o lugar da história da arte no brasil

69O LUGAR DA HISTRIA DA ARTE NO BRASIL | Danielle Amaro

O lugar da Histria da Arte no Brasil: breve reviso da instituio da histria da arte no Brasil a partir dos cursos de graduao*

* Este documento proviene de la investigacin llevada a cabo para la realizacin del trabajo de doctorado en Historia Social de la Universidade de So Paulo, Brasil.

** Mster en Artes de la Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, 2008-2010), estudiante de doctorado en Historia Social de la Universidade de So Paulo (Usp, 2013). Trabaja en el Programa de Inclusin Sociocultural del Ncleo de Accin Educativa de la Pinacoteca del Estado de So Paulo.

Danielle Amaro**

Cuadernos de Msica, Artes Visuales y Artes Escnicas / Volumen 9 - Nmero 1 / Enero - Junio de 2014 / ISSN 1794-6670/ Bogot, D.C., Colombia / pp. 69-93

Fecha de recepcin: 7 de diciembre de 2013 | Fecha de aceptacin: 26 de febrero de 2014. Encuentre este artculo en http://cuadernosmusicayartes.javeriana.edu.co/ doi:10.11144/Javeriana.MAVAE9-1.olha

EL LUGAR DE LA HISTORIA DEL ARTE EN BRASIL: BREVE REVISIN DE LA INSTITUCIONALIZACIN DE LA HISTORIA DEL ARTE EN BRASIL A PARTIR DE SUS PROGRAMAS DE PREGRADO.

THE PLACE OF ART HISTORY IN BRAZIL: A BRIEF REVIEW OF THE INSTITUTION OF ART HISTORY IN BRAZIL FROM ITS UNDERGRADUATE COURSES

70 Cuadernos de Msica, Artes Visuales y Artes Escnicas / Volumen 9 - Nmero 1 Enero - Junio de 2014 / ISSN 1794-6670/ Bogot, D.C., Colombia / pp. 69-93

Resumo

O artigo apresenta uma breve reviso histrica

da instituio da histria da arte no Brasil a partir

do exame das circunstncias de implantao e

amadurecimento dos cursos de graduao nesta

rea, refletindo assim sobre a formao do histo-

riador da arte neste contexto em particular. O ar-

tigo apresenta as questes e argumentos iniciais

do projeto de pesquisa Histria da Arte no Brasil:

lugar e cientificidade que atualmente desenvolvo

em minha pesquisa de doutorado. Supe-se que

a criao de cursos de graduao em histria da

arte emerge como processo de legitimao e con-

solidao de uma comunidade cientfica (por isso,

rico em controvrsias e consensos) que, no Brasil,

se manteve disperso durante muito tempo entre

outros campos de investigao.

Palavras-chaves: histria da Arte; histria da

arte no Brasil; a formao do historiador da arte

brasileiro; graduaes em histria da arte em

universidades brasileiras; histria da cincia

Palavras-chave descritor: arte-estudo e ensino;

currculos; arte nas universidades e faculdades;

Brasil

Resumen

El artculo presenta una breve revisin histrica de

la institucin de la historia del arte en Brasil, que

surge al examinar las circunstancias en las que se

implantaron y maduraron los cursos de pregrado en

historia del arte, reflexionando sobre la formacin

del historiador de arte en este contexto en particu-

lar. El artculo presenta las preguntas y argumentos

iniciales del proyecto de investigacin Histria da

Arte no Brasil: lugar e cientificidade que desarrollo

actualmente en mi investigacin de doctorado. Se

supone que la creacin de cursos de pregrado en

historia del arte emergen como proceso de legiti-

macin y consolidacin de una comunidad cientfica

(por esta razn, est lleno controversias y consen-

sos), el cual en Brasil se mantuvo diseminado du-

rante mucho tiempo en medio de otros campos de

investigacin.

Palabras clave: historia del arte; historia del

arte en Brasil; la formacin del historiador del

arte brasileo; pregrados en historia del arte en

universidades brasileas; historia de la ciencia

Palabras clave descriptores: historia del

arte; enseanza de arte; planes de estudio

universitario; Brasil

Abstract

This article presents a brief historical review of the

establishment of Art History in Brazil from an exa-

me of the circumstances of deployment and im-

provement of degree courses in Art History, thus

reflecting on the formation of an art historian in

this particular context. The article presents the is-

sues and initial arguments of the research project

Art History in Brazil: place and scientificity, that I

currently develop on my doctorate research. It is

assumed that the creation of degree courses in art

history emerges as a process of legitimization and

consolidation of a scientific community (therefore,

full of controversies and consensus) that in Brazil

remained dispersed for a long time among other

fields of study.

Keywords: art history; art history in Brazil; the

formation of brazilian art historian; degree in art

history at brazilian universities; science history

Keywords Plus: art history; study and teaching;

art curricula; universities and colleges; Brazil


O novo historiador tem cada vez mais a conscincia aguda de que a histria escrita

e escrita por ele, historiador. Ele escreve a histria, parte dela, e no momento em

que a escreve constri uma histria a partir de certo padro de narrao, segundo uma

forma. (...) O historiador trata dos eventos no presente, com sua armadura cultural, com

sua estrutura epistemolgica, conformando esse objeto. (...) A interpretao no se

sobrepe aos fatos. Os fatos, em si mesmos, so fatos interpretados. Quando se l a

histria se l um texto, claro. O problema do narrar, o problema do escrever a histria um problema histrico. Obviamente no

estou dizendo que inexista o real. Mas, quando o real se torna histrico e captado no interior de outra ordem, efetivado na

ordem da linguagem. Quando o historiador contemporneo percebe que utiliza uma

linguagem linguagem que no s verbo e escrita, tambm um mtodo, uma ttica

de pensamento, um projeto de compreenso obriga-se a um comprometimento cultural.

(...) Mas, afinal, quem o historiador? Aquele que sofre de paixo crnica pela realidade,

mas casado, querendo ou no, com a linguagem. (...) Os historiadores, felizmente,

ficam perplexos ao saber que o fato histrico fato interpretado, e interpretado tambm

por eles mesmos: o problema da histria tem incio exatamente na relao do historiador

com esse fato.

Ronaldo Brito1

NOTAS INTRODUTRIAS: O QUE CHAMAMOS HISTRIA DA ARTE?

Eu estou inscrita, eu me inscrevi nesse texto, deixei a meu rastro2. Inicio essas notas introdutrias retomando dois problemas de ordem historiogrfica: a escrita (contedo e for-

ma) e o lugar (escritor e contexto).

Segundo o historiador da arte alemo Hans Belting, a chamada Histria da Arte sempre

foi uma Histria da Arte europia, cuja escrita sempre esteve arraigada da cultura literria e

cientfica produzidas nesse lugar, e que apesar de todas as identidades nacionais, a hege-

monia da Europa permanecia incontestada. No entanto, adverte: essa bela imagem provoca

hoje o protesto de todos aqueles que no se consideram mais representados por ela (Bel-

ting, 2006, p.96). Para melhor explicitar a questo, Belting compreende a relao entre os

fenmenos atribudos como artsticos e a histria da arte como um ajuste entre enquadrado

e enquadramento, sendo o enquadrado o objeto de estudo da histria da arte e, por sua vez,

o enquadramento como a prpria histria da arte. Ambos, segundo o historiador, forjados em

uma conjuntura particular e com finalidades muito especficas.

Belting considera o pretenso universalismo da histria da arte como um equvoco ociden-

tal fundamentado por uma viso eurocntrica moderna. Enquanto uma inveno ocidental,

a histria da arte elegeu uma determinada produo imagtica, ou seja, certas formas de


arte como historicamente imperativas. O anncio do fim da histria da arte, sobre o qual o

historiador trata desde o princpio da dcada de 1980, emerge dos conflitos advindos entre

enquadrado e enquadramento (com a perda das especificidades do objeto e da ausncia de

paradigmas, por exemplo). Ao contrrio de significar que tudo acabou, aponta para a necessi-

dade de uma mudana discursiva.

Aquela Histria da Arte que se pressupunha universal e que, por isso, pretendia a re-

presentao de todos os continentes e culturas, diluiu-se em meio a um nmero sem fim de

reivindicaes que partiram daqueles que no se sentiam representados por tal narrativa. A

abertura da cultura ocidental para a assimilao ( sua forma, logicamente) de outras cul-turas no pode acontecer ilimitadamente sem que haja prejuzos e lucros, perdas e ganhos

para a antiga Histria da Arte. No um problema simples de encaixe: as conseqncias

so mais profundas.

A Professora Dra. Maria Lcia Bastos Kern (PUC-RS), que desde pelo menos a dcada de

1980 tem se dedicado a reflexes sobre a historiografia da arte brasileira, trata do problema da

suposta universalidade narrativa da histria da arte e suas consequncias na Amrica Latina:

Esse modelo utilizado pela disciplina opera muitas excluses, tornando difcil a compreenso

da complexidade artstica. (...) Os historiadores da arte, fora dos grandes centros cosmopolitas,

nem sempre abordam a arte nas suas singularidades e especificidades culturais, mas focali-

zam seus estudos com o fim de verificar as mudanas ocorridas na periferia em relao aos

centros de criao. Quando as prticas artsticas diferem so logo rotuladas como atrasadas,

pois a historiografia se fundamenta no paradigma dominante, adotando seus cnones e valo-

res como critrios de avaliao, os quais levam muitas vezes a desqualificao das obras em

estudo. O paradigma dominante ao ser prestigiado se impe como normativa, excluindo as

criaes que no se equiparam ao mesmo.

O modelo vinculado ideologia universalista engendrou a necessidade de atualizao e equi-

parao s matrizes europias e norte-americanas, como se os artistas no fossem, segundo

esse olhar, detentores de poder de inveno ou de criaes alternativas. Estas acepes esto

ainda atreladas quelas de evoluo em direo ao progresso e perfeio e de tempo linear,

da o eterno desejo de produo do novo e de equiparao s matrizes dos grandes centros.

(Kern, 2004, pp. 207-208)

A partir de tal problemtica, me coloco a questo: se, diferentemente do que pressupe o

senso comum, a Histria da Arte no uma mera narrao de fatos, e no pode ser transferida

inclume para uma cultura na qual falta uma narrativa semelhante europia, ento o que

significaria escrever histria da arte no Brasil e, por consequncia, qual o lugar por ela ocupado

nesse contexto? Segundo Belting, onde falta semelhante tradio, no possvel simples-

mente inventar uma Histria da Arte de estilo europeu, procedendo-se de maneira anloga e

na esperana de que surja algo semelhante (2006, p. 97).

Obviamente, Belting problematiza a Histria da Arte a partir do seu lugar de discurso,

enquanto historiador da arte, europeu, alemo, herdeiro dos cnones de uma cincia euro-

pia, que tem na histria, na cultura e no meio cientfico germnicos os alicerces de suas fun-

daes. No entanto, o mesmo no nos exime a ns, no-europeus, ou seja, no-ocidentais,

latino-americanos da necessidade de uma tomada de posio a partir de um desafio: pensar

a histria da arte a partir do sul.


Tendo em vista o contexto particular brasileiro, eu escolhi pensar a partir de um dos luga-

res de formao do historiador da arte, construindo uma histria das histrias da arte tecidas nas universidades brasileiras. Considerando que eu estou imersa igualmente neste contexto,

eu escrevo: logo eu interpreto por meio da escrita a partir de determinado lugar, deste lugar.

E, ao mesmo tempo, sou inscrita, j que participo desta operao historiogrfica, tal como

formulada pelo historiador francs Michel de Certeau (2007), na qual se articulam o lugar, as

prticas e os procedimentos, a escrita.

O texto que apresento parte de um projeto, de uma inteno de fazer. Logo, parte de

um percurso ainda no percorrido. O intento refletir sobre a escrita, a grafia da histria da

arte em seus ambguos e complementares sentidos: como ela foi/ escrita (uma histria das

histrias da arte) e como projeto de escrita (teoria e mtodos). Por ora, o que se pretende

esboar um quadro geral a respeito da configurao do campo no Brasil a partir de uma reviso

de alguns aspectos e momentos considerados por mim fundamentais para uma compreen-

so da configurao atual do campo.

A FORMAO DO HISTORIADOR DA ARTE NO BRASIL

No Brasil, atualmente so oferecidos cinco cursos de graduao, todos em universidades

pblicas, como pode ser observado no mapa e na figura 1.

A criao e implantao desses cursos acontecem em momentos diversos. Durante qua-

se meio sculo, houve apenas um curso de graduao em Histria da Arte: aquele alocado na

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) desde 1978 at os dias de hoje, mas que

tem suas origens no extinto Instituto de Belas Artes da Guanabara, cujo ingresso da primeira

turma deu-se em 1961. Depois de quase cinco dcadas, no incio do sculo XXI, so inaugura-

dos os outros quatro cursos, oferecidos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),

Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP), Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS) e Universidade de Braslia (UnB).

Apesar do espao temporal existente entre o primeiro e os outros, uma caracterstica

os congrega: todos esto localizados no chamado Centro-Sul do pas3. Nela h uma grande

concentrao populacional e de renda4, alm de centros urbanos dotados de uma boa infraes-

trutura e oferta de servios pblicos e privados. Por exemplo: considerando particularmente a

presena de equipamentos oficiais de cultura, no Centro-Sul se encontram as duas (das trs)

cidades brasileiras com maior nmero de museus e onde se concentram os maiores acervos:

So Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ (a terceira cidade Salvador/BA). No que tange a temtica

e a tipologia do acervo, pelo menos metade dos museus de Artes Visuais. Tendo em vista o

nmero total de empregados nos museus brasileiros, mais de 75% se vincula a instituies

do Centro-Sul. Isso apenas para citar um dos vrios possveis campos de atuao para os pro-

fissionais formados em Histria da Arte.

A partir da explanao desse quadro mais geral, pretende-se tratar das particularidades

contextuais dos dois momentos de criao e implantao dos cursos de graduao em Histria

da Arte no Brasil. Para isso, proposto dois recortes temporais: o primeiro momento entre as

dcadas de 1940 e 1970; e o segundo momento cujo marco inicial se d em dcada de 1980

at os dias de hoje. Essa diviso usa como referncia as particularidades dos discursos que se

manifestam nas propostas de cursos nesses dois momentos distintos e, por conseguinte, o

projeto de Histria da Arte que neles se inscreve, relacionando-os em um panorama mais geral.


Figura 1. Mapa do Brasil com a distribuio geogrfica dos cursos de graduao em Histria da Arte. Fonte: arquivo da autora


Primeiro Momento (de 1940 a 1970)

O Curso Superior de Histria da Arte, o primeiro da rea no Brasil (ao menos, de acordo

com os documentos e artigos pesquisados at o momento), foi criado pela Secretaria de Cul-

tura do Estado da Guanabara5. Oferecido pelo extinto Instituto de Belas Artes da Guanabara

(IBA), segundo o decreto n1.526 de 12 de fevereiro de 1963, o curso, cujo ingresso da primei-

ra turma deu-se em 1961, se destinava formao de professores de Histria da Arte para as

atividades, reas de estudo e disciplinas do Ensino de 1 e 2 Graus relacionados com o setor

de Arte (Processo UERJ 605/DAA/1980, Arquivo DEP/SR1, fl.06). A seleo dos candidatos

se fazia mediante provas orais e escritas de Portugus; Histria Geral; Ingls ou Francs.

A criao do curso foi divulgada em diversos peridicos. Em 21 de fevereiro, poucos dias

depois da publicao do j citado decreto n1.526 (o qual aprovava o novo regulamento do Ins-

tituto de Belas Artes do Estado da Guanabara), na coluna Vida das Artes do jornal Dirio

de Notcias (o qual se auto-intitulava o matutino de maior tiragem do Estado da Guanabara),

assinada naquele perodo pelo professor Jos Roberto Teixeira Leite, publicado o artigo A

Histria da Arte no IBA, no qual o autor fala com entusiasmo da criao do curso:

Com a recente reforma levada a efeito no Instituto de Belas Artes do Estado da Guanabara,

ganhou o Rio de Janeiro seu primeiro curso superior de Histria da Arte, destinado especifica-

mente formao de professores dessa disciplina, sob todos os aspectos fascinante. Antes,

era a mesma ministrada em escolas de belas artes e em faculdades de Arquitetura e de Filo-

sofia, mas no na profundidade que agora se pretende imprimir ao curso, com a contratao,

inclusive, de mestres no exterior. (1963, p. 3)

O artigo curto. Resume-se ao trecho transcrito e publicao do currculo. Distribudas

ao longo de trs anos, o curso superior de Histria da Arte constava das seguintes discipli-

nas: 1 ano: Histria da Arte Antiga e Medieval; Histria da Cultura Contempornea; Teoria da

Percepo; 2 ano: Histria da Arte do sculo XV ao sculo XVIII; Histria da Arte do Extremo

Oriente (um semestre); Esttica I; 3 ano: Histria da Arte dos sculos XIX e XX; Histria da

Arte no Brasil; Histria da Crtica de Arte; Esttica II; Didtica.

Alguns aspectos salientam-se na estrutura curricular do curso como, por exemplo, a pers-

pectiva universalista da histria da arte. A srie de disciplinas dedicadas Histria da Arte

Universal (desde a Antiguidade at a produo artstica do sculo XX) abarca perodos histri-

cos extensos, organizados cronologicamente do mais antigo ao mais recente, com nfase na

produo artstica e cultural europia.

perceptvel a existncia de um segundo bloco de disciplinas nomeadas como Histria

da arte, mas que revelam a existncia de outros fenmenos e narrativas particulares que no

se enquadrariam nesta histria universal, sendo necessria a criao de um contexto espec-

fico para a discusso delas. Seria assim o caso das disciplinas Histria da Arte no Brasil e

Histria da Arte do Extremo Oriente.

Histria da Arte no Brasil dedicada apenas uma disciplina. A produo latino-america-

na no sequer citada em nenhum dos ttulos6. Ao contrrio do que acontece com a produo

artstica e cultural do Extremo Oriente, a qual dedicada uma disciplina exclusiva, no h

qualquer indcio na nomenclatura das disciplinas de uma discusso especfica sobre a da fri-

ca. Sobre esse fato em particular, o Professor Roberto Conduru (UERJ) esboa uma avaliao


crtica interessante: estruturado geopoliticamente, no h meno frica. A histria da arte

africana no era, portanto, considerada necessria formao do historiador da arte no Brasil,

fosse em si, ou como complemento da histria da arte ocidental (). Silncio que deriva de

uma hierarquia segundo a qual a arte nesse continente ocupa um dos nveis inferiores, se no

o mais baixo, na escala de valores histricos e artsticos (Conduru, 2007, p. 151).

Logo, no basta analisar aquilo que se encontra expresso oficialmente em palavras. Deve-

se atentar para a existncia de um currculo oculto, que se refere a discursos implcitos, propo-

sitais e no menos importantes do que os planos e propostas evidentes no currculo formal, e

que so igualmente ensinados. Os processos de incluso e excluso de contedos, o que deve

e o que no deve ser ensinado constituem igualmente o currculo. Alm do discurso evidente

nas nomenclaturas e ementas das disciplinas, as ausncias e silncios igualmente revelam um

projeto de formao profissional e, principalmente, de histria da arte muito prximo daquele

criticado por Kern (como j citado anteriormente) fundamentado no paradigma eurocntrico.

No foram encontrados documentos que afirmem o reforo da marginalidade da pro-

duo artstica de origem africana aps o golpe de 1964. No entanto, alguns detalhes podem

revelar uma conjuntura desfavorvel para o desenvolvimento de um discurso crtico a respeito

destes contedos.

Segundo Cunha e Ges, baixado o AI-5 em dezembro de 1968, () a disciplina educao

moral e cvica deveria, obrigatoriamente, integrar os currculos escolares de todos os graus e modalidades do sistema de ensino do pas (2002, p. 72). Sobre a sua presena no Ensino

Superior, o artigo 3, pargrafo 2 do Decreto-Lei n 869 de 12 de setembro de 1969 (que Dis-

pe sobre a incluso da Educao Moral e Cvica como disciplina obrigatria, nas escolas de

todos os graus e modalidades, dos sistemas de ensino no Pas) estabelece que: No sistema

de ensino superior, inclusive ps-graduado, a Educao Moral e Cvica ser realizada, como

complemento, sob a forma de Estudos de Problemas Brasileiros, sem prejuzo de outras ati-

vidades culturais visando ao mesmo objetivo. Conforme afirmado no artigo 2, apoiando-se

nas tradies nacionais entre as finalidades dessa disciplina estava: a defesa do princpio

democrtico, atravs da preservao do esprito religioso, da dignidade da pessoa humana e

do amor liberdade com responsabilidade, sob a inspirao de Deus. Cunha e Ges apontam

que apesar de ser proclamada na poca como aconfessional, isto , no vinculada a nenhuma

religio e a nenhuma igreja, na prtica a situao era outra:

() a incorporao das doutrinas tradicionais do catolicismo e de seus quadros no era sequer

disfarada nos textos e diretrizes da Comisso Nacional de Moral e Civismo, nem nos livros

didticos que ela aprovava para uso nas escolas. () Assim, ficavam afastadas todas as reli-

gies afro-brasileiras, apesar de efetivamente praticadas por dezenas de milhes de pessoas,

relegadas pelos moralistas e civilistas, condio de resduos de ignorncia ou de curiosidades

folclricas. O mesmo acontecia com as crenas indgenas, apesar do cnico culto dos ndios

como os primeiros brasileiros. (2002, p. 74)

O Golpe Militar de 1964 imps uma srie de mudanas na legislao brasileira sobre edu-

cao (algumas, inegavelmente, j h muito tempo ansiadas, como a Reforma Universitria de

1968), que conferiu perfil diferente aos cursos superiores oferecidos na poca7. Todas essas

mudanas ocorridas no mbito da legislao da educao bsica e superior impuseram ao Cur-

so Superior de Histria da Arte oferecido pelo IBA uma srie de transformaes. No entanto,


acredita-se que a fuso dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro no ano de 1975 e, prin-

cipalmente, suas consequentes mudanas estruturais as quais conduziram transformao

do Instituto de Belas Artes em Escola de Artes Visuais (EAV), que tenham gerado uma crise

sem precedentes no Curso Superior de Histria da Arte oferecido por aquela instituio e que

quase ocasionou sua extino. Esse processo e seus debates foram noticiados em vrios

peridicos da poca.

Em matria publicada no Jornal do Brasil em 05 de dezembro de 1975, intitulada Histria

da Arte, sim ou no?, assinada por Emlia Silveira e com fotos de Ari Gomes, trata das modifi-

caes ocorridas na instituio e que ameaavam a existncia do Curso Superior de Histria da

Arte na estrutura da Escola de Artes Visuais Parque Lage (ex-Instituto de Belas Artes). Segundo

a diretoria da escola da poca (a saber: a cargo de Rubens Gerchman [1942-2008] entre 1975 e

1979), a disciplina Histria da Arte no seria eliminada do currculo dos cursos de formao arts-

tica. No entanto, a respeito da sobrevivncia do curso superior a diretoria taxativa:

O que termina o curso superior dessa matria, um antigo engodo em que os alunos infeliz-

mente entravam. No h oficializao, diploma ou qualquer continuidade no curso atual, para

justificar sua manuteno. Os alunos matriculados vo poder concluir seu curso, mas no

haver novas matrculas. O que fizemos foi suprimir algo que, do ponto-de-vista cultural, j

no existia.

A argumentao dura e direta: no haveria condies favorveis que justificassem a

continuidade do curso. Talvez, a postura da diretoria da Escola seja tambm uma resposta-

protesto situao na qual se encontrava o curso: o ingresso da primeira turma se deu em

1961 e, entre 1963 e 1978, 181 alunos o concluram (Processo UERJ 605/DAA/1980, Arquivo

DEP/SR1, fl.8). At o momento, no entanto, isso mera especulao. Contudo, o que se pode

observar que a nova configurao da instituio ao tornar-se Escola de Artes Visuais (oferta

de cursos livres, sem a exigncia de pr-requisitos ou exames de admisso, sem a concesso

de diplomas) aliada fragilidade institucional do curso (tendo em vista a sua no-oficializao

at ento) e de sua no-existncia do ponto de vista cultural, deu incio a um debate que se

desdobrou pelos dois anos seguintes.

No incio do ano de 1976, o problema retorna, sendo abordado em crnica assinada por

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) intitulada Dilogo no Parque, publicada igualmen-

te no Jornal do Brasil de 09 de maro de 1976. Nele, o autor descreve o encontro com uma

alma-penada: um jovem de 20 anos, boa pinta, nada espectral e, segundo me confiou,

candidato a matrcula em curso inexistente. O dilogo comea com uma interrogao curiosa

ao jovem:

- Se o curso no existe, como que voc queria matricular-se nele? - perguntei-lhe.

- No existe no real mas existe, ou melhor, existe sem existncia, entende?

- No.

- Nem eu. Mas as coisas agora so assim. O existente impalpvel, vigora o no existente,

que como se existisse, inexistindo. ()

- alma penada, explique isso direito, para que eu tambm no acabe duvidando de minha

concretude aqui e agora.


- Vou tentar. Havia no Parque um Instituto de Belas-Artes, funcionando normalmente. Esse nome

ficou demod. Ningum mais quer achar bela alguma coisa sobre a Terra, n? Belo careta. En-

to as artes, de tempos a esta parte, passaram de belas a simplesmente visuais. Por enquanto

so visuais. Amanh sero palatais, intestinais, sei l. Ento o Instituto virou Escola de Artes

Visuais, pelo processo geral de fuso, que manda fundir gregos e goianos. Um de seus cursos,

aquele com que eu sonho, era o de Histria da arte. De quatro anos, para formao de profes-

sores da matria. Este ano fui correndo me inscrever, mas quem disse? No tinha matrcula.

Quando abre? No abre. Me explicaram que quem vinha fazendo o curso, no ano passado, con-

tinuar a fazer, mas tem de mudar-se para deus-me-livre, sem biblioteca e material pedaggico

especializado, que ficaro no Parque. Engraado, n? E quem no comeou... desista. Ento o

curso foi extinto? No. Apenas no se pode curs-lo. Agora capisca? (1976, p. 5)

O dilogo prossegue. Alm da insatisfao com relao situao marginal do curso, h

tambm o choque entre dois pensamentos diferentes a respeito tanto da histria da arte e

como da produo artstica. O ensino artstico no IBA tinha como referncia o ensino acad-

mico, as Belas Artes como o prprio nome lhe confere. O novo projeto de ensino que se

estabelece com a mudana para Escola de Artes Visuais se relaciona com uma posio mais

afinada com a produo artstica contempornea. O prprio diretor da instituio, o artista

Rubens Gerchman, gozava de reconhecimento e prestgio, tendo sido sua obra comentada

pelo crtico Mrio Pedrosa (1900-1981). Logo, no eram apenas questes burocrticas que es-

tavam em jogo. Havia um choque entre geraes, entre compreenses divergentes a respeito

do que era arte e, por conseqncia, do ensino artstico que seria oferecido pela instituio.

Talvez, considerando o contexto histrico, a questo pudesse revelar duas posturas diante da

sociedade: uma retrgrada, apegada a modelos tradicionais; outra vanguardista, que se lana

para o novo. Isso se esclarece, por exemplo, na resposta dada pelo interlocutor da alma-

penada ao final do Dilogo no Parque:

- Inocente, pouco importa que esse curso acabe ou continue morto-vivo. A questo mais

profunda, e prende-se a um conceito geral de vida, que est lavrando mundo afora. A palavra

da moda questionar, no na acepo de debater para esclarecer, mas na de pr em dvida,

e finalmente, negar. Todos os valores, j no digo morais, que so contingentes por natureza,

mas os intelectuais, que se baseiam no conhecimento, isto , varridos da circulao. Varre-se

tudo, em favor de nada. A vida perde o sentido, ou os mltiplos sentidos que lhe quisermos

ou soubermos dar. Resta a anulao da sensibilidade e da conscincia esttica, at prtica,

o no pelo no, o sem sentido. Proibido o uso do gosto. Ausncia de gosto e mau-gosto se

unificaram. Com esse estado de esprito generalizado, a arte vira artiarte e, por ltimo, coisa

nenhuma. Ora, no havendo arte, voc queria estudar histria da arte? E no havendo histria

da arte, para que matrcula?

- Mas...

- Cale-se. Como alma-penada, na iluso de um curso que no pode existir, independente de

haver ou no a formalidade burocrtica da matrcula, resigne-se condio fantasmal. No h

nada a fazer. Se se restabelecesse o ensino da disciplina, seria para ensinar a voc e a outras

almas-penadas, outros tantos pobres-diabos, que a arte nunca existiu e ningum precisa dela.

No reclame, como eu no estou reclamando. Vim aqui para contemplar estas ltimas folhas


verdes, este final de mundo antigo, ainda esplendoroso na limitao deste parque. Amanh

vo me cobrar taxa de natureza-morta, como j cobram a taxa de lixo. Bitributao injusta, pois

s haver lixo. E possvel que ento aparea algum para escrever (e ensinar) a histria do

lixo, nica histria talvez possvel, e definitiva. (1976, p. 5)

Nos dias seguintes, foram publicadas vrias notas de apoio e agradecimento enviadas

Drummond por alunos do curso em processo de extino. Em 11 de maro de 1976, no Cader-

no 1 do Jornal do Brasil, a matria Alunas da Escola de Artes Visuais exigem no Parque Lage

direito de matrcula noticia manifestaes exaltadas de alunas irritadas em virtude da falta

de dilogo com a atual diretoria da instituio (por elas alegada), alm do descontentamento

com a transferncia das aulas do curso (para os antigos alunos, j que entre 1977 e 1978 no

houve vestibular e ingresso de novas turmas) para o edifcio da Escola de Teatro Martins Pen-

na e, acima de tudo, da no-regulamentao do curso. Em 29 de maro de 1976, quase duas

semanas aps a crnica de Drummond, publicado na sesso Cartas (Jornal do Brasil, Ca-

derno B) um abaixo-assinado encaminhado por Christina Scarabtolo (aluna do curso) e mais

37 signatrios, cuja reclamao premente era o reconhecimento do curso, j h mais de uma

dcada existente.

Aps esse perodo atribulado, nos parece que a situao somente se regulariza com a

transferncia e incorporao do curso UERJ por meio de convnio celebrado entre esta e

a Secretaria de Educao e Cultura (SEEC) do Estado do Rio de Janeiro, assinado em 05 de

janeiro de 1978. Um grupo de trabalho da Faculdade de Educao da universidade foi ento

designado para acompanhar essa transio que se encontra documentada no processo UERJ

605/DAA/1980, disponvel no Arquivo do Departamento de Orientao e Superviso Pedaggi-

ca da Sub-Reitoria de Graduao (DEP/SR1). afirmado na clusula primeira do convnio que

O ESTADO (SEEC) dar prosseguimento ao Curso de Histria da Arte (), o qual passar nos

termos da Resoluo n23, de 23 de outubro de 1973, do Conselho Federal de Educao, a

ser de Licenciatura Plena em Educao Artstica Habilitao em Histria da Arte (Processo

UERJ 605/DAA/1980, Arquivo DEP/SR1, fl.33-34). A partir de ento, o curso passou a ser su-

pervisionado pela Faculdade de Educao daquela universidade.

A mudana no foi apenas de ordem institucional, mas reverberou (por exemplo) na

matriz curricular do curso. Com o tempo, as disciplinas pedaggicas passaram a ocupar

uma parte significativa da formao profissional. No entanto, prevaleceu ainda o domnio

da Histria da Arte Ocidental. Algumas mudanas com relao nomenclatura de discipli-

nas voltadas para as produes artsticas e culturais fora desse eixo privilegiado chamam

ateno. Por exemplo: as disciplinas Arte Pr-Colombiana e Arte Primitiva (frica Negra,

Oceania e outras). Na primeira h um problema fundamental: chamar arte a produo

pr-colombiana adotar o discurso colonizador, impondo-se um conceito europeu (pro-

duto de um determinado contexto histrico e cultural) a fenmenos cuja produo com

ele no se articula. J na segunda, o termo primitivo evidencia uma relao pejorativa com

os fenmenos a serem estudados. Novamente tomando como referncia o Ocidente, a

frica Negra, a Oceania e as outras aparecem como a parte do globo no civilizada,

onde o tempo no passou, o progresso no foi possvel, onde tudo se encontra no estado

natural, rudimentar.

Especula-se ainda que a mudana na nomenclatura de Curso de Histria da Arte para

Curso de Educao Artstica Habilitao em Histria da Arte fez com que este casse no


esquecimento e, por anos, investigadores da rea afirmassem categoricamente a inexistncia

de cursos de graduao em Histria da Arte.

Apesar de serem eventos que avanam significativamente nesse primeiro recorte tem-

poral, alguns apontamentos merecem aqui ser relacionados para que se tornem mais com-

preensveis.

Com a criao do Instituto de Artes, em 2002, o curso no apenas foi transferido da Facul-

dade de Educao, como se implantou nova reforma curricular que, segundo Conduru, visava

atualizao do curso, que permanecera muito similar por quatro dcadas (2007, p. 151).

O curso passou a se chamar Curso de Artes Habilitao: Bacharelado e/ou Licenciatura em

Histria da Arte at 2006, quando so formulados novos princpios, mtodos e critrios para

as disciplinas de histria da arte que orientaro terica e criticamente o currculo implemen-

tado em 2009. So pressupostos dessa nova estrutura:

1. A eliminao da cronologia como forma de ordenao das disciplinas, atravs do recurso a

um recorte conceitual que instigue cruzamentos temporais e espaciais, sem contudo fornecer

um modelo de desdobramento para cada disciplina;

2. A necessidade de, no desdobramento de cada entrada conceitual, no se ater nem se cen-

trar na arte do Ocidente;

3. Incluir a arte no Brasil na reflexo mais geral, de maneira a evitar diferenciaes hierrquicas

tradicionais;

4. Descartar narrativas totalizantes, problematizando o prprio ato de historiar e as histrias

da arte existentes (princpios, objetos, mtodos, processos, produtos). (Siqueira, 2009, p. 70.

Vrios outros aportes seriam possveis. No entanto, o breve espao no permite infeliz-

mente aprofundar anlises iniciadas nos pargrafos anteriores. Tambm por acreditar que seja

igualmente importante relacionar o contexto particular de criao do primeiro curso com um

quadro geral nacional, mesmo que brevemente.

A criao do primeiro Curso Superior de Histria da Arte, no incio da dcada de 1960,

deu-se em uma conjuntura de significativas transformaes na sociedade brasileira.

Segundo Cardoso e Novais, os anos 1950 foram marcados pela sensao de que faltava

pouco, muito pouco para que, enfim, o Brasil se tornasse uma nao moderna:

() alguns imaginavam at que estaramos assistindo ao nascimento de uma nova civilizao

nos trpicos, que combinava a incorporao das conquistas materiais do capitalismo com a

persistncia dos traos de carter que nos singularizavam como povo: a cordialidade, a criati-

vidade, a tolerncia. (1998, p. 560)

O desenvolvimento tecnolgico e industrial entre os anos 1950 e 1970 impactou o co-

tidiano e a vida privada dos brasileiros (ou, ao menos, de parte da populao). Era possvel

fabricar quase tudo no Brasil: ao, alumnio, petrleo e derivados (gasolina, leo diesel, leo

combustvel, asfalto, plstico, detergente, etc.). Alm disso, cresceram e modernizaram-se

a produo de cimento, vidro, papel, bem como a indstria de alimentos, txtil, confeces,

calados, bebidas e mveis:


Chegou o extrato de tomate; a lata de ervilha, de palmito, de milho, de legumes picados; o

leite condensado; o leite em p, alguns s para crianas; o creme de leite; o iogurte; novas

espcies de biscoito e de macarro; os achocolatados; a linguia, a salsicha, a presuntada e

os outros embutidos; o frango de granja toma o lugar do frango caipira, com grande perda de

sabor; o mesmo acontece com os ovos; o queijo prato e a mussarela; a azeitona em lata e

depois em vidro; as batatas chips; a aveia em lata, muito depois os cereais; os salgadinhos

para aperitivo; o doce de lata, a goiabada, a marmelada, a bananada; o pssego ou o figo ou a

goiaba em calda, mais caros; o po tipo Pullman, para fazer torradas ou sanduches, agora em

moda. (Cardoso e Novais, 1998, p. 565)

Braslia, a nova capital federal, inventada pelo arquiteto e urbanista Lcio Costa (1902-

1998), fundada em 21 de abril de 19608. A dimenso monumental (material e simblica) do

Plano Piloto era a demonstrao mais grandiosa e sinttica daquilo que o ento presidente

Juscelino Kubitschek (1902-1976) denominou como a vontade de progresso no discurso em

ocasio da sua inaugurao. Braslia representava, portanto, a sntese e a expresso mxima

da utopia de um Brasil moderno, que avanava irremediavelmente em direo ao futuro.

Considerando a produo artstica da poca, tendo como recorte Rio de Janeiro e So

Paulo, entre as dcadas de 1950 e 1960 que germina e se desenrola as primeiras manifes-

taes do projeto construtivo brasileiro. Alguns fatos esclarecem a ateno despertada pelo

novo paradigma artstico: em 1951, os prmios concedidos escultura Unidade Tripartida, de Max Bill (1908-1994) e tela Formas, de Ivan Serpa (1923-1973), bem como a premiao de Antnio Maluf (1926-2005) no concurso de cartazes da 1 Bienal.

Sobre a relao entre as ideologias construtivas e o desenvolvimento cultural latino-ame-

ricano entre as dcadas de 1940 e 1960, Brito argumenta que elas

() encaixavam-se com perfeio nos projetos reformistas e aceleradores dos pases do con-

tinente e serviram, at certo ponto, como agentes da libertao nacional ante o domnio da

cultura europia, ao mesmo tempo em que significavam uma inevitvel dependncia desta.

(1999, p. 52)

E prossegue:

Optar pela arte concreta no incio dos anos 50 significava optar por uma estratgia cultural

universalista e evolucionista. () O concretismo brasileiro tinha conscincia de sua posio na

linha de desenvolvimento da histria da arte ele se pretendia declaradamente um novo lance

da sequncia de uma busca das verdadeiras bases nas quais se calcava a pesquisa artstica.

(Brito, 1999, p. 39)

O objetivo, a partir de ento, dos grupos de artistas participantes desse discurso a

construo de uma nova arte, propositora de uma nova visualidade para um novo homem de

um novo tempo.

Algo curioso notar o descompasso entre a produo artstica em questo e a histria da

arte que se institucionaliza no IBA (tendo em vista, por exemplo, o currculo elaborado). Se,

por um lado, os concretistas e (mais tarde) os neoconcretistas reconheciam seu lugar particular,

somente deles, na histria da arte; por outro, o currculo do curso superior oferecido pelo IBA re-

forava uma posio de desvantagem da produo da produo brasileira em relao europia.


Do ponto de vista institucional, so inaugurados o Museu de Arte de So Paulo Assis

Chateaubriand (em 1947) e os Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro e de So Paulo

(ambos em 1948). realizada a 1 Bienal Internacional de Arte de So Paulo, em 1951, que

colocou (segundo Lourival Gomes Machado, diretor do MAM-SP e diretor artstico da mostra)

a produo artstica moderna brasileira em vivo contato com aquela do resto do mundo. Cou-

to, ao tratar da esperana brasileira em se impor mundialmente, aponta que alm do desejo

de se lanar definitivamente na era da industrializao e de experimentar um privilegiado

no novo arranjo de naes, alimentado pelo acelerado desenvolvido econmico, acreditava-

se na possibilidade de o pas participar do debate cultural da poca com uma contribuio

significativa e original (2004, p. 16):

Novos museus, voltados para a arte moderna, so ento fundados, e assiste-se difuso da

arte abstrata nos grandes centros brasileiros. A criao das Bienais de So Paulo representa o

ponto culminante desse processo de abertura e dessa tentativa de renovao das artes pls-

ticas no pas. () A amplitude da primeira Bienal do Museu de Arte Moderna de So Paulo,

realizada em 1951, que contou com a participao de 20 delegaes estrangeiras e apresen-

tou mais de 1500 obras, atesta a inteno de seus promotores de incluir o pas no circuito

internacional de exposies, rivalizando com as Bienais de Veneza. Essa tentativa, na verdade,

insere-se perfeitamente no projeto mais amplo de modernizao da sociedade brasileira im-

plementado pelo Estado, que procurava infundir, interna e externamente, a imagem do Brasil

como uma das futuras potncias mundiais e forte candidato a ocupar um lugar privilegiado no

cenrio artstico internacional. A idia de que o pas pudesse ameaar, em um futuro prximo,

a posio hegemnica de Paris como centro mundial das artes era defendida e propagada por

personalidades de destaque no perodo. (Couto, 2004, pp. 16, 59-60)

Em setembro de 1959, foi realizado o Congresso Internacional Extraordinrio de Crticos

de Arte, da Associao Internacional de Crticos de Arte, ocorrido nas cidades de Braslia (ainda

em construo), So Paulo e Rio de Janeiro, tendo como tema A Cidade Nova A Sntese das

Artes. O Congresso reuniu arquitetos, urbanistas e crticos de arte que, segundo Cappello,

exploraram a experincia de Braslia como cidade nova e sua significao na cultura arquite-

tnica brasileira e sua expresso no territrio nacional (2009, p. 4). Geraldo argumenta que,

mesmo sendo considerado por algumas vozes discordantes apenas uma estratgia de di-

vulgao do programa de governo de Juscelino Kubitschek, o encontro lhe pareceu um dado

importante para o processo de diagnstico da formao da histria e da crtica dos ltimos 47

anos9 em nosso pas, j que reuniu importantes nomes da arquitetura, assim como da histria

e da crtica de arte e arquitetura, tanto nacionais, quanto internacionais10 (2007, pp. 542-543).

Pouco mais de uma dcada depois da realizao do Congresso, fundado o Comit Brasileiro

de Histria da Arte, com o envolvimento de participantes do evento anterior (como Mrio Ba-

rata (1921-2007) e Lcio Costa (1902-1998).

Entre 1962 e 1963 so lanados compndios de histria da arte: o Histria crtica de

arte, obra em seis volume de Jos Pinto Flxa Ribeiro (1884-1971); Histria das Artes, obra

em dois volumes de Carlos Felinto Cavalcanti (1909-s.d.). Uma curiosidade: alm de participar

do Congresso Internacional Extraordinrio de Crticos de Arte, Carlos Cavalcanti foi professor

do IBA, lecionando no Curso Superior de Histria da Arte. Carlos Octvio Flxa Ribeiro (1914-

1991), filho de Jos Pinto Flxa Ribeiro, foi Secretrio de Estado de Educao e Cultura da


Guanabara entre os anos de 1960 e 1965, perodo de criao do curso, tendo o nome regis-

trado (juntamente com o de Carlos Lacerda, governador do Estado da Guanabara naquela oca-

sio) no Decreto n1.525 de 12 de fevereiro de 196311. Acredita-se que a reincidncia dos no-

mes citados possa revelar (mais adiante, no desenrolar da pesquisa em andamento) uma rede

de relaes institucionais e pessoais que melhor elucidem a conjuntura da criao do curso.

Se, por um lado, possvel questionar a relao direta e causal entre os acontecimentos

elencados brevemente, a efervescncia do perodo que antecede e que podem ter gerado a de-

manda para a criao do primeiro curso de graduao em histria da arte, no se pode, por outro

lado, no observ-los. Da mesma forma que, indiretamente, o golpe de 1964 e suas reformas

educacionais impuseram uma srie de mudanas ao curso (inclusive, ameaando-o de extino).

Segundo Momento (de 1980 aos dias de hoje)

As duas primeiras dcadas do sculo XXI, no contexto brasileiro, tm sido de grandes

avanos para o campo de ensino e pesquisa da histria da arte nas universidades. Em um inter-

valo de tempo de menos de 5 anos foram criados mais quatro cursos de graduao na rea, vin-

culados s seguintes instituies: Escola de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da UNIFESP;

Escola de Belas Artes da UFRJ; ao Instituto de Artes da UFRGS; e ao Instituto de Artes da UnB.

Apesar de terem perfis muito diferentes, relacionados em parte trajetria de cada

uma das instituies de onde emergem, um caracterstica comum os congrega: esto todos

alocados em universidades federais. Esse fato no mera coincidncia. A criao desses cur-

sos nos ltimos anos se relaciona, com o desejo (particular e coletivo) de uma comunidade

cientfica em processo de legitimao e que pretende convencer as outras de que est em

condies de dominar um conjunto de questes que at ento estavam sob a jurisdio de

outra comunidade (Gavroglu, 2007, p. 187). Dispersa em outros campos de investigao, a

quase total ausncia de uma formao especfica em Histria da Arte em nvel de graduao

no Brasil aponta para uma viso da histria da arte como contedo secundrio e complemen-

tar a outros campos de investigao e, por conseguinte, ao no reconhecimento de suas

especificidades. Em parte, essa capacidade de articulao inerente ao objeto da histria da

arte o fenmeno artstico, o qual demanda obstinadamente dilogos em mltiplas direes.

Inegvel os benefcios advindos de uma abordagem transdisciplinar, porm, acredita-se que

antes de se prosseguir na diluio das fronteiras, embrenhando-se em um labirinto de infini-

tas possibilidades, seja necessrio retomar o fio de Ariadne: um exame profundo do ofcio do

historiador da arte. Salienta-se ainda que a criao desses cursos no s oportuniza uma for-

mao de base mais qualificada, como tambm gera demanda de mo de obra. Logo, alm

de novos postos de emprego para profissionais j formados, estimula-se o desenvolvimento

de centros de pesquisa, o que colabora para o fortalecimento da rea.

Retomando, somente o desejo no bastaria. A criao e implantao dos cursos de gra-

duao em Histria da Arte na ltima dcada foram oportunizadas diretamente pelo Programa

de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (Reuni) do Go-

verno Federal, institudo durante o segundo mandato do ento presidente da repblica Luiz

Incio Lula da Silva pelo Decreto n 6.096, de 24 de abril de 200712, uma das aes que inte-

gram o Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE). O Reuni objetiva ampliar o acesso e a


permanncia na educao superior, tendo como meta dobrar o nmero de alunos nos cursos

de graduao ao longo de uma dcada (o marco inicial o ano de 2008)13.

H outra particularidade em relao ao processo de criao e implantao desses cursos:

com a nica exceo daquele alocado na UNIFESP; todos os outros se encontram vinculados a

unidade universitria voltada formao artstica. A situao revela caractersticas especficas

da configurao do campo de pesquisa no Brasil: vinculados historicamente aos institutos de

artes, onde encontraram condies propcias de criao, implantao e desenvolvimento.

A questo do lugar da histria da arte nas universidades brasileiras no recente e, no

entanto, no deixa de ser atual. Dois episdios podem esclarecer melhor a questo.

Retomando o caso da transferncia do curso superior oferecido pelo IBA para a UERJ, o

primeiro episdio se refere carta encaminhada pela Professora Maria Violeta Coutinho Villas

Boas em resposta s observaes feitas pelo relator do processo em que a Faculdade de Edu-

cao da UERJ (da qual era diretora) submete aprovao do Conselho Superior de Ensino e

Pesquisa da UERJ um novo currculo para o Curso de Educao Artstica Habilitao em His-

tria da Arte14. Verifica-se por meio dessa carta uma divergncia entre a professora e o relator

sobre a qual rea de conhecimento a Histria da Arte pertenceria. Assim redige a professora:

Quanto ao questionamento constante do sexto pargrafo sobre a vinculao do curso Facul-

dade de Educao, independente de ter sido ele situado pelo CFE15 na rea de Comunicao

e Expresso e no de Estudos Sociais e, ainda, ter o mesmo curso o objetivo de formao do

professor de Educao Artstica, o exame cuidadoso do elenco das disciplinas que o compem

evidencia a predominncia dos contedos artstico-pedaggicos e no histrico-pedaggicos.

A dvida levantada talvez tivesse procedncia se houvesse na UERJ um Instituto de Arte.

Ento, este sim se incumbiria da formao especfica dos alunos. Na inexistncia de uma

unidade desta natureza, o corpo de professores da Escola de Artes Visuais da SEEC/RJ detm

a responsabilidade desta formao, conforme a clusula primeira do Convnio em vigor at

dezembro de 1983.

Deve-se, ainda, colocar que todo o tratamento dado Arte j permeado pelo enfoque edu-

cacional, da o acerto da vinculao do curso Faculdade de Educao, pois que se visa for-

mao do professor de Educao Artstica o qual buscar o desenvolvimento, pela educao,

do potencial artstico da criana e do adolescente. (Processo UERJ 605/DAA/1980, Arquivo

DEP/SR1, fl.168).

O segundo caso carta encaminhada, em 2009, pela Associao Nacional de Histria

(ANPUH) Secretaria de Educao Superior do Ministrio da Educao, cujo assunto era as

Mudanas nas denominaes de alguns cursos. A carta respondia uma consulta pblica pro-

posta pelo Ministrio da Educao (a qual esteve disponvel at o dia 16 de outubro de 2009)

para a constituio do proposto Referenciais Nacionais dos Cursos de Graduao de Bacha-

relados e Licenciaturas, que pretendia contribuir para organizar as ofertas de cursos superio-

res, uniformizando denominaes para contedos e perfis similares, de modo a produzir con-

vergncias que facilitem a compreenso por todos os segmentos interessados na formao

superior, sem inibir possibilidades de contemplar especificidades demandadas por regies ou

setores laborais do Pas. De acordo com o Ministrio da Educao, a partir da constatao da

existncia de uma variedade de denominaes para os cursos de graduao e com o auxlio


de profissionais e pesquisadores que atuam nas reas, foi realizado um estudo que resultou

em uma proposta de nomenclatura que adapta as denominaes atualmente existentes16.

O que chama ateno nos Referenciais Nacionais a no contemplao e o desaparecimento

das graduaes em Histria da Arte na convergncia forada, aglutinao e achatamento da

rea em outras (a saber: Artes Visuais Bacharelado e Licenciatura; Dana Bacharelado e

Licenciatura; Msica Bacharelado e Licenciatura; Histria Bacharelado e Licenciatura)17. O

trecho a seguir, uma edio da carta integral18, esclarece o posicionamento da ANPUH diante

da proposta do Ministrio:

Compreendendo a necessidade de padronizao dos referenciais ou nomenclaturas dos cur-

sos de graduao, evitando a proliferao19 de cursos com nomenclaturas que dificultam a

insero do egresso no mercado de trabalho, a avaliao e acompanhamento de seus projetos

poltico-pedaggicos e a escolha dos estudantes na hora do ingresso na Universidade.

(...) Aplaudindo o fato de que as denominaes tradicionais em nossa rea (Histria Bacha-

relado e Histria Licenciatura) esto sendo valorizadas e reafirmadas na contramo da emer-

gncia de cursos que no tm uma definio clara do perfil do egresso que quer formar, dos

temas a serem abordados na formao e em que reas o egresso poder atuar.

A ANPUH Associao Nacional de Histria vem fazer as seguintes ponderaes a respeito

das mudanas que esto sendo propostas nas denominaes de alguns cursos e que so

indicados para convergirem para as denominaes tradicionais em nossa rea:

(...) concordamos que no se pode permitir a proliferao de cursos em nvel de Graduao

que representam apenas um recorte, uma especializao em nossa rea, o que pertinente

para cursos em nvel de Ps-Graduao. Por isso concordamos que cursos com denominaes

como Histria da Arte e Histria, Teoria e Crtica da Arte devam convergir para a denominao

Histria Bacharelado e Histria Licenciatura dependendo se o perfil do egresso que se quer

formar se destina ao ensino ou a atuao profissional especfica em instituies que lidam com

objetos artsticos. Neste caso indispensvel que o curso venha perder o carter de especiali-

zao que ele tem, verificando se seu projeto poltico-pedaggico contempla os componentes

curriculares formadores do profissional de Histria. [grifo nosso]

Em ambos os casos, guardadas as devidas propores, no h um esforo de compreen-

so sobre a histria da arte em suas particularidades. A Histria da Arte assim reafirmada ora

como campo de saber secundrio, disciplina complementar nas matrizes curriculares dos cur-

sos de graduao em Artes (em suas diversas linguagens) como componente educativo para a

formao do artista; ora como subcategoria da Histria. De todo modo, o desenvolvimento

de uma formao profissional especfica mostrou-se mais propcio nos Institutos de Artes

do que no territrio reservado institucionalmente s Cincias Humanas. importante desta-

car que no so raros os casos em que h uma ausncia total de qualquer disciplina curricular

obrigatria ou eletiva que contemple esses contedos especficos nos cursos de Histria.

A polmica ainda no se encerrou. Ao longo do ano de 2013 houve uma ampla discusso

a respeito do Projeto de Lei n 4.699/2012, do senador Paulo Paim (Partido dos Trabalhadores

PT), que regulamenta a profisso de historiador e estabelece os requisitos para o exerccio da

atividade profissional e determina o registro em rgo competente. Segundo o Artigo 2 do PL

n 4.699/2012, livre o exerccio da atividade profissional de historiador, desde que atendidas


as qualificaes e exigncias estabelecidas nesta Lei, que so esclarecidas no Artigo 3. De

acordo com ele, o exerccio da profisso seria restrito a portadores de:

I diploma de curso superior em Histria, expedido por instituio regular de ensino;

II diploma de curso superior em Histria, expedido por instituio estrangeira e revalidado no

Brasil, de acordo com a legislao;

III diploma de mestrado ou doutorado em Histria, expedido por instituio regular de ensino

superior, ou por instituio estrangeira e revalidado no Brasil, de acordo com a legislao.

Houve uma grande comoo da parte dos profissionais de outras histrias, com for-

maes em campos muito diversos e que no se sentiu representada por esse Projeto de Lei,

o que no surpreendente20.

Considerando particularmente a formao do historiador da arte brasileiro, em comuni-

cao apresentada no XXVI Colquio do Comit Brasileiro de Histria da Arte (2006), a Pro-

fessora Dra. Denise Gonalves da Universidade Federal de Viosa (UFV) afirmava que grande

parte dos historiadores da arte brasileiros preencheu importantes lacunas de sua formao

apenas na ps-graduao. Durante muito tempo (e ainda hoje), a formao do historiador da

arte e, por conseguinte, as pesquisas cientficas por esse sujeito desenvolvidas, diluam-se

nos mais diversos programas de ps-graduao. Assim, segundo afirma Gonalves,

() o ensino da histria da arte aqui, salvo poucas excees, aparece como complemento

a outras disciplinas nos cursos de graduao, o que faz com que ns, historiadores de hoje,

tenhamos formao em outras reas histria, filosofia, arquitetura, letras, etc. (2007, p. 97)

A conseqncia disso, argumenta Gonalves,

que em geral a ps-graduao precisa suprir essa deficincia antes de cumprir o seu papel

que o de desenvolver estudos especializados sobre temas especficos, e isso acaba por

comprometer a produo das pesquisas na rea. (2007, p. 102)

Apesar da polmica, um aspecto merece ser salientado. O primeiro deles que a ques-

to relaciona-se com o processo de formao, reconhecimento e legitimao de uma nova

comunidade cientfica que, como afirma Gavroglu,

() faz-se em detrimento de uma outra, retirando-lhe privilgios sociais e elementos ideol-

gicos. Por isso, os processos de formao das novas comunidades cientficas nem sempre

so bem-vindos por parte dos membros de outras comunidades j formadas, uma vez que

com a formao da nova comunidade, so afetados interesses no s materiais mas tambm

intelectuais. Assim, a histria da formao de uma nova comunidade cientfica pode envolver

perodos de forte tenso e, muitas vezes, de violncia, uma vez que, em ltima anlise, a

criao de uma comunidade conduz, essencialmente, a uma redistribuio de poder, no s

sobre os homens, mas tambm sobre as idias que os homens administram. (2007, p. 187)


Parece oportuno aqui levantar a seguinte questo: qual a necessidade e as implicaes

de se delimitar ou no um territrio especfico para a histria da arte, pensando em uma poca

em que as fronteiras encontram-se cada vez mais fragilizadas pela necessidade da substi-

tuio de um sistema disciplinar por uma postura mais permevel? A perspectiva ps-discipli-

nar, inclusive, pode em muito contribuir para a investigao do objeto de estudo da histria da

arte o fenmeno artstico, que impe histria da arte um permanente estado de constante

diligncia para que no seja absorvida em definitivo por outras disciplinas cientficas. Para que

se possa compreender os fundamentos e a validez cientfica dos procedimentos tericos e

prticos da histria da arte, necessrio que se empreenda antes uma reviso de seus mto-

dos (Arenas, 1986, p. 15). E a que chegamos ao ponto: desde a dcada de 1980, a Histria

da Arte tem sido marcada por uma profunda autorreviso, resultado de uma crise oriunda da

perda de especificidades de seu objeto de estudo e da ausncia de paradigmas (Kern, 1999,

p.107). No entanto, apesar do estado de crise, de tenso, se houve uma resposta forte e in-

cmoda da parte, por exemplo, dos Historiadores da Arte ao PL n 4.699/2012, sinal que o

campo de pesquisas se encontra em um estado de maturidade e de autorreconhecimento de

suas especificidades. E isso se evidencia em outros dados contextuais.

Desde a dcada de 1990, alm da criao de diversos museus (inclusive com a criao

do Instituto Brasileiro de Museus, em 2009), vm sendo realizadas grandes exposies de

arte com recordes de pblico. Se, por um lado, o fato se relaciona tambm com uma lgica

socioeconmica de valorizao do chamado capital cultural, por outro lado evidente que h

a gerao de uma demanda de profissionais aptos a atuarem nesses espaos.

As ltimas dcadas tambm assistiram a uma expanso do mercado editorial voltado

para as artes, com a inaugurao de importantes publicaes acadmicas, como as revis-

tas: Gvea21, Porto Arte22, Arte&Ensaios23, a Revista de Histria da Arte e Arqueologia24 e a

Concinnitas25, apenas para citar algumas. Alm disso, a publicao de anais de eventos cien-

tficos e, mais recentemente, a disponibilizao desse material bibliogrfico no meio digital

contribui para a formao, circulao de informaes e intercmbio de discusses. Ressaltar

ainda o aumento significativo no nmero de programas de ps-graduao (especializao,

mestrado e doutorado) na rea. Esse conjunto de referncias nos faz supor que a criao

de cursos de graduao em histria da arte emerge como a consolidao de um campo de

investigao cientfica.

CONCLUSO

Aps uma breve reviso da instituio da Histria da Arte no Brasil a partir dos cursos de

graduao, possvel avaliar que a histria da arte, enquanto disciplina cientfica, encontra-se

em um estado de crise. Etimologicamente, a palavra crise tem sua origem no termo grego

krsis, que indica um estado de incertezas, de vacilao, de tenso, de risco. No entanto, por outro lado, ela tambm aponta para a necessidade urgente de uma tomada de posio, uma

deciso, de mudana sbita: um momento de desequilbrio sensvel, um estado de transio

entre duas fases assinalveis, nas quais vai se decidir uma transformao onde ainda no est

decidida (Durozoi e Roussel, 1993, p. 111).

H quase trs dcadas, Arenas j contemplava o mesmo problema em obra dedicada

teoria e metodologia da histria da arte e assim argumentava a respeito da questo:


Existe a conscincia de que a histria da arte se encontra em um momento de crise: crise

ante a objetividade de sua importncia como uma cincia da arte e crise ante ao perigo de ser

absorvida por outras disciplinas. Em qualquer caso, podemos aceitar que se trata de uma crise

de crescimento, de auto-afirmao, que consiste em algo muito positivo. (1986, p. 16)

Sobre a cientificidade da histria da arte, alguns apontamentos so indispensveis. Are-

nas divide sua obra Teoria e Metodologia da Histria da Arte em trs partes. Na primeira de-

las, intitulada A histria da arte como cincia, o autor trata da importncia do exame profundo

dos modos de historiar e dos critrios cientficos usados na histria da arte, relacionando-o

com a crise pela qual a histria da arte passa desde o ltimo quarto do sculo XX. Alm disso,

trata do objeto de estudo da histria da arte (os fenmenos artsticos), bem como de seus ob-

jetivos (1986, pp. 13-38). No entanto, necessrio esclarecer que considerar a histria da arte

como cincia um terreno bastante movedio e controverso. Deve-se ter em vista que nem

mesmo sobre a histria (da qual a histria da arte descende, tendo reclamado sua autonomia

enquanto disciplina universitria autnoma no final do sculo XIX) possvel afirmar categori-

camente que se trata de uma cincia. Sobre a contenda, Le Goff afirma:

a histria no uma cincia como as outras sem contar com aqueles que no a consideram

uma cincia. () A contradio mais flagrante da histria sem dvida o fato do seu objeto ser

singular, um acontecimento, uma srie de acontecimentos, de personagens que s existem

uma vez, enquanto que o seu objetivo, como o de todas as cincias, atingir o universal, o

geral, o regular. (1990, pp. 17-33)

Refletindo a respeito do conceito de cincia, Magalhes disserta sobre as dificuldades de

defini-lo rigorosamente, afirmando que essas

() dificuldades dependem no s da natureza dessas atividades, bastante fludas, mas tam-

bm de qual seja o posicionamento filosfico e ideolgico de quem tenta defini-las e que nem

sempre se encontra explicitado. (2005, p. 86)

No entanto, tendo em vista os propsitos por ele pretendidos, afirma que

() cincia um conhecimento crtico generalizante, expresso implcita ou explicitamente em

termos causais, que buscam entender o mundo em que vivemos (incluindo o prprio homem),

ou seja, a realidade, em qualquer nvel. (2005, p. 88)

Ao tratar do carter cientfico das cincias sociais, afirma a complexidade de compreen-

der a histria tendo em vista tal definio, considerando-a um caso complexo: se por um

lado utiliza conhecimentos e mtodos cientficos (), a sua nfase tratar do homem como

individualidade, mesmo quando estuda coletividades. Logo, a histria irrepetvel em ter-

mos de eventos e, portanto, no-generalizvel nesse sentido (2005, p. 90). A histria da arte

igualmente irrepetvel. Os fenmenos artsticos, mesmo quando estudados em conjunto,

comparativamente, em dilogo com outros fenmenos (contemporneos ou no), so trata-

dos igualmente como fatos nicos.

Considerando a autonomia do campo, apesar de no ser recente, a histria da arte

no Brasil esteve atrelada como disciplina complementar ao ensino artstico desde que seu

ensino se tornou obrigatrio na Academia Imperial de Belas Artes, em meados do sculo


XIX. Era necessria ao artista para sua formao. Isso pode ser observado no fato de a

maior parte dos cursos de graduao em histria da arte no Brasil terem se desenvolvido

em centros de pesquisa voltado para, a princpio, o ensino das artes. Ao mesmo tempo em

que foi terreno fecundo para o desenvolvimento da disciplina, algo no viabilizado (por exem-

plo) entre as cincias humanas, esta particularidade aponta mais uma vez para o seu papel

coadjuvante. Enquanto campo de pesquisa autnomo, sua existncia ainda muito recente

e ainda peleja para se afirmar.

Os dois momentos recortados e apresentados neste artigo demonstram a ambigidade

com relao necessidade da histria da arte. Se, por um lado, a criao do curso superior

no Instituto de Belas Artes foi recebida com entusiasmo, por outro, at sua transferncia para

a Universidade do Estado do Rio do Janeiro sua situao no havia sido regularizada. Dava-

se incio a uma formao profissional (e de um campo de atuao profissional, de ensino e

pesquisa) em uma instituio legtima, mas sem o reconhecimento de fato (e diplomado)

da importncia da rea. A questo mal resolvida de outrora, retorna com a criao dos novos

cursos nos ltimos anos, quando os cursos de graduao em histria da arte so criticados

como uma especializao precoce, como uma espcie de organismo estranho que se prolifera

e deve ser contido.

Por isso, momento oportuno para que se questione: qual histria da arte desejamos

projetar hoje no Brasil? Acredita-se que a atual problematizao do fazer histria da arte no

Brasil expressa, por exemplo, atravs dos currculos dos cursos de formao das universida-

des e dos debates que com eles dialogam, tenha relao com o amadurecimento do campo.

Prope-se assim que o reconhecimento das especificidades e limitaes historiogrficas da

arte possa ajudar a compreender o que significa hoje produzir histria da arte no Brasil, bem

como criar condies fecundas para que se possa prosseguir a partir de tais questionamentos.

NOTAS1 Brito, Ronaldo (2005, pp. 139-151).

2 Adaptao de trecho extrado do captulo A dedicatria da obra Fragmentos do discurso amoroso de Roland Barthes, o qual transcrito a seguir: (...) o outro est inscrito, ele se inscreveu no texto, deixou a seu rastro mltiplo (1985, p. 69).

3 Oficialmente, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), o Brasil dividido em cinco regies, a partir de suas caractersticas econmicas, sociais e polticas: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Para alm das demarcaes regies oficialmente estabelecidas e reconhecidas, a diviso geoeconmica do territrio brasileiro proposta pelo gegrafo Pedro Pinchas Geiger, j na dcada de 1960, aponta para trs grandes complexos regionais: o Centro-Sul (industrial, polarizador), o Nordeste (agropecurio) e a Amaznia (extrativista). O Complexo Regional Centro-Sul abarcaria estados das regies Sudeste e Sul, alm de estados (integral ou parcialmente) da regio Centro-Oeste e o Distrito Federal.

4 Segundo dados do IBGE, em 2011, cinco estados concentravam 65,2% do PIB: So Paulo (32,6%), Rio de Janeiro (11,2%), Minas Gerais (9,3%), Rio Grande do Sul (6,4%) e Paran (5,8%). Todos se encontram, considerando a diviso proposta por Pedro Pinchas Geiger, no Complexo Regional Centro-Sul. Informaes sobre a concentrao do PIB disponveis em: http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2522. (Acesso em: 24 de novembro de 2013).

5 Desde o incio do processo de colonizao, o Brasil (Colonial, Imperial e Republicano) j teve trs capitais: Salvador, na Bahia, entre 1549 e 1763; Rio de Janeiro, capital entre 1763 a 1960; Braslia, desde 1960 at os dias de hoje. Com a transferncia da capital federal para Braslia, o antigo Distrito Federal foi convertido em


Estado da Guanabara, cuja capital era a cidade do Rio de Janeiro. Em 1975, no entanto, ocorre a fuso dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Os motivos apontados para isso so vrios, entre eles: como uma forma desenvolver a regio de uma forma mais uniforme, tendo em vista a diferena de investimentos e arrecadao entre a cidade-estado da Guanabara (atual municpio do Rio de Janeiro) e o Estado do Rio de Janeiro (a primeira com mais recursos, o segundo marcada por uma carente infra-estrutura); como forma de controlar o partido de oposio que se fazia mais presente na Guanabara do que em territrio fluminense.

6 Em artigo, Conduru afirma a existncia da disciplina Histria da Arte das Amricas. No entanto, os documentos pesquisados at o momento no apontam a existncia de tal disciplina, ao menos no no incio imediato do curso. A questo da existncia ou no de uma disciplina especfica sobre a produo artstica das Amricas permanece como problema a ser averiguado.

7 So elencados alguns exemplos. A Lei n 5.540 de 28 de novembro de 1968, a qual fixava normas de organizao e funcionamento do ensino superior e sua articulao com a escola mdia, alm da indissociabilidade entre ensino e pesquisa, afirmava que o ensino superior ser ministrado em universidades e, excepcionalmente, em estabelecimentos isolados, organizados como instituies de direito pblico ou privado. Mais adiante, a Lei n5.692 de 11 de agosto de 1971, mais conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, tornou obrigatria a incluso de Educao Artstica (alm de Educao Moral e Cvica, Educao Fsica e Programas de Sade) nos currculos plenos dos estabelecimentos de 1 e 2 graus (Artigo 7). Citam-se ainda as Indicaes do Conselho Federal de Educao (Indicao n22/73, de 08 de fevereiro de 1973: Formao do Magistrio Princpios e normas a observar na organizao dos cursos de Licenciatura; Indicao n23/73, de 08 de fevereiro de 1973: Cursos e Habilitaes para as Licenciaturas da rea de Educao Geral; Indicao n36/73, de 07 de agosto de 1973: Mnimos de Contedo e Durao a observar na organizao do Curso de Licenciatura em Educao Artstica) e a Resoluo n23, de 23 de outubro de 1973, a qual fixou os mnimos contedos e durao a observar na organizao do Curso de Licenciatura em Educao Artstica (Processo UERJ 605/DAA/1980, Arquivo DEP/SR1, fl.09).

8 A transferncia da capital j era pauta antiga, com mais de sculo de existncia. As primeiras discusses sobre a interiorizao da capital colonial, em meados do sculo XVIII. Cita-se ainda a existncia de um dispositivo na Primeira Constituio Republicana de 1891, que previa a mudana da Capital Federal do Rio Janeiro para o interior do pas.

9 Lembrando que Geraldo apresenta a comunicao no XXVI Colquio do Comit Brasileiro de Histria da Arte, em 2006.

10 Ainda segundo Geraldo, estiveram no encontro os arquitetos Richard Neutra e Aero Saarinen, os artistas, crticos e historiadores Toms Maldonado, Meyer Schapiro, Willian Holford, Bruno Zevi, Gillo Dorfles e Giulio Carlo Argan, que dialogaram com Lcio Costa, Oscar Niemeyer, Mario Pedrosa, Mario Barata, Flexa Ribeiro, Carlos Cavalcanti, Flavio da Aquino, Ferreira Gullar e Fayga Ostrower, entre outros, totalizando 47 pessoas (2007, p.542).

11 Fonte: http://www2.camara.gov.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?pk=122737&tipo=0 (Acesso em: 01 de dezembro de 2013).

12 O Decreto n 6.096, de 24 de abril de 2007, que institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais REUNI, encontra-se disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6096.htm (Acesso em: 23 de novembro de 2013).

13 Informaes sobre o Reuni disponveis em: http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=1085 (Acesso em: 23 de novembro de 2013).

14 A carta, que no est datada, integra o Processo UERJ 605/DAA/1980, Arquivo DEP/SR1. O parecer, apesar de citado e ter motivado uma resposta da professora, no integra o processo e no nos foi possvel ainda o acesso a ele.

15 A sigla CFE significa Conselho Federal de Educao.

16 Informaes disponveis em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13812:consulta-publica-dos-referenciais-nacionais-dos-cursos-de-graduacao&catid=191:sesu&Itemid=994 (Acesso em: 01 de dezembro de 2013).

17 Os quadros de Convergncia de Denominao (De Para) se encontram ainda hoje disponveis no site do Ministrio da Cultura, divididos por reas, sendo que: a. rea Comunicao e Artes em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/consulta_artes.pdf; b. rea Humanidades em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/consulta_humanidades.pdf (Acesso em 01: de dezembro de 2013).


18 A carta Mudanas nas denominaes de alguns cursos se encontra disponvel integralmente em: http://www.anpuh.org/conteudo/view?ID_CONTEUDO=314 (Acesso em: 01 de dezembro de 2013).

19 No Brasil, entre vrios significados, o termo proliferao usado comumente para indicar o crescimento rpido, anormal, sem controle de algo ou alguma coisa (ex.: Quando o poder publico no atua, o crime se prolifera). Tendo em vista ocorrncias relacionadas Sade Pblica, usado para indicar a rpida reproduo de agentes causadores de doenas (ex.:As chuvas de vero aumentam o risco de proliferao do mosquito transmissor da dengue).

20 No site do Comit Brasileiro de Histria da Arte possvel acessar uma srie de cartas propostas em repdio ao Projeto de Lei n 4.699/2012. Disponvel em: http://www.cbha.art.br/carta_deputados_lei4699_2012.html (Acesso em: 01 de dezembro de 2013).

21 A Revista Gvea foi uma revista semestral do Curso de Especializao em Histria da Arte e Arquitetura no Brasil do Departamento de Histria da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, publicada de 1985 a 1997.

22 A Revista Porto Arte uma revista semestral do Programa de Ps-Graduao em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicada desde 1990. Artigos disponveis on-line em: http://seer.ufrgs.br/index.php/PortoArte/index (Acesso em: 01 de dezembro de 2013).

23 A Revista Arte&Ensaios uma revista semestral do Programa de Ps-Graduao em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicada desde 1993. Artigos disponveis on-line em: http://www.ppgav.eba.ufrj.br/producao-academica/arte-ensaios/ (Acesso em: 01 de dezembro de 2013).

24 A Revista de Histria da Arte e Arqueologia uma revista semestral do Centro de Histria da Arte e Arqueologia, da Universidade Estadual da Campinas, publicada desde 1994. Artigos disponveis on-line em: http://www.unicamp.br/chaa/rhaa/ (Acesso em: 01 de dezembro de 2013).

25 A Revista Concinnitas uma revista semestral do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, criada em 1996 e que a partir de 2005 encontra-se vinculada ao Programa de Ps-Graduao em Artes do Instituto de Artes da mesma universidade. Artigos disponveis on-line em: http://concinnitas.kinghost.net/index.cfm (Acesso em: 01 de dezembro de 2013).

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Cmo citar este artculo:

Amaro, Danielle. O lugar da Histria da Arte no Brasil: breve reviso da instituio da histria da arte no Brasil a partir dos cursos de graduao. Cuadernos de Msica, Artes Visuales y Artes Escnicas, 9 (1), 69-93, 2014, http://dx.doi.org/10.11144/Javeriana.MAVAE9-1.olha

o lugar da história da arte no brasil

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