watchman nee - não ameis o mundo

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  • NO AMEIS O MUNDO

    Watchman Nee

    N D I C E

    1. A MENTE OUE SE OCULTA POR TRS DO SISTEMA 7

    2. A TENDNCIA OPOSTA A DEUS 16

    3. UM MUNDO SOB A GUA 26

    4. CRUCIFICADO EM MIM 36

    5. DIFERENCIAO DO MUNDO 43

    6. LUZES NO MUNDO 50

    7. SEPARAO 56

    8. 0 REFRIGRIO MTUO 64

    9. MINHAS LEIS EM SEUS CORAES 73

    10. OS PODERES DO MUNDO VINDOURO 81

    11. ROUBANDO O USURPADOR 89

  • 2

    2

    PREFCIO

    Grande parte deste livro originou-se de uma srie de

    palestras sobre o tpico "o mundo", feitas por Watchman

    Nee (Nee To-sheng), natural de Foochow, a crentes da

    cidade de Shangai, no princpio da guerra sino-japonesa.

    Por esse motivo, as palestras trazem certa influncia das

    presses econmicas daqueles dias. Foram-lhes

    acrescentadas outras palestras sobre o mesmo tema geral,

    feitas em diversos lugares e ocasies, durante o perodo

    1938-1941. Por exemplo, o captulo trs baseado em um

    sermo pregado numa cerimnia de batismo em maio de

    1939. Sou grato a diversos amigos que supriram o material

    que originou o livro.

    O autor v o "kosmos" como um ente espiritual alm

    das coisas visveis, uma fora que sempre precisamos

    considerar. Aborda o seu impacto sobre o cristo, e o

    impacto deste sobre ele, com as conflitantes reivindicaes

    feitas sobre o cristo quanto separao e o envolvimento,

    e com o destino do homem de "ter domnio" em Cristo.

    Como sempre, os estudos do Senhor Nee revelam

    pensamentos originais, e ele no tem receio de ser

    provocador, incitando o corao e a mente a uma resposta.

    Minha orao que, apesar da inevitvel construo do livro

    por etapas, o seu tema demonstre ser coerente, como

    retrato do homem de Deus no mundo, e ainda mais, que

    possa desafiar a todos os que invocam o nome de Cristo a

    caminhar mais corajosa e positivamente pelo cenrio

    terrestre, sempre com o pensamento em nosso papel aqui,

    dentro do propsito eterno de Deus com relao so Seu

    amado Filho.

    Angus I. Kinnear

    Londres, 1968

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    3

    CAPTULO

    A MENTE QUE SE OCULTA POR TRS DO SISTEMA

    "Chegou o momento de ser julgado este mundo, e

    agora o seu prncipe ser expulso. E eu, quando for levan-

    tado da terra, atrairei todos a mim mesmo". (Joo 12:9,

    32).

    Nosso Senhor Jesus pronuncia estas palavras em um

    ponto chave de Seu ministrio. Ele entrou em Jerusalm

    apertado por multides entusisticas; porm, quase que de

    imediato falou em termos velados sobre sacrificar Sua vida,

    e a isto os cus deram sua aprovao pblica. Agora Ele

    surge com esta grande afirmao dupla. O que, per-

    guntamo-nos, pode ter essa afirmao transmitido queles

    que o tinham aclamado, saindo para encontr-Lo e

    acompanhando-O de volta a casa? Para muitos deles as

    Suas palavras, se tiveram algum significado, devem ter

    soado como uma total inverso de suas esperanas. Na

    verdade, os de maior discernimento chegaram a ver nelas

    uma previso das reais circunstncias de Sua morte como

    um criminoso (vs. 33).

    Embora Seu pronunciamento destrusse uma srie de

    iluses, ofereceu em lugar delas uma maravilhosa

    esperana, slida e segura, pois anunciava uma mudana

    de domnio, muito mais radical do que at mesmo os

    prprios patriotas judeus esperavam. "E eu... a expresso contrasta acentuadamente com o que a precede,

    assim como Aquele a quem ela identifica est em contraste

    com Seu antagonista, o prncipe deste mundo. Atravs da

    Cruz, atravs da obedincia at a morte, Daquele que o

    gro de trigo de Deus, as leis deste mundo, baseadas no

    medo e na coao, esto para terminar com a queda de seu

    orgulhoso soberano. E com Sua volta novamente vida,

    surgir no lugar delas um novo reino de justia,

    1

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    4

    caracterizado por uma livre aliana dos homens com Ele.

    Com cordas de amor, seus coraes sero levados para

    longe de um mundo sob julgamento, para Jesus o Filho do

    Homem, o qual embora tendo sido levantado para morrer,

    por esse mesmo ato foi levantado para reinar.

    "A terra" o cenrio dessa crise e de suas terrveis

    conseqncias, e "este mundo" , podemos dizer, o ponto

    em que se chocam. Faremos deste ponto o tema de nosso

    estudo, e comearemos por considerar as idias do Novo

    Testamento, associadas com a importante palavra grega

    "kosmos". Nas verses inglesas, com uma nica exceo

    que ser mencionada em breve, essa palavra

    invariavelmente traduzida por "o mundo" (a outra palavra

    grega, aion, que traduzida da mesma forma, contm a idia de tempo e deveria ser mais convenientemente

    interpretada como a poca). Vale a pena gastar algum tempo para consultar um

    Lxico do Novo Testamento Grego, tal como o de Grimm.

    Ficar clara a grande variedade de significados que a

    palavra "kosmos" tem nas Escrituras. Porm, em primeiro

    lugar consultamos suas origens no Grego Clssico, onde

    descobrimos que originalmente tinha dois significados:

    primeiro, uma ordem ou arranjo harmonioso, e segundo,

    embelezamento ou ornamentao. Esta ltima idia aparece

    no verbo neotestamentrio kosmeo, usado com o

    significado de "ornamentar", ou seja, o templo com pedras

    bonitas, ou uma noiva para o seu esposo (Lc. 21:5, Ap.

    21:2). Em 1 Pedro 3:3, a exceo j citada, a palavra

    "Kosmos" ela prpria traduzida por "adorno", concordando

    com o mesmo verbo kosmeo no versculo 5.

    (1) Quando nos voltamos dos Clssicos para os

    escritores do Novo Testamento, descobrimos que seus usos

    da palavra "kosmos" enquadram-se em trs grupos

    principais. usada em primeiro lugar com o sentido de

    universo material, o mundo todo, esta terra. Assim: Atos

    17:24 "o Deus que fez o mundo, e tudo o que nele existe";

    Mt. 13:35 (e em outros lugares) "a criao do mundo"; Joo

    1:10 "estava no mundo, e o mundo foi feito por intermdio

    dele"; Marcos 16:15 "Ide por todo o mundo".

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    5

    (2) O segundo uso de kosmos duplo. usado co-

    mo: (a) para os habitantes do mundo em frases como a de

    Joo 1:10 "o mundo no o conheceu"; 3:16 "Deus amou ao

    mundo de tal maneira"; 12:19 "eis a vai o mundo aps

    Ele"; 17:21 "para que o mundo creia". (b) Uma ampliao

    desse uso conduz idia da raa inteira dos homens

    separados de Deus e assim hosts causa de Cristo. Assim:

    Hb. 11:38 "homens dos quais o mundo no era digno"; Joo

    14:17 "que o mundo no pode receber"; 14:27 "no vo-la

    dou como a d o mundo"; 15:18 "se o mundo vos odeia.... (3) Em terceiro lugar, descobrimos que kosmos

    usada nas Escrituras para assuntos mundanos: todo o cr-

    culo de bens, talentos, riquezas, vantagens e prazeres

    mundanos que embora vazios e transitrios; excitam nossos

    desejos e nos afastam de Deus, sendo assim obstculos

    causa de Cristo. Exemplos: 1 Joo 2:15 "as coisas que h

    no mundo"; 3:17 "a sua (do mundo) concupiscncia"; Mt.

    16:26 "se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma"; 1

    Cor. 7:31 "e os que se utilizam do mundo, como se dele no

    usassem". Este uso de kosmos aplica-se no somente a

    coisas materiais, mas tambm a coisas abstratas que tm

    valores espirituais e morais (ou imorais). Assim: 1 Cor.

    2:12 "o esprito do mundo"; 3:19 "a sabedoria deste

    mundo"; 7:31 "a aparncia deste mundo; Tito 2:12 "paixes mundanas" (adj. Kosmikos); 2 Pe. 1:4 "a

    corrupo das paixes que h no mundo"; 2:20 "as

    contaminaes do mundo"; 1 Joo 2:16, 17 "tudo o que h

    no mundo, a concupiscncia... a soberba... passam". O

    cristo deve "a si mesmo guardar-se incontaminado do

    mundo", Tiago 1:27.

    O estudante da Bblia logo descobrir que, como

    sugere o pargrafo acima, a palavra kosmos uma das

    favoritas do apstolo Joo, e ele, principalmente, quem

    agora nos auxilia a chegar a outras concluses.

    Embora seja verdade que estas trs definies de "o

    mundo" como (1) a terra material ou, (2) as pessoas sobre

    a terra e (3) as coisas da terra, contribuem cada qual com

    algo para o quadro geral, j est claro que por detrs delas

    h algo mais. A idia clssica de sistema organizado ou

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    organizao ajuda-nos a compreender o que . Atrs de

    tudo o que tangvel encontramos algo intangvel,

    encontramos um sistema planejado; e nesse sistema h um

    funciona mento harmonioso, uma ordem perfeita.

    Com relao a esse sistema, h dois pontos a serem

    enfatizados. Primeiro, desde o dia em que Ado abriu a

    porta para que o mal penetrasse na criao de Deus, a

    disposio do mundo tem mostrado por si prpria ser hostil

    a Deus. O mundo "no o conheceu" (1 Cor. 1:21), "odiou"

    Cristo (Joo 15:18) e "no pode receber" o Esprito da

    verdade (14:17). "As suas obras so ms" (Joo 7:7) e "a

    amizade do mundo inimiga de Deus" (Tiago 4:4). Por isso

    Jesus diz "meu reino no deste mundo" (Joo 18:36). Ele

    venceu "o mundo" (16:33) e "esta a vitria que vence o

    mundo, a nossa f" (1 Joo 5:4). Pois, como o versculo de

    Joo 12 que encabea este estudo afirma, o mundo est sob

    julgamento. A atitude de Deus para com ele inflexvel.

    Isto porque, em segundo lugar, como o mesmo ver-

    sculo declara, h uma mente por trs do sistema, Joo

    escreve repetidamente sobre "o prncipe deste mundo"

    (12:31, 14:30, 16:11). Nesta epstola, ele o descreve como

    "aquele que est no mundo (1 Joo 4:4), colocando como seu opositor o Esprito da verdade que habita nos crentes.

    "O mundo inteiro", diz Joo "jaz no maligno" (5:19). Ele o

    rebelde kosmokrator, dominador do mundo uma palavra que, contudo, aparece uma nica vez, usada no plural com

    relao aos seus "oficiais", os "dominadores deste mundo

    tenebroso" (Efsios 6:12).

    Existe, portanto, um sistema organizado, "o mundo",

    que governado por trs do cenrio por um soberano,

    Satans. Quando em Joo 12:31 Jesus afirma que foi dada

    a sentena de julgamento sobre este mundo, Ele no est

    querendo dizer que o mundo material ou seus habitantes

    esto julgados. Para eles o julgamento est ainda por

    chegar. O que ali est julgado aquela instituio, aquela

    ordem mundana harmoniosa da qual o prprio Satans o

    originador e o cabea. Finalmente, como as palavras de

    Jesus deixam claro, ele, o "prncipe deste mundo", que foi

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    7

    julgado (16:11) e que ser destronado e "expulso" para

    sempre.

    Assim, as Escrituras aprofundam nossa compreenso

    do mundo ao nosso redor. Na verdade, a no ser que

    olhemos para os poderes invisveis atrs das coisas mate-

    riais, podemos ser facilmente enganados.

    Esta reflexo pode ajudar-nos a entender melhor a

    passagem de 1 Pedro 3, qual j nos referimos. Nela o

    apstolo coloca "o adorno" (kosmos) exterior como "frisado

    de cabelos, adereos de ouro, aparato de vesturio" em

    contraste deliberado com o "incorruptvel de um esprito

    manso e tranqilo, que de grande valor diante de Deus.

    Conseqentemente, portanto, os primeiros so corruptos e

    sem valor diante de Deus. Podemos ou no estar prontos

    para aceitar imediatamente a avaliao de Pedro, depen-

    dendo se vemos o verdadeiro significado de suas palavras.

    Aqui est o que ele quis dizer. Em segundo plano, por trs

    dessa questo de vesturio, jias e maquiagem, h um

    poder atuando para alcanar seus prprios interesses. No

    deixe que esse poder o domine.

    Temos que perguntar a ns mesmos: qual o motivo

    que nos impulsiona com relao a estas coisas? Pode no

    ser nada sensual; mas totalmente inocente, objetivando

    simples-mente, pelo uso do estilo, harmonia e perfeita

    combinao, obter um efeito que esteticamente

    agradvel. Pode no haver nada intrinsecamente errado em

    fazer isso; porm, voc e eu percebemos com o que

    estamos entrando em contato aqui? Estamos tocando

    aquele sistema harmonioso por trs das coisas visveis, um

    sistema que controlado pelo inimigo de Deus. Portanto,

    sejamos cautelosos.

    A Bblia comea pela criao divina dos cus e da

    terra. Ela no diz que Deus criou o mundo no sentido em

    que o estamos analisando agora. Na Bblia, o significado do

    "mundo" passa por uma evoluo, e apenas no Novo

    Testamento (embora talvez em menor extenso j nos

    Salmos e alguns dos Profetas) que o "mundo" alcana seu

    total significado espiritual. Podemos ver de imediato a razo

    para essa evoluo. Antes da queda do homem, o mundo

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    existia apenas no sentido da terra, as pessoas da terra e as

    coisas da terra. At ento no havia kosmos, "mundo" no

    sentido de ordem constituda. Com a queda, contudo,

    Satans trouxe para esta terra a ordem que ele prprio

    idealizara, e com isso comeou o sistema mundano do qual

    falamos. Originalmente, nossa terra fsica no tinha ligao

    com o "mundo", nesse sentido de um sistema satnico, nem

    o homem, na verdade, a tinha. Porm, Satans aproveitou-

    se do pecado do homem, e da porta que isso lhe abrira,

    para introduzir na terra a organizao que se propusera

    estabelecer. Dai em diante, a terra estava no "mundo" e o

    homem "estava no mundo". Assim, podemos dizer que

    antes da queda havia uma terra; aps a queda h um

    mundo; na volta do Senhor haver um Reino. Assim como o

    mundo pertence a Satans, o Reino pertence ao nosso

    Senhor Jesus. Alm disso, esse Reino que destitui e que

    destituir o mundo. Quando a "Pedra que no feita por

    mos" despedaa a orgulhosa imagem do homem, ento o

    reino deste mundo transformar-se- no "reino de nosso

    Senhor e do Seu Cristo" (Dn. 2:44, 45; Ap. 11:15).

    Poltica, educao, literatura, cincia, arte, lei, co-

    mrcio, msica so estas coisas que constituem o kosmos, e estas so coisas que encontramos diariamente.

    Se as subtrairmos, o mundo como um sistema coerente

    deixar de existir. Estudando a histria da humanidade,

    temos que reconhecer marcante progresso em cada uma

    dessas reas. Contudo a questo : em que direo est

    seguindo esse progresso? Qual o objetivo final de todo

    esse desenvolvimento? No final, conta-nos Joo, o anticristo

    se levantar e estabelecer o seu prprio reino neste

    mundo (1 Joo 2:18, 22; 4:3; 2 Joo 7; Ap. 13). Essa a

    direo do progresso do mundo. Satans est utilizando o

    mundo material, os homens do mundo, as coisas que esto

    no mundo, para finalmente liderar tudo no reino do

    anticristo. Naquela ocasio o sistema mundial ter

    alcanado seu apogeu; e naquela ocasio cada uma de suas

    unidades ser revelada como sendo anticrist.

    No livro de Gnesis, no encontramos no den qual-

    quer aluso tecnologia, qualquer meno a instrumentos

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    mecnicos. Aps a queda, contudo, lemos que entre os

    filhos de Caim havia um artfice de instrumentos cortantes

    de ferro e bronze. Alguns sculos atrs pode ter parecido

    fantstico discernir o esprito do anticristo em ferramentas

    de ferro, ainda que h muito tempo a espada tem estado

    em competio aberta com o arado. Porm hoje, nas mos

    do homem, os metais tm sido empregados para finalidades

    sinistras e mortais, e medida que o final se aproxima, o

    abuso difundido da tecnologia e engenharia tornar-se-

    ainda mais evidente.

    O mesmo se aplica msica e s artes. Pois a flauta

    e a harpa parecem ter-se originado com a famlia de Caim,

    e hoje em mos no consagradas, sua natureza desafiadora

    Deus torna-se mais e mais clara. Em muitas partes do

    mundo, j h muito tempo pode-se relacionar facilmente

    um entrosamento ntimo entre a idolatria e as artes de

    pintura, escultura e msica. No h dvida de que est

    chegando o dia em que a natureza do anticristo ser

    revelada mais abertamente do que nunca, atravs da can-

    o, dana e artes visuais e dramticas.

    Quanto ao comrcio, suas ligaes talvez sejam ain-

    da mais suspeitas. Satans foi o primeiro mercador,

    negociando idias com Eva para seu prprio lucro, e na lin-

    guagem figurativa de Ezequiel 28, que parece revelar algo

    do carter original de Satans, lemos: "Pelo teu comrcio

    aumentaste as tuas riquezas; e por causa delas se eleva o

    teu corao" (vs. 5). Talvez isto no precise ser debatido,

    pois muitos de ns prontamente admitimos por experincia

    prpria a origem e natureza satnica do comrcio.

    Falaremos mais sobre isto posteriormente.

    E quanto educao? Certamente, protestamos,

    essa deve ser inofensiva. De qualquer forma, nossos filhos

    precisam ser ensinados. Porm a educao, no menos do

    que o comrcio e a tecnologia so coisas do mundo. Tm

    suas razes na rvore do conhecimento. Com que

    sinceridade ns, como cristos, procuramos proteger nossos

    filhos das ciladas mais bvias do mundo. E contudo,

    absolutamente verdadeiro que temos que proporcionar-lhes

    educao. Como vamos resolver o problema de deix-los

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    entrar em contato com o que essencialmente uma coisa

    do mundo, e ao mesmo tempo guard-los do grande

    sistema mundial e seus perigos?

    E quanto cincia? Ela, tambm, uma das unida-

    des que constituem o kosmos. Ela, tambm, conheci-

    mento. Quando nos aventuramos pelos limites do alcance

    da cincia, e comeamos a especular sobre a essncia do

    mundo fsico e do homem surge imediatamente a pergunta: at que ponto legtimo o objetivo da pesquisa e

    descoberta cientfica? Onde est a linha de demarcao

    entre o que til e o que prejudicial no campo do

    conhecimento? Como podemos ns prosseguir em busca do

    conhecimento e contudo evitar ser apanhados nas malhas

    de Satans?

    Estes, ento, so os assuntos que devemos analisar.

    Sei que para alguns parecer que estou exagerando as

    coisas, porm isso necessrio para alcanar minha meta.

    Pois se algum amar o mundo, o amor do Pai no est nele" (1 Joo 2:15). Enfim, quando tocamos as coisas do

    mundo, a pergunta que sempre devemos fazer a ns mes-

    mos : "Como isto afetar meu relacionamento com o Pai? Passou o tempo em que precisvamos ir para o

    mundo para ter contato com ele. Hoje o mundo vem

    nossa procura. Agora existe uma fora circulando, a qual

    est cativando os homens. Voc alguma vez j sentiu o

    poder do mundo tanto quanto hoje em dia? J ouviu tantas

    conversas sobre dinheiro? J pensou tanto sobre alimento e

    vesturio? Onde quer que v, at mesmo entre cristos, as

    coisas do mundo so os tpicos da conversa. O mundo

    avanou at a prpria porta da Igreja, e est procurando

    atrair at mesmo os santos de Deus para o seu domnio.

    Jamais nessa esfera de coisas necessitamos tanto de

    conhecer o poder da cruz de Cristo para livrar-nos, como

    necessitamos na presente poca.

    Outrora falvamos muito do pecado e da vida natu-

    ral. Podamos facilmente ver neles as conseqncias

    espirituais, porm pouco percebamos ento que

    conseqncias espirituais igualmente importantes esto em

    jogo quando tocamos o mundo. H uma fora espiritual por

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    trs desse cenrio mundial, a qual, atravs das "coisas que

    esto no mundo", est procurando enredar os homens em

    seu sistema. Portanto no somente contra o pecado que

    os santos de Deus precisam estar alertas, mas contra o

    dominador deste mundo. Deus est edificando a sua Igreja

    para ter seu apogeu no reino universal de Cristo.

    Simultaneamente, Seu rival est construindo este sistema

    mundial para seu ftil clmax no reino do anticristo. Como

    precisamos ser vigilantes para que em tempo algum,

    sejamos encontrados ajudando Satans na construo

    desse malfadado reino. Quando estamos perante

    alternativas e uma escolha de caminhos se nos oferece, a

    pergunta no : isto bom ou mau? Isto til ou

    prejudicial? No, a pergunta que devemos fazer a ns

    mesmos : isto deste mundo, ou de Deus? Pois uma vez

    que o nico conflito existente no universo esse, ento

    sempre que dois caminhos contrastantes se abrirem nossa

    frente, a escolha em questo nada menos que: Deus... ou

    Satans?

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    12

    CAPTULO

    TENDNCIA OPOSTA A DEUS

    Tendo sido cada um de ns escravos do pecado

    acreditamos de imediato que as coisas pecaminosas so de

    Satans; porm, acreditamos de igual modo que as coisas

    do mundo so satnicas? Creio que muitos de ns ainda

    estamos vacilantes com relao a isso. No entanto, a

    Escritura afirma de modo claro que "o mundo inteiro jaz no

    maligno" (1 Joo 5:19). Satans sabe muito bem que, de

    modo geral, tentar seduzir cristos verdadeiros atravs de

    coisas que so indubitavelmente pecaminosas, vo e

    infrutfero. Eles geralmente percebem o perigo e escapam.

    Assim, ao invs disso ele planejou uma atraente rede, cujas

    malhas so to habilmente tecidas que enganam o mais

    inocente dos homens. Ns evitamos concupiscncias

    pecaminosas; com boas razes, mas quando se trata de

    coisas to aparentemente incuas como cincia, artes e

    educao, como perdemos facilmente nosso senso de

    valores e tornamo-nos vtimas das sedues de Satans!

    Contudo, a sentena de julgamento de Nosso Senhor

    indica claramente que tudo o que faz parte do "mundo est em desacordo com o propsito de Deus. Suas palavras,

    "agora o julgamento deste mundo", indicam de modo

    claro a condenao de tudo o que constitui o kosmos, e no

    teriam jamais sido pronunciadas, se no houvesse algo

    radicalmente errado com ele. Mais adiante, quando Jesus

    continua, "agora o prncipe deste mundo ser expulso", Ele

    no est simplesmente enfatizando a relao ntima entre

    Satans e a ordem mundial, mas o fato de que a sua

    condenao est relacionada com a dele. Reconhecemos

    que Satans hoje o prncipe da educao, cincia, cultura

    e artes, e que estas, como ele, esto condenadas?

    Reconhecemos que ele o verdadeiro mestre de todas

    aquelas coisas que, juntas; formam o sistema mundial?

    Quando se menciona um salo de baile ou um clube

    noturno, nossa reao como cristos de desaprovao

    2

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    13

    instintiva. Para ns isso o "mundo por excelncia. Quando, contudo, indo ao outro extremo, se cincia mdica

    ou servio social estiverem sendo discutidos, tal reao

    pode ser completamente inexistente. Estas coisas merecem

    nossa aprovao tcita, e talvez nosso apoio entusiasta. E

    entre estes extremos, h uma multido de outras coisas,

    variando grandemente em sua influncia para o bem ou o

    mal, entre as quais provavelmente nenhum de ns

    concordaria quanto ao lugar exato onde traar uma linha

    divisria. Porm encaremos o fato de que foi pronunciado

    julgamento por Deus, no sobre certas coisas escolhidas

    que pertencem a este mundo, mas imparcialmente sobre

    todas elas.

    Faa um teste com voc mesmo. Se por acaso se

    aventurar em uma das reas aprovadas, e ento algum lhe

    disser: ''Voc entrou em contato com o mundo", ficaria

    impressionado? Nem um pouco, provavelmente. Seria

    preciso que algum a quem voc realmente respeita lhe

    dissesse muito direta e sinceramente: "Irmo, voc ficou

    envolvido com Satans aqui!" para que voc ao menos

    hesitasse. No assim mesmo? Como voc se sentiria se

    algum lhe dissesse: "Voc entrou em contato com a

    educao" ou "voc entrou em contato com a cincia

    mdica ou "voc entrou em contato com o comrcio"?

    Reagiria com a mesma cautela que teria se ele tivesse dito:

    "voc entrou em contato com o diabo?" Se realmente

    acreditssemos que, sempre que entramos em contato com

    qualquer dessas coisas que constituem o mundo, ns

    entramos em contato com o prncipe deste mundo, ento a

    terrvel gravidade de estar envolvido, seja como for, com as

    coisas mundanas, no deixaria de atingir-nos. "O mundo

    todo jaz no maligno" no uma parte dele, mas o todo. No pensemos sequer por um momento que Satans ope-

    se a Deus somente atravs do pecado e carnalidade nos

    coraes dos homens; ele faz oposio a Deus atravs de

    cada coisa mundana. Sim, concordo com voc quanto ao

    fato de que as coisas do mundo so todas em certo sentido

    materiais, sem vida, intrinsecamente sem poder para

    prejudicar-nos; contudo, at mesmo isso deveria sugerir

  • 14

    14

    por si prprio que elas so resistentes ao propsito de Deus,

    como na realidade tudo em que no haja o toque da vida

    divina.

    A frase repetida "segundo a sua espcie" em Gnesis

    1, representa uma lei de reproduo que governa todo o

    reino da natureza biolgica. No governa, contudo, o reino

    do Esprito. Pois gerao aps gerao, pais humanos

    podem gerar filhos segundo a sua espcie; porm uma

    coisa certa: cristos no podem gerar cristos! Nem

    mesmo quando ambos os pais so cristos os filhos sero

    automaticamente cristos, nem mesmo na primeira gera-

    o. Ser necessrio um novo ato de Deus a cada vez.

    E este princpio aplica-se, com no menos veracida-

    de, aos negcios humanos em maior escala. Tudo o que

    pertence natureza humana continua espontaneamente;

    tudo o que pertence a Deus continua somente enquanto a

    operao de Deus continua. E o mundo inclui tudo o que

    pode continuar independente de atividade divina, isto , que

    pode prosseguir por conta prpria, sem necessidade de atos

    especficos de Deus para manter seu vigor. O mundo, e

    tudo o que lhe pertence, faz isso naturalmente a sua natureza e agindo assim move-se em direo contrria vontade de Deus. Procuraremos agora ilustrar essa

    afirmao, pelas Escrituras e pela experincia crist.

    Tomemos primeiramente o campo da cincia poltica.

    A histria de Israel no Velho Testamento fornece-nos o

    exemplo de uma nao altamente privilegiada, e de seu

    governo. Ficamos sabendo que o povo de Israel desejava

    manter relacionamento com as naes ao seu redor, e,

    portanto desejava um rei. Por ora deixaremos de lado a sua

    escolha de Saul, adiantando-nos at o ponto em que

    finalmente, no tempo escolhido por Ele, Deus deu-lhes o rei

    que elegera, que estabeleceria o reino sob a Sua prpria

    direo.

    Ora, mesmo sendo isso claramente obra de Deus, o

    curso natural do reino provou ser, "como as naes", di-

    rigido para longe Dele. Pois um reino algo mundano, e

    estando de acordo com todas as coisas mundanas, tende a

    colidir com o propsito divino. Em qualquer parte do mundo

  • 15

    15

    em que o governo de uma nao seja deixado ao seu

    prprio destino, ele segue seu curso natural, que mais e

    mais afastado de Deus. E o que verdadeiro para polticas

    nacionais seculares, provou ser igualmente verdadeiro

    mesmo na divinamente escolhida, Israel. Sempre que Deus

    cessou Seus atos especficos a favor deles, o reino de Israel

    derivou para alianas polticas idlatras. Houve

    recuperaes, verdade, mas cada uma delas foi marcada

    por uma definida interveno divina, e sem tal interveno

    o curso era sempre descendente.

    Pouco nos surpreender que o mesmo seja verdade

    em relao ao comrcio. No posso imaginar outra rea

    onde a tentao para transaes desonestas e corruptas

    seja to grande como nesta. Todos sabemos algo sobre isto.

    Todos sabemos como difcil permanecer direito e conduzir

    os negcios honestamente no mundo competitivo do

    comrcio. Muitos diriam que impossvel, e para faz-lo

    necessrio uma vida entregue a Deus de modo especial.

    Recordamo-nos que nosso Senhor Jesus conta-nos

    sobre dois homens diferentes, um que ganhou o mundo

    todo e perdeu a sua vida, e outro, um mercador, que ven-

    deu tudo o que tinha para comprar uma prola de

    inestimvel valor. Jesus comparou o reino dos cus com

    este ltimo (Mt. 16:26; 13:45, 46). No raro o Esprito de

    Deus tem movido homens de negcios para aes seme-

    lhantes. Tm havido no poucas firmas comerciais bem

    conhecidas cujos lucros foram dirigidos para finalidades

    divinas na pregao do evangelho e em outros modos.

    Imagino um empreendimento assim, que no incio de

    sua histria, foi criao de um homem de negcios temente

    a Deus. Ora, temor religioso uma qualidade que s pode

    existir quando sustida dos cus, porm a sagacidade

    comercial e eficiente organizao que ela cria podem

    perpetuar-se sozinhas. Na primeira gerao da histria

    dessa firma, vemos a vida divina sendo mediada atravs de

    seu fundador, o suficiente para manter o que mesmo ento

    era uma preocupao mundana, seguramente sob a

    autoridade de Deus. Mas na segunda gerao, aquele

    impedimento foi-se, e, como era de se esperar, o negcio

  • 16

    16

    gravitou automaticamente para o sistema mundial. O temor

    religioso esgotara-se, porm a firma em si ainda est

    prosperando.

    Vamos supor agora que se tome um assunto

    aparentemente to inocente quanto agricultura. Aqui o

    livro de Gnesis, escrito em um mundo primitivo de

    rebanhos e agricultura, tem algo a dizer-nos. Aps a queda

    de Ado, Deus foi forado a dizer-lhe: "Maldita a terra por

    tua causa; em fadigas obters dela o sustento durante os

    dias de tua vida. Ela produzir tambm cardos e abrolhos, e

    tu comers erva do campo. No suor de teu rosto comers o

    teu po, at que tornes a terra, pois dela foste formado".

    Ningum iria sugerir que no den, onde florescia a rvore

    da vida, a lavoura ou a jardinagem estivessem erradas.

    Eram ordenanas de Deus. Porm assim que saram das

    mos de Deus, deterioraram-se. O homem foi condenado a

    um crculo interminvel de trabalho penoso e decepo, e

    um elemento de perversidade marcava o fruto do seu labor.

    A libertao de No foi o grande movimento de recuperao

    de Deus, no qual foi dado a terra um novo princpio. Mas

    como foi rpida, como foi trgica, a volta do homem ao tipo

    primitivo. "Sendo No lavrador, passou a plantar uma

    vinha. Bebendo do vinho, embriagou-se, e se ps nu dentro

    de sua tenda". claro que a agricultura no pecaminosa

    em si mesma, mas j aqui a sua direo contrria a Deus.

    Deixe a seguir sua tendncia natural e ela conseguir tomar

    um rumo diametralmente oposto a Ele. Temos ns algo

    disso hoje em dia, em desastres fsicos tal como a

    esterilizao de continentes?

    Como diferente a Igreja, a lavoura de Deus! Pela

    graa de Deus e a habitao do Esprito Santo, ela possui

    um poder inerente de vida que, se for correspondido,

    capaz de conserv-la constantemente movendo-se para

    Deus, ou ento cham-la de volta a Ele, no caso de se

    desviar.

    Quando nos voltamos para a educao, tanto a Bblia

    como a experincia tem algo a dizer-nos. Alegoricamente

    falando, poderamos dizer que rejeitando Saul e escolhendo

    Davi, Deus estava passando por cima de um homem que se

  • 17

    17

    distinguia por sua cabea (pois ele excedia nessa medida a

    altura de seus nobres), a favor do homem que era segundo

    o Seu corao! Mas, seriamente falando, homens tais como

    Jos, Moiss e Daniel, de cuja sabedoria Deus fez uso

    publicamente, receberam cada qual, diretamente do prprio

    Deus, o entendimento de que necessitavam. Eles tiveram

    em pouca conta a educao secular que haviam recebido. E

    o apstolo Paulo colocou claramente o conhecimento entre

    "todas as coisas" que considerava como perda pela

    excelncia do conhecimento de seu Senhor Jesus Cristo (Fil.

    3:8). Ele traa uma clara distino entre a sabedoria do

    mundo e a sabedoria que vem de Deus (1 Cor. 1 :21, 30).

    Mas a experincia que demonstra o mundanismo

    essencial do conhecimento como tal. Muitos dos histricos

    estabelecimentos universitrios do ocidente, foram

    fundados por homens cristos que desejavam proporcionar

    a seus semelhantes uma boa educao, sob influncia

    crist. Durante a vida de seus fundadores, o carter

    daquelas fundaes era elevado, porque esses homens co-

    locaram contedo espiritual real nelas. Quando, porm, os

    homens se foram, o controle espiritual foi-se tambm, e a

    educao seguiu seu curso inevitvel em direo ao mundo

    do materialismo e para longe de Deus. Em alguns casos

    pode ter levado um longo tempo, pois a tradio religiosa

    difcil de desaparecer; mas a tendncia sempre foi bvia, e

    em muitos casos o destino s agora foi alcanado. Quando

    as coisas materiais esto sob controle espiritual, elas

    cumprem seu devido papel secundrio. Libertas da restrio

    manifestam muito rapidamente o poder que est por trs

    delas. A lei de sua natureza declara-se, e seu carter

    mundano comprovado pelo curso que seguem.

    A difuso de empreendimentos milionrios na nossa

    era atual d-nos uma oportunidade de testar esse princpio

    nas instituies religiosas de nossos dias e de nossa ptria.

    Mais do que um sculo atrs, a Igreja determinou estabe-

    lecer na China escolas e hospitais com um carter espiritual

    definido e um objetivo evangelstico. Naqueles primeiros

    dias, no foi dada muita importncia s construes, ao

    passo que nfase considervel foi dada ao papel das

  • 18

    18

    instituies na proclamao do Evangelho. Dez ou quinze

    anos mais tarde podia-se passar pelos mesmos lugares e

    em muitos deles encontrar instituies muito maiores e

    mais bonitas no lugar das originais, mas em comparao

    com os primeiros anos, um nmero muito menor de

    convertidos. E hoje em dia, muitas daquelas esplndidas

    escolas e universidades transformaram-se em centros

    puramente educacionais, carentes de qualquer motivao

    realmente evangelstica, enquanto que em quase idntica

    extenso, muitos dos hospitais existem agora unicamente

    como lugares de mera cura fsica, e no mais de cura

    espiritual. Os homens que lhes deram incio haviam, por

    caminharem prximos a Deus, mantido aquelas instituies

    firmemente dentro de Seu propsito; mas quando eles

    morreram, as instituies rapidamente gravitaram em

    direo aos objetivos e padres mundanos, e assim

    fazendo, classificaram-se como "coisas do mundo". No

    deveramos ficar surpresos por assim suceder.

    Nos primeiros captulos de Atos, lemos como o ines-

    perado surgiu, levando a Igreja a instituir assistncia aos

    santos mais pobres. Aquela instituio urgente de servio

    social foi claramente abenoada por Deus, porm era de

    natureza temporria. Voc exclama: "Como seria bom se

    tivesse continuado!" Somente algum que no conhece a

    Deus diria isso. Se aquelas medidas de assistncia tivessem

    sido prolongadas indefinidamente, teriam certamente

    tomado a direo do mundo, assim que a influncia

    espiritual que operava inicialmente fosse removida.

    inevitvel.

    Existe uma diferena entre a Igreja construda por

    Deus, por um lado, e pelo outro, aqueles valiosos sub-

    produtos sociais e de caridade que so lanados por ela de

    quando em quando, atravs da f e viso dos seus

    membros. Estes ltimos, por se originarem em viso espi-

    ritual, possuem em si mesmos um poder de sobrevivncia

    independente, que a Igreja de Deus no tem. So as obras

    que a f dos filhos de Deus pode iniciar e conduzir, mas

    que, uma vez mostrado o caminho e estabelecido o padro

  • 19

    19

    profissional, podem ser facilmente sustentadas ou imitadas

    por homens do mundo totalmente separados dessa f.

    A Igreja de Deus repito, no deixa jamais de ser de-

    pendente da vida de Deus para sua manuteno. Imagine

    uma igreja viva em uma cidade de hoje, com sua comuni-

    dade, orao e testemunho do evangelho, seus muitos lares

    e centros de atividade espiritual. Alguns anos depois, o que

    encontramos? Se o povo de Deus O seguiu em f e

    obedincia, pode ser um lugar mais cheio do que nunca com

    a vida e luz do Senhor e com o poder de Sua palavra; mas

    se, sendo infiis a Ele esqueceram sua viso de Cristo, pode

    igualmente ter-se transformado em um lugar onde se prega

    o atesmo. Ter ento cessado de existir como uma igreja.

    Pois a Igreja depende para sua prpria existncia de uma

    incessante concesso da nova vida de Deus, e no pode

    sobreviver um dia sequer sem ela.

    Mas suponha que ao lado da Igreja h uma escola,

    hospital, editora, ou qualquer outra instituio fundada com

    base religiosa, originando-se na f dos mesmos membros

    da Igreja. Na hiptese de que a necessidade de seus

    servios ainda continue a existir dez anos depois e no

    tenha sido preenchida por alguma empresa privada ou

    governamental, ento provvel que aquela obra ainda

    estar operando ento, em um padro de servios no

    menos eficiente e recomendvel. Pois se for fornecida ex-

    perincia administrativa regular, um colgio ou hospital

    pode continuar eficientemente em um nvel puramente

    institucional, sem nenhum novo fluxo de vida divina. A viso

    pode ter desaparecido, porm o estabelecimento prossegue

    indefinidamente. Tornou-se no menos mundano do que

    tudo o mais que pode ser mantido independente da vida de

    Deus. E cada uma dessas coisas est inclusa na sentena do

    Senhor: "Agora o julgamento deste mundo".

    Vamos imaginar que eu lhe faa esta pergunta: "Que

    tipo de trabalho voc faz?" Voc responde: "Sou mdico".

    Voc o diz sem qualquer outro sentimento especial, a no

    ser o orgulho quanto natureza compassiva de sua misso,

    e sem qualquer percepo do possvel perigo de sua

    situao. Mas, e se eu lhe disser que a cincia mdica

  • 20

    20

    mais uma das unidades de um sistema que controlado por

    Satans? Admitindo-se que, como cristo, voc me leve a

    srio, ento ficar imediatamente alarmado e poder at

    mesmo pensar se no seria melhor abandonar sua

    profisso. No, no deixe de ser mdico. Mas caminhe

    cuidadosamente, pois voc est sobre territrio que

    governado pelo inimigo de Deus, e, a no ser que esteja

    vigilante, voc to passvel de cair presa de seus arte-

    fcios, como qualquer outra pessoa.

    Ou, suponha que voc seja engenheiro, fazendeiro

    ou editor. Tome cuidado, pois estas tambm so coisas do

    mundo, tanto quanto dirigir um lugar de diverses ou um

    antro de vcios. A no ser que caminhe cuidadosamente,

    voc ser apanhado em alguma das armadilhas de Satans,

    perdendo a liberdade que lhe pertence como filho de Deus.

    Ento como, pergunta voc, seremos libertos de seus

    envolvimentos? Muitos pensam que escapar ao mundo

    uma questo de consagrao, de dedicar-se novamente e

    com maior sinceridade s coisas de Deus. No, uma

    questo de salvao. Por natureza estamos todos enredados

    naquele sistema satnico, e no temos meios de sair, a no

    ser pela misericrdia de Deus. Toda nossa consagrao

    impotente para livrar-nos; dependemos somente de Sua

    compaixo e Sua obra redentora para tirar-nos para fora

    dele. Ele totalmente capaz para faz-lo, e os meios pelos

    quais o faz, sero o tema do nosso prximo captulo.

    Deus pode colocar-nos sobre uma rocha, e guardar

    nossos ps de escorregarem. Auxiliados por Ele, podemos

    dedicar nosso comrcio ou profisso ao servio de Sua

    vontade, por tanto tempo quanto Ele o deseje. Mas repito

    novamente que o curso natural de todas as "coisas que

    esto no mundo dirige-se a Satans e para longe de Deus. Algumas delas podem ter sido iniciadas por homens pelo

    Esprito com uma finalidade que divina, porm assim que

    a restrio da vida divina removida, automaticamente do

    meia volta e tomam a outra direo. No admira ento que

    os olhos de Satans estejam sempre no final do mundo, e

    na perspectiva de que naquela ocasio todas as coisas do

    mundo voltar-se-o para ele. Mesmo agora, e todo o tempo,

  • 21

    21

    esto se movendo em sua direo, e no tempo final pode-se

    esperar que tenham alcanado seu objetivo. Quando

    entramos em contato com qualquer das unidades desse

    sistema, esse pensamento deveria fazer-nos raciocinar, a

    fim de que no sejamos encontrados inadvertidamente

    ajudando-o na construo do seu reino.

  • 22

    22

    CAPTULO

    UM MUNDO SOB A GUA

    "E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o

    evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, ser

    salvo; quem, porm, no crer ser condenado." (Marcos

    16:15,16).

    Para muitos de ns, a ordem da segunda sentena

    uma surpresa. Jesus no disse que aquele que cr e salvo

    ser batizado. No, ele colocou o fato de outro modo.

    Aquele que cr e batizado, disse Ele, ser salvo. apenas

    para nosso risco que mudamos algo que o Senhor disse em

    algo que Ele no disse. Tudo o que Ele diz importante, e

    Ele realmente fala srio cada palavra. Mas se assim, ento

    deve ser um fato que somente atravs da f Nele e sendo

    batizados somos salvos. Alguns ficaro perplexos diante

    disso. "O que voc quer dizer?" protestaro. Mas no se

    espantem; e no me culpem! Eu no disse isso; meu

    Senhor o disse. Foi Ele quem estabeleceu a ordem: f,

    ento batismo, ento salvao. No devemos inverter para

    f, salvao, batismo, no importando o quanto desejemos

    que assim fosse. O que o Senhor disse deve permanecer,

    cabendo-nos apenas obedecer.

    No apresento desculpas por tomar as palavras de

    Marcos 16:16 como palavras autnticas de Jesus, embora

    esteja ciente de que h crticos que as questionam. Certa

    vez, em uma vila campestre, encontrei um alfaiate chamado

    Chen. Ele encontrara um evangelho de Marcos, e quando

    chegou a esta passagem que os crticos afirmam que no

    pertence de modo nenhum quele evangelho, ele creu e

    confiou no Senhor. No havia outros cristos no lugar, e,

    portanto ningum para batiz-lo. O que iria fazer? Ento ele

    leu o versculo 20. O prprio Deus confirmaria Sua palavra a

    ele: aquilo foi suficiente. Assim, em sua simplicidade, ele

    decidiu testar uma das promessas do versculo 18. Agindo

    3

  • 23

    23

    de acordo, visitou diversos vizinhos que estavam enfermos.

    Aps orar, impor as mos sobre eles em nome de Jesus,

    voltou para casa.

    No devido tempo e sem excees, contou-me ele, os

    seus vizinhos sararam. Aquilo o satisfez. Com a sua f

    confirmada, ele continuou calmamente com sua alfaiataria,

    onde, quando o encontrei, estava fielmente testemunhando

    para seu Senhor. Se ele tomar a Palavra de Deus

    seriamente, porque no deveria eu faz-lo?

    Assim sendo, repito, "Quem crer e for batizado, ser

    salvo". Acaso quer dizer, voc exclamar, que acredita na

    regenerao batismal? No, na verdade no creio! O Senhor

    no disse: "Creia, e seja batizado, e voc nascer de novo";

    e uma vez que Ele no o disse, no tenho nenhuma

    necessidade de crer nisso. Suas palavras so: "Quem crer e

    for batizado ser salvo". Portanto o que eu acredito na

    salvao batismal.

    Assim surge naturalmente a pergunta: o que

    significa essa afirmativa? E o que ela significa quando Lucas

    conta-nos que, em resposta exortao de Pedro para "sal-

    var a si prprio dessa gerao m", ento aqueles que

    recebem sua palavra foram batizados.

    Para responder a isso devemos perguntar-nos pri-

    meiro o que queremos dizer com a palavra "salvos". Receio

    que tenhamos uma idia muita errada de salvao. Tudo o

    que muitos de ns sabemos sobre salvao que seremos

    salvos do inferno e iremos para o cu; ou de outro modo,

    que somos salvos de nossos pecados para viver da em

    diante uma vida santa. Mas estamos errados. Nas Es-

    crituras, descobrimos que a salvao vai alm disso. Pois

    no est to relacionada com o pecado e o inferno, ou

    santidade e paraso, mas com algo mais.

    Sabemos que cada dom perfeito que Deus nos ofere-

    ce, dado para refutar e contrariar um mal contrastante.

    Ele nos d justificao, porque existe condenao. Oferece-

    nos vida eterna, porque h a morte. Oferece-nos perdo,

    porque existem pecados. Traz-nos salvao por que? Justificao relaciona-se condenao, o cu ao inferno, o

    perdo aos pecados. Ento com o que se relaciona a

  • 24

    24

    salvao? Salvao, veremos, est relacionada ao kosmos,

    o mundo.

    Satans o inimigo pessoal de Cristo. Ele opera

    atravs da carne do homem para produzir seu padro de

    coisas sobre a terra, com a qual todos ficamos envolvidos,

    nenhum de ns est isento. E todo este padro csmico

    est particularmente em disputa com Deus o Pai. Creio que

    todos sabemos como as trs foras negras, o mundo, a

    carne e o diabo esto em oposio s trs pessoas da

    divindade. A carne est alinhada contra o Esprito Santo

    como Paracleto, o prprio Satans contra o Senhor Jesus

    Cristo, e o mundo contra o Pai como Criador.

    Aquilo que estamos tratando aqui como sendo o

    kosmos sempre se ope a Deus como Pai e Criador. Foi a

    esse plano eterno da criao que as palavras "era muito

    bom" se referiam, Ele jamais cessou de trabalhar com

    relao a esse plano. Antes da fundao do mundo Ele

    propusera em Seu corao ter sobre a terra uma ordem da

    qual a raa humana seria a expresso mxima, e que

    mostraria livremente o carter de Seu Filho. Porm Satans

    interveio. Usando esta terra como seu trampolim e o

    homem como seu instrumento, ele usurpou a criao de

    Deus, fazendo-a, ao contrrio, algo centralizado em si

    mesmo e refletindo sua prpria imagem. Assim este sistema

    aliengena de coisas foi um desafio direto ao plano divino.

    Dessa forma, somos atualmente confrontados por

    dois mundos, duas esferas de autoridade, tendo dois

    carteres totalmente diferentes e opostos. Para mim o pre-

    sente no simplesmente uma questo de um cu ou in-

    ferno futuros; uma questo destes dois mundos atuais, e

    se eu perteno a uma ordem de coisas da qual Cristo

    soberano Senhor, ou a uma ordem oposta tendo Satans

    como seu verdadeiro dirigente.

    Assim, salvao no tanto uma questo pessoal de

    pecados perdoados ou inferno evitado. Precisa ser encarada

    mais em termos de um sistema do qual samos. Quando sou

    salvo, fao meu xodo de um mundo inteiro e minha

    entrada em um outro. Sou salvo agora de todo aquele

  • 25

    25

    imprio organizado que Satans construiu em desafio ao

    propsito de Deus.

    Esse reino, o kosmos que tudo abrange, tem muitas

    entranhas. Naturalmente o pecado tem seu lugar prioritrio

    ali, e as concupiscncias mundanas; nossos mais estimados

    padres humanos e meios de fazer as coisas fazem parte

    dele da mesma maneira. A mente humana, sua cultura e

    suas filosofias esto todas includas, juntamente com o

    melhor das ideologias sociais e polticas da humanidade. Ao

    lado dela deveramos sem dvida colocar as religies do

    mundo, e entre elas aqueles pssaros manchados, o

    cristianismo mundano e sua "Igreja do mundo". Onde quer

    que o poder do homem natural domine, existe naquele

    sistema um elemento que est sob a inspirao direta de

    Satans.

    Se esse o mundo, o que ento a salvao?

    Salvao significa que fujo dessa situao. Eu saio, realizo

    um escape daquele kosmos que tudo contm. No perteno

    mais ao padro de coisas de Satans. Coloco meu corao

    naquilo em que o corao de Deus est colocado. Tomo

    como meu objetivo Seu propsito eterno em Cristo,

    caminho para ele, e sou liberto deste.

    Aquele que cr e batizado ser salvo. Jesus queria

    dizer simplesmente aquilo que falou. Eu dou o passo da f:

    creio e sou batizado, e saio como um homem salvo. Isso

    salvao. Por isso, jamais consideremos o batismo como de

    pouca importncia. Coisas tremendas esto relacionadas a

    ele. Trata-se de uma questo no inferior de dois mundos

    que se opem violentamente, e de nossa transferncia de

    um para o outro.

    H nas Escrituras outra passagem que coloca o batis-

    mo e a salvao juntos, para ilustrar o tema. Refiro-me ao

    captulo 3 de 1 Pedro. L o apstolo conta-nos como "a

    longanimidade de Deus aguardava nos dias de No,

    enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito

    pessoas, foram salvas, atravs da gua..." (vs. 20). A gua,

    diz ele, uma figura ou semelhana, ou (como dizem as

    notas da Revised Version inglesa) um anttipo de alguma

    outra coisa. "A qual, figurando o batismo, agora tambm

  • 26

    26

    vos salva". Assim o batismo, raciocina ele, salva-nos agora.

    Est claro que Pedro acreditava em nossa salvao atravs

    do batismo to firmemente como acreditava na salvao de

    No atravs da gua. Por favor, lembre-se de que no estou

    falando de regenerao, e nem estou dizendo libertao do

    inferno ou do pecado. Entenda-se claramente que aqui

    estamos falando sobre salvao. No apenas uma questo

    de termos; diz respeito a sermos fundamentalmente

    separados do sistema mundial atual.

    Para compreendermos melhor o que Pedro quer di-

    zer, deveremos retornar sua fonte nos captulos 6 a 8 de

    Gnesis. O quadro ilustrativo. Ali encontramos nos dias de

    No um mundo totalmente corrupto. Criada primeiramente

    por Deus, a terra tornara-se corrupta pelo ato do homem,

    naquele dia em que este se colocou sob Satans. O pecado,

    uma vez introduzido, desenvolveu-se e chegou ao excesso,

    at que o prprio Esprito Santo de Deus gritou "Basta!" As

    coisas haviam chegado a um ponto em que no podiam

    mais ser remediadas; s podiam ser julgadas e removidas.

    Assim Deus ordenou a No que construsse uma ar-

    ca, e trouxesse sua famlia e as criaturas para dentro dela,

    e ento veio o dilvio. Por ele foram "levantados acima da

    terra" sobre guas que cobriam "todos os altos montes que

    havia debaixo do cu". Todas as coisas vivas, tanto homens

    como animais, pereceram e somente aqueles que flutuaram

    por sobre as guas foram salvos. O importante aqui no

    apenas que eles escaparam morte por afogamento. Isso

    no o essencial. O essencial para ns que eles foram as

    nicas pessoas a sarem daquele sistema corrupto de

    coisas, aquele mundo sob a gua. Vida pessoal a

    conseqncia inevitvel de sair, e a perdio pessoal a de

    ficar, porm salvao a sada em si, no o efeito dela.

    Preste ateno a esta diferena, pois grande. Salvao

    essencialmente a sada agora de uma ordem condenada que

    pertence a Satans.

    Louvado seja Deus, eles saram! Como? Atravs das

    guas. Assim hoje em dia quando os crentes so batizados,

    passam simbolicamente atravs da gua, do mesmo modo

    pelo qual No passou dentro da arca pelas guas do dilvio.

  • 27

    27

    E esta passagem pelas guas significa sua fuga do mundo,

    sua sada do sistema de coisas que, como seu prncipe, est

    sob a sentena divina. Posso dizer isto especialmente

    queles que esto sendo batizados hoje. Por favor, lembre-

    se, voc no o nico que est na gua. Quando voc

    caminha para a gua, um mundo inteiro desce com voc.

    Quando sai das guas, voc sai em Cristo, na arca que

    flutua sobre as ondas, porm o seu mundo fica para trs.

    Para voc, aquele mundo est submerso, afogado como o

    de No, morto na morte de Cristo e para no mais ser

    ressuscitado. pelo batismo que voc o declara. "Senhor,

    deixo para trs o meu mundo. Tua cruz separa-me dele

    para sempre!"

    Falando de forma figurada, portanto, quando voc

    passa atravs das guas do batismo, tudo o que pertencia

    antiga ordem cortado para nunca mais voltar, por aquelas

    guas. S voc emerge. Para voc uma passagem para

    um outro mundo, onde encontrar um pombo e as folhas

    verdes das oliveiras. Voc sai do mundo que est sob

    julgamento, para um mundo que marcado pela novidade

    da Vida Divina.

    Quero novamente enfatizar que voc no foi o nico

    que desceu para as guas; seu mundo desceu com voc, e

    ficou l. Do ponto de vista de sua nova situao, voc

    descobrir que a gua sempre cobre o mundo ao qual

    pertenceu antes. O mesmo dilvio que salvou No e sua

    famlia afogou o mundo em que tinham vivido o mesmo

    dilvio. Dessa forma, a mesma gua por um lado coloca

    voc e eu na terra da salvao em Cristo, e pelo outro

    sepulta todo o sistema de coisas de Satans. No s sua

    prpria histria como filho de Ado termina no batismo; o

    seu mundo tambm termina ali. Em ambos os casos, uma

    morte e sepultamento sem qualquer ressurreio. o fim

    de tudo.

    Isto significa que voc no pode carregar nada da-

    quele antigo mundo para o novo. O que pertencia quele

    reino anterior em Ado fica l, e que jamais seja recordado.

    Pode ser que anteriormente voc era empregado em uma

    loja, ou um criado em uma residncia. Ou talvez voc fosse

  • 28

    28

    o dono, gerente ou diretor de um negcio. Hoje, voc pode

    continuar sendo o dono ou um criado, mas descobrir que

    quando se trata de coisas divinas, quando se trata da Igreja

    e do servio de Deus, no h escravo nem livre, nem

    empregador ou empregado. Voc pode ser um judeu ou um

    gentio, ou uma centena de coisas que eram bem conside-

    radas ou mal consideradas em Ado. Quando voc passa atravs dessa gua, todo aquele sistema de coisas

    desaparece, para no mais retornar. Ao invs delas, voc v

    a si prprio em Cristo, onde no h nem judeu nem grego,

    brbaro ou cita nem qualquer outra coisa, mas um novo

    homem. Voc entrou para uma ordem de coisas

    caracterizada por oliveiras e folhas de oliveiras, cujo

    segredo a vida divina. A expresso "por meio da

    ressurreio de Jesus Cristo" d colorido a todo futuro (1

    Pe. 3:21). Significa que voc passou para algo

    completamente novo que Deus est criando. De acordo com

    os comentaristas (Robert Young, Concordncia Analtica da

    Bblia Sagrada), o prprio nome Ararate significa "Terra

    Santa. Seja como for, louvamos a Deus porque a arca que descansou sobre aquela terra renovada estava cheia de

    criaturas, tipificando uma nova criao. Da morte de Cristo,

    Deus traz existncia uma criao inteiramente nova, e em

    unio com Cristo ressuscitado Ele est introduzindo o

    homem nela. Em Cristo, voc e eu estamos l!

    Agora voc me pergunta se importa no sermos ba-

    tizados. Minha nica resposta que o prprio Senhor o

    ordenou (Mt. 28:19). E foi um passo do qual Ele prprio

    recusou-se a ser dissuadido (Mt. 3:13-15). Pedro descreve

    o batismo como a indagao, ou testemunho, de uma boa

    conscincia a Deus (vs 21). Um testemunho uma

    declarao. Assim, por esse ato voc diz algo, voc declara

    onde est, talvez sem usar palavras, mas certamente pelo

    que faz. Passando pela gua, voc proclama a todo o

    universo que deixou para trs o seu mundo e entrou em

    algo absolutamente novo. Isso salvao. Voc assume

    uma posio pblica quanto ao lugar no qual Deus o colocou

    em Cristo.

  • 29

    29

    Isto ajuda a explicar porque nas Escrituras encontra-

    mos passagens relativas salvao que so difceis de in-

    terpretar, se relacionamos a salvao somente ao inferno ou

    pecado. Ilumina, por exemplo, as palavras aparentemente

    difceis de Paulo e Silas ao carcereiro de Filipos. O homem

    perguntou: "Que devo fazer para ser salvo?" Qual seria a

    sua resposta? Se voc um perfeito pregador evanglico

    dos nossos dias, diria com certeza: "Cr no Senhor Jesus

    Cristo, e sers salvo". Mas Paulo de fato acrescentou: "tu e

    tua casa". Posso ouvir voc exclamar, quer realmente dizer

    que se eu creio no Senhor Jesus Cristo, seremos salvos eu e

    minha famlia? Agora precisamos novamente ser

    cuidadosos: Paulo no disse: "Cr no Senhor Jesus Cristo e

    tu e tua casa tero vida eterna". Ele disse, "Cr no Senhor

    Jesus Cristo, e sers salvo, tu e tua casa". Lembre-se, ele

    est preocupado com um sistema de coisas, com o repdio

    e a sada do carcereiro daquele sistema. Quando, como

    chefe de famlia, aquele homem declara que daquele dia em

    diante ele e sua casa serviro ao Senhor, e quando essa

    declarao torna-se conhecida publicamente, at mesmo os

    que passam pela rua apontaro para a porta e diro: "Eles

    so cristos. Isso o que significa ser salvo. Declarar que perten-

    ce a outro sistema de coisas. As pessoas apontam-nos e

    dizem: "Oh! sim, aquela uma famlia crist; eles perten-

    cem ao Senhor!" Essa a salvao que o Senhor quer para

    voc, que por seu testemunho pblico voc declare diante

    de Deus, "meu mundo se acabou; estou entrando em

    outro. Possa o Senhor conceder-nos esse tipo de salvao, para encontrar-nos totalmente desarraigados da velha e

    coordenada ordem de coisas e firmemente plantados na

    nova e divina ordem.

    Pois, louvado seja Deus, h um lado positivo glorioso

    em tudo isto. Somos salvos "por meio da ressurreio de

    Jesus Cristo, o qual, Pedro continua, "depois de ir para o cu, est destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos,

    e potestades, e poderes" (vs. 22). Deus colocou Seu Filho

    como superior a todas essas coisas, e fez de todas

    autoridades sditos Seus. Um Deus que capaz de fazer

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    30

    isso muito capaz para trazer-me, corpo e alma, para esse

    outro reino.

    Assim, para recapitularmos, temos aqui dois mun-

    dos. Por um lado, h o mundo de Ado, mantido firme-

    mente em escravido a Satans; por outro lado, h a nova

    criao em Cristo, a esfera de atividade do Santo Esprito de

    Deus. Como voc e eu samos de uma esfera, Ado, para a

    outra, Cristo? Se voc no tiver certeza de como responder

    a essa pergunta, posso fazer-lhe outra? Como voc entrou

    em Ado, em primeiro lugar? Pois o caminho da entrada

    indica o da sada. Voc entrou para a esfera de Ado

    nascendo na raa de Ado. Como voc sai? Obviamente,

    pela morte. E como, da mesma forma, voc entra na esfera

    de Cristo? A resposta a mesma: pelo nascimento. O modo

    de entrar para a famlia de Deus pelo novo nascimento

    para uma esperana viva, atravs da ressurreio de Jesus

    Cristo (1 Pe. 1:3). Tendo ficado unido a Ele pela semelhana

    de Sua morte, voc tambm est unido a Ele pela

    semelhana de Sua ressurreio (Rom. 6:5). A morte coloca

    um fim ao seu relacionamento com o velho mundo, e a

    ressurreio o coloca em contato vivo com o novo.

    Finalmente, o que ocupa a brecha? Qual a pedra de

    ligao entre esses dois mundos? No o sepultamento?

    "Fomos, pois sepultados com Ele na morte pelo batismo"

    (Rom. 6:4). Por um lado, h uma inflexvel determinao

    quanto s palavras "sepultados na morte". Minha histria

    em Ado j foi concluda na morte de Cristo, de forma que

    quando saio daquele sepultamento posso dizer que sou um

    homem "acabado. Mas posso dizer mais, pois, louvado seja Deus, no menos verdade que h o outro aspecto. Desde

    que "Cristo foi ressuscitado dentre os mortos", quando saio

    da gua e vou embora, posso caminhar em novidade de

    vida" (6:4).

    Esse duplo efeito da cruz est implcito tambm nas

    palavras precedentes de Rom. 6:3: "Ou porventura, ignorais

    que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos

    batizados na Sua morte?" Aqui, em uma s frase, os dois

    aspectos do batismo so novamente aludidos. batismo em

    duas coisas. Primeiro, ns que cremos fomos "batizados na

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    sua morte". Este um fato tremendo, porm tudo? De

    modo nenhum, pois em segundo lugar o mesmo versculo

    diz que ns fomos "batizados em Cristo Jesus. Um batismo na morte de Cristo acaba com minha relao com este

    mundo, mas um batismo em Cristo Jesus como uma Pessoa

    viva, Cabea de uma nova raa, abre para mim todo um

    novo mundo de coisas. Indo para as guas, eu

    simplesmente estabeleo as coisas, afirmando publicamente

    que o "julgamento deste mundo" tornou-se real para mim,

    desde o dia em que o Filho do Homem "levantado" atraiu-

    me para Si.

    Que evangelho para pregar a toda criao!

  • 32

    32

    CAPTULO

    CRUCIFICADO EM MIM

    Separao para Deus, separao do mundo, o

    primeiro princpio do viver cristo. Na revelao de Cristo

    feita a Joo, foram mostrados dois extremos irre-

    conciliveis, dois mundos que moralmente eram plos

    opostos. Ele foi primeiro transportado no Esprito para um

    deserto, para ver Babilnia, me das meretrizes e

    abominaes da terra (Ap. 17:3). Foi ento levado no

    mesmo Esprito para uma grande e alta montanha, para dali

    contemplar Jerusalm, a noiva, a esposa do Cordeiro (Ap.

    21:10). O contraste claro, e dificilmente poderia ser mais

    explicitamente declarado.

    Quer sejamos Moiss ou Balao, para termos a viso

    que Deus tem das coisas, precisamos ser levados como

    Joo para um pico de montanha. Muitos no podem ver o

    plano eterno de Deus, ou se o vem entendem-no apenas

    com rida doutrina, porque se satisfazem em permanecer

    nas plancies. Pois a compreenso jamais pode tocar-nos;

    s a revelao o faz. Do deserto podemos ver algo da

    Babilnia, porm necessitamos de revelao espiritual para

    ver a Nova Jerusalm de Deus. Uma vez que a avistemos,

    jamais seremos os mesmos novamente. Portanto, como

    cristos ns confiamos tudo a essa abertura de olhos, mas

    para experiment-la precisamos estar preparados para

    renunciar aos nveis comuns e subir.

    A meretriz Babilnia sempre "a grande cidade" (Ap.

    16:19, etc.), com nfase em seus feitos de grandeza. A

    Nova Jerusalm , ao contrrio, "a cidade santa" (Ap. 21:2,

    10), com a nfase correspondente em sua separao para

    Deus. Ela "de Deus" e est preparada para "seu esposo".

    Por essa razo, ela tem a glria de Deus. Essa uma

    questo de experincia para todos ns. Santidade em ns

    o que de Deus, o que est totalmente separado para

    Cristo. Segue a regra de que somente o que se originou do

    cu retorna para l; pois nada mais santo. Retire-se esse

    4

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    33

    princpio de santidade, e estamos instantaneamente em

    Babilnia.

    Dessa forma, sucede que a muralha o primeiro

    aspecto da cidade em si que Joo menciona em sua descri-

    o. H portas fazendo proviso para as obras de Deus,

    porm a muralha tem prioridade. Pois, repito, separao o

    primeiro princpio da vida crist. Se Deus quer Sua cidade

    com suas medidas e Sua glria naquele dia, ento

    precisamos construir aquela muralha nos coraes humanos

    agora. Na prtica isto quer dizer que devemos guardar

    como precioso tudo o que de Deus, e recusar e rejeitar

    tudo o que da Babilnia. Com isso, no estou me referindo

    separao entre cristos. No ousamos excluir nossos

    prprios irmos, mesmo quando no podemos participar de

    algumas coisas que eles fazem. No, devemos amar e

    receber nossos irmos cristos, mas sermos em princpio

    inflexveis em nossa separao do mundo.

    Em seus dias, Neemias conseguiu reconstruir a mu-

    ralha de Jerusalm, mas apenas enfrentando grande

    oposio. Pois Satans odeia a separao. Ele no pode su-

    portar a separao do homem para Deus. Por isso, Neemias

    e seus companheiros armaram-se, e assim equipados para

    a guerra, assentaram pedra por pedra. Este o preo da

    santidade, para o qual devemos estar preparados.

    Pois certamente precisamos construir. O den era

    um jardim sem muralhas artificiais para conservar fora os

    inimigos; por isso Satans pde entrar. Deus pretendia que

    Ado e Eva "o guardassem" (Gn. 2:15), eles prprios

    constituindo-se numa barreira moral contra ele. Hoje, por

    meio de Cristo, Deus planeja um den no corao de Seu

    povo redimido, ao qual, em triunfante realidade, Satans

    finalmente no ter qualquer acesso moral. "Nela nunca

    jamais penetrar coisa alguma contaminada, nem o que

    pratica abominao e mentira; mas somente os inscritos no

    livro da vida do Cordeiro".

    Muitos de ns concordaramos que foi dada uma

    revelao especial da Igreja de Deus ao apstolo Paulo. De

    igual modo, sentimos que Deus deu a Joo uma compre-

    enso especial da natureza das coisas do mundo. Na

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    34

    verdade, kosmos peculiarmente uma palavra de Joo. Os

    outros evangelhos usam-na apenas quinze vezes (Mateus

    nove, Marcos e Lucas trs vezes cada, enquanto Paulo

    emprega-a 47 vezes em oito cartas. Mas Joo usa-a 105

    vezes ao todo, 78 em seu evangelho, 24 em suas epstolas

    e mais trs vezes em Apocalipse.

    Em sua primeira epstola, Joo escreve: "porque tudo

    que h no mundo, a concupiscncia da carne, a con-

    cupiscncia dos olhos e a soberba da vida, no procede do

    Pai, mas procede do mundo" (2:16). Nestas palavras que

    refletem com tanta clareza a tentao de Eva (Gn. 3:6),

    Joo define as coisas do mundo. Tudo o que pode ser

    includo na concupiscncia ou desejo primitivo, tudo o que

    excita ambio gananciosa, e tudo o que desperta em ns a

    soberba ou deslumbramento da vida, todas essas coisas so

    parte do sistema satnico. Talvez quase no seja necessrio

    considerar mais detalhadamente os dois primeiros, mas

    contemplemos o terceiro por um momento. Tudo o que

    provoca soberba em ns, do mundo. Proeminncia,

    riquezas, realizaes, isto o mundo aplaude. Os homens

    ficam legitimamente orgulhosos do sucesso. Contudo, Joo

    denomina tudo o que traz essa sensao de sucesso como

    "do mundo".

    Portanto, cada sucesso que experimentamos (eu no

    estou sugerindo que deveramos ser fracassados) reclama

    de ns, por um instante, a humilde confisso de sua

    pecaminosidade inerente, pois onde quer que tenhamos

    encontrado o sucesso, at certo ponto entramos em contato

    com o sistema mundial. Sempre que sentimos complacncia

    quanto a alguma realizao, podemos saber de imediato

    que tocamos o mundo. Podemos saber, tambm, que nos

    colocamos sob o julgamento de Deus, pois no temos j

    concordado que o mundo todo est sob julgamento? Agora

    (e vamos tentar assimilar este fato) aqueles que percebem

    isso e confessam sua necessidade esto desse modo

    protegidos.

    Mas o problema , quantos de ns esto conscientes

    disso? Mesmo aqueles dentre ns que vivem na separao

    de suas casas particulares esto to propensos a serem

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    presas da soberba da vida, quanto os que tm grande su-

    cesso pblico. Uma mulher em uma modesta cozinha pode

    tocar o mundo e sua complacncia mesmo enquanto estiver

    preparando a refeio diria ou entretendo convidados.

    Toda glria que no para a glria de Deus vanglria, e

    so surpreendentes os sucessos insignificantes que podem

    causar vanglria. Onde quer que encontremos o orgulho,

    encontramos o mundo, e h uma perda imediata de nosso

    relacionamento com Deus. Oh, que Deus nos abra os olhos

    para vermos claramente o que o mundo! No apenas as

    coisas ms, mas todas aquelas que nos afastam to

    gentilmente de Deus, so unidades daquele sistema que

    antagnico a Ele. Contentamento na realizao de um

    trabalho tem o poder de se colocar de imediato entre ns e

    Deus. Pois se soberba da vida e no o louvor a Deus que

    desperta em ns, podemos saber com certeza que tocamos

    o mundo. Dessa forma, h uma necessidade constante de

    vigiar e orar, se quisermos manter pura comunho com

    Deus.

    Qual ento o modo de escapar a essa cilada que o

    diabo colocou para enganar o povo de Deus? Primeiro, digo

    enfaticamente que no escaparemos pelo fato de fugirmos.

    Muitos pensam que podemos escapar do mundo, procu-

    rando abster-nos das coisas do mundo. Isso tolice. Como

    poderamos ns escapar ao sistema do mundo usando o

    que, afinal de contas, um pouco mais do que mtodos

    mundanos? Permita-me recordar-lhes as palavras de Jesus

    em Mateus 11:18, 19: "Pois veio Joo, que no comia nem

    bebia e dizem: tem demnio. Veio o Filho do homem, que

    come e bebe, e dizem: Eis a um gluto e bebedor de vinho,

    amigo de publicanos e pecadores!" Alguns pensam que Joo

    Batista nos oferece uma receita para escapar ao mundo,

    mas "no comia nem bebia" no cristianismo. Cristo veio

    comendo e bebendo e isso cristianismo! O apstolo Paulo

    fala das "ordenanas do mundo", e define-as como "no

    manuseies isto no proves aquilo, no toques aquiloutro"

    (Col. 2:20, 21). Assim, a abstinncias nada mais nada

    menos do que mundana, e que esperana h, no uso de

    ordenanas mundanas, de escapar do sistema do mundo?

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    Contudo quantos cristos sinceros esto renunciando a toda

    sorte de prazeres mundanos na esperana de assim ficarem

    libertos do mundo! Voc pode construir uma cabana de

    eremita em algum lugar remoto, pensando escapar ao

    mundo retirando-se para l, mas o mundo o seguir at

    mesmo ali. Seguir sua pista e o encontrar, no

    importando onde voc se esconda.

    Nossa libertao do mundo comea, no com a nossa

    desistncia disso ou daquilo, mas com o enxergarmos com

    os olhos de Deus, que um mundo sob sentena de morte,

    como na ilustrao com a qual abrimos este captulo, "caiu,

    caiu a grande Babilnia!" (Ap. 18:2). Agora uma sentena

    de morte est sempre passada, no sobre os mortos, mas

    sobre os vivos. E em certo sentido o mundo uma fora

    viva hoje, perseguindo e procurando incansavelmente seus

    vassalos. Mas, embora seja verdade que quando

    pronunciada a sentena a morte ainda pertence ao futuro,

    ainda assim certa. Uma pessoa sob sentena de morte,

    no tem futuro alm dos limites de uma cela condenada. Do

    mesmo modo o mundo estando sob sentena, no tem

    futuro. O sistema mundial ainda no foi "golpeado", como

    dizemos, e terminado por Deus, mas o golpeamento uma

    questo j decidida. Faz toda diferena para ns se vemos

    isso. Algumas pessoas procuram a libertao do mundo no

    ascetismo e como o Batista, no comem nem bebem. Isso

    hoje budismo, no cristianismo. Como cristos ns

    comemos e bebemos, mas o fazemos na compreenso de

    que o comer e beber pertencem ao mundo, e, como eles

    esto sob a sentena de morte, no tem poder sobre ns.

    Suponhamos que as autoridades municipais de

    Shangai decretem que a escola onde voc est empregado

    deve ser fechada. Assim que toma conhecimento dessa

    notcia, voc percebe que no h futuro naquela escola para

    voc. Continua trabalhando l por um tempo, mas no

    constri nada para o futuro ali. Sua atitude para com a

    escola muda no momento em que fica sabendo que deve

    ser fechada. Ou, para usar outra ilustrao, suponha que o

    governo decida fechar certo banco. Voc se apressaria a

    depositar nele uma grande importncia de dinheiro para

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    37

    salv-lo do colapso? No, voc no depositaria ali nem mais

    um centavo, desde que saiba que no tem futuro. Voc no

    deposita nada, porque no espera nada dele.

    E podemos com justificativa dizer que o mundo est

    sob uma ordem de fechamento. Babilnia caiu quando seus

    defensores guerrearam com o Cordeiro, e quando por Sua

    morte e ressurreio Ele os superou como o Senhor dos

    senhores e Rei dos reis (Ap. 17:14). No h futuro para ela.

    Uma revelao da cruz de Cristo implica para ns na

    descoberta desse fato, que atravs dela tudo o que per-

    tencia ao mundo est sob sentena de morte. Continuamos

    vivendo e utilizando as coisas do mundo, mas no podemos

    construir qualquer futuro com elas, pois a cruz destruiu toda

    esperana que tnhamos nelas. A cruz de nosso Senhor

    Jesus podemos na verdade afirmar, arruinou nossas

    expectativas quanto ao mundo, no temos nada por que

    viver nele.

    No existe um verdadeiro caminho de salvao do

    mundo que no principie com tal revelao. Precisamos

    apenas tentar escapar do mundo fugindo dele, para

    descobrir o quanto ns o amamos, e o quanto ele nos ama.

    Podemos fugir para onde quisermos para evit-lo, mas ele

    certamente nos encontrar. Mas perdemos inevitavelmente

    todo interesse pelo mundo, e este perde seu poder sobre

    ns, assim que descobrirmos que o mundo est condenado.

    Compreender isso ser automaticamente cortado de toda

    economia de Satans.

    No final de sua carta aos Glatas, Paulo afirma isso

    muito claramente. "Mas longe esteja de mim gloriar-me

    seno na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o

    mundo est crucificado para mim, e eu para o mundo" (Gal.

    6:14). Notou algo marcante quanto a este versculo? Com

    relao ao mundo, ele fala dos dois aspectos da obra da

    cruz j mencionados em nosso captulo anterior. "Fui

    crucificado para o mundo" uma afirmativa que vemos ser

    facilmente adaptvel nossa compreenso de estarmos

    crucificados com Cristo, como definido em passagens tais

    como Romanos 6. Mas aqui tambm est dito:

    especificamente que "O mundo foi crucificado para mim".

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    38

    Quando Deus vem a voc e a mim com a revelao da obra

    terminada de Cristo, Ele no apenas mostra a ns mesmos

    crucificados l na cruz, mostra-nos tambm o nosso mundo

    ali. Se voc e eu no podemos escapar ao julgamento da

    cruz, ento nem o mundo pode escapar a esse julgamento.

    Ser que eu realmente j compreendi isso? Essa a

    questo. Quando eu compreendo, no tento repudiar um

    mundo que amo, vejo que a cruz o repudiou. No tento

    escapar a um mundo que se agarra a mim; vejo que

    atravs da cruz eu escapei.

    Como tantas outras coisas na vida crist, a forma da

    libertao do mundo vem a ser uma surpresa para muitos

    de ns, pois est em grande desigualdade com os conceitos

    naturais do homem. O homem procura resolver o problema

    do mundo afastando-se fisicamente do que ele considera a

    zona de perigo. Mas a separao fsica no traz a separao

    espiritual; e o contrrio tambm verdadeiro, que o

    contato fsico com o mundo no compele captura

    espiritual pelo mundo. Escravido espiritual ao mundo

    fruto de cegueira espiritual, e a libertao o resultado de

    ter nossos olhos abertos. No importa quo prximo possa

    ser externamente o nosso contato com o mundo, somos

    libertos do seu poder quando verdadeiramente

    compreendemos sua natureza. O carter essencial do

    mundo satnico; inimizade para com Deus.

    Compreender isso encontrar libertao.

    Permita-me perguntar-lhe: qual a sua ocupao?

    Mercador? Mdico? No se afaste dessas vocaes. Sim-

    plesmente, escreva: o comrcio est sob sentena de mor-

    te. A medicina est sob sentena de morte. Se fizer isso

    com sinceridade, sua vida ser mudada dai em diante. No

    meio de um mundo sob julgamento por sua hostilidade a

    Deus, voc saber o que viver como algum que

    verdadeiramente O ama e teme.

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    CAPTULO

    DIFERENCIAO DO MUNDO

    "Chamo agora sua ateno para as palavras que

    Jesus dirigiu aos judeus em Joo 8:23: "Vs sois c de

    baixo, eu sou l de cima; vs sois deste mundo, eu deste

    mundo no sou". Desejo que notemos aqui de modo

    especial o uso das palavras "de" e "deste". A palavra grega

    em cada caso ek, que significa "fora de", e indica origem.

    Ek tou kosmos a expresso empregada: "de, ou deste ou

    fora de, deste mundo". Assim o sentido da passagem :

    "Vosso lugar de origem de baixo; meu lugar de origem

    de cima. Vosso lugar de origem este mundo; meu lugar

    de origem no este mundo". A questo no : voc uma

    pessoa boa ou m? Mas, qual o seu lugar de origem? No

    perguntemos, isto est certo? Ou, isto est errado? Mas, de

    onde se originou? a sua origem que determina tudo. "O

    que nascido da carne, carne; e o que nascido do

    Esprito, esprito" (Joo 3:6).

    Assim, quando Jesus volta-se para os Seus discpu-

    los, Ele pode dizer, usando a mesma preposio grega, "se

    vs fosseis do mundo (ek tou kosmos) o mundo amaria o

    que era seu; como, todavia, no sois do mundo, pelo

    contrrio dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia"

    (Joo 15:19). Temos aqui a mesma expresso, "no sois do

    mundo", mas alm disso, temos outra expresso ainda mais

    forte, "dele vos escolhi". Nesta ltima citao h uma

    nfase dupla. Como antes h um ek, "fora de", mas

    somando-se a isto o verbo "escolher", eklego, que contm

    em si outro ek. Jesus est dizendo que Seus discpulos

    foram "escolhidos, fora do mundo".

    H este duplo ek na vida de cada crente. Fora da-

    quela vasta organizao chamada kosmos, fora de toda a

    grande massa de indivduos que pertencem a ele e que es-

    to envolvidos nele, para fora de tudo isso que Deus nos

    chamou. Da vem o nome "igreja", ekklesia, os que Deus

    "chamou para fora". Do meio do grande kosmos Deus

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    chama um aqui e um ali; e todos os que Ele chama, chama

    para fora. No existe tal coisa como um chamado de Deus

    que no seja um chamado "para fora" do mundo. A igreja

    ekklesia. Na inteno divina, no h klesia qual falte esse

    ek.

    Se voc algum que foi chamado, ento foi

    chamado para fora. Se Deus o chamou, chamou-o para

    viver em esprito, fora do sistema mundial. Estvamos

    originalmente naquele sistema satnico, sem meios de sair;

    mas fomos chamados, e esse chamado trouxe-nos para

    fora. verdade que essa declarao negativa, mas h um

    lado positivo tambm para nossa natureza; pois como povo

    de Deus temos dois ttulos, cada qual significativo, de

    acordo com o modo pelo qual vemos a ns mesmos. Se

    olharmos para nossa histria passada, somos ekklesia, a

    Igreja; mas se olharmos para nossa vida presente em Deus

    somos o corpo de Cristo, a expresso na terra Daquele que

    est no cu. Do ponto de vista da nossa escolha por Deus,

    estamos "fora" do mundo; mas do ponto de vista de nossa

    nova vida no somos absolutamente do mundo, mas do

    alto. Por um lado somos um povo escolhido, chamado e

    liberto do sistema mundial. Por outro lado, somos um povo

    regenerado, absolutamente sem ligao com aquele

    sistema, porque pelo Esprito somos nascidos do alto. Assim

    Joo v a cidade santa descendo "do cu da parte de Deus"

    (Ap. 21:10). Como o povo de Deus, o cu no somente

    nosso destino, mas nossa origem.

    algo espantoso que em voc e em mim haja um

    elemento que essencialmente sobrenatural. na verdade

    to sobrenatural que, no importa como este mundo possa

    evoluir, jamais pode avanar um passo de acordo com ele.

    A vida que temos como dom de Deus veio do cu, e jamais

    esteve no mundo. No tem qualquer semelhana com o

    mundo, mas tem perfeita semelhana com o cu; e embora

    precisemos misturar-nos ao mundo diariamente, no

    permitir jamais que nos acomodemos e fiquemos

    vontade ali.

    Consideremos por um momento essa ddiva divina,

    essa vida de Cristo habitando o corao do homem

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    regenerado. O apstolo Paulo tem muito a dizer sobre isso.

    Em uma passagem esclarecedora de 1 Corntios, ele faz

    uma impressionante afirmao dupla: a) que o prprio Deus

    colocou-nos em Cristo; e b) que Cristo "se nos tornou da

    parte de Deus sabedoria, e justia, e santificao, e

    redeno" (1:30). Aqui esto exemplos da extenso total da

    necessidade humana que Deus satisfez em Seu Filho.

    Demonstramos em outra obra como Deus no nos concede

    estas qualidades de retido, santidade e assim por diante,

    em prestaes para "serem utilizadas quando necessrio". O

    que Ele faz dr-nos Cristo como resposta completa a

    todas as nossas necessidades. Ele faz Seu Filho ser minha

    retido e minha santidade, e tudo o que no tenho, pela

    razo de que Ele j me colocou em Cristo crucificado e

    ressurreto.

    Agora chamo sua ateno para a ltima palavra, "re-

    deno". Pois a redeno tem muito a ver com o mundo. Os

    israelitas, voc deve estar lembrado, foram "redimidos"

    para fora do Egito, que naquela poca era o mundo que eles

    conheciam, e que para ns uma figura deste mundo sob

    governo satnico. "Eu sou o Senhor" disse a Israel, "e vos

    tirarei com brao estendido". Dessa forma, Deus os trouxe

    para fora, colocando uma barreira de julgamento entre eles

    e os exrcitos perseguidores de Fara, de forma que Moiss

    podia cantar sobre Israel como "o povo que salvaste"

    (Ex.6:6, 15:13).

    A luz disso, analisemos a dupla afirmao de Paulo.

    Se: a) Deus nos colocou em Cristo, ento desde que Cristo

    est inteiramente fora do mundo, ns tambm estamos

    inteiramente fora do mundo.

    Ele agora nossa esfera, e estando Nele, estamos

    por definio fora daquela outra esfera. O Pai "nos libertou

    do imprio das trevas e nos transportou para o reino do

    Filho do Seu amor; no qual temos redeno" (Col. 1:13,

    14). Esta transferncia foi o assunto de nossos dois cap-

    tulos precedentes.

    Alm disso, se tambm (b) Cristo "se tornou re-

    deno" se assim podemos dizer, Ele nos dado para ser isso ento quer dizer que Deus colocou dentro de ns o

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    prprio Cristo, como barreira para resistir ao mundo.

    Encontrei muitos jovens cristos tentando resistir ao

    mundo, tentando de um modo ou de outro viver uma vida

    no mundana. Descobriram que muito difcil, e, alm

    disso, tal esforo , naturalmente, totalmente des-

    necessrio. Pois por sua prpria "estranheza" essencial,

    Cristo nossa barreira contra o mundo, e no necessitamos

    de nada mais. No se trata de que precisamos fazer algo

    com relao nossa redeno, do mesmo modo que o povo

    de Israel nada fez com relao sua salvao. Sim-

    plesmente confiaram no brao redentor de Deus, estendido

    em seu favor. E Cristo feito redeno para ns. Em meu

    corao h uma barreira levantada entre mim e o mundo, a

    barreira de uma outra espcie de vida, a saber, a vida do

    prprio Senhor Jesus, e Deus colocou ali essa barreira. E

    por causa de Cristo, o mundo no pode me alcanar.

    Portanto, que necessidade tenho eu de tentar resistir

    ou escapar ao sistema de coisas? Se olhar para dentro de

    mim mesmo procura de algo com que enfrentar e

    conquistar o mundo, instantaneamente encontro tudo em

    meu anterior clamando por aquele mundo, e enquanto luto

    para separar-me dele, simplesmente fico mais e mais

    envolvido. Mas deixemos que chegue o dia em que eu re-

    conhea que em meu interior Cristo minha redeno, e

    que Nele eu estou inteiramente "fora". Aquele dia ver o fim

    da luta. Eu irei simplesmente dizer a Ele que no posso

    fazer absolutamente nada quanto a esse assunto de

    "mundo", a no ser agradecer-Lhe de todo corao porque

    Ele meu Redentor.

    Arriscando-me a ser montono, digo novamente: o

    carter do mundo moralmente diferente da vida concedida

    pelo Esprito que recebemos de Deus. principalmente

    porque possumos essa nova vida doada por Deus que o

    mundo nos odeia, pois no tem dio de sua prpria espcie.

    Essa diferena radical nos deixa realmente sem meios de

    fazer com que o mundo nos ame. "Se vs fosseis do mundo,

    o mundo amaria o que era seu; todavia, no sois do mundo,

    pelo contrrio dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia".

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    Quando o mundo v em ns honestidade e decncia

    naturalmente humanas, ele o aprecia, e est pronto a

    prestar-nos o devido respeito, e colocar-nos em sua con-

    fiana. Porm assim que encontra em ns o que no de

    ns mesmos, a saber, a natureza divina da qual fomos fei-

    tos participantes, sua hostilidade imediatamente des-

    pertada. Mostre ao mundo os efeitos do cristianismo, e ele

    aplaudir; mostre-lhe o cristianismo, e ele se opor vi-

    gorosamente. Pois no importa o quanto o mundo evolua,

    no pode jamais produzir um cristo. Pode imitar a

    honestidade crist, a cortesia crist, a caridade crist, sim,

    mas produzir um s cristo algo que jamais poder

    almejar. Uma assim chamada civilizao crist ganha o

    reconhecimento e respeito do mundo. Ele pode tolerar isso;

    pode at mesmo assimilar e utilizar isso. Mas a vida crist a vida de Cristo no crente cristo, isso ele odeia, e onde

    quer que a encontre, ir certamente opor-se at a morte.

    A civilizao crist o resultado de uma tentativa de

    reconciliar o mundo e Cristo. Nas figuras do Velho

    Testamento, encontramos aquela representada por Moabe e

    Amom, o fruto indireto do envolvimento e comprometi-

    mento de L com Sodoma; e nem Moabe nem Amom

    demonstram ser menos hostis a Israel do que eram as na-

    es gentlicas. A civilizao crist demonstra que pode

    misturar-se ao mundo, e at mesmo pode ficar ao lado do

    mundo em uma crise. H algo, contudo, que totalmente

    separado do mundo e jamais pode misturar-se a ele, e isso

    a vida de Cristo. Suas naturezas so mutuamente

    antagnicas, e no podem ser reconciliadas. Entre o mais

    fino espcime da natureza humana que o mundo pode

    produzir e o crente mais insignificante no h nada em

    comum, e assim no h termo de comparao. Pois a

    bondade natural algo que temos pelo nascimento natural

    e podemos, por nossos prprios recursos, desenvolver

    naturalmente; mas a bondade espiritual , nas palavras de

    Joo, "nascida de Deus" (1 Joo 5:4).

    Deus estabeleceu no mundo uma Igreja Universal; e

    a