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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE GUAÍRA – PARANÁ. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por sua Promotora de Justiça, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 129, inciso III, da Constituição Federal e pelo artigo 25, inciso IV, da Lei 8.625/93, vem respeitosamente perante Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL COM PEDIDO LIMINAR

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

CÍVEL DA COMARCA DE GUAÍRA – PARANÁ.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO

PARANÁ, por sua Promotora de Justiça, no uso das atribuições que lhe

são conferidas pelo artigo 129, inciso III, da Constituição Federal e pelo

artigo 25, inciso IV, da Lei 8.625/93, vem respeitosamente perante Vossa

Excelência propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL

COM PEDIDO LIMINAR

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em face de

da Prefeitura Municipal de Guaíra/PARANÁ,

pessoa jurídica de direito público interno, representado pelo

Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal, Sr. Fabian Vendruscolo, com

sede na Av. Coronel Otávio Tosta, bairro Centro, nº 126, Guaíra, Paraná,

pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor:

I – SÍNTESE FÁTICA

Em 12 de julho de 2013 representantes da

Prefeitura Municipal de Guaíra, juntamente com engenheiros,

compareceram na sede da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio

Ambiente de Guaíra, informando que há um projeto que visa a reforma

das calçadas próximas ao fórum da Comarca de Guaíra/PR, visando,

principalmente a acessibilidade dos deficientes físicos.

No projeto há a necessidade do corte de

aproximadamente 13 (treze) árvores nativas, da espécie Sibipiruna,

porém em decorrência de negligência por parte dos idealizadores do

projeto, não foi requerida junto ao IAP a competente autorização ou

licenciamento ambiental.

Após conversa nesta Promotoria do Meio

Ambiente, foi informado aos engenheiros e ao Procurador do Município

Wilson, que em razão da ausência de autorização do IAP, não seria

possível realizar o corte das árvores nativas, uma vez que na frente do

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fórum existem 07 (sete) árvores nativas e em seu entorno há

aproximadamente 10 (árvores), sendo que a legislação ambiental permite

o corte de até 05 (árvores) nativas sem licenciamento ambiental, o que

não se enquadrava no presente projeto da Prefeitura.

Dessa forma e para garantir a acessibilidade dos

deficientes, o próprio engenheiro contratado pela Prefeitura sugeriu que

afastasse a grade do fórum, para que reformassem a calçada sem que

houvesse a necessidade de cortar as árvores, garantindo-se, assim, a

acessibilidade dos deficientes e preservando-se o meio ambiente.

Nesse contexto, em contato com o Diretor do

Fórum foi permitida a medida de afastar a grade, inclusive ficando em

harmonia com o passeio de fronte ao Banco do Brasil e Justiça Federal,

que preservaram as árvores e afastaram suas construções, exatamente

para dar acessibilidade aos deficientes e preservar o meio ambiente.

Todavia, apesar dos próprios representantes da

Prefeitura terem mencionado a possibilidade de afastarem a grade,

quando foi autorizada a medida, se recusaram e informaram que iriam

conseguir a autorização do IAP na segunda-feira para realizarem o corte

dessas árvores.

Ressalta-se que o processamento de uma

autorização do IAP para autorizar o corte de árvores nativas gira em torno

de 90 (noventa) dias.

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Em 15 de julho de 2013 (segunda-feira), a

Promotoria do Meio Ambiente flagrou servidores da Prefeitura Municipal,

sem autorização e ao arrepio da legislação ambiental, podando as árvores

localizadas na frente do fórum (Rua dos Bandeirantes, s/nº, Centro),

preparando-as para o corte.

Se não fosse pela pronta intervenção do Ministério

Público com apoio da Polícia Militar, as 07 (sete) árvores localizadas no

passeio em frente ao fórum da Comarca de Guaíra estariam devidamente

cortadas, sem autorização do IAP e em completo descaso e afronta à

legislação ambiental.

Além disso, constata-se várias irregularidades nos

cortes das árvores do Município de Guaíra, havendo inclusive denúncias

realizadas na Promotoria de Justiça, conforme se depreende do termo de

declarações de Marlene Jambersi (em anexo), que relatou que na Rua

Professor Galvoso, altura do numeral 1414, a Prefeitura teria podado

todas as árvores, da espécie mangueiras, até o tronco.

O Ministério Público, diante desta notícia, remeteu

o ofício nº 104/2013 (em anexo) requisitando informações em até 10

(dez) dias, para que o responsável explicasse os motivos da poda, bem

como eventual intervenção do IAP.

Cumpre ressaltar que, a espécie Magueira é

nativa, árvore frutífera da família “Anacardiaceae”, nativa do sul e do

sudeste asiáticos desde o leste da Índia até as Filipinas, e introduzida com

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sucesso no Brasil, em Angola, em Moçambique e em outros países

tropicais, dependendo de autorização do IAP para o corte e poda.

Em relação às arvores na frente do fórum, são

nativas, da espécie sibipiruna (Caesalpinia pluviosa sin. C. peltophoroides;

Caesalpinioideae), também conhecida como sebipira, sendo uma árvore

de grande porte, nativa do Brasil, perenifólia, chegando a medir 28

metros de altura (normalmente entre 6-18m) com até 6 metros de

diâmetro da copa arredondada e muito vistosa. Dessa forma, por ser

árvore nativa, também seu corte fica restrito às hipóteses e autorização

do IAP.

As áreas verdes constituem regiões no meio

urbano, que também apresentam características distintas do seu entorno,

e se comportam como áreas que teriam dentre outras funções a

minimização das temperaturas do ar e das correntes de ventos, ajudariam

na dispersão dos poluentes na atmosfera e garantiriam uma melhor

qualidade de vida urbana para os habitantes.

Funções da arborização urbana e suas implicações

ecológicas e sociais1

1 Tabela elaborada pelo Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Federal de São Carlos

(UFSCAR).

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Funções Implicações

Ecológicas

Implicações

Sociais

* Interceptação,

absorção e reflexão

de radiação

luminosa,

* Fotossíntese,

* Produção Primária

Líquida,

* Fluxo de energia.

* Manutenção do

equilíbrio dos ciclos

biogeoquímicos,

* Manutenção das

altas taxas de

evapotranspiração,

* Manutenção do micro

clima,

* Manutenção da

fauna.

* Conforto

térmico,

* Conforto lúmico,

* Conforto sonoro,

* Manutenção da

biomassa com

possibilidade de

integração da

comunidade local.

* Biofiltração. * Eliminação de

materiais tóxicos

particulados e gasosos

e sua incorporação nos

ciclos biogeoquímicos.

* Melhoria na

qualidade do ar da

água de

escoamento

superficial.

* Infiltração de água

pluvial.

* Redução do

escoamento superficial,

* Recarga de aquífero,

* Diminuição na

amplitude das

hidrógrafas.

* Prevenção de

inundações.

* Movimentos de

massas de ar.

* Manutenção do

clima.

* Conforto

térmico,

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Difusão de gases

tóxicos e material

particulado do ar.

* Fluxo de

organismos entre

fragmentos rurais e

o meio urbano.

* Manutenção da

diversidade genética.

* Aumento na

riqueza da flora e

da fauna,

Realce na biofilia.

* Atenuação sonora. * Aspectos etológicos

da fauna.

* Conforto

acústico.

Os estudos de Milano2 (1988) mostram que

elementos climáticos como a intensidade de radiação solar, a

temperatura, a umidade relativa do ar, a circulação do ar, a velocidade do

vento entre outros, são afetados pelas condições de artificialidade do meio

urbano, e que a vegetação urbana apresenta um poderoso potencial na

melhoria da qualidade de vida, podendo diminuir a ação de poluentes

químicos, de poluição sonora, remover partículas e absorver gases

poluentes da atmosfera. Além desses aspectos, os benefícios ecológicos, a

importância sócio-econômica e a questão da estética, são fundamentais

para o bem estar das pessoas que vivem nos centros urbanos.

O processo de urbanização modifica o comportamento dos

elementos do clima (temperatura, umidade, vento e precipitações),

alterando com isso as condições de conforto térmico nas cidades. Em

2 MILANO, M. S. Avaliação quali-quantitativa e manejo da arborização urbana: exemplo de Maringá-PR. 1998. Tese (Doutor em Ciências Florestais) - Engenharia Florestal do Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998.

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decorrência do acréscimo de carga térmica, a temperaturas nas cidades é

maior que na área rural circundante, ocorrendo o que se convencionou

chamar “ilha de calor”.

Logo, a qualidade do ar das cidades não depende somente

da quantidade de poluentes lançados pelas fontes emissoras, mas

também da forma como a atmosfera age no sentido de concentrá-los ou

dispersá-los.

Sendo assim e ante o dano ambiental ora constatado, bem

como a ausência de autorização do órgão ambiental competente, não

resta alternativa senão ingressar com a presente Ação Civil Pública.

II – DO DIREITO:

Buscando proteger a qualidade de vida, a

dignidade e bem-estar, a Constituição Federal de 1.988, pela primeira

vez na história da República Federativa do Brasil, dedicou um Capítulo

exclusivo ao meio ambiente, possibilitando ao Poder Público e à

coletividade os meios necessários para a tutela desse bem comum do

povo. Definindo princípios e regras a serem seguidos, dentre eles o

Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado e Essencial à

Sadia Qualidade de Vida, o caput do artigo 225 da Constituição Federal,

assim dispôs:

“Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida impondo-se ao Poder Público e à coletividade o

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dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações”.

Ainda, além do dispositivo constitucional

supracitado, outros artigos do mesmo texto legal evidenciam a opção do

legislador em considerar a preservação do meio ambiente como um dos

pilares fundamentais da ordem constitucional, tais como:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a

todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,

observados os seguintes princípio:

(...)

VI – defesa do meio ambiente.(grifo nosso)

e

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada

pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais

fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o

bem- estar de seus habitantes.

§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal,

obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o

instrumento básico da política de desenvolvimento e de

expansão urbana.

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§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando

atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade

expressas no plano diretor.

Além disso, o Código de Posturas do Munício de

Guaíra – PR (anexo), dispõe que:

Art. 77 No interesse do controle da poluição do ar,

do solo e água, o Poder Executivo Municipal poderá exigir parecer técnico

do órgão estadual competente, sempre que for solicitado alvará de

funcionamento para estabelecimentos industriais, ou quaisquer outros que

se figurem como potenciais modificadores do espaço territorial e do meio

ambiente do Município.

Art. 78 É vedado o corte, a derrubada ou a prática

de qualquer ação que possa provocar dano, alteração do desenvolvimento

natural ou morte de árvore em bem público ou em terreno particular,

obedecidas às disposições do Código Florestal Brasileiro.

Parágrafo único. As árvores isoladas nativas e

exóticas na área urbana poderão ter autorizado sua poda, corte ou

derrubada pelo órgão municipal de meio ambiente, desde que verificada a

necessidade de uso e ocupação do solo, além do risco, atendidas as

legislações municipal, estadual e federal pertinente.

(...)

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De acordo com o Instituto Ambiental do Paraná –

IAP: “O corte isolado em área urbana somente será permitido nas

seguintes condições: I – Para fins de edificação; II – Árvores que ponham

em risco a vida e ao patrimônio público ou privado; Está dispensado do

licenciamento ambiental os cortes isolados de espécies nativas em área

urbana até 05 exemplares, desde que não constantes da lista vermelha de

espécies ameaçadas de extinção e localizadas fora de áreas de

preservação permanente”.

Nesse caso, como eram mais de 05 árvores

nativas, haveria a necessidade de licenciamento ambiental, o que não

ocorreu na espécie, sendo que os responsáveis foram alertados

expressamente desta necessidade, bem como não havia autorização para

o corte fracionado das árvores.

Observa-se, nesse diapasão, que o corte

fracionado de 05 exemplares de árvores nativas demonstra a má-fé do

responsável, uma vez que o projeto global pretendia o corte de no mínimo

13 (treze) árvores, conforme croqui da obra em anexo.

Ademais, conforme se infere da Portaria IAP nº

176 de 19 de setembro de 2007, não há a necessidade de aprovação

prévia do órgão ambiental (IAP) para o corte de árvores EXÓTICAS,

situadas em áreas públicas que estejam localizadas no perímetro urbano

dos Municípios, restando claro que para o corte de árvores NATIVAS,

há a necessidade de intervenção do órgão ambiental e expressa

autorização.

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Desta forma, tratando-se de árvores nativas há a

necessidade de LICENCIAMENTO AMBIENTAL e/ou AUTORIZAÇÃO do

Órgão Ambiental competente, no caso, o Instituto Ambiental do Paraná –

IAP.

No âmbito federal, o artigo 2º, incisos I, IV e VIII

da Lei nº. 6.938/81, dispõe os parâmetros a serem seguidos pelo Poder

Público na defesa do meio ambiente natural:

“Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo

a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental

propícia a vida, visando assegurar, no País, condições ao

desenvolvimento sócio econômico, aos interesses da

segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,

atendidos os seguintes princípios:

I – Ação governamental na manutenção do equilíbrio

ecológico, considerando o meio ambiente como um

patrimônio público a ser necessariamente assegurado e

protegido, tendo em vista o uso coletivo.

(...)

VIII – Recuperação de áreas degradadas.” (grifo nosso)

Também no âmbito estadual, a Constituição do

Estado do Paraná, elege a proteção do meio ambiente como diretriz

fundamental, vejamos:

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Art. 1º. O Estado do Paraná, integrando de forma indissolúvel

à República Federativa do Brasil, proclama e assegura o

Estado democrático, a cidadania, a dignidade da pessoa

humana, os valores sociais, do trabalho e da livre iniciativa, o

pluralismo político e tem por princípios e objetivos:

(...)

IX – A defesa do meio ambiente e da qualidade de vida.”

(grifo nosso)

Portanto, a área verde em questão certamente

contribuía e contribui para o equilíbrio do meio ambiente do entorno.

Restando claro que a Prefeitura tem realizado o corte em diversos locais

do Município sem autorização ambiental.

Isto posto e, muito embora a Prefeitura pretenda

garantir o direito de acessibilidade dos deficientes, há meios menos

gravosos ao Meio Ambiente para a garantia deste direito.

Para a preservação do Meio Ambiente e garantia

da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência, basta que haja o

recuo de menos de 1,5 centímetros para dentro da área do fórum,

afastando-se a grade ao entorno do estabelecimento, reformando nessa

área o passeio, garantindo-se assim a acessibilidade dos deficientes, bem

como preservando-se as árvores nativas.

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Os direitos constitucionais mencionados (Meio

Ambiente e Acessibilidade das Pessoas portadoras de deficiência) não são

excludentes, e, havendo meio menos gravoso para a garantia do direito,

não há razoabilidade no corte das árvores.

Conforme as imagens captadas da frente do Banco

do Brasil e Justiça Federal (localizada ao lado do fórum da Comarca de

Guaíra), percebe-se que houve o recuo de menos de 1,5 centímetros,

garantindo ambos direitos constitucionalmente assegurados.

Conforme as imagens da frente do Banco do Brasil,

resta evidente que não há a necessidade do corte das árvores nativas

para se preservar o direito de acessibilidade das pessoas portadoras de

deficiência:

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De acordo com a seguinte imagem, resta

absolutamente evidente a possibilidade do recuo e preservação das

árvores:

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Desta forma, verifica-se a extrema ausência de

razoabilidade e proporcionalidade no corte das árvores nativas, uma vez

que há outra forma menos gravosa à sociedade para garantir o direito de

acessibilidade.

O princípio da proporcionalidade ordena que a

relação entre o fim que se busca e o meio utilizado deva ser proporcional,

não-excessiva. Deve haver uma relação adequada entre eles. Pois o

princípio da proporcionalidade é utilizado quando há colisão de direitos

fundamentais, sejam eles de 1 a , 2 a ou 3 a geração, individuais ou

coletivos. Afinal, sabe-se que os direitos fundamentais não são ilimitados

ou absolutos. Encontram seus limites em outros direitos, também

fundamentais. Mas para que possam ter efetivação, isto é aplicabilidade,

devem ser ponderados quando estiverem em choque, colisão.

O princípio da proporcionalidade traduz a busca do

equilíbrio e harmonia, da ponderação de direitos e interesses à luz do caso

concreto como melhor forma de aplicação e efetivação destes mesmos

direito. Ora, sabendo-se que há dois direitos em conflito e para assegurar

a aplicabilidade de um não há a necessidade de sacrificar-se o outro, pois

há meios menos lesivos no caso concreto, a Administração Pública tem o

dever de utilizar esse meio menos lesivo.

No caso presente, basta que haja o afastamento

da grade do fórum para que seja reformada a calçada de acordo com as

normas de acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência.

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Além disso, totalmente irregular a conduta da

Prefeitura Municipal que vem, diuturnamente, cortando e podando árvores

nativas no Município, sem qualquer autorização do órgão ambiental, em

grave afronta à legislação ambiental.

Interessante mencionar, ainda, propaganda

realizada pela própria Prefeitura com os dizeres “Antes de cortar uma

ÁRVORE, lembre-se dos dias quentes de verão”, conforme imagem:

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Ora, o cidadão tem que respeitar a legislação

ambiental e preservar o meio ambiental, mas a Prefeitura Municipal não !

Resta evidente que a Prefeitura age como se estivesse acima da lei, não

precisando agir de acordo com a legislação, inclusive leis municipais.

Registre-se, outrossim, a tentativa desenfreada da

Prefeitura Municipal de cortar e podar as árvores do Município,

independente de avaliação e autorização do órgão ambiental (IAP):

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III – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA

PROVA:

A inversão do ônus da prova é perfeitamente

cabível no caso em discussão. O artigo 21 da Lei 7.347/85 determina que

aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e

individuais, no que tenha cabimento, os dispositivos do Código de Defesa

do Consumidor.

O artigo 6º, inciso VIII da Lei 8.078/90 é expresso

ao admitir a inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de

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Defesa do Consumidor, na medida em que hipossuficiente o autor,

segundo as regras comuns da experiência como bem esclarece o texto

legal, in verbis:

“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

(...)

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a

inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,

quando, a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando

for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de

experiência;

(...)”

Tal dispositivo certamente tem aplicação, também,

no âmbito de proteção ao meio ambiente, pois em matéria ambiental a

hipossuficiência e a verossimilhança são requisitos para uma inversão do

ônus da prova. Segundo Clóvis da Silveira3, a hipossuficiência pode se dar

sob várias perspectivas:

a) Hipossuficiência econômica: quando em um dos

pólos, figuram “pequenas associações desprovidas de recursos ou o MP,

que também não poderia comprometer seu orçamento institucional com o

custeio de dispendiosas perícias” (SILVEIRA, 2004);

3 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Aspectos Processuais do Direito Ambiental. Orgs. LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzagio. 2 ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2004.

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b) Hipossuficiência informativa: quando os

demandantes em matéria ambiental “não possuem, em regra, acesso às

informações necessárias para comprovar o nexo de causalidade que

permite responsabilizar o poluidor” (SILVEIRA, 2004);

c) Hipossuficiência técnica: “considerando que os

autores da ação civil pública obtivessem acesso aos referidos dados, que

não são informados a priori, não saberiam manipulá-los ou deles obter

significado que possa ser traduzido em provas” (SILVEIRA, 2004);

d) Hipossuficiência decorrente do caráter do

interesse tutelado: “a hipossuficiência decorre, pois, do fato de que o

empreendedor recolhe os benefícios da produção, cirando riscos inerentes

à atividade, enquanto o ambiente é degradado, lesado-se o direito de

todos” (SILVEIRA, 2004);

e) Hipossuficiência decorrente de Lei: “A própria

Lei reconhece, implicitamente, a hipossuficiência dos co-legitimados, pelo

fato de estarem agindo em interesse da coletividade, isentando-os do

adiantamento de despesas e ônus de sucumbência” (SILVEIRA, 2004).

Portanto é claro, que o Ministério Público ao

ajuizamento de Ações Civis Públicas, encontra-se em franca desvantagem

perante o demandado.

Assim entende a jurisprudência dominante:

“O instituto da inversão do ônus da prova, independentemente

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do título em que esta disposto no Código de Defesa do

Consumidor, pode ser aplicado nas ações civis publicas, desde

que as circunstancias fáticas assim o autorizem.” (TJPR,

Processo: 334622-7/01, Agravo Regimental Cível, Órgão Julg.:

5ª. Câmara Cível, Relator: Desembargador Leonel Cunha,

22.05.2006).

No que tange à responsabilidade pelo demandado

ao pagamento das respectivas custas, manifestou-se a jurisprudência:

“7.3.2. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A ATRIBUIÇÃO DOS

CUSTOS DA PERÍCIA PELO DEMANDADO. Admissibilidade nas

demandas que envolvam a proteção ao meio ambiente.

Ministério Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de

ações civis públicas que estão em franca desvantagem perante

os demandados.

Ementa: Tratando-se de demanda que envolva a proteção ao

meio ambiente, é cabível a inversão do ônus da prova e a

atribuição dos custos da perícia, pois o Ministério Público e

demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis públicas

estão em franca desvantagem perante os demandados. Edcl

70002338473 - 4ª Cam. Civil. - TJRS - j. 04.04.2001 - rel. Des

Wellington Pacheco Barros.4

E ainda:

4 Revista de Direito Ambiental, Coordenação: Antônio Herman V. Benjamin e Édis Milaré. Editora Revista dos Tribunais. Ano 6, n. 23, julho-setembro de 2001.

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“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. AGRAVO DE

INSTRUMENTO. PROVA PERICIAL. INVERSÃO DO ÔNUS.

ADIANTAMENTO PELO DEMANDADO. DESCABIMENTO.

PRECEDENTES.

I - Em autos de ação civil pública ajuizada pelo Ministério

Público Estadual visando apurar dano ambiental, foram

deferidos, a perícia e o pedido de inversão do ônus e das

custas respectivas, tendo a parte interposto agravo de

instrumento contra tal decisão.

II - Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais

tem o dever de reparar os danos causados e, em tal contexto,

transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta

não foi lesiva.

III - Cabível, na hipótese, a inversão do ônus da prova que,

em verdade, se dá em prol da sociedade, que detém o direito

de ver reparada ou compensada a eventual prática lesiva ao

meio ambiente - art. 6º, VIII, do CDC c/c o art. 18, da lei nº

7.347/85.

IV - Recurso improvido.” (STJ. REsp 1049822/RS. Rel. Min.

Francisco Falcão. Primeira Turma. Julg: 23/04/2009).

Assim, “pertence ao demandado, a partir de então,

o ônus da prova, para que comprove inexistência do nexo de causalidade

que se lhe atribui entre ação e dano. Uma vez que o agente criou as

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condições (riscos) par que o dano ocorresse, nada mais lógico que a ele

pertença tal encargo”5

Conclui-se, portanto, pelo cabimento da inversão

do ônus da prova.

IV – DO PEDIDO LIMINAR:

É obrigação do Poder Público zelar pelo meio

ambiente.

O Artigo 12 da Lei da Ação Civil Pública –

7.347/85, é claro ao estabelecer que “poderá o juiz conceder mandado

liminar com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”.

O juiz pode determinar, mesmo de ofício, medidas

provisórias no curso do processo, sendo que no caso, pelo art. 12 da Lei

7.347/85, em se tratando de ação civil pública baseada em danos aos

interesses coletivos e difusos, facultado ao juiz a concessão de liminar,

sem ouvir a parte contrária, procurando manter o “status quo” até final

sentença, a fim de evitar danos irreparáveis.

Nesse caso, é clara a necessidade de se conceder

o pedido liminar, uma vez que estão presentes, para tanto, os

5 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Aspectos Processuais do Direito Ambiental. Orgs. LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzagio. 2 ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2004.

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pressupostos de admissibilidade de tal medida: O fumus boni iuris e o

periculum in mora.

O fumus boni iuris consiste na provável

existência de um direito a ser tutelado.

O artigo 225, caput, da Constituição Federal,

estabelece que “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo

e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Forma inequívoca do

interesse coletivo consistente na devida responsabilização dos infratores

do meio ambiente.

O periculum in mora trata da demonstração do

fundado temor de que, enquanto aguarda a tutela definitiva, venham a

faltar as circunstâncias de fato favoráveis à própria tutela.

Vale lembrar que, no caso em tela, como já

demonstrado, mesmo sem autorização do IAP a Prefeitura Municipal tem

realizado o corte e poda de diversas árvores, sob a alegação de

recomposição, porém sem observar a legislação pertinente.

Em relação à árvores nativas, de espécie

“Sibipiruna”, localizadas na frente do fórum Estadual da Comarca de

Guaíra, restou claro o descaso e a má-fé dos responsáveis pela obra da

Prefeitura, que mesmo sem autorização do órgão ambiental e mesmo

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após a Promotoria do Meio Ambiente ter informado expressamente que

não poderia haver o corte de sequer uma árvore nativa sem a intervenção

do IAP, servidores da Prefeitura, comandados pelo Secretário do Meio

Ambiente Augusto, passaram a podar as árvores, preparando-as para o

corte, somente não cortando as 06 (seis) árvores nativas em razão da

pronta intervenção do Ministério Público e da Polícia Militar.

Evidente, desta forma, o fundado temor de dano

ambiental se não houver a concessão da medida liminar.

Nesse sentido, vale lembrar que um dos

sustentáculos fundamentais do Direito Ambiental é o Princípio da

Prevenção e o Princípio da Precaução, sendo a concessão da medida

liminar uma forma de se evitar que danos maiores venham a ocorrer

ainda no decurso do processo.

Preleciona Celso Antônio Pacheco Fiorillo :

“É por via da liminar, assecuratória ou satisfativa,

que se alcançará, ainda que provisoriamente, a certeza de que o processo

não será um mal maior do que já se constitui, na medida em que a

demora da entrega da tutela jurisdicional não se constituirá um mal maior

ou mais nefasta que a própria caracterização do dano ao meio ambiente.

Por isso, urge como regra necessária e política a utilização cada vez maior

da tutela liminar em sede de proteção efetiva de direito difusos como um

todo.”

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Sendo assim, com o fim de que se garanta que as

árvores nativas do Município de Guaíra não sejam cortadas sem que haja

extrema necessidade e sem intervenção do órgão ambiental, imperiosa se

faz a concessão da liminar.

Cumpre ressaltar que, a desnecessidade e

desproporcionalidade do corte das árvores nativas localizadas na frente do

Fórum (Rua Bandeirantes, s/nº, centro), ainda que haja posterior

autorização do IAP, vez que o direito de acessibilidade, como já

mencionado, pode ser assegurado sem a necessidade do corte dessas

árvores.

Requer-se ainda, a imposição de multa no valor de

R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por árvore nativa cortada, em desacordo

com a decisão judicial.

Além disso, necessário se faz a recomposição das

árvores já cortadas em desacordo com a legislação, na fração de 10 (dez)

árvores por corte irregular. Ressaltando a proibição de plantação da

espécie Eucalipto para a recomposição.

V – DEMAIS PEDIDOS:

Diante de todos os fatos e fundamentos de direito

ora apresentados, REQUER a Vossa Excelência:

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I – a concessão da liminar pugnada, com a fixação

de multa de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por árvore irregularmente

cortada no Município de Guaíra;

II – a condenação do Réu na Obrigação Fazer, no

sentido de que se promova a recomposição das árvores já cortadas de

forma irregular, na fração de 10 (dez) árvores por corte;

III - a citação dos Réus, nos termos do artigo 221,

do Código de Processo Civil, para responder aos termos da presente Ação,

com as advertências da revelia, devendo o pedido ser julgado procedente,

condenando o réu ao ônus da sucumbência, honorários periciais e demais

cominações legais;

IV - Protesta-se por todos os meios de provas

admitidos em direito, inclusive depoimentos pessoais, testemunhais,

juntada de documentos e perícias;

V – a isenção de custas e emolumentos, nos

termos do artigo 18 da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1.985 – Lei da

Ação Civil Pública;

VI - a procedência da ação em todos os seus

termos, condenando-se o réu ao pagamento de eventuais danos

causados, das despesas processuais e verba honorária de sucumbência,

cujo recolhimento deste último deve ser feito ao Fundo Especial do

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Ministério Público do Estado do Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241,

de 28 de julho de 1998 (DOE n. 5302, de 29 de julho de 1.998), nos

termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”, parte final da Constituição do

Estado do Paraná.

Dá-se à causa, o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil

reais).

Guaíra, 15 de julho de 2013.

Kelly Vicentini Neves Caldeiras

Promotora de Justiça

(Assinado digitalmente)