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1 PSICOLOGIA PSICANALÍTICA I Enquadramento histórico e sócio-cultural da psicologia psicanalítica 1. O conceito de inconsciente: O “inconsciente” não é um conceito de Freud, mas sim da cultura europeia, apareceu por várias fases. Primeiro: a análise de fenómenos mentais. Pascal, séc. XVI: “O coração conhece razões que a própria razão desconhece”. O latente, a imaginação que trama muitas vezes a razão. No séc. XVIII, filósofos dedicaram-se ao estudo de actividades mentais: Nietzche, Erei, etc. Erei disse: “As paixões exercem uma poderosa influência sobre o organismo, podendo torná-lo doente ou tratá-lo.” Já se considerava que havia outros métodos, que não físicos, que curavam os males. Aparece a teoria do “magnetismo animal” de Mezmer, constitui uma primeira concepção da hipnose, dado o poder da sugestão e transferência para o outro e para as doenças nervosas. James Braid assistiu a estas “curas” e desenvolveu-as, colocando os doentes num sono para os tentar tratar. Diz que o terapeuta não influencia o sujeito, há uma estimulação físico- química, a retina estimulava o sistema nervoso central e isto causava o sono. Leibniz, no séc. XIX, apresenta pela primeira vez este conceito. Dizia que existem percepções que não conseguimos compreender pois encontram-se abaixo de um limiar quantitativo. FREUD (1856-19)- Contexto histórico e sócio-cultural: Positivismo (2ª parte do séc. XIX – dominada pela ciência). Na época de Freud, a noção de inconsciente e de subconsciente já existiam, tinham sido publicadas numerosas obras consagradas à sexualidade e para cada elemento da psicanálise, pode encontrar-se um precursor mais ou menos directo A psicanálise surge no seio da medicina e da sua impotência para o tratamento de doenças como histeria (considerada como possessões

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PSICOLOGIA PSICANALÍTICA I

Enquadramento histórico e sócio-cultural da psicologia psicanalítica

1. O conceito de inconsciente:

O “inconsciente” não é um conceito de Freud, mas sim da cultura europeia, apareceu por várias fases. Primeiro: a análise de fenómenos mentais.

Pascal, séc. XVI: “O coração conhece razões que a própria razão desconhece”. O latente, a imaginação que trama muitas vezes a razão.

No séc. XVIII, filósofos dedicaram-se ao estudo de actividades mentais: Nietzche, Erei, etc. Erei disse: “As paixões exercem uma poderosa influência sobre o organismo, podendo torná-lo doente ou tratá-lo.” Já se considerava que havia outros métodos, que não físicos, que curavam os males. Aparece a teoria do “magnetismo animal” de Mezmer, constitui uma primeira concepção da hipnose, dado o poder da sugestão e transferência para o outro e para as doenças nervosas. James Braid assistiu a estas “curas” e desenvolveu-as, colocando os doentes num sono para os tentar tratar. Diz que o terapeuta não influencia o sujeito, há uma estimulação físico-química, a retina estimulava o sistema nervoso central e isto causava o sono.

Leibniz, no séc. XIX, apresenta pela primeira vez este conceito. Dizia que existem percepções que não conseguimos compreender pois encontram-se abaixo de um limiar quantitativo.

FREUD (1856-19)- Contexto histórico e sócio-cultural: Positivismo (2ª parte do séc. XIX – dominada pela ciência). Na época de Freud, a noção de inconsciente e de subconsciente já existiam, tinham sido publicadas numerosas obras consagradas à sexualidade e para cada elemento da psicanálise, pode encontrar-se um precursor mais ou menos directo

A psicanálise surge no seio da medicina e da sua impotência para o tratamento de doenças como histeria (considerada como possessões demoníacas ou resultado de uma insatisfação sexual). A acção psicológica que um terapeuta exerce sobre o doente para o tratar foi outra novidade em relação à medicina.

Berein determina que é a palavra que nos permite entrar no mundo do inconsciente. Mas é com Charcot que se entra na “idade de ouro” da hipnose. Conseguia provocar fenómenos histéricos nos pacientes, Freud estagia com ele, interessa-se e começa a estudar a hipnose e histeria. Mas Freud rejeita a hipnose porque constata os seus “defeitos”: nem todos podem ser hipnotizados e os pacientes não conseguem perceber os jogos de forças e jogos eróticos da hipnose.

Freud, sem se preocupar com as ideias que lhe foram transmitidas e com tabus, firmando nas suas convicções deterministas e na sua fé na ciência, servido de uma imaginação que pôs ao serviço de uma visão dinâmica dos processos observados nos seus doentes e nele próprio (através da auto-análise), mudou o olhar do homem sobre a sua pessoa e as suas zonas de sombra. Introduz a cura pela palavra, o respeito pelo outro e os métodos psicanalíticos um por um: associação livre, análise dos sonhos, etc.

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Freud: Provocou uma grande revolução na Psicanálise. Abertura da mesma para novos domínios: psicanálise de grupo, de casal, aplicada à criminologia, etc.

Psicanálise – A consciência é uma pequena parte da psic, o essencial encontra-se no inconsciente. É uma ciência que estuda os fenómenos psíquicos inconscientes, o que é latente, que determina, condiciona e orienta grande parte dos comportamentos do ser humano

1. Um método de investigação dos processos psíquicos;

2. Uma concepção teórica sobre o mundo mental;

3. Um método de tratamento.

Amor, alegria, etc. não dependem do sujeito, mas sim de um conflito interior entre pulsões que buscam o prazer e normas que os retraem. A maioria das vezes “funcionamos” abaixo do limiar da consciência e isso é representado pelas manifestações sintomáticas: devaneios, actos falhados, sonhos, fobias, etc. e é isto que nos informa sobre o estado do aparelho psíquico.

Onde já se viu árvore roxa? Conhecimento e subjectividade (1º trabalho prático):

As numerosas rupturas epistemológicas sucedidas no passado levaram-nos à crise paradigmática que vivemos hoje. É necessário alterar os instrumentos conceptuais fundamentais de aquisição de conhecimento. Substituir as ideias de busca de ordem, regularidade e mecanismos automáticos da natureza pela desordem, caos, complexidade e auto-organização.

Por conhecimento entende-se a relação entre o sujeito que tenta conhecer algo e o objectivo a ser conhecido. No entanto, como nos diz Bion, “para conhecer é preciso sacudir, porque o conhecimento somente é possível quando o ser humano se reconstrói, se desequilibra e se mobiliza para subir de patamar.”

Historicamente, na Grécia Clássica (Platão e Aristóteles) o conhecimento era marcado por uma dicotomia entre o trabalho manual e o trabalho intelectual; Modernidade (Galileu e Descartes) foi o turning point da história; Racionalismo (Hegel, Nietzsche, Freud e Marx) rompe com o empirismo ao destrezar os sentidos, recurso aos símbolos.

Actualmente vivemos a época do conhecimento através das inovações tecnológicas, a era da inteligência artificial, do computador neural… e simultaneamente a época da exclusão, da miséria absoluta, da violência. Com isto cresce a necessidade da obtenção de um significado de ciência mais holístico, do diálogo com a ciência e os seres humanos, de dar um novo rumo à história.

Para ir ao encontro desta necessidade, a Psicanálise alerta para a necessidade da simbolização e da interpretação do mundo do outro, pois é na base das relações que se encontram as emoções, o amor e a palavra, que são o motor de todo o funcionamento humano e da construção do verdadeiro conhecimento. Por isso deve-se possibilitar o desequilíbrio e a reconstrução do sujeito que aprende, pois só assim este se pode tornar um livre pensador. O segredo está em substituir a interpretação pela interacção. “As crianças têm que ser educadas, mas têm igualmente de ser deixadas para educar-se” (Abbé Dimnet)

2. O inconsciente freudiano. As vias de acesso ao inconsciente.

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2.1. O sonho (2º trabalho)

Freud propõe como objecto de estudo o Inconsciente

Já conhecido há bastante tempo pelos estudiosos, porém, referenciado como sendo impossível de ser estudado empiricamente, pois era muito subjectivo para ser estudado e provado cientificamente

Mas quais são as vias de acesso ao inconsciente? Freud usa as associações livres de ideias, os actos falhados, os lapsos e os sonhos como vias privilegiadas.

Freud estuda o Inconsciente utilizando um método rigoroso e científico de interpretação dos sonhos: “os sonhos são a expressão dos desejos” Freud

Séc. XIX: Na concepção popular, os sonhos estavam relacionados com premonições, deuses,

demónios, etc. Na concepção científica, os sonhos eram vistos como descargas cerebrais aleatórias

com origem no cérebro, sem qualquer valor psicológico.

Para Freud: O sonho é uma actividade psíquica organizada, com as suas próprias leis.

É a descoberta da associação livre de ideias que vai permitir chegar ao sentido individual dos sonhos, por vezes a partir de palavras, fragmentos maiores ou menores.

Muitas vezes o sonho é retomado mais tarde como objecto de investigação o que implica reconhecer que a actividade do sonho é um prolongamento do pensamento. (Meltzer corroborava esta definição).

Para Freud é preciso fazer um trabalho de interpretação, porque “a interpretação dos sonhos é a via régia que conduz ao conhecimento do inconsciente na vida psíquica”. Neste método psicanalítico é o terapeuta que convida aquele que sonha a dizer em que o faz pensar não o sonho inteiro mas este ou aquele pormenor, mas, ao contrário do procedimento da “chave dos sonhos”, é aquele que sonha que efectua o trabalho associando livremente as suas ideias a respeito do sonho. Não existe uma chave constante porque o mesmo conteúdo pode ter um sentido diferente em indivíduos diferentes e num contexto diferente. Além disso há uma dissociação entre aquilo que o sonho mostra e o sentido para que ele nos remete. Por isso na interpretação há sempre a referência a um enigma.

Sonhos de comodidade: Surgem como guardião do sono e normalmente não necessitam de interpretação (ex: sonho que estou a beber água quando tenho sede durante o sono). O sonhos das crianças estão muitas vezes relacionados com a pura realização de um desejo.

Freud constata que alguns sonhos são muito rápidos, lacónicos, mas que a associação livre de ideias faz com que pareça que nunca mais acaba.

A noção central da teoria dos sonhos de Freud é que o sonho é a realização disfarçada de um desejo (reprimido/recalcado). Reprimido porque há um “disfarce”, uma dissociação, o que o sujeito me diz não é tudo. Freud pouco mexeu nesta noção ao longo da sua vida.

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Freud fala do conteúdo manifesto, que é relatado pelo paciente e que remete para um conteúdo latente, que surge pela associação livre de ideias.

Há uma censura entre o inconsciente e o pré-consciente que faz com que a totalidade do sonho não passe, parte dele fica retida no inconsciente. Muitas vezes o conteúdo latente tem que se disfarçar para passar na censura o que faz com que o sonho pareça desarticulado. Nas crianças, isso já não acontece, a noção de censura ainda não está totalmente desenvolvida nelas e os sonhos aparecem mais límpidos, mais genuínos.

No sono, a censura relaxa um pouco e deixa parte do sonho passar. No sonho, existem símbolos que representam o disfarce (o sonho é o preso que quer fugir da prisão, escapar à censura e ao inconsciente e ir para o domínio do consciente, e para tal, veste-se de guarda para poder passar pelas grades = censura).

Muitas vezes, os adultos têm sonhos em que as dimensões não são tão claras porque estão associadas a coisas penosas. Aqui, o conteúdo manifesto é resultado de uma deformação, de um disfarce. Este disfarce resulta do desejo considerado condenável que se aparecesse no sonho, segundo Freud, perturbaria o sujeito, fazendo-o acordar.

Os sonhos usam restos diurnos (impressões do dia anterior) ou impressões da infância que achávamos esquecidas, sem importância. O essencial acaba por ser o acessório e o acessório acaba por ser o essencial – deslocamento resultante da censura.

Processos envolvidos no sonho:

1. Trabalho da Condensação : Um determinado elemento aparece como resultado de vários elementos (subdeterminação). Ex: uma personagem do sonho pode condensar diversas personagens.

2. Trabalho do Deslocamento : Resulta da transferência de uma intensidade psíquica de um elemento para outro, de forma a que aqueles que ficam sem intensidade psíquica possam passar pela censura. Deixa na sombra aqueles cuja importância a análise vai desvendar.

3. Trabalho de Representação : transformação do pensamento do sonho em imagens visuais carregadas de sentido.

4. Elaboração Secundária : Consiste em apresentar o conteúdo onírico sob a forma coerente e inteligível. Acontece habitualmente quando tentamos organizar o conteúdo do sonho, numa fase pré-consciente.

5. Dramatização - Consiste em transformar o guião em cenas (pensamento numa situação). Este elemento foi introduzido mais tarde.

NOTA: A condensação e o deslocamento combinam-se frequentemente nos sonhos pois fazem parte de um processo de transformação que opera entre o conteúdo latente e o manifesto (disfarce).

Intemporalidade – no sonho o tempo altera-se.

Sonho simbólico – o símbolo permite que a pessoa escape à censura (ex: símbolo sexual)

Sonhos de repetição - Há sonhos que fogem à noção central de que são manifestação de um desejo. Os sonhos traumáticos repetem-se.

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Pesadelos- O processo de recalcamento responsável pela acção de censura, instaura-se com a educação e vai transformar em desprazer os estados afectivos que eram de prazer. (dá-se um transformação). A realização do desejo transforma-se em desprazer e o disfarce não é suficiente para que o sonho cumpra a sua função de guardião do sono. A censura nestas alturas está no seu auge punindo o sonhador, oprimindo-o. O sujeito acorda angustiado. Pode ou não haver recordação do sonho.

O sonho tem uma função elaborativa, elabora e organiza experiências.

Sintoma – parte do material pré-consciente é arrancado pelo recalcamento para ser submerso no inconsciente. No entanto este material mantém-se activo e exprime-se, de forma alterada, em sintomas que são o resultado do compromisso entre o real e o inconsciente. Pode permanecer ou não como um equilíbrio instável ao longo da vida que pode parecer ao indivíduo menos perigoso do que a procura de um equilíbrio por meio da cura analítica.

2.2. Psicopatologia da Vida Quotidiana (3º trabalho)

Freud procura mostrar-nos que existe uma relação inconsciente – consciente causadora da maior parte dos actos falhados. Quando dizemos a maior parte, referimo-nos ao facto de Freud reconhecer que o nosso estado geral, o grau de fadiga, a pressa ou a semelhança podem causar estes eventos que, nesses casos, serão meramente acidentais.

Segundo Freud os desejos reprimidos, que nunca chegaram a estar no nível da consciência, tentam emergir do inconsciente quando encontram uma oportunidade, com a intenção de “adquirir uma expressão consciente”. Estes desejos manifestam-se através dos actos falhados que incluem os “casos de esquecimento e os erros, os lapsus linguae e lapsos calami, os erros de leitura, os equívocos e os actos acidentais”. Para que estes actos não sejam confundidos com eventuais patologias, não devem ultrapassar os “limites do estado normal”, são momentâneos (o sujeito consegue realizá-los correctamente), os seus motivos não são claros e não resultam da ignorância.

Freud destaca a importância da psicanálise ao mostrar-nos que é só através desta via que se verifica que actos sem qualquer intenção aparente têm por trás uma motivação e um determinismo que são obra do inconsciente. Na maior parte dos casos os actos falhados são motivados por assuntos desagradáveis e até penosos que são objecto de recalcamento. Por isso, mecanismos como o do esquecimento funcionam como instintos de defesa. Quando as coisas não caem no esquecimento por si próprias, o instinto de defesa desloca o objectivo e faz imergir no esquecimento outra coisa menos importante, mas que, por uma razão ou por outra, se encontra ligada à coisa principal por uma qualquer associação. No entanto, é importante referir que, se na maioria das vezes a pessoa consegue identificar o motivo escondido, existem casos em que as resistências interiores, que por vezes se opõem à solução do problema procurada pela análise, não o permitem. Quando o inconsciente tem uma razão para se opor à realização de um projecto é capaz de se afirmar com tal firmeza que é difícil defendermo-nos desta tendência.

Conforme Freud conclui, “…todos os fenómenos em questão, sem nenhuma excepção, dirigem-se para materiais psíquicos incompletamente recalcados e que, apesar de recalcados pelo consciente, não perderam toda a possibilidade de se manifestarem e de se exprimirem”.

O esquecimentos de nomes – relações de inversão:

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contiguidade – nome muito próximo foneticamente; equivalência. - mesmo significado, fonética diferente.

Processo de deslocação– recordações da infância pouco importantes que constituem a reprodução supletiva – recordações de cobertura - de outras impressões realmente importantes.

Lapsos linguísticos - Não me apetece dar aula e digo: “Vamos terminar a aula.” em vez de “começar”. Exprime o desejo de não querer dar aula.

Lapsos de leitura e de escrita - Na maior parte dos casos o desejo secreto do sujeito leva-o a alterar o que lê ou escreve, introduzindo o que lhe interessa ou o que o preocupa.

3. A Metapsicologia

A metapsicologia é a parte teórica da psicanálise, é o outro nome da “psicologia do inconsciente”; dá-se o nome de psicanálise a:

1. Um método de investigação dos processos psíquicos que, de outro modo, são pouco acessíveis – a metapsicologia será a teoria destes processos psíquicos inconscientes;

2. Um método de tratamento das perturbações neuróticas que se baseia nessa investigação – a metapsicologia extrairá o seu material da experiência clínica adquirida no terreno da investigação dessas perturbações neuróticas tomadas genericamente;

3. Uma série de concepções psicológicas adquiridas por este meio, que progressivamente se desenvolvem em conjunto até se tornarem numa nova disciplina científica – é a este nível que a metapsicologia exprime todo o seu alcance: vai dotar a psicanálise destes aspectos que condicionam o seu acesso, a prazo (na medida em que se trata de um trabalho em curso, sem fim à vista) ao estatuto de disciplina científica.

A metapsicologia consiste em explicar e em considerar de forma precisa o próprio fundo da coisa analítica; exprime, portanto, a dimensão de profundidade da psicologia dita “das profundezas”.

A explicação metapsicológica consiste, portanto, em projectar qualquer fenómeno psiquico segundo as “abcissas e ordenadas” ou o espaço imaginário escolhido. A metafísica designa o tipo de racionalidade – alternativa à psicologia e à metafísica – que visa identificar as hipóteses teóricas de uma “psicologia do inconsciente” por meio de uma representação do aparelho psíquico, sustentado por uma concepção dos processos psíquicos – com base nas coordenadas tópicas, económicas e dinâmicas -, dotando assim o material clínico de um modo de conhecimento ad hoc, satisfazendo a dimensão especulativa exigida pelo “enigma do inconsciente”.

O sonho introduz-nos na metapsicologia. As diversas concepções de sonho levaram Freud a esboçar um modelo tópico do aparelho psíquico ternário: consciente, pré-consciente consciente e o inconsciente.

A metapsicologia é a teoria dos processos psíquicos inconscientes. É o que sustenta a teoria Psicanalitica (que investiga os fenómenos do inconsciente). Visa identificar as hipóteses teóricas de uma “psicologia do inconsciente” por meio de uma representação do aparelho psíquico, sustentado por uma concepção dos processos psíquicos com base nas coordenadas metapsicológicas:

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Tópicas: Tem a ver com os “lugares” do aparelho psíquico chamados “instâncias - dimensão espacial.

Dinâmicas: Tem a ver com as forças que operam no psiquismo e de natureza inconsciente; conflitos subjacentes entre os diversos sistemas (teorias do recalcamento, da angústia, etc.).

Económicas: Tem a ver com a energia que é colocada em jogo neste processo, as quantidades de energia necessárias (modelo libidinal-pulsional; modelo narcísico).

Do ponto de vista Tópico oferece uma representação espacial do aparelho psíquico (mesmo que fictícia) – Esta parece ser nas definições da metapsicologia, a definição central. Freud distingue 2 tópicas:

1ª Tópica (Modelo Topográfico): Uma sucessão de componentes específicos que aparecem dispostos de forma sucessiva, numa extensão que vai desde o sistema perceptual, sistema dotado de grande sensibilidade, até ao sistema motor. Entre estes aparecem diversos sistemas (Pré-consciente – Consciente – Inconsciente).

2ª Tópica (Modelo Estrutural): Freud faz intervir o Ego, o Id e o Super-ego.

O inconsciente torna-se o Id que tem a função de descarga imediata das tensões. O Id é inconsciente, mas nem todo o inconsciente é Id.

Do Id, Freud faz emergir gradualmente o Ego (zona que pode ser inconsciente, pré-consciente, consciente).

A 3ª instância é o Super-ego que também é uma parte do inconsciente. Surge de um conjunto de factores - educação precoce, juízos de valor, imagens parentais avaliações, etc.

A 2ª tópica não substitui a 1ª, apenas a complementa! Freud enriqueceu o seu modelo do aparelho psíquico com esta 2ª tópica. Falar-se-ia assim de 6 sistemas: consciente, inconsciente e pré-consciente consciente, id, ego e super-ego.

O Ego, com os seus mecanismos de defesa vai ter que conciliar todos os conflitos. O Super-ego tem percursores que ocorrem antes dos 3 anos. Fala-se de um super-ego precoce, que resulta da educação precoce e evolui por várias fases. A delinquência pode resultar de falhas na formação do super-ego – jogo de conflitos.

Consciente

Inconsciente

Ego(papel central)

Super-ego(forças inibidoras)

Id(forças propulsoras)

Zona de Conflitos intersistémicos - está entre o Consciente e o Iinconsciente e está em conflito com o Super-ego e o Id (tem que ter em conta a realidade

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3.1.Pulsão (trata-se do conceito fundamental da metapsicologia)

Existem forças pulsionais (do id, presentes no inconsciente) e forças da realidade (do super-ego, presentes no consciente).

Definição - Freud define pulsão como o conceito entre o psíquico e o somático Conceito fronteiriço entre o mental e o físico.

Pulsões vs. Instintos - O instinto é um mecanismo biológico inato (animal) que garante a preservação do indivíduo. Por outro lado, a pulsão é um impulso que tem origem numa excitação corporal, vai ter o objectivo de suprimir a tensão através do encontro com o objecto. Está associado ao Princípio do Prazer – pulsões de natureza animal, que têm de ser satisfeitas. Condiciona alguns comportamentos, no sentido em que estes são todos dirigidos para a satisfação desses mesmos desejos de natureza animal. Temos então:

Fonte - origem do impulso, excitação corporal).

Alvo - supressão do estado de tensão).

Objecto - é variável, vai diminuir o estdo de tensão (obtenção de satisfação, de prazer)

1ª Teoria - Pulsões do ego (auto-conservação) vs. Pulsões sexuais

As pulsões do ego correspondem às necessidades do indivíduo, à conservação do indivíduo através da satisfação das necessidades básicas

As pulsões sexuais (sexualidade) servem para a obtenção de prazer (desejo), que ultrapassa os orgãos sexuais e se estende às zonas erógenas. Segundo Freud residem nos seus “destinos” – “conjunto de coisas pelas quais o homem não é ele próprio responsável”. Assentam nas pulsões do ego, regem-se pelos processos primários e é sobre estas que vai incidir o recalcamento.

Forças propulsoras Forças inibidoras

Estão sempre em conflito (somos sujeitos em conflito constante)

2ª Teoria - Pulsões de vida vs. Pulsões de morte. (A 2º Teoria trata-se de uma reformulação da 1ª Teoria, as Teorias não são distintas)

Pulsões de morte (tendência para o “zero” absoluto) - a pulsão de morte é a tendência a conduzir o ser vivo (organismo) a um caso “quase inanimado”, destrutivo (destruição de ligações, relações e auto-destruição). Freud chega às pulsões de morte através da compulsão (compulsão à repetição). A pulsão de morte está ao serviço da destruição, da morte.

Pulsões de vida (tendência para a preservação da vida): a pulsão de vida é a tendência para a continuidade da vida. As pulsões sexuais e do ego estão integradas nas pulsões de vida.

3.2. Teoria da Sexualidade infantil (4ºtrab.– Três ensaios sobre a teoria da Sexual.)

Freud verificou que os pacientes histéricos relatavam episódios de traumas sexuais na infância. Mas Freud perguntou-se: “Então todos os pais são responsáveis por isto?”. Concluiu que estas

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cenas não eram reais, passavam-se no inconsciente, num lugar fantasmático (encenação imaginária). Eram, portanto, uma manifestação de um desejo inconsciente.

Definição – resultam da satisfação de necessidades básicas, fisiológicas que passam pelas zonas erógenas, que poderão fazer parte da sexualidade adulta.

Fantasia inconsciente – relacionada com a inscrição de um desejo.

Fases do desenvolvimento libidinal:

Fases Pré-Genitais – São fases que precedem a organização do Complexo de Édipo. Em cada uma delas podem existir pontos de fixação não resolvidos que podem impedir a passagem a outras fases ou implicar uma regressão:

1 Fase Oral: Ocorre ao longo do primeiro ano de vida que é consagrado à preensão – tomada de alimentos mas também de informação em sentido lato:

Zona erógena (fonte pulsional): é a zona buco-labial, prolonga-se até às vias aero-digestivas (vias até ao estômago e pulmões),ou seja os órgãos da fonação,e também os órgãos sensoriais (visão, tacto - pele);

Objecto pulsional: seio ou seu substituto – no início o prazer apoia-se na alimentação (mamar), mas depois mas depois também o chuchar no dedo, entre outros está associado ao sentido da sobrevivência, mas dá prazer e é auto-erótico.

Alvo pulsional duplo: prazer auto-erótico por estimulação da zona erógena (oral) e desejo de incorporação dos objectos.

Karl Abraham divide esta sub-fase em 2 sub-sub-fases: fase oral primitiva (ocorre nos primeiros 6 meses) e está associada a uma absorção passiva; fase oral tardia (ocorre no segundo semestre de vida) e é designada como fase “sádico-oral” a sucção é complementada pela “mordedura”, começam a aparecer os primeiros dentes (mais activa).

Nesta fase o desmame representa o conflito relacional específico. Ela deve ser compensada por um reforço do holding da parte da mãe, ou seja, uma acentuação da função de contenção física e psíquica (pelo tocar, olhar ou pela palavra…). Se o desmame for tardio, no decorrer da fase sádica oral, será vivido com uma punição ou uma frustração. Se por outro lado for precoce, antes do investimento libidinal se deslocar para outros objectos, a criança corre o risco de permanecer fixada numa relação do tipo oral passivo (ver tensão/ausência).

2 Fase Anal: Abrange o segundo ano de vida e é um ano consagrado ao controlo ou ao domínio. O prazer anal já existia mas vai doravante conflituar-se.

Zona erógena: mucosa ano-rectal e pode chegar à mucosa digestiva para lá do estômago.

Objecto pulsional: não pode ser reduzido ao bolo fecal porque há também uma tentativa de dominar a mãe e o meio envolvente em geral, como um objecto parcial a dominar e manipular. O bebé fá-lo controlando os esfíncteres anais e decidindo se retém ou não as fezes, quando e o que fazer.

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Alvo pulsional: prazer auto-erótico que decorre da estimulação da zona erógena anal (reter as fezes e depois expeli-las) e a procura de pressão relacional sobre os objectos e as pessoas que começam a diferenciar-se.

Karl Abraham subdivide esta sub-fase em duas sub-sub-fases: fase sádica anal expulsiva (abrange o 3º semestre de vida e está associada a uma expulsão intempestiva das fezes – objectos destruidos); e a fase masoquista anal retentiva (abrange o 4º semestre de vida e está associada ao prazer passivo da retenção das fezes com um certo sadismo pois a criança conserva em si aquilo que o adulto considera precioso e espera como um presente.

Esta torna-se a fase de ambivalência máxima, pois por um lado o mesmo objecto pode ser conservado ou expulso e por outro, em função do tempo e do lugar de expulsão ou retenção, pode tomar o valor de um bom ou mau objecto (arma ou presente relacional). A criança consolida a fronteira entre o interior e o exterior e começa a ter prazer na manipulação relacional dos objectos exteriores.

3 Fase Fálica ou uretral: Ocorre no 3º ano de vida. Anuncia a problemática edipiana (início da genitalidade) e o tema central nesta fase é a presença ou a ausência do pénis.

Zona erógena: ou fonte pulsional é a uretra com o duplo prazer de retenção ou da micção (como símbolo de poder), com uma dimensão auto-erótica e uma dimensão objectal (fantasia de urinar sobre o outro). Fase em que se manifesta a curiosidade sexual e que a criança toma consciência da diferença anatómica, ou seja, a presença ou ausência de pénis. Pode levar a uma recusa da diferença, o rapaz pode negar o sexo feminino ou imaginar a mãe provida de pénis e a rapariga desenvolve inveja de pénis (por não ter) e então, imagina que o seu clítoris vai crescer e tornar-se um pénis ou tem atitudes “de ambição fálica” (busca de perigo, comportamentos brutais, de rapaz falhado). A criança começa a elaborar teorias sexuais infantis (ex: o beijo pode causar gravidez).

Objecto pulsional: pénis (ter ou não ter)

Alvo pulsional: satisfação

Esta fase é uma afirmação de si. O pénis é concebido como um órgão portador de poder ou de completude. É uma fase narcísica pois remete para o simples facto da posse do pénis e não para o que dele se pode fazer. As angústias desta fase são de castração ou mutilação peniana, numa perspectiva narcísica. Os conflitos põem em jogo o narcisismo e o nego Ideal.

4 Complexo de Édipo: Situa-se entre os 4 e os 7 anos de vida. Aparecimento do objecto sexual total.

Forma positiva: sem atracção pelo progenitor do sexo oposto e sem ódio ou rivalidade pelo progenitor do mesmo sexo

Forma negativa (ou invertida): há sentimentos de ódio pelo progenitor do sexo oposto e atracção pelo progenitor do mesmo sexo. Habitualmente, verificam-se as 2 em simultâneo, há uma oscilação entre elas. Assiste-se aqui a uma dramatização, a uma representação com três personagens: a criança e os pais com sentimentos diferentes uns pelos outros, é a união de dois e a rejeição do outro (criança).

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Rapaz: a angústia da castração (centrada no objecto) vem pôr termo à problemática edipiana devendo o rapaz renunciar à mãe – deixa de querer ter a mãe e passa a querer ser como o pai.

Rapariga: a angústia de castração (inveja do pénis) inicia a problemática edipiana pelo desejo de um filho do pai. A liquidação deste complexo é mais lenta do que no rapaz e pode durar vários anos.

Ponto nodal que estrutura o grupo familiar e toda a sociedade humana (proibição do incesto). Momento fundador da vida psíquica que assegura o primado da zona genital. Instaura a prevalência do “ser” sobre o “ter” já não se trata de ter ou não ter pénis, mas sim de ser um homem ou uma mulher à semelhança das imagens parentais. Pela interiorização dos interditos parentais, permite o desenvolvimento do Superego e do Ideal do Ego definitivos. A aceitação da diferença confere ainda a aptidão para o luto e para a actividade simbólica de tipo adulto.

5 Período de latência: É um período de acalmia conflitual, que se situa entre os 7 e os 12 anos.

Os conflitos das fases precedentes persistem, mas mostram-se menos activos. É a idade da razão, fase ideal para a aprendizagem.

Há uma reversão de moções agressivas inversas em relação ao progenitor do mesmo sexo e um processo de sublimação no caso do progenitor do sexo oposto que dá lugar a sentimentos de ternura, devoção e respeito pelos pais.

Há uma diversificação de objectos e de objectivos, alargamento do mundo relacional e cognitivo (aprendizagem – escola). Aparecem objectos relacionais novos (pares, professores).

6 Puberdade e adolescência: Freud fala de uma crise, a crise da adolescência: assiste-se a um brutal retorno das pulsões e o ego é invadido por angústias pulsionais latentes e ele tem que se defender o adolescente adopta mecanismos de defesa (intelectualização, fechamento, etc.). Há uma reactivação do Complexo de Édipo, aparecem os substitutos parentais (professores, ídolos). É uma fase que se caracteriza por actividades masturbatórias hiperculpabilizadas e que podem levar o adolescente a graves inibições. Laufer e Blos caracterizam a adolescência como a fase da expansão, do alargamento para outros objectos e relações dos conflitos com os pais. Faz-se o “luto” das imagens dos pais.

No final da adolescência, a escolha do objecto sexual é finalizada. O encontro sexual entre sujeitos centra-se na genitalidade. A zona erógena ou fonte pulsional aqui é, finalmente, os órgãos genitais.

Estas fases dão uma noção de sequência. Os conflitos nestas fases criam pontos de fixação: passa-se para uma fase seguinte, mas ainda com conflitos por resolver da fase anterior. Mais tarde, pode-se dar uma regressão a esses pontos de fixação antigos, os pontos de fixação actualizam-se.

3.3. Três Ensaios da Teoria da Sexualidade (4º trabalho)

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Freud introduz um pensamento inovador ao alargar o conceito da sexualidade, separando-o do conceito da genitalidade, afirmando que esta existe quando a criança nasce e que é importante que se desenvolva naturalmente

*Meta psicologia – Ciência que estuda os processos inconscientes que vêm ao de cima através de algumas atitudes e áreas do comportamento (actos falhados, sonhos) ainda ocultas que podem revelar a mente humana – áreas da mente desconhecidas

*Cartas de Freud:

1. Cartas de natureza científica – partilha de descobertas e aspectos teóricos

2. Cartas de natureza histórica – viagens pessoais a Roma, Itália, Cecília, com ênfase cultural de compreensão dos fenómenos através da cultura da Antiguidade Clássica

Exemplo: Conhecimento acerca dos movimentos dos estudantes – domínio da cultura germânica contra os judeus

*A consciencialização do Mundo interno não implica a alienação ao mundo externo mas, pelo contrário, implica a sua interiorização

* Toda a teoria freudiana baseia-se num axioma fundamental: “é o conflito que rege o mundo”

*O que faz movimentar um indivíduo no sentido de mudança e acção é a existência de um conflito, que não permita a satisfação com a sua condição actual

*Conflito Interno – desconforto que faz mover uma pessoa numa procura de um movimento/mudança da situação actual, e que traga uma satisfação maior

*A preocupação e o sofrimento gerem esse mesmo conflito interno, e movem o mundo interno do sujeito

*Cultura Filosófica:

i. Hegel – visão optimista do conflito: o conflito gera a vida e um melhor caminho [este autor influencia Freud]

ii. Freud – visão pessimista do conflito: nunca existe uma resolução completa do conflito, mas apenas a adaptação e gestão de ideias que nos permitam viver com ele

iii. Mito de Édipo – serve para ilustrar esta teoria freudiana de adaptação ao conflito: o complexo de Édipo está sempre presente no ser humano ao longo da sua vida; nunca se resolve este conflito interno

*Em termos emocionais a divisão é a operação mais dura e difícil de se realizar: é como sentir que há sempre uma perda . No Complexo de Édipo esta divisão nunca é100% resolvida (antagonia amor/ódio), mas é resolvida apenas de modo satisfatório – consciencialização

Joseph Breuer descreve alguns tratamentos com a hipnose – ajuda no tratamento de Anna O através da associação livre de ideias (caso clínico partilhado com Freud)

Theodor Meynert, Professor e Neurofisiologista no Hospital Geral de Viena – realiza estudos acerca da emoção e a sua localização cerebral (Neuroanatomia)

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Freud experimentou cocaína nas décadas de 80/90 (séc XIX) – cria uma polémica no sentido do controlo à dor: Freud experimentou cocaína no sentido de experimentar uma nova forma de controlar a dor (demasiado arriscada)

Década 20 – tratamento com morfina ao cancro do maxilar leva Freud a um enfraquecimento brutal da sua dentição

Dr. Jean Martin Charcot, médecin français (Paris 1825-1893)

* Fondateur avec Guillaume Duchenne de la neurologie moderne et l'un des plus grands cliniciens français.

* Contacto com Charcot, médico parisiense que utilizava a hipnose para controlar o histerismo

* Trabalhou no Hospital da Salpêtrerie, em Paris, um hospital psiquiátrico para mulheres (histéricas)

*Enorme carisma de Charcot (que era quase um actor) – hipnotizava em contexto de aula, discutindo o sucedido com os alunos e aprendizes [demonstrções]

* Inicialmente Freud ficou fascinado com o carisma de Charcot e seus fenómenos no processo hipnótico – quase um encantamento geral

* “Charcot, que é um dos maiores médicos e cuja inteligência raia o génio, está pura e simplesmente em vias de arrasar as minhas concepções e os meus intentos. Acontece-me sair das aulas dele como se saísse de Notre-Dame, cheio de novas ideias…O que sei é que nenhum outro homem teve tanta influência sobre mim.” (Freud, 1885)

*A oposição e o isolamento de Freud:

“Mas, caro colega, como é possível que profira tais tolices! Histeron designa o útero. Como pode então um homem ser histérico?”

*O contacto com a hipnose permite-lhe focar dois aspectos fulcrais:

1. A importância da compreensão do mundo mental

2. Os cuidados éticos em lidar com o paciente

*Descobre o Processo de Sugestão: o poder que a influência da sugestão exerce na mente humana, ao ponto de praticamente controlá-la

*Hipnotismo – Freud questiona-se acerca da eficácia em termos de tratamento e funcionalidade da hipnose

*Restrição na Hipnose: não é possível hipnotizar quem não quer ser manipulado; o poder da sugestão apenas válido em quem colabora e aceita o mesmo

*O facto de muitas pessoas conseguirem deixar-se manipular mais facilmente ou não, tem a ver com o tipo de conceito de autoridade que possuem

* Freud renuncia, então, ao processo hipnótico e volta-se para o método de associação livre de ideias

16 Outubro 2006

°O contacto com Charcot leva Freud a ficar fascinado pelo mundo mental e o comportamento do ser humano

°O encontro com Fliess:

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“estou muito isolado, adormecido do ponto de vista científico, preguiçoso e resignado. Quando falava consigo e percebia que tinha tal opinião de mim, acabava por me tornar por qualquer coisa, e a imagem cheia de energia e convicção que me oferecia não deixava de actuar sobre mim”

O MÉTODO CATÁRTICO

°Método descoberto através do caso de Anna O

°O método de associação livre de ideias surge por sugestão da própria paciente, que pede licença para falar livremente, sem interrupções

° Leva ao pensamento de que, falando acerca de seu problema livremente chegariam ao ponto de partida do problema

°Há uma tentativa de compreender o discurso do paciente, mesmo que aparentemente sem nexo

° The Talking Cure:

- Freud nunca caiu na ingenuidade de que falar, o partilhar, seria somente o suficiente: alivia mas não clarifica o problema

- Onde estamos a actuar – a compreensão do fenómeno – e como transformar continuam a ser as 2 questões nucleares da investigação psicanalítica

* Freud não se preocupa apenas em actuar nos sintomas, anulando-os, mas sim em actuar no sujeito, transformando as suas construções mentais da realidade

* A etiologia sexual

° Trabalhos com Charcot, Fliess, Breuer e discussões na academia de ciências

° 1ºs mecanismos do funcionamento mental

°Método de associação de ideias

*Método de Associação de Ideias: Descobre depois, pelo método de associação de ideias, processo de sedução pelo pai da paciente assume contornos bem mais complexos: ela terá sim sentido o desejo, e por mecanismos inconscientes, onde a culpabilidade e outros assumem elementos centrais, acaba por ser capaz de internamente distorcer a realidade, e colocar o elemento sedutor na figura do seduzido.

* “Sonhar acordado” – muitas vezes o primeiro discurso do sujeito não elucida o que se passa no seu interior, sendo que este discurso se vai alterando ao longo do processo

* Existem mecanismos de natureza inconsciente que deturpam o que se passa realmente no interior do sujeito: algo que sente mas que provoca algum sentimento de

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culpabilidade. Há por vezes também uma transferência da acção para o outro, e consequentemente uma TRANSFORMAÇÃO DA PRÓPRIA REALIDADE

* Transferência do sujeito de sedução – Freud associa o método de associação livre de ideias à interpretação de sonhos, em que os mecanismos de defesa inconscientes se encontram menos alerta.

* Projecto de uma psicologia científica (1895): “Neste Projecto, procurámos fazer entrar a psicologia no âmbito das Ciências naturais, isto é, representar os processos psíquicos como estados quantitativamente determinados de partículas distinguíveis, a fim de os tornar evidentes e incontestáveis” (Freud, em carta a Fliess)

Objectivo: situar a Psicologia nas Ciências Naturais para poder ser experimentada de uma forma científica e determinista.

* Este projecto comporta duas ideias principais:

1. Aquilo que distingue a actividade do repouso é da ordem quantitativa. A quantidade (Q) encontra-se sujeita às leis gerais do movimento;

2. As partículas materiais em questão são os neurónios

* Projecto de uma psicologia científica (1895-1900) :

- O estado consciente,

- Funcionamento do aparelho psíquico,

- Primeiras noções do Ego,

- Processos primários e secundários,

- Sono e sonhos, e análise dos sonhos,

- Processos psíquicos normais.

* Processos Psíquicos Normais: Freud utiliza a Auto-Análise para descrever a continuidade entre o normal e o patológico (análise das suas próprias memorias, sonhos, etc. e ligação das mesmas aos seus processos inconscientes e atitudes)

* A morte do seu pai, a 23 de Outubro de 1896 teve extrema importância no percurso do processo de Auto-Análise em 1897. Quando o seu pai morre, Freud tem uma quebra no seu entusiasmo no trabalho, e perde a motivação. Através da Auto-Análise Freud consegue compreender aspectos mentais até então desconhecidos, por causa desse enorme impacto que a morte de seu pai teve nele.

Surge a ideia central de RECALCAMENTO

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* Existe uma fase precoce em que não existe uma consciencialização nem capacidade madura do ego para lidar com determinados aspectos e situações, havendo a necessidade de recalcar esses mesmos acontecimentos, para não provocar sofrimento

*Quando essa natureza impulsiva recalcada tenta opor-se ao consciente, através de processos racionais mentais mais elaborados, que tentam acalmar esses processos inconscientes recalcados e controlá-los conscientemente

* Se esses processos racionais ainda não estão totalmente maduros, surgem sintomas

Esquema inicialmente proposto por Freud para o recalcamento:

1) Um ou vários incidentes de ordem sexual traumatizantes e precoces têm de sofrer o recalcamento;

2) Esse incidente em certas condições posteriores é capaz de despertar a sua recordação e assim surge a formação de um sintoma primário;

3) Uma fase de defesa bem sucedida que, posta de parte a existência de um sintoma, equivale à saúde;

4) Uma fase durante a qual as representações recalcadas voltam a surgir. Na luta que travam contra o Ego, formam-se sintomas novos, os da doença propriamente dita, isto é, uma fase de compromisso, de fracasso ou de tratamento defeituoso

* Importância de conhecer e compreender os processos internos que surgem no terapeuta ao longo do próprio processo do paciente Necessidade de separar trabalho com a própria realidade interna do terapeuta

* Freud tenta entender o que se passa internamente e compreender a veracidade dos factos na descoberta psíquica, devendo distinguir a sua realidade interna da realidade descrita pelo sujeito.

*O percurso da Auto-Análise – “O paciente principal que me ocupa sou eu próprio… Esta análise é mais difícil do que qualquer outra e é também ela que paralisa o meu poder de expor e de comunicar as noções já adquiridas.

“Apesar de tudo, acho que tenho de a continuar, pois constitui no meu trabalho uma peça intermédia indispensável” (Freud, 1897).

*O terapeuta tem de distinguir o que é retratado pelo paciente como sendo a realidade interna (a realidade psíquica), e como sendo a realidade externa (a realidade factual) – OBJECTO DE TRABALHO do terapeuta

* A realidade interna (psíquica) não é estática: existe um enorme dinamismo interno

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* Sobre a questão da veracidade dos factos e da descoberta da realidade psíquica:

“Não existe no inconsciente qualquer indício de realidade, de tal forma que é impossível distinguir a verdade da ficção investida de afecto” coloca para sempre o acento na existência de uma outra ordem de realidade, a “realidade psíquica” interior do indivíduo onde se elabora uma verosimilhança dinâmica que terá valor de verdade.”

* A veracidade dos factos vai, assim depender da realidade psíquica de cada sujeito

* Em Outubro de 1897, comenta deslumbrado:

“A minha Auto-Análise é a coisa mais essencial que agora tenho e promete tornar-se do mais alto valor para mim caso vá até ao fim… Sermos completamente honestos connosco mesmos é um bom exercício.”

* Introdução do conceito de resistência : “A minha Auto-Análise está de novo parada, ou melhor, arrasta-se penosamente sem que eu compreenda alguma coisa do seu desenrolar”,

(Freud, 1897)

“A minha última ideia sobre a resistência ajuda-me cada vez mais nas minhas outras análises” (Freud, 1897)

*Durante a sua Auto-Análise, Freud passa por um período de solidão (1897 – 1908),

tentando compreender o impacto da morte do seu pai nele, e a sua falta de motivação para tudo.

*Durante os anos de solidão:

- Surgem as primeiras publicações;

- Abandona a hipnose;

- Surge a concepção do método de associação livre;

- Desmistifica a Neurose como sendo um conflito intra psíquico, e não resultado de magia ou feitiçaria, como era ideia dominante na altura. Freud tenta dar significado à desorganização e fragmentação do discurso de um neurótico – Concepção da Neurose como resultado de conflito inconsciente – A mudança da teoria da sedução para a teoria do conflito intra psíquico como a base da etiologia das neuroses

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*Os princípios do movimento psicanalítico ( 1908) O encontro de Salzburgo (1908)

o A viagem aos USA (1909) marca o fim da época de solidão de Freud, pois sente-se reconhecido no seu trabalho, e torna-se o mentor de diversos movimentos, ideias e teorias. Contacta com o caso do “homem dos ratos” (comportamento obcessivo-compulsivo). Depara-se com um conflito de natureza inconsciente que pode estar ligado aos comportamentos obcessivo-compulsivos (nomeadamente comportamentos sexuais), alargando a visão da Psicanálise. Formam-se várias associações a partir do encontro em Salzburgo, nomeadamente o IPA (Internacional Psychoanalysis Association)

o “Eles não sabem que lhes trazemos a peste” (1909) – Freud realça a complexidade da teoria psicanalítica nesta sua afirmação

“Esta breve estadia no Novo Mundo foi, de uma maneira geral, benéfica para o meu amor-próprio” (1910) – Esta estadia foi importante para a sua aceitação e reconhecimento, terminando os anos de solidão, e ajudando no desenvolvimento da teoria psicanalítica

* A partir dos anos 1908 até 1920/30, há um aumento exponencial do desenvolvimento e exploração da Psicanálise, assim como uma crescente implementação hospitalar do método. Cada vez mais a procura da Psicanálise é notada, sobretudo pelas classes mais abastadas monetariamente.

* Até 1930 o molde psicanalítico era diferente: com menos sessões mais intensivas. Era comum a viagem de terapeutas com os seus clientes, fazendo constantes análises de todos os acontecimentos e comportamentos. O uso do silêncio como método terapêutico era quase inexistente.

* Interpretação fantasma – prática comum devido à formação psicanalítica ser muito vaga e não muito rigorosa. Estas falsas interpretações têm graves consequências nos pacientes

*O movimento psicanalítico é de natureza cirúrgica – muito séria – e se não for levada com essa seriedade provoca consequências graves, e por vezes irreversíveis

* Para tentar atenuar os efeitos negativos que alguns movimentos psicanalíticos inexperientes estavam a ter na sociedade, formaram-se alguns comités (1912) para defender os ideais e teorias iniciais (a essência psicanalítica) e organizar componentes de natureza teórica e ética de modo a formar profissionais competentes em Psicanálise

*Movimento Psicanalítico

- Aumento exponencial de divulgação e implementação da Psicanálise;

- Procura crescente de pacientes;

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- E número igualmente crescente de psicanalistas, que colocou o problema da sua formação

-1910/11 Surge a Associação Internacional de Psicanálise: http://www.ipa.org.uk/

* Ernest Jones – impulsionador do comité de 1912; tenta organizar novamente as ideias originais de Freud acerca da Psicanálise enquanto movimento

* Karl Jung contactou com Freud, mas cortou com a Psicanálise a partir de 1913, recusando o sentido das Teorias Psicanalíticas e ideia do inconsciente colectivo, introduzindo as técnicas intensivas da Psicoterapia às técnicas Psicanalíticas Tradicionais de Freud.

* Ferenzi introduz terapias breves com a participação activa do psicoterapeuta, as quais são fortemente criticadas por Freud

* Karl Abraham é uma personalidade com importância histórica, pois dá formação a Melanie Klein, incentivando-a no trabalho com crianças

* Personalidade de destaque no comité: Ferenzi e Abraham, para além de Freud.

*A Psicanálise entre 1920 e a morte de Freud em 1939

• The ego and the Id, 1923

• Em 1926, apresentou uma teoria revista da ansiedade, que ele agora via como uma ameaça para o Self, em vez de ser uma manifestação de energia erótica ou “libido” em excesso.

• Um artigo breve mas muito influente sobre o fetichismo (1927), introduziu a ideia da clivagem do Ego, que se mantém central para a psicanálise contemporânea.

*A Psicanálise depois de Freud

Na Grã-Bretanha:

• Ernest Jones – aceitação de terapeutas psicanalíticos com formação diferente, para além da formação médica

• Melanie Klein - é aceite por Ernest Jones e chamada por ele para colaborar nos seus projectos, após ter trabalhado com crianças, juntamente com Abraham. Na década de 20 surgem algumas polémicas sobre Melanie Klein e Anna Freud, pelo facto de Klein ter um estilo de escrita mais rudimentar, dando uma noção de brutalidade errada, e até mesmo uma certa intrusão (pelo facto dela interpretar tudo). Anna Freud aplica as teorias de Freud de maneira diferente do mesmo, defendendo que não é possível haver uma transformação psíquica nas crianças. Klein contraria esta afirmação, dizendo que é possível essa mudança pois o ego ainda se encontra em transformação.

• Anna Freud

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* A Psicanálise exigia que o terapeuta fizesse um sério processo de Auto-Análise e fosse ele próprio submetido a um processo psicanalítico antes de exercer.

* Sociedade Britânica (1940) é dividida em 2 grupos: Kleinianos vs Freudianos. Surge posteriormente uma outra sociedade independente (fundada por Bowlby).

*Na década de 50/60 surge uma nova abordagem psicoterapeuta face às psicoses e fobias

* The midle group

*

Wilfred Bion; e Donald Winnicott

*Teoria muito complexa acerca da *Trabalho na relação mãe-criança nas

Mente humana: parte psicótica e primeiras fases (Pedopsiquiatria é a sua

Parte não-psicótica da mente formação original)

*Os doentes psicóticos têm a *Conseguiu resguardar a sua autonomia

Componente psicótica da mente mais ao longo da toda a sua carreira

Desenvolvida

*Propõe a transferência e contra-transferência

*Revoluciona a ideia de trabalho terapeuta

* Em França:

Jacques Lacan – década de 30-50. Com formação filosófica diferenciada, que lhe permite uma capacidade de propostas enorme acerca da Teoria Psicanalítica – através de uma Racionalidade Elaborada

• Contemporâneos:

– Pontalis e Laplanche

– André Green

– Joyce McDougall

– Janine Chasseguet-Smirgue

* Escola Lacaniana: alguns movimentos extremistas que foram expulsos da sociedade psicanalítica – destacam-se em alguns aspectos, como no estudo da capacidade simbólica da linguagem

* A Psicanálise nas Américas:

1. Psicologia do Self com Kohut – Narcisismo

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2. O desenvolvimento de abordagens terapêuticas com Otto Kernberg – Patologia Borderline

3. Os trabalhos de Erikson – Teorias

4. Importantes escolas na América Latina

5. Maior força da Psicanálise em cidades como New York e Chicago

6. Movimento com expansão muito grande

7. Poder económico permite o desenvolvimento do movimento

CIENTIFICIDADE DA PSICANÁLISE:

Estatuto epistemológico do saber dos processos inconscientes

1800 – 1900

Aquilo que era considerado científico era muito diferente do objecto de estudo da Psicanálise: a mente humana e os seus processos internos.

A realidade psíquica era um meio extremamente difícil de estudar através de métodos científicos, porém Freud ambicionou que a Psicanálise fosse colocada dentro das Ciências Naturais. Isto provocou grandes críticas: como é que a subjectividade poderia ser influída dentro dos métodos experimentais científicos?

Até hoje consideram as Ciências Sociais humanas como Ciência [Economia, Geografia, etc.]

* Freud desenvolveu a Metapsicologia, cujos pressupostos conseguissem fundamentar o objecto de estudo da Psicanálise

*Questões levantadas: neutralidade do terapeuta/observador – quase impossível de se manter.

* Apenas pelo facto de observarmos, estamos já a agir sobre o meio. Não existe uma imparcialidade total, pois mesmo que o observador não seja activo no grupo observado, este é afectado pelo simples facto de estar a ser observado por alguém.

* A imparcialidade do acto de observar é falsa – há sempre ideias (mesmo que inconscientes) que influenciam a maneira como observamos e relatamos o fenómeno observado

Exemplo: 2 jornalistas independentes, com diferentes backgrounds, observam e relatam o mesmo fenómeno de maneira muito diferente

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* Existem factores de natureza inconsciente que influenciam muito a relação terapeuta-paciente e influenciam a maneira como entendemos e observamos o que o paciente diz

* Se existe uma dificuldade tão grande em observar objectivamente o que é objectivo, observar objectivamente o que é subjectivo (inconsciente), era praticamente impossível ou se fosse possível teria de ter uma metodologia muito rigorosa. Freud recorre ao método de interpretação dos sonhos.

* Ideia de tematizar o mundo mental – aplicando diferentes metodologias às diferentes realidades do mundo mental

* Freud desenvolve através do método da Metapsicologia a ideia de que o pensamento é incompleto

* À medida que se descobrem algumas áreas, descobrem-se uma infinidade de aspectos por descobrir

* Teorias da física: descobre-se que haviam sempre factores da realidade que interferiam com as descobertas feitas

Exemplo: movimento de corpos, influência do vento, etc.

*No mundo mental o número de factores externos que influenciam o seu desenvolvimento e actividade e que não são controlados Metodologia de trabalho que permita articular esses factores. Há um corte na Ciência, afirmando-se que não há verdade absoluta

A metapsicologia. Primeira e segunda tópica.

*METAPSICOLOGIA – modelo dos modelos da mente: tentativas de construir um modelo que se enquadre numa concepção muito abrangente

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*Não trabalha nos contextos muito específicos (como anteriormente o fazia com o histerismo), mas um modelo que encaixe todas as particularidades lógicas de um modelo abrangente

* Interacção dos modelos para compreensão geral do que se passa no mundo mental encaixar de modo rigoroso a Teoria na Realidade

* Freud procura conceber um modelo geral mental que descreva as particularidades individuais dessa realidade subjectiva – modelo conceptual

*Cria uma metodologia, não de natureza experimental, para provar as suas descobertas de maneira científica.

* As ciências sociais humanas têm instrumentos de estudo/investigação muito menos rigorosos do que as ciências naturais (variância)

Exemplo: métodos de engenharia muito mais rigorosos do que os métodos da sociologia

* As Ciências Sociais Humanas foram tidas como insignificantes durante muito tempo, por exemplo, a Economia, Geografia, Demografia, Psicologia Social, são consideradas fundamentais hoje em dia, mas foram ignoradas durante muito tempo

*Maior crítica da Psicanálise – será possível a um ser humano estudar com rigor outro ser humano? Enorme complexidade do estudo do mundo psíquico

*Diferenciação: onde colocar a Psicanálise: nas Ciências Sociais ou nas Ciências humanas? Como é impossível separar as duas, é impossível diferenciá-las

* "Em vez do determinismo, a imprevisibilidade; em vez do mecanicismo, a inter penetração, a espontaneidade e a auto-organização; em vez da reversibilidade, a irreversibilidade e a evolução; em vez da ordem, a desordem; em vez da necessidade, a criatividade e o acidente" (Santos, B.S., 1987)

* A Ciência estuda as diferentes áreas da Realidade, mas o que diferencia o campo da Ciência é a sua realidade teórica e não o objecto de estudo.

* A partir do séc. XX o trabalho dos Psicanalistas era alargar o seu campo de estudo na sociedade

* Imprevisibilidade => no campo clínico, o trabalho estagnado de determinar os sintomas é muito limitado. Existem diferentes realidades e interpretações.

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* Irreversibilidade e evolução – as pessoas desenvolvem as patologias de modo muito particular, e essa patologia nunca consegue voltar ao ponto inicial o sujeito está em constante mudança devido às experiências que constantemente vivemos

* Alteração da maneira como vemos a realidade – realidade psíquica altera-se e também a construção da relação com o outro

*O que encontramos na Psicanálise não tem uma ordem estanque, mas tal como o acidente, está ligada à imprevisibilidade e criatividade para arranjar respostas adequadas e criativamente novas.

* Acrescentávamos em dez da procura de “qual o agente ou o fim”, a procura de “como funciona”

*O que motiva Freud é a tentativa de entender a lógica de funcionamento e organização do mundo mental – preocupação com a veracidade e rigor

*Na Psicopatologia do desenvolvimento: em vez da procura do “fatalismo traumático” com Freud na 1ª tópica, a procura das “emoções” e os “vínculos relacionais” com a Psicanálise pós-Kleiniana.

*O fatalismo traumático não funciona porque um acontecimento pode ter diferentes impactos em diferentes pessoas, consoante as emoções de cada um e vínculos relacionais (o que é que esses acontecimentos lhes relembram)

* Para novos objectos: o que influencia a Psicanálise é a necessidade de construir novos códigos de leitura, novos conceitos e novas relações entre conceitos grau de abstracção razoável

*Necessidade de Freud encontrar um código de leitura e conceitos diferentes e específicos. Organização de um MODELO CONCEPTUAL que justificasse todos os novos conceitos

* Psicanálise – a ciência do Inconsciente

* As diferenças nas ciências provêm delas e não da realidade estudada.

*Diferem a 4 níveis:

- Interrogações a que sujeitam a realidade;

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- Problemáticas teóricas que elaboram acerca da realidade

- Objectos teóricos que constroem com base nas problemáticas teóricas

- Nos códigos de leitura que utilizam para decifrar o real

* Ter em conta que a cada ciência dá uma visão parcial e incompleta da realidade

* A preocupação da psicanálise é entender o que se passa dentro da mente humana (o que se passa no mundo mental – quais os processos inconscientes). Não é entender completamente e objectivamente a realidade interna.

* Procurar alcançar sistemas de conhecimentos que permitissem:

- Explicar na globalidade o que se passa numa realidade factual

- Conhecimento que possa ser transmissível – inscrever a psicanálise nas ciências naturais

- Possível aquisição de conhecimentos

- Que estes se articulem entre si de forma sistemática ou coerente

- Que se possa realizar deduções de um princípio de organização dos conhecimentos e dos enunciados

- Que seja transmissível, i.e., que se possa inscrever num certo código universal e inteligível.

Psicanálise – ciência do inconsciente

Realidade incontrolável, não-palpável, que não é possível estudar de forma científica

* Freud desenvolve uma metodologia de natureza clínica (muito cara para a psicanálise) => análise e compreensão de todos os fenómenos no sujeito

* Apresenta

- 1º Conceitos fundamentais (pulsão, libido, etc.)

- 2º Ordenados e inseridos em conjuntos, mas com tolerância à determinação relativa dos conceitos

- 3º Permitia a oposição a dogmas (o risco de ter uma visão pré-determinada do mundo) Método da Associação Livre

* Freud apresenta uma lógica científica de pôr à prova as suas próprias teorias – tentativa de despistar dogmas

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A Psicanálise apresenta realmente uma aquisição de conhecimentos, articuláveis e em coerência, fundamentando enunciados transmissíveis por meio de uma linguagem produtora da sua própria universalidade, e mais apropriada à singularidade do seu “objecto de estudo”.

Linguagem própria da psicanálise – conceitos próprios e diferentes dos conhecidos pelo senso comum

Exemplo: o conceito de luto interno (quando acontece alguma mudança brusca, há sempre uma perda interna, que exige um luto interno do que se perdeu) difere do conceito de luto normal; sexualidade ≠ Genitalidade

*Ciência e verdade inconsciente

- A ciência como prova do “novo” – rompe com uma série de preconceitos e demonstra realidades “invisíveis” que têm um enorme impacto em nós

- A “ciência psicanalítica” ou o “efeito de saber” do retorno do recalcado – muito do trabalho analítico é um trabalho de reconstrução e regressar a memórias passadas

- Resistência como sinal patognomónico do efeito da ciência – factores de natureza inconsciente de oposição às descobertas psicanalíticas

PROPRIEDADES DOS PROCESSOS INCONSCIENTES:

Inconsciente

1. Não é palpável – “a coisa em si” – é algo pressuposto e indefinível

2. Reservatório do conteúdo latente com dimensão abstracta – “o reservatório do significado latente”

3. Misterioso e difícil de ser diferenciado (é difícil diferenciar o consciente do inconsciente) – “a ideia associada do mistério” – ligado à manipulação

4. Diferenciação entre inconsciente passado e inconsciente presente na realidade virtual (que não é palpável mas que existe = realidade interna) – memórias e vivências de natureza inconsciente passadas estão relacionadas com memórias e vivências inconscientes presentes. A construção inconsciente do sujeito no presente através de memórias e vivências inconscientes do passado tem um enorme peso. A representação mental das memórias inconscientes é trabalhada pela psicanálise, não interferindo no facto em si mas nas memórias passadas que afectam o sujeito no presente.

Conteúdos inconscientes

São tão destabilizadores e vêm à memória de forma tão rigidificada (apenas 1 aspecto negativo é recordado repetidas vezes).

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Existe uma repetição constante da representação mental negativa, numa tentativa de expelir ou transformar essa mesma representação errada.

*Modelo conceptual do inconsciente: Modelo do inconsciente passado e presente

*Definição de algumas propriedades do inconsciente (consciencialização do inconsciente) quando tentamos definir o inconsciente dá-se uma consciencialização do mesmo, logo, há uma transformação da sua verdadeira natureza inconsciente;

PORTANTO, as suas propriedades não podem ser verbalizadas

* Apenas nos doentes mentais (psicóticos) e nas crianças e bebés é possível observar o inconsciente, pois este ainda não se encontra totalmente racionalizado por elas.

A pulsão. Primeira e segunda teoria das pulsões.

O narcisismo. A angústia e os mecanismos de defesa.

1. Ausência de contradição

Uma mesma coisa pode ser 2 coisas contraditórias: os bebés tanto querem muito algum objecto, como o deitam fora. Outro exemplo, na patologia Borderline durante a adolescência, querem o que não têm, ou seja, há uma natureza emocional paradoxal.

O sujeito nega e deseja simultaneamente no seu inconsciente (2 coisas contraditórias coexistem mas não são consciencializadas):

A+B=C => verdade

A+B≠C => verdade

2. Sem dimensão de sequência temporal Atemporal

Quando algo existe no inconsciente, existe apenas. Não existe nem mais cedo nem mais tarde, existe simplesmente. Aquilo que pensamos estar resolvido conscientemente, mesmo que tenha acontecido na infância ou até antes, pode fazer-se sentir de maneira

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diferente e exprimir-se de maneira diferente também, a nível do inconsciente. Não há diferenciação de acontecimentos mais ou menos antigos/recentes.

Por exemplo, tanto podemos sonhar com algo que nos perturbou há 10 anos, e ao mesmo tempo com algo que nos aconteceu ontem ou durante esse mesmo dia. Todas as vivências e memórias inconsciente surgem de maneira aleatória, e atemporal.

3. Pulsão – dimensão das partes mais primárias do ser humano (influência do aspecto mais “animal” do ser humano)

Está associado ao Princípio do Prazer – pulsões de natureza animal, que têm de ser satisfeitas.

Condiciona alguns comportamentos, no sentido em que estes são todos dirigidos para a satisfação desses mesmos desejos de natureza animal. Condiciona igualmente a pressão do consciente em reprimir essas mesmas pulsões.

4. Realidade Interna vs Realidade Externa

São diferentes modelos de conceptualização mental e organização interna da realidade externa.

Possui duas dimensões:

- Realidade Externa – cognoscível e que permite a descrição

- Realidade Interna – vivências emocionais sentidas sem capacidade conceptual de descrição

Até mesmo antes de nascermos existe uma representação mental das vivências. São fantasias de natureza inconsciente, associadas à realidade externa, isto é, a maneira como percepcionamos a realidade externa está condicionada com as fantasias de natureza inconsciente, que por vezes são organizadas pela realidade externa.

Exemplo 1: As ecografias antigamente não eram quase existentes – as fantasias inconscientes acerca de como seria o bebé eram chocadas pela imagem muito distorcida da ecografia, provocando uma enorme perturbação e ansiedade na mãe.

Exemplo 2: A ginástica para grávidas causava um maior nível de ansiedade, pois, durante a mesma havia uma partilha de experiências de outras mulheres acerca do parto delas. Essa troca provocava maior ansiedade pois era trabalhada inconscientemente pelas grávidas que nunca tinham tido filhos antes.

Um mesmo acontecimento pode ter diferentes efeitos nos diferentes indivíduos – as fantasias inconscientes, afectadas pelas vivências e memórias anteriores inconscientes eram organizadas através da realidade consciente e influenciam o modo como o sujeito vê e vivencia a realidade

Inconsciente:

1. Definição

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2. Origens

3. Expressão – como pode ser avaliada?

Há uma separação no plano teórico do consciente e inconsciente

Modelo do aparelho mental com semelhante funcionamento do modelo biológico humano [os modelos usados pelos médicos, como o modelo do cérebro, não são iguais à realidade, mas sofrem sempre algumas alterações, devido à sua conceptualização].

Inconsciente – Análise [vias de acesso ao Inconsciente]

* Freud dizia que o sonho é a via facilitadora do inconsciente, pois durante este os processos conscientes são reduzidos e os mecanismos de defesa encontram-se inactivos, permitindo uma maior liberdade de expressão do inconsciente.

*Muitas vezes os sonhos representam aspectos da infância misturados com aspectos recentes. Durante o sono o princípio contraditório não existe, pois num segundo estamos num local, e no momento seguinte estamos noutro totalmente oposto.

* Lapsos – alguns aspectos inconscientes levam a alguns comportamentos de natureza inconsciente modificadas. Através da análise de actos falhados, palavras trocadas, lapsos, podemos compreender alguns aspectos do inconsciente trazidos à superfície do consciente.

*Os sonhos e lapsos são o meio de comunicação entre o consciente e inconsciente

* Processos Primários – processos de natureza primária activados pela pulsão que levam a que o inconsciente se manifeste no consciente, através de sonhos, lapsos, actos falhados, etc.

É uma passagem do mundo inconsciente para o mundo consciente, porém, muito limitada, pois pode apenas ser uma expressão de natureza corporal, ou física/biológica. Por exemplo, a pessoa sente-se ansiosa, mas não sabe porquê. Apenas descobrem a origem do sintoma mais tarde, se explorarem essa sensação.

* Processos Secundários – mecanismo contrário, em que leva ao inconsciente situações conscientes que causam demasiada dor e sofrimento ao indivíduo.

*Há um dinamismo entre o mundo consciente e o inconsciente com a função analítica de reduzir ao máximo o sofrimento humano [pressuposto este inerente ao mesmo].

* Para poder ter um desejo, é necessário faltar algo, ou seja, se me falta alguma coisa que me seja essencial ou querida, eu sofro.

*O objectivo do trabalho analítico não é a cura mas a redução do sofrimento e desenvolvimento do indivíduo.

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* A função analítica tem de ser pessoal: é diferente de terapeuta para terapeuta, de pessoa para pessoa

*O inconsciente está ligado à pulsão e consequentemente ligado ao Princípio do Prazer: sensação que o sujeito tem na satisfação da pulsão (pode ser imediato ou não, mais ou menos elaborado)

Princípio do Prazer Princípio da Realidade

Id Super Ego

Pulsões

* Entidades do Aparelho Mental, em constante dinamismo:

*Id

*Ego

*Super Ego

* Super Ego – Trabalho de censura e delimitação da realidade, mostrando o que se pode ou não fazer. É uma estrutura capaz de cooperar com a frustração da realidade face aos seus desejos e pulsões (Id).

Inconsciente Consciente

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Princípio do Prazer Princípio da Realidade

Id Super Ego

*Na estrutura do Super Ego tem que existir uma capacidade de delimitação e modelação da Realidade. Este é o papel do Ego.

* Ego Função da Realidade: organizador da estrutura do Super Ego, pela interiorização da realidade, dos seus princípios (o que se pode ou não fazer)

3 Dimensões do Modelo Mental:

1. Dimensão Económica – fenómenos de natureza energética, como uma descarga energética: de onde é que parte o sofrimento e como se organiza?

2. Dimensão Tópica – conflitos suscitados pelo ego, super ego e id: que estrutura é a causadora do sintoma?

3. Dimensão Dinâmica – dinamismo dos processos inconscientes numa tentativa de organização das suas funções

Escolas Psicanalíticas

1 - Freudiana

2 - Teoria das relações objectais

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3 - Psicologia do Ego

4 - Psicologia do self

5 - Escola francesa

6 - Winnicott

7 – Bion

Definições da Metapsicologia

1. “Psicologia do inconsciente” (1904)

2. “Uma apresentação que, a par do factor tópico e do factor dinâmico procure ainda analisar o factor económico, seria o que de mais completo podemos apresentar actualmente, e mereceria ser distinguida com o nome de apresentação metapsicológica” (1920)

3. “Sem uma especulação e uma teorização – dirias quase uma fantasmização – metapsicológicas, não se avança um passo daqui” (1937)

*Metapsicologia – superstrutura teórica, que designa o tipo de “racionalidade” – alternativa à psicologia e à metafísica – que visa identificar as hipóteses teóricas de uma “psicologia do inconsciente” por meio de uma representação do aparelho psíquico, sustentado por uma concepção dos processos psíquicos – com base nas coordenadas tópicas, económicas e dinâmicas – dotando assim o material clínico de um modo de conhecimento ad hoc, satisfazendo a dimensão “especulativa” exigida pelo “enigma do inconsciente”. (A. Mijolla, 1999, p. 267)

Metapsicologia

*O Inconsciente (conceptualizações e propriedades)

*Dinamismo mental: inconsciente e consciente

*O princípio do prazer

*O processo primário e secundário

*Cura e Desenvolvimento

* Pulsão

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* Pulsão e conflito

* Pulsão de Morte

As coordenadas metapsicológicas e sua evolução conceptual

A dimensão tópica

A dimensão económica

A dimensão dinâmica

Os princípios explicativos do mundo mental:

O modelo do afecto “trauma”

O modelo topográfico

O modelo estrutural

Metapsicologia

Conflito e os processos de recalcamento e a censura

O conceito de libido

Pulsões parciais, objectos parciais e libido

Metapsicologia

Desenvolvimento Psicossexual

Fixação

Regressão

O que faz que surjam conflitos intra psíquicos [sintomatologia] de natureza inconsciente?

Como se concebem os processos de censura/recalcamento?

1. CONFLITO

O conflito está ligado a 2 factores:

- Oposição à pulsão

- Estruturas egóicas e/ou superegóicas

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*O conflito tem origem na capacidade da expressão das estruturas funcionais ligado ao pensamento e aos processos primários, que estão por sua vez relacionados com o Princípio do Prazer e Id. Por oposição as estruturas de natureza interna ligados ao pensamento nos seus processos secundários, de natureza inconsciente, estão ligados ao Princípio da Realidade.

* Expressão do conflito inconsciente: leva a estados de ansiedade pelo facto de contermos pensamentos de natureza funcional => “Natureza Polimorfa”

Exemplo: A criança não tem natureza superegóica e egóica ainda bem definidas, logo o conflito é quase inexistente e assim é-nos possível entender esta situação. Quando se dá uma pulsão de natureza automática de levar um objecto à boca, põe-lo, pois ainda não existe nenhuma estrutura que o impeça de pôr esse objecto à boca. À medida que a criança cresce e o ego fica mais maduro, o desvio da actividade pulsional vai sendo intensificada – ela não põe tanto os objectos à boca – pulsões parcialmente satisfeitas.

*Nas relações sociais conseguimos saber se alguém do grupo está interessado noutro, pelas atitudes, etc., que nos levam a compreender antes do próprio sujeito que ele está apaixonado.

Actividades pulsionais que não são percepcionadas pelo sujeito de maneira consciente leva a que o sujeito negue esses sentimentos

Desvio de natureza inconsciente, que traz um estado de ansiedade/tensão inexplicáveis

Vs

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*Não comemos um brigadeiro porque não queremos engordar

Há um desvio de natureza consciente do comportamento pulsional para um comportamento racional (em vez de comermos o brigadeiro comemos um iogurte) verbalização do conflito com ansiedade e tensão, porém de natureza consciente

3 Maneiras de encontrar a origem da ansiedade:

1. Análise dos conflitos inconscientes – desvios

2. Actividade do sonho – é no sonho que se encontram os processos de natureza primária inconscientes

3. Processos de natureza transferencial

Discurso informativo – o que lhe chega ao consciente

[comunicação dialógica]

2 Tipos de discurso

Discurso da relação – forma natural de estar na relação com o outro [organização da mesma]

É a expressão da maneira como o sujeito organiza a relação de natureza inconsciente comunicação interactiva (com significação)

* A forma como o sujeito fala com o terapeuta, mesmo antes da consulta, leva-nos a formar a ideia (mesmo que inconsciente) acerca da mesma. A forma como organiza o discurso, expressões usadas.

*Depois a sua linguagem corporal também mostra muito acerca do indivíduo – e a maneira como se introduz, como entra na sala de consulta, etc. – primeiro contacto físico.

* Exemplo: um indivíduo que chega a uma consulta, e quando o psicólogo a chama, continua a ler a revista e apenas diz “Já? Que chatice!” e continua a brincar até entrar na sala. Também não sabe o que está lá a fazer, porque foi a irmã que lhe disse que precisava de ir ao psicólogo.

*Conflito inconsciente – resultado de 2 ou mais estruturas inerentes que condicionam essa actividade pulsional

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Exemplo: pulsão de natureza egóica – o que nos controla pode ser um juízo crítico de natureza egóica (o que se deve ou não fazer naquela situação – adequação ou não da actividade pulsional), ou a ameaça da actividade do super ego (isto não é certo – se fazes isso, és castigado – sentimento de culpa) e também do factor da realidade (se formos apanhados, corre mal) conflito de natureza inconsciente pode ser mais ou menos percepcionado, segundo o indivíduo, e manifestação desse conflito inconsciente através da angústia e estado de tensão não justificada, somatizações – diferenciação ténue entre o soma e a psique – doenças psicossomáticas de natureza inconsciente, normalmente associados a angústias e problemas de separação, sendo que a actividade somática é alterada em situação de tensão (o coração acelera, sudação, etc.).

* A actividade somática é alterada em situações de tensão. Esta também se modifica face a estruturas superegóicas – de auto-avaliação – quando fazem algo que sentem que é errado, suam muito e o coração acelera, ou quando há um contacto com o professor, numa oral, também ficamos nervosos (tem a ver com o contacto com a autoridade). Por exemplo, corar é uma actividade e expressão de natureza inconsciente com estruturas intra-psiquicas.

*Manifestações do conflito inconsciente:

** Angústia – estado de tensão não justificado

** Somatizações – diferenciação ténue entre soma e psique

** Actuação – impossibilidade de conter uma actividade/pensamento, por exemplo, “tenho de estar quieta, mas não consigo parar de mexer”, que perante a tensão interna (expressão de um conflito inconsciente), agem sem pensar

** Pensamentos de natureza obcessivo-compulsiva, de natureza inconsciente, não entendem qual é a origem desta actividade de natureza funcional de auto-controlo. Por exemplo, alguém tem tantas regras para começar a estudar, que passa mais tempo a organizar as coisas do que a estudar.

*O surgimento do sintoma é uma espécie de compromisso da actividade pulsional (que nos leva a satisfazer uma determinada vontade) e a actividade do superego ou ego.

* Pulsão Objecto que preencha totalmente a satisfação

A pulsão procura um objecto que preencha totalmente a satisfação desse mesmo desejo inconsciente. O ego e superego desviam o objecto de pulsão, satisfazendo apenas parcialmente a pulsão.

2. CENSURA – desvio da actividade pulsional para outro objecto

Pulsão total Objecto total

Vs

Ego/Superego = Conflito

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Pulsão parcial Objecto parcial => Desvio da Pulsão

* Exemplo 1: cegueira estética – pulsão de olhar para algo que tem uma forma de natureza repressora (superego) inconscientemente há um “corte” sobre a sua percepção (a dor provocada pela visão dessa percepção leva a reprimir esse sentido. Funcionamento semelhante a nível psicológico.

* Exemplo 2: quando temos um acidente grave – automaticamente o corpo faz alterações na sua actividade que leve a uma “anestesia” momentânea

*Censura internamente para haver sintoma, essa noção de compromisso está ligada ao procedimento por parte de qualquer estrutura de cortar alguns aspectos das actividades de natureza pulsional e deformam-na

Exemplo: um colega que tem namorada e interessa-se noutra rapariga, todos entendem a situação, mas ele próprio nega-a. A censura leva-o a dizer que só falou com ela por causa do curso.

*Censura:

- Como acontecimento em si, ou seja, enquanto acção

Exemplo: documento censurado

- Como processo, ou seja, enquanto estrutura que desencadeia a acção

Exemplo: PIDE que censura o documento

*Nós mesmos temos elementos de censura interna que regulam a nossa actividade inconsciente

3. PROCESSO DE RECALCAMENTO

Recalcamento: quando um conflito é afastado da consciência e mantido aí

Dinamismo criado pode resultar em 2 situações:

- Conflito ainda maior – vontade de sair para fora o que está reprimido

-Equilíbrio entre o afastamento e manutenção dessa distância da consciência – afastando o sentimento de ansiedade; há um afastamento do conflito em si e da sintomatologia a ele associado

*O trabalho analítico pressupõe um certo tipo de ansiedade e desorganização do inconsciente de modo a reorganizar novamente o que está no inconsciente de acordo com o próprio indivíduo

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As fases do desenvolvimento libidinal. O complexo de Édipo.

4. LÍBIDO

O conceito de libido começa por ser muito fisicista, mas vai evoluindo para uma energia mental – é uma pulsão/energia pulsional que leva à satisfação desse mesmo desejo através da energia produzida pela libido

É um factor energético que implica que o sujeito invista emocionalmente num objecto, por exemplo, quando um sujeito se apaixona, investe muita atenção e energia no objecto de paixão.

Não tem apenas um carácter genitalizado, mas é também o investimento do sujeito numa determinada actividade/tarefa. É uma energia mental que leva o indivíduo a disponibilizar-se a realizar uma determinada tarefa. Pode ter também uma componente sexual, mas não é apenas dessa natureza.

Energia libidal – investimento libidal em objectos parciais significa que o sujeito tem alguma tolerância à frustração.

5. DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL DO MUNDO MENTAL

Estádios: Oral, Anal, Fálico, Genital Ligados a significados psíquicos atribuídos ao objecto e desenvolvem-se ao longo do tempo (não estão fechadas a idades)

O desenvolvimento psicossexual difere do desenvolvimento sexual no sentido em que não tem uma sequência temporal rígida

II. Fase Anal

*Desvio do controlo do uso de uma zona anal (ânus) e para a função anal que ela remete o sujeito passa a ter um sentimento maior de auto-controlo que surge mais tarde com a linguagem (“eu falo porque quero, quando quero e o que quero”)

* Função atribuída ao ânus de maior ou menor domínio da actividade activa ou passiva de descarga ou retenção das fezes actividade consciente de auto-controlo

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* Independentemente do timing do auto-controlo, tem uma actividade mental consciente: “eu faço cocó quando quero”, e não depende de ninguém para controlar as suas fezes ou não Função mental de auto-domínio e auto-controlo (controlo de uma pulsão de natureza interna

*Mais tarde surge a capacidade de auto-controlo em diversas situações da vida (por exemplo, quando nos apetece chorar mas controlamo-nos)

* Pulsão parcial de domínio próprio e capacidade de querer ou não dominar algo fora de si

*Nesta fase há uma aprendizagem da capacidade de reter ou expelir questões de natureza interna – o que quero ou não mostrar, ou o que quero ou não reter para mim – aprendendo também a partilhar ou guardar sentimentos, ideias, emoções (de natureza inconscientes)

Exemplo: guardar um segredo ou contá-lo a alguém

*Há pessoas que não têm a capacidade de retenção (não conseguem guardar um segredo para elas ou reter algum acontecimento que os marcou) pouco domínio do mecanismo de auto-controlo

*Os nossos pais também não têm essa capacidade de conter as suas preocupações, partilhando connosco as suas preocupações.

* Esta capacidade adquirida é fundamental para a prática clínica

*Demasiado controlo anal: capacidade que o sujeito tem de sentir que se pode aproximar de outro, aprender de outro, sem sentir que vai fazer parte do outro, e que este o vai dominar. Dificuldade em partilhar aspectos da sua vida, em deixar sair alguma informação, porque tem medo que o objecto com quem partilha o domine totalmente. Dificuldade em interiorizar pequenas partes do objecto sem ser o todo e dificuldade em decompor o todo em partes e distingui-las.

Exemplo: um indivíduo que tenha tido um pai bêbedo que lhe batia demasiado rígida e negativa, que não consegue ver as partes positivas do pai e não um todo negativo

* Preeminência desta necessidade de controlar e ser controlado nas ideias Sadomasoquistas.

III. Fase Fálica

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Ideia de aquisição de um poder de uma autoridade à qual está associada a competência de poder competir com a autoridade paterna a ideia de controlo do próprio sujeito choca com a ideia de autoridade já existente.

* Ideia de natureza fálica do funcionamento mental tem associadas as angústias de castração e retaliação

Na fase fálica há ansiedades ligadas à retaliação, a sofrer as consequências.

*Representação fálica (falo) de poder de uma autoridade que leva a um sentimento de ansiedade. A ideia de falo está ligada à ideia de totem que tinha poder (um objecto centralizando poder em si mesmo).

*Medo de retaliação por deter algum poder, mas saber que há alguém que pode “cortar” esse poder.

*Consciencialização de que o sujeito tem o poder de controlar as suas acções, mas apercebe-se que existe uma autoridade que controla esse poder de auto-controlo (da figura parental). Surge então uma angústia de retaliação: “se fizer algo errado, sofro consequências”

IV. Fase Genital

*Capacidade de sentir e usar o órgão genital remetendo à ideia de diferenciação entre eu/outro.

*Capacidade de relacionar-se com objectos totais, tendo inerente a ideia de parcialidade de pulsões

*O sujeito reúne-se como um TODO (auto-conceptualização) e consegue organizar o outro como um TODO (conjunto de vários aspectos).

Exemplo: perversão – incapacidade do sujeito reconhecer o objecto na sua totalidade. Fixação de um determinado tipo de natureza mental que pode ter várias expressões comportamentais. O sujeito tem dificuldade em funcionar sem ser num determinado registo.

Na fixação por sapatos, o sujeito fica fixado no objecto (sapatos) e esquece-se da pessoa que usa esses sapatos (o todo).

* É muito mais fácil estabelecer uma relação com o objecto parcial do que com o objecto total, porque assim não fica tão exposto ao sofrimento nem tão dependente do objecto total não há um envolvimento tão grande, logo, não há um sofrimento tão grande

Exemplo: pessoas que não conseguem construir uma relação com alguém, não mudando muito, não conseguimos tolerar o sofrimento que se vai organizando dentro de si.

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* Todas estas fases são funções potenciais dentro de nós que podem sobressair em determinadas fases da nossa vida – salientar determinado tipo de funcionamento mental, dependendo da situação

Desenvolvimento psicossocial:

Exemplo de relacionamentos de natureza anal: sadomasoquistas: controlo e sou controlado, baseado na oralidade e na necessidade de saber que o outro está lá.

Relacionamento de natureza genital: capacidade de afirmação enquanto indivíduo total no seu relacionamento com um outro também com vida própria e com a sua individualidade Medo e incapacidade de deixar o outro ter a sua intimidade/individualidade (o que é que sonha, pensa, etc.).

Conceitos de fixação e regressão no mundo mental

*Regressão – retorno em sentido inverso desde um ponto que já foi atingido até à sua origem (de nível inferior).

Não se pode pensar que uma vez na fase anal, já não se pode regressar à fase oral. A regressão é a expressão do ponto de vista da complexidade, estruturação e diferenciação.

*Regressão passagem de uma fase mais complexa do desenvolvimento mental a um estado mais primitivo da estrutura mental.

*Movimento regressivo em termos desenvolvimentais para um estado inferior, num ciclo que se vai repetindo ao longo do tempo.

Exemplo: uma menina salta para o colo do pai com 5 anos ≠ uma adolescente com 17 anos que salta para o colo do pai há uma regressão; uma forma infantilizada de lidar com o desejo de ter o pai.

* A regressão é uma capacidade do ego de canalizar pulsões que não são contextualizadas nem apropriadas.

*Regressão: “Estás a ser infantil”, é o que ouvimos quando lidamos com a realidade como o fazíamos na infância, por exemplo, quando choramos face a um problema.

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* Fixação – a libido liga-se fortemente a estímulos (objectos/pessoas) que satisfaçam o seu desejo.

*Regressar à maneira como lidávamos com determinada situação numa fase anterior do desenvolvimento e permanecer com essa resolução porque ela permite que haja uma satisfação da pulsão.

*O problema não está na regressão, mas na fixação (apenas consegue funcionar num tipo de funcionamento mental rigidificação e compulsão à repetição, sem procura de novas formas de resolver a situação) – dá origem a patologias do foro psiquiátrico.

ORIGENS E DESENVOLVIMENTO DO MUNDO MENTAL

* Influência do Darwinismo na sintomatologia e funcionamento do mundo mental

* “A criança é pai do Homem” Freud

Aquilo que se passa no mundo infantil poderá só por si desencadear um estado mental na fase adulta – perspectiva muito determinista

* Sabe-se que a infância influencia muito o estado adulto, mas que esta determina a outra, não é provado cientificamente

* Sugere uma situação actual que remete para a infância – anamnese (história desenvolvimental do sujeito) e uma tolerância – a criança interna. Estados de maior maturidade do sujeito de entender o que foi ser criança e tolerância em poder contactar com o seu mundo interno e algumas estruturas menos desenvolvidas.

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* A psicanálise propõe a Teoria das origens do mundo mental, com sugestões de que a auto-estima tem a ver com um sentimento criado ao longo da sua história de desenvolvimento

*Capacidade de diferenciar o que o sujeito e as outras pessoas pensam acerca dele mesmo e da realidade

Tentativa de explicar os sentimentos de identidade do sujeito

Origens do

Mundo Mental

Diferenciação de pertença na sua realidade psíquica e realidade externa – capacidade de alguma intimidade afectiva associada à capacidade de estar só consigo mesmo diferenciação entre estado normal e mundo patológico do mundo mental. Capacidade de lidar sozinho com as suas emoções sem se sentir só leva à tolerância ao contacto com o seu mundo mental (contacto interno).

* A capacidade de estar só, nas crianças, é pouco tolerada, pois começam a cantar ou assobiar, sobretudo quando estão no escuro. Quando temos medo, tememos as nossas fantasias

*Capacidade de estar só = capacidade de estar sozinho com as nossas fantasias, ou com o nosso inconsciente (com a sua intimidade)

* É necessário 1º saber quem eu sou, o que é que eu sinto, e depois saber quem a pessoa é, e o que ela sente. A conjugação dos dois permite a diferenciação do outro.

* Influência da genética na patologia: estudos etnológicos em que indicam que um progenitor com patologia mental, tem mais probabilidades em vir a ter patologias

* Aparelho mental – forma como lidamos com a nossa realidade e a realidade externa

* Estados, Fases ou Epigénese Desenvolvimentais?

Apenas na Teoria – estratificação muito rígida e pouco fiel à prática. Nada

nos garante que as fases passem na sequência demonstrada – é apenas uma ajuda na organização.

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Exemplo: luto (sentimento de perda face a determinada circunstância).

* Sintomatologias explicadas pela regressão e fixação

*Desenvolvimento do mundo mental: estruturas em termos potenciais que coexistem dentro do sujeito, mas que espontaneamente são sobrevalorizados dependendo das circunstâncias

* Patologia – rigidificação de apenas um tipo de estrutura

* Estrutura mental: as primeiras vivências mesmo que não demonstradas da mesma maneira, encontram-se pensadas e memorizadas no mundo interno

* Porque é que não podemos considerar fases/estados:

1. Cada estado não pode ser considerado como um órgão/zona erógena mas situado em estruturas mentais; estruturas de natureza vivencial

Exemplo: música e o seu efeito não são traduzidos por palavras; estados de choque (agentes em guerra que leva a violência)

2. Forma simplificada ou metáfora para temas predominantes no sujeito no contacto que o outro que diferenciam quem eu sou de quem é o outro.

3. Diferenciação em termos desenvolvimentais de períodos sensíveis – alturas com maior apetência da estrutura mental para desenvolver determinadas características, como por exemplo, na fase anal, a capacidade de controlo e resistência. Mais cedo a criança consegue dizer “não” a determinado contacto negação de um determinado contacto desde muito cedo.

* Terapia:

i. Consciencialização das estruturas existentes no mundo mental

ii. “treino” para que o sujeito tenha a autonomia suficiente para usar as estruturas do seu mundo mental como quiser e preferir

* Passam-se a usar as definições de estados ou fases para a estrutura mental, e não para a origem do mundo mental. Para este, passa-se a usar a Epigénese

Complexidade da conjunção de características pessoais e do meio o desenvolvimento não é pré-determinado, é a interacção entre as características do sujeito e do meio.

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Interacção – é através de possíveis vias de desenvolvimento – mais do que uma via (plasticidade) – havendo estruturas ou vias alternativas quando algumas vias de desenvolvimento estão bloqueadas (flexibilidade do desenvolvimento mas complexidade do desenvolvimento mental) numa tendência normativa do psicólogo.

*Não se ultrapassa nem fica fixado em outros estados – “estados potenciais” existentes mas activados por determinada situação

* Acontecimentos traumáticos – momento de alta tensão que continuam ao longo da vida um acontecimento traumático numa determinada estrutura “sofre” um arranjo nessas mesmas vias de desenvolvimento mental, em que o acontecimento traumático coexiste re-arranjado ao longo do tempo.

* Psicanálise – capacidade cirúrgica de alterar a maneira como nós organizamos a memória desse acontecimento traumático

* A fissura nunca é alterada, nem sarada, mas é organizada de maneira como é concebida ao longo de todo o desenvolvimento, pois o que fica é a memória do acontecimento traumático, não o acontecimento em si

Exemplo: a mulher que não conseguia confiar (in Bateman, página 47), pois quando era pequena o pai foi para a guerra e nunca mais voltou, mas todos lhe diziam que ele ia voltar. Marta relacionava-se com o analista de uma maneira dualista, num misto de retracção e confiança ingénua emocional.

*Objectos internos – partes inconscientes mais ou menos indiferenciadas na nossa identidade.

* Estruturas que derivam das noções pulsionais que podem estruturar-se como objectos frustrantes (objectos internos maus) ou objectos satisfatórios (objectos internos bons).

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*Há sensações que se vão estruturando e formando os objectos internos. Numa fase muito precoce existem estruturas fantasmagóricas associadas a sensações corporais. O sujeito apenas sente, mas não consegue diferenciar o objecto da sensação. Há uma internalização dessa estrutura. Só mais tarde é que se dá a diferenciação com o desenvolvimento das capacidades perceptivas/simbólicas. Dá-se uma construção da representação interna de determinadas sensações

Exemplo: o bebé quando é recém-nascido chora quando tem fome até que o seio ou biberão lhe cheguem à boca, enquanto que à medida que cresce, consegue parar de chorar quando vê a mãe a preparar o biberão.

Da teoria pulsional à teoria da relação de objecto. Fairbain e Klein.

Relação de objecto. Winnicott e a importância do meio. A teoria do pensamento de Bion.

A relação terapeutica. Transferência e contra-transferência.

4. LÍBIDO

O conceito de libido começa por ser muito fisicista, mas vai evoluindo para uma energia mental – é uma pulsão/energia pulsional que leva à satisfação desse mesmo desejo através da energia produzida pela libido

É um factor energético que implica que o sujeito invista emocionalmente num objecto, por exemplo, quando um sujeito se apaixona, investe muita atenção e energia no objecto de paixão.

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Não tem apenas um carácter genitalizado, mas é também o investimento do sujeito numa determinada actividade/tarefa. É uma energia mental que leva o indivíduo a disponibilizar-se a realizar uma determinada tarefa. Pode ter também uma componente sexual, mas não é apenas dessa natureza.

Energia libidal – investimento libidal em objectos parciais significa que o sujeito tem alguma tolerância à frustração.

5. DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL DO MUNDO MENTAL

Estádios: Oral, Anal, Fálico, Genital Ligados a significados psíquicos atribuídos ao objecto e desenvolvem-se ao longo do tempo (não estão fechadas a idades)

O desenvolvimento psicossexual difere do desenvolvimento sexual no sentido em que não tem uma sequência temporal rígida

I. Fase Oral

*Uma ideia primária de satisfação e fusão/incorporação do objecto, como forma preferencial de contacto com esse objecto de satisfação pulsional e interna.

*O seio materno (objecto) satisfaz a fome (pulsão) do bebé

*Contacto oral – numa fase inicial, a sensibilidade da via oral é hiper-estimulada (o bebé leva tudo o que encontra à boca)

* Boca – é a via preferencial de comunicação (emissão de sons, alimentação, etc.)

* Auto reconhecimento do corpo – há uma aprendizagem do auto-controlo e reconhecimento/descoberta da actividade corporal com natureza erotizada (num sentido de auto-erotização)

* Funcionalidade da Boca Capacidade de receber algo do seio materno, que é incorporado nele próprio.

* Incorporação – algo que está fora de nós passa a pertencer-nos, por exemplo, aprender algo tem um processo de natureza oral inerente, de incorporação de conhecimento.

* Fase oral está dividida em 2 fases intermédias:

1. Fase oral Inicial – incorporação sem ambivalência, em que a actividade pulsional é apenas beber o leite materno.

Movimento de incorporação ou fusionalidade O sujeito comporta-se sem qualquer ambivalência face ao objecto; há total entrega do sujeito à acção de se agarrar ao objecto para obter a satisfação da sua pulsão/desejo.

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2. Fase oral Posterior/Sádica – que tem em si uma posição de ambivalência. A actividade pulsional é simultaneamente de procura e de repulsa/rejeição, em que o bebé quer beber mas morde o seio da mãe porque quer aquela característica para si (que representa a satisfação da pulsão).

A criança, para além de querer mamar (incorporar algo do objecto),

sente também algum sentimento de inveja. Consciencializa-se que o objecto proporciona prazer lhe é externo, que não lhe pertence, e sente o desejo de o possuir. Então, rejeita-o mordendo o seio da mãe, ou tetina do biberão. Há uma dificuldade em aceitar a dependência do objecto para poder incorporar aquilo que o objecto lhe pode dar implica sofrimento e negação.

* Função de natureza mental, não propriamente física e específica do órgão em questão, ou seja, da boca.

* Tem em vista a satisfação parcial da pulsão através do contacto com um objecto também parcial

*Utilização predominante em algumas zonas do organismo, do que está inerente ao desenvolvimento psíquico

*Uso erotizado de uma zona do organismo: zona oral como sendo a primeira zona da qual o sujeito tem consciência da sua função e utilização (boca).

*Num primeiro estádio o bebé não tem consciência que a sua mão ou pé lhe pertencem, não havendo coordenação entre acção e intenção. Há uma tentativa de coordenação através dessa actividade reflexa de movimentos descoordenados e contínuos Desconhecimento do próprio corpo

* A forma como o bebé toma consciência e conhecimento do seu corpo é através da boca, com o primeiro movimento de tendência intencional de levar os objectos e mãos à boca.

* Boca – zona erotizada (capacidade do sujeito de se investir numa actividade ou em algo) em função de determinada pulsão ou necessidade

* Zona oral – através das suas funções de alimentação e comunicação, permite um contacto com um objecto que satisfaça os desejos do sujeito e incorporar nele algo

*O bebé ainda não consegue conceptualizar a zona oral, apenas percepciona que há uma incorporação do objecto, de algo

* Significado de funcionalidade de um objecto imaginário que remete a uma ideia pré-natal dentro da barriga da mãe tudo se encontra fusionado, ou seja, somos alimentados pela mãe, respiramos através dela, etc.

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Incorporação de algo que Ligados a pulsões

Lhe é exterior de natureza

Fase oral epistemofílica de

Fusionalidade/fusão das aquisição do

Características do outro conhecimento

(incorporar conheci-

mento e informação)

*Necessidade em separar aquilo que é o objecto e o que é o self – diferenciar que o conhecimento está dentro do objecto e ele pode adquiri-lo mesmo sem estar permanentemente ligado ao objecto.

* Se não existe esta capacidade, cria-se uma dependência de natureza fusional: o indivíduo não consegue aprender sem estar permanentemente ligado ao objecto (o vínculo é demasiado dependente), e não consegue compreender que o conhecimento vem do objecto, mas não é o objecto. Há uma necessidade de fusão com o objecto para ter as suas características (neste caso o conhecimento)

*Noção de que para sobreviver, o sujeito está dependente do objecto – como no interior da barriga da mãe.

* Fusionalidade é a incapacidade de separar aquilo que posso obter do objecto (aquisição de conhecimento) daquilo que é o objecto (o próprio conhecimento). Não é pessoal mas é mediado. É, portanto, a incapacidade de separar o objecto daquilo que ele nos pode dar.

* Pulsões de auto-conservação ou sobrevivência associadas à fase oral – como se o bebé precisasse de se sentir cheio para sobreviver.

* A dependência a alguém em adultos – quando não estão permanentemente com essa pessoa e não a conseguem controlar, sentem uma ansiedade tremenda associado à ideia de fusão/incorporação da outra pessoa

*Objecto = Pessoa, Instituição, ideia, qualquer coisa que nos seja exterior.

II. Fase Anal

*Desvio do controlo do uso de uma zona anal (ânus) e para a função anal que ela remete o sujeito passa a ter um sentimento maior de auto-controlo que surge mais tarde com a linguagem (“eu falo porque quero, quando quero e o que quero”)

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* Função atribuída ao ânus de maior ou menor domínio da actividade activa ou passiva de descarga ou retenção das fezes actividade consciente de auto-controlo

* Independentemente do timing do auto-controlo, tem uma actividade mental consciente: “eu faço cocó quando quero”, e não depende de ninguém para controlar as suas fezes ou não Função mental de auto-domínio e auto-controlo (controlo de uma pulsão de natureza interna

*Mais tarde surge a capacidade de auto-controlo em diversas situações da vida (por exemplo, quando nos apetece chorar mas controlamo-nos)

* Pulsão parcial de domínio próprio e capacidade de querer ou não dominar algo fora de si

*Nesta fase há uma aprendizagem da capacidade de reter ou expelir questões de natureza interna – o que quero ou não mostrar, ou o que quero ou não reter para mim – aprendendo também a partilhar ou guardar sentimentos, ideias, emoções (de natureza inconscientes)

Exemplo: guardar um segredo ou contá-lo a alguém

*Há pessoas que não têm a capacidade de retenção (não conseguem guardar um segredo para elas ou reter algum acontecimento que os marcou) pouco domínio do mecanismo de auto-controlo

*Os nossos pais também não têm essa capacidade de conter as suas preocupações, partilhando connosco as suas preocupações.

* Esta capacidade adquirida é fundamental para a prática clínica

*Demasiado controlo anal: capacidade que o sujeito tem de sentir que se pode aproximar de outro, aprender de outro, sem sentir que vai fazer parte do outro, e que este o vai dominar. Dificuldade em partilhar aspectos da sua vida, em deixar sair alguma informação, porque tem medo que o objecto com quem partilha o domine totalmente. Dificuldade em interiorizar pequenas partes do objecto sem ser o todo e dificuldade em decompor o todo em partes e distingui-las.

Exemplo: um indivíduo que tenha tido um pai bêbedo que lhe batia demasiado rígida e negativa, que não consegue ver as partes positivas do pai e não um todo negativo

* Preeminência desta necessidade de controlar e ser controlado nas ideias Sadomasoquistas.

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III. Fase Fálica

Ideia de aquisição de um poder de uma autoridade à qual está associada a competência de poder competir com a autoridade paterna a ideia de controlo do próprio sujeito choca com a ideia de autoridade já existente.

* Ideia de natureza fálica do funcionamento mental tem associadas as angústias de castração e retaliação

Na fase fálica há ansiedades ligadas à retaliação, a sofrer as consequências.

*Representação fálica (falo) de poder de uma autoridade que leva a um sentimento de ansiedade. A ideia de falo está ligada à ideia de totem que tinha poder (um objecto centralizando poder em si mesmo).

*Medo de retaliação por deter algum poder, mas saber que há alguém que pode “cortar” esse poder.

*Consciencialização de que o sujeito tem o poder de controlar as suas acções, mas apercebe-se que existe uma autoridade que controla esse poder de auto-controlo (da figura parental). Surge então uma angústia de retaliação: “se fizer algo errado, sofro consequências”

IV. Fase Genital

*Capacidade de sentir e usar o órgão genital remetendo à ideia de diferenciação entre eu/outro.

*Capacidade de relacionar-se com objectos totais, tendo inerente a ideia de parcialidade de pulsões

*O sujeito reúne-se como um TODO (auto-conceptualização) e consegue organizar o outro como um TODO (conjunto de vários aspectos).

Exemplo: perversão – incapacidade do sujeito reconhecer o objecto na sua totalidade. Fixação de um determinado tipo de natureza mental que pode ter várias expressões comportamentais. O sujeito tem dificuldade em funcionar sem ser num determinado registo.

Na fixação por sapatos, o sujeito fica fixado no objecto (sapatos) e esquece-se da pessoa que usa esses sapatos (o todo).

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* É muito mais fácil estabelecer uma relação com o objecto parcial do que com o objecto total, porque assim não fica tão exposto ao sofrimento nem tão dependente do objecto total não há um envolvimento tão grande, logo, não há um sofrimento tão grande

Exemplo: pessoas que não conseguem construir uma relação com alguém, não mudando muito, não conseguimos tolerar o sofrimento que se vai organizando dentro de si.

* Todas estas fases são funções potenciais dentro de nós que podem sobressair em determinadas fases da nossa vida – salientar determinado tipo de funcionamento mental, dependendo da situação

Desenvolvimento psicossocial:

Exemplo de relacionamentos de natureza anal: sadomasoquistas: controlo e sou controlado, baseado na oralidade e na necessidade de saber que o outro está lá.

Relacionamento de natureza genital: capacidade de afirmação enquanto indivíduo total no seu relacionamento com um outro também com vida própria e com a sua individualidade Medo e incapacidade de deixar o outro ter a sua intimidade/individualidade (o que é que sonha, pensa, etc.).

Conceitos de fixação e regressão no mundo mental

*Regressão – retorno em sentido inverso desde um ponto que já foi atingido até à sua origem (de nível inferior).

Não se pode pensar que uma vez na fase anal, já não se pode regressar à fase oral. A regressão é a expressão do ponto de vista da complexidade, estruturação e diferenciação.

*Regressão passagem de uma fase mais complexa do desenvolvimento mental a um estado mais primitivo da estrutura mental.

*Movimento regressivo em termos desenvolvimentais para um estado inferior, num ciclo que se vai repetindo ao longo do tempo.

Exemplo: uma menina salta para o colo do pai com 5 anos ≠ uma adolescente com 17 anos que salta para o colo do pai há uma regressão; uma forma infantilizada de lidar com o desejo de ter o pai.

* A regressão é uma capacidade do ego de canalizar pulsões que não são contextualizadas nem apropriadas.

*Regressão: “Estás a ser infantil”, é o que ouvimos quando lidamos com a realidade como o fazíamos na infância, por exemplo, quando choramos face a um problema.

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* Fixação – a libido liga-se fortemente a estímulos (objectos/pessoas) que satisfaçam o seu desejo.

*Regressar à maneira como lidávamos com determinada situação numa fase anterior do desenvolvimento e permanecer com essa resolução porque ela permite que haja uma satisfação da pulsão.

*O problema não está na regressão, mas na fixação (apenas consegue funcionar num tipo de funcionamento mental rigidificação e compulsão à repetição, sem procura de novas formas de resolver a situação) – dá origem a patologias do foro psiquiátrico.

ORIGENS E DESENVOLVIMENTO DO MUNDO MENTAL

* Influência do Darwinismo na sintomatologia e funcionamento do mundo mental

* “A criança é pai do Homem” Freud

Aquilo que se passa no mundo infantil poderá só por si desencadear um estado mental na fase adulta – perspectiva muito determinista

* Sabe-se que a infância influencia muito o estado adulto, mas que esta determina a outra, não é provado cientificamente

* Sugere uma situação actual que remete para a infância – anamnese (história desenvolvimental do sujeito) e uma tolerância – a criança interna. Estados de maior maturidade do sujeito de entender o que foi ser criança e tolerância em poder contactar com o seu mundo interno e algumas estruturas menos desenvolvidas.

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* A psicanálise propõe a Teoria das origens do mundo mental, com sugestões de que a auto-estima tem a ver com um sentimento criado ao longo da sua história de desenvolvimento

*Capacidade de diferenciar o que o sujeito e as outras pessoas pensam acerca dele mesmo e da realidade

Tentativa de explicar os sentimentos de identidade do sujeito

Origens do

Mundo Mental

Diferenciação de pertença na sua realidade psíquica e realidade externa – capacidade de alguma intimidade afectiva associada à capacidade de estar só consigo mesmo diferenciação entre estado normal e mundo patológico do mundo mental. Capacidade de lidar sozinho com as suas emoções sem se sentir só leva à tolerância ao contacto com o seu mundo mental (contacto interno).

* A capacidade de estar só, nas crianças, é pouco tolerada, pois começam a cantar ou assobiar, sobretudo quando estão no escuro. Quando temos medo, tememos as nossas fantasias

*Capacidade de estar só = capacidade de estar sozinho com as nossas fantasias, ou com o nosso inconsciente (com a sua intimidade)

* É necessário 1º saber quem eu sou, o que é que eu sinto, e depois saber quem a pessoa é, e o que ela sente. A conjugação dos dois permite a diferenciação do outro.

* Influência da genética na patologia: estudos etnológicos em que indicam que um progenitor com patologia mental, tem mais probabilidades em vir a ter patologias

* Aparelho mental – forma como lidamos com a nossa realidade e a realidade externa

* Estados, Fases ou Epigénese Desenvolvimentais?

Apenas na Teoria – estratificação muito rígida e pouco fiel à prática. Nada

nos garante que as fases passem na sequência demonstrada – é apenas uma ajuda na organização.

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Exemplo: luto (sentimento de perda face a determinada circunstância).

* Sintomatologias explicadas pela regressão e fixação

*Desenvolvimento do mundo mental: estruturas em termos potenciais que coexistem dentro do sujeito, mas que espontaneamente são sobrevalorizados dependendo das circunstâncias

* Patologia – rigidificação de apenas um tipo de estrutura

* Estrutura mental: as primeiras vivências mesmo que não demonstradas da mesma maneira, encontram-se pensadas e memorizadas no mundo interno

* Porque é que não podemos considerar fases/estados:

1. Cada estado não pode ser considerado como um órgão/zona erógena mas situado em estruturas mentais; estruturas de natureza vivencial

Exemplo: música e o seu efeito não são traduzidos por palavras; estados de choque (agentes em guerra que leva a violência)

2. Forma simplificada ou metáfora para temas predominantes no sujeito no contacto que o outro que diferenciam quem eu sou de quem é o outro.

3. Diferenciação em termos desenvolvimentais de períodos sensíveis – alturas com maior apetência da estrutura mental para desenvolver determinadas características, como por exemplo, na fase anal, a capacidade de controlo e resistência. Mais cedo a criança consegue dizer “não” a determinado contacto negação de um determinado contacto desde muito cedo.

* Terapia:

i. Consciencialização das estruturas existentes no mundo mental

ii. “treino” para que o sujeito tenha a autonomia suficiente para usar as estruturas do seu mundo mental como quiser e preferir

* Passam-se a usar as definições de estados ou fases para a estrutura mental, e não para a origem do mundo mental. Para este, passa-se a usar a Epigénese

Complexidade da conjunção de características pessoais e do meio o desenvolvimento não é pré-determinado, é a interacção entre as características do sujeito e do meio.

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Interacção – é através de possíveis vias de desenvolvimento – mais do que uma via (plasticidade) – havendo estruturas ou vias alternativas quando algumas vias de desenvolvimento estão bloqueadas (flexibilidade do desenvolvimento mas complexidade do desenvolvimento mental) numa tendência normativa do psicólogo.

*Não se ultrapassa nem fica fixado em outros estados – “estados potenciais” existentes mas activados por determinada situação

* Acontecimentos traumáticos – momento de alta tensão que continuam ao longo da vida um acontecimento traumático numa determinada estrutura “sofre” um arranjo nessas mesmas vias de desenvolvimento mental, em que o acontecimento traumático coexiste re-arranjado ao longo do tempo.

* Psicanálise – capacidade cirúrgica de alterar a maneira como nós organizamos a memória desse acontecimento traumático

* A fissura nunca é alterada, nem sarada, mas é organizada de maneira como é concebida ao longo de todo o desenvolvimento, pois o que fica é a memória do acontecimento traumático, não o acontecimento em si

Exemplo: a mulher que não conseguia confiar (in Bateman, página 47), pois quando era pequena o pai foi para a guerra e nunca mais voltou, mas todos lhe diziam que ele ia voltar. Marta relacionava-se com o analista de uma maneira dualista, num misto de retracção e confiança ingénua emocional.

*Objectos internos – partes inconscientes mais ou menos indiferenciadas na nossa identidade.

* Estruturas que derivam das noções pulsionais que podem estruturar-se como objectos frustrantes (objectos internos maus) ou objectos satisfatórios (objectos internos bons).

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*Há sensações que se vão estruturando e formando os objectos internos. Numa fase muito precoce existem estruturas fantasmagóricas associadas a sensações corporais. O sujeito apenas sente, mas não consegue diferenciar o objecto da sensação. Há uma internalização dessa estrutura. Só mais tarde é que se dá a diferenciação com o desenvolvimento das capacidades perceptivas/simbólicas. Dá-se uma construção da representação interna de determinadas sensações

Exemplo: o bebé quando é recém-nascido chora quando tem fome até que o seio ou biberão lhe cheguem à boca, enquanto que à medida que cresce, consegue parar de chorar quando vê a mãe a preparar o biberão.

A cientificidade e a Psicanálise

Metapsicologia e Psicanálise

Modelos da mente e origens e desenvolvimento do mundo interno

Mecanismos de defesa e processos comunicacionais internos

Sonhos, simbolismo e imaginação criativa