watchman nee - não ameis o mundo
TRANSCRIPT
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NO AMEIS O MUNDO
Watchman Nee
N D I C E
1. A MENTE OUE SE OCULTA POR TRS DO SISTEMA 7
2. A TENDNCIA OPOSTA A DEUS 16
3. UM MUNDO SOB A GUA 26
4. CRUCIFICADO EM MIM 36
5. DIFERENCIAO DO MUNDO 43
6. LUZES NO MUNDO 50
7. SEPARAO 56
8. 0 REFRIGRIO MTUO 64
9. MINHAS LEIS EM SEUS CORAES 73
10. OS PODERES DO MUNDO VINDOURO 81
11. ROUBANDO O USURPADOR 89
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PREFCIO
Grande parte deste livro originou-se de uma srie de
palestras sobre o tpico "o mundo", feitas por Watchman
Nee (Nee To-sheng), natural de Foochow, a crentes da
cidade de Shangai, no princpio da guerra sino-japonesa.
Por esse motivo, as palestras trazem certa influncia das
presses econmicas daqueles dias. Foram-lhes
acrescentadas outras palestras sobre o mesmo tema geral,
feitas em diversos lugares e ocasies, durante o perodo
1938-1941. Por exemplo, o captulo trs baseado em um
sermo pregado numa cerimnia de batismo em maio de
1939. Sou grato a diversos amigos que supriram o material
que originou o livro.
O autor v o "kosmos" como um ente espiritual alm
das coisas visveis, uma fora que sempre precisamos
considerar. Aborda o seu impacto sobre o cristo, e o
impacto deste sobre ele, com as conflitantes reivindicaes
feitas sobre o cristo quanto separao e o envolvimento,
e com o destino do homem de "ter domnio" em Cristo.
Como sempre, os estudos do Senhor Nee revelam
pensamentos originais, e ele no tem receio de ser
provocador, incitando o corao e a mente a uma resposta.
Minha orao que, apesar da inevitvel construo do livro
por etapas, o seu tema demonstre ser coerente, como
retrato do homem de Deus no mundo, e ainda mais, que
possa desafiar a todos os que invocam o nome de Cristo a
caminhar mais corajosa e positivamente pelo cenrio
terrestre, sempre com o pensamento em nosso papel aqui,
dentro do propsito eterno de Deus com relao so Seu
amado Filho.
Angus I. Kinnear
Londres, 1968
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CAPTULO
A MENTE QUE SE OCULTA POR TRS DO SISTEMA
"Chegou o momento de ser julgado este mundo, e
agora o seu prncipe ser expulso. E eu, quando for levan-
tado da terra, atrairei todos a mim mesmo". (Joo 12:9,
32).
Nosso Senhor Jesus pronuncia estas palavras em um
ponto chave de Seu ministrio. Ele entrou em Jerusalm
apertado por multides entusisticas; porm, quase que de
imediato falou em termos velados sobre sacrificar Sua vida,
e a isto os cus deram sua aprovao pblica. Agora Ele
surge com esta grande afirmao dupla. O que, per-
guntamo-nos, pode ter essa afirmao transmitido queles
que o tinham aclamado, saindo para encontr-Lo e
acompanhando-O de volta a casa? Para muitos deles as
Suas palavras, se tiveram algum significado, devem ter
soado como uma total inverso de suas esperanas. Na
verdade, os de maior discernimento chegaram a ver nelas
uma previso das reais circunstncias de Sua morte como
um criminoso (vs. 33).
Embora Seu pronunciamento destrusse uma srie de
iluses, ofereceu em lugar delas uma maravilhosa
esperana, slida e segura, pois anunciava uma mudana
de domnio, muito mais radical do que at mesmo os
prprios patriotas judeus esperavam. "E eu... a expresso contrasta acentuadamente com o que a precede,
assim como Aquele a quem ela identifica est em contraste
com Seu antagonista, o prncipe deste mundo. Atravs da
Cruz, atravs da obedincia at a morte, Daquele que o
gro de trigo de Deus, as leis deste mundo, baseadas no
medo e na coao, esto para terminar com a queda de seu
orgulhoso soberano. E com Sua volta novamente vida,
surgir no lugar delas um novo reino de justia,
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caracterizado por uma livre aliana dos homens com Ele.
Com cordas de amor, seus coraes sero levados para
longe de um mundo sob julgamento, para Jesus o Filho do
Homem, o qual embora tendo sido levantado para morrer,
por esse mesmo ato foi levantado para reinar.
"A terra" o cenrio dessa crise e de suas terrveis
conseqncias, e "este mundo" , podemos dizer, o ponto
em que se chocam. Faremos deste ponto o tema de nosso
estudo, e comearemos por considerar as idias do Novo
Testamento, associadas com a importante palavra grega
"kosmos". Nas verses inglesas, com uma nica exceo
que ser mencionada em breve, essa palavra
invariavelmente traduzida por "o mundo" (a outra palavra
grega, aion, que traduzida da mesma forma, contm a idia de tempo e deveria ser mais convenientemente
interpretada como a poca). Vale a pena gastar algum tempo para consultar um
Lxico do Novo Testamento Grego, tal como o de Grimm.
Ficar clara a grande variedade de significados que a
palavra "kosmos" tem nas Escrituras. Porm, em primeiro
lugar consultamos suas origens no Grego Clssico, onde
descobrimos que originalmente tinha dois significados:
primeiro, uma ordem ou arranjo harmonioso, e segundo,
embelezamento ou ornamentao. Esta ltima idia aparece
no verbo neotestamentrio kosmeo, usado com o
significado de "ornamentar", ou seja, o templo com pedras
bonitas, ou uma noiva para o seu esposo (Lc. 21:5, Ap.
21:2). Em 1 Pedro 3:3, a exceo j citada, a palavra
"Kosmos" ela prpria traduzida por "adorno", concordando
com o mesmo verbo kosmeo no versculo 5.
(1) Quando nos voltamos dos Clssicos para os
escritores do Novo Testamento, descobrimos que seus usos
da palavra "kosmos" enquadram-se em trs grupos
principais. usada em primeiro lugar com o sentido de
universo material, o mundo todo, esta terra. Assim: Atos
17:24 "o Deus que fez o mundo, e tudo o que nele existe";
Mt. 13:35 (e em outros lugares) "a criao do mundo"; Joo
1:10 "estava no mundo, e o mundo foi feito por intermdio
dele"; Marcos 16:15 "Ide por todo o mundo".
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(2) O segundo uso de kosmos duplo. usado co-
mo: (a) para os habitantes do mundo em frases como a de
Joo 1:10 "o mundo no o conheceu"; 3:16 "Deus amou ao
mundo de tal maneira"; 12:19 "eis a vai o mundo aps
Ele"; 17:21 "para que o mundo creia". (b) Uma ampliao
desse uso conduz idia da raa inteira dos homens
separados de Deus e assim hosts causa de Cristo. Assim:
Hb. 11:38 "homens dos quais o mundo no era digno"; Joo
14:17 "que o mundo no pode receber"; 14:27 "no vo-la
dou como a d o mundo"; 15:18 "se o mundo vos odeia.... (3) Em terceiro lugar, descobrimos que kosmos
usada nas Escrituras para assuntos mundanos: todo o cr-
culo de bens, talentos, riquezas, vantagens e prazeres
mundanos que embora vazios e transitrios; excitam nossos
desejos e nos afastam de Deus, sendo assim obstculos
causa de Cristo. Exemplos: 1 Joo 2:15 "as coisas que h
no mundo"; 3:17 "a sua (do mundo) concupiscncia"; Mt.
16:26 "se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma"; 1
Cor. 7:31 "e os que se utilizam do mundo, como se dele no
usassem". Este uso de kosmos aplica-se no somente a
coisas materiais, mas tambm a coisas abstratas que tm
valores espirituais e morais (ou imorais). Assim: 1 Cor.
2:12 "o esprito do mundo"; 3:19 "a sabedoria deste
mundo"; 7:31 "a aparncia deste mundo; Tito 2:12 "paixes mundanas" (adj. Kosmikos); 2 Pe. 1:4 "a
corrupo das paixes que h no mundo"; 2:20 "as
contaminaes do mundo"; 1 Joo 2:16, 17 "tudo o que h
no mundo, a concupiscncia... a soberba... passam". O
cristo deve "a si mesmo guardar-se incontaminado do
mundo", Tiago 1:27.
O estudante da Bblia logo descobrir que, como
sugere o pargrafo acima, a palavra kosmos uma das
favoritas do apstolo Joo, e ele, principalmente, quem
agora nos auxilia a chegar a outras concluses.
Embora seja verdade que estas trs definies de "o
mundo" como (1) a terra material ou, (2) as pessoas sobre
a terra e (3) as coisas da terra, contribuem cada qual com
algo para o quadro geral, j est claro que por detrs delas
h algo mais. A idia clssica de sistema organizado ou
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organizao ajuda-nos a compreender o que . Atrs de
tudo o que tangvel encontramos algo intangvel,
encontramos um sistema planejado; e nesse sistema h um
funciona mento harmonioso, uma ordem perfeita.
Com relao a esse sistema, h dois pontos a serem
enfatizados. Primeiro, desde o dia em que Ado abriu a
porta para que o mal penetrasse na criao de Deus, a
disposio do mundo tem mostrado por si prpria ser hostil
a Deus. O mundo "no o conheceu" (1 Cor. 1:21), "odiou"
Cristo (Joo 15:18) e "no pode receber" o Esprito da
verdade (14:17). "As suas obras so ms" (Joo 7:7) e "a
amizade do mundo inimiga de Deus" (Tiago 4:4). Por isso
Jesus diz "meu reino no deste mundo" (Joo 18:36). Ele
venceu "o mundo" (16:33) e "esta a vitria que vence o
mundo, a nossa f" (1 Joo 5:4). Pois, como o versculo de
Joo 12 que encabea este estudo afirma, o mundo est sob
julgamento. A atitude de Deus para com ele inflexvel.
Isto porque, em segundo lugar, como o mesmo ver-
sculo declara, h uma mente por trs do sistema, Joo
escreve repetidamente sobre "o prncipe deste mundo"
(12:31, 14:30, 16:11). Nesta epstola, ele o descreve como
"aquele que est no mundo (1 Joo 4:4), colocando como seu opositor o Esprito da verdade que habita nos crentes.
"O mundo inteiro", diz Joo "jaz no maligno" (5:19). Ele o
rebelde kosmokrator, dominador do mundo uma palavra que, contudo, aparece uma nica vez, usada no plural com
relao aos seus "oficiais", os "dominadores deste mundo
tenebroso" (Efsios 6:12).
Existe, portanto, um sistema organizado, "o mundo",
que governado por trs do cenrio por um soberano,
Satans. Quando em Joo 12:31 Jesus afirma que foi dada
a sentena de julgamento sobre este mundo, Ele no est
querendo dizer que o mundo material ou seus habitantes
esto julgados. Para eles o julgamento est ainda por
chegar. O que ali est julgado aquela instituio, aquela
ordem mundana harmoniosa da qual o prprio Satans o
originador e o cabea. Finalmente, como as palavras de
Jesus deixam claro, ele, o "prncipe deste mundo", que foi
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julgado (16:11) e que ser destronado e "expulso" para
sempre.
Assim, as Escrituras aprofundam nossa compreenso
do mundo ao nosso redor. Na verdade, a no ser que
olhemos para os poderes invisveis atrs das coisas mate-
riais, podemos ser facilmente enganados.
Esta reflexo pode ajudar-nos a entender melhor a
passagem de 1 Pedro 3, qual j nos referimos. Nela o
apstolo coloca "o adorno" (kosmos) exterior como "frisado
de cabelos, adereos de ouro, aparato de vesturio" em
contraste deliberado com o "incorruptvel de um esprito
manso e tranqilo, que de grande valor diante de Deus.
Conseqentemente, portanto, os primeiros so corruptos e
sem valor diante de Deus. Podemos ou no estar prontos
para aceitar imediatamente a avaliao de Pedro, depen-
dendo se vemos o verdadeiro significado de suas palavras.
Aqui est o que ele quis dizer. Em segundo plano, por trs
dessa questo de vesturio, jias e maquiagem, h um
poder atuando para alcanar seus prprios interesses. No
deixe que esse poder o domine.
Temos que perguntar a ns mesmos: qual o motivo
que nos impulsiona com relao a estas coisas? Pode no
ser nada sensual; mas totalmente inocente, objetivando
simples-mente, pelo uso do estilo, harmonia e perfeita
combinao, obter um efeito que esteticamente
agradvel. Pode no haver nada intrinsecamente errado em
fazer isso; porm, voc e eu percebemos com o que
estamos entrando em contato aqui? Estamos tocando
aquele sistema harmonioso por trs das coisas visveis, um
sistema que controlado pelo inimigo de Deus. Portanto,
sejamos cautelosos.
A Bblia comea pela criao divina dos cus e da
terra. Ela no diz que Deus criou o mundo no sentido em
que o estamos analisando agora. Na Bblia, o significado do
"mundo" passa por uma evoluo, e apenas no Novo
Testamento (embora talvez em menor extenso j nos
Salmos e alguns dos Profetas) que o "mundo" alcana seu
total significado espiritual. Podemos ver de imediato a razo
para essa evoluo. Antes da queda do homem, o mundo
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existia apenas no sentido da terra, as pessoas da terra e as
coisas da terra. At ento no havia kosmos, "mundo" no
sentido de ordem constituda. Com a queda, contudo,
Satans trouxe para esta terra a ordem que ele prprio
idealizara, e com isso comeou o sistema mundano do qual
falamos. Originalmente, nossa terra fsica no tinha ligao
com o "mundo", nesse sentido de um sistema satnico, nem
o homem, na verdade, a tinha. Porm, Satans aproveitou-
se do pecado do homem, e da porta que isso lhe abrira,
para introduzir na terra a organizao que se propusera
estabelecer. Dai em diante, a terra estava no "mundo" e o
homem "estava no mundo". Assim, podemos dizer que
antes da queda havia uma terra; aps a queda h um
mundo; na volta do Senhor haver um Reino. Assim como o
mundo pertence a Satans, o Reino pertence ao nosso
Senhor Jesus. Alm disso, esse Reino que destitui e que
destituir o mundo. Quando a "Pedra que no feita por
mos" despedaa a orgulhosa imagem do homem, ento o
reino deste mundo transformar-se- no "reino de nosso
Senhor e do Seu Cristo" (Dn. 2:44, 45; Ap. 11:15).
Poltica, educao, literatura, cincia, arte, lei, co-
mrcio, msica so estas coisas que constituem o kosmos, e estas so coisas que encontramos diariamente.
Se as subtrairmos, o mundo como um sistema coerente
deixar de existir. Estudando a histria da humanidade,
temos que reconhecer marcante progresso em cada uma
dessas reas. Contudo a questo : em que direo est
seguindo esse progresso? Qual o objetivo final de todo
esse desenvolvimento? No final, conta-nos Joo, o anticristo
se levantar e estabelecer o seu prprio reino neste
mundo (1 Joo 2:18, 22; 4:3; 2 Joo 7; Ap. 13). Essa a
direo do progresso do mundo. Satans est utilizando o
mundo material, os homens do mundo, as coisas que esto
no mundo, para finalmente liderar tudo no reino do
anticristo. Naquela ocasio o sistema mundial ter
alcanado seu apogeu; e naquela ocasio cada uma de suas
unidades ser revelada como sendo anticrist.
No livro de Gnesis, no encontramos no den qual-
quer aluso tecnologia, qualquer meno a instrumentos
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mecnicos. Aps a queda, contudo, lemos que entre os
filhos de Caim havia um artfice de instrumentos cortantes
de ferro e bronze. Alguns sculos atrs pode ter parecido
fantstico discernir o esprito do anticristo em ferramentas
de ferro, ainda que h muito tempo a espada tem estado
em competio aberta com o arado. Porm hoje, nas mos
do homem, os metais tm sido empregados para finalidades
sinistras e mortais, e medida que o final se aproxima, o
abuso difundido da tecnologia e engenharia tornar-se-
ainda mais evidente.
O mesmo se aplica msica e s artes. Pois a flauta
e a harpa parecem ter-se originado com a famlia de Caim,
e hoje em mos no consagradas, sua natureza desafiadora
Deus torna-se mais e mais clara. Em muitas partes do
mundo, j h muito tempo pode-se relacionar facilmente
um entrosamento ntimo entre a idolatria e as artes de
pintura, escultura e msica. No h dvida de que est
chegando o dia em que a natureza do anticristo ser
revelada mais abertamente do que nunca, atravs da can-
o, dana e artes visuais e dramticas.
Quanto ao comrcio, suas ligaes talvez sejam ain-
da mais suspeitas. Satans foi o primeiro mercador,
negociando idias com Eva para seu prprio lucro, e na lin-
guagem figurativa de Ezequiel 28, que parece revelar algo
do carter original de Satans, lemos: "Pelo teu comrcio
aumentaste as tuas riquezas; e por causa delas se eleva o
teu corao" (vs. 5). Talvez isto no precise ser debatido,
pois muitos de ns prontamente admitimos por experincia
prpria a origem e natureza satnica do comrcio.
Falaremos mais sobre isto posteriormente.
E quanto educao? Certamente, protestamos,
essa deve ser inofensiva. De qualquer forma, nossos filhos
precisam ser ensinados. Porm a educao, no menos do
que o comrcio e a tecnologia so coisas do mundo. Tm
suas razes na rvore do conhecimento. Com que
sinceridade ns, como cristos, procuramos proteger nossos
filhos das ciladas mais bvias do mundo. E contudo,
absolutamente verdadeiro que temos que proporcionar-lhes
educao. Como vamos resolver o problema de deix-los
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entrar em contato com o que essencialmente uma coisa
do mundo, e ao mesmo tempo guard-los do grande
sistema mundial e seus perigos?
E quanto cincia? Ela, tambm, uma das unida-
des que constituem o kosmos. Ela, tambm, conheci-
mento. Quando nos aventuramos pelos limites do alcance
da cincia, e comeamos a especular sobre a essncia do
mundo fsico e do homem surge imediatamente a pergunta: at que ponto legtimo o objetivo da pesquisa e
descoberta cientfica? Onde est a linha de demarcao
entre o que til e o que prejudicial no campo do
conhecimento? Como podemos ns prosseguir em busca do
conhecimento e contudo evitar ser apanhados nas malhas
de Satans?
Estes, ento, so os assuntos que devemos analisar.
Sei que para alguns parecer que estou exagerando as
coisas, porm isso necessrio para alcanar minha meta.
Pois se algum amar o mundo, o amor do Pai no est nele" (1 Joo 2:15). Enfim, quando tocamos as coisas do
mundo, a pergunta que sempre devemos fazer a ns mes-
mos : "Como isto afetar meu relacionamento com o Pai? Passou o tempo em que precisvamos ir para o
mundo para ter contato com ele. Hoje o mundo vem
nossa procura. Agora existe uma fora circulando, a qual
est cativando os homens. Voc alguma vez j sentiu o
poder do mundo tanto quanto hoje em dia? J ouviu tantas
conversas sobre dinheiro? J pensou tanto sobre alimento e
vesturio? Onde quer que v, at mesmo entre cristos, as
coisas do mundo so os tpicos da conversa. O mundo
avanou at a prpria porta da Igreja, e est procurando
atrair at mesmo os santos de Deus para o seu domnio.
Jamais nessa esfera de coisas necessitamos tanto de
conhecer o poder da cruz de Cristo para livrar-nos, como
necessitamos na presente poca.
Outrora falvamos muito do pecado e da vida natu-
ral. Podamos facilmente ver neles as conseqncias
espirituais, porm pouco percebamos ento que
conseqncias espirituais igualmente importantes esto em
jogo quando tocamos o mundo. H uma fora espiritual por
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trs desse cenrio mundial, a qual, atravs das "coisas que
esto no mundo", est procurando enredar os homens em
seu sistema. Portanto no somente contra o pecado que
os santos de Deus precisam estar alertas, mas contra o
dominador deste mundo. Deus est edificando a sua Igreja
para ter seu apogeu no reino universal de Cristo.
Simultaneamente, Seu rival est construindo este sistema
mundial para seu ftil clmax no reino do anticristo. Como
precisamos ser vigilantes para que em tempo algum,
sejamos encontrados ajudando Satans na construo
desse malfadado reino. Quando estamos perante
alternativas e uma escolha de caminhos se nos oferece, a
pergunta no : isto bom ou mau? Isto til ou
prejudicial? No, a pergunta que devemos fazer a ns
mesmos : isto deste mundo, ou de Deus? Pois uma vez
que o nico conflito existente no universo esse, ento
sempre que dois caminhos contrastantes se abrirem nossa
frente, a escolha em questo nada menos que: Deus... ou
Satans?
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CAPTULO
TENDNCIA OPOSTA A DEUS
Tendo sido cada um de ns escravos do pecado
acreditamos de imediato que as coisas pecaminosas so de
Satans; porm, acreditamos de igual modo que as coisas
do mundo so satnicas? Creio que muitos de ns ainda
estamos vacilantes com relao a isso. No entanto, a
Escritura afirma de modo claro que "o mundo inteiro jaz no
maligno" (1 Joo 5:19). Satans sabe muito bem que, de
modo geral, tentar seduzir cristos verdadeiros atravs de
coisas que so indubitavelmente pecaminosas, vo e
infrutfero. Eles geralmente percebem o perigo e escapam.
Assim, ao invs disso ele planejou uma atraente rede, cujas
malhas so to habilmente tecidas que enganam o mais
inocente dos homens. Ns evitamos concupiscncias
pecaminosas; com boas razes, mas quando se trata de
coisas to aparentemente incuas como cincia, artes e
educao, como perdemos facilmente nosso senso de
valores e tornamo-nos vtimas das sedues de Satans!
Contudo, a sentena de julgamento de Nosso Senhor
indica claramente que tudo o que faz parte do "mundo est em desacordo com o propsito de Deus. Suas palavras,
"agora o julgamento deste mundo", indicam de modo
claro a condenao de tudo o que constitui o kosmos, e no
teriam jamais sido pronunciadas, se no houvesse algo
radicalmente errado com ele. Mais adiante, quando Jesus
continua, "agora o prncipe deste mundo ser expulso", Ele
no est simplesmente enfatizando a relao ntima entre
Satans e a ordem mundial, mas o fato de que a sua
condenao est relacionada com a dele. Reconhecemos
que Satans hoje o prncipe da educao, cincia, cultura
e artes, e que estas, como ele, esto condenadas?
Reconhecemos que ele o verdadeiro mestre de todas
aquelas coisas que, juntas; formam o sistema mundial?
Quando se menciona um salo de baile ou um clube
noturno, nossa reao como cristos de desaprovao
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instintiva. Para ns isso o "mundo por excelncia. Quando, contudo, indo ao outro extremo, se cincia mdica
ou servio social estiverem sendo discutidos, tal reao
pode ser completamente inexistente. Estas coisas merecem
nossa aprovao tcita, e talvez nosso apoio entusiasta. E
entre estes extremos, h uma multido de outras coisas,
variando grandemente em sua influncia para o bem ou o
mal, entre as quais provavelmente nenhum de ns
concordaria quanto ao lugar exato onde traar uma linha
divisria. Porm encaremos o fato de que foi pronunciado
julgamento por Deus, no sobre certas coisas escolhidas
que pertencem a este mundo, mas imparcialmente sobre
todas elas.
Faa um teste com voc mesmo. Se por acaso se
aventurar em uma das reas aprovadas, e ento algum lhe
disser: ''Voc entrou em contato com o mundo", ficaria
impressionado? Nem um pouco, provavelmente. Seria
preciso que algum a quem voc realmente respeita lhe
dissesse muito direta e sinceramente: "Irmo, voc ficou
envolvido com Satans aqui!" para que voc ao menos
hesitasse. No assim mesmo? Como voc se sentiria se
algum lhe dissesse: "Voc entrou em contato com a
educao" ou "voc entrou em contato com a cincia
mdica ou "voc entrou em contato com o comrcio"?
Reagiria com a mesma cautela que teria se ele tivesse dito:
"voc entrou em contato com o diabo?" Se realmente
acreditssemos que, sempre que entramos em contato com
qualquer dessas coisas que constituem o mundo, ns
entramos em contato com o prncipe deste mundo, ento a
terrvel gravidade de estar envolvido, seja como for, com as
coisas mundanas, no deixaria de atingir-nos. "O mundo
todo jaz no maligno" no uma parte dele, mas o todo. No pensemos sequer por um momento que Satans ope-
se a Deus somente atravs do pecado e carnalidade nos
coraes dos homens; ele faz oposio a Deus atravs de
cada coisa mundana. Sim, concordo com voc quanto ao
fato de que as coisas do mundo so todas em certo sentido
materiais, sem vida, intrinsecamente sem poder para
prejudicar-nos; contudo, at mesmo isso deveria sugerir
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por si prprio que elas so resistentes ao propsito de Deus,
como na realidade tudo em que no haja o toque da vida
divina.
A frase repetida "segundo a sua espcie" em Gnesis
1, representa uma lei de reproduo que governa todo o
reino da natureza biolgica. No governa, contudo, o reino
do Esprito. Pois gerao aps gerao, pais humanos
podem gerar filhos segundo a sua espcie; porm uma
coisa certa: cristos no podem gerar cristos! Nem
mesmo quando ambos os pais so cristos os filhos sero
automaticamente cristos, nem mesmo na primeira gera-
o. Ser necessrio um novo ato de Deus a cada vez.
E este princpio aplica-se, com no menos veracida-
de, aos negcios humanos em maior escala. Tudo o que
pertence natureza humana continua espontaneamente;
tudo o que pertence a Deus continua somente enquanto a
operao de Deus continua. E o mundo inclui tudo o que
pode continuar independente de atividade divina, isto , que
pode prosseguir por conta prpria, sem necessidade de atos
especficos de Deus para manter seu vigor. O mundo, e
tudo o que lhe pertence, faz isso naturalmente a sua natureza e agindo assim move-se em direo contrria vontade de Deus. Procuraremos agora ilustrar essa
afirmao, pelas Escrituras e pela experincia crist.
Tomemos primeiramente o campo da cincia poltica.
A histria de Israel no Velho Testamento fornece-nos o
exemplo de uma nao altamente privilegiada, e de seu
governo. Ficamos sabendo que o povo de Israel desejava
manter relacionamento com as naes ao seu redor, e,
portanto desejava um rei. Por ora deixaremos de lado a sua
escolha de Saul, adiantando-nos at o ponto em que
finalmente, no tempo escolhido por Ele, Deus deu-lhes o rei
que elegera, que estabeleceria o reino sob a Sua prpria
direo.
Ora, mesmo sendo isso claramente obra de Deus, o
curso natural do reino provou ser, "como as naes", di-
rigido para longe Dele. Pois um reino algo mundano, e
estando de acordo com todas as coisas mundanas, tende a
colidir com o propsito divino. Em qualquer parte do mundo
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em que o governo de uma nao seja deixado ao seu
prprio destino, ele segue seu curso natural, que mais e
mais afastado de Deus. E o que verdadeiro para polticas
nacionais seculares, provou ser igualmente verdadeiro
mesmo na divinamente escolhida, Israel. Sempre que Deus
cessou Seus atos especficos a favor deles, o reino de Israel
derivou para alianas polticas idlatras. Houve
recuperaes, verdade, mas cada uma delas foi marcada
por uma definida interveno divina, e sem tal interveno
o curso era sempre descendente.
Pouco nos surpreender que o mesmo seja verdade
em relao ao comrcio. No posso imaginar outra rea
onde a tentao para transaes desonestas e corruptas
seja to grande como nesta. Todos sabemos algo sobre isto.
Todos sabemos como difcil permanecer direito e conduzir
os negcios honestamente no mundo competitivo do
comrcio. Muitos diriam que impossvel, e para faz-lo
necessrio uma vida entregue a Deus de modo especial.
Recordamo-nos que nosso Senhor Jesus conta-nos
sobre dois homens diferentes, um que ganhou o mundo
todo e perdeu a sua vida, e outro, um mercador, que ven-
deu tudo o que tinha para comprar uma prola de
inestimvel valor. Jesus comparou o reino dos cus com
este ltimo (Mt. 16:26; 13:45, 46). No raro o Esprito de
Deus tem movido homens de negcios para aes seme-
lhantes. Tm havido no poucas firmas comerciais bem
conhecidas cujos lucros foram dirigidos para finalidades
divinas na pregao do evangelho e em outros modos.
Imagino um empreendimento assim, que no incio de
sua histria, foi criao de um homem de negcios temente
a Deus. Ora, temor religioso uma qualidade que s pode
existir quando sustida dos cus, porm a sagacidade
comercial e eficiente organizao que ela cria podem
perpetuar-se sozinhas. Na primeira gerao da histria
dessa firma, vemos a vida divina sendo mediada atravs de
seu fundador, o suficiente para manter o que mesmo ento
era uma preocupao mundana, seguramente sob a
autoridade de Deus. Mas na segunda gerao, aquele
impedimento foi-se, e, como era de se esperar, o negcio
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gravitou automaticamente para o sistema mundial. O temor
religioso esgotara-se, porm a firma em si ainda est
prosperando.
Vamos supor agora que se tome um assunto
aparentemente to inocente quanto agricultura. Aqui o
livro de Gnesis, escrito em um mundo primitivo de
rebanhos e agricultura, tem algo a dizer-nos. Aps a queda
de Ado, Deus foi forado a dizer-lhe: "Maldita a terra por
tua causa; em fadigas obters dela o sustento durante os
dias de tua vida. Ela produzir tambm cardos e abrolhos, e
tu comers erva do campo. No suor de teu rosto comers o
teu po, at que tornes a terra, pois dela foste formado".
Ningum iria sugerir que no den, onde florescia a rvore
da vida, a lavoura ou a jardinagem estivessem erradas.
Eram ordenanas de Deus. Porm assim que saram das
mos de Deus, deterioraram-se. O homem foi condenado a
um crculo interminvel de trabalho penoso e decepo, e
um elemento de perversidade marcava o fruto do seu labor.
A libertao de No foi o grande movimento de recuperao
de Deus, no qual foi dado a terra um novo princpio. Mas
como foi rpida, como foi trgica, a volta do homem ao tipo
primitivo. "Sendo No lavrador, passou a plantar uma
vinha. Bebendo do vinho, embriagou-se, e se ps nu dentro
de sua tenda". claro que a agricultura no pecaminosa
em si mesma, mas j aqui a sua direo contrria a Deus.
Deixe a seguir sua tendncia natural e ela conseguir tomar
um rumo diametralmente oposto a Ele. Temos ns algo
disso hoje em dia, em desastres fsicos tal como a
esterilizao de continentes?
Como diferente a Igreja, a lavoura de Deus! Pela
graa de Deus e a habitao do Esprito Santo, ela possui
um poder inerente de vida que, se for correspondido,
capaz de conserv-la constantemente movendo-se para
Deus, ou ento cham-la de volta a Ele, no caso de se
desviar.
Quando nos voltamos para a educao, tanto a Bblia
como a experincia tem algo a dizer-nos. Alegoricamente
falando, poderamos dizer que rejeitando Saul e escolhendo
Davi, Deus estava passando por cima de um homem que se
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distinguia por sua cabea (pois ele excedia nessa medida a
altura de seus nobres), a favor do homem que era segundo
o Seu corao! Mas, seriamente falando, homens tais como
Jos, Moiss e Daniel, de cuja sabedoria Deus fez uso
publicamente, receberam cada qual, diretamente do prprio
Deus, o entendimento de que necessitavam. Eles tiveram
em pouca conta a educao secular que haviam recebido. E
o apstolo Paulo colocou claramente o conhecimento entre
"todas as coisas" que considerava como perda pela
excelncia do conhecimento de seu Senhor Jesus Cristo (Fil.
3:8). Ele traa uma clara distino entre a sabedoria do
mundo e a sabedoria que vem de Deus (1 Cor. 1 :21, 30).
Mas a experincia que demonstra o mundanismo
essencial do conhecimento como tal. Muitos dos histricos
estabelecimentos universitrios do ocidente, foram
fundados por homens cristos que desejavam proporcionar
a seus semelhantes uma boa educao, sob influncia
crist. Durante a vida de seus fundadores, o carter
daquelas fundaes era elevado, porque esses homens co-
locaram contedo espiritual real nelas. Quando, porm, os
homens se foram, o controle espiritual foi-se tambm, e a
educao seguiu seu curso inevitvel em direo ao mundo
do materialismo e para longe de Deus. Em alguns casos
pode ter levado um longo tempo, pois a tradio religiosa
difcil de desaparecer; mas a tendncia sempre foi bvia, e
em muitos casos o destino s agora foi alcanado. Quando
as coisas materiais esto sob controle espiritual, elas
cumprem seu devido papel secundrio. Libertas da restrio
manifestam muito rapidamente o poder que est por trs
delas. A lei de sua natureza declara-se, e seu carter
mundano comprovado pelo curso que seguem.
A difuso de empreendimentos milionrios na nossa
era atual d-nos uma oportunidade de testar esse princpio
nas instituies religiosas de nossos dias e de nossa ptria.
Mais do que um sculo atrs, a Igreja determinou estabe-
lecer na China escolas e hospitais com um carter espiritual
definido e um objetivo evangelstico. Naqueles primeiros
dias, no foi dada muita importncia s construes, ao
passo que nfase considervel foi dada ao papel das
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instituies na proclamao do Evangelho. Dez ou quinze
anos mais tarde podia-se passar pelos mesmos lugares e
em muitos deles encontrar instituies muito maiores e
mais bonitas no lugar das originais, mas em comparao
com os primeiros anos, um nmero muito menor de
convertidos. E hoje em dia, muitas daquelas esplndidas
escolas e universidades transformaram-se em centros
puramente educacionais, carentes de qualquer motivao
realmente evangelstica, enquanto que em quase idntica
extenso, muitos dos hospitais existem agora unicamente
como lugares de mera cura fsica, e no mais de cura
espiritual. Os homens que lhes deram incio haviam, por
caminharem prximos a Deus, mantido aquelas instituies
firmemente dentro de Seu propsito; mas quando eles
morreram, as instituies rapidamente gravitaram em
direo aos objetivos e padres mundanos, e assim
fazendo, classificaram-se como "coisas do mundo". No
deveramos ficar surpresos por assim suceder.
Nos primeiros captulos de Atos, lemos como o ines-
perado surgiu, levando a Igreja a instituir assistncia aos
santos mais pobres. Aquela instituio urgente de servio
social foi claramente abenoada por Deus, porm era de
natureza temporria. Voc exclama: "Como seria bom se
tivesse continuado!" Somente algum que no conhece a
Deus diria isso. Se aquelas medidas de assistncia tivessem
sido prolongadas indefinidamente, teriam certamente
tomado a direo do mundo, assim que a influncia
espiritual que operava inicialmente fosse removida.
inevitvel.
Existe uma diferena entre a Igreja construda por
Deus, por um lado, e pelo outro, aqueles valiosos sub-
produtos sociais e de caridade que so lanados por ela de
quando em quando, atravs da f e viso dos seus
membros. Estes ltimos, por se originarem em viso espi-
ritual, possuem em si mesmos um poder de sobrevivncia
independente, que a Igreja de Deus no tem. So as obras
que a f dos filhos de Deus pode iniciar e conduzir, mas
que, uma vez mostrado o caminho e estabelecido o padro
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profissional, podem ser facilmente sustentadas ou imitadas
por homens do mundo totalmente separados dessa f.
A Igreja de Deus repito, no deixa jamais de ser de-
pendente da vida de Deus para sua manuteno. Imagine
uma igreja viva em uma cidade de hoje, com sua comuni-
dade, orao e testemunho do evangelho, seus muitos lares
e centros de atividade espiritual. Alguns anos depois, o que
encontramos? Se o povo de Deus O seguiu em f e
obedincia, pode ser um lugar mais cheio do que nunca com
a vida e luz do Senhor e com o poder de Sua palavra; mas
se, sendo infiis a Ele esqueceram sua viso de Cristo, pode
igualmente ter-se transformado em um lugar onde se prega
o atesmo. Ter ento cessado de existir como uma igreja.
Pois a Igreja depende para sua prpria existncia de uma
incessante concesso da nova vida de Deus, e no pode
sobreviver um dia sequer sem ela.
Mas suponha que ao lado da Igreja h uma escola,
hospital, editora, ou qualquer outra instituio fundada com
base religiosa, originando-se na f dos mesmos membros
da Igreja. Na hiptese de que a necessidade de seus
servios ainda continue a existir dez anos depois e no
tenha sido preenchida por alguma empresa privada ou
governamental, ento provvel que aquela obra ainda
estar operando ento, em um padro de servios no
menos eficiente e recomendvel. Pois se for fornecida ex-
perincia administrativa regular, um colgio ou hospital
pode continuar eficientemente em um nvel puramente
institucional, sem nenhum novo fluxo de vida divina. A viso
pode ter desaparecido, porm o estabelecimento prossegue
indefinidamente. Tornou-se no menos mundano do que
tudo o mais que pode ser mantido independente da vida de
Deus. E cada uma dessas coisas est inclusa na sentena do
Senhor: "Agora o julgamento deste mundo".
Vamos imaginar que eu lhe faa esta pergunta: "Que
tipo de trabalho voc faz?" Voc responde: "Sou mdico".
Voc o diz sem qualquer outro sentimento especial, a no
ser o orgulho quanto natureza compassiva de sua misso,
e sem qualquer percepo do possvel perigo de sua
situao. Mas, e se eu lhe disser que a cincia mdica
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mais uma das unidades de um sistema que controlado por
Satans? Admitindo-se que, como cristo, voc me leve a
srio, ento ficar imediatamente alarmado e poder at
mesmo pensar se no seria melhor abandonar sua
profisso. No, no deixe de ser mdico. Mas caminhe
cuidadosamente, pois voc est sobre territrio que
governado pelo inimigo de Deus, e, a no ser que esteja
vigilante, voc to passvel de cair presa de seus arte-
fcios, como qualquer outra pessoa.
Ou, suponha que voc seja engenheiro, fazendeiro
ou editor. Tome cuidado, pois estas tambm so coisas do
mundo, tanto quanto dirigir um lugar de diverses ou um
antro de vcios. A no ser que caminhe cuidadosamente,
voc ser apanhado em alguma das armadilhas de Satans,
perdendo a liberdade que lhe pertence como filho de Deus.
Ento como, pergunta voc, seremos libertos de seus
envolvimentos? Muitos pensam que escapar ao mundo
uma questo de consagrao, de dedicar-se novamente e
com maior sinceridade s coisas de Deus. No, uma
questo de salvao. Por natureza estamos todos enredados
naquele sistema satnico, e no temos meios de sair, a no
ser pela misericrdia de Deus. Toda nossa consagrao
impotente para livrar-nos; dependemos somente de Sua
compaixo e Sua obra redentora para tirar-nos para fora
dele. Ele totalmente capaz para faz-lo, e os meios pelos
quais o faz, sero o tema do nosso prximo captulo.
Deus pode colocar-nos sobre uma rocha, e guardar
nossos ps de escorregarem. Auxiliados por Ele, podemos
dedicar nosso comrcio ou profisso ao servio de Sua
vontade, por tanto tempo quanto Ele o deseje. Mas repito
novamente que o curso natural de todas as "coisas que
esto no mundo dirige-se a Satans e para longe de Deus. Algumas delas podem ter sido iniciadas por homens pelo
Esprito com uma finalidade que divina, porm assim que
a restrio da vida divina removida, automaticamente do
meia volta e tomam a outra direo. No admira ento que
os olhos de Satans estejam sempre no final do mundo, e
na perspectiva de que naquela ocasio todas as coisas do
mundo voltar-se-o para ele. Mesmo agora, e todo o tempo,
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esto se movendo em sua direo, e no tempo final pode-se
esperar que tenham alcanado seu objetivo. Quando
entramos em contato com qualquer das unidades desse
sistema, esse pensamento deveria fazer-nos raciocinar, a
fim de que no sejamos encontrados inadvertidamente
ajudando-o na construo do seu reino.
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CAPTULO
UM MUNDO SOB A GUA
"E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o
evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, ser
salvo; quem, porm, no crer ser condenado." (Marcos
16:15,16).
Para muitos de ns, a ordem da segunda sentena
uma surpresa. Jesus no disse que aquele que cr e salvo
ser batizado. No, ele colocou o fato de outro modo.
Aquele que cr e batizado, disse Ele, ser salvo. apenas
para nosso risco que mudamos algo que o Senhor disse em
algo que Ele no disse. Tudo o que Ele diz importante, e
Ele realmente fala srio cada palavra. Mas se assim, ento
deve ser um fato que somente atravs da f Nele e sendo
batizados somos salvos. Alguns ficaro perplexos diante
disso. "O que voc quer dizer?" protestaro. Mas no se
espantem; e no me culpem! Eu no disse isso; meu
Senhor o disse. Foi Ele quem estabeleceu a ordem: f,
ento batismo, ento salvao. No devemos inverter para
f, salvao, batismo, no importando o quanto desejemos
que assim fosse. O que o Senhor disse deve permanecer,
cabendo-nos apenas obedecer.
No apresento desculpas por tomar as palavras de
Marcos 16:16 como palavras autnticas de Jesus, embora
esteja ciente de que h crticos que as questionam. Certa
vez, em uma vila campestre, encontrei um alfaiate chamado
Chen. Ele encontrara um evangelho de Marcos, e quando
chegou a esta passagem que os crticos afirmam que no
pertence de modo nenhum quele evangelho, ele creu e
confiou no Senhor. No havia outros cristos no lugar, e,
portanto ningum para batiz-lo. O que iria fazer? Ento ele
leu o versculo 20. O prprio Deus confirmaria Sua palavra a
ele: aquilo foi suficiente. Assim, em sua simplicidade, ele
decidiu testar uma das promessas do versculo 18. Agindo
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de acordo, visitou diversos vizinhos que estavam enfermos.
Aps orar, impor as mos sobre eles em nome de Jesus,
voltou para casa.
No devido tempo e sem excees, contou-me ele, os
seus vizinhos sararam. Aquilo o satisfez. Com a sua f
confirmada, ele continuou calmamente com sua alfaiataria,
onde, quando o encontrei, estava fielmente testemunhando
para seu Senhor. Se ele tomar a Palavra de Deus
seriamente, porque no deveria eu faz-lo?
Assim sendo, repito, "Quem crer e for batizado, ser
salvo". Acaso quer dizer, voc exclamar, que acredita na
regenerao batismal? No, na verdade no creio! O Senhor
no disse: "Creia, e seja batizado, e voc nascer de novo";
e uma vez que Ele no o disse, no tenho nenhuma
necessidade de crer nisso. Suas palavras so: "Quem crer e
for batizado ser salvo". Portanto o que eu acredito na
salvao batismal.
Assim surge naturalmente a pergunta: o que
significa essa afirmativa? E o que ela significa quando Lucas
conta-nos que, em resposta exortao de Pedro para "sal-
var a si prprio dessa gerao m", ento aqueles que
recebem sua palavra foram batizados.
Para responder a isso devemos perguntar-nos pri-
meiro o que queremos dizer com a palavra "salvos". Receio
que tenhamos uma idia muita errada de salvao. Tudo o
que muitos de ns sabemos sobre salvao que seremos
salvos do inferno e iremos para o cu; ou de outro modo,
que somos salvos de nossos pecados para viver da em
diante uma vida santa. Mas estamos errados. Nas Es-
crituras, descobrimos que a salvao vai alm disso. Pois
no est to relacionada com o pecado e o inferno, ou
santidade e paraso, mas com algo mais.
Sabemos que cada dom perfeito que Deus nos ofere-
ce, dado para refutar e contrariar um mal contrastante.
Ele nos d justificao, porque existe condenao. Oferece-
nos vida eterna, porque h a morte. Oferece-nos perdo,
porque existem pecados. Traz-nos salvao por que? Justificao relaciona-se condenao, o cu ao inferno, o
perdo aos pecados. Ento com o que se relaciona a
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salvao? Salvao, veremos, est relacionada ao kosmos,
o mundo.
Satans o inimigo pessoal de Cristo. Ele opera
atravs da carne do homem para produzir seu padro de
coisas sobre a terra, com a qual todos ficamos envolvidos,
nenhum de ns est isento. E todo este padro csmico
est particularmente em disputa com Deus o Pai. Creio que
todos sabemos como as trs foras negras, o mundo, a
carne e o diabo esto em oposio s trs pessoas da
divindade. A carne est alinhada contra o Esprito Santo
como Paracleto, o prprio Satans contra o Senhor Jesus
Cristo, e o mundo contra o Pai como Criador.
Aquilo que estamos tratando aqui como sendo o
kosmos sempre se ope a Deus como Pai e Criador. Foi a
esse plano eterno da criao que as palavras "era muito
bom" se referiam, Ele jamais cessou de trabalhar com
relao a esse plano. Antes da fundao do mundo Ele
propusera em Seu corao ter sobre a terra uma ordem da
qual a raa humana seria a expresso mxima, e que
mostraria livremente o carter de Seu Filho. Porm Satans
interveio. Usando esta terra como seu trampolim e o
homem como seu instrumento, ele usurpou a criao de
Deus, fazendo-a, ao contrrio, algo centralizado em si
mesmo e refletindo sua prpria imagem. Assim este sistema
aliengena de coisas foi um desafio direto ao plano divino.
Dessa forma, somos atualmente confrontados por
dois mundos, duas esferas de autoridade, tendo dois
carteres totalmente diferentes e opostos. Para mim o pre-
sente no simplesmente uma questo de um cu ou in-
ferno futuros; uma questo destes dois mundos atuais, e
se eu perteno a uma ordem de coisas da qual Cristo
soberano Senhor, ou a uma ordem oposta tendo Satans
como seu verdadeiro dirigente.
Assim, salvao no tanto uma questo pessoal de
pecados perdoados ou inferno evitado. Precisa ser encarada
mais em termos de um sistema do qual samos. Quando sou
salvo, fao meu xodo de um mundo inteiro e minha
entrada em um outro. Sou salvo agora de todo aquele
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imprio organizado que Satans construiu em desafio ao
propsito de Deus.
Esse reino, o kosmos que tudo abrange, tem muitas
entranhas. Naturalmente o pecado tem seu lugar prioritrio
ali, e as concupiscncias mundanas; nossos mais estimados
padres humanos e meios de fazer as coisas fazem parte
dele da mesma maneira. A mente humana, sua cultura e
suas filosofias esto todas includas, juntamente com o
melhor das ideologias sociais e polticas da humanidade. Ao
lado dela deveramos sem dvida colocar as religies do
mundo, e entre elas aqueles pssaros manchados, o
cristianismo mundano e sua "Igreja do mundo". Onde quer
que o poder do homem natural domine, existe naquele
sistema um elemento que est sob a inspirao direta de
Satans.
Se esse o mundo, o que ento a salvao?
Salvao significa que fujo dessa situao. Eu saio, realizo
um escape daquele kosmos que tudo contm. No perteno
mais ao padro de coisas de Satans. Coloco meu corao
naquilo em que o corao de Deus est colocado. Tomo
como meu objetivo Seu propsito eterno em Cristo,
caminho para ele, e sou liberto deste.
Aquele que cr e batizado ser salvo. Jesus queria
dizer simplesmente aquilo que falou. Eu dou o passo da f:
creio e sou batizado, e saio como um homem salvo. Isso
salvao. Por isso, jamais consideremos o batismo como de
pouca importncia. Coisas tremendas esto relacionadas a
ele. Trata-se de uma questo no inferior de dois mundos
que se opem violentamente, e de nossa transferncia de
um para o outro.
H nas Escrituras outra passagem que coloca o batis-
mo e a salvao juntos, para ilustrar o tema. Refiro-me ao
captulo 3 de 1 Pedro. L o apstolo conta-nos como "a
longanimidade de Deus aguardava nos dias de No,
enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito
pessoas, foram salvas, atravs da gua..." (vs. 20). A gua,
diz ele, uma figura ou semelhana, ou (como dizem as
notas da Revised Version inglesa) um anttipo de alguma
outra coisa. "A qual, figurando o batismo, agora tambm
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vos salva". Assim o batismo, raciocina ele, salva-nos agora.
Est claro que Pedro acreditava em nossa salvao atravs
do batismo to firmemente como acreditava na salvao de
No atravs da gua. Por favor, lembre-se de que no estou
falando de regenerao, e nem estou dizendo libertao do
inferno ou do pecado. Entenda-se claramente que aqui
estamos falando sobre salvao. No apenas uma questo
de termos; diz respeito a sermos fundamentalmente
separados do sistema mundial atual.
Para compreendermos melhor o que Pedro quer di-
zer, deveremos retornar sua fonte nos captulos 6 a 8 de
Gnesis. O quadro ilustrativo. Ali encontramos nos dias de
No um mundo totalmente corrupto. Criada primeiramente
por Deus, a terra tornara-se corrupta pelo ato do homem,
naquele dia em que este se colocou sob Satans. O pecado,
uma vez introduzido, desenvolveu-se e chegou ao excesso,
at que o prprio Esprito Santo de Deus gritou "Basta!" As
coisas haviam chegado a um ponto em que no podiam
mais ser remediadas; s podiam ser julgadas e removidas.
Assim Deus ordenou a No que construsse uma ar-
ca, e trouxesse sua famlia e as criaturas para dentro dela,
e ento veio o dilvio. Por ele foram "levantados acima da
terra" sobre guas que cobriam "todos os altos montes que
havia debaixo do cu". Todas as coisas vivas, tanto homens
como animais, pereceram e somente aqueles que flutuaram
por sobre as guas foram salvos. O importante aqui no
apenas que eles escaparam morte por afogamento. Isso
no o essencial. O essencial para ns que eles foram as
nicas pessoas a sarem daquele sistema corrupto de
coisas, aquele mundo sob a gua. Vida pessoal a
conseqncia inevitvel de sair, e a perdio pessoal a de
ficar, porm salvao a sada em si, no o efeito dela.
Preste ateno a esta diferena, pois grande. Salvao
essencialmente a sada agora de uma ordem condenada que
pertence a Satans.
Louvado seja Deus, eles saram! Como? Atravs das
guas. Assim hoje em dia quando os crentes so batizados,
passam simbolicamente atravs da gua, do mesmo modo
pelo qual No passou dentro da arca pelas guas do dilvio.
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E esta passagem pelas guas significa sua fuga do mundo,
sua sada do sistema de coisas que, como seu prncipe, est
sob a sentena divina. Posso dizer isto especialmente
queles que esto sendo batizados hoje. Por favor, lembre-
se, voc no o nico que est na gua. Quando voc
caminha para a gua, um mundo inteiro desce com voc.
Quando sai das guas, voc sai em Cristo, na arca que
flutua sobre as ondas, porm o seu mundo fica para trs.
Para voc, aquele mundo est submerso, afogado como o
de No, morto na morte de Cristo e para no mais ser
ressuscitado. pelo batismo que voc o declara. "Senhor,
deixo para trs o meu mundo. Tua cruz separa-me dele
para sempre!"
Falando de forma figurada, portanto, quando voc
passa atravs das guas do batismo, tudo o que pertencia
antiga ordem cortado para nunca mais voltar, por aquelas
guas. S voc emerge. Para voc uma passagem para
um outro mundo, onde encontrar um pombo e as folhas
verdes das oliveiras. Voc sai do mundo que est sob
julgamento, para um mundo que marcado pela novidade
da Vida Divina.
Quero novamente enfatizar que voc no foi o nico
que desceu para as guas; seu mundo desceu com voc, e
ficou l. Do ponto de vista de sua nova situao, voc
descobrir que a gua sempre cobre o mundo ao qual
pertenceu antes. O mesmo dilvio que salvou No e sua
famlia afogou o mundo em que tinham vivido o mesmo
dilvio. Dessa forma, a mesma gua por um lado coloca
voc e eu na terra da salvao em Cristo, e pelo outro
sepulta todo o sistema de coisas de Satans. No s sua
prpria histria como filho de Ado termina no batismo; o
seu mundo tambm termina ali. Em ambos os casos, uma
morte e sepultamento sem qualquer ressurreio. o fim
de tudo.
Isto significa que voc no pode carregar nada da-
quele antigo mundo para o novo. O que pertencia quele
reino anterior em Ado fica l, e que jamais seja recordado.
Pode ser que anteriormente voc era empregado em uma
loja, ou um criado em uma residncia. Ou talvez voc fosse
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o dono, gerente ou diretor de um negcio. Hoje, voc pode
continuar sendo o dono ou um criado, mas descobrir que
quando se trata de coisas divinas, quando se trata da Igreja
e do servio de Deus, no h escravo nem livre, nem
empregador ou empregado. Voc pode ser um judeu ou um
gentio, ou uma centena de coisas que eram bem conside-
radas ou mal consideradas em Ado. Quando voc passa atravs dessa gua, todo aquele sistema de coisas
desaparece, para no mais retornar. Ao invs delas, voc v
a si prprio em Cristo, onde no h nem judeu nem grego,
brbaro ou cita nem qualquer outra coisa, mas um novo
homem. Voc entrou para uma ordem de coisas
caracterizada por oliveiras e folhas de oliveiras, cujo
segredo a vida divina. A expresso "por meio da
ressurreio de Jesus Cristo" d colorido a todo futuro (1
Pe. 3:21). Significa que voc passou para algo
completamente novo que Deus est criando. De acordo com
os comentaristas (Robert Young, Concordncia Analtica da
Bblia Sagrada), o prprio nome Ararate significa "Terra
Santa. Seja como for, louvamos a Deus porque a arca que descansou sobre aquela terra renovada estava cheia de
criaturas, tipificando uma nova criao. Da morte de Cristo,
Deus traz existncia uma criao inteiramente nova, e em
unio com Cristo ressuscitado Ele est introduzindo o
homem nela. Em Cristo, voc e eu estamos l!
Agora voc me pergunta se importa no sermos ba-
tizados. Minha nica resposta que o prprio Senhor o
ordenou (Mt. 28:19). E foi um passo do qual Ele prprio
recusou-se a ser dissuadido (Mt. 3:13-15). Pedro descreve
o batismo como a indagao, ou testemunho, de uma boa
conscincia a Deus (vs 21). Um testemunho uma
declarao. Assim, por esse ato voc diz algo, voc declara
onde est, talvez sem usar palavras, mas certamente pelo
que faz. Passando pela gua, voc proclama a todo o
universo que deixou para trs o seu mundo e entrou em
algo absolutamente novo. Isso salvao. Voc assume
uma posio pblica quanto ao lugar no qual Deus o colocou
em Cristo.
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Isto ajuda a explicar porque nas Escrituras encontra-
mos passagens relativas salvao que so difceis de in-
terpretar, se relacionamos a salvao somente ao inferno ou
pecado. Ilumina, por exemplo, as palavras aparentemente
difceis de Paulo e Silas ao carcereiro de Filipos. O homem
perguntou: "Que devo fazer para ser salvo?" Qual seria a
sua resposta? Se voc um perfeito pregador evanglico
dos nossos dias, diria com certeza: "Cr no Senhor Jesus
Cristo, e sers salvo". Mas Paulo de fato acrescentou: "tu e
tua casa". Posso ouvir voc exclamar, quer realmente dizer
que se eu creio no Senhor Jesus Cristo, seremos salvos eu e
minha famlia? Agora precisamos novamente ser
cuidadosos: Paulo no disse: "Cr no Senhor Jesus Cristo e
tu e tua casa tero vida eterna". Ele disse, "Cr no Senhor
Jesus Cristo, e sers salvo, tu e tua casa". Lembre-se, ele
est preocupado com um sistema de coisas, com o repdio
e a sada do carcereiro daquele sistema. Quando, como
chefe de famlia, aquele homem declara que daquele dia em
diante ele e sua casa serviro ao Senhor, e quando essa
declarao torna-se conhecida publicamente, at mesmo os
que passam pela rua apontaro para a porta e diro: "Eles
so cristos. Isso o que significa ser salvo. Declarar que perten-
ce a outro sistema de coisas. As pessoas apontam-nos e
dizem: "Oh! sim, aquela uma famlia crist; eles perten-
cem ao Senhor!" Essa a salvao que o Senhor quer para
voc, que por seu testemunho pblico voc declare diante
de Deus, "meu mundo se acabou; estou entrando em
outro. Possa o Senhor conceder-nos esse tipo de salvao, para encontrar-nos totalmente desarraigados da velha e
coordenada ordem de coisas e firmemente plantados na
nova e divina ordem.
Pois, louvado seja Deus, h um lado positivo glorioso
em tudo isto. Somos salvos "por meio da ressurreio de
Jesus Cristo, o qual, Pedro continua, "depois de ir para o cu, est destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos,
e potestades, e poderes" (vs. 22). Deus colocou Seu Filho
como superior a todas essas coisas, e fez de todas
autoridades sditos Seus. Um Deus que capaz de fazer
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isso muito capaz para trazer-me, corpo e alma, para esse
outro reino.
Assim, para recapitularmos, temos aqui dois mun-
dos. Por um lado, h o mundo de Ado, mantido firme-
mente em escravido a Satans; por outro lado, h a nova
criao em Cristo, a esfera de atividade do Santo Esprito de
Deus. Como voc e eu samos de uma esfera, Ado, para a
outra, Cristo? Se voc no tiver certeza de como responder
a essa pergunta, posso fazer-lhe outra? Como voc entrou
em Ado, em primeiro lugar? Pois o caminho da entrada
indica o da sada. Voc entrou para a esfera de Ado
nascendo na raa de Ado. Como voc sai? Obviamente,
pela morte. E como, da mesma forma, voc entra na esfera
de Cristo? A resposta a mesma: pelo nascimento. O modo
de entrar para a famlia de Deus pelo novo nascimento
para uma esperana viva, atravs da ressurreio de Jesus
Cristo (1 Pe. 1:3). Tendo ficado unido a Ele pela semelhana
de Sua morte, voc tambm est unido a Ele pela
semelhana de Sua ressurreio (Rom. 6:5). A morte coloca
um fim ao seu relacionamento com o velho mundo, e a
ressurreio o coloca em contato vivo com o novo.
Finalmente, o que ocupa a brecha? Qual a pedra de
ligao entre esses dois mundos? No o sepultamento?
"Fomos, pois sepultados com Ele na morte pelo batismo"
(Rom. 6:4). Por um lado, h uma inflexvel determinao
quanto s palavras "sepultados na morte". Minha histria
em Ado j foi concluda na morte de Cristo, de forma que
quando saio daquele sepultamento posso dizer que sou um
homem "acabado. Mas posso dizer mais, pois, louvado seja Deus, no menos verdade que h o outro aspecto. Desde
que "Cristo foi ressuscitado dentre os mortos", quando saio
da gua e vou embora, posso caminhar em novidade de
vida" (6:4).
Esse duplo efeito da cruz est implcito tambm nas
palavras precedentes de Rom. 6:3: "Ou porventura, ignorais
que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos
batizados na Sua morte?" Aqui, em uma s frase, os dois
aspectos do batismo so novamente aludidos. batismo em
duas coisas. Primeiro, ns que cremos fomos "batizados na
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sua morte". Este um fato tremendo, porm tudo? De
modo nenhum, pois em segundo lugar o mesmo versculo
diz que ns fomos "batizados em Cristo Jesus. Um batismo na morte de Cristo acaba com minha relao com este
mundo, mas um batismo em Cristo Jesus como uma Pessoa
viva, Cabea de uma nova raa, abre para mim todo um
novo mundo de coisas. Indo para as guas, eu
simplesmente estabeleo as coisas, afirmando publicamente
que o "julgamento deste mundo" tornou-se real para mim,
desde o dia em que o Filho do Homem "levantado" atraiu-
me para Si.
Que evangelho para pregar a toda criao!
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CAPTULO
CRUCIFICADO EM MIM
Separao para Deus, separao do mundo, o
primeiro princpio do viver cristo. Na revelao de Cristo
feita a Joo, foram mostrados dois extremos irre-
conciliveis, dois mundos que moralmente eram plos
opostos. Ele foi primeiro transportado no Esprito para um
deserto, para ver Babilnia, me das meretrizes e
abominaes da terra (Ap. 17:3). Foi ento levado no
mesmo Esprito para uma grande e alta montanha, para dali
contemplar Jerusalm, a noiva, a esposa do Cordeiro (Ap.
21:10). O contraste claro, e dificilmente poderia ser mais
explicitamente declarado.
Quer sejamos Moiss ou Balao, para termos a viso
que Deus tem das coisas, precisamos ser levados como
Joo para um pico de montanha. Muitos no podem ver o
plano eterno de Deus, ou se o vem entendem-no apenas
com rida doutrina, porque se satisfazem em permanecer
nas plancies. Pois a compreenso jamais pode tocar-nos;
s a revelao o faz. Do deserto podemos ver algo da
Babilnia, porm necessitamos de revelao espiritual para
ver a Nova Jerusalm de Deus. Uma vez que a avistemos,
jamais seremos os mesmos novamente. Portanto, como
cristos ns confiamos tudo a essa abertura de olhos, mas
para experiment-la precisamos estar preparados para
renunciar aos nveis comuns e subir.
A meretriz Babilnia sempre "a grande cidade" (Ap.
16:19, etc.), com nfase em seus feitos de grandeza. A
Nova Jerusalm , ao contrrio, "a cidade santa" (Ap. 21:2,
10), com a nfase correspondente em sua separao para
Deus. Ela "de Deus" e est preparada para "seu esposo".
Por essa razo, ela tem a glria de Deus. Essa uma
questo de experincia para todos ns. Santidade em ns
o que de Deus, o que est totalmente separado para
Cristo. Segue a regra de que somente o que se originou do
cu retorna para l; pois nada mais santo. Retire-se esse
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princpio de santidade, e estamos instantaneamente em
Babilnia.
Dessa forma, sucede que a muralha o primeiro
aspecto da cidade em si que Joo menciona em sua descri-
o. H portas fazendo proviso para as obras de Deus,
porm a muralha tem prioridade. Pois, repito, separao o
primeiro princpio da vida crist. Se Deus quer Sua cidade
com suas medidas e Sua glria naquele dia, ento
precisamos construir aquela muralha nos coraes humanos
agora. Na prtica isto quer dizer que devemos guardar
como precioso tudo o que de Deus, e recusar e rejeitar
tudo o que da Babilnia. Com isso, no estou me referindo
separao entre cristos. No ousamos excluir nossos
prprios irmos, mesmo quando no podemos participar de
algumas coisas que eles fazem. No, devemos amar e
receber nossos irmos cristos, mas sermos em princpio
inflexveis em nossa separao do mundo.
Em seus dias, Neemias conseguiu reconstruir a mu-
ralha de Jerusalm, mas apenas enfrentando grande
oposio. Pois Satans odeia a separao. Ele no pode su-
portar a separao do homem para Deus. Por isso, Neemias
e seus companheiros armaram-se, e assim equipados para
a guerra, assentaram pedra por pedra. Este o preo da
santidade, para o qual devemos estar preparados.
Pois certamente precisamos construir. O den era
um jardim sem muralhas artificiais para conservar fora os
inimigos; por isso Satans pde entrar. Deus pretendia que
Ado e Eva "o guardassem" (Gn. 2:15), eles prprios
constituindo-se numa barreira moral contra ele. Hoje, por
meio de Cristo, Deus planeja um den no corao de Seu
povo redimido, ao qual, em triunfante realidade, Satans
finalmente no ter qualquer acesso moral. "Nela nunca
jamais penetrar coisa alguma contaminada, nem o que
pratica abominao e mentira; mas somente os inscritos no
livro da vida do Cordeiro".
Muitos de ns concordaramos que foi dada uma
revelao especial da Igreja de Deus ao apstolo Paulo. De
igual modo, sentimos que Deus deu a Joo uma compre-
enso especial da natureza das coisas do mundo. Na
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verdade, kosmos peculiarmente uma palavra de Joo. Os
outros evangelhos usam-na apenas quinze vezes (Mateus
nove, Marcos e Lucas trs vezes cada, enquanto Paulo
emprega-a 47 vezes em oito cartas. Mas Joo usa-a 105
vezes ao todo, 78 em seu evangelho, 24 em suas epstolas
e mais trs vezes em Apocalipse.
Em sua primeira epstola, Joo escreve: "porque tudo
que h no mundo, a concupiscncia da carne, a con-
cupiscncia dos olhos e a soberba da vida, no procede do
Pai, mas procede do mundo" (2:16). Nestas palavras que
refletem com tanta clareza a tentao de Eva (Gn. 3:6),
Joo define as coisas do mundo. Tudo o que pode ser
includo na concupiscncia ou desejo primitivo, tudo o que
excita ambio gananciosa, e tudo o que desperta em ns a
soberba ou deslumbramento da vida, todas essas coisas so
parte do sistema satnico. Talvez quase no seja necessrio
considerar mais detalhadamente os dois primeiros, mas
contemplemos o terceiro por um momento. Tudo o que
provoca soberba em ns, do mundo. Proeminncia,
riquezas, realizaes, isto o mundo aplaude. Os homens
ficam legitimamente orgulhosos do sucesso. Contudo, Joo
denomina tudo o que traz essa sensao de sucesso como
"do mundo".
Portanto, cada sucesso que experimentamos (eu no
estou sugerindo que deveramos ser fracassados) reclama
de ns, por um instante, a humilde confisso de sua
pecaminosidade inerente, pois onde quer que tenhamos
encontrado o sucesso, at certo ponto entramos em contato
com o sistema mundial. Sempre que sentimos complacncia
quanto a alguma realizao, podemos saber de imediato
que tocamos o mundo. Podemos saber, tambm, que nos
colocamos sob o julgamento de Deus, pois no temos j
concordado que o mundo todo est sob julgamento? Agora
(e vamos tentar assimilar este fato) aqueles que percebem
isso e confessam sua necessidade esto desse modo
protegidos.
Mas o problema , quantos de ns esto conscientes
disso? Mesmo aqueles dentre ns que vivem na separao
de suas casas particulares esto to propensos a serem
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presas da soberba da vida, quanto os que tm grande su-
cesso pblico. Uma mulher em uma modesta cozinha pode
tocar o mundo e sua complacncia mesmo enquanto estiver
preparando a refeio diria ou entretendo convidados.
Toda glria que no para a glria de Deus vanglria, e
so surpreendentes os sucessos insignificantes que podem
causar vanglria. Onde quer que encontremos o orgulho,
encontramos o mundo, e h uma perda imediata de nosso
relacionamento com Deus. Oh, que Deus nos abra os olhos
para vermos claramente o que o mundo! No apenas as
coisas ms, mas todas aquelas que nos afastam to
gentilmente de Deus, so unidades daquele sistema que
antagnico a Ele. Contentamento na realizao de um
trabalho tem o poder de se colocar de imediato entre ns e
Deus. Pois se soberba da vida e no o louvor a Deus que
desperta em ns, podemos saber com certeza que tocamos
o mundo. Dessa forma, h uma necessidade constante de
vigiar e orar, se quisermos manter pura comunho com
Deus.
Qual ento o modo de escapar a essa cilada que o
diabo colocou para enganar o povo de Deus? Primeiro, digo
enfaticamente que no escaparemos pelo fato de fugirmos.
Muitos pensam que podemos escapar do mundo, procu-
rando abster-nos das coisas do mundo. Isso tolice. Como
poderamos ns escapar ao sistema do mundo usando o
que, afinal de contas, um pouco mais do que mtodos
mundanos? Permita-me recordar-lhes as palavras de Jesus
em Mateus 11:18, 19: "Pois veio Joo, que no comia nem
bebia e dizem: tem demnio. Veio o Filho do homem, que
come e bebe, e dizem: Eis a um gluto e bebedor de vinho,
amigo de publicanos e pecadores!" Alguns pensam que Joo
Batista nos oferece uma receita para escapar ao mundo,
mas "no comia nem bebia" no cristianismo. Cristo veio
comendo e bebendo e isso cristianismo! O apstolo Paulo
fala das "ordenanas do mundo", e define-as como "no
manuseies isto no proves aquilo, no toques aquiloutro"
(Col. 2:20, 21). Assim, a abstinncias nada mais nada
menos do que mundana, e que esperana h, no uso de
ordenanas mundanas, de escapar do sistema do mundo?
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Contudo quantos cristos sinceros esto renunciando a toda
sorte de prazeres mundanos na esperana de assim ficarem
libertos do mundo! Voc pode construir uma cabana de
eremita em algum lugar remoto, pensando escapar ao
mundo retirando-se para l, mas o mundo o seguir at
mesmo ali. Seguir sua pista e o encontrar, no
importando onde voc se esconda.
Nossa libertao do mundo comea, no com a nossa
desistncia disso ou daquilo, mas com o enxergarmos com
os olhos de Deus, que um mundo sob sentena de morte,
como na ilustrao com a qual abrimos este captulo, "caiu,
caiu a grande Babilnia!" (Ap. 18:2). Agora uma sentena
de morte est sempre passada, no sobre os mortos, mas
sobre os vivos. E em certo sentido o mundo uma fora
viva hoje, perseguindo e procurando incansavelmente seus
vassalos. Mas, embora seja verdade que quando
pronunciada a sentena a morte ainda pertence ao futuro,
ainda assim certa. Uma pessoa sob sentena de morte,
no tem futuro alm dos limites de uma cela condenada. Do
mesmo modo o mundo estando sob sentena, no tem
futuro. O sistema mundial ainda no foi "golpeado", como
dizemos, e terminado por Deus, mas o golpeamento uma
questo j decidida. Faz toda diferena para ns se vemos
isso. Algumas pessoas procuram a libertao do mundo no
ascetismo e como o Batista, no comem nem bebem. Isso
hoje budismo, no cristianismo. Como cristos ns
comemos e bebemos, mas o fazemos na compreenso de
que o comer e beber pertencem ao mundo, e, como eles
esto sob a sentena de morte, no tem poder sobre ns.
Suponhamos que as autoridades municipais de
Shangai decretem que a escola onde voc est empregado
deve ser fechada. Assim que toma conhecimento dessa
notcia, voc percebe que no h futuro naquela escola para
voc. Continua trabalhando l por um tempo, mas no
constri nada para o futuro ali. Sua atitude para com a
escola muda no momento em que fica sabendo que deve
ser fechada. Ou, para usar outra ilustrao, suponha que o
governo decida fechar certo banco. Voc se apressaria a
depositar nele uma grande importncia de dinheiro para
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salv-lo do colapso? No, voc no depositaria ali nem mais
um centavo, desde que saiba que no tem futuro. Voc no
deposita nada, porque no espera nada dele.
E podemos com justificativa dizer que o mundo est
sob uma ordem de fechamento. Babilnia caiu quando seus
defensores guerrearam com o Cordeiro, e quando por Sua
morte e ressurreio Ele os superou como o Senhor dos
senhores e Rei dos reis (Ap. 17:14). No h futuro para ela.
Uma revelao da cruz de Cristo implica para ns na
descoberta desse fato, que atravs dela tudo o que per-
tencia ao mundo est sob sentena de morte. Continuamos
vivendo e utilizando as coisas do mundo, mas no podemos
construir qualquer futuro com elas, pois a cruz destruiu toda
esperana que tnhamos nelas. A cruz de nosso Senhor
Jesus podemos na verdade afirmar, arruinou nossas
expectativas quanto ao mundo, no temos nada por que
viver nele.
No existe um verdadeiro caminho de salvao do
mundo que no principie com tal revelao. Precisamos
apenas tentar escapar do mundo fugindo dele, para
descobrir o quanto ns o amamos, e o quanto ele nos ama.
Podemos fugir para onde quisermos para evit-lo, mas ele
certamente nos encontrar. Mas perdemos inevitavelmente
todo interesse pelo mundo, e este perde seu poder sobre
ns, assim que descobrirmos que o mundo est condenado.
Compreender isso ser automaticamente cortado de toda
economia de Satans.
No final de sua carta aos Glatas, Paulo afirma isso
muito claramente. "Mas longe esteja de mim gloriar-me
seno na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o
mundo est crucificado para mim, e eu para o mundo" (Gal.
6:14). Notou algo marcante quanto a este versculo? Com
relao ao mundo, ele fala dos dois aspectos da obra da
cruz j mencionados em nosso captulo anterior. "Fui
crucificado para o mundo" uma afirmativa que vemos ser
facilmente adaptvel nossa compreenso de estarmos
crucificados com Cristo, como definido em passagens tais
como Romanos 6. Mas aqui tambm est dito:
especificamente que "O mundo foi crucificado para mim".
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Quando Deus vem a voc e a mim com a revelao da obra
terminada de Cristo, Ele no apenas mostra a ns mesmos
crucificados l na cruz, mostra-nos tambm o nosso mundo
ali. Se voc e eu no podemos escapar ao julgamento da
cruz, ento nem o mundo pode escapar a esse julgamento.
Ser que eu realmente j compreendi isso? Essa a
questo. Quando eu compreendo, no tento repudiar um
mundo que amo, vejo que a cruz o repudiou. No tento
escapar a um mundo que se agarra a mim; vejo que
atravs da cruz eu escapei.
Como tantas outras coisas na vida crist, a forma da
libertao do mundo vem a ser uma surpresa para muitos
de ns, pois est em grande desigualdade com os conceitos
naturais do homem. O homem procura resolver o problema
do mundo afastando-se fisicamente do que ele considera a
zona de perigo. Mas a separao fsica no traz a separao
espiritual; e o contrrio tambm verdadeiro, que o
contato fsico com o mundo no compele captura
espiritual pelo mundo. Escravido espiritual ao mundo
fruto de cegueira espiritual, e a libertao o resultado de
ter nossos olhos abertos. No importa quo prximo possa
ser externamente o nosso contato com o mundo, somos
libertos do seu poder quando verdadeiramente
compreendemos sua natureza. O carter essencial do
mundo satnico; inimizade para com Deus.
Compreender isso encontrar libertao.
Permita-me perguntar-lhe: qual a sua ocupao?
Mercador? Mdico? No se afaste dessas vocaes. Sim-
plesmente, escreva: o comrcio est sob sentena de mor-
te. A medicina est sob sentena de morte. Se fizer isso
com sinceridade, sua vida ser mudada dai em diante. No
meio de um mundo sob julgamento por sua hostilidade a
Deus, voc saber o que viver como algum que
verdadeiramente O ama e teme.
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CAPTULO
DIFERENCIAO DO MUNDO
"Chamo agora sua ateno para as palavras que
Jesus dirigiu aos judeus em Joo 8:23: "Vs sois c de
baixo, eu sou l de cima; vs sois deste mundo, eu deste
mundo no sou". Desejo que notemos aqui de modo
especial o uso das palavras "de" e "deste". A palavra grega
em cada caso ek, que significa "fora de", e indica origem.
Ek tou kosmos a expresso empregada: "de, ou deste ou
fora de, deste mundo". Assim o sentido da passagem :
"Vosso lugar de origem de baixo; meu lugar de origem
de cima. Vosso lugar de origem este mundo; meu lugar
de origem no este mundo". A questo no : voc uma
pessoa boa ou m? Mas, qual o seu lugar de origem? No
perguntemos, isto est certo? Ou, isto est errado? Mas, de
onde se originou? a sua origem que determina tudo. "O
que nascido da carne, carne; e o que nascido do
Esprito, esprito" (Joo 3:6).
Assim, quando Jesus volta-se para os Seus discpu-
los, Ele pode dizer, usando a mesma preposio grega, "se
vs fosseis do mundo (ek tou kosmos) o mundo amaria o
que era seu; como, todavia, no sois do mundo, pelo
contrrio dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia"
(Joo 15:19). Temos aqui a mesma expresso, "no sois do
mundo", mas alm disso, temos outra expresso ainda mais
forte, "dele vos escolhi". Nesta ltima citao h uma
nfase dupla. Como antes h um ek, "fora de", mas
somando-se a isto o verbo "escolher", eklego, que contm
em si outro ek. Jesus est dizendo que Seus discpulos
foram "escolhidos, fora do mundo".
H este duplo ek na vida de cada crente. Fora da-
quela vasta organizao chamada kosmos, fora de toda a
grande massa de indivduos que pertencem a ele e que es-
to envolvidos nele, para fora de tudo isso que Deus nos
chamou. Da vem o nome "igreja", ekklesia, os que Deus
"chamou para fora". Do meio do grande kosmos Deus
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chama um aqui e um ali; e todos os que Ele chama, chama
para fora. No existe tal coisa como um chamado de Deus
que no seja um chamado "para fora" do mundo. A igreja
ekklesia. Na inteno divina, no h klesia qual falte esse
ek.
Se voc algum que foi chamado, ento foi
chamado para fora. Se Deus o chamou, chamou-o para
viver em esprito, fora do sistema mundial. Estvamos
originalmente naquele sistema satnico, sem meios de sair;
mas fomos chamados, e esse chamado trouxe-nos para
fora. verdade que essa declarao negativa, mas h um
lado positivo tambm para nossa natureza; pois como povo
de Deus temos dois ttulos, cada qual significativo, de
acordo com o modo pelo qual vemos a ns mesmos. Se
olharmos para nossa histria passada, somos ekklesia, a
Igreja; mas se olharmos para nossa vida presente em Deus
somos o corpo de Cristo, a expresso na terra Daquele que
est no cu. Do ponto de vista da nossa escolha por Deus,
estamos "fora" do mundo; mas do ponto de vista de nossa
nova vida no somos absolutamente do mundo, mas do
alto. Por um lado somos um povo escolhido, chamado e
liberto do sistema mundial. Por outro lado, somos um povo
regenerado, absolutamente sem ligao com aquele
sistema, porque pelo Esprito somos nascidos do alto. Assim
Joo v a cidade santa descendo "do cu da parte de Deus"
(Ap. 21:10). Como o povo de Deus, o cu no somente
nosso destino, mas nossa origem.
algo espantoso que em voc e em mim haja um
elemento que essencialmente sobrenatural. na verdade
to sobrenatural que, no importa como este mundo possa
evoluir, jamais pode avanar um passo de acordo com ele.
A vida que temos como dom de Deus veio do cu, e jamais
esteve no mundo. No tem qualquer semelhana com o
mundo, mas tem perfeita semelhana com o cu; e embora
precisemos misturar-nos ao mundo diariamente, no
permitir jamais que nos acomodemos e fiquemos
vontade ali.
Consideremos por um momento essa ddiva divina,
essa vida de Cristo habitando o corao do homem
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regenerado. O apstolo Paulo tem muito a dizer sobre isso.
Em uma passagem esclarecedora de 1 Corntios, ele faz
uma impressionante afirmao dupla: a) que o prprio Deus
colocou-nos em Cristo; e b) que Cristo "se nos tornou da
parte de Deus sabedoria, e justia, e santificao, e
redeno" (1:30). Aqui esto exemplos da extenso total da
necessidade humana que Deus satisfez em Seu Filho.
Demonstramos em outra obra como Deus no nos concede
estas qualidades de retido, santidade e assim por diante,
em prestaes para "serem utilizadas quando necessrio". O
que Ele faz dr-nos Cristo como resposta completa a
todas as nossas necessidades. Ele faz Seu Filho ser minha
retido e minha santidade, e tudo o que no tenho, pela
razo de que Ele j me colocou em Cristo crucificado e
ressurreto.
Agora chamo sua ateno para a ltima palavra, "re-
deno". Pois a redeno tem muito a ver com o mundo. Os
israelitas, voc deve estar lembrado, foram "redimidos"
para fora do Egito, que naquela poca era o mundo que eles
conheciam, e que para ns uma figura deste mundo sob
governo satnico. "Eu sou o Senhor" disse a Israel, "e vos
tirarei com brao estendido". Dessa forma, Deus os trouxe
para fora, colocando uma barreira de julgamento entre eles
e os exrcitos perseguidores de Fara, de forma que Moiss
podia cantar sobre Israel como "o povo que salvaste"
(Ex.6:6, 15:13).
A luz disso, analisemos a dupla afirmao de Paulo.
Se: a) Deus nos colocou em Cristo, ento desde que Cristo
est inteiramente fora do mundo, ns tambm estamos
inteiramente fora do mundo.
Ele agora nossa esfera, e estando Nele, estamos
por definio fora daquela outra esfera. O Pai "nos libertou
do imprio das trevas e nos transportou para o reino do
Filho do Seu amor; no qual temos redeno" (Col. 1:13,
14). Esta transferncia foi o assunto de nossos dois cap-
tulos precedentes.
Alm disso, se tambm (b) Cristo "se tornou re-
deno" se assim podemos dizer, Ele nos dado para ser isso ento quer dizer que Deus colocou dentro de ns o
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prprio Cristo, como barreira para resistir ao mundo.
Encontrei muitos jovens cristos tentando resistir ao
mundo, tentando de um modo ou de outro viver uma vida
no mundana. Descobriram que muito difcil, e, alm
disso, tal esforo , naturalmente, totalmente des-
necessrio. Pois por sua prpria "estranheza" essencial,
Cristo nossa barreira contra o mundo, e no necessitamos
de nada mais. No se trata de que precisamos fazer algo
com relao nossa redeno, do mesmo modo que o povo
de Israel nada fez com relao sua salvao. Sim-
plesmente confiaram no brao redentor de Deus, estendido
em seu favor. E Cristo feito redeno para ns. Em meu
corao h uma barreira levantada entre mim e o mundo, a
barreira de uma outra espcie de vida, a saber, a vida do
prprio Senhor Jesus, e Deus colocou ali essa barreira. E
por causa de Cristo, o mundo no pode me alcanar.
Portanto, que necessidade tenho eu de tentar resistir
ou escapar ao sistema de coisas? Se olhar para dentro de
mim mesmo procura de algo com que enfrentar e
conquistar o mundo, instantaneamente encontro tudo em
meu anterior clamando por aquele mundo, e enquanto luto
para separar-me dele, simplesmente fico mais e mais
envolvido. Mas deixemos que chegue o dia em que eu re-
conhea que em meu interior Cristo minha redeno, e
que Nele eu estou inteiramente "fora". Aquele dia ver o fim
da luta. Eu irei simplesmente dizer a Ele que no posso
fazer absolutamente nada quanto a esse assunto de
"mundo", a no ser agradecer-Lhe de todo corao porque
Ele meu Redentor.
Arriscando-me a ser montono, digo novamente: o
carter do mundo moralmente diferente da vida concedida
pelo Esprito que recebemos de Deus. principalmente
porque possumos essa nova vida doada por Deus que o
mundo nos odeia, pois no tem dio de sua prpria espcie.
Essa diferena radical nos deixa realmente sem meios de
fazer com que o mundo nos ame. "Se vs fosseis do mundo,
o mundo amaria o que era seu; todavia, no sois do mundo,
pelo contrrio dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia".
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Quando o mundo v em ns honestidade e decncia
naturalmente humanas, ele o aprecia, e est pronto a
prestar-nos o devido respeito, e colocar-nos em sua con-
fiana. Porm assim que encontra em ns o que no de
ns mesmos, a saber, a natureza divina da qual fomos fei-
tos participantes, sua hostilidade imediatamente des-
pertada. Mostre ao mundo os efeitos do cristianismo, e ele
aplaudir; mostre-lhe o cristianismo, e ele se opor vi-
gorosamente. Pois no importa o quanto o mundo evolua,
no pode jamais produzir um cristo. Pode imitar a
honestidade crist, a cortesia crist, a caridade crist, sim,
mas produzir um s cristo algo que jamais poder
almejar. Uma assim chamada civilizao crist ganha o
reconhecimento e respeito do mundo. Ele pode tolerar isso;
pode at mesmo assimilar e utilizar isso. Mas a vida crist a vida de Cristo no crente cristo, isso ele odeia, e onde
quer que a encontre, ir certamente opor-se at a morte.
A civilizao crist o resultado de uma tentativa de
reconciliar o mundo e Cristo. Nas figuras do Velho
Testamento, encontramos aquela representada por Moabe e
Amom, o fruto indireto do envolvimento e comprometi-
mento de L com Sodoma; e nem Moabe nem Amom
demonstram ser menos hostis a Israel do que eram as na-
es gentlicas. A civilizao crist demonstra que pode
misturar-se ao mundo, e at mesmo pode ficar ao lado do
mundo em uma crise. H algo, contudo, que totalmente
separado do mundo e jamais pode misturar-se a ele, e isso
a vida de Cristo. Suas naturezas so mutuamente
antagnicas, e no podem ser reconciliadas. Entre o mais
fino espcime da natureza humana que o mundo pode
produzir e o crente mais insignificante no h nada em
comum, e assim no h termo de comparao. Pois a
bondade natural algo que temos pelo nascimento natural
e podemos, por nossos prprios recursos, desenvolver
naturalmente; mas a bondade espiritual , nas palavras de
Joo, "nascida de Deus" (1 Joo 5:4).
Deus estabeleceu no mundo uma Igreja Universal; e
a