psicanalise instituiçao e laço social

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343 PSICOLOGIA USP, São Paulo, 2012, 23(2), 343-365 PSICANÁLISE, INSTITUIÇÃO E LAÇO SOCIAL: O GRUPO COMO DISPOSITIVO 1 Moises Romanini Adriane Roso Resumo: A psicanálise tem encarado um desafio marcante nos dias atuais: seu estabelecimento nas instituições de saúde pública no Brasil. Esse ensaio objetiva estabele- cer um diálogo entre psicanálise e instituição, propondo um exame teórico sobre algumas pos- sibilidades de trabalho em grupo apoiados nesta perspectiva teórica. Nossa intenção não é levantar questões de método da clínica psicanalítica, mas promover novas reflexões que pos- sam contribuir para a mudança desse campo de conhecimento. Tomando os Centros Atenção Psicossocial Álcool/ Drogas (CAPSad) como ponto de partida, nós desenvolvemos nossos argu- mentos. Primeiro, nós apresentamos alguns dos significados/valores da palavra instituição, as- sociando-os ao texto “Mal-estar na civilização” (Freud) e à abordagem psicanalítica à toxicoma- nia (adicção a drogas). Após, nós introduzimos a noção de clínica ampliada com a intenção de articular a clínica psicanalítica à demanda institucional para o tratamento à toxicomania. Palavras-chave: Psicanálise. Instituições de saúde. Grupos. Álcool. Drogas. 1 Agradecimentos: à CAPES, pelo apoio financeiro relativo à Bolsa de Mestrado CAPES/REUNI.

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  • 343PSICOLOGIA USP, So Paulo, 2012, 23(2), 343-365

    PSICANLISE, INSTITUIO E LAO SOCIAL:

    O GRUPO COMO DISPOSITIVO1

    Moises Romanini

    Adriane Roso

    Resumo: A psicanlise tem encarado um desafio marcante nos dias atuais:

    seu estabelecimento nas instituies de sade pblica no Brasil. Esse ensaio objetiva estabele-

    cer um dilogo entre psicanlise e instituio, propondo um exame terico sobre algumas pos-

    sibilidades de trabalho em grupo apoiados nesta perspectiva terica. Nossa inteno no

    levantar questes de mtodo da clnica psicanaltica, mas promover novas reflexes que pos-

    sam contribuir para a mudana desse campo de conhecimento. Tomando os Centros Ateno

    Psicossocial lcool/ Drogas (CAPSad) como ponto de partida, ns desenvolvemos nossos argu-

    mentos. Primeiro, ns apresentamos alguns dos significados/valores da palavra instituio, as-

    sociando-os ao texto Mal-estar na civilizao (Freud) e abordagem psicanaltica toxicoma-

    nia (adico a drogas). Aps, ns introduzimos a noo de clnica ampliada com a inteno de

    articular a clnica psicanaltica demanda institucional para o tratamento toxicomania.

    Palavras-chave: Psicanlise. Instituies de sade. Grupos. lcool. Drogas.

    1 Agradecimentos: CAPES, pelo apoio financeiro relativo Bolsa de Mestrado CAPES/REUNI.

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    2 Aqui se torna necessrio enfatizar de que fazer estamos falando. Embora este artigo tome como refern-

    cia autores que falam do saber e do fazer da psicanlise, e use os termos psicanlise e psicanalistas, ele foi

    construdo a partir das experincias do primeiro autor no estgio curricular em um Centro de Ateno

    Psicossocial lcool e Drogas, na disciplina de Mestrado Psicanlise e Instituio, bem como das refle-

    xes produzidas no Grupo de Pesquisa Sade, Minorias Sociais e Comunicao e nas supervises acad-

    micas de estgio curricular do curso de graduao em Psicologia, cuja proposta era Estgio em Psicolo-

    gia Clnica (Ampliada). Portanto, falamos de um fazer dos psiclogos que trabalham com uma orientao

    psicanaltica.

    Introduo

    A Psicanlise, enquanto um campo terico e clnico, tem enfrenta-do um grande desafio na atualidade: a sua insero em instituies p-blicas de sade, enquanto modalidade de tratamento a contribuir com ateraputica de organizaes subjetivas, com evidente prejuzo adaptativo,tais como as adices, compulses alimentares e psicoses. Consideran-do que cada instituio produz o seu prprio saber, de acordo com seusprotagonistas, com a realidade scio-histrica das pessoas que atendee do objetivo institucional, o trabalho desenvolvido se torna ainda maiscomplexo.

    Nesse sentido, o fazer2 deve ser uma construo singular que possi-bilite a emergncia dos sujeitos envolvidos na instituio e de uma lgi-ca discursiva que aponte para a alteridade, constituda a partir da lingua-gem, da famlia, da sociedade, enfim, todos os elementos do que Lacandenominou o Outro (Elia, 2006). Sustentar essa lgica, segundo Oliveira eTerzis (2010), tarefa primordial da interveno psicanaltica dentro dasinstituies.

    Kas (2002) nos mostra que a relao entre a psicanlise e a institui-o foi, historicamente, determinada pelas transformaes da instituiopsiquitrica, pela conceitualizao de doena mental e pela emergnciadas psicoterapias, particularmente, a modalidade grupal. A corrente psi-canaltica inspirou as prticas e pensamentos a propsito da instituiono contexto de duas correntes: da psicoterapia institucional e das apli-caes da psicanlise s instituies assistenciais psiquitricas. A partirde 1968, as pesquisas psicanalticas se estenderam a outros tipos de ins-tituies, porm atuando de maneira a trazer uma presena consultivaou no contexto de uma superviso e anlise das relaes de equipe.

    Dentre as preocupaes tericas da psicanlise em instituies en-contram-se, em especial, as de cunho grupal, sendo importante ressaltarque essas no esto circunscritas aos aspectos metodolgicos, como bemsalientou Hur (2007): a psicanlise de grupos e instituies no mera-mente uma psicanlise aplicada aos grupos ou ao social, pois ao refletir e

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    intervir nessas realidades, acaba por gerar novas reflexes que contribueme alteram esse campo do conhecimento.

    Nesse artigo, temos como objetivo estabelecer uma articulaoentre psicanlise e instituio, propondo uma reflexo terica sobre aspossibilidades de trabalho com grupos nas instituies a partir de algunsprincpios psicanalticos. Ou seja, acreditamos que continuar as pesqui-sas sobre instituies e dispositivos grupais uma necessidade no mbi-to pblico. Como afirmou Sigal (1989), a atuao fora do setting tradicio-nal do consultrio, a insero institucional e o vnculo com os trabalhosem grupo so algumas das dificuldades encontradas pela Psicanlise, e,consequentemente, so questes que precisam ser investidas e pesqui-sadas.

    A instituio, no mbito da sade mental, a partir do Movimento daReforma Psiquitrica, converteu-se em um espao coletivo aberto e inte-rativo, investindo no fortalecimento do lao social dos usurios (Dassoler& Silva, 2011). Tradicionalmente, uma das objees feitas participaoda psicanlise nesse cenrio institucional a sua dificuldade em compar-tilhar com outros profissionais as qualidades dos fenmenos psquicos.Nessa direo, urge como desafio clnica psicanaltica a sua inseronesses contextos, preservando, por um lado, os princpios da ateno psi-cossocial (o acolhimento, a convivncia, o cuidado, por exemplo) e inda-gando, por outro, a pertinncia de distinguir o indivduo portador dedireitos civis da noo de sujeito formulada pela psicanlise (Dassoler& Silva, 2011, p. 23).

    O presente artigo foi estruturado em trs partes distintas, mas com-plementares. No primeiro momento, apresenta-se alguns significados dapalavra instituio e do valor social atribudo a ela no decorrer da hist-ria. Articulamos ento esses significados com o texto O mal-estar na civi-lizao de Freud, tendo em vista a problematizao da relao entre in-divduo e civilizao, e entre psicanlise e instituio. No segundomomento, ento, direcionamos a discusso para uma instituio espec-fica: o Centro de Ateno Psicossocial para usurios de lcool e outrasDrogas (CAPSad).

    Associado ao papel do CAPSad, apresenta-se uma aproximao te-rica da psicanlise toxicomania para, num terceiro momento, propor otrabalho em grupo com toxicmanos como um dispositivo possvel detrabalho nas instituies, salvaguardando os princpios fundamentais e origor tico da psicanlise. Com isso, pretendeu-se evidenciar que psica-nlise e instituio podem estabelecer uma articulao profcua a partirdas diferenas, de modo a no se pretender a diluio das especificida-des de cada campo.

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    Instituio e Psicanlise: notas sobre diferenas

    O conceito de instituio discutido em diferentes correntes teri-cas, no somente no campo da sociologia, mas na antropologia, cinciaspolticas e filosofia. Dentro das prprias correntes esse conceito tem sidoempregado de maneiras distintas. No pretendendo aqui esgotar essadiscusso, tomamos como ponto de partida a concepo de GregrioBaremblitt, que de forma concisa define que

    as instituies so lgicas, so rvores de composies lgicas que, segundoa forma e o grau de formalizao que adotem, podem ser leis, podem ser nor-mas e, quando no esto enunciadas de maneira manifesta, podem ser pau-

    tas, regularidades de comportamentos. (Baremblitt, 1992, p. 27)

    As instituies enquanto composies lgicas so instncias desaber que buscam o tempo todo recompor as relaes sociais e organi-zar/ordenar espaos (Pereira, 2007). Com os objetivos de recompor, orga-nizar e ordenar, as instituies e seus respectivos estabelecimentos cap-turam os processos de subjetivao singulares, impondo-lhes seu prpriomodelo atravs da centralidade do poder, do saber, do dinheiro, do pres-tgio, da disseminao da culpa (Pereira, 2007, pp. 7-8).

    Os significados atribudos ao conceito de instituio deixam claro,portanto, o seu papel de agente regulador e normativo de aspectos relati-vos vida social. Ela institui normas, regras e cdigos de conduta, estabele-cendo os limites entre o que normal (a mdia) e o que desviante, pato-lgico. As instituies, enquanto institutos ou organizaes (seja qual for oseu carter social, educacional, religioso, etc.), foram historicamente esta-belecidas para corrigir e isolar os indivduos considerados anormais: osleprosrios, que por muito tempo serviram no somente para proteger asociedade dos leprosos, mas dos loucos, criminosos e um amplo espec-tro de pessoas no enquadradas s normas sociais; os hospcios, para osloucos; os presdios, para os criminosos (Foucault, 2004; Goffman, 1974).

    Enfim, poderamos aqui citar uma infinidade de instituies criadasna histria da humanidade que preservam a lgica classificatria comfins de excluso. Entretanto, as instituies tambm foram constitudasna tentativa de diminuir o estado de desamparo, inerente condiohumana. Nesse sentido, espera-se que as instituies criem estruturasrazoveis de apoio para apaziguar as sensaes de caos absoluto e des-trutividade das relaes (Pereira, 2007, p. 8). Tambm no se pode redu-zir a instituio a algo conservador, desprovida de movimentos contrri-os, j que se encontra em seu bojo movimentos instituintes, seu germetransformador, o desejo (Pereira, 2007).

    s instituies, ento, como podemos ver, atribudo um valor so-cial fundamental, visto que so elas que se encarregam das pessoas e

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    grupos sociais que produzem mal-estar sociedade. Pode-se dizer, dessaforma, que as instituies representam o conflito da civilizao3 com osdiversos mal-estares que surgiram no decorrer da histria. Na verdade,elas se propem a acabar com esse conflito, criando dispositivos de con-trole (as regras, as normas, entre outros) e tratamento (isolamento, cho-que-eltrico, etc.) que visam em seu horizonte a dissoluo/cura para omal-estar ou a excluso dos intratveis. Em relao ordem preconizadapela sociedade e por suas instituies, Freud (1930/1974) destaca que osbenefcios da ordem so incontestveis. Ela capacita os homens a utiliza-rem o espao e o tempo para seu melhor proveito, conservando ao mes-mo tempo as foras psquicas deles (p. 100).

    Nesse sentido, as ideias de Freud apresentadas no texto O mal-es-tar na civilizao so de grande valia para pensarmos sobre o tema. Almdisso, esse texto nos fornece elementos para iniciar uma reflexo sobreas relaes entre Psicanlise e Instituio, considerando que a Psicanlisefoi inicialmente proposta como um arcabouo terico-clnico que tam-bm pretendia a cura para o mal-estar, ainda que no sob os auspcios dosilenciamento do mal-estar, mas, ao contrrio, um tratamento que se es-tabelece ao dar voz e lugar ao estranho, ao caos que desconcerta as nor-mas de convivncia social.

    Em O mal-estar na civilizao (1930/1974), Freud aponta que o ter-mo civilizao descreve a soma integral das realizaes e regulamentosque distinguem nossas vidas das de nossos antepassados e que servema dois intuitos: o de proteger os seres humanos contra a natureza e o deajustar seus relacionamentos mtuos. Todavia, ele tambm constata oequilbrio precrio que mantm o ser humano em uma civilizao desti-nada a proteg-lo. Ou seja, pelo fato de restringir as pulses sexuais eagressivas dos indivduos com o objetivo de manter a coeso da socieda-de, a civilizao entra em conflito com seus membros tomados indivi-dualmente que, caso se revoltem, podem destru-la.

    Os discursos forjados por Freud sobre a subjetividade no campo dacivilizao foram, portanto, comentrios crticos sobre a inscrio do su-jeito na modernidade (Birman, 2005, p. 123). No incio do seu percursoterico, Freud acreditou na harmonia possvel entre os registros do sujei-to e do social e que a Psicanlise poderia oferecer uma resposta resolutivaao mal-estar na civilizao. Entretanto, em 1932, ele coloca a harmoniaem questo, evidenciando a problemtica do desamparo e a desarmonia

    3 Freud entende civilizao como tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condio

    animal e difere da vida dos animais... Inclui todo o conhecimento e a capacidade que o homem adquiriu

    com o fim de controlar as foras da natureza e extrair a riqueza desta para a satisfao das necessidades

    humanas; ... inclui todos os regulamentos necessrios para ajustar as relaes dos homens uns com os

    outros e, especialmente, a distribuio da riqueza disponvel (Freud, 1930/1974, p. 16).

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    inerente aos laos sociais do sujeito, considerando a incidncia da pulsode morte. Como o conflito no poderia mais ser curvel pela clnica psi-canaltica, entendendo a cura como silncio/ausncia da pulso de mor-te, nesse segundo momento Freud sugere que seria necessria

    uma espcie de gesto interminvel e infinita do conflito pelo sujeito, de for-

    ma tal que este no poderia jamais se deslocar de sua posio originria dedesamparo. Nesse deslocamento crucial, dos registros da teraputica possvelpara o da gesto, pode-se vislumbrar que o discurso freudiano assume uma

    perspectiva tica e poltica sobre o conflito. (Birman, 2005, p. 129)

    Com o conceito de pulso de morte, na 2 teoria das pulses deFreud, torna-se impossvel uma harmonia entre os registros conflitivosda pulso e da civilizao. Isso porque a vida seria algo a ser conquistadoe no mais um valor originrio do indivduo. A partir de uma concepomortalista e antivitalista de Freud, o conflito interminvel entre pulsode vida e a pulso de morte torna a homeostasia uma ideia impossvel.Com esse deslocamento terico, pode-se dizer que a Psicanlise foi colo-cada prova do social (Birman, 2005). Mais do que isso, fala-se numa criseda Psicanlise, caracterizada por alguns aspectos: restrio a uma pers-pectiva individualista, j que perdeu suas dimenses tica e poltica apon-tadas por Freud; assuno de uma perspectiva normativa, considerandoque as novas condies do mal-estar na modernidade levaram a psica-nlise a adotar tal perspectiva; ela perde a posio estratgica que ocu-pava no campo dos saberes sobre o psquico, sendo paulatinamente subs-tituda pela psiquiatria biolgica, pelas neurocincias e modelos advindosdo cognitivismo que fascinam pela promessa de cura do mal-estar, ideiaessa considerada invivel pela Psicanlise (Birman, 2005).

    Atualmente, as instituies de sade mental e de tratamento para adependncia qumica, por exemplo, trabalham a partir de uma normaque estabelea o que a sade/doena mental e o que a dependnciaqumica, propondo tratamentos que trazem consigo a promessa de curade tais patologias (encontramos exemplos disso nos manuais diagnsti-cos e nos livros que propem modelos de tratamento para a dependn-cia qumica). Essas instituies, pensadas a partir do movimento da refor-ma psiquitrica, trabalham com uma noo de sujeito geralmente atreladaao discurso da cidadania (o sujeito, na maioria das vezes, entendidocomo uma pessoa nica, cuja individualidade deve ser resgatada e res-peitada), acentuando o objetivo central de possibilitar a reinsero des-ses sujeitos, como cidados, na sociedade (Rinaldi, 2006).

    Os profissionais de sade, ento, respondem a uma lgica de sadepautada por preceitos universais de qualidade de vida e de reinserosocial. A concepo de sujeito na instituio , portanto, uma concepouniversalista que, com objetivo de organizar, ordenar e extrair o sintoma

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    que gera mal-estar, acaba por capturar modos de subjetivao singula-res (Pereira, 2007). nesse contexto, caracterizado de um lado pela estru-tura estvel da instituio cujo objetivo apaziguar e mesmo excluir assensaes de caos e destrutividade, pautada na concepo (universal)do sujeito como cidado, e de outro lado pela prpria crise da Psicanli-se (Birman, 2005) que a Psicanlise, entendida ao mesmo tempo comouma metapsicologia e uma prtica de interveno psquica, ingressa nasinstituies de sade mental.

    Dentro dessas instituies, contudo, os psicanalistas so convoca-dos a formalizar, de alguma maneira, os efeitos dessa experincia com apsicanlise. Porm, como formalizar essas intervenes que so pauta-das na concepo de sujeito do inconsciente e que no recoberto pelasnoes de indivduo ou de cidado propostos pela instituio? Que su-jeito esse?

    O sujeito do inconsciente, circunscrito categoria do Outro na teo-ria psicanaltica, conforme Elia (2006), no , em si mesmo, pobre ou rico,branco ou negro, tampouco e a que se situa talvez o ponto mais escan-daloso da descoberta freudiana , homem ou mulher. em sua relaocom a alteridade que o sujeito vai sexuar-se, definir-se homem ou mu-lher, e definir tambm seus demais atributos.

    Alm da noo distinta da categoria de sujeito, o psicanalista en-contra nessas instituies a demanda pela necessidade ou a promessade cura, baseados num cuidado e, at mesmo, numa educao a respeitodo transtorno, visando sempre restabelecer um estado de sade e debem-estar. Nessa perspectiva, destacam-se os significantes cuidar, tratare curar que esto associados ao significado Therapeia, terapia, psicotera-pia. Sabe-se, porm, que Freud criticou a ambio de educar, curar e dequerer o bem do paciente revelia do que o terapeuta entende porbem, pois isso impossibilita a emergncia do desejo inconsciente e,portanto, do sujeito na sua diferena (Rinaldi, 2006, p. 145), condio es-sencial assuno de um estar bem.

    Nessa direo, a promessa de cura das psicoterapias em consonn-cia com a demanda das instituies de sade exige uma tcnica que devaguiar o indivduo no tratamento. A tcnica, por sua vez, pressupe queseus mtodos e regras sejam aplicados a todos, o que no ocorre na pro-posta de um tratamento psicanaltico. Distintamente, com a psicanliseno h tratamento standard, no h um protocolo geral que reja o indiv-duo num tratamento psicanaltico (Barros, 2003). Longe de poder ser re-duzida a um protocolo tcnico, a experincia com a psicanlise tem ape-nas uma regularidade: a da originalidade do cenrio individual atravsdo qual se manifesta a singularidade subjetiva. Portanto, a psicanlise no uma tcnica (tais quais as demais cincias), mas sim um discurso regidopor princpios que encorajam cada um a produzir sua singularidade, suaexceo.

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    Dessa forma, a interveno analtica difere claramente da interven-o mdica, social, psicolgica e de qualquer outra devido especificida-de de sua direo ao sujeito do inconsciente. Para tal, necessrio man-ter o rigor tico da psicanlise, no sentido do lugar ocupado pelo analista,lugar que se dirige ordenao do circuito pulsional e suas vicissitudes.

    Entendemos, portanto, que a tica da psicanlise, cujo motor odesejo, que possibilita indicar a direo do tratamento (Delgado, 2008).Essa relao entre a tica da psicanlise e o desejo delineada atravsdas afirmaes de Freud e Lacan, nas quais o sujeito do inconsciente caracterizado por um atravessamento de uma falta estruturante, a cas-trao. Tal falta o que articula o desejo e suporta o movimento dese-jante.

    Nessa direo, conforme nos indica Delgado (2008),

    Ao sustentarmos a efetividade do discurso analtico numa instituio como o

    CAPS, indicamos que a verdade, que a castrao, s pode ser a do sujeito, e

    sempre no-toda, est referida ao saber do inconsciente. Desta forma, o dese-

    jo do analista, enquanto desejo de saber diferente de desejo de curar faz

    com que o analista se recuse em ocupar o lugar do Outro, do discurso do mes-

    tre, e possibilite o encontro do sujeito com seu desejo. (p. 60)

    As diferentes concepes de sujeito implicam, dessa maneira, emposies distintas de desejo: o desejo de curar e o desejo de saber. Essesdesejos evidenciam, respectivamente, o discurso do mestre e o discursodo analista. A instituio, portadora do discurso do mestre e do desejo decurar, equivale a busca pela felicidade (Freud, 1930/1974) evitao dosofrimento: a ordem preconizada por ela tem como objetivo curar o so-frimento, agindo sobre os comportamentos inadequados, ou patolgi-cos. A psicanlise, por sua vez, portadora do discurso do analista e dodesejo de saber, opera com as demandas pulsionais. Ao propor uma clni-ca que inclua o circuito pulsional, a psicanlise equivale a felicidade satisfao das pulses.

    E, nesse sentido, a lgica da cidadania, atravs da qual se pretendedar voz queles que foram excludos do convvio social, reafirma-se pormeio do discurso do mestre (Lacan, 1969-190/1992), na medida em quese parte de um modelo preestabelecido a partir de um saber apriorsticoe universal sobre o que bom para o sujeito (Rinaldi, 2006, p. 145). Por-tanto, o discurso do mestre encarnado nas intervenes dos demais pro-fissionais de uma instituio, baseado em um saber prvio de carternormatizador a ordem (o que no deve ser concebido de maneiranegativa, trata-se apenas de uma outra forma de discurso e de prtica, deparadigmas distintos), impe ao analista o desafio de sustentar uma cl-nica baseada no discurso do analista (Lacan, 1969-190/1992), no preo-cupado com a ordenao do caos e do mal-estar, a partir de ndices pre-

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    viamente estabelecidos, mas abrindo espao e sustentando o tratamen-to na singularidade de cada sujeito, em que a ele cabe inventar os ele-mentos que podem oferecer algum destino uma ordem ao caos.

    Assim, vemos que num primeiro momento a instituio, represen-tante da ordem simblica e, por isso, caracterizada pela positividade deinstituir algo atravs de normas e regras, mostra-se avessa Psicanlise,que tem na associao livre sustentada na transferncia um convite operao com o inusitado, o inesperado do mal-estar como um elemen-to necessrio composio da vida de um sujeito.

    A Psicanlise no CAPSad: possveis pontos de encontro en-

    tre psicanlise e instituio?

    Destacados alguns elementos importantes (como as diferentes con-cepes de sujeito, posies discursivas e de desejo) reflexo da norelao entre psicanlise e instituio, poderamos pensar que elas soexcludentes. Ou seja, haveria uma impossibilidade da Psicanlise se inse-rir nas instituies de sade, visto que elas concebem e propem o trata-mento aos sujeitos em sofrimento psquico de maneiras muito distintas.Entretanto, constata-se a crescente presena de psicanalistas nesses ser-vios (Delgado, 2008; Abreu, 2008), o que evidencia a necessidade de es-tabelecer uma relao entre psicanlise e instituio. E, mais especifica-mente, a psicanlise na instituio.

    Com o intuito de refletir sobre essa insero, tomamos como refe-rncia de instituio os Centros de Ateno Psicossocial lcool e Dro-gas (CAPS). Trata-se de um servio substitutivo da Reforma PsiquitricaBrasileira e representa, hoje, uma das instituies s quais so endereadasas pessoas que sofrem com a toxicomania, segundo ponto desta refle-xo. Dentro dos CAPSad observa-se a preponderncia de atividades tera-puticas grupais. Nesse sentido, faz-se mister analisar o grupo como dis-positivo de tratamento pautado nos saberes da psicanlise, podendo seconfigurar num ponto de encontro entre psicanlise e instituio. Come-cemos pelos Centros de Ateno Psicossocial.

    As primeiras intervenes do governo brasileiro com relao aten-o ao usurio de drogas datam no incio do sculo XX e foram constitu-das pela criao de um aparato jurdico-institucional (Machado & Miranda,2007). Esse aparato estabelecia, atravs de uma srie de leis e decretos, ocontrole do uso e do comrcio de drogas e a preservao da segurana eda sade pblica no pas, prevendo penas que determinavam a exclusodos usurios do convvio social. Em 2003, o Ministrio da Sade estabele-ceu a Poltica de Ateno Integral aos Usurios de lcool e outras Drogase reconheceu que houve um atraso histrico do Sistema nico de Sadeno enfrentamento de problemas associados ao consumo de lcool e ou-

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    tras drogas. A atual poltica adota uma abordagem no mais comprome-tida com o controle e a represso, mas sim com a reduo dos danos edos prejuzos.

    Atravs de sua Poltica de Ateno Integral, o Ministrio da Sadeassume de modo integral e articulado o desafio de prevenir, tratar e rea-bilitar os usurios de lcool e outras drogas como um problema de sadepblica (Brasil, 2004, p. 9). O projeto props a criao de uma rede deateno integral do Sistema nico de Sade (SUS), que envolve aes depreveno, promoo e proteo sade; a construo de malhas assis-tenciais formadas por dispositivos especializados (os Centros de Aten-o Psicossocial lcool/drogas CAPSad) e no especializados (unidadesbsicas, programas de sade familiar e hospitais em geral), bem como oestabelecimento de aes intersetoriais (Machado & Miranda, 2007).

    O dispositivo do CAPS, fazendo um uso deliberado e eficaz dosconceitos de territrio e rede, oferece atividades teraputicas e preven-tivas comunidade, buscando: prestar atendimento dirio aos usuriosdos servios, dentro da lgica de reduo de danos; oferecer cuidadospersonalizados; oferecer atendimento em diversas modalidades (inten-sivo, semi-intensivo e no intensivo); oferecer condies para o repousoe desintoxicao ambulatorial para os usurios que necessitem de taiscuidados; oferecer cuidados aos familiares dos usurios dos servios; pro-mover, mediante diversas aes, a reinsero social dos usurios, utilizan-do recursos intersetoriais; entre outros (Brasil, 2004).

    Percebe-se, portanto, que o CAPS trabalha com uma concepo desujeito enquanto cidado, portador de direitos e, por isso, aposta-se numaperspectiva de humanizao do servio prestado. O Centro de AtenoPsicossocial apresenta, no mnimo, trs discursos: o psicolgico, o social eo mdico que, apesar das diferenas, unificam-se na direo clnica dacura pela via da adaptao ao social, da sade fsica como distanciamen-to pleno dos fatores intoxicantes, em que sobressaem os elementos vin-culados a uma adeso ao universal. So discursos que se distinguem dodiscurso e do paradigma psicanaltico. Neles, a toxicomania concebidaa partir do vis biomdico-curativo, sendo denominada de dependnciaqumica (Associao Americana de Psiquiatria, 2000) o foco na subs-tncia, na droga que deve ser retirada da cena do sujeito, diferente domodus operandi da psicanlise que faz, justamente, a incluso da drogana tecitura subjetiva do sujeito.

    O uso de drogas, seguindo o pensamento freudiano em O mal-es-tar na civilizao, seria uma das possveis sadas para o alvio da angstia,provocadas pelas renncias a serem realizadas pelos sujeitos em benef-cio da vida na civilizao.

    O servio prestado pelos veculos intoxicantes na luta pela felicida-de e no afastamento da desgraa to altamente apreciado como umbenefcio que tanto indivduos quanto povos lhes concederam um lugar

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    permanente na economia de sua libido. Devemos a tais veculos no s aproduo imediata de prazer, mas tambm um grau altamente desejadode independncia do mundo externo, pois sabe-se que, com o auxliodesse amortecedor de preocupaes, possvel, em qualquer ocasio,afastar-se da presso da realidade e encontrar refgio num mundo pr-prio, com melhores condies de sensibilidade (Freud, 1930/1974, p. 86).

    Ao pensar que, com a ajuda dessas substncias, possvel subtrair-se a qualquer momento da presso da realidade e refugiar-se em ummundo prprio, Freud reconhece possveis benefcios no uso de drogasdesde que seu uso seja socialmente controlado, e no como uma prticaque se ope ao social. Nessa perspectiva, o uso de drogas ocupava umaposio fixa na economia libidinal nas cerimnias rituais de diversos po-vos primitivos e, atualmente, em certas formas de consumo de lcool con-sideradas sociais, tais como festas e comemoraes em geral, o que cons-titui um cenrio distinto do que ocorre nas adices.

    Com efeito, justamente essa propriedade dos intoxicantes quedetermina seu perigo e sua capacidade de causar danos (Freud, 1930/1974, p. 86). quando a relao com as drogas passa a ser vivida comtotal independncia, opondo-se ao social de uma forma radical. Na ver-dade, o que impulsiona a passagem do uso para o abuso de drogas acondio subjetiva do sujeito, indicativa, tambm, de um rompimentocom o lao social.

    Segundo Freud (1930/1974), a intoxicao via drogas um mto-do interessante, grosseiro e eficaz de evitar a dor, usado contra o sofri-mento que pode advir dos relacionamentos humanos. Como uma defe-sa, a droga serve para manter-se distncia de outras pessoas. Com oauxlio da droga, ou de um amortecedor de preocupaes, possvel,em qualquer ocasio, afastar-se da realidade e encontrar refgio nummundo prprio.

    Aqui se torna necessrio ressaltar que o simples fato de consumirdrogas no constitui uma toxicomania. O txico no a droga, diz LePoulichet (1990, p. 80). O que pode fazer da droga um txico o lugarque ela (a droga) assume na relao com o Outro. O que marca, ento, atoxicomania a tentativa de constituio de uma relao dual com a dro-ga, eliminando qualquer terceiro da mesma.

    A toxicomania, como uma relao intensa e exclusiva com a droga, proposta por Le Poulichet (1990) como uma condio em que a drogasobrepe-se ao prprio sujeito. Como consequncia, na toxicomania, ha excluso do Outro4 e de seus recortes pulsionais. Sendo assim, a toxico-

    4 Encontramos uma referncia sobre o Outro, no Seminrio XI de Jacques Lacan. A noo de um Outro est

    intimamente ligada s duas outras operaes de constituio do sujeito: a alienao e a separao. Con-

  • 354 PSICANLISE, INSTITUIO E LAO SOCIAL: O GRUPO COMO DISPOSITIVO MOISES ROMANINI E ADRIANE ROSO

    mania pode ser entendida como uma tentativa de realizar um idealnarcsico de autossuficincia, excluindo o outro como parceiro possvelpara a satisfao pulsional.

    Na perspectiva psicanaltica lacaniana, a toxicomania contempla

    sujeitos que sofrem por no conseguirem assumir sua dependncia em rela-

    o, nem aos significantes que determinam suas histrias (sua relao com o

    Outro), nem a seus semelhantes (os outros), com quem poderiam construir

    relaes capazes de sustentar uma posio subjetiva. (Ribeiro, 2003, p. 16)

    Dessa forma, a conduo ideal do tratamento seria o do desloca-mento da fixidez da relao com a droga para um lugar onde o exercciodo seu desejo no se encontre fixado em um nico objeto degradante.Ou seja, um outro saber fazer com o corpo, que no substitui necessa-riamente essa relao inicial, mas que implica o sujeito a estabelecer ou-tras formas de relao e a constituir-se enquanto um sujeito desejante,podendo fazer outras coisas com o seu corpo.

    Assim, podemos pensar que a ameaa est em apostar todas asfichas (economia libidinal) em um nico objeto (as drogas). Como disseFreud (1930/1974)

    Qualquer escolha levada a um extremo condena o indivduo a ser exposto a

    perigos, que surgem caso uma tcnica de viver, escolhida como exclusiva, se

    mostre inadequada. Assim como o negociante cauteloso evita empregar todo

    seu capital num s negcio, assim tambm, talvez, a sabedoria popular nos

    aconselhe a no buscar a totalidade de nossa satisfao numa s aspirao.

    (p. 103)

    Conte (2003), ao abordar o tratamento das toxicomanias, abstm-se de falar do ideal de cura (abstinncia total), buscando a plasticidadesubjetiva como direcionamento teraputico, no sentido de achar umasada na relao de extrema dependncia e alienao em que o sujeitose encontra em relao droga. Entretanto, o que fazer se a instituio(CAPad) na qual o psicanalista est inserido toma a abstinncia ou a pro-blematizao do uso como indicadores de cura? Como operar com osprincpios psicanalticos para o tratamento (pulso, transferncia, incons-ciente, repetio) no tratamento de toxicmanos nos CAPSad?

    forme Mller-Granzotto (2008), em ambas operaes trata-se de descrever o advento do sujeito en-

    quanto duplo efeito de falta gerado pela sobreposio de dois campos distintos: o campo do ser (ou das

    pulses parciais) e o campo do significante (em que propriamente encontramos a teoria lacaniana do

    grande Outro) (p. 7). Ver Lacan (1979) e Mller-Granzotto (2008).

  • 355PSICOLOGIA USP, So Paulo, 2012, 23(2), 343-365

    Costa (2006) sugere a criao de dispositivos de tratamento basea-dos em uma noo de clnica ampliada, sem perder de vista a posioterica e clnica do psicanalista. Por clnica ampliada entende-se

    um instrumento para que os trabalhadores e gestores de sade possam en-

    xergar e atuar na clnica para alm dos pedaos fragmentados, sem deixar de

    reconhecer e utilizar o potencial desses saberes. Este desafio de lidar com os

    usurios enquanto Sujeitos buscando sua participao e autonomia no proje-

    to teraputico tanto mais importante quanto mais longo for o seguimento

    do tratamento e maior for a necessidade de participao e adeso do Sujeito

    no seu projeto teraputico. (Brasil, 2007, p. 3)

    Nesse sentido, a construo do conceito e da prtica de uma clnicaampliada nasce tambm das dificuldades que os profissionais de sadetm em propor teraputicas s chamadas patologias do real, como ocaso da toxicomania, que so configuraes marcadas pela desinserosocial. Essa desinsero social evidencia uma condio de no resposta ordem civilizatria, representada pelo ordenamento das instituies, e/ou aos prescritores universais que devem regular a sade, pautadas naconcepo de sujeito cidado. A psicanlise, ento, tanto beneficiadacomo pode beneficiar a construo dessa clnica ampliada dentro dasinstituies, propondo um resgate da singularidade dos sujeitos numcontexto em que a primazia dada ao social, social aqui entendido comouniversal.

    Na tentativa de resgatar a noo singular de sujeito, no necessa-riamente excludente noo de sujeito cidado, significativos trabalhosj vm sendo realizados discutindo a viabilidade da psicanlise em con-textos institucionais, diferentes da criao original do mtodo. Esses es-tudos apontam diversos dispositivos clnicos que so pertinentes atua-o da psicanlise nas instituies: o manejo das sesses por semana ehorrios (Figueiredo, 1997); a construo do caso clnico junto s equipesde sade mental (Figueiredo, 2004); a clnica da recepo e a direo dotratamento pautada na clnica do sujeito (Fernandes & Freitas, 2009); aincluso dos conceitos sintoma e tica na escuta do sujeito na clnica psi-cossocial (Dassoler & Silva, 2011); ou ainda entrevistas de passagem, in-tervindo no tempo de tratamento (Bueno & Pereira, 2002).

    Contudo, outro dispositivo nos interessa neste artigo: o grupo. Ogrupo, via teraputica privilegiada em instituies de sade como osCAPSad, representa avanos nessa interlocuo traada entre psicanlisee instituio. Nessa via, a prxima seo apresentar o trabalho com gru-po como um dos dispositivos da clnica ampliada em uma instituio, vi-sando uma articulao entre a clnica psicanaltica e as demandas insti-tucionais para o tratamento de toxicmanos.

  • 356 PSICANLISE, INSTITUIO E LAO SOCIAL: O GRUPO COMO DISPOSITIVO MOISES ROMANINI E ADRIANE ROSO

    Criando Dispositivos Clnicos: apontamentos tericos iniciais

    O trabalho em grupos, coordenado por psicanalistas e psiclogosque sustentam suas prticas em uma leitura a partir da psicanlise, asso-ciado interveno individual, tem sido considerado um dispositivo im-portante para se intervir nas especificidades relativas constituio sub-jetiva dos toxicmanos e sua relao com o lao social. Ao considerar atoxicomania em relao ao lao social, Melman (1992) apresenta as toxi-comanias como uma das respostas possveis aos imperativos de consu-mo vigentes na busca de gozo, propondo-as como sintoma social, inscri-tas no discurso dominante.

    Partindo das especificidades do lao social contemporneo asso-ciado a algumas das questes apontadas anteriormente sobre a toxico-mania, a interveno grupal surge como um dispositivo eficaz de trata-mento e como uma possibilidade de insero da psicanlise nessasinstituies.

    O Grupo de Trabalho e Estudo das Manifestaes Sociais Contem-porneo Vindicas , problematizando os dispositivos grupais, destacadois tipos de trabalho em grupo: um, no qual a reflexo sobre o uso dedrogas tem como objetivo configurar uma demanda a um tratamentopsquico; outro, como um dos dispositivos de tratamento propriamentedito (Grupo de Trabalho e Estudo das Manifestaes Sociais Contempo-rneo, 2002, 2003). Ambas as modalidades so interessantes, seja por seconstiturem como ingresso para o trabalho analtico, seja como recurso promoo de novas inseres do sujeito em relaes de sociabilidade,perspectiva que se aproxima da do sujeito cidado e do objetivo insti-tucional da reinsero social.

    Sabemos que nos grupos se entrecruzam laos transferenciais en-tre os participantes e entre eles e os coordenadores. Nessa perspectiva, ogrupo fornece inmeras possibilidades identificatrias necessrias aolongo de um tratamento, confluindo numa escuta que auxilia o sujeito ase reorientar frente aos significantes que o representam no mundo (Gru-po de Trabalho e Estudo das Manifestaes Sociais Contemporneo, 2003,p. 28). H, com isso, o convite ao restabelecimento de um circuito libidinalde trocas no dispositivo de pertena a um grupo, favorecido por relaesde sociabilidade mediadas pelo simblico.

    Por outro lado, nos grupos em que o trao que os identifica estligado substncia droga, h sempre o risco de uma equivalncia entreaquilo que so e o que consomem, fazendo com que o sujeito se protejana identidade calcada numa relao dual com a droga. Porm, a psican-lise destaca a oportunidade da passagem de momentos de identifica-es homogneas onde o ser drogado e saber sobre a droga tomamconta da fala dos participantes, para, aos poucos, se depararem com as

  • 357PSICOLOGIA USP, So Paulo, 2012, 23(2), 343-365

    singularidades da histria de cada um, suas insuficincias, vazios e signi-ficaes (Grupo de Trabalho e Estudo das Manifestaes Sociais Contem-porneo, 2003). Ou seja, busca-se o estabelecimento de laos simblicosna atividade grupal.

    Precisamos lembrar que tais intervenes e direo do tratamentoesto inseridas no campo da ateno psicossocial, no qual a dimensosocial e/ou territorial so consideradas, ao mesmo tempo, pontos de par-tida e pano de fundo para toda e qualquer interveno clnica (Delgado,2008). A noo de territrio, na qual se busca articular os laos simbli-cos, amplia-se para alm de uma definio de rea geogrfica e se sus-tenta como suporte de referncias de toda ordem (culturais, histricas,etc.) na vida do sujeito (p. 64). O dispositivo clnico do grupo constitudoa partir de uma interlocuo entre os campos psicossocial e psicanalticopode, ento, proporcionar um engendramento entre aspectos de natu-reza scio-econmica-sanitria, relativos aos territrios existenciais dossujeitos, e da lgica de uma clnica do desejo, abrindo caminhos nos ter-ritrios subjetivos.

    A prtica da psicanlise nos CAPSad, e em outras instituies, no-meada como uma prtica entre vrios (Abreu, 2008). Uma clnica entrevrios uma aposta no sujeito, na capacidade de produo de discurso,atrelada posio da equipe que pode colaborar nesta direo (p. 76).Para pensar a prtica entre vrios, Stevens (2003) nos indica quatro eixosnorteadores: a desespecializao, a inveno, a formao e a transmisso.Com o intuito de contemplarmos os objetivos deste trabalho, nosso focose restringe apenas aos dois primeiros eixos.

    A desespecializao ou no especializao tomada sobre dois pla-nos: o plano do sintoma e o plano do trabalho tcnico. Uma clnica nainstituio pautada pela psicanlise no pode ser monossintomtica, iden-tificando o sujeito ao significante de seu sofrimento. A identificao nomeao advinda do discurso cientfico (visto como uma especializa-o, na qual o especialista nomeia o sofrimento do sujeito), como o casodas classificaes diagnsticas do Manual Diagnstico e Estatstico dosTranstornos Mentais DSM (Associao Americana de Psiquiatria, 2000),conduz alienao e promove no sujeito uma tendncia repetio, poisele pode atrelar-se aos ganhos secundrios e no produzir um corte emsua cadeia para o surgimento de um novo significante. Por exemplo, umsujeito que frequenta o CAPSad e recebe o diagnstico de dependnciaqumica pode identificar-se em absoluto com o significante dependentequmico e, ao mesmo tempo, desresponsabilizar-se por seus desejos, vis-to que portador de uma doena crnica e incurvel.

    Quanto ao plano do trabalho tcnico, temos o afrouxamento doslugares preestabelecidos nos diplomas universitrios, pois o ato de cadaum dos membros da equipe produz efeitos teraputicos (Stevens, 2003).Nesse sentido,

  • 358 PSICANLISE, INSTITUIO E LAO SOCIAL: O GRUPO COMO DISPOSITIVO MOISES ROMANINI E ADRIANE ROSO

    muito mais que uma clnica multidisciplinar, interdisciplinar e at transdisci-plinar, o funcionamento das relaes entre os tcnicos no se d pelo diplo-

    ma ou pelo saber que cada profisso carrega. Mas sim pelo saber construdo apartir de cada sujeito que ali se trata. (Abreu, 2008, p. 77)

    O segundo eixo, o da inveno, tambm tomado sobre dois pla-nos: o da inveno do sujeito sobre si mesmo e o da inveno na inter-veno do analista. A inveno do sujeito sobre si mesmo diz respeito aocorte, ou aos possveis cortes, que o sujeito pode efetuar com a interven-o do analista em sua cadeia significante, produzindo novos significa-dos para sua existncia. Um exemplo simples dessa inveno quando,em um grupo, os sujeitos comeam a se apresentar no mais como de-pendentes qumicos, mas como o Joo, que gosta de futebol e que de-seja conversar sobre o que o leu ontem no jornal. A inveno justamen-te essa produo de novos significados, de novas maneiras que sujeitoencontra para falar de si e de sua histria (Abreu, 2008). Ao acolher asinvenes dos sujeitos, continua o autor, estamos ao mesmo tempo bus-cando constituir uma instituio diferente para cada sujeito, pois a ins-tituio que deve caber ao paciente e no este caber na instituio. Porisso, precisamos inventar uma nova instituio e novas intervenes queacolham as invenes dos sujeitos.

    Portanto, as contribuies da psicanlise para o tratamento das to-xicomanias nos parecem ser fundamentais dentro de um CAPSad, poisambos esto preocupados com a reinsero dos sujeitos, ou seja, pro-pondo um tratamento que possibilite aos sujeitos novas maneiras de seinserirem no lao social e, por mais que tenhamos concepes distintasde sujeito, de desejo e de lugares discursivos, vemos a possibilidade dearticular psicanlise e instituio, embora inicialmente paream ser ex-cludentes. Contudo, se as estratgias de reinsero social propostas nes-ses servios no forem articuladas a partir da direo apontada pelo su-jeito, podem tornar-se mecanismos adaptadores e empobrecedores dosujeito e de seus enigmas (Delgado, 2008, p. 64).

    O psicanalista no trata a dependncia qumica, mas de um sujeitoque sofre com a toxicomania, entendendo que este se subjetiva numasociedade que tem no consumo um de seus mximos valores (Mance,1998). Por isso, ao tratar de um sujeito que sofre com a toxicomania, con-voca-se o paciente fala, a verbalizar suas fissuras, seus medos, fragilida-des, necessidades e sonhos, abrindo.

    Privilegia-se, assim, a palavra, pontuam-se atos falhos, recoloca-seo que o paciente diz desejar, auxilia-se no estabelecimento de limites ena sustentao dos projetos pessoais, sem descuidar os actings outs que,s vezes, insurgem-se como puro ato de violncia (Conte, 2003, p. 51). Asdificuldades enfrentadas na clnica da toxicomania convocam o psicana-lista a pensar os movimentos teraputicos necessrios nessa clnica e no

  • 359PSICOLOGIA USP, So Paulo, 2012, 23(2), 343-365

    trabalho em instituies de maneira geral, a partir de um lugar de angs-tia e de no saber, a fim de ofertar outra experincia com o Outro, queconvide ao investimento em outras formas de relao, em que o desejopredomine sobre o gozo mudo da droga.

    Consideraes Finais

    Enquanto as instituies so criadas para curar ou excluir os sinto-mas provenientes do desamparo fundamental, como, por exemplo, o sin-toma da toxicomania, a psicanlise concebe o sintoma como a formapossvel ao sujeito de se inserir na realidade, isto , operar com seu mal-estar estrutural, ainda que essa operao se constitua de modo precrioou mesmo autodestrutivo. Ou seja, a psicanlise considera o uso e/ouabuso da droga a partir da relao que o sujeito estabeleceu com esseobjeto (droga), como uma via de subjetivao, e no apenas como umdesvio s normativas sociais e biolgicas. Contudo, a clnica psicanalticaassociada noo de clnica ampliada, atravs da criao de dispositivosde tratamento, vista como um desafio e como uma possibilidade paraos psicanalistas que trabalham em instituies de sade, o que requerdesses profissionais um rigor tico e uma postura clnico-poltica condi-zente com os princpios fundamentais da psicanlise.

    Rinaldi (2006), nesse sentido, enfatiza que

    Tal posio deriva de uma tica que se orienta no pelo bem, mas pelo desejo,

    e que se funda na aposta de que ali h um sujeito que poder emergir comoresultado de um trabalho clnico. Este trabalho deve ser sustentado dentro dainstituio, no contra ela, nem apesar dela, mas procurando transmitir algodessa dimenso do sujeito, sem a qual o discurso da cidadania corre o risco de

    reproduzir o modelo tutelar e excludente nesse caso, do sujeito que pre-tende combater. (p. 146)

    Observa-se, em nossa experincia, atravs de conversas cotidia-nas e de encontros com profissionais da sade, que em grande partedos servios pblicos de sade existe a ideia recorrente de que o trata-mento psicanaltico no aconselhado em casos de toxicomania, j queesses pacientes precisam de tratamento breve e urgente e no conse-guem estabelecer uma relao transferencial. A ideia de tratamentobreve basicamente se associa, nesses casos, concepo de cura asso-ciada abstinncia.

    Apesar das posies distintas quanto direo do tratamento e,por vezes, contraditrias no que tange abstinncia, observa-se a pre-sena crescente de psicanalistas nas instituies pblicas de assistncia sade mental (Rinaldi, 2006), indicando no somente uma ampliaono campo de trabalho, mas, tambm, um aumento crescente no interes-

  • 360 PSICANLISE, INSTITUIO E LAO SOCIAL: O GRUPO COMO DISPOSITIVO MOISES ROMANINI E ADRIANE ROSO

    se dos psicanalistas em trabalhar em instituies de sade. Esse movi-mento produz um deslocamento do psicanalista do seu consultrio pri-vado para um espao onde ele est entre muitos, tanto em uma equipemultidisciplinar quanto entre as diversas pessoas a quem se dirige otratamento. A entrada de um novo olhar e de uma escuta diferenciadanas instituies provoca, no mnimo, a necessidade de rearranjo institu-cional.

    O que se pretendeu evidenciar neste trabalho, portanto, que deuma relao inicial mutuamente excludente entre psicanlise e institui-o, podemos, atravs do uso do grupo como um dispositivo de trata-mento pautado nos saberes da psicanlise, pensar numa relao na quala psicanlise enriquece o trabalho nas instituies e estas, por sua vez, aomesmo tempo em que questionam o saber da psicanlise, desafiam eestimulam os psicanalistas a criar novos dispositivos. Afinal, tanto a psi-canlise quanto a instituio (como o caso do CAPSad), preconizam a(re)insero no lao social, ainda que por meios e princpios distintos.

    Psychoanalyse, institution and social tie: the group as a device

    Abstract: Psychoanalysis has been facing a remarkable challenge nowadays: its

    establishment in public health institutions in Brazil. This essay aims to establish a

    dialog between on psychoanalysis and institution, proposing a theoretical

    examination about some possibilities of group work supported by this theoretical

    perspective. Our intention is not to raises questions to the psychoanalytic clinic

    method, but to promote new reflections that may contribute to the change of this

    field of knowledge. Taking the Psychosocial Care Centers for alcohol and other drugs

    users (CAPSad) as point of departure we developed our reasons. First, we presented

    some of the meaning/value of the word institution, associating them to the text

    Civilization and Its Discontents (Freud) and to the psychoanalytic approach to the

    toxicomania (drug addiction). After, we introduced the notion of amplified clinic (cl-

    nica ampliada) with the intention to articulate the psychoanalytic clinic and the

    institutional demand for the toxicomania treatment.

    Keywords: Psychoanalysis. Residential care institutions. Groups. Alcohol. Drugs.

  • 361PSICOLOGIA USP, So Paulo, 2012, 23(2), 343-365

    Psychanalyse, institution et lien sociale: le groupe comme dispositif

    Rsum: La psychanalyse a vu un remarquable dfi daujourdhui: sa cration dans

    les institutions de sant publique au Brsil. Cet essai vise tablir un dialogue entre

    la psychanalyse et linstitution, en proposant une observation thorique sur certaines

    possibilits de travaille en groupe appuys sur cette perspective thorique. Notre

    intention nest pas de soulever des questions de mthode de la clinique psychanaly-

    tique, mais de promouvoir des nouvelles rflexions qui puissent contribuer au

    changement dans ce domaine de connaissance. Prenant les Centres de Soins Psycho-

    social Alcool / Drogues (CAPSad) comme point de dpart, nous dveloppons nos

    arguments. Tout dabord, nous prsentons quelques-unes des significations / valeurs

    du mot institution, en liaison avec le texte Malaise dans la civilisation (Freud) et

    lapproche psychanalytique la toxicomanie (addiction aux drogues). Aprs, nous

    avons introduit la notion de clinique largie avec lintention darticuler la clinique

    psychanalytique la demande institutionnelle pour le traitement la toxicomanie.

    Mots-cls: Psychanalyse. Institutions. Groupes. Alcool. Drogues.

    Psicoanlisis, institucin y vnculo social: el grupo como dispositivo

    Resumen: El psicoanlisis se ha enfrentado a un desafo notable hoy en da: su

    establecimiento en las instituciones de salud pblica en Brasil. Este ensayo tiene por

    objeto establecer un dilogo entre el psicoanlisis y la institucin, proponiendo un

    examen terico acerca de algunas posibilidades de trabajo en grupo con el apoyo

    de esta perspectiva terica. Nuestra intencin no es plantear preguntas al mtodo

    clnico psicoanaltico, sino promover nuevas reflexiones que pueden contribuir al

    cambio de este campo del conocimiento. Tomando los Centros de Atencin

    Psicosocial para usuarios de alcohol y otras drogas (CAPSad) como punto de partida

    hemos desarrollado nuestras razones. En primer lugar, presentamos algunos de los

    efectos/valor de la palabra institucin, asocindolos con el texto El malestar en la

    cultura (Freud) y el enfoque psicoanaltico del consumo de drogas (drogadiccin).

    Despus, hemos introducido el concepto de clnica ampliada (Clnica Ampliada) con

    la intencin de articular la clnica psicoanaltica con la demanda institucional para el

    tratamiento de toxicomana.

    Palabras clave: Psicoanlisis. Instituciones de salud. Grupos. Alcohol. Drogas.

  • 362 PSICANLISE, INSTITUIO E LAO SOCIAL: O GRUPO COMO DISPOSITIVO MOISES ROMANINI E ADRIANE ROSO

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    Moises Romanini, psiclogo, mestre em Psicologia (PPGP-UFSM/Bolsista CAPES-REU-

    NI). Doutorando em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI-UFRGS), integrante do

    Grupo de Pesquisa Sade, Minorias Sociais e Comunicao. Endereo para corres-

    pondncia: Rua Mal. Floriano Peixoto, 1750, 3 Andar, Sala 317, CEP 97015-372, Santa

    Maria, RS, Brasil. Endereo eletrnico: [email protected]

    Adriane Roso, psicloga, doutora em Psicologia (PUC-RS), docente do Programa de

    Ps-Graduao em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (PPGP-UFSM),

    lder do Grupo de Pesquisa Sade, Minorias Sociais e Comunicao. Endereo para

    correspondncia: Rua Mal. Floriano Peixoto, 1750, 3 Andar, Sala 317, CEP 97015-372,

    Santa Maria, RS, Brasil. Endereo eletrnico: [email protected]

    Recebido: 23/05/2011

    Aceito: 25/01/2012