o fenômeno dos "ships"

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A febre dos “ships” Ship é um assunto que vem chamando atenção na divulgação da programação do principal veículo de comunicação do país, a Rede Globo de televisão. A partir do momento que percebeuse a popularização desse tópico, que de início parecia apenas brincadeira de adolescente, mas que começou a movimentar grandes massas na internet, surgiu o próprio incentivo da Globo de promover essa moda. Esse tema é um exemplo comportamental, que faz parte da cultura da internet, que ajuda a entender como funciona o pensamento dos jovens, que hoje somam 30% da parcela de maiores frequentadores de shoppings, e por isso deve ser pesquisado (IBOPE in: ECONOMIA.IG.COM.BR). Definição Ship é uma palavra derivada do termo em inglês relationship, que significa ‘relacionamento’. O termo foi criado nos fóruns e redes sociais da internet por leitores de fanfictions ou fanfics, histórias escritas por fãs, para designar um casal de personagens pelo qual eles torcem (CORDEIRO in: CONVERSACULT.COM.BR). Existem vários termos derivados da palavra ship, como shipper, a denominação da pessoa que gosta do casal e shippar, o verbo. Se você torce por um casal você o shippa. Ser shipper é admirar relacionamentos entre personagens fictícios, seja um relacionamento romântico ou não, seja um casal de personagens ou não (Ibid.:). Shippar é quase uma filosofia e quando você o faz por um casal, heterossexual ou não, tem que estar com o coração preparado para grandes emoções. Significa falar com a televisão enquanto vê os filmes, torcer pelo casal, surtar pelo casal, dormir e respirar aquele casal. (CINEESPRESSO.BLOGSPOT.COM.BR). Os nomes dos ships são um show de criatividade, eles são formados pela junção de sílabas e/ou partes dos nomes dos casais, como Benita ‘Ben + Anita’, CaptainSwan ‘Captain Hook + Emma Swan’. Mas quando há um triangulo amoroso eminente surgem as guerras de ships. Nessas ocasiões os shippers se dividem em teams, como team

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Uma pesquisa documental do fenômeno dos ships sob o olhar de uma estudante de publicidade.

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Page 1: O fenômeno dos "ships"

A febre dos “ships” 

 

Ship é um assunto que vem chamando atenção na divulgação da programação do                         

principal veículo de comunicação do país, a Rede Globo de televisão. A partir do                           

momento que percebeu­se a popularização desse tópico, que de início parecia apenas                       

brincadeira de adolescente, mas que começou a movimentar grandes massas na internet,                       

surgiu o próprio incentivo da Globo de promover essa moda. Esse tema é um exemplo                             

comportamental, que faz parte da cultura da internet, que ajuda a entender como funciona                           

o pensamento dos jovens, que hoje somam 30% da parcela de maiores frequentadores                         

de shoppings, e por isso deve ser pesquisado (IBOPE in: ECONOMIA.IG.COM.BR). 

 

Definição 

 

Ship é uma palavra derivada do termo em inglês relationship, que significa                       

‘relacionamento’. O termo foi criado nos fóruns e redes sociais da internet por leitores de                             

fanfictions ou fanfics, histórias escritas por fãs, para designar um casal de personagens                         

pelo qual eles torcem (CORDEIRO in: CONVERSACULT.COM.BR).  

Existem vários termos derivados da palavra ship, como shipper, a denominação                     

da pessoa que gosta do casal e shippar, o verbo. Se você torce por um casal você o                                   

shippa. Ser shipper é admirar relacionamentos entre personagens fictícios, seja um                     

relacionamento romântico ou não, seja um casal de personagens ou não (Ibid.:). 

Shippar é quase uma filosofia e quando você o faz por um casal, heterossexual ou                             

não, tem que estar com o coração preparado para grandes emoções. Significa falar com                           

a televisão enquanto vê os filmes, torcer pelo casal, surtar pelo casal, dormir e respirar                             

aquele casal. (CINE­ESPRESSO.BLOGSPOT.COM.BR).  

Os nomes dos ships são um show de criatividade, eles são formados pela junção                           

de sílabas e/ou partes dos nomes dos casais, como Benita ‘Ben + Anita’, CaptainSwan                           

‘Captain Hook + Emma Swan’. Mas quando há um triangulo amoroso eminente surgem as                           

guerras de ships. Nessas ocasiões os shippers se dividem em teams, como team                         

Page 2: O fenômeno dos "ships"

Delena ‘Daemon + Helena’ e team Stelena ‘Stephen + Helena’, um tentando convercer o                           

outro porque o seu é melhor e porque é certo que serão o casal que ficará junto no final. 

Existem três as classificações de ships, que se dividem em: 

 Canon Ship ou Conventional Couple: é um casal que de alguma forma foi                         

pré­estabelecido na história original. Se o autor deixou claro que esses dois                       

personagens estão, irão ou poderão ficar juntos, eles são Canon. 

Cult Ship ou Unconventional Couple: é um casal que não foi estabelecido no seriado.                           

É o oposto de Canon Ship pois não existem evidencias românticas entre eles.                         

Também são mais chamados de Fanon Ship 

Slash: são os casais homossexuais, sendo slash a versão masculina e femslash a                         

versão feminina. O termo surgiu nos anos 70 com fanfics sobre Spock e Capitão Kirk                             

de Jornada nas Estrelas, pois os autores das fanfics utilizavam uma barra (/) que em                             

inglês chama­se "slash" para escrever os nomes dos personagens na descrição das                       

histórias (WIKIPEDIA.ORG).  

 

Histórias e influências 

 

Suspeita­se que a onda dos ships começou em 1996 com a série Arquivo X, e                             

logo depois se expandiu com o adjunto da internet e suas possibilidades para debates                           

em fóruns que reuniam centenas de pessoas dividindo e debatendo seus gostos em                         

comum e suas histórias favoritas. Os ships mais famosos dos anos 2000 foram os                           

provenientes dos livros que deram origem a saga de Harry Potter, eles moviam                         

movimentavam milhares de fãs, tanto crianças e adolescente como adultos, que                     

disputavam com quem Hermione ficaria no final, Harry ou Rony? (Ibid.:) 

O amor e torcida pelos ships era e ainda é tão grande que vários fãs após                               

escreverem fanfics sobre seus casais favoritos se tornam escritores, como foi o caso da                           

autora de 50 Tons de Cinza. A americana E. L. James era shipper do casal Bella e                                 

Edward da saga Crepúsculo quando escreveu uma fanfic beaseada na história de                       

ambos. Após fazer sucesso na internet, sua história foi comprada por uma editora,                         

publicada e se tornou um fenômeno mundial de vendas (FOLHA.UOL.COM.BR). 

Page 3: O fenômeno dos "ships"

Há exemplos brasileiros também, como a escritora Carolina Munhoz, que                   

descobriu sua vocação escrevendo fanfics da saga de Harry Potter. Em uma entrevista                         

para a revista Galileu, ela revelou: 

 Gostava de criar situações que a J. K. Rowling nunca teria coragem. Adorava ler                           fanfics de casais absurdos ou acontecimentos fora do cenário dos livros. Quando tive                         minha oportunidade de escrever aproveitei todos os casais que gostava, como Harry                       Potter e Luna Lovegood, mas não existiam (MUNHOZ in:                 REVISTAGALILEU.GLOBO.COM). 

 

Em 2011, com a penas 23 anos, Carolina já possuía 2 livros publicados, A Fada e                               

O Inverno das Fadas, e foi considerada uma das grandes promessas da literatura juvenil                           

brasileira, trazendo na bagagem o Prêmio Jovem Brasileiro de 2011 (Ibid.:). 

 

O uso dos ships como ferramenta de promoção 

 

Atenta as tendências do público alvo de sua programação, a Rede Globo adotou                         

os ships e passou a incentivá­los em seus próprios sites e redes sociais, usado­os como                             

clara ferramenta para resgatar e expandir a divulgação de seus programas com puro                         

engajamento orgânico. Antes mesmo de algumas atrações serem lançadas, eles criam e                       

alimentam esses ships, principalmente com fotos, vídeos exclusivos e hashtags, as vezes                       

até já criam o nome. Dois exemplos atuais são suas novelas direcionadas para público                           

teen, Malhação e Geração Brasil.  

Na 22º temporada de Malhação, denominada ‘Sonhos’, o principal exemplo é o                       

ship Perina, ‘Pedro + Karina’. Antes de cada capítulo que tenha uma cena com o casal, o                                 

social media da fanpage oficial começa com antecedência a provocar os fãs, postando                         

teasers, criando memes e etc. No próprio site da atração é possível encontrar vídeos no                             

formato fanvid, vídeos feitos por fãs que geralmente são uma compilação de cenas do                           

casal, feitos pelos próprios criadores de conteúdo do site, mostrando que a brincadeira                         

virou coisa séria e profissional (FACEBOOK.COM/MALHACAO). 

Page 4: O fenômeno dos "ships"

Em comparação com as demais postagens, todas que tratam desse determinado                     

tema apresentam maiores indicides de engajamentos orgânico e receptividade, conforme                   

mostra as (Figura 1) e (Figura 2).  

 

 Figura 1 ­ Postagem da fanpage oficial de Malhação Fonte: https://www.facebook.com/malhacao?fref=ts  

 

Page 5: O fenômeno dos "ships"

 Figura 2 ­ Postagem da fanpage oficial de Malhação Fonte: https://www.facebook.com/malhacao?fref=ts  

  

Ao comparar ambas as postagens, observando o número de curtidas e                     

compartilhamentos e, levando em conta o tempo de postagem, fica clara a superioridade                         

de engajamento das que apelam para esse crescente vício dos jovens consumidores de                         

cultura pop, filmes, livros, séries, tv e usuários das redes sociais. 

Muitas vezes os próprios atores dessas atrações aderem a onda dos ships e                         

provocam os fãs. Isso acontece com frequência na rede social Intagram, onde eles                         

postam fotos com o parceiro de cena, usam hashtags e interagem com os fãs (figura 3).  

Page 6: O fenômeno dos "ships"

 

 Figura 3 ­ Postagem do Instagram 

Fonte: http://instagram.com/p/sn_a1AtX8B/?modal=true O mesmo fenômeno de alto engajamento também é percebido nesse tipo  

de postagem nos perfils dos atores.  

Em suma, a tendência é que essa moda se espalhe por outros meios e veículos no                               

Brasil, bem como outras atrações da programação da Rede Globo, já sendo amplamente                         

expressiva nos EUA, contando com várias publicações e artigos científicos sobre o                       

assunto. 

        Referências bibliográficasBIBLIOGRAFIA  

Page 7: O fenômeno dos "ships"

LIVRARIA DA FOLHA. Folha UOL. Livro erótico para mulheres reacende debate sobre sexualidade. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/1129011­livro­erotico­para­mulheres­reacende­debate­sobre­sexualidade­leia­trecho.shtml>. Acesso em: 25 set. 2014.  SHIPPER. Wikipédia, a enciclopédia livre. Diponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Shipper>. Acesso em: 25 de set. 2014.  CORDEIRO, Brenda. Conversa Cult. Um guia sobre a arte de 'shippar'. Disponível em: <http://www.conversacult.com.br/2013/10/um­guia­sobre­arte­de­shippar.html>. Acesso em: 25 set. 2014.  CAROLINE, Roberta. Kono ai Setsu. Shippers e a incrível arte de incomodar os outros. Disponível em: <http://konoaisetsu.blogspot.com.br/2011/08/shippers­e­incrivel­arte­de­incomodar.html>. Acesso em: 25 set. 2014.  BANDEIRA, Jessica. Cine espresso. Chamas que não se apagam (1956). Disponível em: <http://cine­espresso.blogspot.com.br/2014/08/chamas­que­nao­se­apagam­1956.html>. Acesso em: 25 set. 2014.  REVISTA GALILEU. Portal Globo.com. De fã à autora. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI324968­17770,00­DE+FA+A+AUTORA.html>. Acesso em: 25 set. 2014.  AGÊNCIA ESTADO. Economia IG. Pesquisa Ibope mostra perfil de consumidor de shoppings. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/2012­06­11/ibopeshoppomnh.html>. Acesso em: 25 set. 2014.  SANTONI, Isabella. Intagram. Postagem de foto. Disponível em: <http://instagram.com/p/sn_a1AtX8B/?modal=true> . Acesso em: 25 set. 2014.  MALHAÇÃO. Facebook. Postagem de fanpage. Disponível em: <https://www.facebook.com/malhacao?fref=ts>. Acesso em: 25 set. 2014.