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Revista Saúde e Educação, Coromandel, v. 1, n. 1, p. 92-112, ago./dez. 2016
O DESENVOLVIMENTO MOTOR E A IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES PSICOMOTORAS
Tatiane Daby de Fátima Faria Borges1
Ana Paula dos Reis Borges*
RESUMO
O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento humano. As crianças desde o nascimento já se movimentam e, com o decorrer dos anos, esses movimentos se apropriam e adquirem novas experiências. A presente pesquisa teve como objetivo reconhecer a relevância do movimento na vida das crianças, em especial nos primeiros anos de vida, e competências no campo da psicomotricidade como fundamentais para novas aprendizagens. Para isso, realizou-se uma pesquisa baseada em fontes bibliográficas e pesquisa de campo nas quatro Creches Municipais Urbanas da cidade de Coromandel–MG. A amostra constitui-se de todas as educadoras das referidas creches, sendo um questionário o instrumento utilizado. Os dados foram analisados de maneira quantitativa, descritiva e exploratória. Diante da realidade apresentada pela pesquisa, observou-se que a maioria das educadoras (80%) tem a habilitação exigida para atuar na Educação Infantil, (83%) conhecem a relevância das práticas motoras e da psicomotricidade e que 64% mencionaram que direcionam atividades psicomotoras todos os dias. A pesquisa bibliográfica destacou ainda que o movimento é uma forma de linguagem capaz de expressar sentimentos e vontades, propiciando à criança conhecer o mundo e fornece ainda subsídios para a aprendizagem. Assim, percebe-se que atividades motoras são essenciais para uma formação global das crianças.
Palavras-chave: Desenvolvimento. Psicomotricidade. Movimento. Aprendizagem.
ABSTRACT
Movement is an important dimension of human development. Children from birth are already moving and, over the years, these movements take hold and gain new experiences. The present research had as general objective to recognize the relevance of the movement in the life of the children, especially in the first years of life, and competences in the field of psychomotricity as fundamental for new learning. For this, a research based on bibliographical sources and field research was carried
1*Especialização em: Psicopedagogia pela Fundação Carmelitana Mário Palmério (FUCAMP). Supervisão Escolar pela Faculdade Integrada de Jacarepaguá (FIJ). Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Cidade de Coromandel (FCC). Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário do Cerrado (UNICERP). Docente na Faculdade Cidade de Coromandel (FCC). [email protected] * Especialização em: Supervisão Escolar e Gestão de Projetos pela Universidade Candido Mendes (UCM). Docência do Ensino Superior e Inspeção Escolar pela Universidade Candido Mendes (UCM). Mídias na educação pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Graduada em Pedagogia pela Faculdade Cidade de Coromandel (FCC). Coordenadora Pedagógica. [email protected]
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out in the four Urban Municipal Nurseries of the city of Coromandel-MG. The sample consisted of all the educators of the referred centers, and a questionnaire was the instrument used. The data were analyzed in a quantitative, descriptive and exploratory way. In view of the reality presented by the research, it was observed that most of the educators (80%) have the qualification required to work in Infant Education, (83%) are aware of the relevance of motor practices and psychomotricity and that 64% mentioned that they direct activities Psychomotor every day. The bibliographic research also emphasized that the movement is a form of language capable of expressing feelings and wishes, allowing the child to know the world and also provides subsidies for learning. Thus, it is perceived that motor activities are essential for an overall formation of children. Keywords: Development. Psychomotricity. Movement. Learning.
1 INTRODUÇÃO
Ferreira Neto (1999) relata a relevância do ato motor na vida do ser humano e
destaca sua interferência na aprendizagem bem como as fases que cada criança
passa, pois a mesma necessita de motivação e estimulação. Ressalta Costa (2007)
que a psicomotricidade auxilia no conhecimento do corpo, de forma a propiciar
momentos de interação e conhecimento do ambiente que a cerca por meio de
atividades e do movimento.
Ao iniciar a pesquisa, acreditava-se que o movimento era a primeira
manifestação de vida do ser humano, mesmo ainda em fase intrauterina. Assim,
desde que nasce a criança adquire maior controle sobre seu corpo e expressa novas
maneiras de movimento de acordo com seu crescimento.
Ainda, no início da vida, a tarefa evolutiva do ser concentra-se no
desenvolvimento motor e dele partirão outros princípios educacionais. Faz-se
extremamente relevante que instituições de Educação Infantil priorizem o
desenvolvimento motor como conquista primordial para a sequência das
aprendizagens escolares, pois é através da estimulação psicomotora que a criança
conhece seu corpo, suas funções e as possibilidades do mesmo.
A psicomotricidade é a base fundamental para o processo intelectivo e
de aprendizagem da criança. Ela que oportuniza condições para o desenvolvimento
de capacidades básicas, aumenta seu potencial motor e utiliza o movimento para
atingir aquisições mais elaboradas como as intelectuais, as trocas afetivas e sociais.
O presente artigo aborda a literatura relacionada à psicomotricidade enquanto
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ciência bem como suas ações e aplicabilidades. Mostra o movimento na vida da
criança durante a primeira infância e relata a formação docente dentro da educação
motora, sua função e práticas docentes. E por fim, traz os resultados e a discussão
dos dados da pesquisa de campo descrita posteriormente.
Todo esse contexto abordado no artigo tem como objetivo reconhecer a
relevância do movimento na vida das crianças, em especial nos primeiros anos de
vida, e competências no campo da psicomotricidade como fundamentais para novas
aprendizagens.
2 MOVIMENTO
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI) relata que o
movimento é a primeira manifestação na vida do ser humano. Isso porque desde a
vida uterina a criança realiza movimentos, e ao nascer, cada vez mais adquire
controle sobre os mesmos e expressam novas maneiras de se movimentar. No ato
motor ela expressa seus sentimentos, vontades e se comunica utilizando o corpo,
apropriando cada vez mais o uso dos gestos e posturas corporais (BRASIL, 1998, v.
3). Para Maluf (2008), o movimento humano é toda linguagem exercida pela criança
atuando sobre o ambiente.
Conforme Gonçalves (2010), o movimento é a mudança de viver e pensar,
deslocação ou o simples ato de mover. Por meio dele a criança estabelece contatos
com outras pessoas e objetos. Assim, as capacidades psicológicas desenvolvem-se
por meio das atividades motoras, capaz de construir um mundo mental mais
complexo. Para Wallon (1970) apud Gonçalves (2010, p. 94) “[...] o movimento não é
um puro deslocamento no espaço nem uma adição pura e simples de concentrações
musculares; o movimento tem um significado de relação e de interação afetiva com
o mundo exterior [...]”
Segundo Maluf (2008) os primeiros anos de vida do indivíduo são
importantes, uma vez que se apresentam decisivos para a formação, pois é nessa
época que a criança constrói sua identidade, sua estrutura física, afetiva e
intelectual. Nesse sentido, Ferreira Neto (1999) afirma que na primeira infância as
aquisições nos domínios do comportamento acontecem, sendo esse período
determinante para futuras habilidades no comportamento. No âmbito motor, essa
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fase também é determinante, pois é nessa época que os padrões motores
acontecem e afinam novas habilidades, aperfeiçoando-se de acordo com o tempo.
Dessa forma, é na primeira infância que se adquire habilidades motoras. Depois
dessa fase tal processo terá continuidade de forma a aprimorar as já existentes.
Assim, o RCNEI relata que a primeira funcionalidade do movimento é a
expressão, onde estados íntimos, desejos e necessidades se manifestam. No início,
os movimentos têm a dimensão subjetiva da motricidade, tendo sentido na relação
com o meio e com as pessoas que a cercam, necessitando criar formas para
identificar a linguagem dos movimentos e expressões para sanar as necessidades
das crianças. Depois, aos poucos, a criança chega à dimensão objetiva do ato
motor, que é sua capacidade de agir sobre o espaço e o meio físico (BRASIL, 1998,
v. 3).
Através do movimento, segundo Arribas et al. (2004), a criança passa da fase
de dependência do adulto à capacidade de realizar atividades e ações, na qual
desenvolve maior controle sobre seu corpo e de noções de tempo, aumentando
gradativamente sua capacidade de concentração e atenção.
O desenvolvimento motor, de acordo com os autores supramencionados, é
um processo longo. Ele segue uma sequência de modificações dos movimentos,
isso porque desde a vida uterina a criança os realiza, e assim, vão se aprimorando
no decorrer da vida e exercendo influência sobre o comportamento. Vale ressaltar
que esse processo deve acontecer de forma natural, com respeito às fases e ritmo
de cada um, fazendo necessária uma boa estimulação. Dessa forma, a criança tem
oportunidade de assumir sua corporeidade, usufruir de livre expressão e
consequentemente uma boa evolução.
O movimento é o primeiro modo de expressão e o primeiro modo de
exploração, pois expressa seus sentimentos, pensamentos e atitudes. Assim, Maluf
(2008) afirma que o movimento influencia todo processo ensino-aprendizagem,
trabalha o aluno no global, determina as transformações das capacidades e facilita a
aprendizagem.
Cauduro (2001) complementa a ideia ao afirmar que somente um bom
desenvolvimento motor na primeira infância será eficiente para que a criança tenha
melhores capacidades de se situar no mundo e melhor aprendizagem escolar.
Também apresenta que por meio das atividades motoras elas brincam, se divertem,
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criam, interpretam e se conhecem.
Todo movimento, com atividades direcionadas e estimulação, traz o
amadurecimento das estruturas cognitivas e possibilita novas descobertas e
resultados satisfatórios, isso porque o movimento e o cognitivo estão intimamente
ligados exercendo influência um sobre o outro, sendo inseparáveis.
Para Jersild (1967, p. 108):
É principalmente por meio do seu desenvolvimento motor que a criança deixa de ser a criatura frágil da primeira infância e se transforma numa pessoa livre e independente do auxílio alheio. As atividades motoras desempenham também um papel importantíssimo em muitas das suas primeiras iniciativas intelectuais, enquanto explora o mundo que a rodeia, com os olhos e com as mãos, fornecendo-lhe também os meios pelos quais
fará grande parte dos seus contactos [sic] sociais com as outras crianças.
Segundo Bee (2003) as habilidades motoras se dividem em dois momentos.
O primeiro, chamado habilidade motora ampla ou global, inclui engatinhar, caminhar
e andar, que são os primeiros a desenvolver na criança. O segundo momento as
habilidades motoras finas, também conhecidas como habilidades de manipulação,
inclui agarrar e apanhar objetos, sendo os últimos a se desenvolver. Está presente
em todas as faixas etárias, proporcionando um amadurecimento nos movimentos e
ao usar o corpo, tal competência é essencial nas aquisições escolares.
Os movimentos, de acordo com o RCNEI, têm sua funcionalidade em atender
às necessidades e interesses de uma sociedade, presentes nas mais diversas
culturas, passando por diversas formas de andar, correr e saltar de acordo com a
época da história. Sendo assim, diversas formas de linguagem foram aparecendo,
fazendo uso de diferentes posturas, expressões e gestos, construindo uma cultura
corporal (BRASIL, 1998, v. 3).
O movimento precisa estar presente na vida das crianças, formando assim
uma cultura corporal que possibilite imitar, criar e que prepare para novas aquisições
de conhecimentos, de forma a permitir vencer novos desafios e arriscar. Haja vista a
importância do movimento faz-se dele premissa para a descoberta, desenvolvimento
e evolução do corpo. Assim, não há corpo bem desenvolvido e aprendizagens
subsequentes se não forem priorizadas a estimulação e a coordenação de
movimentos adequados e eficientes às necessidades individuais e à faixa etária da
criança.
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3 AS AÇÕES PSICOMOTORAS
A educação psicomotora é indispensável para uma aprendizagem satisfatória,
proporcionando uma educação global que desenvolve a motricidade e o controle
sobre as ações do corpo envolvendo a cognição, a afetividade e as interações
sociais (MALUF, 2008).
Psicomotricidade de acordo com Costa (2007, p. 23) significa “[...] a relação
entre o movimento, o pensamento e a afetividade.” Inicialmente, a psicomotricidade
centrava seus estudos nas patologias, mas com os estudos de Wallon, Piaget e
Ajuriaguerra, a preocupação transpôs para o desenvolvimento, com a construção
motora da mente e da inteligência. Assim, ganha cada vez mais lugar de destaque
nas escolas e nos planejamentos, na qual sua prática é de grande importância para
a formação das crianças.
A psicomotricidade segundo Bruno (2009) é de extrema importância para o
desenvolvimento e a aprendizagem da criança, sendo ela uma educação que é
pautada na expressão e domínio corporal para atingir outras aprendizagens, porque
a criança se desenvolve pelos seus movimentos como um ser único e social.
Diante da importância da psicomotricidade, Oliveira (1997) apud Costa (2007,
p. 27), relata que:
A educação psicomotora dever ser considerada como uma educação de base [...]. Ela condiciona a todos os aprendizados [...], leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situação no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilidades de coordenação de seus gestos e movimentos.
A psicomotricidade de acordo com autor supracitado é uma ciência que está
relacionada ao homem, tendo por objetivo estudá-lo por meio do movimento de seu
corpo em relação ao mundo interno e externo. Outro objetivo é a estruturação e a
ampliação do esquema corporal, que vem a ser conhecimento desse corpo.
Contribui na evolução da organização, do equilíbrio, da educação global e
proporciona segurança e expressividade.
Borges (1991, p. 161) complementa que “Entende-se por ‘educação
psicomotora’ a educação do movimento, o que permite ao sujeito um comando
inteligente de suas ações físicas.” Porém, essas ações devem proporcionar à
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criança a realização das atividades de modo que sejam ordenadas e que diminua as
dificuldades.
A educação psicomotora vem com o intuito de promover atividades para que
a criança amplie seu movimento. Maluf (2008) afirma que essa psicomotricidade
deve ser desenvolvida de forma lúdica, de modo que a criança faça uso de diversos
movimentos para que a mesma sinta prazer e confiança em vencer novos desafios.
Para que ocorra uma aprendizagem significativa é importante que as ações
psicomotoras sejam embasadas em atividades que proporcionem prazer, motivação
e com um vasto repertório de atividades. Alves (1995) apud Maluf (2008, p. 26)
relata que “[...] a educação psicomotora inclui a corporeidade, o prazer e a vida.”
Portanto, a psicomotricidade tem suas ações relacionadas com o desenvolvimento
corporal, sendo fator mediador da aprendizagem.
4 O DOCENTE E O DESENVOLVIMENTO CORPORAL
A Educação Infantil, segundo Kulisz (2004), tem sido discutida e analisada. É
o período que se constroem bases essenciais da formação infantil para toda a vida.
Diversos autores e a sociedade estão mais conscientes quanto à relevância das
experiências na primeira infância, o que motiva demandas diante da educação
infantil. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada
em 1996, acontece a crescente valorização da educação infantil na tentativa de
assumir o papel de uma instituição capaz de cuidar e educar.
De acordo com Sanches (2003), a LDB concebe a educação infantil como a
primeira etapa da educação básica, objetivando esta desempenhar funções que
complementam a família e a sociedade, sendo direito de todas as crianças que se
encontram na faixa etária de zero a cinco anos frequentar esta etapa da educação,
porém não há obrigatoriedade para a mesma.
Kulisz (2004) diz que cuidar e educar são indissociáveis e exige dos
educadores muito estudo, dedicação e amor. O mesmo torna-se imprescindível
desde o planejamento até a realização das atividades práticas ligadas aos cuidados
e à educação.
Dessa forma, cuidar é dar atenção às necessidades da criança e auxiliar nas
necessidades afetivas e biológicas do corpo como: alimentação e saúde. O RCNEI
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aponta que “Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades.”
(BRASIL, 1998, v. 1, p. 24). É preciso dar oportunidade para a criança crescer como
ser humano, ajudar na descoberta das necessidades e desenvolver a autonomia e
identidade. Exige escutar os desejos e inquietações, encorajar e apoiar a criança em
suas fantasias e desafios. Requer ainda destacar as conquistas e aceitar a tentativa
das crianças em suas opções de explorar o ambiente e também os movimentos.
O Referencial mostra ainda que educar é propiciar situações de
aprendizagem por meio de brincadeiras, que visem à formação integral, que trabalhe
o respeito, confiança, aceitação e cultura. Para tanto “[...] a educação poderá auxiliar
o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das
potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas [...]” (BRASIL,
1998, v. 1, p. 23) para uma formação eficaz e holística.
O RCNEI afirma que uma instituição de educação infantil precisa ser um local
agradável, estimulante, educativo e seguro, com educadores preparados para
acompanhar a criança nesse intenso processo de formação e descobertas. Que
propicie à criança o prazer em aprender, a pensar e a formar bases sólidas,
propondo atividades que desenvolva a criança no global (BRASIL, 1998, v. 3).
Maluf (2008) complementa que deve ser um ambiente propício à
aprendizagem, acolhedor e alegre, bem como ter um currículo direcionado para
desenvolver as atividades que são necessárias para a formação dessas crianças. A
aprendizagem nessa fase se dá por meio da ação, da brincadeira, da imaginação e
da interação com os colegas e professores. Sendo assim, apresenta-se como um
apoio para o desenvolvimento de habilidades. Dessa forma, o desenvolvimento
motor é parte importante. A partir do conhecimento do próprio corpo a criança terá
condições de desenvolver outras habilidades.
Diante disso, o RCNEI afirma que o movimento é fator essencial para a
cultura e desenvolvimento do ser humano, por meio de um ambiente propício para
que as crianças se sintam protegidas e acolhidas. As práticas pedagógicas devem
propiciar a exploração e a oportunidade de brincar, ao contrário de muitas práticas
errôneas que mantêm as crianças por longos períodos quietos ou nos berços, sem a
oportunidade de arriscar, vencer desafios e expressar seus recursos motores. Cabe
ao educador orientar atividades motoras que visem o pleno desenvolvimento,
expressem seus anseios e tomem iniciativas, construindo sua autonomia e
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identidade (BRASIL, 1998, v. 3).
Opina Sousa (1996), que o repertório de atividades deve ser diversificado, de
forma a manter uma organização da rotina com alternância entre as atividades, tais
como alimentação, banho e repouso, integrados com as atividades formais de
aprendizagem e desenvolvimento uma vez que todas as atividades tenham
planejamento e intencionalidade.
Para Ferreira Neto (1999), a escolha de tais atividades deverá estar de
acordo com o nível de desenvolvimento de cada um, com as condições de espaço e
materiais, bem como conhecer a realidade e a necessidade de cada criança.É
necessário observar o nível de motivação e interesse, tendo um amplo repertório de
atividades e com um planejamento amplo e reflexivo, capaz de alcançar a todos,
pois o sucesso da aprendizagem consiste na escolha das atividades.
Segundo o RCNEI as práticas educativas motoras devem desenvolver nas
crianças as seguintes capacidades:
familiarizar-se com a imagem do próprio corpo;
explorar as possibilidades de gestos e ritmos corporais para expressar-se nas brincadeiras e nas demais situações de interação;
deslocar-se com destreza progressiva no espaço ao andar, correr, pular etc., desenvolvendo atitude de confiança nas próprias capacidades motoras;
explorar e utilizar os movimentos de preensão, encaixe, lançamento etc., para uso de objetos diversos. (BRASIL, 1998, v. 3, p. 27).
Maluf (2008) ressalta que as práticas pedagógicas não devem ser aplicadas
sem nenhuma intenção. As mesmas devem sempre ter o objetivo de provocar
aprendizagem, na qual o educador tem a responsabilidade de criar novas práticas
eficazes para alcançar a finalidade.
O RCNEI ainda relata que o movimento deverá contemplar a dimensão
expressiva porque envolve as expressões, comunicações, sensações e sentimentos
relacionados às manifestações corporais (BRASIL, 1998, v. 3).
Arribas et al. (2004) mostram que tudo na criança é expressão corporal, isso
porque os seus atos provêm do corpo, sendo essencial que conheça seu corpo para
que o mesmo se torne instrumento de expressão.
Assim, é relevante segundo o RCNEI criar situações em que as crianças
reconheçam seu corpo e expressem por meio de gestos corporais e da linguagem,
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sensações e ritmos, com cantigas capazes de trabalhar o afetivo e o contato
corporal entre criança e adulto, bem como a interação e a observação entre ambos
(BRASIL, 1998, v. 3).
As brincadeiras de roda também são um recurso didático eficiente na
construção de ritmos e para a descoberta de novos movimentos. Maluf (2008, p. 34)
completa que “Por meio de cantos e da expressão corporal, a criança poderá ter
percepção rítmica, expressar-se através de dramatizações, danças ou cantos que
exijam movimentos de locomoção associados ao ritmo [...]”
É necessário, de acordo com o RCNEI, ter espelhos nas salas para que a
criança possa se olhar de corpo inteiro, que reconheçam sua expressividade,
brinquem de caretas, imitem animais, outras crianças ou adultos. Vale ressaltar que
o educador é exemplo, devendo ter controle sobre suas expressões e posturas, uma
vez que suas ações serão norteadoras para as atitudes das crianças. Nas salas com
crianças de quatro a seis anos deverão continuar com tais atividades, porém,
propondo um maior aprofundamento nos objetivos, deixando que as crianças
assumam papéis, fantasiem, envolvendo a imitação, a intencionalidade dos
movimentos e limites, como o ‘faz-de-conta’ e as brincadeiras de roda (BRASIL,
1998, v. 3).
O RCNEI ressalta que as instituições de educação infantil devem contemplar
o equilíbrio e coordenação, propiciando jogos e brincadeiras que trabalhem
velocidade, flexibilidade e força, oportunizando a socialização, sendo que por meio
dos jogos respeitem regras, interajam umas com as outras e aprendam a competir.
Diante disso, com crianças de zero a três anos, deve-se propor momentos que
desenvolvam a mobilidade de movimentarem-se no espaço, diferentes posturas
corporais e aperfeiçoamento dos gestos manuais, favorecendo assim, por meio de
materiais variados, posições diferentes como: deitar-se, ficar de pé, sentar, rolar,
engatinhar, correr, saltar, etc., como também encaixar, traçar e lançar.
O RCNEI diz que “A oferta permanente de atividades diversificadas em um
mesmo tempo e espaço é uma oportunidade de propiciar a escolha pelas crianças.”
Dessa forma, tem oportunidade de vivenciar diversas experiências que serão
enriquecedoras para sua formação (BRASIL, 1998, v. 2).
Cabe ainda salientar que o movimento deve estar presente na rotina das
instituições como salientam Bassedas et al. (1999, p. 113) “[...] o planejamento é
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uma ferramenta na mão do professorado que lhe permite dispor de uma previsão
sobre o que acontecerá durante a aula [...]”, sendo essencial priorizar no
planejamento, segundo Maluf (2008), as experiências individuais, que procure
enriquecê-las a fim de aumentar seus conhecimentos.
Em todo o processo de aquisição e apropriação do movimento, a avaliação
deve ser contínua. Para Bassedas et al. (1999), a avaliação deve servir de subsídio
para nortear novas ações, onde é observado o desenvolvimento do movimento.
O professor, de acordo com o RCNEI, deve sempre fazer registros das
conquistas das crianças e analisar seu crescimento e mudanças. Deve ainda
informar a elas suas qualidades e competências e valorizar o esforço de cada uma
mantendo um contínuo diálogo e respeito, pautado pela intensa reflexão de sua
atuação (BRASIL, 1998, v. 3).
Para tanto, o educador infantil em sua prática deve sempre ter uma postura
criativa, afetiva e acima de tudo reflexiva, para que tenha capacidade de atuar com
entusiasmo e motivação, alcançando o pleno desenvolvimento da criança.
4.1 A Formação do docente
A educação infantil, segundo Sanches (2003), está passando por grandes
transformações, o que exige novos olhares e maior atenção. Nessa perspectiva, as
mudanças incluem os educadores, na qual demanda uma formação mais ampla e
sólida para acompanhar a crescente evolução. Para ser professora dos anos iniciais
nas instituições de ensino, era necessário amar, saber lidar com as crianças e ter
saberes de mulher, da maternidade. Porém, diante da necessidade de uma
educação com base e eficácia, cria-se a exigência de formação escolar, acreditando
proporcionar uma maior preparação teórica para os docentes lidarem com as
crianças.
A LDB de número 9394/96 (BRASIL, 1996, s. p.), no título VI, art. 62 diz:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
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Todas essas exigências, segundo Sanches (2003), advêm das descobertas
dos últimos anos, que mostram a criança como um ser único e social, capaz de
efetuar suas próprias escolhas, sendo necessária a presença de alguém capaz de
desabrochar a inteligência e as descobertas desse ser tão pequeno, porém
grandioso na capacidade de aprender.
O professor de educação infantil, para Maluf (2008), deve conhecer as etapas
de desenvolvimento da criança, as características da faixa etária, suas necessidades
e interesses, para assim planejar suas ações de forma que aprimore a criatividade e
a socialização, visando o crescimento global da criança.
O RCNEI aponta que esse profissional polivalente é aquele capaz de cuidar
enquanto educa e vice-versa, capaz de refletir sobre sua ação e procurar sempre
atualizar-se, procurando novas formas de contagiar seus alunos, por uma educação
global (BRASIL, 1998, v. 3).
Para Kulisz (2004, p. 20) “É necessário pensar na formação do docente com a
concepção de profissional competente, reflexivo e aberto à troca [...]”, que vise
realizar seu trabalho com ética, criatividade, atitude e perseverança. Suas atitudes
devem ser embasadas no amor, com ações pautadas no compromisso uma vez que
ser educador é vocação.
La Torre e Barrios (2002) complementam que formação não é simplesmente a
obtenção de conhecimentos, mas sim construção de atitudes e valores diante das
novas exigências da atualidade, sendo capaz de desenvolver novas habilidades e
hábitos para que possam ser transmitidos aos alunos. Assim, o professor deve ser
norteado por quatro pontos essenciais para ter uma formação integral, que são eles:
querer, saber, fazer e aprender a ser.
Diante disso, ele deverá pautar sua atuação na inovação e na investigação a
fim de encontrar os melhores resultados e estratégias para que o processo de
ensino-aprendizagem seja eficaz e significativo. Maluf (2008) acrescenta que a
formação é um processo contínuo, que nunca tem fim, todos os dias é preciso
procurar uma nova forma de contagiar e empolgar os alunos. Kulisz (2004) ressalta
que para ser educador é preciso procurar sempre novas técnicas de ensino, ser
competente e comprometido, aberto às trocas e que acima de tudo, exerça seu
papel com dedicação. Que em todos os dias de trabalho procure contagiar e motivar
seus alunos, buscando o diálogo, o afeto, capaz de cuidar e educar.
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Assim, a formação do educador deve priorizar a reflexão acerca da sua
prática e que seja contínua, capaz de buscar e efetivar a aprendizagem dentro do
contexto motor e da psicomotricidade, bem como de outras habilidades essenciais
na formação da primeira infância.
5 METODOLOGIA
O presente trabalho se efetivou através de pesquisa de campo de caráter
quantitativo, descritivo e exploratório. A amostra desse estudo foi formada por
professores da educação infantil das creches da rede pública urbana do município
de Coromandel (MG). Para a seleção dos sujeitos da pesquisa envolveu-se todos os
docentes que atuam na Educação Infantil. Os sujeitos de pesquisa não tiveram
malefícios, as respostas descritas neste trabalho foram mantidas em sigilo, não
divulgando os nomes dos participantes. A partir deste trabalho, poderá haver uma
reflexão a respeito da importância do movimento na vida das crianças, sendo que os
professores poderão redirecionar sua prática para alcançarem o melhor
desenvolvimento das crianças.
O instrumento utilizado para tal pesquisa foi um questionário elaborado pelas
pesquisadoras, com perguntas fechadas, relacionadas à formação escolar, o tempo
de trabalho, a prática de atividades usando os movimentos e a participação das
crianças nessas atividades.
Após a elaboração, o presente projeto foi apresentado à Secretaria Municipal
de Educação e Cultura no referido município solicitando a autorização para que o
mesmo se efetivasse. Mediante a aprovação, foram procurados os sujeitos da
pesquisa para que conhecessem os objetivos do projeto. Após esse momento, os
docentes responderam ao questionário nas reuniões pedagógicas, realizadas nas
creches com a previsão de tempo de trinta minutos.
Após a coleta, os dados foram expostos em gráficos e quadro e discutidos
com a literatura correlata ao tema.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando questionados sobre a formação escolar, as respostas dos sujeitos
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encontram-se no gráfico a seguir.
Gráfico 1 – Formação escolar das educadoras das creches municipais urbanas de
Coromandel/MG no ano de 2011
3%
7%
10%
37%
43%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Cursando Superior
Ensino Superior
Magistério
O que se destacou nas respostas foi o número estimável e satisfatório de
43% das professoras com formação em Magistério e 37% em Curso Superior, sendo
que apenas 7% destas em formação superior são habilitadas em outros cursos,
diferentes de Pedagogia. Os dados evidenciam assim que a maioria das
participantes já se conscientizou da importância de uma boa formação para atuar na
Educação Infantil.
Essa busca pela formação é um dos fatores essenciais para a mudança do
paradigma das creches, uma vez que estas eram vistas apenas como um local onde
as crianças eram mantidas sem nenhuma função pedagógica. Com a proposta de
institucionalizar de forma educativa e assistencial a educação infantil, pode-se dar
maior ênfase a formação docente, de forma que as educadoras devem estar aptas a
lidarem com a aprendizagem dessas crianças, haja vista que essa fase requer
cuidados, atenção e muita atividade.
Segundo estudos já mencionados neste trabalho é importante que os
docentes busquem a capacitação, a fim de melhorar sua prática. Sanches (2003)
relata que a Educação Infantil requer professores especializados, com um bom
conhecimento acerca da Psicologia, das fases do desenvolvimento, bem como das
práticas pedagógicas a cada faixa etária. Sabe-se que a teoria é fundamental para
direcionar uma boa atuação enquanto educador.
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Quando questionadas, a prioridade das atividades motoras no planejamento,
100% dos docentes afirmou desenvolver tais atividades com as crianças. Observa-
se que as educadoras oportunizam as crianças momentos de se expressar por meio
do movimento.
Assim, Ferreira Neto (1999) relata que oferecer momentos de atividades
motoras às crianças é de suma importância, para desenvolver tanto o conhecimento
do corpo, quanto habilidades essenciais para aprendizagens futuras. Maluf (2009)
diz que privar as crianças dessas atividades pode causar defasagens no
desenvolvimento, pois quando a criança se movimenta, ela vivencia momentos
alegres, prazerosos e além de brincar, aprende.
Ao serem inquiridos sobre a frequência de tais atividades motoras, as
respostas mencionadas pelos docentes encontram-se no gráfico a seguir:
Gráfico 2 – Frequência das atividades motoras nas creches municipais urbanas de
Coromandel/MG no ano de 2011
Vale destacar que 64% das educadoras afirmam desenvolver todos os dias
exercícios que viabilizem o aprimoramento das habilidades ligadas ao corpo.
Conforme as respostas das professoras, o resultado é muito relevante pela
frequência em que as atividades motoras são desenvolvidas nas creches, fazendo
com que as crianças, a cada dia, vivenciem experiências diferentes e contribuem
para a formação motora segundo diversos autores citados nesse trabalho. A
diversidade de práticas é importante uma vez que oportuniza às crianças maior
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contato com a variedade de movimentos.
Para Ferreira Neto (1999), a quantidade de estímulos irá determinar o nível de
aprendizagem, sendo essencial priorizar um grande número de movimentos, que
todos os dias o educador propicie momentos, com brincadeiras que tenham como
objetivo aprimorar as habilidades. A criança aprende pela repetição e exemplo.
Quanto mais estimulada for, maiores serão as experiências motoras.
Quando questionados a respeito do conhecimento da educação motora e
psicomotora, 83% responderam que têm noção do que se pretende com a educação
motora e a psicomotricidade. Esse resultado vem ao encontro da frequência que as
atividades são trabalhadas, pois a maioria tem conhecimento e possui condições de
planejar melhores ações que visem o movimento.
As educadoras quando inqueridas quanto à relevância das atividades motoras
nas creches municipais, o resultado apresentado é animador, pois 30% das
educadoras afirmaram ser muito importantes e 70% das educadoras consideram
essenciais as práticas motoras na formação da criança, levando-se em conta a
necessidade e o valor de se proporcionar atividades de forma diversificada para o
bom conhecimento e aprendizado da criança.
Segundo Píccolo (2004), o ato motor é importante na formação do ser
humano, é uma educação que permite educar o movimento, sua contribuição se
expande por toda a vida, e a educação recebida na primeira infância será fator
determinante por toda a vida.
Quando perguntados sobre a contribuição das atividades motoras, as
docentes responderam que:
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Gráfico 3 – Contribuição das atividades motoras para as crianças de acordo com as
educadoras das creches municipais urbanas de Coromandel/MG no ano de 2011
Os dados revelam que 30% das educadoras reconhecem o valor das
atividades motoras para a aprendizagem, sendo que Maluf (2009) afirma que o nível
de raciocínio e atenção da criança depende das experiências motoras; aprender
significa ser capaz de agir, pensar por contatos recreativos. Uma boa aprendizagem
está ligada às habilidades desenvolvidas na primeira infância, que são
determinantes pelo ato motor. Assim, aprendizagem e movimento são
indissociáveis.
Outro percentual que merece destaque foi dos docentes que responderam
que o movimento contribui para a motricidade (23%). Para tanto, oferecer um vasto
repertório de atividades motoras é o caminho para aprimorar a motricidade que
permite ao homem se expressar, segundo Píccolo (2004).
Vale ressaltar também que 17% consideram que a contribuição é somente
para a diversão, dado esse que contradiz a opinião de Ferreiro Neto (1999), ao
afirmar que as atividades motoras trabalham a criança no todo, fornecendo
subsídios essenciais para sua formação, na qual a ação motora, por meio da
ludicidade irá propor momentos alegres enquanto diversão, porém, outros fatores
também são desenvolvidos.
De acordo com alguns autores (FERREIRA NETO, 1999; JERSILD, 1967), e
conforme o presente trabalho, o movimento desenvolve na criança não somente a
aprendizagem e a motricidade, mas também o intelectual, a oportunidade de
conhecer o corpo e propicia a diversão, isso porque tem a capacidade de
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desenvolver a criança de forma global, sendo um ensino holístico.
Quando indagados em relação as dificuldades deparadas para desenvolver
as atividades motoras, as respostas encontram-se no quadro a seguir:
Tabela 1 - Dificuldades encontradas para desenvolver as
atividades motoras referidas
Dificuldades Encontradas Quantidade de respostas
Tempo 13%
Não encontra nenhuma dificuldade 23%
Espaço Físico 54%
Material 10%
Os dados revelam que a maior dificuldade perante as práticas motoras
relacionadas pelas educadoras está ligada ao espaço físico, uma vez que, para uma
aprendizagem significativa, o ambiente deve ser propício, amplo, arejado e muito
alegre. Ferreira Neto (1999) afirma que a qualidade das atividades motoras está
vinculada com o espaço físico, necessita de um local que permita a criança brincar,
explorar e manipular, devendo ser motivador, adequado e com segurança.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao considerar o objetivo do presente estudo, que era conhecer a importância
do movimento na vida das crianças em especial nos primeiros anos de vida e
competências no campo da psicomotricidade como essenciais para novas
aprendizagens, pode-se notar que o ato motor é fator essencial para a formação.
A pesquisa bibliográfica e a aplicação dos questionários às educadoras das
creches, área urbana de Coromandel (MG) consentiram que o estudo sobre o
desenvolvimento motor e a psicomotricidade pudesse ser analisado sob diversos
aspectos e, em especial, o conhecimento sobre a importância do movimento.
Nos achados literários, percebeu-se que cada criança é um ser único, com
características diversas, passando por fases diferentes, sendo determinante
estimular e motivar a mesma para que o desenvolvimento seja eficaz e global. O
corpo é fonte de expressões, na qual expressa sentimentos, vontades e
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necessidades, sendo assim, o caminho para a aprendizagem.
Este estudo ainda ressalta que a psicomotricidade deve estar presente no
cotidiano das creches, por ser uma educação que trabalha a criança no todo, que
desenvolve o movimento e o intelecto.
Diante dessa necessidade, a Educação Infantil, primeira etapa da educação,
deve contar com práticas que evidenciem o ato motor, estando em consonância com
o cuidar e educar, com atividades diversificadas e motivadoras, buscando sempre a
formação de novas aprendizagens que serão importantes para as futuras
habilidades. Assim, o ambiente deve ser propício, alegre e possuir educadoras com
habilitação adequada, que tenham amor e dedicação em atuar nessa fase que é
importante para a formação do ser humano.
Ao confrontar os dados literários com a pesquisa de campo, pode-se
constatar que as respostas dadas pelos sujeitos da pesquisa estão de acordo com
as leituras realizadas, na qual a maioria das educadoras está habilitada no mínimo,
em Magistério como exigido pela LDB, bem como conhecem a importância do
movimento para a criança. Pode-se averiguar que a prática motora é trabalhada
pelas educadoras, sendo entendido que a maioria planeja atividades com o
movimento, todos os dias.
Verificou-se também que a maioria das educadoras conhece a
psicomotricidade e dá valor à sua ciência, reconhecendo sua contribuição para a
aprendizagem, motricidade e conhecimento do corpo, e assim, propicia diversão à
criança. Quanto maior for a formação das educadoras, mais condições terão de
aplicar um trabalho bem-sucedido, com resultados satisfatórios.
Pode-se afirmar que os objetivos propostos nesse estudo foram alcançados
de forma satisfatória, deixando claro que o movimento é determinante para a
aprendizagem e a psicomotricidade favorece o desenvolvimento de novas
habilidades.
Portanto, a psicomotricidade e o movimento são relevantes na Educação
Infantil. Cabe ao educador oferecer momentos diferentes, com atividades
empolgantes e que por meio da busca por qualificação, cresça profissionalmente,
propiciando um melhor ensino-aprendizagem à criança.
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