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Page 1: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO

DO ESTADO DE GOIÁSCENTRO DE APOIO OPERACIONAL

DOS DIREITOS HUMANOS E DO CIDADÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO E A FISCALIZAÇÃO DO SUAS

GOIÂNIAMINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

2015

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OS NINGUÉNS

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos,

morrendo a vida, fodidos e mal pagos:Que não são embora sejam.

Que não falam idiomas, falam dialetos.Que não praticam religiões, praticam superstições.

Que não fazem arte, fazem artesanato.Que não são seres humanos, são recursos humanos.

Que não tem cultura, têm folclore.Que não têm cara, têm braços.

Que não têm nome, têm número.Que não aparecem na história universal,

aparecem nas páginas policiais da imprensa local.Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

Eduardo Galeano

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SUMÁRIO

1 - APRESENTAÇÃO................................................................05

2 - INTRODUÇÃO.....................................................................09

3 - O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL................13

3.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS..............................133.1.1 - A descentralização político-administrativa..........143.1.2 - A Participação Popular......................................153.1.3 - Serviços, Programas, Projetos e Benefícios......173.1.4 - Instâncias de Pactuação....................................20

3.2 - PRINCÍPIOS E GARANTIAS DA ASSISTÊNCIASOCIAL.........................................................................21

3.3 - OS NÍVEIS DE PROTEÇÃO SOCIAL..................233.2.1 - Proteção Social Básica.......................................233.2.2 - Proteção Social Especial....................................36

3.4 - ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊNCIASOCIAL.........................................................................44

3.5 - RECURSOS HUMANOS......................................48

3.6 - A RESPONSABILIDADE DOS ENTES FEDERATIVOSNO ÂMBITO DO SUAS........................................................................55

3.7 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO.......................................59

3.7 - FINANCIAMENTO..............................................................69

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4 - O CONTROLE EXTERNO DO SUAS.................................................83

4.1 - O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO............................834.2 - COMPETÊNCIA JURISDICIONAL E ATRIBUIÇÃONA APURAÇÃO DE EVENTUAL DESVIO OUMALV E R S A ÇÃO DE VERBAS DECORRENTES DECOFINANCIAMENTO FEDERAL.....................................86

5 - ANEXO.................................................................................................975.1 - LISTA DE SIGLAS.......................................................97

6 - ANOTAÇÕES......................................................................................99

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1 - APRESENTAÇÃO

A assistência social, no Brasil, com a Constituição de1988, foi alçada a direito do cidadão e dever do estado, tor-nando-se, assim, política pública destinada a promover o exer-cício pleno da cidadania. A partir daí, a legislação ordinária,seguida dos regulamentos expedidos pelo Conselho Nacionalde Assistência Social - CNAS, trataram de redesenhar sua or-ganização no plano federativo, através da instituição do SistemaÚnico de Assistência Social - SUAS.

Na prática, a assistência social, apesar do arcabouço ju-rídico que a ampara, ainda é deficitária em muitos aspectos, sejapelo número insuficiente, seja pela inadequação dos equipamen-tos e serviços sociais. Inobstante os avanços verificados desdeo início da implantação do SUAS, um longo caminho ainda háque se percorrer até que se atinja a efetividade desse direito.

O funcionamento adequado do sistema de assistênciasocial produz implicações fundamentais na efetividade da atua-ção judicial e extrajudicial do Ministério Público, além de ser im-prescindível ao sucesso de outras políticas públicas, comosaúde e educação, por exemplo.

A atribuição do Ministério Público na defesa dos direitossocioassistenciais decorre não só da natureza coletiva e socialdo direito em tela, mas também por disposição expressa do ar-tigo 31 da Lei Orgânica de Assistência Social - LOAS1.

A implementação adequada da política de assistência so-cial é pressuposto básico para assegurar aos cidadãos em situa-ção de vulnerabilidade o exercício de seus direitos fundamentais.

1 Art. 31. Cabe ao Ministério Público zelar pelo efetivo respeito aos direitos estabelecidosnesta lei.

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No âmbito do MP-GO, a matéria merece destacada impor-tância diante do tema eleito para o Plano Geral de Atuação (PGA)do biênio 2014/2015, a saber: “a intensificação da atuação no com-bate à corrupção, por meio de ações preventivas e repressivas, comespecial enfoque na fiscalização da aplicação de verbas públicas eno controle da qualidade e eficiência dos serviços públicos”.

Para atingir esse objetivo, os Centros de Apoio Operacio-nal vêm desenvolvendo, de forma integrada, inúmeros projetos,dentre eles, o projeto de fortalecimento do controle social que temcomo um dos eixos justamente a política de assistência social cujaparticipação popular na sua formulação e no controle das açõesestá expressamente prevista na Constituição (art. 204, II).

Além disso, o Centro de Apoio dos Direitos Humanos e doCidadão, em conjunto com o Centro de Apoio da Infância e Juven-tude e com o auxílio da Coordenação de Apoio Técnico-Pericial(CATEP), desenvolveu um roteiro prático de atuação no SUAS,discutido com Promotores de Justiça de todo o Estado em reuniãoordinária realizada em outubro de 2014, contendo as dúvidas maisfrequentes a respeito do funcionamento da assistência social.

Por fim, diante da existência da cartilha “O Ministério Pú-blico e a Fiscalização do SUAS”, produzida pelo Ministério Públicodo Rio de Janeiro, de conteúdo bastante prático e didático, apósgentil autorização do CAO Cidadania do MPRJ, optou-se por adap-tar o material ao contexto local e reproduzi-lo no Estado de Goiás.

Esta cartilha, portanto, é mais um instrumento a subsidiara atuação do Promotor de Justiça na verificação da existência equalidade dos serviços socioassistenciais, bem como na regu-laridade da atuação de entidades de assistência social que re-cebem verbas públicas. O escopo deste material é apresentarde forma simples e sintética os principais conceitos e caracte-rísticas do SUAS, servindo assim como apoio teórico à atividadefinalística da Instituição.

Não se tem com esta publicação, por óbvio, a pretensão

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de esgotar o tema ou abordar todas as vertentes da assistênciasocial, mas apenas de oferecer a membros e servidores do Mi-nistério Público maiores subsídios para uma introdução ou apri-moramento dos estudos nessa área.

Ademais, diante do viés universal do sistema, esperamostambém que este trabalho possa servir aos demais operadoresdo sistema de assistência social como mais um mecanismo desuporte à implementação dessa política.

Goiânia, fevereiro de 2015.

Melissa Sanchez ItaPromotora de Justiça

Coordenadora do CAODHC(março/13 - fevereiro/15)

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2 - INTRODUÇÃO

Os antecedentes históricos da assistência social no Brasilremontam ao período colonial, quando a assistência aos pobresera ligada à filantropia e a ações isoladas ou fragmentadas degrupos religiosos ou particulares, normalmente voltadas a crian-ças, adolescentes, idosos, gestantes, pessoas com deficiência.Mais tarde, alguns governantes também começaram a atuar nocampo do que se acreditava ou se definia como assistência so-cial. Predominavam as práticas assistencialistas, demagógicase descontinuadas que não primavam pelo desenvolvimento socialdo cidadão.

A assistência social caracterizava-se pelo público queatendia: os pobres e não como política pública setorial com ca-racterísticas próprias. Nesse contexto, a assistência englobavaqualquer atuação voltada ao público carente de recursos finan-ceiros não contemplada pelas demais políticas públicas, comosaúde e educação.

A Constituição de 1988 promoveu bruscas e positivasmudanças no contexto normativo da assistência social, tor-nando-a direito do cidadão e política pública de proteção articu-lada a outras políticas sociais destinadas à promoção dacidadania. A legislação editada com fundamento na nova ordemconstitucional, especialmente a Lei Orgânica de Assistência So-cial – LOAS, Lei n. 8.742/93, fundamento de validade dos diver-sos regulamentos expedidos pelo Conselho Nacional deAssistência Social – CNAS, tratou de redesenhar a organizaçãoda assistência social no Brasil através da instituição do SistemaÚnico de Assistência Social – SUAS.

Recentemente, em julho de 2011, foi publicada a Lein. 12.435/2011, que alterou a LOAS para instituir o SUAS, já

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previsto nas Resoluções do CNAS. A partir de então, o SUASganha status de lei ordinária e, com isso, mais força, sinalizandoo legislador pela aprovação do sistema antes regulamentado emnível infralegal. Ratifica-se, assim, o caráter obrigatório doSUAS, deixando evidente o sistema como a única alternativacorreta para o funcionamento e oferta da assistência social emtodo país.

Atualmente, portanto, além da Constituição da República(em especial, seus artigos 203 e 204) e da LOAS (Lei n.8.742/93, modificada pelas Leis n. 12.101/09 e n. 12.435/11),destacam-se os seguintes diplomas normativos na área de as-sistência social:

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LEIS n. 12.101/09 (dispõe sobre certificação de enti-dades beneficentes de assistência social)

DECRETOS n. 6.308/07 (dispõe sobre as entidades e orga-nizações de assistência social)

n.7.053/09 (dispõe sobre a Política Nacionalpara a População em Situação de Rua)

n. 7.636/11 (Cria o Índice de Gestão Descen-tralizada do SUAS)

n. 7.788, de 15 de agosto de 2012 (Regula-menta o Fundo Nacional de Assistência)

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A principal norma infralegal do SUAS, já destacadaacima, é a Norma Operacional Básica do SUAS - NOB/ SUAS,atualizada pela Resolução n. 33/12 do Conselho Nacional deAssistência Social.

A Resolução n. 33, de 12 de dezembro de 2012, revogoua Resolução n. 130, de 15 de julho de 2005 publicada no DiárioOficial da União de 25 de julho de 2005. Dessa forma, esta Re-solução n. 33, (NOB/ SUAS 2012) passou a vigorar desde a suapublicação.

Nela estão definidos os principais pontos do sistema,como a forma de cofinanciamento, as responsabilidades dosentes, os objetivos, diretrizes, instrumentos de gestão, etc.

Além dessa, a Resolução n. 109/09 e a NOB/SUAS-RHtambém são imprescindíveis ao funcionamento do sistema. Aprimeira estabelece como devem ser prestados os serviços so-cioassistenciais, servindo de norte para todos os atores e fiscais

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RESOLUÇÕES DO CNAS

n.145/04 (Aprova a Política Nacional deAssistência Social)

n.130/05 (Aprova a Norma OperacionalBásica do SUAS de 2005 - NOB/SUAS)

n.237/06 (Estabelece diretrizes para a es-truturação, reformulação e funcionamentodos Conselhos de Assistência Social)

n.269/06 (Aprova Norma OperacionalBásica de Recursos Humanos do SUAS- NOB/SUAS-RH)

n.109/09 (Aprova a Tipificação Nacionalde Serviços Socioassistenciais)

n. 33/12 (Aprova a Norma OperacionalBásica do SUAS de 2012 - NOB/SUAS)

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da rede, a segunda traz os princípios e diretrizes para a gestãodo trabalho no SUAS, inclusive os quantitativos mínimos de pro-fissionais de equipes de referência para alguns equipamentos.

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3 - O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

3.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS

A assistência social é direito do cidadão e dever do Es-tado, realizada por meio de um conjunto integrado de ações deiniciativa pública e da sociedade visando a garantir o atendi-mento às necessidades básicas do cidadão2.

Segundo dispõe a NOB/SUAS 2012, são funções da po-lítica de assistência social: a proteção social, a vigilância so-cioassistencial e a defesa de direitos, organizando-se sob aforma de um sistema público não contributivo, descentralizadoe participativo, denominado SUAS3.

Organiza-se, segundo dispõe a LOAS, com base nasseguintes diretrizes:

- descentralização político-administrativa;

- comando único em cada esfera de governo; participa-ção da população na formulação de políticas e controlede ações; e primazia da responsabilidade do Estado nacondução da política de assistência social em cada es-fera de governo4.

Nesse contexto, o SUAS caracteriza-se como um sistemapúblico não contributivo, descentralizado e participativo, que tempor função a gestão das ações na área de assistência social5.

2 Art. 1º da Lei n. 8.742/93.3 Art. 1º, NOB/SUAS2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012 4. 4 Art. 5º, incisos I a III, da Lei n. 8.742/93.5 Art. 6º, caput, da Lei n. 8.742/93.

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A compreensão desse sistema, suas característicase finalidades, é fundamental não apenas para direcionar ogestor na execução da política pública ou a entidade privadaem sua atuação na área, mas também para a fiscalização dosistema, quando será necessário distinguir quais atividadespodem ser caracterizadas como de assistência social e, porconsequência, estariam aptas a serem financiadas com ver-bas previstas no orçamento desta política.

3.1.1 - A descentralização político-administrativa

Em primeiro lugar, cabe esclarecer o que é gestão:

“gestão é o processo por meio do qual uma ou mais ações sãoplanejadas, organizadas, dirigidas, coordenadas, executadas,monitoradas e avaliadas visando ao uso racional e a econo-mia de recursos disponíveis (eficiência), a realização dos ob-jetivos planejados (eficácia) e a produção de impactosesperados sobre a realidade de seu público-alvo (efetividade)”6.

O modelo de gestão trazido pelo sistema pressupõe: ocofinanciamento das ações pelas três esferas de governo(União, Estados e Município), um mecanismo de gestão com-partilhada com definição clara das competências técnico-jurídi-cas de cada um dos entes, bem como a participação emobilização da sociedade civil na sua implantação e implemen-tação. Nesse modelo, integram o SUAS, além dos entes fede-rativos, os conselhos, as organizações e as entidades deassistência social.

O cofinanciamento concretiza-se a partir de transferênciasautomáticas de recursos financeiros, via fundos de assistênciasocial da União, Estados e Municípios, que asseguram a regularidadeorçamentária para a manutenção das ações socioassistenciais.

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6 Capacitação para Controle Social nos Municípios: Assistência Social e ProgramaBolsa Família. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília.2010. p. 89.Art. 30 da Lei n. 8.742/93.

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Dentre outras exigências, como condição para receber recursos(federais e estaduais), os Estados e Municípios devem ter insti-tuídos e em funcionamento, Conselhos de Assistência Social,Fundos de Assistência Social e Planos de Assistência Social emcada esfera de governo. Além disso, para receber recursos doFundo Nacional de Assistência Social (FNAS), Estados e Muni-cípios ainda devem comprovar a alocação de recursos própriosem seus respectivos Fundos de Assistência Social7.

O Fundo de Assistência Social deve constituir unidadeorçamentária própria e contemplar todos os recursos destinadosà Política de Assistência Social.

As responsabilidades de cada ente federativo estãodefinidas nos artigos 12 a 15 da Lei n. 8.742/93, com a novaredação dada pela Lei n. 12435/11, bem como nos artigos12 a 17 da NOB/SUAS 2012. Nessa esteira, as responsabili-dades dos municípios podem variar de acordo com seuporte e com a demanda pelos serviços, o que será objetode um capítulo adiante.

3.1.2 - A Participação Popular

A participação da sociedade civil, por sua vez, está previstana LOAS na integração do sistema com as entidades e organiza-ções de assistência social, na formulação de políticas públicas eno controle social das ações de cada esfera de governo.

A formulação de políticas e o controle social são exercidospela sociedade civil regularmente através de sua representaçãoem Conselhos de Assistência Social. Os Conselhos de Assis-tência Social devem ter composição paritária de segmentos go-vernamentais e não governamentais8. Tais conselhos compõemum Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência

7 Art. 30 da Lei n. 8.742/93.8 Art. 119, NOB/SUAS2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012.

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Social, atuando de forma específica em cada esfera de governo.Assim, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípiosdeverão instituir os conselhos por meio de edição de lei especí-fica, conforme determina a LOAS9.

Nesse Sentido, o Sistema Único de Assistência Socialpossui 4 (quatro) instâncias de deliberação de caráter perma-nente: o Conselho Nacional de Assistência Social, os ConselhosEstaduais de Assistência Social, o Conselho de Assistência So-cial do Distrito Federal e os Conselhos Municipais de AssistênciaSocial10.

Os Conselhos de Assistência Social, dentre outras atri-buições, devem participar da elaboração e aprovar as propostasde Lei de Diretrizes Orçamentárias, Plano Plurianual e da LeiOrçamentária Anual no que se refere à assistência social, bemcomo o planejamento e a aplicação dos recursos destinados àsações de assistência social, nas suas respectivas esferas de go-verno, tanto os recursos próprios quanto os oriundos de outrosentes federativos, alocados nos respectivos fundos de assistên-cia social11. O controle social pode ser exercido, também, nasConferências de Assistência Social, convocadas ordinariamentea cada 4 (quatro) anos12, organizadas e sustentadas pela res-pectiva esfera de governo13. As Conferências de Assistência So-cial, por sua vez, são espaços amplos e democráticos dediscussão e articulação coletivas, aos quais incumbe avaliar aPolítica de Assistência Social e propor diretrizes para aperfei-çoamento do SUAS, definindo metas e prioridades. São eventosabertos à participação da população, de instituições públicas ede organismos privados.

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9 Art. 119°,§1° NOB/SUAS2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012.10 Art. 113°, NOB/SUAS2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012.11 Art. 121°, VIII, NOB/SUAS2012, Atualizada pela Resolução n.33/2012.12 Art. 117°, NOB/SUAS2012, Atualizada pela Resolução n.33/2012.13 Podem ser realizadas etapas preparatórias ás conferências, mediante a convoca-ção de pré-conferências, reuniões ampliadas do conselho ou audiências públicas,entre outras estratégias de ampliação da participação popular, conforme prevê o art.118, §2 NOB/SUAS2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012.

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Destacam-se, ainda, as audiências públicas e outros me-canismos de audiência da sociedade, de usuários e de traba-lhadores sociais não definidos na LOAS, mas acertadamentemencionados no art. 116 da NOB/SUAS 2012, subsidiados, atra-vés de dados e informações concernentes às demandas e asnecessidades sociais.

A sociedade civil pode, ainda, participar da execução dapolítica propriamente dita. A LOAS prevê, já em seu artigo 1º, que“a assistência social será realizada pelo conjunto integrado deações de iniciativa pública e da sociedade”. Organizações e enti-dades privadas de assistência social podem, portanto, compor arede socioassistencial prestando serviços, projetos e programas.

3.1.3 - Serviços, Programas, Projetos e Benefícios

Como visto, a integração é característica fundamental dosistema e compreende não só a relação entre a rede pública eprivada de serviços, mas também de programas, projetos e be-nefícios oferecidos, sendo mencionada na LOAS como um dosobjetivos estruturantes do SUAS.

A rede socioassistencial, portanto, é composta do con-junto integrado de ações de iniciativa pública e privada que ofer-tam e operam serviços, benefícios, programas e projetos.

Os conceitos de serviços, programas e projetos de as-sistência social podem ser extraídos da LOAS, conforme se des-taca abaixo:

Art. 23. Entendem-se por serviços socioassistenciais as ativi-dades continuadas que visem à melhoria de vida da populaçãoe cujas ações, voltadas para as necessidades básicas, obser-vem os objetivos, princípios e diretrizes estabelecidos na LOAS.

Art. 24. Os programas de assistência social compreendemações integradas e complementares com objetivos, tempo e

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área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e me-lhorar os benefícios e os serviços assistenciais.

Art. 25. Os projetos de enfrentamento da pobreza compreen-dem a instituição de investimento econômico-social nos grupospopulares, buscando subsidiar, financeira e tecnicamente, ini-ciativas que lhes garantam meios, capacidade produtiva e degestão de melhoria das condições gerais de subsistência, ele-vação do padrão da qualidade de vida, a preservação do meio-ambiente e sua organização social.

Os benefícios de assistência social, quais sejam: o be-nefício de prestação continuada e os benefícios eventuais, tam-bém encontram regramento nos artigos 20 e 22 da LOAS. Obenefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuirmeios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida porsua família. Já os benefícios eventuais, são as provisões suple-mentares e provisórias que integram organicamente as garantiasdo SUAS e são prestadas aos cidadãos e às famílias em razãode nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporáriae de calamidade pública.

A compreensão desses conceitos é importante para dis-tinguir as ações que se incluem na rede de assistência social e,por conseguinte, podem, em princípio, ser suportadas pelo or-çamento da assistência social.

Outra característica que deve ser destacada diz respeitoàs funções da assistência social nesse novo prisma: a proteçãosocioassistencial – a que faz jus qualquer pessoa que necessitar- ocupa-se das fragilidades, vitimizações, vulnerabilidades e con-tingências que os cidadãos e suas famílias enfrentam durante avida, devendo, em suas ações, produzir aquisições materiais,sociais, socioeducativas e desenvolver capacidades, talentos,protagonismo e autonomia.

Dessa forma, o SUAS rompe com ideias tutelares e de

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subalternatividade, realizando a garantia de proteção socialativa, isto é, volta-se à conquista de condições de autonomia,resiliência e sustentabilidade, protagonismo, oportunidades, ca-pacitações, serviços, condições de convívio e socialização, deacordo com a capacidade, dignidade e projetos pessoais e so-ciais dos usuários.

A assistência social hoje, portanto, não pode se confundircom o assistencialismo do passado, já que apresenta caracte-rísticas e objetivos próprios, como se depreende do quadroabaixo:

Atenção: Práticas que não se enquadrem nas ações e objetivosacima não podem ser consideradas de assistência social e, portanto,não podem ser financiadas pelo orçamento da assistência social,nem servem para caracterizar a entidade como de assistênciasocial. A NOB/SUAS 2012, em seu art.6º, inciso II, recusa práticasde caráter clientelista, vexatório ou com intuito de benesse ouajuda.

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ASSISTENCIALISMO ASSISTÊNCIA SOCIAL

• Filantropia

• Fragmentação

• Segmentação

• Práticas eventuais / eleitoreiras

•Foco nas necessidades individuais;

• Política Pública

• Sistema

• Continuidade

• Base normativa concreta

• Direito do cidadão

• Desenvolvimento de capacidades,talentos, protagonismo e autonomia

• Foco nas necessidades coletivas

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3.1.4 - Instâncias de Pactuação

Por fim, dentro da diretriz de descentralização – característicado SUAS – cabe destacar, ao lado das instâncias de articulação(fóruns, conselhos, associações comunitárias, etc.) e deliberação(Conselhos e Conferência de Assistência Social), as instâncias depactuação estabelecidas na NOB/SUAS 2012.

Estas consistem em um espaço de debates e negocia-ções entre gestores para operacionalização da política de assis-tência social. Não há votação ou deliberação, só sendo possívela pactuação quando houver consenso entre todos os entes en-volvidos. Nelas, pactuam-se procedimentos de gestão e opera-cionalização do SUAS14.

Na NOB/SUAS 2012, são previstas duas instâncias depactuação15:

1.CIB- Comissão Intergestores Bipartite, no âmbito esta-dual com participação de representantes estaduais indi-cados pelo gestor estadual da Assistência Social egestores municipais;

2.CIT - Comissão Intergestores Tripartite, no âmbito na-cional, envolvendo as três esferas de governo, com re-presentantes da União, Estados, Distrito Federal eMunicípios.

A CIT é composta pelas seguintes representações: aUnião, representada pelo Orgão Gestor Federal da política deassistência social; os Estados e o Distrito Federal, representa-dos pelo Fórum Nacional de Secretários (as) de Estado de As-sistência Social –FONSEAS e os Municípios representados peloColegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência So-cial- CONGEMAS.

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14 Art. 133, NOB/SUAS 2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012.15 Art.128, NOB/SUAS 2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012.

Page 24: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

A CIB é composta pelas seguintes representações: o Es-tado, pelo Órgão Gestor Estadual da política de assistência so-cial e os Municípios representados pelo Colegiado Estadual deGestores Municipais de Assistência Social- COEGEMAS.

3.2 - PRINCÍPIOS E GARANTIAS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

A proteção social de Assistência Social, por direcionar-se ao desenvolvimento humano e social, através da garantia dosdireitos inerentes ao exercício pleno da cidadania, foi estrutu-rada sobre princípios que devem orientar toda a elaboração eexecução dessa política.

Para a compreensão do sistema, é fundamental conhe-cer alguns desses princípios e respectivas garantias. Nesse con-texto, merecem destaque os seguintes princípios16:

- da matricialidade sociofamiliar (a família é o núcleo socialbásico, devendo ser apoiada e fortalecida para a efetivi-dade de todas as ações e serviços de assistência social).

- da territorialização (expressa o reconhecimento doterritório como fator determinante - fator social eeconômico - para compreensão e enfrentamento das si-tuações de vulnerabilidade e risco social. Esse princípiodetermina, ainda, que os serviços socioassistenciaisdevem ser ofertados em locais próximos aos usuários).

- da proteção pró-ativa (o sistema deve constituir-se porum conjunto de ações capazes de reduzir a ocorrênciade riscos e danos sociais).

- da integração à seguridade social

- da integração às demais políticas sociais e econômicas

16 Art. 3° e art. 5°, NOB/SUAS2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012.

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Da mesma forma, destacam-se as garantias abaixo17:

- a segurança de acolhida (provida por meio da ofertapública de espaços e serviços para a realização da pro-teção social básica e especializada);

- a segurança social de renda;

- a segurança do convívio ou vivência familiar, comunitáriae social;

- a segurança do desenvolvimento da autonomia individual,familiar e social;

- a segurança de sobrevivência a riscos circunstanciais.

Assim, atuações que desconsiderem os princípios e ga-rantias acima estarão em confronto com as normas que pautam aassistência social e, assim, podem ser objeto de ajuste, atravésde instrumentos extrajudiciais, ou mesmo de intervenção do PoderJudiciário para fazer cumprir o regramento contido na legislaçãoprópria no bojo de ação civil pública proposta com esse fim.

Nesse ponto, é importante frisar que toda a norma-tiva da assistência social não pode ser confundida commera recomendação de atuação para o gestor ou para osdemais integrantes do SUAS. Trata-se, como não podia dei-xar de ser, de legislação que obriga o ente público. O direitoà assistência social é direito subjetivo público asseguradopela Constituição da República, concretizado pela LOAS econsolidado pelas Resoluções do CNAS.

17 Art. 4°, NOB/SUAS 2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012.

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3.3 - OS NÍVEIS DE PROTEÇÃO SOCIAL

Para a consecução de suas finalidades, a assistência so-cial no SUAS é organizada por níveis de proteção social, asaber: i) proteção social básica; e ii) proteção social especial(esta, dividida em média e alta complexidade).

3.3.1 - Proteção Social Básica

A proteção social básica é formada pelo conjunto deserviços, programas, projetos e benefícios da assistência socialque visam a prevenir situações de vulnerabilidade e risco socialpor meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisiçõese do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários18.Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidadesocial decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, pre-cário ou nulo acesso aos serviços públicos, entre outros) e/oufragilização de vínculos afetivos. Este nível de proteção é ope-rado por meio de: i) Centros de Referência de Assistência Social(CRAS), territorializados de acordo com a demanda do município;ii) rede de serviços sócioeducativos direcionados para grupos ge-racionais, integeracionais, grupos de interesse, entre outros; iii)benefícios eventuais; iv) benefícios de prestação continuada; ev) serviços e projetos de capacitação e inserção produtiva.

A principal unidade onde são prestados os serviços con-tinuados de proteção básica é o Centro de Referência de As-sistência Social (CRAS), caracterizando-o como a porta deentrada do SUAS. Esse pode ser definido como sendo a uni-dade pública municipal, de base territorial, localizada emáreas com maiores índices de vulnerabilidade19 e risco so-cial, destinada à articulação dos serviços socioassistenciaisno seu território de abrangência e à prestação de serviços,

18 Art. 6º-A, inciso I, da Lei n. 8.742/93.19 A vulnerabilidade decorre da perda ou fragilidade dos vínculos de afetividade, per-tencimento e sociabilidade; da desvantagem pessoal resultante de deficiências; e daexclusão pela pobreza e/ou pela falta de acesso às demais políticas públicas.

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programas e projetos socioassistenciais de proteção socialbásica às famílias.

O CRAS deve se localizar, como dito, em áreas de maiorvulnerabilidade social. E, assim, constitui-se como a principalporta de acesso à rede socioassistencial, sendo também res-ponsável pela organização e oferta de serviços de proteção so-cial básica. Deve realizar o referenciamento a outrosequipamentos e serviços de proteção básica e especial.

Cada município deverá ter CRAS em quantidade sufi-ciente para atendimento à sua demanda. Após ser revisada, em2012, a NOB/SUAS deixou de fazer referência a um número mí-nimo de CRAS por município, de acordo com seu porte, comoera previsto na NOB/SUAS 2005. Essas referências deixaramde ser utilizadas porque cada município tem uma necessidadediferente do outro e, sendo assim, não se pode generalizar umasituação padrão.

Nessa lógica, o número de CRAS que o município pre-cisa ter será determinado pela sua demanda por assistência so-cial, ou seja, enquanto houver família precisando deatendimento, a rede de equipamentos precisará ser ampliadapara garantir cobertura a todos que dela necessitarem.

Reafirmando esta lógica, a NOB/SUAS 2012, obriga osmunicípios a realizarem a cada quatro anos um diagnósticosocioterritorial para pautar a elaboração do Plano de AssistênciaSocial, afirmando que a identificação das demandas locais iráorientar a implantação dos novos equipamentos20. Outro fator im-portante para avaliar o número de CRAS que um município pre-cisa ter é a capacidade de referenciamento de cada equipamento.

A capacidade de referenciamento de um CRAS está re-lacionada21:

24

20 Art. 20° e 21° I e II, NOB/SUAS 2012, Atualizada pela Resolução n. 33/2012 21 21 NOB/SUAS 2012, artigo 64, parágrafos §2º e §3º.

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I. ao número de famílias do território;

II. à estrutura física da unidade; e

III. à quantidade de profissionais que atuam na unidade,conforme referência da NOB RH.

Dessa forma, a capacidade de referenciamento diz res-peito ao porte do equipamento, à sua potencialidade de atenderum número maior ou menor de famílias. Assim, cada CRAS ser-virá de referência para um número específico de famílias, quedeverá ser determinado com base nas reais condições e neces-sidades de atendimento, no número de famílias que vivem noterritório, na capacidade física e no número de profissionais exis-tentes no equipamento.

Partindo deste raciocínio, a NOB/SUAS 2012 previu trêspossibilidades diferentes de capacidade de referenciamento, de-finidas a partir de uma estimativa do número de famílias refe-renciadas que cada uma delas comportará.

No §3°, do art. 64, a NOB/SUAS estabelece que osCRAS serão organizados conforme o número de famílias a elereferenciadas, observando a seguinte divisão:

I. até 2.500 famílias;

II. de 2.501 famílias a 3.500 famílias;

III. de 3.501 famílias a 5.000 famílias.

Dessa forma, um território que apresente menor demandapoderá receber um equipamento com menor capacidade de referen-ciamento e locais de maior demanda, necessitarão de equipamentosde maior porte ou, até mesmo, de mais de um equipamento.

Essa é uma divisão importante porque estabelece um tetopara a capacidade de referenciamento do CRAS, oferecendo um

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parâmetro de quantificação. Vejamos: se há a estimativa de queexistem no território 10.000 famílias com perfil para serem refe-renciadas, este território precisará de 04 CRAS com capacidadepara referenciar até 2.500 famílias, ou de 03 CRAS com capaci-dade para referenciar 2.500 a 3.500 famílias, ou, ainda, de 02CRAS com capacidade para até 5.000 famílias. A escolha entreessas opções dependerá das condições ofertadas pelo municípiono que se refere à estrutura física e aos recursos humanos.

Entende-se por ¨famílias referenciadas¨ aquelas quevivem em áreas caracterizadas como de vulnerabilidade, e asque, embora não vivam nessas áreas, necessitem de proteçãosocial. Devem ser incluídas nesse conceito famílias que rece-bam benefícios sociais e auxílios financeiros e as que possuemmembros em situação de risco. Na prática, o Ministério do De-senvolvimento Social - (MDS) considera como número de famí-lias referenciadas o número de famílias inscritas no CadastroÚnico para Programas Sociais do Governo Federal22. O CadÚ-nico, conforme dispõe o art. 2º do Decreto n. 6.135/07, que o re-gulamenta, pode ser definido como sendo “o instrumento deidentificação e caracterização socioeconômica das famílias bra-sileiras de baixa renda, a ser obrigatoriamente utilizado para se-leção de beneficiários e integração de programas sociais doGoverno Federal voltados ao atendimento desse público.”

Entretanto, considerando a grande dificuldade encon-trada por alguns Municípios no cadastramento de famílias noCadastro Único do Governo Federal, têm-se cotejado seusdados com o número de famílias pobres estimado pelo IBGEcom este perfil, atentando para eventual disparidade23.

26

22 O CadÚnico é um banco de dados informatizado que identifica as famílias em si-tuação de pobreza, fornecendo dados para a priorização de ações governamentaisna saúde, educação, trabalho, renda, habitação e segurança alimentar. O CadÚnicoorienta a seleção de beneficiários do PBF.23 A estimativa de famílias pobres com Perfil Cadastro Único (baixa renda) foi feita apartir da combinação da metodologia de Mapas de Pobreza do IBGE, elaborados apartir do Censo Demográfico 2010 e de outros indicadores sócio-econômicos, le-vando em consideração a renda familiar per capita de até meio salário mínimo.

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ABADIA DE GOIÁS 650 1200 184,62ABADIÂNIA 1667 1684 101,02

ACREÚNA 2288 3061 133,78

ADELÂNDIA 319 463 145,14

ÁGUA FRIA DE GOIÁS 785 1106 140,89

ÁGUA LIMPA 260 331 127,31

ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS 20036 23591 117,74

ALEXÂNIA 2955 4216 142,67

ALOÂNDIA 238 319 134,03

ALTO HORIZONTE 481 623 129,52

ALTO PARAÍSO DE GOIÁS 923 1478 160,13

ALVORADA DO NORTE 1141 1473 129,1

AMARALINA 708 638 90,11

AMERICANO DO BRASIL 666 916 137,54

AMORINÓPOLIS 448 777 173,44

ANÁPOLIS 27830 33245 119,46

ANHANGUERA 70 156 222,86

ANICUNS 2226 3554 159,66

APARECIDA DE GOIÂNIA 38852 39584 101,88

APARECIDA DO RIO DOCE 285 407 142,81

APORÉ 385 554 143,9

ARAÇU 508 776 152,76

ARAGARÇAS 1852 3432 185,31

ARAGOIÂNIA 958 1618 168,89

ARAGUAPAZ 1054 1618 153,51ARENÓPOLIS 502 656 130,68

ARUANÃ 809 1038 128,31

AURILÂNDIA 512 561 109,57

AVELINÓPOLIS 384 536 139,58

BALIZA 731 865 118,33

MUNICíPIO

EstimativaCadastral

de famílias pobres

IBGE - 2010

Quantidade de Famílias

CadastradasReferência:

07/2014

Cobertura Cadastral

(%)

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BARRO ALTO 667 1406 210,79

BELA VISTA DE GOIÁS 2321 2236 96,34

BOM JARDIM DE GOIÁS 1185 1561 131,73

BOM JESUS DE GOIÁS 2351 2758 117,31

BONFINÓPOLIS 850 1128 132,71

BONÓPOLIS 498 768 154,22

BRAZABRANTES 348 550 158,05

BRITÂNIA 766 885 115,54

BURITI ALEGRE 843 862 102,25

BURITI DE GOIÁS 280 518 185

BURITINÓPOLIS 583 661 113,38

CABECEIRAS 1148 1486 129,44

CACHOEIRA ALTA 675 1246 184,59

CACHOEIRA DE GOIÁS 175 254 145,14

CACHOEIRA DOURADA 860 1360 158,14

CAÇU 787 1490 189,33

CAIAPÔNIA 2135 2636 123,47

CALDAS NOVAS 5834 7570 129,76

CALDAZINHA 432 578 133,8

CAMPESTRE DE GOIÁS 512 731 142,77

CAMPINAÇU 650 748 115,08

CAMPINORTE 1318 1590 120,64

CAMPO ALEGRE DE GOIÁS 551 846 153,54

CAMPO LIMPO DE GOIÁS 808 1138 140,84

CAMPOS BELOS 2718 3554 130,76

CAMPOS VERDES 948 1163 122,68

CARMO DO RIO VERDE 1103 1850 167,72

CASTELÂNDIA 464 784 168,97

CATALÃO 4867 7818 160,63

CATURAÍ 603 911 151,08

CAVALCANTE 1604 2056 128,18

CERES 1562 2618 167,61

CEZARINA 934 1148 122,91

CHAPADÃO DO CÉU 304 705 231,91

Page 32: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

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CIDADE OCIDENTAL 5777 7904 136,82

COCALZINHO DE GOIÁS 2387 3697 154,88

COLINAS DO SUL 544 704 129,41

CÓRREGO DO OURO 302 447 148,01

CORUMBÁ DE GOIÁS 1335 1754 131,39

CORUMBAÍBA 868 1272 146,54

CRISTALINA 4915 6758 137,5

CRISTIANÓPOLIS 359 572 159,33

CRIXÁS 2004 2492 124,35

CROMÍNIA 478 729 152,51

CUMARI 310 345 111,29

DAMIANÓPOLIS 592 783 132,26

DAVINÓPOLIS 192 234 121,88

DIORAMA 320 329 102,81

DIVINÓPOLIS DE GOIÁS 949 1342 141,41

DOVERLÂNDIA 910 1439 158,13

EDEALINA 396 569 143,69

EDÉIA 958 1464 152,82

ESTRELA DO NORTE 305 580 190,16

FAINA 1072 1231 114,83

FAZENDA NOVA 833 1028 123,41

FIRMINÓPOLIS 1343 1757 130,83

FLORES DE GOIÁS 2114 2319 109,7

FORMOSA 10566 15885 150,34

FORMOSO 705 864 122,55

GAMELEIRA DE GOIÁS 397 387 97,48

GOIANÁPOLIS 1294 1543 119,24

GOIANDIRA 427 637 149,18

GOIANÉSIA 4727 5360 113,39

GOIÂNIA 75894 74820 98,58

GOIANIRA 3435 4900 142,65

GOIÁS 2900 3431 118,31

GOIATUBA 2689 2719 101,12

GOUVELÂNDIA 557 708 127,11

Page 33: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

30

GUAPÓ 1730 2393 138,32

GUARAÍTA 364 418 114,84

GUARANI DE GOIÁS 777 895 115,19

GUARINOS 444 577 129,95

HEITORAÍ 559 745 133,27

HIDROLÂNDIA 1637 2842 173,61

HIDROLINA 561 928 165,42

IACIARA 1977 3381 171,02

INACIOLÂNDIA 670 982 146,57

INDIARA 1355 2384 175,94

INHUMAS 4349 6838 157,23

IPAMERI 2787 3416 122,57

IPIRANGA DE GOIÁS 401 599 149,38

IPORÁ 3116 2725 87,45

ISRAELÂNDIA 413 699 169,25

ITABERAÍ 3468 5112 147,4

ITAGUARI 453 843 186,09

ITAGUARU 629 995 158,19

ITAJÁ 453 814 179,69

ITAPACI 2106 2803 133,1

ITAPIRAPUÃ 1054 1319 125,14

ITAPURANGA 3004 4435 147,64

ITARUMÃ 553 910 164,56

ITAUÇU 857 861 100,47

ITUMBIARA 6950 8490 122,16

IVOLÂNDIA 392 524 133,67

JANDAIA 720 1157 160,69

JARAGUÁ 4382 6030 137,61

JATAÍ 6142 6838 111,33

JAUPACI 413 795 192,49

JESÚPOLIS 338 461 136,39

JOVIÂNIA 699 655 93,71

JUSSARA 2197 3259 148,34

LAGOA SANTA 136 315 231,62

Page 34: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

31

LEOPOLDO DE BULHÕES 973 1264 129,91LUZIÂNIA 19169 25211 131,52MAIRIPOTABA 342 660 192,98MAMBAÍ 1181 1703 144,2MARA ROSA 1317 1576 119,67MARZAGÃO 242 399 164,88MATRINCHÃ 619 1046 168,98MAURILÂNDIA 1132 1741 153,8MIMOSO DE GOIÁS 456 723 158,55MINAÇU 4094 4094 100MINEIROS 4075 6093 149,52MOIPORÁ 241 241 100MONTE ALEGRE DE GOIÁS 1366 1811 132,58MONTES CLAROS DE GOIÁS 913 927 101,53MONTIVIDIU 804 1213 150,87MONTIVIDIU DO NORTE 762 1037 136,09MORRINHOS 3214 3544 110,27MORRO AGUDO DE GOIÁS 360 550 152,78MOSSÂMEDES 628 829 132,01MOZARLÂNDIA 1446 2042 141,22MUNDO NOVO 1062 1150 108,29MUTUNÓPOLIS 623 720 115,57NAZÁRIO 895 1479 165,25NERÓPOLIS 2522 4291 170,14NIQUELÂNDIA 4653 6714 144,29NOVA AMÉRICA 281 560 199,29NOVA AURORA 179 383 213,97NOVA CRIXÁS 1570 2571 163,76NOVA GLÓRIA 1342 1541 114,83NOVA IGUAÇU DE GOIÁS 395 458 115,95NOVA ROMA 624 678 108,65NOVA VENEZA 921 1147 124,54NOVO BRASIL 429 824 192,07NOVO GAMA 11632 10812 92,95

Page 35: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

32

NOVO PLANALTO 700 993 141,86ORIZONA 1513 1416 93,59OURO VERDE DE GOIÁS 521 679 130,33OUVIDOR 415 885 213,25PADRE BERNARDO 3865 4034 104,37PALESTINA DE GOIÁS 395 608 153,92PALMEIRAS DE GOIÁS 2276 3404 149,56PALMELO 241 494 204,98PALMINÓPOLIS 414 617 149,03PANAMÁ 227 448 161,73PARANAIGUARA 858 1501 174,94PARAÚNA 1200 1679 139,92PEROLÂNDIA 341 550 161,29PETROLINA DE GOIÁS 1124 1263 112,37PILAR DE GOIÁS 458 536 117,03PIRACANJUBA 2212 2053 92,81PIRANHAS 1485 1926 129,7PIRENÓPOLIS 2713 3651 134,57PIRES DO RIO 2348 2978 126,83PLANALTINA 9713 11636 119,8PONTALINA 2144 2399 111,89PORANGATU 5410 7562 139,78PORTEIRÃO 247 777 314,57PORTELÂNDIA 358 712 198,88POSSE 4530 5143 113,53PROFESSOR JAMIL 377 567 150,4QUIRINÓPOLIS 3379 5982 177,03RIALMA 980 1557 158,88RIANÁPOLIS 472 516 109,32RIO QUENTE 291 515 176,98RIO VERDE 13909 18029 129,62RUBIATABA 2092 3124 149,33SANCLERLÂNDIA 797 1370 171,89SANTA BÁRBARA DE GOIÁS 643 1075 167,19

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SANTA ISABEL 476 624 131,09SANTA RITA DO ARAGUAIA 707 933 131,97SANTA RITA DO NOVO DESTINO 444 646 145,5SANTA ROSA DE GOIÁS 426 479 112,44SANTA TEREZA DE GOIÁS 731 799 109,3SANTA TEREZINHA DE GOIÁS 1554 2282 146,85SANTO ANTÔNIO DA BARRA 542 822 151,66SANTO ANTÔNIO DE GOIÁS 464 803 173,06SANTO ANTÔNIODO DESCOBERTO 8160 13336 163,43SÃO DOMINGOS 2152 1751 81,37SÃO FRANCISCO DE GOIÁS 842 1001 118,88SÃO JOÃO D´ALIANÇA 1405 1910 135,94SÃO JOÃO DA PARAÚNA 203 290 142,86SÃO LUÍS DE MONTES BELOS 2670 2615 97,94SÃO LUÍZ DO NORTE 636 857 134,75SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA 3102 4308 138,88SÃO MIGUEL DO PASSA QUATRO 387 489 126,36SÃO PATRÍCIO 264 488 184,85SÃO SIMÃO 1409 2390 169,62SENADOR CANEDO 8502 11635 136,85SERRANÓPOLIS 676 870 128,7SILVÂNIA 1763 2212 125,47SIMOLÂNDIA 1144 1489 130,16SÍTIO D´ABADIA 509 763 149,9TAQUARAL DE GOIÁS 314 720 229,3TERESINA DE GOIÁS 388 836 215,46TEREZÓPOLIS DE GOIÁS 813 1116 137,27TRÊS RANCHOS 256 441 172,27TRINDADE 10384 15793 152,09TROMBAS 581 884 152,15TURVÂNIA 704 1052 149,43TURVELÂNDIA 510 753 147,65UIRAPURU 469 609 129,85URUAÇU 3849 4439 115,33

Page 37: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

34

URUANA 1934 2641 136,56URUTAÍ 337 355 105,34VALPARAÍSO DE GOIÁS 12227 13783 112,73VARJÃO 392 799 203,83VIANÓPOLIS 1146 1492 130,19VICENTINÓPOLIS 768 1106 144,01VILA BOA 714 1139 159,52VILA PROPÍCIO 737 1078 146,27

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35

Os serviços de proteção social básica são:

a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família(PAIF);

b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos(voltado a crianças, adolescentes e idosos);

c) Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio paraPessoas com Deficiência e Idosas;

Esses serviços são descritos (seus objetivos, destinatá-rios, provisões, condições e formas de acesso, unidade, períodode funcionamento, abrangência, articulação em rede, impactosocial esperado) no Anexo da Resolução n.109/09 do CNAS,chamado de Tipificação Nacional de Serviços Socioassisten-ciais. O mais importante serviço de proteção básica é o de Pro-teção e Atendimento Integral à Família (PAIF) e deve serprestado necessariamente no Centro de Referência de Assis-tência Social (CRAS). Os demais serviços devem ser referen-ciados a este equipamento (o serviço de convivência efortalecimento de vínculos para idosos pode ser prestado noCRAS ou em outro centro de idosos, e o serviço de proteção so-cial básica no domicílio para pessoas com deficiência e idososdeve ser prestado no domicílio do usuário) e manter articulaçãocom o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família,sempre obedecidas as regras que regulam os serviços, inclusivequanto ao espaço físico e equipe técnica.

Dessa forma, possibilita-se a organização e a hierarqui-zação da rede socioassistencial no território, cumprindo a diretrizde descentralização da política de assistência social.

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3.3.2 - Proteção Social Especial

A proteção social especial é formada pelo conjunto deserviços, programas e projetos que têm por objetivo contribuir paraa reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa dedireito, o fortalecimento das potencialidades e aquisições e aproteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das si-tuações de violação de direitos25. Tem por referência a ocorrência

36

24 Resolução n. 109/09 do CNAS.25 Art. 6º-A, inciso II, da Lei n. 8.742/93.

QUADRO DE SERVIÇOS DA PROTEÇÃO BÁSICA24

SERVIÇO DE PROTEÇÃO EATENDIMENTO INTEGRAL

À FAMÍLIA (PAIF)

Consiste no trabalho social comfamílias, de caráter continuado,com a finalidade de fortalecer afunção protetiva daquelas, pre-venindo a ruptura de seus vínculos,promovendo seu acesso e usu-fruto de direitos e contribuindona melhoria de sua qualidade devida.

SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E

FORTALECIMENTO DEVÍNCULOS

Tem por finalidade, em síntese,complementar o trabalho socialcom famílias prevenindo aocorrência de situações de exclu-são social, risco e a instituciona-lização. O serviço é organizadode modo a garantir aquisiçõesprogressivas aos seus usuáriosde acordo com seu ciclo de vida,destinado a crianças, adolescen-tes e idosos.

SERVIÇO DE PROTEÇÃOSOCIAL BÁSICA

NO DOMICÍLIO PARA PESSOAS

COM DEFICIÊNCIA E IDOSAS

Objetiva prevenir, também com-plementando o trabalho socialcom famílias, o isolamento econfinamento de idosos e pes-soas com deficiência e agravosque possam desencadear rompi-mentos de vínculos familiares esociais.

Page 40: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

de situações de risco ou violação de direitos.

Os serviços de proteção social especial podem ser clas-sificados em dois níveis de acordo com a complexidade: prote-ção social especial de média complexidade e proteção socialespecial de alta complexidade. A primeira destina-se às situa-ções em que os vínculos familiares e comunitários, apesar daviolação de direitos, continuam preservados, a segunda aoscasos em que em que esses vínculos estão rompidos.

A principal unidade onde são materializados os ser-viços continuados de proteção especial é o Centro de Re-ferência Especializado de Assistência Social (CREAS),podendo este ser implantado com abrangência local ou re-gional, de acordo com o porte e necessidade dos municí-pios, aliados ao grau de incidência e complexidade dassituações de violação de direitos. O CREAS destina-se àprestação de serviços a indivíduos e famílias que se encontremem situação de risco pessoal ou social, por violação de direitosou contingências, que demandam intervenções especializadasda proteção social especial.

Os CREAS são a principal porta de entrada das famíliasna rede de proteção especial do Sistema Único de AssistênciaSocial, promovendo, também, o encaminhamento da populaçãolocal para as demais políticas públicas e sociais. Possibilitam odesenvolvimento de ações intersetoriais que visem à sustenta-bilidade, de forma a romper o ciclo de reprodução intergeracio-nal do processo de exclusão social, e a evitar que estas famíliase indivíduos voltem a ter seus direitos violados, recaindo em si-tuações de vulnerabilidade e riscos.

Assim como os CRAS, as unidades de oferta de serviçosde proteção social especial também poderão ter distintas capa-cidades de atendimento e composição, em função das dinâmi-cas territoriais e da relação entre estas unidades e as situaçõesde risco pessoal e social, as quais deverão estar previstas nosplanos de assistência social.

37

Page 41: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

Apesar disto, ainda que a definição do número necessá-rio de CREAS deva se pautar pela demanda do município, o Mi-nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome aindautiliza, como um parâmetro de referência para estabelecer o nú-mero mínimo de CREAS, o porte do município26:

O próprio MDS ressalta, contudo, nessas orientações,que esses são meros parâmetros de referência e que a realidadelocal – conhecida a partir do diagnóstico socioterritorial e dadosde vigilância socioassistencial – deve orientar, se for o caso, aimplementação de outros CREAS no município.

A demanda pelo equipamento e seus serviços, portanto,deve ser o norte do gestor na implementação da rede de prote-ção especial, em que se incluem os CREAS.

Outro ponto de que não se pode olvidar diz respeito à ob-tenção de financiamento federal ou estadual, pactuado ou decor-rente de habilitação em nível de gestão plena, para implementação

38

26 Orientações sobre a Gestão do Centro de Referência Especializado de AssistênciaSocial – CREAS – 1ª Versão. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate àFome. Brasília. 2011. p. 1527 O porte municipal é uma classificação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística – IBGE para dividir os municípios por número de habitantes. Esta clas-sificação é utilizada pela assistência social nos casos em que é necessário consideraro tamanho do município para fins de repasse financeiros, implantação de equipa-mentos, entre outros.

PORTE MUNICIPAL27 PARÂMETROS DE REFERÊNCIA

Pequeno Porte I Cobertura de atendimento em CREAS Regio-nal ou implantação de 01 CREAS, quando ademanda local justificar.

Pequeno Porte II Implantação de pelo menos 01 CREAS.

Médio Porte Implantação de pelo menos 01 CREAS.

Grande Porte, Metrópoles e DF

Implantação de 01 CREAS a cada 200.000habitantes.

Page 42: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

do CREAS ou de qualquer outro serviço ou equipamento. Nessecaso, estando o município recebendo verbas para esse fim, nãopode se escusar de ofertar o serviço/unidade.

De qualquer sorte, tendo em vista o princípio da territo-rialidade, a construção dos CREAS deve ocorrer em locais defácil acesso aos usuários e em territórios com grande incidênciade população em situação de vulnerabilidade. O objetivo é per-mitir a descoberta de potencialidades ligadas àquele território efacilitar a acolhida e aderência dos indivíduos e família, aumen-tando assim, a efetividade dos serviços oferecidos e as chancesde sucesso da intervenção.

Os CRAS e os CREAS devem possuir interface com asdemais políticas públicas, além de articular, coordenar e ofertarserviços, programas, projetos e benefícios da assistência social28.

Os serviços de proteção social especial são:

I - de média complexidade:

a) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado aFamílias e Indivíduos - PAEFI;

b) Serviço Especializado em Abordagem Social;

c) Serviço de Proteção Social a Adolescentes em cumpri-mento de medida Socioeducativa de Liberdade Assistida- LA e de Prestação de Serviços à Comunidade - PSC;

d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoascom Deficiência, Idosos (as) e suas Famílias;

e) Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua;

39

28 Lei n. 12.435 de 2011, § 3º, art. 6º-C.

Page 43: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

II- de alta complexidade:

a) Serviço de Acolhimento Institucional nas seguintesmodalidades:

- Abrigo Institucional;

- Casa-Lar;

- Casa de Passagem;

- Residência Inclusiva.

b) Serviço de Acolhimento em República;

c) Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora;

d) Serviço de Proteção em Situação de Calamidades Públicase de Emergências.

Assim como os serviços de proteção social básica, essesserviços são previstos detalhadamente no Anexo da Resoluçãon.109/09 do CNAS, na chamada Tipificação Nacional de Servi-ços Socioassistenciais.

Apenas o Serviço de Proteção e Atendimento Especiali-zado a Famílias e Indivíduos (PAEFI) deve ser prestado neces-sariamente no Centro de Referência Especializado deAssistência Social (CREAS). Os demais serviços listados podemser prestados tanto no CREAS quanto em unidades a ele refe-renciadas. A exceção fica por conta do Serviço Especializadopara Pessoas em Situação de Rua, que deve ser prestado ne-cessariamente no Centro de Referência Especializado para Po-pulação em Situação de Rua (CENTRO-POP). Desta forma,possibilita-se a organização e a hierarquização da rede socioas-sistencial no território, cumprindo a diretriz de descentralizaçãoda política de assistência social.

40

Page 44: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

41

Proteção SocialBásica

AtuaçãoPreventiva

Proteção Social Especial

(Violação de Direitos)

Atuação Restaurativa

Média Complexidade(vínculos preservados)

Alta Complexidade(vículos rompidos)

Page 45: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

42

QUADRO DE SERVIÇOS DA PROTEÇÃO ESPECIAL29

SERVIÇO DE PROTEÇÃO E

ATENDIMENTO ESPECIALIZADO

A FAMÍLIAS EINDIVÍDUOS

(PAEFI)

Consiste no trabalho de apoio, orientação e acompa-nhamento a famílias com um ou mais de seus membrosem situação de ameaça ou violação de direitos. Com-preende atenções e orientações direcionadas para apromoção de direitos, a preservação e o fortalecimentode vínculos familiares, comunitários e sociais e para ofortalecimento da função protetiva das famílias diante doconjunto de condições que as vulnerabilizam e/ou assubmetem a situações de risco pessoal e social.

SERVIÇO ESPECIALIZADO EM ABORDAGEM

SOCIAL

É aquele ofertado de forma continuada e programadacom a finalidade de assegurar trabalho social de aborda-gem e busca ativa que identifique, nos territórios, a inci-dência de trabalho infantil, exploração sexual de criançase adolescentes, situação de rua, dentre outras situaçõesde violação de direitos, devendo buscar a resolução denecessidades imediatas e promover a inserção na redede serviços socioassistenciais e das demais políticaspúblicas na perspectiva da garantia dos direitos.

SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL

A ADOLESCENTES EMCUMPRIMENTO DE

MEDIDA SOCIOEDU-CATIVA DE LIBERDADE

ASSISTIDA (LA) E DEPRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS À COMUNIDADE (PSC)

É o serviço destinado a prover atenção socioassistenciala adolescentes e jovens em cumprimento de medidassocioeducativas em meio aberto determinadas judicial-mente. Realiza-se a partir da elaboração do Plano Indi-vidual de Atendimento (PIA) com a participação doadolescente e sua família, contendo objetivos, metas,perspectivas de vida futura de acordo com as necessi-dades do adolescente.

SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL

ESPECIAL PARA PESSOAS COMDEFICIÊNCIA,

IDOSAS E SUAS FAMÍLIAS

Esse serviço visa à oferta de atendimento especializado afamílias com pessoas com deficiência e idosas com algumgrau de dependência, que tiveram suas limitações agra-vadas por violações de direitos, tais como: exploração daimagem, isolamento, confinamento, atitudes discriminató-rias e preconceituosas no seio da família, falta de cuidadosadequados por parte do cuidador, alto grau de estresse docuidador, desvalorização da potencialidade/ capacidadeda pessoa, dentre outras que agravam a dependência ecomprometem o desenvolvimento da autonomia.

SERVIÇO ESPECIALIZADO PARA

PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA

Tem por finalidade assegurar a pessoas que utilizam asruas como espaço de moradia e/ou sobrevivência oatendimento e as atividades direcionados para o desen-volvimento de sociabilidades, na perspectiva de fortale-cimento de vínculos interpessoais e/ou familiares queoportunizem a construção de novos projetos de vida.

Page 46: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

43

29Resolução n. 109/09 do CNAS.

QUADRO DE SERVIÇOS DA PROTEÇÃO ESPECIAL

SERVIÇO DE ACOLHIMENTOINSTITUCIONAL

Serviço de acolhimento voltado a famílias e/ou indiví-duos com vínculos familiares rompidos ou fragilizadosque deve funcionar em unidade com característicasresidenciais. O atendimento deve ser personalizado eem pequenos grupos, além de favorecer o convívio fa-miliar e comunitário.Para crianças, adolescentes e idosos, o serviço deve serdesenvolvido em Casa-Lar e Abrigo Institucional, paraadultos e famílias em Abrigo Institucional e Casa de Pas-sagem, para jovens e adultos com deficiência em Resi-dências Inclusivas. O serviço destinado especificamentea crianças e adolescentes deve ser organizado segundoas normas do ECA e documento “Orientações Técnicas:Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”,aprovado pela Resolução Conjunta CONANDA-CNASno 01 de 18 de junho de 2009.

SERVIÇO DE ACOLHIMENTO

EM REPÚBLICAS

Outra modalidade de serviço de acolhimento, destinadosa grupos de pessoas maiores de 18 anos em estado deabandono, situação de vulnerabilidade e risco pessoal comvínculos familiares extremamente fragilizados ou rompidos.

SERVIÇO DE ACOLHIMENTO

EM FAMÍLIA ACOLHEDORA

Esse serviço organiza o acolhimento de crianças eadolescentes afastados das famílias por medida deproteção em residências de famílias cadastradas. Oserviço é responsável por selecionar, capacitar, cadas-trar e acompanhar as famílias acolhedoras, assimcomo as criança e adolescentes acolhidas e suas fa-mílias de origem. O serviço também deve ser organi-zado segundo as normas do ECA e documento“Orientações Técnicas: Serviço de Acolhimento paraCrianças e Adolescentes” acima mencionado.

SERVIÇO DE PROTEÇÃO EMSITUAÇÕES DECALAMIDADESPÚBLICAS E DEEMERGÊNCIAS

Destina-se a promover o apoio e proteção à populaçãoatingida por situações de emergência e calamidadepública, com a oferta de alojamentos provisórios, aten-ções e provisões materiais, conforme as necessidadesdetectadas.

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3.4 - ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

As entidades e organizações de assistência social integram,junto com os Conselhos de Assistência Social e entes federa-tivos, o SUAS30.

Segundo definição legal, consideram-se entidades e organi-zações de assistência social as que, sem fins lucrativos, isoladaou cumulativamente, prestam atendimento e assessoramentoaos beneficiários da assistência social e as que atuam na defesae garantia de direitos31. Seus atos constitutivos devem definir expres-samente natureza, objetivos, missão e público-alvo de acordocom as disposições da LOAS32.

A caracterização dessas entidades e organizações comode assistência social - e seu consequente funcionamento no âm-bito do SUAS - exige a observância das normas que regem aassistência social em nosso país. A legislação, conquanto esta-beleça a integração entre entes públicos e entidades e organi-zações privadas, estabelece requisitos para atuação destas.

Exige a lei, em primeiro lugar, que a entidade esteja vin-culada ao SUAS. Essa vinculação consiste no reconhecimentopelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome(MDS) de que a entidade integra a rede socioassistencial33.

Para tanto, a entidade deve constituir-se na forma do art3º da LOAS34, inscrever-se no Conselho Municipal de AssistênciaSocial (ou Conselho de Assistência Social do Distrito Federal) e

44

30 Art. 6º, §2º da Lei n. 8.742/93.31 Art. 3º, caput, da Lei n. 8.742/93.32 Art. 1º do Decreto n. 6308/07.33 Art. 6º-B, §1º da Lei n. 8.742/93.34 Art. 3º Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas semfins lucrativos que, isolada ou cumulativamente, prestam atendimento e assessora-mento aos beneficiários abrangidos por esta Lei, bem como as que atuam na defesae garantia de direitos.

Page 48: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

integrar o sistema de cadastro de entidades mantido pelo MDS35.

Incorrendo em irregularidades na aplicação de recursospúblicos, as entidades terão sua vinculação ao SUAS cancelada36.

Apenas as entidades e organizações vinculadas aoSUAS podem celebrar convênios, contratos, acordos e ajustescom o poder público, e, assim, receber verbas públicas para fi-nanciamento de suas ações37 – o que deverá ser comunicadopelo órgão gestor local da assistência social ao MDS38.

Tais convênios só podem ser celebrados por União, Estadose Municípios em conformidade com os Planos aprovados pelosrespectivos Conselhos39. Por essa razão, é indispensável a aná-lise dos Planos de Assistência Social e dos Planos de Açãoquando da fiscalização da regularidade do convênio.

45

§1º São de atendimento aquelas entidades que, de forma continuada, permanentee planejada, prestam serviços, executam programas ou projetos e concedem bene-fícios de prestação social básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em si-tuações de vulnerabilidade ou risco social e pessoal, nos termos desta Lei, erespeitadas as deliberações do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), deque tratam os incisos I e II do art. 18.§ 2º São de assessoramento aquelas que, de forma continuada, permanente e pla-nejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamentepara o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de usuários, for-mação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistênciasocial, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS, de que tratamos incisos I e II do art. 18.§ 3º São de defesa e garantia de direitos aquelas que, de forma continuada, perma-nente e planejada, prestam serviços e executam programas e projetos voltados prio-ritariamente para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construçãode novos direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais,articulação com órgãos públicos de defesa de direitos, dirigidos ao público da políticade assistência social, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS,de que tratam os incisos I e II do art. 18.35 Art. 6º-B, §2º da Lei n. 8.742/93.36 Art. 36 da Lei n. 8.742/93.37 Art. 6º-B, §3º da Lei n. 8.742/93.38 Art. 6º, §4º da Lei n. 8.742/93.39 Art. 10 da Lei n. 8.742/93.

Page 49: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

Observe-se que, em qualquer hipótese, receba recursos pú-blicos ou não, o regular funcionamento da entidade depende de pré-via inscrição no Conselho Municipal de Assistência Social (ou do DF,quando for o caso), ao qual cabe sua fiscalização40. Também em qual-quer caso, a entidade deve prestar assistência social seguindo os ob-jetivos, diretrizes e princípios estabelecidos na NOB/SUAS 2012,NOB/SUAS-RH e demais normativas da área. Além disso, os serviçosdevem ser prestados em estrita observância à tipificação nacional deserviços aprovada pela Resolução CNAS 109/09.

46

40 Art. 9º da Lei n. 8.742/93.41 Art. 1º do Decreto n. 6.308/07.42 Art. 2º da Lei n. 8.742/93.43 Art. 3º da Lei n. 8.742/93 (Art. 3º Consideram-se entidades e organizações de as-sistência social aquelas sem fins lucrativos que, isolada ou cumulativamente, prestamatendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta Lei, bem comoas que atuam na defesa e garantia de direitos.

ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAISDE ASSISTÊNCIA SOCIAL

NATUREZA Pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos.

ATOS CONSTITUTIVOS

Seus atos constitutivos devem definir expressamentesua natureza, objetivos, missão e público-alvo em con-sonância com a normativa prevista na Lei n. 8.742/9341.

FINALIDADE SOCIAL

Deve ter como sua finalidade social a adoção, isoladaou alternativamente, dos seguintes objetivos, todosvoltados à garantia da vida, à redução de danos e/ouà prevenção à incidência de riscos42:- a proteção à família; - a proteção à maternidade; - a proteção à infância; - a proteção à adolescência; - a proteção à velhice; - o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; - a promoção da integração ao mercado de trabalho; - a habilitação e reabilitação das pessoas comdeficiência e a promoção de sua integração à vidacomunitária.

ATIVIDADES

Deve prestar, isolada ou cumulativamente43: atendi-mento aos beneficiários da Lei n. 8.742/93; assesso-ramento aos beneficiários da Lei n. 8.742/93; defesae garantia de direitos.

Page 50: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

47

§1º São de atendimento aquelas entidades que, de forma continuada, permanentee planejada, prestam serviços, executam programas ou projetos e concedem bene-fícios de prestação social básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos emsituações de vulnerabilidade ou risco social e pessoal, nos termos desta Lei, e res-peitadas as deliberações do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), deque tratam os incisos I e II do art. 18.§ 2º São de assessoramento aquelas que, de forma continuada, permanente e pla-nejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamentepara o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de usuários, for-mação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistênciasocial, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS, de que tratamos incisos I e II do art. 18).§ 3º São de defesa e garantia de direitos aquelas que, de forma continuada, perma-nente e planejada, prestam serviços e executam programas e projetos voltados prio-ritariamente para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construçãode novos direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais,articulação com órgãos públicos de defesa de direitos, dirigidos ao público da políticade assistência social, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS,de que tratam os incisos I e II do art. 18.)44 Art. 1º, parágrafo único, inciso II, do Decreto n. 6.308/07 c/c art. 2º da Lei n. 12.101/09.45 Art. 1º, parágrafo único, inciso II, do Decreto n. 6.308/07 c/c art. 2o da Lei n. 12.101/09. 46 Art. 9º da Lei n. 8.742/93.47 Art. 6º-B, § 2º da Lei n. 8.742/93.

ATENDIMENTODeve obedecer ao princípio da universalidade doatendimento, sendo vedado dirigir suas ativida-des exclusivamente a seus associados ou a ca-tegoria profissional44.

CONTRAPRESTAÇÃO Não poderá exigir contraprestação do usuário45.

REQUISITOSFORMAIS

Estar inscrita no Conselho Municipal de Assistên-cia Social46 e estar vinculada ao SUAS47.

OUTROS REQUISITOS

Os convênios celebrados com os entes públicosdevem estar em conformidade com os seus res-pectivos Planos de Assistência Social.

SERVIÇOSDevem estar em consonância com a Resolução109/09 do CNAS (Tipificação Nacional).

RECURSOS HUMANOS

Devem estar em consonância com a Resolução269/06 do CNAS (NOB-RH/SUAS).

Page 51: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

3.5 - RECURSOS HUMANOS

O tema recursos humanos é, dentro do sistema de as-sistência social, de grande relevância. Ao contrário de outros di-reitos sociais, como saúde, moradia e educação, quedemandam, para sua efetivação, gasto de significativa parcelade seu orçamento em insumos materiais, na assistência social,para a consecução de seus fins, a maior parcela do investimentodeve estar voltada aos recursos humanos, seja no pagamentode servidores, seja em sua capacitação.

O sucesso da política pública de assistência social, coma implementação e efetivação desse direito, só é possível graçasaos profissionais que atuam na rede socioassistencial, haja vistaa natureza do serviço.

Em 2006, o CNAS, atento à importância da gestão do tra-balho para consolidação do sistema, editou a Resolução n.269/06, aprovando a Norma Operacional Básica de Recursos Hu-manos do Sistema Único de Assistência Social, a NOB-RH/SUAS.

Nela, são apresentados princípios e diretrizes, dentre osquais destacam-se a necessidade de contratar e manter no qua-dro de pessoal servidores públicos concursados e qualificadosacademicamente, de uma política nacional de capacitação con-tinuada, descentralizada, bem como o fim da terceirização.

A NOB-RH/SUAS traz o conceito de equipes de referência48,definindo-as como “aquelas constituídas por servidores efetivosresponsáveis pela organização e oferta de serviços, programas, pro-jetos e benefícios da proteção social básica e especial, levando-se

48

48 A Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social n. 17 de 20 de junho de2011, “Ratificar a equipe de referência definida pela Norma Operacional Básica deRecursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social – NOB-RH/SUAS e Re-conhecer as categorias profissionais de nível superior para atender as especificidadesdos serviços socioassistenciais e das funções essenciais de gestão do Sistema Únicode Assistência Social – SUAS”.

Page 52: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

em consideração o número de famílias e indivíduos referenciados,o tipo de atendimento e as aquisições que devem ser garantidasaos usuários”49, além de dispor sobre a composição mínima de cadaequipe nos CRAS, CREAS e nos serviços de acolhimento tempo-rário, conforme quadros abaixo:

• Equipes de Referência nos CRAS:

49

49 NOB/SUAS-RH, p. 14.

MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE I

MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE II

MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE,GRANDE PORTE E

METRÓPOLES

01 Coordenador com nível superior, concursado e experiência em trabalhos comu-nitários e gestão de programas, projetos, serviços e benefícios socioassistenciais

Até 2.500 famílias referenciadas

Até 3.500 famílias referenciadas

A cada 5.000 famíliasreferenciadas

2 técnicos de nível su-perior, sendo um pro-fissional assistentesocial e outro preferen-cialmente psicólogo

3 técnicos de nível su-perior, sendo dois pro-fissionais assistentessociais e outro prefe-rencialmente psicólogo

4 técnicos de nível su-perior, sendo dois pro-fissionais assistentessociais, um psicólogo eum profissional quecompõe o SUAS

2 técnicos de nível médio 3 técnicos de nível médio 4 técnicos de nível médio

Page 53: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

• Equipes de Referência nos CREAS:

50

MUNICÍPIOS EM GESTÃO INICIAL E BÁSICA

MUNICÍPIOS EM GESTÃO PLENAE ESTADOS COM SERVIÇOS

REGIONAIS

Capacidade de atendimento de 50 pessoas/indivíduos

Capacidade de atendimento de 80 pessoas/indivíduos

1 coordenador 1 coordenador

1 assistente social 2 assistentes sociais

1 psicólogo 2 psicólogos

1 advogado 1 advogado

2 profissionais de nível superior ou médio (abordagem dos usuários)

4 profissionais de nível superior ou médio (abordagem dos usuários)

1 auxiliar administrativo 2 auxiliares administrativos

Page 54: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

• Equipes de Referência para os Centros de Acolhimento Institucionalcom atendimento em pequenos grupos(Abrigo Institucional, Casa-lar e Casa de Passagem)

51

Profissional Função

Escolaridade Quantidade

Coordena-dor

nível supe-rior ou médio

1 profissional referenciado paraaté 20 usuários acolhidos em, no máximo, 2 equipamentos.

Cuidador nível médioe qualificação específica

01 profissional para até 10 usuários,por turno. A quantidade de cuidadorpor usuário deverá ser aumentadaquando houver usuários que de-mandem atenção específica (comdeficiência, com necessidades es-pecíficas de saúde, pessoas soro-positivas, idade inferior a um ano,pessoa idosa com Grau de Depen-dência II ou III, dentre outros). Paratanto, deverá ser adotada a seguinterelação: a) 1 cuidador para cada 8usuários, quando houver 1 usuáriocom demandas específicas; b) 1cuidador para cada 6 usuários,quando houver 2 ou mais usuárioscom demandas específicas.

Auxiliar de Cuidador

nível fundamentale qualificaçãoespecífica

1 profissional para até 10 usuários,por turno. A quantidade de cuidadorpor usuário deverá ser aumentadaquando houver usuários que deman-dem atenção específica (com defi-ciência, com necessidadesespecíficas de saúde, pessoas soro-positivas, idade inferior a um ano,pessoa idosa com Grau de Depen-dência II ou III, dentre outros). Paratanto, deverá ser adotada a seguinterelação: a) 1 auxiliar de cuidador paracada 8 usuários, quando houver 1usuário com demandas específicas;b) 1 auxiliar de cuidador para cada 6usuários, quando houver 2 ou maisusuários com demandas específicas.

Atendimento

DIRETO

Page 55: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

• Equipes de Referência para os Centros de Acolhimento Institucionalcom atendimento em pequenos grupos (cont.)(Abrigo Institucional, Casa-lar e Casa de Passagem)

(*) vinculada ao órgão gestor

52

Profissional Função

Escolaridade Quantidade

Assistente Social nível superior 1 profissional para acom-panhamento de até 15 fa-mílias acolhedoras eatendimento a até 15 fa-mílias de origem dosusuários atendidos nestamodalidade.

Psicólogo nível superior 1 profissional para acom-panhamento de até 15 fa-mílias acolhedoras eatendimento a até 15 fa-mílias de origem dosusuários atendidos nestamodalidade.

Atendimento

PSICOS-SOCIAL

• Equipe de Referência para trabalho com Família Acolhedora:

(*) vinculada ao órgão gestor

Profissional Função

Escolaridade Quantidade

Coordenador nível superior 1 profissional referen-ciado para até 45 usuá-rios acolhidos.

Assistente Social nível superior 1 profissional para acom-panhamento de até 15 fa-mílias acolhedoras eatendimento a até 15 famí-lias de origem dos usuá-rios atendidos nestamodalidade.

Psicólogo nível superior 1 profissional para acom-panhamento de até 15 fa-mílias acolhedoras eatendimento a até 15 famí-lias de origem dos usuá-rios atendidos nestamodalidade.

Atendimento

PSICOS-SOCIAL

Page 56: O Ministério Público e a Fiscalização do SUAS - MPGO

• Equipe de Referência para Acolhimento em República:

• Equipe de Referência em Instituições de Longa Permanência paraIdosos (ILPI’s):

53

Profissional Função

Escolaridade Quantidade

Coordenador nível superior 1 profissional referenciadopara até 20 usuários.

Assistente Social nível superior 1 profissional para aten-dimento a, no máximo,20 usuários em até doisequipamentos.

Psicólogo nível superior 1 profissional para aten-dimento a, no máximo,20 usuários em até doisequipamentos.

Atendimento

PSICOS-SOCIAL

Atendimento

DIRETO

Profissional Função Escolaridade

1 Coordenador nível superior ou médio

Cuidadores nível médio

1 Assistente Social nível superior

1 Psicólogo nível superior

1 Profissional para desenvolvi-mento de atividades socioculturais

nível superior

Profissional de limpeza nível fundamental

Profissional de alimentação nível fundamental

Profissional de lavanderia nível fundamental

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Outro ponto importante consiste na possibilidade do pa-gamento de pessoal com recursos oriundos de verbas de cofi-nanciamento, trazida pela Lei n.12.435/11. Com o advento destediploma, que incluiu o art. 6º-E na LOAS, tais repasses passama poder ser aplicados no pagamento dos profissionais que inte-gram as equipes de referência conforme percentual estabelecidopelo MDS e aprovado pelo CNAS. Nessa esteira, foi aprovada aResolução n. 32/2011 do CNAS, que estabeleceu o limite de60% dos recursos oriundos do FNAS para o pagamento dessesprofissionais pelos Municípios.

Embora a Resolução não exija que esses profissionaissejam concursados, é consenso que a regra veio ao encontrodos anseios da assistência social de contar com equipes de re-ferência compostas de servidores qualificados, aprovados emconcurso público e de vínculo estatutário. A precariedade do vín-culo dificulta a profissionalização e a capacitação das equipes,requisitos indispensáveis à qualidade do serviço. A permissãopara utilização de co-financiamento para essa finalidade tambémafasta, ainda que em parte, o problema de insuficiência de re-cursos e sua consequente alegação pelo gestor, capaz de invia-bilizar o cumprimento do mandamento constitucional e daNOB/SUAS-RH.

Portanto, havendo recursos oriundos de repasses federaisou estaduais e sendo possível sua utilização para custeio de pes-soal, não há razão para que as contratações continuem a ser rea-lizadas de forma precária, sendo imperiosa a realização deconcurso público para suprir os quadros da rede socioassistencial.

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3.6 - A RESPONSABILIDADE DOS ENTES FEDERATIVOSNO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIASOCIAL – SUAS

Como já se afirmou, a organização da assistência socialtem como uma de suas diretrizes a descentralização político-ad-ministrativa e o comando único das ações em cada esfera de go-verno, o que é previsto no artigo 5º, inciso I, da Lei n.8.742/93.Dessa forma, são previstos como objetivos do SUAS a consolida-ção de uma gestão compartilhada, o co-financiamento e a coo-peração técnica e articulada entre os entes federativos.

Cabe, no entanto, identificar as parcelas de responsabi-lidade e competência de cada ente federativo na consecuçãodessa política articulada e na execução dos serviços de prote-ção social básica e especial. A Lei Orgânica da Assistência So-cial (Lei n. 8.742/93) dispõe sobre critérios de divisão decompetências em seu artigo 12 e seguintes:

Art. 12. Compete à União:I- responder pela concessão e manutenção dos benefícios deprestação continuada definidos no art. 203 da ConstituiçãoFederal;II- cofinanciar, por meio de transferência automática, o aprimo-ramento da gestão, os serviços, os programas e os projetos deassistência social em âmbito nacional;III- atender, em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e osMunicípios, às ações assistenciais de caráter de emergência.IV- realizar o monitoramento e a avaliação da política deassistência social e assessorar Estados, Distrito Federal eMunicípios para seu desenvolvimento.

Art. 13. Compete aos Estados:I- destinar recursos financeiros aos Municípios, a título de par-ticipação no custeio do pagamento dos benefícios eventuaisde que trata o art. 22, mediante critérios estabelecidos pelosConselhos Estaduais de Assistência Social;II- cofinanciar, por meio de transferência automática, o apri-moramento da gestão, os serviços, os programas e os projetos

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de assistência social em âmbito regional ou local;III- atender, em conjunto com os Municípios, às ações assis-tenciais de caráter de emergência;IV- estimular e apoiar técnica e financeiramente as associa-ções e consórcios municipais na prestação de serviços de as-sistência social;V- prestar os serviços assistenciais cujos custos ou ausênciade demanda municipal justifiquem uma rede regional de ser-viços, desconcentrada, no âmbito do respectivo Estado.VI- realizar o monitoramento e a avaliação da política de assistên-cia social e assessorar os Municípios para seu desenvolvimento.

Art. 15. Compete aos Municípios:I- destinar recursos financeiros para custeio do pagamento dosbenefícios eventuais de que trata o art. 22, mediante critériosestabelecidos pelos Conselhos Municipais de Assistência Social;II- efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e funeral;III- executar os projetos de enfrentamento da pobreza,incluindo a parceria com organizações da sociedade civil;IV- atender às ações assistenciais de caráter de emergência;V- prestar os serviços assistenciais de que trata o art. 23desta lei.VI- cofinanciar o aprimoramento da gestão, os serviços, osprogramas e os projetos de assistência social em âmbito local;(Incluído pela Lei n. 12.435, de 2011)VII- realizar o monitoramento e a avaliação da política de as-sistência social em seu âmbito.

Art. 23. Entendem-se por serviços socioassistenciais asatividades continuadas que visem à melhoria de vida dapopulação e cujas ações, voltadas para as necessidadesbásicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes esta-belecidos nesta Lei.§ 1º O regulamento instituirá os serviços socioassistenciais.§ 2º Na organização dos serviços da assistência social serãocriados programas de amparo, entre outros:I- às crianças e adolescentes em situação de risco pessoal esocial, em cumprimento ao disposto no art. 227 da Constitui-ção Federal e na Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatutoda Criança e do Adolescente);II- às pessoas que vivem em situação de rua.

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A lei definiu que, na estruturação e funcionamento dosserviços de proteção básica e especial do Sistema Único de As-sistência Social, o Município tem responsabilidade prepon-derante na prestação dos serviços, cabendo aos Estados e àUnião, salvo nos casos de emergência, uma atuação mera-mente fiscalizatória e subsidiária, sem prejuízo de seu dever decofinanciamento, através de transferências automáticas, opera-das fundo-a-fundo.

Observe-se que a leitura a contrário sensu do artigo 13,inciso V, da Lei n. 8.742/93, informa que apenas seria de res-ponsabilidade do Estado a prestação direta de serviços assis-tenciais nas hipóteses em que seus custos ou ausência dedemanda municipal justifiquem uma rede regional.

Assim, a oferta de serviços e ações de Proteção SocialBásica compete a todos os municípios. No caso dos serviços deProteção Social Especial, se não se verificar demanda potencialpara a instalação de equipamentos próprios no âmbito do muni-cípio, os serviços poderão ser ofertados como serviço regional,ofertados pelo Estado, ou mediante consórcios públicos, pac-tuados entre os municípios de determinada região que apresen-tem características semelhantes, ou por ambas as formas definanciamento.

Deste raciocínio, depreendem-se duas regras para a de-limitação das responsabilidades dos municípios quanto à ofertade serviços em seu âmbito. A primeira, quanto à proteção bá-sica: todos os municípios devem oferecer em seu territórioa proteção social básica. A segunda, relativa à proteção socialespecial, coloca como fator determinante para a configura-ção dessa obrigação a demanda pelos serviços no municí-pio. Esta, ressalte-se, aplica-se tão somente à proteção socialespecial, já que a proteção social básica é preventiva e, assim,visa, justamente, a evitar a ocorrência de situações que possamcaracterizar a demanda pelos serviços de proteção especial.

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Presume-se que os municípios maiores apresentamdemanda por serviços de média complexidade e/ou de altacomplexidade. Contudo, ainda que não caiba a presunçãoacima, persiste a responsabilidade do município sempreque existente e comprovada a demanda.

Lembre-se que, na lógica da NOB/SUAS 2012, o queorienta a necessidade de oferta do serviço de proteção es-pecial no âmbito do território do município é a demanda.Pelo princípio da territorialidade, a proteção social deve ser ofer-tada considerando as peculiaridades do território e o acesso àrede por seus usuários. Destarte, havendo demanda suficiente,o serviço deve ser oferecido em âmbito municipal independente-mente do tamanho do município. Caberá, nesses casos, ao Mi-nistério Público, caso seja necessário, ajuizar ação civil públicae provar a demanda que justifica a disponibilização do serviço.

Em qualquer caso, além do princípio da cooperação, queautoriza a oferta regional do serviço, deve ser levado em contao princípio da subsidiariedade, que pressupõe que as instânciasfederativas mais amplas não devem realizar o que pode ser feitopor instâncias locais. Portanto, a intervenção das instânciasfederativas centrais deve ser colocada como o último re-curso, cabível apenas quando a cooperação federativa nãofor capaz de solucionar o problema.

Desse modo, ainda que o município não disponha, em seuterritório, do serviço de média ou alta complexidade, permanece suaobrigação de articular-se para oferecer os serviços de forma regio-nal, facilitar o acesso e prestar o adequado referenciamento a essesserviços, atendendo sempre o usuário da rede de assistência.

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50 Capacitação para Controle Social nos Municípios: Assistência Social e Programa BolsaFamília. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília. 2010. p.89

3.7 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO

O SUAS, como já visto, é o sistema que tem por funçãoa gestão das ações na área de assistência social.

Gestão é o processo por meio do qual uma ou maisações são planejadas, organizadas, dirigidas, coordenadas,executadas, monitoradas e avaliadas visando ao uso racionaldos recursos disponíveis (eficiência), aos objetivos planejados(eficácia) e aos impactos esperados (efetividade)50.

Instrumentos de gestão, por consequência, são os ins-trumentos de planejamento, organização, direção, coordenação,execução, monitoramento e avaliação da política de assistênciasocial e do SUAS.

Assim, caracterizam-se como instrumentos de gestão doSUAS:

a)Plano de Assistência Social;

b)Pacto de Aprimoramento do SUAS;

c)Orçamento;

d)Processos de Acompanhamento;

e)Gestão da Informação;

f)Gestão do Trabalho.

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a) Plano de Assistência Social

O Plano de Assistência Social, cuja elaboração é de res-ponsabilidade do órgão gestor da política, deve ser submetidoà aprovação do Conselho de Assistência Social e concretiza oplanejamento estratégico da assistência social no respectivoente. Deve comportar: objetivos, diretrizes, metas, prioridades,ações e estratégias para implementação destas, resultados eimpactos esperados, recursos materiais e financeiros disponí-veis e necessários, a cobertura da rede prestadora de serviços,indicadores de monitoramento e avaliação, bem como o espaçotemporal de execução.

O Plano de Assistência Social deve se pautar no diagnós-tico socioterritorial51 e ser elaborado pelo prazo de quatro anos,desdobrando-se anualmente em um Plano de Ação. O diagnós-tico também deve compor o Plano de Assistência Social.

O Plano de Ação52 materializa o planejamento físico efinanceiro dos repasses fundo a fundo recebidos para posteriorapreciação do Conselho, devendo ser preenchido pelos Muni-cípios e DF no SUAS-WEB53, ou em formulário específico nocaso do Plano de Ação estadual, como condição para transfe-rência dos recursos do cofinanciamento federal.

51 NOB/SUAS 2012, art. 20.52 O Plano de Ação é o instrumento eletrônico de planejamento utilizado pela SNASpara ordenar e garantir o lançamento e validação anual das informações necessáriasao início ou à continuidade da transferência regular automática de recursos do cofi-nanciamento federal dos serviços socioassistenciais.53 O Suasweb é um sistema informatizado desenvolvido pelo Ministério do Desen-volvimento Social e Combate à Fome – MDS especificamente para auxiliar na gestãodo SUAS. Ele é alimentado por estados e municípios que utilizam formulários espe-cíficos, como o Plano de Ação e o Demonstrativo Sintético físico-financeiro.

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b) Pacto de Aprimoramento do SUAS

O Pacto de Aprimoramento do Sistema Único de AssistênciaSocial54 é um instrumento de gestão firmado entre a União, osEstados e os Municípios para materializar metas e prioridadesno âmbito do SUAS. Ele objetiva induzir a qualificação deste sis-tema, organizando a gestão para atingir metas pactuadas.Assim, as metas e prioridades pactuadas expressarão o com-promisso da gestão com o aprimoramento do SUAS.

O Pacto de Aprimoramento do SUAS deve ser elaboradoa cada 04 anos e revisto anualmente. A União pactuará na CITmetas e prioridades para Estados e Municípios e os Estadospactuarão na CIB metas e prioridades para os Municípios. OsMunicípios deverão planejar as formas de alcance das metas,sendo este planejamento submetido à deliberação do ConselhoMunicipal de Assistencia Social. O planejamento para o alcancedas metas pactuadas será realizado por meio de ferramenta in-formatizada a ser disponibilizada pela União55.

Mais que mera burocracia, este Pacto é um instrumentode qualificação do sistema, cujas prioridades e metas devem serexpressas nos Planos de Assistência Social, bem como nos Pla-nos Plurianuais dos Municípios.

As prioridades e metas de gestão previstas para o qua-driênio 2014-2017 foram aprovadas na 124ª reunião ordináriada Comissão Intergestores Tripartites, conforme apresenta oquadro a seguir56:

54 NOB-SUAS 2012, art. 2355 NOB SUAS 2012, art. 32.56 Tabela disponível no endereço eletrônico do Ministério do Desenvolvimento Sociale Combate à Fome, no link http://www. mds.gov.br/assistenciasocial/cit-define-prioridades-e-metas-municipais-para-o-periodo-2014-2017.

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PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA

PRIORIDADE META

a) Acompanhamento familiar pelo PAIF Atingir taxa de acompanhamento do PAIFdas famílias cadastradas no CadÚnico de15 % para municípios de Peq. I e 10%para os demais portes.

b) Acompanhamento pelo PAIF das famí-lias com membros beneficiários do BPC

Atingir taxa de acompanhamento do PAIFdas famílias com membros beneficiáriosdo BPC: 25 % para municípios de Peq.Porte I e 10% para os demais portes.

c) Cadastramento das famílias com bene-ficiários do BPC no CadÚnico

Atingir os seguintes percentuais de Cadas-tramento no CadÚnico das famílias compresença de beneficiários do BPC: Munic.Peq I - 70%; Munic. Peq II – 70%; MédioPorte – 60 %; Grande Porte – 60%; Me-trópole – 50%.

d) Acompanhamento pelo PAIF das famí-lias beneficiárias do Programa Bolsa Fa-mília que apresentem outrasvulnerabilidades sociais, para além da in-suficiência de renda

Atingir taxa de acompanhamento peloPAIF das famílias beneficiárias do Pro-grama Bolsa Família de 15% para os mu-nicípios de Peq. Porte I e 10% para osdemais portes.

e) Acompanhamento pelo PAIF das famí-lias beneficiárias do Programa Bolsa Fa-mília em fase de suspensão pordescumprimento de condicionalidades,cujos motivos sejam da assistência social

Atingir 50% de taxa de acompanhamentodas famílias em fase de suspensão doPrograma Bolsa Família em decorrênciado descumprimento de condicionalidades,cujos motivos sejam da assistência socialcom respectivo sistema de informação.

f) Reordenamento dos Serviços de Convi-vência e Fortalecimento de Vínculos

Atingir o percentual de 50% de inclusão dopúblico prioritário no Serviço de Convivên-cia e Fortalecimento de Vínculos.

g) Ampliação da cobertura da ProteçãoSocial Básica nos municípios de grandeporte e metrópoles

Referenciar 100% da população constanteno CadÚnico com ½ SM ou 20% dos do-micílios do município aos CRAS.

h) Adesão ao Programa BPC na Escola Alcançar 100% de adesão dos municípiosao Programa BPC na Escola.

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PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL

PRIORIDADE META

a) Ampliação da cobertura do PAEFInos municípios com mais de 20 milhabitantes

Implantar 1 CREAS em todos os municí-pios entre 20 e 200 mil habitantes e nomínimo de 1 CREAS para cada 200 milhabilitantes.

b) Identificação e cadastramento decrianças e adolescentes em situação deTrabalho Infantil

Atingir no mínimo 70% de cadastro até fimde 2016 nos Municípios com alta incidên-cia que aderiram ao cofinancimento dasações estratégicas do PETI em 2013. Atin-gir no mínimo 70% de cadastro até fim de2017 nos Municípios com alta incidênciaque aderiram ao cofinancimento dasações estratégicas do PETI em 2014. Atin-gir 50% de identificação e o cadastro dotrabalho infantil para os demais municípios.

c) Cadastramento e atendimento da Po-pulação em Situação de Rua

Identificar e cadastrar no CadÚnico 70%das pessoas em situação de rua emacompanhamento pelo Serviço Especiali-zado ofertado no Centro Pop. Implantar100% dos Serviços para população de rua(Serviço Especializado para Pop Rua, Ser-viço de Abordagem Social e Serviço deAcolhimento para pessoa em situação derua) nos municípios com mais de 100 milhabitantes e municípios de regiões metro-politanas com 50 mil ou mais, conformepactuação na CIT e deliberação do CNAS.

d) Acompanhamento pelo PAEFI de fa-mílias com crianças e adolescentes emserviço de acolhimento

Acompanhar 60% das famílias comcriança ou adolescente nos serviços deacolhimento.

e) Reordenamento dos Serviços deAcolhimento para Crianças e Adoles-centes

Reordenar 100% dos serviços de acolhi-mento para crianças e adolescente emconformidade com as pactuações da CITe resoluções do CNAS.

f) Acompanhamento pelo PAEFI das fa-mílias com violação de direitos em de-corrência do uso de substânciaspsicoativas

Realizar em 100% dos CREAS o acom-panhamento de famílias com presença deviolação de direitos em decorrência do usode substâncias psicoativas.

g) Implantar Unidades de Acolhimento(residência inclusiva) para pessoas comdeficiência em situação de dependênciacom rompimento de vínculos familiares

Implantar 100% das unidades de acolhi-mento (residência inclusiva), conformepactuado na CIT e deliberado pelo CNAS,para pessoas com deficiência em situaçãode dependência com rompimento de vín-culos familiares.

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GESTÃOPRIORIDADE META

a) Desprecarização dos vínculos trabalhis-tas das equipes que atuam nos serviçossocioassistenciais e na gestão do SUAS

Atingir percentual mínimo 60% de traba-lhadores do SUAS de nível superior emédio com vínculo de servidor estatutárioou empregado público.

b) Estruturação das SMAS com formaliza-ção de áreas essenciais

100% dos municípios de pequeno I e II emédio porte com instituição formal, na es-trutura do órgão gestor de assistência so-cial, as áreas constituídas comosubdivisões administrativas, Proteção So-cial Básica, Proteção Social Especial e aárea de Gestão do SUAS com competên-cia de Vigilância Socioassistencial. 100%dos municípios de grande porte e metró-pole com instituição formal, na estrutura doórgão gestor de assistência social, áreasconstituídas como subdivisões administra-tivas a Proteção Social Básica, ProteçãoSocial Especial, com subdivisão de Médiae Alta Complexidade, Gestão Financeira eOrçamentária, Gestão de Benefícios As-sistenciais e Transferência de Renda, áreade Gestão do SUAS com competência de:Gestão do Trabalho, Regulação do SUASe Vigilância Socioassistencial.

c) Adequação da legislação Municipal à le-gislação do SUAS

100% dos municípios com Lei que regu-lamenta a Assistência Social e o SUASatualizada.

CONTROLE SOCIAL

PRIORIDADE META

a) Ampliar a participação dos usuários etrabalhadores nos Conselhos Municipaisde Assistência Social

Atingir 100% dos Conselhos Municipaisde Assistência Social com representaçãoda sociedade civil composta representan-tes de usuários e dos trabalhadores doSUAS.

b) Instituir o CMAS com instância de Con-trole Social do Programa Bolsa Família

Atingir 100% dos Conselhos Municipaisde Assistência Social como instância decontrole social do PBF.

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c) Orçamento

O orçamento da assistência social, por seu turno, con-templa as receitas e despesas dessa área e deve estar em con-sonância com o Plano de Assistência Social, o Plano Plurianualdo município e o Planejamento para o alcance das metas pac-tuadas para aprimoramento do SUAS, devendo ser inserido nafunção 08 da proposta de Lei Orçamentária Anual. Todos os re-cursos destinados à Política de Assistência Social (despesas re-lacionadas aos serviços, programas, projetos e benefíciossocioassitenciais) devem ser alocados no Fundo de AssistênciaSocial, constituído como unidade orçamentária. Essa, aliás, éuma das condições gerais para transferência de recursos fede-rais e estaduais e objetiva conferir transparência e facilitar o con-trole pelo Conselho da execução financeira.

Os recursos destinados às atividades meio (seja de ma-nutenção da política pública ou voltada ao apoio administrativodos conselhos) devem estar inseridos no campo correspondenteao órgão gestor da política.

d) Processo de acompanhamento

O processo de acompanhamento da gestão, dos servi-ços, programas, projetos e benefícios, também constitui instru-mento fundamental para o alcance dos objetivos da política deassistência social, e objetiva a verificação do alcance das metasdo Pacto de Aprimoramento do SUAS e a observância às nor-mas deste sistema.

O acompanhamento poderá se dar por meio de visitas téc-nicas, análises de dados, apuração de denúncias, fiscalizações eauditorias entre outros que constituem o monitoramento do SUAS.

O processo de acompanhamento adotará como instru-mento de assessoramento os Planos de Providências e os Planosde Apoio.

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O Plano de Providência é um instrumento de planeja-mento das ações para a superação de dificuldades dos municí-pios na gestão e na execução dos serviços, programas, projetose benefícios socioassistenciais identificadas nos processos demonitoramento. Estes planos devem ser elaborados pelos Es-tados e Municípios. Por meio deste instrumento, planejam-seformas, recursos e responsabilidades necessários para correçãodas situações inadequadas às normativas do SUAS.

O Plano de Apoio decorre do Plano de Providências doEstado e dos municípios e consiste no planejamento do asses-soramento técnico, e, se for o caso, financeiro, que o Estadoprestará ao município para apoiar o cumprimento de seu Planode Providências.

Os Planos de Providências constituem instrumento im-portante para a fiscalização do Ministério Público, vez que apon-tam as situações de inadequações às normativas presentes nosmunicípios, sintetizando as formas e prazos previstas pela pró-pria municipalidade para solucionar a situação. Da mesmaforma, o Plano de Apoio apresenta a forma como o Estado prevêauxílio ao município neste processo.

e) Gestão da Informação

A gestão da informação é estratégica para o planeja-mento e a tomada de decisões quanto ao direcionamento e exe-cução da política.

A gestão da informação se dá através da Rede SUAS, o sis-tema de informação do SUAS, no qual são registradas informaçõesrelativas ao suporte financeiro, suporte gerencial e controle social.

A rede SUAS é composta pelos seguintes aplicativos:

- O cadastro único para Programas Sociais do GovernoFederal – Cadúnico;

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- Os sistemas e bases de dados relacionados à opera-cionalização do Programa Bolsa Família e do Benefíciode Prestação Continuada, observadas as normas sobresigilo de dados dos respectivos cadastros;

- Os sistemas de monitoramento;

- O Censo SUAS57.

A gestão da informação possibilita o monitoramento con-tínuo e sistemático do SUAS. Este monitoramento se dá peladefinição de indicadores pactuados entre os gestores Federal,Estaduais e Municipais. Tais indicadores visam a mensurar:

- Estrutura ou insumos;

- Processos ou atividades;

- Produtos ou resultados.

As principais fontes de informação para o sistema de mo-nitoramento do SUAS são: o Censo SUAS, Sistemas de regis-tros de atendimentos e outros cadastros e sistemas gerenciaisque integram o SUAS. Estes instrumentos possibilitam o acom-panhamento da execução dos serviços, sendo possível mensu-rar quantitativos de atendimentos, atividades desenvolvidas,qualidade da estrutura física, entre outras informações funda-mentais para a fiscalização pelo Ministério Público.

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57 O Censo SUAS é uma ferramenta de levantamento de dados coletado por meio dopreenchimento autodeclaratório de um formulário disponibilizado pelo Governo Federalaos municípios. Ele possibilita traçar um diagnóstico abrangente da execução do SUASnos municípios, identificando os aperfeiçoamentos necessários. A análise dos dadosdo Censo SUAS permite uma fotografia da realidade dos municípios e contempla osCRAS, CREAS, Gestão municipal, Conselhos e rede privada.

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f) Gestão do Trabalho

A gestão do trabalho é uma das inovações previstas naNOB/SUAS 2012 e compreende o planejamento de ações vi-sando à valorização dos trabalhadores do SUAS e à estrutura-ção dos processos de trabalho institucional no âmbito da União,dos Estados e dos Municípios.

Trata-se de ações, como a realização de concursos públi-cos, a adequação dos perfis profissionais às necessidades doSUAS, a garantia de ambientes de trabalho mais saudáveis, a de-finição de processos de negociação no ambiente institucional, aprevisão de planos de cargos, carreiras e salários, entre outros.

Para estimular a consolidação deste eixo, encontra-seem andamento o Capacita SUAS, Programa Nacional de Capa-citação do Sistema Único da Assistência Social- SUAS voltadopara a formação permanente e a capacitação dos gestores, tra-balhadores e conselheiros da Assistência Social.

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3.8 - FINANCIAMENTO

O SUAS, como dito, baseia-se num modelo de gestãodescentralizado que pressupõe o cofinanciamento das açõespelas três esferas de governo.

Compete, portanto, à União e aos Estados cofinanciar, pormeio de transferências automáticas, o aprimoramento da gestão,os serviços, os programas e os projetos de assistência social58.

As transferências fundo a fundo59, como disposto no item3.1 acima, são realizadas entre os Fundos de Assistência Socialde cada ente envolvido, onde devem ser alocados todos os recur-sos destinados à assistência social naquela unidade federativa.Somente dessa maneira, é possível ao Conselho de AssistênciaSocial exercer a fiscalização da aplicação dos recursos da As-sistência Social.

Para o recebimento de recursos, Estados e Municípiosdevem cumprir as condições previstas no art. 30 da LOAS: terinstituído e em funcionamento Conselho de Assistência Social(de composição paritária entre governo e sociedade civil), Fundode Assistência Social (com orientação e controle do respectivoConselho de Assistência Social) e Plano de Assistência Social.

Os Fundos de Assistência Social são instrumentos degestão orçamentária e financeira da política de assistência so-cial nas três esferas de governo, conforme disposto na LOAS,1993, PNAS, 2004 e NOB/SUAS, 2005 e 2012.

Os Fundos devem ser inscritos no Cadastro Nacional dePessoa Jurídica – CNPJ, na condição de Matriz, na forma dasInstruções Normativas da Receita Federal do Brasil em vigor,com o intuito de assegurar maior transparência na identificaçãoe no controle das contas a eles vinculadas, sem, com isso,

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58 Art. 12, II e 13, II da Lei n. 8.742/93.59 NOB-SUAS 2012, art. 55, Paragrafo Único.

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caracterizar autonomia administrativa e de gestão.

Como unidades orçamentárias, os Fundos são responsá-veis por reunir todos os recursos financeiros destinados às ações,serviços e benefícios socioassistenciais em cada ente federado.

Todo o recurso repassado aos Fundos, seja pela União,Estados ou Municípios deverá ter a sua execução orçamentáriae financeira realizada pelos respectivos fundos.

A Lei n. 8.742 (LOAS, 1993), em seu art. 28, parágrafo 1°,dispõe que “cabe ao órgão da Administração Pública responsávelpela coordenação da política de assistência social, nas três esfe-ras de governo, gerir o Fundo de Assistência Social, sob orienta-ção e controle dos respectivos Conselhos de Assistência Social”.

Está expressamente proibida a gestão dos recursosdos fundos de assistência social por terceiros ou fora dosórgãos gestores da política de assistência social!

Os recursos federais e estaduais para o cofinanciamentodos serviços devem ser aplicados pelo Município de acordo como estabelecido na LOAS60, NOB/SUAS2012, nas Portarias MDS440/05 e 442/05 (recursos federais). Além disso, os serviços co-financiados, como quaisquer outros de assistência social, devemobedecer às regras constantes da Resolução n.109/09 e demaisnormas pertinentes, observados sempre os princípios, objetivose diretrizes da assistência social.

Dispõem as Portarias MDS 440/05 e 442/05 que os re-cursos federais devem ser gastos com despesas de custeio,como, reformas para acessibilidade ou manutenção de equipa-mento que funcione em espaço público, materiais para o desen-volvimento dos serviços, capacitações, aluguel de equipamentospúblicos e locais para eventos, tudo objetivando a oferta do ser-viço e atentando-se para sua continuidade.

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60Art. 12, inciso II, art. 13, inciso II, combinados com o art. 28, §3º, todos da Lei n. 8.742/93.

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Por ora, não há possibilidade de utilização dos recursosfederais repassados através das transferências automáticascom despesas de capital, assim entendidas como aquelas rea-lizadas com o objetivo de alterar o Patrimônio do Estado, ouseja, as que impactam na aquisição de bens de capital, como,por exemplo, aquisição de bem imóveis, obras que acarretamsua ampliação, etc. Essa vedação, contudo, vem sendo objetode críticas - especialmente em razão da importância de incenti-var-se o funcionamento de CRAS e CREAS em sedes próprias,construídas respeitando orientações do MDS, os espaços míni-mos e regras de acessibilidade - e poderá ser revista.

Deve ser destacado, no entanto, que a União ou o Es-tado podem transferir voluntariamente recursos destinados àcompra de imóveis, construção de equipamentos de assistênciasocial ou outras despesas de capital.

Os recursos recebidos do Fundo Nacional de AssistênciaSocial – FNAS e do Fundo Estadual de Assistência Social –FEAS devem ser aplicados de acordo com a finalidade dasações de organização e oferta de serviços, programas, projetose benefícios socioassistenciais, organizados nos níveis de pro-teção social básica e especial do SUAS, constantes dos respec-tivos Planos de Ação, encaminhados pelo MDS e SecretariaEstadual de Cidadania e Trabalho.

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DESPESAS AUTORIZADAS NOS SERVIÇOS SOCIOASSIS-TENCIAIS

Os recursos do FNAS podem ser aplicados nas seguintesdespesas:

- Aquisição de materiais de consumo para as ações so-cioassistenciais;

- Contratações: de Pessoas Jurídicas, para a realizaçãode reparos, consertos, revisões, pinturas, reformas eadaptações para acessibilidade, de bens imóveis semque ocorra a ampliação do imóvel; de Pessoa Física,para a realização de capacitação e outras atividadescomplementares aos serviços (ex. oficineiros);

- Locação de materiais permanentes: desde que com-provada necessidade e utilização para realização dosserviços de acordo com a sua tipificação;

- Aluguel de imóvel para funcionamento de unidade pú-blica do SUAS: para oferta exclusiva dos serviços tipifi-cados, sendo vedado o compartilhamento com outrasunidades senão aquelas autorizadas pelas normativasdas unidades de referência;

- Aluguel de espaço: para eventos ou atividades pontuais(palestras e atividades esportivas), desde que tenha per-tinência com o serviço e por tempo determinado;

- Locação de veículos: para oferta dos serviços;

- Deslocamentos: de Usuários para participação nas ati-vidades inerentes aos serviços ofertados; de Equipe paraatendimento do público residente em longas distâncias(indígenas, quilombolas, entre outros).

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- Aquisição de bens e materiais permanentes – comomobiliário, equipamentos de informática, áudio e vídeo,desde que sejam necessários ao desenvolvimento e ma-nutenção dos serviços socioassistenciais e coerentescom as atividades realizadas no âmbito destes serviços.

Atenção! A autorização do uso dos recursos federais para estesfins aguarda regulamentação do FNAS.

- Pagamento dos profissionais que integrarem as equi-pes de referência61- com os recursos que compõem aparcela do cofinanciamento federal (art. 6º - e da Lei n.12.435/2011) e a parcela do cofinanciamento estadual.

DESPESAS PARA O APRIMORAMENTO DA GESTÃO

O apoio financeiro da União ao aprimoramento da gestãodescentralizada dos serviços, programas, projetos e benefícios deassistência social se dá por meio do Índice de Gestão Descentra-lizada (IGDSUAS) (Art. 12-A e Portaria MDS n. 07, de 30/01/2012).

IGDSUAS é o instrumento de aferição da qualidade dagestão descentralizada dos serviços, programas, projetos e be-nefícios socioassistenciais. O índice varia de 0 (zero) a 1 (um).Quanto mais próximo de 1, melhor o desempenho da gestão –maior valor de apoio financeiro como forma de incentivo de apri-moramento da gestão. Para receber os recursos do IGDSUAS,os Municípios, Estado e DF – deverão alcançar índice superiora 0,2 (dois décimos).

O caderno com as orientações do IGDSUAS pode seracessado pelo site do MDS (http://www.mds.gov.br/ assistencia-social/orientacoes-igdsuas-para-site); nesse mesmo link, nas

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61 Equipes de Referência: São aquelas constituídas por servidores efetivos responsáveispela organização e oferta de serviços, programas, projetos e benefícios de proteçãosocial básica e especial.

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abas IGDSUAS-M e IDSUAS-E o Distrito Federal, Municípios eEstados podem ser consultados os índices, valores repassadose o teto mensal que compõe o IGDSUAS.

Os recursos do IGDSUAS devem ser utilizados para:

- O aprimoramento da gestão;

- Fortalecimento dos Conselhos de Assistência Socialdos Estados, Municípios e Distrito Federal, pelo menos3% dos recursos transferidos no exercício financeiro de-verão ser gastos com atividades de apoio técnico e ope-racional àqueles colegiados, observada a vedação dautilização dos recursos para pagamento de pessoal efe-tivo e gratificações de qualquer natureza a servidor con-cursado de qualquer uma das esferas.

Os recursos do IGDSUAS podem ser gastos em:

- Reformas, adaptação, adequação para acessibilidadeconforme ABNT, pintura, instalação elétrica e hidráulica,visando à melhoria do ambiente de atendimento;

- Aquisição de equipamentos e materiais permanentes, ede consumo necessários ao aprimoramento da gestão;

- Desenvolvimento de sistemas de informática e softwareque auxiliem a gestão dos serviços;

- Realização de capacitações, treinamentos e apoio técnicopara os trabalhadores do SUAS;

- Realização de campanhas de divulgação e comunica-ção dos serviços e benefícios socioassistenciais.

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Despesas que não poderão ser realizadas:

Aquelas que estiverem em desacordo com o objeto e oPlano de Ação, bem como outras expressamente vedadas pelaLei de Diretrizes Orçamentárias Federal, Estadual e Municipal.Outras proibições: taxas de administração, de gerência ou similar;pagamentos de taxas bancárias, multas, juros ou correção mo-netária, inclusive aquelas referentes a pagamentos ou recolhi-mentos fora dos prazos; despesas com publicidade, salvo as decaráter educativo-informativo ou de orientação social, nas quaisnão poderão constar nomes, símbolos ou imagens que caracteri-zem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

Saldos dos Recursos:

De acordo com o art. 11 da Portaria MDS n. 62510/08/2010, o saldo dos recursos financeiros (não empenhados!)repassados pelo Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS)aos Fundos de Assistência Social Municipais, Estaduais e do Dis-trito Federal, existente em 31 de dezembro de cada ano, poderáser reprogramado (exceto os recursos do PROJOVEM por pos-suir legislação específica - Art. 4º da Lei n.11.692/2008) dentrode cada nível de proteção social, para todo o exercício seguinte.

REGRAS PARA REPROGRAMAÇÃO DE SALDOS DOS RECURSOSDO FNAS:

- Prestar os serviços socioassistenciais cofinanciados,correspondentes a cada piso de proteção, de forma con-tínua e sem interrupção;

- A proposta de reprogramação de saldo financeiro nãoexecutado no exercício anterior, deverá ser apresentadapara apreciação do Conselho de Assistência Social;

- Após parecer favorável do Conselho de Assistência Social,aplicar o saldo reprogramado dentro de cada nível de Proteção

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em que foi repassado e vincular aos serviços (Portarias n.440 e 442 de 2005); e

- Devolver, ao FNAS, o recurso financeiro acumulado emdecorrência da não prestação dos serviços, de sua inter-rupção ou da não aprovação pelo Conselho de Assistên-cia Social, inclusive os saldos provenientes de receitasobtidas com a aplicação financeira desses recursos.

Os saldos dos recursos do FEAS não poderão serutilizados no ano seguinte! Excepcionalmente, foi autori-zada a utilização dos saldos dos recursos do FEAS nosexercícios de 2012 e 2013.

Recursos repassados para entidades da rede socioassistencial:

O Decreto n. 6.308/2007 define que as entidades e or-ganizações são consideradas de assistência social quando seusatos constitutivos definirem expressamente sua natureza, obje-tivos, missão e público alvo, de acordo com as disposições daLei n. 8.742/93 - LOAS.

São características essenciais das entidades e organiza-ções de assistência social, segundo o Decreto n. 6.308/2007:

I.realizar atendimento, assessoramento ou defesa e garantia dedireitos na área da assistência social, na forma deste Decreto;

II.garantir a universalidade do atendimento, independen-temente de contraprestação do usuário; e

III. ter finalidade pública e transparência nas suas ações.

As entidades e organizações de assistência socialdevem prestar os serviços de forma continuada e permanente,de acordo com os princípios e diretrizes da PNAS e do SUAS,e, principalmente, sem condicionar o atendimento a qualquerforma de pagamento ou colaboração.

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De acordo com a Resolução CNAS n. 109 /2009, que es-tabelece a “Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais”,as entidades e organizações só podem executar os seguintesserviços socioassistenciais:

-Serviços de Convivência e de Fortalecimento de Víncu-los para criança, adolescente, juventude e idosos – re-ferenciados aos CRAS.

-Serviço Especializado em Abordagem Social – referen-ciado ao CREAS.

-Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas comDeficiência, Idosas e suas Famílias - referenciado aoCREAS.

-Serviços de Acolhimento Institucional.

Para os serviços supracitados, os órgãos gestorespodem transferir recursos do FNAS e FEAS por meio de convê-nios e contratos, obedecendo às respectivas legislações.

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Atenção: é expressamente proibido executar serviços socioassistenciaispúblicos estatais por meio de entidades e organizações sociais, a saber:

-Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) erespectiva unidade de referência (CRAS);

-Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famíliase Indivíduos (PAEFI) e respectiva unidade de referência(CREAS);

-Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua erespectiva unidade de referência (CENTRO POP):

-Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimentode Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e dePrestação de Serviços à Comunidade (PSC).

É vedada a transferência dos recursos do FNAS e FEAS, destina-dos a esses serviços, para entidades e organizações sociais!

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De acordo com a NOB-SUAS 201262, o cofinanciamentoFederal poderá ocorrer por Blocos de Financiamento, a saber:o bloco de financiamento da proteção social básica e da prote-ção social especial. Tais blocos são o agrupamento dos recursosrelativos a cada piso, organizados por nível de proteção social,conforme a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassisten-ciais. Os recursos de cada bloco só poderão ser aplicados nosserviços e ações relativos ao seu respectivo nível de proteção,e deverão obrigatoriamente ter a liberação do Conselho Munici-pal de Assistência Social.

Cabe ressaltar que, embora integre o SUAS, o Estadode Goiás não cofinancia as ações.

Na lógica dos pisos, os Municípios recebem, para o cofinan-ciamento de serviços, repasses vinculados a determinadas ações.Já na lógica dos blocos de financiamento, a utilização do recursonão fica exclusivamente vinculada a um serviço específico, mas aonível de proteção a que ele diz respeito – Básica ou Especial.

O saldo dos recursos financeiros repassados pelo FNASaos fundos de assistência social municipais, estaduais e do Dis-trito Federal, existente em 31 de dezembro de cada ano, poderáser reprogramado, dentro de cada nível de proteção social, bá-sica ou especial, para todo o exercício seguinte, desde que oórgão gestor tenha assegurado à população, durante o exercícioem questão, os serviços socioassistenciais cofinanciados, cor-respondentes a cada Piso de Proteção, sem descontinuidade,consoante o art. 11 da Portaria n. 625/2010.

Contudo, a implementação dos blocos de financia-mento está condicionada à edição de ato normativo com-plementar, pelo Governo Federal. Até que isto ocorra, osrepasses continuarão a ser efetuados com base na sistemá-tica prevista na NOB-SUAS 2005 (art.138, NOB-SUAS2012).

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62Art. 56, NOB/SUAS 2012, atualizada pela Resolução n. 33/2012.

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Pela sistemática prevista anteriormente, o repasse de re-cursos federais aos municípios deve respeitar os níveis de gestãoem que estão habilitados os municípios. Trata-se, pois, de um sis-tema de incentivos, com incremento de recursos federais para agestão conforme o nível de habilitação do município, que ocorre apartir do cumprimento de requisitos previstos na NOB/SUAS 2005.

Na lógica estipulada pela NOB/SUAS 2005, os níveis degestão dos municípios podem ser: gestão inicial, básica e plena.

Na gestão inicial, os municípios recebem os recursos daUnião, para oferta de proteção social básica, além dos recursospara a erradicação do trabalho infantil e combate ao abuso e àexploração sexual de crianças e adolescentes.

Na gestão básica, os municípios recebem os recursosda União, para oferta de proteção social básica, recursos paraa erradicação do trabalho infantil e combate ao abuso e à ex-ploração sexual de crianças e adolescentes, e também podeproceder à habilitação de pessoas candidatas ao BPC, receberrecursos do FNAS para ações de revisão do benefício e partici-par de programas de capacitação.

Na gestão plena, o município tem a gestão total das açõesde assistência social (proteção básica e especial) e pode receber,como incentivo, todos os pisos de proteção social previstos naNOB/SUAS, entre outros recursos e incentivos de gestão.

A habilitação dos municípios dar-se-á através de proce-dimento detalhado na NOB/SUAS63, envolvendo o CMAS, aSEAS ou congênere e a CIB. A desabilitação deve ser pactuadapela CIB em fluxo também definido na norma.

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63Art 10 - Os Municípios que não aderiram ao SUAS na forma da NOB/SUAS, aprovadapela Resolução 130, de 15 de julho de 2005, do Conselho Nacional de Assistência So-cial- CNAS, farão a adesão por meio da apresentação à Comissão Intergestores Bi-partite- CIB de seu Estado dos documentos comprobatórios da instituição efuncionamento do conselho, plano e fundo de assistência social, bem como da aloca-ção de recursos próprios do fundo.

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Importante ressaltar, contudo, que, conforme previsto pelaregra de transição da NOB/SUAS 201264, após a normatizaçãodos blocos de financiamento e da implantação efetiva de um sis-tema de informatização que permita a aferição dos indicadoresde gestão, esta lógica de financiamento baseada em níveis degestão deixará de ser utilizada.

Os municípios passarão a ser agrupados em níveis degestão a partir da apuração de um Índice de Desenvolvimentodo SUAS – ID SUAS, consoante ao estágio de organização doSUAS em âmbito local e estadual.

Cabe salientar que os níveis de gestão serão dinâmicose as mudanças ocorrerão automaticamente à medida que o entefederativo, quando da apuração anual do ID SUAS, demonstraro alcance de estágio mais avançado ou o retrocesso à estágioanterior de organização do SUAS.

Além dos incentivos e dos mecanismos de cofinancia-mento acima descritos, foi estabelecido com o Decreto Federal7.636, de 07 de dezembro de 2011, mais uma forma de apoio fi-nanceiro da União aos Estados, Municípios e Distrito Federalcom base no Índice de Gestão Descentralizada do SistemaÚnico de Assistência Social, o IGDSUAS.

O repasse financeiro realizado com base no IGDSUASdestina-se ao aprimoramento da gestão descentralizada, espe-cialmente gestão de serviços, do trabalho e educação, da infor-mação, articulada e integrada com programas e benefíciossocioassistenciais, implementação da vigilância socioassisten-cial, apoio técnico e operacional aos conselhos de assistênciasocial. Os recursos repassados para aprimoramento da gestãodevem ser gastos com atividades que integrem o Plano de As-sistência Social e não podem ser utilizados para pagamento depessoal efetivo e gratificações de servidores públicos.

64Art. 138, NOB/SUAS 2012.

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Em qualquer hipótese os repasses objetos do cofinan-ciamento federal devem ser objeto de prestação de contas aosconselhos de assistência social dos entes recebedores e àunião. A prestação de contas à União relativa aos repasses des-tinados ao cofinanciamento de serviços e ao aprimoramento dagestão devem ser realizadas em sistemas informatizados65.

65Portaria MDS 96 de 26 de março de 2009 e Decreto n. 7.363 de 07 de dezembro de2011.

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4 - O CONTROLE EXTERNO DO SUAS

4.1 - O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Outorgou a Constituição de 1988 ao Ministério Público adefesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interes-ses sociais e individuais indisponíveis, conferindo à Instituiçãoa nota de essencialidade à função jurisdicional do Estado (art.127, caput da Carta de 1988). Na mesma linha, ao enumerar assuas funções institucionais, conferiu ao Parquet, o art. 129, in-ciso III do diploma constitucional, o poder-dever de instaurar in-quéritos civis e de ajuizar ações civis públicas como forma detutela do patrimônio público e social, do meio ambiente e de ou-tros interesses difusos e coletivos.

Seguindo a esteira do regramento constitucional, a legisla-ção ordinária cometeu ao Ministério Público legitimação ao ajuiza-mento da ação civil pública com vistas à defesa de qualquer direitodifuso ou coletivo, dispondo neste sentido os artigos 1º, inciso IVc/c 5º, inciso I, da Lei n. 7.347/85 e 25, IV, “a” da Lei n. 8.625/93.

Claramente a Assistência Social constitui direito subjetivodo cidadão, capaz de ser tutelado de forma coletiva, já que pos-sui destinatários indeterminados ligados por uma relação de fato,consistente na situação de vulnerabilidade social. É o que dispõeo artigo 1º da Lei n. 8.742/93:

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Es-tado, é Política de Seguridade Social não contributiva, queprovê os mínimos sociais, realizada através de um conjuntointegrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, paragarantir o atendimento às necessidades básicas.

Esse mesmo diploma legal foi criterioso ao atribuir ao Mi-nistério Público o dever de zelar pelo cumprimento das normas

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definidas para o adequado funcionamento do Sistema Único deAssistência Social (SUAS):

Art. 31. Cabe ao Ministério Público zelar pelo efetivo respeitoaos direitos estabelecidos nesta lei.

A legitimidade ativa do Ministério Público em seu atuarvoltado à estruturação adequada da rede de Assistência Socialresta cristalina. Nessa atribuição, a atuação do Parquet, pois,deve basear-se nos conceitos, critérios, limites e objetivo cons-tantes das normativas próprias.

A rede de assistência social deve ser tal que atenda àdemanda do município e à legislação de forma geral. A fiscali-zação do Ministério Público, no que concerne aos serviços e uni-dades (públicas e privadas) de assistência social devenortear-se pela análise do quantitativo de equipamentos, daoferta e qualidade dos serviços, já que, nesse ponto, há regrasclaras que devem ser seguidas pelos gestores. A adequação darede pode ser fomentada através de reuniões, recomendações,termos de ajustamento de conduta (TAC) ou determinada pordecisões judiciais, seja na execução de TAC, seja no bojo deações de conhecimento.

O quantitativo de equipamentos (CRAS, CREAS, institui-ções de acolhimento, etc.) deve estar em consonância com ademanda do município, além de obedecer aos padrões mínimosimpostos pela NOB/SUAS e orientações do MDS, inclusivequanto à capacidade de atendimento das unidades.

As instalações dos CRAS, CREAS e dos equipamentosa ele referenciados, assim, devem ser compatíveis com os ser-viços ofertados, com espaços para trabalhos em grupo, bemcomo ambientes específicos para recepção e atendimento re-servado das famílias e indivíduos, assegurada a acessibilidadeàs pessoas idosas e com deficiência, consoante determina a Lein.8.742/93 em seu artigo 6º-D.

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Os serviços socioassistenciais, como visto, são padroni-zados na forma da Resolução n.109 do CNAS (Tipificação Nacio-nal de Serviços Socioassistenciais). Essa norma traz o conteúdo,o público-alvo, os objetivos, as provisões necessárias à ofertado serviço, as aquisições que os usuários devem ter com o ser-viço, condições e formas de acesso dos usuários, unidade, pe-ríodo de funcionamento e abrangência do serviço, articulaçãoem rede (conexão do serviço com outros serviços, programas,projetos e organizações) e o impacto social esperado.

A avaliação da qualidade do serviço, portanto, constitui-se na verificação de sua adequação à referida norma.

As entidades e organizações de assistência social tam-bém devem cumprir os requisitos exigidos pela LOAS acimadescritos e oferecer serviços na forma da Resolução n.109/09do CNAS.

Ressalte-se que se encontra disponibilizado na internetaos membros do Parquet, com acesso através de senha, Rela-tório de Informações desenvolvido pelo MDS especificamentepara o Ministério Público. Nele, incluem-se informações acercade repasses efetuados pelo Governo Federal aos Municípios esobre a situação dos CRAS e CREAS, material que pode ser útilnão só para uma análise documental da situação dessas unida-des, mas também para embasar a equipe técnica quando darealização de vistoria no local.

Além disso, o Relatório Resumido de Execução Orça-mentária do Município, publicado obrigatoriamente no portal detransparência dos Municípios66, deverá conter informações

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66 Como prevê a Lei Complementar n. 101/01 (LRF): “Art. 48. São instrumentos detransparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive emmeios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orça-mentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumidoda Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadasdesses documentos.

Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante: (...)

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acerca dos recursos repassados pelo FNAS, FEAS e alocadospelo próprio município em seu FMAS, assim como da existênciade saldo nas contas do Fundo. Conhecer esses dados é funda-mental para o cotejo entre os valores disponíveis e os serviçosprestados. Deve se atentar, ainda, que a existência de saldo em31 de dezembro na conta do FMAS, deveria ser o indicativo deque os serviços foram prestados de forma suficiente e ade-quada. A reprogramação dos valores repassados pelo FNAS,aliás, pode ocorrer dentro do mesmo nível de proteção socialdesde que os serviços que deveriam ter sido financiados comesses recursos tenham sido devidamente oferecidos.

A verificação dos recursos humanos, por sua vez, tam-bém é fundamental no sistema de assistência social, já quetodos os serviços, disponíveis em equipamentos públicos ou pri-vados, devem contar com equipe técnica compatível com a de-manda, observados os quadros mínimos estabelecidos naNOB-RH/SUAS. A regra é que os servidores sejam efetivos, con-tratados após aprovação em concurso público.

4.2 - COMPETÊNCIA JURISDICIONAL E ATRIBUIÇÃO NAAPURAÇÃO DE EVENTUAL DESVIO OU MALVERSAÇÃO DEVERBAS DECORRENTES DE COFINANCIAMENTO FEDERAL

Aparentemente mais complexa é a questão relativa àcompetência para processar e julgar desvios ou malversaçõesde recursos públicos decorrentes do cofinanciamento federal noSistema Único de Assistência Social. Trata-se, contudo, de temade grande relevância, que toca, inclusive, à definição do ramodo Ministério Público com atribuição para fiscalizar sua corretaaplicação.

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II – liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, emtempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e finan-ceira, em meios eletrônicos de acesso público;

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Como cediço, a competência da justiça estadual é defi-nida de forma residual, quando inexistentes os pressupostosnormativos fixadores de competência federal. Neste sentido,prevê o artigo 109 caber aos juízes federais julgar:

Art. 109 (...)I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresapública federal forem interessadas na condição de autoras,rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as deacidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Jus-tiça do Trabalho;(…)IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas emdetrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suasentidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas ascontravenções e ressalvada a competência da Justiça Militare da Justiça Eleitoral;(...)§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser afora-das na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquelaonde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demandaou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, noforo do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causasem que forem parte instituição de previdência social e segu-rado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízofederal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitirque outras causas sejam também processadas e julgadas pelajustiça estadual.

Contudo, se é verdade que a Constituição Federal dispõede forma clara sobre as hipóteses de competência jurisdicionalfederal e estadual, seja na esfera cível, seja na esfera criminal,como disposto respectivamente nos incisos I e IV de seu artigo109, a existência de repasses federais na composição dos fundosestaduais e municipais, como os de assistência social, tem pro-vocado caloroso debate doutrinário e jurisprudencial sobre o tema.

Sobre o aspecto administrativo do SUAS, já foi tratado emitem anterior que o financiamento das ações que lhe são inerentes

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é realizado pelas três esferas de governo, ficando a cargo dosorçamentos da seguridade social de cada ente federativo67 econtribuições sociais específicas68. Atualmente tem-se consolidadoo entendimento de que esses repasses, quando oriundos doFundo Nacional de Assistência Social, caracterizam-se comotransferências obrigatórias, instrumentalizadas fundo-a-fundo69,e que, como se verá adiante, passam a integrar o patrimônio doEstado ou do Município a que se destinam, fatores fundamentaisà definição do ramo do Ministério Público com atribuição paraatuar na fiscalização sobre sua correta aplicação e, da mesmaforma, da justiça competente para processar e julgar eventuallide decorrente de desvio ou malversação de verbas.

Para melhor compreender o assunto, pode-se dizer queas transferências de recursos federais a Estados e Municípios,em gênero, classificam-se em: i) obrigatórias (inseridas as cons-titucionais e legais) e ii) voluntárias70. Dentre as obrigatórias,como o próprio nome permite concluir, são constitucionais aque-las correspondentes a parcelas de recursos arrecadados peloGoverno Federal e repassados aos Municípios por força de man-damento estabelecido em dispositivo da Constituição Federal.Serão legais aquelas cujos repasses encontram-se regulamen-tados em leis específicas. Por sua vez, as transferências volun-tárias são definidas pelo artigo 25 da Lei Complementarn.101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF), como a en-trega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Fede-ração, a titulo de cooperação, auxilio ou assistência financeira,que não decorra de determinação constitucional, legal ou osdestinados ao Sistema Único de Saúde71.

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67 Art. 204, I, da Constituição da República.68 Art. 195, §10, da Constituição da República.69 Nesse sentido: BRASIL. Advocacia Geral da União. Consultoria Geral da União.Departamento de Análise de Atos Normativos. Processo n. 71000.500998/2008-51.Parecer 075/2011/DNOR/CGU/AGU.70 Senado Federal. Manual de Obtenção de Recursos Federais para os Municípios.Brasília: Instituto Legislativo Brasileiro. p. 8.71 As características próprias das transferências para o Sistema Único de Saúde (SUS),

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No caso específico da Assistência Social, há previsãoconstitucional e legal para esse repasse de verbas como formade amparo ao sistema único. O artigo 204 da Constituição Fe-deral, anteriormente citado, já torna claro que a descentralizaçãopolítico administrativa e a participação de todos os entes fede-rativos é premissa fundamental do SUAS. Além disso, a Lei n.8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social) estabeleceu a or-ganização do sistema determinando, em seu artigo 12, inciso II,caber à União o cofinanciamento por meio de transferência au-tomática, do aprimoramento da gestão, dos serviços, dos pro-gramas e dos projetos de assistência social em âmbito nacional.

Assim, não obstante ter a Lei (LOAS) delegado ao Conse-lho Nacional de Assistência Social, através de seus artigo 7º, 17 e18, uma série de atribuições relevantes, como a aprovação da Po-lítica Nacional, da proposta orçamentária federal e dos critérios detransferências de recursos para Estados e Municípios, toda a dis-ciplina e estrutura do sistema tem origem legal e constitucional,razão pela qual resta plenamente aplicável a norma contida no ar-tigo 25 da Lei de Responsabilidade Fiscal para definir tais transfe-rências como obrigatórias. A constatação de que tais repasses têmnatureza obrigatória foi também decisiva para que se definisse aconstitucionalidade do artigo 6º-E da Lei n. 8.742/93, o qual viabi-lizou a utilização de verbas do cofinanciamento federal para o pa-gamento de pessoal, pois o artigo 167, X, da Constituição Federalvedava a transferência voluntária de recursos e a concessão deempréstimos, inclusive por antecipação de receita, pelos GovernosFederal e Estaduais e suas instituições financeiras, para paga-mento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dosEstados, do Distrito Federal e dos Municípios.

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concretizadas tanto por transferências voluntárias como por transferências obrigatórias,leva alguns a considerarem-nas como uma categoria autônoma de classificação. VideGestão de Recursos Federais. Manual para Agentes Municipais. Controladoria Geralda União. Brasília: Secretaria Geral de Controle Interno. Disponível emhttp://www.cgu.gov.br/Publicacoes/ManualGestaoRecursos Federais/Arquivos/Carti-lhaGestaoRecursosFederais.pdf> Acesso em 25.02.2014.

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Assentadas as bases conceituais referente à naturezadas transferências de recursos de cofinanciamento no SUAS,cabe analisar como tais elementos se comportam sob o prismado pensamento doutrinário e jurisprudencial predominante.

Destarte, permeando o tema da transferência de verbasfederais, foram editados pelo Superior Tribunal de Justiça doisenunciados de súmula jurisprudencial voltados à definição dacompetência jurisdicional (federal ou estadual) para processo ejulgamento de feitos envolvendo seu desvio ou malversação.São elas:

Enunciado 208. Compete à Justiça Federal processar e julgarprefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contasperante órgão federal.

Enunciado 209. Compete à Justiça Estadual processar e julgarprefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao pa-trimônio municipal.

Infelizmente – e sem adentrar no mérito da correção doscritérios utilizados – tais enunciados serviram mais para incre-mentar a celeuma do que propriamente para solucionar definiti-vamente a questão, já que, em muitos casos era tambémdiscutível se a prestação de contas dar-se-ia perante tribunal decontas federal ou estadual, além de haver uma grande indeter-minação sobre os casos em que a verba federal seria incorpo-rada ao patrimônio municipal.

Veja-se, por exemplo, o caso do enunciado 208 aplicadoao Sistema Único de Assistência Social. Editada a Lei 9.604/98,previu-se o seguinte:

Art. 1º. A prestação de conta da aplicação dos recursos finan-ceiros oriundos do Fundo Nacional de Assistência Social, aque se refere a Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, seráfeita pelo beneficiário diretamente ao Tribunal de Contas doEstado ou do Distrito Federal, no caso desses entes federados,e à Câmara Municipal, auxiliada pelos Tribunais de Contas dos

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Estados ou Tribunais de Contas dos Municípios ou Conselhosde Contas dos Municípios, quando o beneficiário for o Municí-pio, e também ao Tribunal de Contas da União, quando poreste determinado.

Parágrafo único. É assegurado ao Tribunal de Contas da Uniãoe ao Sistema de Controle Interno do Poder Executivo da Uniãoo acesso, a qualquer tempo, à documentação comprobatóriada execução da despesa, aos registros dos programas e a todadocumentação pertinente a assistência social custeada com re-cursos do Fundo Nacional de Assistência Social.

Tomando por base o dispositivo transcrito e aplicando-seo referido entendimento jurisprudencial, a competência para pro-cessamento e julgamento de processo versando sobre malversa-ção de tais verbas seria estadual, já que prioritariamente aprestação de contas da execução financeira e orçamentária sedaria perante Tribunal de Contas Estadual ou do Distrito Federal.

Ocorre que, após a promulgação dessa Lei, a Associa-ção dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (ATRICON)ingressou com Ação Direta de Inconstitucionalidade alegando adesconformidade do presente artigo e alguns outros com os ar-tigos 70 e 71 da Constituição da República, que definem as atri-buições do Tribunal de Contas da União72. Em 01/09/1999 oSupremo Tribunal Federal, por unanimidade, suspendeu liminar-mente a eficácia do artigo 1º e parágrafo único da Lei n.9.604/98, aduzindo haver relevância jurídica no pedido e a pos-sibilidade de decisões conflitantes das cortes de contas quandoa prestação se desse também ao Tribunal de Contas da União73.

Nessa mesma esteira, compulsando a ratio incorporadaao enunciado 209 da súmula do STJ, a questão não se aparenta

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72 A ADIN 1.934-7/DF alegava especialmente a contrariedade do artigo 1º da Lei n.9.604/98 com o artigo 71, inciso VI da Constituição Federal, que dispunha competir aoCongresso Nacional, com o auxílio do Tribunal de Constas da União fiscalizar a apli-cação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajusteou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município.”73 BRASIL. STF. ADIN 1.934-7/DF. Tribunal Pleno. Rel. Min. Moreira Alves. D.J. 22/10/99.

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menos nebulosa, uma vez que não se têm claramente definidasas hipóteses em que a verba se incorpora ao patrimônio do entedestinatário nem o momento em que ocorre tal incorporação.Além disso, o enunciado fora construído a partir de decisões lan-çadas em processo criminais, não obstante o mesmo funda-mento já houvesse sido utilizado pelo extinto Tribunal Federalde Recursos em processos de índole civil, como na fixação decompetência em ações populares74.

Em uma tentativa de resolver a questão, o Procurador daRepública de Sergipe Paulo Gustavo Guedes Fontes, em breveapontamento, afirmou que, salvo no caso das transferências cons-titucionais, como no caso dos Fundos de Participação dos Municí-pios75, em que haveria incorporação das verbas ao patrimônio dosentes federativos destinatários, o desvio de recursos repassadosdeveria ser objeto de processo de competência federal. Neste ar-tigo, o autor inclui expressamente as transferências do sistema deAssistência Social como transferências meramente legais, não asenquadrando na categoria de transferências constitucionais. Afirma,contudo, que caberia ao Ministério Público Estadual apurar insufi-ciências na prestação dos serviços e na execução dos programasfederais, que dizem respeito a aspectos diversos como a precarie-dade das instalações, a má qualidade dos serviços e a atuação de-ficiente dos conselhos e que, segundo ele, poderiam serdestacados da existência ou não de irregularidades financeiras76.

Ocorre que no citado artigo não se tem definida com clarezaa razão pela qual apenas repasses estritamente constitucionaisincorporar-se-iam ao patrimônio dos entes destinatários77, não severificando o mesmo com outros repasses legalmente cogentes.

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74 Vide enunciado 133 da súmula do extinto TRF e BRASIL, TRF, CC n. 2273/PI, Rel.Min. Hélio Mosimann, D.J. 25.11.91.75 Vide art. 159 da Constituição Federal.76 FONTES, Paulo Gustavo Guedes. Questões de Competência Relacionadas às Fis-calizações da CGU em Municípios. Disponível em <http://www.prse.mpf.mp.br/artigos/>Acessado em 25/02/2014.77 BUENO, Marlene Nunes Freitas (Coord). Manual de Atuação na Defesa do PatrimônioPúblico. Goiás: Ministério Público do Estado de Goiás. 1996, p. 37.

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Nessa esteira, o próprio Supremo Tribunal Federal tem bus-cado estruturar um critério mais racional para definir quando há efeti-vamente a incorporação de repasses federais ao patrimônio dobeneficiário. Em um primeiro momento, o Tribunal sedimentou ju-risprudência no sentido de que as verbas que originariamente ti-vessem natureza estadual ou municipal, apenas sendoarrecadadas pela União e obrigatoriamente transferidas aos Esta-dos e Municípios, incorporar-se-iam ao patrimônio do ente destina-tário, ao contrário das hipóteses de transferências voluntárias, ondeeventual desvio ou malversação continuaria a fixar a competênciada justiça federal e a atribuição do Ministério Público Federal parasua fiscalização. Destaca-se a lição do Ministro Neri da Silveira:

“Essa orientação é inteiramente acertada quanto aos recursosque, sendo originariamente estaduais ou municipais, são ape-nas arrecadados pela União e obrigatoriamente repassados,sendo exemplo típico os Fundos de Participação. Nessescasos, a verba é originariamente estadual ou municipal, nãoperdendo essa natureza apenas porque arrecadada pelaUnião. Mas, ao contrário, tratando-se de verba de convênio,penso que é patente a lesão a interesse da União, não só por-que a verba federal deixou de ser aplicada na finalidade paraa qual é destinada, mas também porque a aplicação dessesrecursos permanece sob a fiscalização da União, quer pelosórgãos de controle interno, quer pelo próprio Tribunal de Contasda União, como estabelece o artigo 71, VI, da Constituição” 78

Apesar de tal entendimento versar apenas sobre as hi-póteses de transferência obrigatória referentes aos fundos departicipação dos Municípios, não deixando claro se a mesmaratio se aplicaria a todo e qualquer repasse obrigatório, em de-cisões ulteriores o STF alterou seu entendimento, passando averificar que, também outras hipóteses de transferências de ver-bas federais gerariam sua incorporação ao patrimônio do entedestinatário e, portanto, a competência estadual para julgareventual desvio ou malversação:

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78 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE 196.982-2/PR. Rel. Ministro Néri da Silveira.DJ 27/06/97.

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“Verba da União repassada a Estados ou Municípios. A JustiçaFederal é competente para o julgamento de processos refe-rentes a verbas da União transferidas a Estados e Municípios,mediante convênio ou não, para realização de tarefa de inte-resse privativo da União ou comum a esta e ao ente federadodestinatário. Todavia, tratando-se de verba da União transfe-rida a Estado ou Município para o cumprimento de tarefa des-tes privativa, caso em que a subvenção se incorporadefinitivamente ao patrimônio do destinatário, a competênciaé da Justiça Estadual.”79

Desta forma, extrai-se da jurisprudência da SupremaCorte que, além das verbas relativas aos Fundos de Participa-ção dos Municípios, haveria incorporação do recurso federal aopatrimônio do ente destinatário sempre que a ação a ser execu-tada fosse de ordem estadual ou municipal. Ou seja: se o re-passe objetivar a execução de uma ação de ordem federal, acompetência para apurar eventual desvio ou malversação ope-rado após a transferência seria da Justiça Federal. Por sua vez,se o repasse federal objetivar o financiamento de uma ação es-tadual ou municipal, a competência seria da Justiça Estadual.

Nesse ponto, a Lei Orgânica de Assistência Social (Lein. 8.742/93) é bastante clara ao afirmar que, inobstante a des-centralização político-administrativa do SUAS, resta imperiosaa existência de um comando único das ações em cada esferade governo80, a indicar a inexistência de qualquer sobreposiçãode ações federais, estaduais e municipais. Destarte, após averba ingressar no fundo municipal ou estadual não há mais quese falar em ação federal, senão daquele ente cujo fundo estejaadministrativamente vinculado.

Aliás, também como decorrência da norma que deter-mina um comando único em cada esfera de governo, eventualressarcimento de danos relacionados a desvio ou malversação

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79 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE 232.093/CE. Rel. Ministro Sepúlveda Pertence.DJ 28/04/00.80 Art. 5º, inciso I, da Lei n. 8.742/93.

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de verbas oriundas de cofinanciamento federal deverá reverterpara o próprio fundo lesado (municipal ou estadual) e não parao fundo federal, deixando cristalina a inexistência de interesseda União na hipótese.

Ademais, para corroborar tal raciocínio, eventual saldo po-sitivo do fundo municipal ou estadual de assistência social apuradoem balanço não retorna ao Fundo Nacional ou à União, devendoser transferido para o exercício seguinte, a crédito do mesmofundo, a teor do que determina o artigo 73 da Lei n. 4.320/64.

É possível concluir, portanto, com apoio na jurisprudênciados Tribunais Superiores, que as verbas decorrentes de cofinan-ciamento federal do SUAS incorporam-se ao patrimônio dos Es-tados e Municípios beneficiários, sendo da competênciaestadual e, consequentemente, da atribuição do Ministério Pú-blico Estadual a apuração sobre eventual desvio ou malversaçãodesses recursos.

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5 -ANEXO

5.1 - LISTA DE SIGLAS

CENTRO-POP- CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADOPARA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

CIB- COMISSÃO INTERGESTORES BIPARTITE

CIT- COMISSÃO INTERGESTORES TRIPARTITE

CNAS- CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

CONGEMAS- COLEGIADO NACIONAL DE GESTORES MUNI-CIPAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

CRAS- CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

CREAS- CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE AS-SISTÊNCIA SOCIAL

ECA- ESTATUDO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

FEAS- FUNDO ESTADUAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

FNAS- FUNDO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

FONSEAS- FÓRUM NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE ES-TADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

IBGE-INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS-TICA

IGDSUAS- ÍNDICE DE GESTÃO DESCENTRALIZADA DO SIS-TEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

LA- LIBERDADE ASSISTIDA

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LOAS- LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

LOAS- LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

LRF- LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

MDS- MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COM-BATE À FOME

NOB- NORMA OPERACIONAL BÁSICA

NOB-RH/SUAS- NORMA OPERACIONAL BÁSICA DE RECUR-SOS HUMANOS DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SO-CIAL

PAEFI- SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO ESPECIA-LIZADO À FAMÍLIAS E INDIVÍDUOS

PAIF- SERVIÇO DE PROTEÇÃO INTEGRAL À FAMÍLIA

PIA- PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO

PNAD -PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍ-LIOS

PSC- PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE

SEASDH- SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E DIREI-TOS HUMANOS

SUAS- SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

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6 - ANOTAÇÕES

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