o desemprego e a população qualificada: “a fuga de cérebros” · partindo da perspetiva...
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Título: O Desemprego e a População qualificada: “a fuga de cérebros”
Autor: Susana Plácido (2003004299)
Docentes: Paulo Peixoto e Paula Abreu
Coimbra, 2013
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Imagem da capa: woodleywonde (s.d.), Flickr.com. Disponível em:
<http://www.everystockphoto.com/photo.php?imageId=3484158&searchId=394639f9
6b4b1e6eff3d662457648fff&npos=1> Acedida em: 26 de Novembro de 2013
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de
Fontes de Informação Sociológica
Índice
1. Introdução ............................................................................................... 1
2. O Desemprego ......................................................................................... 2
3. A População Qualificada e a “Fuga de cérebros” ......................................... 3
4. O Desemprego como causa da “Fuga de Cérebros” .................................... 5
5. Descrição Detalhada da Pesquisa ............................................................... 6
6. Avaliação da Página da Internet ................................................................ 8
7. Ficha de Leitura ...................................................................................... 10
Resumo .................................................................................................. 11
Desenvolvimento ..................................................................................... 12
8. Conclusão .............................................................................................. 16
9. Referências Bibliográficas ........................................................................ 17
ANEXO I- Página da Internet avaliada ............................................................ 1
ANEXO II- Texto de apoio à Ficha de Leitura .................................................. 2
Susana Plácido
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1. Introdução
Partindo da perspetiva temática do desemprego e da população
qualificada, decidi abordar a perspetiva da “fuga de cérebros”. Numa tentativa
de elucidar como o fenómeno do desemprego, especificamente na população
qualificada, leva à migração. Parece-me importante perceber o que leva as
“nossas” camadas jovens e mais qualificadas a emigrar para outros países.
Numa primeira secção será abordado, especificamente, o conceito de
desemprego, para que comecemos por entender a causa principal da saída de
capital humano para o exterior. Havendo, no entanto, outras causas para esta
“fuga de cérebros”1, no sentido em que hoje, num mundo globalizado, as
empresas deslocalizam não só a produção para locais onde será mais barato
produzir (o que por si só afeta os níveis de desemprego internos podendo levar
a uma emigração “forçada” de quem fica desempregado), como deslocam
também os seus “quadros técnicos” que costumavam manter dentro do próprio
país. A “fuga de cérebros” pode, ainda, estar relacionada com conflitos internos
que causam instabilidade e que incentivam a saída de indivíduos com aptidões
acima da média. Contudo, estas vertentes causais fogem ao conceito que aqui
se pretendem abordar, e não serão, por isso, objeto desta teorização.
Num segundo ponto tentarei relacionar o conceito de populações
qualificadas, especificamente, com o conceito de “fuga de cérebros” e tudo o
que lhe está adjacente. Por fim, numa tentativa de elucidar de forma sucinta a
causalidade entre desemprego e “fuga de cérebros” tentarei explicar porque
defendo a ideia de que o desemprego é, efetivamente, uma importante causa
para os fluxos migratórios das populações qualificadas, referindo por vezes o
caso português.
1 Também conhecida como “brain drain” ou “fuga de capital humano”
Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”
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2. O Desemprego
O desemprego desempenha desde a década de 1970, segundo
Guimarães:
“um caráter de inusitada permanência, assumindo uma forma de
desemprego aberto, passando a exprimir-se sob outras formas, tais como a
do trânsito para a inactividade de indivíduos no auge da sua vida activa, a
das formas precárias e/ou atípicas dos chamados “postos de baixa
qualidade”, além do próprio desemprego de longa duração”. (1998)
Há nesta perspetiva, atualmente, um sem número de trabalhadores que não
têm emprego, e que procuram emprego de forma ativa, sendo isto entendido
como desemprego involuntário ou natural. Diferente de quando, por exemplo,
alguém se reforma, ou tem que deixar o seu emprego por algum motivo
familiar.
Como causas, atualmente usadas para justificar os níveis de desemprego,
são constantemente referidos os avanços tecnológicos que permitem a
substituição de alguma mão-de-obra humana. Um outro motivo bastante atual
prende-se com a mudança de certos setores de produção ou até mesmo
centros de contato (call centres) para países, como a China e a índia, onde a
mão-de-obra é mais barata.
Mas atualmente podemos falar num desemprego como consequência da
recessão, como consequência desta “crise” que se faz sentir desde 2008, e que
se tem vindo a agravar com os planos de ajustamento estrutural, ou neste caso
de austeridade. Em períodos de recessão acontece, por vezes, que os
consumidores veem o seu poder de compra diminuído, e a demanda do
consumo diminui, o que causa certas dificuldades a algumas empresas ou
setores de produção que veem o seu crescimento estagnar e que são por isso
obrigados a despedir os seus trabalhadores.
Para Rajado (2012), o desemprego é motivo de preocupação devido ao
seu constante crescimento nos últimos anos, como consequência do período de
recessão que temos vindo a viver. Este autor fala especificamente do caso
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português, referindo o quanto a sociedade portuguesa está atualmente
fragilizada, quer pelas elevadas taxas de desemprego no país, como pela
elevada precaridade do emprego existente. Estas elevadas taxas levam a uma
situação, ela própria, de precaridade, em que os cidadãos deixam de ter meio
de subsistência ao ficarem desempregados. O desemprego traz efetivamente
repercussões negativas para a população, provocando não só insegurança
como uma instabilidade generalizada.
Está aqui aberta a “porta” ao paradigma que pretendo abordar com este
trabalho. Como consequência desta incapacidade de sustentabilidade dentro do
país, as pessoas com qualificações acima da média, pessoas na sua maioria
com grau académico superior, veem-se obrigados a emigrar em busca de uma
saída para a inércia que se vive, concretamente em Portugal.
3. A População Qualificada e a “Fuga de cérebros”
Esta chamada população qualificada refere-se a camadas de indivíduos
com conhecimentos ou aptidões acima da média nos países em
desenvolvimento. “Os “cérebros” são […] profissionais altamente destacados,
não só pelo seu nível de formação, mas, sobretudo, pelo nível de qualificação e
pelo alto nível de desempenho profissional, reconhecido no seio do respetivo
mercado” (Araújo & Ferreira, 2013).
A saída, deste segmento da população, de um país em desenvolvimento
para um país desenvolvido, é denominado de “fuga de cérebros”. Já o fluxo de
indivíduos mais qualificados entre países desenvolvidos, onde há legislação
favorável à livre circulação de pessoas, é chamado apenas de mobilidade ou
livre circulação de pessoas (Brandi apud Araújo e Ferreira, 2013: 59). Assim, o
chamado “brain drain” é o conceito que rotula a saída das camadas mais
qualificadas de um país, geralmente menos desenvolvido ou em
desenvolvimento, para um país desenvolvido (Ramos, 2013).
Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”
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Lado a lado com uma saída quase forçada destes indivíduos mais
qualificados, em busca de melhores condições de vida, há também uma
tentativa, dos países desenvolvidos, de captar pessoal mais qualificado
(Docquier et al. ; Dumont et al. apud Ramos, 2013: 78), aliciando-os com a
ideia de um modelo de sociedade desenvolvida que oferece condições
inexistentes, a nível de salários e de mecanismos de proteção social, no seu
país de origem. Citando as obras de Breinbauer (2007) e Peixoto (2001), Araújo
e Ferreira (2013:58) argumentam que se a emigração é, em geral, um
fenómeno que recolhe interesse político de primeira mão, a emigração de
profissionais qualificados atrai redobrado interesse.
Segundo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico (OCDE) o Indicador da “fuga de cérebros” é medido pela porção de
indivíduos de uma dada nacionalidade com graduação escolar superior que
vivem noutro país da OCDE (OCDE, 2013). E de acordo com esta definição, a
própria OCDE criou um mapa com a proporção de graduados com o ensino
superior que emigram para outros países da OCDE no período entre 2000-2001.
FONTE: OCDE2
Ao procedermos à leitura deste mapa, podemos constatar que ao nível
dos países ocidentais, Portugal é um dos países com maior número de
2 Figura 1- Proporção de graduados com o ensino superior que emigraram para (outros) países da OCDE no período entre 2000 e 2001
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emigrações no que toca ao fenómeno da "fuga de cérebros", fazendo parte do
conjunto de países nos quais entre 10 a 20% do total de nacionais com
formação superior emigraram para um outro país da OCDE. O Japão, os
Estados Unidos, a Indonésia e a Birmânia são os que registam as menores
taxas de "fuga de cérebros". Já o continente africano é a zona do globo de
onde saem mais nacionais, com qualificações superiores, para os países
desenvolvidos da OCDE.
Nos últimos anos o fenómeno da “fuga de cérebros” tem sido uma
constante, já que com a recessão que se manifesta desde a crise económica de
2008, tem havido uma visível necessidade de procurar melhores condições
além-fronteiras. Portugal é exemplo disso. O segmento denominado de
“cérebros” engloba hoje todos aqueles com ensino superior, e não somente
aqueles com elevado destaque profissional, como acontecia entre os anos
sessenta e oitenta. Este paradigma tem vindo, efetivamente, a marcar presença
na nossa atualidade.
4. O Desemprego como causa da “Fuga de Cérebros”
Os elevados índices de desemprego na atualidade acarretam consigo o
expressivo aumento das desigualdades. A desigualdade é um estigma que
assola grande parte das regiões a nível mundial. E é na tentativa de esbater
essas desigualdades, e procurar melhores condições de vida, que a maioria dos
indivíduos emigra para outros países. “O acesso a mais e melhores condições de
vida constitui-se como principal fator mobilizador da deslocação espacial”
(Araújo & Ferreira, 2013).
Os recém-licenciados deparam-se, hoje em dia, com a elevada
dificuldade de conseguir um emprego, apesar das suas qualificações acima da
média. E em busca da segurança que um emprego proporciona decidem passar
fronteiras perseguindo melhores condições para si e para os seus. Assistimos
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em Portugal a uma “fuga de cérebros” relativamente demarcada, podemos
constatá-la, por exemplo, no setor dos profissionais da saúde, que são
necessários em qualquer parte do mundo, e que vivem, por exemplo em
Portugal, uma situação de desemprego ou de emprego precário, e que por isso
decidem emigrar para países como a Inglaterra, onde encontram melhores
salários, que se refletem em melhores condições de vida, e onde perspetivam
mais probabilidades de progressão na carreira.
Os países recetores têm-se mostrado abertos a estes fluxos migratórios,
uma vez que também eles saem beneficiados com o ganho de capital humano
na sua estrutura e sociedade civil.
“Preocupados com o desperdício de cérebros oriundos de países
menos desenvolvidos que esbarram com as regras de entrada nos
mercados de trabalho nos países de receção (incluindo reconhecimento de
graus académicos), os governos ocidentais, através das suas diversas
estruturas, incorporaram bastante bem e de forma célere, a identificação
da mobilidade de profissionais qualificados com o paradigma da sociedade
global, conhecimento global e circulação de ciência” (Araújo e Ferreira
2013: 62).
Para os países que perdem estes indivíduos, licenciados ou recém-
licenciados, há um significado oposto. Significa uma perda de capital humano,
que acarreta consequências, essencialmente, económicas e sociais para o país
de saída (Araújo & Ferreira, 2013).
5. Descrição Detalhada da Pesquisa
Tendo como ponto de partida os textos aconselhados para a temática,
“Desemprego e população Qualificada”, e após a leitura do texto da Maria da
Conceição Pereira Ramos "Globalização e multiculturalismo”, decidi limitar o
meu trabalho à vertente da população qualificada que se vê obrigada a emigrar
como consequência do desemprego. O texto de Emília Araújo e Filipe Ferreira
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"A «fuga de cérebros»: um discurso multidimensional" pareceu-me também
bastante pertinente para a abordagem que pretendia dar ao tema.
Iniciei uma pesquisa booleana, através do catálogo da Biblioteca da
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em toda a coleção, com
os descritores <desemprego> and <população qualificada>, através da qual
não encontrei resultados. Alterando o segundo descritor de pesquisa para
<fuga de cérebros> os resultados continuaram a ser nulos.
Por esta altura, pareceu-me pertinente começar por abordar o assunto
apenas pela temática do desemprego para poder criar bases ao
desenvolvimento do tema escolhido. Optei, então, por efetuar uma pesquisa
simples, apenas com o descritor <desemprego>, parecendo-me pertinente a
dissertação de mestrado de Paulo José do Vale Pereira Santos Rajado que
extravasa o paradigma do desemprego em Portugal. Recorrendo, uma segunda
vez, à pesquisa simples com o descritor <fuga de cérebros> encontrei um
documento pertinente ca Catarina Reis de Oliveira, um relatório relativo à
integração de emigrantes qualificados de países de terceiro mundo na Europa.
Não tendo encontrado abordagens, totalmente, satisfatórias ao
desenvolvimento que pretendia dar à temática do desemprego e população
qualificada, direcionado para a temática da “fuga de cérebros”, decidi alargar a
minha pesquisa à biblioteca virtual do JANUS.ANUÁRIO onde me deparei com
alguns textos apelativos para o prosseguimento da temática pela qual optei. A
maioria destes textos encontra-se em formato digital, o que de alguma forma
me facilita a elaboração deste trabalho.
Como resultado desta pesquisa bibliográfica percebi que está é ainda
uma temática em construção, é um tema dos dias de hoje, e para o qual não
há ainda muita bibliografia explorável do ponto de vista da “fuga de cérebros”
como consequência do desemprego.
Este foi um enquadramento teórico de alguma complexidade. No
entanto, acredito ter encontrado bases pertinentes para o desenvolvimento que
pretendo dar à temática escolhida.
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6. Avaliação da Página da Internet
A página da Internet selecionada para esta avaliação é a página da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com o
seguinte URL: http://www.oecd.org, e que serviu de base na elaboração de
uma parte deste trabalho. Esta organização tem como objetivo central a
promoção de políticas que incentivem o bem-estar económico e social das
pessoas no mundo em conjunto com os governos dos seus Estados-membros
(OCDE, 2013).
Tendo em conta os critérios gerais de avaliação, aplicáveis a todas as
fontes de informação, autenticidade, fiabilidade e autenticidade, e tendo em
conta o autor da página, que é a própria organização internacional, parece dar
desde logo a noção de que esta será uma página que cumpre os três critérios
referenciados.
Prosseguindo esta avaliação, tendo agora em conta critérios mais
específicos, constata-se que o criador da página é um autor institucional com
algum prestígio e por isso com credibilidade. E o facto de ser possível contatar
a instituição aumenta a credibilidade desta fonte.
Relativamente ao objetivo da página em si, este parece ser dar a
conhecer não só a organização, como os seus propósitos e os seus meios para
alcacem os objetivos que pretendem, disponibilizando ao utilizador, estatísticas
e publicações relacionadas com a temática central que promovem. É sem
dúvida uma página mais especializada tendo em conta o objetivo específico da
própria instituição, e já aqui foi referido.
É uma página de vasta amplitude, abordando especificamente cada
Estado membro, abordando temáticas especificas relacionadas com o objetivo
da cooperação e desenvolvimento económico, disponibilizando dados
estatísticos e os seus recursos, e até publicações atualizadas. Aborda todas as
temáticas de forma bastante profunda e fundamentada.
Susana Plácido
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Relativamente à temática do período de tempo a única referência
encontrada é a data da última atualização (2 de Maio de 2013), o que denota
alguma preocupação do autor em manter a informação atualizada.
A página aparece inicialmente formatada em seis separadores iniciais,
relacionados com as diversas abordagens da página. É no entanto, possível
aceder a um mapa que facilita o acesso por ordem alfabética. A barra da
pesquisa é também uma forma de acesso mais fácil. Há, no entanto, a
dificuldade, para alguns, da barreira linguística, uma vez que a página só pode
ser visualizada na língua inglesa ou na língua francesa.
Toda a informação apresentada na página é em princípio fidedigna, já
que a própria OCDE faz todo o esforço para que a informação seja precisa e
integra. No entanto, como é referido no separador ‘Termos e Condições’, não o
consegue garantir de forma plena. Há contudo a tentativa de que toda a
informação seja rigorosa e integra.
As informações contidas na página da OCDE não implicam a expressão
de qualquer opinião por parte do Secretariado da OCDE sobre a situação legal
de qualquer país ou das suas autoridades (OCDE, 2013). Ainda, assim, parece-
me que este autor institucional será um tanto tendencioso a pender para uma
visão específica dos países desenvolvidos. Relativamente à remissão para
outras fontes dentro desta página, parece haver apenas referência a quatro
blogs também eles geridos pela OCDE, diversas outras publicações e outros
recursos multimédia.
A escolha desta página deveu-se à fiabilidade que ela representa a nível
de estatísticas e estudos em assuntos relativos à atualidade da comunidade
internacional. Os textos disponibilizados são de elevada qualidade linguística, e
o desenho gráfico da página é relativamente apelativo, devido à dinamização
das cores, não tem um “ar” monocórdico. É uma página de fácil navegação,
tem tudo perfeitamente descrito é por isso uma página “amigável” do utilizador.
Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”
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Relativamente à interatividade da página, esta não parece muito
presente, não há ligações externas à página. Esta página não tem quaisquer
custos (nem monetários nem outros), para o utilizador.
No entanto, quando procedi a uma avaliação das Info Acessibilidades da
página, com base nas normas de Web Content Accessibility Guidelines (WCAG),
e utilizando o recurso http://www.tawdis.net/, foram detetados vinte e nove
problemas e duzentas e três advertências à página, o que levou a uma
classificação, da página da OCDE, de nível AA. Como se pode constatar na
imagem que se segue:
FONTE: TAWDIS.NET3
Esta página apesar de ser de conteúdo fiável e preciso, é avaliada
apenas como sendo de nível intermédio, havendo ainda algo a ser melhorado
para atingir um nível superior de acessibilidade para o utilizador.
7. Ficha de Leitura
Titulo: “Globalização e Multiculturalismo” Autor: Maria da Conceição Pereira Ramos
3 Figura 2: Captura de ecrã ilustrativa dos resultados da análise de acessibilidade produzida pela aplicação tawdis.net
Susana Plácido
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Assunto: Fluxos migratórios e as novas sociedades multiculturais
Edição: Revista Eletrónica Inter-Legere/ N.º13 Data: Julho a dezembro
de 2013
URL: < http://www.cchla.ufrn.br/interlegere/13/pdf/es03.pdf>
ISSN: 1982-1662 Páginas: 75-101 Data de Leitura: Outubro 2013
Palavras-chave: migrações internacionais, multiculturalismo, mão-de-obra
qualificada, mobilidade internacional, transnacionalismo, diáspora, “brain drain”
globalização, mulheres
Área Científica: Ciências Sociais- Sociologia
Sub área: Migrações e Relações Interculturais
Resumo
O texto faz uma leitura das novas sociedades multiculturais, fruto dos
movimentos migratórios internacionais, relacionando conceitos como
globalização, transnacionalismo e multiculturalismo, que trazem mudanças
sociais e que parecem colocar em causa os processos de integração europeia e
mundial. Utilizando o caso português de forma empírica no decorrer do texto.
É sempre colocada em evidência a diversidade dos atuais movimentos
migratórios, que são hoje em dia compostos por um grande número de
mulheres e de indivíduos com qualificações acima da média (a chamada “fuga
dos cérebros” ou “brain drain”). Ao longo do texto retorna-se constantemente à
ideia de que é necessária uma reformulação das políticas migratórias a nível
europeu e a nível mundial, já que as atuais parecem não resguardar os direitos
humanos fundamentais dos cidadãos migrantes, colocando em causa a
soberania dos Estados Democráticos, enquanto estados protetores dos seus
cidadãos.
Professora Doutora Maria da Conceição Pereira Ramos é Professora na
Faculdade de Economia da Universidade do Porto e Investigadora no Centro de
Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), na Universidade
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Aberta. As suas áreas de docência e pesquisa incidem sobre as Migrações
Internacionais e Diásporas, nomeadamente o caso português, domínios em que
tem publicado e orientado algumas teses.
Desenvolvimento
A autora não fixa nenhuma objetivo concreto ao longo do texto, não
definindo de forma clara e concisa o que pretende tratar. Procede a uma
divisão do texto em sete partes, e relativamente a cada uma delas são
particularmente relevantes as seguintes ideias: na primeira parte a autor
relaciona o processo de globalização com a internacionalização das migrações,
mostrando como estes movimentos migratórios estão atualmente a ser
diversificados com a presença de uma maior número de mulheres, que
integram os chamados setores ‘invisíveis’: “a feminização das migrações
internacionais é uma das principais características da nova era das imigrações”
(Castles e Miller apud Ramos, 2013: 76). Um outro fator de diversidade destes
movimentos humanos é a migração de indivíduos com mais qualificação, “ o
‘brain drain’ para os países desenvolvidos é um fenómeno crescente que afeta
sobretudo os países mais pobres. Os países desenvolvidos tentam captar
pessoal mais qualificado […]”(Docquier et al.; Dumont et al. apud Ramos,
2013: 78). Portugal é dado como exemplo para se constatar que os fluxos
migratórios qualificados estão, de facto, a intensificar-se.
Numa segunda parte Ramos (2013: 80) refere como as ideias de
“cidadania multicultural” e de comunidade transnacional como consequência
óbvia da globalização. Fala de sistemas de trocas e de intercâmbios entre os
países de origem e os países de acolhimento que surgem como práticas
transnacionais. Fala, também, da emergência de conceitos como redes sociais
(que fazem a ligação entre os locais de origem e os locais de destino) e capital
humano e social, entendidos como os conhecimentos e valores (entre outros)
que possuem e que transferem do país de origem para o país de acolhimento,
como consequência da sua migração.
No terceiro ponto a autora evidencia como a mobilidade internacional
tem tornado as sociedades recetoras muito mais diversificadas culturalmente,
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tem as tornado multiculturais. Essa dinâmica de diversidade tem tido
repercussões visíveis na área da educação, que passa a surgir como campo
propício à implementação políticas de integração que promovam a coesão social
no seio da multiculturalidade. Portugal, como país que passou de emigrantes a
imigrantes, serve como exemplo de como os movimentos migratórios estão
visíveis na educação e de como a multiculturalidade passa a estar presente no
meio escolar. No entanto, nem todos os países de acolhimento possuem
políticas de valorização da educação o que pode por vezes afetar a coesão
social dessas sociedades agora diversificadas, podendo significar também um
desperdício de recursos humanos valiosos.
Em quarto lugar a autora alude à ideia de que a existência de uma
sociedade diversificada a nível cultural cria a necessidade de uma gestão
intercultural, através da qual se pretende a integração das diferentes culturas
no funcionamento das organizações (Loth e Ramos apud Ramos, 2013: 85).
Isto implica uma reformulação das políticas educacionais, sociais e laborais, que
são, como já foi referido, importantes fatores de integração nos locais de
acolhimento, diminuindo os obstáculos no mercado de trabalho. A autora
refere, ainda, que neste contexto de mercado de trabalho, agora diversificado,
está patente alguma descriminação laboral (quer por género quer por etnia), e
que são os imigrantes que tendem a preencher os setores mais frágeis e mais
instáveis. Assim, a gestão intercultural iria facilitar a integração e naturalização
dos imigrantes, o que afetaria de forma positiva o acesso dos mesmos a um
sistema de proteção social e a empregos melhores e mais bem pagos.
No quinto ponto a autora diz-nos que há, sem dúvida, um interesse da
parte dos países membros da União Europeia (UE) no estímulo da mobilidade
humana dentro do espaço europeu, no entanto salienta que os fluxos
migratórios estão também a ser limitados dentro da UE. Fala-nos, então, de
uma
“dictomia entre a procura não reconhecida de mão-de-obra,
alimentada pelo declínio demográfico e pelas necessidades do
mercado de trabalho dos países de destino, e os obstáculos à
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admissão de emigrantes, especialmente os menos qualificados, e
originários de países em desenvolvimento” (Ramos, 2013:80).
Se por um lado está latente o problema da sustentabilidade financeira da
segurança social e a penúria de mão-de-obra, por outro lado com o atual
contexto da crise surgiu a ideia de que a imigração tem efeitos negativos no
emprego e nos défices públicos (no país de chegada), o que levou à criação de
políticas restritivas da imigração, afetadas pela recessão económica, e que
poderão ser mais negativas que positivas, na medida que poderão levar à
criação, não só de uma migração irregular, como uma migração clandestina, ou
pior o surgimento de tráfico de migrantes como consequência da procura não
reconhecida de trabalhadores migrantes necessários em certos setores onde
existe um défice de mão-de-obra. É visível a necessidade de uma consciência
de direitos humanos universais, porque o risco de tráfico humano é real, e
porque os Estados adotaram políticas de seleção que assentam nas
qualificações, nos conhecimentos da língua, na posse de capital e nas previsões
acerca da capacidade de adaptação do migrante, políticas portanto excluvias.
Em sexto, um pouco na continuação do ponto anterior, a autora fala do
direito à mobilidade/à migração reconhecido como um direito humano
fundamental. Há que repensar as políticas em curso sobre as migrações, não se
trata mais de um “controlo migratório” mas de uma “gestão migratória” que
auxilie na integração social dos imigrantes, estabelecendo políticas de emprego,
de segurança social, de educação e de formação, baseando-se nos Direitos
Humanos e combatendo, assim, o tráfico humano.
No sétimo e último ponto, em jeito de conclusão, a autora afirma que a
integração dos imigrantes tem que caber tanto ao país de origem como ao país
de destino, só assim se podem diminuir os seus impactos negativos, já que
atualmente a imigração levanta inúmeras questões a nível global. Sendo ainda
referida a questão latente do agravamento da xenofobia, que parece basear-se
em razões de segurança e em receios sociais e económicos que surgem com o
aumento do desemprego e o possível aumento da concorrência aos empregos
nacionais pelos imigrantes. Neste ponto a autora reafirma a ideia que tem
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desenvolvido ao longo do texto de que as políticas de mobilidade já
repensadas, deveriam ser autênticos instrumentos de coesão social a todos os
níveis (local, nacional e internacional), combatendo as desigualdades, a
descriminação e a pobreza, especialmente nas áreas da saúde, educação e
trabalho, reconhecendo sempre os direitos humanos dos migrantes
internacionais.
A autora recorre frequentemente a obras suas, que vêm nesta linha de
pensamento sobre as migrações. Recorre, também, a relatórios da OCDE para
fundamentar os seus argumentos. Parece, no entanto, sobrepor dois conceitos
diferentes agregados a um mesmo termo: capital humano. Se por um lado ela
afirma que o movimento migratório pode afetar o desenvolvimento das
sociedades de origem de forma negativa em termos de capital humano (p. 79);
por outro lado afirma, também, que os migrantes efetuam para o país de
origem transferências de capital humano e social (p.81). Esta sobreposição
causa, de facto algum mau entendimento, mas que fique explicito que na sua
primeira utilização ela pretende referir-se a capital humano enquanto indivíduos
necessários ao progresso económico e social do país de origem; e na sua
segunda utilização ela pretende referir-se a capital humano enquanto
transferências de valores, acesso a redes sociais e trocas sociais e culturais.
A autora descreve-nos, assim, uma realidade atual alertando-nos para o
facto de que a ideia de Liberalismo, enquanto livre circulação de bens, capitais
e neste caso de pessoas, parece estar a ser posta em causa por novas políticas
de migração restritivas, numa altura em que os fluxos migratórios estão em
crescimento. Pondo, consequentemente, em causa certos direitos humanos
fundamentais patentes a cada cidadão europeu, só pelo facto de o ser.
O atual contexto de crise e de elevadas taxas de desemprego têm sido
grandes estímulos para os novos fluxos migratórios, inclusive em Portugal. No
entanto, a ideia de um modelo de sociedade desenvolvida com acesso à
proteção social, difundida pelos média é também aliciante. O que acontecerá,
então, se as atuais políticas migratórias, nos países desenvolvidos, forem
políticas de restrição à imigração? Certamente irão surgir formas de contornar o
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sistema, recorrendo à imigração ilegal e a economias paralelas, que fornecerão
algum tipo de rendimento para estes indivíduos, alguns com elevados graus de
qualificação, e que se veem obrigados a abandonar o seu país de origem.
Haverá, ainda, a possibilidade de através destes meios os indivíduos verem
postos em causa os seus direitos enquanto cidadãos de um Estado de direito, já
que saindo da orla do seu Estado de origem e acedendo de forma ilegal a um
outro Estado, ele deixa de cair no manto protetor do seu Estado. Há, de facto,
uma necessidade de repensar as políticas migratórias e de torná-las em
políticas de gestão dos fluxos migratórios, para que possam favorecer a
integração destes indivíduos transnacionais nestas novas sociedades
multiculturais.
8. Conclusão
Após a revisão de toda a bibliografia que serve de base a este trabalho
não posso deixar de fazer umas reflexões próprias. Será que, como
consequência dos elevados níveis de desemprego, estamos a assistir a um
retorno à ideia de que os portugueses emigram em busca de melhores
condições porque vive uma situação de pobreza no seu país de origem? Com a
diferença de que os portugueses de hoje são, sem dúvida alguma, muito mais
qualificados do que aqueles da década de sessenta.
No entanto, não podemos deixar de relacionar este fenómeno mais
atual, que agora conhecemos como “fuga de cérebros”, com esse fenómeno
emigratório dos anos sessenta, já que em ambos os casos há efetivamente uma
procura por melhores salários, melhores acessos a cuidados de saúde, melhores
acessos a nível escolar, enfim melhores condições de vida, juntando-se a tudo
isto, atualmente, a possibilidade de progressão a nível da carreira profissional
(que não seria possível nos países de origem).
Susana Plácido
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O que há de efetivamente diferente entre os atuais fluxos migratórios e
os fluxos dos anos sessenta é que ao contrário dos trabalhadores não
qualificados dessa época, hoje em dia poucos são os trabalhadores qualificados
em situação ilegal nos países de acolhimento (Rato, 2008).
De acordo com a análise de Rato (2008) relativamente à emigração de
origem portuguesa, constata-se que há um aumento da população emigrante
com menos de vinte e nove anos, com paridade em ambos os sexos, e que há,
de facto, um aumento da emigração de trabalhadores mais qualificados.
Constata-se, então, que há efetivamente um aumento do fluxo migratório entre
as camadas com qualificações académicas superiores como consequência dos
elevados índices de desemprego. Ou seja, o desemprego está a causar, a “fuga
de cérebros”, os indivíduos mais qualificados e mais competentes, deparam-se
com a obrigatoriedade de procurar “fora de portas” uma carreira que aqui lhes
é negada, colocando ao serviço de outros países competências que tanta falta
faz aos próprios países de origem.
Quanto às metodologias técnicas que foram apreendidas na cadeira de
Fontes de Informação Sociológica, provaram ser essenciais para a execução
deste trabalho, que de outra forma não seria tão coeso e estruturado. Foram
mecanismos essenciais na delimitação do tema e na fundamentação do
argumento apresentado.
9. Referências Bibliográficas
Araújo, E., & Ferreira, F. (2013). A “Fuga de Cérebros”: um discurso multidimensional.
In E. Araújo, M. Fontes, S. Bento, & (eds.), Para um debate sobre Mobilidade
e Fuga de Cérebros (pp. 58-82). Braga: Centro de Estudos de Comunicação e
Sociedade.
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26 de Novembro de 2013, de JANUS.ANUÁRIO:
http://www.janusonline.pt/2008/2008_4_2_15.html
Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”
Página 18
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Rajado, P. J. (30 de Março de 2012). O desemprego em Portugal: Uma análise ao nível
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Rato, H. (2008). O novo paradigma das migrações internacionais. Obtido em 27 de
Novembro de 2013, de JANUS.ANUÁRIO:
http://www.janusonline.pt/2008/2008_4_3_4.html