o fenÔmeno do kitsch

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 O FENÔMENO DO  KITSCH “Há algo de Kitsch no fundo de cada um de nós. O Kitsch é permanente como o pecado”. ( MOLES, Abraham. O kitsch. São Paulo, Perspectiva, 1986, p.29) Segundo Abraham Moles: a) Situações kitsch: - arte religiosa - arte de apartamento - decoração - épocas de civilização (barroco, art nouveau...) - lugares  b) Atos kitsch: - atos cr iado res de ob jetos (i nd ustriali za çã o do  souven ir ): artesanato e desenho industrial. c) Objetos kitsch: - obje tos “se dimen tares ”, empi lhando-se atra vés dos tempos (ex: souven irs numa estante) - ob jet os “tr an sit óri os des tin ados à ext inç ão (e x: acessórios da moda) - ob jet os “pe rma nen tes ”, fadados a uma ete rnidade  provisória (ex: um monumento arquitetôn ico). d) Princípios kitsch: - inadequação (desvio em relação à função), como o gi ga nti smo ou min ia tu ri za ção do objeto (ex: cons tr ões co m formas fa nt ásti ca s, bi be s qu e reproduzem uma forma arquitetônica) - acumulação - percepção sinestésica (assalto simultâneo aos canais sensoriais) - meio-termo (meio caminho do novo e oposição à vanguarda) - conforto (exigência média), prazer ao indivíduo. e) Características do universo kitsch: - empilhamento (desrespeito à aura do objeto = ambiente Kitsch ) - heterogeneidade - antifuncionalidade - decoração extremada e excesso de curvas - superfícies repletas de símbolos e adornos - combinação de muitas cores - materiais baratos disfarçados, imitando outros (plástico imitando madeira, gesso pintado de dourado) - surrealismo - extravagância . f) O kitsch pode se manifestar: - em objetos ou mensagens unitários que reúnem características kitsch - em conjuntos de objetos que constituem um sistema kitsch. Histórico: O termo KITSCH – a palavra aparece em Munique, Alemanha, por volta de 1860. Quer dizer atravancar (es tor var , embara çar ), ou fazer móveis no vos com velhos. Também relaciona-se com a expressão popular “vender gato por lebre”. O fenômeno Kitsch é social e permanente. Um tipo de relação que o ser mantém com as coisas (o homem rel aci ona -se com as co isa s que pro duz ). Um estilo ma rc ado pe la au ncia de es til o. Um es ta do de espírito que se cristaliza nos objetos. Os objetos e as coisas produzidos pelo homem refletem a cultura. Transformam-se em signos, assim como as  palavras. Po de-se fo rmul ar dois ti po s de de fin ões pa ra o Kitsch: a) pe la s pr op ri ed ad es fo rmai s dos ob je to s ou elementos do ambiente  b) a partir das relações que o homem mantém com os objetos (criador e consumidor) O Kitsch opõe-se à simplicidade, e tende à inutilidade e ao consumismo. A emergência da classe média e a busca do conforto doméstico estão nas raízes do Kitsch. A alienação constitui um traço essencial do kitsch, uma vez que o ser é muito mais determinado pelas coisas do que elas por ele. OBS: Um objeto pode ser Kitsch para uma pessoa e não para outra, dependendo do ponto de vista social e cultural. Segundo Oscar Contardo, o  Kitsch seria a arte da felicidade própria do homem médio sem grandes metas inte lectuais. Se prol ifera nas socieda des de massa, entre os consumistas e os de f ortuna recente.O conceito de  Kitsch varia entre o sinônimo de mau gosto e um ce rto confo rmis mo art ís ti co. É um fenô me no conotativo, intuitivo e sutil. Ape sar de “ag rad áve l aos senti dos ”, o  Kitsch não apre sent a desafios inte lectua is ou estét icos. É mais indu stri al e mas siv o do que art esa nal e fol cló ric o.  Nada mais que algo chamativo, algo lindo que em qua lqu er mo men to pod e se r substi tuí do por out ro objeto que esteja mais “na moda” e menos gasto. O  Kitsch po de su rgir em qual quer su po rt e: pi nt ur a, escultura, televisão, cinema ou literatura. Jean Baudri llard o kitsch como categoria cultural. A pr ol if er ão do fe meno seria re sult ad o “da multiplicação industrial e da vulgarização ao nível do obje to, dos signos distintiv os ti rados de todo s os registros (o passado, o neo, o exótico, o folclórico e o futurista) e da oferta desordenada de signos ‘já feitos’”.  Não kitsch se m mobilidade social, sem a necessidade de evidenciar a ascensão na escala social através de signos materializados nos objetos. A função social do kitsch é “tra duzir a asp iraçã o, a ante cipaç ão social de classe, a filiação mágica à cultura, às formas, aos costumes e aos sinais da classe superior”.  Neste contexto, o objeto artísti co aparece como signo diferencial, capaz de gerar  status  pela sua unicidad e.

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O FENÔMENO DO  KITSCH 

“Há algo de Kitsch no fundo de cada um de nós.O Kitsch é permanente como o pecado”. (MOLES,Abraham. O kitsch. São Paulo, Perspectiva, 1986, p.29)

Segundo Abraham Moles:

a) Situações kitsch:- arte religiosa- arte de apartamento- decoração- épocas de civilização (barroco, art nouveau...)- lugares

 b) Atos kitsch:- atos criadores de objetos (industrialização do souvenir ): artesanato e desenho industrial.

c) Objetos kitsch:

- objetos “sedimentares”, empilhando-se através dostempos (ex: souvenirs numa estante)- objetos “transitórios” destinados à extinção (ex:acessórios da moda)- objetos “permanentes”, fadados a uma eternidade

 provisória (ex: um monumento arquitetônico).

d) Princípios kitsch:- inadequação (desvio em relação à função), como ogigantismo ou miniaturização do objeto (ex:construções com formas fantásticas, bibelôs quereproduzem uma forma arquitetônica)- acumulação

- percepção sinestésica (assalto simultâneo aos canaissensoriais)- meio-termo (meio caminho do novo e oposição àvanguarda)- conforto (exigência média), prazer ao indivíduo.

e) Características do universo kitsch:- empilhamento (desrespeito à aura do objeto =ambiente Kitsch)- heterogeneidade- antifuncionalidade- decoração extremada e excesso de curvas- superfícies repletas de símbolos e adornos- combinação de muitas cores- materiais baratos disfarçados, imitando outros(plástico imitando madeira, gesso pintado de dourado)- surrealismo- extravagância.

f) O kitsch pode se manifestar:- em objetos ou mensagens unitários que reúnemcaracterísticas kitsch- em conjuntos de objetos que constituem um sistemakitsch.

Histórico:O termo KITSCH – a palavra aparece em Munique,Alemanha, por volta de 1860. Quer dizer atravancar (estorvar, embaraçar), ou fazer móveis novos com

velhos. Também relaciona-se com a expressão popular “vender gato por lebre”.O fenômeno Kitsch é social e permanente. Um tipo derelação que o ser mantém com as coisas (o homemrelaciona-se com as coisas que produz). Um estilo

marcado pela ausência de estilo. Um estado deespírito que se cristaliza nos objetos.Os objetos e as coisas produzidos pelo homem refletema cultura. Transformam-se em signos, assim como as

 palavras.Pode-se formular dois tipos de definições para oKitsch:

a) pelas propriedades formais dos objetos ouelementos do ambiente

 b) a partir das relações que o homem mantémcom os objetos (criador e consumidor)

O Kitsch opõe-se à simplicidade, e tende à inutilidade eao consumismo.

A emergência da classe média e a busca do confortodoméstico estão nas raízes do Kitsch.A alienação constitui um traço essencial do kitsch, umavez que o ser é muito mais determinado pelas coisas doque elas por ele.OBS: Um objeto pode ser Kitsch para uma pessoa enão para outra, dependendo do ponto de vista social ecultural.

Segundo Oscar Contardo, o  Kitsch seria a arte dafelicidade própria do homem médio sem grandes metasintelectuais. Se prolifera nas sociedades de massa,

entre os consumistas e os de fortuna recente.O conceitode  Kitsch varia entre o sinônimo de mau gosto e umcerto conformismo artístico. É um fenômenoconotativo, intuitivo e sutil.Apesar de “agradável aos sentidos”, o  Kitsch nãoapresenta desafios intelectuais ou estéticos. É maisindustrial e massivo do que artesanal e folclórico.

 Nada mais que algo chamativo, algo lindo que emqualquer momento pode ser substituído por outroobjeto que esteja mais “na moda” e menos gasto. O Kitsch pode surgir em qualquer suporte: pintura,escultura, televisão, cinema ou literatura.

Jean Baudrillard vê o kitsch como categoria cultural.A proliferação do fenômeno seria resultado “damultiplicação industrial e da vulgarização ao nível doobjeto, dos signos distintivos tirados de todos osregistros (o passado, o neo, o exótico, o folclórico e ofuturista) e da oferta desordenada de signos ‘já feitos’”.

 Não há kitsch sem mobilidade social, sem anecessidade de evidenciar a ascensão na escala socialatravés de signos materializados nos objetos. A funçãosocial do kitsch é “traduzir a aspiração, a antecipaçãosocial de classe, a filiação mágica à cultura, às formas,

aos costumes e aos sinais da classe superior”. Neste contexto, o objeto artístico aparece como signodiferencial, capaz de gerar  status pela sua unicidade.

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