o misterio da estrada da praia
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narrativa criada pelos alunos do 9º D do Agrupamento de Escolas de Montenegro, no ano lectivo 2010/2011TRANSCRIPT
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Numa noite escura, junto à
rotunda do aeroporto de Faro,
alguns adolescentes procuram
ansiosamente pistas que lhes
permitirão descobrir um valioso
tesouro.
Julgam-se sozinhos, mas alguém
está a vigiá-los...
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O Mistério da Estrada da Praia
AUTORES (9º D):
Ana Soares
Beatriz Mestre
Bernardo Brito
Bruno Mendonça
Carlos Fonseca
Denisa Craciun
Filipa Guerreiro
Francisco Sebastião
Inês Guerreiro
Ioan Risnoveanu
Joana Soares
João Modesto
João Rodrigues
Maria Vilhena
Marina Nãstãsutã
Matheus Rocha
Mickael Morgado
Miguel Santos
Nuno Pires
Soraia Pereira
Vítor Martins
Daniela Vicente
COORDENAÇÃO:
Ana Ribeiro
Ano Lectivo 2010/2011
Escola EBI/JI de Montenegro
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“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
Fernando Pessoa
É desejo de qualquer professor de Língua Portuguesa incutir nos seus
alunos o prazer pela leitura e pela escrita. Eu não fujo à regra e há muito que
alimento o sonho de criar leitores e (quem sabe...?) escritores entre os meus
alunos. Desse sonho nasceu O Mistério da Estrada da Praia.
Tudo começou sob a forma de um desafio: inspirados no mano a mano de
Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, de que resultou O Mistério da Estrada de Sintra,
os alunos teriam de escrever uma narrativa protagonizada por eles próprios, onde
o mistério fosse o principal ingrediente.
A receptividade foi imediata e depois da leitura do primeiro capítulo, escrito
por mim, formaram-se grupos e os alunos puseram mãos à obra, escrevendo cada
grupo na sua vez. E assim, de mão em mão, a história foi crescendo, capítulo a
capítulo.
Porque cada grupo conduzia a história como bem entendia, a certa altura a
imaginação traduziu-se em alguma descoordenação. Com o entusiasmo de criar
uma história verdadeiramente misteriosa, multiplicavam-se as peripécias e o
desfecho parecia cada vez mais distante.
Mas, no final, o objectivo foi alcançado e o resultado deste sonho feito obra
está aqui para que todos o possam apreciar.
ANA RIBEIRO
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I
Sr. Redactor do jornal O Camaleão:
Venho pôr nas suas mãos a narração de um caso verdadeiramente
extraordinário, em que intervim como testemunha, pedindo-lhe que, pelo modo
que entender mais adequado, publique no seu jornal a substância, pelo menos, do
que vou expor.
Os acontecimentos a que me refiro são tão graves, cerca-os um tal mistério
que a divulgação do que testemunhei será, sem dúvida, importante para o
desvendar de um drama que suponho terrível, embora não conheça dele senão um
só acto e ignore inteiramente quais foram as cenas precedentes e quais venham a
ser as últimas.
Há três dias vinha eu a passar junto à rotunda do aeroporto, quando vi dois
rapazes a olhar atentamente para uma das esculturas expostas na rotunda. Era
noite e a escuridão impediu-me de ver os seus rostos. Pude aperceber-me, no
entanto, que um era alto e muito moreno. O outro, bastante mais baixo, parecia
inquieto. Olhava constantemente para o telemóvel. A dada altura, o telefone deste
tocou e de tudo o que disse com a sua voz rouca apenas consegui perceber
qualquer coisa como «Mestre, tens de vir ver isto!». Na tentativa de ver e ouvir
melhor, aproximei-me sem que ninguém me visse e pus-me à espreita. Os dois
rapazes continuavam a olhar insistentemente para a escultura.
Entretanto, surgiu uma rapariga de cabelo aloirado. Ao aproximar-se da
rotunda, assustou-se e gritou:
- Oh não!
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II
Os rapazes olharam para trás e ela estava apavorada. Perguntaram o que se
passava. Ela afirmou ter visto um vulto por trás do mais alto, mas que
desaparecera em seguida.
Entretanto, chegou um rapaz de estatura média, magro, cabelo castanho e
espetado, pelo que me pareceu seria o Mestre.
Chamou o mais alto. Ele perguntou quem era ela e porque estava assim. O
mais alto explicou tudo o que acontecera.
Logo depois, o mais pequeno, em voz alta, disse:
- É a maldição do tesouro.
Os outros dois mandaram-no falar baixo.
O que chegara há pouco exclamou:
- Qual maldição qual quê! Os espíritos não existem! Não é uma historiazinha
de fantasmas que as pessoas inventam que me vai impedir de encontrar o tesouro.
A rapariga a soluçar disse:
- Essa história não é inventada, é pura realidade.
Eu próprio conheço a história, pensei eu. É muito conhecida entre as
pessoas, é a história de uma velha bruxa que viveu aqui perto da estrada numa
casa branca há mais ou menos cinquenta anos. As pessoas de mais idade que vivem
ali perto afirmam que ela tinha herdado um tesouro muito valioso. Dizem que ela,
antes de morrer, o escondeu algures perto da estrada e lançou um feitiço para que
o seu espírito o protegesse. Por baixo de uma estátua da rotunda está escondida
uma das pistas que levavam até o mapa do tesouro.
(Nuno Pires e Vítor Martins)
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III
Com a curiosidade de descobrir o que se estava a passar, no dia seguinte
voltei ao local. Qual foi o meu espanto quando vi lá duas raparigas, de alturas
diferentes em que uma tinha o cabelo castanho e comprido e a outra tinha o cabelo
castanho bastante mais curto. Vinham com ar de quem tinha saído da manicure há
pouquíssimo tempo.
Andavam as duas a passear por ali, quando decidiram fazer corta-mato
através da rotunda para chegarem ao outro lado da estrada. Iam muito animadas a
falar e a rir bastante alto, quando uma tropeça numa estátua e grita:
- ‘MIGA! Ajuda-me! Parti a minha unha de gel!
Quando estavam as duas raparigas debruçadas à procura da unha, a mais
pequena repara num papel que estava debaixo de uma das estátuas. Com um ar
curioso pegou nesse papel e foi mostrá-lo à sua amiga que continuava furiosa por
ter partido a sua unha. Ficaram as duas intrigadas com tal situação. Guardaram
imediatamente o misterioso papel dentro da mala.
A mais pequena aconselhou a sua amiga, já recuperada da perda da sua
unha, a ligar a alguém. Pelo que percebi era um indivíduo conhecido por “Cagaita”.
Ambas continuaram o seu caminho e eu fui dar uma volta pelas redondezas.
Meia hora mais tarde, quando estava de regresso a casa, passei novamente pelo
local e encontrei as mesmas raparigas e um rapaz com algo perto da sobrancelha.
(Beatriz Mestre e Joana Soares)
IV
Vi outra vez, então, dois rapazes caminhando à beira da estrada meio
embriagados. Pelo que eu vi não diziam coisa com coisa, apenas emitiam uns sons
esquisitos imitando vacas.
- UUUUUUUUUUUUUHHHHHHHHHH.
De repente, ao estar a observá-los, reparei num vulto atrás deles que tinha
algo perto da sobrancelha e dizia:
- Bruno e Brito, eu sou a assombração do Cagaita.
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O vulto tentou agarrá-los, mas eles puxaram-no e desmascararam-no. Afinal,
era o Cagaita que apenas queria que eles se fossem embora. Explicou-lhes que os
espíritos que guardavam o tesouro matavam quem se intrometesse.
Então, o Cagaita disse:
- Por favor, vão-se embora!
- Nós vamos, mas para a próxima tem cuidado. - disseram o Bruno e o Brito
apontando uma arma à cabeça do Cagaita.
Ele explicou que estava apenas tentar proteger o tesouro da família e que
pensava que eles iriam roubá-lo.
De seguida apareceu um grupo de rapazes com mau aspecto. Pelo que me
apercebi, o Bruno e o Brito conheciam-nos, pois cumprimentaram-se e começaram
a falar num tom de voz baixo e, por isso, não consegui entender o que diziam.
(Bruno Mendonça e Bernardo Brito)
V
Mais tarde, do outro lado da rotunda, os dois rapazes que no dia anterior
tinham estado a olhar para as esculturas e aquele que aparentava ser o seu Mestre
decidiram, pelo que ouvi, aniquilar todos os que tinham conhecimento do tesouro
e, para não sujarem as suas mãos, recorreram à ajuda de um tal de “Marroquino”
que apareceu logo de seguida.
Este decidiu aniquilar primeiro as duas raparigas e levou-as para as
traseiras da bomba de gasolina e nunca mais as vi.
Entretanto, os dois rapazes e o Mestre ficaram a conversar com o Brito e
com o Bruno, e pareceu-me que estavam a negociar alguma coisa, talvez o tesouro.
No final da conversa, apertaram as mãos em jeito de acordo.
Logo a seguir, avistei o tal de Marroquino que regressava sozinho da bomba
de gasolina e trazia nas suas mãos o papel que as raparigas tinham achado. Vi o
Marroquino a entregar o papel ao seu Mestre.
Pelo que ouvi o acordo era eles se juntarem para acharem o tesouro,
dividindo-o a meias. Mas o Mestre dos dois rapazes estava com cara de quem não
queria partilhar o tesouro. Ele disse-lhes que teria de arranjar uma maneira de o
ter só para eles.
(Miguel Santos e Ioan Risnoveanu)
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VI
No dia seguinte voltei bem cedo para junto da rotunda do aeroporto. Foi aí
que vi o Bruno e o Brito a passarem pela rotunda e então decidi segui-los. Quando
dei por mim estava no mato a assistir a uma discussão entre eles e pelo que
percebi diziam:
- Ele enganou-nos! – dizia o Bruno, enquanto tirava um papel do bolso. -
Este papel deve ser falso!
- Não, o tesouro deve estar aqui. Lembra-te que temos um acordo! –
respondeu o Brito.
Vindo do nada, apareceu o Marroquino e matou os dois rapazes. Ainda
consegui ouvir o Marroquino a dizer baixinho:
- Foram bem enganados…
Depois de o Marroquino ter ido embora, aproximei-me dos corpos e recolhi
o papel do qual eles estavam a falar. Ao examiná-lo, reparei que não era o mesmo
que tinha visto as raparigas a tirar da estátua no dia anterior.
Decidi voltar para a rotunda e aí vi o Mestre e os seus dois rapazes a falar:
- Aqueles parvos pensavam que sabiam mais que nós. – dizia o Mestre,
enquanto ria - Mal sabem eles que sou eu que tenho o papel verdadeiro.
Mais tarde, vi o Mestre, os seus rapazes e o Marroquino a cavarem à volta de
uma estátua.
(João Rodrigues e Maria Vilhena)
VII
Tiraram uma caixa, que parecia ser um cofre. Aproximei-me e reparei que
estava escrito por cima o nome “Família Cagaita”. Consegui ouvir a conversa entre
o Mestre, os seus rapazes e o Marroquino:
- O tesouro é todo nosso! Só nós é que vamos ficar com ele, nem o Cagaita
pode saber! – disse o Mestre.
Reparei que estava alguém escondido atrás de uma das estátuas. Como era
de noite, não consegui ver quem era e cuidadosamente aproximei-me: era o
Cagaita, a escutar a conversa. Ele avançou em direcção ao Mestre com uma faca na
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mão, mas os rapazes repararam, agiram de imediato e seguram-no. O Mestre
perguntou:
- Onde está o próximo tesouro?
- Vocês não vão obtê-lo! Está muito bem escondido! – respondeu o Cagaita.
Logo de seguida, o Mestre esfaqueou o Cagaita com a sua própria arma.
Decidiram que o melhor era aniquilá-lo, pois ele poderia impedi-los de descobrir
mais tesouros.
Foram-se embora numa carrinha, onde levaram também o corpo do Cagaita
e decidi segui-los no meu carro. Pararam numa casa antiga, perto da rotunda.
Suspeitei que era a casa do Cagaita. Logo depois saíram com dois papéis,
semelhantes aos que as raparigas tinham encontrado na rotunda.
(Inês Guerreiro e Francisco Sebastião)
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VIII
Sr. Redactor do jornal O Camaleão:
Tenho acompanhado cuidadosamente este caso através do seu jornal e
penso possuir alguma informação que poderá ajudar a solucioná-lo. Sou um polícia
reformado e, sendo experiente nesta matéria, decidi dar-vos uma mãozinha.
Hoje de manhã, dirigi-me à rotunda na esperança de conseguir descobrir
alguma coisa. E que sorte a minha! Encontrei um rasto de óleo para carro e decidi
segui-lo. Após uma caminhada de 1500 metros, deparei-me com a viatura,
estacionada perto de uma casinha. A janela estava aberta e pus-me à espreita. Qual
foi o meu espanto quando vi o Mestre e os dois rapazes a interrogar o Cagaita,
amarrado a uma cadeira. Pelos vistos não tinha sido morto, como a outra pessoa
que tem estado a relatar este caso afirmou, mas sim, gravemente ferido. Consegui
ouvir a conversa:
- Estes papéis que encontrámos em tua casa, estão escritos em código! Ou
me dizes o que isto significa ou prepara-te para sofrer! – gritou o Mestre.
- Eu não sei de nada! Têm de acreditar em mim! – suplicou o Cagaita.
- Tarde de mais! Se não nos dizes, então vais sofrer! – exclamou o Mestre.
O Mestre ordenou que os rapazes lhe batessem, até que ele falasse. Após
algumas pancadas violentas, o Cagaita não aguentou e explicou-lhes o que estava
nos papéis. Pelo que percebi, os tesouros estavam escondidos algures na Escola
EBI/JI do Montenegro.
(Carlos Fonseca e Matheus Rocha)
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IX
Estava com sorte, pois aquela era a escola onde trabalho actualmente e
sinto-me como se estivesse em casa.
No dia seguinte resolvi ir trabalhar às seis horas da manhã, pois o primeiro
funcionário chegava às sete. Assim, tinha cerca de uma hora para investigar. Não
dormi toda a noite a pensar por onde havia de começar. De manha lá me dirigi para
a escola sem a mínima ideia do que ia fazer. Mal meti a chave ao portão, apercebi-
me de dois vultos que pulavam o gradeamento, eram nada mais, nada menos do
que os rapazes que vi espancarem o Cagaita. Pela cara deles fiquei com a ideia de
que nada tinham descoberto, mas não tinha muito tempo pois de certeza que iriam
voltar. Percorri toda a escola por dentro e por fora vezes sem conta a tentar ver
alguma coisa em que nunca tivesse reparado antes. Entrei na arrecadação do rés-
do-chão do lado esquerdo. Já sem ânimo nem esperança, encostei-me à parede e
senti-a diferente. Do lado de fora estava colocada a caixa com a mangueira de
incêndio. Vi e revi a parede dos dois lados. Peguei na primeira coisa que estava à
mão, que era uma vassoura, bati com o cabo na parede e percebi que era oca. De
repente senti uma pancada na cabeça e tudo ficou escuro…
(Daniela Vicente e Soraia Pereira)
X
Acordei passadas umas horas, muito zonzo e sem saber onde me
encontrava! Tentei deslocar-me, mas estava imóvel, pois tinham-me amarrado a
um pinheiro no meio do mato. De repente reparei que, um pouco mais à frente, se
aproximavam dois rapazes. Consegui ouvir um pouco da conversa e, pelo que me
apercebi, tentavam arranjar uma maneira de se livrarem de mim, pensando que eu
sabia mais do que devia! A verdade é que não me conseguiram amarrar assim tão
bem e consegui soltar-me e fugir. Mais à frente, encontrei o Mestre a falar com uma
rapariga baixinha, pelo que avistei. Contudo, consegui apanhar algo da conversa.
Ela queria obrigar o Mestre a ir à Escola E.B.I/J.I. de Montenegro para que fosse
desvendar o que estava por detrás da parede oca. Pelo que me apercebi ela era
cúmplice dos dois rapazes que me raptaram e do Mestre.
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Antes que eles se antecipassem, corri para a escola, de volta ao local onde
se encontrava a parede oca. Agarrei na vassoura que estava no chão, perto da
parede e pensei em derrubá-la, mas resolvi esperar pelo anoitecer, pois estava a
escola cheia de gente e era complicado fazer algo. No entanto, quando saí da escola,
vi um colega a falar muito estranhamente com a rapariga baixinha!
(Ana Soares e Filipa Guerreiro)
XI
Era o Sr. Manuel, um contínuo alto e magro. Estava muito barulho por isso
não percebi a conversa. Quando os alunos se foram embora decidi voltar para a
parede oca. Cheguei lá e estava completamente destruída. Dentro dela não havia
nada a não ser uma pulseira que me pareceu ser de ouro. Alguém já lá tinha ido
buscar o tesouro. Penso que foi o Mestre.
Desanimado, voltei para a rotunda para ver se descobria alguma coisa.
Estava lá o Mestre e os rapazes. Um deles tinha uma mala preta na mão. Deveria
ser o tesouro. Ele pousou a mala e de repente, saiu o Marroquino de trás de uma
estátua e levou a mala preta. Os rapazes e o Mestre correram atrás dele. O
Marroquino meteu-se dentro de um carro e fugiu. O Mestre e os rapazes roubaram
um carro e seguiram-no. Dirigi-me para o meu carro para os seguir também e já
não tinha gasolina! Por isso, fiquei ali sem poder fazer nada. No dia seguinte, voltei
para a escola e encontrei a rapariga baixinha a falar com o Marroquino.
(Marina Nãstãsutã e Denisa Craciun)
XII
Tentei ouvir a conversa, pois se eu tivesse a possibilidade de escutar e
perceber todo o assunto ao pormenor, seria um passo enorme para descobrir o
que se estava a passar.
E foi o que aconteceu, Sr. Redactor. Consegui ouvir toda a conversa e
descobri que a mala preta estava escondida no carro do Marroquino, que era um
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carro azul com riscas amarelas e que esse carro estava estacionado ao pé da
rotunda.
Fui logo a seguir para a rotunda à procura de um carro com aquela
descrição e encontrei-o. Porém, o marroquino e a rapariga baixinha tinham sido
mais rápidos do que eu e já tinham tirado a mala preta do carro. Decidido a
resolver aquele mistério, dirigi-me a eles.
- Vai-te embora antes que eu me passe! – disse irritado o Marroquino –
Então, não vais?
(João Modesto e Mikael Morgado)
XIII
Para não parecer suspeito, afastei-me do local, mas fiquei à espreita por
detrás de um arbusto. Então, o Marroquino e a rapariga baixinha entraram no
carro e foram-se embora, e eu, claro, segui-os.
Dirigiram-se para a casa do Cagaita, onde este ainda permanecia refém.
Quando entraram, saí do carro e pus-me à espreita na janela. Então, ouvi um
barulho de um carro e escondi-me do outro lado da casa. Espreitei, e vi que eram o
Mestre e os seus rapazes. Aí pensei que isto ia dar “molho”, uma vez que o
Marroquino possuía a mala com o tesouro que o Mestre tanto queria. De repente,
chegou um indivíduo com uma mota que entrou dentro da casa a correr e a gritar.
Depois, ouvi uma série de disparos e, passados uns dois minutos, esse indivíduo
saiu com a mala preta. Então, apesar do meu receio, entrei na casa para ver como
estavam todos… Estavam mortos, foi um autêntico massacre! Mas quem seria
aquele indivíduo? A única coisa que sei é que tinha escrito “MICKA” nas costas do
seu casaco.
Desanimado, voltei para a rotunda e qual foi o meu espanto quando vi que
tinha havido um acidente. Era aquele tal “MICKA” que se tinha espetado contra um
autocarro que passava, muito provavelmente devido à grande velocidade que
levava. Então, aproveitei o momento e recolhi a mala… A polícia chegou por causa
do acidente e eu fugi. Agora, meus senhores, o tesouro é só meu! Estava farto de
trabalhar naquela escola e por isso isto veio mesmo a calhar… Esta será a última
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carta que vos mando, porque vou viver para o Brasil com este dinheiro todo!
Obrigadinha!
Do vosso querido polícia reformado,
Carlos
(Carlos Fonseca e Mickael Morgado)
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O 9º D é uma turma
constituída por vinte e
três adolescentes (onze
raparigas e doze
rapazes), com idades
compreendidas entre os
13 e 17 anos.
Embora a leitura não
esteja entre as
preferências da maioria
destes alunos, foi com
muito entusiasmo que
aceitaram o desafio de
escreverem uma
narrativa ao jeito de Eça
de Queirós e Ramalho
Ortigão.
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Desafiados pela professora de Língua Portuguesa, vinte e dois alunos
da Escola E.B.I./J.I. de Montenegro juntaram-se para criar uma
narrativa colectiva, como outrora fizeram Eça de Queirós e Ramalho
Ortigão. O resultado é uma história divertida, cheia de mistério e
aventura, protagonizada pelos próprios autores, na pacata freguesia
do Montenegro.