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 O Deus de Lacan

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Ensaio

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É aquele ao que se chama geralmenteDeus, mas cuja análise revela que ésimplesmente "A mulher” 

 

Conteúdo DEUS PARA FREUD…………………………………………………………………... 2 

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DEUS EX-SISTE………………………………………………………………………. 4 

DEUS E REAL………………………………………………………………………… 5 

EMPUXO-À-MULHER; DEUS É A MULHER TORNADA TODA……………………………... 6 

O DEUS DE SCHEREBER .......................................................................................................7 

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DEUS PARA FREUD

A religião como neurose obsessiva

A primeira contribuição de Freud à compreensão da religião foi no ensaio  Atos obsessivos e práticas religiosas (1907), que trata das similaridades entre a obsessão e a religião.

Neste artigo, Freud conclui: " Poderíamos nos arriscar a considerar a neurose como umacontrapartida patológica da formação de uma religião, e a descrever a neurose como uma religiosidade individual e a religião como uma neurose obsessiva universal ”.

Para o obsessivo, "qualquer desvio das ações rituais é acompanhado por uma ansiedadeintolerável". Para a pessoa religiosa, os atos sagrados do ritual precisam ser satisfeitos. Tais atos

são realizados separadamente de outras ações e devem ser levados até o fim.Embora o ritual religioso seja público e comum, sua significação também está baseada numsignificado simbólico. A maioria dos crentes executa o ritual sem preocupação com seusignificado e, além disso, são guiados por motivos inconscientes...

Deus como substituto do pai

No ensaio Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância (1910), Freud sugere a conexão

entre o complexo paternal e a crença em Deus. Em termos biológicos, a religiosidade estárelacionada com a prolongada impotência e necessidade de amparo da criança pequena ao seconfrontar com as grandes forças da vida. O indivíduo se sente como se sentia na infância etenta negar seu próprio desalento por meio das forças que protegiam sua infância.

A proteção contra a neurose que a religião concede é explicada: ela liberta os indivíduos docomplexo paternal - do qual depende o sentimento de culpa, e o subjuga.

Não há nenhum Deus, nenhuma natureza bondosa. Há, porém, a dor dos desprotegidos e aneurose religiosa dos que acreditam estar protegidos por Deus.

Os seres humanos moldam Deus à imagem do "pai". Deus é "um pai enaltecido”; "umatransfiguração do pai”; "um retrato do pai; "uma sublimação do pai”; "um suplente do pai"; "umsubstituto do pai"; "uma cópia do pai"; ou Deus "é realmente o pai”.

Totem e Tabu

Em Totem e Tabu (1913), Freud apresentou uma reconstrução histórica da forma como a religiãocomeçou, partindo de Darwin. Afirmava que "os homens viviam originalmente em hordas, todos

sob o domínio de um único homem poderoso, violento e ciumento" que tinha direitos exclusivos

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sobre as mulheres do grupo. Nas mentes de seus filhos, o pai assassinado foi transformado noDeus individual de cada crente.

Imediatamente após o assassinato, a imagem do pai foi reprimida. Ela retornou em umatransferência simbólica, como o animal totêmico e por fim, na criação de uma imagem paterna

de Deus.

Futuro de uma ilusão

No ensaio O Futuro de uma Ilusão (1927), Freud começa por localizar a religião no contexto dacivilização na medida em que esta ajuda os seres humanos a refrear suas ânsias.

A religião fez grandes contribuições à coerção dos instintos e à civilização. A civilização éabsolutamente necessária para regular o poder da natureza. A natureza parece tolerante e "nosdeixaria fazer o que quiséssemos".

Porém, "ela tem seu próprio método particularmente eficaz de nos coibir. Ela nos destrói - demodo frio, cruel, implacável, conforme nos parece, e provavelmente por meio das mesmascoisas que nos dão satisfação. Foi precisamente por causa desses perigos com os quais anatureza nos ameaça que nos unimos e criamos a civilização [...] para nos defender da natureza".

Os deuses são encarregados de uma tarefa tripla: exorcizar os terrores da natureza, reconciliar osseres humanos com a crueldade do destino e compensá-los por seus sofrimentos. A últimatarefa não é fácil de cumprir e leva ao desenvolvimento de sistemas morais para controlar os

males da civilização. Freud afirmava que os preceitos morais eram de origem "divina". Dessemodo, no decurso do tempo, a ilusão religiosa promete propósitos superiores e um bomdesfecho.

Quando o monoteísmo se realizou na história, veio com ele uma renovação do relacionamentocom o pai. "Agora que Deus é uma única pessoa, as relações humanas com ele podiam recobrara intimidade e a intensidade da relação da criança com seu pai”.

Na opinião de Freud, a realidade e a religião têm pouca proximidade no que se refere aosesforços humanos para desvendar os segredos do universo; "o trabalho científico é o único que

pode nos levar ao conhecimento da realidade exterior a nós”.

DEUS PARA LACAN

O Deus dos filósofos: Deus como Outro

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No Seminário  As Psicoses, Lacan fala de um Deus que engana e outro que não engana. Naneurose, Deus garante que o significante funciona; na psicose, o Deus suprido pelo delírio ésem lei.

Lacan assimila Deus ao Outro, lugar da verdade. No Outro a lei dos significantes funciona - Deus

é vivenciado como confiável e como insensato, se não funciona.

Deus está morto

No Seminário  A Ética da Psicanálise, Lacan afirma que por Deus estar morto, existe lei. Elereconhece no Deus morto o jogo significante. Em seu Seminário A Transferência, Lacan diz queas religiões tentariam domesticar os deuses que por sua vez pertencem ao real, do qual são ummodo de revelação.

Deus é inconsciente

No Seminário Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise, Lacan propõem que averdadeira fórmula do ateísmo não seria que Deus está morto, mas, contestando a fórmula deDostoievsky - " se Deus está morto tudo está permitido" – para Lacan a fórmula seria: " se Deusestá morto nada está permitido".

Deus e o gozo da mulher

No Seminário Mais, ainda, Lacan diz: "E por que não interpretar uma face do Outro, a face Deus,como sustentada pelo gozo feminino”.

Para ele, Deus não seria nem uma sublimação nem uma idealização do pai.

Deuses: revelação do real

As religiões seriam tentativas de domesticar Deus, de modelar o real com o simbólico daspalavras e o imaginário dos corpos. Em lugar de ser uma sublimação ou uma idealização do pai,como supunha Freud, para Lacan as religiões seriam rebaixamentos dos deuses à indignidadedo pai.

DEUS EX-SISTE

F. Regnauld (in Deus é inconsciente ) aponta que Lacan delimita um ponto que falta na reflexãofilosófica moderna: Deus é existir e não ser. Os filósofos árabes concebem o ser criado como

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uma essência que não contém em si a razão de sua própria existência. A existência se distingueda essência. Para Deus, existência e essência fazem sempre um.

Na leitura de Lacan, a existência reduz a importância da essência: "Sou o que sou". O ser é umaessência a qual só sua causa confere a existência. "O tetragrámaton impronunciável Yahve"

significa a existência necessária. O nome de Deus é mais um eu sou, que um ser ou umaessência.

A existência é dissociada da essência, nem a veicula nem a causa: "Para que algo exista, énecessário que haja um buraco" (Ornicar? Nº 2). Pelo o qual se disse depois que é "suporte doreal" ou "o que responde no real” ou "da ordem do real”.

A ex-sistência, é introduzida pela matemática moderna: "É o emprego do escrito µ x. † x)"(Ornicar? Nº 4).

Deus é o não-todo que o cristianismo tem o mérito de distinguir, recusando-se a confundi- locom a idéia do universo.

Ainda segundo F. Regnauld, a religião teria ensinado Lacan a invocar o Nome-do-pai,representando a Lei, como significante originário. O Deus que interessa à psicanálise é aqueleque se revela como Pai, ou como Nome, na tradição judaica-cristã.

Deus é o inominável. Não existe. É "aquilo no qual nenhuma existência lhe está permitida"." (OsJudeus) têm explicado bem o que eles chamam o Pai. O metem num ponto do buraco que nãopodemos sequer imaginar. “Sou o que sou, isso é um furo, não? Um furo (...), isso engole elogo tem ratos em que isso volta a esculpir. Cuspe que? O nome, o Pai como nome”. ( Ornicar?N° 2)

Deus é a mulher tornada toda "enquanto que a mulher já é não-toda, é porque ela seria o Deusda castração".

“Ela (a barra de negação) diz que não tem Outro que responderia como  partenaire - sendo anecessidade toda da espécie humana que haja um Outro do Outro. É aquele ao que se chamageralmente Deus, mas cuja análise revela que é simplesmente  A mulher ”.

DEUS E REAL

S. Zizek (O real da ilusão cristã: notas sobre Lacan e a religião) aponta dois aspectos do Reallacaniano: a Coisa primordial e a letra/fórmula sem sentido, como no Real da ciência moderna.A esses dois Zizek acrescenta um terceiro Real, o "Real da ilusão", o real de um puro semblante.

Para Zizek, há três modalidades do Real, pois a tríade IRS reflete-se no interior da ordem do Realde tal modo que se tem o "Real real" (a Coisa aterradora, o objeto primordial), o "Real simbólico"

(o significante reduzido a uma fórmula insensata, como as fórmulas da física quântica), e o "Realimaginário" (o "insondável que introduz uma divisão em um objeto ordinário").

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Como Lacan diz que os Deuses são da ordem do Real, a Trindade Cristã poderia ser lida comoTrindade do Real: Deus, o Pai, é o "Real real" da violenta Coisa primordial; Deus, o Filho, é o"Real imaginário"; o Espírito Santo é o "Real simbólico" da comunidade dos crentes.

EMPUXO-À-MULHER; DEUS É A MULHER TORNADA TODA

Em De uma questão preliminar... encontra-se esta frase: "Como podemos perceber, ao observarque não é por estar foracluído do pênis, mas por ter que ser o falo, que o paciente estará fadadoa se tornar urna mulher”.

Schreber, fadado a se tornar mulher, indica a impossibilidade de uma escolha do sexo pelo

psicótico. Para Lacan, há escolha do sujeito em colocar-se do lado homem ou do lado mulher,independentemente do seu sexo anatômico.

A inclinação para a feminização, o empuxo-à-Mulher, marca uma obrigação quanto à sexuaçãodo sujeito.

Para G. Morel ( Ambigüedades sexuales) Lacan indica que não há escolha da sexuação napsicose. Por não conseguir ascender ao significante que lhe permitiria colocar-se como homemna repartição dos sexos e por dever ser o falo, o psicótico é levado a situar-se do lado mulher.

Há um empuxo-à-Mulher, independentemente da posição subjetiva do psicótico. O empuxoà-Mulher é um efeito da foraclusão do Nome-do-Pai.

A homossexualidade masculina (não psicótica) se inscreve nas fórmulas de sexuação do ladohomem, enquanto que o empuxo-à-Mulher se inscreve do lado mulher.

Schreber o exemplifica com sua transformação em mulher e sua posição diante de Deus: “comoseria bom ser uma mulher copulando e ser a mulher de Deus”.

A identificação ao desejo da mãe está no fundamento da psicose: por não poder ser o falo quefalta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher que falta aos homens.

A transformação do sujeito em mulher implica que, para poder ser o falo, é preciso renunciar atê-lo: o que Schreber traduz no imaginário por "não poder mais possuir pênis". Isto é o que estána origem de sua emasculação.

Freud e Lacan mostram a satisfação que leva Schreber a contemplar, vestido de mulher, suaimagem no espelho. É a dimensão do gozo ligado à cópula divina que o conduz a tornar-sedigno da fecundação divina.

Nesta figura de Deus que goza dele, evoca-se o gozo do Outro, um gozo não fálico ligado a uma

falta da castração.

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É este efeito diante do chamado do gozo sem limite, que Lacan chamou de empuxo-à- Mulher,gozo ligado à falta da função fálica.

Escreve Lacan: "Sem dúvida a adivinhação do inconsciente adverte o sujeito, desde muito cedo,de que, na impossibilidade de ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher que

falta aos homens" ou, ser a Mulher de Deus”.

A foraclusão do Nome-do-Pai tem como efeito fazer existir A Mulher , a encarnação de um gozoinfinito, uma Mulher completa, não marcada pela castração.

O DEUS DE SCHEREBER

Entre as expressões construídas por Lacan se destaca “ mulher não existe” que nãosignifica que o lugar da mulher não exista, senão que dentro da lógica da sexuação, a classe dasmulheres é um lugar que permanece vazio.

Disso decorre a formalização lógica da sexuação da mulher como “não toda” que quer dizer quenão existe o Universal da mulher. Outra construção emblemática de Lacan diz que “não existerelação sexual”, e se sustenta pela mesma lógica.

Essas figuras reafirmam o divórcio da sexualidade com a noção de sexuação. Este divórcioculmina na pergunta que se encontra no Seminário XX, no capítulo “Deus e o gozo d'A Mulher”:

“E porque não interpretar uma face do Outro, a face de Deus, como suportada pelo gozofeminino?”, que encontra resposta com o dito (Lacan sem RSI in Ornicar? Nº 5 pg. 25) “Deus éa mulher tornada toda”.

“Dito que faz da mulher não-toda o Deus da castração” (F.Regnauld in Deus é inconsciente). Oque, porém, não faz de Deus um Todo: (Lacan sem RSI in Ornicar? Nº 9 pg. 39:) “não há Outroque responda como parceiro - sendo a necessidade da espécie humana que haja Outro do Outro.É aquele a que se chama geralmente Deus, mas que a análise revela que é simplesmente Amulher”.

Uma das evidências da clínica da psicose é a figura inventada por Lacan “empuxo-à- Mulher”

que junta a clínica da psicose, teologia e feminilidade.

O empuxo-à-Mulher é exemplificado por Schreber, para quem a idéia de transformar-se emmulher é um dos primeiros sinais de delírio. A foraclusão do Nome-do-Pai, explicação da causada psicose na teoria de Lacan, tem como efeito fazer existir A Mulher, a encarnação de umgozo infinito, uma Mulher completa, não marcada pela castração.

Freud, no estudo de Schreber, mostra a satisfação que o lhe proporciona contemplar-se, vestidode mulher, ao ver sua imagem no espelho, que no seu delírio o leva a copular com Deus,fazendo-o digno da fecundação divina.

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A este gozo sem limite Lacan chamou de “empuxo-à-Mulher”, explicado como um gozo ligado àfalta da função fálica, pois este Deus que goza dele, é o gozo do Outro, um gozo não fálicoligado à falta da castração.

Escreve Lacan: "Sem dúvida a adivinhação do inconsciente adverte o sujeito, desde muito cedo,

de que, na impossibilidade de ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher quefalta aos homens" ou ser a Mulher de Deus. O “empuxo-à-Mulher” não é só uma interpretaçãodo gozo, em seu caráter de exigência perpétua de satisfação, é uma tendência da pulsãoespecífica da psicose. No texto “ De uma questão preliminar a todo tratamento possível para apsicose ” diz Lacan: "Como podemos perceber, ao observar que não é por estar foracluído dopênis, mas por ter que ser o falo, que o paciente estará fadado a se tornar uma mulher”, o queindica a impossibilidade da escolha do sexo pelo psicótico. A inclinação para a feminização, o“empuxo-à-Mulher”, é uma obrigação na sexuação do psicótico.

Em “ Memórias ...”, com sua transformação em mulher e sua posição diante de Deus, Schereber

dá um exemplo da feminização no psicótico: "Só a título de uma possibilidade que haja que terem conta lhe digo: minha emasculação, de qualquer maneira, ainda poderia produzir-se, aoefeito do que uma nova geração saia de meu seio por jogo de uma fecundação divina".

Ainda em “ Memórias...” Schereber afirmou: “Por duas vezes já tive órgãos genitais femininos,ainda imperfeitamente desenvolvidos, e experimentei no corpo movimentos de saltos, parecidosàs primeiras agitações de um embrião humano. Nervos de Deus, correspondentes a um sêmenmasculino, haviam sido projetados em direção a meu corpo por um milagre divino, e dessemodo se havia produzido uma fecundação”.

Lacan retirou o termo "assintótica” de Freud, e expressa com esta metáfora a intermináveltransformação de Schereber em mulher. Lacan formalizou a psicose de Schreber como similar àfunção hiperbólica onde a feminização do sujeito se inscreve ao longo das assintóticas,apontando ao infinito. A expressão "empuxo-à-Mulher”, indica esse aspecto inconclusivo dotrabalho delirante.

Schereber se coloca como objeto do gozo do Outro, pois o empuxo-à-Mulher exige aconfrontação com as exigências de um Deus tirânico, o que justifica outros sintomas como atentação suicida, a cadaverização do corpo, o prejuízo do sentimento íntimo da vida, a perda daidentidade viril, as tentativas de automutilação, e a demanda de operação cirúrgica.

Para G. Morel ( Ambiguedades sexuales), Lacan com o “empuxo-à-Mulher” indica que não háescolha da sexuação na psicose. Por não conseguir ascender ao significante que lhe permitiriacolocar-se como homem na repartição dos sexos e por dever ser o falo, o psicótico é levado ase situar do lado mulher. Há um empuxo-à-Mulher, independentemente da posição subjetiva dopsicótico, pois empuxo-à-Mulher é um efeito da foraclusão do Nome-do-Pai.

A homossexualidade masculina (não psicótica) se inscreve nas fórmulas de sexuação do ladohomem, enquanto que o empuxo-à-Mulher se inscreve do lado mulher. A identificação aodesejo da mãe está no fundamento da psicose: por não poder ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher que falta aos homens.

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A transformação do sujeito em mulher implica, para poder ser o falo, renunciar a tê-lo: o queSchreber traduz no imaginário por "não poder mais possuir pênis", fato que está na origem desua emasculação.