167248091 lacan o lugar da psicanalise na medicina

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    p ~ n m a a llllam aqui em um Col6- itlllo por jeannt Aubry sobre.r d D icanilise 'medicina-

    LUGAR DA PSICANLISE NA MEDICINAJ CQUES L C N

    Permi tam-me, quanto aalgum asdas pergun tas que acabam de ser feitas, de me restringirs respos tas dejeanne Aubry, que me parecembem suflclentemeote pertinentes. No vejo emqu democratizar o ensino da psicanlise possa criar outro problema que no o da definiode nossa democracia. E uma democracia , masexistem vrias espcies concebveis e o futuroest nos conduzindo a uma outra 1

    mdico e da modificao muito rpida que vemproduzindo-se naquilo que chamaria de funodo mdico, assim como em seu e r s o n a g e ~este um elemento importante na dita funo .Durante todo o perodo da histria que conhecemos e podemos qualificar como tal, estafuno e este personagem do md ico, manti-veram-se em grande constncia, at uma po-,ca recente. E preciso, porm, obse Var que aprtica da medicina nun ca ocorre u sem ser

    Creio que o que posso trazer para uma reu- gtt.o ocpo. emque

    P ~ ~ ~ na medic..i,ru\ do ponto de vista do o mdico, no que tem de melhor, tambmumPeicmbS" 2004 Opo Lacanlana n 32

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    filsofo e neste caso a palavra no se limita ao quelas das org:mi7.aes em questio, ou seja,sentido rardio de filosofia da natureza . com o stallls de s u b s i s t ~ n c i a cientfica.

    Dem a esta palavra o sentido que quise- Citemos simplesmente, para acender nossarem, aquesto que se tmta de situar ser escla- lanterna, o quanto deve nosso pmgrcsso narecida com outrns baliz.1s. Acredito que aqui, formalizao funcional do aparelho cardiovas-apesar de estarmosem meio auma assistncia cu lar e do apare lho respimtrio no somente majoritariamentemdica, no me pediro para necessidade de oper-lo, mas ao prprio apa-indicar aquilo que Foucault em seu grande li- relho de inscrio destas funcs, que lle imvro traz de um mtodo histrico-crtico para pem apartir do momento em que se ins talamsituar a responsabilidade da medicina na gran su jeitos, os sujeitos destas reaes em satllde crise tica (ou seja, critica que atinge adefi- tes, ou seja, aquilo que podemos w nsi< lemrnio do homem) que ele cemra em torno do como formidveis pu lmes de ao. A prpriaisolamento da loucura. Nem me peliro para construo destes pulmes est ligada a seuintroduzir este outro livro, O nascimc o da destino de stlpol'te de determinad : :; rhi tm:,clln.ica em que se encontra nxado aqu ilo que rbitas as quais estnramos hem errados em

    a r r e t a a promoo, por Blchat, de um olhar denominar csmicas, uma 've7. que o cosmosque se frxa sobre o campo do corpo neste c u ~ nio as conhecia''. Para dizer tudo de uma vez:to tempo em que o corpo subsiste como entre- no mesmo passo em que se revela a surpreen-gue morte, ou seja, cadver. Os dois franqllc- dente tnlerfincia do homem acondies acs-nmentos pelos q u < ~ i s a medicina , qunnto ael:l, mic:1s (at mesmo o pamdoxo que o fa7. apnre-consuma o fechamento das portas de um.Jnnus cer, de :1lguma forma, adaptado aelas) queantigo, que reduplicava inencontrnvelmente se constata que este acosmfsmo oque a dncada gesto humano com uma figura sagrada, ela con.mi.esto assim demarcados .A medicina correia- Quem p o d e r i : ~ imaginar que o homemtiva a este franqueamento. portaria to bem aausnciade gravidade, quemA passagem da medicina para o plano da ci- poderia prever o que aconteceria com o ho ncia, eat mesmo o fato de que aexignciil da mem nestas condies se nos restringssemoscondio experim ental tenha sido introduzida s metforos nlos ficas, quela, por exemplo,na medicinapor Claude Bernard eseus cf':lpll de Simone Well , que fa zia daausncia de grnvi-ces no o que conta por si s, ablana est dade uma das dime nses de uma tal metfora?em outro lugar. A medicina entrou em sua fase no ponto em que as exigncias sociais socientt1ca no ponto em que um mundo nsceu, condicionadas pelo aparecimento de um ho- .mundo que a partir de ento exige os condicio mem que silva s condies de um mundo cinamentos necessrios na vida de cada um entfico, que provido de novos poderes de inmedida da parte que cada um desempenha na 1 vestigao e ele pesquisa, o md ico encontracincia, presente a todos em seus efe itos. ' se face a novos problemas. Quero com isto di-

    funesdo organismo hum ano foram 7.er que o mdico nada mais tem de privilegiadosempre objeto ~ e uma experimentao segun- na organi7ao desta equipe de peritos \ diver-do ocontexto social. Acontece, porm, que por sameme especiali7.ados nas diferentes reas

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    constantes biolgicas. o mesmo modo descola-se a evidncia do sucesso, condio parao advento dos fatos.A colaborao mdica ser consideradacomo benvinda para programar as operaesnecessrias para manuteno do fundonamento deste ou daquele aparelho do organismohumano em condies precisas, mas , afma l decontas, o que isto tem a ver com aqu ilo quechamaremos a posio tradicional do mdico?O mdico requerido ein sua funo de d-entista siologista, mas ele est submetido ainda a outros chamados. O mu ndo cienfico deposita em suas mos o nmero infinito daquiloque capazde produzir em termosde agentesteraputicos novos, qu micos ou biolgicos. Eleos coloca disposio do pblico e pede aomdico, assim como se pede a um agente distribuidor, que os coloque prova . Onde est olmite em que o mdico deve agir e a qu deveele responder?A algo que se chama demanda?Diria que na medida deste deslizamento,desta evoluo, que modifica-se a posio domdico com relao queles que se endeream

    ao alcance da mo - digamos um aparelho drrgico ou a administrao de antibiticos (e mesmo nestes casos resta saber o que disto resultapara o futuro)- algo fica fora do campo daquiloque modificado pelo benefcio teraputico,algo que se mantm constante e que todo mdico sabe bem de que se trata.

    Quando o doente enviado ao mdico ouquando o aborda, no digam que ele esperapura e simplesmente a c ~ E]e pe o mdico} prova de tjr-lo de s Ja condio ~ d o ~ n t e oque totalmente diferente, pois isto pode jmpijcar que.ek_est totalmente preso. idia.decon:sern-la. Ele vem vezes nos pedir panamcnrjgl -lp mmp dpente Em muitos outroscasos ele vem pedir, do modo mais manifesto,que vocs o preservem em sua doena, que o''tratem da maneira que lhe convm, ou seja,pquela que lhe permitir continuar a ser umdoente bem instalado em sua doena.Ser que erei que evocar a minha experincia a maisrecente? Um formidvel estado de depressoansiosa permanente-, que durava j h mais devinte anos. O doente yejo me encontrar no ter-a ele e que vem a se individualizar, a se espec- ror de que eu fize sse a mnima mjsa que fosse.ficar e a se colocar retroativamente em nfase Diante da simples proposta de me rever em 48o que h de original nesta demanda ao mdi- horas, a me, temvel, que durante este tempoco. O desenvolvimento cientfico inaugura e tinha acampado em minha sala de espera, ti-pe cadavez mais em primeiro plano este novo nha conseguido arranjar as coisas para que istodireito do homem sade, que existe e se no fosse possvel.motiva j em uma organizao mundial. .me- Isto de experincia banal, s o evoco para

    dida que o registro da relao mdica com a lembrar-lhesa significaiada demanda, adimen-sade se modifica, em que esta espcie de po so em que se exerce a funo mdica propria-der generalizadoque o poder da cincia,d a mente dita e para introduzir aquilo que parecetodos a possibilidade de virem pedir ao mdi- fcil de abordar e queentretantos6 foi seriamen-co seu ti ket de beneffdo com umobjetivo pre- te interrogado em minha- Escola: a estrutura daciso imediato, vemos desenhar-se a origina - ~ a l h a que existe entre a demanda e o desejo.dade de uma dimenso que denomino demao- A partir do momento em que se faz esta'da. E no registro do modo de resposta de- observao, parece q\.le no necessrio sermanda do doente que est a chance de sobre- psicanalista, nem mesmo mdico, para sabervivncia da posio propriamente mdica. que, no mo lJento em que qualqer um, seja

    IResponder que o doente lhes demanda a macho ou fmea, pede-ns, demanda alguma" cura no responder absolutamente nada pois coth jsra no ahsoh rramenre idntico emes

    ,,.. a cada vez que a tarefa precisa que deve 5er rea- mo-por vezes diametralmeme oposto qnilolizada com urgncia no corresponde pura esim- que ele dsepplesmente a uma possiblidade que se encontre Gostaria de retomar as oisas em outro pontoDezembro 2001 Opo Lacaniana n 32

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    mais ou menos propriamente txicos pode terde repreensvel a no ser que o mdico emrefrancamente naquilo que a segunda dimenso caracterstica de sua presena no mundo,.adimenso tica. Estas observaes podem parecer banais, elas tm, contudo, o interesse dedemonstrar que a djmensa tica aquela quese esten e em ireo ao gozo

    Eis ento duas balizas, primeiramente amanda do doente, em segundo lugar o gozo doeorpo. De cerro modo elac; confluem nesta dimenso tica, mas no vamos identific-las rpido demais porque aqui intervm aquilo quechamarei simplesmente de teoria psicanaltica, quevem em tempo e, certamente no poracaso, nomomento de entrada em cena da cincia, comeste ligeiro avano que sempre caractersticodas invenes de Freud. Ao;sim como Freud inventou a teoria do fascismo antes que este apa-recesse, trinta anos antes, inventou aq11ilo quedeveria respon er Sttlwer:;o da psja o

    desejo inconsciente obtuso, pesado,calibanat mesmo animal; desejo inconsciente erguido das profunde7.as, que seria primitivo e deveria elevar-se ao nvel superior do consciente . Bem ao contrrio, existe um desejo por

    { que existe algo de inconsciente . ou seja algoIda linguagemque escapa ao sujeito emsua estrutura e seus efeitos e que h sempre no nvel da linguagem alguma coisa que est almda conscincia. a que pode se situar a fun ~Por isso necessrio fazer intervir este lugar que chamei de luiil8r0utro que diz respeito a tudo que do su jeito. Substancialmente, o campo em aue se localizam os excessosde linguagem dos quais o sujeito porta uma

    que escapa a seu prprio domnio. neste campo que e faz a juno com aquiloque chamei de plo do gozo .

    Porque ali se valori7.a aquilo que introduziuFreud sobre o principio do prazer e para o qual

    mdico peta ascenso da cjnda. nunca se tinha preparado vise que o p j Zer Ainda h pouco indiquei suficientemente\. 7 , em que Freud retomaa diferena que h entre a demanda e o dese- as condies das quais muito antigas escolas de;o. Somente a teoria lingstica pde dar con- pensamento tinham feito sua lei. O que se dizta de semelhante percepo e ela pode faz- do prazer?Que ele a exdtao m{nima, aquilolo ainda mais facilmente porque foi Freud que, que faz desaparecer a tenso, tempera-a ao m-da maneira mais viva e mais inatacvel, preci- ximo, ou seja, ent,que aquilo que nos prasamente mostrou a distncia entre eles no n- necessariamente a um ponto de distanciamen-vel do inconsciente. na medida em gue to, de distncia bastante respeitosa do gozo.estruturado como uma linauas;em que ele o Porgue aauilo cwe chamo iozo, no semjdo em (inconsciente descoberto por Freud. Li com q11e a cacpo se experimenta: sempre da ar-surpresa em um escrito bem apadrinhado que dem da tenso, do fo ramenro do gasto a o inconsciente montono. No evocarei aqui mesmo d prgeza . H Wcomestaye meme gozominha experincia, rogo-lhes simplesmente no Yel em que m m g3amrrrer or e nsque abram as trs primeiras obras de Freud, sabemos que someme nes te nvel da dor queas mais fundamentais, e que vejam se a mo- pode se experimentar toda uma dimenso donotonia que caracteriza a anlise dos sonhos, organismo que de outra fonna fica velada.dos aros falhos e dos lapsos. Bem ao comr- O que o deseio?O desejo de alguma for-rio, o inconsciente parece-me no somente ma o ponto de compromisso, a escala da di-extremamente particularizado, mais ainda do menso do gozo na med ida em que de certoque variado de um sujeito aoutro como ain- modo este desejo permite levar mais longe oda bem esperto e espitituoso, pois justamen- nvel da barreira do prazer. Este , no entanto,te ali que o chiste revelou suas verdadeiras di- um ponto fantasmtico, ou se ja, ali intervm omenses e suas verdadeiras estruturas. No registro da dimenso imaginria que faz comexiste um inconsciente porque existiria um que o desejo seja suspenso a alguma coisa da

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    qual no de sua natureza verdadeiramenteexigir a realizao.

    Por que venho aqui falar disto que de todomodo apenas uma amostra minscula destadimenso que desenvolvo h quinze anos emmeu seminrio? Para evocar a idia de uma. .topologia do sujeito. E com relao a suas superffcies, a seus limites fundamentais, a suasrelaes redprocas, maneira como elas seentrecruzam e se enlaam que podemcolocarse os problemas, que tambm no so poucose simples problemas de interpsicologia,mas simaqueles de uma estrutura que diz respeito aosujeito em sua dupla relac;o com o saber.O saber permanece para o sujeito marcadode um valor nodal pelo seguinte fato (cujo carter central no pensamento esquecemos), que od.esejo sexual na psicanlise no a imagem quedevemos conceber a partir de um mito da tendncia orgnica. Ele algo infinitamente maiselevado e ligado, ames de mais nada, precisamente linguagem na medkla em que a linguagem que lhe d inicialmente seu lugare quesua primeira apario no desenvolvimento doindivduo se manifesta no n\'ei do deseio de sa

    ~ r . Se no vemos que a est o ponto centralem que se enrafza a teoria da libido de Freud,perdemos simplesmente a corda. perder acorda querer reunjr-se aos Quadros pr-fO Jll:ldos de uma t>retensa o s i o ~ r elaboradaao longo dos sculos para responder a ne

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    Na era cientfica o mdico encontra-se emuma dupla posio: por um lado ele lida.comum investimento energtico do qual no suspeita o poder se no o lhe explicamos por outro lado ele deve colocar este investimento entre parnteses em razo mesma dos poderesdos quais dispe daqueles que ele deve distri-buir no plano cientfico em que e ~ t ~ i t u a d oQuer queira quer no o mdico est integradoneste movimento mundial de organi7..ao deuma sade que torna-se.pblica e por este fatonovas questes lhe sero colocadas.

    Ele no saber de forma alguma motivar amanuteno de sua funo propriamente mdica em nome de um privado que seria fundado naquilo que chamamos de sigilo profissional,enem falemos muito no modo como estesigilo respeitado quero dizer na prtica davida na hora em que se bebe o conhaque. Masno isto o fundamento do sigilo profissionalpois se ele fosse da ordem do privado ele seriada ordem das mesmas flutuaes que socialmente acompanharam a generalizao no mu ndo na prtica do imposto de renda. lrata-se deoutra coisa propriamente desta leitura pelaqual o mdico capaz de conduzir o sujeitoquilo de que se trata em um certo parntesesaquele que comea no nascimento que termina na morte e que comporta questes quecomporta tanto um quanto a outra.

    Em nome de qu os mdicos devero o direito ou no ao nascimento? Como eles respondero s exigncias que convergiro bem rapidamente para as exigncias da produtividade?pPj::; se 3 sat 1dc f0 [03- P objetO de 1UD3 organi7 o mundial vai trarar se de saber em quemedida ela produtiva.

    Dezembro 2001

    O gue o mdico poder ogor aos impera- ~tivo s QUe fariam dele e m p r ~ d o desta empres univers l da prndutYJdade? Nio houtro terreno que no esta relao por meioda qual e o mdico ou seja a da demanda

    Ido doente. E no interior desta relao firmeem que se produzem tantas coisas que est arevelao desta dimenso em seu valor original que nada tem de idealista mas que exatamente aquilo que diz: a relao om o gozodo corpo

    Que tm vocs a dizer mdicos sobre omais escandaloso daquilo que se seguir? Poisse era excepcional o caso em que o homem ataqui proferia Se teu olho te escandaliza arranque-o o que vocs diro ~ t o aoslogan teu olho se vende bem d Em nome de qutero vocs que falar seno precisamente desfa dimenso do gozo do corpo e disto que elecomanda quanto participao em tudo queest no mundo?

    Se o mdico deve continuar a ser algumacoisa que no a herana de sua funo antigaque er uma funo sagrada a meu ver prosseguir e manter em sua prpria vida a descoberta de Freud. Foi sempre como missionriodo mdico que me considerei a funo domdico assim como a do padre no se limitamao tempo que nela se emprega.

    Texto publicado com a amvelautorizao de Jacque5-Alain llltt

    Texto e 1966. Publicado inicialmente em Cllhim tlu CoiUgedeMdfcine vol 12 1966 emais tarde em Bloc-notG ti Ltpsychana Jse n. 7 Georg. Gnebra. 1987. Tradmldo por

    ~ l a r t u s Andr Vieira.

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