o modelo de lasswell - alsina (aula 13)
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2. O MODELO DE LASSWELL
2.1. Dados biográficos
Harold Dwight Lasswell nasceu em 1902, em Donnellson, Illinois. Ele estudou na
Universidade de Chicago e, em 1922, entrou como assistente no Departamento de Ciência
Política. Em 1946, se tornou professor de Direito e Ciências Sociais da Universidade de Yale,
onde em 1970 foi intitulado professor emérito. Ele também ministrou cursos em várias
universidades estrangeiras (Tóquio, Santiago de Chile, etc.). Lasswell morreu em 1978. Ele foi
diretor da Experimental Division for the Study of Wartime Communication e presidente da
American Political Science Association e da American Society of International Law. A partir
de outubro de 1937, ele trabalhou no Institute for Propaganda Analysis, onde se estudava, de
forma sistemática e rigorosa, os conteúdos da propaganda.
Lasswell produziu inúmeros livros e artigos. Em 1927, ele publicou Propaganda
Technique in the World War, no qual fazia uma análise dos principais temas da propaganda
norte-americana, francesa, inglesa e alemã, entre 1914 e 1917. Em 1948, publicou Power and
Personality, que trata do papel dos políticos e dos líderes. Este mesmo tema, Lasswell voltou a
tratar, em 1965, no seu trabalho World Revolutionary Elites: Studies in Coercive Ideological
Movements, em que analisa as elites políticas de distintas partes do mundo (a URSS, China, a
Alemanha nazista, etc.). Também realizou uma análise quantitativa da linguagem do poder em
sua obra, de 1949, Language of Politics. A teoria e a aplicação da análise de conteúdo é o tema
de The General Inquirer: A computer Approach to Content Analysis, obra publicada em 1966.
Como aponta Schramm (1982: 7): “Lasswell não foi nem um investigador de campo
nem um empiricista, seu método era analítico. Ele é considerado um dos pioneiros do estudo
da propaganda, das grandes análises sistemáticas da comunicação e do estudo de
comunicadores políticos influentes. No entanto, possivelmente seja mais lembrado neste campo
graças ao seu desenvolvimento da análise científica de conteúdo”. Embora Statera (1985: 65),
contrariando Schramm, diz que a relevância de Lasswell não está somente na sistematização da
análise de conteúdo, mas também nas suas contribuições ao estudo “da influência política, da
comunicação sobre questões político-ideológicas, das características e das funções dos
indivíduos que possuem influência política, assim como dos canais através dos quais esses se
comunicam, exercendo assim tal influência”.
O campo de estudo de Lasswell tem sido classificado como psicologia política,
psicossociologia da política ou, simplesmente, ciência política, mas devemos notar a grande
importância que ele deu ao estudo da comunicação de massa. Lasswell considera os mass media
como o instrumento fundamental para a formação e a difusão dos símbolos de legitimidade de
um governo.
O modelo de Lasswell foi publicado, em 1948, no famoso artigo “A estrutura e a função
da comunicação na sociedade” (Lasswell, 1985: 51-68). Nesse trabalho, percebe-se a presença
das dominantes concepções behavioristas com suas conhecidas derivações sociobiológicas.
Tais concepções pretendem explicar o comportamento das massas como sendo uma resposta a
determinados estímulos.
2.2. Contexto histórico-científico: as primeiras teorias
É comumente aceito que os pais fundadores do estudo da comunicação de massa são
Harold D. Lasswell, Paul F. Lazarsfeld, Kurt Lewin e Carl Hovland (Schramm, 1982: 3-20;
Statera, 1985: 51-72). No entanto, as primeiras teorias sobre os meios de comunicação não
foram, como observa De Fleur e Ball-Rokeach (1982: 22l), formuladas por nenhum estudioso
da comunicação. Essas teorias receberam distintos nomes: “Teoria da agulha hipodérmica”,
“Teoria da bala mágica”, etc. Tais teorias apontavam que a mídia tinham uma grande influência
sobre a sociedade. Considerava-se que uma sociedade, caracterizada pelo isolamento
psicológico e pela impessoalidade, reagia de maneira uniforme frente aos poderosos estímulos
das mensagens dos meios de comunicação.
Basicamente estas teorias estavam fundamentadas em dois fatos históricos. Em primeiro
lugar, no predomínio do paradigma behaviorista no contexto científico da época. A corrente
behaviorista ou condutista foi criada por J. B. Watson em 1913. Recordemos, brevemente, que
os principais postulados behavioristas são:
a) O uso exclusivo de procedimentos objetivos para a obtenção dos dados. Ou seja, esses devem
ser coletados por observadores independentes em relação ao comportamento estudado.
b) A redução da linguagem psicológica aos termos estímulo e resposta. Os comportamentos são
estudados a partir do mecanismo estímulo-resposta.
c) A ênfase na aprendizagem enquanto processo associativo E-R. Embora inicialmente Watson
tenha reconhecido a importância dos instintos no mecanismo E-R, posteriormente, se centrou
na aprendizagem. Isto é, o comportamento pode ser explicado segundo o modelo E-R a partir
dos estímulos ambientais.
Como aponta Wolf (1987: 28), as ideias behavioristas podiam integrar-se muito bem
com as teorizações da sociedade de massa da época. No início do século XX, a percepção que
se tinha era a de que, com a sociedade de massas, se estava produzindo a impessoalidade das
relações interpessoais e o isolamento psicológico das pessoas. Dessa forma, os indivíduos
constituídos em massas eram facilmente influenciáveis pelos estímulos que recebiam. Por seu
lado, Lasswell (1985: 56) absorve a tendência a psicologia animal ou comparada do
behaviorismo quando afirma: “Os processos de comunicação da sociedade humana, uma vez
examinados detalhadamente, revelam inúmeras equivalências com as funções especializadas
que se encontram no organismo físico e nas sociedades animais inferiores”.
Em segundo lugar, o contexto político do período entreguerras, com o desenvolvimento
do aparelho propagandístico da URSS e da Alemanha nazista, criou uma situação favorável
para pressupor, com base em princípios behavioristas, certos efeitos dos mass media, sem
realizar qualquer investigação empírica. Como apontava Tchakhotine (1985: 156), em 1939:
“Para aqueles que puderam acompanhar a evolução do movimento nazista, os métodos de sua
propaganda e seus efeitos e, ao mesmo tempo, estavam informados sobre a doutrina de Pavlov,
não pôde haver espaço para dúvidas: estávamos na presença de fatos, fundamentados
precisamente em leis, que regem as atividades nervosas superiores dos homens, os reflexos
condicionados”. No período entreguerras, o tema da propaganda política, como veremos a
seguir, é um objeto de máxima preocupação para os estudiosos. A este respeito, deve-se
observar um extenso trabalho que, em 1935, Lasswell realizou, em colaboração, sobre esta
temática: Propaganda and Promotional Activities: An Annotated Bibliography. Além disso, é
importante considerar que neste período consolidaram-se dois grandes meios de comunicação,
o cinema e o rádio, os quais logo se tornaram instrumentos da propaganda política.
Embora a partir de uma perspectiva muito diferente do behaviorismo, na primeira
metade do século XX, a Escola de Frankfurt (Adorno, Benjamin, Horkheimer, Marcuse)
considera os meios de comunicação instrumentos de manipulação massiva. A homogeneidade
dos meios de comunicação de massa provoca mentalidades rígidas e acríticas. Os meios de
comunicação são parte de uma indústria da consciência que impede a mudança social. Como é
possível se perceber, essas ideias estão em sintonia com o clima de opinião da época.
Ainda podemos mencionar um último dado histórico que também é ilustrativo.
Lembremos que, em 1938, foi veiculada em rádio, por Orson Welles, uma versão da novela A
Guerra dos Mundos de H. G. Wells. É conhecido o pânico produzido pelo suposto ataque
marciano aos EUA. Independentemente das análises posteriores (Cantril, 1985), com esse
evento, tornou-se aparentemente manifesta a credulidade das massas e a capacidade de
influência do rádio. Tendo em vista este clima intelectual, político e social, é fácil compreender
o fato dos meios de comunicação terem sido encarados como “um novo tipo de força - um tipo
de sistema nervoso - que alcançava todos os olhos e ouvidos, em uma sociedade caracterizada
por uma organização social amorfa e pela escassez de relações interpessoais” (Katz e
Lazarsfeld, 1979: 18). Ou seja, enfatizava-se a capacidade de manipulação dos meios de
comunicação de massa da época (imprensa, cinema e rádio).
Vejamos um claro exemplo desta percepção sobre o grande poder dos meios de
comunicação. Morris (1962: 263-264) escreveu, em 1946, o seguinte: “Do berço ao túmulo, do
momento em que se levanta até a hora em que vai dormir, o indivíduo hodierno se encontra
cercado por uma interminável rede de sinais, através dos quais outros procuram promover seus
próprios objetivos. Indica-se ao indivíduo em que acreditar, o que deve aprovar ou reprovar, o
que deve fazer ou evitar. Caso o indivíduo não se ponha em guarda, ele se transforma em um
verdadeiro robô manipulado por sinais, passivo em suas crenças, suas apreciações, suas
atividades. Através de sugestão pós-hipnótica pode se conseguir que um indivíduo realize as
ações que lhe são sugeridas, sem que ele se dê conta da procedência das ordens e, por isso,
estando convicto de agir de forma independente. O desenvolvimento do rádio, da imprensa e
do cinema permite a enorme extensão de uma influência que, essencialmente, não difere da
hipnose. As grandes massas repetem, a cada semana, o que já foi elaborado para a sua crença,
compram coisas porque lhes foi mostrado que uma linda garota ou um ‘homem da ciência’
usam tais artigos, executam mecanicamente determinadas ações porque lhes foi assegurada a
necessidade de executá-las. O comportamento se torna, assim, estereotipado, monótono,
compulsivo e patológico”.
2.3. Campo de estudo: a propaganda política
Como já foi dito, o contexto histórico explica o grande interesse pelo estudo da
propaganda política. Embora deve notar-se que tal interesse é uma constante da Mass
Communication Research ao longo de sua história. Também é importante lembrar o importante
desenvolvimento que alcançaram os estudos sobre a opinião pública, Wolf (l987: 34) afirma
que “o contexto socioeconômico que marcou a origem desses estudos (as pesquisa de mercado,
a propaganda, o estado da opinião pública, etc.) enfatizou o papel do sujeito individual, em sua
qualidade de eleitor, cidadão, consumidor”, sendo esta concepção atomística do público a base
da teoria da agulha hipodérmica.
A situação pré-guerra influenciou grandemente os estudos que foram realizados. Isso
pode, claramente, ser percebido, por exemplo, nos artigos publicados pela revista Public
Opinion Quarterly, fundada em 1937. Como aponta Moragas (1981: 32): “[...] entre os vários
temas abordados pela revista, destaca-se grandemente o tema da propaganda política [...]”. A
Mass Communication Research sempre esteve atenta às necessidades do sistema político norte-
americano. Moragas (1981: 35) nota que os objetivos dos pesquisadores da época são dois:
a) A preparação da opinião pública internacional para a entrada dos EUA na Segunda Guerra
Mundial.
b) Os primeiros esforços por desenvolver a moral e o espírito de luta dos soldados norte-
americanos.
A preocupação de Lasswell pelo tema da propaganda política foi claramente observada
em sua bibliografia, a qual já fora exposta. Seu interesse pelo tema da opinião pública pode ser
constatado nas últimas linhas de seu artigo “A estrutura e a função da comunicação na
sociedade”: “Na sociedade, o processo de comunicação revela características especiais quando
o elemento dirigente teme o ambiente, interno ou externo. Para avaliar a eficácia da
comunicação em um determinado contexto, é necessário considerar os valores em jogo, bem
como a identidade do grupo, cuja posição está sendo examinada. Nas sociedades democráticas,
as opções racionais dependem do conhecimento, o qual, por sua vez, depende da comunicação
e, sobretudo, da equivalência de atenção entre líderes, especialistas e leigos” (Lasswell 1985:
68).
2.4. A descrição do modelo
Antes de descrever o modelo de Lasswell, é importante se destacar que a enunciação do
mesmo se desenvolve em pouco mais de uma página. Como aponta Lasswell (1985: 52): “Por
mais atraente que seja elaborar estas categorias em maior detalhe, o presente trabalho tem um
objetivo diferente”. Em seguida, a partir de certas bases sociobiológicas, desenvolve as
clássicas funções da comunicação de massas: 1) a monitorização ou vigilância do ambiente, 2)
a correlação das distintas partes da sociedade em sua resposta ao ambiente, e 3) a transmissão
da herança social de uma geração para a outra. Assim, pode-se notar que o modelo é
quantitativamente a parte menos importante do artigo. Embora, como é sabido, o modelo de
Lasswell não somente teve uma grande influência sobre a pesquisa norte-americana, mas
também sobre uma grande parcela da produção científica mundial acerca da comunicação de
massas.
De acordo com o modelo de Lasswell, para descrever um ato de comunicação, deve-se
responder às seguintes perguntas: Quem, diz o quê, em que canal, para quem e com que efeito?
Para cada uma dessas questões, Lasswell atribuí um determinado tipo de análise:
Quem: análise de controle,
Diz o quê: análise de conteúdo,
Em que canal: análise de meios,
Para quem: análise de audiência,
Com que efeitos: análise de efeitos.
Estamos diante de um modelo basicamente descritivo cuja finalidade é estabelecer os
campos de análise dos atos comunicativos. Lasswell (1985: 51) afirma: “A utilidade dessas
distinções depende inteiramente do grau de refinamento que se considere apropriado para um
determinado objetivo científico ou administrativo”.
2.5. Explicação do modelo
Para que alcancemos o princípio racional que explica a natureza dos fenômenos
incluídos no modelo, é necessário relembrarmos a afiliação behaviorista do mesmo. Arias,
Garcia e Martín Serrano (1981: 107) estabelecem a correlação entre o modelo de Lasswell e os
princípios behavioristas:
a) Um sujeito estimulador (quem) que gera os estímulos buscando determinadas respostas no
sujeito experimental.
b) Certos estímulos comunicativos (o quê) que originam um comportamento comunicativo.
c) Certos instrumentos (em que canal) que tornam possível a aplicação dos estímulos
comunicativos.
d) Um sujeito experimental (a quem) que recebe tais estímulos e que irá reagir de acordo com
esses.
e) A esses estímulos comunicativos correspondem sempre certas respostas (com que efeitos).
Quanto ao mecanismo do modelo de Lasswell, importa lembrar que este autor fala da
descrição de “um ato de comunicação” em comparação com os modelos posteriores que falam
do “processo da comunicação”. Ao invés de uma concepção da comunicação como um
mecanismo dinâmico com seus elementos interrelacionados, Lasswell divide o ato
comunicativo em cinco partes de estudo. Embora esta segmentação em compartimentos
estanques, ocasionalmente, permita algumas especificações, Lasswell (1985: 52) observa a este
respeito: “Muitas vezes, é mais simples combinar a análise de audiência com a de efeito, por
exemplo, que mantê-las separadas. Por outro lado, pode ser que o interesse seja em concentrar-
se na análise de conteúdo e, para este fim, subdividir o campo em duas áreas distintas: o estudo
dos dados, com foco na mensagem, e o estudo do estilo, focalizando a organização dos
elementos que compõem a mensagem”.
As funções que desempenham o modelo de Lasswell são as de descrever o ato
comunicativo e, principalmente, desenvolver a investigação.
Mauro Wolf (1987: 31) assinalou, acerca do modelo de Lasswell, que: “A fórmula (que
se desenvolve a partir da tradição de análise típica da teoria hipodérmica) realmente corrobora,
implicitamente, um postulado muito importante, o qual a bullet theory afirmava explicitamente
na descrição da sociedade de massas, a saber: o postulado de que a iniciativa é exclusivamente
do comunicador e de que os efeitos são exclusivamente sobre o público”. Para esse autor, o
modelo de Lasswell é a ponte entre as primeiras teorias sobre a influência dos meios de
comunicação (teoria da agulha hipodérmica) e as teorias subsequentes que superaram àquelas
que lhes eram precedentes.
2.6. Vantagens e limitações do modelo
É inegável a importância do modelo de Lasswell não somente no campo da Mass
Communication Research, mas na pesquisa de comunicação a nível mundial.
Para Moragas (1981: 43) a grande virtude do modelo é que ele alcançou uma primeira
e necessária delimitação dos componentes do processo comunicativo, o que significou a
estabilização teórica da pesquisa em comunicação. O modelo de Lasswell serviu de guia para
diversos trabalhos.
A comunidade científica o aceitou e o considerou um modelo adequado para a descrição
do ato comunicativo, que permitia ordenar os elementos essenciais da comunicação. Importa
considerar que este modelo atende às necessidades industriais de orientar o consumo e às
políticas de estudo dos efeitos da propaganda. Devemos lembrar que Lasswell foi, basicamente,
um estudioso da ciência política.
Mas o modelo de Lasswell sobreviveu para além do contexto histórico em que ele
apareceu. Como observa Mauro Wolf (1987: 32): “se, de um lado, o esquema manifesta
abertamente o período histórico em que surgiu e os interesses cognoscitivos a partir dos quais
foi elaborado, de outro, continua sendo surpreendente sua resistência, sua sobrevivência, de
alguma forma ainda atual, como esquema analítico 'adequado' para uma investigação que se
desenvolveu amplamente em contraposição à teoria hipodérmica que lhe deu início”.
Outra vantagem do modelo de Lasswell é que mediante uma fórmula simples, como a
denominam McQuail e Windhal (1984: 45), se estruturam os possíveis estudos da comunicação
e seus respectivos campos de investigação. Tal modelo sugere, implicitamente, um tipo de
análise pluridisciplinar.
No entanto, o modelo de Lasswell tem recebido frequentes críticas. Moragas (1981: 43)
enfatiza as implicações desagregadoras desse modelo, tendo em vista que ele não estabelece as
interrelações entre as distintas perguntas que o integram. Isso resulta em um estudo
compartimentado do processo comunicativo. Dessa forma, eram estudadas as questões acerca
da produção independentemente da recepção e vice-versa.
Por outro lado, importa assinalar que o modelo de Lasswell contribuiu, principalmente,
no desenvolvimento dos estudos sobre os efeitos. Nesse sentido, cabe lembrar o interesse do
autor pelo estudo da propaganda política e da comunicação política. Embora, como afirma
Bisky (1982: 44), a fórmula Lasswell descura as questões sociais mais importantes.
Para Montero (1987: 41-42): “A diferença, proposta por Lasswell em seu paradigma da
comunicação, entre o estudo do conteúdo e estudo dos efeitos tendia a fazer com que os
estudiosos do impacto da comunicação sobre a sociedade partissem implicitamente do
pressuposto de que o conteúdo da informação era neutro. Ou seja, o interesse se centrava quase
exclusivamente na circulação e no impacto da informação na sociedade”.
Moragas (1981: 43) também aponta como um problema do modelo o fato desse
extrapolar à comunicação massiva um esquema que corresponde a comunicação interpessoal.
Klapper (1974: 5) critica a simplicidade do modelo de Lasswell, uma vez que esse não
dá conta da multiplicidade de variáveis que intervém no processo comunicativo: “[...] diversos
aspectos da organização contextual; a imagem que o público tem das fontes; o simples
transcurso do tempo [...]”. De fato, o que tem sido criticado é o ponto central do modelo de
Lasswell, que é sua concepção behaviorista, imperante à época, dos processos da comunicação
de massas. Desta critica, pode-se destacar os seguintes pontos:
1) Concepção teleológica da comunicação. A comunicação tem por objetivo produzir
um efeito sobre o receptor. Daí se deduz a intenção manipuladora do emissor.
2) Prepotência do emissor. O processo comunicativo é assimétrico. Todo o poder está
no polo emissor. O emissor, visto como essencialmente ativo, transmite um estímulo que é
recebido por uma massa, a qual reage àquele estímulo de forma homogênea.
3) Impotência do receptor. A imagem que se tem dos receptores da comunicação de
massas é a de uma massa homogênea e indiferenciada de indivíduos psicologicamente isolados
e passivos que não têm capacidade de resposta autônoma frente às mensagens dos mass media.
Também tem sido criticado o caráter unidirecional do modelo de Lasswell, seja ele
aplicado à comunicação interpessoal ou massiva. A omissão do feedback é considerada uma
carência do referido modelo.
Para Moragas (1981: 44), a crise do modelo de Lasswell “[...] nasce dos novos
pressupostos estabelecidos pela linguística, ou mais amplamente pela semiótica, os quais
superam o esquema da linguística behaviorista que, de fato, está na base da abordagem de
Lasswell. Refiro-me, especificamente, às abordagens da semiótica moderna, que não coincidem
com o modelo de Lasswell, o qual, por exemplo, entende a mensagem e o receptor como
entidades separadas e independentes”.
***
Referências
ALSINA, Miquel Rodrigo. Los modelos de la comunicación. 2. ed. Madrid: Tecnos, 2007, pp.
35-42 (Tradução: Welkson Pires)