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“O jogo como reflexo do processo de treino” Orientador: Professor José Guilherme Granja de Oliveira Carlos Filipe Sá Rebelo Porto, Setembro de 2015 Relatório Final do Estágio Profissional apresentado com vista a obtenção do 2º Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Desporto para Crianças e Jovens ao abrigo do Decreto-lei nº74/2006 de 24 de Março

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Page 1: “O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º

I

“O jogo como reflexo do processo de treino”

Orientador: Professor José Guilherme Granja de Oliveira

Carlos Filipe Sá Rebelo

Porto, Setembro de 2015

Relatório Final do Estágio Profissional

apresentado com vista a obtenção do 2º

Ciclo de Estudos conducente ao grau de

Mestre em Desporto para Crianças e

Jovens ao abrigo do Decreto-lei

nº74/2006 de 24 de Março

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II

Ficha de Catalogação

Rebelo, C. F. S. (2015). “O jogo como reflexo do processo de treino”. Porto: C.

Rebelo. Relatório de Estágio profissionalizante para a obtenção do grau de

Mestre em Desporto para Crianças e Jovens, apresentado à Faculdade de

Deporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, MODELO DE JOGO, TREINO, JOGO

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III

Agradecimentos

Ao meu Pai, âncora de dia-a-dia e fiel companheiro, pelo apoio

incondicional na perseguição do meu sonho. Ainda, pelas forças quando me

faltam e pelo amor intangível. Pelo exemplo na vida.

Ao Sr. Faria, pela oportunidade de me iniciar na minha profissão e por

todos os ensinamentos.

Ao Xavier, por anos de crescimento frenético e parceria contínua no

início da nossa viagem. Pelo exemplo no campo.

Ao Kiko, por toda a motivação e conversas intermináveis. Pela amizade

absoluta e compreensão atroz.

Ao amigo e professor Luís, pelo escrutínio minucioso e crítica constante.

Pela revisão de texto e pela amizade irrestrita.

Ao meu Avó, pelo que me permite ser ensinando-me melhor. Pelo amor

com que me olha.

Ao Professor José Guilherme, pela orientação, emprenho, compromisso

e sabedoria com que me guiou ao longo desta dissertação.

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V

Índice

Resumo.........................................................................................................................VII

Abstract..........................................................................................................................IX

Capítulo I.......................................................................................................................1

1. Introdução.................................................................................................................3

1.1. Problematização da prática profissional.......................................................3

1.2. Estrutura e finalidade do relatório.................................................................4

Capítulo II......................................................................................................................5

2. Contextualização da Prática.....................................................................................7

2.1. Contexto institucional........................................................................................7

2.1.1. O Clube......................................................................................................7

2.1.2. Condições de Trabalho............................................................................10

2.1.3. Escalão....................................................................................................11

2.1.4. Objetivos..................................................................................................15

2.1.4.1. Como coordenador....................................................................15

2.1.4.2. Como treinador..........................................................................16

2.1.5. Plantel......................................................................................................18

2.1.6. Competição..............................................................................................19

2.1.7. Equipa Técnica........................................................................................20

2.2. Contexto Funcional..........................................................................................23

2.3. Macro Contexto...............................................................................................24

2.3.1. Futebol.....................................................................................................24

2.3.2. Periodização Tática.................................................................................27

2.3.2.1. Uma nova abordagem ao jogo..................................................31

2.3.2.2. Complexidade...........................................................................32

2.3.2.3. Sistemas....................................................................................34

2.3.2.4. Funcionamento dos Sistemas...................................................38

2.3.2.5. Futebol como um evento caótico, determinístico......................39

2.3.2.6. Modelo de Jogo.........................................................................43

2.3.2.7. Treino........................................................................................57

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VI

Capítulo III...................................................................................................................65

3. Desenvolvimento da Prática......................................................................................67

3.1. Concepção......................................................................................................68

3.1.1. Objetivos e expectativas iniciais..............................................................68

3.1.2. Análise do contexto..................................................................................71

3.1.3. Equipa......................................................................................................73

3.1.4. Modelo de Jogo.......................................................................................84

3.1.4.1. Organização estrutural adotada pela equipa............................85

3.1.4.2. Momentos de Jogo....................................................................86

3.1.5. Treino.....................................................................................................109

3.1.5.1. Primeira subfase.....................................................................111

3.1.5.2. Segunda subfase....................................................................112

3.1.5.3. Terceira subfase......................................................................119

3.2. Implementação das actividades....................................................................120

3.2.1. Operacionalização da primeira subfase.....................................122

3.2.2. Operacionalização da segunda subfase....................................123

3.2.3. Operacionalização da terceira subfase......................................128

3.2.4. Operacionalização da quarta subfase........................................131

3.3. Barreiras e estratégias de remediação..........................................................135

3.3.1. Operacionalização da quarta subfase........................................139

3.3.2. Operacionalização da quinta subfase........................................144

Capítulo IV................................................................................................................147

4. Desenvolvimento Profissional..........................................................................149

Capítulo V.................................................................................................................153

5. Considerações finais........................................................................................155

Capítulo VI................................................................................................................157

6. Referências Bibliográficas................................................................................159

Capítulo VII...............................................................................................................161

7. Anexos...................................................................................................................i

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VII

Resumo

O Futebol tem conhecido diferentes processos operacionais que têm

potenciado o jogo até ao nível que hoje conhecemos. Algumas das mais

recentes metodologias de treino têm um papel importante nesta evolução,

começando pelo trabalho feito nas equipas de formação. O presente relatório

tem como objetivo apresentar o caminho e a reflexão das vivências

experienciadas durante a época desportiva de 2014/15 realizada no Clube de

Futebol S. Félix da Marinha. As funções de coordenação, de treinador auxiliar e

de treinador principal, que ao longo do ano foram assumidas, permitiram

vivenciar inúmeras e variadas situações de aprendizagem. O relatório pretende

apresentar o trabalho realizado e explicitar as decisões que ao longo do

processo foram tomadas. A época desportiva providenciou algumas das

experiências mais enriquecedoras pelas quais já passei, enquanto profissional,

permitindo o desenvolvimento de várias competências cruciais para a minha

formação enquanto treinador de Futebol e pessoa.

PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, MODELO DE JOGO, TREINO, JOGO

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Abstract

Football has known different operational processes that have developed the

game to the level we know today. Some of the most recent training methods

have a very important role in this evolution, starting on the work done on the

youth teams. The objective of this report is to present the path and experiences

lived during the season of 2014/15 in Clube de Futebol S. Félix da Marinha. The

job done during the year as a coordinator, assistant and main coach, allowed

me to go through several unique learning experiences. This report intends to

present the work done and explain the decisions taken through the season. This

gave me the opportunity to live some of the most enrichening experiences I

went through as a professional, allowing me do develop several crucial abilities

to my formation as a football coach and person.

KEY-WORDS: FOOTBALL, GAME MODEL, PRACTICE, GAME

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Capítulo I

Introdução

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1. Introdução

1.1. Problematização da prática profissional

O presente relatório foi realizado no âmbito do 2º Ciclo em Desporto

para Crianças e Jovens – opção Treino de Futebol, da Faculdade de Desporto

da Universidade do Porto (FADEUP).

O estágio descrito visa a aplicação, num contexto prático, dos

conhecimentos adquiridos durante o percurso académico nesta instituição. São

exigidas competências necessárias à criação de um modelo de jogo de acordo

os objetivos do clube, e ao planeamento e gestão do processo de treino que

procure a aquisição dos princípios para executa-lo.

Pretende-se desenvolver um contexto em que o grau e quantidade das

minhas responsabilidades sejam elevados tendo, ainda, liberdade total para

experimentar as minhas ideias de jogo e metodologias de treino. Durante este

processo, será feita uma análise à influência dos treinos efectuados nos

comportamentos e competências dos jogadores.

O relatório decorreu após uma mudança de mandato na presidência do

clube, surgindo a nova direção com intenções de apostar nas equipas de

formação, definindo como seu principal objetivo criar um plantel sénior

constituído por jogadores que fizeram o seu percurso no clube.

Durante o período em que desempenhei funções, fi-lo como treinador da

equipa de sub-11, treinador da equipa de sub-19 e coordenador das equipas de

formação. De maneira a avaliar a influência das medidas implementadas, será

apenas descrito o trabalho efectuado enquanto treinador do escalão máximo de

formação.

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1.2. Estrutura e finalidade do estágio

O relatório apresentado está estruturado, com os devidos ajustes, de

acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do

relatório de estágio do 2º Ciclo da FADEUP”.

Assim, está dividido em cinco capítulos: o primeiro, quarto e quinto

capítulos serão compostos pela introdução, conclusão e referências

bibliográficas, respetivamente, deixando a maior parte do conteúdo para o

segundo e terceiro capítulos que integrarão a contextualização e

desenvolvimento da prática, respetivamente.

A respeito destes dois últimos serão descritas duas funções diferentes:

uma enquanto treinador adjunto da equipa de sub-19, cargo que ocupei no

início da época, e em que descreverei o contexto de trabalho e a sua aplicação

prática; durará até à fase em que assumirei o cargo de treinador principal da

equipa. Esta, será descrita na fase final do capítulo do desenvolvimento da

prática.

A finalidade deste estágio passa por testar a aplicação dos

conhecimentos adquiridos e necessários ao planeamento de uma época

desportiva, enquadrando-os na prática enquanto treinador de uma equipa de

formação com objetivos específicos.

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Capítulo II

Contextualização da Prática

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2. Contextualização da Prática

2.1. Contexto institucional

2.1.1. O Clube

O estágio decorreu no Clube de Futebol S. Félix da Marinha, clube onde

trabalho há 4 anos, com estádio na cidade de seu nome, no distrito do Porto,

concelho de Vila Nova de Gaia.

Fundado a 27 de Maio de 1947, o clube amador alberga sete equipas

nos escalões de formação, uma equipa sénior e uma equipa de futebol

feminino.

A equipa sénior compete na 1ª Divisão Distrital da AF Porto, procurando

a manutenção após a promoção no ano passado. Até à presente época o

plantel era constituído quase exclusivamente por jogadores de outras equipas

do distrito do Porto e do futebol popular de Espinho, não havendo jogadores

formados no clube.

Todos os seus escalões de formação competem na divisão distrital mais

baixa, registando algumas subidas ocasionais, seguidas de despromoção à

divisão “habitual”. Nunca nenhuma camada competiu a nível nacional, sendo a

classificação média na 2ª Divisão Distrital da AF Porto o 7º lugar. Considero

pertinentes estas informações de modo a demonstrar o nível competitivo do

clube e as respetivas aspirações.

A equipa de futebol feminino foi criada este ano e é constituída por vinte

e três atletas.

A presente época representa para o clube um ano de transição, visto ter

conhecido uma nova direção que alterou a estrutura, a organização e os

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objetivos do clube. A partir desta época, o clube procura construir o seu plantel

com jovens provenientes dos seus escalões de formação, tornando esse o seu

principal objetivo.

Durante o mandato da direção anterior, cada escalão trabalhava de

forma independente. O treinador era responsável pelo rumo do seu trabalho,

sem qualquer indicação dos coordenadores do clube, e podia definir os seus

objetivos de forma livre. Isto significa, também, que não existia um caminho

com fim comum ou uma cultura a respeitar.

Do meu ponto de vista, este contexto organizacional e funcional justifica

o número reduzido de jogadores do clube a chegarem ao futebol sénior. Não

podemos esperar que os jogadores formados nas camadas jovens satisfaçam

as necessidades do(s) treinador(es) do plantel sénior se não comunicarmos

com o(s) mesmo(s), e se não existirem linhas orientadoras para que o projeto

de formação tenha coerência, consistência e seja um processo evolutivo

gradativo.

Até há muito pouco tempo considerei isto uma vantagem para o meu

desenvolvimento enquanto treinador, já que tinha liberdade total para estruturar

a minha equipa e os meus treinos exclusivamente segundo as minhas ideias.

Contudo, com a proposta que me foi feita no fim da época passada, para

assumir o papel de coordenador da formação, tomei consciência da vantagem

da existência de linhas orientadoras para as diferentes equipas de modo a

todos terem um trabalho mais sistematizado e coerente. À medida que crescia

como entendedor do jogo de futebol, dentro e fora do campo, começava a

entender que as classificações obtidas dependem não só das capacidades dos

membros do plantel (incluindo equipa técnica) mas também das condições e

gestão de processos do clube.

Para uma equipa ter sucesso precisa de jogadores que desenvolveram

ao longo de vários anos ligações obtidas por treino estruturado e perspetivado

a longo prazo. Só assim podemos, realmente, automatizar um processo de

jogo, nunca com um trabalho de um ano só – à semelhança das épocas

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anteriores. Colocávamos os jogadores num ciclo que limitava o seu

crescimento por falta de constância de princípios de jogo e treino.

Segundo a Lei do Efeito de Thorndike, um dos efeitos de um ato bem

sucedido é aumentar a possibilidade de ele ser repetido em circunstâncias

idênticas. Se um jogador tiver circunstâncias diferentes todas as épocas, é

impossível potenciar ao máximo a performance do mesmo nas circunstâncias

do jogo.

O desenvolvimento de um jogador trata muito mais do que o seu

desenvolvimento técnico e físico, dando-se cada vez mais importância à

tomada de decisão.

O que nós pretendemos na definição de um Modelo de Jogo é orientar

as decisões dos nossos jogadores para que estes se encontrem num contexto

que é coerente entre todos e favorável à equipa. A performance da equipa

neste contexto deve ser desenvolvida no treino. Por isso é que reforçamos

constantemente a seguinte ideia aos nossos jogadores: treinamos como

jogamos e jogamos como treinamos.

No sentido de corrigir os problemas existentes no departamento da

formação, a nova direção convidou-me a mim e ao meu colega para coordenar

este departamento, ficando eu com as camadas inferiores a sub-13 (inclusivé)

e destinando-lhe as camadas superiores.

O nosso principal objetivo como coordenadores dos escalões de

formação foi definir uma cultura futebolística para o clube, com metas e meios

comuns entre escalões e equipas. Para isto, procurámos contratar treinadores

que tivessem ideias sobre o processo de treino idênticas às nossas.

Tentámos, também, criar um Modelo de Jogo, apresentado pelo

treinador da equipa sénior, que deveria servir de base para o trabalho dos

restantes escalões, no sentido de preparar os jogadores da formação para as

exigências específicas no futebol sénior praticado no nosso clube.

Considero esta informação relevante neste ponto do trabalho porque

acho que o maior problema no clube é a falta de identidade.

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2.1.2. Condições de Trabalho

O Complexo Desportivo do CF S. Félix da Marinha providencia para os

seus jogadores um campo de futebol de onze, dividido em dois campos de

sete, e três balneários (sem contar com o dos árbitros e treinadores), abertos

entre as 18h00 e as 23h00.

Foi da minha responsabilidade e do meu colega definir os horários de

treino das nossas equipas, mediante o período de treino pré-definido para a

equipa sénior.

Organizámos o plano de treino de modo a que as nossas equipas

treinassem entre quatro e cinco horas, em três ou quatro dias por semana, em

treinos de uma hora ou de uma hora e meia.

Todas as equipas têm disponível para o seu treino metade do campo em

que jogam. As equipas do meu departamento têm para cada treino um

conjunto de cones, dez coletes, dez bolas e garrafas de água. As equipas do

departamento do meu colega têm à sua disposição quinze bolas, embora todas

estejam em más condições.

Faz parte do material que deve ser distribuído pelos treinadores o

seguinte: quatro balizas de futebol de sete, dez mini balizas, quinze barreiras

de salto, oito estacas, dez cones de tamanho médio e grande, duas redes de

fut-volei, duas escadas para treino de coordenação e duas bolas número um

para o treino dos guarda-redes.

Considero que o clube apresenta três problemas graves que limitam

todo o seu processo de treino: falta de espaço para treinar, falta de balneários

para equipar e falta de bolas.

Existe ainda um departamento médico que funciona durante todo o

horário de treino.

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2.1.3. Escalão

Durante o meu percurso CF S. Félix da Marinha tive o privilégio de

trabalhar em todos os escalões à exceção dos Sub-9 e dos Sub-17. Conclui

que trabalhar com o escalão Sub-19 é o que mais me satisfaz e aquele em que

penso que tenho melhores competências.

A razão pela qual eu prefiro trabalhar neste escalão é a componente

competitiva inerente ao mesmo. À medida que os jogadores se aproximam do

fim do seu percurso de formação, esta torna-se cada vez mais notável.

A meu ver, este escalão destaca-se pela dificuldade em manter a

estabilidade emocional, já que os jogadores se encontram numa fase de

transição na sua vida.

Não posso negar que a curta diferença de idades é um fator muito

importante para o nosso trabalho. Pode ser visto como um défice, dificultando o

respeito e a admiração que os jogadores têm pelo treinador, como pode ser

uma vantagem, porque nos facilita a ligação emocional com os atletas, tendo

em conta que temos mais aspetos em comum.

À medida que um jogador de níveis distritais cresce e encurta o seu

tempo restante no futebol de formação, vai perdendo margem de progressão, e

fazendo do futebol uma parte cada vez menos integrante na sua vida, por outro

lado, um jogador de nível nacional vê a sua carreira cada vez mais perto de

começar.

Isto significa que quando um jovem de nível nacional tem um problema

externo ao futebol tem de o resolver para que a sua performance não seja

afetada. Se um jogador da minha equipa tiver um problema pessoal ou deixa

de ir aos treinos ou usa o treino para descarregar a sua frustração pessoal.

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Esta falta de compromisso torna o meu trabalho bastante difícil, já que

demorei quase meia época para definir um grupo de trabalho em que pudesse

desenvolver os jogadores no sentido que pretendia.

De maneira a lutar para que isto fosse possível, fui obrigado a definir

alguns princípios que permitiam aos atletas entrarem nos meus planos de

trabalho:

A presença de todos os atletas é exigida em todos os treinos, caso

faltem devem avisar até às seis da tarde de maneira a manter o plano de

treino coerente sem afetar o trabalho do resto da equipa;

A falta de um atleta a um treino sem avisar resulta na exclusão do

mesmo da convocatória;

A falta de um jogador a uma convocatória resulta em três jogos fora da

convocatória;

A expulsão de um atleta em jogo, penaliza o jogador no dobro do

número jogos dados como suspenso pela federação (caso um jogador

seja expulso injustamente, ou por faltas que consideramos justificáveis

exclui a suspensão da equipa técnica);

Nenhum jogador pode desrespeitar outro jogador nem qualquer membro

da equipa técnica; caso aconteça, o jogador é excluído de toda a

semana de treino e da convocatória;

Só com estas regras conseguimos estabelecer um plano de trabalho

contínuo que não comprometa o desenvolvimento dos jogadores que

demonstram refinado sentido de responsabilidade.

Isto fez com que, a dado momento da época, o plantel ficasse reduzido a

doze jogadores; no entanto, asseguro que o trabalho feito com esses jogadores

fosse mais produtivo do que em momentos no início da época em que tivemos

mais de vinte jogadores para treinar.

Percebi também durante os dois anos anteriores que é obrigatório exigir

auto-superação constante dos nossos atletas, tendo em conta que se não

tivermos esta atenção os jogadores não terão vontade própria de serem cada

vez melhores, tirando qualquer propósito ao trabalho que fazemos.

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A cultura dos jogadores do nosso clube, como suponho que aconteça

em qualquer outro clube de nível distrital, é de desistir quando alguma coisa se

torna difícil, seja um erro individual que ceda um golo ou um erro na

arbitragem, levando-os a baixar a cabeça e imediatamente abdicar de todas as

ligações na equipa por pensarem que o mundo está todo contra eles.

Nestas idades considero crucial fazer uma gestão justa do plantel, já que

o sentido de justiça dos jovens nesta fase está bastante apurado, o que nos

obriga a sermos capazes de justificar e argumentar as nossas decisões de

modo a que o jogador não desanime.

Relato uma situação nesta época que explica muito bem o que pretendo

ilustrar: enquanto fazíamos um jogo de preparação contra o plantel juvenil, fiz

substituições constantemente de cinco em cinco minutos. Dividi o tempo de

jogo de forma igual entre todos os jogadores e toda a gente entrou pelo menos

duas vezes no jogo. Aconteceu um defesa central ser substituído logo após

falhar um passe longo, enquanto eu insistia constantemente para sair a jogar

em passe curto. Quando tirei o atleta ele questionou a minha decisão,

reclamando que achava injusto ter sido substituído apenas por falhar aquele

passe. Após ter mostrado ao jogador o meu plano e que estava a ser

substituído em último lugar percebeu as minhas intenções, pediu desculpa e

entrou com o dobro da atenção ao seu passe na segunda parte.

Muitas pessoas dizem-me que não devo explicações nenhumas aos

jogadores para tomar as minhas decisões e que estes devem confiar

cegamente na minha gestão.

Eu questiono: como é que um jogador pode confiar cegamente em mim

quando não me conhece nem aos meus processos? Prefiro gerir o meu plantel

com honestidade e abertura completa, uma vez que me sinto plenamente

confiante nas minhas decisões e preparado a justificá-las em qualquer caso.

Desta maneira julgo que consigo retirar o máximo proveito dos meus

atletas porque se não há vontade e estabilidade emocional durante o treino e

jogo, a performance dos atletas estará bem longe do seu potencial máximo.

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Acredito que falar abertamente com todos os atletas e estando

constantemente atualizado acerca do seu estado emocional permite-me ter

maior controlo sobre as suas performances e desenvolvimento.

A questão da motivação também é algo complicado neste escalão em

específico. Para além de preparar durante a semana a previsão que faço do

jogo a realizar, preciso também, todos os domingos de manhã, de dar uma

razão para estes darem tudo o que têm, já que sem este acréscimo não

encontram a motivação para tentarem mais uma vez superar a performance

anterior.

É preciso ter bastante cuidado neste ponto porque muitas vezes os

jogadores confundem a agressividade de jogo que pretendemos evidenciar

com hostilidade para com o adversário. Convém deixar isto bem claro de modo

a manter os jogadores concentrados para o jogo.

Acredito que só desta forma podemos manter um processo de trabalho a

longo prazo, justo para os jogadores e para os treinadores, o que em anos

anteriores era impossível.

Os meios e fins da nossa preparação também são específicos ao

escalão que treinamos. A nossa prioridade no que a objetivos toca é a

preparação formativa dos atletas, seguindo-se os objetivos preparativos e por

último os competitivos, como explico no capítulo seguinte (Objetivos).

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2.1.4. Objetivos

2.1.4.1. Como Coordenador

O projeto de coordenação das camadas jovens apresentado no final da

época anterior tem como principal objetivo a criação de uma cultura para o

clube. Pretendemos melhorar as ligações entre os diferentes escalões,

partilhando jogadores com potencial superior, alguns princípios de jogo nos

nossos modelos de jogo e metodologias de treino. Desta forma

proporcionamos aos jogadores o contexto de aprendizagem apropriado aos

objetivos definidos.

Para que estes objetivos fossem possíveis existiu a necessidade de

começar do zero. Contratar treinadores novos, que partilham das nossas ideias

de treino e jogo, o que fez com que perdêssemos muitos jogadores. Nesse

sentido, achamos por bem não discutir objetivos competitivos com nenhuma

camada, exigindo apenas que nunca se sobrepusessem aos objetivos

formativos e preparativos.

Pedimos aos nossos treinadores que tivessem uma atenção especial

para o comportamento dos nossos atletas. O clube tem um historial disciplinar

bastante mau e isso é algo que pretendemos mudar com urgência. Outra das

condições formativas que colocámos foi a utilização de todos os atletas do

plantel e o uso de todos os suplentes em todos os jogos.

Quanto aos objetivos preparativos, definimos alguns princípios que

gostávamos que os diferentes escalões apresentassem:

Dois tipos de defesas centrais – um tipo forte e bom na marcação e

outro rápido e inteligente nas coberturas defensiva, já que o clube não

pretende que os seus defesas defendam à zona; ambos os defesas

devem ser bons no passe e no cabeceamento;

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Médio defensivo – com bom passe curto e longo e com boa capacidade

decisão, ficando responsável pela decisão do jogo (ofensivamente); este

jogador deve ter um posicionamento muito recuado no campo,

colocando-se no meio dos centrais em momentos iniciais de

organização ofensiva;

Médio centro – muito móvel com capacidades ofensivas e defensivas e

grande capacidade aeróbia e passe curto; um médio “área-a-área”;

Dinâmicas entre os jogadores dos corredores laterais – que definam que

os defesas laterais abram no último terço e fechem no primeiro e

avançados interiores com o movimento contrário;

Também nomeámos dez jogadores dos Sub-19, Sub-17 e Sub-15 que

deveriam desempenhar papéis em diversas equipas técnicas, de modo a

melhorar a interação dos atletas do clube entre diferentes camadas. Pedimos

também aos treinadores que incentivassem os seus atletas a assistir aos jogos

das outras equipas do clube.

Pretendíamos com isto ocupar a carga horária dos nossos jogadores

evitando maus hábitos que já percebemos serem comuns no clube.

2.1.4.2. Como Treinador

Enquanto treinadores do escalão de sub-19, demos prioridade, como em

anos anteriores, aos objetivos formativos.

Tendo em conta que este é o nosso terceiro ano no cargo, já

conhecemos bem o tipo de atletas que temos em mão. A maior parte dos

jovens que jogam pela equipa de sub-19 não têm hábitos de vida saudáveis,

ainda menos de um atleta tratando-se, referindo-me ao consumo de drogas,

álcool e tabaco. Como já referi anteriormente, há também um grande problema

de disciplina tendo em conta a quantidade elevadíssima de cartões vermelhos

que a equipa arrecadava a cada ano.

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Assim sendo, a nossa maior atenção foi corrigir estes problemas.

Procurámos controlar ao máximo o tempo dos nossos jogadores e a forma

como estes o geriam, tornando uma grande parte deles ajudantes em camadas

inferiores, proibindo estes hábitos dentro do complexo desportivo e expulsando

qualquer jogador que se apresentasse em estados de alteração de consciência

ao treino.

Quanto à disciplina, o que decidi fazer foi criar duas regras: cada vez

que um jogador levasse um amarelo por indisciplina era imediatamente

substituído, e aumentam para o dobro os jogos de suspensão para

determinado tipo de expulsões. Inicialmente estas regras custaram-nos alguns

resultados e empenho dos jogadores mas os resultados compensaram o

esforço.

Os objetivos preparativos que definimos para esta época foram

aumentar o número de jogadores promovidos ao plantel sénior. Para isto,

mantivemos contacto constante com o treinador desta equipa, tentando fazer

com que os nossos jogadores correspondessem a qualquer necessidade sua.

Isto passa por criar um perfil do jogador que o treinador precisa e desenvolver

os nossos atletas nesse sentido, respeitando os perfis anunciados

anteriormente.

Foi preciso, também, eliminar a ideia pré-concebida de que os seniores

do clube não têm valor e de que não valia a pena trabalhar para chegar lá.

Decidimos nesta época definir objetivos competitivos diferentes das

épocas anteriores, visto que a divisão onde competimos é altamente

imprevisível, tendo apenas prometido a nós mesmos que iriamos pontuar,

marcar e ganhar mais vezes e sofrer e perder menos do que em todas as

épocas anteriores. Apesar de não transmitirmos nenhuma posição em que

esperávamos ficar, a equipa técnica concluiu que uma classificação entre o

sexto e o terceiro lugar seria satisfatória e realista.

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2.1.5. Plantel

Durante a presente época tivemos 23 jogadores à nossa disposição,

contudo, apenas 13 treinavam assiduamente. Destes 23, 2 eram guarda-redes,

8 eram defesas, 6 eram médios e 7 eram avançados. A maior parte do plantel

(14) eram Sub-19, os restantes (9) eram de primeiro ano. Dois dos jogadores

eram esquerdinos e os restantes destros.

As posições que aqui coloco são as posições que os jogadores me

indicaram ser de raiz, porque vi-me obrigado, por várias adversidades, a

adaptar as posições de dez destes jogadores.

Considero também importante referir que três destes jogadores jogam

futebol há menos de três anos e apenas onze treinam comigo há mais de um

ano. Este fator torna-se relevante porque apenas alguns dos nossos jogadores

trabalharam segundo a metodologia que usamos. Visto que durante os cinco

anos em que trabalhámos no clube nunca vimos nenhum treinador usar a

mesma metodologia que nós (à exceção deste ano), temos sempre o cuidado

de apresentar e explicar a nossa metodologia ao nosso plantel. Acredito que a

consciência que os jogadores têm do funcionamento e intenções do nosso

trabalho é um princípio chave para adquirirem as qualidades e comportamentos

pretendidos.

Atendendo aos objetivos a que nos propusemos no início da época

parece-me importante referir que contámos com dois jogadores sub-17 e um

Sub-16. Também será importante salientar que seis dos nossos jogadores

participaram regularmente nos treinos e em alguns jogos da equipa sénior.

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2.1.6. Competição

A nossa equipa esteve envolvida na 1ª e 2ª fases da 2ª Divisão Distrital

da AFP.

Tendo em consideração o esforço para melhorar a interação entre os

escalões e a preparação dos jogadores, uma das medidas que tomámos esta

época passa por promover todos os jogadores e treinadores na 2ª fase do

campeonato. Ou seja, os jogadores de 2º ano de cada escalão treinam e

competem com o escalão superior (em que irão estar no ano seguinte). Em

alguns casos os treinadores também foram promovidos com o propósito de

iniciarem a preparação do próximo ano.

Atendendo ao fato de esta ser a minha última época no clube, isto

significa que o trabalho a fazer na 2ª fase não me compete a mim, restringindo,

este relatório à 1ª fase da competição.

A 2ª Divisão Distrital de Sub-19 representa o nível competitivo mais

baixo na Associação de Futebol do Porto. É dividida por séries, de modo a

englobar todos os clubes do Distrito do Porto que não compitam a níveis

superiores. Cada série pode ser constituída por doze a catorze equipas. Nós

competimos na série 1, com doze outras equipas (a nossa série é constituída

por treze equipas devido à desistência dos Dragões Sandinenses).

De modo a estabelecer um ranking classificativo entre todas as equipas

do distrito há a 2ª fase em que as séries são organizadas por classificação, ou

seja, os primeiros classificados de cada série vão competir entre eles, bem

como as equipas das restantes posições.

O primeiro classificado de cada série será automaticamente promovido à

divisão superior. O vencedor da série dos segundos jogará o play-off de

promoção. Visto que competimos na divisão mais baixa nenhuma equipa será

despromovida.

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2.1.7. Equipa Técnica

Este relatório visa uma reflexão sobre a época de 2014/2015 como

treinador da equipa de sub-19 do CF S. Félix da Marinha. Durante esta época

desempenhei também os cargos de coordenador da formação e treinador da

equipa de sub-11 (cujos aspetos a referir serão limitados à pertinência do

trabalho).

A nossa equipa técnica era constituída por três treinadores, um principal

e dois adjuntos. Para além disso trabalhámos também em conjunto com o

treinador de guarda-redes da equipa sénior.

Desempenhei, ao longo desta época: treinador adjunto da equipa de

sub-19, de 1 de Agosto de 2014 até à oitava jornada, em 15 de Novembro de

2014, e, a partir desse momento passei a ser o treinador principal da mesma

equipa até ao fim da primeira fase, 29 de Março de 2015.

No início da época, o modelo de jogo da equipa foi criado por mim e

supervisionado pelo meu colega, que começou como treinador principal, em

conjunto com a equipa técnica do plantel sénior. Apesar de termos visões

ligeiramente diferentes do que deve ser o jogo, em geral partilhávamos as

mesmas ideias, o que facilitou a coordenação do modelo de jogo da equipa

júnior à imagem da equipa sénior.

Contudo, as preocupações que manifestamos no início da época

mostraram-se um problema durante o período competitivo culminando em

maus resultados para ambas as equipas.

Durante esta primeira fase, eu era responsável por preparar os treinos e

observar os jogos. A orientação dos treinos era dividida entre os três

treinadores.

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A primeira vez que assumi o cargo de treinador principal foi na quarta

jornada, em que o meu colega não pode estar presente por motivos pessoais,

jogo este em que a equipa conseguiu a primeira vitória.

Mais tarde, outros motivos levaram o treinador principal a abandonar o

seu cargo. Perante o trabalho que vim a fazer enquanto seu adjunto, o meu

colega sugeriu ao vice-presidente do futebol juvenil que eu pudesse assumir a

equipa sobre a sua supervisão.

A primeira função que estabeleci foi definir objetivos concretos que

motivassem os jogadores a procurar a vitória novamente. Fi-lo através de uma

análise detalhada do nosso calendário, tentando explicar-lhes que tínhamos

defrontado todas as melhores equipas até ao momento, e através de uma

previsão de resultados consegui convencê-los de que até metade da época

conseguiríamos atingir uma classificação mais “justa” e consentânea com a

nossa parte.

Tenho consciência de que todos os treinadores que orientaram a nossa

equipa têm este discurso no início da época, tentando convencer os jogadores

de que podem vencer todos os jogos, por isso, tentei uma abordagem um

pouco diferente, mais realista.

Neste momento a nossa equipa estava classificada no 11º lugar, e os

jogadores pareciam não acreditar na vitória. Contudo, após analisar o

calendário apercebi-me de que tínhamos defrontado os adversários mais

difíceis, o que justificava, em parte, a nossa classificação, tendo até à altura

jogado contra seis dos primeiros sete classificados e conquistado quatro

pontos. Partindo do pressuposto que venceriam os últimos dois jogos (que

seriam contra os dois últimos classificados) garanti aos jogadores que tinham

capacidade para não perder nenhum dos outros três jogos e ganhar um deles,

conseguindo com isso o sétimo lugar até metade da época.

O meu objetivo nesta previsão não era convencer os jogadores que

seriamos capazes de magicamente vencer todos os jogos, mas sim mostrar-

lhes que no pior dos casos, conseguiríamos atingir os nossos objetivos se

dessemos passos pequenos no sentido certo.

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A equipa fez, nesta fase, grandes progressos, chegando a criticar (em

termos irónicos) a minha previsão, já que tinham conseguido o sétimo lugar na

penúltima jornada.

Neste momento, fiz também uma análise ao jogo demonstrado pela

nossa equipa, ao que concluí que apesar de a equipa ter o modelo de jogo

muito bem assimilado revelava dificuldades a desequilibrar os adversários.

Posto isto, decidi remodelar o planeamento do treino e focar-me muito mais no

plano estratégico e em ações ofensivas perto da área adversária.

Visto que passei a ser o único membro da equipa técnica a acompanhar

os jogos, deixou de ser possível filmar os jogos, ao que a observação do jogo

passou a ser feita apenas de memória.

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2.2. Contexto Funcional

As funções da nossa equipa técnica estavam distribuídas da seguinte

forma:

Criação e ajuste do Modelo de Jogo – Atendendo aos objetivos definidos

como coordenadores, o Modelo de Jogo criado esta época tinha em

vista a identidade apresentada pela equipa sénior. Nesse sentido, eu e o

treinador principal trabalhámos em conjunto com o treinador da equipa

sénior;

Plano estratégico – o que pretendo dizer com plano estratégico, são

todas as alterações que fazemos ao nosso Modelo de Jogo para nos

adaptarmos ao adversário. Esta função é desempenhada pelo treinador

principal;

Preparação e orientação dos treinos – este ponto era de um modo geral

preparado por mim. Eu defino o tempo que dedicamos a cada aspeto do

treino, sendo que o tempo dedicado a bolas paradas e preparação

ofensiva individual estava ao encargo dos outros treinadores. Visto que

nenhum de nós tem conhecimentos suficientes para proporcionar treinos

de qualidade aos nosso guarda-redes, coordenamos com a equipa

técnica dos seniores o seu treino individual. As restantes componentes

do treino eram preparadas por mim;

Preparação psicológica da equipa – apesar de os três contribuirmos

para as palestras da equipa, é o treinador principal que orienta a maior

parte;

Análise do Jogo – a análise do jogo é feita por mim.

Eu comecei a época como treinador adjunto, estando encarregue da

preparação dos treinos, análise do jogo e criação e ajuste do Modelo de Jogo.

A partir do momento em que assumi o cargo de treinador principal fiquei

responsável pelo plano estratégico e da preparação psicológica da equipa,

para além das funções que já assumia antes.

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2.3. Macro contexto

2.3.1. Futebol

O Deporto assume, nos dias de hoje, um papel importante no quotidiano

do ser humano, seja pela sua prática, ou pelo entretenimento gerado pelo

mesmo, movendo massas a contemplar performances de grupos ou até

indivíduos.

Uma das características que nos diferencia dos animais irracionais, e a

mesma que representa a razão do meu apreço pelo mundo desportivo, é a

necessidade de auto-superação. O Homem é o único animal que, em

condições normais, não necessita de correr ou saltar, contudo fá-lo, porque

sente a necessidade de conhecer e ultrapassar os seus limites (Garcia, 2004).

Durante a minha adolescência, na passagem da compreensão da prática

desportiva como um evento lúdico para uma representação social e

antropológica, descobri a auto-superação e a capacidade de fazer emergir ou

potenciar esta necessidade nos outros, como o motor da minha dependência

pelo Desporto. Não foi para mim difícil definir, no fim do ensino secundário, a

que queria dedicar a minha vida.

A paixão que sinto pelo futebol não começou com o sonho de me tornar

treinador. Como qualquer jovem, era fascinado pelas habilidades e posição de

ribalta em que eram colocados os melhores jogadores e, como tal, sonhava

fazer parte das estrelas.

Quando me vi obrigado a afastar da prática, com 11 anos, a minha

paixão não desapareceu, continuando a absorver tudo o que este desporto tem

para me dar. Tornei-me um observador assíduo de todos os jogos que podia

ver, tentando saciar a vontade que tenho de continuar ligado à modalidade,

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inspirado pelo FCP de José Mourinho, vencedor da UEFA e da Liga dos

Campeões Europeus,a equipa dos “Galáticos” do Real de Madrid e a vivência

do Europeu de 2004, no nosso país. Este é o período que guardo com mais

estima nas minhas memórias futebolistas e que me relembram da paixão que

sinto pelo jogo.

À medida que começava a compreender melhor as dimensões do jogo, o

meu interesse começou a orientar-se num sentido diferente, aprendendo a ver

o jogo longe da bola e a ter uma visão mais ampla do mesmo, com novos

ídolos, como José Mourinho e Carlo Ancelotti.

O entendimento do que deve ser um treinador de futebol tem sido

constantemente renovado. Atualmente, esta função reconhece a necessidade

de conjugação de várias áreas científicas para a obtenção dos seus objetivos.

Para além do treinador estar encarregue da organização, programação, e

supervisão das dimensões do jogo que podemos identificar em campo, o

trabalho de um treinador engloba outros setores, como a comunicação social, a

gestão quotidiana da equipa, incluindo aspetos como a saúde, higiene, dieta,

formação, educação, relações familiares dos jogadores, entre outras (FIFA,

2008).

Um treinador não é, hoje em dia, um mero estratega, mas sim um gestor

de todo o seu conhecimento, como referiu José Mourinho na conferência de

imprensa de apresentação da Pós-Graduação em Treino de Futebol de Alto

Rendimento na FMH.

As conclusões que cada um tira ao observar um jogo e a maneira como

o compreende, passam por um filtro criado pelas experiências e conhecimentos

que este possui. Consideremos dois adeptos que se juntam todos os fins-de-

semana no café para ver e discutir os jogos da equipa que apoiam. Jogaram na

mesma equipa durante a infância, um defesa e o outro avançado. Se a equipa

num momento da época apresentar falhas em ambos os setores, o defesa

criticará os erros defensivos e o avançado os erros ofensivos. Tudo depende

da perspetiva com que observamos o jogo, e para que orientações o nosso

“olho” foi treinado.

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Só podemos ter sucesso se enchermos as nossas experiências de

momentos futebolísticos e análises imparciais, que exijam a consideração da

imensidão de possibilidades complexas dentro dos princípios e regras que

definem o jogo (Garganta, 2000).

Foi também nesta altura que surgiu a minha paixão pela tática, que

aumentou exponencialmente durante o meu período na FADEUP, onde me foi

apresentada uma metodologia que baseia a construção de um modo de jogar

específico baseado na transmissão clara e assertiva das ideias do treinador, a

Periodização Tática.

O futebol apresenta-se como um Jogo Desportivo Coletivo e, pela alta

complexidade, um jogo inteligente. É marcado pelos atributos psicológicos,

técnicos e físicos dos jogadores, bem como pela dimensão organizativa, que

tem vindo a ganhar importância na maneira como concebemos o jogo.

A Periodização Tática visa, através da contribuição de várias áreas

científicas, entender e conceber o jogo como um sistema complexo.

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2.3.2. Periodização Tática

A Periodização Tática pretende, através de uma matriz conceptual e de

um conjunto de princípios metodológicos, facilitar e potenciar a criação de um

modo de jogar coletivo que seja interpretado por todos os jogadores da equipa

(Pivetti, 2012).

Cada vez mais autores (Queiroz, 1986; Frade, 1989; Jorge, 1989;

Monge da Silva, 1989; Grehaigne, 1992; Garganta & Pinto, 1994; citado por

Oliveira, 2004) têm caracterizado o Futebol como um jogo tático, que se

manifesta pela interação das diferentes dimensões. Nesse sentido, a tática

surge como a dimensão coordenadora de todo o processo, e a tomada de

decisão o pilar do trabalho efetuado sobre o Modelo de Jogo. Esta dimensão

integra as interações entre as restantes. O treinador deve ter as suas

convicções táticas que norteiam todo o processo de ensino-aprendizagem que

é o treino.

Para aperfeiçoar a operacionalização do treino, com o objetivo de

melhorar a transferência das ideias do treinador para equipa e respetivos

jogadores, este baseia-se na criação de contextos que estimulem uma tomada

de decisão orientada num sentido comum, bem como as capacidades

requisitadas por esses contextos (Oliveira, 2004).

A alta relação entre o treino e o jogo é uma das características

representantes da metodologia, sendo a seguinte frase um cliché do nosso

quotidiano: “treinamos como jogamos e jogamos como treinamos”, elevando a

importância da consciência das nossas decisões durante a prática.

Num ambiente complexo, a gestão eficiente da regulação do processo

depende de um curso de ação correto que pode ser melhorado através de

previsão e planeamento (Damasio, 2000; citado por Carvalho, 2006).

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Vemos, hoje em dia, o treino como um processo de aprendizagem em

que se pretende transmitir as ideias do treinador (princípios específicos do

modelo de jogo) para que a equipa consiga resolver os problemas que o jogo

proporciona em função de uma lógica construída e de um modo concomitante.

Pretende-se, acima de tudo, que os jogadores tenham consciência do

contexto de jogo em que se encontram e que saibam em qualquer caso que

decisões podem e não podem tomar, mediante os interesses (princípios) de

cada colega e da equipa como unidade. Através da divisão do jogo em

momentos, zonas e a equipa em escalas é possível estabelecer princípios de

jogo e criar um rede de relações coerentes que representam a identidade única

de cada equipa.

Eu baseio a minha divisão do jogo em momentos segundo alguns

autores (Frade, 1989; Louis Van Gaal cit Kormelink & Seeverens, 1997;

Mourinho, 1999; Valdano, 2001 citado por Oliveira, 2004) que consideram que

o jogo deve ser dividido em quatro momentos, caracterizados no mesmo

trabalho da seguinte forma:

O momento de organização ofensiva consiste nos comportamentos dos

jogadores quando têm a posse de bola com o objetivo de criar situações

ofensivas e arranjar uma maneira de marcar golo (Oliveira, 2004).

O momento de transição defensiva trata os segundos seguintes à perda

de bola. Uma particularidade dos momentos de transição é o fato de a equipa

adversária estar desorganizada, o que pode ser aproveitado de várias formas

(Oliveira, 2004).

O momento de organização defensiva consiste nos comportamentos dos

jogadores quando não têm a posse de bola e o seu objetivo é organizar-se de

maneira a que o adversário não consiga criar situações ofensivas e marcar

golo (Oliveira, 2004).

O momento de transição ofensiva trata os segundos seguintes à

recuperação da posse de bola, sendo que a equipa adversária se encontra

desorganizada, dando-nos oportunidade de aproveitar esse momento para

nosso proveito (Oliveira, 2004).

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De maneira a explicar melhor o que entendo pelas escalas da equipa,

suponhamos que estamos a definir princípios para uma equipa que em

organização defensiva procure pressionar e ganhar a bola rapidamente,

forçando o erro adversário, num sistema 1-4-3-3 (Oliveira, 2004):

Coletiva – Esta escala engloba a totalidade da equipa; Pretende-se

definir o comportamento do bloco, a nível de largura e profundidade;

Perante os nossos objetivos posso definir subprincípios como o

posicionamento e um bloco subido e largo;

Intersetorial – Procuramos nesta escala os subprincípios que

estabelecem o comportamento dos nossos setores e as relações entre

os mesmos, e como devem reagir ao comportamento do adversário; No

nosso caso, seria coerente pedir que houvesse pouca distância entre os

diferentes setores, e que o setor do meio se aproxime do setor mais

avançado, de modo a contrariar a superioridade numérica adversária;

Setorial – Define a relação dos jogadores do mesmo setor; Podia no

nosso caso definir que o setor defensivo se posicionasse em linha, e

bem perto uns dos outros para facilitar as dobras defensivas, dando

oportunidade a um destes jogadores sair rápido na pressão e ter a

retaguarda protegida e tentar apanhar o adversário em fora de jogo;

Grupal – Trata a relação do jogador, perante colegas próximos; Visto

que o nosso objetivo é recuperar a bola rapidamente, é importante

manter a pressão nos dois defesas centrais; supondo que estes se

encontram bastante afastados um do outro, impossibilitando o nosso

avançado de os pressionar aos dois, posso definir uma dinâmica entre

este e o médio mais avançado, de maneira a que consigamos

concretizar os nossos objetivos;

Individual – Coordena as decisões do jogador perante as suas

características, o momento e zona de jogo em que se encontra e os

comportamentos do adversário; Posso definir que o nosso avançado

pressione os defesas centrais sempre por dentro, obrigando-os a jogar a

bola para a frente ou para o corredor lateral.

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Todo este processo tem como objetivo a criação de uma identidade de

jogo única para a nossa equipa, que favoreça os nossos pontos fortes e

esconda os nossos pontos fracos. Contudo, num jogo de futebol, esta não se

revela uma tarefa simples. A Periodização Tática procura trabalhar e

conceptualizar o jogo compreendendo-o e fazendo-o emergir numa perspetiva

complexa.

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2.3.2.1. Uma nova abordagem ao jogo

Como JDC, o Futebol assume uma complexidade que deve ser

considerada e potenciada por uma abordagem sistémica ao jogo (Silva, 2008).

Procuramos interpretar os padrões complexos exibidos pela relação entre dois

grupos, cada um com a sua identidade, com o mesmo fim e meios diferentes,

que se defrontam num ambiente por natureza aleatório e cuja ligação torna o

jogo tão interessante (Garganta, 1997).

Este carácter exige uma abordagem que consiga de alguma forma

encontrar e criar padrões que dêem algum sentido ao jogo, evitando que este

se resuma a uma sequência de eventos aleatórios.

O seu entendimento tem conhecido abordagens que satisfazem essa

necessidade. O uso do termo “sistema”, como agregado de partes interativas e

interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com

determinado objetivo e efetuam determinada função (Bertalanffy, 1976), tem

vindo a ser cada vez mais utilizado para conceptualizar a compreensão dos

jogos desportivos de maior complexidade (Garganta, 1997).

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2.3.2.2. Complexidade

“A complexidade refere-se à condição do universo que é inerente mas que, no entanto, é

demasiado rica e diversificada para a compreendermos a partir das perspetivas mecanicistas ou lineares

comuns. A complexidade trata da natureza da emergência, inovação, aprendizagem e adaptação”

(Santa Fé Group, 1996 citado por Silva, 2008)

O “Paradigma da Complexidade” surge em revés da conceção científica

tradicional, analítica e reducionista ou “Paradigma da Simplificação”, já que

estes não são coerentes com a realidade complexa em que vivemos (Morin,

1990).

Para compreender as limitações do pensamento do reducionista

consideremos um sistema e os seus constituintes. Não é possível entender a

sua organização se considerarmos apenas a totalidade, ignorando a

diversidade dos seus constituintes, ou as características dos mesmos

separadamente, sobrepondo a diversidade. Percebemos então a necessidade

de ir mais além (Morin, 1990).

Não podemos refutar que, em última análise, todos os organismos

podem ser reduzidos a átomos e moléculas, podemos, contudo, afirmar que há

algo, não-material e irredutível no funcionamento de um sistema complexo -

padrão de organização (Capra, 1996).

A complexidade encara a nossa realidade com constituintes

heterogéneos inseparavelmente associáveis (paradoxo do uno e do múltiplo)

que geram acontecimentos e acasos impossíveis de serem simplificados ou

reduzidos (Morin, 1990).

A causalidade linear explica-nos que todos os acontecimentos são

consequência de outro acontecimento prévio, estabelecendo uma linha de

acontecimentos que remonta às condições iniciais do universo. Este princípio

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revelou-se insuficiente para explicar alguns acontecimentos de maior

complexidade. As suas propriedades não permitem ser deduzido a partir da

análise separada dos seus elementos. A causalidade complexa surge como

uma tentativa de explicar certos acontecimentos de maior complexidade, como

consequência da estruturação dos padrões em rede de que são constituídos os

sistemas (Capra, 1996).

O pensamento complexo aborda a construção do conhecimento

sistémico a partir da interação de todos os elementos. A compreensão é

estabelecida a partir de uma rede de elementos heterogéneos

interdependentes (Morin, 1990).

Considero justo referir que este paradigma não desvaloriza o anterior.

Pelo contrário, apoia-se no conhecimento que este nos concebeu para

conceptualizar uma perspetiva sistémica da nossa realidade, em que

reconhece a existência de duas estruturas: uma formal, que conta com os

elementos constituintes de um sistema, e outro funcional, que se debruça sobre

os processos e relações entre os mesmos (Tavares, 1996, citado por Castro,

2014).

O Futebol, enquanto jogo desportivo coletivo, pode, e deve, ser

analisado segundo este paradigma da complexidade. É caracterizado pelo

confronto entre duas equipas, que são constituídas por dois conjuntos que

procuram superiorizar-se dentro de um conjunto de ações permitidas pelas leis

de jogo (Oliveira, 2004).

Este contexto cria no jogo problemas motivados pela interação

permanente de relações de cooperação e de oposição, relevando a importância

do coletivo (Deplace, 1979 citado por Oliveira, 2004).

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2.3.2.3. Sistemas

A teoria geral dos sistemas não procura uma resolução rápida para os

problemas colocados na organização de um sistema, mas identificar

propriedades, princípios e leis de qualquer tipo de sistema que permitam criar

condições de aplicação numa realidade empírica. Para além da natureza dos

seus componentes, analisa também as relações e forças entre eles, definindo

um sistema como um complexo de elementos em interação (Bertalanffy, 1976).

A diferenciação entre uma abordagem reducionista ou complexa tem

sido debatida em vários ramos, um dos quais o Futebol. Esta abordagem surge

face a três necessidades que o nosso desporto, perspetivado de uma forma

sistémica, partilha:

Reconhecer uma unidade complexa constituída por um complexo de

relações entre todas as partes, caracterizando as propriedades

dinâmicas entre os elementos de um todo, dando uma característica de

totalidade aos sistemas complexos (Grehaigne; Bouthier; David, 1997

citado por Pivetti, 2012);

Corresponder à necessidade multidisciplinar exigida para a

compreensão da complexidade das interações que estabelecem a

totalidade (Grehaigne; Bouthier; David, 1997 citado por Pivetti, 2012);

Criar uma linguagem comum entre as diferentes disciplinas que ajudam

a explicar os fenómenos complexos (Grehaigne; Bouthier; David, 1997

citado por Pivetti, 2012).

Segundo o novo paradigma científico, qualquer entidade individualizada

pode ser considerada um organismo, e qualquer organismo é um sistema ou

faz parte de um (Bertalanffy, 1976). A construção de uma visão do nosso

mundo em sistemas perspetiva a sua análise e compreensão sobre o estudo

de sistemas abertos (Bertalanffy, 1976).

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Segundo (Bertrand & Guillemet, 1994, citado por Oliveira, 2004),

podemos apontar alguns pressupostos que caracterizam qualquer sistema:

Abertura: enquanto num sistema fechado os seus processos param

quando este atinge um estado de equilíbrio (determinado pelas

condições iniciais), num sistema aberto os processos continuam

constantemente sem que sem que este tenha descanso;

Complexidade: o conjunto de interações entre cada um dos seus

elementos e a relação de reciprocidade com o meio envolvente garante

um contexto de alta complexidade;

Finalidade: apesar da heterogeneidade dos elementos do sistema, estes

interagem em função de um objetivo;

Tratamento: relação dinâmica de reciprocidade entre o sistema e o meio,

promovendo trocas entre eles;

Totalidade: dá relevância à interação entre os elementos do sistema,

tornando cada sistema único. Se as interações entre os elementos forem

mais eficazes (sistema mais organizado) o todo será maior do que a

soma das suas partes;

Fluxo: refere-se à quantidade de interações entre os elementos do

sistema, entre o mesmo e o meio e vice-versa;

Equilíbrio: o seu estado de equilíbrio não é atingido consoante as

condições iniciais do sistema, sendo que depende das condições do

próprio sistema; Isto significa que um organismo funciona de forma ativa,

com ou sem estímulos externos, sendo que estes não estimulam

reações que já lhe são inerentes, mas modificam os processos num

sistema autonomamente ativo;

Num jogo de futebol, cada jogador estabelece uma relação com o meio.

As suas decisões serão tomadas mediante um contexto que é providenciado

pelo decorrer do jogo e, ao mesmo tempo, todas as suas decisões afetarão o

destino do jogo.

O mesmo acontece entre um jogador e os restantes colegas, sendo que

este tem liberdade de tomar as suas decisões, que devem ser orientadas pelo

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Modelo de Jogo da equipa, contudo, a equipa terá de saber ajustar o seu

comportamento segundo as decisões de cada um dos seus jogadores.

Entendemos então que um sistema não pode ser compreendido pela

soma das suas partes, mas sim pelas propriedades emergentes do seu

funcionamento. É importante estabelecer ligações entre os elementos, sob

pena de perder a essência do bolo, ou da equipa de futebol.

De maneira a simplificar este sistema de relações, tomaremos o

seguinte exemplo:

Consideremos o nosso defesa central. Que contexto foi providenciado,

pelo jogo, a este jogador? Tem a posse de bola, em frente à nossa grande

área, com ambos os defesas laterais em amplitude sem marcação. O jogador

está num contexto que lhe é providenciado pelo meio, e a sua decisão, de

colocar a bola no lado esquerdo ou direito, irá afetar o decorrer do jogo.

De certa forma, este jogador poderia decidir fazer o que bem

entendesse, contudo, já implícito, este passará para um dos defesas laterais,

de acordo com os princípios específicos do Modelo de Jogo que lhe foram

instruídos. É isto que a equipa está à espera que o jogador faça, o que o torna

responsável pela totalidade do sistema, da mesma forma que se este não

tivesse em posse, teria de se deslocar para uma zona mais recuada do campo,

oferecendo uma linha de passe segura, mais uma vez, orientado pelos

princípios específicos do Modelo de Jogo.

Toda a equipa deve ter consciência dos fins e respetivos meios, de

modo a que saibam todos reagir de forma coerente aos contextos de jogo. O

defesa central sabe que não pode conduzir a bola e tentar fintar os adversários

(caso o Modelo de Jogo condene tais ações), porque é o jogador mais recuado

e se perder a bola, a equipa certamente sofrerá um golo. Estes ajustes às

condições do jogo devem acontecer no processo tanto ofensivo como

defensivo.

Entendemos o jogo como sistémico, já que o seu entendimento assenta

na compreensão de um sistema complexo e dinâmico de relações (Júlio

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Garganta, 1999). Esta consciência permite-nos entender a sua natureza do

jogo e a relação que estabelecemos com a mesma.

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2.3.2.4. Funcionamento dos sistemas

O entendimento de um sistema e o seu funcionamento não são

possíveis sem compreender conceitos como padrão de organização, uma

configuração de relações característica de um sistema em particular (Capra,

1996).

De acordo com o “Paradigma da Simplificação” a análise feita aos

sistemas tem um teor quantitativo, já no estudo de padrões visa-se uma análise

qualitativa. Procuramos caracterizar as relações entre os constituintes de um

sistema, sendo que sem elas, este deixa de existir (Morin, 1990).

Apesar da imparidade de cada sistema, podemos determinar uma

propriedade comum: todos os padrões estão estruturados em rede (Capra,

1996).

Se considerarmos um jogo de Futebol, conseguimos identificar alguns

padrões de ambas as equipas e, se calhar em certos momentos, prever o

desenrolar de uma ou outra ação. Contudo, não conseguimos prever o

desenrolar do jogo com precisão.

Isto deve-se à complexidade e não-linearidade dos sistemas

organizados em rede. Uma particularidade desta propriedade é o fato de uma

linha pode percorrer um caminho cíclico, o que dá aos sistemas uma

capacidade de se auto-organizarem (Foerster, 1961).

Este conceito é muito importante para o funcionamento de um sistema

que funciona em condições de não-equilíbrio, como o caso do Futebol. Apesar

de esta propriedade cíclica ser comum em todos os sistemas complexos, cada

um tem o seu método de auto-organização (Foerster, 1961).

Passamos a entender a sequência de eventos de um sistema de forma

não linear, o que nos leva à caracterização do jogo como um fenómeno caótico

(Garganta, 1997).

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2.3.2.5. Futebol como um evento caótico, determinístico

O termo caos não tem, em termos científicos, o significado que,

normalmente, lhe atribuímos. Se pesquisarmos a palavra caos no dicionário da

língua portuguesa a definição que encontramos é a seguinte: estado confuso

dos elementos cósmicos antes da suposta intervenção de um demiurgo ou de

um princípio organizador do Universo; desordem; balbúrdia; confusão;

indiferenciação;

Sabemos que em sistemas dinâmicos complexos, os resultados podem

ser de carácter imprevisível, já que estão sujeitos a perturbações derivadas da

elevada quantidade de parâmetros e variáveis sobre a qual este se desenvolve.

Mesmo em sistemas sem perturbações, sabemos que qualquer erro na

determinação das condições iniciais pode ser amplificado. No entanto, é

sempre suscetível às suas condições iniciais, independentemente das

perturbações que ocorrem no mesmo, devido aos processos de auto-

organização (Frade, 1989; in Garganta, 1997).

Um jogo de Futebol trata-se de um sistema dinâmico complexo. Não é

previsível e o sistema em si está sempre dependente das suas condições

iniciais. Visto que não podemos controlar este caos nem prever os

acontecimentos futuros, mudamos a nossa abordagem. Procuramos criar a

ordem a partir da desordem.

Consideramos, por isso, o Futebol um fenómeno caótico determinístico

já que os seus acontecimentos são determinados consoante a ligação entre o

caos e a ordem (Garganta, 2000).

Dentro deste ambiente caótico, o jogador encontra-se numa rede de

relações de cooperação e oposição, exigindo uma participação psíquica aliada

à participação motora. Os momentos mais decisivos de um jogo de futebol são

quase sempre provenientes de uma boa decisão tomada em questão de

segundos, por vezes em frações de segundo.

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Num primeiro olhar, perspetivamos o jogador num ambiente caótico.

Seria impossível prever que ele naquele momento se apresentaria naquele

lugar com aquelas condições. Contudo, o desafio e interesse do jogo estão, a

meu ver, precisamente nesse ponto.

O desenvolvimento do jogo providencia contextos diferentes sendo

impossível prever de forma precisa o seu decorrer, no entanto, procuramos ter

algum controle sobre este caos. O nosso objetivo passa a ser preparar os

jogadores de tal forma a que estes sejam capazes de reagir organizadamente

aos contextos em que se encontram, correspondendo à capacidade de auto-

organização inerente a qualquer sistema.

Para o jogador ser capaz de tomar uma boa decisão há uma imensidão

de informações que tem de considerar. A velocidade de aquisição desses

dados e resposta aos mesmos é estimulada pelo processo de treino que,

segundo a Periodização Tática, visa a aprendizagem de um Modelo de Jogo (a

ser explicado no subcapítulo seguinte).

O Modelo de Jogo procura criar coerência nas decisões, enquadrado

num contexto, cujo destino é monopolizado por um conjunto de decisões

individuais. Isto significa que o jogador deve decidir mediante um contexto que

lhe é providenciado pelo jogo (caos) e a decisão, que será tomada mediante o

Modelo de Jogo (ordem) afetará o decorrer do mesmo, criando uma relação

recíproca ambos. O desafio está em encontrar a coerência (entre os membros

da equipa) harmoniosa com o jogo.

É a função do treinador preparar a sua equipa para concretizar os seus

objetivos neste ambiente aparentemente caótico. A preparação não se limita a

desenvolver habilidades que possam ser úteis dentro de campo, dando-se

cada vez mais importância à tomada de decisão do jogador. Procuramos

enquadrar os jogadores com um macrossistema passível de perturbações,

tornando-os capazes de reagir organizadamente a estas perturbações. Não

nos chega preparar sequências que sejam executadas de forma exímia no

treino, pois essas sequências não vão ser executadas no mesmo contexto que

em jogo.

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A equipa deve estar de tal forma enquadrada ao ponto de em qualquer

momento de jogo todos os jogadores sejam capazes de se adaptarem ao

contexto de jogo, apresentando um posicionamento coletivo que represente a

estrutura pretendida mediante os meios e fins estabelecidos.

O fato de o futebol ser jogado no limiar do caos não significa que se

encontre constantemente num estado de desequilíbrio. A auto-organização que

procuramos no nosso “sistema” contraria esta tendência, sendo que o

desempenho de uma equipa estará diretamente relacionado com esta

capacidade.

É a partir desta análise ao Futebol que percebemos cada vez melhor a

importância da tomada de decisão.

Durante a presente época, vi-me por várias vezes forçado a interromper

um exercício antes do tempo premeditado. Esta paragem inesperada surgia

quando me parecia que os jogadores estavam a treinar sem propósito

específico ou pelo menos sem consciência do mesmo.

Aproveitei muitas vezes estas paragens para relembrar os jogadores dos

objetivos do nosso treino. Senti a necessidade de relembrar que há objetivos,

procurando clarificar a diferença entre “jogar à bola” e jogar Futebol.

Para mim, a diferença prende-se pela consciência que temos do

contexto em que estamos e a maneira como interagimos com o mesmo. Se

queremos jogar Futebol temos de ter consciência que estamos inseridos num

sistema dinâmico complexo de relações de cooperação e oposição, e que

temos de tomar todas as nossas decisões com algum critério de modo a

contribuir positivamente para o mesmo.

É por esta razão que damos cada vez mais importância à tomada de

decisão, tornando do Futebol um jogo inteligente.

Referir que a preparação de uma equipa não passa apenas por

desenvolver capacidades que nos possam ser úteis no campo, não significa

excluir este aspeto do processo de treino. Estas capacidades são de vital

importância para ter sucesso na sua prática. Sem elas não poderíamos por em

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prática as nossas intenções, contudo, sem as termos estabelecido, não

podemos aplicar a nossa técnica ou potência física.

De todas as dimensões do jogo (técnica, tática, física e psicológica) a

tática surge como dimensão coordenadora do processo, como explicarei numa

fase posterior do trabalho, já que esta dimensão merece mais atenção do que

as restantes, tendo em conta o seu papel no processo.

Esta compreensão do jogo assenta principalmente na consciência que

temos do nosso papel no jogo e das decisões que devemos tomar. Eleva-se o

papel do treinador e a importância do Modelo de Jogo e quão bem os

jogadores se enquadram no mesmo para o sucesso duma equipa.

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2.3.2.6. Modelo de Jogo

O principal foco deste trabalho é a criação e o desenvolvimento de um

Modelo de Jogo, tornando-se crucial ter uma compreensão total do mesmo. A

minha noção foi estabelecida pelos conhecimentos que absorvi durante o meu

percurso na FADEUP, tanto na Licenciatura como no Mestrado de Desporto

para Crianças e Jovens, ambos com a especialização em Futebol.

Só consegui compreender e assimilar os conceitos que me foram

transmitidos quando me deparei com problemas reais durante a prática do meu

trabalho. Nos quatro anos enquanto treinador tentei ao máximo procurar esses

problemas, querendo com isto dizer que tentei assumir todas as

responsabilidades que me foram entregues, procurando problemas para me

obrigar a refletir e encontrar as soluções mais adequadas.

Acredito ser o mais importante nesta fase do meu percurso. Ter ideias,

problemas e arranjar soluções. Aquilo que podemos chamar o treino do

treinador. Para isso é preciso assumir responsabilidades para termos liberdade

de obter os nossos sucessos e cometer os nossos erros, aprendendo a partir

deles.

Como já referimos, entendo o futebol como um evento caótico por

natureza. Cabe-nos tentar criar ordem a partir da desordem, tentando

estabelecer um funcionamento complexo do nosso modo de jogar.

“Na aparência simples de um jogo de Futebol esconde-se um fenómeno

que assenta numa lógica complexa, decorrente da elevada imprevisibilidade e

aleatoriedade dos factos do jogo (…)” (Garganta, 1997, p. 124).

Trata-se de um evento competitivo coletivo suscetível a uma quantidade

inumerável de variáveis que o tornam por natureza aleatório. A obrigação de

um treinador é, através da modelação tática, tentar estabelecer alguma ordem

a partir desta desordem.

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O estudo de um treinador passa, em grande parte, por observar e

absorver padrões neste “caos”. Analisando os comportamentos e

intencionalidades começamos a conceber uma rede de ações que representam

a identidade de cada equipa. É muito importante conceber uma estrutura que

respeite as características de todos os jogadores e relações entre os mesmos.

O que é a tática? (Garganta, 1997, p. 30) explica-nos da seguinte forma:

“(…), sendo atualmente conotado como a gestão inteligente do comportamento

face a situações que impliquem conflitualidade de interesses, ou concorrência

de objetivos, de que o desporto é uma das expressões mais representativas.”.

Entendemos então a tática como o meio ou método que estabelecemos

para atingir um fim. Se considerarmos os princípios mais fundamentais do jogo,

o nosso fim passa por ganhar, ou seja, marcar golos e evitar que marquem

golos na nossa baliza. A tática traduz-se na definição de como vamos fazer

isso. “O que faz o jogo é a transformação da causalidade em casualidade, ou

seja, aproveitar o momento; e quem ensina a aproveitar o momento são a

estratégia e a táctica.” (Garganta, 2000, p. 1).

Esta não é uma tarefa fácil porque, como já referimos anteriormente, um

jogo de futebol desenrola-se perante o conflito de dois sistemas, o que envolve

extrema complexidade no seu desenvolvimento. Esta característica inerente a

um desporto coletivo exige a compreensão de todas as relações entre os seus

intervenientes. “As relações interdependentes de cada jogador são

condicionadas pelo contexto de jogo, fazendo que cada elemento constituinte

seja parte de uma organização colectiva que não pode ser compreendida pela

análise descontextualizada das diferentes partes que a compõe.” (Pivetti, 2012,

p. 75)

Sem a modelação tática estas relações seriam apenas relações

aleatórias aos contextos de jogo. Já que estamos dependentes das condições

do jogo, a nossa solução é definir princípios que permitam consciência e

controlo sobre os contextos de jogo. “(…), a maneira de modelar a totalidade

complexa característica a um padrão de jogo requerido pela equipa é

operacionalizar os diferentes princípios de jogo segundo os acontecimentos

evidenciados nas diferentes situações de confronto.” (Pivetti, 2012, p. 124).

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Cada jogador apresenta uma relação com o meio, com o adversário e

com a equipa. Estas relações são recíprocas em todos os sentidos: o jogador

depende do meio para tomar a sua decisão, contudo esta decisão vai afetar o

decorrer do jogo, tal como acontece com as decisões dos adversários e da

equipa.

Esta rede de relações entre os constituintes do jogo estabeleceria um

destino de jogo completamente imprevisível, se não fosse limitada pelos

princípios de jogo. De certa forma, estes princípios visam orientar o

comportamento dos jogadores de maneira a que seja previsível para os seus

colegas e imprevisível para o adversário.

O conteúdo e a lógica do jogo são representados pelas interações

definidas entre as dimensões. Esta complexidade implica que qualquer ação de

um elemento constituinte do jogo influencia a dinâmica geral do sistema.

Assim, a totalidade do jogo resulta das interações dos jogadores da mesma

equipa, como as relações de oposição. Este contexto coletivo faz com que o

jogo seja mais do que um somatório de acontecimentos (Silva, 2008).

O que é então o Modelo de Jogo e para que serve?

Trata-se de um conjunto de princípios, estabelecidos sobre uma matriz

conceptual que considere a totalidade do jogo, ajudando a equipa a agir e

reagir coerentemente aos contextos que defrontará, de maneira a atingir os

seus objetivos (Garganta, 1997).

Talvez por isso a coesão de uma equipa represente uma das

componentes mais importantes do futebol moderno, senão a mais importante.

Concepções de treino mais clássicas visavam a aquisição de habilidades

técnicas necessárias para o jogo e manutenção da ordem (Pivetti, 2012). Em

revés, na atualidade, muitos treinadores procuram ensinar os jogadores a gerir

a desordem de maneira ótima (Pivetti, 2012).

Desta forma, em vez de limitarmos as ações dos jogadores a sequências

preparadas em treino, procuramos estabelecer alguns limites na imensidão de

possibilidades que fazem parte do jogo, libertando, assim, a tomada de decisão

do jogador. Estes limites são os princípios de jogo, que devem ser

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estabelecidos mediante todas as escalas da equipa e em todos os momentos

de jogo, de modo a evidenciar uma identidade própria da equipa.

Apesar de se pretender que cada equipa tenha a sua identidade única, o

nosso desporto assenta em princípios que o caracterizam e devem ser comuns

entre todas as equipas. Podem ser categorizados em três tipos (Oliveira, 2004):

Princípios fundamentais;

Princípios específicos ou culturais;

Princípios relacionados com o Modelo de Jogo;

Os princípios fundamentais assentam na seguinte lógica: recusar

inferioridade numérica, evitar igualdade numérica e criar superioridade

numérica (Oliveira, 2004). Atentemos nestes princípios e na relação que tem

com o equilíbrio da nossa equipa e desequilíbrio do adversário.

Apesar de considerar a obtenção da superioridade numérica um

princípio fundamental do nosso jogo, uma das estratégias que gosto de usar

contraria, de certa forma, este princípio. É indiscutível que para manter o

equilíbrio da nossa equipa este aspeto é indispensável, tanto defensiva como

ofensivamente. Também entendo que é possível criar desequilíbrios no

adversário através da obtenção de superioridade numérica numa zona mais

avançada do campo, sem comprometer a nossa estabilidade. Contudo, sei

também reconhecer que os jogadores que treinei não têm capacidades nem

competrências táticas, técnicas, físicas ou psicológicas para o fazer, nem acho

possível que no espaço de um ano o consiga fazer.

Tendo em conta que nesta fase da minha carreira me foco mais nas

qualidades dos jogadores do que nas minhas ideias, como explicarei adiante,

aceitei a natureza dos meus jogadores, fato que fez dom que uma das nossas

maiores fontes de golo passasse pela busca de inferioridade numérica.

Um dos nossos jogadores mais influentes, que jogava na posição de

meio-campo mais perto do avançado, tinha a capacidade de proteger muito

bem a bola em drible. Decidi que nos momentos em que este jogador tinha

espaço para iniciar o drible seria um dos nossos momentos de aceleração. Era

consensual para os avançados que quando este movimento era iniciado iam

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ser criados desequilíbrios no adversário, visto que este jogador ia acabar por

atrair mais do que um jogador para o pressionar. Os nossos avançados deviam

neste momento procurar explorar o espaço criado nestes desequilíbrios (com

algumas exceções, como referirei posteriormente).

Considero a gestão espacial e numérica a principal preocupação de um

treinador e o principal foco do nosso processo de treino. Ainda assim, não

gosto de me prender à ideia de que devemos, em todos os casos do jogo

procurar a superioridade numérica, já a sua obtenção significa que teremos

inferioridade noutra zona, bem como o adversário. Acho que este princípio é

altamente definidor do nosso modo de jogar e permite ao treinador explorar a

sua criatividade na componente estratégica.

Para obter e aproveitar a gestão numérica temos de ter bem

estabelecidos os princípios específicos ou culturais, que estão divididos em

princípios ofensivos e defensivos (Queiroz, 1989 citado por Oliveira, 2004).

Os princípios ofensivos são:

Penetração – criar vantagem, espacial ou numérica, sobre o adversário,

para podermos atacar a baliza ou o adversário;

Cobertura ofensiva – apoiar o portador da bola e servir como primeiro

equilíbrio defensivo;

Mobilidade – ocupar os espaços de maneira inteligente, criando linhas

de passe para garantir a posse de bola e criar desequilíbrios na

estrutura adversária;

Espaço – saber ocupar o espaço de maneira a aumentar amplitude do

ataque.

A nível defensivo temos:

Contenção – condicionar o portador da bola de maneira a que o

adversário não consiga atingir os seus objetivos;

Cobertura defensiva – apoio à contenção, ajustado à baliza, zona do

campo e posicionamento adversário;

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Equilíbrio – garantir a cobertura dos espaços, linhas de passe e

jogadores livres;

Concentração – retirar amplitude ao bloco adversário.

Estes princípios devem ser comuns em qualquer equipa, já que sem os

mesmos não conseguimos reunir as condições necessárias para atingir os

nossos objetivos.

Com o propósito a que cada equipa funcione de maneira única, de

acordo com os seus recursos humanos, temos os princípios relacionados com

o Modelo de Jogo, que são específicos a cada equipa e podem ser

diferenciados em três tipos: grandes princípios, subprincípios e subprincípios

dos subprincípios.

Os grandes princípios devem ser definidos mediante o momento de jogo

e devem ser comuns a toda a equipa. O nosso objetivo, a nível ofensivo será

sempre marcar golo. Podemos fazer isso de várias maneiras, como atacar o

espaço nas costas da defesa rapidamente com o propósito de aproveitar o erro

adversário ou mantendo e circulando a posse de bola para criar desequilíbrios

e espaços para explorar de forma mais lenta. Estes princípios devem ser

entendidos e aplicados pelo coletivo da equipa como um meio comum entre

todos para a tingir um fim, também comum, de modo a que o processo seja

coerente.

Os subprincípios visam definir critérios que devem ser seguidos para

que o grande princípio seja cumprido. Se definirmos como grande princípio da

nossa organização defensiva pressionar com o objetivo de ganhar a bola

rapidamente forçando o erro adversário, alguns subprincípios poderão ser a

aproximação rápida aos adversários ou a subida do bloco para encurtar

espaços.

Os subprincípios dos subprincípios são pormenores individuais que os

jogadores dão aos subprincípios, de maneira a dar “imprevisibilidade à

previsibilidade”.

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A equipa deve funcionar coerentemente em todos os momentos de jogo,

e devem estabelecer um Modelo de jogo que seja, como nos explica Carlo

Ancelotti (2013):

Equilibrado – deve garantir solidez defensiva em todas as fases do jogo;

Elástico – capaz de se adaptar às diferentes exigências e disposições

táticas dos adversários;

Racional – inteligente no ponto de vista em que exalta as qualidades dos

jogadores e esconda os seus defeitos;

Estes princípios devem ser estabelecidos perante um Matriz Conceptual,

de maneira a que possamos ter consciência das situações de jogo e tomar as

nossas decisões mediante o princípio definido, para cada contexto.

No meu caso é a Matriz Conceptual que me foi ensinada dentro da

Metodologia da Periodização Tática. De modo a compreender o jogo e o

contexto em que cada momento o jogador está inserido, é preciso saber

categorizar estes contexto ao pormenor, e estabelecer uma compreensão

comum entre toda a equipa.

Em primeiro lugar, acho que é importante compreender o “modus

operandi” desta metodologia, e a maneira como esta aborda as dimensões do

jogo. Como já referimos anteriormente, o futebol baseia-se em quatro

dimensões: Técnica, Tática, Física e Psicológica.

Esta metodologia tem um entendimento diferente acerca desta

categorização. A Tática é mais complexa, e manifesta-se pela interação

treinada de todas as dimensões. Desta forma, surge na Periodização Tática

como a dimensão coordenadora do processo.

Um dos objetivos desta metodologia é a construção de uma identidade

para a nossa equipa. Pretendemos definir, dentro dos possíveis, o decorrer do

jogo, de acordo com os nossos interesses. Esta identidade é estabelecida pelo

Modelo de Jogo que definimos, que por sua vez, se trata de princípios de jogo

definidos em diferentes momentos e escalas.

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Considero que a construção de um Modelo de Jogo deve começar no

momento em que nos encontramos mais vezes em campo, que para mim tem

sido a organização ofensiva e, por isso, começarei por aí.

Neste momento, a minha equipa tem a posse da bola, e todos os

jogadores encontram-se na posição em querem estar, prontos a criar

desequilíbrio ao adversário. Procuro que no início deste momento a bola esteja

num jogador recuado e na zona central do campo, sem pressão, com todos os

colegas de frente para este. A partir daí a equipa deve procurar desequilibrar a

organização adversária através de um conjunto de dinâmicas que criem

superioridade numérica em zonas mais avançadas do campo,

preferencialmente em condições de marcar golo. É também um requisito para

este momento de jogo a segurança defensiva caso a equipa perca a bola.

Tendo em conta que um Modelo de Jogo deve ser vivo e dinâmico

(Ancelotti, 2013), só é normal que caso a equipa perca a bola os jogadores

estejam longe da zona que devem defender. Durante esta época, as estruturas

posicionais defensiva e ofensiva eram diferentes, o que obrigava os jogadores

a recuperarem a sua posição rapidamente após a perda da bola.

Este é o momento que eu considero como transição defensiva. A equipa

deve procurar reorganizar a sua defesa de maneira a cobrir os espaços que

representam ameaça para a sua baliza, o mesmo não significa que todos os

jogadores devam recuar imediatamente. O comportamento coletivo do

Barcelona quando perde a posse da bola é o exemplo que costumo dar aos

meus jogadores para explicar o que entendo por transição defensiva. Visto que

esta é uma equipa que quer constantemente ter a bola, consideram mais

importante cobrir os espaços mais avançados no campo, para não deixar a

equipa ter a bola.

A partir do momento em que todos os espaços que pretendemos cobrir

estão seguros, entramos em organização defensiva. No momento em que

ganhamos a bola entramos automaticamente em transição ofensiva.

Estes momentos não acontecem de forma cíclica nem têm o mesmo

tempo dependendo, sempre, dos Modelos de Jogo de ambas as equipas. Um

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jogo de Futebol é determinado pelo Modelo de Jogo das duas equipas e da

componente aleatória inerente a si mesmo (como qualquer desporto coletivo).

A adaptação do Modelo aos adversários está relacionada com a

componente estratégica. De modo a podermos derrotar um adversário em

específico temos de compreendê-lo como único, com a sua própria identidade.

Temos de encontrar o que está escondido e esconder o que quer que seja

evidenciado. “Conhece teu inimigo e conhece-te a ti mesmo; se tiveres cem

combates a travar, cem vezes serás vitorioso. Se ignoras teu inimigo e

conheces a ti mesmo, tuas chances de perder e de ganhar serão idênticas. Se

ignoras ao mesmo tempo teu inimigo e a ti mesmo, só contarás teus combates

por tuas derrotas.” (Tzu, 1913, p. 23).

Frequantemente me debruço sobre a questão, a propósito da modelação

tática, de esta dever ser criada em função das ideias do treinador, ou sobre as

características dos jogadores.

A Periodização Tática visa a criação de um Modelo de Jogo segundo as

ideias do treinador e operacionaliza o treino como um processo de

aprendizagem das ideias do treinador, ou princípios de jogo.

A meu ver, este processo nunca é começado do zero. Devemos tentar

encontrar o funcionamento natural da equipa e realizar pequenos ajustes de

modo a garantir todas as especificações referidas anteriormente. O Modelo

será sempre composto por ambas as vertentes.

A questão coloca-se então sobre qual deve predominar na identidade do

Modelo de Jogo.

Segundo a ideologia da Periodização Tática, o meu trabalho enquanto

treinador basear-se-ia nas minhas ideias. Durante a presente época incorri num

erro que espero não cometer novamente: considerar que um Modelo de Jogo

tem de ser simétrico. O Modelo que estabeleci no início da época visava

funções idênticas em duas posições do meio-campo (principalmente a nível

defensivo), contudo, os jogadores que jogavam nestas posições apresentavam

características completamente diferentes. Fiquei obcecado com os princípios

que estabeleci, tentando orientar certos jogadores para comportamentos que

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não lhes são naturais. Naturalmente um jogador não pode agir da forma que

melhor entender, da mesma maneira que o treinador também não pode pedir

ao jogador que se comporte dum modo completamente diferente do que fez

toda a sua vida.

As minhas ideias visavam um Modelo completamente simétrico em que

um ataque do lado esquerdo seria exatamente igual a um ataque do lado

direito, e que os dois médios à frente da defesa se comportariam de igual

forma, ignorando as características individuais de alguns jogadores.

Percebi que a análise do plantel à nossa disposição é um passo

fundamental na criação de um Modelo de Jogo. Não falo de uma análise

acerca das características individuais dos jogadores como a capacidade de

fazer um passe ou um remate, mas sim das características que tornam cada

jogador único. O que faz cada jogador especial. O resultado da formação de

um jogador é em grande parte estabelecido pelo que este gosta de fazer. Isto

porque um jogador que goste de Futebol vai passar mais tempo a treinar

(inconscientemente) fora do campo do que durante o horário de treino. Este

“treino” é o que define um jogador, o que normalmente se denomina de

“Futebol de Rua”, cuja falta do mesmo tem sido apontada como uma das

grandes falhas na formação dos atletas atualmente.

Agora entendo que uma das características mais importantes de um

treinador é o conhecimento que tem dos seus jogadores e a coordenação entre

as suas ideias e as características dos jogadores. Saber o que torna cada

jogador único permite-nos estabelecer os sub dos subprincípios que conferem

imprevisibilidade à previsibilidade.

O treinador deve ter as suas convicções futebolísticas, contudo, estas

nunca devem ser dissociadas das características dos jogadores que tem à sua

disposição.

Outro problema com que me deparei esta época, e infelizmente só na

reta final pude compreende-lo, pretende-se pelo fato da alta rotatividade,

enquanto princípio chave na nossa gestão do plantel, ser um entrave à gestão

tática do mesmo. Dos cinco jogadores que tínhamos para desempenhar os dois

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papeis de defesa lateral, quatro tinham preferência para surgir encostados à

linha no último terço do campo, enquanto que um preferia surgir numa zona

central. Dos cinco extremos, quatro preferiam entrar em drible para dentro e

apenas um ficava encostado à linha.

Perdemos muitos lances no último terço do campo porque eram poucas

as duplas que tinham as dinâmicas bem preparadas. Durante a análise desta

situação deparei-me com um fato curioso: as duplas que tinham mais sucesso

nestas situações específicas no último terço do campo, no corredor lateral, não

eram as que treinavam mais vezes este contexto, mas sim os que tinham

preferências coerentes. Segundo a cultura do clube, o defesa lateral deve abrir

e o extremo fechar sempre que se encontrem numa situação destas e,

inicialmente, preparava os meus treinos para desenvolver esta interação. No

entanto, os lances em que criávamos mais perigo eram os lances em que o

nosso único defesa lateral que preferia progredir para zonas mais centrais do

campo tinha o único extremo que preferia abrir no último terço a jogar à sua

frente. Com isto percebi que as ações preferidas dos jogadores são um fator

importantíssimo a ter em consideração na criação de um Modelo de Jogo, para

além das suas capacidades.

Percebo, agora, que tinha uma noção errada da construção tática de

uma equipa. Visualizava as funções de cada posição consoante algumas

(poucas) informações que recolhia das características dos jogadores, dava

solidez defensiva e criatividade (que agora percebo não o ser) à equipa através

de instruções simples que se revelavam eficazes. Neste momento tenho uma

abordagem muito mais complexa que tem como princípio base as minhas

ideias, muito embora não esqueça as origens e vontades dos jogadores à

minha disposição.

Uma relação “saudável” entre as ideias do treinador e as capacidades e

características dos jogadores é um dos princípios mais importantes no

processo de criação de uma equipa. Esta relação desenvolve-se sob um

contexto comum para ambos, em que se destaca a cultura do clube e da

competição.

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No início desta época foi definido, como já referi, aplicar alguns

princípios impostos pelo futebol sénior. Isto passa por jogar com um bloco

muito alto e pressionante. Eu chamei à atenção para o fato de ser difícil para

uma equipa que jogue com bloco muito alto ter sucesso numa divisão em que a

maior parte dos jogadores são fortes em lances fortuitos de bolas lançadas nas

costas do defesa, contudo, os meus conselhos não foram ouvidos e o início da

época foi bastante atribulado.

O Modelo de Jogo deve ser criado mediante vários parâmetros, dos

quais, no meu ponto de vista, se destacam quatro: a cultura do clube, a

competição em que a equipa está inserida, as características dos jogadores e

as convicções táticas dos treinadores.

Considero a cultura do clube e da competição algo intemporal, ou que se

desenvolve a longo prazo, e às quais nos devemos ajustar, já que nos

enquadramos neste contexto.

Durante as épocas em que trabalhei no contexto em que estou

atualmente inserido (e o único que conheço) consegui tirar algumas conclusões

acerca da sua cultura: são poucos os clubes que têm uma identidade bem

definida e sabem o que procuram no jogo (uma característica que a meu ver

representa um dos grandes problemas das divisões distritais) e podemos

considerar o ataque rápido o método de jogo dominante.

Supostamente, deveria enquadrar num clube com uma identidade, que

me saiba dizer: aqui, queremos que jogues desta forma. Contudo, parece-me

que a cada ano, os jogadores devem ingressar num projeto completamente

diferente do ano anterior, tornando-os capazes de jogar de várias formas, mas

nenhuma a nível elevado.

Isto leva-me a pensar que criar um Modelo de Jogo em função das

ideias de um treinador pode ser prejudicial para o desenvolvimento dos

jogadores, embora reconheça que tal não acontece em níveis mais elevados.

Vemos, hoje em dia, jogadores de alto rendimento a praticar tipos de futebol

diferentes com taxas de sucesso semelhantes. Desta forma, poderei imputar

responsabilidades aos clubes de contexto distrital por perpetuarem um sistema

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(no qual estou inserido) marcado pela falta de estruturação de um projeto a

longo prazo e que vise trabalhos diferentes dentro de uma cultura idêntica.

Não pretendo com isto dizer que o modelo não deva ser criado

consoante as ideias do treinador. Considero-me um treinador em formação.

Apesar de pretender aprender constantemente ao longo da minha carreira,

considero que esta definição é mais do que adequada pois ainda estou longe

de ter as capacidades necessárias para orientar uma equipa de alto nível.

Como tal, estou bastante interessado em amplificar as minhas ideias sobre o

jogo, abrindo-me completamente às capacidades demonstradas pelos meus

jogadores nesta fase inicial da minha carreira para construir o modelo da

equipa.

Sinto que desta forma posso conhecer e absorver todas as conceções

de jogo dos meus jogadores e explorar as que me pareçam mais adequadas no

contexto em que estou inserido. Assim, se treinar uma equipa que esteja

mecanizada em movimentos rápidos no ataque tentarei explorar essa

característica, mas orientar uma equipa que goste de construir o jogo

lentamente procurarei que a equipa melhore neste ponto.

Concluo, pois, que nesta fase da minha carreira modelo o jogo mediante

as características dos jogadores. Reconheço quando me dizem que desta

forma não desenvolverei suficientemente a minha capacidade de modelar o

jogo mediante o meu estilo, mas perspetivo a minha formação como uma

criança que, querendo começar a praticar desporto, deva experimentar vários

tipos para saber qual prefere. Assim, apresento-me para o mundo do futebol

como treinador nesta perspetiva sem esquecer que quero experimentar vários

tipos de futebol para saber de qual mais gosto.

Mais tarde, quando tiver já uma melhor ideia do que gosto e do que faço

bem, talvez possa estabelecer a minha identidade enquanto treinador e

procurar que os jogadores se enquadrem no meu estilo de jogo. Neste

momento não me parece, por falta de bases, ser possível fazê-lo durante

apenas um ano.

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Na presente época o projeto foi, em parte, criado por mim e pelo meu

colega enquanto coordenadores das equipas de formação, e em que o nosso

principal objetivo passava por uniformizar uma forma de jogar comum a todo o

clube. Como tal decidimos, em conjunto com a direção, que seria praticado um

futebol de posse muito pressionante.

Enquanto treinadores da equipa sub-19 submetemo-nos a este tipo de

jogo de maneira a cumprir os nossos objetivos. A meio da época a equipa

técnica do plantel sénior foi alterada, bem como algumas ideias de jogo.

Foi nesta fase, altura em que assumi o cargo de treinador principal, que

alteramos o nosso modelo de jogo mediante as minhas ideias de jogo e que,

por sua vez, passam por potenciar as características dos meus jogadores.

Como exposto anteriormente, quando olhei para a equipa nesta fase

conclui que havia problemas quando tentávamos desequilibrar o adversário. O

que fiz foi abordar os avançados para saber porque é que não conseguiam

marcar golos. O que me disseram é que sempre jogaram com muito mais

espaço e gostavam de aproveitar a velocidade para explorar as costas da

defesa. Contudo, eu sei que grande parte dos jogadores dos setores mais

recuados do campo gostam de ter a bola e construir o jogo lentamente.

Tendo em conta que o meu objetivo é tentar satisfazer as

potencialidades e preferências dos meus jogadores, tentei fazer com que todos

tivessem o que queriam dividindo a equipa em dois estilos de jogo. Numa fase

inicial tentamos manter a posse de bola no nosso meio-campo, tentando atrair

o bloco adversário e diminuindo o espaço no nosso meio-campo para criar

espaço no do adversário.

Para evitar perder a posse de bola englobávamos todos os jogadores

neste processo. Numa fase em que encontrássemos espaço para explorar nas

costas da defesa organizávamos o ataque com um passe longo e quatro

jogadores envolvidos no ataque rápido.

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2.3.2.7. Treino

Apesar de, nesta fase, o meu método de modelação de jogo não estar

de acordo com a Periodização Tática, visto que dou prioridade às

características dos jogadores, aplico as suas ideias no que toca ao processo de

treino.

A metodologia que aplico percebe o treino de maneira um pouco

diferente. Procuramos, prioritariamente, orientar a tomada de decisão dos

jogadores de maneira a desenvolver as ligações da unidade da equipa. Trata-

se de um processo de ensino-aprendizagem que visa a aplicação das

convicções táticas do treinador, de modo a criar um entendimento coletivo do

que deve ser o jogo mediante os objetivos da equipa. O desenvolvimento das

restantes dimensões está dependente da maneira como pretendemos definir o

jogo.

De acordo com o supracitado, o contexto em que estive este ano

inserido apresentava algumas limitações no que toca à modelação do nosso

jogo. Em termos teóricos cada clube tem a sua identidade e que é

representada por todas as equipas que o integram. Tal não acontecia no CF S.

Félix da Marinha. Ainda assim, quando fui convidado para este cargo, defini

como principal objetivo unificar o modo de jogar entre as diferentes equipas -

um processo que demoraria muitos anos a concretizar.

De modo a atingir este objetivo muitas reuniões foram feitas entre a

equipa técnica do plantel sénior e os coordenadores das equipas de formação,

no sentido de encontrar um modo de jogar aceitável entre todas as equipas. A

visão da direção, que era defendida pela equipa técnica do plantel sénior

contratada no início da época e, posteriormente a um período de adaptação,

defendida por todo o clube, visava um futebol pressionante de construção

lenta.

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O processo de treino adotado no clube vai ao encontro desta

metodologia. O objetivo do treino é fazer emergir uma identidade própria e

potenciar as habilidades requisitadas no jogo, cujo decorrer é influenciado por

esta mesma identidade. Tentamos, dentro dos possíveis, adaptar-nos ao jogo e

orientá-lo para um contexto em que estejamos confortáveis.

A Periodização Tática visa, mediante os problemas com que os

jogadores se defrontam no jogo, a construção de conhecimento e tomada de

decisão, o conjunto de princípios que chamamos modelo de jogo, sobre os

contextos táticos específicos providenciados no jogo (Pivetti, 2012).

Procuramos então no treino, através de exercícios base, que chamamos

jogos reduzidos, providenciar aos jogadores contextos idênticos aos que

esperamos encontrar em jogo, e orientar os jogadores para decisões que

sejam favoráveis à equipa, sem retirar a liberdade dos mesmos.

Considera-se que o Futebol é constituído por quatro dimensões: tática,

técnica, física e psicológica, contudo, a metodologia utilizada vê a primeira

dimensão de forma diferente. A tática é considerada uma dimensão mais

complexa, manifestada pela organização entre as restantes dimensões

(também complexas, mas não tanto como a tática). Assim, a tática é

considerada a dimensão coordenadora de todo o processo.

As restantes dimensões devem então ser trabalhadas mediante a

modelação tática da equipa. Se no nosso modelo está definido que o avançado

centro deve servir maioritariamente como um apoio de costas para a baliza,

interessa-nos trabalhar na dimensão técnica elementos concordantes com as

necessidades do jogo, como a proteção da bola com o corpo, primeiro toque e

receção orientada para remate, por exemplo.

Na dimensão física devemos trabalhar força, equilíbrio e aceleração na

direção oposta. Também teríamos preocupações na dimensão psicológica, já

que o jogador teria estar bastante concentrado e paciente. Para além de

potenciar estas habilidades é também muito importante orientar a tomada de

decisão de jogador para que este se encontre nestas situações em jogo,

procurando espaço entre a defesa e o meio-campo e a linha defensiva em vez

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de explorar o espaço nas costas da defesa. Os elementos que referi são

apenas aspetos individuais. De modo a que estes contextos surjam em jogo,

temos de fazer emergir, através do treino, uma identidade para a equipa que

esteja de acordo com auilo que procura.

Suponhamos que no nosso modelo de jogo temos definido que os

nossos defesas laterais não devem participar nas situações ofensivas no último

terço, contudo, pretendemos que o extremo apoie defensivamente o defesa

lateral no primeiro terço. O tempo que dedicaríamos a trabalhar a relação entre

o defesa lateral e o extremo teria objetivos defensivos.

O processo de treino deve considerar esta necessidade de

desenvolvimento das habilidades em todas as dimensões, momentos e escalas

de jogo.

Sustentada em diferentes áreas do conhecimento, a Periodização Tática

é uma metodologia utilizada por diferentes equipas de distintos níveis de

desempenho e de todos os escalões etários.

De maneira a conseguirmos preparar uma época de acordo com esta

metodologia existem alguns conceitos que devemos absorver.

Como narrado anteriormente, a aquisição dos princípios de jogo é um

processo complexo a longo prazo e a sua estruturação é feita a partir de uma

Matriz Conceptual. Segundo a Periodização Tática, esta matriz articula esta

aquisição com os diferentes Momentos de Jogo e com as Escalas da equipa, já

explicados anteriormente.

Procuramos que os exercícios de treino proporcionem uma repetição

sistemática dos princípios e subprincípios representados do nosso Modelo de

Jogo, por isso todo o treino deve ser modelado à volta destes.

Tradicionalmente uma época divide-se em três estruturas: Macrociclo,

Mesociclo e Microciclo, contudo, para a Periodização Tática divide-se em duas:

Macroestrutura, uma época desportiva, e Microestrutura ou Morfociclo, espaço

temporal entre dois jogos. O termo Morfociclo Padrão é uma nomenclatura

específica da Periodização Tática e representa uma semana de treino que visa

a preparação da equipa para o jogo a decorrer tendo em conta as conclusões

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tiradas do jogo anterior, funcionando dentro da lógica de feedback de que a

partir do treino construímos o jogo, e a partir do mesmo tiramos as conclusões

de como estruturar o treino (Tamarit, 2013).

Este é um aspeto fundamental da metodologia. Reconhecemos que o

Futebol, felizmente, é um Desporto demasiado complexo para ser previsto, o

que torna impossível planificar uma época inteira antes de esta sequer ter

começado. A observação semanal da nossa equipa é muito importante para o

desenvolvimento da mesma. Deve ser criado um plano a longo prazo dos

treinos da equipa, contudo, este plano deve ser passível a alterações, mediante

as conclusões tiradas da observação feita ao resumo do nosso trabalho

semanal (o jogo). Só desta forma, é possível acompanhar e orientar o

desenvolvimento individual e coletivo da equipa no sentido pretendido.

Apesar da estruturação dos ciclos de treino serem semanais, há uma

organização a longo prazo que visa a conjugação entre jogadores e princípios

a fim de definir uma cultura de jogo, que é dependente do que a equipa

demonstra durante a semana. É por isso que utilizamos a nomenclatura

morfociclo, já que a expressão é diversificada, porém, com alguns padrões

identificadores de forma (morfo) que se perpetuam sob uma organização não

linear (ciclo) (Pivetti, 2012).

A organização cíclica do morfociclo modela-se em torno das conclusões

tiradas após análise do jogo efetuado e toda a semana deve ser estruturada de

forma a que os jogadores apresentem a melhor forma possível para este dia. O

processo que aplicamos tem como premissa de que após esforços de máxima

exigência no jogo, a equipa só se encontra pronta para efetuar tais esforços

quatro dias depois.

Uma maneira de entender e organizar a estrutura de um morfociclo é

organizar os diferentes dias de treino por cores, como me foi ensinado na

faculdade. O dia de jogo é representado por um verde que aglomera todas as

cores do morfociclo, ilustrando a aquisição de todos os princípios trabalhados

durante a semana.

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Atendendo às evidências empíricas bioenergéticas em que a

Periodização Tática se baseia, temos apenas três dias para trabalhar a

aquisição dos princípios com alta exigência física e psicológica (sem nunca

comprometer a forma dos jogadores para o dia de jogo). Consideramos estes

os dias de operacionalização aquisitiva.

A operacionalização aquisitiva está dividida em três tipos de esforços a

que chamamos subdinâmicas: tensão de contração, duração de contração e

velocidade de contração. Destes esforços, o que mais se assemelha ao jogo é

a duração de contração, e por isso deve ser trabalhada a meio da semana,

quando os jogadores recuperaram durante quatro dias, em que trabalhamos os

grandes princípios. Os subprincípios e subprincípios dos subprincípios devem

ser trabalhados nos dias imediatamente antes e depois, estando os exercícios

do dia antes mais relacionados com elevada tensão muscular e os dias depois

alto grau de velocidade (Tamarit, 2013).

A nossa semana fica então estruturada segundo ilustrado na Figura 1.

Domingo Segunda-

Feira

Terça-Feira Quarta-

Feira

Quinta-

Feira

Sexta-Feira Sábado Domingo

Jogo Folga Recuperação

Ativa

Tensão de

Contração

Duração

de

Contração

Velocidade

de

Contração

Recuperação

Ativa e Pré-

Ativação

Jogo

Figura 1 – Morfociclo padrão

A ideia é que o somatório de todas as cores culmine na cor do dia de

jogo. A cor que mais se assemelha à do dia de jogo é a de quinta-feira (neste

caso).

A questão do dia de folga é uma discussão ainda em aberto e deve em

todos os casos ser adequada às circunstâncias de trabalho, podendo ser

estabelecido no dia antes, ou depois do jogo.

No primeiro dia de treinos (terça-feira) os jogadores encontram-se ainda

em processo de recuperação em relação ao jogo passado. O nosso objetivo

neste dia deve ser ajudar os jogadores a faze-lo em especificidade. Devemos,

por isso, definir para este dia exercícios em que a tomada de decisão seja mais

simples, mas sempre coerentes com a dinâmica do modelo de jogo.

Aproveitamos para trabalhar os nossos subprincípios e subprincípios dos

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subprincípios a nível individual, grupal, setorial e intersetorial com exercícios de

complexidade reduzida (Tamarit, 2013).

Sendo o objetivo principal recuperar os jogadores, os exercícios

efetuados não devem representar um elevado nível de qualquer uma das três

subdinâmicas, tendo um carácter descontínuo em que os tempos de execução

são mais pequenos e os de recuperação maiores (Tamarit, 2013).

O treino de quarta-feira representa o primeiro dia de operacionalização

aquisitiva. A subdinâmica associada a este dia é a tensão de contração. Os

exercícios devem por isso ter muitas mudanças de velocidade e direção, saltos,

quedas, bolas divididas e outro tipo de situação que exijam força e variação

entre contrações concêntricas e excêntricas. Para proporcionar este contexto

devemos proporcionar aos jogadores exercícios em espaços curtos, com

poucos jogadores e também baixo tempo de execução para que a intensidade

possa ser sempre bastante elevada (Tamarit, 2013).

Os princípios que modelam os exercícios deste dia devem ser os

subprincípios e os subprincípios dos subprincípios a nível individual, grupal,

setorial e intersetorial. Aproveitamos para trabalhar neste dia situações

específicas do jogo em que os jogadores se encontrem perto da bola e esta se

mova pouco, exigindo movimentações rápidas em espaços curtos (Tamarit,

2013).

Como já referi anteriormente, o treino de quinta-feira é o dia que se

assemelha mais ao dia de jogo, justificando o porquê de ser no meio da

semana, permitindo-nos segundo o princípio da alternância horizontal em

especificidade, o dia em que podemos induzir maior intensidade tática,

complexidade e volume (Pivetti, 2012).

Devemos tirar proveito deste dia para trabalhar os grandes princípios e a

organização coletiva da equipa nos diferentes momentos. Devemos tentar

proporcionar aos jogadores um contexto bastante aproximado do de jogo,

colocando algumas regras que proporcionem repetição sistemática de certos

contextos coletivos e intersetoriais. De modo a proporcionar maior

complexidade os espaços devem ser maiores, exigindo maior desgaste

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cognitivo. Os exercícios devem ser mais pautados e com maior tempo de

execução (Tamarit, 2013).

Na sexta-feira, devemos incidir em exercícios que permitam desenvolver

subprincípios e subprincípios dos subprincípios com situações que exijam

velocidade na tomada de decisão e execução dos nossos jogadores (Tamarit,

2013).

Os exercícios devem por isso ter alguns jogadores e um espaço

reduzido de maneira a que estes sejam capazes de encontram soluções

rápidas (Tamarit, 2013).

Tendo em conta que este dia antecede o dia anterior ao jogo, o desgaste

emocional inerente aos exercícios deve ser mais baixo do que nos dias

anteriores, por isso trabalhamos os princípios enunciados. O tempo de

execução deve ser pequeno e o tempo de repouso de acordo com os

objectivos pretendidos.

Por último, no sábado, voltamos a ter como maior preocupação a

recuperação dos jogadores, estruturando os nossos exercícios com baixa

intensidade e duração. O desgaste emocional também deve ser baixo, tendo

em conta que este dia antecede o jogo e a nossa maior preocupação deve ser

recuperar e pré-ativar os jogadores. Isto não significa que não possamos

trabalhar alguns princípios de jogo, desde que não comprometamos a forma

dos jogadores, podendo aproveitar para trabalhar aspetos mais estratégicos e

bolas paradas (Tamarit, 2013).

No meu clube disponho de quatro treinos entre jogos, sendo o primeiro e

o último de 1 hora e 30 min e os outros dois de 1 hora (à Segunda-feira, Terça-

Feira, Quarta-Feira e Sexta-Feira).

Normalmente, os nossos jogos são ao domingo, por isso eu deixo a

primeira hora do treino de segunda-feira para a recuperação ativa, sendo a

última meia hora e o treino de terça-feira para treinar tensão de contração. O

treino de quarta-feira é ocupado pela duração de contração e o de sexta-feira

pela velocidade de contração na primeira hora e recuperação e pré-ativação na

última meia hora.

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Capítulo III

Desenvolvimento da Prática

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3. Desenvolvimento da Prática

Pretende-se neste capítulo descrever o planeamento e execução do

projeto desenvolvido durante a presente época, bem como algumas reflexões

sobre o mesmo. Este capítulo está dividido em duas fases: uma que descreve

o trabalho efetuado enquanto treinador adjunto (dois primeiros subcapítulos), a

segunda reporta-se à minha atuação enquanto treinador principal (dois

subcapítulos finais).

Começarei pela conceptualização do projeto enquanto treinador adjunto

da equipa de sub-19. De modo a satisfazer os novos objetivos do clube, a

nossa tarefa passa por desenvolver um modelo de jogo de acordo com a

equipa técnica dos seniores, bem como preparar os jogadores para

enquadrarem as necessidades do seu plantel. O primeiro subcapítulo descreve

o planeamento da época inteira. Atendendo às alterações ocorridas, só

descreverei no subcapítulo seguinte o trabalho efetuado até à data de 15 de

Novembro de 2014. O período posterior a esta data será inteiramente tratado

no subcapítulo seguinte. Finalmente, concluirei com algumas considerações

acerca do trabalho efetuado.

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3.1. Conceção

3.1.1. Objetivos e expectativas iniciais

A proposta efetuada no final da época anterior inclui a ocupação de três

cargos: treinador principal de uma das equipas de formação (sub-13),

coordenador da formação e manter a função de treinador adjunto da equipa de

sub-19. Juntamente com o meu colega, enquanto coordenadores de todas as

equipas de formação definimos como principal objetivo para as equipas de

formação ter mais jogadores a atingir o futebol sénior dentro do clube. O meio

para atingir este objetivo seria criar uma identidade comum dentro do clube.

Enquanto treinadores da equipa mais próxima do escalão sénior, o nosso papel

torna-se crucial para apresentar os resultados a curto prazo do nosso projeto.

Quando digo curto prazo refiro-me ao espaço temporal de uma época.

Pretendíamos uniformizar os objetivos formativos, metodologias,

princípios de jogo e estratégias de ação nas equipas de formação, segundo as

metodologias e ideias concebidas pela equipa sénior. Desta maneira, visámos

conduzir a formação dos jovens do clube no sentido de construir um plantel

sénior com mais jogadores formados no clube.

Como treinadores da equipa mais próxima do fim da formação,

procurámos interagir constantemente com a equipa técnica do plantel sénior.

Tivemos várias reuniões em que nos foi explicado o seu Modelo de Jogo, para

que definíssemos os princípios que deveriam ser comuns nas equipas do

clube.

Os grandes princípios e sub-princípios que ficaram acordados para o

modelo de jogo base da formação foram as seguintes:

Praticar futebol de posse;

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Jogar com um bloco muito alto, largo e pressionante;

Predominância do passe curto;

Construir o jogo lentamente;

Ter um médio defensivo como principal construtor de jogo;

Definir dinâmicas de alta rotatividade no meio-campo;

Jogar com defesas laterais ofensivos;

Jogar com avançados interiores em vez de extremos;

Avançado centro joga a maior parte do tempo de costas para a baliza;

Sistema: 1-4-3-3;

Dinâmicas nos corredores laterais que implicam que os defesas laterais

defendam por dentro e ataquem por fora, e os avançados interiores o

inverso;

Coincidentemente, grande parte das ideias da equipa sénior eram

concordantes com as nossas, contudo, olhando ao contexto em que estamos

inseridos e aos jogadores que temos à nossa disposição, apresentámos alguns

aspetos que não achámos adequados ao nosso contexto.

A nossa primeira preocupação foi a colocação do bloco em

profundidade. A competição em que todas as equipas do clube estão inseridas

inclui muitas equipas que baseiam o seu ataque em passes longos e jogadores

rápidos na frente. Este tipo de jogo constitui um risco para equipas que jogam

com um bloco muito alto, representando uma ameaça demasiado frequente ao

nosso tipo de jogo. Apesar dos nossos avisos, a equipa técnica do plantel

sénior insistiu fortemente que aplicássemos este princípio na nossa equipa.

A nossa segunda preocupação foram as dinâmicas de alta rotatividade

no meio-campo, o que implicaria que todos os jogadores do nosso meio-campo

soubessem jogar nas três posições, e exigia dos mesmos alta mobilidade e

capacidade aeróbia, algo que o nosso plantel não conseguia corresponder.

Sugerimos o estabelecimento de um médio fixo mais defensivo, a trabalhar em

conjunto com dois médios com dinâmicas idênticas. A nossa sugestão foi

aceite e chegamos a um consenso rápido acerca dos princípios comuns a

definir entre o nosso escalão e o plantel sénior.

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O nosso objetivo para a época seria criar um modelo de jogo,

competitivo, que correspondesse aos interesses do plantel sénior, promovendo

os jogadores cujas competências lhes dão mais probabilidade de ingressar no

mesmo.

Tendo em conta o número de atletas que nos anos anteriores eram

promovidos ou treinavam com a equipa sénior, mais do que uma vez, era

baixo, decidimos definir para nós também expectativas baixas: ter um jogador a

jogar pelo menos uma vez durante a presente época no plantel sénior, ter 5

jogadores que a algum ponto da época treinaram durante mais de um mês com

a equipa sénior e três jogadores inscritos na época seguinte.

Os únicos objetivos competitivos definidos para esta época foram

melhorar as estatísticas da equipa de sub-19 do clube em anos anteriores,

procurando registar mais pontos, mais vitórias, mais golos marcados e menos

derrotas e golos sofridos.

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3.1.2. Análise do contexto

Como já referi anteriormente, a nossa equipa compete na 2ª Divisão

Distrital do Porto. Eu e os meus colegas fomos treinadores deste escalão

durante os dois anos anteriores, o que nos permitiu estabelecer algumas ideias

acerca da qualidade e características da maior parte das equipas a defrontar.

Na presente época, competimos contra doze equipas, dez das quais

defrontámos em épocas anteriores.

Existem algumas características que notei serem comuns em grande

parte das equipas da nossa divisão. Há um hábito de colocar jogadores mais

altos na posição de defesas centrais, jogadores mais fortes fisicamente no

meio-campo ou a avançado centro e jogadores mais rápidos no corredor

lateral. Poucos defesas centrais têm a capacidade de dar largura à sua equipa

no seu próprio meio-campo. Poucas equipas defendem à zona, sendo que

geralmente há um central de marcação e um líbero.

O Arcozelo é na maior parte das vezes candidato aos primeiros lugares

da nossa competição, bem como o Oliveira do Douro e o Serzedo. Estas

equipas demonstram um futebol muito semelhante, de posse e construção

lenta. Jogando em 1-4-3-3, o Arcozelo e o Serzedo normalmente destacam-se

pela existência de um médio defensivo de grande qualidade e o Oliveira do

Douro apresenta um médio atrás do avançado que também se destaca.

Noutra categoria posso colocar o Vilanovense e o Perosinho, duas

equipas que normalmente alcançam classificações superiores ao nosso clube

praticando um tipo de futebol diferente. O Vilanovense destaca-se por ter

extremos muito rápidos e centro campistas com muita qualidade no passe

longo, sendo que resolvem a maior parte das suas situações em ataque rápido.

Esta equipa também costuma disputar os lugares de promoção. Já o

Perosinho, apesar de ter o mesmo estilo de jogo destaca-se mais pela

qualidade dos seus defesas e eficácia nas bolas paradas.

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O Leverense é um caso à parte. Esta equipa não costuma ter

classificações superiores à da nossa equipa, contudo, beneficiam esta época

de jogadores de outro clube que não se inscreveu esta época.

As restantes equipas (Gervide, Gulpilhares, Pedroso e Canelas 2010)

competem normalmente pelos lugares mais abaixo na tabela, como o nosso

clube, praticando um futebol rápido à espera do erro do adversário.

Visto que nunca competi contra o Candal ou o Avintes no escalão sub-

19 não posso fazer uma caracterização do seu tipo de jogo.

Estas informações permitem-nos tirar algumas conclusões sobre grande

parte das equipas contra quem vamos jogar. A primeira é a já referida

preocupação de jogar com um bloco muito alto, quando mais de metade das

equipas da nossa divisão terem mais eficácia a jogar contra as equipas que

assumem este posicionamento.

Em segundo, parece-me lógico atacar com o propósito explorar espaços

reduzidos, já que a maior parte das equipas não estão treinadas para tirar

partido do mesmo, bem como um bloco pressionante, visto que grande parte

dos defesas têm dificuldade em acertar um passe quando pressionados.

Em terceiro, não me parece lógico procurar golos através de

cruzamentos pelo ar, já que os defesas centrais são normalmente bem

preparados para esse tipo de jogo.

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3.1.3. Equipa

O plantel com que terminámos o período pré-competitivo era composto

por vinte jogadores. Apenas dois destes eram esquerdinos, treze sub-19 e sete

sub-18. Para além disso, contamos ainda com a participação de três jogadores

do plantel sub-17.

A análise feita ao plantel foi efetuada durante a segunda fase da época

anterior e apenas sete jogadores integraram o plantel no início da presente

época. Quatro jogadores tiveram de abandonar a equipa durante a época por

motivos pessoais.

Ao analisar a qualidade e as características dos jogadores, concluímos

que alguns podiam ser benéficos para o Modelo noutras posições, por isso

abordámos a possibilidade de adaptar algumas posições. Todas as sugestões

foram bem aceites.

Passarei agora a uma descrição detalhada do plantel à nossa

disposição. Visto que não posso colocar os nomes dos jogadores definirei um

número e posição para cada uma deles que servirá para todas as referências

no trabalho:

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Guarda-Redes

GR1 – Jogador de segundo ano, que competiu connosco neste escalão

durante os dois anos anteriores, por isso é um guarda-redes experiente

tanto na competição como nas nossas metodologias e ideias de jogo.

Tem boas capacidades físicas, sendo que se destaca pela resistência,

salto e reflexos. Contudo, não tem as bases corretas no que toca à

colocação dos apoios, o que o dificulta a defesa de remates a longa

distância. Não tem medo de ter a bola nos pés, mas não se excede

muito, optando sempre pela decisão mais fácil. Tem bons reflexos, e sai

muito bem no 1vs1, mas não tem um comando de área muito bom,

causando alguns problemas nas bolas paradas. Tem um bom contributo

para o plantel a nível psicológico, promovendo um ambiente de

seriedade, responsabilidade e espírito de grupo. Por esse motivo foi

nomeado como um dos sub-capitães.

GR2 – Este guarda-redes é de primeiro ano e trabalha connosco pela

primeira vez. Do nosso ponto de vista, tem mais potencial e capacidade

que o GR1. É muito coordenado com os pés, tanto nas deslocações a

curta distância como com a bola nos pés, sendo muito útil na circulação.

Toma algumas decisões erradas no 1vs1, visto que tem tendência a

afastar-se demasiado da baliza. Tenho de reforçar a técnica fantástica

de pés deste guarda-redes, sendo que é capaz de fazer passes precisos

até ao meio-campo com os dois pés e até fintar um avançado.

GR3 – Por último, incluo também um guarda-redes do escalão de

juvenis que se juntou a nós durante alguns jogos. É seguro, não se

excedendo muito nas suas decisões. Defende muito bem bolas paradas.

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Defesas Centrais

DC1 – Este defesa não é um jogador que se destaque pelas

capacidades físicas ou técnicas, contudo, podemos contar com ele

graças aos teus atributos intelectuais. É muito alto e lento, tendo apenas

vantagem no jogo aéreo, comprometendo bastante em situações de

1vs1. Apesar de não ter uma técnica muito boa é muito inteligente

taticamente, conseguindo sempre arranjar espaço suficiente para

conseguir executar os elementos que lhe são requisitados durante a

posse de bola. Joga futebol há onze anos, todos no clube. Tem muito

pouca experiência de jogo, já que as suas características físicas sempre

o colocaram de lado nos planos de outros treinadores. É o segundo ano

que este jogador joga sob o nosso comando.

DC2 – Apesar não ser um jogador rápido, compensa com o seu ótimo

posicionamento e leitura de jogo. É muito forte na marcação, desarme e

antecipação e competente na circulação contudo, não tem a capacidade

de arriscar mais num passe. Não é muito alto contudo, quando está só

consegue colocar muito bem os cabeceamentos. É um defesa central

que no clube se chama “de marcação”, referenciando a típica distinção

entre este tipo de defesa central e o líbero. Isto quer dizer que é o

homem que marca o avançado quando a bola está longe e o primeiro

dos defesas centrais a sair na pressão. Joga futebol há nove anos, todos

no nosso clube e é a primeira época que trabalha connosco.

DC3 – Defesa central que apresenta características de líbero. Posiciona-

se na linha da defesa quando esta está subida e atrás da mesma

quando está recuada. É sempre o primeiro homem a recuar, tendo

grande aceleração e velocidade máxima, o que lhe permite fazer bem a

dobra sobre ambos os defesas laterais. Cabeceia e desarma muito bem.

Na circulação de bola é muito simples e clínico, com ações simples e

repetitivas executadas a uma velocidade mínima que não comprometa a

circulação, não correndo riscos. Ocasionalmente sobe em drible e lança

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um passe longo, nunca avançando do meio-campo. Este jogador fez

todos os seus seis anos de formação no clube e esta é a segunda época

que trabalha connosco. Este jogador só nos acompanhou até 7 de

Setembro de 2014, abandonando após a décima primeira jornada.

DC4 – Este jogador é um médio adaptado a defesa central. Posiciona-se

bem e gere bem a marcação do avançado com o outro defesa central.

Ofensivamente é muito produtivo para a circulação da bola, visto que é

rápido a receber, rodar e passar. Consegue fintar o avançado e tem um

passe e remate longo muito tenso com boa colocação. A sua

capacidade de decisão do jogo compromete um pouco a sua

performance e psicologicamente é muito fácil de desanimar. Cede na

circulação contra uma boa pressão coletiva e é bastante impaciente,

frustrando-se com facilidade. Este jogador foi formado no clube, estando

apenas três anos ausente do mesmo. Este é o segundo ano que

trabalha connosco. Só nos acompanhou até 19 de Outubro de 2014,

após a quinta jornada, voltando em Janeiro, para jogar meses depois.

DC5 – Defesa do escalão inferior, que se juntou a nós durante alguns

jogos. É muito baixo e rápido, mas muito astuto. Desarma muito bem e

não compromete na circulação.

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Defesas Laterais

DL1 – Defesa lateral com boas capacidades físicas e psicológicas. É

capaz de percorrer o corredor direito durante todo o jogo com muitas

iniciativas ofensivas. É mais inteligente do que a maior parte dos

adversários vencendo grande parte das situações de 1vs1, tanto

ofensiva como defensivamente. Não possui grandes capacidades

técnicas, tendo alguma dificuldade no passe e no cruzamento, contudo,

é muito astuto e inteligente taticamente. Não baseia a sua progressão

em drible e na qualidade técnica, mas sim na boa exploração de espaço.

É um jogador muito regular e aberto aos princípios definidos por nós.

Joga futebol há sete anos, todos no clube, e trabalha connosco pelo

segundo ano consecutivo. Apesar de já ter jogado como defesa direito e

esquerdo, é muito melhor quando joga do lado direito.

DL2 – Um dos poucos esquerdinos do nosso plantel, este jogador tem

características únicas. Tem um currículo fantástico, tendo já jogado em

dois clubes de primeira divisão, contudo, tem também as suas limitações

que o trouxeram novamente ao nosso nível. A sua capacidade técnica é

fenomenal, sendo capaz de fintar qualquer defesa do nosso

campeonato. O seu passe e remate curtos são muito precisos e é

também muito rápido. É muito inteligente e defende e ataca muito bem.

O seu único problema é o joelho esquerdo. O jogador sofreu uma lesão

que nunca foi bem tratada, o que causou problemas no jogador,

tornando-o incapaz de realizar esforços de grande força como rematar

ou cruzar. Este é o primeiro ano do jogador no clube.

DL3 – Este jogador ingressou na equipa para treinar e jogar numa

equipa de futebol pela primeira vez, todavia, sempre se mostrou muito

empenhado em aprender tudo o que precisava para executar as suas

funções. Visto que tem boa capacidade física, principalmente velocidade

e resistência, e uma técnica razoável, consideramos este jogador um

defesa lateral. Como o DL2, jogador preferido para a posição de defesa

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esquerdo era muitas vezes requisitado para jogar a avançado interior, o

DL3 tornou-se opção para defesa esquerdo, visto que tinha facilidade

em jogar com ambos os pés. Tem boa aceleração, que aproveita bem

para resolver situações de superioridade numérica e também cruza

bastante bem. Tem alguma dificuldade em princípios básicos defensivos

como a marcação e a manutenção da linha defensiva.

DL4 – Jogando tanto a lateral como a avançado interior, procura sempre

o corredor lateral. Tem boas capacidades físicas, nomeadamente a

velocidade e o equilíbrio, contudo, não possui muita qualidade técnica.

Sabe defender tão bem quanto atacar e os seus comportamentos são

muito idênticos nas quatro posições, sempre procurando o corredor

lateral para cruzar. É um jogador muito útil para jogar a avançado interior

contra equipas com laterais muito ofensivos, pois é muito competente a

acompanhá-los. É o seu quinto ano a jogar futebol, todos no clube, e

trabalha connosco pelo segundo ano consecutivo. É muito útil para jogos

em que tem participações simples com muito espaço, já que executa

bem o que lhe é pedido.

DL5 – Dotado em velocidade e técnica, este jogador é muito útil em

qualquer posição no corredor esquerdo e um dos poucos esquerdinos

da nossa equipa. Defensivamente, é muito aguerrido e tem grande

aceleração, dando sempre pouco espaço aos avançados adversários.

Tem boa finta, o que lhe permite progredir pelo campo sem grande

assistência e decide muito bem no último terço. A sua baixa estatura

permite-lhe driblar rapidamente por entre os adversários, no entanto,

como apresenta pouca força tem dificuldades em circunstâncias que o

adversário tem a bola e se apresenta na mesma direção dele. É o seu

quarto ano a jogar futebol, mas é o primeiro ano no clube.

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Médios

MC1 – Utilizado exclusivamente como médio defensivo, este jogador era

o cérebro da nossa equipa. Ele juntava-se à defesa para ver o jogo todo

e decide o lado do nosso ataque. Passa a fase defensiva do jogo à

frente da defesa, sempre perto do médio mais ofensivo da equipa

adversária e tem um desarme muito bom, particularmente quando o

adversário não se encontra de frente para ele. No processo ofensivo não

sobe muito e durante a presente época passava a maior parte do tempo

entre os defesas centrais para dar largura ao nosso jogo, subindo

apenas quando a bola ficava algum tempo perto da área adversária para

tentar aproveitar o seu forte remate. Não acho que tenha capacidade de

jogar noutra posição do meio-campo. Tem um passe excelente, tanto

curto como longo e também resolve muito bem situações em espaço

reduzido, o que o torna muito útil em momentos de transição ofensiva.

MC2 – À semelhança do MC1, joga normalmente numa zona mais

recuada do campo, contudo, a sua mobilidade permite-lhe explorar

melhor espaços mais adiantados do campo. A inteligência deste jogador

permitia-lhe em várias ocasiões encontrar espaço entre a nossa linha

defensiva e o ataque, momento este, em que aproveitava o seu pé

direito ou esquerdo para colocar passes rápidos e acelerar o jogo.

Apesar de fazer parte do escalão sub-17, tentamos usar este jogador

sempre que possível. É muito calmo, finta bem e consegue passar a

bola com muita qualidade com os dois pés.

DC4 – Este defesa, originalmente um médio chegou a fazer alguns

minutos na sua posição de origem, contudo, não respeitava muito bem a

sua colocação em momentos de organização ofensiva e transição

defensiva, por isso não era a nossa posição.

MC3 – É um jogador muito móvel e com boa leitura do jogo. Consegue

encontrar espaço em todas as zonas do campo e envolve-se muito no

jogo. Tem uma capacidade técnica enorme, conseguindo por si criar

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espaço através da finta. No nosso modelo, podemos contar com este

jogador para apoiar a defesa na circulação, criar superioridade numérica

nas linhas com os laterais e apoiar a equipa no último terço do campo se

o ataque não for concretizado rapidamente. Também tem rápida reação

à perda de bola dobrando qualquer jogador do meio-campo ou do

ataque. Tem a capacidade de explorar o espaço à frente da defesa e

rodar ficando com espaço e de frente para o jogo entre a defesa e os

avançados, sendo o protagonista da maior parte dos momentos de

aceleração do jogo.

MC4 – Originalmente é um “10”, contudo, quando se apresentou no

início da época mostrou intenções de melhorar as suas características

defensivas. É um jogador mais fixo, seguindo o mesmo posicionamento

que o MC3, entre a bola e o centro do campo, não se envolvendo tanto

no jogo. Procura espaço mais longe dos colegas e tenta resumir as suas

funções a dois ou três toques. Apesar de não ter a capacidade defensiva

do colega é mais rápido a encontrar espaço no último terço do campo.

No início da época cometemos um erro enorme. Em vez de olhar às

características dos jogadores consideramos demasiado a visão que tínhamos

do modelo de jogo, que passava por jogar com um “6” e dois “8”, ignorando por

completo situações de progressão pelo setor central do campo, em que os dois

“8” apoiavam apenas o corredor lateral. Procurávamos criar algo contra a

natureza que se revelou a nossa maior arma ofensiva durante a época. O

nosso “10” e melhor marcador da equipa: MC5.

MC5 – Inicialmente olhávamos para este jogador como um “8”, porque

dessa forma tínhamos um modelo de jogo idealizado, perfeitamente

simétrico e lógico, mas cedo percebi que o Futebol não é assim. O

nosso modelo mostrou durante o início da época ótimo a nível defensivo

e em parte a nível ofensivo. Eramos capazes de manter a posse de bola

e chegar ao último terço do campo, contudo não conseguíamos marcar

golos. Isto acontecia porque muitas vezes chegávamos a ter os dois

médios do mesmo lado a dar superioridade numérica nos corredores

laterais, mas ninguém do meio-campo a auxiliar o ataque. Percebemos

mais tarde que o nosso “8” consegue na maior parte das vezes apoiar

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na linha após o momento de aceleração, visto que circulávamos sempre

a bola antes de acelerar o jogo, não sendo necessário jogar com dois

jogadores com a mesma função, acabando por aceitar o funcionamento

do meio-campo com um “10”. É um médio muito ofensivo que participa

apenas no processo defensivo no último terço do campo. Apesar da sua

contribuição defensiva para o jogo ser mínima este jogador tem uma

capacidade enorme de desequilibrar a equipa adversária. Consegue

arranjar espaço entre a defesa e meio-campo adversários com ou sem

bola. A sua melhor habilidade é o drible. Com a bola nos pés, explora

espaço intuitivamente de uma maneira completamente imprevisível. Não

demonstra a sua habilidade através de toques habilidosos mas sim

através de acelerações e desacelerações, com muitos toques na bola

em espaços curtos ou longos. A decisão do momento, direção e

amplitude do movimento deste jogador com a bola é algo que que não

compreendo e fico feliz por tal acontecer. Para além disso tem um

remate forte e colocado, revelando-se no fim da época como o melhor

marcador da nossa equipa.

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Avançados

AI1 – Este jogador tinha alcunha de “ferrari”, visto que é muito rápido.

Tem boa capacidade técnica, beneficiando de boa finta e bom remate

para criar ocasiões de golo. Joga muito bem nas costas da defesa

adversária, mas não dá grande contributo ao nosso jogo. Tem alguma

dificuldade, como o resto do plantel, em finalizar quando está sozinho

contra o guarda-rede, contudo, encontra-se muitas vezes nestas

situações. Após algum tempo conseguimos habituar este jogador a

chegar à linha final e cruzar rasteiro, uma ligação que com o nosso

habitual avançado deu origem a muitos golos.

AI2 – Preferencialmente, usávamos este jogador como avançado

interior, contudo, conseguia executar bem todas as posições na frente

de ataque. É muito inteligente a pressionar e decide razoavelmente em

espaços curtos. É, contudo, pouco dotado fisicamente, apresentando-se

em desvantagem perante a maior parte dos adversários.

AI3 – Este avançado é também muito rápido, e com muitas iniciativas

ofensivas. Não tem, contudo grandes qualidades técnicas, partilhando

do mesmo problema que o AI1 contra o guarda-redes adversário. Tem,

no entanto, intuição para o golo e cabeceia relativamente bem.

AI4 – Jogador que entrou no plantel como novato no mundo do futebol.

Apesar de não ter nenhuma noção do que é o jogo e de não possuir

capacidades técnicas que o permitissem juntar ao plantel, o plantel

pediu para o mante, ao que nós concordamos. Tinha boas capacidades

físicas, o que o tornava útil em algumas situações.

AC1 – Por último, temos o nosso único avançado. É um jogador muito

forte e com grande capacidade de guardar a bola de costas para o

adversário. Não tem boas movimentações dentro da área, não obstante,

contribui bem para a posse, graças à sua simplicidade. Não é muito

rápido e não cabeceia muito bem, o que me obrigou a reduzir o seu

leque a duas ou três opções, em que se tornou especialista: a situação

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do cruzamento já referida com o AI1 e receber a bola na entrada da

área, rodar e chutar.

O reconhecimento destas capacidades e características permitiram-nos

fazer uma gestão do plantel que orientasse o processo de treino fosse

orientado para os princípios a trabalhar.

Atendendo à instabilidade do plantel, tentámos encontrar em cada

jogador as características requisitadas para duas funções, de maneira a termos

sempre duas opções, treinadas, para qualquer posição.

Assim, mesmo que num dia nos faltem todos os jogadores de uma

posição, temos a capacidade de adaptar as funções dos colegas para

salvaguardar que trabalhamos os princípios estabelecidos para a unidade de

treino.

Eu tenho por hábito usar jogadores fora da sua posição como estratégia

para adaptar o nosso jogo às características do nosso adversário, algo que fiz

muito enquanto treinador principal da equipa na segunda metade da época.

Estas adaptações devem ser previamente preparadas em treino.

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3.1.4. Modelo de Jogo

O modelo de jogo criado no início da época tinha como princípio base ter

a posse da bola. Esta cultura foi implementada pelo treinador da equipa sénior

contratado no início da época e visava a prática de um futebol de posse e

pressionante.

Pretendia-se que a equipa jogasse com um bloco muito alto e que

tentasse sempre ter a posse da bola, por isso de construção lenta.

Atendendo à elevada capacidade técnica e tática em espaços reduzidos

do nosso plantel sentimo-nos capazes de criar um modelo de encontro com as

intenções da direção do clube.

O nosso primeiro objetivo em termos ofensivos é garantir segurança na

posse de bola, sendo que no momento da sua recuperação no nosso meio-

campo devemos ter sempre pelo menos oito jogadores para garantir que temos

condições para organizar o nosso jogo lentamente. Posteriormente,

pretendemos que a equipa se envolva toda na construção do ataque, formando

uma linha defensiva com três homens na linha do meio-campo.

Defensivamente, procuramos pressionar a equipa adversária até ao

defesa mais recuado, libertando o guarda-redes adversário da pressão.

Procurámos garantir uma pressão alta através de uma boa ocupação de

espaços, defendo à zona e obrigando a equipa adversária a cometer erros.

Atendendo à capacidade aeróbia e técnica dos jogadores do nosso

meio-campo (à exceção do trinco), pretendemos que estes sejam muito móveis

e participativos no jogo, procurando apoiar a progressão pelos corredores

laterais, onde pretendemos atuar a maior parte de jogo.

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3.1.4.1. A organização estrutural adotada

A organização estrutural adotada pela nossa equipa é 1-4-3-3 (como

ilustrado na Figura 2). Não me sinto confortável em defini-lo deste modo,

porque apesar de as posições dos jogadores estarem definidas com um

guarda-redes, quatro defesas, três médios e três avançados, a nossa equipa

passa a maior parte do tempo em 1-3-4-3 (também ilustrado na Figura 2),

atendendo às dinâmicas implementadas, já que estas implicam que em

momentos de organização ofensiva, os defesas laterais subam no terreno e o

médio defensivo recue para a linha defensiva.

A maior parte do tempo que dedico a pensar no modo de jogar da

equipa reside no funcionamento do meio-campo e considero por isso que este

é o sector que dá vida e dinâmica à nossa equipa. Dediquei grande parte do

tempo a adaptar a equipa às características dos médios que jogam.

Figura 2 – Organização estrutural em organização defensiva (à esquerda) e em organização ofensiva (à direita)

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3.1.4.2. Momentos de Jogo

A minha prioridade durante a época foi sempre ajudar os jogadores a

entender em que contexto de jogo estão inseridos. Para isso, ensinei-lhes, de

maneira muito breve, a maneira como eu leio o jogo e a divisão dos momentos

e escalas, para que partilhássemos todos da mesma maneira de ver o jogo.

Visto que quase todos os jogadores estavam habituados a jogar com

medo de ter a posse de bola e a tentar jogar sempre para a frente, considerei

prioritário incentivar a uma abordagem diferente.

Este foi o nosso principal foco durante a pré-época: apelar a um jogo de

construção lenta. Para isso, definimos que o conseguiríamos se criássemos

situações com espaço e superioridade numérica. Após explicar aos jogadores

os momentos de jogo, apresentei-lhes o seguinte esquema (ilustrado na Figura

3), que prevê uma sequência de 15 minutos de jogo contra uma equipa das

equipas mais fracas do nosso campeonato, sugerindo que desta maneira

conseguiríamos ter um jogo calmo e tranquilo, em que teríamos perfeita

consciência do que está a acontecer:

Figura 3 - Previsão de um jogo

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Pretendemos com isto clarificar alguns pontos aos nossos jogadores:

A maior parte do jogo seria disputada em organização ofensiva;

É imperativo estarmos pouco tempo em transição defensiva, o que nos

obriga a ter boa reação à perda de bola;

Se possível evitar este momento, completando todas as jogadas em

remate e fazendo falta no momento de perda de bola;

Devemos ser perspicazes e orientar o adversário a terminar o momento

de transição ofensiva rapidamente, obrigando-os ou a entregar a bola;

O momento de transição ofensiva termina quando o defesa lateral sobe

e o trinco se coloca no meio dos defesas centrais;

É no momento de organização defensiva que pretendemos ganhar a

bola cedo, já que as equipas adversárias não vão demorar muito tempo

a definir o lance;

A nossa transição ofensiva deve ser um momento de curta duração e

deve dar sempre origem a um momento de organização ofensiva, já que

pretendemos que a equipa construa o jogo lentamente;

É muito importante para mim que os jogadores tenham um entendimento

coerente entre toda a equipa de quando começa e termina cada momento e

quais as suas funções em cada um.

Passarei a descrever o que pretendemos de cada momento de jogo,

mediante a zona onde está a bola. Começarei pela organização ofensiva

porque é o momento em que passaremos a maior parte do tempo de jogo.

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Organização Ofensiva

De maneira a melhorar o entendimento dos jogadores e considerar todos

os contextos de jogo dividi a organização ofensiva em três submomentos: um

primeiro, em princípio o de maior duração, em que pretendemos manter a

posse de bola, correr menos riscos e recuar o bloco adversário; um segundo,

que se trata de um momento imediato em que procuramos acelerar jogo; e um

terceiro em que aumentamos a intensidade, e deve ser executado

rapidamente, para que possamos beneficiar da nossa capacidade de resolver

situações em espaços reduzidos, arriscar mais e tentar desequilibrar a defesa

adversária e criar oportunidades de golo.

Para considerarmos que estamos em organização ofensiva, precisamos

de corresponder a duas condições: ter a bola sob o controlo de um dos

jogadores mais recuados da nossa equipa com espaço e tempo para decidir

bem e a estrutura estar de acordo como os nossos objetivos.

Esta alteração da estrutura deve-nos dar três garantias: ter

superioridade numérica, ter os jogadores posicionados de forma a aproveitar

toda a largura do campo para que possam ter mais espaço e dinâmicas que

permitam adaptar-se a diferentes blocos pressionantes. Para isso temos

também de ter jogadores capazes de executar ações de passe e de receção

com velocidade e precisão.

A organização estrutural em

que nos apresentamos em

momentos defensivos é o 1-4-3-3.

Esta organização apresenta

algumas desvantagens para

atingirmos os objetivos pretendidos,

por isso em organização ofensiva

posicionamo-nos em 1-3-4-3, como ilustra a Figura 4.

Figura 4 - Organização estrutural dos setores defensivo e médio em organização ofensiva

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Como é que recuamos o bloco adversário?

Procuramos progredir no terreno pelos corredores laterais. Por isso,

pretendemos que no primeiro submomento da organização ofensiva os dois

defesas laterais subam, e durante a circulação de bola, ameacem o espaço no

meio-campo adversário. Para o poderem fazer, precisam de ter coberturas e

dois homens atrás da sua linha (defesas centrais) não chegam. Por isso, de

maneira a suportar uma circulação que permitisse as tarefas dos defesas

laterais, o trinco deve descer para o meio dos centrais para que estes possam

fazer uma cobertura e dar apoio ofensivo seguro aos defesas laterais. Os

avançados devem estar fora deste processo, procurando apenas esticar o

bloco adversário para trás. Assim sendo, criamos algumas dinâmicas,

ilustradas na Figura 5, que nos permitiam garantir a manutenção da posse com

todas as particularidades referidas:

Médio defensivo – desce para o meio dos centrais:

Defesas centrais – abrem:

Defesas laterais – encostam ao corredor lateral e sobem;

Médios – ocupam o espaço em frente à defesa para ajudar na

circulação;

Figura 5 – Dinâmicas de alteração da estrutura na transição ofensiva

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Neste momento, temos reunidas todas as condições para manter a

posse de bola e obrigar o bloco

adversário a recuar. Os dois médios

respeitam uma dinâmica simples de

aproximação à vez para ganharem

espaço aos adversários e ajudarem

na posse de bola, como ilustra a

Figura 6.

Desta maneira, conseguimos ter a bola com

superioridade numérica no nosso meio-campo (a

não ser que equipa adversária coloque oito homens

a pressionar nesta zona) criando a seguinte rede de

linhas de passe ilustrada na Figura 7.

Podemos dizer que o grande princípio da nossa organização ofensiva é

reduzir os espaços no meio-campo adversário, tendo como subprincípio

frequentes variações de flanco.

Procuramos construir o jogo de forma lenta, contudo, temos definido um

momento (segundo submomento) em que procuramos acelerar o jogo. Para a

definição deste momento, foi muito importante ensinar ou habituar os nossos

defesas a uma leitura de jogo adequada aos nossos objetivos.

Tendo em conta que procuramos acelerar jogo através dos corredores

laterais, indiquei aos jogadores a obrigatoriedade de recolher duas informações

antes de tomarem a sua decisão: o posicionamento do extremo adversário

mediante o nosso defesa lateral (do lado onde está a bola), e o número de

jogadores envolvidos na nossa zona de ação (que depende do comportamento

do meio-campo adversário). Não me senti na necessidade de explicar isto aos

nossos médios defensivos, já que estes entendiam relativamente bem o

contexto de jogo, contudo, os defesas centrais e laterais demonstravam muito

mais dificuldade em tomar este tipo de decisões.

Figura 6 - Dinâmicas de manutenção de posse

Figura 7 - Rede de linhas de passe entre o guarda-redes,

os defesas e os médios, organizados em 1-3-4-3

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Este momento de aceleração pode acontecer com o nosso bloco em

profundidades diferentes, dependendo da reunião das condições indicadas no

parágrafo anterior e a colocação do bloco adversário. Se jogar com o bloco

muito recuado devemos circular a bola de um lado para o outro, ameaçando

ocasionalmente pouco espaço no corredor lateral, até subirmos o bloco até ao

meio-campo para aí acelerar jogo. Se o bloco for alto procuramos faze-lo ainda

no nosso meio-campo.

Foi também definido que, preferencialmente, o avançado adversário

esteja mais longe de bola do que o nosso trinco (sendo que a bola já se

encontra no corredor lateral).

Pretendemos que esta organização gere situações de 2x1 ou de 3x2.

Apesar de incentivarmos os jogadores a arranjar soluções para estes

contextos, propusemos algumas dinâmicas para que estes consigam, em

momentos que tenham dificuldade, reunir as condições necessárias para

acelerar o jogo.

Para jogar contra equipas que pressionem com um bloco alto

procuramos acelerar o jogo ainda no nosso meio-campo, com as dinâmicas

ilustradas nas Figuras 8,9 e 10.

Médio faz movimento de aproximação ao defesa central;

Defesa central passa para o médio;

Médio passa de primeira para o defesa

lateral;

Usada quando o extremo adversário

abandona a marcação do defesa lateral para

pressionar o defesa central (tapando a sua

linha de passe para o defesa lateral);

Esta dinâmica deve ser executada muito rapidamente;

Figura 8 - Dinâmica de aceleração nº1 vs bloco alto

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Defesa central passa para o guarda-redes ou para o médio defensivo;

Guarda-redes ou médio defensivo passa

longo de primeira para o defesa lateral;

Esta dinâmica é usada quando os médios não

conseguem arranjar espaço para receber a

bola e os defesas centrais estão a ser

pressionados pelos avançados (não

conseguindo passar para o defesas laterais);

Quando os defesas laterais se apercebem desta situação devem recuar

antes de o defesa central fazer o passe; Desta forma o defesa central

tem mais uma opção e o defesa lateral tem mais espaço para receber o

passe à frente;

Médio defensivo centro sai do meio dos defesas centrais para explorar o

espaço à frente da defesa;

Este deve logo acelerar jogo num dos

defesas laterais;

Implica que os médios subam, bem como os

defesas centrais que também devem fechar;

Após a definição do passe, o defesa lateral

que não for envolvido no ataque deve recuar;

Esta dinâmica é usada quando a equipa adversária concentra a sua

pressão nos corredores laterais;

Como já referi anteriormente, decidimos o momento de aceleração

consoante o bloco adversário. As dinâmicas representadas são aplicadas

Figura 9 - Dinâmica de aceleração nº2 vs bloco alto

Figura 10 - Dinâmica de aceleração nº3 vs bloco alto

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quando enfrentamos um bloco alto, em que pretendemos acelerar o jogo numa

zona mais recuada do campo.

Caso enfrentemos um bloco mais recuado, procuramos circular a bola

de um flanco até ao outro até conseguirmos estabelecer a linha defensiva no

meio-campo.

A nossa organização no meio-campo adversário é um pouco diferente.

Para começar, deixamos de ter o guarda-rede para a circulação, limitando o

início de todas as dinâmicas aos três homens mais recuados (defesa central e

médio defensivo).

Estes três jogadores têm quatro referências de passe: defesa lateral,

avançado interior, médio e avançado centro. A partir destas opções,

selecionámos um conjunto de dinâmicas permitem ao jogador mais recuado ter

várias opções para acelerar o jogo.

Se o defesa lateral não estiver

marcado é a opção mais fácil, já que o

nosso objetivo no momento de aceleração é

levar a bola até ele, contudo, a maior parte

das vezes o extremo estará a cortar a linha

de passe para este. Nesse caso, devemos

procurar explorar o espaço referido na

Figura 11.

Se esta ação fosse executada no nosso meio-campo, o objetivo seria

colocar a bola no defesa lateral, e se não conseguíssemos deveríamos voltar a

circular. Nesta zona não tratamos do momento de aceleração da mesma

maneira. Em vez de começar quando a bola chega ao defesa lateral, deve

começar qualquer homem (com exceção aos defesas centrais) que tenha

espaço no meio-campo adversário, seja o defesa lateral, o avançado interior, o

médio centro, o médio defensivo centro ou o avançado centro.

Neste momento, podemos entrar no terceiro submomento da nossa

organização ofensiva, em que os jogadores assumem um carácter mais

incisivo e procuram atacar a baliza.

Figura 11 - Espaço a explorar quando a linha de passe do defesa central para o

lateral está tapada

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De maneira a ajudar os jogadores mais avançados a definirem os lances

apresentamos as dinâmicas ilustradas entre as figuras 12 e 16.

Avançado interior faz movimento de

aproximação;

Defesa lateral sobe;

Defesa central ou médio defensivo coloca

passe longo no defesa lateral;

Avançado interior faz movimento de

aproximação;

Defesa lateral sobe;

Defesa central passa para avançado interior;

Avançado interior toca de primeira para o

médio que passa para o defesa lateral;

Estas duas dinâmicas dependem da velocidade

de progressão do defesa lateral;

Avançado interior faz movimento de

aproximação;

Defesa lateral sobe;

Avançado interior combina com médio;

Defesa central faz movimento de aproximação;

Defesa central ou médio defensivo passa para

avançado centro;

Avançado de centro toca de primeira para o

médio;

Médio passa para o defesa lateral ou

Figura 12 - Dinâmica de aceleração com avançado

interior nº1 vs bloco recuado

Figura 13 - Dinâmica de aceleração com

avançado interior nº2 vs bloco recuado

Figura 14 - Dinâmica de aceleração com

avançado interior nº 3 vs bloco recuado

Figura 15 - Dinâmica de aceleração com

avançado centro nº1 vs bloco recuado

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avançado interior atrás da linha defensiva;

Avançado interior faz movimento de aproximação

para receber, rodar e rematar;

No momento de aceleração, a equipa decide de que lado pretende

efetuar o ataque. Nesse momento, o trinco deve sair da linha dos defesas

centrais para pressionar mais rapidamente o médio mais avançado após a

perda da bola e o defesa lateral do lado contrário ao ataque deve fechar,

formando novamente uma linha de três jogadores, que será explicado e

ilustrado no subcapítulo seguinte.

Ao analisar o plantel à nossa disposição, percebi que grande parte dos

nossos jogadores possuem capacidades táticas que lhes permitem manter a

posse de bola em situações de superioridade numérica com muita facilidade.

Contudo, o setor ofensivo tem dificuldades em gerir situações de igualdade

numérica. Estes jogadores têm iniciativas muito simples e têm uma visão de

jogo muito pouco ampla, permitindo-lhes apenas criar e resolver situações

simples a um ou dois passes ou lances individuais.

No início da época planeava que toda a equipa se envolvesse no

processo de construção do jogo, contudo, cedo percebi que alguns jogadores

(principalmente os nossos avançados interiores) não conseguem ter estes

comportamentos durante muito tempo no jogo, começando impacientemente a

explorar o espaço atrás da defesa adversária.

Figura 16 - Dinâmica de aceleração com

avançado centro nº2 vs bloco recuado

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Transição Defensiva

O momento de transição defensiva trata-se, para nós, do período de

tempo em que não temos bola e a nossa equipa não se encontra na estrutura

organizativa defensiva: 1-4-3-3.

Após o momento de aceleração pretendemos que a equipa defina o

lance obrigatoriamente. Para isto, temos de nos preparar para perder a bola, já

que corremos mais riscos. De maneira a facilitar a recuperação rápida

reestruturamos a nossa organização, de maneira a ocupar melhor os espaços,

colocando mais jogadores perto da bola.

Suponhamos um ataque do lado esquerdo, como ilustra a Figura 17.

Após definir o lado do ataque, o

defesa lateral do lado contrário ao

ataque de fechar e ocupar a

posição do defesa central mais

perto de si, para que este possa

ocupar a posição do médio

defensivo, que por sua vez sobe

para proteger o espaço em frente à defesa.

Mesmo com estas preocupações ainda durante a organização ofensiva,

a nossa organização é diferente da que pretendemos para a nossa

organização defensiva. Mesmo que percamos a bola durante outro

submomento da organização ofensiva, haverá sempre jogadores fora da sua

posição. O momento da transição defensiva trata do período em que os

jogadores recuperam a sua posição.

Este não seria um processo muito complicado, contudo, não nos

podemos esquecer que pretendemos manter sempre uma pressão alta, ou

seja, temos de conjugar estes dois objetivos neste momento.

Figura 17 - Movimentações do lado contrário ao ataque perante a definição do mesmo

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Os princípios da nossa transição defensiva são

definidos mediante a zona onde perdemos a bola,

separando o campo em três setores, transversal e

longitudinalmente. Prevemos que os setores em que temos

mais probabilidade de perder a bola sejam os assinaldos a

amarelo na Figura 18, já que esta representa as zonas em

que corremos mais riscos.

Esta é a primeira situação que representarei porque é

a que representa maior ameaça para o nosso modelo.

Pretende-se que a equipa esteja em momentos de organização ofensiva

e defensiva com o bloco muito alto. Eu vejo isto como um problema

considerando os princípios de transição ofensiva da maior parte das equipas da

competição em que estamos inseridos.

De modo a combater esta fragilidade, defini alguns princípios que em

conjunto com a “armadilha” de fora de jogo nos permitem ter o bloco alto nos

dois momentos designados de “organização”, sem correr o risco, que me

parece inevitável, de sofrer muitos golos em contra-ataque.

A experiência que tenho na competição em que estamos inseridos,

permitiu-me tirar algumas conclusões acerca da maneira como a maior parte

dos nossos adversários aproveita o momento de transição ofensiva:

Aproveitam este momento para progredir rapidamente em passe longo;

A maior parte destes lances são definidos em dois passes ou menos;

Lances individuais em que a bola é lançada pelo ar para um dos

avançados é a maior fonte de golos dos nossos adversários;

Qualquer defesa central tem capacidade e intenção de executar um

passe longo se tiver espaço;

Muitas equipas procuram o trinco para definir o jogo através do passe

longo;

Figura 18 - Zonas de maior risco de perda

de bola

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Mediante estas conclusões definimos alguns princípios na transição

defensiva que nos permitem impedir que a bola chegue aos avançados antes

de termos a defesa e o meio-campo organizados.

Como já referi, a prioridade é estabecer a organização defensiva (1-4-3-

3) sem que os adversários tenham espaço para colocar um passe nas costas

da nossa defesa e ao mesmo tempo encurtar esse espaço temporariamente.

1. Encurtar o espaço atrás da defesa:

Na circuntância que estou a explicar, espera-se que a nossa linha

defensiva se encontre perto da linha do meio-campo com três homens (dois

defesas centrais e o defesa lateral do lado contrário ao ataque). Estes três

jogadores devem recuar até uma linha tangencial ao círculo do meio-campo.

No momento de organização ofensiva pretende-se que o guarda-redes

se encontre fora da área e damos instruções para que este recue apenas após

a equipa adversária ultrapassar a nossa linha defensiva (caso este não consiga

intercetar o passe), ou o bloco seja obrigado a recuar por consequência de

uma bola parada. Caso o guarda-redes consiga intercetar o passe para as

costas da nossa defesa tem instruções para retirar a bola do campo

imediatamente, correndo o mínimo de risco possível. Desta forma, limitamos o

espaço entre a nossa linha defensiva e o guarda-redes.

Isto permite-nos, também, em momentos que um dos defesas centrais

ou trinco tenham a bola com espaço, subir a linha defensiva para apanhar o

adversário em fora-de-jogo.

2. Reestabelecer o sistema de organização defensiva:

O único jogador que se apresenta fora da sua posição é o defesa lateral.

Pretendemos que após a definição do lance este recue imediatamente. Este

princípio pode apresentar um problema, já que há a possibilidade de o

avançado interior não estar suficientemente perto do lance para encurtar o

espaço ao jogador que recebeu a bola, tornando necessário que seja o defesa

lateral a executar esta função. Caso a responsabilidade de pressionar recaia

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sobre o defesa lateral, o avançado interior deve recuar imediatamente e ocupar

a sua posição.

Esta medida resolve o problema da reestruturação do sistema e a

pressão no portador da bola, contudo, surge outro problema.

3. Encurtar o espaço ao adversário:

Se o avançado interior e o defesa lateral partilharem as funções que

acabei de referir, é necessário que mais um jogador se envolva neste

processo, para evitar superioridade no momento da perda de bola. O avançado

centro deve-se aproximar do defesa central mais próximo e o avançado interior

do lado contrário ao ataque marcasse o outro defesa central, enquanto cada

médio se aproxima de um jogador.

Caso o médio seja o homem

mais perto do portador da bola, este

deve pressiona-lo, ficando o extremo

encarregue da marcação em falta do

seu lado.

Estas dinâmicas estão

ilustradas na Figura 19.

Quando a perda de bola ocorre dentro da área do adversário, definimos

apenas que o jogador mais perto da bola deve pressionar, obrigando-o a jogar

mal. Caso a pressão não seja eficaz, não usamos a armadilha de fora-de-jogo,

sendo que os cinco homens mais recuados devem baixar o bloco e os cincos

mais avançados tentar cortar o lance, ou obrigar a jogar para trás para a equipa

se organizar e subir novamente o bloco.

Ao dividir o campo em três setores de profundidade, não pretendo que

os jogadores interpretem isto de forma literal. Apesar de ser possível perder a

bola em vários contextos no segundo terço do campo, consideramos para este

setor que a perda de bola durante o momento de aceleração.

Figura 19 - Funções de transição defensiva perante perda na linha

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Se a equipa se encontra já toda no meio-campo adversário não temos

outra alternativa senão correr para trás e tentar parar o lance.

Caso aconteça enquanto a equipa está ainda

com o bloco médio, deve estar organizada como no

Figura 20.

De acordo com a nossa organização,

prevemos que possamos perder a bola nos

contextos ilustrados na Figura 21:

Novamente consideramos as dinâmicas do momento de organização

ofensiva, e concluímos que estes são os contextos em que temos mais

probabilidade de perder a bola:

Passe entre o médio e o defesa lateral intercetado;

Defesa lateral perde a bola em drible;

Dinâmicas entre o defesa lateral, médio e avançado interior;

Dinâmicas entre os médios e o avançado centro;

Em qualquer um destes casos, a perda de bola representa muito perigo

para a nossa baliza, já que três dos nossos jogadores se apresentam fora da

sua posição, estando principalmente vulneráveis no corredor lateral, visto que

os nossos defesas centrais são lentos, e neste contexto têm alta probabilidade

de defrontar um extremo rápido.

Figura 20 - Organização estrutural dos médios e

atacantes durante a organização ofensiva com

bloco médio

Figura 21 - Contextos em que é mais provável perdermos a bola

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Posto isto, definimos em primeiro lugar que caso não fosse possível

recuperar a bola imediatamente ou fazer contenção (impedindo a progressão),

os nossos médios ou defesas laterais devem fazer falta para impedir que o

adversário dê continuidade ao lance em que tem vantagem.

A nossa resposta prioritária à perda de bola nestes contextos não é

reestabelecer o sistema. Visto que o adversário se encontra bem mais perto da

nossa baliza consideramos que impedir a sua progressão deve ser a nossa

prioridade.

Posto isto, é muito importante termos bem definido quem é o jogador

que executa pressão após a perda da posse de bola. A reestruturação do

sistema será feita após o lance ser parado.

No primeiro caso, em que o passe entre o médio e o defesa lateral é

intercetado, pretendemos que um destes jogadores corra atrás do jogador que

recuperou a bola, obrigando-o a decidir

de forma precipitada, como ilustra a

Figura 22. Para além disso, neste

momento o médio defensivo deve sair

imediatamente da linha defensiva para

fazer contenção ao portador da bola,

impedindo a sua progressão.

Pretende-se com esta organização chegar mais perto do nosso sistema

defensivo, tendo como prioridade impedir a progressão do adversário.

Caso o defesa lateral perca a bola após receber este passe e estiver a

iniciar a sua progressão em drible, a pressão deve ser efetuada de modo a

direcionar o adversário para a o corredor lateral. Na maior parte dos casos o

defesa lateral não consegue aproximar-se suficientemente rápido do adversário

ao ponto de impedir a sua progressão, por isso, esta tarefa será

desempenhada pelo avançado interior e médio, tal como a seguinte imagem

ilustra:

Figura 22 - Funções de recuperação

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Pretende-se que o médio faça contenção ao lado

do adversário, impedindo a sua progressão para o meio,

não tentando o desarme. O avançado interior deve-se

tentar aproximar e assumir esta função, dando

condições ao médio de retomar a sua posição. Se o

adversário se conseguir aproximar da nossa defesa

antes de o avançado interior conseguir aproximar-se

dele, esta contenção passa a ser responsabilidade do

defesa central do lado do ataque. Esta contenção dá

tempo ao defesa lateral de chegar perto da bola, que

estará na sua posição de organização defensiva, como

ilustra a Figura 23.

Esta medida tem como objetivo afastar o

adversário do centro do campo e aproximar a equipa do

seu sistema defensivo. Só tentamos o desarme quando

ambos o defesa lateral e avançado interior estiverem

perto da bola, cobrindo todas as suas linhas de passe

menos o defesa lateral adversário, sendo obrigado a

jogar para trás, permitindo-nos subir a linha defensiva.

Deve haver comunicação entre o defesa central e o médio defensivo,

para determinar se é necessária a contenção do defesa cenral no lance ou não.

Caso não seja, o médio defensivo deve abandonar imediatamente a linha

defensiva para cobrir a linha de passe para o médio mais avançado da equipa

adversária.

A perda de bola durante a dinâmica entre o defesa lateral, avançado

interior e médio é a única circunstância em que não pedimos ao defesa lateral

do lado do ataque que recue imediatamente, ou tenha o avançado interior a

desempenhar esta função. Pretendemos que neste contexto, tal como na

dinâmica entre os médios e o avançado centro, que os jogadores envolvidos se

aproximem da bola, recaindo a função de desarmar sobre o jogador que está

mais avançado no campo. Tomei esta decisão mediante o espaço e o número

de jogadores que normalmente estavam envolvidos nestas situações. Tendo

Figura 23 - Dinâmicas de recuperação na linha

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em conta que a maior parte das equipas da nossa divisão não tem grande

interesse em trabalhar situações de espaço reduzido pareceu-me ser o

momento em que podemos tirar maior proveito desta característica, tendo

todas as condições reunidas para encurtar imediatamente o espaço ao jogador

que tem a bola.

O único princípio que definimos para a transição defensiva após perda

de bola no primeiro terço, ou durante a circulação é que a reação à perda de

bola deve ser imediata e o primeiro jogador a pressionar deve ser o que se

encontra mais perto do lance.

A nossa principal preocupação na transição defensiva centra-se em

impedir a equipa adversária de cumprir os seus objetivos, que na maior parte

dos casos consistem em colocar a bola rapidamente nas costas da nossa

defesa. A minha experiência como treinador do escalão de sub-19 da 2ª

Divisão Distrital do Porto ensinou-me que é impossível manter neste momento

um bloco muito alto, visto que é praticamente impossível pressionar o

adversário imediatamente após a perda de bola.

Assim sendo, visto que a equipa sénior definiu este princípio como

obrigatório, a solução que arranjei foi recuar o bloco temporariamente, com as

dinâmicas referidas anteriormente. Em quase todos os casos procuramos fazer

contenção para obrigar o adversário a jogar para trás ou para a linha (à

exceção da dinâmica entre os médios e o avançado centro, em que este último

pode tentar o desarme por trás do jogador).

Outra observação bastante clara que tirei durante as épocas anteriores é

que quando este passe longo é executado pelo jogador que recupera a bola ou

pelo trinco, o objetivo do adversário costuma ser fazer a bola chegar ao defesa

central que coloca o passe longo de primeira.

Neste sentido, visto que já clarificamos como anulamos a primeira

hipótese, falta-nos perceber como anular a segunda. Neste momento nós

aproveitamos para reestabelecer o bloco onde se pretende que este esteja,

aproveitando este momento para tentar apanhar o adversário em fora-de-jogo.

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O princípio final da nossa transição ofensiva é subir o bloco no momento em

que é efetuado um passe para trás.

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Organização Defensiva

Entendemos o momento de organização defensiva como os contextos

em que a nossa equipa se encontra com o bloco subido e o adversário com a

bola controlada. Pelo conhecimento que temos do nosso campeonato, a maior

parte das equipas apresentam-se em 1-4-3-3 em momentos ofensivos, tal

como nós em momentos defensivos. Visto que o nosso grande princípio deste

momento é recuperar a bola rapidamente, resta-nos definir como vamos gerir a

inferioridade numérica no meio-campo adversário e as movimentações do

adversário.

Uma diferença entre a nossa transição e organização defensiva que

considero importante explicar aos jogadores é que no primeiro permitimos que

a equipa jogue para trás para podermos subir o nosso bloco, enquanto que no

segundo temos de obrigar a equipa a jogar para a frente e mal.

Cada jogador deve ocupar a sua zona, sendo que os defesas laterais

devem acompanhar o extremo quando ele recua, como acontece com os

defesas centrais e o avançado centro. Estes devem-se gerir mediante o lado

em que o avançado está. A tarefa dos avançados interiores é também bastante

simples, sendo que se devem posicionar de maneira a não ser possível jogar

com o defesa lateral.

A gestão mais complicada na organização defensiva é na zona central,

que depende da organização do bloco

adversário. Se jogarmos com uma equipa com

dois médios mais avançados, o nosso médio

defensivo e um dos médios devem dividir a sua

marcação mediante a zona onde estes estão.

O avançado centro e o outro médio devem

ocupar a pressão aos defesas centrais e médio

defensivo, respeitando a dinâmica ilustrada na Figura 24.

Figura 24 - Dinâmica de pressão entre o avançado centro e o médio mais

ofensivo

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O médio defensivo nunca deve estar sem marcação ou pressão, bem

como o defesa central que possui a bola, deixando apenas o outro defesa

central livre.

Caso o adversário se apresente com dois médios recuados e um mais

avançado, o nosso médio defensivo assume a marcação do médio mais

avançado e os outros médios organizam-se como anteriormente referido,

havendo trocas dos dois lados.

Temos consciência de que haverá momentos em que o adversário se

colocará no nosso meio-campo. Definimos para esse momento um modelo de

contenção que visa a recuperação de bola entre os defesas e os médios

avançados. Caso o defesa lateral adversário suba, o avançado interior deve

acompanhá-lo, contudo, o papel defensivo deste jogador, bem como dos

restantes adversários é encurtar o espaço quando a equipa adversária joga

para trás. Esta estratégia foi criada pelo meu colega (treinador principal) e a

ideia é encurtar os espaços à frente da nossa área e todas as linhas de passe

para as costas da nossa defesa,

obrigando o adversário a jogar para

trás. Nesse momento, os avançados

tentam o desarme pelas costas do

portador da bola, ao mesmo tempo

que o nosso bloco sobe (o avançado

não precisa de ficar com a bola,

apenas desvia-la para um dos médios

que sobe com o bloco). Neste

momento, a equipa deve entrar em

ataque rápido, aproveitando o

desequilíbrio adversário.

O modelo de contenção foi

criado por mim e respeita as

dinâmicas ilustradas na Figura 25.

Figura 25 - Basculação do bloco em

organização defensiva

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Transição Ofensiva

No nosso entender, este momento representa o período de tempo entre

a equipa recuperar a bola e garantir a sua segurança. Quero com isto dizer que

temos a posse de bola, num jogador com espaço, de frente para o jogo e com

várias opções para manter a circulação. Pretendemos também que a equipa

altere a estrutura antes de atacar os espaços mais avançados do campo.

O grande princípio deste momento é então garantir que mantemos a

posse de bola. Já expliquei, no subcapítulo da organização ofensiva, quais os

requisitos para o conseguir, bem como as alterações na estrutura. O outro

aspeto que considero importante para concretizarmos o nosso objetivo é a

alteração da amplitude da equipa, o que deve ser feito enquanto mantemos a

posse.

O que mais me preocupa são os momentos em que o adversário é

desarmado perto da nossa área e tem muitos homens no nosso meio-campo. É

preciso alterar a mentalidade dos jogadores perante a recuperação da posse,

já que muitos jogadores ainda estão habituados a aliviar a bola.

Para o conseguir, defini uma estratégia que nos permite manter a posse

de bola sob pressão e ter condições de procurar um jogador alvo com espaço.

Os nossos princípios defensivos implicam que os médios se aproximem

bastante das linhas, dando-lhes mais responsabilidades defensivas do que os

avançados interiores. Foi assim definido para que estes possam servir como

jogadores alvo nas nossas transições ofensivas.

No momento da recuperação estes devem procurem o espaço mais

interior entre os defesas e os médios adversários. Colocam-se de costas para a

baliza e ter espaço suficiente para segurar a bola e jogar num defesa que tenha

espaço. Esperamos que esta deslocação não seja imediata, por isso, definimos

um posicionamento para os jogadores que lhes permite colocar a bola com

qualidade num avançado interior.

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O aspeto mais importante deste posicionamento é a direção para que os

jogadores estão virados, sendo que os médios devem estar de frente para os

nossos defesas e os defesas de frente para o jogo, deixando a

responsabilidade de colocar a bola num dos jogadores alvo para os defesas.

A função dos médios seria apenas colocar a bola em condições para os

defesas o fazerem, demorando o tempo suficiente para atrair a pressão. A bola

deve ser colocada em condições de os defesas conseguirem fazer o passe de

primeira.

Outro aspeto importante neste posicionamento é que os jogadores

ocupem linhas diferentes de largura, como ilustrado na Figura 26.

No momento em que a bola é jogada no avançado anterior a equipa

deve seguir as instruções para a alteração da estrutura.

Temos outra referência para quando os jogadores não se sentem

confortáveis a jogar a bola pelo chão, podendo colocar a bola pelo ar no

avançado que tenta cabecear para os avançados interiores, que o apoiam no

posicionamento referido.

Figura 26 - Ocupação dos corredores em largura durante a organização defensiva

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3.1.5. Treino

O pilar da estruturação dos nossos treinos a longo prazo é uma

distribuição dos momentos de jogo. Sinto que é muito importante adequar o

planeamento do treino mediante as condições em que o trabalho é feito.

No nosso caso começámos a trabalhar, antes da época começar, com:

Um modelo de jogo base a seguir;

As nossas ideias de jogo;

Informações provenientes de uma época a trabalhar com doze dos

jogadores do plantel;

Informações provenientes de breves observações a sete jogadores que

já faziam parte do clube;

Conhecimento superficial acerca de grande parte dos adversários contra

quem competimos.

Perante o contexto em que trabalhamos decidimos dividir a época em

cinco subfases. Pretendemos em cada uma estabelecer um período em que

trabalhamos os quatro momentos de jogo.

A primeira subfase consiste na primeira semana de treino. O nosso

objetivo é dar a conhecer aos jogadores os princípios mais gerais do Modelo de

jogo. A segunda decorre entre as duas semanas seguintes, período este em

que apresentamos os princípios mais específicos de cada momento. As

semanas restantes do período pré-competitivo constituem a terceira subfase.

Aproveitaremos este momento para desenvolver as competências exigidas nos

contextos de jogo criados pelos nossos princípios.

Durante estas duas primeiras subfases somos mais rigorosos com os

jogadores, dando-lhes menos liberdade criativa. O que é importante neste

período é que conheçam os contextos que vão encontram e como os criar,

para numa fase posterior poderem adquirir o conhecimento e competências

específicas para resolver os problemas criados pelos mesmos.

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No início da época planeámos os treinos todos até à terceira subfase.

Posteriormente, ainda antes do campeonato começar, avaliamos o

desenvolvimento da equipa, ajustamos o Plano de Macrociclo consoante as

suas necessidades e estabelecemos que princípios devem ser mais frequentes

no nosso plano de trabalho durante o período competitivo.

A quarta subfase constitui a primeira volta da nossa competição. Uma

parte dos treinos é composta por exercícios que visam a introdução de

princípios e dinâmicas não trabalhadas anteriormente e a outra parte visa

exercícios que apurem as falhas mais importantes do jogo anterior. Visto que

não temos mais do que algumas informações sobre as características dos

adversários, não podemos, nesta subfase, dedicar muito tempo dos nossos

treinos a preparar estratégias de ação para os jogos que finalizam cada

semana de trabalho.

A última subfase constitui a segunda volta da nossa competição.

Durante este período, dividimos o tempo de treino entre princípios a trabalhar,

definidos pela observação semanal e adaptar o nosso modelo de jogo aos

adversários, criando estratégias defensivas e ofensivas específicas.

No meu entender, desta forma apresentamos e interiorizamos os

princípios de jogo de forma progressiva, aproveitando os meios que temos para

trabalhar e o timing em que os podemos usar. Tendo em consideração que o

plantel está sempre aberto, o número de jogadores é muito instável e só temos

informações específicas dos adversários no segundo jogo em que os

defrontamos.

Relativamente à calendarização dos jogos de preparação planeámos

marcar cinco nas semanas antecedentes ao início da época. O ideal seria jogar

contra três equipas de reputação inferior à nossa, que jogassem com um bloco

baixo, e duas equipa de reputação similar ou mais alta que a nossa, uma com

um bloco recuado e outra com um bloco alto e pressionante.

O plano do Macrociclo ilustrado no anexo 1 representa o planeamento

das três primeiras subfases.

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3.1.5.1. Primeira subfase

Os treinos desta subfase foram criados tendo em consideração a

instabilidade no número de jogadores que treinam. Os exercícios visam apenas

a introdução de alguns princípios gerais. Nesse sentido, os contextos criados

todo o espaço de treino e muitos jogadores.

No primeiro treino, dividimos a equipa em dois e deixamos os jogadores

jogar livremente. De maneira a começar a incentivar um jogo mais rico em

passes em largura, deve ser colocada uma baliza de futebol de sete em frente

à de futebol de onze, em cima da linha de meio-campo, para o jogo ser

disputado num espaço com mais largura do que profundidade.

Os treinos restantes também ocupam todo o espaço de treino, com

algumas condicionantes. Definindo apenas o número e posições dos jogadores

de cada equipa controlamos algumas circunstâncias do jogo. Se a intenção for,

como é o caso, trabalhar o momento de organização ofensiva com os setores

defensivo e médio e organização defensiva com o setor médio e atacante,

damos superioridade numérica à primeira, para que passe a maior parte do

exercício com a posse de bola.

Se, por outro lado, pretendermos trabalhar as transições ofensiva e

defensiva com as mesmas equipas, podemos alterar o objetivo do exercício de

marcar golo para executar dez passes sem que o adversário toque na bola,

exaltando a necessidade dos avançados recuperarem a bola rapidamente e os

defesas de manterem a posse de bola perante a pressão adversária.

Os jogadores que não começam no exercício executam treino de

coordenação. O objetivo é não ter nenhum jogador parado e dividir o tempo

que cada passa no exercício de campo com os colegas que estão de fora,

trocando cada vez que os que estes terminam as sequências de passos do

treino de coordenação.

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3.1.5.2. Segunda subfase

Esta subfase corresponde às segunda e terceira semana de trabalho.

Neste período, pretendemos trabalhar os quatro momentos de jogo,

introduzindo alguns princípios mais específicos.

A ideia dos meus colegas era estabelecer um segundo ciclo que

ocupasse o restante período pré-competitivo. Eu sugeri a criação desta subfase

porque em quase todos os momentos esperamos dos jogadores

comportamentos diferentes dos que normalmente fazem parte do seu

reportório.

Se os quatro momentos fossem distribuídos pelo restante período pré-

competitivo, disputaríamos o primeiro jogo de preparação com apenas um

momento de jogo treinado e os dois últimos com algum trabalho sobre todos os

momentos. Apesar de os resultados dos jogos de preparação não terem

grande relevância, sinto que é importante para a motivação dos jogadores

conseguirem bom desempenho contra os seus adversários. Para isso,

considero que é importante ter um jogo coerente e minimamente fluido, ou seja,

é preciso ter alguma ideia dos princípios mais gerais de todos os momentos de

jogo. Desta forma, os jogadores abordam os jogos de preparação sabendo o

que a equipa deve procurar fazer nos diferentes momentos de jogo.

Visto que a equipa sénior não treina durante o mês de Agosto, treinámos

quatro vezes por semana, durante uma hora e meia, ou seja, um total de oito

treinos, com o primeiro jogo de preparação no fim da segunda semana. Um

cuidado que tivemos para este período foi aumentar a intensidade dos treinos

progressivamente.

O nosso objetivo é apresentar os subprincípios que dão critério aos

grandes princípios de cada momento, para na subfase seguinte desenvolver as

competências necessárias para ter sucesso a executá-los.

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Quanto à distribuição das subdinâmicas, é dedicado o primeiro treino e

metade do segundo à tensão de contração, a segunda metade do segundo

treino e todo o terceiro a treinar sob a subdinâmica de duração de contração. O

último treino da semana é dedicado a velocidade de contração. Esta

distribuição serve para todas as semanas de treino de Agosto.

Estabelecemos dois dias para cada momento e decidimos começar pela

transição ofensiva porque entendemos que este é o momento em que

procuramos alterar mais drasticamente a mentalidade dos jogadores.

Durante esta subfase, os treinos foram estruturados da seguinte forma:

os jogadores entram no campo e organizam dois “meínhos”, um hábito que a

equipa já tinha de anos anteriores. Este período também nos é útil para eu

conseguir colocar o material onde preciso, visto que não há intervalo entre

treinos. Ocupámos a primeira meia hora de treino com este “meínho”,

aquecimento e “jogos” lúdicos relacionados com a subdinâmica específica de

cada dia.

Posteriormente, dividimos a última hora de treino em dois ou três

exercícios.

O nosso foco nos dois primeiros treinos foi desenvolver as ligações entre

os defesas e os médios no momento de transição ofensiva. Tendo em conta o

estilo de jogo a que o plantel estava habituado, acho que é importante cortar as

ligações que os defesas e médios tinham com os avançados no momento que

recuperamos a bola. Os exercícios foram criados no sentido de colocá-los num

contexto em que começam sem a bola e, quando a recuperam, têm objetivos a

curta distância. Também queremos dar uma ideia clara da alteração da

estrutura neste momento, preparando os treinos seguintes de organização

ofensiva.

Quando treinamos sob subdinâmica de tensão, os exercícios são

baseados em jogos reduzidos de 1x1, 2x2, 3x3 ou 4x4. São condicionados de

modo a criar os contextos de jogo em que pretendemos que equipa desenvolva

a sua capacidade de resolução de problemas. De maneira a exemplificar como

pretendemos treinar um certo princípio, passarei a descrever um exercício

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executado neste dia, com o intuito de melhorar os processos de remoção da

bola da zona de pressão:

O plantel é dividido em equipas de dois e três jogadores. As equipas de

três são compostas por dois defesas (um lateral e um central ou dois centrais)

e um médio (o médio defensivo faria preferencialmente com os defesas

centrais e os restantes médios com pelo menos um defesa lateral na equipa).

As equipas de dois são compostas por dois avançados.

São criados três espaços, segundo a

Figura 27.

Os dois campos na linha são ocupados

pelas equipas com um defesa lateral e um

central, e as equipas só com defesas centrais

lateral jogam no meio. Visto que a maior parte

dos nossos adversários não envolve muitos

homens no ataque, pretendemos que os dois

setores mais recuados consigam, numa fase

inicial, fazer a transição ofensiva sem o apoio

dos avançados interiores.

Normalmente, distinguimos os jogos reduzidos em dois tipos: cíclicos,

em que a bola é reposta pela equipa que sofre (como num jogo de futebol) ou

sequenciais, quando independentemente de quem cumpre o objetivo, a bola

parte sempre da mesma equipa.

Posto isto, este exercício é executado de forma sequencial. A bola sai

sempre dos avançados na linha mais recuada do quadrado e devem tentar

resolver uma situação de 2x2 (o médio está fora do processo defensivo). O seu

objetivo é, para quem joga na linha, ter a bola controlada na zona marcada a

tracejado no fim do quadrado. Os avançados que jogam no meio devem tentar

fazer golo após saírem do quadrado. A ideia é, contudo, ter mais atenção à

equipa dos defesas quando ganham a bola. Nesse momento, o médio entra no

exercício e o objetivo da equipa que joga na linha é ter a bola controlada dentro

das zonas a tracejado na lateral e na frente do quadrado. Acho importante

Figura 27 - Exercício de transição ofensiva num dia de tensão de

contração

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frisar que estes não podem entrar no quadrado em drible, tendo de abrir

progressivamente e receber a bola lá. Quem joga no meio deve tentar fazer

golo numa das duas mini-balizas.

O sistema de pontuação funciona a favor da equipa atacante, tendo em

conta que os seus objetivos são mais difíceis. Por cada golo marcado ou

espaço explorado a equipa ganha um ponto. Os defesas também pontuam

cada vez que concretizam os seus objetivos, contudo, cada vez que não

conseguem perdem um ponto, com o propósito de incentivar a que estes não

corram tantos riscos e tenham mais calma nas suas decisões.

Um aspeto importante a relembrar aos jogadores é que no jogo, se o

lateral tiver oportunidade de levar a bola para a linha, deve, contudo, o objetivo

do exercício é trabalhar os casos em que não têm espaço para o fazer,

incentivando a procurar outras soluções.

Este exercício deve ser executado durante cerca de vinte e cinco

minutos. Cada equipa deve fazer três séries de três minutos e meio, com três

minutos e meio de repouso entre séries. Assim, nos campos em que há duas

equipas repetidas, alternam o tempo de execução e repouso. Desta maneira,

podemos incentivar a intensidade alta durante a execução, graças ao grande

tempo de repouso.

Nos dias em que trabalhamos a saída de pressão, o “meínho” é feito de

maneira deferente. Visto que os processos de remoção da posse exigem

muitas movimentações em espaços curtos e nas costas dos adversários, decidi

contrariar o “meínho” estático que os jogadores fazem. Coloquei quatro mecos

em quadrado, com sete passos de largura. Há três jogadores por fora e um no

meio. Quem está por fora não pode dar a linha de passe diagonal, podendo

apenas receber a bola se estiver em cima de um meco. Assim, têm de estar

sempre em movimento, dando duas linhas de passe ao portador da bola.

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Outro exercício que usámos para trabalhar a

transição ofensiva, mais especificamente a alteração da

estrutura perante a posse de bola executado num dia

em que trabalhamos a duração de contração, é o

seguinte: é executado de maneira sequencial com duas

equipas, criando um espaço retangular como ilustrado

na Figura 28. Uma equipa deve ter sete jogadores

(defesas e médios) e a outra seis (médios e atacantes).

A bola começa sempre da equipa de seis e o seu objetivo é marcar golo,

atacando a baliza por dentro do retângulo. O objetivo da outra equipa é

conquistar a posse de bola e colocar todos os jogadores fora do quadrado,

representando a nossa estrutura neste momento. Posteriormente, a equipa

pontua por cada passe de primeira efetuado pelos médios dentro do espaço

definido.

Quanto aos treinos de organização ofensiva, pretendíamos melhorar a

capacidade de manter a posse no nosso meio-campo, envolvendo os sete

jogadores mais recuados (sem contar com o guarda-redes). Para além disso,

pretendíamos também introduzir o conceito de momento de aceleração.

De maneira a trabalhar a manutenção da posse de bola, tínhamos por

hábito realizar um exercício que chamamos “meínho de três equipas”,

geralmente utilizado em dias de subdinâmica de duração:

Consiste na criação de três espaços, dois quadrados, com vinte passos

de largura, separados por um retângulo de cinco passos. São criadas três

equipas de seis (com os quatro defesas e dois médios ou três médios e três

avançados), que se devem colocar uma em cada espaço. A equipa que está no

retângulo está no meio, e a bola é entregue a uma das outras equipas. O

objetivo da equipa com bola é fazer dez passes e colocar a bola no outro lado.

A equipa do meio deve pressionar com três homens (que podem vir a ser

quatro ou cinco numa fase posterior). Caso ganhe a bola deve colocá-la do

outro lado, ocupando a partir daí o quadrado onde recuperou a bola. A equipa

que perde a posse passa para o meio.

Figura 28 - Exercício de transição ofensiva num

dia de tensão de contração

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O momento de aceleração foi maioritariamente trabalhado

através de jogos reduzidos de 3x3, que ocuparam durante a época

grande parte dos nossos treinos. Os espaço usado para estes

jogos está ilustrado na Figura 29.

Numa fase inicial, definimos como objetivo do exercício

entrar no espaço a tracejado. Posteriormente, colocámos uma

baliza na profundidade deste espaço, obrigando os jogadores a

marcar de primeira quando entram no mesmo. Com isto pretendíamos que num

espaço cada vez mais reduzido a equipa conseguisse colocar a bola no defesa

lateral. Quando queremos treinar o momento de aceleração no nosso meio-

campo as equipas são constituídas por dois defesas (um lateral e um central) e

um médio. Quando o trabalho é direcionado para o meio-campo adversário, os

jogadores envolvidos são um defesa lateral, um avançado interior e um médio.

Aproveitamos este exercício para automatizar as dinâmicas de momento de

aceleração referidas anteriormente.

Relativamente à transição defensiva, a nossa principal preocupação era

melhorar a reação da equipa à perda de bola, procurando dificultar a tarefa do

portador da bola. Tentámos também desenvolver individualmente os nossos

defesas no que os possa ajudar a defender o espaço nas suas costas

(cabeceamento, recuperação em velocidade, desarme por trás, etc…). Um

exercício que realizámos muitas vezes durante toda a época, com o propósito

de estimular uma reação à perda de bola, consiste em colocar uma baliza de

futebol de sete em cima da linha da área, de frente para a baliza de futebol de

onze. A equipa é dividida em dois, formando duas filas no poste esquerdo de

cada baliza. Destas filas deve sair um ou dois jogadores (dependendo se o

exercício está a ser feito em 1x1 ou 2x2) que procuram finalizar na baliza dos

adversário. Não há recargas, para que logo após o primeiro remate esteja a

sair um jogador da outra equipa, que deve ser rapidamente pressionado. Ao

colocarmos as balizas muito perto, pretendemos que os jogadores rematem

mal tenham oportunidade, obrigando a uma reação muito rápida à perda de

bola. Este treino deve ser executado nos dias em que trabalhamos sob a

subdinâmica de tensão.

Figura 29 – Meínho de

três equipas

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Outro exercício que executámos muitas vezes com o mesmo propósito

foi o seguinte: é criado um quadrado pequeno, com sete passos de cada lado.

São colocadas quatro mini-balizas entre os cones e são criadas três

equipas de dois. Dentro do quadrado, duas das equipas tentam manter a posse

de bola contra outra equipa, criando uma situação de 4x2. Quando a equipa

que está no meio ganha a bola deve tentar marcar golo numa das mini-balizas.

Contamos o número de golos marcados e falhados.

Os treinos de organização defensiva visavam a organização do bloco.

Um exercício que usámos nos treinos iniciais para poder organizar a pressão

foi o seguinte: é utilizado todo o espaço de treino e são colocadas duas mini-

balizas no meio-campo, bem abertas. As equipas devem ser constituídas pelos

defesas e médios ou médios e atacantes, gerando um jogo de 7x6, com

superioridade na equipa que não tem atacantes O objetivo desta equipa é

marcar golo nestas duas mini-balizas, pontuado um ponto por cada golo. O

objetivo da equipa atacante é recuperar a bola e marcar golo, pontuando um

ponto por recuperar a bola e três por marcar golo.

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3.1.5.3. Terceira subfase

Durante o mês de setembro, a equipa treinou apenas três vezes por

semana, durante uma hora e meia, de maneira a satisfazer as necessidades do

plantel sénior. Definimos por isso uma subdinâmica para cada dia, estruturando

cada treino da mesma forma que na subfase anterior.

As quatro semanas dedicadas a esta subfase visam a aquisição de

competências para resolver os contextos executados nas semanas anteriores.

Nesse sentido, começamos a dar mais liberdade criativa aos jogadores, para

que estes consigam autonomamente arranjar soluções para os problemas

criados. Ainda assim, temos um conjunto de dinâmicas (referidas na

subcapítulo do Modelo de Jogo) que podem ser apresentadas e treinadas pelos

jogadores, dentro do contexto dos exercícios criados.

Estes estão, também, passíveis a novas condicionantes, que são

estabelecidas no sentido de ajustar os problemas anotados na observação

semanal.

As duas últimas fases dividem o período competitivo, cujo planeamento

é feito durante o mesmo. Os princípios não associados à correção de erros do

último jogo da quarta subfase está representada no anexo 2.

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3.2. Implementação das atividades

Este subcapítulo visa descrever a execução dos treinos e jogos até 15

de Novembro de 2015, oitava jornada.

As condições em que o estágio é efetuado dificultam bastante o

planeamento dos treinos. O problema surge, a meu ver, pelo principal princípio

e lema do clube: “Um clube de Todos, para Todos”. Este lema caracteriza bem

a cultura do clube. A intenção é ser um clube justo e acessível a todas as

classes, apoiando atletas que não têm possibilidades de pagar as suas

despesas. Toda gente tem direito de fazer parte do clube. No entanto, esta

cultura foi mal interpretada.

Durante as minhas épocas no clube percebi que a falta de compromisso

dos atletas é um problema sério, que dificulta bastante o trabalho dos

treinadores. Durante o período pré-competitivo chegámos a ter vinte e dois

atletas, todos inscritos. No início do período competitivo, tínhamos definido

vinte jogadores que participaram de forma assídua nos treinos. Numa fase

posterior da competição, o nosso plantel era constituído por dezasseis

jogadores, para no final da época acabar com dezoito.

No meu entender, o fato de o clube ter, pelo seu lema, de aceitar

qualquer jogador que queira integrar uma das suas equipas, não permite ter

aspirações competitivas muito altas, por várias razões.

Um caso que tivemos concreto desta época foi o do nosso inicial

capitão. A meio da época decidiu que queria sair do clube, para um clube de

igual dimensão que lhe prometeu participação no plantel sénior. Este jogador,

mesmo sendo o capitão da equipa, abandonou-nos durante o campeonato

como já tinha feito noutros escalões, sabendo que caso quisesse voltar tinha o

seu lugar no clube, o que aconteceu, apesar da minha oposição.

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A experiência que tenho dos últimos anos mostrou-me que a

instabilidade nas equipas do nosso clube é algo comum. Muitos jogadores

abandonam a época a meio por várias razões, voltando mais tarde. Como

treinadores, somo obrigados a aceitar para treinar qualquer jogador que num

treino queira participar, tendo apenas o direito de decidir quem joga. Como é

óbvio isto dificulta bastante o processo de treino.

A nossa equipa técnica tem por hábito conduzir os treinos da seguinte

forma:

- no início do treino, eu coloco o material no local para os exercícios a

executar, enquanto os meus colegas acompanham os jogadores nos

“meínhos”. Posteriormente, dou o aquecimento aos jogadores e os três

orientamos os “jogos lúdicos”. De seguida, a equipa é dividida, havendo

sempre jogadores que não enquadram a tempo inteiro nos exercícios com mais

teor tático. Estes exercícios são conduzidos por mim e por outro meu colega,

sendo que o terceiro fica com os exercícios com menos teor tático.

De maneira a avaliar a evolução da nossa equipa em todos os

princípios, usamos dois parâmetros: as pontuações dos exercícios de treino e a

observação feita aos jogos efetuados.

A análise dos jogos é feita por mim. Enquanto desempenhei a função de

treinador adjunto, era da minha responsabilidade filmar os jogos e fazer a

posterior análise, definindo que princípios deveriam ser novamente trabalhados

de acordo com as indicações do treinador principal.

A pontuação dos exercícios é algo a que damos muita importância. Não

só permite manter alta competitividade no treino, como nos possibilita

determinar que jogadores ou setores têm mais capacidade para executar as

funções pretendidas.

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3.2.1. Operacionalização da primeira subfase

O objetivo desta semana de treino é ter a oportunidade de observar as

habilidades dos novos jogadores do plantel e de que maneira estes se

enquadram com os jogadores que já jogavam connosco no ano anterior.

Aproveitámos também este período para dar a entender aos jogadores os

grandes princípios do nosso modelo de jogo.

A ideia que pretendi transmitir é a existência de algo mais importante do

que cada jogador, o Modelo de Jogo. Para haver uma consciência coletiva de o

que é, em cada momento, o jogo, tem de haver princípios que nos orientam. Os

jogadores devem executar o Modelo de Jogo porque este foi criado com

intenção de exaltar o que há de melhor neles. É sobre este pacto que

propomos aos jogadores um jogo de qualidade, com posse de bola e

oportunidades ofensivas.

Tentámos não parar muitas vezes o treino, mantendo-nos dentro do

campo a dar indicações breves aos jogadores. À medida o fazíamos, estes

tinham tendência a falhar menos passes. Isto aconteceu porque nesta fase

procurávamos incentivar os jogadores a cometer menos riscos e jogar pelo

seguro. No entanto, marcavam também menos golos e perdiam mais bolas

porque demoravam mais a decidir.

Apesar da distribuição dos momentos pelos dois dias, o nosso maior

feedback incidiu sobre as situações de transição ofensiva, já que este era o

aspeto que mais nos preocupava.

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123

3.2.2. Operacionalização da segunda subfase

Esta subfase reporta-se às segunda e terceira semanas de trabalho. O

período tratado visa uma abordagem, ainda breve, a princípios de jogo mais

específicos. Pretendemos ter a equipa minimamente preparada, em todos os

momentos de jogo, para o primeiro jogo de preparação que conclui estas duas

semanas de treino.

Os treinos de processo ofensivo visavam o trabalho dos defesas e

médios. Posto isto, esperávamos que nos exercícios de treino estas equipas

tivessem melhores resultados. O primeiro momento trabalhado foi a transição

ofensiva, mais especificamente, os processos para tirar a bola da zona de

pressão e a alteração da estrutura para a organização ofensiva.

Os exercícios que visavam trabalhar a remoção da bola da zona de

pressão tiveram pontuações bastante baixas, por parte de ambas as equipas.

Relativamente à alteração de organização estrutural, sinto que os jogadores

adquiriram muito bem e rapidamente as movimentações necessárias para o

fazer.

Os dois treinos seguintes visavam o trabalho sobre a organização

ofensiva. Pretendíamos introduzir as dinâmicas de circulação de bola e do

momento de aceleração. De maneira reforçar a manutenção da posse,

decidimos trabalhar apenas as dinâmicas de aceleração no nosso meio-campo,

continuando a trabalhar maioritariamente com os defesas e médios.

As equipas com jogadores destes dois setores conseguiram resultados

muito satisfatórios nos exercícios de posse de bola pontuando sempre mais do

que os adversários, bem como nos exercícios relativos ao momento de

aceleração.

Convém ter a noção de que no treino do momento de aceleração os

exercícios foram executados em superioridade numérica, num espaço muito

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124

grande, de maneira a promover ações de sprint. Este fator facilita os resultados

favoráveis nestes exercícios.

Na semana seguinte, o nosso foco estava nos médios e atacantes.

Começámos a trabalhar o momento em que perdemos a bola, que

pretendemos que equipa seja rápida a reagir, tentando dar o menor espaço

possível ao adversário, no menor tempo possível. Estes treinos tiveram alta

intensidade, ao que tivemos de aumentar os tempos de recuperação dos

exercícios, com o intuito de manter essa intensidade. Os jogadores reagiram

bastante bem às nossas ideias relativas a este momento, tanto no primeiro dia

como no último. Ainda assim, as pontuações atingidas não foram muito altas.

Os dois dias a meio da semana visavam o trabalho sobre a organização

defensiva. Estes foram os treinos em que a equipa demonstrou piores

resultados. O nosso objetivo era explicar aos jogadores como devemos manter

o adversário sob pressão em todos os momentos. Os exercícios relativos a

este trabalho envolviam maioritariamente situações de inferioridade numérica e

pouca posse de bola para os jogadores que tínhamos mais atenção (médios e

atacantes). Os jogadores demonstraram-se desmotivados e por isso

impacientes na pressão. Foi bom notarmos a vontade dos jogadores de

quererem ter a bola, contudo, não foi fácil organizar a pressão.

Podemos tirar duas conclusões acerca do fato de termos obtido baixas

pontuações nos exercícios desta subfase: a equipa estava com pouca eficácia

nos processos pretendidos, no entanto, notou-se a intenção de executá-los.

Não podemos esperar que os jogadores demonstrem uma boa performance no

início da época, ainda para mais quando lhes pedimos comportamentos a que

não estão habituados.

A nossa atenção e feedback foram dedicados às intenções dos

jogadores, premiando as boas decisões, criticando as más e desculpando as

más execuções técnicas.

Os jogadores demonstraram boa abertura aos princípios apresentados e

vontade de adquirir as competências e conhecimento específico para os

executar.

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125

Esta subfase foi concluída com o primeiro jogo de preparação.

Infelizmente, não foi possível calendarizar jogos nas condições ideais para nós,

conseguindo apenas marcar quatro jogos, todos com equipas de qualidade

similar ou inferior à nossa e que jogavam com organização defensiva em bloco

baixo.

O primeiro jogo foi disputado fora, a 24 de Agosto de 2014, contra o

Clube Desportivo dos Outeiros, uma equipa do futebol popular de Espinho.

Nesta fase, já tínhamos feito dois treinos e meio a trabalhar cada momento de

jogo. A equipa já tinha uma noção do estilo de jogo que pretendíamos jogar,

não tinha, contudo, as competências e conhecimento específico para resolver

as situações que lhes eram colocadas em jogo.

As nossas principais anotações para os jogadores foram não chutar a

bola para a frente sem critério, ter em atenção ao momento de jogo em que

estão e quais as suas funções. Pedimos também para jogar sem medo de ter a

posse de bola, desafiando-os a manter a posse no nosso meio-campo durante

algum tempo antes de progredir para o ataque.

Tirei algumas conclusões sobre este jogo que representam uma

avaliação inicial da equipa em campo:

Transição Ofensiva:

o Os nossos defesas centrais mostraram-se muito eficazes neste

momento, jogando a maior parte das vezes com o guarda-redes e

dando amplitude muito rapidamente;

o Ambos os guarda-redes cumpriram bem as suas funções neste

momento;

o Os defesas laterais demonstraram alguma dificuldade neste

momento;

o Todos os jogadores do meio-campo portaram-se muito bem neste

momento;

o Os nossos avançados tiveram um participação indireta, mas

importante, na recuperação de bola;

Organização Ofensiva:

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126

o Uma nota importante para este momento é que o adversário

colocou apenas um homem a pressionar os nossos três homens

de trás, colocando os extremos a marcar os defesas laterais e os

três médios no seu meio-campo;

o O nosso guarda-redes esteve particularmente bem neste

momento, mantendo muito bem a posse de bola para a nossa

equipa, conseguindo inclusivamente colocar passes nos defesas

laterais; a única anotação feita à sua performance neste momento

foi não encurtar o espaço atrás da defesa quando todo o nosso

bloco está no meio-campo adversário;

o Os defesas centrais e médio defensivo conseguiram gerir bem a

pressão adversária neste momento, conseguindo ter o avançado

adversário de um lado e a bola do outro contudo, neste momento

decidiam mal, jogando quase sempre a bola para as costas da

defesa;

o Os defesas laterais reagiram mal à pressão adversária, acabando

por tentar explorar quase sempre o espaço nas costas da defesa

adversária; Das poucas vezes que recuaram foram forçados a

jogar para trás, já que era difícil jogar com o meio-campo;

o O fato de o adversário colocar apenas um homem na frente

implica que forma uma linha de cinco para a nossa linha de

quatro, o que se revelou bastante eficaz para bloquear a

participação do nosso meio-campo neste momento;

o Visto que os avançados ainda não tiveram muito treino neste

momento, e o que tiveram envolve o defesa lateral ter bola, a sua

participação foi também bastante escassa neste jogo;

o Quando o adversário subiu a pressão, a equipa não foi capaz de

manter o bloco;

Transição defensiva:

o O coletivo mostrou-se muito eficaz neste momento, visto que os

avançados reagiram muito bem à perda de bola, resultando em

recuperações rápidas para a nossa equipa;

Organização Defensiva:

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127

o No que toca a este momento, a nossa equipa mostrou-se um

pouco desconcentrada, visto que sempre que o jogo parava e o

adversário mudava o comportamento do seu bloco estes não

acompanhavam.

Vencemos o jogo por diferença de dois golos. Apesar de estes terem

surgido de lances individuais ou erros do adversário, notámos na equipa

algumas intenções certas e percebemos as que temos de trabalhar mais. O

único golo que sofremos foi a partir de uma bola parada, algo que ainda não

treinamos.

Durante o período em que fui treinador adjunto, era da minha função

filmar os jogos. Isto permitia-me fazer uma análise bem detalhada dos

comportamentos dos nossos jogadores. Com o vídeo dos jogos, fazia também

uma estatística individual da performance dos jogadores. O anexo 3 demonstra

os primeiros quinze minutos dos cincos jogadores mais recuados no primeiro

jogo de preparação.

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3.2.3. Operacionalização da terceira subfase

Neste momento, a maior parte do plantel parece já ter percebido em que

sentido pretendemos desenvolver a equipa. Quero com isto dizer que apesar

de estarem ainda longe de ter as competências e o conhecimento específico

para executar o modelo de jogo, demonstram algumas intenções de acordo

com o que é pretendido.

Esta subfase visa uma repetição mais intensa dos princípios

anteriormente trabalhados. Perante as observações do último jogo, decidimos

fazer algumas alterações no planeamento dos treinos, que podem ser

consultadas no anexo 4.

As alterações efetuadas não implicam a reestruturação completa das

unidades de treino. Apenas visa a repetição de alguns dos exercícios já

executados, com pequenas condicionantes para satisfazer as necessidades

mais urgentes.

Após o último jogo, concluímos que a equipa conseguiu, como

prevíamos, passar a maior parte do jogo em organização ofensiva, graças às

evoluções nos processos de transição ofensiva. A alteração da estrutura e

alteração de amplitude pareçam ser dois princípios bem assimilados. A saída

da zona de pressão parece estar bem assimilada quando a bola é recuperada

na zona central do campo, enquanto que nos corredores laterais, claramente,

precisa de mais trabalho.

Os processos de organização ofensiva parecem ter algumas falhas.

Apesar de termos demonstrado boa capacidade de manter a posse de bola,

estávamos a fazê-lo na zona errada do campo. Quando o bloco adversário

subia, os defesas recuavam muito. Mesmo quando o bloco não era muito

pressionante, a nossa posse era feita entre os defesas centrais, o médio

defensivo e o guarda-redes, deixando os médios e os defesas laterais fora do

processo. No momento em que podíamos acelerar o jogo recorríamos quase

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sempre a passe longo. Acho que esta reação é normal, tendo em conta que os

jogadores, têm apenas meio-campo para treinar, procurando sempre os

espaços mais recuados. Temos alguma dificuldade em ligar o nosso jogo entre

os quatro jogadores mais recuados (incluindo o guarda-redes) e o resto da

equipa.

Perante estas conclusões decidimos dedicar mais tempo à organização

ofensiva e menos à transição ofensiva. Trabalhámos este momento durante

dois dias, em que insistimos na saída da zona de pressão quando a bola é

recuperada nos corredores laterais. Quanto à organização ofensiva, obrigámos

os jogadores, nos exercícios de circulação, a jogar fora da área e sem usar o

guarda-redes. Os exercícios de aceleração de jogo foram iguais aos

executados anteriormente.

Na organização defensiva estivemos preocupados com a manutenção

da pressão nos exercícios, o que nos levou a diminuir os tempos de execução

e aumentar os tempos de recuperação, de maneira a permitir mais pressão em

todos os exercícios.

Estas quatro semanas foram inteiramente dedicadas à repetição de

exercícios já executados anteriormente. A equipa parece já ter uma noção do

modo como queremos jogar, contudo, não é, ainda, capaz de arranjar soluções

para os problemas que surgem nos contextos de jogo. Neste período, tentamos

dar aos jogadores muito tempo de repetição dos princípios que revelaram mais

falhas, como o momento de aceleração da equipa, que se apresentava neste

momento como o nosso maior problema.

Visto que só conseguimos marcar quatro jogos de preparação, a única

semana em que não tivemos jogo foi a primeira desta subfase. Vencemos

todos os jogos amigáveis, tendo como último resultado sido de 5-0 sobre AD

Argoncilhe.

Durante este período, a equipa revelou grandes melhorias,

principalmente no que toca aos processos de organização ofensiva. Os

jogadores envolvidos no momento de aceleração começaram a demonstrar

resultados cada vez mais eficazes. Posto isto, começamos a juntar os

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130

avançados interiores aos defesas laterais, de maneira a desenvolver as

dinâmicas de aceleração no meio-campo adversário.

Relativamente às dinâmicas de manutenção de posse de bola, focámo-

nos em tornar a equipa independente do guarda-redes e usar mais os médios,

perdendo o medo de jogar por fora da pressão adversária. Durante esta fase,

os nosso guarda-redes passaram a fazer um dos treinos (segunda-feira) com a

equipa sénior.

Fomos aumentando o número de jogadores a pressionar, de maneira a

dificultar a manutenção da posse. No final desta subfase os dois setores mais

recuados mostravam-se capazes de manter a posse em inferioridade numérica

(com o adversário desorganizado).

O que mais nos preocupava para o período competitivo era a

incapacidade da equipa de envolver os avançados no ataque (saindo em passe

curto), ter a posse de bola no meio-campo adversário e a reação da nossa

defesa à perda de bola no meio-campo.

Há um fator que acho muito importante referir. Neste momento,

tínhamos no nosso plantel dois médios defensivos (um adaptado a defesa

central) e quatro médios interiores. Eu tinha por hábito separar estes quatro em

duas categorias: dois deles eram “8” por natureza e outros dois “10”. Esta era

uma análise que fazia mediante os aspetos em que estes eram mais fortes e

mais fracos, segundo os nossos princípios de jogo.

Uns salientavam-se por ajudar a defesa a subir no terreno e os outros

com tendência a criar desequilíbrios na frente. O meu colega decidiu jogar em

todos os jogos de preparação com dois médios que eu considerava mais

ofensivos. Eu chamava à atenção para este aspeto, mas a decisão era mantida

em prole de manter a equipa mais ofensiva.

No último jogo, alinhámos com um médio de cada categoria, e, no meu

entender, a equipa teve um desempenho muito melhor em todos os momentos.

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3.2.4. Operacionalização da quarta subfase

Esta subfase corresponde ao espaço de tempo compreendido entre o

início do período competitivo e a décima terceira jornada, a 21 de Dezembro de

2014.

Após a primeira semana de treinos, a nossa semana assume uma

estrutura definitiva de quatro treinos por semana. A duração dos treinos de

segunda e sexta era de uma hora e meia. Os treinos de quarta e quinta tinham

uma hora de duração.

Durante este ciclo, os treinos foram divididos entre exercícios que

incidiam sobre as falhas apontadas na observação semanal e a introdução de

princípios cada vez mais específicos do nosso modelo de jogo.

Estes princípios em falta visam o trabalho sobre os subprincípios,

ilustrado nos anexos 5 e 6:

Introduzir dinâmicas de ataque rápido para quando a bola é recuperada

no meio-campo adversário (Transição Ofensiva);

Aumentar o leque de dinâmicas de circulação de maneira a dar

competências aos nossos setores mais recuados de manter a posse de

bola perante diferentes blocos pressionantes (Organização ofensiva);

Aumentar o leque de dinâmicas do momento de aceleração quando é

efetuado no nosso meio-campo e no meio-campo adversário

(Organização Ofensiva);

Manutenção da reação à perda de bola (Transição ofensiva);

Introdução da dinâmica de pressão entre o avançado centro e o médio

mais ofensivo (Organização Defensiva);

Trabalhar o Modelo de Contenção (Organização Ofensiva).

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Na entrada do período competitivo, a equipa apresenta uma confiança

fantástica, com vitórias em todos os jogos de preparação, colmatados pela

exibição final. A equipa parece bem preparada em todos os momentos, com

mais dificuldade no momento de aceleração. O único aspeto que não tínhamos

ainda trabalhado e nos preocupava eram as bolas paradas. A primeira semana

será então dedicada ao trabalho destes aspetos e o trabalho de alguns

princípios de transição e organização defensivas.

O primeiro jogo foi realizado em nossa casa contra o CUD Leverense,

que acabou por se revelar como o campeão da nossa série, terminando com a

nossa derrota por 5-2.

Apesar dos meus avisos relativamente ao meio-campo que seria titular

neste jogo, o meu colega decidiu colocar dois médios mais ofensivos à frente

do nosso médio defensivo.

O adversário pressionava diferente de todas as equipas que tínhamos

defrontado nos jogos de preparação. Apesar de não pressionarem diretamente

os nossos defesas centrais, cobriam muito bem todas as linhas de passe,

incluindo a do guarda-redes. Pressionaram desta forma durante os primeiros

dez minutos, recuando o bloco após isso.

Apesar de todos os esforços da equipa técnica contra a tendência dos

nossos defesas centrais de usar passes longos sempre que querem jogar para

a frente, a nossa resolução de lances ainda era dividida entre passes curtos e

passes longos. A pressão criou uma grande distância entre os nossos defesas

centrais e laterais (principalmente do lado esquerdo). Conseguimos sair a jogar

algumas vezes pelo lado direito, onde a avançado interior jogava um dos

jogadores que treinou muitas vezes a defesa esquerdo, estabelecendo boas

ligações com o defesa lateral direito.

Quando o adversário recuou o bloco permitiu-nos aproximar mais da

baliza adversária e até rematar, contudo, conseguiram aproveitar melhor os

nossos desequilíbrios nos momentos em que recuperavam a bola.

Foram muito eficazes na ligação entre o extremo e o avançado. A

pressão fraca no nosso meio-campo permitiu que os médios colocassem a bola

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no pé dos extremos, que quando conseguiam arranjar espaço perante o nosso

defesa lateral, isolavam o avançado. Outro erro que a nossa equipa cometeu

foi na transição ofensiva. Quando os nossos médios perdiam a bola, no meio-

campo adversário, a nossa defesa não recuava, criando muito espaço nas

nossas costas.

Entrámos na segunda parte a perder 3-0. O meu colega decidiu nesta

altura seguir o meu conselho e trocar um dos médios mais ofensivos por um

com características mais equilibradas.

Apesar de termos conseguido equilibrar o jogo na segunda-parte e criar

muitos lances de perigo através de jogadas de passe curto, não chegou perto

de equilibrar o resultado.

Perante os maus resultados obtidos nos primeiros jogos, a maior parte

dos nossos treinos durante as duas semanas seguintes ao primeiro jogo foi

dedicada à melhoria de aspetos anotados após os jogos, acabando por não

treinar as dinâmicas de ataque rápido.

Os treinos de organização ofensiva acabaram por ser também uma

repetição dos exercícios realizados anteriormente, atendendo à falta de

capacidade da equipa de criar desequilíbrios no adversário.

No terceiro jogo tivemos um percalço. O treinador principal anunciou a

sua saída da equipa ao intervalo do jogo. Após os jogadores o contactarem,

voltou no treino seguinte, que foi inteiramente dedicado a palestra. O meu

colega aproveitou a situação para marcar algumas regras disciplinares que

tinham de ser cumpridas para a sua continuidade.

Por outras circunstâncias, quem conduziu o quarto jogo fui eu, segundo

o título de diretor. Perante algumas alterações que fiz no onze inical, a equipa

venceu por 3-0. Tentar dar mais equilíbrio à equipa, tanto emocional como

tático. Deixei de fora alguns jogadores que, a meu ver, destabilizavam o

plantel. Coincidentemente, eu via nestes jogadores algumas falhas que

comprometiam o nosso estilo de jogo. Após este jogo, alguns dos jogadores

que deixei de fora abandonaram a equipa.

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Os três jogos seguintes foram novamente conduzidos pelo meu colega.

A equipa conseguiu em todos os jogos ter a maior parte da posse de bola,

contudo, demonstrávamos muita dificuldade em criar situações claras de golo.

Sinto que tivemos pouca sorte no calendário competitivo. Nos sete

primeiros jogos, defrontámos as quatro equipas que acabaram a época nos

primeiros quatro lugares. Estes resultados criaram uma imagem errada do valor

da nossa equipa.

Durante este período, os jogadores não demonstraram grandes

evoluções nos treinos. Estagnaram na progressão que registámos durante o

período competitivo apontada pelos resultados, tanto dos jogos como nos

exercícios.

Após a oitava jornada, o treinador da equipa dos seniores foi despedido

por maus resultados. Para o seu lugar foi contratado o treinador dos iniciados.

Visto que a direção não tinha ninguém para assumir a posição de treinador de

sub-15, foi o treinador principal da nossa equipa que os foi treinar. Visto que

esta responsabilidade impede o meu colega de comparecer aos jogos e alguns

treinos da nossa equipa, eu fui nomeado treinador principal da equipa.

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3.3. Barreiras e estratégias de ação

Considero que a maior barreira desta época foi a mudança de treinador

da equipa sénior. O plano que tínhamos anteriormente estabelecido foi

parcialmente esquecido. Para além disso, sinto que com o novo treinador não

foi possível ter um entendimento tão claro do Modelo de Jogo pretendido para

as camadas de formação.

A nossa equipa também sofreu as consequências. O novo treinador da

equipa dos seniores era o treinador da equipa de sub-15. Visto que não havia

outro treinador para o cargo, o meu colega teve de assumir a responsabilidade

de liderar esta equipa, deixando-me a mim como treinador principal. A

metodologia de treino mantém-se exatamente a mesma e os treinadores que

acompanham os treinos também, faltando apenas um, no treino de quinta-feira.

As únicas diferenças no que toca à nossa equipa técnica são o fato de eu

conduzir a equipa durante os jogos.

Estas trocas de cargos tiveram mais consequências relativamente ao

modo de jogar das nossas equipas, obrigando-nos a voltar a planear o período

restante da época. O novo treinador dos seniores teve, durante esta época,

problemas com o meu colega que assumia o nosso plantel, no entanto, o novo

treinador do escalão superior já foi meu treinador, o que facilitou a

comunicação entre o plantel sénior e a nossa equipa. Numa reunião inicial com

o mesmo, à qual fui sozinho, foram estabelecidos alguns parâmetros acerca do

funcionamento comum entre os dois planteis. Ainda não tinham sido definidos

princípios táticos para a equipa sénior, contudo, eu apresentava algumas

preocupações e sugestões relativamente ao nosso modelo de jogo.

Pretendia manter a prática de um futebol de posse mas menos

pressionante. A minha principal preocupação não era a pressão que a nossa

equipa tinha até esta altura feito, mas a profundidade do bloco que a mesma

exige. Sugeri, por isso, uma nova estratégia para a nossa equipa. A ideia é

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manter todas as dinâmicas ofensivas que têm sido bem executadas pela

equipa, ou seja, a manutenção da posse de bola e o nosso momento de

aceleração no nosso meio-campo. Estas dinâmicas eram anteriormente

aplicadas para recuar o bloco adversário e ter vantagem na exploração de

espaços curtos no meio-campo adversário. O objetivo da nossa circulação de

bola passava a ser o de atrair o bloco adversário de maneira criar

desequilíbrios no meio-campo adversário e dar espaço aos nossos médios

para decidir o jogo através do passe longo.

O meu raciocínio foi o seguinte: a equipa demonstra muita qualidade em

resolver situações em espaços curtos quando envolve os defesas e os médios,

no entanto, surgem dificuldades quando envolvemos os avançados no

processo ofensivo. Isto deve-se ao fato de todos os nossos avançados terem

sido ensinados durante toda a formação a explorar o espaço nas costas da

defesa. Visto que dedicámos pouco tempo ao trabalho dos mesmos, segundo

um estilo de jogo diferente, estes não revelam muitas competências em

espaços curtos.

Esta decisão pode parecer um pouco incoerente da nossa parte,

mediante as ideias da direção, contudo, após a mudança de treinadores, os

únicos objetivos que nos foram transmitidos foi uma mudança nos resultados

competitivos. Tendo em conta as capacidades dos jogadores, as nossas

decisões parecem-me ser as mais adequadas mediante os objetivos propostos.

A meu ver, o grande erro foi cometido pela direção. A nova visão que

trouxe para o clube pareceu-me ser demasiado romântica, algo que levou as

equipas do clube a resultados que não conseguiam aceitar.

Neste momento, perdemos também o nosso capitão de equipa, que

como já referi, saiu para um clube rival, o Serzedo. Não fizemos nenhuma

alteração nos capitães, nomeando em cada jogo um dos três sub-capitães para

assumir o cargo do colega.

Relativamente às alterações feitas no nosso modelo de jogo, alteramos

apenas os seguintes princípios:

Transição Ofensiva:

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137

o Não foram feitas alterações neste momento;

Organização Ofensiva:

o Passa a haver uma distinção entre os dois médios; um tem como

função apoiar a circulação de bola e colocar a bola no defesa

lateral; outro tem funções mais ofensivas, tentando encontrar

espaços no meio-campo adversário;

o Após o momento de aceleração (que só é executado no nosso

meio-campo), caso não haja condições claras para progredir pelo

corredor lateral (agora sem ajuda dos médios), o objetivo passa a

ser encontrar um médio com espaço no meio para este decidir o

jogo rapidamente;

o Após termos a bola com pelo menos um médio e todos os

avançados atrás da sua linha procuramos explorar o espaço nas

costas da defesa adversária;

Transição defensiva:

o A única alteração feita neste momento foi a colocação do bloco

após a perda. Em vez de procurarmos apanhar os adversários em

fora-de-jogo, colocando a linha defensiva em cima do meio-

campo, recuamos o bloco até três passos atrás da tangente mais

recuada do círculo de meio-campo;

Organização defensiva:

o As alterações feitas à profundidade do bloco tornam a nossa

tarefa de pressionar o adversário em todos os momentos mais

difícil, já que cria muito mais espaços entre a defesa e o ataque;

os médios foram alertados para este fato, obrigando-os a

defender mais afastados;

o O que mais me preocupa é, no caso de equipas que jogam com

defesas laterais pouco ofensivos, o espaço criado entre o nosso

defesa lateral e avançado interior. de maneira a manter a pressão

quando o extremo adversário recua, os defesas laterais devem

sair da linha defensiva para pressionar. o resto da equipa deve

fechar ainda mais de maneira a manter as coberturas planeadas

no início da época.

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Mediante as alterações efetuadas no modelo de jogo, decidi fazer

algumas alterações nos nossos planos de treino relativos ao período restante

da época.

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139

3.3.1. Operacionalização da quarta subfase

Visto que a maior parte das alterações foram feitas no momento de

organização ofensiva, dedicámos o período restante da quarta subfase ao

trabalho sobre este momento. Os treinos foram na mesma divididos entre

exercícios direcionados para os princípios mencionados no Macrociclo e

exercícios direcionados às correções definidas pela observação semanal, como

se pode observar no anexo 7.

As mudanças no processo defensivo foram informadas aos jogadores

através de indicações, trabalhando apenas em exercícios relativos à correção

de erros.

De maneira a dar a entender como trabalhámos estes princípios,

passarei a explicar um exercício relativo ao trabalho de cada um:

Nos treinos de subdinâmica de tensão mantivemos os jogos reduzidos

3x3, com dois defesas e um médio. Acrescentamos uma condicionante: é

adicionado um espaço a tracejado interior ao espaço que anteriormente servia

como objetivo. Para a equipa pontuar, após o defesa lateral entrar no espaço

em profundidade deve tentar marcar golo numa baliza colocada no novo

espaço, onde podem entrar os médios de ambas as equipas. Desta maneira

incentivamos o defesa lateral a procurar o médio após o momento de

aceleração.

Para além de repetirmos muitas vezes os exercícios de superioridade

numérica que envolvem um defesa lateral e um avançado interior de 2x1,

realizámos um exercício nos treinos de subdinâmica de velocidade que visava

acelerar o jogo com um médio se este conseguisse ter a bola no meio-campo

com espaço.

Inicialmente, este exercício foi executado em 5x4, evoluindo para 5x5,

6x5 e finalmente 6x6.

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140

A equipa que tem superioridade numérica é a equipa constituída pelos

atacantes, defesa lateral e médio centro. Posteriormente é adicionado outro

médio. A outra equipa é composta, inicialmente, pela linha defensiva,

adicionando um médio de cada vez.

A bola deve partir sempre de um passe do defesa lateral para o

avançado interior que a entrega ao médio centro. A partir daí a equipa tem

liberdade para decidir o lance, desde que o faça rapidamente. É definida uma

linha entre a área e o meio-campo onde a linha defensiva deve começar para

posteriormente, descer até à área.

Este exercício foi executado inúmeras vezes durante o período restante

da época. Visto que voltámos, neste momento em específico, às condições que

os jogadores envolvidos sempre se sentiram mais confortáveis, não foi muito

difícil para eles cumprir as tarefas propostas. O que tentei fazer foi criar uma

base que desse condições ideais aos jogadores para fazerem o que faziam

antes, através de aliviar a bola. Procuramos atrair o bloco e encontrar espaço

num dos nossos médios que, posteriormente, lançava um dos atacantes em

profundidade.

Decidi, quanto à preparação psicológica da equipa, basear a nossa

motivação em quatro princípios. Três destes já faziam parte dos pequenos

diálogos que ia tendo com os jogadores, passando-os para a palestra de jogo:

a necessidade constante de auto-superação, as novas probabilidades de

integrar no plantel sénior e sermos fieis ao nosso modelo de jogo para que este

nos favoreça.

Para além disso, achei que a equipa precisava de uma mudança na sua

confiança. De maneira a facilitar a relação dos jogadores com o jogo e o seu

resultado decidi definir objetivos a curto prazo. Tentei explicar à equipa que as

equipas que tínhamos defrontado até à altura faziam parte do grupo das

equipas mais competentes da nossa divisão, e que nós não estaríamos fora

desse grupo se vencêssemos às equipas teoricamente inferiores, fazendo

justiça na classificação.

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141

Nesse sentido, após a nona jornada fiz uma apresentação do calendário

competitivo, juntamente com uma previsão de todos os jogos da nossa

competição. Tentei mostrar aos jogadores que com resultados realistas,

conseguindo três vitórias e um empate, a equipa conseguiria estar classificada

em oitavo lugar com quinze pontos. Nesse momento a equipa estava

classificada no décimo primeiro lugar.

Os jogadores mostraram que eu estava errado, conseguindo nesses

quatro jogos quatro vitórias consecutivas, algo que já não era conseguido pelo

escalão de sub-19 há pelo menos oito anos.

Destes jogos sinto-me na obrigação de descrever a décima primeira

jornada. Neste momento, a equipa tinha oito pontos, vinha de duas vitórias

consecutivas e íamos defrontar o Serzedo, na altura classificado em sexto

lugar.

Inspirado no jogo da Liga dos Campeões entre o Bayern de Munique e o

Manchester City, decidi definir para este jogo uma estratégia de jogo. Apesar

de não conhecer o adversário, sabia o tipo de futebol que praticavam e que

tinham qualidade individual superior à nossa. A minha intenção era apresentar

um modelo nunca visto pelo adversário. Consistia num Modelo de Contenção.

Para este jogo a nossa estrutura organizativa defensiva foi 1-5-3-2, sem

avançado centro.

Focámos o nosso jogo numa organização defensiva muito forte,

esperando o erro adversário. Foi criada uma linha defensiva de cinco homens,

constituída por três defesas centrais, um defesa esquerdo e um médio

defensivo. À sua frente, estava colocada uma linha de três, constituída por dois

médios e um defesa lateral.

O meio-campo deveria manter alguma distância da linha defensiva,

criando, intencionalmente, muito espaço entre a linha defensiva e média.

Quando a bola é colocada neste espaço um defesa deve sair rapidamente na

pressão para tentar apanhar o adversário com a bola de costas para a baliza.

A Figura 30 ilustra a estrutura organizativa da equipa nos momentos

defensivos.

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142

As setas amarelas representam os

jogadores que saem na pressão quando a

bola é jogada nas costas dos nossos

médios. Quando um sai na pressão os

restantes devem fechar, formando uma

linha de quatro jogadores.

Ofensivamente, em vez de explorar

imediatamente o espaço nas costas da

nossa defesa, visto que tínhamos mais homens no meio-campo, procurávamos

colocar a bola imediatamente nestes. Como segunda opção, tínhamos os

avançados interiores que recuavam para jogar nele de primeira, tal como nos

treinos.

A partir deste momento, temos dois jogadores no meio-campo com

muito boa capacidade de drible, médio avançado centro e o defesa direito, e

um médio com passe longo muito bom. Devemos acelerar jogo com qualquer

um destes três jogadores.

Foi um jogo que o adversário dominou por completo, tendo mais posse

de bola e mais oportunidades, contudo, fomos premiados pela nossa

organização defensiva e eficácia no ataque vencendo o jogo por 1-0.

Conseguimos terminar a primeira volta da competição e a nossa quarta

subfase em sétimo lugar com dezassete pontos. Nos cinco jogos seguintes à

alteração do modelo de jogo conseguimos alcançar treze pontos em quinze

possíveis.

Durante esta fase da época, os exercícios que executávamos visavam

maioritariamente o trabalho do setores médio e atacante. Desta maneira,

procurámos dar critério à nossa circulação, usando para criar condições de

decidir o jogo num estilo diferente. Os jogadores envolvidos sempre

conseguiram ter pontuações muito boas, indicando uma evolução fantástica no

processo ofensivo.

Figura 30 - Estrutura organizacional defensiva do jogo da 11ª jornada

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143

O fato de a maior parte do tempo ter sido dedicado a melhorar

competências ofensivas, a equipa não acusou na sua qualidade defensiva.

Este processo sempre esteve muito bem assimilado desde início. O que nos

comprometia os resultados era a falta de concretização ou até de criação de

oportunidades de golo. A melhoria na eficácia da equipa fez com os

adversários fossem obrigados a abrir mais o jogo e avançar o bloco mais

rapidamente, criado situações de espaço curto onde pretendíamos.

As dinâmicas trabalhadas em treino demonstraram-se fieis ao jogo. O

envolvimento dos avançados melhorou bastante, não só quando são

requisitados no espaço atrás da defesa adversária, como no espaço entre esta

linha e o meio-campo adversário. A simplificação de processos permitiu a estes

jogadores entenderem as suas funções de modo mais claro, melhorando

bastante a performance dos mesmos.

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3.3.1. Quinta subfase

Após a primeira volta do nosso campeonato, o nosso plantel era

composto por dezasseis jogadores, no entanto, tinham toda a confiança da

equipa técnica. Sabíamos que podíamos pedir qualquer coisa a este grupo e

eles seriam capazes de executar com todas as suas capacidades. O fato de

estes jogadores nunca faltarem a um treino sem avisar, permitiu-nos preparar

muito melhor os mesmos.

A partir do mês de Fevereiro voltámos a ter dois jogadores que tinham

previamente saído, ambos defesas centrais. Decidi não deixar um deles jogar,

o jogador que tinha sido anteriormente capitão. Apesar de ser obrigado a

enquadrá-lo novamente no plantel, a decisão de o colocar a jogar ficou para

mim, ao que decidi convocá-lo para todos os jogos, não o usando nenhuma

vez. O outro jogador integrou na equipa apenas como suplente, de maneira a

recompensar os jogadores com mais assiduidade ao longo da época. Nesta

altura foi também chamado um jogador ao plantel sénior para treinar

permanentemente, jogando ocasionalmente por nós.

Visto que só tínhamos sete dos primeiros oito jogos filmados, decidimos

não dedicar nenhum tempo dos nossos treinos às estratégias específicas aos

adversários. Este tempo de treino foi dedicado a rotinar os jogadores para as

posições em que iam jogar. Atendendo à quantidade de jogadores que

constituíam o nosso plantel, fui obrigado a ajustar muitos jogadores a novas

posições. Estes tempo de treino serviu para dar tempo de treino a esses

jogadores nas novas posições, relembrando os princípios mais importantes do

nosso modelo de jogo.

Após uma fase inicial a dar continuidade ao trabalho de organização

ofensiva, definimos, também, um período para introduzir os princípios de

organização defensiva que visavam a dinâmica entre o avançado centro e o

médio mais ofensivo, como está ilustrado no Plano de Macrociclo no anexo 8.

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O restante período de treino seria composto pelas correções exigidas

pela observação semanal, que neste momento se resumia às anotações que

eu tirava durante o jogo. As últimas três semanas também foram dedicadas

exclusivamente a estas correções.

Durante esta subfase tivemos doze jogos, a segunda volta completa. Em

trinta e seis pontos possíveis, conseguimos vinte e um. Na primeira volta

conseguimos apenas dezassete pontos. Perante as observações feitas durante

a primeira volta, previ que nesta fase conseguíssemos alcançar vinte e seis

pontos, no entanto, a nossa prestação não foi a melhor em dois dos jogos.

A saída de jogadores do plantel afetou bastante o nosso desempenho na

segunda volta, no entanto, esta circunstância foi compensada pela melhoria na

qualidade de treino.

Os jogadores que participaram assiduamente nos treinos durante toda a

época mostraram grande capacidade de executar os princípios trabalhados. À

exceção de dois dos três jogos que perdemos durante esta fase, a equipa

mostrou-se muito capaz de disputar o jogo com o adversário. Tínhamos quase

sempre a maior parte da posse de bola, com uma taxa de sucesso fantástica

nos processos de transição ofensiva.

A melhoria mais notável nesta fase foi, contudo, os processos de

organização ofensiva. O exercício que foi maioritariamente executado nesta

época visava um contexto em que o nosso defesa lateral tinha a bola nas

costas do avançado anterior, algo que treinámos durante toda a época. Este é

um processo de construção lenta, em que os jogadores não demonstram

vontade de progredir no campo. Esta fase foi trabalhada até às alterações no

Modelo de Jogo e foi sendo cada vez melhor executada à medida que ao

período competitivo passava.

Os processos trabalhados enquanto fui treinador principal completaram

o quadro ofensivo da equipa, tornando os jogadores capazes de demonstrar

um jogo fluído e consciente em todos os momentos.

Durante a segunda volta, os jogadores conseguiram criar muitas vezes o

contexto que procuramos, fruto do trabalho efetuado numa fase inicial da

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época, mas, mais importante que isso, foi a capacidade dos jogadores de

aplicarem as suas competências naturais nesse contexto. Esse foi o principal

foco do nosso treino durante a última subfase, que se demonstrou muito eficaz

nos jogos disputados.

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Capítulo IV

Desenvolvimento Profissional

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4. Desenvolvimento profissional

Este estágio apresenta-se como um contexto de aprendizagem novo por

diversos sentidos. Durante o meu percurso profissional tinha já executado

funções de treinador adjunto e principal de equipas de formação, no entanto, o

trabalho efetuado durante estas épocas não tinha objetivos definidos pelo

clube.

Uma das funções executada esta época, que tinha como principal

objetivo resolver este problema, foi a de coordenar as equipas de formação.

Até este ano, perspetivava o desenvolvimento dos jogadores enquadrado no

clube, com preocupações muito gerais e de curto prazo. O importante era

identificar situações em que os jogadores tinham dificuldade e providenciar

condições de treino para desenvolverem competências associadas aos

contextos de jogo.

Enquanto coordenador, tive de adotar uma postura diferente. Uma vez

que me foram encarregues as equipas inferiores a sub-13, inclusive, tive de

desenvolver um plano organizativo que visasse o desenvolvimento em todas as

dimensões dos jogadores a longo prazo, estruturado segundo um quadro de

princípios táticos definido pelo plantel sénior.

Esta planificação suscitou a necessidade de desempenhar tarefas novas

que proporcionaram um contexto de aprendizagem prática bastante

enriquecedor.

Em primeiro lugar, fui encarregue de definir os horários de treino das

equipas de formação. Segundo, foi também da minha responsabilidade

contratar os treinadores das equipas e orientar a metodologia utilizada por eles.

Esta não se afigurou tarefa muito complicada, visto que todos os treinadores

que ocuparam as posições em questão demonstraram interesse e ambição em

aprender. Estava no entanto, ciente de que não poderia ser paladino nesta

matéria. Assim, esforcei-me por encontrar um sistema em que esta

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metodologia fosse implementada no treino dos jogadores mais jovens de forma

progressiva e acompanhando a idade, enquanto a restante componente era

fornecida pelo método de Coerver, método esse que era posto em prática por

um dos treinadores que contratei. Para tornar isto possível tivemos reuniões

formativas mensais, em que eu e o treinador em questão explicávamos as

metodologias a aplicar.

Para além disto, o exercício desta função teve outras vantagens

profissionais como a expansão de contactos e interações com clubes vizinhos.

Também as funções desempenhadas enquanto treinador tiveram uma

abordagem diferente. Até agora, as funções eram desempenhadas livremente,

sem qualquer linha orientadora.

O papel desempenhado enquanto treinador principal da equipa de sub-

10 colocou-me num contexto em que a equipa treinada inclui jogadores com

pouquíssimas competências para praticar o desporto. Tive a oportunidade de

observar os erros mais básicos da prática do jogo, que caso surgissem num

contexto com mais qualidade no passado me passavam despercebidos,

aprendendo também como desenvolver essas competências mais básicas.

As funções descritas neste documento foram as de treinador adjunto e

principal da equipa de sub-19. Enquanto treinador adjunto tive experiências que

não tinha tido antes, como a análise dos jogos por vídeo, que anteriormente era

feita durante o jogo, e a coordenação de um Modelo de Jogo mediante os

princípios definidos para o clube. Apesar de o meu contato com a equipa

técnica do plantel sénior ter sido reduzido, foi um processo bastante

interessante.

Contudo, considero que treinador principal foi a função mais

enriquecedora de todo o estágio, desempenhada durante os quatro meses

finais da época.

Enquanto adjunto, passava os jogos na bancada. Estava fora do campo

durante o momento para o qual trabalhávamos toda a semana, apenas com a

capacidade de comunicar com o meu colega via telefone e sem grande

resultado. Nestes momentos muitas eram as ideias a passarem-me pela

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151

cabeça: o extremo direito adversário finta sempre em direção à linha, ou o meio

campo está a pressionar mal. No entanto, nada podia colocar em prática.

Quando assumi o cargo de treinador principal passei a poder ajustar a

equipa mediante as minhas ideias e as ideias que treinávamos, havendo uma

ligação muito mais direta e imediata. Para além disso, permitiu-me gerir o

estado emocional dos jogadores durante o próprio jogo, incluindo algumas

indicações rápidas nas paragens. Uma situação de nível estratégico que me

ficou na memória e apliquei muitas vezes esta época foi quando, num lance,

José Mourinho indicou ao seu extremo que não acompanhasse a subida do

defesa lateral e ficasse no espaço criado pelo mesmo. Quando a sua equipa

recuperou a bola colocou-lha imediatamente para que percorresse o meio-

campo adversário e assistisse para golo. Descobri que estes pormenores são o

que me dá mais prazer no jogo. Durante a presente época não tive

oportunidade de treinar nenhuma destas situações, no entanto, agora que

entendo melhor os contextos em que posso ou não posso fazê-lo, pretendo

conduzir estes processos de forma mais eficiente no futuro.

Nunca me tinha sido dada a oportunidade de gerir psicologicamente um

plantel, algo que desenvolveu de maneira incisiva as minhas competências

enquanto treinador

Num cômputo geral, sinto que este estágio foi tremendo para o

desenvolvimento das minhas competências associadas ao desporto tanto pelas

novas funções, quanto por aquelas que vinha já executando, mas desta vez em

contextos diferentes.

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Capítulo V

Considerações Finais

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5. Considerações finais

Os conhecimentos teóricos adquiridos durante o percurso académico e

aplicados neste estágio corresponderam às competências necessárias para o

planeamento e execução de uma época desportiva com objetivos específicos.

Como novo principal objetivo do clube, o nosso trabalho constituía em

potenciar jogadores da nossa equipa para integrarem o plantel sénior. Visto

que não estão em causa as medidas adotadas enquanto coordenadores,

tomaremos em conta apenas o trabalho feito enquanto treinadores.

Apesar de todos os escolhos que se levantaram perante a equipa e o

clube, sinto que fomos capazes de manter um plano de trabalho eficaz com os

jogadores do plantel com maior assiduidade.

O objetivo deste trabalho é avaliar a influência dos processos de treino

nas competências e conhecimento específico demonstrados no jogo. Nesse

sentido, de maneira a obter uma avaliação semanal do desenvolvimento da

equipa e dos jogadores individualmente, tivemos em conta dois parâmetros de

avaliação: os resultados dos exercícios de treino e análise feita aos jogos.

Durante o período pré-competitivo obtivemos respostas excelentes em

ambos, já que os jogadores em foco nos treinos começaram a época quase

sem pontuar nos exercícios, chegando ao fim do mesmo período tendo

sucesso em praticamente todos e adicionando resultados positivos nos jogos

de preparação; observamos evolução substancial por parte da equipa nesta

fase.

Iniciada a época pudemos verificar uma quebra de rendimento que

rapidamente foi invertida pela modificação da estrutura organizativa e

respectivo Modelo de Jogo. No meu entender, os resultados obtidos não estão

relacionados com a falta de treino, mas sim com adequação dos jogadores ao

seu papel.

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Os comportamentos e competências que lhes foram exigidos não foram

constantes durante a época. Isto deveu-se à alteração da equipa técnica do

escalão sénior. Ainda assim, os comportamentos foram ajustados e os

objetivos atingidos.

Respeitante às metas traçadas para a equipa técnica, incluíam melhorar

os registos disciplinares e competitivos, bem como o número de jogadores

formados no clube a integrar o plantel sénior. Parece-me justo dizer que

correspondemos positivamente a todos.

Durante a presente época, dois jogadores actuaram pela equipa sénior e

outros seis treinaram com a mesma durante pelo menos uma semana. Após

visitar o clube na época seguinte, fui informado que quatro destes jogadores

fazem parte da equipa.

Sinto que este estágio teve um carácter altamente formativo na minha

carreira. A intenção inicial era aplicar os conhecimentos adquiridos durante

esta fase da formação académica, sendo definidas responsabilidades que

apontavam a um contexto específico. Para além disso, surgiu também a

oportunidade de assumir todas as responsabilidades de um treinador principal,

as quais nunca recusaria. Isto permitiu-me desenvolver ainda mais

competências, com muito mais experiência “em campo” e liberdade para

executar as minhas ideias com fins concretos.

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Capítulo VI

Referências Bibliográficas

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159

6. Referências Bibliográficas

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Castro, F. (2014). Do Treino ao Jogo e do Jogo ao Treino. FIFA. (2008). El entrenador - la dirección técnica. Foerster, H. v. (1961). A Predictive Model for Self-Organizing Systems. Garcia, R. P. (2004). Antropologia do desporto: o reencontro com Hermes. Garganta, J. (1997). Modelação Táctica do Jogo de Futebol. 318. Garganta, J. (2000). O JOGO DE FUTEBOL: ENTRE O CAOS E A REGRA. Revista

Horizonte, 7. Júlio Garganta, J. F. G. (1999). Abordagem Sistêmica ao Jogo de Futebol: moda ou

necessidade? Movimento, 11. Morin, E. (1990). Introdução ao Pensamento Complexo. 177. Oliveira, J. G. (2004). Conhecimento Específico em Futebol - Contributos para a

definição de uma matriz dinâmica do processo ensino apredizagem/treino do Jogo.

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Silva, M. (2008). O desenvolvimento do jogar, segundo a periodização tática. Tamarit, X. (2013). Qué es la "Periodización Táctica"? Tzu, S. (1913). A arte da guerra.

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Capítulo VII

Anexos

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7. Anexos

Macrociclo

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de princípios

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Introdução aos

Subprincípios ofensivos

Introdução aos

Subprincípios Defensivos

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estrutura e saída da zona

de pressão

Consolidação da

circulação de bola e momento

de aceleração

Reação à perda de

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Organização da

pressão

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Anexo 1 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa as três primeiras subfases segundo o planeamento inicial)

Page 174: “O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º

ii

Macrociclo

Pe

río

dos

Período Competitivo

Su

bfa

se

s

Competitivo

Me

se

s

Setembro

Outubro Novembro Dezembro

Me

so

cic

lo

Prep

Trans Of

Trans Of

Trans Of

Org Of

Org Of

Org Of

Trans Def

Trans Def

Trans Def

Org Def

Org Def

Org Def

Mic

rocic

lo

Preap. par ao

primeiro jogo

Introdução de

dinâmicas de

ataque

rápido

Introdução de

dinâmicas de

ataque

rápido

Introdução de

dinâmicas de

ataque

rápido

Manutenção

da posse

; Momento de Aceleração

Manutenção

da posse

; Momento de Aceleração

Manutenção

da posse

; Momento de Aceleração

Contenção de

bola no

corredor

lateral

Contenção de

bola no

corredor

lateral

Contenção de

bola no

corredor

lateral

Din. de

pressão

(MC e AC); Mod. de

contenção

Din. de

pressão

(MC e AC); Mod. de

contenção

Din. de

pressão

(MC e AC); Mod. de

contenção

Pla

no

de

Unid

ade

de T

rein

o

Anexo 2 - Excerto do Plano de Macrociclo (representa a quarta subfase segundo planeamento inicial)

Page 175: “O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º

iii

Minutos 0 - 15

Jogador Defesa Fácil 100%

Defesa Difícil 0%

GR 2

3 0 0 0

Passe Curto 100%

Passe Longo 67%

10 0 2 1

Lançamento 100%

Chuto 0%

2 0 0 1

DL 1

Linha de Passe 33%

Arrancada 0%

3 6 0 0

Passe Curto 100%

Passe Longo 100%

2 0 1 0

Drible 0%

Finta 0%

0 0 0 1

Lançamento 50%

Marcação/Interceção 0%

1 1 0 1

Desarme 0%

Cabeceamento 0%

0 0 0 0

DC 4

Marcação/Interceção 100%

Desarme 0%

2 0 0 0

Passe Curto 100%

Passe Longo 20%

7 0 1 4

Drible 100%

Finta 67%

3 0 2 1

Cabeceamento 50%

Rápido a Abrir 80%

1 1 8 2

DC 3

Marcação/Interceção 100%

Desarme 0%

1 0 0 0

Passe Curto 100%

Passe Longo 0%

9 0 0 1

Drible 0%

Finta 0%

0 0 0 0

Cabeceamento 100%

Rápido a Abrir 83%

2 0 10 2

DL 2

Linha de Passe 70%

Arrancada 0%

7 3

Passe Curto 86%

Passe Longo 0%

6 1 0 0

Drible 0%

Finta 100%

0 0 1 0

Lançamento 0%

Marcação/Interceção 100%

0 0 3 0

Desarme 50%

Cabeceamento 100%

1 1 1 0 Anexo 3 - Estatística dos primeiros quinze minutos dos cinco jogadores mais recuados no

primeiro jogo de preparação

Page 176: “O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º

iv

Macrociclo

Pe

río

dos

Período Competitivo

Su

bfa

se

s

Pré-competitivo

Me

se

s

Agosto Setembro

Me

so

cic

lo

Trans Of/ Org Of

Org Of Org Def/

Trans Def Org Def

Mic

rocic

lo

Saída da zona de pressão Circulação de bola

Momento de aceleração

Momento de aceleração

Circulação de bola

Reação à perda de bola

Ajuste do bloco

Organização da pressão

Ajuste do Bloco Bola Paradas

Pla

no

de

Unid

ade

de T

rein

o

Sa

ída

da

zo

na

de

pre

ssã

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ma

is fo

ca

do

na

s lin

ha

s)

Sa

ída

da

zo

na

de

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ssã

o (

ma

is fo

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do

na

s lin

ha

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Ma

nute

nçã

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a p

osse

de

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no

nosso

me

io-c

am

po

Mo

me

nto

de

acele

raçã

o

Mo

me

nto

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acele

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m s

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ca

Mo

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nto

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um

éri

ca

Ma

nute

nçã

o d

a p

osse

de

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Mo

me

nto

de

acele

raçã

o

Mo

me

nto

de

acele

raçã

o e

m s

up

eri

ori

dad

e n

um

éri

ca

Bo

las P

ara

da

s

Ma

nute

nçã

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loco

pre

ssio

na

nte

Ma

nute

nçã

o d

o b

loco

pre

ssio

na

nte

Org

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ção

da p

ressão

Rea

çã

o à

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Ma

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e u

m b

loco

pre

ssio

na

nte

Org

an

iza

ção

da p

ressão

Bo

las P

ara

da

s

Anexo 4 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa a segunda primeiras subfase após as alterações efetuadas)

Page 177: “O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º

v

Macrociclo P

erí

od

os

Período Competitivo

Su

bfa

se

s

Competitivo

Me

se

s

Set

Outubro Novembro

Me

so

cic

lo

Org e Trans Def

Trans Of Trans Of Org Of Org Of Org Of Org Of Org Of

Mic

rocic

lo Man. da

pressão Reação à perda Bolas

Paradas

Int. de dinâmicas de ataque

rápido

Int. de dinâmicas de ataque

rápido

Man. da posse

Mom. de aceleração

Man. da posse

Mom. de aceleração

Man. da posse

Mom. de aceleração

Man. da posse

Mom. de aceleração

Man. da

posse Mom.

de acelera

ção

Pla

no

de

Unid

ade

de T

rein

o

Rea

çã

o à

pe

rda

Ma

nute

nçã

o d

e P

ressã

o e

Bo

las P

ara

das

Bo

las P

ara

da

s

Anexo 5 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa parte da quarta subfase após as alterações efetuadas)

Page 178: “O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º

vi

Macrociclo

Pe

río

dos

Período Competitivo

Su

bfa

se

s

Competitivo

Me

se

s

Novembro Dezembro

Me

so

cic

lo

Trans Def Trans Def Org Def Org Def Org Def Org Def

Mic

rocic

lo

Reação à perda

Reação à perda

Dinâmica de pressão entre

médio e avançado Modelo de Contenção

Dinâmica de pressão entre

médio e avançado Modelo de Contenção

Dinâmica de pressão entre

médio e avançado Modelo de Contenção

Dinâmica de pressão entre

médio e avançado Modelo de Contenção

Pla

no

de

Unid

ade

de T

rein

o

Anexo 6 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa a outra parte da quarta subfase após as alterações efetuadas)

Page 179: “O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º

vii

Macrociclo

Pe

río

dos

Período Competitivo

Su

bF

ase

s

Competitivo

Me

se

s

Novembro Dezembro

Me

so

cic

lo

Org Of Org Of Org Of Org Of Org Of Org Of

Mic

rocic

lo

Procura do médio no

espaço interior; Dinâmicas de exploração de

espaço nas costas da defesa;

Procura do médio no

espaço interior; Dinâmicas de exploração de

espaço nas costas da defesa;

Procura do médio no

espaço interior; Dinâmicas de exploração de

espaço nas costas da defesa;

Procura do médio no

espaço interior; Dinâmicas de exploração de

espaço nas costas da defesa;

Procura do médio no

espaço interior; Dinâmicas de exploração de

espaço nas costas da defesa;

Procura do médio no

espaço interior; Dinâmicas de exploração de

espaço nas costas da defesa;

Pla

no

de

Unid

ade

de T

rein

o

Pro

cu

ra d

o m

éd

io n

o e

sp

aço

in

teri

or;

Pro

cu

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o e

sp

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in

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Din

âm

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e e

xp

lora

çã

o d

e e

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osta

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Pro

cu

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P

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ra d

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o e

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terio

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Pro

cu

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P

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Pro

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P

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terio

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Din

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P

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Pro

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Din

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efe

sa;

Anexo 7 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa parte da quarta subfase após as alterações estruturais no clube)

Page 180: “O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do relatório de estágio do 2º

viii

Macrociclo P

erí

od

os

Período Competitivo

Su

bF

ase

s

Competitivo

Me

se

s

Janeiro Fevereiro Março

Me

so

cic

lo

Org Of Org Of Org Of Org Of Org Of Org Of Org Def

Org Def

Org Def

Mic

rocic

lo

Pla

no

de

Unid

ade

de T

rein

o

Anexo 8 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa a quinta subfase)