o incomparavel jesus cristo

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    Centro Universitrio Adventista de So PauloFundado em 1915 - www.unasp.edu.br

    Misso: Educar no contexto dos valores bblico-cristos para o viver pleno e a excelncia no servir.

    Viso: Ser um centro universitrio reconhecido atravs da excelncia dos servios prestados, seuselevados padres ticos e da qualidade pessoal e prossional de seus egressos.

    Unasp, Engenheiro Coelho

    Diretor Geral:Jos Paulo Martini

    Diretor Acadmico:Afonso L. Cardoso

    Diretor Administrativo:Elizeu Jos de Sousa

    Unasp, So Paulo

    Diretor Geral:Helio Carnassale

    Diretora Acadmica:Silvia Cristina Quadros

    Diretor Administrativo:Evaldo Zorzim

    Reitor:Euler Pereira Bahia

    Pr-Reitora Acadmica:Tnia Kuntze

    Pr-Reitor Administrativo:lnio Freitas

    Unasp, Hortolndia

    Diretor Geral:Alacy Mendes Barbosa

    Diretor Acadmico:Ilson Tercio Caetano

    Diretor Administrativo:Ivan Albuquerque deAlmeida

    Imprenssa Universitria Adventista

    Editor:Renato Groger

    Editor Associado:Rodrigo Follis

    Conselho Editorial:Jos Paulo Martini, Afonso Cardoso, Eliseu de Souza,

    Emilson dos Reis, Wilson Paroschi, Amin A. Rodor

    A Unaspress est sediada no Unasp, Engenheiro Coelho.

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    Introduo

    7Um autor annimo, no sculo 19, escreveu uma belssima pgina sobreJesus Cristo, sob o ttulo One Solitary Life [Uma vida solitria], que desde entotem capturado a ateno de pessoas em muitas partes do mundo.

    Ele nasceu numa vila obscura, lho de uma camponesa. Cresceu emoutra vila, onde trabalhou numa carpintaria at os 30 anos. Ento,por trs anos, oi um pregador itinerante. Ele nunca escreveu umlivro. Nunca assumiu qualquer posio. Nunca teve uma amlia oupossuiu uma casa. Ele no cursou uma aculdade. Nunca visitouuma cidade grande. Nunca viajou mais do que 160 quilmetros dolugar onde nascera. No ez qualquer uma daquelas coisas que usu-almente associamos com grandeza.inha apenas 33 anos quando amar da opinio pblica se ergueu contra Ele. Seus amigos o aban-donaram. Foi entregue aos seus inimigos e suportou o escrnio deum julgamento injusto. Foi pregado numa cruz entre dois ladres.Enquanto morria, seus executores disputavam o seu manto, a nicapropriedade que Ele possua. Depois de morto, oi colocado em umtmulo emprestado, pela piedade de um amigo. Dezenove sculos

    vieram e se oram, e hoje Ele permanece como o personagem cen-tral da raa humana, o lder de todo avano da humanidade. odos

    I n t r o d u o

    O relato do bom samaritano ............................................................................................... 62

    Para ponderar ........................................................................................................................ 67

    Abre-me os olhos 69

    Segundo ato........................................................................................................................... 75

    Para ponderar ........................................................................................................................ 79

    Jesus Cristo segundo o evangelho de Marcos 81

    Marcos e sua audincia........................................................................................................ 85

    O Cristo compassivo e misericordioso ............................................................................... 86

    Encontros ...............................................................................................................................88

    Jesus e o endemoninhado geraseno ......................................................................88

    A mulher enferma......................................................................................................92

    A ressurreio da filha de Jairo ................................................................................ 96

    Para ponderar ........................................................................................................................ 98

    O incomparvel Cristo 101

    Politicamente incorreto .....................................................................................................108

    Ele era Deus? .......................................................................................................................113

    Evidncias de sua divindade .............................................................................................117

    Para ponderar ......................................................................................................................120

    Sua identidade .........................................................................................................120

    Sua misso................................................................................................................125

    Referncias bibliogrficas 127

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    IntroduoO Incomparvel Jesus Cristo

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    os exrcitos que j marcharam, todos os navios que j navegaram,todos os parlamentos que j se reuniram, todos os reis que j rei-naram, colocados juntos, no tiveram o impacto sobre a vida doshomens neste planeta como essa nica vida solitria (autor desco-nhecido apudGREEN, 1992, p. 2).

    Desde tempos imemoriais, pelos corredores da histria, passaram coman-dantes, caudilhos, ditadores, governantes, lderes militares, presidentes, polti-cos, poetas, gnios, artistas, lsoos e telogos. A maioria deles passou semdeixar qualquer inormao sobre suas realizaes, destrudas pela mo erru-ginosa do tempo. Mas o transcorrer das eras no exerceu nenhum eeito sobreJesus Cristo. Sua vida, conorme registrada nos evangelhos, permanece hoje toatual como nos dias em que Ele viveu. Por qualquer critrio que adotemos, Ele o personagem central da histria. Sua vida e ensinos ainda causam enormeimpacto transormador em todos aqueles que se detm para considerar sua ca-rismtica e irresistvel pessoa.

    Seus inimigos tm, de muitas ormas, tentado transorm-lo em mito oudescaracterizar sua identidade com base em descobertas arqueolgicas oradasou interpretaes sensacionalistas delas; lmes e canes irreverentes, produtosda co humana, surgem de tempos em tempos. Nisso, eles no cam muito lon-ge dos inimigos clssicos, os antigos ariseus, saduceus, herodianos, Ans, Cais,o sindrio, Herodes e Pilatos, que, inutilmente, tambm tentaram destru-lo esilenci-lo. Contudo, os inimigos passam e seus esoros terminam desacredita-dos, apenas despertando em muitos o desejo de conhecer melhor a Jesus Cristo.

    Jesus continua com a palavra nal sobre Deus, a vida, a morte, ns prpriose a vida eterna. Em ltima instncia, como escreveu Julie Cameron (1999, p 7),de Noranda, Austrlia, diagnosticada com cncer terminal:

    Jesus o meu consolador; protetor; escudo nos meus medos; o co-nhecimento que me az distinguir o certo do errado [] o grandemsico na orquestra da vida. Jesus o verdadeiro arquiteto; a luz quebrilha em mim; a rocha na qual eu me ergo; o constante companhei-ro; o nico mestre; a dentro de mim; a beno e a minha vida eter-na. Ele morreu; assim eu poderei viver. Ele a minha rme segurana.A ora quando me sinto raca. O poder dentro do meu corao, doqual eu sinto os batimentos. Ele a sombra que me acompanha. Ele o grande autor, pois escreveu o livro da vida [] Ele a resposta paranossas lutas e provaes

    Jesus no precisa de deesa ou de testemunhas, Ele disse. O li-vro que o leitor tem em mos um pequeno testemunho. Umpequeno tributo sua incomparvel pessoa e o que Ele signi-ca para mim. O propsito, ao escrev-lo, no oi primariamenteacadmico, mas inspiracional. Assim, as notas de rodap, ree-rncias e citaes oram reduzidas ao nvel mnimo. A inteno

    oi manter o que escrevi prximo de suas parbolas, para queo leitor possa encontrar para si novos signicados e aplicaes,adequados sua prpria vida e circunstncias pessoais.

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    1CAPTULO

    O r e t r a t o d e

    D e u s

    Os judeus ensinavam que o pecador devia arrepender-se antes de

    lhe ser oferecido o amor de Deus. A seu parecer, o arrependimento

    obra pela qual os homens ganham o favor do Cu. Foi este

    pensamento que induziu os fariseus atnitos e irados a exclamarem:

    Este homem recebe pecadores! (Lc 15:2). Conforme sua suposio,no devia permitir que pessoa alguma a Ele se achegasse sem se

    ter arrependido [] Cristo ensina que a salvao no alcanada

    por procurarmos a Deus, mas porque Deus nos procura [] No nos

    arrependemos para que Deus nos ame, porm Ele nos revela seu

    amor para que nos arrependamos.

    Ellen G. White

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    O retrato de Deus

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    Como Deus? Para muitas pessoas, Deus apenas uma ideia abstrata.

    Outros o conundem com um severo juiz, distribuindo sentenas s suas cria-turas. Para outros, Deus um caprichoso policial csmico, buscando nossoserros. H, ainda, aqueles que o veem como um tipo de Papai Noel complacen-te distribuindo presentes uma vez por ano.

    Como Deus, ou quem Deus? Deus tem sido em muitas circunstncias ca-ricaturado pela religio e pelos religiosos. As respostas podem variar de pessoa parapessoa, mas provavelmente elas diro mais a nosso respeito do que a respeito de Deus.Um dos ensinos mais evidentes do Novo estamento que Jesus Cristo veio para reve-lar a pessoa do Pai (Jo 14:9-13). Em vrias ocasies, o prprio Jesus ez a mais comple-ta e absoluta identicao entre Ele e Deus: perdoou pecados, aceitou culto e adorao,ez promessas que apenas Deus poderia azer (Lc 5:21; 24:52; Jo 14:12-14 ).

    Provavelmente, um dos quadros mais claros a respeito de Deus pintadopor Jesus aparece em Lucas 15, o captulo conhecido como evangelho den-tro do evangelho. Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecado-res para o ouvir. E murmuravam os ariseus e escribas, dizendo: Este recebepecadores e come com eles (Lc 15:1 e 2).

    Em resposta acusao que lhe eita pelos austeros representantes doestabelecimento religioso dos seus dias, Jesus conta trs parbolas. ais histriasno so primariamente uma exposio do evangelho, mas uma deesa dele. Elasrepresentam o poderoso contra-ataque de Jesus diante daqueles para quem agraa de Deus parecia um desperdcio. Aqueles que se sentiam indignados antea armao de que Deus se interessa pelos pecadores.

    As palavras e aes de Jesus chocaram e oenderam os lderes religiososdo judasmo do primeiro sculo. E provavelmente elas oendem ainda hojemuitos que se julgam conhecedores de Deus. Uma das surpresas do minis-trio de Cristo que Ele atraiu pessoas das quais os religiosos nem se apro-ximavam: enermos, pobres, samaritanos, mulheres e coletores de impostos.odos eles marginalizados dentro do sistema religioso e social dos judeus. Odesdm da elite religiosa por essas pessoas de quem Jesus se aproximou e porquem Ele se interessou e maniestou respeito, no porque elas ossem maispecadoras do que as outras. Mas porque eram pessoas ordinrias, ignorantesdas intrincadas cerimnias religiosas e, por isso, consideradas impuras.

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    O retrato de DeusO Incomparvel Jesus Cristo

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    muitos pais conhecem o sorimento por saberem que um lho ou uma lha, adul-tos, encontram-se perdidos moral ou espiritualmente. Nesse caso, pode-se saberonde eles esto e o que esto azendo, mas no se sabe o que azer para recuper-

    -los. Sabemos que eles esto longe, no pas distante, desperdiando seus recursos,seu potencial, sua vida. Provavelmente apenas um pai ou uma me que conheatal dor pode realmente entrar no esprito da parbola contada por Jesus.

    A lio clara a de que, em cada caso, os bens perdidos no oram es-quecidos e no perderam o seu valor, o que indicado pela intensidade dabusca. No caso da ovelha (uma em cem), o pastor deixa as noventa e nove e saiem busca da nica extraviada. No ocaso da moeda perdida (uma em dez), amulher acende uma luz, ajoelha-se no cho da casa e procura at encontr-la.No caso do lho perdido (um em dois), a lio evidente: o perdido passa aabsorver toda a ateno do proprietrio.

    H alguns anos, viajando de nibus de oronto para Nova York, parei nacidade de Buffalo. Chamou-me a ateno toda uma enorme parede, como ummural enorme, naquele terminal rodovirio. Ali estava uma grande quantidadede otograas de pessoas desaparecidas. Dezenas de otos. Homens, mulheres,rapazes, moas e, principalmente, crianas. odos eles, lhos, lhas, esposos,esposas, netos de algum! Acima das otos, escrita em letras enormes, haviaa seguinte rase: Perdidos, mas no esquecidos! No pude deixar de azer aassociao entre aquele quadro e as histrias de Jesus sobre os perdidos!

    Um outro aspecto pungente das parbolas de Lucas 15 o carter pessoaldo envolvimento. Nos trs casos, no um servo que mandado para buscaro bem perdido, mas o prprio dono quem toma a iniciativa da busca. Assim Deus. Ele prprio, em pessoa, entrou em cena para recuperar o que se haviaperdido. Aqui, tambm o perdido no oi esquecido.

    O que oendeu os representantes do judasmo do primeiro sculo no oitanto a resposta dessas pessoas a Jesus, mas a resposta de Jesus para elas. Esterecebe pecadores e come com eles (Lc 15:1-2) era a acusao dupla dos oposi-tores de Cristo. Aqueles que diziam conhecer a Deus, se oenderam com o tipode pessoas com quem Jesus se associou. No centro do conronto entre Jesus e osariseus est a compreenso da doutrina de Deus. Anal, pode Deus associar-se

    com os pecadores? Os ariseus diziam que no. Jesus ento contou trs parbolaspara demonstrar o contrrio. Estas so histrias de Deus, na linguagem humana:

    A parbola da ovelha perdida (Lc 15:3-7);

    A parbola da moeda perdida (Lc 15:8-10);

    A parbola do lho perdido (Lc 15:11-32).

    Essas histrias tm uma estrutura comum: elas enatizam a tragdia daperda, a diligncia da busca e o regozijo da recuperao.

    No podemos dizer que conhecemos a Deus se no sabemos o que lhecausa dor, ou o que lhe traz alegria. Jesus deseja demonstrar que o coraodo Pai se parte por aqueles que se perdem e exulta em abundante alegria poraqueles que so encontrados.

    Como se sente voc ao perder qualquer coisa considerada valiosa? Jesusutiliza um conceito que acilmente podemos compreender. bvio que os sereshumanos se sentem rustrados, deprimidos e tristes quando perdem aquilo aque do valor, e se alegram quando encontram o que oi perdido. A estupendarevelao que Jesus az que Deus tambm se sente assim. O ponto principaldessas histrias no alar da ovelha, da moeda ou do lho, isto , daquilo queora perdido. O propsito dessas parbolas ocalizar o carter do pastor queperdeu a ovelha, da mulher que perdeu a moeda e do pai que perdeu o lho.Essas parbolas revelam como Deus .

    Em termos literais, eu nunca perdi uma ovelha, mas j participei da agonia deminha lha pequena, vagando pela vizinhana em busca do seu cozinho perdido. Eununca perdi uma moeda valiosa, mas j perdi minha aliana de casamento, cartes decrdito ou a carteira de motorista. Recordo-me pereitamente do pnico, do retornoaos lugares onde estivera, dos teleonemas dados na tentativa de recuperar esses bens.

    Em semelhantes circunstncias, muitos j experimentaram a agonia de terum lho perdido por algum tempo. O desespero inexprimvel quando no o en-contramos em meio a uma multido. Em nvel dierente, mas no menos real,

    No podemos dizer que conhecemos a

    Deus se no sabemos o que lhe causa

    dor, ou o que lhe traz alegria. Jesus

    deseja demonstrar que o corao

    do Pai se parte por aqueles que se

    perdem e exulta em abundante alegria

    por aqueles que so encontrados.

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    O retrato de DeusO Incomparvel Jesus Cristo

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    menos compreendidas. Ela representa a grande e nal pincelada no quadro queJesus pinta de Deus. Certo homem tinha dois lhos, inicia Ele a sua histria. Omais moo deles disse ao pai: Pai, d-me a parte dos bens que me cabe (Lc 15:12).

    O pedido desse lho , no mnimo, desrespeitoso. Especialistas na culturaoriental sugerem que o pedido do lho equivale a um desejo de morte, porques depois da morte do seu pai ele poderia receber sua herana. O pedido dolho parte o corao do pai, porque a nica preocupao desse lho era com apropriedade. O pai poderia ter negado o pedido, poderia ter obrigado seu lhoa car, mas de que isso adiantaria? Seu lho j estava emocionalmente distante.Aqui est o ponto vulnervel do amor: o amor pode ser rejeitado e desprezado!Mais tarde, em seu retorno, ele no seria aoitado apenas pelo ato de que ele

    no ora bom, mas tambm que ele havia desprezado a bondade.A parbola revela que Deus no viola nossa vontade. Ele oerece espao para

    nossas escolhas, mesmo sabendo que aquilo que queremos muitas vezes preci-samente o que nos destri. Liberdade a antasia de milhes na busca do desco-nhecido. Eles querem se encontrar. Sem perceber que os seres humanos no tmnenhum eu para ser encontrado. Apenas temos um eu para ser desenvolvido.

    O jovem da parbola havia decidido viver de maneira independente, se-guir o seu prprio caminho em busca da elicidade e da emancipao. Antes

    das ideias de Freud e de Nietzsche sobre as grandes oras propulsoras na vidadas pessoas, Blaise Pascal concluiu que o ator mais importante por trs dasdecises humanas abusca da elicidade.Sem dvida,esta a grande busca docorao humano. Mesmo no sexo (Freud) e no poder (Nietzsche), as pessoasbuscam a elicidade. A tragdia que requentemente buscamos a elicidadenos lugares errados, onde ela no pode ser encontrada. Nas buscas erradas da

    vida (e isso o que no vemos) j estamos permitindo que os os dos ventoscomecem a tecer a capa de nossas maiores agonias.

    A parbola do filho perdidoDisse-lhe mais: Certo homem tinha dois lhos. O mais moo delesdisse ao pai: Pai, d-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes,pois, os seus haveres. Poucos dias depois, o lho mais moo ajuntan-do tudo, partiu para um pas distante, e ali desperdiou os seus bens,vivendo dissolutamente. E, havendo ele dissipado tudo, houve naque-la terra uma grande ome, e comeou a passar necessidades.Ento oi encontrar-se a um dos cidados daquele pas, o qual omandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava en-cher o estmago com as alarrobas que os porcos comiam; e nin-gum lhe dava nada. Caindo, porm, em si, disse: Quantos empre-gados de meu pai tm abundncia de po, e eu aqui pereo de ome!Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contrao cu e diante de ti; j no sou digno de ser chamado teu lho; trata-

    -me como um dos teus empregados.Levantou-se, pois, e oi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu paio viu, encheu-se de compaixo e, correndo, lanou-se-lhe ao pescooe o beijou. Disse-lhe o lho: Pai, pequei conta o cu e diante de ti; jno sou digno de ser chamado teu lho.Mas o pai disse aos seus servos: razei depressa a melhor roupa, e vesti-

    -lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos ps; trazei tambm obezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, porque este meulho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e oi achado. E comearama regozijar-se. Ora, o seu lho mais velho estava no campo; e quando vol-tava, ao aproximar-se de casa, ouviu a msica e as danas; e chegando umdos servos, perguntou-lhe que era aquilo. Respondeu-lhe este: Chegou teuirmo; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu so e salvo.Mas ele se indignou e no queria entrar. Saiu ento o pai e instava comele. Ele, porm, respondeu ao pai: Eis que h tantos anos te sirvo, e nuncatransgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito paraeu me regozijar com os meus amigos; vindo, porm, este teu lho, quedesperdiou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.Replicou-lhe o pai: Filho, tu sempre ests comigo, e tudo o que meu teu;era justo, porm, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmoestava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e oi achado. (Lc 15:11-32)

    A terceira histria, a parbola do lho prdigo, a mais longa, a mais conhe-cida, a mais amada, a mais citada das parbolas de Jesus e, provavelmente, uma das

    Liberdade a fantasia de milhes na

    busca do desconhecido. Eles querem

    se encontrar. Sem perceber que os

    seres humanos no tm nenhum eu

    para ser encontrado. Apenas temos

    um eu para ser desenvolvido.

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    Foi empregado por um gentio para apascentar porcos, uma atividade nemmesmo imaginvel para um judeu. A guarda do sbado, a observncia dos rituaisde pureza (Lv 11; 23:3; ver Lc 15:15-16) ou aderncia aos detalhes das leis judaicas,dicilmente observveis agora. Seu estgio nal no pas distante, sugere completaapostasia de sua identidade, que aparece desgurada e esquecida. Mas o seu de-sespero desconhece o orgulho! A ome desconhece escrpulos! Suas iluses passa-ram como um ogo de articio. Ele, que havia sonhado com liberdade e elicidadedistantes, termina poludo, em companhia imunda. Mas ningum lhe dava nada,conclui o relato! Neste ponto, associamos a narrativa com um quadro comum, quepinta o jovem mal vestido assentado, cabea pendida nos joelhos, cercado de porcos.Praticamente, muito pouco sobrara do rapaz que sara da casa paterna.

    Se Jesus tivesse parado neste ponto da histria, seus crticos teriam batidopalmas de entusiasmo, como sinal de aprovao. Voc est correto, eles teriamdito. Isto precisamente o que acontece com o pecador. Ele recebe o que me-rece. Na companhia dos porcos. Mas no a que Jesus termina. O Salvadordeseja ter o lho perdido de volta, na casa do Pai!

    O ponto de retorno na parbola extraordinrio. Jesus diz que o moocaiu em si (v. 17). As palavras de Cristo so proundamente reveladoras. Cain-

    do em si. Isso signica que quando ele abandonou o pai, o jovem estava ora desi. odo abandono de Deus um ato de insanidade. Est ora de si todo aqueleque busca ser eliz longe de Deus, e cria substitutos precrios. al busca umaorma de demncia, pois o pas distante nunca pode ser o nosso lar. Ele sersempre terra estranha! Observe-se que Jesus no trata o pecado com levianda-de. Ele pintou suas trgicas consequncias com terrvel delidade. Mas Ele nopodia crer que a separao de Deus um ato de genuna humanidade. Caindo

    A audincia judaica teria esperado que o pai da histria, irado, recusasse a exign-cia do seu lho. Mas este no era um pai tpico. Generosamente ele oerece posse ime-diata ao seu lho mais jovem, sua parte da propriedade. Geralmente isso seria um tero,embora em circunstncias especiais, pudesse ser menos. Apenas alguns dias depois, olho j havia transormado em dinheiro sua partilha dos bens. E, ajuntando tudo o queera seu, partiu para uma terra distante (Lc 15:13). Alm de sua atitude de desrespeitoe insulto ao seu pai, uma vez que, em uma sociedade agrria como a de Jesus, a terraera parte da identidade das pessoas e, portanto, nunca vendida, o jovem tambm deixaclaro que no pretendia voltar. O que planejava ele? entar sua sorte no prspero mundocomercial dos gentios? alvez. Mas isso ainda est no ventre do uturo!

    A realidade, em geral, tem sua orma cruel de surpreender nossas antasias eacordar-nos de nossos sonhos. At onde a busca de emancipao e elicidade con-duz o jovem lho da parbola? Segundo Jesus, ao pas distante. Onde ca tal pas?Geogracamente o pas distante, provavelmente, cava entre os gentios, caracteri-zado pelos valores pagos, marcado pela moralidade pag. Espiritualmente, o pasdistante a inconscincia e a distncia de Deus. Viver como se Deus no existisse!

    Distante, o jovem persegue a sua antasia. E l dissipou todos os seus bens, vi-vendo dissolutamente (Lc 15:13). No pas distante, o rapaz passou a viver sua liber-dade ilusria. Como atestado em ontes da antiguidade a respeito de muitos jovens, aortuna herdada oi consumida em vinho, mulheres e canes. No judasmo, a condu-ta deste lho era duplamente reprovvel. No apenas pelo estilo de vida de dissipao,mas tambm pela perda dos meios de suporte ao pai em sua velhice. Dos lhos seesperava assistirem nanceiramente os pais idosos em casos de necessidade.

    Gradualmente, o jovem desceu ao seu prprio inerno. Os amigos duraramenquanto durou o dinheiro. Observe a sequncia trgica: ele p erdeu o dinheiro,comeou a padecer necessidade, mas ningum lhe dava nada (Lc 15:14-16). O

    jovem lho zera da vida um carnaval, dias alegres e noites deslumbrantes. Masj tinha um encontro marcado com o desastre!

    Sua aparncia radiante de prncipe tornou-se imersa em depresso e tris-teza. Suas roupas custosas converteram-se em trapos. As leis, os conselhos, asabedoria que desprezamos, tornam-se anjos vingadores. H caminhos que aohomem parece direito, mas ao cabo d em caminhos de morte, diz o sbio (Pv14:12). A histria desse lho a nossa histria, a nossa biograa! Uma descrioexata da amlia humana. odos ns nos desviamos como ovelhas desgarra-das. Em nossa cegueira e rebelio, tentamos criar os nossos pequenos parasos,nossa elicidade prpria, baseada em prazeres, aquisies e realizaes pessoais,apenas para descobrir o sabor amargo da decepo e do engano de nossas esco-lhas. E, assim, terminamos apenas com o gosto de cinza nos lbios.

    A tragdia que frequentemente

    buscamos a felicidade nos lugares

    errados, onde ela no pode ser

    encontrada. Nas buscas erradas da

    vida (e isso o que no vemos) j

    estamos permitindo que os fios dos

    ventos comecem a tecer a capa de

    nossas maiores agonias.

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    aeies ou arrancado o rapaz da sua memria e do seu cora o embora issoosse precisamente o que ele podia merecer. No se trata aqui de nenhum paineurtico, incapaz de sentir os arranhes e machucaduras do lho!

    Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele,correndo, o abraou, e beijou (Lc 15:20).

    O pai o v distncia. A implicao extraordinria: aqui est um pai queno apenas deseja receber o lho, mas espera por ele. Dia aps dia, ele nuncadeixou de esperar pelo lho. Apenas o amor do pai poderia reconhecer o lhosob os andrajos que o cobrem, porque, o amor tem bons olhos. O pai discerneo seu lho enquanto ele caminha distncia. Devemos notar o momento: olho ainda estava longe para expressar a seu arrependimento, como os judeusesperariam, mas a graa do pai j estava presente e atuante!

    A doutrina do arrependimento na religio judaica provia a expiao, des-de que ele osse sincero e acompanhado pela determinao de separao do pe-cado. No judasmo posterior, os rabis passaram a ensinar que Deus e o homemoperam juntos no arrependimento. Para cada passo, que tomado em sua dire-o, Deus toma um passo em direo ao homem. Aparentemente, o arrependi-mento do lho prdigo parece preceder o perdo do pai. Isso porque o jovemprocede de acordo com o conceito judaico de arrependimento. Entretanto, a

    conduta do pai revela um princpio dierente.Para entender a histria, devemos lembrar que no oriente um homem

    idoso, respeitado, no devia correr publicamente. al ato era consideradoinapropriado e indigno. Mesmo nos nossos dias, a maioria das pessoasque se julga importante reprime suas emoes em pblico, considerandotal ato como um sinal de raqueza. Mas o pai da parbola de Jesus, apode-rado pela compaixo, desconsidera todos os protocolos e etiquetas de sua

    em si. Esse o extraordinrio e invencvel otimismo de Cristo!Cair em si voltar-se para uma compreenso realista de Deus, de

    ns prprios e do pecado. O jovem c omea a ver as coisas com clareza, pelaprimeira vez. Ainal, o lar no era um lugar to ruim assim. E comea acompreender o que havia perdido: o status de ilho. Uma resoluo incon-trolvel explode em seu peito. Levantar-me-ei e irei ter com meu pai. Oilho ento, prepara o seu conficteor, o seu discurso de admisso de culpa.Sua demonstrao de arrependimento. Direi: Pai, pequei contra o cu ediante de ti; j no sou digno de ser chamado teu ilho [] trata-me comoum dos teus trabalhadores (Lc 15:18-19). Os trabalhadores ou jornalei-ros, eram diaristas, em condio inerior aos servos da casa, que gozavamde maior grau de intimidade. Ele sara de casa dizendo d-me; agora, emseu retorno ele pretende dizer, trata-me. distancia, ele se lembra do seupai; seu amor e bondade emergem em sua mente. Fragmentos de memrias

    vm sua lembrana. Est a a base da sua i niciativ a de retor no: as memriasdo pai. As lgrima no podem ser evitadas.

    O pai que no manda perseguir o lho nem vai atrs dele, est presentena lembrana do rapaz, quando este, sorendo misria e ome junto a sua varade porcos. Sem escusas, ele assume responsabilidade por suas aes. Reconhe-ce seus erros. Ele havia sado de casa pensando eu tenho que ser eu mesmo,mas descobre que nossa verdadeira identidade no encontrada distancia,em indulgncia com as nossas antasias. Ele havia partido para encontrar sualiberdade, e termina algemado alta de esperana. E distancia, entre osporcos, que ele chega a compreender a glria da casa do pai. Ele perdera ostatus de lho, imagina ele, mas mesmo como um diarista, lar lar! Ele noesperava ou mesmo nem desejava qualquer tratamento preerencial, apenasuma oportunidade de provar que mudara.

    Levantar-me-ei e irei ter com o meu pai (Lc 15:18). No h lugar maisdicil para se retornar do que aquele onde alhamos. Os lugares de nossos ra-cassos so lugares cruis. As aes do moo haviam sido objeto das conversasna pequena vila. Ele sabia que voltar seria assinar sua admisso do engano, e serorado a enrentar a crtica, sem ter nada para dizer em sua deesa. Ser oradoa deparar-se com sua vergonha. Voltar para casa, com o cheiro dos porcos, comos trapos do seu racasso, esta era, provavelmente, a humilhao nal.

    Note, porm, que Jesus no diz que o jovem decide voltar para a vila, oumesmo para o seu antigo lar. E, levantando-se, foi para seu pai (Lc 15:20).Ento, quando Jesus descreve o pai, percebemos o mais surpreendente dos atos.Esse pai no uma gura austera que tinha deserdado o lho, banido-o de suas

    Todo abandono de Deus um ato de

    insanidade. Est fora de si todo aquele

    que busca ser feliz longe de Deus, e

    cria substitutos precrios. Tal busca

    uma forma de demncia, pois o pas

    distante nunca pode ser o nosso lar.

    Ele ser sempre terra estranha!

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    O retrato de DeusO Incomparvel Jesus Cristo

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    99 nomes para Deus do Islamismo, no budismo ou no hindusmo.Abba o ter-mo aramaico, requentemente utilizado por Cristo para descrever Deus. O ter-mo reete extrema intimidade, equivalente ao nosso paizinho ou painho ou,ainda, ao carinhoso e ntimo termo daddy do ingls. No Antigo estamento eno judasmo, Deus chamado de pai, mas em um sentido totalmente dierente.Deus pai, mas da nao, no contexto da eleio de Israel. A relao pai-lho,descrita por Jesus tem sempre caractersticas pessoais. Nunca utilizada em re-erencia ao povo. ampouco a liao constitui uma prerrogativa exclusiva dospiedosos. Deus pai para bons e maus, justos e injustos (Mt 5:45; 21:28-32).

    A parbola de Jesus no coloca nase na indignidade do ilho, mas noamor do Pai. udo perdoado. udo esquecido! Os dias de ome e de conv-

    vio c om os porcos esto no passado. Com um toque de me stre, Jesus leva ahistria ao clmax inal: uma esta preparada para celebrar o retorno doseu ilho. Nenhuma palavra de recriminao moralista. Nenhuma exign-cia de prestao de contas. Nenhuma condio imposta. Nenhum tempo deprova. Nenhum perodo de disciplina, para observao! Nenhuma quaren-tena ou penitncia exigida.

    O clmax da histria contada por Jesus , no mnimo, oensiva sua audi-ncia judaica. Os ariseus teriam aplaudido a narrativa se o pai tivesse deman-dado arrependimento e prova positiva de mudana e emenda antes de receber

    de volta o lho dissoluto. Arrependimento era o corao da teologia arisaica.Ele precedia a aceitao e o perdo divinos, envolvendo um perodo de provae separao para tornar evidente a sua autenticidade. Os sinceramente reli-giosos se sentiram chocados pelo ensino deste jovem rabi, que parece subvertera ideia de Deus da doutrina arisaica.

    A histria do lho prdigo, a ltima do trio de parbolas que Jesus conta

    cultura, corre ao encontro do seu ilho. Aqui ns encontramos o elementoredentivo da histria.

    Correndo, lanou-se ao pescoo do lho e o beijou. ernamente oumuitas vezes, os dois signicados so possveis na leitura do original. O paiquer ter certeza de que ele o primeiro na vila a encontrar-se com seu lho,para proteg-lo das crticas ou das atitudes hostis e julgadoras de outros, das a-ces que no expressam qualquer atitude de boas vindas. O pai no quer correr orisco de que seu lho seja desencorajado pela zombaria ou desdm, e acabe de-sistindo. O gesto do pai deixa os observadores atnitos; ele se lana ao pescoodesse estranho vestido em trapos e o cobre de beijos. Os moradores do vilarejono poderiam ter antecipado a cena do dramtico reencontro entre pai e lho.1

    O pai segura o rapaz e o aperta contra o seu peito, impedindo que elecaia de joelhos, posio de subservincia. Ele nem mesmo permite que seulho complete o discurso que havia ensaiado. A consso e pedido do lhoque retorna so suocados pela mesma bondade do pai que os despertara(Lc 15:19, 21). Surpreendentemente, o pai e no pronuncia nenhuma palavraao lho. Mas suas aes dizem tudo. Depressa ele ordena aos servos que tra-gam a melhor veste, roupa estiva, usada em grandes ocasies. O seu garoto o hospede de honra. Coloca-lhe na mo um anel. No um anel de ornamen-to, mas um anel-sinete, smbolo de autoridade. Coloca-lhe sandlias nos ps,porque apenas os servos andam descalos.

    Ele ordena que preparem o novilho cevado e comecem a celebrao,justicando sua atitude com palavras que explodem de gozo. Comamos e re-gozijemo-nos, porque este meu lho estava morto e reviveu, estava perdido eoi achado (Lc 15:23-24). Observe-se como nesse ponto, e justamente nele, aalegria pintada com as cores mais artas e abundantes. As alegrias ilusrias dopas distante no poderiam se comparar com o gozo exuberante que irrompe nacelebrao do pai. Este o tipo de Deus revelado por Jesus Cristo.

    A proximidade de Deus o mistrio do nome pai, nos lbios de Jesus,uma noo ausente em todas as religies. No a encontramos mesmo entre os

    1 Provavelmente Rembrandt, que pintou vrias vezes a parbola do lho perdido,pode ser considerado seu interprete mais autntico. Em uma gravura de 1630, veem-sepai e lho, ambos voltados para o espectador, o lho em sua gura miservel, prostra-do de joelhos, o pai andando a passadas largas e impetuosas ao encontro do lho. Noentanto, em um quadro a leo, pintado posteriormente no eremitrio de Petesburgo, oartista retratou s o vulto e o rosto do pai que esto voltados para o espectador; diantedele, o lho de joelhos, de costas para o espectador, esconde seu rosto no colo do pai,amparado pelas mos deste.

    To importantes quanto sejam

    reforma, transformao e

    arrependimento, eles no so a base

    pela qual somos aceitos por Deus,

    mas o resultado. Em outras palavras,

    a aceitao divina que causa o

    arrependimento, no o contrrio.

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    neste mesmo instante, com jbilo que invade o universo: bem vindo ao lar!

    Para ponderarO jornal USA oday, em 1997, publicou uma entrevista eita com os norte-

    -americanos mais ricos: cerca de 1 milho de amlias, com renda anual superiora US$ 250.000 e patrimnio lquido de pelo menos US$ 2.5 milhes. O que estesricos disseram estar dispostos a comprar e por quanto. Leia a surpreendentelista de baixo para cima:

    Um lugar no Cu US$ 640.000

    Verdadeiro amor US$ 467.000

    Grande Intelecto US$ 407.000

    Talento US$ 285.000

    Juventude eterna US$ 259.000

    Reencontro com um amor perdido US$ 206.000

    Por grande beleza US$ 83.000

    Para ser presidente US$ 55.000

    Em primeiro lugar, seiscentos e quarenta mil dlares por um lugar no cu. Oirnico que as pessoas desejam pagar uma enorme soma de dinheiro por aquiloque, em primeiro lugar, no tem preo, e, em segundo, oerecido de graa!

    No estranho que a religio e os religiosos, como os judeus dos dias de Je-sus tenham conundido a oerta de salvao a tal ponto que ela dicilmente se tor-na compreensvel para a maioria das pessoas? A salvao baseada na graa, domimerecido de Deus. Qualquer outro elemento, tal como arrependimento, recon-ciliao, regenerao, reorma, novo nascimento, ou santicao, no constituema base da salvao. A base da salvao a graade Deus, estes outros elementosso, pela ao do Esprito Santo, resultados de nossa aceitao de sua graa e amor.

    Devemos entender ainda que a justia de Deus, no primariamente uma exign-cia, mas um dom. No o que Ele pede, mas o que Ele oerece.

    Com requncia utilizamos a expresso justicao pela , mas se istono or entendido claramente, tornamos a um outro tipo de obra. SegundoEsios 2:8, pela graa sois salvos, mediante a . A graa a base da salvao,a o seu instrumento, ou o meio. Quando eliminamos a graa de Deus denossa compreenso da salvao, como o elemento primrio, a porta est aberta

    em sua deesa por aceitar e comer com os pecadores antes mesmo do arrependi-mento deles. Ela subverte o retrato de Deus pintado pela tradio do judasmo.Segundo Jesus, Deus no exige reorma e santicao antes de aceitar osque o buscam. Ele no espera transormao moral ou mesmo nosso arre-pendimento para nos receber. o importantes quanto sejam reorma, trans-ormao e arrependimento, eles no so a base pela qual somos aceitos porDeus, mas o resultado. Em outras palavras, a aceitao divina que causa o ar-rependimento, no o contrrio. Deus opera sempre com base na graa. Fazemosapenas uma contribuio para nossa sa lvao. Nossa nica contribuio para asalvao opecado, do qual devemos ser libertos. Nada mais!

    Como Ellen G. White (2007, p. 189) observa:

    Os judeus ensinavam que o pecador devia arrepender-se antes delhe ser oerecido o amor de Deus. A seu parecer, o arrependimento obra pela qual os homens ganham o avor do Cu. Foi este pen-samento que induziu os ariseus atnitos e irados a exclamarem:Este homem recebe pecadores! (Lc 15:2). Conorme sua suposio,no devia permitir que pessoa alguma a Ele se achegasse sem se terarrependido [] Cristo ensina que a salvao no alcanada por

    procurarmos a Deus, mas porque Deus nos procura [] No nosarrependemos para que Deus nos ame, porm Ele nos revela seuamor para que nos arrependamos.

    Em comovente simplicidade, Jesus descreve como Deus . Sua bondade,sua graa, sua innita misericrdia. Este o Deus a quem Jesus representou. ODeus que recebe os envergonhados, cegos, leprosos, surdos, imundos. Que nonega a culpa, mas a perdoa e cura. Querido leitor encontra-se voc hoje no pasdistante? Alienado de Deus e de si mesmo? Chegou voc ao m de suas iluses?Sua jornada parece ter chegado ao nal, numa viela sem sada? Est voc desa-nimado, deprimido pelos descaminhos da vida que o levaram a viver longe doPai, imaginando que no h esperana para o seu caso?

    Aqui est o Deus que Jesus veio revelar. Aquele que justica o mpio (Rm4:5). Que purica e restaura, que no apenas oerece roupas de puro linho, masque deu o seu lho unignito, para que todo aquele que nele cr no perea, mastenha a vida eterna (Jo 3:16). Aqui est o Deus do Evangelho, que celebra e seregozija com a volta dos perdidos. Que corre ao encontro deles! Que estende osseus braos para receb-los e abra-los. O Deus que agora mesmo pode torn-

    -lo uma nova criatura, um novo homem, uma nova mulher. Que pode dizer-lhe

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    para todo tipo de conuso. Sobre a devemos entender:

    A no a base da salvao, mas o meio, o instrumento pelo qualnos apropriamos dela (Rm 3:21-22, 25, 31; E 2:8).

    A no autogerada. A tambm um dom. Segundo o livro de Ro-manos, (10:17), a vem pelo ouvir da Palavra de Deus.

    A no meritria (E 2:8-10). Para Ellen G. White (2004, p. 174),mediante a recebemos a graa de Deus; mas a no o nosso Salvador.Ela no obtm nada (g. 2:24). a mo que se apega a Cristo e se apoderade seus mritos, o remdio contra o pecado.

    A no depende do seu tamanho, mas do seu objeto (Lc 17:6). Mui-tos, por exemplo, tm grande no dinheiro, em posies, na cincia,em prestgio, na aparncia, no preparo acadmico. Mas essa , grandecomo ela possa ser, nada vale para a salvao. A vale pelo seu unda-mento, que deve ser nica e exclusivamente a pessoa de Jesus Cristo, oseu autor e consumador (Hb 12:2).

    A bblica no est em oposio s boas obras. As nicas obras contraas quais a se ope, so aquelas entendidas ou praticadas como mtodode salvao (Rm 3:20, 28). A no contra a observncia da lei, comoalguns pensam. A se ope observncia da lei como meiode salvao(Gl 3:1-5, 11). A lei deve ser observada como norma da conduta crist,como a expresso da vontade de Deus, para aqueles que receberam suagraa.

    A bblica basicamente transerncia de conana (Hb 4:14-16).Aquele que conava em si, ou em qualquer recurso humano, passa a con-ar sem reservas em Cristo.

    2CAPTULO

    O i r m o d o

    f i l h o p r d i g o

    Foi levado o irmo mais velho a ver seu esprito mesquinho e ingrato?

    Chegou a reconhecer que embora o irmo tivesse agido impiamente,

    era ainda e sempre o seu irmo? Arrependeu-se o irmo mais velho

    de seu amor prprio e dureza de corao? Com referncia a isso,

    Jesus guardou silncio. A parbola ainda no terminara e restava que

    os ouvintes determinassem qual seria o eplogo

    Pelo irmo mais velho foram representados os impenitentes judeus

    contemporneos de Cristo, como tambm os fariseus de todas as

    pocas, que olhavam com desprezo aqueles que consideravam

    publicanos e pecadores

    Ellen G. White

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    O irmo do filho prdigo

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    Ora, o lho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao apro-ximar-se da casa, ouviu a msica e as danas. Chamou um dos criados

    e perguntou-lhe que era aquilo. E ele inormou: Veio teu irmo, e teupai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com sade.Ele se indignou e no queria entrar; saindo, porm, o pai, procuravaconcili-lo. Mas ele respondeu a seu pai: H tantos anos que te sirvosem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabritosequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porm, esse teulho, que desperdiou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matarpara ele o novilho cevado. Ento, lhe respondeu o pai: Meu lho, tusempre ests comigo; tudo o que meu teu. Entretanto, era precisoque nos regozijssemos e nos alegrssemos, porque esse teu irmo esta-va morto e reviveu, estava perdido e oi achado (Lc 15:25-32).

    A concluso idntica nos versos 24 e 32 (porque esse teu irmo [meu -lho, v. 24] estava morto e reviveu, estava perdido e oi achado) indica a divisonatural da parbola em duas partes. Na segunda seo, Jesus expe a atitude dosariseus. Seu ensino de que a misericrdia divina espontnea, livre, abundante,os oendia. A atitude de Cristo de aceitar pecadores e comer com eles (Lc 15:2)antes de reorma e sem a exigncia de qualquer perodo de observao eraparticularmente vista como questionvel. O irmo mais velho da histria deJesus reete a atitude dos ariseus antigos e modernos.

    A grande maioria de sermes sobre o ilho prdigo termina com overso 24, como se a s esso que segue no izesse parte da histr ia origina lde Jesus. Devemos, contudo, notar que o irmo mais velho do rapaz queabandona o lar e viaja para o pas distante parte integral da parbola. No

    primeiro nvel, ele relete a atitude dos murmuradores ariseus, a audinciaprimria de Jesus, para quem a graa divina oerecida aos publicanos epecadores um desperdcio. Mas num nvel mais proundo, o ilho mais

    velho representa um grupo que est muito mais perto de ns. Em ltimainstncia, ele trai sentimentos que esto dentro de todos ns.

    Embora o carter do irmo mais velho que exposto apenas no nal dahistria, alguns traos j podem ser percebidos nas entrelinhas da narrativa.

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    Ele mencionado duas vezes na abertura da cena. Primeiro, o versculo 11 nosinorma que o pai tinha dois lhos, e segundo, no versculo 12 lemos que a suaparte da herana lhe assegurada, porque o texto diz que o pai lhes repartiu oshaveres. eria ele tambm recebido a parte dos bens que lhe cabia? alvez. Seesse oi o caso, os contornos do seu carter comeam a se delinear!

    Quais oram as implicaes da demanda do lho mais novo? Pelos pa-dres culturais, sua atitude completamente absurda. No contexto judaico ou

    helnico da poca, seu pedido nem deveria ser considerado. Mais que umaaronta, tal pedido equivalia virtualmente a um desejo de morte do seu pai,como j mencionado anteriormente.

    Ns esperaramos que o irmo mais velho reagisse ao pedido do seu irmomais novo de duas ormas: primeiro, ele deveria recusar vigorosamente acei-tar sua parte da herana, em protesto s implicaes da demanda. Seu silncioortemente sugere que seu relacionamento com o pai tambm no muito di-erente. Ento, em segundo lugar, o ouvinte oriental esperaria que o irmo mais

    velho entrasse verbalmente na histria e assumisse o seu tradicional papel deconciliador. Entre os orientais, o rompimento de relaes era restaurado pelagura de uma terceira parte, que era sempre escolhida em termos de proxi-midade de relacionamento com cada uma das partes envolvidas. Nesse caso, a

    uno de conciliador caia naturalmente sobre ele, o primognito, como partedo costume da comunidade (BAILEY, 1978, p. 168).

    Seu silncio signica consentimento. O almude, a codicao das tradi-es judaicas, especica que os lhos tinham a responsabilidade de reconcilia-o nas questes amiliares. Mesmo que o lho mais velho odiasse seu irmomais novo, ele deveria tentar a reconciliao por amor do seu pai. Mas esse lhopermanece em silncio. E seu silncio deixa transparecer seu problema de rela-cionamento com o pai. A essa altura, o suspeito passa a parecer culpado.

    O lho mais velho sabe que o pedido do seu irmo imprprio e dele seesperava no mnimo a recusa em partilhar de tal demanda, em clara armaode lealdade ao seu pai. Mas, ao contrrio, ele aceita a transao em silncioe provavelmente se benecia dela. Signicantemente, os lhos mais velhos no

    Antigo estamento so em geral descritos como mesquinhos, exteriormente or-todoxos e hipcritas. Assim, torna-se cil perceber no perl desse lho mais

    velho um quadro j visvel nos versos iniciais.Alguns intrpretes tm sugerido reormular o ttulo da parbola e cha-

    m-la de a histria dos dois lhos perdidos. H uma certo sentido nisso,porque se o lho mais novo estava perdido no pas distante, o mais velhoest igualmente perdido, mas em casa. Perdido por trs da ortaleza de sua

    religio, hipocrisia e justia prpria. Mas o ttulo os dois lhos tiraria do en-sino de Jesus o seu verdadeiro centro, pois o principal personagem da histriano nenhum dos dois lhos, mas o pai.

    Lucas 15:25-32, apresenta a segunda metade da parbola. Essa seo, decerta orma, corresponde a uma repetio da primeira metade. Os detalhes sodessemelhantes, mas em natureza essencial as duas partes se completam.

    A segunda parte da parbola na ltima cena que o verdadeiro carter do lho mais velho se torna evidente.

    O texto (v. 25), bem no estilo de Lucas, extremamente observador quanto aos deta-lhes importantes, inorma que ele vem do trabalho e, mais tarde, o trabalho queele usa como evidncia dos seus mritos. Esse lho vive exteriormente com seu paie o serve tambm exteriormente. Interiormente, porm, ele est to distante quantoo irmo e sua condio talvez seja pior, uma vez que ele no tem conscincia dela.

    A tragdia daqueles que so representados pelo ilho mais velho na pa-rbola mais sutil, pois eles se escudam sob a inconscincia da culpa. Elesno s esperam, mas re clamam recompensa com base nos mritos prprios,enquanto esto alienados de Deus. Na verdade, esto mais longe de Deus.

    Na histria de Jesus, no temos nos dois lhos duas categorias: um culpadoporque saiu de casa e outro justo porque cou. Apenas h culpados aqui: o lhomais moo, a quem o pai aceita e perdoa a culpa, e o lho mais velho, que notem conscincia de sua distncia do pai.

    Ao se aproximar de casa (Lc 15:26), ele ouve os sons do estejo. Um lho emrelacionamento normal com sua amlia entraria imediatamente em casa, ansio-

    Alguns intrpretes tm sugerido

    reformular o ttulo da parbola e

    cham-la de a histria dos dois

    filhos perdidos. H uma certo

    sentido nisso, porque se o filho

    mais novo estava perdido no

    pas distante, o mais velho est

    igualmente perdido, mas em casa.

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    so por juntar-se celebrao, qualquer que osse a razo. Mas esse lho, no!Ele recusa entrar e exige uma explicao. A resposta do servo cuidadosamenteelaborada. Ele inorma que o seu irmo que estivera ora havia retornado e queseu pai estava dando uma esta porque o jovem voltara so e salvo. Note que anase novamente colocada nos sentimentos e atitudes do pai. A nossa habi-lidade de nos regozijar pelo retorno do perdido mede a sinceridade de nossaprosso de entender e conhecer a Deus.

    Segundo o versculo 28, o lho mais velho no se interessa por aquilo queest no corao do seu pai, sua preocupao se centraliza nele prprio. O lhomais velho reete sobre a questo e resolve car do lado de ora. O costumeexigia sua presena. Em semelhante banquete, o lho mais velho tinha uma po-sio particular e semi ocial. A cultura esperava que ele se movimentasse entreos convidados, cumprimentando-os, e certicando-se de que nada altava a eles.Dele se esperava que entrasse, abraasse seu irmo, apresentasse publicamenteas boas vindas e se congratulasse com o seu pai pelo retorno do irmo maisnovo. As reclamaes poderiam ser tratadas depois que todos sassem.

    O lho mais velho, entretanto, escolhe humilhar o seu pai publicamente,discutindo a questo enquanto os convidados esto presentes. O pai prepararaum banquete, o que implica na presena de todas as pessoas importantes da vila.

    Assim, a ira do lho mais velho um pblico desacato. O costume oriental, quecoloca alta considerao na autoridade do pai, torna a atitude insolente desselho um vexame. Se no incio da parbola o lho mais novo que rompe asrelaes com o pai, agora o lho mais velho que o az.

    Novamente o pai vem para ora, pela segunda ve z no mesmo dia, oere-cendo em pblica humilhao uma demonstrao de inesperado amor. Aquitambm o pai vem para ora, no menos ansioso pelo ilho mais velho doque quando sara pelo ilho mais novo. Ele sai, mas no para repreender ess eilho, como se poderia esperar.

    Entramos aqui no clmax da segunda parte da histria. Saindo, porm, opai, procurava concili-lo (Lc 15:28). Ao contrrio de uma consso, o lhomais velho az uma dupla queixa. Note em primeiro lugar que ele se dirige ao

    seu pai sem usar nenhum ttulo, nenhum tipo de tratamento respeitoso. tulosso utilizados ao longo da narrativa at este ponto. Entretanto, na queixa regis-trada nos versos 29 e 30 notamos a ausncia de qualquer indicao de respeito.

    O lho mais velho demonstra a atitude e o esprito de um escravo, node um lho. Olha, tenho trabalhado como um escravo h tantos anos. Aqui amscara cai completamente, revelando a distncia do seu corao. O pai pen-sara que tinha um lho, mas para o lho mais velho a casa do pai equivalia

    escravido. Ele tem vivido na casa com o esprito de escravo, no com a amilia-ridade de um lho. Para ele, um cabrito lhe era devido em pagamento por causados seus servios. Sua atitude clara: eu tenho trabalhado, onde est a minharecompensa? Ele reete a atmosera de uma disputa por salrio. Como o seuirmo mais novo, no incio da histria, ele demonstra mais interesse nas possesdo seu pai do que no prprio pai.

    Ele insulta o pai publicamente e ainda capaz de armar que nunca havia

    transgredido um mandamento dele (Lc. 15:29). Ironicamente, o lho mais ve-lho viola o mandamento da honra devida aos pais precisamente na reivindica-o de que observava os mandamentos. Ele se considera justo e, portanto, nonecessita de arrependimento. Essa a tragdia do legalismo. Esse o esprito doarisasmo, dos noventa e nove justos que no necessitam de arrependimento.Em sua arrogncia, ele capaz de armar que nunca transgrediu o mandamen-to do seu pai, mas sua obedincia mera questo de ormalismo exterior. Essen-cialmente ele reclama que o pai recompensa o que no merece e negligencia odiligente. A questo no tanto a generosidade do pai, mas o objeto dela. O pai,na sua compreenso, recompensa a pessoa errada!

    A dierena entre ele e o seu irmo mais novo que aquele demonstrou re-beldia ao partir de casa em direo ao pas distante. O lho mais velho rebelde

    no corao, enquanto permanece dentro de casa. A rebelio do lho mais novooi evidente em sua deciso de deixar a casa do pai, mas a rebelio e alienaodo mais velho mais sutil, uma vez que ela atua no interior, invisvel aos olhos.

    Ele acusa seu pai de avoritismo e nega qualquer avor estendido a ele,mesmo o que ele merecia. Ao anunciar sua noo de alegria (nunca me desteum cabrito para alegrar-me com os meus amigos (Lc. 15:29)), ele revela quealegria para ele se resume em divertir-se na companhia dos amigos. A recupera-

    Novamente o pai vem para fora, pela

    segunda vez no mesmo dia, oferecendo

    em pblica humilhao uma

    demonstrao de inesperado amor.

    Aqui tambm o pai vem para fora, no

    menos ansioso pelo filho mais velho do

    que quando sara pelo filho mais novo.

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    o do seu irmo, no signica nada para ele. Ele deseja organizar a sua prpriaesta e ruir a sua prpria concepo de alegria, a qual no inclui o seu pai ouseu irmo. Emocionalmente, a sua comunidade est l ora, entre os amigos.Virtualmente, esse lho declara no ser parte da amlia. Assim, ele no me-lhor do que irmo mais novo. A dierena entre eles que o mais novo umpecador conesso, enquanto o mais velho um santo hipcrita. Ele permane-ceu em casa enquanto alienado do seu pai.

    O lho mais velho recusa considerar o prdigo, seu irmo, limitando-se areerir-se a ele como este teu lho, negando, assim, qualquer relacionamentocom seu irmo ou com o seu pai. Ele ataca seu irmo e o acusa de desperdiaros bens do pai com as meretrizes. Mas como ele sabe? Provavelmente porqueisso precisamente o que ele aria. Aparentemente, sua tese a de estabelecerque seu irmo mais novo caiu na categoria de um lho rebelde e, sendo esse ocaso, deveria ser apedrejado de acordo com a lei (Dt 21:18-21). Em suma, seudiscurso uma extravaso de rancor e rebelio reprimidos.

    Como o seu pai responde, diante de tal cena?A esta certamente havia parado. A msica e a dana haviam cessado e

    pesado silncio tomara o ambiente. Os convidados esperavam uma violenta re-ao paterna. Contudo, pela segunda vez no dia, o pai se humilha. Sua resposta

    explode em proundo amor. O pai poderia silenciar o lho. Faz-lo entrar, se ne-cessrio com a ajuda de alguns servos, caso sua autoridade no osse suciente.Ele poderia humilhar o lho e obrig-lo a assumir sua uno na estividade.Mas o que ele ganharia com isso? Ele j tem um escravo na pessoa desse lho.

    O pai esquece a omisso de um tratamento respeitoso, a amargura, aarrogncia, o insulto, a distoro dos atos e as acusaes injustas. No en-contramos em sua resposta nenhuma crtica ou rejeio. Em agudo contrastecom o lho mais velho, ele comea com um ttulo aetivo: lho. A lnguaportuguesa aqui no captura a prounda aeio envolvida no termo gregoutilizado. A conciliatria palavra lho extraordinariamente signicativa luz do amor rejeitado que o pai tem que tolerar.

    As palavras nais, registradas nos versos 31 e 32, so palavras que procedem

    do corao erido, porque esse pai ansiava ter a alegria completa e ver seus doislhos em sua casa, na sua esta de celebrao. O pai arma que os direitos do seulho mais velho esto plenamente garantidos, mesmo quando a graa oi esten-dida ao prdigo. udo o que meu teu. O retorno do seu irmo no aeta emnenhum grau a sua posio. Extraordinrias palavras: udo o que meu teu.

    De orma sutil, o pai observa que a categoria de ser vo expressa por seuilho inapropriada para o relacionamento deles. O ilho disse ra: h tantos

    anos sou teu servo [] e nunca me deste um cabrito sequer (Lc 15:29).O pai responde: tu s o herdeiro e nesta posio tudo j lhe pertence(Lc 15:31). Gentilmente, o pai o lembra de que o prdigo seu irmo, e deque ele deveria agir como parte da amlia.

    A inesperada oerta de amor diante do ato de pblica humilhao temsua contrapartida na cruz. O Deus descrito por Jesus na parbola transcendeo mesquinho, vingativo e autoritrio deus de nossa prpria criao. O Deus

    de Jesus no necessita possuir nada, nem controlar ningum. O que Ele tem,Ele oerta, e para Ele, a nica resposta satisatria aquela que brota do amor.Livre e espontaneamente. Entretanto, na oerta de amor do pai e na respostado lho mais velho, nos encontramos mais uma vez com o ponto raco doamor: o amor pode ser rejeitado!

    Embora a parbola represente os ariseus e os publicanos, a real identi-cao muito mais prounda. Jesus, em ltima anlise, est discutindo doistipos bsicos de pessoas. Um que vive ora da lei, sem a lei, e outro que vivesem lei, mas dentro da lei. Um que est perdido por ser mau. O outro queest perdido por ser bom, muito bom. A lei est presente na parbola. O -

    lho mais novo a transgride, o mais velho a guarda. Ironicamente, o lho maisvelho representa aqueles que transgridem a lei por guardarem a lei. Se pecado apenas transgresso da le i, eles no se sentem pecadores, por que guardam

    A inesperada oferta de amor diante do

    ato de pblica humilhao tem sua

    contrapartida na cruz. O Deus descrito

    por Jesus na parbola transcende o

    mesquinho, vingativo e autoritrio

    deus de nossa prpria criao. O Deus

    de Jesus no necessita possuir nada,

    nem controlar ningum. O que Ele

    tem, Ele oferta, e para Ele, a nica

    resposta satisfatria aquela que

    brota do amor.

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    todos os seus mandamentos.Mas ambos so pecadores e rebeldes. O mais novo culpado de sua injus-

    tia e o mais velho culpado por sua justia. Ambos partem o corao do pai.Ambos terminam no pas distante. Um sicamente, o outro emocional e espiri-tualmente. O mesmo amor demonstrado em humilhao em cada caso. Paraambos, o amor crucial, porque s o amor pode transormar servos em lhos.No temos na parbola a ideia de que um lho tratado com avoritismo e o ou-

    tro repudiado. O mesmo amor paterno estende a ambos o privilgio da liao.Perceptivamente, Ellen G. White (2004, p. 209) observa:

    Foi levado o irmo mais velho a ver seu esprito mesquinho e ingrato?Chegou a reconhecer que embora o irmo tivesse agido impiamente,era ainda e sempre o seu irmo? Arrependeu-se o irmo mais velhode seu amor prprio e dureza de corao? Com reerncia a isso, Jesusguardou silncio. A parbola ainda no terminara e restava que os ou-vintes determinassem qual seria o eplogo.

    Ellen G. White, claro, tem ampla percepo da audincia original da par-bola e seus desdobramentos ao longo da histria. Pelo irmo mais velho oram

    representados os impenitentes judeus contemporneos de Cristo, como tam-bm os ariseus de todas as pocas, que olhavam com desprezo aqueles queconsideravam publicanos e pecadores (WHIE, 2004, p. 209).

    O irnico na histria de Jesus que tambm corresponde a uma sriaadvertncia s vtimas do legalismo religioso, os justos dentro da igreja, quese julgam merecedores de recompensa especial por seus atos de justia prpria. quando a cortina desce sobre esse drama que encontramos uma poderosainverso. O lho mais novo, que estava ora, termina dentro da casa do pai. Omais velho, que pretendia estar dentro, permanece ora. A parbola chega auma concluso inimaginvel. Deliberadamente, Jesus deixa o irmo mais velhoem seu estado alienado. O lho mais novo, o mau carter da histria, entra naesta do seu pai, enquanto o lho bom permanece ora. Podemos quase ouvir

    o pigarro dos ariseus quando a histria termina com essa completa inverso detudo aquilo que eles haviam aprendido e ensinado!

    Para ponderarPara quem o ensino de Jesus nessa parbola dirigido? Primariamente

    para os escribas e ariseus. em resposta atitude deles, criticando o ato de

    Jesus receber pecadores, que Ele inicia a histria dos dois lhos. A parbolaprov uma viso ampla da alma do lho mais velho e termina com um podero-so apelo para que ele tambm mude seu corao.

    Do lado de quem Jesus est? Em termos concretos, do lado de ningum,porque, na realidade, ningum est completamente do seu lado. Contudo, nosevangelhos (particularmente no Evangelho de Lucas), aqueles que eram estra-nhos ao mundo religioso e s suas observncias moralistas nos dias de Cristo

    oram especialmente atrados ao Salvador.Nos casos em que Jesus se encontra com algum religioso e um exclu-

    do sexual, como em Lucas 7 (a pecadora que lava e peruma os seus ps), oucom um religioso e uma pessoa marginalizada por racismo, como em Joo 3e 4 (Nicodemos e a mulher samaritana), ou ainda com um religioso e algumsocialmente excludo, como em Lucas 19 (Zaqueu), so as pessoas excludas emarginalizadas da religio que mais acilmente se conectam com Cristo. Aque-les simbolizados pelo irmo mais velho, os representantes da religiosidade, per-manecem aastados e distantes. No por acaso que aos respeitveis lderesreligiosos dos seus dias, Jesus dirige um poderoso julgamento: publicanos emeretrizes vos precedem no reino de Deus (Mt 21:31).

    Os ensinos de Cristo consistentemente atraram os no religiosos, os que

    pertenciam prateleira de baixo do judasmo, enquanto oenderam a religio-

    sidade de muitos dos santos de ento. A razo para tal oensa que Jesusredeniu tudo o que os ariseus (tanto os antigos como os modernos) pensavame sabiam acerca da conexo com Deus. Ele redeniu a noo de pecado e tam-bm o que signica estar perdido e ser salvo.

    O irmo mais velho se orgulha diante do pai de nunca haver quebrado ne-nhum dos seus mandamentos, portanto no h nele verdadeira conscincia depecado. Pecado, para os irmos mais velhos basicamente alhar em guardar

    Podemos evitar a Jesus como

    Salvador, enquanto guardamos todas

    as regras, simplesmente porque as

    regras passam a funcionar como um

    salvador substituto.

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    uma lista de regras de conduta, enquanto que a denio de pecado de Jesusvai muito alm de mero desempenho humano exterior. Podemos evitar a Jesuscomo Salvador, enquanto guardamos todas as regras, simplesmente porque asregras passam a uncionar como um salvador substituto. Muitas pessoas religio-sas correm esse srio risco. Passam a conar em sua obedincia. Concentram-

    -se na lista do aa e no aa e, dessa orma, se tornam orgulhosos do seudesempenho, julgando ter controle sobre Deus.

    obvio que a conuso sobre a noo de pecado engendra, alm deconuso sobre a salvao, esprito de comparao competitiva como a prin-cipal maneira pela qual irmos mais velhos alcanam o seu se nso de signi-icado e superioridade espiritual.

    Em Romanos 14:23, a revelao deine pe cado em termos de relaciona-mento e motivao: tudo o que no provm de p ecado. Isso vai muitoalm de todas as regras que podemos observar exteriormente. A questono apenas o que azemos, mas por que azemos! Dessa orma, mesmouma pessoa que virtualmente no viola nenhum dos mandamentos na listado mau comportamento pode, como o ilho mais velho da parbola, estarespiritualmente perdido, tanto quanto os imorais, condenados por eles. Porqu? Porque coniam neles mesmos como sa lvador, senhor e juiz, em vez de

    coniar na pura graa de Deus.Membros da igreja com a sndrome do irmo mais velho, justos e su-

    periores aos seus prprios olhos, na idolatria das ormas sem essncia e exi-gentes, se tornam rios, acusadores e julgadores de todos os outros que noalcanam o seu padro de justia prpria. Provavelmente, a atitude delestem sido responsvel pelo ato de muitos irmos mais novos deixarem acasa do Pai. E certamente eles se tornam um grande obstculo para o retornodesses. Contudo, os irmos mais velhos se tornam obstculo ainda maiorpara aqueles que nunca conheceram a casa do Pai, cuja impresso que tmdela inteiramente negativa ace ao moralismo patolgico e santidade vaziadaqueles que dizem conhecer a Deus.

    Os irmos mais velhos da igreja acilmente se tornam irados com

    aqueles que discordam deles e, em sua deesa, passam a citar seu desempenho.Como os ariseus dos tempos de Jesus, eles dizimam o endro, o cominhoe a hortel em termos do pereccionismo atual, escorado em uma enormequantidade de textos de Ellen G. White, lidos equivocadamente. Esquecem-

    -se, porm, de que o cristo est no mundo como representante de Cristo,para a salvao dos outros e que na vida que se centraliza no eu no podehaver crescimento nem ruticao (WHIE, 2004, p. 67 e 68). Esquecem-se,

    ainda, de que recebendo o Esprito Cristo o esprito de amor abnega-do e do sacricio por outrem [] [que] mais e mais reetiro a semelhanacom Cristo. (WHIE, 2004, p. 68). Assim, o carter de Cristo se reproduzirpereitamente em seu povo, no por obedincia legalista e pereccionismoenermo, mas pelo amor e pelo servio abnegado. S ento [Cristo] vir parareclam-los como seus (WHIE, 2004, p. 69).

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    3CAPTULO

    O F a r i s e u e o

    P u b l i c a n o

    Os que tm a mais profunda experincia nas coisas de Deus so os

    que esto mais longe do orgulho e da presuno.

    Ellen G. White

    Quando um homem est se tornando verdadeiramente melhor,

    ele entende mais e mais claramente o mal que ainda permanece

    nele. Quando um homem est se tornando pior, menos e menos ele

    entende sua prpria malignidade.

    C. S. Lewis

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    Props [Jesus] tambm esta parbola a alguns que conavam em simesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois

    homens subiram ao templo com o propsito de orar: um, ariseu, e ooutro, publicano. O ariseu, posto em p, orava de si para si mesmo,desta orma: Deus, graas te dou porque no sou como os demaishomens, roubadores, injustos e adlteros, nem ainda como este pu-blicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dzimo de tudo quantoganho. O publicano, estando em p, longe, no ousava nem aindalevantar os olhos ao cu, mas batia no peito, dizendo: Deus, spropcio a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justicado parasua casa, e no aquele; porque todo o que se exalta ser humilhado;mas o que se humilha ser exaltado (Lc 18:9-14).

    Jesus era mestre em arrancar mscaras e destruir pretenses inundadas.

    Desde os seus dias, os pretensiosos de todas as pocas tm encontrado nele opoderoso desao de se ver como na verdade so, sem os corretivos cosmti-cos dos quais tanto gostamos. O servio, a santidade, a pereio e a jus-tia baseados em distorcidas avaliaes prprias enrentam o seu devastadorcontra-ataque. E isto porque Jesus sabe que se existe alguma esperana para as

    vtimas de iluses patolgicas sobre si mesmos, essa tem que ver com o chama-do dele para que se enxerguem sob tica realista.

    O grande problema com a mentira (e a pior orma de mentira aquela quenos engana a nosso respeito) que quanto mais repetida, ela cria enormes razes epassa a se transormar em verdade, na nossa verdade. Dessa orma, a probabilidadede restaurao torna-se praticamente impossvel. Por outro lado, aqueles que ge-nuinamente passam a ver sua verdadeira condio j esto parcialmente curados!

    Autoimagem negativa, bem como sentimento crnico de culpa e ineriori-dade, so distores associadas com inmeras atitudes doentias. Por outro lado,contudo, menos criticado ou avaliado o outro extremo destes comportamen-tos. Complexo de superioridade e autoavaliao inacionada de justia prpriageram outras ormas de males, em ltima anlise at mais srios e sutis, menosdiscutidos, menos vistos e de cura mais dicil. ais atitudes requentemente so

    vistas como autoimagem positiva, passando-se, assim, por virtudes. Na cultura

    O F i P bliO I l J C i

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    em que Cristo viveu (o judasmo do primeiro sculo), a autoimagem, em gran-de medida, passou a ser determinada pelo desempenho religioso. Os ariseusno tinham rival em autoestima positiva. Ningum poderia am-los mais doque eles se amavam. Eles eram como Edith, na descrio do novelista (CAR-ROL, 2006, p. 16): Edith estava cercada no leste, oeste, norte e sul por Edith.

    A histria de Jesus nesta parbola, como Ele costumeiramente az, colocaem contraste duas guras clssicas dos seus dias 1. Em geral, azemos um julga-

    mento negativo nos ariseus, considerando-os como consumados hipcritas, eacilmente os condenamos ao apedrejamento privado. Sem dvida, os ariseusaparecem como viles nas narrativas dos Evangelhos. Eles so descritos comocheios de justia prpria, cobia, inveja e hipocrisia. As ocasionais excees noaetam essa imagem dominante que deixaram. Eles eram os atores dos dias deJesus. As megacelebridades religiosas. Quem poderia competir com eles?

    Contudo, esse no o quadro completo. Longe de ser apenas modelos dealsa piedade, corrompidos por justia prpria e orgulho, os ariseus represen-tavam tambm um modelo de piedade e virtude, dignos do padro que eleshaviam estabelecido. Os ariseus no ormavam um corpo separado, como umadenominao. Ao contrrio, eles permeavam todo o judasmo. O grupo eraunido por severas regras de conduta. O arisasmo era um tipo de irmandade

    exclusiva, evitando contato com aqueles que eram considerados imundos oudesobedientes lei. O ideal religioso deles era cumprir a integridade da orah(as leis do Pentateuco), e aplicar os detalhes legais a cada aspecto da vida diria(alimento, associao na mesa de reeies, jejum, orao, guarda do sbado,sacricio, dzimo e oertas, nascimento e uneral). De ato, os ariseus no eramo pior, mas o melhor que o esoro humano podia produzir. Embora no ossemmuitos. em nmero, eles ormavam um corpo religioso de extremo poder.2

    1 Em vrias de suas histrias e nos seus ensinos, encontramos o contraste entre duasguras: os dois lhos (Lc 15:11), os dois devedores (Lc 7:41), os dois construtores (Mt7:24-27), dois caminhos (Mt 7:13,14) dois senhores (Mt 6:24) etc.2 Flavio Joseo, o historiador judeu do primeiro sculo, descreve os ariseus de ma-

    neira que coincide com as impresses que extramos dos Evangelhos. Ele ala de umcorpo de judeus que proessava ser mais religioso do que o resto da nao, explicando asleis mais detalhadamente, e que se orgulhava do seu zelo, pela exata interpretao delas(Guerra JudaicaII.VIII.14;AntiguidadesXVIII.13). O almudereconhece a existnciade vrios tipos de ariseus e az dierena entre sete grupos deles, caracterizando-oscom adjetivos descritivos que os expunham ao ridculo: 1) os ariseus do tipo espere-

    -um-pouco: os que sempre encontravam uma desculpa para adiarem uma boa ao;2) os do tipo machucado e sangrento: para evitar olhar para uma mulher, echavam

    O problema teolgico da atitude dos ariseus em busca p essoal de acei-tao diante de Deus que ela passava a desconsiderar a graa divina, oumesmo a v-la como suprlua. O que Jesus condena no tanto a buscada justia, mas o tipo de justia que se isola da oerta de graa. Uma justiaalsa, que se torna um mtodo de salvao, e que, ao mesmo tempo, des-considera a proundidade e gravidade do pecado. Este o problema do per-eccionismo, antigo e atual. Viso errada do pecado e, consequentemente,

    viso errada da graa. A grande ironia no ensino paulino present e no i ncioda carta aos Romanos que, se por um lado, os gentios esto sob a ira deDeus por sua injustia (Rm 1:18-32), por outro, a religiosidade judaica condenada tanto pelo pecado quanto por sua justia (Rm 2:13:18). E assim,a concluso a de que todos esto debaixo da condenao da ira de Deus(Rm 3:9-19): injustos e justos.

    Os ariseus eram obcecados pela pereio religiosa. Pereccionistasinveterados, absorvidos por uma enorme e exaustiva quantidade de detalhesexternos de prticas piedosas, em si mesmas at louvveis. Entre eles encon-tramos homens como Nicodemos e Saulo de arso, o posterior apstolo aosgentios. Paulo, depois de seu dramtico encontro com Cristo, descreve suaexperincia passada de maneira reveladora e quase pungente: se qualquer

    seus olhos e tropeavam e caam, machucando-se e sangrando; 3) o tipo de ariseus queusavam ombreiras: suas boas aes eram ostentadas nos ombros, onde todos podiam

    ver; 4) os do tipo corcunda: caminhavam curvados, demonstrando humildade; 5) osdo tipo contador: contando continuamente suas boas aes para azer o balano dosseus atos; 6) os ariseus tementes a Deus, que se portavam como amedrontados e ater-rorizados por Deus, e, nalmente, 7) aqueles que amam a Deus, ou seja, os que eram

    verdadeiros lhos de Abrao e, portanto, genunos ariseus.

    Eque qui poerdius An Itas ad facit. Ad

    condeli caverum tandienam la prit.

    Batorun traequi ssedessil hici publius

    dero ut aucondam notiaelaris foriciis?

    Endam quitrum pes Multuroxim

    Romnemo ritustorum tervirmilis atum.

    O F i P bliO I l J C i t

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    outro pensa que pode conar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavodia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto lei, ariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto justia que h nalei, irrepreensvel (Fp 3:4-6). Paulo oi curado, por uma radical transorma-o na maneira pela qual, como ariseu, ele se via.

    No de admirar que na introduo da parbola somos inormadospelo comentrio editorial de Lucas que Jesus props tambm esta parbola

    a alguns que coniavam em si mesmos, por se considerarem justos, e des-prezavam os outros (Lc 18:9). A coniana dos ariseus era baseada nelesprprios. Essa a caracterstica comum de todo sistema de autoestima cen-tralizado nos homens e na dependncia deles. A histria de Jesus reere-sea dois relacionamentos truncados: primeiro, o relacionamento conuso comDeus; segundo, o resultado natural desse engano, o relacionamento distor-cido consigo e com os outros.

    odos necessitamos de autoimagem positiva, contudo necessrio enten-der claramente que existe uma dierena crucial entre a autoimagem baseadaem nossa prpria avaliao, em nossas realizaes e desempenho, e a autoi-magem positiva baseada em Deus e no valor que Ele nos atribui. Neste caso, aautoimagem realista se coloca acima de complexos, quer de inerioridade ou

    de superioridade, porque passamos a depender da revelao sobre quem real-mente somos como criaturas de Deus. Por um lado, pecadores, mas por outro,objetos do innito amor e da graa de Deus, que no az acepo de pessoas(At 10:34). O resultado pode parecer ambivalente, mas em ltima anlise e anica soluo nal para uma percepo realista de ns mesmos.3

    A orao do justoO autor da carta de iago escreve que muito pode, por sua eccia, a

    splica do justo (g 5:16). Na parbola do ariseu e do publicano, Jesus alasobre a orao de um outro tipo de homem justo, aetado por seu prprio

    julgamento. Por que? Parece que para Jesus existe uma justia que exclui a vida

    proveniente da graa de Deus. O arisasmo era a presuno religiosa em rontaloposio graa. Bons cidados, bons vizinhos, excelentes membros da igreja,colunas da comunidade, observadores meticulosos das regras e exigncia, mastudo isso na busca da santidade em termos de estilo de vida, o que em ltima

    3 O psiclogo cristo Paul ournier (1985) escreveu um livro extraordinrio sobre talambivalncia: Culpa e Graa: uma anlise do sentimento de culpa e o ensino do evangelho.

    instncia no acrescenta absolutamente nada para a salvao em Cristo. O le-galismo incrivelmente ingnuo, porque subestima os eeitos do pecado nosseres humanos. Como corretamente observado por Richard Rice (1997, p. 243),

    mais do que ingnuo, [o legalismo] diretamente pecaminoso. Ele surge daorgulhosa pressuposio de que seres humanos cados, neles prprios, podemmerecer o avor divino, quando nada poderia estar mais longe da verdade.

    O ariseu da histria de Jesus vem ao templo e, em p, passa a orar com

    ervor, separado de outros adoradores. Mas Jesus, num diagnstico simples,desmascara sua pretenso. Ele orava consigo, acerca de si mesmo ou para simesmo. A orao, que deveria ser primariamente centralizada em Deus, acimada idolatria das ormas, no intuito de se buscar a essncia, aqui se centraliza noser humano. Ele ora para si e no para Deus. Nas suas palavras altam expres-so de louvor, agradecimento genuno ou verdadeira adorao. al orao seapresenta sem qualquer preocupao verdadeira com aquilo que Deus ou az.

    Sua orao apenas uma orma de autocongratulao. Com as mos le-vantadas, ele apenas d tapinhas de reconhecimento pessoal em suas prpriascostas. Embora ele agradea a Deus por no ser como os demais homens, apa-rentemente no h nenhum senso de estar na presena de Deus. Isso certamen-te o poria em esprito contrito de reverncia e submisso. Ele permanece de p,

    convencido de que az parte de uma classe especial, acima de todos os outros.

    O ariseu tem tudo documentado, preto no branco, e a lista impressiva!Ele, entretanto, no est impressionado por aquilo que ele comparado comDeus, mas com o que ele comparado com os outros, descritos como rouba-

    dores, injustos, adlteros e coletores de impostos. Ele no se concentraem alar o que , mas o que ele no . Sua personalidade negativa. claro quequalquer um descrevendo o que ele no , pode gastar muito tempo discursan-do. Sua orao poderia impressionar os membros de sua sociedade religiosa.Se o Antigo estamento requeria cinco dias de jejum por ano, ele jejuava duas

    vezes por semana. Se o dzimo era requerido das rendas, ele dizima tudo o quepossui. Estas eram a marca de sua piedade: os ariseus aziam muito mais que o

    Por um lado, pecadores, mas por

    outro, objetos do infinito amor e da

    graa de Deus, que no faz acepo

    de pessoas (At 10:34)

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    exigido, e se orgulhavam disto!Jesus no sugere que as reivindicaes do ariseu sejam mentira. O seu

    problema um inacionado conceito de si por um lado, e, por outro, um de-acionado conceito de Deus. Ele, em ltima anlise, no estava na presena deDeus. Ele ora para si mesmo, cercado no leste, oeste, norte e sul, por ele mesmo.Este ator do primeiro sculo poderia concordar com Joseph Kennedy, que cos-tumava dizer aos seus lhos: o que voc , no nem de perto to importante

    como aquilo que voc parece ser. Mas esta a tica dos polticos, em abertanegao da tica crist e bblica.

    O publicanoO que est errado com a orao do ariseu? Ela poderia at ser conside-

    rada sincera e verdadeira. Ele andou a segunda milha no cumprimento da lei.A alha da sua orao, contudo, torna-se aparente apenas em contraste com asplica do coletor de impostos.

    O outro personagem, segundo Jesus, tambm veio ao templo para orar.Sua reputao o extremo oposto em relao do ariseu. A palavra publicano,no portugus, vem do latimpublicanus, quesignicava um ocial romano deimpostos. O termo soreu ao longo do tempo desdobramentos semnticos e

    histricos. Assim, os homens que encontramos nos evangelhos como publica-nos eram geralmente judeus a servio de Roma. Eles eram apenas agentes me-nores do sistema, contudo, ainda assim odiados pela populao. Para a naoescolhida, os coletores de impostos eram o ltimo elo de uma corrente intoler-

    vel. A maioria dos judeus cria que os publicanos haviam desertado o judasmopara servirem os odiados romanos.

    O estigma acrescentado pelos judeus a essa desprezada atividade ilus-trado pelo tipo de pessoas geralmente associado com os coletores de impostos,nas ontes judaicas. NaMishnah, por exemplo, eles aparecem ligados a ladres,cambistas, gentios e assassinos. Nos evangelhos, eles aparecem mencionadoscom as prostitutas (Mt 21:31), ladres, trapaceiros, adlteros (Lc 18:11) e pe-cadores (Mt 9:11; Lc 19:7). De ato, os coletores de impostos tornaram-se si-

    nnimo de pecadores (Lc 15:1).Os publicanos no podiam ser membros da comunidade arisaica, e se

    um ariseu se tornasse coletor de impostos, ele era automaticamente expelido.Socialmente, os publicanos passavam a viver em ostracismo, privados mesmode direitos civis, concedidos at aos bastardos. No sendo poltico ou membrodo clero, Jesus tornou-se amigo deles. E certamente Ele chocou o senso de de-cncia dos seus contemporneos, chamando um coletor de impostos para ser

    um dos seus discpulos (Levi Mateus), e livremente se associando a coletores deimpostos e partilhando reeies com eles.

    Se o publicano da parbola de Jesus merecia a reputao do seu grupoprossional, no declarado. Mas sua posio e comportamento revelam aatitude de algum que ao mesmo tempo em que quer vir presena de Deus,tambm se sente proundamente desqualicado para isso. Ele permanece distancia, longe (Lc 18:13). o longe quanto possvel do altar ou do lu-

    gar onde o conante ariseu se havia posto. O ariseu se colocava separado am de evitar contaminao. O publicano cou longe porque se sentia impuro.Seus olhos tam o cho, incapaz mesmo de levantar a cabea. A linguagemdo seu corpo revela culpa. Ele bate no peito num bem conhecido gesto de ar-rependimento e tristeza.4Ele age como se estivesse na presena da morte (Lc23:48). O publicano no tem nenhuma iluso a respeito de si. udo a seu res-peito ala de arrependimento e da plena alncia humana. Aqui encontramosum homem sem qualquer pretenso a seu respeito.

    Sua orao dicilmente uma prece, mas um grito do corao. ComoLutero, o grande reormador do sculo XVI, que no leito de morte oi ouvidodizer com requncia e em voz baixa, dirigindo-se ao Senhor: Deus, temmisericrdia deste pecador edorento. O publicano no se dirigiu para o tem-

    plo a m de lembrar a Deus dos seus mritos, mas para encontrar-se com Ele.H um senso de desespero nesse personagem. Sem mencionar suas alhas, ele

    se limita a descrever a si prprio como um pecador. No h em sua orao,nenhuma escusa, porque ele sabe que Deus no perdoa escusas, apenas pecados.Rejeitado pelos outros judeus, e condenado por si mesmo, ele az a nica orao

    que lhe resta a splica pela misericrdia de Deus. Ele implora a Deus emlinguagem penitencial, aparentemente extrada do Salmo 51:1.

    Jesus no permite que a parbola termine com as pontas soltas, para

    4 O costume judeu durante a orao era levantar os olhos (Jo 11:14; 17:1; Sl 121:1) eas mos (Is 1:15), em direo ao cu. O senso de culpa do publicano, o impede de levan-tar os olhos para o cu (Lc 18:13).

    No h em sua orao, nenhuma

    escusa, porque ele sabe que Deus no

    perdoa escusas, apenas pecados.

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  • 7/23/2019 o Incomparavel Jesus Cristo

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    cada um extrair sua prpria concluso. Ele no deseja que haja qualquerconuso ou dvida sobre sua mensagem. A inverso estarrecedora e ines-perada: Digo-vos que este desceu justiicado para sua casa, e no aque-le (Lc 18:14). O texto no diz que o publicano desceu sentido-se justi-icado, num tipo de ico legal. Ele desceu justiicado. Justiicar ou

    justiicao so grandes termos das Escrituras. No signiica primariamen-te azer/tornar justo, como no latimjustificare , mas declarar justo, como

    no grego dikai. Aquele que justiicado declarado (ato orense) justo peloJuiz do Universo. Como dito de Abrao, Abrao creu em D eus, e isso lheoi imputado para justia (Rm 4:3). Imputar, signiica atribuir, creditar. Isto, conta alida do ariseu creditada a enorme riqueza da graa de Deus.Jesus no est dizendo apenas que o coletor de impostos oi perdoado, masjusti icado, c olocado em corret o relacionamento com Deus.

    O que Jesus est dizendo de proundo signicado e nos deveria azerpensar seriamente. As pretenses humanas de justia, nada signicam. Nossalista de virtudes e prticas no tem qualquer mrito. Nossa olha de servionada vale para a nossa justicao. Jesus aqui inverte todo o sistema de valores,uma vez que, segundo as Escrituras, Deus no justica os justos (Rm 4:5).

    A justiicao impossvel para os que esto coniantes em sua justia

    prpria, em seu desempenho religioso e mrito pessoal. Isso simplesmenteporque aqueles que se sentem assim tm outra justia que no a nica querealmente eetiva, aquela que baseada na graa divina. Muitos religiosospodem ter autoimagem vigorosa e autoconiana impressiva. Mas o pro-blema que tais noes esto construdas sobre o undamento errado, e oresultado inal uma grande decepo.

    O ariseu, na verdade, perdera o seu tempo construindo em undamen-to also, porque todo o que se exalta ser humilhado (Lc 18:14). Sua reli-gio era vazia. Sua orao intil, sua arrogncia, uma tolice. A menos quenos prostremos em genuna atitude de humildade e absoluta dependnciada graa, nosso caso est perdido diante do tribunal de Deus. Ele pode jus-tiicar apenas aqueles que nada tm a reclamar com base nos seus mritos.

    Nada a reivindicar, seno misericrdia.A parbola no oi intencionada para nos oerecer uma rmula de oraoa ser usada perante Deus. O que Deus espera atitude semelhante do publi-cano. Um corao sensvel ao pecado sob a ao do Esprito, dependente intei-ramente do dom gratuito de Deus. a que a salvao comea em humildeaceitao do dom divino. Mas no a que a salvao termina. O esprito de e humildade que nos qualica para a justicao torna-se o princpio ativo no

    crescimento cristo, na santicao e no servio.Longe de ser complexo de inerioridade, tal esprito uma realstica acei-

    tao da avaliao divina da condio humana. Aquele que aceita a justia deCristo sabe que um pecador, sem qualquer esperana em si. Mas, ao mesmotempo, tem conscincia de que, justicado pela graa, ele exaltado por Deus plena participao na amlia celestial. apenas quando nos vemos pelo prismadivino que nossa autoimagem pode ser restaurada plenamente. Autoimagem

    positiva no resultado da idolatria do eu, ou da autodeicao, mas da consci-ncia da soberania da graa de Deus.

    Para ponderarJohn . Carroll (1996) menciona que quando oi pastor numa cidade do

    estado de Nova York, costumava colocar semanalmente uma rase no quadroexterno de anncios para chamar a ateno de pessoas que passavam pela renteda igreja. Em certa ocasio, a rase dizia: Esta Igreja apenas para pecadores.No nal daquela semana, ele recebeu pelo correio uma carta na qual um mem-bro annimo escrevia indignado: Eu estou chocado em saber que nossa igreja apenas para pecadores. Eu tenho sido membro desta igreja por vinte e cincoanos e nunca percebi que eu estava no lugar errado e no era bem-vindo. Na

    semana seguinte, o pastor Carroll escreveu no quadro de anncios um textobblico: odos pecaram e destitudos esto da glria de Deus (Rm 3:23).

    A concluso da parbola de Jesus deve ter estarrecido e irado os seusdevotos ouvintes. Um piedoso judeu e um ganancioso publicano, acostu-mado a extorquir os outros, sobem ao templo para orar, mas o ltimo quedesce justiicado. Qual o problema? O ariseu procurou estabelecer a sua

    Aquele que aceita a justia de Cristo

    sabe que um pecador, sem qualquer

    esperana em si. Mas, ao mesmo

    tempo, tem conscincia de que,

    justificado pela graa, ele exaltado

    por Deus plena participao na

    famlia celestial.

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    justia prpria (Rm 10:3) e, portant o, perdeu de vista a justia divina (Rm9:30, 31). O coletor de impostos, no tendo nada do que se gloriar peranteDeus (Rm 4:2), coniou naquele que justiica o mpio (Rm 4:5).

    O escndalo da graa, exp