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1 " O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ- REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO- PEDAGÓGICAS O MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO Por: Nielsen Ferreira Faria Orientador Prof. Ms. Marco A . Larosa Rio de Janeiro 2002

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

O MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO

Por: Nielsen Ferreira Faria

Orientador

Prof. Ms. Marco A . Larosa

Rio de Janeiro

2002

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O Milagre Econômico Brasileiro

Apresentação de monografia ao Conjunto

Universitário Cândido Mendes como condição

prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Finanças e

Gestão Corporativa.

Por: Nielsen Ferreira Faria

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

AGRADECIMENTOS

A minha namorada e aos meus

amigos, pela compreensão, apoio e

auxílio nas horas difíceis. A todos os

alunos do curso de Finanças que

ajudaram na realização deste

material.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha

família pelo apoio e atenção

dispensados.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

DÍSTICO

“Cada dia, e o fato de vivê-lo, deve se

constituir numa criação consciente, ,em que a

disciplina e a ordem são temperadas pela

brincadeira e por uma pitada de loucura.”

May Sarton

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08 PARTE I - MUDANÇA DE VISÃO UMA ABORDAGEM AO PAEG, 12 Política de estabilização,

Reformas institucionais,

PARTE II - POLÍTICA ECONÔMICA CONTEXTO EXTERNO 15

Disponibilidade de crédito,

Taxa de juros externa baixa,

Expansão do volume do comércio internacional,

Evolução dos termos de troca,

Valorização das commodities MEDIDAS ECONÔMICAS 17 Política monetário - creditícia,

Apoio a exportação agrícola,

Política de salários e preços,

Concentração do sistema bancário,

Desvalorizações cambiais,

Befiex,

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Redução do IPI A FASE DE CRESCIMENTO HESITANTE 21 . Tabelamento dos juros(1968/69),

O auge (1970/73),

Superaquecimento da economia mundial,

Crise do petróleo Parte III - PROBLEMAS DE EXPANSÃO O PROBLEMA DA REALIZAÇÃO DINÂMICA 28 Setor industrial, Setor agrícola,

Concentração de renda . IMPACTO SOBRE AS CONTAS EXTERNAS 30 Crescimento das importações de bens e serviços não fatores,

Incapacidade das empresa estatais em absorver demanda

O RETORNO DA INFLAÇÃO, 34

A economia no limite da utilização dos recursos existentes,

Aumento dos preços AS RAÍZES DOS NOSSOS PROBLEMAS ATUAIS 35

Tomada de empréstimos internacionais,

Custo da elevação do nível de reservas,

Endividamento interno,

Lei complementar n° 12 de 08.11.71 . CONCLUSÃO 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47 FOLHA DE AVALIAÇÃO

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Introdução

O objetivo desse trabalho é descrever e analisar, as causas e efeitos do milagre

econômico no Brasil. O trabalho está dividido em três partes. Na Parte I, é

demonstrada a mudança de visão econômica, em relação ao PAEG. Na Parte II, é

feita uma análise da política econômica adotada, incluindo o contexto externo. Na

terceira e última parte, serão demonstradas as causas que levariam ao fim do

milagre econômico, fazendo uma importante conclusão sobre as raízes de nossos

problemas atuais.

A seguir, uma descrição de como os temas serão abordados:

Parte I - Mudança de visão

Uma abordagem ao PAEG

- Políticas de estabilização.

- Política gradualista ortodoxa.

- Reforma institucionais(monetária, bancária, tributária).

- Metas não atingidas e recessão(estagflação).

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- Mudança de visão: inflação de demanda para inflação de demanda para inflação

de custos.

Parte II - Política econômica

Contexto externo

- Surgimento do mercado de eurodólares, que geraram fonte de crédito mundial.

- Adoção de política econômica em relação a disponibilidade de crédito.

Medidas econômicas

- Como a política monetário de creditícia alimentou e viabilizou a retomada do

crescimento.

- As tentativas de promover a concentração bancária, para redução de spread.

- Adoção do modelo exportador, para geração das divisas . para pagamento das

importações inerentes ao crescimento pretendido. Minidesvalorizações cambiais,

taxa de câmbio real favorável.

- Criação do Befiex , que permitiu as empresas importarem com isenções fiscais,

sujeitas a contrapartida futura de vender no exterior um valor estipulado ,

superior ao das importações adquiridas.

- Apoio ao setor agrícola , também com o objetivo da geração de divisas e

contribuição para política inflacionária.

- Aumento do salário real e da demanda efetiva.

A fase do crescimento hesitante,

- 1968/69. A inflação, principal fonte de preocupações.

- O tabelamento dos juros dos bancos comerciais, par contenção dos preços

industriais.

- A influência negativa do setor agrícola no biênio.

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- Crescimento acelerado dos investimento, favorecido pelos déficits da conta de

bens e serviços não fatores.1970/73 O auge.

- 1973 O efeito conjugado do superaquecimento da economia brasileira e da

economia mundial, criando tensões inflacionárias e a crise do petróleo.

Parte III - Problemas de expansão

O problema da realização dinâmica

- Contradição entre o padrão industrial adotado e o potencial de acumulação das

empresas líderes e a possibilidade deste potencial vir a efetivamente a torna-se

um aumento sustentado e conjugado de oferta e demanda efetiva.

- Defasagem de crescimento entre a indústria de bens de capital e a indústria de

bens de consumo durável.

- A aceleração inflacionária sobre os salários e crédito, gerando a perda de

dinamismo de ambos os setores.

Impacto sobre as contas externas

- O saldo negativo da balança comercial em 1971.

- A evolução positiva de 1972/73, devido ao enorme aumento da capacidade de

importar do país .

- Salto das importações de 1970 à 1973, devido a incapacidade das empresas

estatais em absorver a demanda interna

- Os efeitos da crise do petróleo

O retorno da inflação

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

- O tema será abordado no capítulo 3, porém será feita análise complementar

sobre os seus ciclos durante o milagre, além de um a análise de a visão de

inflação de custos.

As raízes de nossos problemas atuais

- A taxa de juros flutuante e o crescimento do endividamento interno.

- Financiamento da acumulação de reservas e o porque .

- Lei complementar n° 12 , de 08.11.71, criando problemas de endividamento

interno, decorrentes do giro da dívida pública.

Conclusão:

Análise sobre as características e conseqüências do “milagre econômico” .

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PARTE I- MUDANÇA DE VISÃO

UMA ABORDAGEM AO PAEG

O início dos anos 60 caracterizaram-se pela primeira grande crise econômica

do Brasil em sua fase industrial. Houve uma redução de investimentos e da taxa de

crescimento da renda. O modelo de investimento baseado na substituição de

importações havia perdido seu dinamismo.

Eram necessárias medidas para o desenvolvimento do setor de bens de

capital, ampliação do setor de bens intermediários e infra-estrutura urbana. O

cenário era: ausência de mecanismos de financiamento, concentração de renda,

inflação e uma situação política desfavorável. Em meio ao cenário político, o golpe

militar de 1964, permitiu que o governo Castelo Branco lançasse o PAEG (Plano de

Ação Econômica do Governo), cujos mentores foram Roberto Campos e Octávio

Bulhões.

O PAEG consistia em um plano de políticas de estabilização de preços

associadas a reformas institucionais que permitiram o equacionamento dos

problemas inflacionários e a criação de mecanismos de financiamento público e

privado. Adotou-se uma política gradualista ortodoxa, que identifica a inflação como

um problema de excesso de demanda.

Foram realizadas as reformas tributária, monetária e financeira e do setor

externo. A reforma tributária incluiu principalmente a criação de fundos parafiscais,

como o FGTS e o PIS e substituição dos impostos cascata por impostos sobre o

valor adicionado. A reforma monetária e financeira resultou na criação do BACEN,

do CMN, da correção monetária, das ORTNs, que viabilizaram o mercado da dívida

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pública e a reforma do mercado de capitais que definia as regras de atuação dos

agentes financeiros. Por último, a reforma do setor externo, buscou estimular e

diversificar as exportações através de uma série de incentivos fiscais e atrair o

capital estrangeiro. A Lei n° 4131, dava acesso direto das empresas ao sistema

financeiro internacional e a Resolução 63 possibilitava a captação de recursos

externos pelos bancos comerciais e de investimentos para repasse interno.

A política adotada no PAEG, dotou o Estado de maior capacidade de

intervenção na economia, porém não alcançou as metas estabelecidas de

inflação(apesar da redução) e houve um aprofundamento da crise, devido a política

de arrocho salarial e a contração do crédito privado.

Contudo, a economia brasileira chegou ao final da experiência do PAEG

numa situação comparativamente melhor, em relação a inflação e déficit público, do

que no início do mencionado plano, conforme mostra a tabela a seguir:

Indicadores básicos( D percentual anual)

ANO DÉFICIT

PÚBLICO

INFLAÇÃO CRÉDITO

BANCÁRIO

SALÁRIO

MÍNÍMO

OFERTA

MONETÁRIA

PIB

1963 4,2 75,3 54,9 56,8 64,0 1,5

1964 3,2 90,5 80,3 91,7 85,9 2,9

1965 1,6 56,8 54,9 54,0 75,4 2,7

1966 1,1 38,2 35,8 30,6 15,0 3,8

1967 1,7 25,0 57,2 25,3 42,6 4,8

1968 1,2 25,5 62,7 21,6 43,0 11,2

1969 0,6 20,1 40,1 19,2 32,4 10,0

1970 0,4 19,3 38,1 20,0 26,7 8,8

Fonte: IBGE

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Porém, a resistência da taxa de inflação em cair a índices menores do que

25% ao ano, fez que critérios de avaliação mais rigorosos levassem a condenar os

resultados da política antiinflacionária.

Nesse contexto, fortaleceu-se o questionamento da eficácia da política

contracionista como forma de combate a inflação. Mário Henrique Simonsen,

defendia a política contracionista adotada no PAEG. Ele afirmava que o imediatismo

era sério obstáculo ao declínio da inflação e que a economia brasileira deveria

"recuar para saltar melhor."

Contudo, a recessão vinha se estendendo excessivamente, sem que a queda

compensatória das taxas de inflação se revelasse animadora.

Existiam duas correntes. A posição oficial implicava aceitar a inevitabilidade

de um desempenho fraco do PIB no curto prazo, se fosse priorizado o combate a

inflação. A outra corrente, que posteriormente assumiu o comando da economia com

o Ministro Delfim Netto, defendia a idéia de que fato a redução da inflação era

fundamental para a sustentação do crescimento, mas que o " trade-off " de curto

prazo entre este e a inflação não existiria. Mas ainda, transparecia na nova corrente,

a idéia de que o próprio crescimento econômico provocaria a queda da inflação, na

medida em que taxas maiores de expansão tenderiam a arrefecer a pressão do

custo fixo unitário sobre os preços. Essa interpretação era acompanhada da idéia de

que a inflação seria então um fenômeno predominantemente de custos e não de

demanda.

Na visão de Delfim Netto, uma das causas da inflação foram os reajustes

autônomos de custos das empresas, uma vez que elas passaram a reduzir sua

capacidade produtiva (aumentando o custo fixo unitário) ao invés de reduzir preços,

quando da política de contenção de demanda adotada no PAEG.

As outras causas da recessão foram o fraco desempenho da agricultura e o

aumento do custo das operações financeiras das empresas.

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A nova proposta de política econômica era: continuar a controlar severamente

os salários; atuar sobre os custos financeiros, através da diminuição da taxa de

juros; sobre os preços agrícolas através do estímulo a produção do setor primário e

sobre os preços industriais, através do aumento da produção.

PARTE II - POLÍTICA ECONÔMICA

CONTEXTO EXTERNO

Em 1968, já com a equipe chefiada pelo Ministro da Fazenda Delfim Netto,

conduzindo a política econômica, ocorreu a retomada do crescimento. Vários fatores

que fogem ao controle do governo contribuíram decisivamente. A evolução desses

fatores foi muito favorável, criando a possibilidade para a expansão econômica, de

uma forma que o país nunca havia disposto.

Fatores externos:

1) A disponibilidade de crédito no mercado financeiro internacional;

2) A baixa taxa de juros internacional;

3) A expansão do volume de comércio internacional e

4) A evolução nos termos de troca

O principal fator para o surgimento desse conjunto de circunstâncias

favoráveis foi a criação do mercado de eurodólares no final dos anos 60. A origem

desse mercado deve-se às medidas tomadas pelas autoridades norte-americanas a

partir dos anos 50, para inibir a continuidade dos déficits do Balanço de

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Pagamentos. O governo americano adotou medidas restritivas a saída de capitais na

forma de investimentos diretos para o exterior, para assim equilibrar as contas

externas e evitar uma desvalorização do dólar. Através das aprovação de

Equalização da Taxa de Juros, do Programa Voluntário de Restrições e da Restrição

a Investimentos Diretos ao Exterior, foi sendo limitada a capacidade das firmas

americanas aplicarem novos recursos na compra de empresas no exterior ou no

financiamento de filiais já existentes.

Como resultado dessas limitações e também do crescimento do comércio

internacional, as empresas americanas passaram a efetuar seus depósitos na

Europa, criando assim o mercado de eurodólares, num nível de centenas de bilhões

de dólares. Com isso, as empresas americanas fugiam das restrições quanto ao

investimento direto no exterior, ao mesmo tempo que fortaleciam a moeda

americana, consolidando o dólar como a moeda internacional e evitando sua

desvalorização. Houve aumento da liquidez internacional, devido ao crédito

abundante e barato e fortalecimento da city de Londres, como centro financeiro

internacional.

O Brasil, obviamente usufruiu desse crédito barato - taxa de juros de 2% ao

ano - , porém contratando empréstimos a taxa flutuantes, tornando-se muito

vulnerável a um aumento dessas.

Diante dessas condições, o Brasil pode durante vários anos, ter um

crescimento acelerado , sem enfrentar os típicos problemas no Balanço de

Pagamentos.

Os eurodólares financiavam o déficit em transações correntes, que havia se

reduzido com o aumento do valor exportado(não confundir com quantidade

exportada) e com a melhoria nos termos de troca, que permitiram a ampliação da

capacidade de importar sem aumentar a dívida do país. Tais afirmações são

comprovadas no quadro a seguir:

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Índices de Comércio Exterior

Base 1930 =100

Ano

Quantidade

das

Exportaçõe

s

Preço

das

Exportaçõe

s

Quantidade

das

Importaçõe

s

Preço

das

Importaçõe

s

Relação

de

Troca

Capacidad

e

de

Importar

1968 148,0 396,5 287,5 278,1 128,5 190,1

1969 168,5 428,0 299,7 286,3 134,7 226,9

1970 173,6 492,2 360,3 299,6 148,0 256,8

1971 183,9 490,4 439,4 319,1 138,3 254,4

1972 234,3 524,7 533,2 338,7 139,5 326,9

1973 268,9 709,0 644,8 412,1 154,9 416,7

Fonte : IBGE

Paralelamente, no período 1970/73, os preços das "commodities" subiram a

taxas anuais superiores ao dobro da taxa de inflação internacional (14,3% contra

6,0%), fruto do momento favorável da economia mundial, pelo forte ritmo de

expansão do comércio internacional e pela estocagem especulativa. Esse aumento

proporcionou uma melhoria nas relações de troca dos países exportadores de

produtos primários.

MEDIDAS ECONÔMICAS

No período 1970/73, o governo adotou políticas monetário-creditícias, de

exportação, agrícola e de preços e salários, que contribuíram na queda dos índices

de inflação e na evolução do PIB.

Houve expansão da base monetária, maior concessão de crédito e aumento

dos gastos do governo, resultando em um aumento da demanda e da oferta

agregada. Ressalte-se que apesar dessa expansão, aquelas políticas foram

controladas pela equipe econômica do governo.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Veremos no quadro abaixo, com a evolução do M1 (papel moeda em poder

do público + depósitos à vista) seguiu " pari passu" a evolução recomendada pela

equação quantitativa da moeda, sem pressionar a inflação para a alta nem o produto

para a baixa.

Taxa de Variação dos Preços e do M1(%)

Dezembro/Dezembro

Ano IGP-DI IPA - Indústria IPA - Agricultura M1

1968 25,4 34,9 16,3 39,1

1969 20,5 15,8 28,8 32,6

1970 19,3 19,0 20,4 25,9

1971 19,5 17,2 24,8 32,3

1972 15,6 15,2 22,2 38,1

1973 15,5 16,5 16,6 47,2

Fonte: FGV, Banco Central.

Lembrando: Teoria Quantitativa da Moeda;

MV =PY, onde :

M= quantidade de moeda;

V = velocidade de circulação da moeda(Supõe-se constante. Logo a

quantidade de moeda afeta diretamente o índice de preços e o produto)

P = índice de preços;

Y = produto

Por outro lado, deu-se continuidade à tentativa de promover a concentração

do sistema bancário, como forma de aumentar a sua eficiência e reduzir o " spread"

e a taxa de juros (política creditícia e reforma bancária). O objetivo foi alcançado.

Assim, o número de sedes de bancos comerciais, que era de 188 em 1968, passou

para 79, cinco anos depois. Ao mesmo tempo, tomavam-se medidas para eliminar o

mercado paralelo de crédito, então bastante expressivo. Como resultado, houve um

fortalecimento dos grandes bancos e uma maior capacidade de alavancagem do

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

sistema como um todo. Dessa forma, os cincos maiores bancos nacionais, que em

1964 respondiam por apenas 17,5% dos depósitos, passaram em 1976 e deterem

34,2% destes.

Também foram dados vários estímulos às exportações. Como as pretensões

de crescimento econômico significavam um aumento de importações (vide efeitos

na Balança Comercial do país, desde a adoção do Plano Real), haveria necessidade

de obtenção de divisas e a forma encontrada pelo governo foi a adoção do "modelo

exportador".

As medidas tomadas foram:

- A instituição do sistema de minidesvalorizações cambiais periódicas, de

tipo "crawling peg", a partir de 1968, proporcionando um ambiente seguro

aos exportadores, quanto as possibilidades de ganhos.

- A concessão de um taxa de câmbio real favorável. A taxa de paridade, que

considera a (evolução da taxa média de câmbio + inflação dos EUA), em

1973

IGP

reduziu-se a um nível apenas 1% inferior ao de 1968. Nesse período o

preço das exportações aumentou a uma taxa muito superior

à inflação norte - americana, significando que a

remuneração do setor exportador apresentou uma melhoria real

significativa.

- A isenção de IPI, que representou um aumento da taxa de câmbio real das

exportações.

- A criação do Programa Befiex, em 1972, que permitiu às empresas com

planos de exportação contar com uma série de facilidades de importação ,

sujeitas a contrapartida de vender no exterior um valor estipulado superior

ao das importações adquiridas.

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Verifica-se então, que conjuntamente com o contexto externo favorável, as

medidas adotadas pelo governo foram fundamentais para o crescimento das

exportações entre 1968 e 1973.

Havia também o apoio a agricultura, que tinham dois objetivos: ajudar na

geração de divisas e contribuir para a política inflacionária, já que os preço agrícolas

haviam exercido grande pressão inflacionária em outras ocasiões.

Além das medidas tradicionais ligadas à fixação de preços mínimos e a

concessão de empréstimos, a juros favorecidos, para o plantio e colheita da safra,

medidas relativamente inovadoras foram tomadas para complementar aquelas. As

principais foram as isenções fiscais(redução de IPI) sobre a compra de fertilizantes e

tratores e o aumento do financiamento para aquisição desses últimos.

Entre 1966/69 e 1970/73, em valores reais, esses financiamentos mais que

dobraram. Com isso, o número de tratores de 4 rodas vendidos, deu um salto de

9.664 para 36.697 unidades entre 1969 e 1973. A produção de fertilizantes de

multiplicou por oito, entre 1970 e 1974.

Dessa forma, a produção agrícola pôde se ampliar a taxas que evitaram uma

pressão excessiva sobre os preços, cujo viés acompanhou a queda observada na

taxa de variação do IGP.

Na coordenação de política de salários e preços, foram adotadas uma série

de medidas, que contribuíram para gerar uma queda da inflação e um aumento dos

salários reais que porém, foi inferior ao aumento da produtividade. O quadro a

seguir, comprova nossa afirmação:

Taxa de Variação dos Rendimentos Nominais e Reais(%)

ANO

SALÁRIOS INDUS-

TRIAIS NOMINAIS

(Ind. Transformação)

ICV - RJ

SALÁRIOS INDUS-

TRIAIS REAIS

PRODUTIV.

INDUSTRIA

PIB

"Per capita"

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

1968 31,3 22,0 7,6 6,7 6,7

1969 25,4 22,6 2,3 7,5 6,4

1970 26,6 22,3 3,5 7,6 7,2

1971 24,0 20,2 3,2 9,3 8,6

1972 25,8 16,6 7,9 7,9 9,3

1973 23,7 12,7 9,8 6,4 11,2

FONTES: Salários: 1968/69 - IBGE/DEICOM, "Produção industrial"

1969/70 - IBGE/DEICOM, "Indústria de Transformação"

1970/71 - IPEA, "Boletim econômico"

1971/73 - IBGE/DESDE- "Indicadores Conjunturais na indústria"

ICV-RJ: FGV

Produtividade: Obtida a partir de informações sobre pessoal ocupado e

produção industrial, utilizando mesmas fontes que no caso de salários.

PIB per capita: IBGE

Isso foi conseguido através da decretação de aumentos reais de salários, por

ocasiões de dissídios, inferiores a variação da produtividade. No quinquênio

1969/73, enquanto o aumento real legal dos salários foi de apenas 17%, o PIB per

capita aumentou 51%. Os salários foram beneficiados pela mudança da legislação

salarial em 1968, que eliminou o problema representado pela subestimação da

inflação futura, através de uma correção compensatória do resíduo inflacionário que

ultrapassasse a previsão governamental. Por outro lado, a própria queda da inflação

implicou um aumento do salário real médio.

Cumpre destacar, por último, o papel representado pelo CIP- Conselho

Interministerial de Preços. O governo passava a contar com um instrumento mais

eficaz de controle das margens de lucros e dos preços , imitando a experiência de

outros países. A justificativa para isso era dada pelo fato de que o sistema de

preços, numa economia capitalista e, em particular numa economia em

desenvolvimento, não funciona perfeitamente na presença de estruturas

oligopolistas ou monopolistas de oferta.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

A FASE DO CRESCIMENTO HESITANTE:1968/1969

A nova administração econômica mantinha a crença que a inflação constituía

um obstáculo dos mais sérios ao crescimento econômico. No início do "milagre",

Delfim Netto chegou a proferir: "o importante, na atual fase de combate à inflação, é

que o ímpeto altista foi controlado simultaneamente com uma expansão na atividade

econômica. Seria o caso de manifestarmos satisfação pela performance, mas está

postura é falsa, porque uma inflação de 20% ao ano é também um recorde, mas

negativo. Já demonstrei em algumas ocasiões, com dados extraídos da história

recente da economia brasileira, que a uma taxa inflacionária menor tem

correspondido um crescimento maior e mais constante , e vice-versa."

Dentre as medidas adotadas para o controle da inflação, destacou-se o

controle dos preços industriais. Inicialmente, o Governo, através de "acordos",

conseguiu que os bancos comerciais diminuíssem a taxa de juros e portanto, o

custo de captação para investimentos. Posteriormente, adotou o simples

tabelamento, ampliado em 1970 com a aplicação de um redutor de 10% sobre as

taxas ativas dos bancos de investimento. Contudo, havia dúvida em relação à

eficácia dessa última medida, já que os bancos tinham condições de substituir uma

taxa de juros menor por um maior saldo médio (se emprestava mais, gerando

receitas maiores), de modo que na prática a taxa efetiva não se modificasse em

forma significativa.

Apesar do êxito obtido com a redução da taxa de variação anual dos preços

industriais de 34,9% em 1968 para 15,8% em 1969, o resultado global sobre a

inflação oficial foi parcialmente compensado pelo desempenho ruim dos preços

agrícolas, de tal modo que a taxa de variação do IGP caiu apenas de 25,4% para

20,5%.

As medidas de controle não impediram que economia apresentasse um

crescimento elevado em 1969. Observou-se, que o crescimento foi gerado pelo

impulso em 1968 , dado que ao longo de 1969, a economia passou por uma relativa

estagnação. Isso fica claro no quadro a seguir:

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

NÍVEL DE EMPREGO INDUSTRIAL EM SÃO PAULO

Base:1968=100

SEMESTRE 1968 1969

I

II

95,8

104,5

106,4

106,0

TOTAL 100,00 106,2

Fonte: FIESP, reproduzido de ANPES,

boletim trimestral n° 5, 4º trimestre 1969, página 61.

Como se vê , o aumento de 6,2% do emprego se explica muito mais pelo fato

da base de comparação do primeiro semestre de 1968 ser relativamente pequena

do que pela variação do emprego durante 1969, a qual, como se vê, foi ligeiramente

negativa pela comparação dos semestres(106,4 - 106,0).

O auge:1970/73

No biênio 1968/1969 a economia cresceu 20%, iniciando uma fase de

expansão que teve como desfecho o auge de 1970/73, conforme o quadro abaixo:

TAXAS DE VARIAÇÃO DO PIB (MÉDIAS ANUAIS)

PERÍODO TAXA DE CRESCIMENTO(%)

1948/55 7,2

1956/61 8,2

1962/67 4,0

1968/73 11,2

1968 9,8

1969 9,5

1970 10,4

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

1971 11,3

1972 12,1

1973 14,0

Fonte: IBGE

Nos biênio 1968/69, houve altas taxas de crescimento, mas foi somente em

1970 que o discurso de crescimento acelerado passou a dominar os políticos do

governo.

A grande verdade é que as autoridades não esperavam um crescimento

econômico à taxas tão altas e acabaram tendo uma percepção tardia do que vinha

ocorrendo desde 1968. É interessante destacar que o " Programa Estratégico do

Desenvolvimento"- PED , lançado em meados de 1968, previa uma expansão de

apenas 6% do ano para 1968/73. Só com as "Metas e Bases pela ação do governo",

de 1970, foi explicitada uma meta maior de 7/9% ao ano.

A sustentação dessas taxas de crescimento implicava atingir uma taxa de

investimento mais elevada do que aquela vigente em 1970, ou seja, formação de

capital. Isso foi obtido a partir de um crescimento acelerado do investimento,

favorecido pela ampliação dos déficits da conta de bens e serviços não - fatores de

capital, cuja importância, em cruzeiros constantes de 1980, passou de 3,2 para 5,7%

do PIB .

Cumpre ressaltar que naquele período considerava-se que para atingir uma

taxa de crescimento média de 9% ao ano, seria necessário ter taxas de investimento

e poupança agregada da ordem de 20/22%. Essa taxa foi insuficiente nos anos 80,

para sustentar sequer um crescimento de 7% , sinal de que a relação capital -

produto havia aumentado nos últimos anos.

Apesar da recuperação do investimento, ou seja, formação bruta de capital

fixo, a dinâmica da evolução da indústria no período do "milagre" foi dada pelo setor

de bens de consumo duráveis.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Houve grande concentração de renda no período do "milagre" A teoria de

"deixar o bolo crescer para depois dividi-lo", não ocorreu conforme o planejado, mas

acabou por se auto-alimentar, pela evolução dos preços relativos. Com a

distribuição de renda em favor da classes médias e alta em detrimento dos mais

pobres, criou-se um forte componente de demanda pelos bens de consumo

duráveis. Isto detonou um processo de crescimento e as empresas começaram a

apresentar ganhos de produtividade e com isso reduzir preços, expandindo ainda

mais a demanda. Uma das explicações para essa concentração de renda, foi a

dominância do setor de bens de consumo duráveis que impôs uma diferenciação

salarial com a contenção dos salários de base.

Nesse período, a indústria automobilística passava por grande diversificação,

com o surgimento em paralelo de carros de luxo e o barateamento dos chamados

carros econômicos, hoje "populares". Assim, o número de modelos, que era 20, em

média, no período 1961/67 passou a 42, em média, no período 1971/73. Entre os

mesmos períodos, a relação preço máximo/preço mínimo aumentou de 2,9 para 4,7.

Os quadros a seguir retratam bem os fenômenos ocorridos no setor de bens de

consumo duráveis.

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS REAIS MÉDIOS DE UMA RELAÇÃO DE

ELETRODOMÉSTICOS

(Deflator: IGP-DI)

Base 1967=100

BEM 1967 1971 1975

Aspirador 100 86 69

Geladeira 100 73 74

TV Preto e Branco* 100 61 44

Gravador 100 53 50

Ventilador 100 91 58

Fonte: Sabóia, J.(1980), "Barateamento e diversificação dos bens de consumo

duráveis COPPE/UFRJ, mímeo

¹ A TV a cores só apareceu no mercado no início da década de 70.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS REAIS DOS AUTOMÓVEIS

(Deflator: IGP-DI)

Base 1961/67=100

PERÍODO PREÇO MÍNIMO PREÇO MÁXIMO

1961/67 100 100

1968/70 103 119

1971/73 85 137

Fonte: Sabóia, J.(1980), op.cit., com base em dados da revista "Quatro Rodas".

A dimensão do crescimento, apesar da recuperação da taxa de investimento,

acabou por gerar uma série de desequilíbrios. Apesar do sucesso obtido na tentativa

de simultaneamente crescer mais e ter uma menor taxa de aumento de preços,

certos setores continuaram a achar os níveis de 20%, então observados, muito

elevados. Esta deixou de ser aos poucos, porém, a posição oficial.

Menos de um ano depois de ter defendido um " ataque mortal " a inflação e

sem ter conseguido uma redução espetacular da mesma, o Ministro Delfim já

deixava claro: " a experiência de outros países não prova que o resultado(de um

tratamento de choque) seja melhor que um tratamento gradualista. Na maioria dos

casos provocou tensões sociais graves que acabaram jogando por terra todo um

programa e criando nova aceleração da taxa de inflação. Nós não vamos sacrificar

o objetivo do desenvolvimento econômico apenas para ficar na história com o

homem que acabou com a inflação à ferro e fogo." Meses depois, o mesmo ministro

constataria que "nós conseguimos reduzir praticamente os grandes males da

inflação antes de termos reduzido a inflação definitivamente." Na mesma ocasião,

ele rejeitaria as propostas ortodoxas com o argumento de que " não há nenhuma

razão pela qual devemos fazer uma política de aperto de crédito, a não ser a razão

da ordem estética de impedir o crescimento dos meios de pagamento."

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Apesar então, dos recorrentes pedidos de alguns setores para que o governo

"finalmente" adotasse um tratamento de choque, o combate a inflação deixou de ter

o caráter prioritário que antes lhe fora outorgado e até 1972 foi possível de fato,

crescer a taxas aceleradas sem pressionar a inflação.

Em 1973, porém, o efeito conjugado do superaquecimento da economia

brasileira e simultâneo com o superaquecimento da economia mundial, começou a

criar tensões inflacionárias internamente, antes da crise do petróleo. Por um lado,

porque em diversos setores, começaram a aparecer pontos de estrangulamento e as

conseqüências correspondentes em termos de aumento dos preços. Por outro,

porque o "boom" dos preços no mercado internacional tendia aumentar o preço das

exportações, bem como o preço dos produtos comercializados internamente, que

tinham mercado externo como referencial de preços.

O governo não alterou suas metas para o crescimento econômico, mesmo

diante do crescimento inflacionário. Manteve a taxa de câmbio congelada, que entre

dezembro 1972 à dezembro 1973 apresentou uma desvalorização de apenas 0,1%,

desconsiderando a inflação. O objetivo era manter o poder de compra e a demanda

pelos bens de consumo duráveis. A combinação de um controle formalmente

severo dos preços com o superaquecimento da demanda deu então origem ao

surgimento do fenômeno do ágio em alguns setores.

O impacto dos estrangulamentos setoriais sobre a evolução dos preços pode

ser medido pelos próprios índices oficiais. O IPA industrial, cuja taxa de variação em

12 meses vinha decrescendo até 1972, sofreu uma inflexão em 1973. A variação

acumulada anual passou de 14,1% em junho para 14,6% em setembro e 16,5% em

dezembro. Os efeitos do superaquecimento dos preços foi muito maior. Porém,

devido ao ágio, os preços captados pelo governo não correspondiam aos preços

efetivamente praticados na economia. Assim, embora a inflação medida pelo IGP

tenha se mantido estável em 15/16% - devido a queda da taxa de variação do IPA

agrícola -, a inflação "real" teria sido aproximadamente o dobro, de acordo com

estimações independentes. Uma prova implícita disso foi a diferença entre a taxa

anual do IGP-DI e o deflator implícito do PIB em 1973 e1974. O deflator implícito

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

media a variação entre as taxas médias anuais de preços nos diversos setores da

economia. Em 1973, a taxa correspondente ao IGP - DI foi de 14,9% contra 22,6%

do deflator implícito, ao passo que em 1974 tais taxas foram, de 28,7% e 34,3%,

respectivamente.

PARTE III - PROBLEMAS DE EXPANSÃO

O PROBLEMA DA REALIZAÇÃO DINÂMICA

Ao longo do período do "milagre" e por trás da euforia econômica reinante,

foram surgindo e se agravando certos problemas cuja evolução preanunciava a

tendência futura a queda da taxas de crescimento do PIB.

Uma das dificuldades era o chamado "problema da realização dinâmica". A

origem do problema residia na contradição, inerente ao padrão industrial

adotado(tipo de indústria chave), entre o potencial de acumulação das empresas

líderes e as possibilidades deste potencial vir efetivamente a se transformar num

aumento sustentado e conjugado não só da oferta como também da demanda

efetiva.

O setor de bens de consumo duráveis, que foi o pilar do "milagre econômico"

não era auto sustentável nesse ponto. Havia um desajuste entre o ritmo de

expansão da demanda e a capacidade interna de produção e acumulação. Devido

as altas margens de lucro e capacidade, havia uma tendência permanente a um

excesso potencial de acumulação frente à desaceleração da demanda. As pessoas

não podiam por exemplo, aumentar indefinidamente sua demanda por automóveis e

geladeiras, enquanto a indústria daqueles setores crescia e produzia cada vez mais.

A crise teria sido superada nos anos do "milagre", através da criação de novos

esquemas de financiamento e da distribuição regressiva das rendas do trabalho em

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

favor das camadas média e alta. Esgotado o efeito expansivo dessa mudança do

perfil distributivo, a crise tenderia a ressurgir. Isso porque o aumento da

produtividade conjunta de capital e trabalho não se transfere proporcionalmente aos

preços (redução) ou salários(aumento), surgindo então uma tendência a

sobreacumulação das grandes empresas.. Esse potencial de acumulação se

esteriliza, uma vez que não aumenta a taxa real de investimentos da indústria, nem

se consegue pela via fiscal ou financeira, reorientar os excedentes para setores

deficitários. Usando o exemplo da geladeira e do automóvel, não houve redução

significativa no preço desses bens, nem aumento de salários, que pudessem

sustentar a demanda.

Isso significa que a sobrevida do auge cíclico então experimentado pela

economia brasileira dependeria da continuidade da expansão da demanda a taxas

elevadas, algo bastante difícil de ocorrer. As notáveis taxas de crescimento

registradas no período analisado relacionavam-se com a distribuição regressiva da

renda e a implementação de novos mecanismos de financiamento que criaram

subitamente um "estoque" de demanda reprimida por bens de consumo duráveis,

cuja satisfação garantiu o escoamento de fluxos sucessivos e crescentes de oferta

durante alguns anos. Preenchido esses espaço, os novos aumentos da demanda

foram marginais "vis a vis" a demanda já existente. Diante disso, ou o sistema

recriava mecanismos inovadores para estimular a demanda ou teria que conviver

com taxas de crescimento menores no futuro.

A queda pôde ser adiada durante o milagre mediante dois fatores. O primeiro

foi a já mencionada evolução dos preços relativos no sentido do barateamento dos

bens de consumo duráveis. O segundo fator foi o mecanismo tradicional da

expansão das vendas por meio de utilização maciça da propaganda, capaz de

desviar a demanda para esses bens, diminuir o prazo de reposição dos mesmos,

etc. Entretanto, havia um limite. O preço real dos bens em questão não poderia cair

indefinidamente sem comprometer a rentabilidade do setores e por maior que seja a

propaganda, não há como exemplo, estimular o consumidor a trocar de automóvel

mais de uma vez por ano.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Além dos argumentos acima citados, há um outro ponto que é importante

ressaltar. O motor da economia era a indústria automobilística, cujas variáveis

fundamentais eram o consumo de gasolina e o poder aquisitivo da classe média.

Na questão da gasolina, a crise do petróleo em 1973, ameaçou os padrões

industriais e de consumo. O preço da gasolina aumentou em termos reais devido ao

repasse do aumento do preço do barril de petróleo no mercado internacional,

criando a necessidade de redução do volume físico das importações, para não

pressionar excessivamente a Balança Comercial. Somando-se a aceleração

inflacionária, que tendeu a corroer a capacidade de compra dos salários, a indústria

automobilística foi afetada, comprometendo a capacidade de crescimento da

indústria como um todo e exigindo a escolha de novos setores chaves para

sustentar a expansão.

Junto com a discussão desses temas, havia a crítica a aspiração oficial de

converter o Brasil em um "novo Japão", através das elevadas taxas de crescimento.

Sabemos que as semelhanças entre os dois países não iam além disso.

IMPACTO SOBRE AS CONTAS EXTERNAS

O saldo da balança comercial em 1971, voltou a apresentar sinal negativo.

Em 1972 e 1973, houve uma evolução positiva das importações, fruto do aumento

da capacidade de importar do país, devido a elevação do volume importado e ao

comportamento favorável dos termos de troca. O quadro abaixo, confirma essas

informações.

RESULTADOS DA BALANÇA COMERCIAL

(US$ milhões)

ANO EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES SALDO

1968 1881 1855 26

1969 2311 1993 318

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

1970 2739 2507 232

1971 2904 3247 -343

1972 3991 4232 -241

1973 6199 6192 7

Fonte: Banco Central.

Por trás do relativo equilíbrio da balança comercial porém, o fato mais

importante e preocupante era o aumento do "quantum" das importações de bens

que, somadas às de serviços não fatores, em cruzeiros constantes de 1980,

passaram de 11,1% do PIB em 1970 para 14,0% em 1973, ampliando a

percentagem do déficit de bens e serviços não fatores no PIB de 3,2% para 5,7%

entre os mesmos anos.

Dois fatores justificavam esse problema. Primeiro, o governo agiu como se

tivesse tido uma percepção tardia da dimensão do crescimento e só em fins de

1969/início de 1970 assumiu como factíveis metas de crescimento da ordem de

9/10% ao ano. Isso fez com que o setor produtor de insumos básicos fosse

surpreendido com o vigor do crescimento, não podendo reprogramar a tempo os

seus cronogramas de investimento de modo a atingir antes as metas de produção

fixadas para o futuro. Assim, com a demanda crescendo a uma taxa superior à

prevista e sem que a oferta pudesse acompanhar tal ritmo, era natural que

surgissem diversos pontos de estrangulamento nas áreas de siderurgia, metais não-

ferroso, química, fertilizantes, papel e celulose, etc.

Por outro lado, a política oficial não pode ser isenta de responsabilidade pela

ocorrência de tal fenômeno, pois houve rejeição governamental a qualquer idéia que

pudesse ser confundida com planejamento. A aversão a esta noção cultivada pelo

Ministro Delfim Netto encontra-se sintetizada num famoso artigo jornalístico seu de

1970, que recebeu o significativo título de "Dêem o ano e não se preocupem com as

décadas. E no qual ele declara: "Confesso que não posso escrever sobre a década

dos 70. Estremeço ao ver uma projeção de 5 anos levada à sério; não disfarço o

tédio diante de uma de 10 anos e perco a paciência diante de prazos maiores." É

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

natural, portanto, que em 1972/73 a economia tenha começado a sofrer as

conseqüências da não adoção de medidas que deveriam ter sido tomadas vários

anos antes, dado o longo prazo de maturação envolvido na realização dos

investimentos na área de indústria pesada.

O desequilíbrio ao qual nos referimos, está exposto no quadro a seguir.

TAXAS MÉDIAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA(%)

SETORES 1968/70 1971/73 1968/73

Indústria 11,9 13,5 12,7

Construção Civil 9,8 12,0 10,9

Bens de consumo duráveis 21,7 25,5 23,6

Bens de consumo não

duráveis

9,8 9,1 9,4

Bens de capital 13,5 22,7 18,0

Bens intermediários 13,7 13,2 13,4

Fonte: Serra, J.(1982) "Ciclos e mudanças estruturais na economia brasileira do

pós-guerra, in "Desenvolvimento capitalista no Brasil", ED. Brasiliense (Tabela 1)

Como se vê, no período 1968/70 os bens intermediários e os bens de capital

cresceram a uma taxa apenas ligeiramente superior à da indústria como um todo,

enquanto que no triênio 1971/73 o setor de bens de capital experimentou um

aumento considerável da sua taxa de crescimento.

No caso dos bens de capital, ainda que a reação de 1971/73 tenha sido

expressiva, as taxas observadas foram insuficientes para evitar um aumento

considerável das importações. Cabe destacar que no triênio em questão, o

investimento cresceu em termos reais, a uma taxa média anual de 17,6%. Como

para efeitos de contabilidade nacional ele é composto basicamente dos índices de

produção da construção civil e dos bens de capital e do déficit - diferença entre

importações e exportações - destes últimos e como a construção civil estava

crescendo a uma taxa de " apenas" 12% ao ano, os demais componentes da

equação do investimento tinham que crescer a uma taxa bastante superiora 17,6%

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

para compensar. É nesses sentido, que a taxa de 22,7% da produção interna de

bens de capital revelou-se insuficiente, exigindo uma aumento considerável das

importações desses bens.

No que diz respeito aos insumos intermediários, a ineficiência resultava do

fato de que a elasticidade da demanda em relação ao PIB da maior parte deles era

superior a 1. Isso decorria em parte do padrão de expansão industrial vigente, na

medida em que os efeitos "para trás" do setor líder, o de duráveis, eram muito

acentuados, o que tornava a economia mais intensiva no uso de aço, produtos

químicos, borracha e outros insumos importantes.

As conseqüências do caráter desequilibrado do crescimento, em termos do

comportamento das contas externas, aparecem no quadro a seguir. Como se vê, em

apenas 3 anos, entre 1970 e 1973, as importações mais que dobraram de valor,

devido a proliferação de pontos de estrangulamento setoriais.

IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS POR GRANDES GRUPOS

(US$ milhões)

ANO MÁQUINAS

EQUIPTOS

COMBUST.

E LUBRIF.

PROD.

QUÍMICOS

FERRO

FUNDIDO

E AÇO

METAIS

NÃO

FERROSO

S

OUTRO

S

TOT.

1968 604 230 143 83 101 694 1855

1969 712 237 140 111 127 666 1993

1970 908 281 194 160 145 819 2507

1971 1239 377 232 256 146 997 3247

1972 1734 469 285 255 173 1316 4232

1973 2142 769 439 493 288 2061 6192

Fonte: Banco Central

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Esses pontos de estrangulamento, acabaram afetando o resultado das

importações e o saldo comercial em 1974, comprovando alguns dos efeitos danosos

do "milagre". Em 1974, o total das importações passou de US$ 6,192 bilhões em

1973 para 12,641 bilhões. As importações de combustíveis e lubrificantes deram um

salto de US$ 769 milhões para US$ 2,962 bilhões, enquanto as demais importações

passaram de US$ 5,423 para US$ 9,679 bilhões. Isso significa que o aumento de

US$ 4,256 bilhões (66%) se deveram a importações de não - petróleo. Em outras

palavras, apesar do choque do petróleo ter tido impacto negativo sobre a economia

brasileira, o principal componente da crise pós-73, foram as importações de

máquinas, equipamentos e insumos básicos.

O RETORNO DA INFLAÇÃO

Ao fazer crítica à visão de inflação de demanda que norteara a política

econômica no período 1964/67, a nova equipe partia do pressuposto de que diante

da existência de níveis elevados de capacidade ociosa, aquele diagnóstico era

incorreto. Isto porque, diante de uma pressão de demanda, as empresas não teriam

motivos para reagir elevando seus preços, já que tendência seria aumentar a oferta.

Transparece nessa análise, a idéia de Hicks, de que a economia teria basicamente

dois tipos de mercado: o de preços fixos e de preços flexíveis. No primeiro, os

preços seriam formados basicamente a partir dos custos, adicionando-se uma taxa

de lucro "normal". Essa era a ideologia dominante no período do "milagre". O

segundo caso, os preços resultariam da relação entre demanda e oferta, sendo o

melhor exemplo, a formação de preço dos produtos agrícolas.

No mercado de preços fixos, sendo a curva de oferta horizontal, uma

expansão da demanda tenderia a repercutir sobre as quantidades e não sobre os

preços.

Mesmo nesse paradigma teórico, admiti-se que estando a economia perto do

limite de plena utilização dos recursos existentes, a curva de oferta teria uma

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

inclinação positiva, de modo que deslocamentos da demanda passariam então a

pressionar os preços para a alta.

As evidências disponíveis indicam que, durante 1973, a economia brasileira

se aproximou rapidamente desse limite, devido ao espetacular desempenho do PIB,

que cresceu 14,0%. Pesquisas da FGV indicam que a capacidade ocupada da

indústria atingiu 90%. Se a economia estivesse em rigoroso equilíbrio, seria possível

supor que todos os setores tivessem o mesmo grau de ocupação, mas como isso

não ocorria e o limite teórico de 100% para a economia como um todo nunca foi

atingido, pode-se considerar que em 1973 taxa de 90% correspondeu na prática a

um situação de pleno-emprego.

O quadro abaixo evidencia essa situação, através de uma pesquisa feita junto

ao empresariado na época.

INDÚSTRIA DE TRASNFORMAÇÃO: PROPORÇÃO DAS RESPOSTAS

CONSIDERANDO ESTAR A DEMANDA "FORTE"

(%)

1970 1971 1972 1973

Janeiro 12 23 18 25

Abril 17 19 17 33

Julho 19 19 23 49

Outubro 27 16 31 60

Fonte: Bacha, E.(1976); "Os mitos de um década - ensaios de Economia Brasileira",

Rio de Janeiro, Paz e Terra

Conclui-se então, que, nessas circunstâncias e apesar da elevação da taxa

de investimento verificada, a economia teria que aceitar reduzir o seu nível de

crescimento ou uma maior taxa de inflação, ou ainda, um pouco de ambas as

coisas.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

AS RAÍZES DOS NOSSOS PROBLEMAS ATUAIS

O endividamento externo

No final de 1968, as reservas internacionais do país somavam apenas 257

milhões de dólares, valor correspondente a menos de dois meses de importações

registradas naquele ano. Como tradicionalmente, estipulava-se um nível mínimo de

reservas, correspondente a três meses de importações e como o governo havia

traçado metas para o crescimento econômico, foi necessário aumentar o grau de

endividamento de médio e longo prazos. A captação de recursos no exterior tinha o

objetivo de financiar as importações, que tenderiam a crescer com o movimento de

expansão econômica e formar reservas, reduzindo a vulnerabilidade imediata do

país.

O governo encontrou grandes facilidades no mercado financeiro internacional

para obter os recursos de que necessitava para a expansão. O custo, medido pela

taxas de juros, era muito baixo, os prazos eram dilatados e o volume de crédito

disponível era grande. Essas condições só foram encontradas devido ao

surgimento dos eurodólares, ou seja, moeda americana em grande disponibilidade

na Europa.

Adicionalmente, embora a balança comercial tivesse uma situação de relativo

equilíbrio, o país continuava apresentando, como tradicionalmente ocorria com os

países em desenvolvimento, déficits em sua conta corrente. Esse resultava da

necessidade de fazer frente à cobertura dos pagamentos líquidos de serviços, tanto

de fatores(juros) como de não- fatores(fretes, viagens).

Em contraposição, o país beneficiava-se de uma conjuntura interna

(crescimento econômico) e externa(disponibilidade de recursos baratos) favorável

em termos da entrada de investimentos diretos. O processo de internacionalização

do capital, ou seja, a saída das empresas transnacionais dos seus países de origem

para outras regiões e a atração exercida pelo vigor do crescimento da economia

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

brasileira, permitiu ao país financiar seu déficit em transações correntes sem ter que

recorrer a novos empréstimos.

A importância desses fatores pode ser medida pelos números expostos a

seguir. Entre 1969/73, a economia teve um déficit acumulado de transações

correntes de 5,327 bilhões de dólares. Em compensação, houve um ingresso

acumulado de divisas sob a rubrica de investimento direto líquido de 1,735 bilhões

da mesma moeda. Multiplicando-se por 0,25(três meses) as importações de 1973

chega-se ao valor mínimo recomendável de reservas de 1,548 bilhões, do qual deve

ser deduzido os 257 milhões já existentes em 1968. O resultado é uma diferença de

1,291 bilhões de dólares. Somando o valor do déficit acumulado em transações

correntes, com o nível mínimo de reservas e subtraindo-se o ingresso de capitais,

pode -se estimar a necessidade de endividamento externo do período como sendo

igual à :

5,327 + 1,291 - 1,735 = 4,883 bilhões de dólares.

Entretanto, ao aumento da dívida externa bruta no período foi de 8,792

bilhões de dólares, conforme registra o quadro a seguir:

ENDIVIDAMENTO EXTERNO

US$ milhões

ANO DÍVIDA EXTERNA

BRUTA DE MÉDIO

E LONGO PRAZO-

FIM DE PERÍODO

RESERVAS -

FIM

DE PERÍODO

RESERVAS/

DÍVIDA

(%)

RESERVAS/

IMPORTAÇÕE

S

(%)

1968 3,780 257 7 14

1969 4,403 656 15 33

1970 5,295 1,187 22 47

1971 6,622 1,723 26 53

1972 9,521 4,183 44 99

1973 12,572 6,416 51 104

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Fonte: Banco Central

Como se vê, a principal razão para o aumento do endividamento foi a enorme

acumulação de reservas, que atingiram em 1973, mais de 4 vezes o valor

teoricamente recomendável.

O aumento do endividamento externo pode servir para duas coisas: Para

financiar o hiato de divisas de um país - quando a diferença entre o investimento

direto e o saldo das transações correntes é negativa ou para expandir a liquidez,

através da acumulação de reservas. A primeira causa, explica apenas uma parte .

Já a Segunda também não pode ser inteiramente entendida à luz das explicações

convencionais. Inicialmente, supondo que a expansão da liquidez é função da

variação de reservas e do crédito interno, a questão e´: Por que o governo não optou

por mecanismos internos de expansão monetária ao invés do mecanismo, mais

oneroso para o país de formar reservas em abundância. Além disso, o mais

importante é que a variação de reservas ultrapassou de muito a intenção oficial de

aumentar liquidez da economia.

O que aconteceu foi que o impacto monetário passível de ser causado pelo

"exagero" fez como que o governo coloca-se títulos públicos com o intuito de "

enxugar " o mercado monetário e evitar a suposta explosão inflacionária que correria

se aquele impacto não fosse contrabalançado.

Essa situação era ideal para as empresas, que tinham dessa forma

asseguradas as condições de liquidez, com o benéfico adicional de que dessa forma

tinham o seu caixa remunerado..

Já do ponto de vista da política econômica , o resultado estava longe de ser

interessante. Isto porque criava-se dívida interna " fictícia", isto é , sem contrapartida

real, implicando um aumento da necessidade futura de pagamento a título de juros.

Era esses e não o externo, o principal problema deixado como herança para os

governos posteriores.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

O aumento da dívida externa bruta pode ser considerado um problema na

medida em que foi justamente nesse período que criaram-se as estreitas ligações

entre o mercado financeiro doméstico e internacional, tornado o Brasil mais

dependente do exterior e portanto mais vulnerável a eventuais mudanças do

contexto financeiro internacional. No período em questão, entretanto, a dívida

externa bruta em si não era um problema tão grave, pelo fato de que a dívida líquida

não aumentou excessivamente ao longo desses anos. Isso significa que, em caso

extremo, o país poderia saldar boa parte dos seus compromissos externos com o

estoque de divisas acumulados em reservas, sem temer, um aumento dos custos de

endividamento. Esta era uma situação totalmente diferente daquela que viria a

prevalecer a partir de 1974, quando o aumento da dívida bruta veio acompanhado

de um aumento da dívida líquida e o país se viu sem condições de poder reagir

quitando parte importante do principal , no caso eventual de um aumento das taxas

de juros.

O único ônus externo para o país era representado pela diferença entre as

taxas de captação e de empréstimo dos bancos internacionais, multiplicada pela

diferença entre os estoques de dívida bruta e das reservas aplicadas na forma de

depósitos em alguns dos referidos bancos. Os números daí resultantes, porém

tinham uma importância reduzida vis a vis outras variáveis de fluxo do balanço de

pagamentos.

Já o impacto interno pode ser medido pelo quadro a seguir, que mostra o

efeito expansivo sobre a base monetária associado à acumulação de reservas nos

últimos anos do "milagre".

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

FATORES DE EXPANSÃO E CONTRAÇÃO DA BASE MONETÁRIA

(%)

1972 1973

Financiamento do déficit

Operações cambiais

Empréstimos B. Brasil ao setor

privado

Outras contas

Variação da base monetária

-180

376

180

-276

100

-50

110

116

-76

100

Fonte: Banco Central

Quais foram as razões que teriam levado o governo, então, a adotar a política

de se endividar internamente para financiar a acumulação de reservas?

Um dos motivos alegados era o efeito inibidor do ingresso de crédito externo

sobre a taxa interna de juros, apesar de que a colocação de títulos no mercado,

para "enxugar" a oferta monetária, gerar efeitos contrários.

Um segundo motivo era de natureza ideológica. O mercado desaconselhava a

adoção de medidas de caráter normativo e discriminatório por parte do Estado para

financiar a acumulação de reservas e o efeito inflacionário a ela inerente. Acreditava-

se que essa medida poderiam tornar-se um entrave ao ingresso de novos créditos

externos.

A razão primordial do comportamento do governo nesse campo parece ter

sido a determinação política de formar reservas a qualquer custo. O governo tinha o

desejo de utilizar o volume de ingresso de recursos como prova da confiança do

mundo, em particular, o mercado financeiro, seja nas potencialidades da economia

brasileira, seja na eficácia da política econômica oficial.

Depois de 1968, o governo se fecho ainda mais em termos políticos , sendo o

período 1969/73 aquele em que o grau de arbítrio atingiu os eu clímax, tendo o

governo sido acusado, tanto interna com externamente , pela prática de uma série

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

de violências. Nesse sentido, ter um nível elevado de reservas era muito importante

para o governo, que estava preocupado em obter através dos êxitos econômicos a

legitimidade de que carecia pelo fato de não ser oriundo de uma eleição normal.

A dívida interna e a dupla distorção do papel dos títulos públicos.

Para que surja uma divida pública interna não é preciso que tenham ocorrido

previamente déficits primários nas contas do setor público. Basta, que o governo

"enxugue" a liquidez da economia através da colocação dos seus títulos. As

sucessivas capitalizações dos juros sobre a emissão inicial tenderão então,

posteriormente, a gerar aumentos sucessivos daquela dívida através do que se

chama de "efeito bola de neve", isto é, o processo se auto alimenta.

A independência entre a expansão inicial da dívida e o comportamento das

contas públicas pode ser vista no quadro a seguir, que mostra a evolução em

paralelo da dívida interna e do déficit do Tesouro.

EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA INTERNA

(Cr$ milhões)

ANO DÍVIDA

INTERNA

DÉFICIT

TESOURO

DÍVIDA INTERNA/

PIB(%)

1969 5881 756 3,6

1970 10111 738 5,2

1971 15445 672 5,9

1972 26179 516 7,6

1973 38344 295 7,9

Fonte: Banco Central, relatórios.

Pode-se alegar que o déficit do Tesouro não corresponde ao conceito

apropriado de déficit público, por não incluir o déficit das empresas estatais.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Entretanto, mesmo que está última variável seja considerada, não há evidências de

que tenha sido o principal fator explicativo para a evolução da dívida interna.

Para a plena compreensão dos mecanismos através dos quais se deu a

expansão do endividamento público há que fazer previamente alusão ao papel

desempenhado pela Lei complementar n °12 .

Esta lei contribuiu decisivamente para a confusão institucional vigente ao

longo de toda a década de 70 e boa parte dos anos 80, devido a coexistência de três

orçamentos públicos: o da União, o das estatais e o monetário.

A lei complementar n° 12 , promulgada em 08.11.1971, sucedeu a um série

de leis e decretos aprovados e decretados anteriormente: A Lei n° 4357 de

15.07.1964, que criou as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs; O

Decreto Lei n° 263, de 21.02.1967, que resgatou toda a dívida mobiliária anterior a

ORTNs; e o Decreto Lei n° 1079, de 24.01.1970, que criou as Letras do Tesouro

Nacional.

Alguns problemas referentes ao endividamento interno resultam diretamente

da Lei complementar n° 12. Esta determinava que as operações de crédito

referentes à colocação e resgate de títulos do Tesouro Nacional, decorrentes do giro

da dívida pública interna federal, poderiam ser realizados independentemente de

estimativa e fixação das respectivas receitas e despesas no orçamento anual. A lei

dizia também que as despesas com juros, descontos e comissões resultantes das

operações, anteriormente citadas, seriam incluídas no orçamento anual da União.

Também estabelecia que compete ao Banco Central, a administração da dívida da

dívida mobiliária interna da União, ficando o Ministro da Fazenda autorizado a

promover a utilização de disponibilidade do Tesouro Nacional junto ao Banco

Central.

Através desse artifício jurídico, o Banco Central podia realizar emissões de

títulos públicos, seja para cobrir déficits, seja para retirar moeda de circulação sem

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

que a emissão ficasse condicionada a prévia definição da cobertura do serviço

dessa dívida, que na prática acabava rolando diariamente à custa de capitalizações

sucessivas dos juros.

O arcabouço jurídico acima descrito era útil tanto para o Poder Executivo

como para o Banco Central. No primeiro caso, porque dessa forma o governo podia

realizar receitas e despesas à margem do orçamento fiscal e portanto, sem ficar

sujeito ao controle do Legislativo. E, no caso do Banco Central, porque este como

instituição passava não só a dispor de um raio de manobra maior para executar a

política monetária, mas também porque se beneficiava de um instrumento poderoso

de captação de recursos. A razão disso, era que o Banco Central não remunerava o

Tesouro pelos recursos que recebia deste. Dessa forma, aplicando tais recursos na

compra de papéis do mesmo Tesouro emitidos em excesso, que rendiam juros e

correção monetária, o Banco Central ampliava suas receitas e seus lucros

operacionais às custas do mesmo Tesouro em nome do qual aquele emitia títulos.

Criou-se assim o que se pode definir como uma dupla distorção de função e

utilização dos títulos públicos. Inicialmente, porque papéis criados com fins

eminentemente fiscais passaram a ser emitidos para fins exclusivamente

monetários. E, posteriormente, porque depois de terem sido colocados no mercado

com o intuito de reduzir o M1, tendiam a provocar o efeito boomerang na medida em

que venciam e iam gerando a necessidade de pagamento de juros em níveis

expressivos, o que faria aumentar o nível de M1 que se procurava diminuir.

É neste período, portanto, que se localizam as raízes daquilo que alguns anos

depois passaria ser conhecido como ciranda financeira. Deu-se este nome ao

processo pelo qual empresas e famílias podem depositar o seu dinheiro disponível

numa conta remunerada. O overnight, e movimentá-la todos os dias , ficando os

saldos protegidos da corrosão provocada pela inflação e onerando o governo com o

pagamento dos juros.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

Há uma série de ônus para a economia gerados pelo sistema de indexação

diária:

- Crescimento do valor dos juros acima do crescimento das receitas, gastos

públicos e PIB, ou seja, o chamado "caráter financeiro do déficit público".

- Na medida que uma parte dos juros é capitalizada, surge uma pressão

estrutural permanente, sobre as taxas de juros, que deve permanecer alta,

sob pena do governo não conseguir vender seus títulos.

- Uma vez a dívida interna atinja um nível muito elevado, a política

monetária perde graus de liberdade, uma vez que inibi o aumento das

taxas de juros, com o fim de controlar a demanda, por exemplo.

A continuidade dessa situação ao longo de muitos anos tenderia então a ter

um dos seguintes desfechos, ou um "mix" deles:

- Redução de gastos do governo.

- Aumento da carga tributária.

- Abatimento da dívida, com intuito de reduzir o pagamento de juros

CONCLUSÃO

Esta monografia apresentou as principais características da economia brasileira no

período 1967/73, concluindo que os fatores que determinaram a retomada do

crescimento a partir de 1967 foram:

1- Capacidade ociosa acumulada no período recessivo anterior;

2- Adoção de política monetária e creditícia mais relaxada a partir de 1967;

3- Maior disponibilidade de linhas de financiamento internas(BNDE) e

externas(eurodólares);

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

4- Aumento do poder aquisitivo das classes médias para a compra de bens de

consumo duráveis;

5- Manutenção dos salários reais à taxas inferiores à produtividade, aumentando a

acumulação de lucros das indústrias de bens de consumo duráveis;

6- Expansão das exportações

Depois, tivemos a inflexão cíclica devido a:

1- Perda do dinamismo dos setores de bens de consumo duráveis e bens de

consumo não duráveis, devido aos efeitos de aceleração inflacionária sobre os

salários e crédito;

2- Declínio da taxa de acumulação do setor de bens de consumo duráveis, devido a

redução da demanda efetiva;

3- O setor de bens de capital era pouco desenvolvido, sendo incapaz de gerar o

efeito dinamizador na economia.

E que ao final do "milagre econômico", tínhamos o seguinte quadro:

1 - Setor industrial: Atraso no crescimento do setor de bens de produção em relação

a indústria de bens de consumo duráveis;

2 - Setor agrícola: crescimento das exportações em detrimento aos alimentos para

consumo interno;

3 - Aumento da concentração de renda;

4 - Crescimento da dívida pública, provocando a esterilização dos efeitos benéficos

dos recursos externos.

A economia brasileira absorveu e continua absorvendo os ônus, gerados pelo

sistema de indexação. Os juros da dívida cresceram enormemente. Além disso, já

com o problema da indexação resolvido, o Plano Real, se ancorou na elevação das

taxas de juros interna, para atrair capitais estrangeiros. Estima-se que com isso, nos

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

anos seguintes, o montante da dívida interna brasileira tenha dobrado.

Atualmente, a política que está sendo adotada para conter o crescimento da

dívida pública é uma grandiosa reforma fiscal, que como sugeria Giambiagi, está

sendo um "mix" de redução de gastos governamentais e aumento da arrecadação

de impostos. A redução da dívida é a grande questão. As receitas das privatizações

não são suficientes e os superávites fiscais primários(excluído o pagamento dos

juros) apresentados desde a adoção da reforma, não têm sido suficientes. Nesse

ponto, o país sofre com erros passados, cujas origens são muito bem delineadas no

período do "milagre econômico". O Brasil ainda não tem competitividade para

exportar e criar receitas, sofrendo com seguidos déficits na Balança Comercial e

dependendo do capital estrangeiro.

Contudo, reformas importantes tem sido adotadas e atualmente o país tem

credibilidade internacional, o que favorece a entrada de capitais a um custo mais

baixo, dando a possibilidade de redução das taxas de juros e economias no

pagamento da dívida pública interna.

Também é muito importante destacar o problema da concentração de renda,

que é um entrave ao desenvolvimento econômico do país. É um problema que

continua vivo, na verdade vem se intensificando com a adoção de planos

econômicos que tem atingindo a classe média e tornado os pobres, cada vez mais

pobres, principalmente através da redução do nível de emprego e a falta de

reajustes salariais compatíveis com o aumento da produtividade.

A “ Nova Economia” é altamente excludente e em um país, onde o nível de

escolaridade é baixo, tende a agravar ainda mais o problema da falta de emprego e

concentração de renda.

A solução, tão conhecida, é o investimento em educação, que infelizmente é

inibido por problemas estruturais que a economia brasileira carrega desde os

tempos do “milagre”.

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" O Milagre Econômico Brasileiro (1967/73

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