o obreiro cristão normal - watchman nee

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    O Obreiro Cristo NormalO Obreiro Cristo Normal

    Watchman Nee

    Digitalizado por Luis Carlos

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    O OBREIRO CRISTO NORMAL

    Ttulo do original em ingls:THE NORMAL CHRISTIAN WORKER

    Copyright por Hong Kong Church Book Room Ltd.Oitava edio cm portugus 2001

    Traduzido por Joo Marques Bentes

    Todos os direitos reservados. proibida a reproduo deste livro, no todoou em parte, sem a permisso escrita dos Editores.

    EDITORA FIEL daMisso Evanglica Literria

    Caixa Postal 8112201-970 - So Jos dos Campos, SP

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    Embora dirigindo-se queles que se atarefam na obra de Deus,nestas pginas Watchman Nee fala bem pouco sobre o trabalho antes acentuado o carter do obreiro.

    Um homem de Deus apela para homens que desejam ser verdadeiros cooperadores de Deus no super-homens, no homensdotados de certa posio crist; mas homens segundo a norma crist,que atravs da disciplina foram postos em harmonia com a prprianatureza de Deus, e que, por essa razo, podem cumprir a vontade deDeus quanto ao mundo atual.

    NDICE

    Prefcio ................................................................................................ 51. Diligente .......................................................................................... 6

    2. Estvel ........................................................................................... 143. Cheio de amor a seus semelhantes ................................................ 224. Bom ouvinte .................................................................................. 285. Comedido nas palavras ..................................................................356. Objetivo ......................................................................................... 44

    7. Capaz de disciplinar o prprio corpo ............................................ 528. Disposto a sofrer ............................................................................619. Fiel em questes financeiras ..........................................................6810. Leal verdade ............................................................................. 85

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    PREFCIO

    No havia a inteno de escrever um livro quando, numa sriede mensagens, um servo de Deus expressou espontaneamente o quelhe vinha queimando o corao. No se dirigia ele a pessoasausentes; mas fazia um apelo direto aos seus colegas ntimos. Algunsdestes, impressionados com o valor dessas mensagens, desejaramcompartilh-las com os seus irmos na f que no tiveram o privilgio de estar presentes quando elas foram proferidas. Eis aorigem deste livro.

    Embora as mensagens tenham sido especificamenteendereadas queles que se atarefam na obra do Senhor, bem pouco dito sobre o trabalho: antes, acentuado o carter do obreiro. Umhomem de Deus apela para homens que desejam ser verdadeiroscooperadores de Deus no super-homens, no homens dotados decerta posio crist; mas homens segundo a norma crist, que atravsda disciplina foram postos em harmonia com a prpria natureza deDeus, e que, por essa razo, podem cumprir a vontade de Deusquanto ao mundo atual.

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    1. DILIGENTE

    Leitura:Mateus 25.14-30; II Timteo 4.2; II Pedro 1.5-15; Joo 5.17 e 4.35.

    A vida diria do obreiro cristo est relacionada intimamentecom o seu trabalho. E, por essa razo, ao considerarmos asqualificaes necessrias para o servio cristo, precisamos levar emconta questes como disposio e conduta. A fim de estar preparado

    para o servio espiritual, o homem deve ser dono no apenas dedeterminado lastro de experincia espiritual, mas igualmente de certotipo de carter. O carter do obreiro deve condizer com o carter daobra, e o desenvolvimento do carter de uma pessoa no ocorre emum dia. Se um obreiro tiver de possuir aquelas qualidades necessrias para que seja til ao Senhor, ento mister serem consideradasmuitas questes prticas atinentes sua vida diria. Ter ele dedesfazer-se de hbitos antigos e de formar novos costumes, mediantea disciplina, e sua vida ter de ajustar-se fundamentalmente obra, para que se harmonize com ela.

    H certos jovens que desde o incio de sua vida cristmanifestam qualidades que nos levam a esperar que se tornem teisservos de Cristo; por outro lado, existem aqueles que, embora nolhes faltem dons, cedo tropeam pelo caminho e atraem oprbrio para o nome de Cristo. Pergunta-se, pois, como se explica odesenvolvimento to variado das vidas dos obreiros cristos? Seja-me permitido responder francamente que h certas caractersticas bsicas na constituio de cada um que determinam se tero ou novalia para o Senhor. Um jovem pode exibir certas inclinaes que parecem promissoras para o futuro; todavia, se determinadasqualidades fundamentais no estiverem presentes, certamente eleser um desapontamento para outros. Pode ter ele autntico desejo de

    servir ao Senhor, mas falta-lhe a disposio de ser um verdadeiroservo. Jamais pudemos encontrar um obreiro cristo que fosse um bom obreiro, se porventura lhe faltasse o domnio-prprio necessrio;

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    e jamais conhecemos uma pessoa desobediente que se mostrasse umservo til para o Senhor.

    H certas caractersticas sem as quais ningum pode ser umobreiro cristo satisfatrio, tornando-se necessrio, desse modo, um processo de destruio e reedificao, a fim de que o Senhor possaobter obreiros que satisfaam s Suas exigncias. A dificuldade demuitos candidatos obra do Senhor no consiste de ignorncia oufalta de habilidades, mas reside no fato que o errado o prprioindivduo; h algo de fundamental que est ausente em suaconstituio. Por conseguinte, necessrio que nos humilhemos perante Deus, submetendo-nos disciplina prpria, se aquilo que

    porventura estiver faltando em nosso carter tiver de ser corrigido.Demoremo-nos um pouco em Sua presena, buscando descobrir algumas daquelas qualidades requeridas de todos quantos tiverem deservi-Lo de modo aceitvel.

    Uma dessas qualidades a diligncia. Parece suprfluo diz-lo,mas realmente essencial afirmar de maneira enftica que o obreirocristo deve ser pessoa dotada da vontade de trabalhar. No evangelho

    de Mateus lemos acerca da histria dos servos aos quais foramentregues cinco talentos, dois talentos e um talento, respectivamente.Quando, aps longa ausncia, o senhor daqueles servos regressou eexigiu que prestassem contas de sua custdia, o servo que receberaum nico talento, disse: "Senhor, sabendo que s homem severo, queceifas onde no semeaste, e ajuntas onde no espalhaste, receoso,escondi na terra o teu talento; aqui tens o que teu. Respondeu-lhe, porm, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde nosemeei e ajunto onde no espalhei? Cumpria, portanto, queentregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberiacom juros o que meu. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que temdez. . E o servo intil lanai-o para fora, nas trevas. Ali haver choroe ranger de dentes" (25.24-30).

    Esse trecho das Escrituras demonstra que o Senhor requer quecada servo Seu seja diligente no servio que Lhe presta. Ele indicouclaramente a falha fundamental na vida do servo que nos foiretratado acima. Tal falha era dupla: ele era "mau" e "negligente". A

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    sua maldade ficou manifesta no fato que ousou chamar seu senhor de"homem severo". No frisaremos aqui este aspecto do seu carter,mas falaremos a respeito de outro aspecto, isto , de sua negligncia.

    A preguia no um defeito raro. Os preguiosos nunca buscam trabalho, e, ainda que cheguem a empregar-se, buscam evitar todo esforo. Infelizmente, muitos crentes, como tambm descrentes,sofrem dessa fraqueza, e servem de empecilho para com os seuscompanheiros. J tiveram a oportunidade de conhecer algum obreirocristo eficaz que tambm fosse indolente? No, mas todos os taisso diligentes e esto sempre alertas, no desejando desperdiar tempo ou esforos. No vivem cata de oportunidade para

    descansar, mas, pelo contrrio, buscam aproveitar cada ocasio opor-tuna para servirem ao Senhor.Contemplem os apstolos. Quo diligentes foram eles! Pensem

    no colossal trabalho realizado por Paulo no decurso de sua vida.Vejam-no a viajar de lugar para lugar, pregando o evangelho ondequer que se encontrasse, arrazoando intensamente com indivduos;at mesmo quando foi lanado numa priso, no deixou de aproveitar

    tal oportunidade pregava para todos com quem entrava emcontacto e escrevia para aqueles de quem fora separado. Leiam o queele escreveu para Timteo, quando estava encarcerado: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer no" (II Timteo 4.2). A priso podia restringir os movimentos externos de Paulo, mas no eracapaz de cercear a eficcia do seu ministrio. Quantas riquezasespirituais ele ministrou por intermdio de suas epstolas escritas na priso! No havia o menor resqucio de preguia em Paulo; eleestava sempre aproveitando o tempo.

    Infelizmente, muitos obreiros cristos declarados no fazem oesforo de buscar oportunidade para servir ao Senhor; e se algum seaproxima deles sem ter sido convidado, consideram isso umainterrupo, e no uma oportunidade, e to-somente almejam que tal pessoa logo se v embora e deixe de aborrec-los. Que nome vocsemprestariam a isso? Essa atitude se denomina preguia.

    Vocs j tiveram de tratar com trabalhadores que "amarram" otrabalho? Essas pessoas aceitam realizar alguma tarefa, mas elas se

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    demoram e arrastam sobremaneira o servio, ao mesmo tempo que,se podem fingem estar trabalhando, pois no levam a srio o seuservio, j que sua nica preocupao matar o tempo. Qual adificuldade que os aflige? a mais franca preguia.

    Em sua epstola aos filipenses, escreveu Paulo: "A mim no medesgosta, e segurana para vs outros, que eu vos escreva asmesmas cousas" (3.1). Embora Paulo estivesse encarcerado, noconsiderava um enfado ter de reiterar as mesmas coisas ao dirigir-se por escrito aos crentes de Filipos, visto que isso tinha em mira o bemdeles. Como isso difere de muitos crentes! Se lhes solicitarmos quefaam alguma coisa, reagem como se uma carga tremenda lhes

    houvesse sido imposta. A pessoa que reputa tudo como um fardo no pode ser um fiel servo do Senhor; nem ao menos pode ser um servofiel dos homens. Alguns dos chamados "obreiros cristos de tempointegral" so to profundamente espirituais que no vemnecessidade de trabalhar arduamente ou de prestar contas de seuservio a quem quer que seja. Se estivessem empregados em algumtrabalho secular, nenhum patro terreno os toleraria, face indolncia que caracteriza o seu servio; e, no entanto, iludem-se, pensando que podem servir a Deus dessa maneira. Oh! nosso carter precisa ser disciplinado at no mais considerarmos o trabalho comoalgo maante, deleitando-nos em despender tempo, energias erecursos materiais, sem nenhuma restrio, a fim de servir aosoutros! Paulo no s se derramava em seu ministrio espiritual, mastambm experimentava quo rduo pode ser o trabalho manual.Ouamos a sua prpria declarao: "Vs mesmos sabeis que estas

    mos serviram para o que me era necessrio a mim e aos queestavam comigo" (Atos 20.34). Ali estava um verdadeiro servo doSenhor.

    Alguns supostos obreiros cristos tm, realmente, averso aotrabalho, e sempre podem apresentar alguma desculpa para evit-lo;a outros falta o impulso de buscar trabalho e simplesmente se deixamficar no cio, esperando que acontea alguma coisa. Todo servo fiel a

    Cristo aproveita os momentos; mesmo quando no estejaexternamente atarefado est internamente ativo, esperando no Senhor em autntico exerccio do corao. De certa feita, disse nosso

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    Senhor: "Meu Pai trabalha at agora, e eu trabalho tambm" (Joo5.17); noutra ocasio, fez aos discpulos esta pertinente pergunta:"No dizeis vs que ainda h quatro meses at ceifa? " Erespondendo Ele mesmo indagao, adicionou: "Eu, porm, vosdigo: Erguei os vossos olhos e vede os campos, pois j branquejam para a ceifa" (Joo 4.35). Os discpulos estavam dispostos a esperar durante quatro meses at lanarem mos obra, mas nosso Senhor,na realidade, disse que j era chegado o tempo de se lanarem aotrabalho, e no somente em alguma data futura. "Erguei os vossosolhos e vede", disse Ele, indicando o tipo de trabalhador de que Ele precisava algum que no espera at que o trabalho chegue sua presena, mas que tem olhos para ver o trabalho a ser feito. NossoSenhor mantinha-se sempre alerta para cooperar com o Pai em tudoquanto estivesse fazendo; e, visto que o Pai estava sempre ativo, oFilho igualmente se conservava ativo. No a fervente atividade de pessoas cujas inclinaes para o desassossego as conservam sempreagitadas que pode satisfazer necessidade, mas esta necessidade pode ser satisfeita pelo esprito de alerta do servo diligente, o qualvem cultivando o hbito de olhar para cima e sempre pode ver a obra

    do Pai, que aguarda sua cooperao. Infelizmente, pouqussimos soos crentes que podem ver o que Deus est fazendo atualmente. trgico, mas possvel que atravessemos os campos maduros para acolheita sem ao menos percebermos os gros j maduros. possvelque o trabalho esteja bem defronte de ns sem ao menos nos darmosconta disso. Os crentes a quem falta esse senso de urgncia na obra,que podem esperar confortavelmente pelo espao de "quatro meses",antes de se lanarem tarefa, so "servos inteis". Cristo precisa deobreiros que aproveitem zelosamente os momentos que passam, quenunca adiam o trabalho para o dia de amanh, se puder ser feito hoje.Em alguns lugares no h ceifa pela simples razo que muitogrande o nmero de crentes que no gostam de trabalhar.

    A diligncia essencial se tivermos de servir ao Senhor, masela consiste primariamente de uma questo do ntimo que no podeser medida pelo volume externo de atividades. No ousamos ceder perante a indolncia da nossa prpria constituio, razo pela qualtambm nos devemos esforar por cultivar uma disposio diligente.

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    Entretanto, de nada adiantar que nos obriguemos a trabalhar um pouco mais se formos preguiosos por natureza, porquanto, aps um perodo de trabalho duro certamente reverteremos aos antigos hbitosde indolncia. O de que precisamos de uma transformao radicalem nossa constituio. Estamos familiarizados com as palavras queensinam que o Senhor veio "buscar e salvar o perdido" Ele veiono somente para entrar em contacto com os homens; mas veio procur-los e salv-los. Com que diligncia Ele os buscava e salvava! dessa disposio que precisamos.

    No primeiro captulo de sua segunda epstola escreve Pedro:"...reunindo toda vossa diligncia, associai com a vossa f a virtude;

    com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domnio prprio; com o domnio prprio, a perseverana; com a perseverana,a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor"(versculos 5-7). Essa adio sobre adio caracteriza cada pessoadiligente. Cumpre-nos cultivar a disposio que nunca cessa deadquirir novos territrios no reino espiritual, pois, desse modo,seremos servos teis para o Senhor. Oh, precisamos ser intensamente positivos em Seu servio! Alguns obreiros cristos parecemcompletamente despidos de qualquer senso de responsabilidade; no percebem a vastido do campo; no sentem quo urgente queatinjam as extremidades da terra com o evangelho; to-somente seocupam de sua pequena rea e esperam que coisas melhoressucedam. Se no viram uma nica alma ser salva no dia de hoje,aceitam isso como questo consumada, e esperam vagamente que osresultados do dia de amanh sero melhores; entretanto, se nenhuma

    delas for salva amanh", simplesmente resignam-se novamente anteo inevitvel. Como pode ser atingido o propsito do Senhor comobreiros de tal qualidade?

    Pedro era feito de material diferente. Na passagem queacabamos de citar, o apstolo procura ansiosamente despertar os seusleitores de tudo quanto, porventura, tenha sabor de passividade.Releiam esse trecho e observem a energia divina que pulsa em todo o

    ser de Pedro, a qual ele busca comunicar a outros por meio de suaepistola. O que ele pretendia dizer que logo que tenhamosadquirido uma virtude crist, devemos, imediatamente, procurar

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    suplement-la com outra; e, tendo obtido essa outra, devemos buscar ainda outra qualidade complementar. E assim compete-nos prosseguir, nunca satisfeitos com aquilo que j pudemos conseguir,mas sempre acrescentando e jamais cessando de acrescentar, at queo alvo seja atingido. E qual o propsito desse esforo incansvel?"Porque estas cousas", explica Pedro, "existindo em vs e em vsaumentando, fazem com que no sejais nem inativos, neminfrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo"(versculo 8).

    Note-se que a diligncia elimina a ociosidade. O estadonegativo da ociosidade combatido pelo estado positivo da

    diligncia. A ociosidade no pode ser tratada de modo negativo; temsuas razes na preguia, e a cura para a preguia a diligncia. Sesempre nos encontrarmos desempregados ou inativos, ser necessrioque nos controlemos firmemente; teremos que suprir aquilo que faltaem nossa constituio. Tendo corrigido a primeira deficincia,teremos de corrigir a segunda, e a terceira, e uma por uma de todas asdemais deficincias, at que no sejamos mais "nem inativos, neminfrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo".Se, mediante o poder divino, assim fizermos, ter lugar uma grandetransformao em nosso carter. No mais nos mostraremos vadios,mas antes, nos disporemos para o trabalho rduo e seremos jubilososservos do Senhor.

    Pedro se mostrou incansavelmente diligente ao buscar levar osseus leitores a essa qualidade. Notemos o que ele afirma no versculoquinze: "De minha parte, esforar-me-ei diligentemente por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveislembrana de tudo". O que mais nos impressiona aqui no umaatividade bvia, externa. Mas o senso ntimo de urgncia, deurgncia de esprito, que gerava aqueles incansveis esforos da parte de Pedro.

    Oxal acordssemos para o peso de nossa granderesponsabilidade, para a urgncia da necessidade que nos circunda, e para a natureza transitria do tempo! Se ficssemos impressionadoscom a seriedade da situao, no teramos opo seno lanarmo-nos

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    ao trabalho, ainda que nos tivssemos que privar do alimento e dosono, a fim de atingir o nosso alvo. Nosso tempo j se esgotou quase por inteiro; a necessidade continua desesperadora; nossa soleneobrigao ainda no foi executada. Que, na qualidade de homens quemorrem, nos entreguemos com todo o nosso poder ao serviodaqueles que morrem ao nosso derredor. No permitamos que a preguia natural nos enleie na procrastinao, mas hoje mesmodevemo-nos levantar e ordenar que nossos corpos nos sirvam. De quevale dizermos que ansiamos por servir ao Senhor, se no nosdespertamos de nossa letargia? E de que nos servir todo o nossoconhecimento, se isso no nos puder salvar de nossa indolnciainata?

    Examinemos, uma vez mais, a passagem do captulo vinte ecinco do evangelho de Mateus, que j consideramos no incio denossa preleo. Naquela parbola vimos certo servo do Senhor enfrentar duas acusaes perante o tribunal de Cristo - a acusao de"maldade" e a acusao de "negligncia". O prprio Senhor Jesus proferiu a sentena: "E o servo intil lanai-o para fora, nas trevas"(versculo 30). A avaliao que o Senhor faz do servo preguioso seresume numa palavra, "intil". S o servo diligente Lhe pode ser til. No consideremos superficialmente essa questo; mas aceitemos aadvertncia solene, e de hoje em diante dependamos do Senhor paraque Ele nos capacite a mudar nossos lerdos hbitos. Posto que aindolncia um hbito repetido que se desenvolve com a passagemdos anos, no podemos embalar a esperana de corrigi-la em um diaou dois, nem podemos esperar remedi-la por meio de tratamentos

    suaves. Mas compete-nos tratar de nosso caso sem usar declemncia, na presena do Senhor, se nos tivermos de tornar servosque no sejam "inteis" para o Seu servio.

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    2. ESTVEL

    Leitura:Mateus 16.13-23; I Pedro 2.5 Mateus 18.18; 26.31-41, 69-75; Marcos14.54,66-68.

    A estabilidade outra das qualidades que se deve encontrar navida de todo obreiro cristo. Infelizmente, muitos crentes soextremamente inconstantes. O seu humor se altera com as condies

    atmosfricas, de tal modo que por muitas vezes se tornam brinquedosdas circunstncias; em conseqncia, no se pode depender deles.Suas intenes so boas, mas, em vista de serem emocionalmenteinstveis, freqentemente perdem a estabilidade.

    A Bblia retrata para ns um homem de temperamentoirresoluto, que conhecemos pelo nome de Simo Pedro. Certo dia oSenhor perguntou aos Seus discpulos quem o povo pensava que Ele

    era, ao que eles retrucaram que alguns julgavam-No ser Joo Batista,outros pensavam que Ele fosse Elias, ao passo que ainda outros viam Nele Jeremias ou algum dos profetas. Ento Ele fez a mesma pergunta aos discpulos, dizendo: "Mas vs, quem dizeis que eu sou?"

    A resposta de Pedro: "Tu s o Cristo, o Filho do Deus vivo", provocou de imediato a rplica de Jesus: "Bem-aventurado s, SimoBarjonas, porque no foi carne e sangue quem to revelou, mas meuPai que est nos cus. Tambm eu te digo que tu s Pedro, e sobreesta pedra edificarei a minha igreja" (Mateus 16.13-18).

    Note-se a declarao: "Sobre esta pedra edificarei a minhaigreja". Parece que o Senhor tinha em mente o contraste queestabelecera, no Sermo da Montanha, entre o sbio que edificou asua casa sobre a rocha, em razo do que ela pde resistir tempestade e inundao, e o insensato que edificou a sua casa sobrea areia, e sob o mesmo embate das intempries esta ruiucompletamente. Por mais que a Igreja seja sujeitada a presses,

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    jamais poder entrar em colapso, visto estar firmemente estabelecidasobre a Rocha, que Jesus Cristo.

    Em data posterior, Pedro escreveu as seguintes palavras:"Tambm vs mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casaespiritual" (I Pedro 2.5). A estrutura superior da Igreja se compe damesma substncia de que formado o seu alicerce; e assim como aestabilidade caracteriza o alicerce, igualmente caracteriza o edifciointeiro. A estabilidade, pois, um distintivo necessrio do carter detodo obreiro cristo, pois cada qual uma "pedra que vive". Cristodisse a Pedro: "Tu s Pedro" (em grego, petros, uma pedra) "e sobreesta pedra" (em grego, petra, rocha) "edificarei a minha igreja, e as

    portas do inferno no prevalecero contra ela". Uma pedra que faa parte de um edifcio no uma rocha imensa, semelhana doalicerce; porm, embora o alicerce e a estrutura superior sejamdiferentes quanto s suas dimenses, no tocante substncia so domesmo material. Cada um daqueles que participam do edifcio daIgreja poder ser pequeno em suas medidas, mas no tangente suanatureza em nada difere do Cabea da Igreja.

    Observemos em seguida como prossegue a passagem queacabamos de citar: "Dar-te-ei as chaves do reino dos cus: o queligares na terra, ter sido ligado nos cus; e o que desligares na terra,ter sido desligado nos cus". Essa promessa, aqui dirigida a Pedro,tambm foi feita, mais tarde, Igreja toda (ver Mateus 18.18). claro que Pedro ouviu essas palavras como um indivduo, mas foi emsua capacidade de ministro de Cristo que as chaves do reino dos cuslhe foram confiadas. Foram-lhe entregues aquelas chaves a fim deque pudesse agir como quem abre as portas; e ele atuou claramentenessa capacidade, no dia de Pentecoste e, posteriormente, na casa deCornlio. Na primeira instncia, ele abriu a porta do reino dos cus para os judeus, e, no segundo caso, para os gentios. Entretanto,quando o Senhor Jesus se dirigiu a Pedro, em Cesaria de Filipe, ocarter desse apstolo no correspondia ainda ao seu nome, poisnaquela altura dos acontecimentos era incapaz de fazer uso das

    chaves do reino dos cus. Todavia, quando, pela graa do Senhor, foilibertado da instabilidade que o caracterizava at ento, e se tornouum ministro de Cristo, firme como uma rocha, pde usar as chaves

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    que lhe haviam sido conferidas, e pde valer-se da autoridade deabrir ou fechar.

    Nenhum indivduo marcado por um temperamento irresoluto pode exercer um ministrio dessa natureza. Deve haver equiparaoentre o carter do ministro e o carter do ministrio. Ambos devemtrazer o carter da Igreja contra a qual as portas do inferno jamais podero prevalecer. Infelizmente, contudo, as portas do inferno prevalecem contra muitos obreiros cristos em vista de serem semprevacilantes; por esse motivo, no se pode depender deles na obra doSenhor. A menos que essas naturezas instveis sejam transformadas,seremos incapazes de funcionar no ministrio especfico do qual

    tenhamos sido incumbidos; mas, louvado seja o Senhor, Ele contacom recursos plenamente capazes de transformar o nosso carter, talcomo transformou o de Pedro. Ele pode abordar qualquer espcie defraqueza que porventura esteja maculando as nossas vidas, e podereconstituir-nos de tal maneira que nos tornemos aptos para o Seu propsito.

    A Bblia esclarece que foi por revelao que Pedro foi capaz de

    reconhecer que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo. Jamais teria podido fazer sozinho essa maravilhosa descoberta, nem poderia outrohomem ter-lhe implantado tal conhecimento; mas Deus que lhefizera saber disso. A partir do momento em que Pedro fez suaconfisso, Jesus comeou a falar aos discpulos acerca dossofrimentos que j esperavam por Ele para breve; e lhes falouabertamente sobre a Sua iminente crucificao e ressurreio, aps oque Pedro, "chamando-o parte, comeou a reprov-lo, dizendo:Tem compaixo de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecer.Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda! Satans" (Mateus16.22,23).

    Podemos observar como o pndulo inclinou-se subitamente para o lado oposto. Pedro, que to recentemente atingira to sublimesalturas na sua experincia espiritual, agora caa em abismos perigosos. Nem bem acabamos de ouvir o Senhor reconhecendo quePedro recebera magnfica revelao divina, e imediatamente Oouvimos dizer que o apstolo servia de instrumento nas mos de

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    Satans. Num momento Pedro declarava ao Senhor: "Tu s o Cristo,o Filho do Deus vivo; mas, no instante seguinte, comeou arepreend-Lo. Esses dois momentos, to prximos um do outro, esta-vam separados um do outro, espiritualmente falando, como os povosse opem um ao outro; e o mesmo homem que fora um vaso darevelao divina, naquele brevssimo espao de tempo, setransformara em instrumento de Satans, mediante o qual este procurava impedir que o Senhor galgasse cruz.

    O Senhor, porm, reagiu de pronto, e, dirigindo-se diretamentea Pedro, a quem to recentemente declarara "Bem-aventurado s tu",agora lhe dizia: "Arreda! Satans". Brevssimo perodo se escoara

    desde que Ele declarara "Tu s Pedro, e sobre esta pedra edificarei aminha igreja". Mas como poderia um homem, vencido pessoalmente por Satans, ser usado para edificar a Igreja, acerca da qual o Senhor declarara que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra ela?Se Pedro tivesse de ser alguma vez usado, certamente teria de passar por uma transformao fundamental. E foi exatamente isso queaconteceu. Examinemos o relato segundo se acha registrado nocaptulo vinte e seis do evangelho de Mateus.

    Quando os discpulos estavam reunidos em torno do Senhor,aps a celebrao da pscoa, Jesus lhes disse: "Esta noite todos vsvos escandalizareis comigo; porque est escrito: Ferirei o pastor, e asovelhas do rebanho ficaro dispersas". Pedro, entretanto, com suacaracterstica impulsividade, protestou imediatamente: "Ainda quevenhas a ser um tropeo para todos, nunca o sers para mim". Pedroestava claramente contradizendo ao Senhor, mas ao fazer assimusava de uma bravata: estava convencido de que expressava averdade. Foi devido ao fato que Pedro confiava to firmemente em simesmo que o Senhor reforou a Sua declarao geral a respeito detodos os discpulos, e, dirigindo-se pessoalmente a Pedro, para queno mais restasse dvida alguma de que ele tambm estava includono nmero daqueles que O abandonariam, Jesus acrescentou detalhesque descreviam a profundeza a que Pedro cairia, ao desertar do

    Senhor. Porm, to arraigada era a auto-confiana de Pedro que todasas afirmaes do Senhor no tiveram o dom de convenc-lo; e ele protestou, mais veementemente do que nunca: "Ainda que me seja

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    necessrio morrer contigo, de modo nenhum te negarei". Pedro noestava tentando enganar a quem quer que fosse: era sincero em cada palavra que dizia. Amava ao Senhor e queria segui-Lo sem reservas.Ao falar como o fez, expressava de todo o corao o seu desejo; masequivocava-se, por no ser o homem que julgava ser. Pedro desejava pagar o preo supremo para seguir ao Senhor, mas no pertencia categoria de homem que pensava ser; no era capaz de pagar tal preo.

    Pouco depois de Pedro haver feito suas reiteradas declaraesde que seguiria ao Senhor a qualquer custo, o Senhor disse a ele e aosoutros dois discpulos que levara Consigo em particular, at o jardim

    do Getsmani: "A minha alma est profundamente triste at morte;ficai aqui e vigiai comigo". Mas todos os trs caram no sono. Novamente o Senhor se dirigiu especificamente a Pedro, dizendo-lhe: "Ento, nem uma hora pudestes vs vigiar comigo? " Porm, noesperou pela resposta de Pedro; mas Ele mesmo forneceu a resposta: "O esprito, na verdade, est pronto, mas a carne fraca". Sim,assim era Pedro. Estava to pronto, mas era to fraco.

    Em um prximo instante a cena foi alterada novamente. EPedro mudou conforme as circunstncias. Uma grande multidoviera aprisionar a Jesus, e as emoes de Pedro foram despertadas.Estendeu a mo, puxou da espada e decepou a orelha do servo dosumo sacerdote. No era essa uma prova de sua disposio de morrer em companhia de seu Senhor? Mas, esperem um instante. Jesus foidetido, e agora est sendo levado sozinho. Para onde ter-se-ia idoPedro? 'Ento os discpulos todos, deixando-o, fugiram". Pedro haviadesertado a seu Senhor.

    Marcos registra: "Pedro seguira-o de longe at ao interior do ptio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventurios,aquentando-se ao fogo" (14.54). Subitamente, uma das criadas dosumo sacerdote o reconheceu e exclamou: "Tu tambm estavas comJesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: No o conheo, nemcompreendo o que dizes" (versculos 67 e 68). Seria esse o mesmoPedro, que ainda naquele dia ousara cortar fora a orelha do servo dosumo sacerdote? Sim, era Pedro, realmente, mas agora to dominado

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    pelo temor, quando uma simples criada do sumo sacerdote oidentificava como um dos discpulos, que chegou ao ponto derenegar ao seu Senhor. H poucos minutos queria segui-Lo a todocusto, ainda que isso significasse perder a prpria vida, mas agoraqueria preserv-la a todo custo. A grande exploso emotiva que seapoderara dele j havia amainado; e enquanto Jesus sofria oprbriosno salo de julgamento, Pedro procurava evitar qualquer ligao comos Seus sofrimentos. Por conseguinte, mudou de lugar e foi para o prtico. Ali conseguiu ouvir outro servo, que dizia a alguns dos presentes: "Este um deles", e imediatamente se viu compelido afazer nova negao. Escreve Mateus: "E ele negou outra vez, com juramento: No conheo tal homem" (26.72). No se passou muitotempo quando outras pessoas, que se achavam de p, aproximaram-se dele e lhe disseram: "Verdadeiramente s tambm um deles, porque o teu modo de falar o denuncia. Ento comeou ele a praguejar e a jurar: No conheo esse homem" (versculos 73 e 74).Porventura tratar-se-ia do mesmo Pedro, este homem que agoranegara ao Senhor por trs vezes, que negara conhec-Lo em meio a juramentos e pragas? Sim, era Pedro, verdadeiramente.

    O problema de Pedro no era algo meramente superficial.Havia uma falha fundamental em seu carter. Ele se deixavacontrolar pelas suas emoes, e a sua conduta era sempreimprevisvel, tal como o comportamento de todos aqueles que socontrolados pelos sentimentos. O entusiasmo dessa gente as eleva,ocasionalmente, a alturas excelsas; noutras ocasies, a depresso asconduz s maiores profundezas. possvel que tais pessoas recebam

    a revelao divina, mas tambm possvel que sirvam de obstculono caminho dos propsitos divinos. Inclinam-se por falar e agir com precipitao, sob a presso de algum impulso sbito, mas esseimpulso no tem origem divina. Muitos problemas na obra do Senhor surgem por causa desse defeito radical nas vidas de Seus servos; evisto que a dificuldade radical, ela requer uma correo radical.

    Pedro era possuidor de um carter franco. No era dado

    diplomacia ou s meias medidas; mas era dotado de emoes fortes,e confiava nessas emoes, at que a prova por que passou certo dia

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    mostrou que ele no era homem de devoo inflexvel ao Senhor,conforme os seus sentimentos o tinham levado a acreditar.

    Irmos e irms, tragicamente possvel que nosso supostoamor ao Senhor no passe de pouco mais que um apego sentimental. Nossas relaes emocionais para com o Seu amor no sonecessariamente to profundas nem to puras como pensamos.Sentimos que O amamos totalmente; mas vivemos tanto no campo daalma que julgamos ser do tipo de pessoas que sentimos que somos.Sentimos que queremos viver exclusivamente para Ele e quequeremos morrer por Ele, se Ele assim o desejar; mas, se o Senhor no destruir a nossa auto-confana. como destruiu a de Pedro,

    continuaremos sendo enganados pelos nossos sentimentos, e a nossavida consistir de interminveis flutuaes.Pedro no mentiu deliberadamente ao asseverar a sua devoo

    ao Senhor; mas os seus sentimentos fizeram-no acreditar naquilo queno era verdade. horrvel dizer-se uma mentira; mas digno decompaixo acreditar-se numa mentira. Se continuarmos confiandoem nossos sentimentos, o Senhor poder ter de permitir que

    descubramos, atravs de queda sria, quo indigna de confiana anossa vida emocional.A medida de nossa habilidade de seguir ao Senhor no

    aquilatada pela medida de nosso desejo de segui-Lo.Quem nos dera reconhecer o fato que a Igreja uma estrutura

    eternamente estvel! O alicerce da Igreja um fundamento rochoso,e cada uma das pedras que formam o edifcio tirada dessa mesmarocha. Se nosso carter no corresponde ao carter da verdadeiraIgreja, como podemos esperar fazer parte de sua construo? Se procuramos edificar com material inferior, ento estamos pondo em perigo a estrutura inteira. Pedra de outra qualidade que no aquela doalicerce no resistir tenso imposta sobre ela, e assim nossatentativa de edificar resultar to-somente em runa, e a runasignificar perda para ns mesmos e para outros, e perda de tempo precioso, durante o qual poderia ser completado o trabalho.Verdadeiramente, precisamos dar ouvidos palavra que nos exorta,

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    em I Corntios 15.58: "Sede firmes, inabalveis, e sempreabundantes na obra do Senhor".

    Graas a Deus que Pedro foi conduzido queda a fim dedescobrir a sua prpria fraqueza, e essa queda foi profunda o bastante para esmagar a sua auto-confiana. Nossos fracassos passados notm sido suficientemente srios para nos convencermos de nossocarter indigno de confiana? Continuamos orando e pedindo luzsobre nossa prpria condio, mas o conhecimento de nossosfracassos passados no bastante iluminador para nos levar a cair de joelhos perante Deus, em profunda contrio, permitindo-Lhe quenos refaa, tal como reconstituiu a Pedro? Quando a queda de Pedro

    lhe mostrou de que naipe era feito, "saindo dali, chorouamargamente". Dali por diante o Senhor comeou a reform-lo, atque o seu carter pudesse estar altura de seu novo nome, quandoento pde usar as chaves do reino dos cus com poderosos efeitos.

    No podemos esperar ser transformados em instrumentosnotveis, semelhana de Pedro, mas confiamos em que o Senhor secompadecer de ns e operar uma transformao tal em nossas

    vidas como operou na vida daquele apstolo. Nosso carter precisa passar por uma transformao radical, se tivermos de ser obreiroscristos dignos desse nome.

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    3. CHEIO DE AMOR A SEUS SEMELHANTES

    Leitura: Provrbios 17.5; Marcos 10.45; Lucas 19.10; Joo 10.10 e Lucas 15.

    O amor aos irmos um elemento essencial na vida de todoobreiro cristo, mas no menos essencial o amor por toda ahumanidade. Salomo escreveu: "O que escarnece do pobre insultaao que o criou" (Provrbios 17.5). Deus o Criador de todos os

    homens, e ningum est apto para tornar-se servo Seu se aborrece oudespreza a qualquer deles. verdade que o homem caiu, mas essehomem cado se tornou objeto do amor remidor; e o Senhor queredimiu o homem, Ele mesmo se tornou homem um homemsemelhante aos outros homens, que gradualmente cresceu da infncia plena maturidade. E quando Deus j contava com o Homemsegundo o Seu desejo, na pessoa de Seu Filho, e O exaltara Suamo direita, a Igreja foi trazida existncia, "o novo homem" emCristo.

    Quando chegamos a compreender realmente a Palavra de Deus,ento percebemos que a expresso "filhos de Deus" no se reveste detanta significao quanto o termo "homem", e tambm percebemosque a escolha divina e a eleio divina tinham como seu objetivo umhomem coletivamente glorificado. Quando percebemos o lugar que ohomem ocupa nos propsitos de Deus; quando vemos o homemcomo o foco de todos os Seus pensamentos; quando contemplamoscomo o Senhor humilhou-se, a fim de tornar-se homem; entoaprendemos a apreciar a humanidade inteira.

    Estando nosso Senhor neste mundo, declarou : "Pois o prprioFilho do homem no veio para ser servido, mas para servir e dar asua vida em resgate por muitos" (Marcos 10.45). Ele no ensinou queo Filho de Deus veio a fim de ministrar aos homens; mas disse: "...oFilho do homem... veio..." Nessas palavras entrevemos a atitude doSenhor para com o homem.

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    Uma sria dificuldade, no caso de muitos dentre aqueles queesto engajados na obra crist, a sua falta de amor pelos homens, nasua falta de estima pelos homens, no fato de no perceberem o valor que o homem tem aos olhos de Deus. Sentimos hoje que j chegamosa excelsas alturas se comeamos a amar aos filhos de Deus. Mas.ser isso o suficiente? No, porquanto precisamos expandir-nos; precisamos entender que o nosso amor deve incluir a todos oshomens; precisamos compreender que todos os homens so preciosos para Deus. Sem dvida vocs esto interessados por algumas poucas pessoas inteligentes, por alguns poucos que, de uma maneira ou deoutra, so notveis; mas o que quero saber no se vocs estointeressados por homens extraordinrios, e, sim, se esto interessadosno HOMEM. Essa pergunta importantssima. A frase que diz "...oFilho do homem... veio..." implica, antes de tudo, no que o Senhor estava intensamente interessado no homem: estava to interessadoque Ele mesmo se fez homem. At que ponto vocs estointeressados? Talvez pensem: "Bem, fulano no tem muitaimportncia". Ou ento: "Tal pessoa no representa grande coisa".Mas, como que o Senhor considerou tais pessoas? Ele veio habitar

    entre os homens, na qualidade de Filho do homem. Dava um valor talao homem que se tornou homem, a fim de que pudesse servir aohomem da maneira mais perfeita possvel. Trata-se de algosurpreendente, como tambm extremamente grave, que muitos dosfilhos de Deus se preocupem to pouco com os homens. Irmos eirms, vocs compreendem o sentido desta frase, "...o Filho dohomem ... veio ? " Ela significa que Cristo se importou com toda ahumanidade. Que anormal estado de alma, se estamos interessadosapenas por alguns poucos indivduos seletos!

    O interesse pela raa humana um requisito bsico em todoobreiro cristo, e no apenas o interesse por certo segmento damesma. "Deus amou o mundo". Seu amor abarcou a todos oshomens, e assim tambm deve ser o nosso amor. No devemoslimitar os nossos interesses aos Seus filhos, nem a qualquer outraclasse particular de homens, mas devemos estender nosso amor atodos.

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    Anos de instruo nos tm acostumado a falar de certoshomens como nossos "irmos", e de todos os homens como nossos"semelhantes", e talvez tenhamos comeado a apreciar o fato quealguns homens so verdadeiramente nossos irmos; porm, damos odevido valor a esse outro fato que todos os homens so nossossemelhantes? Infelizmente, muitos dos que se professam servos doSenhor, jamais abriram os seus coraes para com todos os seussemelhantes. Se ao menos ficasse profundamente gravado em nsque Deus nosso Criador, e que todos somos semelhantes uns dosoutros, como tiraramos proveito dos outros, enganando-os, acerca dequalquer coisa? Se, em nosso trato com os nossos semelhantes, buscamos os nossos prprios interesses, o nosso trabalho ter umvalor bem limitado aos olhos de Deus, por maior que seja o seuvolume externo.

    "Pois o prprio Filho do homem no veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10.45)."Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido" (Lucas19.10). "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundncia"(Joo 10.10). Foi por causa do homem que o Senhor Jesus veio a estaterra, e Ele veio com o propsito especfico de servir aos homens.Foi seu avassalador interesse pelos homens que O trouxe do cu terra, a fim de ministrar aos homens de tal maneira que derramou aSua prpria vida em resgate por eles. O poder motivador de Cristoera o Seu apaixonado amor pelos homens. Seu ministrio em favor dos homens resultava de Seu amor por eles; e visto que o Seu amor no conhecia fronteiras, Ele pde servi-los at chegar ao extremo da

    morte na cruz.Se vocs procurarem pregar o evangelho aos perdidos, mas

    jamais se sentirem tocados pelas palavras "Deus criou o homem", eassim consider-los seus prprios semelhantes; e se nunca jamaistiveram um interesse mais do que casual pelos homens; ento noesto aptos para pregar a Cristo como "resgate por muitos". mister que raie em ns o fato que Deus criou o homem Sua semelhana e

    nele concentrou o Seu amor, visto que o homem to enormemente precioso para Ele. A menos que o homem se torne objeto de nossaafeio, impossvel que nos tornemos servos dos homens.

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    Muitos obreiros cristos tm uma atitude completamente errada para com os semelhantes. Consideram-nos um entrave, e algumasvezes se ofendem com os seus atos e no conseguem perdo-los. Mascomo podemos ns, em ns mesmos pecadores por natureza, hesitar em perdoar aos pecadores? Como podemos deixar de compreender assuas fraquezas e defeitos? E como podemos deixar de consider-losqueridos, quando reconhecemos o quanto so prezados pelo Senhor?Ele, o Bom Pastor, pode abandonar tudo e sair em busca de umanica ovelha perdida; o Esprito Santo pode procurar uma nicamoeda perdida; e o Pai pode sair a fim de dar as boas vindas ao Seufilho perdido. Na parbola que h no captulo quinze de Lucas vemoscomo o amor divino pode desgastar-se livremente para redimir aomenos uma alma. E ainda podemos no entender a intensidade doamor de Deus pelo homem?

    Irmos e irms, luz da profunda preocupao de Deus pelohomem, podem vocs ainda considerar com indiferena aos seussemelhantes? Seremos inteis em Seu servio a menos que os nossoscoraes sejam expandidos e que o nosso horizonte seja alargado.Precisamos ver o valor que o homem tem para Deus; precisamos perceber o lugar ocupado pelo homem no eterno propsito de Deus;compete-nos ver a significao da obra remidora de Cristo. Sem isso, vo imaginar que dbeis criaturas como vocs e eu possamos ter alguma participao na grandiosa obra de Deus. Como poderiaalgum ser usado para salvar almas, se no tivesse amor pelas almas?Se ao menos esse defeito fundamental de nossa falta de amor aoshomens pudesse ser solucionado, nossas muitas outras dificuldades

    em relao aos homens haveriam de desaparecer. Julgamos quealgumas pessoas so por demais ignorantes, e pensamos que outrasso muito duras, mas esses problemas desaparecero quando nosso problema bsico de falta de amor aos homens houver sido resolvido.Quando deixarmos de estar em um pedestal e aprendermos a tomar onosso lugar como homens entre os seus semelhantes, ento nuncamais desdenharemos deles.

    Alguns obreiros cristos, criados em reas urbanas, s vezes seinternam pelo interior e, entre a gente simples do campo, adotamuma atitude de superioridade para com eles. Quo diferente isso do

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    Filho do Homem, o qual veio para ser servo de todos! Se vocsforem a algum lugar para pregar o evangelho, mas no forem naqualidade de filhos do homem, tero falhado em sua misso. Sevocs trabalham entre os outros revestidos de uma atitude decondescendncia, no se enganem, confundindo a humildade deCristo com a condescendncia. A condescendncia consciente umahumildade falsa; a humildade genuna no tem conscincia de simesma. Quando Cristo veio habitar entre os homens, veio comoverdadeiro homem. Viveu como homem em meio aos seussemelhantes. Muitos obreiros cristos, ao se movimentarem entre osseus semelhantes, deixam a impresso de que lhes esto prestandoum favor ao se associarem com eles. Nossa conduta jamais deverialevar os outros a sentirem que somos diferentes deles. A menos que possamos ser filhos do homem entre os homens, no seremos nemverdadeiros servos do homem e nem verdadeiros servos de Deus. Osobreiros de Deus devem ser pessoas to abnegadas que sejaminconscientemente humildes. Um homem ignorante e perdido nodifere de vocs e de mim em qualquer outra coisa alm disto, que nsestamos salvos, e que ele no o est. Mas ele tem um lugar no

    propsito criador de Deus, tal como vocs e eu temos; ele tem umlugar no propsito redentor de Deus, tal como vocs e eu temos; e eletem a mesma potencialidade para Deus como vocs e eu temos.

    Talvez cada um de vocs diga: A ignorncia alheia norepresenta problema algum para mim; minha dificuldade surgequando entro em contacto com pessoas de baixa moral ouacostumados a enganar aos outros. Qual deve ser a minha atitude

    para com tais pessoas? Vocs precisam apenas fazer um retrospectoem sua prpria vida. Onde estavam vocs quando a graa de Deus osencontrou? E onde se encontrariam hoje, no fosse a graa de Deus?Se, em qualquer aspecto, vocs diferem deles, trata-se inteiramentede uma questo de Sua graa. Meditem no que a graa de Deus temfeito por vocs. Ao contemplarem a Sua graa, tero de prostrar-se perante Ele e reconhecer: "Por natureza sou to pecaminoso quantoeles, mas sou um pecador salvo pela graa". A contemplao do quea graa de Deus tem feito por ns jamais nos exaltar; pelo contrrio,sempre nos forar a nos humilharmos perante Ele. Se vocs so

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    diferentes dos outros, "pois quem que te faz sobressair? e que tenstu que no tenhas recebido? e, se o recebeste, por que te vanglorias,como se o no tiveras recebido? " A viso do pecado certamentedeve levar-nos a retroceder, mas, apesar disso, devemos estender onosso amor aos pecadores.

    Se, por um lado, a nossa ateno se fixa no fato que todo servode Deus tem a sua prpria funo especial, no nos devemos olvidar, por outro lado, que, por mais diferentes que possam ser as suasfunes, todos os mais autnticos servos de Deus se assemelham emum ponto particular, a saber, que se interessam profundamente peloshomens. Se vocs no se sentem atrados aos pecadores, mas antes,

    preferem evit-los, que esperam poder realizar ao pregar-lhes oevangelho? Afastar-se-ia um mdico de seus pacientes enfermos? Se buscamos aos perdidos por havermos compreendido o quanto elesso preciosos no conceito de Deus, ainda que seja uma s alma,ento nos aproximaremos dos pecadores, no por compulso dodever, mas sob o constrangimento de uma atrao irresistvel.Quando nos chegamos a eles com amor espontneo, descobrimos quese ter aberto perante ns um ilimitado campo de servio, e, pelamisericrdia divina, nos tornaremos servos que Lhe so de algumavalia.

    Oh! se pudssemos ver cada ser humano como uma alma viva,dotada de imensas potencialidades! Quo diferentemente nos temossentido para com os salvos, desde que compreendemos que somos"concidados dos santos"! E sentiremos diferena similar para comos perdidos quando a luz divina raiar sobre ns e, verdadeiramente,virmos cada um como nosso semelhante. Ento lhes daremos valor eos amaremos, e entraremos em harmonia com o Senhor, nesse desejode conquist-los para Si mesmo, a fim de que eles sejam qualmaterial de construo em Suas mos, visando edificao de SuaIgreja. Se vocs ou eu desprezarmos qualquer alma humana,estaremos sendo indignos de permanecer no servio do Filho doHomem, porquanto os Seus trabalhadores so servos dos homens que

    tm por motivo de alegria o poderem servi-Lo.

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    4. BOM OUVINTE

    Outra daquelas qualidades que esperamos encontrar na vida detodo obreiro cristo que ele seja capaz de ouvir. Muitas pessoas,sem dvida, consideram isso como uma questo de somenosimportncia, comparativamente falando; mas a experincia e aobservao nos tm demonstrado que isso de modo algum assim.

    Qualquer indivduo que queira servir ao Senhor deve adquirir ohbito de ouvir o que os outros dizem, e no ouvir de maneira casual,e, sim, ouvir com ateno, com o objetivo de prestar ateno e decompreender o que lhe dito. Se um crente, em necessidade cons-ciente, volta-se para um servo do Senhor pedindo-lhe ajuda, este,enquanto escuta a histria de seu irmo, deve ser capaz de discernir trs tipos diferentes de linguagem - as palavras que ele est proferindo; as palavras que ele est reservando para si; e as palavras

    que ele no pode proferir e que jazem no profundo do seu esprito.Em primeiro lugar, deve-se ter como alvo dar ouvidos ao que

    nosso interlocutor est realmente dizendo, ouvindo-o at que possamos compreender o que ele busca, o que significa que ns precisamos manter tranquilamente defronte de Deus, para que anossa mente esteja desanuviada e nosso esprito esteja calmo, vistoque dar ateno no uma questo muito fcil. Deixem-me

    perguntar-lhes: Vocs podem seguir inteligentemente o que algumdiz, enquanto esse algum procura explicar laboriosamente a suadificuldade? Temo que se vinte de vocs comeassem a ouvir todos mesma pessoa e ao mesmo tempo, haveria tantas impressesdiferentes acerca do problema daquela pessoa quantos fossem osouvintes.

    Ah, temos que aprender a nos controlarmos com mo firme, se

    quisermos adquirir ouvidos aptos a escutar. Nossos ouvidos devemser treinados para ouvir. A menos que estejamos bem disciplinados,ficamos enfadados com os relatos que as pessoas necessitadas

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    derramam em nossos ouvidos, e muito antes que elas parem de falar j as deixamos de ouvir, e ento tiramos as nossas concluses prematuras a respeito de seus problemas. Ou ento, desde o inciolhes damos escassa ateno, visto estarmos to impressionados com aimportncia do que temos para lhes transmitir que s esperamos pelaoportunidade de interromp-las e assumir novamente o papel dequem fala, naturalmente esperando que elas se mostrem boasouvintes.

    Sucede com freqncia que um obreiro, depois de meditar por algum tempo sobre um determinado tema espiritual, fica toimpregnado de seus pensamentos que quando um irmo aflito busca

    a sua ajuda, ele, imediatamente, expe a questo sobre a qual vinhameditando. Depois, quando um irmo dominado de alegria e regozijose apresenta, recebe o mesmo tratamento; e a mesma coisa impingida a todos quantos procuram aquele obreiro, sem importar oestado dos mesmos. Na obra crist a questo de prestar ajuda aosoutros mais difcil do que a tarefa do mdico que busca aliviar ossofrimentos dos pacientes que vm sua clnica, pois conta com umlaboratrio onde podem ser efetuados testes que possam auxili-lo nodiagnstico dos diversos casos, enquanto que o obreiro cristo temque chegar ao seu diagnstico sem qualquer ajuda semelhante. Sealgum vier a vocs e se puser assentado durante meia hora a fim delhes suprir de informes sobre a sua condio, mas vocs no lhe puderem dar ateno cuidadosa, como sero capazes de localizar asua dificuldade? imperativo que todos quantos servem ao Senhor cultivem a arte de dar ouvidos ao que os outros dizem, a fim de que

    se tornem ouvintes sagazes e desenvolvam a capacidade decompreender o problema especfico de cada indivduo.Em segundo lugar, quando algum necessitado nos dirige a

    palavra, enquanto ele fala devemos discernir o que tal pessoa estevitando dizer. Naturalmente, mais difcil obter um registro clarodas palavras no proferidas do que daquelas que so ditas, mas temosque aprender a ouvir com tanta ateno que possamos discernir to

    bem o que audvel como aquilo que inaudvel. Quando as pessoasnos consultam sobre as suas questes, no incomum que nosrelatem apenas metade da histria e se refreiem de divulgar a outra

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    metade. nesse ponto que a competncia do obreiro posta prova.Se vocs so obreiros incompetentes, discerniro somente aquilo quefor audivelmente expresso; ou talvez vocs procurem compreender ahistria interpretando-a, inserindo os seus prprios pensamentos, pensamentos que jamais subiram ao corao do interlocutor. Oresultado ser que vocs compreendero mal aquele que veio atrs deauxlio. Se vocs tiverem de interpretar corretamente, ento sernecessrio que mantenham estreitas relaes com o Senhor. Quandouma pessoa necessitada fala somente da sua dificuldade superficial,mas faz silncio quanto questo mais importante, como poderovocs reconhecer a sua condio? Podero, de fato, reconhec-la,contanto que suas prprias relaes com o Senhor no estejamconfusas.

    Em terceiro lugar, devemos ser capazes de descobrir o que osseus espritos esto dizendo. Por detrs de todas as palavras que uma pessoa possa proferir, e das palavras que ela esteja deliberadamenteocultando, existe aquilo que j denominamos de palavras proferidas pelo esprito. Quando qualquer crente em necessidade comea a abrir a boca e a falar, ento o seu esprito tambm fala. O fato que ele sedispe a falar sobre si mesmo lhes dar a oportunidade de tocaremem seu esprito. Se os seus lbios se mantiverem fechados, porm,ser difcil saber o que se passa em seu esprito, mas, paralelamentecom as palavras que lhe saem dos lbios, o seu esprito encontraralgum meio de expresso, por mais que ele se esforce por controlar-se. A habilidade de vocs discernirem o que o esprito de tal pessoaquer dizer depender da medida da prpria experincia espiritual que

    vocs j tiveram. Se tiverem adquirido compreenso mediante oexerccio do corao na presena de Deus, ento sero capazes dediscernir as palavras proferidas por aquele irmo; as palavras que eleevitou exprimir; e as palavras que ele est dizendo no mais ntimo doseu ser. Vocs sero capazes de discernir a dificuldade intelectualque ele definiu, e tambm a dificuldade espiritual que no foidefinida; e ento estaro em posio de oferecer o remdio especfico para o caso.

    uma tragdia que to poucos crentes sejam bons ouvintes.Pode-se passar uma hora inteira a lhes explicar uma dificuldade, mas,

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    no fim, continuam totalmente atordoados a respeito. que a atenono foi suficientemente aguda. Se no formos capazes de ouvir o queos outros tm para nos dizer, como podemos dar ouvidos ao queDeus nos diz? Oh! no tomemos o caso como uma questoinsignificante. Se no aprendermos a ouvir, e ouvir comentendimento, ainda que nos tornemos grandes leitores da Bblia ougrandes mestres das Escrituras, e nos tornemos eficientes em vriostipos de trabalho, continuaremos incapazes de tratar do caso de umirmo necessitado. Devemos ter a habilidade no somente de falar com as pessoas, mas tambm de cuidar das suas dificuldades. Porm,como isso poder vir a ser uma realidade se tivermos aprendido ausar a boca, mas no os ouvidos? Sim, cumpre-nos entender aseriedade dessa falha.

    Conta-se a histria de um antigo mdico cujo estoque demedicamentos consistia exclusivamente de duas variedades leode rcino e quinino. No importava do que os seus pacientes sequeixassem, invariavelmente ele prescrevia um ou outro dessesmedicamentos. Muitos obreiros cristos tratam exatamente dessemodo daqueles que buscam a sua ajuda. Contam com apenas um oudois recursos favoritos, e por mais variados que sejam os malesdaqueles que os procuram, aconselham-nos segundo esses parcosrecursos. Tais obreiros no podem ser de grande auxlio para osoutros, visto que s podem falar; no sabem ouvir. Como, pois, podemos adquirir a capacidade de ouvir s pessoas e de entender oque dizem?

    (1) Devemos evitar a subjetividade. Porque uma das principais razes por que tantas pessoas so ms ouvintes. Setivermos os nossos prprios conceitos acerca das pessoas,descobriremos ser difcil aceitar o que elas dizem, porquanto nossamente j estar repleta das nossas prprias concluses. Ficamos tofixos em nossas noes que as opinies alheias no penetram emnossas mentes. Estamos to firmemente persuadidos que jdescobrimos a panacia para todos os males que, sem importar quo

    variegadas sejam as necessidades daqueles que nos buscam,oferecemos sempre o mesmo remdio para todos. Como possvelque um obreiro d ateno ao que os outros lhe dizem acerca de suas

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    necessidades se, antes de ao menos abrirem a boca, ele estconvencido de que j conhece a dificuldade e j tem o remdio mo? Precisamos rogar ao Senhor que nos liberte dessasubjetividade. Acheguemo-nos a Ele e oremos para que Ele nos capa-cite a pr de lado todos os nossos preconceitos e concluses prprios,em todos os nossos contactos com os nossos semelhantes, e para queEle mesmo nos instrua para que possamos chegar ao diagnsticocerto em cada caso.

    (2) No devemos divagar. Muitos crentes nada conhecem doque se refere disciplina mental. Dia e noite os seus pensamentosfluem sem interrupo. Nunca se concentram, mas permitem que a

    sua imaginao divague para l e para c, at que as suas mentesacumulem tantos subsdios que nada mais podem tolerar. E assim,quando algum lhes dirige a palavra, no podem seguir o que lhes dito, mas s podem seguir a linha dos seus prprios pensamentos oufalar das coisas que os preocupam. essencial que aprendamos atranqilizar as nossas mentes, para que possamos ouvir e aceitar oque nos estiver sendo dito.

    (3) Cumpre-nos aprender a penetrar nos sentimentos alheios.Ainda que sejamos capazes de escutar o que algum nos diz, seremosainda incapazes de compreender as suas necessidades, a menos que possamos entender, com atitude simptica, as suas circunstncias. Sealgum vier a vocs profundamente aflito, mas vocs permaneceremem atitude despreocupada e leviana, no tendo sido tocados pelaaflio dele, no sero capazes de chegar ao verdadeiro diagnsticodo caso. Se a nossa vida emocional no tiver sido moldada por Deus,quando outros expressarem a sua alegria seremos incapazes deirromper em jubilosa reao, e quando exprimirem as suas tristezas,nos mostraremos incapazes de compartilhar das mesmas; emconseqncia, quando os outros falarem, seremos capazes de ouvir as palavras que proferem, mas no poderemos interpretar corretamenteo seu sentido.

    No nos devemos esquecer de que, por amor de Cristo, somosservos uns dos outros, e compte-nos no s devotar-lhes nossotempo e nossas foras, mas tambm importa que deixemos que

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    nossas afeies se estendam para eles. Diz-se do Senhor Jesus queEle pode "compadecer-se das nossas fraquezas". As exignciasimpostas por Deus queles que pretendem servi-Lo so muitorigorosas. Elas no nos do margem para nos entregarmos ao lazer e para nos ocuparmos conosco mesmos. Se tivermos de nos envolver com o nosso prprio riso e com as nossas prprias lgrimas, com asnossas prprias preferncias e com os nossos prprios gostos, entoestaremos por demais preocupados para nos entregarmos livrementeao servio dos outros. Se nos aferrarmos aos nossos prprios prazerese aflies, e hesitarmos em desviar a ateno dos nossos interesses,ento nos pareceremos com salas to repletas de mveis que nadamais elas podem acomodar. Ou, dizendo a mesma coisa noutras palavras, despenderemos todas as nossas emoes conosco mesmos,e nada mais teremos para despender com o prximo. necessrioque entendamos que a fora de nossas almas tem um limite, tal como limitada a energia dos nossos corpos. Nossos poderes emocionaisno so ilimitados. Se exaurirmos as nossas simpatias com algumacoisa, nada mais teremos para gastar com outra. Por esse motivo,quem quer que tenha um afeto desordenado por outrem, no pode ser

    servo do Senhor. Ele mesmo estipulou: "Se algum vem a mim, eno aborrece a seu pai, e me, e mulher, e filhos, e irmos, e irms eainda a sua prpria vida, no pode ser meu discpulo" (Lucas 14.26).

    A necessidade bsica de todos aqueles que se ocupam da obrado Senhor consiste em conhecer a cruz por experincia prpria;doutro modo nos dobraremos sobre ns mesmos e seremosgovernados por nossos prprios pensamentos e sensaes. No existe

    maneira rpida e fcil para algum se tornar til para Deus e para osseus semelhantes. Relembremo-nos que os maus ouvintes jamaissero bons obreiros; e para que nos transformemos em bons ouvintes,a cruz ter que operar profundamente em nossas vidas, libertando-nos da tendncia de ficarmos absorvidos somente conosco mesmos, oque nos torna surdos para com as preocupaes alheias. A profundaao da cruz em nossas vidas produzir a calma interior que nos farser ouvintes cheios de pacincia. Isso no significa que deixaremosas pessoas falarem horas sem fim, enquanto ficamos assentados, aouvi-las em silncio, mas quer dizer que lhes daremos uma

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    oportunidade razovel de explicar-nos o que se passa nos coraesdelas.

    H uma idia errnea, mui generalizada entre os obreiroscristos. Pensam eles que o essencial bsico que sejam capazes defalar. Nada mais afastado da realidade! Para sermos obreiros eficazes precisamos de clareza espiritual; necessitamos de discernimentoacerca das condies de todos quantos procurarem a nossa ajuda;necessitamos de tranqilidade mental para que ouamo-los a expor oseu caso; e precisamos de sossego de esprito para que possamossentir a verdadeira condio deles, alm daquilo que nosdesvendarem. Ns mesmos teremos que permanecer em correta

    relao para com o Senhor, de tal modo que, donos de luz interna, possamos discernir claramente as necessidades alheias, e, base deum diagnstico exato, sejamos capazes de aplicar o remdioespecfico exigido em cada caso.

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    5. COMEDIDO NAS PALAVRAS

    Leitura:Tiago 3.1; Eclesiastes 5.3; I Timteo 3.8; Mateus 5.37; Efsios 5.4 e Isaas 50.4.

    Por falta de comedimento nas palavras, seriamente cerceada autilidade de muitos obreiros cristos. Em lugar de sereminstrumentos poderosos no servio do Senhor, o seu ministrio

    produz pouco efeito, devido ao constante desgaste de poder, devidoao seu falar descuidado, sem nenhuma cautela. No terceiro captulo de sua epstola, Tiago faz a seguinte

    pergunta: "Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que doce eo que amargoso? " (versculo 11). Se um obreiro cristo costumafalar sem a menor cautela a respeito de todas as questes possveis,como pode esperar ser usado pelo Senhor na propagao de Sua

    Palavra? Se Deus chegou a pr a Sua Palavra em nossos lbios, ento pesa sobre ns a solene obrigao de resguardarmos os nossos lbios,usando-os exclusivamente para o Seu servio. No podemos oferecer um membro de nossos corpos para o Seu uso, em um dia, para, nodia seguinte, retroceder e us-lo a nosso bel prazer. O que quer queLhe tenha sido dedicado uma vez, ser eternamente Dele.

    No dcimo sexto captulo de Nmeros somos informados sobrecomo Cor e os seus seguidores se uniram em oposio a Moiss eAro, e como cada um dos duzentos e cinqenta homens tomou o seuincensrio com brasas e o apresentou ao Senhor. Todos eles pereceram, em face de sua presuno, mas Deus ordenou que Moissaproveitasse os incensrios. Observe-se o motivo da preservao dosmesmos: "Disse o Senhor a Moiss: Dize a Eleazar, filho de Aro, osacerdote, que tome os incensrios do meio do incndio, e espalhe ofogo longe, porque santos so; quanto aos incensrios daqueles que

    pecaram contra a sua prpria vida, deles se faam lminas paracobertura do altar: porquanto os trouxeram perante o Senhor; pelo

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    que santos so" (versculos 36-38). Tudo quanto houver sidooferecido a Deus consagrado a Ele, e no mais pode ser utilizado para uso profano.

    A passagem de Eclesiastes 5.3 afirma que na multido de palavras podemos detectar a voz do insensato. Deixamostransparecer a nossa insensatez atravs da nossa loquacidade.Sentimos que devemos dizer tal ou qual coisa para fulano e,naturalmente, no podemos deixar de dizer muitas outras coisas amuitas outras pessoas. Sempre nos parece haver uma boa razo paradizermos algo para algum. Oh, como alguns dentre ns gostam defalar, e, acima de tudo, gostam de passar adiante o que ouviram!

    Enquanto isso, muita energia espiritual vai sendo assim dissipada.H determinados particulares, vinculados a essa questo de

    falar, que devemos observar. Em primeiro lugar, notemos o tipo deconversa que nos d prazer de ouvir. Dessa maneira, podemos chegar a conhecer-nos melhor, porquanto o tipo de conversa que nos atraiindica de que tipo de pessoa somos ns. Algumas pessoas nuncaconfiam na gente por saberem que no somos do tipo que

    corresponderia afirmativamente ao que tm para dizer; ao passo queoutras pessoas dirigem-se diretamente a ns e derramam em nossosouvidos toda a mais recente informao que ouviram, visto terem julgado que pertencemos quela categoria de indivduos que gostamde ouvir o que elas tm para dizer. Vocs podem aquilatar a simesmos parando para observar as coisas que as pessoas gostam dedizer para vocs.

    Em segundo lugar, observemos quais histrias aceitamos commaior credulidade, pois aquilo a que nos inclinamos a crer revela osnossos pendores. Somos mais crdulos para certas coisas do que paraoutras, e a direo de nossa credulidade deixa entrever onde reside anossa fraqueza constitucional. As pessoas, naturalmente, esto prontas a propalar rumores, e nossas tendncias temperamentais,algumas vezes, tapeiam-nos e nos fazem dar crdito ao incrvel,sobretudo quando as declaraes que nos so feitas so aliceradasna assertiva de que o informante sabe o que diz.

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    Em terceiro lugar, devemos notar se, quando ouvimos osrelatos que nos so transmitidos, os quais so aceitos sem delesduvidarmos, temos o hbito de pass-los adiante. Vocs jobservaram esse processo? Determinado indivduo, dotado de certainclinao, profere determinadas palavras, que so coloridas pela sua personalidade; e posto haver alguma afinidade entre ele e eu, dou-lhetoda a ateno, e uma parte da personalidade dele penetra-me nontimo; em seguida, acrescento as cores do meu prpriotemperamento e transmito a questo a uma terceira pessoa.

    Ato contnuo. observemos a propenso que algumas pessoasrevelam de transmitir informaes inexatas. Contam uma mesma

    histria em ocasies diferentes, mas os seus relatos no seharmonizam entre si. Em sua primeira epstola a Timteo, Pauloalude a essa espcie de pessoas, recomendando que o obreiro cristodeve ser "de uma s palavra" (I Timteo 3.8). Alguns indivduosusam de duplicidade nas palavras, devido sua ignorncia efraqueza, mas, no caso de outros, revela-se mais do que mera falhade temperamento h corrupo moral. O trecho de Mateus 21.23-27 registra que os principais sacerdotes e os ancios do povo vieramter com Jesus, estando Ele a ensinar no templo, e indagaram Delecom que autoridade agia. Ele retrucou com uma pergunta: "Dondeera o batismo de Joo? do cu ou dos homens? " Isso os ps em umdilema, pelo que arrazoaram entre si: "Se dissermos: Do cu, ele nosdir: Ento por que no acreditastes nele? E, se dissermos: Doshomens, para temer o povo, porque todos consideram Joo como profeta". O resultado desses raciocnios foi que eles evitaram

    enfrentar a verdade, e disseram: "No sabemos". A resposta deles foiuma mentira deliberada. Em Mateus 5.37 lemos que o Senhor recomendou: "Seja, porm, a tua palavra: Sim, sim; no, no. O quedisto passar, vem do maligno". No cabe ao obreiro cristo ser governado pela diplomacia, e nem deixar de pensar sobre o possvelefeito de suas palavras sobre os seus ouvintes, antes de resolver o quelhe compete dizer. Quando certos indivduos buscavam armar umaarmadilha diante do Senhor, mediante suas perguntas capciosas,algumas vezes Ele apelou para o recurso do silncio, mas jamais paraa diplomacia. Sigamos o Seu exemplo, e acolhamos o conselho de

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    Paulo, o qual escreveu aos corntios: "Se algum dentre vs se tem por sbio neste sculo, faa-se estulto para se tornar sbio" (ICorntios 3.18). E escrevendo aos romanos, disse ele: "Quero quesejais sbios para o bem e smplices para o mal" (16.19). No terrenoespiritual a sabedoria do mundo no tem o mnimo valor. Adificuldade de muitos que nunca aprenderam a dizer "Sim" comcandura, quando os fatos exigem um sim, e a dizer "No", quandosabem que a verdade tem que ser expressa com uma negativa. Jamaisfalam com simplicidade, com franqueza, mas tudo cuidadosamenteestudado, e as suas declaraes so sempre adaptadas aos seus prprios interesses.

    Na qualidade de servos do Senhor, entramos em contactoconstante com muitas pessoas, desfrutando assim de muitssimasoportunidades de falar com outros e de ouvi-los; razo por que essencial que exeramos controle estrito sobre ns mesmos, a fim deque no suceda que nos tornemos pregadores da Palavra, ao mesmotempo que fazemos o papel de propagadores de boatos. Esse trgicoestado de coisas mais do que uma simples possibilidade. Sequisermos evitar esse ardil, no qual no poucos j caram, precisamoster cuidado no somente com os nossos lbios, mas igualmente comos nossos ouvidos. Em nosso trabalho, no podemos deixar de ouvir muitas coisas que as pessoas tm para revelar-nos sobre os seusnegcios, e para sermos obreiros eficientes somos forados a cultivar a arte de prestar ateno, a fim de que nos seja possvel ajud-las.Contudo, devemos desencoraj-las de continuar revelando detalhes,uma vez que j tenhamos compreendido com clareza a necessidade

    delas. Cumpre-nos manter eterna vigilncia, para que a nossa naturalcuriosidade no nos leve a ouvir mais do que convm que saibamos.Existe aquilo que se poderia denominar de concupiscncia deconhecimento, concupiscncia de informaes a respeito da vidaalheia; e precisamoster cuidado com isso. Convm que sejamoscomedidos nas palavras; porm, se tivermos de usar de comedimentonaquilo que dizemos, primeiramente devemos exercer comedimentonaquilo que ouvimos.

    Levanta-se nesta altura a questo de obter e reter a confianados outros. Se algum compartilhar de seus problemas espirituais

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    conosco, tratar-se- isso de uma prova de confiana que devemosrespeitar. No devemos falar acerca dessas confidncias a menos queos interesses da obra tornem tal coisa necessria. Como poderiamvocs servir ao Senhor, se trarem a confiana em vocs depositada?Mas, que outra coisa podero fazer, seno trair a confiana, se aindano aprenderam a dominar a prpria lngua? Precisamos reputar taisconfidncias como um depsito sagrado, guardando-as fielmente.Aqueles que, por motivo de sua necessidade, compartilharem de suashistrias secretas com vocs, no o faro para aumentar o cabedal deconhecimentos que vocs possuem. Mas tais pessoas se aproximamde ns em virtude no do que somos pessoalmente, mas em virtudedo ministrio que exercemos; por isso mesmo, no podemosconsiderar tais informes como um conhecimento pessoal, que possaser compartilhado com todos e qualquer um. Cumpre-nos aprender asalvaguardar toda a confiana que outros tiverem posto em ns.Aqueles que so incapazes de refrear a prpria lngua no podemfazer parte da obra do Senhor.

    Ao abordarmos a questo da lngua, -nos impossvel evitar oassunto do pssimo hbito de proferir mentiras. O indivduo que usade duplicidade, ao qual j tecemos aluses, parente prximo domentiroso. Todas as asseveraes feitas com o intuito de enganar cabem dentro da categoria das inverdades, ao passo que o intuito deenganar um defeito que procede do ntimo. Se a vocs for feitaalguma pergunta que no desejem ou no possam responder, poderorecusar-se polidamente a dar resposta, mas no ousem iludir queleque os interroga. Queremos que as pessoas acreditem na verdade, e

    no na mentira; por conseguinte, no ousamos utilizar palavras que,em si mesmas, sejam verazes, a fim de transmitir uma impressofalsa. Se um fato exigir um sim, ento teremos que aprender aresponder com um sim; se exigir um no, que aprendamos a dizer no. O que vai alm disso, provm do maligno. O Senhor, de certafeita, falou em termos extremamente severos para certas pessoas quequeriam segui-Lo, dizendo: "Vs sois do diabo, que vosso pai...Quando ele profere a mentira, fala do que lhe prprio, porque mentiroso e pai da mentira" (Joo 8.44). Satans o autor dasmentiras, e em face do fato que todas as mentiras se originam nele,

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    como poderia algum que se diz consagrado ao Senhor emprestar osseus lbios para que profiram palavras instigadas pelo Seu inimigo?Onde quer que se verifique tal fenmeno, isso indica uma dificuldadefundamental na vida do indivduo. Trata-se de um problema da maisgrave natureza possvel. Nenhum de ns tem a coragem de afirmar que sempre diz exatamente a verdade (de fato, quanto maiscuidadosamente procuramos ser verazes, tanto mais percebemos adificuldade de ser exatos em tudo quanto dizemos), mas devemoscultivar o hbito de ser verazes e de evitar toda a afirmao precipitada.

    Evitemos tudo quanto cheire a altercao. Foi predito acerca de

    Jesus: "No contender, nem gritar, nem algum ouvir nas praas asua voz" (Mateus 12. 19). E Paulo escreveu para Timteo, dizendo:" necessrio que o servo do Senhor no viva a contender" (IITimteo 2.24). O servo do Senhor deve conservar-se debaixo de talcontrole que no d margem a conversas ruidosas ou a qualquer coisaque se assemelhe a altercaes. Falar em altos brados usualmenteindica falta de poder, e sempre indica a necessidade de auto-disciplina.

    Podemos ter plena razo naquilo que dizemos, mas no hnecessidade de fazermos afirmaes em altos brados, quandoqueremos dizer a verdade: pois poderemos impressionar os nossosouvintes com a verdade sem usar de qualquer insistncia ruidosaacerca de nossas convices a respeito. Andemos na presena doSenhor na calma dignidade que convm aos Seus servos. Natu-ralmente, no desejamos assumir uma sobriedade ou refinamentomeramente artificial, porquanto a vida crist c espontnea e semafetao; mas o domnio prprio tem que ser posto em prtica at quese torne em ns uma segunda natureza.

    O domnio prprio no terreno da linguagem elimina grande parte do linguajar frvolo e inconveniente, ao que Paulo se refere emsua epstola aos Efsios como "cousas inconvenientes" (5.4); eigualmente anula a zombaria e muitas outras coisas que ao servo deCristo no cabe praticar. Se pudermos entreter uma audincia comnossas histrias interessantes e observaes engraadas e crticas

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    espirituosas, no conseguiremos conquistar o seu respeito ao lhefalarmos acerca do Senhor; as nossas palavras no tero valor paraeles. Quando nos dirigimos ao plpito a fim de proclamar a Palavrade Deus, eles aquilataro a nossa prdica com a mesma medida comque avaliaram as palavras que proferimos to frivolamente, quandoainda no estvamos no plpito. No nos olvidemos daquela aguda pergunta feita na Palavra de Deus: "Acaso pode a fonte jorrar domesmo lugar o que doce e o que amargoso? " No h necessidadede preparativos laboriosos antes de subirmos ao plpito para pregar; porm, temos necessidade de precauo constante em nossa conver-sao diria normal, a fim de que nossa maneira descuidada de falar no venha a fazer-nos perder poder, para que no se tornemineficazes as nossas palavras, quando estivermos falando do plpito.

    Se vocs adquirirem o vcio de falar sem cuidado, tambmlero a Bblia descuidadamente. As palavras desse Livro so asnicas palavras inteiramente dignas de confiana, mas, se vocs noapreciam exatido de linguagem, ento no acolhero essas palavrascom seriedade; em conseqncia, a prdica de vocs ter pouco poder. Para que o pregador pregue a Palavra de modo eficaz, requer-se que este tenha determinada disposio; e a leitura das Escriturasrequer idntica disposio. Pessoas de carter descuidado seaproximam da Palavra de Deus com atitude frvola e no podemembalar a esperana de chegar a compreend-la verdadeiramente.Ilustremos o assunto por intermdio da prpria Bblia.

    No captulo vinte-e-dois de Mateus aprendemos que ossaduceus no acreditavam na ressurreio. Um dia vieram ter com oSenhor e lhe apresentaram o seguinte problema: "Mestre, Moissdisse: Se algum morrer, no tendo filhos, seu irmo casar com aviva e suscitar descendncia ao falecido. Ora, havia entre ns seteirmos: o primeiro, tendo casado, morreu, e, no tendo descendncia,deixou sua mulher a seu irmo; o mesmo sucedeu com o segundo,com o terceiro, at ao stimo; depois de todos eles, morreu tambm amulher. Portanto, na ressurreio, de qual dos sete ser ela esposa?

    porque todos a desposaram". Mas Jesus respondeu: "Errais, noconhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Porque naressurreio nem casam nem se do em casamento; so, porm,

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    como os anjos no cu. E quanto ressurreio dos mortos, notendes lido o que Deus vos declarou: Eu sou o Deus de Abrao, oDeus de Isaque e o Deus de Jac? Ele no Deus de mortos, e, sim,de vivos" (versculos 24-32). claro que os saduceus liam asEscrituras, mas no as entendiam. Suas prprias palavras eram profe-ridas com frivolidade, e, por esse motivo, no podiam apreciar aexatido absoluta das declaraes divinas. Nosso Senhor to somentecitou uma breve passagem da Palavra de Deus para responder indagao deles, a saber, xodo 3.15, onde Deus chama a Si mesmode Deus de Abrao, Deus de Isaque e Deus de Jac. Aliceradonessas poucas palavras, nosso Senhor raciocinou como segue: Vocs,saduceus, admitem que Abrao est morto, que Isaque est morto, eque Jac est morto; no entanto, Deus declara que Ele o Deusdeles, como igualmente afirma que Ele no Deus de mortos, mas devivos; por conseguinte, nada menos do que a ressurreio podecapacitar o Deus vivo a ser o Deus deles. E, dessa forma, os saduceusforam silenciados.

    Quando nos tivermos de apresentar perante o tribunal deCristo, talvez descubramos que o dano produzido pela maneira defalar leviana e ftil em muito excede ao prejuzo causado de muitasoutras maneiras, visto que opera grande destruio, tanto em outrasvidas como em nossa prpria. As palavras, uma vez sadas de nossoslbios, no mais podem ser recuperadas; pelo contrrio, prosseguirocada vez para mais longe, passando de boca para ouvido e de ouvido para boca, espalhando danos enquanto prossegue. Podemo-nos ar-repender de nossa insensatez, e podemos receber o perdo, mas no

    podemos recolher de volta aquilo que soltamos. Temos falado arespeito de vrios defeitos de carter que maculam a vida e oministrio de muitos crentes; entretanto, se a nossa dificuldade umalngua solta, ento o problema mais grave do que todos os demais problemas mencionados, pois as palavras descuidadas que a lngua profere liberam uma torrente mortfera que se espalha cada vez mais,levando a morte por onde quer que passe.

    Irmos e irms, em face de fatos to solenes, precisamosarrepender-nos. Muitas palavras que temos proferido nos dias passados foram "palavras ociosas", mas agora elas no so mais

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    "ociosas", pelo contrrio, esto intensamente ativas, a semear umafuriosa destruio. Busquemos a purificao divina quanto ao pas-sado, e, no tocante ao presente, confiemos em que Ele resolverradicalmente essa misria que ameaa destruir a nossa utilidade paraEle. Se, em Sua misericrdia, Ele assim fizer, no futuro seremos poupados de muita tristeza e lamentao. Abrao pde arrepender-sede ter gerado a Ismael, e at mesmo depois desse lamentvelnascimento segundo a natureza carnal ainda pde gerar a Isaque, deconformidade com o propsito divino. Porm, ele j havia posto nomundo um adversrio da descendncia escolhida por Deus; e aindaque tivesse despedido a Hagar e a seu filho para longe de Isaque, issono solucionou a divergncia entre os dois, a qual continuava muitoviva, apesar da passagem dos sculos.

    Acha-se escrito acerca do Senhor Jesus: "O Senhor Deus medeu lngua de eruditos" (Isaas 50.4). A expresso "lngua deeruditos" poderia ser traduzida por "lngua de discpulo", isto , dealgum que tem sido disciplinado. Necessitamos buscar fervorosamente ao Senhor, para que Ele nos capacite a controlar a prpria lngua, a fim de que esse membro "indomvel" possa tornar-se um membro disciplinado. Quando a nossa boca fica debaixo decontrole restrito, e deixa de liberar aquilo que causa dano aosinteresses do Senhor, ento podemos esperar que Ele a use como porta-voz. Assim como Ele santificou-se a Si mesmo por nossacausa, por semelhante modo que nos santifiquemos, por causadaqueles para quem Ele nos enviou. Mantenhamo-nos sempre emestado de alerta, separando-nos de todas as ligaes que nos

    envolveriam em conversas que no contribuem para a edificao, pois de outro modo poramos em risco o ministrio que Deus a nsconfiou.

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    6. OBJETIVO

    Leitura: Nmeros 22.7-20; Gnesis 22.1-13; Salmos 32.8,9; Mateus 20.25,26 e Filipenses 1.15-18.

    A subjetividade outro dos defeitos de carter de algunsobreiros cristos, o que produz um efeito adverso em seu trabalho. Jtivemos oportunidade de mencionar uma das direes em que se

    manifestam os seus malficos efeitos a incapacidade de ouvir.Conforme j tivemos ocasio de frisar, essencial que todo obreirocristo cultive a habilidade de dar ateno ao que as pessoas tm paralhe dizer; doutra maneira, o obreiro no ter meios de conhecer osseus semelhantes, e, em conseqncia, no poder servi-los.

    Outro efeito prejudicial da subjetividade a incapacidade deaprender. Uma pessoa subjetiva tem opinies formadas to

    arraigadas que quase no pode ser ensinada. Quando certos jovens selanam ao trabalho cristo imaginam que j sabem tudo quanto se pode saber, e mostram-se to apegados s suas idias que quaseimpossvel faz-los aprender alguma coisa, pelo qual motivo o progresso deles tambm dolorosamente lento. A incapacidade deaprender um dos mais trgicos aspectos da subjetividade. Sealgum no pode aprender, que possibilidade de progresso podehaver? Se pudermos ser inteiramente libertados de nossa relutnciaem aceitar a instruo, para que a aceitemos sem hesitao, entoseremos capazes de passar rapidamente de uma lio para outra.Existem lies interminveis a serem aprendidas no campo espiritual,e, assim sendo, devemos estar preparados para receber subsdios demuitas direes diversas. A menos que nos tornemos melhoresaprendizes, faremos um progresso pateticamente nfimo, at mesmodurante todo o decurso de nossas vidas.

    O segredo do progresso espiritual e a receptividade para comDeus, sendo essa uma razo por que devemos abrir-Lhe com

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    franqueza nosso corao, mente e esprito, para que as impressesdivinas possam chegar at ns; pois se falharmos nisso, ficaremos toimpassveis ante as impresses que Ele ter de usar da espora e dofreio, ou dos aoites do ltego, a fim de tornar-nos cnscios de Sua presena e propsito. A incapacidade de receber orientao umadas conseqncias do estado subjetivo, pois a subjetividade cerra onosso ser para Deus. No captulo vinte e dois de Nmeros lemosacerca de Balao, o qual, quando Balaque lhe ofereceu presentes,contanto que ele amaldioasse aos filhos de Israel, no secomprometeu, mas declarou: "Ficai aqui esta noite, e vos trarei aresposta, como o Senhor me falar". Mas Deus lhe disse: "No irscom eles". De conformidade com essas palavras, Balao se levantou pela manh e respondeu aos prncipes de Balaque: "Tornai vossaterra, porque o Senhor recusa deixar-me ir convosco". Poderia haver algo mais claro do que isso? E no entanto, quando Balaque pressionou novamente o seu pedido, Balao replicou: "Rogo-vos quetambm aqui fiqueis esta noite, para que eu saiba o que mais oSenhor me dir". E o registro sagrado diz; "Veio, pois, o Senhor aBalao, de noite, e disse-lhe: Se aqueles homens vierem chamar-te.

    levanta-te. vai com eles". Quando Balao apresentou sua segundaconsulta a Deus, por qual motivo Deus lhe permitiu a ida. visto que por ocasio da primeira consulta lhe recusara terminantemente a permisso de ir? que quando Deus respondeu a Balao de modoto inequvoco, ele deveria ter aceitado a resposta do Senhor comoalgo final, sem jamais reabrir a questo. O fato que a reabriu mostroua sua subjetividade. Viera ostensivamente saber qual a vontade deDeus, mas sua mente j estava resolvida. Sabia o que queria fazer, eestava disposto a faz-lo.

    Deus exige que aceitemos prontamente a Sua Palavra. Se Elenos disser "Vai", devemos ir sem demora. A dificuldade que as pessoas subjetivas enfrentam que se Deus lhes disser "Vai", estosempre to fixas em suas prprias idias que ser mister muito tempoantes que possam ajustar-se Sua ordem; e, se eventualmenteobedecerem, ficaro to fixas na idia da ida que no poderoobedecer prontamente se Deus lhes ordenar "Pra". E tero deatravessar novo processo de acomodao antes que possam obedecer.

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    Se Deus lhes ordenar que vo, podero vocs abandonar tudo paraque obedeam imediatamente? E, tendo obedecido ao Seumandamento e ir, e estando preparados para continuar, podero vocsestacar instantaneamente se Deus emitir a ordem de estacar? Sevocs so pessoas subjetivas, ser muito difcil vocs partirem, pois primeiramente vocs tero de ver-se a braos com as suas prpriasidias; e, uma vez que aceitem a ordem de Deus para partir, fixar-se-o nessa ordem, e haver outra batalha antes que desistam da idia de prosseguir, se Deus ordenar que parem. Quando o crente se tornamalevel em Suas mos, h uma reao positiva imediata para comqualquer nova indicao de Sua vontade.