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FILOSOFIA – Capítulo 05 Helenismo: a difusão da cultura grega e a busca pela felicidade O REINO DA MACEDÔNIA 02 ALEXANDRE, O GRANDE: VIDA E CONQUISTAS 03 O ESTOICISMO 04 O EPICURISMO: O ENCANTAMENTO DOS JARDINSDE EPICURO 06 CETICISMO 08 CINISMO 09 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 10 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 10 SEÇÃO ENEM 12

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Page 1: FILOSOFIA Capítulo 05 - colegiopxsflamboyant.com.br · como sua aliada, a liberdade, sustentáculo da democracia, foi duramente atingida. Após a morte de Alexandre, com a formação

FILOSOFIA – Capítulo 05

Helenismo: a difusão da cultura

grega e a busca pela felicidade

O REINO DA MACEDÔNIA 02

ALEXANDRE, O GRANDE: VIDA E CONQUISTAS 03

O ESTOICISMO 04

O EPICURISMO: O ENCANTAMENTO DOS “JARDINS” DE EPICURO

06

CETICISMO 08

CINISMO 09

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 10

EXERCÍCIOS PROPOSTOS 10

SEÇÃO ENEM 12

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Edessa

Bizâncio

Istambul (atual)

Delfos

Corinto

Políegas

Imbros

Tenedos

Lemnos

Icos

Tasos

Antipolis

Peparetos

Magara

ArgosOlímpia

Cefalônia

Corcira Larissa

Leucas

Zanto

Messena

Pilos

Esfactéria

Potidaco

Samotrácia

Pela

Ábidos

Hecatones

Helesponto

PérgamoAmbracia

Termópilas

Halonesos

Elis

Esparta

CiteraAnafe TelosThera

Olinto

Proconeses

Tróia

Ceos Siros

Cós

Icária

Samos

Quios

Paira

LerosParos

CimolosSitnos

Melos

Cálcis Sardes

Magnésia

MiletoEpidauro

Andros

Delos

Rodes

Cárpatos

Cnossos

Gortina

Amargos

Astipaleia

Naxos

Trezena

Lesbos

Mitilene

Faceia

Patras

AtenasMaratona

CALCÍDIC

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ILÍRIA

ÉPIRO MACEDÔNIA

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MAR DE CRETA

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TESSÁLIA

LOCRIDA

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NÉSIA

ÁTICA

ARCÁDIA

MÍSIA

CÁRIA

LÍDIA

PELOPON

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ACAIA

MESSÊNIA

LACÔ

NIA

CRETA

EUBEIA

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GÓLIDA

Grécia no séc. V a.C. Neste mapa, é possível observar as cidades-estados gregas, bem como a Macedônia.

Atlas histórico escolar. MEC/Fename.

O Período Helenístico (ou Helenismo) compreende o período que se estende desde do século IV a.C. até o início da Idade

Média, apresentando características gregas e romanas. Seu início está intrinsecamente ligado à figura de Alexandre, o Grande,

rei da Macedônia, e às suas expedições e conquistas.

A palavra helenismo, do grego hellenismós, significa “falar grego”. Assim, helenista é o nome dado àqueles que utilizaram o

idioma grego para se comunicar, seja por escrito ou apenas oralmente. Helenístico também pode se referir àquele que adotara

o grego como segunda língua. Por exemplo, no livro Atos dos Apóstolos, presente na Bíblia Sagrada, a palavra helenístico foi

utilizada para se referir aos judeus que substituíram sua língua materna pelo grego. É importante notar que, com o tempo,

Helenismo: a difusão da cultura grega e a busca pela felicidade

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a palavra helenismo deixa de se referir somente a

uma transformação de idioma para abranger toda uma

cultura helenística. Dessa forma, passou a representar

o fenômeno de aculturação dos outros povos que, não

sendo gregos ou orientais, adotaram a cultura e a forma

de viver e conceber o mundo dos gregos. Para que tal

transformação fosse efetuada, foi fundamental a figura

de Alexandre, conhecido como o maior conquistador e

estrategista da Antiguidade.

O REINO DA MACEDÔNIAG

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Busto de Filipe II à mostra na Gliptoteca Ny Carlsberg

Localizado na Península dos Bálcãs ou Península Balcânica, o reino da Macedônia situava-se na região nordeste da Grécia. A maioria de sua população era formada por camponeses livres que se dedicavam a tarefas ligadas à terra e à criação de gado. Apesar de algumas diferenças, a língua macedônica era muito semelhante à língua grega.

Os atenienses, pertencentes à maior e mais importante cidade grega, tinham um modo muito peculiar de ver os estrangeiros. Embora fossem também gregos, os macedônicos eram desprezados pelos atenienses, sendo considerados bárbaros e devendo ser mantidos longe das glórias e dos privilégios reservados somente aos “verdadeiros homens gregos”.

No ano de 359 a.C., Filipe se torna rei da Macedônia, aos 23 anos de idade, no lugar do rei Amintas IV, ficando conhecido então como Filipe II. Filipe II foi assassinado em 336 a.C., ao ser apunhalado por um de seus soldados, Pausânias, diante da população durante o festival de outubro. Nesse festival, comemoravam-se as cerimônias de casamento da Macedônia, inclusive o da filha do rei, Cleópatra. Aproveitando aquela ocasião, Filipe II fez uma espécie de encontro internacional, convidando vários enviados das cidades-estados gregas e outros líderes dos povos balcânicos.

N0 450 km

Império de Alexandre

Batalhas

Morte de Dario(330)

Morte de Alexandre(323)

Gaugamela(331)

Báctria

Babilônia

Górdio

Trácia

Mênfis

Alexandria

Oásis de Siwa

Pella Granicius (334)

Isso (333)

DESERTO DAARÁBIA

ÍNDIAEGITO

ASSÍRIA

MACEDÔNIA

PÉRSIA

SAARA

ANATÓLIA

HINDU CUSH

Mesopotâmia

Pasárgada

Hecatómpilos

Susa

Ecbatana

BucefaliaProftasia

Patala

Morte de Dario(330)

Pasárgada

Hecatómpilos

Susa

Ecbatana

Morte de Alexandre(323)

Gaugamela(331)

Báctria

BucefaliaProftasia

Patala

Babilônia

Górdio

Trácia

Mênfis

Alexandria

Oásis de Siwa

Pella Granicius (334)

Isso (333)

DESERTO DAARÁBIA

ÍNDIAEGITO

ASSÍRIA

MACEDÔNIA

PÉRSIA

SAARA

ANATÓLIA

HINDU CUSH

Mesopotâmia

MAR NEGRO

Rio Dniester

Rio

Dnieper

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Rio

Indus

Rio Eufrates

Rio Nilo

Rio Tigre

Rio Veiga

Rio Danúbio

MAR CÁSPIO

MAR DE

ARAL

OCEANOÍNDICO

MAR MEDITERRÂNEO

GOLFO PÉRSICO

O Império Macedônico conquistado por Filipe e por Alexandre:

território que se estendia dos Bálcãs à Índia, incluindo o Egito

e a Báctria (aproximadamente o atual Afeganistão).

Antes de se tornar um grande rei, com glórias e honrarias devidas somente aos deuses, Filipe havia passado três anos como refém na cidade grega de Tebas, num momento em que o reino da Macedônia enfrentava uma grande crise, devido às guerras em que o reino esteve envolvido. Em Tebas, Filipe teve a oportunidade de estudar as táticas de guerra mais sofisticadas de seu tempo e também as inovações estratégicas militares tebanas, principalmente a falange. Ao regressar para a Macedônia em 360 a.C., tendo também estudado os métodos militares dos gregos, com sua experiência, Filipe montou as falanges, constituídas de dez fileiras de infantaria armada com novas lanças, duas vezes mais longas do que aquelas comumente utilizadas, possuindo cada uma cerca de cinco metros de extensão. Com tal formação, os soldados que carregavam tais lanças podiam ficar mais distantes do que os que estavam à frente na batalha. Desse modo, as lanças da retaguarda, projetando-se entre as da primeira fileira, eram absolutamente devastadoras contra os exércitos inimigos. Como resultado dessa disposição e técnica, as falanges formavam um escudo, quase como um ouriço, praticamente indestrutível. Apoiando a retaguarda, havia a cavalaria. Os homens que a constituíam portavam uma armadura diferente em força e peso e combatiam por trás os opositores, deixando os inimigos encurralados. Como reforço, o exército de Filipe ainda possuía as catapultas, capazes de lançar pedras de mais de dez quilos a distâncias que chegavam a 200 metros. Enfim, Filipe da Macedônia formou um exército com força e perícia quase indestrutíveis, composto de homens bem treinados e dispostos à conquista do mundo, que se iniciou pela Grécia, já enfraquecida devido à Guerra do Peloponeso.

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Os soldados (ou falangistas) mantinham uma formação cerrada, com as armas das primeiras linhas projetadas para a frente, de modo que seria impossível atingir qualquer homem da formação sem ser perfurado por alguma lança. Essas lanças, chamadas sarissas, mediam de quatro a cinco metros e eram constituídas apenas de uma ponta afiada e um contrapeso. Os membros restantes da formação, aqueles que ficavam longe da primeira linha, mantinham as lanças elevadas em média de 45º graus, numa posição de prontidão e anulando parcialmente um ataque pelo alto, por exemplo, caso a cavalaria inimiga saltasse sobre a primeira linha de lanças. Os homens que ficavam nas últimas fileiras da falange eram usados como substitutos, quando os soldados da frente morriam ou tombavam, além de constituirem uma força de “empurrão” para toda a formação, de modo que o inimigo era literalmente esmagado sob o avanço do Exército.

Após a conquista da Grécia, os macedônicos se puseram à conquista da Pérsia, que possuía um vasto império, e dominaram também outros povos, sendo atraídos, principalmente, por tesouros e terras cultiváveis. Foi durante as comemorações que antecederiam o início da conquista dos persas que Filipe II veio a falecer, assumindo o trono então seu filho, Alexandre.

ALEXANDRE, O GRANDE: VIDA E CONQUISTAS

Busto de Alexandre. Cópia romana em mármore do original de Lisipo, de 330 a.C. (Museu do Louvre). Segundo Plutarco, as esculturas de Lisipo representavam fielmente o famoso conquistador macedônio.

Com a morte de Filipe II, Alexandre (356-323 a.C.) se tornou rei da Macedônia, com apenas 20 anos. No entanto, sua pouca idade não representou qualquer empecilho para a genialidade de uma das figuras mais importantes da história da Antiguidade. Tendo construído um dos maiores impérios da história, alguns homens de seu tempo chegaram a afirmar que Alexandre pertencia à descendência direta de Zeus. Antes de se tornar rei, Alexandre já tinha tido experiências políticas e militares ao lado do pai. Aos 16 anos, por exemplo, quando Filipe liderou um ataque contra a cidade de Bizâncio em 340 a.C., Alexandre assumiu o controle do reino da Macedônia. Já na batalha de Queroneia, decisiva na conquista de Atenas, Alexandre liderou a cavalaria, o que foi fundamental para a vitória macedônica. Conta-se que sua personalidade era sobremaneira singular. Por um lado, era um homem de visão diferenciada, extremamente inteligente, que buscava construir uma síntese entre o Oriente e o Ocidente. Alexandre era conhecido por seu respeito aos derrotados e por sua admiração pelas ciências e pelas artes, o que ficou claro com a criação da cidade de Alexandria (atual Istambul), que se tornou, substituindo Atenas, a cidade mais importante do mundo em sua época, devido ao seu caráter cultural, científico e econômico (talvez pela influência do mestre e preceptor Aristóteles, que educou Alexandre durante sua infância), sendo substituída por Roma somente trezentos anos depois. Por outro lado, Alexandre apresentava-se como um homem extremamente instável, violento e cruel, inclusive com aqueles que lhe eram mais próximos.

Como resultado de todas as suas campanhas e guerras, Alexandre criou um império que se estendia da Grécia à extremidade da Índia. Como rei e general de seus exércitos, nunca perdeu uma batalha. Não voltou para a Macedônia, sua terra natal, depois de suas conquistas, permanecendo na Babilônia até sua morte.

Em 323 a.C., com apenas 33 anos, Alexandre morreu, vitimado por uma febre. Seus generais passaram, então, a disputar o poder entre si. O vasto império acabou se dividindo em reinos menores, entre os quais se destacam a Macedônia, a Síria, Pérgamo e o Egito. Os generais de Alexandre se tornaram os governantes desses reinos, que

permaneceram até as invasões romanas.

As consequências das conquistas de Alexandre para a cultura grega e para a Filosofia

A consequência política mais importante dos feitos de Alexandre foi o desmoronamento da importância sociopolítica da poleis grega. Com as conquistas sobre toda a Grécia, a liberdade dos homens livres, característica que sustentava a democracia grega, mais propriamente a ateniense, perdeu sua força e vivacidade. Atenas, a principal polis grega, agora, fazia parte dos povos conquistados. Por mais que Alexandre respeitasse os atenienses e mantivesse a cidade

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como sua aliada, a liberdade, sustentáculo da democracia, foi duramente atingida. Após a morte de Alexandre, com a formação dos reinos do Egito, da Síria, da Macedônia e de Pérgamo, a importância da cidade livre, da polis, foi perdida e seu ideal de independência e liberdade foi praticamente esquecido. Desse modo, a polis pensada por Platão e Aristóteles, com seus ideais de moralidade e organização tidos como a forma perfeita de organização social e política, passou a ser vista como uma utopia.

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Alexandre Magno e seu cavalo Bucéfalo, na Batalha de Isso. Mosaico encontrado em Pompeia, hoje no Museu Arqueológico Nacional, em Nápoles.

De cidadão, o homem grego se tornou súdito. Já não era a assembleia de homens livres que governava a cidade, mas agora eles recebiam ordens e tinham de acatá-las, uma vez que estavam submetidos pela força e pelo poder militar e político da Macedônia.

Em 146 a.C., com as invasões romanas, a Grécia perdeu totalmente sua liberdade, tornando-se província de Roma. Desse modo, os gregos, não podendo definitivamente retornar ao ideal de cidadania da polis, aquele que valorizava os ideais cívicos de sua cidade e por isso o homem se identificava somente com ela (prova disso era o tratamento dos gregos dispensado aos estrangeiros), passaram a valorizar uma ideia cosmopolita, ou seja, já que não havia uma cidade com a qual o sujeito se identificasse, o mundo passaria, então, a ser sua cidade.

Nesse novo contexto de cosmopolitismo, o homem não estava mais preocupado em se tornar cidadão, passando agora a se preocupar consigo próprio, não tendo mais como identidade a comunidade política, mas sim o indivíduo, o homem particular, ou seja, ele mesmo. Desse modo, se a cultura do mundo clássico, das cidades-estados gregas, se empenhava em formar o cidadão, esse novo mundo criado por Alexandre trouxe à tona o indivíduo, que, ao contrário do cidadão antigo, que se preocupava com o bem e com a felicidade de todos, passou a se preocupar consigo e com a sua felicidade. Ética e política tornaram-se coisas distintas. A ética clássica, presente até Aristóteles, baseava-se na união entre homem e cidadão, sendo que o bom político era, consequentemente, o melhor homem. Agora, a ética se estruturava de maneira autônoma, buscando compreender como o homem singular deve agir e viver para ser feliz particularmente.

Da cultura helênica para a cultura helenística

Com as conquistas de Alexandre, o mundo se tornou um só reino. Isso significa que a cultura dos helenos, que antes era preservada somente entre os povos gregos, principalmente em Atenas, foi difundida pelo mundo. Por cultuar os ideais gregos, Alexandre, ao dominar os demais povos, difundiu a cultura helena, que se espalhou pelo mundo e foi absorvida, de um ou de outro modo, por todos os povos conquistados. A própria Roma, que mais tarde dominou a Macedônia, absorveu a cultura grega, por exemplo, quando renomeou os deuses gregos e os cultuou em seus ritos religiosos.

Dentro da nova perspectiva de homem, visto agora como indivíduo, se fez necessário encontrar um novo modo de vida. Assim, foi preciso pensar em uma moral que levasse em conta o homem particular e que pudesse se constituir em uma forma para que este encontrasse a felicidade. Dessa maneira, a filosofia se dirigiu ao homem concreto e individual e, em alguma medida, ocupou o lugar antes reservado à antiga polis e à sua religião. A filosofia ofereceu novos conteúdos para a vida espiritual, iluminou a consciência, ensinou o homem a viver e a ser feliz. A preocupação filosófica do helenismo foi predominantemente ética, tendo as demais especulações filosóficas se subordinado a este interesse prático. Há uma concepção terapêutica da filosofia, segundo a qual os filósofos helenistas comparam sua arte com a do médico. Dessa forma, assim como os médicos curam os males do corpo, a filosofia cura os males da alma. A filosofia cuida das enfermidades da alma causadas pelas falsas crenças e pelos temores diante da vida e da morte.

É nesse contexto que surgem as escolas filosóficas – estoicismo, epicurismo, ceticismo e cinismo –, que pretendem apresentar para os homens uma nova maneira de ser e viver que possa levá-los à felicidade.

O ESTOICISMO

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Busto de Zenão de Cício no Museu de Pushkin

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Fundada por Zenão de Cício (332-262 a.C.), cidade localizada em Chipre, em 300 a.C., a escola estoica representou a mais importante das correntes de pensamento do Período Helenístico. A palavra estoicismo tem sua origem no termo stoa poikilé, que significa pórtico pintado, local em que os membros dessa escola se reuniam. Dentre as principais figuras que compunham a escola estoica, estão Cleantes (331-232 a.C.) e Crisipo (280-206 a.C.).

A ideia de natureza é essencial para compreendermos o estilo de vida e a proposta de felicidade pregada pelo estoicismo. Segundo essa escola, a Filosofia é dividida em três partes, a física, a lógica e a ética, sendo esta última a mais importante. Nessa concepção, a Filosofia é vista como uma árvore, na qual os frutos correspondem à ética, a raiz à física e o tronco à lógica.

Para o estoicismo, o homem deve viver segundo o que é natural. Dentro dessa concepção ética, o homem pertenceria à natureza, vista como o macrocosmo, sendo o ser humano somente um microcosmo. Dessa forma, o microcosmo está submetido ao macrocosmo. Para que o homem alcance a felicidade verdadeira, suas ações devem estar de acordo com o macrocosmo, ou seja, com aquilo que a natureza determina.

São três as virtudes que levariam o homem à felicidade: a inteligência, que o conduziria ao conhecimento e ao discernimento do bem e do mal; a coragem, que consiste em conhecer o que deve ser temido e o que não deve ser temido; e a justiça, que seria o conhecimento do que deve ser dado a cada um segundo o que lhe é devido. Em sua concepção, o estoicismo dirá que não existe nada além da vida terrena: se o homem é natureza e deve se inteirar a ela, ao morrer ele continua a ser natureza, de outra forma, certamente, mas simples natureza. “O homem dissolve-se na natureza.”

Dentro de sua proposta ética, podemos perceber que o estoicismo estará próximo de um determinismo ou fatalismo: as coisas estão determinadas pela sua natureza, e, se assim é, o homem deve aceitar tal natureza, tal “destino” e cumpri-lo, fazendo sempre o que é correto. Isso não significa que o sujeito não tenha vontade ou capacidade de pensar naquilo que é certo ou errado, mas que ele deve aceitar o que é inevitável, se for isso o que a racionalidade do cosmos determinar. É importante perceber que a natureza não é arbitrária e irracional, por isso os estoicos insistiam no esforço para conhecer a racionalidade intrínseca à natureza, compreendendo, assim, as suas determinações, sem se desesperar diante delas.

Nesse ponto, encontra-se aquilo que talvez seja o maior ensinamento do estoicismo: se os acontecimentos seguem o curso da natureza, o homem deve aceitá-los de forma tranquila, buscando nessa aceitação a verdadeira felicidade. Dessa forma, o sujeito deve alcançar a ataraxia (estado de paz interior) por meio da tranquilidade da alma,

possível somente àquele que constrói sua fortaleza interior, ou atinge a apatheia, que seria a indiferença a tudo o que acontece, de modo que os fatos da vida, sendo inevitáveis porque são naturais, não podem tirar a paz interior do homem. O estoicismo ensina o homem a enfrentar as vicissitudes da vida de forma calma, resignada, e, sobretudo, digna. Esse estado é alcançado por meio do autocontrole e da austeridade de uma vida disciplinada e construída somente com o que é estritamente necessário à sobrevivência, sem qualquer luxo ou culto às coisas supérfluas.

A escola estoica teve grande aceitação no mundo romano (posterior ao mundo helênico), tendo como principais representantes pensadores da qualidade de Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) e Marco Aurélio (121-180), imperador de Roma após 161. Em sua versão latina, o estoicismo se manifestou principalmente na ideia de indiferença a tudo o que acontece na vida do homem, sem que este perca a paz interior construída com a racionalidade filosófica.

Leon

ardo

Ale

nza

O suicídio não era um tabu para os estoicos. Diante de uma

situação extrema, seria a solução mais racional a ser tomada

pelo homem.

É interessantíssima a ideia trazida pelo estoicismo sobre a possibilidade do suicídio. De acordo com essa corrente, se a natureza é racional e o homem deve viver de acordo com essa racionalidade, preservando o autocontrole e a paz interior, em alguns casos, o suicídio se torna natural. Por exemplo, quando o sujeito é acometido de uma doença grave e incurável, que lhe causará, inevitavelmente, uma dor tamanha, tirando-o do controle de si mesmo, provocando a angústia e o sofrimento como consequências, afastando-o definitivamente da felicidade,

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o mais racional seria, portanto, deixar de viver. Por isso, o suicídio é visto pelos estoicos como um caminho racional diante de situações extremas e não como um pecado ou um erro.

As influências do estoicismo serão claramente identificadas no cristianismo, quando este, anos depois, tecerá elogios ao autocontrole, à resignação diante dos acontecimentos e sofrimentos inevitáveis e à vida simples e abnegada em vista de um ideal maior que está para além desse mundo.

O EPICURISMO: O ENCANTAMENTO DOS “JARDINS” DE EPICURO

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Busto de Epicuro

Das escolas do Período Helenístico, talvez a que defenderá

a mensagem mais fascinante seja o epicurismo. Fundado

por Epicuro (341-270 a.C.), o epicurismo traz como pano

de fundo de uma vida feliz a procura pelo prazer, que deve

ser buscado em todas as coisas, o desprezo pela morte e a

negação do temor aos deuses.

Epicuro nasceu em Samos e chegou a Atenas em 323 a.C.,

mesmo ano da morte de Alexandre, o Grande. Fundou sua

escola em Atenas em 306 a.C., depois de viajar por muitos

lugares e conhecer os homens e o mundo. Diferentemente

das escolas de Platão (a Academia) e de Aristóteles (o Liceu),

a escola de Epicuro não era um centro de investigação

filosófica em busca da verdade sobre o mundo ou sobre

o homem, identificando-se mais como um permanente

retiro espiritual, em que os amigos se reuniam para buscar

a felicidade por meio de uma vida simples e regrada,

entregue à reflexão sobre o homem e à busca do prazer.

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Detalhe da obra Escola de Atenas, de Rafael Sanzio. Em destaque, Epicuro.

Rejeitando o dualismo alma e corpo, Epicuro dirá que o

homem e o mundo são formados por átomos, ideia retirada

do pré-socrático Demócrito. Segundo este, os átomos, que

em si são eternos, se juntam formando todos os seres,

inclusive o homem. Uma vez que tais seres são destruídos,

esses átomos são separados e voltam à natureza, formando

então outros seres. Na concepção religiosa do epicurismo,

não existiria vida após a morte, uma vez que a própria alma

humana é formada também por átomos e, quando o homem

morre, esses átomos são simplesmente dispersados. Assim,

Epicuro vai contra a preocupação dos homens em querer

agradar os deuses com ritos e sacrifícios, uma vez que não

há por que agradá-los, já que a alma não irá para junto

deles após a morte. Além disso, Epicuro, em sua Carta sobre

a felicidade, escrita para seu amigo Meneceu, dirá que os

deuses vivem em um lugar chamado de intermundo, não

se importando com a vida dos homens, e, por isso, estes

também não deveriam se preocupar em agradá-los, pois

deles “nada temos a esperar e nada a temer”.

Dentro de uma visão materialista, Epicuro dirá que o

único conhecimento verdadeiro é aquele obtido por meio

dos sentidos, que também são materiais, sendo eles os

instrumentos pelos quais o homem conhece os seres do

mundo. Desse modo, o epicurismo valorizará as sensações,

pois entende que elas são o testemunho imediato dos

sentidos, sendo sempre verdadeiras.

Se não há vida após a morte e o destino, em certa

medida, segue a natureza dos seres, sendo que o homem

pode também seguir algumas coisas determinadas por

si mesmo, resta ao homem buscar uma vida feliz nesta

realidade terrena, vivendo cada dia como uma construção

propriamente humana em busca do prazer. A boa vida,

a felicidade neste mundo, deve ser a meta a ser atingida

pelo sujeito.

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SOFI

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Ao contrário do que se pensou por muito tempo, Epicuro

não pregava uma vida de prazeres imoderados e sem

limites, não podendo ser considerado, assim, o defensor de

um hedonismo1 raso e superficial, no sentido de que o que

vale na vida é o prazer em si mesmo, sem consequências

de qualquer natureza.

Ana

Rol

dán

O hedonismo, no sentido mais conhecido da palavra, é a busca pelo prazer sem medida e sem consequências. Se entendido deste modo, o epicurismo não pode ser chamado de hedonismo.

El hedonismo, de Ana Roldán.

Segundo a doutrina epicurista, o homem atinge uma vida

feliz à medida que busca o prazer de forma moderada e

equilibrada. Há uma clara distinção entre os prazeres ligados

ao corpo e os prazeres ligados à alma, sendo estes mais

importantes do que aqueles. Não são todos os prazeres que

trazem a tranquilidade, mas somente os prazeres simples e

racionalmente discernidos. Nas palavras de Epicuro, “todo

prazer é bom, mas nem todos devem ser desejados. Toda

dor é ruim, mas nem toda dor deve ser rejeitada”. Segundo

a ética epicurista, o homem feliz é aquele que é austero

e moderado, buscando os prazeres simples e virtuosos,

racionalmente escolhidos. É por isso que o filósofo dirá que,

de todas as virtudes, a mais valiosa é a prudência, pois é

por meio dela que o homem é capaz de discernir os prazeres

e escolher os melhores. Assim, Epicuro estabelece uma

hierarquia entre os prazeres, dividindo-os em:

1º. Prazeres naturais e necessários. Exemplo: comer o suficiente para saciar a fome.

2º. Prazeres naturais e não necessários: Exemplo: comer comidas refinadas.

3º. Prazeres não naturais e não necessários: Exemplo: riqueza, poder e prestígio.

Segundo Epicuro, os prazeres da primeira categoria devem

ser buscados, os da segunda podem ser buscados de vez

em quando e os da terceira nunca devem ser buscados, pois

são insaciáveis e levariam o homem à angústia.

Sobre o mal e a dor, Epicuro dirá que ambos são inevitáveis.

Desse modo, dirá que o mal físico ou é facilmente suportável

ou, se é insuportável, dura pouco e leva à morte. E a morte

não deve ser vista com medo ou como um mal em si, ela é,

simplesmente, a suspensão dos sentidos. Epicuro, em sua

Carta, dirá que “quando ela (a morte) está presente, nós

não estamos, e quando nós estamos presentes, ela não está

presente”, por isso, a morte não deve representar nada para

o homem. Já em relação aos males da alma, Epicuro dirá que

a filosofia é capaz de curá-los e de libertar completamente

o homem de tais males.

Como devemos viver: a síntese de Epicuro

Epicuro nos forneceu uma síntese de sua mensagem no

chamado quadri-fármaco (ou quatro remédios para os males

do mundo), que consiste em quatro lições a serem seguidas

para se alcançar a verdadeira felicidade:

1ª. São vãos os temores dos deuses e do além.

2ª. É absurdo o medo da morte.

3ª. O prazer, quando for entendido de modo justo, está

à disposição de todos.

4ª. O mal ou é de breve duração ou é facilmente

suportável.

Seguindo esses princípios, o homem poderá alcançar a paz

interior, a absoluta imperturbabilidade, sendo então feliz.

No fim de sua Carta sobre a felicidade, Epicuro diz:

Medita, pois, todas essas coisas e muitas outras a

elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus

semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer

acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre

os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um

mortal o homem que vive entre bens imortais.

EPICURO. Carta sobre a felicidade a Meneceu. Ed. bilíngue,

grego/português. Tradução de Álvaro Lorencini e

Enzo Del Carratore. São Paulo: Editora Unesp, 1997.

1 Hedonismo: doutrina que encontra no prazer o sumo bem e na busca do prazer o objetivo da vida do homem. Os cirenaicos são os fundadores dessa doutrina, colocando os prazeres do corpo acima dos prazeres da alma. Mas mesmo os cirenaicos condenavam os excessos e diziam ser necessário manter um domínio sobre si mesmo ao experimentar os prazeres.

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CETICISMO

Busto de Pirro, fundador do ceticismo

Fundado por Pirro de Élida (365/360-275/270 a.C.), o ceticismo, também conhecido como pirronismo, é uma das escolas mais importantes do Período Helenístico. Apesar de a tradição considerar o ceticismo como uma escola, ao contrário de Epicuro e dos estoicos, o ceticismo foi mais um pensamento, uma ideia que se disseminou pelo mundo do que propriamente uma escola. Os seguidores de Pirro não eram discípulos, mas simples admiradores que tomavam sua vida e atitudes como modelo para a busca da felicidade.

Pirro fez parte do Exército de Alexandre, o Grande, e com ele foi até a Índia. Nesse caminho, percebeu que as convicções gregas, as verdades que até então eram arraigadas e inquestionáveis de sua tradição, não passavam de um modo particular de ver o mundo, ou seja, as verdades ditas pelos gregos, que pareciam incontestáveis e evidentes, eram somente mais uma visão particular ao lado de outras visões diferentes sobre os mesmos assuntos. Com isso, Pirro concluiu que verdades únicas e absolutas não existem, não passando de opiniões.

Pirro não deixou nada escrito, a exemplo de alguns pré-socráticos e do próprio Sócrates. Quem escreveu sobre seus ensinamentos foi seu seguidor Tímon. Segundo Tímon, para que o homem seja feliz, ele deve ficar atento a três coisas:

• Como são as coisas por natureza.

• Qual deve ser nossa disposição em relação a elas.

• O que nos ocorrerá se nos comportarmos assim.

De acordo com Tímon, Pirro dá uma resposta a tais questionamentos:

1. As coisas são igualmente sem diferença, sem estabilidade, indiscriminadas; logo, nem nossas sensações nem nossas opiniões são verdadeiras ou falsas;

2. Sendo assim, não é necessário ter fé nas coisas, mas sim permanecer sem opiniões, sem inclinações, sem agitações, dizendo a respeito de tudo: “é não mais do que não é”, “é e não é”, ou “nem é, nem não é”;

3. Aqueles que se encontram nessa posição, ou seja, aqueles que atingirem tal atitude frente às coisas, em primeiro lugar alcançarão a apatia e depois a imperturbabilidade. Ou seja, essas pessoas

alcançarão a felicidade.

A dúvida é uma das atitudes do cético. Será que realmente

existem verdades absolutas sobre as coisas? Para o ceticismo,

não.

A ideia central do ceticismo é, portanto, que o homem não pode encontrar uma verdade absoluta sobre nada no mundo. Dessa forma, cético é aquele que não busca a verdade, pois sabe que ela é impossível de ser atingida, seja porque o homem não tem condições de encontrá-la, seja porque ela não existe. De uma forma ou de outra, a postura do homem deve ser a de se abster de julgar o que as coisas são, de não emitir qualquer resposta à pergunta: o que é? Assim, se as coisas são indiferentes, sem medida e indiscerníveis, sendo que os sentidos, a razão, o pensamento não podem dizer o que as coisas são ou deixam de ser, o homem deve se contentar em simplesmente não buscar a verdade, permanecendo sem nenhuma inclinação, na total indiferença. É essa indiferença que levaria o homem à felicidade. Não há por que se angustiar e perder a paz interior em busca da verdade, pois esta não existe ou é impossível de ser encontrada. Está aqui o ponto principal da argumentação cética, resumida no conceito de époche, que significa a suspensão do juízo.

Um dos mais importantes representantes do ceticismo foi Sexto Empírico (séc. II), que escreveu suas Hipotiposes Pirrônicas, principal fonte que temos de conhecimento do ceticismo antigo. Em sua obra, ele dirá que o ceticismo é “a faculdade de opor de todas as maneiras possíveis os fenômenos e os noumenos [coisas em si mesmas, essências das coisas], e daí chegarmos, pelo equilíbrio das coisas e das razões opostas, primeiro à suspensão do julgamento (epokhé) e, depois, à indiferença (ataraxia)”.

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CINISMO

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Diógenes, o cínico mais famoso. Andava com uma lanterna nas mãos em busca de um homem que fosse realmente justo.

A palavra cínico, provavelmente utilizada pela primeira vez

para se referir a Diógenes de Sinope, tido como o fundador

dessa escola filosófica, provém do grego kynismó ou kynós e

do latim cynismu, que significa “cão”. Desse modo, Diógenes

e os demais cínicos ficaram conhecidos como os “cães da

cidade”. Porém, Antístenes, seguidor de Sócrates e quase

contemporâneo de Platão, foi o primeiro a viver segundo

os princípios adotados pelo cinismo, sendo considerado,

portanto, seu primeiro fundador. Nesse caso, Diógenes é

visto como uma espécie de refundador do cinismo, pois é

ele o maior e mais importante expoente desse pensamento.

A ideia central do cinismo é a mais anticultural das

concepções filosóficas da Grécia Antiga: Diógenes declarou

que toda pesquisa filosófica abstrata e teórica, bem como

a matemática, a física, a astronomia, a música e todo e

qualquer outro tipo de conhecimento teórico, é inútil para

levar o homem à felicidade. Essa concepção é claramente

identificável com sua célebre “procura pelo homem”. Conta-se

que Diógenes saía pela cidade, de dia, com uma lanterna

na mão, dizendo procurar “um homem que fosse justo”.

Com isso, ele queria encontrar um só homem que vivesse

de acordo com a natureza, longe de todas as convenções

da sociedade e indiferente ao próprio capricho da sorte e

do destino, sabendo reencontrar sua verdadeira e original

natureza, vivendo conforme essa natureza e com isso

alcançando a verdadeira felicidade.

O modo de vida do cínico, em especial de Diógenes,

resume o porquê de os participantes dessa escola serem

conhecidos como os “cães”: os cães não se importam com

nada, não perdem a paz em busca de comida, mas comem o

que aparece; não se angustiam porque não têm onde dormir,

mas dormem em qualquer lugar e, sobretudo, não têm

qualquer vergonha em fazer o que é natural, satisfazendo

suas necessidades em frente a todos e quando sentem

vontade. Da mesma forma deveriam ser os homens, que

devem agir sem se preocupar com as convenções sociais ou

qualquer norma de conduta. É interessante observar que é

o animal que diz para o cínico como ele deve viver e agir,

e não o contrário: uma vida sem metas (metas que a

sociedade coloca como necessárias, como obter riquezas

e prestígio), uma vida sem necessidade de moradia fixa e

também sem conforto. Segundo o cinismo, esses prazeres

são criados pelos homens e são dispensáveis à vida feliz.

Segundo Diógenes, “quanto mais se eliminam as

necessidades supérfluas, mais se é livre”. Tal liberdade

pregada pelos cínicos se manifestava em todos os sentidos:

liberdade da palavra, pois diziam o que queriam da forma

que queriam, sendo considerados, por isso, arrogantes;

e liberdade da ação, pois faziam o que queriam, em qualquer

lugar que estivessem e diante de qualquer pessoa.

O trecho a seguir nos dá uma visão mais clara do modo

de viver e pensar dos cínicos:

Costumava fazer qualquer coisa à luz do sol, mesmo o

que diz respeito a Demeter e Afrodite (comer e amar). [...]

Se comer não é estranho, nem mesmo na praça pública

é estranho. Não é estranho comer; portanto, também

não é estranho comer na praça pública. [...] Costumava

masturbar-se em público e dizia: quem me dera pudesse

aplacar a fome esfregando-me o ventre.

DIÓGENES, Laércio. VI, 69.

Os cínicos desprezavam o prazer, pois, segundo eles,

o prazer não só debilita o físico, mas escraviza a alma,

que se torna dependente das coisas ou homens que trazem

tal prazer. Dessa maneira, os cínicos viam como ideal de vida

a ser alcançado a autarquia, ou seja, bastar-se a si mesmo,

sendo preciso, para isso, a apatia e a indiferença diante de

todas as coisas. Conta-se que um dia Alexandre, o Grande,

foi visitar Diógenes, que estava em seu barril (ele vivia em

um barril), a tomar o sol da manhã. Chegando perto de

Diógenes, Alexandre, o homem mais rico e poderoso da

Terra, disse: “Pede-me o que quiseres que eu te darei”. Ao

qual Diógenes responde: “Não me faça sombra. Devolve meu

sol”. Apesar de parecer uma anedota, a história resume o

ideal do cinismo: o homem não necessita de nada a não ser

daquilo que a própria natureza se encarregou de lhe dar.

Nada que não seja natural é essencial à vida, e a felicidade

só pode ser alcançada a partir de uma vida simples e de

acordo com a natureza.

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Pier

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t

Alexandre visita Diógenes. O rei admirava tanto o “cão” que

disse: “Na verdade, se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser

Diógenes”.

O encontro de Alexandre com Diógenes de Sinope. Pierre Pujet,

1680. Museu do Louvre.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

01. Intelectual e espiritualmente, de fato, a época de

Alexandre assinala na Grécia uma mudança decisiva,

que afetou especialmente as minorias cultas. No novo

mundo dos grandes impérios, quando a civilização grega

já tinha se espalhado por todo o Oriente próximo, [...] os

horizontes do indivíduo grego viam-se consideravelmente

alargados, mas ao mesmo tempo este havia perdido o

sentimento de segurança que a vida da antiga cidade

podia lhe dar.

Segundo o texto, no Período Helenístico, “os horizontes

do indivíduo grego viam-se consideravelmente alargados,

mas ao mesmo tempo este havia perdido o sentimento

de segurança que a vida da antiga cidade podia lhe dar”.

REDIJA um texto explicando o que isso representou para

os gregos dessa época.

02. EXPLIQUE por que a ideia de cosmopolitismo foi

importante para o Período Helenístico.

03. No Período Helenístico “a sensação de isolamento,

desenraizamento e insegurança era, de fato, forte o bastante

para estimular muitos homens a buscar uma forma de vida

que lhes proporcionasse uma íntima sensação de segurança

e estabilidade. Isto foi o que as novas filosofias do Período

Helenístico se puseram a proclamar.”

A partir do trecho anterior, REDIJA um texto explicando a

importância das escolas filosóficas para o Período Helenístico.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

01. (UFMG) Leia este trecho:

Dependendo das condições anteriores, o mesmo vinho

parece azedo para aqueles que acabaram de comer

tâmaras ou figos, mas parece ser doce para aqueles que

consumiram nozes ou grão-de-bico. E o vestíbulo da casa

de banhos esquenta os que entram, mas esfria os que

saem, se ficam esperando nele. Dependendo de se estar

com medo ou confiante, o mesmo objeto parece temível

ou terrível ao covarde, mas de forma alguma a alguém

mais corajoso. Dependendo de se estar em sofrimento ou

em situação agradável, as mesmas coisas são irritantes

para os que sofrem, e agradáveis para os que estão bem.

..........................................................................

..........................................................................

Se, então, não se pode preferir uma aparência à outra,

com ou sem uma demonstração ou um critério, as

diferentes aparências que ocorrerem, em diferentes

condições, serão indecidíveis. De modo que a suspensão

do juízo com relação à natureza dos existentes externos

é introduzida também desse modo.

SEXTO EMPÍRICO. Hipotiposes pirrônicas I, 110-117.

Com base na leitura desse trecho, REDIJA um texto

caracterizando a corrente filosófica que defende as

afirmações nele contidas.

02. Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não

luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde,

como ainda proporciona ao homem os meios para

enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos

períodos em que conseguimos levar uma existência rica,

predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos

prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.

EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu).

Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore.

São Paulo: Editora UNESP, 2002. p. 41.

REDIJA um texto respondendo à seguinte pergunta:

simplicidade é sinônimo de felicidade?

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03. Leia o trecho a seguir.

Mas acontecem muitos sobressaltos tristes, horríveis,

duros de se agüentar.

Como não podia afastar-vos deles, armei vossos espíritos

contra todos: suportai bravamente. Nisto vós estais à

frente de um deus: ele está à margem do sofrimento dos

males, vós, acima do sofrimento.

Desprezai a pobreza: ninguém vive tão pobre quanto

nasceu. Desprezai a dor: ou ela terá um fim ou vos dará

um. Desprezai a morte: a qual vos finda ou vos transfere.

Desprezai o destino: não dei a ele nenhuma lança com

que ferisse o espírito.

Antes de tudo, tomei precauções para que ninguém vos

retivesse contra a vontade; a porta está aberta: se não

quiserdes lutar, é lícito fugir. Por isso, de todas as coisas

que desejei que fossem inevitáveis para vós, nenhuma

fiz mais fácil do que morrer.

Coloquei a vida num declive: basta um empurrãozinho.

Prestai um pouco de atenção e vereis como é breve e

ligeiro o caminho que leva à liberdade [...]

A isso que se chama morrer, esse instante em que a

alma se separa do corpo é breve demais para que se

possa perceber tão grande velocidade: ou o nó apertou

a garganta, ou a água impediu a respiração, ou a dureza

do chão arrebentou os que caíram de cabeça, ou a sucção

de fogo interrompeu o respirar; seja o que for, voa. Por

acaso enrubesceis?

Passa rápido o que temestes tanto tempo!

SÊNECA. Carta sobre a Providência Divina.

A partir da leitura do trecho anterior e de outros

conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto

caracterizando e explicando a corrente filosófica expressa

por ele.

04. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso,

teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe

incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em

que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só

o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe

ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo

depois em uma só negação total [...]

A partir do trecho anterior, retirado do livro A cartomante,

de Machado de Assis, REDIJA um texto identificando a

corrente filosófica presente no trecho e explicando sua

premissa fundamental.

05. É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e

o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos

como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão

dele praticamos toda escolha ou recusa, e a ele chegamos

escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre

prazer e dor.

EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu).

Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore.

São Paulo: Editora UNESP, 2002. p. 41.

A partir do texto e de outros conhecimentos sobre o

assunto, REDIJA um texto se posicionando a favor de ou

contra a seguinte afirmação: o homem feliz é aquele que

busca o prazer e se afasta da dor em todas as ocasiões.

06. A filosofia se preocupa com muitas questões teóricas,

como, por exemplo: o que é a verdade? O que é o

conhecimento? O que distingue uma boa ação de uma má

ação? O que é justiça? Ou, ainda, o que dá legitimidade

a um governo? Para essas questões, a filosofia oferece

muitas respostas.

SMITH, Plínio. O que é ceticismo? São Paulo: Brasiliense, 1992.

p. 07. Coleção Primeiros Passos, 262.

A partir dessa citação, REDIJA um texto considerando a

seguinte afirmativa: se a filosofia responde várias coisas

sobre as mesmas questões, podemos considerar alguma

delas realmente verdadeira?

07. Aprovo os sentimentos fortes e generosos dos estóicos,

que dizem que as coisas externas não são impedimento

para a felicidade, mas que o sábio é feliz, mesmo que

o toro de Falárides o esteja queimando. Os idiotas não

participam de nenhum bem, pois o bem é virtude ou aquilo

que participa as virtudes; as coisas que provêm dos bens,

que são aquelas das quais se tem necessidade, sendo

vantajosas, cabem apenas aos sábios, assim como as

coisas que provêm dos males, que são aquelas das quais

não se tem necessidade, cabem apenas aos viciosos. São,

com efeito, coisas nocivas. E por isso todos os sábios

são estranhos ao dano em ambos os sentidos; não são

capazes de causar dano, nem de sofrer dano, enquanto

os idiotas estão em situação contrária.

CRISIPO. Fr. 586. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia:

filosofia pagã antiga. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2003. p. 300.

No texto anterior, Crisipo defende uma postura estoica

diante das adversidades do mundo. REDIJA um texto

definindo quais os princípios defendidos pelo estoicismo

que levariam o homem a tal postura.

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08. Sustentava por isso que nada se pode obter na vida

sem exercícios, aliás, o exercício é o artífice de qualquer

sucesso. Eliminados, portanto, os esforços inúteis,

o homem que escolhe as fadigas requeridas pela natureza

vive feliz; a ininteligência dos esforços necessários é

a causa da infelicidade humana. O próprio desprezo

pelo prazer para quem esteja a isso habituado é algo

dulcíssimo. E assim como os que estão habituados a viver

nos prazeres passam de má vontade para um teor de vida

contrário, também aqueles que se exercitam de modo

contrário, com maior desenvoltura desprezam os mesmos

prazeres. Estes eram seus preceitos e a eles conformou

sua vida. Falsificou realmente a moeda corrente, porque

dava menor valor às prescrições das leis do que às da

natureza. Modelo de sua vida, dizia, foi Héracles, que

nada antepôs à liberdade.

DIÓGENES, Laércio. Vida dos filósofos. In: REALE, Giovanni.

História da Filosofia: filosofia pagã antiga. 3. ed.

São Paulo: Paulus, 2003. p. 257-258.

REDIJA um texto relacionando a citação anterior com

a ideia de “cão” trazida por Diógenes de Sinope, a qual

caracteriza a escola do cinismo.

SEÇÃO ENEM

01. Dizemos que a finalidade do cético é a tranqüilidade nas

matérias de opinião. Pois, tendo começado a filosofar

para julgar as representações e apreender quais são

verdadeiras e quais são falsas, de modo a obter a

tranqüilidade, deparou com uma discordância de igual

força; e, não podendo decidi-la, suspendeu seu juízo

sobre ela. Estando em suspensão de juízo, ocorreu-lhe

casualmente a tranqüilidade nas matérias de opinião.

SEXTO EMPÍRICO. Hipotiposes pirrônicas.

Em virtude dessa descoberta do cético pirrônico, para

que o homem se mantivesse no estado de tranquilidade,

ele deveria

A) afirmar que as coisas são como aparecem.

B) negar que as coisas são como aparecem.

C) opor a todo argumento um argumento igual.

D) abster-se do julgamento e não emitir opinião.

E) recusar-se a reconhecer os dados sensíveis.

GABARITO

Fixação01. No Período Helenístico, os gregos, por terem

tido suas terras invadidas pelos exércitos

macedônicos, perderam sua liberdade política e,

como consequência, perderam a segurança

que a cidade, sua cultura e os valores cívicos

representavam para eles. Dessa forma,

os gregos, em particular os atenienses, se viram

na situação de povo dominado, o que retirou

deles a possibilidade de se autodeterminarem e

decidirem conjuntamente o seu futuro e o da polis.

Por outro lado, seus horizontes se alargaram, uma

vez que o mundo se tornou um único território,

havendo um sincretismo de culturas, o que fez

com que os gregos pensassem em si mesmos,

individualmente, sem se preocuparem com a

cidade, estando exatamente nesse fato a origem

das escolas filosóficas do Período Helenístico.

02. Com as invasões macedônicas, os gregos, por

não mais se identificarem exclusivamente com

sua cidade e seus valores, se viram pertencendo

a um mundo muito maior. Dessa forma, não mais

se definiam como cidadãos desta ou daquela

cidade, mas agora se sentiam cidadãos do mundo

ou cosmopolitas. Essa possibilidade permitiu que

eles se desprendessem de sua origem, fazendo-os

pensar no mundo todo como um único lugar, não

havendo mais a ideia de estrangeiro ou cidadão.

Sendo assim, independentemente da cidade que

habitavam, a vida deveria ser vivida na busca da

felicidade própria e particular.

03. Com as conquistas de Alexandre, os homens

gregos viram-se sem uma cidade e sem um

ideal de vida cívica a seguir. Aquilo que lhes

garantia a felicidade, que era justamente o

poder de se reunirem na praça pública e juntos,

como cidadãos, decidirem o futuro da polis,

lhes foi retirado. Desse modo, um novo modo

de vida deveria servir como caminho para que

os homens pudessem novamente ser felizes,

e foi isso que as escolas filosóficas do Período

Helenístico se propuseram a fazer. Cada uma

delas trazia uma maneira de ser e viver com a

qual o homem poderia alcançar a paz interior e,

consequentemente, a felicidade.

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Propostos01. A corrente tratada é o ceticismo. Essa corrente de

pensamento defende a tese de que é impossível

encontrar o conhecimento verdadeiro. Além

disso, para o ceticismo, ou pirronismo, o homem

deveria suspender os juízos, pois ele não tem

condições de saber emitir opiniões sobre os seres

ou o mundo.

02. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja

capaz de se posicionar argumentativamente a

favor de ou contra essa ideia. É muito útil, quando

possível, valer-se de outros filósofos em sua

argumentação).

A favor: Sim, simplicidade é sinônimo de

felicidade. Acompanhando o argumento de

Epicuro, podemos perceber que a posse de bens

vários e abundantes não é garantia de uma

vida feliz e realizada. Existem muitos exemplos

e testemunhos de pessoas que, apesar de

terem uma vida luxuosa proporcionada pela

riqueza, não são felizes ou realizadas, mas

sofrem demasiadamente pela falta de algo que

preencha seu vazio existencial. Dessa forma,

uma vida mais simples, menos apegada aos bens

materiais, embora estes sejam fundamentais

para a manutenção do mínimo de conforto para a

vida do homem, pode ser o caminho mais viável

para a felicidade.

Contra: Não, simplicidade não é sinônimo de

felicidade. Ser simples não significa ser feliz,

pois, se assim o fosse, teríamos de concordar

que todas as pessoas que possuem uma vida

mais luxuosa, mais rica, seriam necessariamente

infelizes, e isso não se comprova. O que faz ou

não uma existência feliz é a atitude interna do

homem diante das situações. Dessa maneira,

é totalmente possível e plausível que existam

homens que gozem de luxos e sejam felizes,

e homens que tenham uma vida simples, com

poucos bens, e sejam profundamente infelizes.

O que importa é a atitude interna do indivíduo,

não o que ele possui, seja muito ou pouco.

03. A corrente filosófica expressa no trecho em

questão é o estoicismo. Sêneca foi um dos

principais filósofos estoicos do período do Império

Romano e suas influências foram sentidas,

inclusive, no cristianismo. Essa corrente filosófica

se caracteriza pela busca da apatheia, ou seja,

a perfeita indiferença a todos os acontecimentos

externos à vida humana, sejam eles bons ou

maus. Assim, o estoicismo defenderá que o

homem construa uma fortaleza interior que seja

inabalável e que garanta a ataraxia ou paz interior.

Nada pode tirar a paz do homem, nada pode

retirar o homem de seu estado de autocontrole

e concentração para a busca da sabedoria pelo

estudo da Filosofia. Essa ideia de indiferença se

manifesta no desprezo à dor, à morte, ao destino

e à pobreza presente no texto.

04. O texto representa a corrente filosófica do

ceticismo antigo ou pirronismo. Segundo tal

corrente, o homem deve duvidar de tudo, pois não

existem verdades absolutas sobre nada. Aquilo

que se tem como verdade são ideias particulares

dos indivíduos que, não raras as vezes, são

contrárias às ideias dos demais, o que leva à

conclusão que nenhuma dessas ideias é, em si,

a correta. Tal corrente tem seu início com Pirro,

soldado do Império Macedônico que, em suas

batalhas ao lado de Alexandre, percebeu que em

cada localidade, em cada povo, em cada cultura,

as verdades sobre os mesmos temas variavam.

A partir disso, concluiu que não existem verdades

absolutas sobre qualquer assunto. Tal ideia se

manifesta na dúvida constante sobre todas as

coisas, atitude própria do cético.

05. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja

capaz de se posicionar argumentativamente a

favor de ou contra essa ideia. É muito útil, quando

possível, valer-se de outros filósofos em sua

argumentação).

A favor: O princípio de toda escolha humana é,

de fato, a busca pela felicidade e a recusa da

dor. Tal atitude é plenamente humana, uma

vez que ninguém pode, por natureza, desejar a

dor como causa de possibilidade da felicidade.

Os animais agem dessa forma, buscando o prazer

que, no caso, é a satisfação de seus instintos.

Por que o homem seria diferente, se ele também

goza de uma natureza instintiva? Tal princípio da

satisfação do prazer e fuga da dor encontra-se

vastamente defendido na história da Filosofia,

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começando com Epicuro, passando por Stuart Mill

e chegando a Nietzsche e Freud. Tomando como

exemplo, para corroborar o argumento, Nietzsche

dirá que a escolha daquilo que nega o prazer e

busca deliberadamente a dor é próprio dos seres

inferiores, da “moral de rebanho”, apregoada

pela moral cristã ocidental, representando,

segundo o filósofo, a decadência humana. Quem,

em sã consciência, escolheria deliberadamente

o sofrimento e rejeitaria o prazer? Não há

justificativa razoável para tal atitude. Seria a

própria desnaturalização do homem.

Contra: A felicidade não pode ser consequência

somente das ações que trazem prazer ao

homem. Se assim fosse, teríamos de afirmar que

todos aqueles que lutam e, devido à sua luta,

sofreram ou ainda sofrem por uma causa maior,

moralmente justificável, como a democracia em

regimes totalitários, não são felizes. Ao contrário,

percebe-se que, apesar da dor, que nesse caso

é o contrário do prazer, essas pessoas são sim

felizes, pois seu sofrimento tem como justificativa

uma causa maior. Como exemplo, temos Santo

Agostinho, quando este fala sobre a distinção

entre a cidade dos homens e a cidade de Deus.

Segundo ele, vivemos na cidade dos homens e,

para sermos fiéis a Deus, devemos deixar todos

os prazeres dessa cidade terrena e, assumindo a

dor e o sofrimento, esperarmos o momento em

que possamos ir à cidade de Deus. Nesse caso,

podemos dizer que a felicidade na Terra não é

trazida pelo prazer, mas a dor seria o caminho

para a felicidade perfeita e plena.

06. O argumento mais legítimo para defender o

ceticismo é justamente o de que o conhecimento

verdadeiro não é possível, pois muitas são as

respostas para as mesmas questões. Se muitas são

as respostas, e várias são plausíveis e sustentadas

pela razão, qual delas seria verdadeira? Como

exemplo dessa tese, temos Descartes, que rejeita

as bases filosóficas que sustentavam as ciências

justamente porque poderiam ser colocadas

em dúvida. Se algo é realmente verdadeiro,

tal verdade deve se legitimar por argumentos

irrefutáveis. Não é possível pensar em uma

ciência, por exemplo, a Física Moderna, em que

os resultados dos cálculos podem ser superados,

encontrando-se outros resultados para o mesmo

movimento dos corpos. Porém, a realidade das

ciências humanas é outra, diferentemente das

ciências exatas. Se, nestas, a verdade deve

permanecer sempre a mesma, naquelas, pelo

fato de terem como objeto o homem, e sendo

este essencialmente indeterminado, poderíamos

pensar que as verdades dessas ciências podem

ser aprimoradas ou, mesmo, totalmente refeitas

com o passar do tempo.

07. O estoicismo é a corrente filosófica do Período

Helenístico que prega a total resignação do

homem diante dos acontecimentos da vida para se

atingir a felicidade. Nesse caso, o homem deveria

construir uma fortaleza interior de modo que as

vicissitudes da vida, ou seja, os acontecimentos,

bons ou maus, não lhe tirassem do estado de paz

interior ou ataraxia. Para o estoico, o ideal seria

atingir a apatheia, que é exatamente a indiferença

diante de todas as coisas, pois só por meio dessa

indiferença é possível alcançar a felicidade. Essa

ideia é clara no texto de Crisipo quando ele fala

sobre o sábio, que suporta o fogo, ou seja, as

adversidades e acontecimentos externos, sem

perder contudo a paz, não sendo tais coisas

impedimento à sua felicidade.

08. Representante mais importante da escola cínica,

Diógenes de Sinope demonstrou o total desprezo

pelas coisas do mundo, sejam materiais ou não,

em vista de uma vida simples e feliz. Para ele,

o ideal de felicidade estaria no total desapego de

todas as coisas, a exemplo do cão, que não tem

nada como seu e vive inteiramente de acordo

com sua natureza. Para os cínicos, a vida natural

é a que deve fazer sentido para o homem, pois

nada que não seja parte da natureza deve ser

considerado para a busca da felicidade. O cão vive

totalmente entregue à sua natureza e, por isso,

vive feliz.

Seção Enem01. D

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