o imaginário dos proprietários rurais em goiás – a ... · brasileiro ligado à estrutura...

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1 O imaginário dos proprietários rurais em Goiás – a dimensão dos valores democráticos em seu discurso político. Benaias Aires Filho 1 Palavras chaves: Proprietários rurais, imaginário político, Goiás, democracia, autoritarismo. Pretendemos discutir neste artigo, a importância de valores democráticos, para uma parcela de proprietários rurais em Goiás, particularmente de suas principais lideranças sindicais. Num primeiro momento, vamos procurar caracterizar quem é o ‘produtor rural brasileiro’, qual o seu perfil, qual o seu nível de escolarização, qual o tipo de trabalho determinante nas propriedades rurais brasileiras, qual a fonte de renda do agricultor, seu principal produto, como ele se relacionada com o chamado ‘mercado’, enfim, uma caracterização mais geral do proprietário rural brasileiro. Posteriormente, pretendemos a partir de entrevistas qualitativas que realizamos com líderes sindicais patronais do estado de Goiás, e após a utilização de um questionário, qual a visão deste proprietário em relação a conceitos que entendemos como universalmente (ocidentalmente) estabelecidos, como democracia, hierarquia, ou seja, uma tentativa de buscar o que pensa os representantes dos proprietários rurais goianos. Assim, na busca de caracterizar quem é o ‘produtor rural brasileiro’, utilizando uma terminologia que é enfaticamente reproduzida pelos mesmos, utilizamos uma pesquisa realizada pela CNA 2 , que se intitulou ‘Quem é o agricultor comercial brasileiro?” 3 , realizada no ano de 2000. Utilizaremos esta pesquisa, mais é fundamental esclarecermos algumas questões: embora seja, sem dúvida, a maior entidade sindical patronal brasileira, existe um grande número de proprietários que ora se organizam em torno das outras principais entidades como a OCB, SNA, SRB e mesmo a ABAG 4 , sem contar aqueles agricultores que estão organizados diretamente em entidades setoriais, e também aqueles organizados na CONTAG 5 , que apesar de classificados como trabalhadores rurais, muitos deles são pequenos proprietários e se utilizam de mão de obra familiar. A partir destes pressupostos, é evidente que esta pesquisa embora tenha sido realizada com uma grande amostra, ela apresenta o proprietário rural 1 Professor da Universidade Católica de Goiás, Doutor em Socioeconomia do Desenvolvimento pela EHESS-Paris – email: [email protected] Endereço: Prof. Benaias Aires Filho – Av C-104 n. 1236 Jd América – 74250-030 – GOIÂNIA –GO. – Apresentação oral na Área temática – Questões sociais no meio rural. 2 Confederação Nacional da Agricultura(CNA) – é a representante maior dos proprietários rurais brasileiros, tendo em vista que é a entidade que herdou a vertical estrutura sindical brasileira, uma espécie de FNSEA brasileira. 3 Publicado na home-page de la CNA: www.cna-rural.org.br. 4 As entidades pela ordem são: Organização das Cooperativas Brasileiras, Sociedade Nacional de Agricultura, Sociedade Rural Brasileira e Associação de Agribusiness do Brasil. 5 Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais.

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O imaginário dos proprietários rurais em Goiás – a dimensão dos valores democráticos em seu discurso político.

Benaias Aires Filho1 Palavras chaves: Proprietários rurais, imaginário político, Goiás, democracia, autoritarismo. Pretendemos discutir neste artigo, a importância de valores democráticos, para uma parcela de proprietários rurais em Goiás, particularmente de suas principais lideranças sindicais. Num primeiro momento, vamos procurar caracterizar quem é o ‘produtor rural brasileiro’, qual o seu perfil, qual o seu nível de escolarização, qual o tipo de trabalho determinante nas propriedades rurais brasileiras, qual a fonte de renda do agricultor, seu principal produto, como ele se relacionada com o chamado ‘mercado’, enfim, uma caracterização mais geral do proprietário rural brasileiro. Posteriormente, pretendemos a partir de entrevistas qualitativas que realizamos com líderes sindicais patronais do estado de Goiás, e após a utilização de um questionário, qual a visão deste proprietário em relação a conceitos que entendemos como universalmente (ocidentalmente) estabelecidos, como democracia, hierarquia, ou seja, uma tentativa de buscar o que pensa os representantes dos proprietários rurais goianos. Assim, na busca de caracterizar quem é o ‘produtor rural brasileiro’, utilizando uma terminologia que é enfaticamente reproduzida pelos mesmos, utilizamos uma pesquisa realizada pela CNA2, que se intitulou ‘Quem é o agricultor comercial brasileiro?”3, realizada no ano de 2000. Utilizaremos esta pesquisa, mais é fundamental esclarecermos algumas questões: embora seja, sem dúvida, a maior entidade sindical patronal brasileira, existe um grande número de proprietários que ora se organizam em torno das outras principais entidades como a OCB, SNA, SRB e mesmo a ABAG4, sem contar aqueles agricultores que estão organizados diretamente em entidades setoriais, e também aqueles organizados na CONTAG5, que apesar de classificados como trabalhadores rurais, muitos deles são pequenos proprietários e se utilizam de mão de obra familiar. A partir destes pressupostos, é evidente que esta pesquisa embora tenha sido realizada com uma grande amostra, ela apresenta o proprietário rural

1 Professor da Universidade Católica de Goiás, Doutor em Socioeconomia do Desenvolvimento pela EHESS-Paris – email: [email protected] Endereço: Prof. Benaias Aires Filho – Av C-104 n. 1236 Jd América – 74250-030 – GOIÂNIA –GO. – Apresentação oral na Área temática – Questões sociais no meio rural.

2 Confederação Nacional da Agricultura(CNA) – é a representante maior dos proprietários rurais brasileiros, tendo em vista que é a entidade que herdou a vertical estrutura sindical brasileira, uma espécie de FNSEA brasileira.

3 Publicado na home-page de la CNA: www.cna-rural.org.br. 4 As entidades pela ordem são: Organização das Cooperativas Brasileiras, Sociedade

Nacional de Agricultura, Sociedade Rural Brasileira e Associação de Agribusiness do Brasil. 5 Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais.

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brasileiro ligado à estrutura sindical de representação, com dados que nos chamaram atenção. Vamos primeiramente apresentar a pesquisa e somente após realizarmos algumas inferências. A partir de um cadastro de 670 mil filiados, foram entrevistados através de questionários 39.904 proprietários que possuem 89.210 imóveis, foram apresentadas ao todo 54 questões que buscam apresentam o perfil deste agricultor, a pesquisa não foi aplicada no estado de Minas Gerais, com o argumento da existência de pesquisa já realizada anteriormente neste estado, e nos estados do Amazonas e Distrito Federal. Segundo dados desta pesquisa, procurou-se estabelecer uma restrita distribuição dos entrevistados por Estado, que obedecia à proporção de sua representação no cadastro desta entidade, assim: A maioria dos proprietários rurais é predominantemente masculina(89%) e de casados(81%), quanto ao fator etário, 80% dos proprietários tem mais de 46 anos, 62% possuem como nível de instrução somente o 1o. Grau, 56% dos entrevistados possuem famílias com mais de três filhos, 60% deles possuem mais de uma propriedade, quanto à sua renda, 53% dos entrevistados afirmaram ter como renda até 500,00 reais como remuneração exclusiva da atividade rural e apenas 15% dos produtores recebem mais de R$ 2.000,00 por mês. A remuneração exclusiva da atividade rural é bastante variável, compreensível face as enormes disparidades regionais que podemos observar no Brasil, assim o estado do Amapá apresentou a menor renda média mensal – R$ 403,00 enquanto o estado do Mato Grosso do Sul tem a maior renda média mensal do setor: R$ 2.661,00, o que de certa forma nos surpreendeu. Enquanto isso, 64% dos entrevistados afirmam possuir outra fonte de renda. A renda total de 64% dos proprietários é inferior a 10 salários mínimos6, é importante ressaltar que a renda total corresponde ao valor auferido pela soma das diversas fontes, tais como: aposentadoria, serviço autônomo e renda da propriedade, entre outros. Este primeiro perfil dos proprietários rurais, ligados à CNA, é claro: o proprietário rural tem uma idade avançada, um nível de escolaridade baixo e uma renda insatisfatória. Diante das questões que demandavam quais os principais problemas que os proprietários rurais enfrentam no exercício de sua atividade, 34% dos entrevistados consultados citaram, em primeiro lugar, a falta de crédito ou recursos para o financiamento do setor. Este dado superou em 21 pontos percentuais as outras dificuldades, como elevado custo de produção e baixos preços de vendas de seus produtos. Segundo o relatório da pesquisa, foram incluídos como problemas de crédito todas as situações, que envolvem a inserção do produtor rural no mercado de crédito, como juros altos, endividamento, burocracia, garantias bancárias, carência de recursos, descapitalização, dentre outros. A soma de todos estes obstáculos nos fornece a dimensão e a complexidade do cenário a ser enfrentado pelo proprietário rural brasileiro na busca de viabilizar a sua produção.

6 Atualmente o valor do salário mínimo no Brasil é de R$ 240,00.

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No segundo aspecto da enquête, onde se busca caracterizar a propriedade rural, observamos algumas curiosidades: do total dos proprietários pesquisados, 80% deles, administram suas próprias propriedades, sendo que destes, 96% compraram ou herdaram o imóvel rural. Quanto à utilização de assistência técnica no campo, 34% dos entrevistados utilizaram este tipo de serviço nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa, sendo que, deste total, 63% usaram assistência técnica privada e 37% buscaram os serviços das diferentes empresas públicas. Este dado, nos evidência em certa medida, a ausência de investimento público em uma das áreas mais importantes da produção, que é justamente a capacitação técnica dos proprietários. Assim, entre os entrevistados, 71% afirmaram que pretendiam incrementar o uso de assistência técnica em suas propriedades, o que demonstra o seu interesse em melhorar os níveis de produtividade e o uso da tecnologia. Mas tal disposição, não encontra ressonância diante das limitadas opções de assistência pública e a falta de renda suficiente para assumir os custos dos serviços prestados pelas empresas privadas. Outro aspecto importante, é que 88% dos entrevistados empregam trabalhadores em suas propriedades através de um contrato temporário de trabalho, apenas 30% dos entrevistados que utilizam trabalhadores permanentes, empregam mais de um trabalhador, enquanto que 75% dos que utilizam mão de obra temporária possuem mais de um trabalhador contratado em sua propriedade. Observando o aspecto da tecnificação e da modernização das propriedades, notamos que 68% das propriedades rurais de filiados a CNA, não possuem tratores e quase a metade das propriedades rurais não possui energia elétrica (44%). Apenas 6% das propriedades consultadas utilizam irrigação em suas atividades. Quanto às culturas mais comuns encontradas nas propriedades pesquisadas, o milho se destaca, aparecendo em 39,4% delas, a nosso ver, este dado deve ser olhado com cuidado, visto que a preferência por uma ou outra plantação varia enormemente de ano para ano, e obedece a preços de mercado, e o proprietário direciona seu investimento em determinada cultura obedecendo aos critérios de mercado, seja nacionais ou internacionais. Quanto ao gado, a bovinocultura de corte(carne) é a principal atividade desempenhada entre os entrevistados, aparecendo em 43,9% das propriedades que se dedicam à pecuária, mas os dados coletados indicam a pouca utilização das tecnologias disponíveis na pecuária de leite para aumentar a produtividade do rebanho, ou seja, entre os produtores de leite, 95.03% não tem ordenhadeira mecânica, 91,36% não possuem tanque de resfriamento de leite e 94,10% não fazem inseminação artificial. Um aspecto da pesquisa que entendemos importante para demonstrar a utilização de novos instrumentos de informações e mesmo de modernização, é o uso do computador. De todos os entrevistados somente 17% afirmaram possuir um computador, sendo que deste 15% estão instalados na propriedade rural e 85% na sua residência na cidade, quanto ao uso de internet, somente 2% dos 15% dos computadores instalados nas propriedades possuem acesso à rede, ao passo que 23% dos 85% instalados na cidade possuem internet.

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Entre os veículos de informação mais utilizados, a televisão se apresenta como o preferido dos proprietários rurais brasileiros, seguido de jornais com 24% e do rádio com 22%. O horário preferido pelos proprietários para informarem-se coincide com o período de veiculação dos telejornais nos diversos canais de televisão, entre 20 e 22 horas. Todos estes dados nos demonstram, que o proprietário rural brasileiro está longe de ser classificado como um produtor rural tecnificado, com baixo nível de instrução, com um acompanhamento técnico deficiente, com um acesso ao crédito descrito como um de seus maiores obstáculos a uma maior produtividade, a baixa utilização de implementos agrícolas, nos apresenta um ‘produtor’ extremamente diferenciado daquele reproduzido pelos seus principais dirigentes. Findo este momento, onde apresentamos um quadro geral do que é o proprietário rural brasileiro, pretendemos analisar, no caso dos proprietários rurais de Goiás, que com certeza não se diferencia do quadro que apresentamos anteriormente, assim, realizamos uma pesquisa entre os dirigentes sindicais de Goiás, tentando apresentá-lo a nível mais geral, e principalmente buscar quais seus valores, como se relaciona com os valores de uma sociedade democrática, ou seja, como os dirigentes sindicais de Goiás vêem sua participação política. Mas anterior à apresentação desta pesquisa, é fundamental estabelecermos algumas referências, e mesmo um pequeno quadro do que representa a democracia no Brasil e como os brasileiros de uma forma geral a vêem. I – Os brasileiros e a democracia – um casamento com contínuas rupturas. É intrínseco à história brasileira conviver com curtos períodos de regimes de democracia representativa e longos regimes autoritários. Os cientistas políticos brasileiros inclusive criaram o conceito de “interregno democrático”, denominando o período que compreende a volta do estado de direito em 1946 e a volta dos militares ao poder em 1964, mesmo observando, que durante este mesmo período, algumas tentativas de quebra das regras do jogo, sobretudo por parte dos militares, puderam ser observadas. É marcante na história brasileira uma certa dificuldade na institucionalização de uma democracia no país. Não pretendemos recorrer aos clássicos da filosofia para conceituarmos o que entendemos por democracia, na nossa interpretação, entendemos democracia como um conjunto de instituições que regulam os conflitos e processam as demandas da sociedade, onde o respeito à possibilidade de alternativas nesta regulação, se representam pela regularidade de eleições livres e abertas à ampla participação de todos os atores sociais existentes no país. Segundo Holanda, “a democracia no Brasil, foi sempre um lamentável mal entendido. Uma aristocracia rural importou-a e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou privilégios, os menos privilégios que tinham sido no Velho Mundo, o alvo da burguesia contra os aristocratas. E assim puderam incorporar à situação tradicional, ao menos como fachada ou

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decoração externa, alguns lemas que pareciam os mais acertados para a época e eram exaltados nos livros e discursos”.7 Esta analise de Holanda, deve ser contextualizada. Sua obra é considerada como chave para se compreender o Brasil, foi escrita em 1936, onde internacionalmente existia uma forte clivagem ideológica, que se refletia no Brasil e ele sem sombra de dúvidas foi influenciado também por todos os pensadores que tinham uma interpretação culturalista da civilização brasileira, embora na sua grande maioria, estes autores tivessem uma face marcadamente autoritária, o que não é o caso de Holanda. Por outro lado, é preciso discutir como se deu o processo recente de transição política de um regime autoritário para um regime democrático, para entendermos o quanto é marcante uma tradição autoritária na história brasileira. Embora, tenhamos alguma resistência para estabelecer quadros comparativos, eles nos servem de exemplos na busca de uma melhor caracterização de nossa atual realidade social e política. Assim, grosso modo, existem dois grandes quadros de transições políticas do autoritarismo para a democracia, o primeiro, aqueles onde os regimes foram altamente repressivos ou foram economicamente destrutivos, somente para nos restringirmos ao caso da América do Sul, poderíamos citar os casos do Uruguai, da Argentina e do Chile. Esses regimes costumam terminar em colapso, seja devido a uma explosão dos conflitos internos, seja em função de desastrosas aventuras externas. Este colapso leva a um tipo de transição no qual os governantes autoritários não conseguem controlar a negociação, e são excluídos ou ocupam um papel muito pequeno no novo regime, os dirigentes do antigo regime, inclusive das Forças Armadas, sofrem um processo de desprestígio generalizado, que permite um grau elevado de desmilitarização do novo regime. Nessa situação, a hostilidade das Forças Armadas e o governo de transição, estabelecem uma constante ameaça de uma morte rápida do regime por um novo golpe autoritário. Essa ameaça pode se cristalizar rapidamente, se o governo democrático não conseguir enfrentar as enormes dificuldades decorrentes da dupla tarefa de reconstruir a economia e atender à explosão de demandas reprimidas da população tanto no plano socioeconômico como no plano político, escrevo pensando no caso clássico argentino. O segundo tipo, o qual mais nos interessa, é aquele no qual o regime autoritário alcançou algum grau de sucesso econômico e utilizou o aparato repressivo de forma menos generalizada, ou mais limitada no tempo. O caso brasileiro é exemplar. Neste caso, a transição política, não ocorreu por colapsos ou rupturas, mas em grande parte por iniciativa de representantes do regime anterior, que mantiveram um amplo controle de todo o ritmo e mesmo a extensão das modificações a serem introduzidas. Se por um lado, os antigos governantes e as Forças Armadas tiveram seu espaço político diminuído, por outro, desempenharam um papel importante, exercendo sempre um poder de veto no processo de condução da transição, baseado nas posições que continuaram a ocupar no aparato do Estado e na administração pública, no caso brasileiro, é exemplar, o fato de que, no primeiro governo eleito após

7 Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, 25a ed., RJ, José Olympio, 1993, p. 119.

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transição, no memorável governo Collor de Mello, a existência de seis ministérios militares. Nesse caso, há uma ameaça muito menor de ruptura e retorno à antiga ordem, geralmente através de um golpe, o perigo é sempre uma morte lenta com uma transição indefinida que não consegue estabelecer e consolidar um verdadeiro regime democrático. De certa forma, esta tipologia simplificada nos mostra que a natureza do regime autoritário anterior, e a forma como se dá a transição contribuem para delimitar os atores políticos que negociam a mudança do regime, a ampliação e mesmo o ritmo das negociações. Resumindo, os processos de democratização implicam duas transições: a primeira se encerra com a instalação de um governo democrático, este processo se efetivou no Brasil, findo o regime militar, o Brasil já está no seu terceiro governo civil e eleito. A segunda etapa começa a partir deste momento, e se define como processo de consolidação, que se completa com a vigência de um regime democrático. Este segundo momento, tem sido, face a toda a tradição autoritária, extremamente difícil no Brasil, em virtude inclusive que outros fatores, que não só os internos, determinam a vida econômica do país, a crise argentina, no ano de 2002, evidencia este fato. Esta curta análise que fizemos, da transição política brasileira recente, nos permite retomar um problema que é crucial para os brasileiros: a fragilidade de suas instituições representativas. Essa característica está relacionada com a persistência de formas tradicionais de ação política, que podem ser chamadas de patrimonialistas e que implicam na manutenção de um alto grau de personalismo político. Numa sociedade agrária e tradicional, o patrimonialismo possui certa eficácia na condução dos negócios públicos. O estabelecimento de alianças e apoios dá-se através de ‘acordo de cavalheiros’, os partidos, são dirigidos por coalizões familiares, e as relações políticas são construídas e cimentadas em termos de trocas de favores. As relações dos chefes oligárquicos com o Estado consistem na apropriação de cargos e favores. Todo este sistema se desdobra ‘para baixo’, através do clientelismo que perpassa toda a administração e governa o atendimento das demandas sociais e econômicas. Em suma, o patrimonialismo é contraditório com o estabelecimento do Estado de Direito, com a necessidade de separação entre recursos públicos e privados, e lembrando Weber, com a racionalidade administrativa e com um sistema de controles públicos sobre a ação governamental, que são condições básicas de uma democracia moderna. Todas as democracias, mesmo as consolidadas, têm convivido com graus relativamente elevados de clientelismo e mesmo de corrupção. Mas, numa sociedade moderna e complexa, quando formas tradicionais dominam todo o aparelho de Estado, e a máquina administrativa fica inteiramente subordinada ao clientelismo, a democracia se torna incapaz de operar com o mínimo de eficácia exigido para processar as enormes demandas acumuladas, complexas e na sua maioria, conflitivas. O governo democrático passa a funcionar com um baixo nível de eficiência, acentuando a crise de governabilidade que decorre de problemas político- estruturais. A permanência deste estilo político tem muito a ver com o continuísmo e mesmo com o gradualismo da transição brasileira, que ficou conhecida como “lenta, gradual e segura”. Sua preservação, principalmente no Legislativo

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constitui uma herança do estilo oligárquico predominante no Brasil, que alguns consideram que se encerrou em 1930, outros em 1964, mas que entendemos estar extremamente vivo no Brasil atual, um claro exemplo disto, é a permanência de grandes famílias oligárquicas no legislativo brasileiro, apesar das enormes mudanças observadas no Brasil, durante todo este período. O autoritarismo no Brasil estabeleceu um afastamento entre o regime e a sociedade cujas demandas ele se mostrava incapaz de articular e de satisfazer. O resultado disso foi o desprestígio da chamada ‘classe’ política. Assim, ao debilitar o legislativo, ele contribuiu para exacerbar aspectos do patrimonialismo, e restringiu a modernização das práticas políticas-partidárias. No caso do Executivo brasileiro, o predomínio deste estilo patrimonialista provoca um paradoxo de onipotência e impotência, que o governo Cardoso foi um exemplo bastante claro. Onipotência, visto que pode tomar medidas e decisões que não estão submetidas aos processos de controles institucionais e legais próprios de um sistema representativo e republicano, basta ver, que depois da transição, se mantém no Brasil a esdrúxula forma de legislação que se denomina “medida provisória”, o Executivo impôs uma lei através de uma medida provisória, que conforme a Constituição brasileira, que se caso, ela não tenha sido analisada no parlamento, o seu prazo de validade é de um mês, o problema é que em face de uma agenda sempre cheia, e devido a negociações políticas, o legislativo nunca analisa uma medida neste curto período, findo, o prazo, o Executivo edita uma outra medida ‘provisória, com o mesmo texto, e assim sucessivamente, uma clara forma de legislar por decretos. E por outro lado, de impotência, porque essas decisões, sem mediações políticas e administrativas adequadas e claras, não conseguem transformar-se em orientações eficazes na regulamentação da vida econômica e social. Nesse sentido, o conceito de democracia delegativa, sobretudo em alguns países na América Latina é bastante claro, desta forma O’Donnell levanta “as democracias delegativas se fundamentam em uma premissa básica: aquele que ganha uma eleição presidencial é autorizado a governar o país como lhe parecer conveniente e, na medida em que as relações de poder existentes permitam, até o final de seu mandato. O presidente é a encarnação da nação, o principal fiador do interesse nacional, o qual cabe a ele definir, o que ele faz no governo não precisa guardar nenhuma semelhança, com o que ele disse ou prometeu durante a campanha eleitoral – ele foi autorizado a governar como achar conveniente.”8 Na América Latina os recentes casos das eleições de Collor de Mello no Brasil, de Menen na Argentina e de Fujimori no Peru, se enquadram perfeitamente no quadro de democracias delegativas. Neste tipo de democracia, estão ausentes mecanismos de controle da ação dos governantes, estes são escolhidos em processos eletivos diretos e majoritários, mas com uma clara faceta plebiscitária, o que ratifica uma certa tradição personalista e de concentração do poder, que é uma característica básica dos regimes políticos latino-americanos.

8 O’Donnell Guillermo. Democracia delegativa?. Revista Novos Estudos n. 3, 1991, SP,

Cebrap, p. 30.

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Nas democracias delegativas, os instrumentos típicos da democracia representativa não desaparecem, mas funcionam precariamente. Assim, de um lado e de outro se processa esse distanciamento entre política e sociedade, estabelecendo-se uma ineficiência governamental, ou uma crise de governabilidade que corrói com grave perigo para a democracia, a credibilidade do governo e da política. Por fim, é a volta da velha questão ‘o ovo ou a galinha?’, o problema crucial para completar a transição e instituir um regime democrático no Brasil, consiste no estabelecimento de instituições que estabeleçam mediações mais eficazes entre as instâncias de governo e a população, ou a sociedade. No Brasil, sobretudo em nossos dias, não existe a consolidação de uma cultura democrática, fazendo com que, a sombra de uma volta à um passado autoritário, sempre paira sobre as instituições brasileiras. II - A difícil arte de entrevistar latifundiários. Pretendemos discutir neste momento, algumas reflexões metodológicas sobre as entrevistas que realizam e como chegamos à pesquisa, que vamos apresentar no final deste artigo. Percorrer os trabalhos de Pinçon et Pinçot-Charlot, são como pequenas viagens, incursões em um mundo que até então para mim era de todo desconhecido. Ao estudarmos a aristocracia agrária brasileira e mais particularmente goiana, nos surpreendeu enquanto pesquisador, a presença de valores arraigados, da valorização do nome, da busca quotidiana de se apresentar diferente em relação aos outros, e situações de entrevistas que em muito se assemelham aos descritos pelos autores citados acima. As dificuldades, os tropeços são momentos desafiadores no curso destas entrevistas com grandes proprietários, e isso se deve a dois fatores: em primeiro lugar, face ao enorme poder que detém, e de representarem privilegiados numa sociedade altamente hierarquizada, compartimentalizada e autoritária como a sociedade brasileira, os proprietários não fazem o tipo de se exporem publicamente, ao contrário dos ‘novos ricos’, a aristocracia agrária brasileira tem clareza e consciência de seu poderio, sobretudo em um estado como Goiás. É enorme a desconfiança com os pesquisadores, sobretudo no momento em que ele se identifica enquanto sociólogo. Existe ao nível do senso comum, a noção de que sociólogo/militante comunista/simpatizante do MST, o que muitas vezes pode acontecer, são personagens de um mesmo filme. Quando iniciamos a pesquisa de campo, decidimos que seria necessário, mesmo em face da enorme quantidade de material, sobretudo de entrevistas, reportagens jornalísticas, entrevistarmos alguns personagens centrais da criação de uma entidade que promoveu uma enorme mobilização do patronato, bem como discutir as interpretações que possuem sobre o Brasil, como se vêem enquanto agentes sociais e como viram o rico processo de elaboração da Constituição brasileira durante o período 1985-1988. Realizamos 18 entrevistas qualitativas, com as principais lideranças que encabeçaram e organizaram toda a mobilização dos proprietários rurais nos anos citados acima, deputados federais, deputados estaduais de Goiás,

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professores universitários, dirigentes das duas principais entidades patronais de Goiás, advogados que participaram de processos de desapropriações, seja vinculados à FAEG9 seja à FETAEG10. Mas anterior à pesquisa em si, realizamos um longo processo de observação, que consistiu a freqüentar alguns dos famosos leilões patrocinados pela UDR11, as manifestações exigindo a anistia das dividas dos agricultores, durante o período da Constituinte, as inaugurações das Feiras Agropecuárias de Goiânia organizadas pela SGPA durante os anos de 1999 e 2000. Acompanhar estes eventos foram momentos profundamente enriquecedores, a disposição de como se organiza os leilões, as disputas entre os diferentes participantes no sentido de reproduzirem uma ostentação, as vestimentas típicas e distintivas, os palanques das autoridades nas inaugurações, seus discursos, tudo isto nos forneceu condições necessárias à elaboração de todo um discurso de aproximação e mesmo de conhecimento das diferentes instâncias que se hierarquizam os proprietários rurais, suas contradições, suas afinidades, suas ligações familiares. Conforme enfatizamos anteriormente, numa sociedade extremamente vinculada a questão agrária como a goiana, altamente hierarquizada, onde a posição social dos proprietários rurais é relevante e valorizada, onde uma certa posição ostentatória é perceptível quando se caminha pelas ruas da capital do estado, onde os alazões do oeste americano, bem perceptíveis nos filmes de western, foram substituídos por possantes camionetes. A posição social dos proprietários é no sentido, de claramente impor limites, nesse sentido, nas entrevistas qualitativas, o sentimento é o mesmo percebido por Pinçon et Pinçon-Charlot quando afirmam: “ é um risco ver o entrevistado, grande burguês, tentar manipular o pesquisador, ´sujeito da pesquisa´, a fim de tentar dar uma tonalidade de proselitismo ou de direcionar o resultado da mesma.”12 Além disso, eles invocam em outro texto, uma certa “intimidação cultural”, ou mesmo uma “agressão simbólica” que sente o sociólogo que não saiu do mesmo meio social do entrevistado.13 E isto é bastante claro, perguntas do tipo: “onde você fez seus estudos?”, “mas qual é mesmo o seu nome de família?”, são formas de estabelecerem uma clara delimitação de mundos.I III - Os dirigentes sindicais patronais rurais de Goiás, sua visão e seu comprometimento com valores democráticos. Antes de adentrarmos ao resultado da pesquisa, pretendemos apresentar algumas questões que nos levaram a elaborar as questões que foram colocadas e metodologicamente como se deu a preparação da mesma.

9 FAEG – Federação de Agricultura do Estado de Goiás – principal entidade de representação

do patronato rural goiano. 10 FETAEG – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás. 11 União Democrática Ruralista. 12 Pinçon, Michel et Pinçon-Charlot, Monique. Des difficultes de la recherche dans les classes

dominantes: l’objet impossible au sujet manipule, Journal des anthropologues n. 53/54/55, 1993/94, p. 29.

13 Pinçon, Michel et Pinçon-Charlot, Monique. Pratiques d’enquetê dans l’aristocracie et la grande bourgeoisie: distance sociale et conditions spécifiques de l’entretien semi-directif. Genèses, n, 3, mars 1991, p, 120-133.

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É claro que quando falamos de dirigentes sindicais patronais em Goiás, o vemos como uma ‘classe social reputadamente fechada’, de certa forma, difíceis de se aproximar. Não conhecemos outro trabalho no Brasil, que tenha tido esta preocupação, daí uma certa dificuldade em elaborarmos tanto as questões que foram apresentadas como a definição do universo a ser escolhido. Depois de uma reflexão que contou com ajuda de pesquisadores brasileiros, tanto na França, bem como no Brasil, definimos o universo e quais os mecanismos a serem apresentados para a obtenção dos dados. Primeiramente pretendemos apresentar a escolha do universo no qual foi escolhida a amostra: em Goiás, existem duas entidades representativas do patronato rural, a primeira e mais importante a FAEG, que representa a estrutura sindical vertical brasileira e a outra, a SGPA14 fundada em 1941, sendo inclusive, a primeira organização dos fazendeiros goianos, que tem como finalidade principal a organização da Feira Agropecuária de Goiânia, bem como, as Feiras Agropecuárias que se distribuem pelo restante do estado. É relevante a importância da SGPA no cenário, sobretudo, pecuário goiano, foi através dela que se instituiu a chamada ‘bacia leiteira do estado’, que hoje é a 2.ª do país, foi através desta entidade que pecuaristas importaram vacas e reprodutores tanto de outros estados como de outros países, além da implantação de um grande plantel de cavalos ‘Quarto de milha”, importados na década de 70 dos Estados Unidos. A função da SGPA está ligada às exposições agropecuárias e ao melhoramento genético do gado criado no estado. Além de se fazer presente juntamente com a FAEG nas demandas dos proprietários rurais junto ao poder público. Primeiramente, era necessário ter acesso aos arquivos destas entidades, na busca, sobretudo do cadastro dos dirigentes, visto que já havíamos decidido que a melhor forma de ter acesso a eles seria através do envio de um questionário. E isso se explica pelo seguinte fato, estabelecemos que iríamos entrevistar a diretoria das duas entidades no período compreendido entre 1985-2000, e ao mesmo tempo que entrevistaríamos todos os presidentes de sindicatos patronais do estado, que se organizam por cidades, que são em número de 124. IV – O universo da pesquisa e as dificuldades encontradas. O objetivo maior da pesquisa era procurar visualizar a ligação dos proprietários rurais de Goiás, a valores que julgamos de uma sociedade democrática. Nos primeiros contatos, com dirigentes das entidades, de imediato, nos foi esclarecido, a dificuldade de encontrar os seus filiados, em função de vários fatores: embora a maioria dos dirigentes tanto da SGPA como da FAEG residam em Goiânia, eles se movimentam enormemente, seja visitando suas propriedades, algumas fora do estado, seja percorrendo exposições agropecuárias pelo restante do país.

14 Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura.

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Se já não bastasse o fato, de que os proprietários rurais terem uma certa desconfiança em relação a pesquisadores, decidimos que a melhor forma de acessá-los, seria através do envio de um questionário, com um envelope selado de retorno no seu interior, e onde enfatizávamos um pedido de que a pesquisa seria impessoal, que não assinassem os formulários, ou seja, dando ao entrevistado uma maior liberdade de resposta, que com certeza eles não teriam no caso de entrevistas personalizadas. Quando partimos em busca dos nomes dos diretores das entidades, outro problema, é incrível mas no Brasil, não existe uma cultura de se guardar documentos, tivemos que sair em busca de antigos funcionários para conseguirmos a totalidade dos nomes. Após este primeiro momento, uma outra curiosidade, alguns nomes se reproduziam por várias vezes, e isto se explica, pelo fato, de que alguns proprietários, ora eram diretores da FAEG e da SGPA concomitantemente, ora eles eram num período diretores de uma entidade e depois de 10 anos, diretores de outra. Após esta primeira filtragem chegamos ao total de 190 questionários, 124 deles foram enviados aos diferentes sindicatos patronais rurais que se organizam por cidades, os restantes 66 questionários foram enviados aos proprietários que fizeram parte da diretoria das duas entidades depois de 1985. E o porque deste período?. É justamente o momento, onde a questão agrária brasileira sofre o seu maior processo de ideologização, toda a discussão de uma possível reforma agrária, fez com que todos os atores que de uma forma ou outra se relacionavam com a questão, se mostrassem presentes. O questionário foi dividido em duas grandes partes: na primeira se buscava uma caracterização dos proprietários rurais de Goiás, as questões clássicas, como idade, quantidade de hectares de terra, nível de escolaridade, rendimento da propriedade e outras, já num segundo momento, apresentamos seja frases feitas, seja questões onde buscamos visualizar como o proprietário rural vê a sociedade em que ele está inserido, e como ele se relaciona com ela, a partir, de noções universalmente aceitas como de attachement à democracia. Dividimos as questões desta segunda parte15 em grandes noções: buscando captar suas opiniões acerca de conflito social, de respeito (às regras do jogo) no caso às leis, sobre seu pragmatismo político, de suas preferências por decisões democráticas, sobre distribuição de renda, sobre a capacidade de escolha dos eleitores brasileiros e por fim sua interpretação sobre hierarquia social. Após os primeiros passos que apresentamos acima, pretendemos discutir sobre o envio de questionários e sobre a questão de devolução de formulários.

15 Alguns questionamentos colocados aos proprietários rurais nesta pesquisa, foram

apresentados num outro trabalho realizado pelo Iuperj que podem ser consultados no seguinte artigo: Lima, Maria Regina Soares de e Cheibub, Zairo Borges. Instituições e Valores – as dimensões da democracia na visão da elite brasileira. Revista Brasileira de Ciência Sociais, Anpocs, n. 31, ano 11, RJ, 1996.

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Em um pequeno texto, o historiador Mension-Rigau16, na França, apresenta sua experiência, quando enviou um questionário com 19 páginas, com perguntas abertas, onde ele teve um retorno de 46% dos questionários, o que julga uma grande vitória. No nosso caso, seria inimaginável enviar um questionário de 19 páginas, com questões abertas, no meio onde buscamos os dados, e isto, devido a vários fatores: não existe uma ‘cultura’, um hábito de responder a questionários, e numa sociedade extremamente desigual como a brasileira, é evidente a desconfiança dos proprietários rurais, em virtude disto, na carta que enviamos aos proprietários rurais, acrescentamos a assinatura do diretor de imprensa da FAEG, onde ele afirmava que a pesquisa era de interesse da entidade, mesmo com todos estes cuidados, com a enfatização da impessoalidade do questionário, obtivemos um retorno de 19% dos questionários, que julgamos, satisfatórios em face das dificuldades levantadas. V - Uma caracterização do patronato rural goiano Assim, pretendemos apresentar a pesquisa realizada junto aos proprietários rurais goianos, associados às duas principais entidades patronais, bem como os representantes de 124 sindicatos rurais. Uma primeira apresentação é evidente, o universo rural brasileiro, ainda é predominantemente masculino, dos questionários que retornaram, somente um foi preenchido por uma mulher, quanto ao aspecto etário, assim como na pesquisa realizada pela CNA que citamos anteriormente, somente 8% dos entrevistados apresentaram idade inferior a 30 anos sendo que 70% deles possuem mais de 40 anos, quanto a outra questão que apresentamos, no sentido de percebermos se Goiás é ainda uma fronteira agrícola de outros estados, perguntamos sobre seu local de nascimento, 72% deles nasceram no estado e 28% nasceram em outros estados da federação. Quanto ao nível de instrução, os goianos se diferenciam do universo apresentando pela pesquisa da CNA, 14% deles afirmaram possuem o 1o. Grau completo, 19% afirmaram possuir o segundo grau, 25% afirmaram terem cursado algum curso superior mas não concluíram e 42% afirmaram possuir algum curso superior. No que tange o aspecto religião, é preponderante o percentual daqueles que se declaram católicos: 81%, logo em seguida vem os que professam o espiritismo:11%, somente um entrevistado se declarou protestante, assim como outro se declarou pentecostal. Apresentamos uma questão, demandando como os proprietários viam a posição de sua Igreja, no tocante a questão agrária, 44% tiveram uma posição intermediária, seja concordando ou discordando pouco, 39% discordam da posição da Igreja, 14% não responderam e somente um entrevistado respondeu que concordava com a posição de sua Igreja. A apresentação desta questão, é justificável na medida, em que como já prevíamos, é enorme a porcentagem de católicos no meio rural, pelo menos daqueles que afirmam

16 Mension-Rigau, Éric. Impressions et reflexions sur une ênquete de terrain dans l’aristocratie

et dans la grande bourgeoisie. Jornal des anthropologues, n. 53/54/55, Associação Française des Anthropologues, 1993/94, p. 37-47.

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sê-lo, e como, a Igreja, tem tido no Brasil uma ativa participação política no meio rural, nos pareceu de enorme importância entendermos a interpretação dos proprietários rurais sobre sua participação política. E como pudemos perceber, é grande o número de católicos que discordam da posição de sua hierarquia. Na busca de melhor caracterizarmos os dirigentes sindicais patronais de Goiás, procuramos apreender o tamanho e a quantidade de suas propriedades, assim: 10% tem até 50 hectares, 5% de 51 a 100 hectares, 53% afirmaram possuem entre 101 e 500 hectares, 16% afirmaram possuir entre 501 e 1000 hectares, 14% possuem entre 1001 e 5000 hectares e somente um entrevistado afirmou possuir mais de 5000 hectares. Como atividade econômica principal na propriedade, 53% afirmaram desenvolver cultivo de grãos e criação bovina conjuntamente, 44% afirmaram se dedicar com exclusividade à criação de gado e somente um entrevistado afirmou que se dedica exclusivamente ao cultivo de grãos. Em Goiás, tem aumentado o número de propriedades que fazem o chamado consorciamento, durante um período do ano, se planta forrageiras para o gado, e noutro, se planta, geralmente milho, sorgo, que tanto é aproveitada na propriedade, como é vendido como excedente no mercado. É importante também observar, que é ainda grande o número daqueles que se dedicam exclusivamente à criação de gado, na sua grande maioria de forma extensiva. Posteriormente procuramos saber, o tipo de relação de trabalho predominante nas propriedades rurais, cerca de 80% deles afirmaram possuir empregados assalariados, cinco responderam que tem assalariados e arrendatários, uma pequena parcela ainda se utiliza de meeiros(uma resposta), outros se utilizam de diaristas(duas respostas) e outros se utilizam de empreiteiros(duas respostas). A pequena porcentagem de meeiros e arrendatários é relevante do tipo de agricultura praticada, ela nos revela que as relações trabalhistas chegaram ao campo goiano, mais voltado para o mercado, onde relações como ‘morador’ são cada vez minoritárias. Quanto ao número de funcionários que possuem em suas propriedades, 25% declararam que possuem um funcionário, 47% deles tem de dois a cinco funcionários, 11% possuem de seis a dez funcionários, outros 11% afirmaram ter mais de onze funcionários e 6% deles não responderam à questão. Apresentamos uma questão, que a primeira vista parece redundante, sobre se participa ou não de alguma entidade representativa dos proprietários rurais, é óbvio, que praticamente todos responderam que sim, visto que os questionários foram enviados a pessoas que estavam como filiados nas entidades que citamos acima, mas a nossa preocupação era ligar esta primeira questão com a posterior, sobre qual a entidade em que estava ligado, visto que, como os nomes se intercruzavam, e visto que os questionários eram inominados, pretendíamos perceber de onde vieram a maioria das respostas. A grande maioria veio justamente daqueles que menos esperávamos, os representantes dos sindicatos rurais, somente dois entrevistados responderam que participavam da SGPA, sendo que um deles participava também da FAEG, como muitos responderam que participavam de seu sindicato local e também da FAEG, obedecendo a estrutura vertical sindical, ponderamos e concluímos que 65% a 70% de nossos questionários foram respondidos por sindicalistas de base.

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E isto explica uma outra resposta, quando perguntamos, qual teria sido o rendimento bruto das suas propriedades, no ano anterior, a disparidade é enorme, o que se tornou difícil classificar. Assim 14% não responderam a questão, pela ordem: 22% afirmaram ter como rendimento até R$ 10.000 no ano anterior, 3% afirmaram receber entre R$ 10.001 a R$ 20.000, 11% afirmaram perceber entre R$ 20.001 e R$ 40.000 e 50% deles afirmaram receber mais de R$ 40.001. E nessa faixa percebemos que um produtor afirmou ter 23 funcionários e que sua propriedade rendeu R$ 1.500.000 no ano de 1999. Nesse aspecto, pudemos perceber que a diferença é enorme, assim como existem proprietários que como pudemos perceber na pesquisa da CNA, onde uma significativa parcela deles tem rendimentos exteriores à propriedade, seja como profissionais liberais, como comerciantes e outras profissões. A diferença se observa, na presença de proprietários realmente inseridos no mercado, e outros que ainda vêem a propriedade rural, mais como um lugar de lazer, do que, como atividade produtiva. Um pouco mais adiante, um outro questionamento foi apresentado na busca de auferir uma maior participação política dos proprietários, era se eles já tinham sido agentes públicos, a grande maioria 61% respondeu que não, que nunca tinham exercido nenhuma função pública, 33% responderam que já tiveram ou tinham alguma atividade pública, seja como vereadores, um já tinha sido prefeito, outro deputado, outros três vereadores e sete responderam que tinham sido seja secretários de suas prefeituras, seja secretários na administração do estado. Confrontados a uma questão, que perguntava se eles tinham tido alguma participação política, seja participando de caminhadas, de comícios durante o período de elaboração da nova constituição brasileira, 58% deles afirmaram que não participaram das mobilizações, enquanto 42% afirmaram que participaram. Estas respostas, nos fizeram pensar, como a maioria das respostas provem de sindicalistas ligados à base, e a maioria das manifestações foram fora de suas cidades, ora em Goiânia, ou em Brasília, e mesmo o fato, de que a pesquisa ter sido realizada mais de 10 anos de findo o processo, é bem provável, que seja uma nova geração de sindicalistas que tenha surgido. Fazendo com que a maioria tenha afirmado que não tenha tido participação nas manifestações. Esta resposta anterior, nos parece um pouco contraditaria com as respostas que obtivemos, quando perguntamos, se eles tinham participado da construção da UDR, 8% dos entrevistas não responderam a questão, 14% afirmaram que não participaram ou não concordaram e 78% afirmaram que apoiaram sem se associar, se associaram sem participar e dentre estes, somente um afirmou que participou ativamente, inclusive da diretoria. Fica evidente, a representação que exerce no imaginário dos proprietários rurais goianos, a importância do papel da UDR, a grande maioria dos entrevistados, embora estejam ligados a outras entidades representativas do patronato rural, tem a UDR como uma de suas representações preferidas. Esta questão foi apresentada, mais na busca, de visualizarmos como os proprietários rurais, vêem as ameaças à integridade de seu patrimônio, a UDR em Goiás, se extinguiu, foi revigorada a nível nacional pela antiga direção regional da cidade de Presidente Prudente em São Paulo, que tem como um

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de seus principais líderes, seu antigo presidente Roosevelt dos Santos. Hoje, as principais discussões, acerca dos interesses dos proprietários se dá, hoje em torno da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, que tem em Ronaldo Caiado um de seus mais ferrenhos articuladores. Além disso, outras entidades foram criadas como o MNP17, na busca de uma representação fora da estrutura sindical. Desta primeira parte do questionário, podemos tirar algumas conclusões: em primeiro lugar, a heterogeneidade do patronato rural goiano, com alguns proprietários inseridos numa economia de mercado, mas a maioria ainda, ora tendo suas terras como reserva de valor, ora não utilizando suas propriedades racionalmente, ou mesmo, pequenas propriedades, que são mais, refúgios e residências secundárias, do que uma verdadeira empresa capitalista. Por outro lado, é predominante ainda, os proprietários que se dedicam à criação bovina, com propriedades variando de médias a grandes, com pouca utilização de mão de obra, em função de que a criação de gado necessita basicamente de um vaqueiro, para transferir o gado de um pasto a outro, com baixa remuneração em vista a quantidade de terras que possuem, e com um bom nível de instrução, se compararmos com o restante da população brasileira. Mas é a segunda parte do questionário, que mais nos interessa.

17 Movimento Nacional dos Produtores – criada pela OCB, SRB e pela CNA – com sede no

estado do Mato Grosso do Sul, com a participação majoritária de pecuaristas, que de certa forma, tenta representar as mesmas diretrizes da UDR. Para obter maiores informações consultar: www.mnp.org.br.

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VI – O Patronato rural e as ‘regras do jogo’. Apresentamos quatorze questões, na busca de apreender qual a interpretação que o patronato rural goiano, tem a respeito dos valores democráticos. Acima, aleatoriamente estabelecemos sete índices que, a nosso ver, podem demonstrar o compromisso destes proprietários à democracia. Criamos assim os índices que denominamos de Elitismo ou sobre a capacidade de escolha do eleitorado brasileiro, qual sua atitude face à hierarquia, qual sua orientação diante da lei, qual sua visão diante dos conflitos sociais e políticos, o índice de pragmatismo político, suas opiniões acerca da preferência por decisões democráticas e suas opiniões sobre políticas de distribuição de renda no Brasil. Pretendemos apresentar os dados, e após, fazermos uma discussão sobre as respostas. Assim, obtivemos, o que denominamos de “Índice diante da hierarquia”, através da apresentação de duas frases, onde o entrevistado escolhia entre quatro respostas possíveis: ou concordava muito, ou concordava pouco e discordava pouco, onde classificados como posições intermediárias ou discordava muito das frases. Tabela I – Posição face à hierarquia Questão 31 Questão 3218

Atitude Número

% Número

% Média em %

Favorável 18 50 29 80 65 Posição intermediária

14 39 6 17 28

Desfavorável 4 11 1 3 7 Total 36 10

0 36 10

0 100

Estes dados são relevantes, como enfatizamos anteriormente, uma certa visão hierárquica do mundo social, é bem perceptível nas respostas dos dirigentes goianos, numa média de 65% eles demonstram a necessidade de uma clara delimitação hierárquica no seio da sociedade. De certa forma, estes dados não nos surpreendem, nas entrevistas qualitativas que realizamos, era sempre presente esta clara delimitação de campos, em muitos dos casos, estabelecendo uma clara diferenciação até mesmo com o pesquisador. Outro aspecto relevante que pudemos captar nesta pesquisa, foi o que denominamos, “orientação diante da lei” através da resposta a duas questões.

18 Assim foram apresentadas as seguintes frases: questão 31: “A melhor sociedade é aquela

onde cada um sabe o seu lugar” e na questão 32: “Sem hierarquias bem definidas nenhuma ordem se sustenta”.

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Tabela II- Orientação face à lei.19 Questão 21 Questão 19

Orientação Número

% Número

% Média%

Falta de respeito 16 44 13 36 40 Posição intermediária

7 20 14 39 29.5

Respeito 13 36 9 25 30.5 Total 36 10

0 36 10

0 100

De certa forma, a pretensão de um desrespeito às leis se evidencia, com uma média 40% das respostas, ou mesmo uma possibilidade de fazer justiça por suas próprias mãos. É recorrente no discurso dos proprietários rurais brasileiros, a morosidade do judiciário, que de forma alguma se evidencia na prática, e mesmo uma postura de vítimas, sobretudo no que tange, invasões de propriedades pelos diferentes movimentos de luta pela terra, se evidencia neste momento a preocupação é de propagandear o discurso de vitimização. O discurso de intocabilidade da propriedade é ressaltado, assim como sempre é lembrado o artigo 502 do Código Civil Brasileiro, onde se legitima a reação violenta a toda invasão de uma propriedade. Um outro aspecto importante é visualizarmos o que denominamos: “Índice de aceitação face ao conflito social e político” que tentamos perceber através da apresentação de dois questionamentos. Tableau III – Indice de aceitação do conflito social e político20 Questão 29 Questão 20

Atitude Número

% Número

% Média %

Negativa 20 55 20 55 55 Posição intermediaria

13 36 9 25 30.5

Positiva 3 9 7 20 14,5 Total 36 10

0 36 10

0 100

19 Questão 21: “O respeito aos direitos humanos serve de pretexto para a impunidade?” e a

de n. 19: “A criminalidade chegou a tal ponto, que seria absurdo a polícia cumprir à risca as normais legais”.

20 Questão 29: “O antagonismo entre grupos não é prejudicial ao interesse geral do país” e pela questão 20: “Quando, em uma determinada região rural, uma situação de conflito for constatada e não se verificar a presença da polícia ou da justiça, alguém tem que tomar uma atitude. Quanto a esta idéia, o senhor?”

18

A resposta a estas questões, era previsível, os proprietários rurais, se mostram avessos ao conflito, 55% deles enfatizaram que vêem negativamente todo conflito social e político. Tendo em vista, o fato de que no Brasil, tradicionalmente a ausência de rupturas no processo social, tem levado, em todos os momentos críticos, a negociações ‘por cima’, uma conciliação entre o velho e o novo, isto, poderia explicar a aversão das elites rurais aos conflitos sociais. Uma outra questão importante, foi mesurar o que denominamos “Índice de Elitismo” ou a visão das elites sobre a capacidade de escolha dos eleitores, confrontados à questão “De modo geral, o povo brasileiro não sabe votar?. As respostas podem ser visualizadas na tabela IV: Tabela IV- Índice de Elitismo

Grau Número % Alto 20 55 Médio 13 36 Baixo 3 9 Total 36 100

Esta tabela merece uma explicação, 55% das respostas concordaram com a frase, de que de uma forma geral o brasileiro, não sabe escolher seus representantes, o que demonstra relativamente um alto índice de elitismo. Procuramos também captar, o que denominamos “Índice de pragmatismo político”, ou seja, na busca de caracterizar o perfil deste compromisso de dirigentes sindicais face a conceitos sobre a democracia. Confrontados uma outra questão: “Mais que ser honesto, um bom político deve ser empreendedor”: as respostas foram as seguintes: Tabela V – Índice de Pragmatismo político Questão 23

Grau Número % Alto 23 64 Médio 2 6 Baixo 11 30 Total 36 100

Majoritariamente os dirigentes sindicais, enfatizaram que preferem um político desonesto e empreendedor a um político honesto, esta escolha, nos deixa claro que ainda é presente no imaginário das elites brasileiras, um lema de um antigo governador do estado de SP, nos anos 50, que ficou célebre com o lema : “rouba, mas faz”.21

21 Ademar de Barros, governador do estado de São Paulo, nos anos 50 do século passado.

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Esta resposta demonstra também, o quanto as elites rurais goianas, não tem presente a diferenciação entre público e privado, uma das caracterizações mais marcantes de um regime republicano. É uma antiga tradição brasileira, de tratar os negócios públicos como assuntos privados. No aspecto do que pensavam acerca de políticas de distribuição de renda, apresentamos a seguinte questão: “Políticas de distribuição de rendas prejudicam os mais competentes”, 20 % dos entrevistados concordaram que as políticas de distribuição de renda prejudicam aqueles que são mais competentes, 58% tiveram uma posição intermediária, seja concordando pouco ou discordando pouco e 22% responderam que não concordam em absoluto com a frase. Diante de uma outra questão: “A insistência em distribuir renda é a nova face do populismo”, 47% das lideranças concordaram com essa opinião, outros 47% tiveram uma posição intermediária e somente 6% deles, desaprovaram a opinião. Esta segunda questão, nos deixa claro que é ainda importante no seio dos dirigentes sindicais patronais, a noção de que políticas de inclusão social, são na sua maioria medidas clientelistas. Duas últimas questões foram apresentadas na perspectiva de medir a opinião dos entrevistados acerca de suas preferências ou não por decisões democráticas. Tabela VI- Opiniões sobre a preferência por decisões democráticas22 Questão 25 Questão 24

Grau Número % Número % Alto 7 20 10 28 Baixo

29 80 26 72

Total 36 100 36 100 Uma larga maioria prefere, na elaboração das novas leis, que seja levado em conta a opinião daqueles que entendem do assunto, assim como, quando colocados sobre sua preferência sobre um governo eleito ou outro eficiente, eles se declararam majoritariamente favoráveis a um governo eficiente. A resposta a estas questões nos fornece alguns elementos de análise, o primeiro, e mais importante é que ainda não encontramos consolidada uma cultura democrática23 entre os proprietários rurais de Goiás, por outro lado,

22 “Embora o ideal seja um governo eleito e eficiente, isto nem sempre é possível. Na impossibilidade da obtenção de ambos, o Sr. acha que o mais importante é: a) que o governo seja eleito, b) que o governo seja eficiente”. A outra questão apresentou a seguinte frase: “Do seu ponto de vista, ao fazer as novas leis, o governo deveria levar em conta principalmente: a) a opinião dos que realmente saibam alguma coisa sobre o assunto?, b) a opinião da maioria dos cidadãos?.

23 Entendemos por cultura democrática, todo um processo relativamente consensual mínimo, com relação à chamadas instituições ‘poliárquicas’, ou seja, o voto secreto, sufrágio universal, eleições regulares, competição partidária, acesso e reconhecimentos das associações, em suma, o respeito à regras do jogo.

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eles se apresentam marcadamente ligados à necessidade de hierarquias24 na sociedade. Podemos perceber numa breve análise do conjunto destas respostas, a prevalência de traços da cultura autoritária tradicional, o favorecimento de uma ordem hierárquica e uma clara visão elitista da política. De certa forma, podemos notar, principalmente após uma análise das entrevistas que realizamos e após a tabulação dos questionários apresentados, a existência que um autor25 denominou de “paradoxo brasileiro”, ou seja, a existência de um sentimento geral manifesto nas elites brasileiras, de que o status quo social é injusto, perverso e mesmo intolerável e ao mesmo tempo, um sentimento igualmente generalizado e individual de que não se faz parte do establishment e, portanto, não se é responsável pelo que acontece no Brasil hoje.

24 É célebre no Brasil, a frase “você sabe com quem está falando?”, no sentido de expressar

ao outro sua diferenciação social, uma interessante análise da presença da hierarquia na sociedade brasileira é o livro de DaMatta, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro, RJ, Zahar, 1979.

25 Fonseca. Eduardo Giannetti da. Vícios Privados, Benefícios Públicos?. SP. Companhia das Letras, 1993, p. 11.

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BIBLIOGRAFIA Adorno, T.W, Frenkel-Brunswik, Levinson Daniel J., Nevitt Sanford R. The authoritarian personality. New York, Science Editions, 1964. Aires Filho, Benaias. Um exemple de modernisation conservatrice - l´UDR et les propriétaires ruraux dans l´état de Goiás. Thèse de Doutorado em Sociologia defendida na EHESS-Paris, 2003. Albuquerque, A. A. Guilhon e Moisés, José Álvaro. Dilemas da consolidação da democracia. RJ, Paz e Terra, 1989. Balandier, Georges. Le pouvoir sur scènes. Éditions Balland, Paris, 1980. Bourdieu, Pierre. La société traditionelle. Attitude à l´égard du temps et conduite économique. Revue Sociologie de Travail n. 1, 1963. Bourdieu, Pierre. Les stratégies matrimoniales dans le système des stratégies de reproduction in Le Bal de Célibataires. Paris, Éditions du Seuil, 2002. Bourdieu, Pierre. Sur le pouvoir symbolique. Annales, 32 année, n. 3, 1977, EHESS. Carvalho Franco, Maria Sylvia de. Homens livres na ordem escravocrata. SP, Kairós, 1983. DaMatta, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro, RJ, Zahar, 1979. Dreifuss, René Armand. O jogo da direita na Nova República. Petrópolis, Vozes, 1989. Fernandes, Marcionila. Donos de terra – trajetórias da União Democrática Ruralista, Belém, NAEA/UFPA, 1999. Fonseca. Eduardo Giannetti da. Vícios Privados, Benefícios Públicos?. SP. Companhia das Letras, 1993. Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, 25a ed., RJ, José Olympio, 1993. Lima, Maria Regina Soares de e Cheibub, Zairo Borges. Instituições e Valores – as dimensões da democracia na visão da elite brasileira. Revista Brasileira de Ciência Sociais, Anpocs, n. 31, ano 11, RJ, 1996. Martins, José de Souza. O poder do atraso – ensaios de sociologia da história lenta. SP, Hucitec,1994. Mendonça, Sônia Regina de. O ruralismo brasileiro(1888-1930), Hucitec, SP,1997. Mension-Rigau, Éric. Impressions et reflexions sur une ênquete de terrain dans l’aristocratie et dans la grande bourgeoisie. Jornal des anthropologues, n. 53/54/55, Associação Française des Anthropologues, 1993/94. Moisés, José Álvaro. Os brasileiros e a democracia: bases sócio-políticas da legitimidade democrática. SP, Ática, 1995. O’Donnell Guillermo. Democracia delegativa?. Revista Novos Estudos n. 3, , SP, Cebrap, 1991. Pinçon, Michel et Pinçon-Charlot, Monique. Des difficultes de la recherche dans les classes dominantes: l’objet impossible au sujet manipule, Journal des anthropologues n. 53/54/55, 1993/94. Pinçon, Michel et Pinçon-Charlot, Monique. Pratiques d’enquetê dans l’aristocracie et la grande bourgeoisie: distance sociale et conditions spécifiques de l’entretien semi-directif. Genèses, n, 3, mars 1991.

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