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O Estado nos textos de Marx de 1844: Glosas Críticas e A questão judaica Alessandro de Melo DEPED/G PPGE/UNICENTRO

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O Estado nos textos de Marx de 1844: Glosas Críticas e A questão

judaicaAlessandro de Melo

DEPED/GPPGE/UNICENTRO

GLOSAS CRÍTICAS

“O Estado jamais encontrará no "Estado e na organização da sociedade" o fundamento dos males sociais, como o "prussiano" exige do seu rei. Onde há partidos políticos, cada um encontra o fundamento de qualquer mal no fato de que não ele, mas o seu partido adversário, acha-se ao leme do Estado. Até os políticos radicais e revolucionários já não procuram o fundamento do mal na essência do Estado, mas numa determinada forma de Estado, no lugar da qual eles querem colocar uma outra forma de Estado.” (p.58-59)

GLOSAS CRÍTICAS

“O Estado e a organização da sociedade não são, do ponto de vista político, duas coisas diferentes. O Estado é o ordenamento da sociedade. Quando o Estado admite a existência de problemas sociais, procura-os ou em leis da natureza, que nenhuma força humana pode comandar, ou na vida privada, que é independente dele, ou na ineficiência da administração, que depende dele.” (p.59)

GLOSAS CRÍTICAS

“O intelecto político é político exatamente na medida em que pensa dentro dos limites da política. Quanto mais agudo ele é, quanto mais vivo, tanto menos é capaz de compreender os males sociais. O período clássico do intelecto político é a Revolução Francesa. Bem longe de descobrir no princípio do Estado a fonte dos males sociais, os heróis da Revolução Francesa descobriram antes nos males sociais a fonte das más condições políticas.” (p.62)

GLOSAS CRÍTICAS

“Já demonstramos que a revolta silesiana de modo nenhum se realizou num estado de separação entre as ideias e os princípios sociais. Temos agora que nos haver com o "desesperado isolamento dos homens da comunidade". Por comunidade se deve entender aqui a comunidade política, o Estado. É sempre a velha cantilena da não-politicidade da Alemanha[...] Mas a comunidade da qual o trabalhador está isolado é uma comunidade inteiramente diferente e de uma outra extensão que a comunidade política. Essa comunidade, da qual é separado pelo seu trabalho, é a própria vida, a vida física e espiritual, a moralidade humana. A essência humana é a verdadeira comunidade humana.” (p.75)

4 TESES DE MARX SOBRE O ESTADO, SEGUNDO IVO TONET

1ª Tese – dependência ontológica do Estado para com a sociedade civil. O Estado resulta dos antagonismos das classes da sociedade civil. O Estado repousa sobre a organização social mas não se distinguem. Repousa sobre a contradição entre interesses gerais e particulares, entre vida pública e privada. O particular e o privado são do âmbito da sociedade civil, e a característica contraditória desta sociedade civil dá origem ao Estado Moderno, que, portanto, é sua razão de ser.

- A sociedade, de forma alguma, é expressão do Estado, como queria Hegel.

4 TESES DE MARX SOBRE O ESTADO, SEGUNDO IVO TONET

- 2ª Tese – O Estado é expressão e instrumento dos interesses das classes dominantes.

- Uma tese deriva da outra, segundo Tonet: “Se a sociedade civil é atravessada por contradições de classe, a reprodução dessa situação exige a existência de um poder voltado, essencialmente, para a defesa dos interesses das classes dominantes.”(p.22)

4 TESES DE MARX SOBRE O ESTADO, SEGUNDO IVO TONET

- 3ª Tese – O Estado é impotente para alterar a sociedade civil. “[...] para ele, nesse momento, uma coisa está clara: a degradação da vida dos trabalhadores não é um simples defeito de percurso, é o resultado ineliminável da forma das relações sociais de trabalho.” (TONET, 2010, p.22-23)

- Como é impotente para superar os males sociais, e cego para enxergar e/ou admitir seus fundamentos, o Estado passa a tomar medidas paliativas.

4 TESES DE MARX SOBRE O ESTADO, SEGUNDO IVO TONET

4ª Tese – Necessidade da extinção do Estado em uma sociedade socialista. Vincula-se, portanto, ao processo de emancipação humana.

Emancipação política e emancipação humana

- A revolução política é essencialmente limitada, pois não mexe nos fundamentos da desigualdade social, ao contrário, a mantém sob novas formas.

- “A inclusão dos trabalhadores na comunidade política não ataca os problemas fundamentais deles, pois eles podem ser cidadãos sem deixarem de ser trabalhadores (assalariados), mas não podem ser plenamente livres sem deixarem de ser trabalhadores (assalariados).” (TONET, 2010, p.27)

REVOLUÇÃO

- Para Marx, é essencial fazer-se uma revolução política com alma social, e não o inverso. Portanto, não se trata de defender um Estado Proletário, mas sim a sua destruição. Esta é uma destruição de cunho ontológico, não ético/político. Ou seja, é condição do ser social se fazer plenamente.

- “Se pensarmos que toda a reflexão política ocidental, desde os gregos até os nossos dias, toma o Estado como um dado natural, como um componente ineliminável do ser social e que toda a sua preocupação gira ao redor de como eliminar os defeitos desta dimensão, teremos a medida da ruptura que Marx estabelece com essa tradição, aí incluída a chamada “esquerda democrática”.” (p.31)

A QUESTÃO JUDAICA

Qual emancipação para os judeus?

- Marx inicia com uma questão: “Os judeus alemães aspiram emancipar-se. A que emancipação aspiram? A emancipação civil, à emancipação política.”

- No entanto, afirma Marx: “Bruno Bauer os contesta: Na Alemanha, ninguém está politicamente emancipado.”

“Ou, o que exigem os judeus é, por acaso, que se lhes equipare aos súditos cristãos? Se assim é, reconhecem a legitimidade do Estado cristão, reconhecem o regime de sujeição geral. Por que, então, lhes desagrada o jugo especial, se lhes agrada o jugo geral? Por que se há de interessar o alemão pela emancipação do judeu, se este não se interessa pela emancipação daquele?”

O Estado pode emancipar?

- Afirma Bauer que o: “Estado cristão não pode, sem abrir mão de sua essência, emancipar os judeus, assim como - acrescenta Bauer – o judeu não pode, sem abrir mão de sua essência, ser emancipado. Enquanto o Estado permanecer cristão e o judeu, judeu, ambos serão igualmente incapazes: um de outorgar a emancipação, o outro de recebê-la.”

Estado e religião se opõem?

“Só nos Estados livres da América do Norte - ou, pelo menos, em parte deles - perde a questão judaica seu sentido teológico para converter-se em verdadeira questão secular. Somente ali, onde existe o Estado político plenamente desenvolvido pode manifestar-se em sua peculiaridade, em sua pureza, o problema da atitude do judeu e, em geral, do homem religioso, diante do Estado político [...] Se até num país de emancipação política acabada nos deparamos não só com a existência da religião mas, também, com a sua existência exuberante e vital, temos nisto a prova de que a existência da religião não se opõe à perfeição do Estado.”

Limites da emancipação política

“O limite da emancipação política manifesta-se imediatamente no fato de que o Estado pode livrar-se de um limite sem que o homem dele se liberte realmente, no fato de que o Estado pode ser um Estado livre sem que o homem seja um homem livre [...] Portanto, o Estado pode ter-se emancipado da religião, ainda que e inclusive, a grande maioria continue religiosa. E a grande maioria não deixará de ser religiosa pelo fato da sua religiosidade ser algo puramente privado. ”

Estado político e humanização

“Onde o Estado político já atingiu seu verdadeiro desenvolvimento, o homem leva, não só no plano do pensamento, da consciência, mas também no plano da realidade, da vida, uma dupla vida: uma celestial e outra terrena, a vida na comunidade política, na qual ele se considera um ser coletivo, e a vida na sociedade civil, em que atua como particular; considera outros homens como meios, degrada-se a si próprio como meio e converte-se em joguete de poderes estranhos.”

A questão dos Direitos Humanos em Bauer

“Os direitos humanos não são, por conseguinte, uma dádiva da natureza, um presente da história, mas fruto da luta contra o acaso do nascimento, contra os privilégios que a história, até então, vinha transmitindo hereditariamente de geração em geração. São o resultado da cultura; só pode possuí-los aquele que os soube adquirir e merecê-los".

"Sendo assim, pode realmente o judeu chegar a possuir estes direitos? Enquanto permanecer judeu, a essência limitada que faz dele um judeu tem que triunfar necessariamente sobre a essência humana que, enquanto homem, o une aos demais homens e o dissocia dos que não são judeus.”

Marx critica a posição de Bauer a partir dos Direitos Humanos

“A religião, longe de se constituir incompatível com o conceito dos direitos humanos, inclui-se expressamente entre eles. Os direitos humanos proclamam o direito de ser religioso, sê-lo como achar melhor e de praticar o culto que julgar conveniente. O privilégio da fé é um direito humano geral [...] Registremos, antes de mais nada, o fato de que os chamados direitos humanos, os droits de l'homme, ao contrário dos droits du citoyen, nada mais são do que direitos do membro da sociedade burguesa, isto é, do homem egoísta, do homem separado do homem e da comunidade.”

Direito à segurança

“A segurança é o conceito social supremo da sociedade burguesa, o conceito de polícia, segundo o qual toda a sociedade somente existe para garantir a cada um de seus membros a conservação de sua pessoa, de seus direitos e de sua propriedade.

O conceito de segurança não faz com que a sociedade burguesa se sobreponha a seu egoísmo. A segurança, pelo contrário, é a preservação deste. ”

Constituição do Estado político e dissolução da sociedade burguesa

“A constituição do Estado político e a dissolução da sociedade burguesa nos indivíduos independentes - cuja relação se baseia no direito, ao passo que a relação entre os homens dos estamentos e dos grêmios se fundava no privilégio - se processa num só e mesmo ato [...] Os droits de l'homme aparecem como droits naturels, pois a atividade consciente de si mesma se concentra no ato político. O homem egoísta é o resultado passivo, simplesmente encontrado da sociedade dissolvida, objeto de certeza imediata e, portanto, objeto natural.”

Emancipação Humana

“A emancipação política é a redução do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente e, de outro, a cidadão do Estado, a pessoa moral.

Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas próprias forças como forças sociais e quando, portanto, já não separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana.”

Referências

MARX, K. Glosas críticas marginais ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social” de um prussiano. São Paulo: Expressão Popular, 2010.FREDERICO, C. O jovem Marx: 1843-1844: as origens da ontologia do ser social. São Paulo: Cortez, 1995.MARX, K. A questão judaica. In: MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2004.______. ______. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1843/questaojudaica.htm. Vários acessos.TONET, I. Apresentação. In : MARX, K. Glosas críticas marginais ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social” de um prussiano. São Paulo: Expressão Popular, 2010.