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IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 O NORDESTE E A INTEGRAÇÃO REGIONAL SUL-AMERICANA Maria Lúcia de Oliveira Falcón* RESUMO Apesar da integração regional Sul-Americana ter uma história onde organizações como Mercosul já datam de 22 anos, a IIRSA está em funcionamento há 13 anos e a União das Nações Sul-Americanas - Unasul - ter cinco anos de existência, o Nordeste brasileiro nunca fez parte da carteira de investimentos que financia a integração física do continente. O avanço da globalização pode trazer maiores assimetrias regionais e intra-regionais, o que deve ser enfrentado com políticas de desenvolvimento locais integradoras e sustentáveis. Assim, a partir de 2011, com a revisão do Plano de Investimentos e Projetos Integradores para o período 2012-2022, aprovada pelo Cosiplan, o Nordeste apresentou uma proposta para sua inclusão como projeto prioritário brasileiro, no Eixo Peru-Brasil-Bolívia. Após análises e negociações com os demais países da Unasul, passou a fazer parte do Eixo Amazonas Ampliado. Esse corredor transoceânico multimodal, composto por rodovias, ferrovias e portos, certamente trará impactos significativos na economia nordestina no longo prazo e sua implementação exigira das estruturas estaduais e regionais de planejamento um trabalho consistente e persistente, começando com o detalhamento e viabilidade dos projetos e seu financiamento. Palavras-chave: Integração Regional. Unasul. Nordeste. Eixos de Integração. ABSTRACT Despite regional integration in South America having a story where organizations like Mercosur date back 22 years, IIRSA has been operating for 13 years and the Union of South American Nations - UNASUR - going on five years of existence, the Brazilian Northeast has never been part of the investment portfolio that finances physical integration of the continent. The advance of globalization can bring greater regional and intra-regional asymmetries, which must be faced with integrating and sustainable local development policies. Thus, from 2011, with the revision of the Investment Plan and Projects Integrators for the period 2012-2022, approved by Cosiplan, the Northeast submitted a proposal for its inclusion as a priority project in Brazil, in the Peru-Brazil-Bolivia Axis. After analysis and negotiations with other countries of UNASUR, it became part of the Expanded Amazon Axis. This is a transoceanic multimodal corridor, made up of roads, railways and ports, that will certainly bring significant impacts to the Northeastern economy in the long term and its implementation will demand of state and regional planning structures a consistent and persistent job, beginning with the detailing and viability of the projects and their funding. Keywords: Regional Integration. UNASUR. Northeast. Axes of Integration. * Doutorado em Sociologia pela Universidade de Brasília (UNB) e mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora adjunta do Departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e secretária de Desenvolvimento Urbano de Sergipe. [email protected] ECONOMIA REGIONAL 573

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IX Encontro dE EconomIa BaIana – SEt. 2013

O NORDESTE E A INTEGRAÇÃO REGIONAL SUL-AMERICANA

Maria Lúcia de Oliveira Falcón*

Resumo

Apesar da integração regional Sul-Americana ter uma história onde organizações como Mercosul já datam de 22 anos, a IIRSA está em funcionamento há 13 anos e a União das Nações Sul-Americanas - Unasul - ter cinco anos de existência, o Nordeste brasileiro nunca fez parte da carteira de investimentos que financia a integração física do continente. O avanço da globalização pode trazer maiores assimetrias regionais e intra-regionais, o que deve ser enfrentado com políticas de desenvolvimento locais integradoras e sustentáveis. Assim, a partir de 2011, com a revisão do Plano de Investimentos e Projetos Integradores para o período 2012-2022, aprovada pelo Cosiplan, o Nordeste apresentou uma proposta para sua inclusão como projeto prioritário brasileiro, no Eixo Peru-Brasil-Bolívia. Após análises e negociações com os demais países da Unasul, passou a fazer parte do Eixo Amazonas Ampliado. Esse corredor transoceânico multimodal, composto por rodovias, ferrovias e portos, certamente trará impactos significativos na economia nordestina no longo prazo e sua implementação exigira das estruturas estaduais e regionais de planejamento um trabalho consistente e persistente, começando com o detalhamento e viabilidade dos projetos e seu financiamento.

Palavras-chave: Integração Regional. Unasul. Nordeste. Eixos de Integração.

AbstrAct

Despite regional integration in South America having a story where organizations like Mercosur date back 22 years, IIRSA has been operating for 13 years and the Union of South American Nations - UNASUR - going on five years of existence, the Brazilian Northeast has never been part of the investment portfolio that finances physical integration of the continent. The advance of globalization can bring greater regional and intra-regional asymmetries, which must be faced with integrating and sustainable local development policies. Thus, from 2011, with the revision of the Investment Plan and Projects Integrators for the period 2012-2022, approved by Cosiplan, the Northeast submitted a proposal for its inclusion as a priority project in Brazil, in the Peru-Brazil-Bolivia Axis. After analysis and negotiations with other countries of UNASUR, it became part of the Expanded Amazon Axis. This is a transoceanic multimodal corridor, made up of roads, railways and ports, that will certainly bring significant impacts to the Northeastern economy in the long term and its implementation will demand of state and regional planning structures a consistent and persistent job, beginning with the detailing and viability of the projects and their funding.

Keywords: Regional Integration. UNASUR. Northeast. Axes of Integration.

* Doutorado em Sociologia pela Universidade de Brasília (UNB) e mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora adjunta do Departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e secretária de Desenvolvimento Urbano de Sergipe. [email protected]

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Maria Lúcia de Oliveira Falcón

IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 ECONOMIA REGIONAL • 574

Introdução

No espaço desafiador criado pelo tema e áreas de interesse do IX Encontro de Economia

Baiana, a associação entre Economia Regional e mundialização econômica, com suas fortes

implicações nas economias locais, é particularmente inovadora. O Mercado Comum do Sul -

Mercosul completa agora 22 anos e a União de Nações Sul-Americanas - Unasul tem apenas

5 anos de existência. São poucas as reflexões sobre os vínculos e impactos criados pela

integração regional Sul-Americana com (e para) a economia nordestina, seja no campo

econômico, seja no campo político e cultural. No mapa dos investimentos para integração

física planejados pela Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana -

Iirsa nos últimos dez anos, não se viam rotas nem espaços planejados que integrassem os

vizinhos Sul-Americanos ao Nordeste brasileiro. Ainda pior era o isolamento físico do

Nordeste em relação ao interior do país, no rumo do Norte e Centro-Oeste.

A geopolítica da América do Sul mudou bastante nesses últimos dez anos e uma nova safra de

políticos de origem democrática trouxe mais estabilidade ao continente, abrindo novas

possibilidades ao plano de integração regional e ampliando sua dimensão econômica para o

campo político e para a gestão em diversas áreas, da Defesa à Saúde, da Energia e Logística, à

Cultura. Uma nova estrutura surgiu para facilitar os esforços diplomáticos e comerciais: a

UNASUL, que através do Conselho Sul-americano de Infraestrutura e Planejamento -

Cosiplan e partindo da IIRSA, atualizou e reprogramou em 2011, sob coordenação brasileira,

os investimentos para a integração física regional, adotando inclusive nova metodologia de

planejamento integrado dos territórios impactados pelas obras físicas dos vários modais de

transporte – viário, ferroviário, hidroviário. E, dessa vez, o Nordeste foi levado em conta na

programação, compondo um novo eixo de integração que se desdobra no sentido centro-sul e

centro-oeste, podendo chegar ao eixo amazônico num futuro não muito distante.

Esse artigo trata da integração regional Sul-Americana e da recente versão do plano de

investimentos para integração física patrocinado pela Unasul, bem como dos esforços para

incluir o Nordeste nesse plano. Ele se inicia com uma breve revisão teórica que traz o debate

para as razões econômicas e políticas para o avanço da integração regional num mundo em

franca globalização. Faz, em seguida, um histórico conciso da integração Sul-Americana e

apresenta o Plano de Investimentos de longo prazo da Unasul, bem como a proposta

elaborada pelo Nordeste para sua participação nos investimentos. À guisa de conclusão,

discute-se os possíveis impactos, diretos e indiretos, que serão gerados para a economia e a

política nordestinas com o avanço da integração nos próximos dez anos.

1- Globalização e Integração Regional: razões econômicas e políticas

Num texto apresentado em 1988 em Paris, num colóquio sobre os novos espaços industriais

criados com a globalização que se iniciava, Danièle Leborgne e Alain Lipietz apontavam dois

possíveis caminhos para a regulação internacional do fordismo em crise, com rebatimentos

diferenciados sobre os territórios, regiões e países. O primeiro caminho era o da

“flexibilização defensiva” e o segundo caminho, o da “flexibilização ofensiva”. Nos dois

casos, havia a reestruturação produtiva com reposicionamento da indústria local na divisão

internacional do trabalho e uma alteração na regulação da relação capital-trabalho e na relação

entre firmas. Os efeitos da flexibilização defensiva eram a destruição de áreas industriais

obsoletas com perda do know-how e cultura tecnológica existente, a maior dependência de

importações, perda de mercado interno e uma polarização entre “polos de competitividade”

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versus setores arcaicos da economia. Os efeitos da flexibilização ofensiva eram a negociação

e pactuação das conversões que seriam necessárias à modernização da base produtiva, com

mobilização e atualização do conhecimento tecnológico existente, adensamento das cadeias

produtivas e das relações intersetoriais no território, com manutenção dos mercados internos e

difusão das inovações tecnológicas e gerenciais resultando num dinamismo econômico dos

territórios. O espaço urbano refletia a escolha, mediante especialização das áreas

metropolitanas no setor terciário e zonas industriais, no primeiro caso; e desenvolvimento de

sistemas locais de produção e inovação, com uma transição de zonas produtivas

especializadas para sistemas produtivos inovativos locais, no segundo caso. Os sintomas da

flexibilização defensiva ficavam visíveis na criação de tecnopolos artificiais, enquanto que a

flexibilização ofensiva adensava as relações de parceria entre firmas, universidades e

administração pública local, dali emergindo novas multinacionais. A complexidade da

realidade levava à convivência, num mesmo país e em diferentes territórios, o modelo

defensivo e o ofensivo. Porém, no modelo ofensivo, a competitividade é produzida e, ao

mesmo tempo, produz, uma “quase-renda” que eleva a condição de vida da população

mediante capacitação, inovação e negociação política das condições de trabalho, além de

proporcionar espaços de cooperação entre as firmas com alianças estratégicas para a pesquisa

tecnológica. Sem as contradições de interesse de classes nem a concorrência entre firmas, as

teorias marxista e neoclássica ficam sem ter o que dizer. (LIPIETZ; LEBORGNE, 1988)

Ana Arroio (2012) analisa as políticas de estímulo ao desenvolvimento territorial nos BRICS,

focando nas micro e pequenas empresas, que vão se integrar numa cadeia de suprimentos e

transferência de valor para os países centrais, num processo de reprodução de assimetrias

regionais dentro dos países:

It is important to note that in India, as in other Brics countries, the

distribution of industries is highly skewed regionally and this imbalance has

been accentuated as investment decisions become increasingly governed by

the Market test of profitability rather then social objectives, leading to a

further concentration of industries in more developed regions. (...) As a

result, most of the poorer states in India have fared badly since the opening

up of the economy in 1991. This highlights the need for conceptual

frameworks that link innovation to regional or spatial dimensions and SME

development. (ARROIO, 2012; p. 327-328)

Uma análise consistente foi elaborada por Timothy Sturgeon (2012) sobre a evolução das

economias industrializadas e da divisão internacional do trabalho após a etapa mais aguda de

globalização materializada no surgimento de novas cadeias de valores. Sua análise diferencia

entre cadeias de produção de valor e cadeias de suprimentos, sendo a primeira a sequência

completa de atividades que agregam valor no processo produtivo dos componentes e materiais

até o bem final, enquanto que a segunda se refere ao conjunto específico de fornecedores de

uma firma líder específica. A evolução de firmas fordistas integradas verticalmente, para a

terceirização com bases de suprimentos internacionais e regionais, e a atual globalização em

larga escala de setores inteiros de suprimentos, deve-se à evolução dos próprios vínculos

inter-firmas, que deixaram de ser idiossincráticos para tornarem-se eletronicamente

codificados, padronizados e modulados. O resultado desse processo é a formação de GVCs –

global value chains – que, ao final e ao cabo, provocam (ou podem provocar) uma

reconcentração industrial em alguns territórios ou regiões fornecedoras de bens e serviços,

como o que aconteceu a partir dos anos 1990 no leste asiático e na China. As multinacionais

(especialmente as americanas) superaram diferenças culturais e político-institucionais usando

o mercado como arma de cooptação, formando sua cadeia mundial de suprimentos e

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transferência de valores. Parece incrível que no mesmo mundo estudado por Sturgeon esteja

se consolidando a União Europeia.

Desde o pós-guerra, na verdade, portanto há mais de 50 anos, vem sendo gestado o projeto

europeu de unificação econômica, que depois evoluiu para a unificação política e monetária.

Não se trata de algo simples, portanto. Começou com o Tratado da Comunidade Europeia de

Carvão e Aço, em 1951, prosseguiu com os Tratados de Energia Atômica e Comunidade

Econômica Europeia em 1957 e com a união aduaneira em 1968; a criação do Sistema

Monetário Europeu ocorreu em 1979 e o Tratado de Maastricht, que formaliza a União

Europeia, foi assinado em 1991. O Banco Central Europeu é criado em 1998 e a moeda única

- o Euro – entra em vigor em 1999. A partir de então são aprovadas sucessivas adesões de

países que possuíam evidentes assimetrias em relação aos países mais ricos da UE, dando

início a um processo de GVC dentro do bloco, em diferentes graus de integração industrial e

econômica. Com sua história marcada pelas disputas territoriais e imperialistas, a UE apostou

na negociação política para superar as barreiras culturais, institucionais e econômicas. Nas

palavras de Angela Merkel, antes da crise financeira global iniciada em 2008,

Já se foram os tempos em que a política da Europa significava

exclusivamente fazer avançar a integração no seio do continente e em que

sobretudo questões econômicas ocupavam o primeiro plano. (...) Por meio da

Política Externa e de Segurança Comum (PESC), a implementação das

relações externas da União Europeia adquiriu uma nova importância.

Futuramente, esta área política tornar-se-á ainda mais relevante – mormente

porque, na era da globalização, os diferentes Estados-Membros da União

Europeia, ante a evolução demográfica e os desenvolvimentos registrados na

economia mundial, já não logram, sozinhos, fazer valer seus valores, suas

metas e seus interesses. (MERKEL, 2007, p. 11).

A aposta na criação de uma identidade cultural europeia, como instrumento de consolidação

da UE certamente perdeu força nessa conjuntura de crise global, porém mirando o longo

prazo, as palavras da gestora de políticas de integração cultural com o Sudeste Europeu são

válidas:

Durante muito tempo, a grande atenção dada a questões político-econômicas

fez com que os fundamentos culturais de uma ideia de Europa ocupassem

um segundo plano na consciência das pessoas. Uma identidade europeia não

surge, porém, através do crescimento do mercado europeu, mas através do

crescimento de valores comuns. (PACK, 2007; p. 48)

Todavia, o verdadeiro desafio da política cultural no nível europeu deve

consistir em assegurar, do ponto de vista cognitivo e emocional, a

pluralidade, a tolerância, a liberdade e a democracia. (Idem, p. 54)

Outros blocos regionais podem ser listados, com maior ou menor repercussão em termos

práticos para o comércio global e para a integração política dos países envolvidos. A maioria

enfatiza as relações comerciais e de defesa. Exemplos disso são a Associação das Nações do

Sudeste Asiático - Asean, criada em 1967 mas só em 1992 se estabeleceu como zona de livre

comércio e em 2008 publica carta que integra outros membros, como Índia e China, Japão e

Coréia do Sul; a Área de Livre Comércio da América do Norte - NAFTA (1990), a União

Africana, a Liga dos Estados Árabes, dentre outros.

A América do Sul fundou uma zona de livre comércio em 1980, a Associação Latino-

Americana de Integração - ALADI, em substituição à Associação Latino-Americana de Livre

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Comércio - ALALC, que se perdeu em incontornáveis disputas de visão do processo de

integração, ficando de um lado os “desenvolvimentistas” (entre eles o Brasil) e os

“comercialistas”, entre eles, Argentina e Chile (ver SIMÕES, 2010; p. 66-68).

Outro elemento importante a ser considerado na análise do contexto político-econômico e

diplomático global no qual se desenvolve a integração Sul-Americana é o Global Agreement

on Tariffs and Trade - GATT. Criado em 1947, teve até hoje oito rodadas de negociação de

normas para o comércio mundial, sendo a primeira delas em Genebra em 1947, quando 23

países participaram; a do Uruguai, que se estendeu de 1986 a 1994, com a participação de 123

países; até a inconclusa rodada de Doha, iniciada em 2001 e durante a qual o Brasil, África do

Sul e a Índia lideraram a criação do G20 (grupo dos 20 países em desenvolvimento) em 2003,

mas da qual se retiraram por discordâncias na questão dos subsídios agrícolas. De qualquer

modo, a partir de 2003 a Organização Mundial do Comércio - OMC, referendada na rodada

Uruguai, passa a ter poder de fiscalizar, julgar e punir países infratores das normas de

comércio mundial, tanto em termos de protecionismo, subsídios, dumping, dentre outras

infrações.

Assim, pode-se desenhar um quadro do mundo globalizado onde a integração Sul-Americana

irá se consolidar mais ou menos rapidamente, traçando as linhas da nova divisão internacional

do trabalho – as GVCs – que interage com as instituições, a política e a cultura local ou

regional. Essa integração poderá adotar, ou um caminho de adaptação e reestruturação

produtiva para a dependência e reprodução das assimetrias intra-regionalmente, ou um

caminho de desenvolvimento territorial em forma de sistemas produtivos e inovativos locais,

superando as assimetrias econômicas e políticas.

2- Histórico: o processo de integração Sul-Americano

Visto sob a ótica brasileira, o processo de integração regional Sul-Americano tem importância

estratégica no longo prazo, seja porque ele é o caminho para a construção de estabilidade

econômica e política no continente, seja porque ele representa o leito natural histórico onde

construir as alianças políticas, comerciais e econômicas para ocupar um lugar de expressão no

mundo tão desigual, em defesa da paz, da justiça social e da liberdade democrática. Apesar

disso, durante séculos os países do continente estiveram mais voltados para suas antigas sedes

coloniais europeias ou para a nova matriz norte-americana, dando as costas uns aos outros ou

embarcando em disputas territoriais locais fortemente desagregadoras. Além disso, havia uma

preocupação com a hegemonia brasileira num mercado regionalizado, em prejuízo dos demais

países. As duas dificuldades foram removidas no campo político-diplomático, como veremos

a seguir.

Segundo Cordeiro (2009), a integração regional Sul-Americana, entendida como a construção

de um projeto estratégico comum com nossos vizinhos, se desenvolve em quatro frentes de

trabalho: aprofundar e melhorar as relações bilaterais, fortalecer e consolidar o Mercosul, a

Unasul e iniciar a cooperação e concertação política entre a América do Sul e a região do

Caribe. Na frente Unasul, o autor cita cinco dimensões para a integração regional:

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a) promoção do diálogo e concertação política como instrumento para a

solução de conflitos e para assegurar a estabilidade institucional e

democrática; b) integração econômica e comercial para a promoção de

prosperidade comum; c) integração da infraestrutura física de transportes,

energia e comunicações; d) integração cidadã, para promover maior

aproximação cultural, liberdade de circulação e a construção progressiva de

uma verdadeira cidadania sul-americana; e e) integração fronteiriça, que

apoie a transformação das zonas de fronteira em polos de desenvolvimento e

aproximação. (CORDEIRO, 2009; p. 64)

Para iniciar a reversão dessa tendência autofágica, desde a redemocratização do Brasil, em

1985, diversas iniciativas foram adotadas junto aos vizinhos do continente, no sentido da

integração regional. Outras estruturas já existiam, então, como o Comitê dos Países da Bacia

do Prata, congregando Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, criado em 1969, com

finalidades socioambientais. Também em 1969 foi fundada a Comunidade Andina, tendo

como membros a Bolívia, o Equador, a Colômbia e o Peru, com finalidade comercial.

O Mercado Comum do Sul – Mercosul - foi criado em 1991, com a participação do Brasil,

Argentina, Paraguai e Uruguai, com finalidade comercial e econômica, prevendo alcançar a

livre circulação de pessoas e mercadorias no futuro, bem como uma moeda única. É criticado

pelas falhas no livre comércio e nas normas aduaneiras, mas ele é um esforço de países em

desenvolvimento para superar suas deficiências em vários campos, da infraestrutura até os

direitos coletivos (sociais) e individuais (cidadania democrática). Completando 22 anos em

2013, o Mercosul deu exemplo de sua importância e força quando, recentemente, suspendeu a

participação do Paraguai no bloco devido ao golpe de estado que derrubou o Presidente da

República, só retornando após a realização de eleições democráticas naquele país. Na mesma

ocasião, a Venezuela ingressou no bloco, aproveitando a ausência do Paraguai que lhe era

contrário.

Segundo Simões (2010), entre 2002 e 2008 as exportações brasileiras para a América do Sul

cresceram de US$ 7,5 bilhões para US$ 38,4 bilhões (ou 412%). Também o Brasil comprou

da região 220% mais, com importações crescendo de US$ 7,6 bilhões em 2002 para US$ 25

bilhões em 2008.

Para esse autor, as assimetrias de desenvolvimento e as diferenças de competitividadesempre

exigirão compensações para manter o bloco unido. Uma iniciativa neste sentido foi

implementada em 2004 com a criação do FOCEM – Fundo de Convergência Estrutural do

Mercosul, em pleno funcionamento desde 2006. É composto por contribuições dos 4 paises

no valor de cem milhões de dólares/ano, sendo que o Brasil aporta 70%, a Argentina 27%, o

Uruguai 2% e o Paraguai 1%. Em 2011, os financiamentos do FOCEM chegavam a US$ 824

milhões, tendo US$ 141 milhões disponíveis para novos projetos. O Uruguai é o país que

mais utilizou recursos do Fundo, como mostra o Quadro I.

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Quadro I – Recursos do FOCEM (2011)

Fonte: MP/SPI

Uma intervenção política decisiva (SIMÕES, 2010)foi feita pelos Presidentes Luis Inácio

Lula da Silva (Brasil) e Néstor Kirchner (Argentina), que desde 2003, ao firmar o “Consenso

de Buenos Aires” quase em contraposição ideológica ao “Consenso de Washington”,

trouxeram um discurso comprometido não apenas com a liberalização comercial, mas,

simultaneamente, com a correção das assimetrias no bloco Mercosul, visando a articulação

efetiva das principais cadeias produtivas e colocando em pauta uma agenda social.

3- Unasul: o plano de investimentos até 2022

A nova postura política dos dois líderes, bem como a ascensão de novos governantes em

processos eleitorais democráticos nos demais países do continente, levou à criação da União

de Nações Sul-Americanas - Unasul, em 2008. Fazem parte dela Brasil, Argentina, Bolívia,

Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Possui

uma Secretaria Executiva e um Parlamento. Em 23/05/2008, após 12 reuniões de Cúpula dos

Chefes de Estado, criou-se a UNASUL, com a assinatura do Tratado Constitutivo da nião de

Nações ul-Americanas em Brasília. la tem como ob etivo construir, de maneira

participativa e consensual, um espaço de integração e união no mbito cultural, social,

econ mico e pol tico entre seus povos, priorizando o di logo pol tico, as pol ticas sociais, a

educação, a energia, a infraestrutura, o financiamento e o meio ambiente, entre outros, com

vistas a eliminar a desigualdade sócio-econ mica, alcançar a inclusão social e a participação

cidadã, fortalecer a democracia e reduzir as assimetrias no contexto do fortalecimento da

soberania e independ ncia dos stados. A Tabela 01 mostra o que são essas assimetrias, das

quais a política de integração precisa se ocupar, em termos de PIB (Produto Interno Bruto) e

PIB per capita.

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IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 ECONOMIA REGIONAL • 580

Tabela 1: PIB, População e PIB per capita dos países que compõem a Unasul

Países PIB (US$ a preços atuais) População PIB per capita (US$)

Argentina 446.044.143.596 40.764.561 10.941,96

Bolívia 23.948.670.618 10.088.108 2.373,95

Brasil 2.476.652.189.880 196.655.014 12.593,89

Chile 248.585.499.941 17.269.525 14.394,46

Colombia 333.371.937.903 46.927.125 7.104,03

Equador 65.945.432.310 14.666.055 4.496,47

Guiana 2.576.731.667 75.604 34.081,95

Paraguai 23.836.769.722 6.568.290 3.629,07

Peru 176.925.341.932 29.399.817 6.017,91

Suriname 4.304.467.564 529.419 8.130,55

Uruguai 46.709.797.684 3.368.595 13.866,26

Venezuela 316.482.190.800 29.278.000 10.809,56 Fonte: Banco Mundial, 2013

A Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana - IIRSA foi criada

em 2000, com a finalidade de estruturar e viabilizar junto aos bancos multilaterais que lhe dão

suporte, uma carteira de projetos elaborada em consenso entre os países beneficiados, para a

integração física do território. A primeira carteira acordada em 2004 previa investimentos

para o período 2005-2010, num total de 500 projetos organizados em 10 Eixos de Integração

e Desenvolvimento - EIDs. Desses, 31 projetos prioritários foram selecionados, graças ao seu

forte impacto na integração física regional. Os EIDs planejados foram: Andino, Andino do

Sul, Capricórnio, Hidrovia Paraguai-Paraná, Amazonas, Escudo Guianês, Sul, Interoceânico

Central, Mercosul-Chile e Peru-Brasil-Bolívia.

Los componentes de esta Agenda no son proyectos aislados, sino

“proyectos estructurados”. Un proyecto estructurado es aquel que

consolida redes de conectividad física con alcance regional, con el propósito

de potenciar sinergias existentes y solucionar las deficiencias de la

infraestructura implantada. Están compuestos por uno o más proyectos de la

Cartera de Proyectos del COSIPLAN, denominados a los fines de esta

Agenda “proyectos individuales”. La API está compuesta por 31 proyectos

estructurados y por 88 proyectos individuales, seleccionados con el consenso

de los 12 países de América del Sur. (site da Iirsa, 2013)

Quando a Unasul criou o Conselho Sul-americano de Infraestrutura e Planejamento -

Cosiplan, em Quito, em agosto de 2009, para o planejamento da infraestrutura de integração

regional, a Iirsa se transformou num fórum técnico do Conselho. statuto e o egulamento

do Conselho foram aprovados pelos inistros do Cosiplan na sua primeira reunião em

Buenos Aires, em dezembro de 2009. De acordo com seu Estatuto, o Cosiplan uma

inst ncia de discussão pol tica e estrat gica (...) para implementar a integração da

infraestrutura regional dos pa ses embros da nasul . or ocasião da eunião de

Presidentes da Unasul (Georgetown, novembro de 2010), os mandat rios auguraram “a

imediata implementação de seu lano de Ação, de especial import ncia para o futuro da

integração regional” e enfatizaram “a import ncia de selecionar um con unto de obras de forte

impacto para a integração e o desenvolvimento socioecon mico regional” ( C A A

A N A NA , 2010).

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A Agenda de Projetos Prioritários (API) aprovada em 30/11/2011 tem 31 projetos

estruturados, no valor de US$ 17, 26 bilhões. Sua lista está no Quadro A, no anexo. A Figura

01 com os projetos prioritários e a Figura 02 com os EIDs também estão no anexo. Como

pode ser observado na Figura 02, o Nordeste brasileiro é uma mancha branca neste mapa de

investimentos. Então, o que aconteceu em 2011 para mudar esta situação de isolamento?

Em primeiro lugar, deve-se observar a Figuara A, a seguir, que mostra as exportações

brasileiras e nordestinas para a ALADI (o continente sul-americano, mais Cuba e Panamá).

Entre 2000 e 2012, passando pela fase aurea do comércio mundial recente em 2007, a

evolução foi de 418% a mais para o Nordeste (saiu de 597 milhões de dólares em 2000 para

2,498 bilhões em 2012), enquanto o Brasil exportou mais 349% para a região (saiu de 12, 9

bilhões de dólares em 2000 para 45 bilhões em 2012).

Figura A – Evolução das exportações para a ALADI 2000-2012 (FOB)

Qual o potencial da integração regional para a economia nordestina, caso se adensem as

relações intersetoriais e as cadeias produtivas com os países vizinhos ou seus territórios?

Quais as consequências da integração comercial e física para a correção de assimetrias intra-

regionais dos países da Unasul?A integração ajuda ou dificulta a superação da estagnação

econômica e a pobreza em partes dos territórios nacionais? Por que o planejamento dos

Estados e da Região Nordeste nunca se preocupou em inserir-se no plano de integração da

América do Sul? Só a distantância da fronteira não é explicação suficiente para tal

isolamento e omissão. Devem haver motivos relacionados aos centros de decisão de

planejamneto público, dos quais o Nordeste estava ausente, e motivos relacionados à divisão

do trabalho em GVCs que colocava as empresas nordestinas em posição subalterna às firmas

líderes que alocavam sua cadeia de suprimentos seguindo, como disse Ana Arroio, a lógica da

lucratividade e não da promoção do desenvolvimento territorial.

De qualquer forma, em 2011 a Presidência do Cosiplan passou, pro-tempore, ao Brasil.

Coube ao Ministério do Planejamento, através da sua Secretaria Nacional de Planejamento e

Investimentos Estratégicos (SPI), a coordenação do processo de planejamento dos

investimentos em infraestrutura para integração regional, para o período 2012-2022. Foi

elaborado, em primeiro lugar, uma revisão da carteira de projetos, sendo que haviam 159

projetos em execução, representando 30% da carteira e US$ 52 bihões, ou 45% dos recursos;

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309 projetos estavam em preparação, representando 58% deles, com recursos de US$ 53,7

bilhões (46%); e 63 projetos foram concluídos (12%) consumindo 9% dos recursos ou US$

10,4 bilhões.

Em seguida elaborou-se um Plano Estratégico, com seis objetivos e 15 ações bem definidas.

Os objetivos são:

1- Promover a conectividade da região a partir da construção de redes de infraestrutura

para sua integração física, atendendo a critérios de desenvolvimento social e econômico

sustentáveis, preservando o meio ambiente e o equilíbrio dos ecossistemas.

2- Ampliar as capacidades e potencialidades da população local e regional por meio do

desenvolvimento da infraestrutura com a finalidade de melhorar a qualidade e a

expectativa de vida.

3- Desenhar estratégias regionais de planejamento para o desenvolvimento da

infraestrutura.

4- Consolidar a Carteira de Projetos para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-

Americana.

5- Fomentar o uso intensivo de Tecnologias de Informação e Comunicação com a

finalidade de superar barreiras geográficas e operacionais dentro da região.

6- Impulsionar a aplicação de metodologias, o desenvolvimento de processos setoriais e

ações complementares que tornem possível o projeto, a avaliação e a operação dos

empreendimentos de integração física.

Na nova metodologia proposta e aprovada pelo Cosiplan, os EIDs devem, agora, elaborar

planos de desenvolvimento territorial participativos e sustentáveis, superando ou

minimizando os impactos negativos das obras nas comunidades atingidas e promovendo o

desenvolvimento local. Critérios de enquadramento dos novos projetos foram estabelecidos

em forma consensual: O projeto deve pertencer à Carteira de Projetos do COSIPLAN, ser

prioridade na ação de governo e contar com compromisso de realização (evidenciada por

alocação de recursos em planos plurianuais, legislação aprovada, orçamento etc.); Deve

dispor de estudos de viabilidade, ou o país tem recursos alocados no orçamento para iniciar a

execução dos mesmos; Consolida redes de conectividade com alcance regional; Existem

sinergias transfronteiriças;representa oportunidade ou necessidade de desenvolvimento de um

programa de ações complementares para a prestação efetiva de serviços e o desenvolvimento

sustentável do território, segundo as características e modalidades de cada projeto.

Cada país fez a revisão de sua carteira anterior, apresentou seus projetos prioritários aos

Grupos Técnicos Executivos, que definiram a Agenda de Projetos Prioritários de Integração

(API). Os 12 Coordenadores nacionais na IIRSA fizeram a consolidação da API e o mesmo

aconteceu no Comitê Coordenador do Cosiplan. Finalmente, em 30 de novembro de 2011,

numa reunião no Palácio do Itamaraty, os doze Ministros aprovaram a nova carteira de

projetos em reunião anual do Cosiplan, como mostra a Figura B. A Figura C ilustra a

composição da nova carteira.

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Figura B – II Reunião Ministerial do COSIPLAN

Figura C – API em termos de valor dos projetos

Fonte: MP/SPI

Foi nessa ocasião, quando uma comissão interministerial composta pelos Ministérios do

Planejamento, Relações Exteriores, Desenvolvimento Econômico, Transportes,

Comunicações, dentre outros, foi organizada para fazer a revisão da carteira de projetos

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prioritários brasileiros, que a SPI convidou, numa reunião do Conseplan – Conselho dos

Secretários de Estado de Planejamento- os Estados para participarem das análises dos projetos

e apresentarem suas sugestões. Apenas a Região Nordeste não estava contemplada com um

EID. Então, os secretários nordestinos se reuniram e apresentaram, na reunião dos Grupos

Técnicos Executivos em Lima, a ampliação do Eixo Peru-Brasil-Bolívia, promovendo a

integração Leste-Oeste do continente, como mostra a Figura 03, no anexo. O novo Eixo

beneficiaria exatamente as regiões mais pobres dos três países, no caso brasileiro, o Norte,

Nordeste e Centro-Oeste. Além disso, é complementar aos demais Eixos que cruzam o

território brasileiro. Justifica-se a criação do novo Eixo: pela rota de proximidade do

Nordeste brasileiro em relação aos mercados europeu e norte-americano, facilitando o

escoamento da produção sul-americana e brasileira, destacando-se a produção do agronegócio

no Centro-Oeste, Peru e Bolívia, como também interligando parques petroquímicos e bacias

exploratórias de hidrocarbonetos (petróleo e gás); redução das assimetrias e desigualdades

sociais.

Os investimentos propostos vào no sentido da interligação rodoviária e ferroviária entre os

países, complementando-se com o modal de transporte naval através dos portos de Pecém,

Suape, Cabedelo, Porto Sul, Itaqui e Aratu, do lado brasileiro, e Puerto Maldonado do lado

peruano. Obras complementares já previstas no PAC são as rodovias federais, as ferrovias

Transnordestina e Norte-Sul e outros ramais nordestinos, bem como a hidrovia do São

Francisco. Em resumo, trata-se de um Eixo que abre uma nova fronteira para ocupação do

vazio central do Brasil e proporciona a interiorização da base produtiva essencialmente

litorânea do Nordeste.

A partir da proposta apresentada pelo então Secretário de Planejamento da Bahia, Zezéu

Ribeiro, o BID financiou através do CCT – Comitê de Coordenação Técnica um estudo de

pre-viabilidade do novo Eixo, concluindo, em setembro de 2012, pela alteração da inclusão do

projeto nordestino: ele ficou no Eixo do Amazonas e não no Eixo Peru-Brasil-Bolívia. Em

março de 2013, em reunião do Grupo Técnico Executivo do EID Amazonas, o novo Eixo do

Amazonas Ampliado foi constituído. Em maio de 2013, em Montevidéu, os projetos

propostos pelo Nordeste foram, finalmente, incluídos na carteira de projetos do Cosiplan.

Naturalmente, o investimento previsto será determinado ao serem elaborados os projetos

executivos e os estudos de viabilidade. Portanto, o assunto deve ser acompanhado de perto

pelos órgãos de planejamento estaduais nordestinos e pelos órgãos federais de promoção

regional, como a Sudene e Banco do Nordeste. Na verdade, mesmo tendo transcorrido dois

anos entre a proposta e a inclusão do Nordeste nos planos de integração regional Sul-

Americana, o trabalho está apenas começando. Particularmente deverão ser elaborados

projetos de desenvolvimento local para as áreas afetadas pelas obras físicas dos sistemas

viários, evitando a sua degradação ambiental e social. Nossas rodovias e portos não devem

transportar exploração sexual de crianças e adolescentes, nem drogas, nem escravos, e sim a

prosperidade, a cidadania e o conhecimento.

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Conclusão

A inclusão do Nordeste nos planos de integração Sul-Americana é absolutamente inovadora

sob o aspecto do planejamento regional. Aqui fez-se uma descrição do processo de inclusão,

porém os impactos diretos e indiretos, ambientais, econômicos e sociais ainda estão por serem

avaliados, o que será possível em nível mais consistente com a divulgação dos projetos

executivos e seus estudos de viabilidade.

Aumento das exportações e do emprego, melhoria da renda e da condição urbana da rede de

cidades abrangida pelo Eixo Amazonas Ampliado podem ser resultados positivos se

adotarmos a “flexibilização ofensiva” que ipietz e eborgne explicaram. esenvolvimento

de ASPILs – Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais1 – pode ser planejados a

partir do potencial dos territórios cortados pelas obras de integração física.

O impacto potencial do Eixo Amazonas Ampliado sobre o Nordeste e sua economia é tão

significativo que deveria ocupar um espaço privilegiado dos órgãos de planejamento estaduais

e federais regionais. Certamente ocupará tempo – são obras estruturantes e de execução no

longo prazo – e recursos humanos e financeiros significativos. Aliás, a discussão agora pode

começar exatamente por aí: como serão financiados os projetos que integrarão o Nordeste ao

Brasil e ao continente Sul-Americano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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vem aí. Brasília: FUNAG, 2010. pp 45-62

FUNAG. Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional (2009: Rio). O

Brasil no mundo que vem aí. Brasília: FUNAG, 2010.

1Conceito formulado pela Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais -

REDESIST (Ver CASSIOLATO e LASTRES, 2000).

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ANEXOS

Figura 01- Agenda IIRSA 2005-2010

Fonte: IIRSA

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Figura 02- Eixos de Integração e Desenvolvimento 2012-2022

Fonte: MP/SPI

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FIGURA 03- Proposta do Nordeste para sua inclusão no Eixo Peru-Brasil-Bolívia

PROPUESTA DE CREACIÓN DE UN NUEVO EJE DE

INTEGRACIÓN Y DESARROLLO

CaracasCaracas

F t l

Belém

Quito

Bogotáá

GeorgetownParamaribo

VENEZUELA

COLOMBIAGUIANA

EQUADOR

SURINAMEGUIANA FRANCESA

EJE DEL ESCUDOGUAYANÉS

F t l

Belém

F t l

Belém

Quito

Bogotáá

GeorgetownParamaribo

VENEZUELA

COLOMBIAGUIANA

ECUADOR

SURINAMGUAYANA FRANCESA

EJE ANDINO EJE DEL ESCUDO

GUAYANÉS

Fortaleza

Teresina

São Luís

Natal

Recife

Maceió

SalvadorLima

BRASILPERU

Fortaleza

Teresina

São Luís Fortaleza

Teresina

São Luís

Natal

Recife

Maceió

SalvadorLima

BRASILPERU

EJE DEL

AMAZONAS

EJE INTEROCEÁNICO

PERÚ-BRASIL-BOLIVIA

Rio de JaneiroSão Paulo

Curitiba

BeloHorizonte

CampoGrande

Cuiabá

Asunciónón

La Paz Brasília

BOLÍVIA

PARAGUAICHILE

EJE DE LA HIDROVÍA

PARAGUAY - PARANÁ-

EJE INTEROCEÁNICO

CENTRAL

Rio de JaneiroSão Paulo

Curitiba

BeloHorizonte

CampoGrande

Cuiabá

Asunciónón

La Paz Brasília

BOLÍVIA

PARAGUAYCHILE

EJE INTEROCEÁNICO

CENTRAL

Porto Alegre

MontevideoBuenos Aires

M d l Pl t

Santiago ARGENTINA URUGUAI

EJE DE

CAPRICORNIOPorto Alegre

MontevideoBuenos Aires

M d l Pl t

Santiago ARGENTINA URUGUAY

EJE MERCOSUR-CHILE

Mar del Plata

EJE ANDINODEL SUR

EJE DEL SUR

Mar del Plata

EJE DEL SUR

Fonte: própria, trabalhado sobre mapa do IIRSAFuente: Propia; trabajo realizado sobre mapa de IIRSA

Fonte: CONSEPLAN, 2011

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Quadro A: Lista de 31 Projetos Prioritários para a Carteira de Investimentos COSIPLAN 2012-2022

4- Eje Vial Paita -Tarapoto - Yurimaguas, Puertos, Centros Logísticos e Hidrovías

5- Eje Vial Callao - La Oroya - Pucallpa, Puertos, Centros Logísticos e Hidrovías

6- Acceso Nororiental al Río Amazonas

7- Corredor Vial Caracas - Bogotá - Buenaventura / Quito

8- Interconexión Fronteriza Colombia - Ecuador

9- Sistema de Conectividad de Pasos de Frontera Colombia - Venezuela

10- Centro Binacional de Atención en Frontera (CEBAF) Desaguadero

11- Autopista del Sol: Mejoramiento y Rehabilitación del Tramo Sullana - Aguas Verdes

12- Construcción del Puente Binacional Salvador Mazza - Yacuiba y Centro de Frontera

13- Conexión Oeste Argentina - Bolivia

14- Corredor Ferroviario Bioceánico Paranaguá - Antofagasta

15- Conexión Vial Foz – Ciudad del Este - Asunción - Clorinda

16- Línea de Transmisión 500KV (Itaipú - Asunción - Yacyretá)

17- Rehabilitación de la Carretera Caracas - Manaos

18- Ruta Boa Vista - Bonfim - Lethem - Linden - Georgetown

19- Rutas de Conexión entre Venezuela (Ciudad Guayana) - Guyana (Georgetown) -

Suriname

20- Mejoramiento de la Navegabilidad de losRíos de la Cuenca del Plata

21- Interconexión Ferroviaria Paraguay - Argentina - Uruguay

22- Rehabilitación del Ramal Ferroviario Chamberlain - Fray Bentos

23- Circunvalación Vial de Nueva Palmira y Sistema de Accesos Terrestres al Puerto

24- Aeropuerto Distribuidor de Carga y Pasajeros para Sudamérica

25- Mejoramiento de la Conectividad Vial en el Eje Interoceánico Central

26- Paso de Frontera Infante Rivarola - Cañada Oruro

27- Corredor Ferroviario Bioceánico Central (Tramo Boliviano)

28- Gasoducto del Noreste Argentino

29- Construccióndel Puente Internacional Jaguarao - Río Branco

30- Transporte Multimodal en Sistema Laguna Merín y Lagoa Dos Patos

31- Corredor Ferroviario Montevideo - Cacequí

32- Optimización del Sistema Paso de Frontera Cristo Redentor

33- Túnel Binacional Agua Negra

34- Conexión Porto Velho - Costa Peruana

INTAL - Secretaría de CCT

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