encontro nacional de pesquisa em comunicação e ... - uel.br processos de... · análise a teoria...
TRANSCRIPT
1
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Os processos de comunicação em um espetáculo de dança: HQ1
Wagner Rosa2
Patrícia Cristina Ramos Santana3
Resumo: Este artigo tem como objetivo estudar, de forma sucinta, o espetáculo HQ, do
grupo Ballezinho de Londrina4, a fim de apontar como se deu, naquela obra, a
transposição da linguagem estática das Histórias em Quadrinhos para a linguagem
cênica da dança, buscando identificar os processos de comunicação instaurados entre
estes dois universos e o público receptor. Para tanto, utilizou-se como instrumento de
análise a teoria da comunicação de Harold Lasswell e a perspectiva metodológica da
Crítica Genética, que nos possibilita acessar o processo criativo do autor a partir dos
registros e materiais produzidos. O espetáculo HQ possui uma proposta cuja temática é
comunicar não somente por meio de uma reprodução mecânica das “historinhas” que
caracterizam a linguagem de inspiração, mas transpor aquele universo para o contexto
cênico, e, no percurso, prestar uma homenagem à própria história daquela arte, a seus
principais autores e personagens. Em linhas gerais, pode-se dizer que o grupo
Ballezinho de Londrina conseguiu realizar aquilo a que se propôs: a transposição das
imagens estáticas impressas nas páginas das revistas para uma linguagem de
movimentos cênicos, apropriando-se de recursos característicos da primeira linguagem e
conduzindo o público a sentir-se dentro das páginas, e conhecer um pouco mais sobre o
universo das HQs.
Palavras-chave: Comunicação; Dança; HQ; Crítica Genética; Ballezinho de Londrina.
Abstract: This article aims to study, succinctly, the spectacle HQ, from the ballet group
Ballezinho de Londrina, with the intention to show how the transposition from the
comic books static language to the scenic language of the dance happened, in that
particular play, seeking to identify the communicational processes placed between this
two universes and the audience. For such, Lasswell's model of communication, and the
methodological perspective of the Genetic Criticism have been used as an analysis tool,
which allow us to access the author's creative process, from the produced records and
materials. The spectacle HQ has a proposal whose theme is to communicate not only
through mechanical reproduction of the comic books, that characterize it's inspirational
1 Trabalho apresentado no GT 4- Abordagens Analíticas em Comunicação Visual, do Encontro Nacional
de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI. 2Professor colaborador na Faculdade de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Doutorando no
Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem na Universidade Estadual de Londrina (UEL)
[email protected] 3 Graduada no Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, da Faculdade Pitágoras, unidade Londrina.
E-mail: [email protected] 4 O Ballezinho de Londrina é um núcleo de trabalho artístico surgido nos processos de formação profissional
continuada em dança da Funcart – Fundação Cultura Artística de Londrina. Foi formado com o objetivo de
complementação da formação acadêmica e a ampliação de experiências de seus componentes. O grupo constitui uma
instância intermediária entre as atividades essencialmente de formação, desenvolvidas pela Escola Municipal de
Dança de Londrina e o trabalho de produção profissional do Balé de Londrina. A linguagem desenvolvida é fruto de
longo e intenso trabalho na busca contínua em associar a dança clássica a novas possibilidades de arte em
movimento, suas interconexões com o espaço e o som.
2
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
language, but to transpose that universe into a scenic context, and throughout that
journey, pay homage to the history of comic books, it's main authors and characters. In
general lines it can be said that Ballezinho de Londrina managed to accomplish what it
had set: the transposition of the static images printed on the comic book pages into a
language of scenic movements, using things that are characteristic to comics while
making the audience feel like they are inside the pages of a comic book, getting them to
know a little more about the world of comics.
Keywords: Communication, Dance, HQ; Genetic Criticism; Ballezinho de Londrina.
Introdução
A dança é uma linguagem de natureza expressiva e comunicativa. Cada
movimento dos bailarinos/artistas em cena tem a potencialidade de se tornar um diálogo
no palco e, associada a outros elementos, tais como a música, figurinos, cenário etc., a
linguagem artística ali produzida tem a possibilidade de comunicar ao público uma
mensagem, seja no campo da cognição ou da emoção. Segundo Siqueira (2006, p.8)
“[...] o significado é construído com o público por intermédio de uma interação entre
sujeitos comunicativos, uma vez que grande parte das peças é de caráter abstrato, não
narrativo”.
Parte-se desta premissa para analisar os processos comunicativos
instaurados no espetáculo HQ, produzido pelo grupo Ballezinho de Londrina, cuja
temática é inspirada nas tradicionais histórias em quadrinhos.
HQ é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objetivo de
narrar histórias dos mais variados gêneros e estilos. A ideia é homenagear
esta forma de expressão por meio de referências aos seus mais relevantes
personagens (e, consequentemente, seus artistas criadores). (YOUTUBE,
2013).
O espetáculo, concebido e dirigido por Wagner Rosa, foi construído (da
idealização à realização) ao longo de um período de aproximadamente um ano. A
estreia aconteceu no dia 8 de setembro de 2012, no Circo Teatro Funcart, com
reapresentações no Teatro
Zaqueu de Melo, em Londrina, e no Teatro Municipal de Paranavaí, no
mesmo ano, e, em 2013, com nova temporada no Circo Teatro Funcart.
3
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Tal espetáculo servirá como objeto de análise deste trabalho, a fim de
investigar, através de materiais produzidos para a construção dele, como se deu a
transposição da linguagem estática dos quadrinhos para a linguagem cênica da dança, e
os processos de comunicação instaurados entre estes dois universos e o público
receptor.
Comunicação
O campo da comunicação é uma área de estudo e de práticas
fundamentalmente transdisciplinar, que abarca metodologias, objetos e referenciais
teóricos organizados em diversos outros campos. A pluralidade de possibilidades
enriquece, ao mesmo tempo em que dificulta, a pesquisa: trata-se de uma área que
requer um olhar complexo, que busque enxergar o todo, sem deixar de tentar entender
cada parte que compõe o fenômeno comunicacional. (SIQUEIRA, 2006, p.3)
Dentro do panorama das correntes teóricas do pensamento da
comunicação, baseamos-nos na teoria de Harold Lasswell como norteador de nossas
proposições. Para fundamentar sua teoria, Lasswell apoia-se na Arte Retórica de
Aristóteles, a mais conhecida e citada caracterização do processo de comunicação. Para
esse filósofo grego, pelo recurso à “arte da palavra artificial”, comunicar significa
persuadir. Em tal processo, há uma “pessoa que fala”, que pronuncia o discuro (quem);
dizendo alguma coisa (o que); que se dirige a alguém que “a ouve” (a quem). Este é,
portanto, o paradigma clássico da Comunicação. (POLISTCHUK; TRINTA, 2003,
p.88).
A “comunicação das ideias” proposta por Lasswell é concebida a partir
de sua pretensão em determinar a “estrutura e a função da Comunicação na sociedade”.
Para tal, retomou e expandiu o modelo retórico de Aristóteles. Se o filósofo grego havia
identificado o quem, o o quê e o a quem, a Lasswell coube acrescentar o por que meio
(como) e o com que efeitos (para quê). O ato de comunicação passou, assim, a ser
descrito como uma sequência interrogativa: Quem diz o quê, por que meio, a quem e
com que efeitos?
4
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Apesar de o contexto teórico em que Lasswell se situava ser definido
pelo ímpeto da comunicação política e da comunicação publicitária, essa teoria é
possível de ser aplicada em nossa pesquisa por centrar-se em uma ou outra das
perguntas pressupostas pelo modelo teórico. Estudar o quem é ocupar-se do
comunicador e das circunstâncias em que ele dá a partida e dirige tal processo – o que
se aplica à busca pela resposta dos nossos objetivos neste trabalho.
Crítica Genética
Tendo seu início com os manuscritos literários, e rapidamente ampliando
suas fronteiras para as mais distintas linguagens artísticas, a Crítica Genética estuda o
percurso criativo do artista, fazendo um processo de desmontagem e remontagem da
obra, observando materiais utilizados, ou não, ao longo do percurso. Tal processo apoia-
se no manuscrito – termo inicialmente empregado nos estudos literários para definir o
material não-publicado, composto por rascunhos, anotações, observações, diários,
mostra de materiais etc.
De acordo com Salles (1992, p.26), a Crítica Genética refaz, com o
material que possui, as etapas sucessivas da gênese de uma obra e os mecanismos que a
sustentam, tratando-se, portanto, de uma abordagem objetiva e científica do material
analisado, com a intenção de reconstituir e compreender o processo de sua construção.
O crítico genético busca, assim, dimensionar as “peças do quebra-
cabeça” e investigar os possíveis motivos que levaram o autor a utilizá-las ou não,
desvendando as pistas deixadas e tentando compreender a essência da obra. É sua
função, também, perceber os obstáculos enfrentados pelo autor/criador e os critérios que
regeram suas opções.
Salles (1992) postula que:
A Crítica Genética procura, portanto, compreender e explicar a ação, já que
convive com a continuidade e duração da gênese: planos, dúvidas, anotações,
idéias tomando corpo, sentenças se modificando, textos se formando,
angústias e prazeres. [...] as peças do mecanismo em ação, podem ser
isoladas para efeito de análise, mas devem ser colocadas de volta no
movimento da criação para que o pesquisador seja fiel a essa marcante
característica de seu objeto de estudo. Em outras palavras, ao separar este ou
5
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
aquele elemento, não se pode perder a noção do movimento do todo em que
ele se insere. (SALLES, 1992, p. 37-38).
Para a realização dos estudos em Crítica Genética e, principalmente, sua
validação enquanto ciência, Salles (1992) aponta um percurso metodológico mais ou
menos estável, variável em função da diversidade de linguagens artísticas passíveis de
estudo e da infinita possibilidade de emprego dessas linguagens; além das
características únicas dos artistas/criadores com suas particularidades e idiossincrasias
que os distinguem entre si.
Para que possa realizar o trabalho com eficiência, é fundamental o
pesquisador tornar-se, minimamente, proficiente nas linguagens artísticas empregadas
para a construção da obra a ser analisada. Em seguida, deve realizar uma rigorosa coleta
e organização dos materiais utilizados na construção do objeto artístico. A essa
organização crítica dos documentos dá-se o nome de Prototexto, que é, por assim dizer,
“a reconstituição do que precedeu um texto, estabelecida por um crítico com a ajuda de
um método científico”. (NOEL apud SALLES 1992, p. 53). Salienta-se que a natureza
do Prototexto, diferentemente da simples organização dos materiais, trata-se de
estabelecer e, principalmente, explorar tais materiais em um processo analítico e
interpretativo.
Estando de posse desse material, o geneticista se expõe a um labirinto
criativo e o observa. O próprio manuscrito serve de norteador para as possíveis
interpretações que dele serão feitas. O pesquisador lida com a busca por compreensão
da materialização do processo ao analisar os passos concretos que o artista deu em
direção à sua obra. Desse modo, a Crítica Genética oferece a possibilidade de se fazer
uma investigação de caráter indutivo sobre o processo de criação.
Deve-se buscar, finalmente, por meio do confronto entre determinado
fragmento e a obra acabada, o diálogo do autor com sua obra. Este ir e vir constante
possibilita ao pesquisador produzir reflexões acerca do funcionamento daquele
mecanismo criativo e reconstruir seus possíveis caminhos sem perder o foco da
trajetória do artista. Estabelecer deduções acerca dos fatos que a constituíram através de
um processo indutivo conduzido pela materialidade das pistas deixadas.
6
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Esta metodologia será aplicada na análise do espetáculo HQ do
Ballezinho de Londrina a fim de entender como de deu a comunicação através do
processo criativo.
A Linguagem das Histórias em Quadrinhos
As Histórias em Quadrinhos se configuram como imagens pictóricas e
outros tipos imagéticos justapostos em sequência deliberada. (McCLOUD, 2002). Para
além das ilustrações, temos, nesta linguagem, distintas “imagens” presentes, tal como a
verbal, que assume um caráter pictórico, neste ambiente. A justaposição se dá pela sua
característica sequencial: não se trata apenas de uma colagem de linguagens – na
verdade, as relações de sinergia entre estas várias linguagens é que se torna, na
linguagem das Histórias em Quadrinhos, mais importante do que as próprias linguagens
originais em si. Neste sentido, podemos afirmar que as Histórias em Quadrinhos são um
importante veículo de integração de múltiplos recursos comunicativos, revelando grande
potencial expressivo e possibilitando a construção de diversas narrativas (OLIVEIRA,
2012).
Fazendo uso de recursos como o desenho, as linhas, as cores, o texto etc.,
as Histórias em Quadrinhos conseguem extrapolar o papel, garantindo assim a
elaboração das narrativas. Nelas, a utilização do espaço é um importante recurso para
sua composição. Constroem-se em sequência, com os quadros ocupando espaços
diferentes no papel. A transição entre os quadros se revela fator decisivo para garantir a
composição da narrativa. Essa transição pode se dar de várias maneiras, desde uma
representação de cada pequena mudança nas cenas, ou nos movimentos, até longas
alterações de tempo, espaço, aspecto, ideias e sentidos. Cada escolha na forma de
apresentar o transcorrer dos quadros resultará em efeitos diferentes. Para gerar efeito de
sentido, não apresenta todos os enquadramentos num fluxo contínuo, mas revela, em
poucos elementos, o essencial para que o leitor, por meio de sua imaginação, complete
os quadros.
7
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Outro recurso utilizado nesta linguagem, e que contribui para sua
eficiência comunicativa, é a forma dos quadros. (OLIVEIRA, 2012). De acordo com
McCloud (2002), ao revelar-se como um indicador da divisão do tempo e do espaço, o
quadro (vinheta) é o ícone de maior relevância. Ao mover os olhos pelo espaço da
página, o leitor tem a sensação de se mover no tempo. A forma dos quadros - ou até a
ausência destes - influenciará a experiência da leitura. Dentre muitas possibilidades
interpretativas podemos citar, a título de exemplo, um quadro sem contorno, que pode
dar mais leveza ou agilidade à leitura, enquanto uma imagem que extrapola os espaços
pode intensificar a dramaticidade de uma cena (OLIVEIRA, 2012).
Dos Quadrinhos à Cena: os processos de comunicação em HQ
Figura 1 - Banner de apresentação HQ
Fonte: Acervo pessoal do diretor
Sob a direção de Wagner Rosa, o espetáculo HQ foi produzido pelo
grupo Ballezinho de Londrina, no ano de 2012, com o intuito de trazer as páginas dos
quadrinhos para o contexto de um espetáculo de dança, de forma a comunicar, não só
por meio de uma reprodução mecânica das “historinhas” da linguagem de inspiração,
mas buscando transpor aquela para o contexto cênico, e, no percurso, prestar uma
homenagem à própria história das Histórias em Quadrinhos e a seus principais autores e
personagens.
8
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Considerando-se a teoria de Laswell, percebemos que o Ballezinho de
Londrina produz efeitos de comunicação ao público por meio de uma transposição de
linguagens. Há, em nosso entender, uma “transmutação de formas” que possibilita o
reconhecimento, por parte do público, dos ícones da primeira linguagem subsidiando a
temática da segunda, além da referência que se faz aos autores, as suas personagens e
aos gêneros oriundos da primeira. Situa também a plateia em relação aos possíveis
leitores das Histórias em Quadrinhos, transformados em artistas em cena, que são,
também, transmutados de leitores para autores (construtores) e personagens em cena.
Ao chegar ao Teatro, o público passa a ter uma aproximação com a
temática do espetáculo por meio de uma exposição de banners como mostram as figuras
2 e 3, os quais contam as partes da história das Histórias em Quadrinhos tal como
utilizados no espetáculo, subdivididas por gêneros. Esta primeira aproximação situa o
espectador acerca da temática e do contexto que envolvem o espetáculo que verão a
seguir.
Figura 2 – Gêneros da história em quadrinhos
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor
9
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Figura 3 – Outros banners que faziam parte da “recepção” dos espectadores do espetáculo.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor
Num segundo momento, ao se acomodar nas poltronas, o público é
conduzido a uma “imersão” num ambiente que, mais uma vez, busca aproximar o
espectador da linguagem dos quadrinhos, ao ser colocado em contato com cartazes cujas
escritas são onomatopeias características desta linguagem. (Figuras 4 e 5).
Figura 4 - Banners com onomatopeias.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor
10
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Figura 5 – Outros banners com onomatopeias.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor
Ao se iniciar o espetáculo propriamente dito, há a projeção de um vídeo
que mostra os principais quadrinistas da História das HQs. Autores e personagens
surgem na tela em ordem cronológica, a partir das origens desta linguagem até os dias
atuais. Na sequência, os atores/bailarinos figuram o que podemos associar a “leitores”
de HQs (Figura 6), em gestuais que remetem a “posições físicas” e aspectos
idiossincráticos de relacionamento do homem com a HQ.
Figura 6 – Leitores
Autor: desconhecido. Fonte: Acervo pessoal do diretor
11
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Na sequência, os artistas/bailarinos assumem, também, a condição de
“construtores” de Histórias em Quadrinhos ao vivo, movimentando objetos em cena
como se a estivessem desenhando. Como consequência, há uma perceptível
transformação em que a linguagem estática das páginas vai sendo materializada, em
cena, em HQs vivas (Figura 7), por meio de uma ressignificação iconográfica
relacionada à temática, e, principalmente aos gêneros que a constituem no espetáculo:
infantil, aventura, heróis, super-heróis e mangás, além das principais personagens que
transitam por cada um desses.
Figura 7 - Personagens
Autor: Valéria Felix. Fonte: Acervo pessoal do diretor.
Para tanto, percebemos um amplo uso de recursos iconográficos
relacionados à forma: biombos (Figuras 8 a 12) e elásticos (Figura 13), fazem as vezes
dos quadrinhos, suas calhas e bordas, com o aspecto dos quadrados e retângulos que
constituem a linguagem das HQS.
12
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Figura 8 – Esboço da cena 1.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor
Figura 9 – Esboço da cena 3.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor.
Figura 10 - Esboço da cena 6.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor.
13
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Figura 11 – Esboço da cena 7.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor.
Figura 12 – Esboço da cena final.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor.
Figura 13 - Quadrinhos em cena, produzidos por biombos e elásticos.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor.
14
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Notoriamente há também, como recurso, o uso da imagem congelada,
que sugere uma transposição de tempo e espaço como mostra a figura 14, característica
da linguagem estática dos quadrinhos e que, em cena, comunicava de forma coesa a
situação cênica e sua fonte/origem.
Figura 14 - Sequência de imagens estáticas mimetizando a linguagem das Histórias em
Quadrinhos.
Autor: Wagner Rosa. Fonte: Acervo pessoal do diretor.
Outras características que acentuadamente contribuíram para a
transposição entre as linguagens foram os figurinos e acessórios desenvolvidos para o
espetáculo (Figuras 15, 16, 17 e 18). Na busca de uma representação clara, foi realizada
uma pesquisa a fim de se identificar ícones representativos dos gêneros dos quadrinhos,
buscando as principais características de cada um.
15
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Figura 16 - Gênero Aventura.
Fonte: Acervo pessoal do diretor
Figura 15 - Personagens infantis
Fonte: Acervo pessoal do diretor
Figura 18 – Super-Heróis.
Fonte: Acervo pessoal do diretor.
Figura 17 - Gênero Mangá
Fonte: Acervo pessoal do diretor.
16
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Juntamente com os figurinos e acessórios, as coreografias foram
desenvolvidas através do estudo do gestual das personagens das HQs, buscando
identificar, a partir de imagens estáticas, características que permitissem reproduzir os
trejeitos de cada uma delas, e manifestar cenicamente formas de se movimentar e
comunicar que caracterizassem efetivamente cada um dos personagens trazidos à cena.
Também a iluminação serviu de suporte para tornar o espetáculo mais
comunicativo, pensada e executada de forma a contribuir para criar atmosferas que
complementavam os aspectos cenográficos desejados, e direcionando, inclusive, o olhar
do público para aquilo que efetivamente se desejava comunicar a cada instante do
espetáculo, conduzindo-o a captar exatamente, a cada cena, a mensagem que se
desejava passar.
A trilha sonora, em HQ, também foi utilizada de forma a complementar
os aspectos comunicativos da cena. Cada sequência musical se encaixava rítmica e
melodicamente às características emocionais propostas para cada cena. Desta forma o
público, além da recepção visual, mantinha-se imerso ao universo lúdico proposto. Por
vezes, a trilha constituía um cenário sonoro, além de conduzir o ritmo do espetáculo
como um todo, por meio da sucessão de sons e silêncios que conduziam os bailarinos
em cena.
Considerações Finais
Estabelecer deduções acerca dos fatos que constituíram o espetáculo
através de um processo indutivo conduzido pela materialidade das pistas deixadas – esta
é uma das premissas básicas da Crítica Genética, na qual nos inspiramos para a
elaboração do presente texto. Esse esforço só foi possível em razão da coleta de
materiais, que nos permitiram reconstituir, mesmo que minimamente, os passos
criativos realizados pelo grupo, com o intuito de homenagear uma forma de arte e
expressão por meio de outra, ou seja, pela transposição de linguagens artísticas.
Materiais outros poderiam ter sido aqui analisados, entretanto, os limites de espaço e
tempo nos impelem a focar nos elementos apresentados.
17
Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI
24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR
Considerando Lasswell e sua teoria, pode-se dizer que o grupo
Ballezinho de Londrina conseguiu fazer aquilo a que se propôs: a transposição das
imagens estáticas impressas nas páginas das Histórias em Quadrinhos para uma
linguagem de movimentos cênicos, característica essencial da Dança, apropriando-se de
recursos característicos da primeira linguagem e conduzindo o público a sentir-se dentro
das páginas, e a conhecer um pouco mais sobre o universo das HQs.
Referências bibliográficas
McCLOUD, Scott. Desvendando Quadrinhos. São Paulo: M. Books, 2ª ed., 2002.
OLIVEIRA, Maria Cristina Xavier de. Histórias em Quadrinhos e suas Múltiplas
Linguagens. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/crioula/article/view/52719,
obtido em: 21 ago 2013.
SALLES, Cecília Almeida. Crítica Genética: fundamentos dos estudos genéticos sobre
o processo de criação artística. 3ª Ed. revisada. São Paulo: EDUC, 2008.
SIQUEIRA, Denise da Costa Oliveira. Corpo, Comunicação e Cultura: A dança
contemporânea em cena. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.
YOUTUBE: Ballezinho de Londrina: Temporada 2013 HQ. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=slHiv_QbB0Y>. Acesso em: 20 jun. 2013.