações entre padrões e empregados

no Brasil;

Criação de inúmeras empresas estatais, destacando-se a Companhia Siderúrgica Nacional, em

Volta Redonda, Rio de Janeiro, em 1941, e a Companhia Vale do Rio Doce, Minas Gerais em

1942.

Participação na Segunda Guerra Mundial, 1939-1945 ao lado dos aliados contra as potências

do Eixo, a partir de 1942.

Criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) com o objetivo de fiscalizar e

controlar os meio de comunicação e a produção cultural, estabelecendo um rigoroso controle

ideológico, além de elaborar a propaganda oficial do regime e contribuir para a construção de

uma imagem idealizada de Vargas, apresentando como o “pai dos trabalhadores” e” chefe

máximo da nação”. Construído à época do Estado Novo pela máquina de propaganda do DIP,

o mito do getulismo encontrou grande aceitação no imaginário das populações urbanas.

O envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos aliados, contra os governos

fascistas de Hitler e Mussolini, a partir de agosto de 1942, gerou uma contradição na política interna –

afinal, o Brasil era um regime autoritário que se posicionou ao lado daqueles que lutavam contra o

nazifascismo. A derrota dos governos fascistas em 1945 fez com que as pressões internas se ampliassem.

A vitória dos aliados, o clima de euforia pela derrota dos regimes autoritários, as pressões

internacionais e o ressurgimento de uma opinião pública interna tornaram a ditadura de Vargas

insustentável. Assim em 1945, tornou-se evidente, mesmo para as lideranças políticas do Estado Novo, a

necessidade de se fazer uma “transição democrática”, mantendo-se, se possível, os mesmos grupos que

detinham o poder, naturalmente em outro contexto.

Foi nesse contexto que foram tomadas as seguintes medidas:

Anistia e liberação de presos políticos, para retornarem ao Brasil;

Convocação de uma nova Assembleia Constituinte para final de 1945;

Suspensão da censura e permissão para reorganização partidária;

Reorganização de partidos políticos como: Partido Social Democrático (PSD), União

Democrático Nacional (UDN), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Comunista do

Brasil (PCB).

Com o apoio de Vargas os partidos políticos foram criados e legitimados pelo povo, uma jogada

política de Vargas para dar continuidade ao seu segundo mandato, ou seja, Vargas se aproxima ao máximo

dos trabalhadores, sindicatos e sociedade em geral visando à reeleição. Assim surge a figura do “pai dos

pobres”. Com isso em 2 de dezembro de 1945, o PTB e o PCB lança a candidatura de Getúlio Vargas

(movimento queremista).

Temendo o continuísmo de Vargas, uma vez que a aliança PTB-PCB defendia uma constituinte com

Vargas, a oposição, aproximando-se dos militares, articulou-se para afastá-lo do poder, o que ocorreu em 29

de outubro de 1945. Novas articulações políticas foram feitas e, uma vez realizada as eleições, estas

apontaram a vitória do general Dutra, ex-ministro de Vargas, apoiado pela coligação PSD-PTB.

O Governo Populista de Vargas

A expressão “populismo” se refere a um fenômeno político-social característico das sociedades

latino-americanas no contexto de transição de um mundo agrário, rural e arcaico para um mundo urbano,

industrial e moderno. Nesse processo, emergiram lideranças políticas carismáticas que apoiadas no

trabalhismo, foram capazes de sensibilizar as massas que se concentravam nas grandes cidades, valendo-se

de um discurso contrário às velhas oligarquias e ao capitalismo internacional. Ao mesmo tempo, essas

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mesmas massas tiveram algumas de suas reivindicações, como a legislação social, atendidas, o que

fortaleceu os vínculos entre líderes populistas e os trabalhadores urbanos.

O fenômeno do populismo era reforçado por meio de grandes concentrações populares como no

feriado de 1º de maio em que Vargas discursava em estádios de futebol (São Januário, no Rio de Janeiro, ou

Pacaembu, em São Paulo). O período populista na República brasileira estendeu-se até 1964, quando um

golpe civil-militar que levou à implantação de um regime ditatorial, que acabou com essa experiência

democrática no Brasil. O governo Dutra favoreceu a forte presença do capital norte-americano, ampla

facilidade de importação que consolidaram o modelo de desenvolvimento capitalista dependente.

Candidatando-se pela coligação PSD-PTB, Vargas foi eleito para presidente no período de 1951-

1956. Em sua campanha, o forte apelo do líder populista entre as massas trabalhadoras garantiu sua vitória.

O segundo governo Vargas apresentou as seguintes características;

Forte intervenção do Estado na economia, inclusive com a criação de novas empresas estatais,

como a Petrobras, em 1953, estabelecendo o monopólio estatal sobre a produção e o refino do

petróleo, o que contrariava os interesses das multinacionais petrolíferas, sobretudo norte-

americana;

O nacionalismo econômico, evidenciado pela aprovação de uma lei de Remessa de Lucros

limitados a um máximo de 10% os lucros que empresas estrangeiras estabelecidas no Brasil

poderiam enviar para o exterior. O restante deveria ser reinvestido no próprio país;

Reforço do trabalhismo, com uma maior aproximação entre o governo e os sindicatos,

garantindo, por uma questão de “justiça social”, um reajuste em 1954 de 100% do salário

mínimo, muna época em que a inflação anual era de aproximadamente 50%essa proposta

apresentada pelo ministro do Trabalho João Goulart (1918-1976) gerou fortes reações dos

setores mais conservadores que tinham vínculos com as Forças Armadas, desconfiados do

projeto nacionalista, trabalhista e populista do presidente.

Os setores oposicionistas, favoráveis ao capital estrangeiro e ao liberalismo econômico,

movimentaram-se contra o presidente. Particularmente violentos eram os ataques dirigidos pelo jornalista e

líder da UDN, Carlos Lacerda. Antes das eleições, teria afirmado: “Vargas não deve concorrer às eleições; e,

se concorrer, não deve ganhar; e, se ganhar, não deve tomar posse; e, se tomar posse, não deve completar o

mandato”.

Em agosto de 1954, a imprensa notificou, com grande ênfase, o “Crime da Rua Toneleros” na cidade

do Rio de janeiro em Copacabana, sendo esse um atentado ao jornalista Carlos Lacerda enfrente a sua

residência, onde levou um tiro no pé, e morrendo o major Rubens Vaz que o acompanhava no momento.

Nesse contexto, a oposição exigia a renuncia de Vargas. Recusando-se a renunciar e vendo crescer a

perspectiva de um golpe militar para derrubá-lo, o presidente, num gesto dramático e que comoveu a nação,

suicidou-se na manhã do dia 24 de agosto de 1954.

Após a morte de Vargas, o país passou por um momento de grande tensão política. Em apenas 16

meses, três presidentes ocuparam o cargo. Por fim, a vitória da aliança PED-PTB garantiu a posse de

Juscelino Kubitschek em 1956. O governo, apoiado no desenvolvimentismo, tinha como objetivo

modernizar o país com a integração ao capitalismo internacional, principalmente dos EUA.

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Aula 13

História – 3º Ano Ensino Médio

O Período Democrático até o Golpe de 1964

Introdução

O período democrático do Brasil se desenvolve quando da consolidação da Constituição de 1946,

onde possibilitou eleições para presidente, coisa que no contexto da República Velha não acontecia, pois as

oligarquias representava a maioria dos brasileiros. Com o processo democrático as possibilidades de acerto

eram mais vantajosas, pois dava a oportunidade a outro político para desenvolverem seus projetos de

governo. Assim, entre erros e acertos foi se forjando uma democracia que perdurou até 1964. A partir desse

momento, a sociedade brasileira teve um longo período de anos de chumbo com o Regime Militar no Brasil.

A Eleição de Dutra (1945)

Dutra não entusiasmava ninguém e chegou-se a pensar e substituir sua candidatura por outro nome

de maior impacto para o eleitor. No dia 28 de novembro, Getúlio Vargas faz uma declaração pública de

apoio à candidatura de Dutra, embora ressalvando que ficaria ao lado do povo contra o presidente, se ele não

cumprisse as promessas de candidato. A vitória de Dutra se explica pelo apoio de Vargas. Não foi uma

vitória do atraso contra a modernidade, ou campo contra a cidade. Dutra venceu bem nos três grandes

Estados – Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Pessoalmente, Getúlio Vargas foi um dos grandes vencedores das eleições de 1945 e isso não apenas

pelo seu papel na vitória de Dutra. Beneficiando-se da lei eleitoral, concorreu ao mesmo tempo ao Senado

em cinco estados e a deputado federal em nove. Elegeu-se senador pelo Rio Grande do Sul e por São Paulo e

deputado por sete Estados, engrossando a legenda do PSD e do PDT. Acabou por escolher a investidura de

senador pelo PSD do Rio Grande do Sul.

A Constituição de 1946

No fim de Janeiro de 1946, Dutra tomou posse e começaram os trabalhos da Constituinte. Em

setembro, era promulgada a nova Constituição brasileira. A Constituição se afastava da Carta de 1937,

optando pelo figurino liberal-democrático. Em alguns pontos, entretanto, abria caminho a comunidade do

modelo corporativo. O Brasil foi definido como uma República Federativa, estabelecendo-se as atribuições

da União, Estado e municípios. Fixaram-se também as atribuições dos três poderes; Executivo, o Legislativo

e o Judiciário. O poder executivo seria exercido pelo presidente da República, eleito por voto direto e

secreto para um período de cinco anos.

O Governo Dutra

A partir de 1947, o governo incorporou um tímido intervencionismo. O controle do câmbio e a

regulamentação das importações passaram a estimular a economia brasileira, que apresentou mais uma vez

crescimento acelerado. O café passou por súbita valorização no mercado internacional, em 1949, fazendo

com que o país, já no ano seguinte, registrasse um saldo favorável na balança comercial da ordem de 100

milhões de dólares, o primeiro saldo positivo desde 1947.

Plano Salte

Lançado em 1947, que constituía uma tentativa de coordenar os gastos do governo. Embora jamais

tivesse sido inteiramente adotado, demonstrava a nova orientação governamental. Contudo, numa análise

geral, embora a economia tivesse crescido 6% ao ano, o governo não conseguia conter o desperdício das

reservas cambiais e a expansão da divida externa não permitia ser um sucesso de governo.

O Conservadorismo

A força demonstrada pelo Partido Comunista nas eleições de 1945 assustava as elites, e Dutra,

representando-as, logo reagiu. Em maio de 1947, o registro do PCB foi cassado retornado à ilegalidade pelo

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pretexto de não ser brasileiro, mas representante da União Soviética. Dutra também iniciou intervenções nos

sindicatos, chegando, ao final do seu governo, a contabilizar cerca de 200 intervenções.

Em 1950, depois de cinco anos de governo liberal não tinha sido suficientes para gerar lideranças

nacionais. Assim, o PSD, com orientação do presidente Dutra lança a candidatura de Cristiano Machado. A

UDN, sem opções, resolveu insistir com Eduardo Gomes. Enquanto isso, Getúlio Vargas planejava seu

retorno. Eleito senador em 1945 pelo RS, habilidosamente, buscou fortalecer sua candidatura aproximando-

se de setores do PSD e oferecendo cargos no seu futuro governo a alguns lideres do partido.

A estratégia era clara: por meio do PTB, o eterno populista, falava à população urbana e buscava

seus votos; e, e por meio doa “caciques” do PSD, mobilizava a forte máquina desse partido nas áreas rurais

ou menos urbanizado. Vargas procura Ademar de Barros que também era candidato pelo PSD, e pediu apoio

em troca de apoio para as eleições de 1955. O acordo foi selado e Vargas partiu para as eleições sustentadas

por um forte esquema político. Obtendo a vitória com 48% dos votos, deixou longe Eduardo Gomes, com

29% dos votos, Cristiano Machado, com 21%.

Liberalismo X Nacionalismo: Projetos para o desenvolvimento

A questão que se colocava após o governo Dutra era qual a melhor forma de alcançar o

desenvolvimento econômico nacional, aparente e irremediavelmente ligado à industrialização. Nesse

sentido, dois projetos se opunham, no início dos anos 50, o Liberalismo e o Nacionalismo.

O projeto Liberal: países como Brasil, em desenvolvimento industrial e que, por isso, com escassas

reservas de capital, não teriam condições de promover o desenvolvimento por conta própria, sendo

necessário recorrer ao capital internacional. Como este estava disponível em grande volume, sobretudo nos

Estados Unidos, mas logo também na Europa e no Japão, garantir-se-ia um desenvolvimento acelerado.

A penetração do capital estrangeiro seria feita por empréstimos ou aplicação direta de empresas

multinacionais, com a correspondente transferência de tecnologia. O aumento da dívida externa era

considerado um problema secundário já que o crescimento econômico era uma questão de tempo, e

superaria a dívida externa.

O Projeto Nacionalista: ao contrário, inspirando-se nos princípios da CEPAL (Comissão Econômica

para a América Latina), rejeitava a abertura da economia ao capital estrangeiro por considerá-lo sujeito às

limitações. Jamais um país do centro da economia mundial capitalista aceitaria transferir recursos para um

país periférico, como o Brasil, a ponto de transformá-lo em um concorrente. Assim, do ponto de vista do

capital internacional, existiriam sérias restrições aos investimentos. Além disso, o endividamento externo era

desaconselhável, e acreditar que as multinacionais transfeririam tecnologia de ponta para o país seria

ingenuidade.

A alternativa defendida pelos nacionalistas era recorrer ao capital nacional para promover o

desenvolvimento econômico autônomo do país. Uma vez que esse capital realmente não existia em grande

volume nas mãos da iniciativa privada – também pouco interesse tinha em investimentos que não resultasse

em retorno lucrativo imediato –, abria-se espaço para a atuação do Estado. A estrutura governamental tinha

condições de moralizá-lo, garantindo a independência econômica do país e a possibilidade de adotar

medidas de caráter social, isto é, de combate às desigualdades.

A República Populista (1946-1964)

Com o populismo em alta em toda a América Latina, a vitória de Getúlio Vargas para presidente do

Brasil, desencadeou uma série de desencontros na política nacional. A forte crítica de Carlos Lacerda ao

governo Vargas, levou a acontecimentos que marcaram a história nacional, colocando Vargas em um

patamar histórico para ser lembrado pelo povo brasileiro. Com a morte de Vargas, o Brasil passou por um

momento de instabilidade político-social que teve repercussão em todo o mundo. A virada dessa condição

vira com Juscelino Kubitschek com seu plano de modernização do Brasil.

O Governo JK

“50 anos em 5” era o lema do governo JK. Foi elaborado então um programa de desenvolvimento

denominado Plano de Metas, que pretendia acelerara industrialização do país com o afluxo de capital

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estrangeiro. Apolítica econômica do governo centrou-se no tripé “indústria, transporte e energia”,

possibilitando a expansão automobilística e da malha rodoviária, consideradas prioridades das metas

desenvolvimentistas do presidente. O que não foi efetivamente resolvido foi a questão social como um todo.

O governo JK foi marcado também por uma onda de otimismo que tomou conta da sociedade

brasileira no contexto da modernização. Foi nessa época que surgiu a “bossa nova”, o “Cinema Novo”, a

Seleção Brasileira de futebol ganhou a sua primeira Copa do Mundo, a tenista Maria Ester Bueno sagrou-se

campeã de Wimbledon, o pugilista Éder Jofre ganhou o primeiro título mundial de Box para o país, parecia

que o Brasil tinha superado seu complexo de vira-la, expressão criada pelo jornalista e escritor Nelson

Rodrigues em função da derrota brasileira na final da copa de 1950, em pleno Maracanã.

O Governo de Jânio Quadros

A pesar da euforia e de otimismo que marcou os anos de JK, Juscelino não conseguiu eleger o

candidato que teve seu apoio na sucessão presidencial. O candidato vitorioso foi Jânio Quadros, apoiado por

uma coligação de partidos, na qual se destacava a UDN. Tendo na classe média seu maior reduto eleitoral,

devido à sua campanha de modernização administrativa, recebeu a maior votação até então dada a um

candidato: quase seis milhões de votos.

Seu curto governo, de apenas sete meses, caracterizou-se por forte oposição interna, que se ampliou à

medida que o presidente tentou implantar uma política externa independente, com o restabelecimento das

relações com a /união Soviética e com a China, além da condecoração a Ernesto “Che” Guevara, herói da

Revolução Cubana.

Por outro lado, sua política econômica foi bastante impopular, uma vez que houve corte de gastos

públicos, aumento da taxa de juros e contenção salarial, medidas consideradas importantes para combater a

inflação herdada do governo JK. Assim em um gesto surpreendente para o país, no dia 25 de agosto de 1961,

Jânio renunciou, afirmando estar sendo pressionado por “forças terríveis”. Imaginou que teria apoio popular

e que as Forças Armadas não aceitariam a posse do vice-presidente João Goulart, ex-ministro do trabalho e

herdeiro político de Getúlio Vargas.

O pedido de renuncia de Jânio Quadros foi aceito, pois já não possuía mais apoio no Congresso.

Abriu-se, a partir dai então, uma grave crise político-institucional, uma vez que amplos setores formados por

empresários, latifundiários, militares e representantes do capital externo eram contra a posse de João

Goulart.

O Governo de João Goulart

Apoiado pro um movimento cívico-militar liderado pelo governador do Rio Grande do Sul Leonel

Brizola, que insistia na defesa da ordem constitucional, criando a Rede da Legalidade, que mobilizou boa

parte da opinião pública em favor da posse de Jango – João Goulart. Como solução de compromisso foi

adotada uma emenda à Constituição, estabelecendo o parlamentarismo no país. Com essa medida Jango

assumiu a presidência e foi criado o cargo de primeiro-ministro, cabendo a este, de fato, o exercício do

poder.

Um plebiscito, realizado no Rio de Janeiro de 1963, decidiu pela volta do presidencialismo.

Recuperando os poderes, Jango não conseguiu evitar que a crise política e econômica caminhasse

rapidamente para um impasse, ao tentar levar adiante um amplo programa de reformas de base como a:

reforma agraria, universitária e bancaria, por exemplo.

A partir de então, as tensões politicas, o aumento da inflação e o aprofundamento da crise econômica

e social tornaram-se ainda maiores devido aos seguintes fatores:

Pressões dos sindicatos e do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) por aumentos

salariais;

Tentativa do governo de controlar a remessa de lucros das empresas multinacionais,

Pressões dos movimentos sociais rurais, que se manifestaram por meio das Ligas

Camponesas, exigindo “reforma já” e “reforma agraria na lei ou na marra”;

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Temores de amplos setores da classe média de que o presidente pretendia transformar o Brasil

em uma “Nova Cuba”;

Relações dos grandes proprietários de terra que se recusavam a cumprir o Estatuto do

Trabalhador Rural, aprovado em 1963, estendendo aos trabalhares do campo a legislação

trabalhista já garantida aos trabalhadores urbanos;

Apoio de empresas multinacionais, sobretudo norte-americanas, aos grupos políticos de

oposição;

Inconformismo dos militares que, com base na Doutrina de Segurança Nacional, entendiam

que o presidente era incapaz de controlar os grupos radicais de esquerda que o pressionavam;

pressões diplomáticas dos EUA preocupado com que parecia ser uma “esquerdização” do

governo Jango.

Esse clima de crescente tensão aumentou ainda mais após o Comício da Central do Brasil, realizado

no Rio de Janeiro em 13 de março de 1964, quando o presidente assinou os decretos das reformas de base.

Caberia ao povo, a partir de então, pressionar os parlamentares para que estes levassem a diante a

redefinição da ordem fundiária no Brasil e aprovassem as demais medidas que constavam no projeto do

presidente.

A reação dos seguimentos sociais conservadores foi imediata: no dia 19 de março, uma gigantesca

manifestação em São Paulo – Marcha da Família com Deus pela Liberdade – reuniu amplos setores da

sociedade que, assustados com a chegada do comunismo ao país, praticamente exigiram a deposição do

presidente. Esse quadro se agravou mais quando Jango anistiou marinheiros que haviam se revoltado contra

as punições impostas por oficiais superiores. Para o alto Comando das Forças Armadas, a atitude do

presidente caracterizou quebra da disciplina e da hierarquia, sendo considerada inaceitável.

No dia 31 de março, um Golpe de Estado foi desferido e liderado pelos militares, justificado com a

necessidade de se “preservar” a democracia, ameaçada pelo “perigo comunista”. Assim, para se preservar a

democracia, derrubava-se um regime democrático e um presidente legalmente constituído, para dar início a

um governo militar e autoritário – A Ditadura Militar Brasileira.

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Aula 14

História – 3º Ano Ensino Médio

O Período Militar: O Golpe de 1964

Introdução

A vitória do golpe de 1964, que contou com o apoio civil e de políticos antijanguistas como Ademar

de Barros, Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, respectivamente, governadores de São Paulo, da Guanabara e

de Minas Gerais, representou o fim do populismo no Brasil. apesar de reformista, no momento em que um

governo populista ameaçou levar adiante reformas conservadores se mobilizaram e liquidaram com essa

experiência.

Aqueles que estivem à frente do golpe trataram de autodenominá-lo de “Revolução”, com o intuito

de dar a ele maior legitimidade. No entanto, o que ocorreu a partir de então foi a exclusão das camadas

populares de qualquer tipo de participação politica, uma modernização conservadora que gerou grande

crescimento da economia brasileira sem, no entanto, contribuir para superar os graves problemas sociais, e a

repressão sistemática, inclusive por meio da tortura e do assassinato, a todos aqueles que questionaram a

ditadura militar.

O Governo dos Atos Institucionais

Por meio de atos institucionais, os governos militares impuseram uma ordem ditatorial. As principais

medidas implementares foram:

Cassação dos parlamentares e suspensão de direitos políticos;

Extinção dos partidos políticos tradicionais e criação de dois novos partidos: a ARENA; de

apoio do regime, e o MDB, de “oposição consentida”;

Eleições indiretas para presidente;

Revogação da Constituição de 1946;

Permissão para que o governo legislasse por decretos, intervisse nos estados e municípios e

demitisse ou nomeasse qualquer servidor público.

Para muitos dos políticos que haviam apoiado o golpe militar, já em 1967 ficara claro que o projeto

dos militares era de longo prazo. Foi nesse contexto que surgiu a Frente Ampla, formada por JK e Carlos

Lacerda, entre outros, que procurou articular, inclusive, com o ex-presidente João Goulart, então exilado, um

movimento de oposição. O regime militar reagiu prontamente, decretando a ilegalidade da Frente Ampla.

No governo de Costa e Silva (1967-1969), observou-se uma contestação generalizada ao regime, com

passeatas estudantis, tentativas de organização de movimentos grevistas e manifestações de artistas e

intelectuais. Mesmo no congresso, cresceu, entre alguns deputados do MDB, uma reação ao regime.

A repressão policial tornou-se ainda mais intensa, depois da morte do estudante Edson Luiz que foi

assassinado pelo regime militar, as manifestações se intensificaram e um movimento teve grande

repercussão a Passeata dos Cem mil em junho de 1968. A reação do governo veio com o Ato Institucional

AI-5, instaurando no país os chamados “anos de chumbo”. A partir de então, toda e qualquer oposição

passou a ser reprimida com prisões, torturas, desaparecimento de presos e assassinatos, alguns dos quais

foram apresentados a sociedade como “suicídios”.

AI5 – O Ato Institucional que Mudou Avida dos Brasileiros

Com a implantação do AI-5, a sociedade sofreu mudanças radicais, ao mesmo tempo em que o

governo reprimia toda e qualquer manifestação social, formou-se um movimento armado que ficou

conhecido como Luta Armada, com inúmeros grupos armados tanto no meio urbano quanto no meio rural,

considerados pelo governo como “terroristas” e “subversivos”. Esses grupos buscavam o retorno da

democracia e a suspensão das medidas ditatoriais implantadas pelos militares, a sociedade tentava se

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reorganizar para dissolver o regime e suas bases, mas a repressão foi de tamanha violência que muitas

pessoas importantes como: políticos, músicos, intelectuais, etc., tiveram que deixar o Brasil para não serem

mortos pelo regime militar.

Crise do Capitalismo Mundial – 1973

A partir de 1973, no contexto de uma nova crise do capitalismo desencadeada a partir do “choque do

petróleo” e da elevação dos juros no sistema financeiro internacional, a economia brasileira passou por uma

nova fase de recessão. Chegou-se ao fim do “milagre econômico”, cujos limites estruturais ficaram

evidenciados. Foi um longo período de retração econômica, pouco investimento, mobilidade social para o

fim do regime militar.

A Abertura Política

Durante os governos dos generais Ernesto Geisel (1974-1979) e João Figueiredo (1979-1985),

ocorreu um processo de abertura política, porém “lenta, segura e gradual”, uma vez que nessa época a luta

armada estava definitivamente derrotada. Ao mesmo tempo, a sociedade civil, particularmente a classe

média, havia se desencantado definitivamente com a Ditadura Militar. O movimento sindical ressurgiu na

região do ABC paulista, quando despontou a liderança de Luís Inácio Lula da Silva. Porém, a abertura

política teve momentos de retrocesso.

Em 1977 o governo decretou o recesso do congresso e impôs ao país o chamado “Pacto de Abril”,

uma série de medidas autoritárias, como a determinação de que 1/3 do senado seria eleito de forma indireta

pelas Assembleias Legislativas Estaduais e de que as eleições para governadores continuariam a ser

indiretas. Estabeleceu também, que o mandato para presidente deveria ser de 6 anos, além de um rigoroso

controle sobre a propaganda eleitoral com o objetivo de favorecer os candidatos da ARENA, partido dos

Militares.

Dentro no processo do Pacto de Abril, a abertura política teve continuidade, em 28 de agosto de

1978, revogou-se o AI-5. Também a censura prévia foi extinta. É importante considerar que essas ações não

foram medidas tomadas de livre espontânea vontade do militarismo, mas resultam da mobilização da vários

setores da sociedade civil organizada. Em 28 de agosto de 1979, foi aprovado a Lei da Anistia, não da

maneira que a sociedade civil e os movimentos organizados contra a ditadura exigiam. Isso por que todos

que fizeram parte do governo ditatorial, com sua repressão, maus tratos e violência, mais os exilados tiveram

o mesmo direito, foram anistiados de seus “crimes” contra a sociedade civil e militar.

No contexto da anistia, permitiu-se também a volta dos exilados políticos, muitos do que já estavam

fora do Brasil a mais de 15 anos. O bipartidarismo foi extinto, seguindo-se uma reorganização partidária:

A ARENA deu origem ao PDS. Este, posteriormente, se dividiu e alguns de seus membros

fundaram o PFL, atual DEM:

O MDB fragmentou-se em várias agremiações: PP, PMDB, PTB, PDT, etc.

Ainda hoje, passados mais de trinta anos da Lei da Anistia, diferentemente do que aconteceu em

outros países que tiveram governos ditatoriais, nenhum dos envolvidos nos crimes contra os Direitos

Humanos foi preso no Brasil.

Em fevereiro de 1980, foi fundado o PT, oriundo do movimento sindical, particularmente

significativo da região do ABC paulista, e tendo como principal líder Luís Inácio Lula da Silva.

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Aula 15

História – 3º Ano Ensino Médio

Transição para a Democracia e sua Consolidação

Importante etapa de consolidação e transição para a democracia foi marcada pela eleição indireta

pelo Congresso Nacional (15 de janeiro de 1985) de Tancredo Neves (presidente eleito) e José Sarnei (vice-

presidente), ex-presidente da ARENA. Tancredo Neves não tomou posso de seu mandato, pois foi

hospitalizado às vésperas de sua posse morrendo no dia 21 de abril do mesmo ano. José Sarnei assumiu a

presidência e seu governo foi marcado pela aprovação de uma nova Constituição e por medidas econômicas

que procuraram conter a inflação.

Eleições Diretas

Em 1989, realizaram-se eleições diretas para presidente, que consolidou a transição democrática.

Após 29 anos, a sociedade brasileira resgatou o legítimo direito de eleger o seu presidente da República. Foi

eleito o ex-governador de Alagoas, Fernando Collor de Melo.

Apesar de um aparente sucesso do plano criado nos primeiros meses para conter a inflação – Plano

Brasil Novo –, durante os quais se verificou uma redução dos índices inflacionários, em pouco tempo a

inflação voltou, acompanhada de desemprego, maior concentração de renda, aumento do déficit público e da

dívida externa.

Em 29 de dezembro de 1992, o presidente Collor renunciou a presidência da República para não ser

caçado com um impeachment. Assumiu então, seu vice-presidente, Itamar Franco que completou o mandato.

Os Governos Democráticos

No governo de Itamar Franco, o ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso, que colocou

em execução mais um plano econômico para conter à inflação: o Plano Real. Em 1994, o cruzeiro real,

criado em março do mesmo ano, foi substituído por uma nova moeda, o real.

Em 1994, as eleições presidenciais apontaram a vitória do candidato Fernando Henrique Cardoso

(PSDB). O êxito no combate à inflação, com a criação do Plano Real, e o apoio do Partido da Frente Liberal

(PFL).

A manutenção da estabilidade financeira e de uma sólida base parlamentar viabilizou a aprovação de

uma emenda à Constituição, no princípio de 1998, garantindo o direito a reeleição aos ocupantes de cargos

do Poder Executivo – presidentes, governadores e prefeitos. Assim, contando ainda com um forte apoio da

sociedade brasileira, FHC garantiu a reeleição, ainda no primeiro turno das eleições de 1998, para um novo

mandato (1998-2002). Durante seus dois mandatos, destacaram-se as seguintes medidas e tendências:

Aceleração do processo de privatizações, possibilitando que grandes empresas estatais dos

setores: siderúrgico e de telecomunicações;

Quebra de monopólios ate então exercidos por empresas estatais, como o que se verificou no

setor de produção de petróleo e telefonia;

Fortalecimento do Cone Sul (MERCOSUL);

Nas eleições presidenciais de 2002, a maioria dos eleitores confiou na proposta do Partido dos

Trabalhadores e elegeu o presidente Lula. No plano interno, amplos os setores da burguesia industrial

brasileira também viram em Lula uma opção a favor do crescimento do setor produtivo da economia.

Reeleito em 2006, Lula deu continuidade a seus projetos e seu governo apresentou as seguintes

propostas:

Manutenção de baixas taxas de inflação;

Grande aumento das exportações, que no ano de 2008 atingiram quase 20 bilhões de dólares;

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Aumento da confiança dos investidores internacionais no país; crescimento da renda dos

trabalhadores;

Implementação dos programas sociais que contribuíram para milhões de brasileiros que

viviam abaixo da chamada “linha da pobreza” saíssem dessa situação e a perspectiva de que o

Brasil se torne um grande exportador a partir da exploração das reservas do Pré-Sal;

Consolidação dos programas de pesquisa de fontes de energia alternativa, como o biodiesel.

As duas eleições de Lula simbolizaram a vitória de um projeto social alternativo para a consolidação

da cidadania plena no país. Os grandes avanços obtidos em várias áreas, a maior inserção da economia

brasileira no capitalismo global, a emergência da chamada “classe C – D” e a ampliação de programas

sociais que favoreceram os mais pobres são indicadores amplamente positivos do governo Lula.