o desemprego e a população qualificada: “a fuga de cérebros” · partindo da perspetiva...

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Susana Plácido O Desemprego e a População qualificada: “a fuga de cérebros” Coimbra, 2013

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Susana Plácido

O Desemprego e a População

qualificada: “a fuga de cérebros”

Coimbra, 2013

Título: O Desemprego e a População qualificada: “a fuga de cérebros”

Autor: Susana Plácido (2003004299)

Docentes: Paulo Peixoto e Paula Abreu

Coimbra, 2013

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Imagem da capa: woodleywonde (s.d.), Flickr.com. Disponível em:

<http://www.everystockphoto.com/photo.php?imageId=3484158&searchId=394639f9

6b4b1e6eff3d662457648fff&npos=1> Acedida em: 26 de Novembro de 2013

Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de

Fontes de Informação Sociológica

Índice

1. Introdução ............................................................................................... 1

2. O Desemprego ......................................................................................... 2

3. A População Qualificada e a “Fuga de cérebros” ......................................... 3

4. O Desemprego como causa da “Fuga de Cérebros” .................................... 5

5. Descrição Detalhada da Pesquisa ............................................................... 6

6. Avaliação da Página da Internet ................................................................ 8

7. Ficha de Leitura ...................................................................................... 10

Resumo .................................................................................................. 11

Desenvolvimento ..................................................................................... 12

8. Conclusão .............................................................................................. 16

9. Referências Bibliográficas ........................................................................ 17

ANEXO I- Página da Internet avaliada ............................................................ 1

ANEXO II- Texto de apoio à Ficha de Leitura .................................................. 2

Susana Plácido

Página 1

1. Introdução

Partindo da perspetiva temática do desemprego e da população

qualificada, decidi abordar a perspetiva da “fuga de cérebros”. Numa tentativa

de elucidar como o fenómeno do desemprego, especificamente na população

qualificada, leva à migração. Parece-me importante perceber o que leva as

“nossas” camadas jovens e mais qualificadas a emigrar para outros países.

Numa primeira secção será abordado, especificamente, o conceito de

desemprego, para que comecemos por entender a causa principal da saída de

capital humano para o exterior. Havendo, no entanto, outras causas para esta

“fuga de cérebros”1, no sentido em que hoje, num mundo globalizado, as

empresas deslocalizam não só a produção para locais onde será mais barato

produzir (o que por si só afeta os níveis de desemprego internos podendo levar

a uma emigração “forçada” de quem fica desempregado), como deslocam

também os seus “quadros técnicos” que costumavam manter dentro do próprio

país. A “fuga de cérebros” pode, ainda, estar relacionada com conflitos internos

que causam instabilidade e que incentivam a saída de indivíduos com aptidões

acima da média. Contudo, estas vertentes causais fogem ao conceito que aqui

se pretendem abordar, e não serão, por isso, objeto desta teorização.

Num segundo ponto tentarei relacionar o conceito de populações

qualificadas, especificamente, com o conceito de “fuga de cérebros” e tudo o

que lhe está adjacente. Por fim, numa tentativa de elucidar de forma sucinta a

causalidade entre desemprego e “fuga de cérebros” tentarei explicar porque

defendo a ideia de que o desemprego é, efetivamente, uma importante causa

para os fluxos migratórios das populações qualificadas, referindo por vezes o

caso português.

1 Também conhecida como “brain drain” ou “fuga de capital humano”

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 2

2. O Desemprego

O desemprego desempenha desde a década de 1970, segundo

Guimarães:

“um caráter de inusitada permanência, assumindo uma forma de

desemprego aberto, passando a exprimir-se sob outras formas, tais como a

do trânsito para a inactividade de indivíduos no auge da sua vida activa, a

das formas precárias e/ou atípicas dos chamados “postos de baixa

qualidade”, além do próprio desemprego de longa duração”. (1998)

Há nesta perspetiva, atualmente, um sem número de trabalhadores que não

têm emprego, e que procuram emprego de forma ativa, sendo isto entendido

como desemprego involuntário ou natural. Diferente de quando, por exemplo,

alguém se reforma, ou tem que deixar o seu emprego por algum motivo

familiar.

Como causas, atualmente usadas para justificar os níveis de desemprego,

são constantemente referidos os avanços tecnológicos que permitem a

substituição de alguma mão-de-obra humana. Um outro motivo bastante atual

prende-se com a mudança de certos setores de produção ou até mesmo

centros de contato (call centres) para países, como a China e a índia, onde a

mão-de-obra é mais barata.

Mas atualmente podemos falar num desemprego como consequência da

recessão, como consequência desta “crise” que se faz sentir desde 2008, e que

se tem vindo a agravar com os planos de ajustamento estrutural, ou neste caso

de austeridade. Em períodos de recessão acontece, por vezes, que os

consumidores veem o seu poder de compra diminuído, e a demanda do

consumo diminui, o que causa certas dificuldades a algumas empresas ou

setores de produção que veem o seu crescimento estagnar e que são por isso

obrigados a despedir os seus trabalhadores.

Para Rajado (2012), o desemprego é motivo de preocupação devido ao

seu constante crescimento nos últimos anos, como consequência do período de

recessão que temos vindo a viver. Este autor fala especificamente do caso

Susana Plácido

Página 3

português, referindo o quanto a sociedade portuguesa está atualmente

fragilizada, quer pelas elevadas taxas de desemprego no país, como pela

elevada precaridade do emprego existente. Estas elevadas taxas levam a uma

situação, ela própria, de precaridade, em que os cidadãos deixam de ter meio

de subsistência ao ficarem desempregados. O desemprego traz efetivamente

repercussões negativas para a população, provocando não só insegurança

como uma instabilidade generalizada.

Está aqui aberta a “porta” ao paradigma que pretendo abordar com este

trabalho. Como consequência desta incapacidade de sustentabilidade dentro do

país, as pessoas com qualificações acima da média, pessoas na sua maioria

com grau académico superior, veem-se obrigados a emigrar em busca de uma

saída para a inércia que se vive, concretamente em Portugal.

3. A População Qualificada e a “Fuga de cérebros”

Esta chamada população qualificada refere-se a camadas de indivíduos

com conhecimentos ou aptidões acima da média nos países em

desenvolvimento. “Os “cérebros” são […] profissionais altamente destacados,

não só pelo seu nível de formação, mas, sobretudo, pelo nível de qualificação e

pelo alto nível de desempenho profissional, reconhecido no seio do respetivo

mercado” (Araújo & Ferreira, 2013).

A saída, deste segmento da população, de um país em desenvolvimento

para um país desenvolvido, é denominado de “fuga de cérebros”. Já o fluxo de

indivíduos mais qualificados entre países desenvolvidos, onde há legislação

favorável à livre circulação de pessoas, é chamado apenas de mobilidade ou

livre circulação de pessoas (Brandi apud Araújo e Ferreira, 2013: 59). Assim, o

chamado “brain drain” é o conceito que rotula a saída das camadas mais

qualificadas de um país, geralmente menos desenvolvido ou em

desenvolvimento, para um país desenvolvido (Ramos, 2013).

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 4

Lado a lado com uma saída quase forçada destes indivíduos mais

qualificados, em busca de melhores condições de vida, há também uma

tentativa, dos países desenvolvidos, de captar pessoal mais qualificado

(Docquier et al. ; Dumont et al. apud Ramos, 2013: 78), aliciando-os com a

ideia de um modelo de sociedade desenvolvida que oferece condições

inexistentes, a nível de salários e de mecanismos de proteção social, no seu

país de origem. Citando as obras de Breinbauer (2007) e Peixoto (2001), Araújo

e Ferreira (2013:58) argumentam que se a emigração é, em geral, um

fenómeno que recolhe interesse político de primeira mão, a emigração de

profissionais qualificados atrai redobrado interesse.

Segundo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Económico (OCDE) o Indicador da “fuga de cérebros” é medido pela porção de

indivíduos de uma dada nacionalidade com graduação escolar superior que

vivem noutro país da OCDE (OCDE, 2013). E de acordo com esta definição, a

própria OCDE criou um mapa com a proporção de graduados com o ensino

superior que emigram para outros países da OCDE no período entre 2000-2001.

FONTE: OCDE2

Ao procedermos à leitura deste mapa, podemos constatar que ao nível

dos países ocidentais, Portugal é um dos países com maior número de

2 Figura 1- Proporção de graduados com o ensino superior que emigraram para (outros) países da OCDE no período entre 2000 e 2001

Susana Plácido

Página 5

emigrações no que toca ao fenómeno da "fuga de cérebros", fazendo parte do

conjunto de países nos quais entre 10 a 20% do total de nacionais com

formação superior emigraram para um outro país da OCDE. O Japão, os

Estados Unidos, a Indonésia e a Birmânia são os que registam as menores

taxas de "fuga de cérebros". Já o continente africano é a zona do globo de

onde saem mais nacionais, com qualificações superiores, para os países

desenvolvidos da OCDE.

Nos últimos anos o fenómeno da “fuga de cérebros” tem sido uma

constante, já que com a recessão que se manifesta desde a crise económica de

2008, tem havido uma visível necessidade de procurar melhores condições

além-fronteiras. Portugal é exemplo disso. O segmento denominado de

“cérebros” engloba hoje todos aqueles com ensino superior, e não somente

aqueles com elevado destaque profissional, como acontecia entre os anos

sessenta e oitenta. Este paradigma tem vindo, efetivamente, a marcar presença

na nossa atualidade.

4. O Desemprego como causa da “Fuga de Cérebros”

Os elevados índices de desemprego na atualidade acarretam consigo o

expressivo aumento das desigualdades. A desigualdade é um estigma que

assola grande parte das regiões a nível mundial. E é na tentativa de esbater

essas desigualdades, e procurar melhores condições de vida, que a maioria dos

indivíduos emigra para outros países. “O acesso a mais e melhores condições de

vida constitui-se como principal fator mobilizador da deslocação espacial”

(Araújo & Ferreira, 2013).

Os recém-licenciados deparam-se, hoje em dia, com a elevada

dificuldade de conseguir um emprego, apesar das suas qualificações acima da

média. E em busca da segurança que um emprego proporciona decidem passar

fronteiras perseguindo melhores condições para si e para os seus. Assistimos

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 6

em Portugal a uma “fuga de cérebros” relativamente demarcada, podemos

constatá-la, por exemplo, no setor dos profissionais da saúde, que são

necessários em qualquer parte do mundo, e que vivem, por exemplo em

Portugal, uma situação de desemprego ou de emprego precário, e que por isso

decidem emigrar para países como a Inglaterra, onde encontram melhores

salários, que se refletem em melhores condições de vida, e onde perspetivam

mais probabilidades de progressão na carreira.

Os países recetores têm-se mostrado abertos a estes fluxos migratórios,

uma vez que também eles saem beneficiados com o ganho de capital humano

na sua estrutura e sociedade civil.

“Preocupados com o desperdício de cérebros oriundos de países

menos desenvolvidos que esbarram com as regras de entrada nos

mercados de trabalho nos países de receção (incluindo reconhecimento de

graus académicos), os governos ocidentais, através das suas diversas

estruturas, incorporaram bastante bem e de forma célere, a identificação

da mobilidade de profissionais qualificados com o paradigma da sociedade

global, conhecimento global e circulação de ciência” (Araújo e Ferreira

2013: 62).

Para os países que perdem estes indivíduos, licenciados ou recém-

licenciados, há um significado oposto. Significa uma perda de capital humano,

que acarreta consequências, essencialmente, económicas e sociais para o país

de saída (Araújo & Ferreira, 2013).

5. Descrição Detalhada da Pesquisa

Tendo como ponto de partida os textos aconselhados para a temática,

“Desemprego e população Qualificada”, e após a leitura do texto da Maria da

Conceição Pereira Ramos "Globalização e multiculturalismo”, decidi limitar o

meu trabalho à vertente da população qualificada que se vê obrigada a emigrar

como consequência do desemprego. O texto de Emília Araújo e Filipe Ferreira

Susana Plácido

Página 7

"A «fuga de cérebros»: um discurso multidimensional" pareceu-me também

bastante pertinente para a abordagem que pretendia dar ao tema.

Iniciei uma pesquisa booleana, através do catálogo da Biblioteca da

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em toda a coleção, com

os descritores <desemprego> and <população qualificada>, através da qual

não encontrei resultados. Alterando o segundo descritor de pesquisa para

<fuga de cérebros> os resultados continuaram a ser nulos.

Por esta altura, pareceu-me pertinente começar por abordar o assunto

apenas pela temática do desemprego para poder criar bases ao

desenvolvimento do tema escolhido. Optei, então, por efetuar uma pesquisa

simples, apenas com o descritor <desemprego>, parecendo-me pertinente a

dissertação de mestrado de Paulo José do Vale Pereira Santos Rajado que

extravasa o paradigma do desemprego em Portugal. Recorrendo, uma segunda

vez, à pesquisa simples com o descritor <fuga de cérebros> encontrei um

documento pertinente ca Catarina Reis de Oliveira, um relatório relativo à

integração de emigrantes qualificados de países de terceiro mundo na Europa.

Não tendo encontrado abordagens, totalmente, satisfatórias ao

desenvolvimento que pretendia dar à temática do desemprego e população

qualificada, direcionado para a temática da “fuga de cérebros”, decidi alargar a

minha pesquisa à biblioteca virtual do JANUS.ANUÁRIO onde me deparei com

alguns textos apelativos para o prosseguimento da temática pela qual optei. A

maioria destes textos encontra-se em formato digital, o que de alguma forma

me facilita a elaboração deste trabalho.

Como resultado desta pesquisa bibliográfica percebi que está é ainda

uma temática em construção, é um tema dos dias de hoje, e para o qual não

há ainda muita bibliografia explorável do ponto de vista da “fuga de cérebros”

como consequência do desemprego.

Este foi um enquadramento teórico de alguma complexidade. No

entanto, acredito ter encontrado bases pertinentes para o desenvolvimento que

pretendo dar à temática escolhida.

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 8

6. Avaliação da Página da Internet

A página da Internet selecionada para esta avaliação é a página da

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com o

seguinte URL: http://www.oecd.org, e que serviu de base na elaboração de

uma parte deste trabalho. Esta organização tem como objetivo central a

promoção de políticas que incentivem o bem-estar económico e social das

pessoas no mundo em conjunto com os governos dos seus Estados-membros

(OCDE, 2013).

Tendo em conta os critérios gerais de avaliação, aplicáveis a todas as

fontes de informação, autenticidade, fiabilidade e autenticidade, e tendo em

conta o autor da página, que é a própria organização internacional, parece dar

desde logo a noção de que esta será uma página que cumpre os três critérios

referenciados.

Prosseguindo esta avaliação, tendo agora em conta critérios mais

específicos, constata-se que o criador da página é um autor institucional com

algum prestígio e por isso com credibilidade. E o facto de ser possível contatar

a instituição aumenta a credibilidade desta fonte.

Relativamente ao objetivo da página em si, este parece ser dar a

conhecer não só a organização, como os seus propósitos e os seus meios para

alcacem os objetivos que pretendem, disponibilizando ao utilizador, estatísticas

e publicações relacionadas com a temática central que promovem. É sem

dúvida uma página mais especializada tendo em conta o objetivo específico da

própria instituição, e já aqui foi referido.

É uma página de vasta amplitude, abordando especificamente cada

Estado membro, abordando temáticas especificas relacionadas com o objetivo

da cooperação e desenvolvimento económico, disponibilizando dados

estatísticos e os seus recursos, e até publicações atualizadas. Aborda todas as

temáticas de forma bastante profunda e fundamentada.

Susana Plácido

Página 9

Relativamente à temática do período de tempo a única referência

encontrada é a data da última atualização (2 de Maio de 2013), o que denota

alguma preocupação do autor em manter a informação atualizada.

A página aparece inicialmente formatada em seis separadores iniciais,

relacionados com as diversas abordagens da página. É no entanto, possível

aceder a um mapa que facilita o acesso por ordem alfabética. A barra da

pesquisa é também uma forma de acesso mais fácil. Há, no entanto, a

dificuldade, para alguns, da barreira linguística, uma vez que a página só pode

ser visualizada na língua inglesa ou na língua francesa.

Toda a informação apresentada na página é em princípio fidedigna, já

que a própria OCDE faz todo o esforço para que a informação seja precisa e

integra. No entanto, como é referido no separador ‘Termos e Condições’, não o

consegue garantir de forma plena. Há contudo a tentativa de que toda a

informação seja rigorosa e integra.

As informações contidas na página da OCDE não implicam a expressão

de qualquer opinião por parte do Secretariado da OCDE sobre a situação legal

de qualquer país ou das suas autoridades (OCDE, 2013). Ainda, assim, parece-

me que este autor institucional será um tanto tendencioso a pender para uma

visão específica dos países desenvolvidos. Relativamente à remissão para

outras fontes dentro desta página, parece haver apenas referência a quatro

blogs também eles geridos pela OCDE, diversas outras publicações e outros

recursos multimédia.

A escolha desta página deveu-se à fiabilidade que ela representa a nível

de estatísticas e estudos em assuntos relativos à atualidade da comunidade

internacional. Os textos disponibilizados são de elevada qualidade linguística, e

o desenho gráfico da página é relativamente apelativo, devido à dinamização

das cores, não tem um “ar” monocórdico. É uma página de fácil navegação,

tem tudo perfeitamente descrito é por isso uma página “amigável” do utilizador.

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 10

Relativamente à interatividade da página, esta não parece muito

presente, não há ligações externas à página. Esta página não tem quaisquer

custos (nem monetários nem outros), para o utilizador.

No entanto, quando procedi a uma avaliação das Info Acessibilidades da

página, com base nas normas de Web Content Accessibility Guidelines (WCAG),

e utilizando o recurso http://www.tawdis.net/, foram detetados vinte e nove

problemas e duzentas e três advertências à página, o que levou a uma

classificação, da página da OCDE, de nível AA. Como se pode constatar na

imagem que se segue:

FONTE: TAWDIS.NET3

Esta página apesar de ser de conteúdo fiável e preciso, é avaliada

apenas como sendo de nível intermédio, havendo ainda algo a ser melhorado

para atingir um nível superior de acessibilidade para o utilizador.

7. Ficha de Leitura

Titulo: “Globalização e Multiculturalismo” Autor: Maria da Conceição Pereira Ramos

3 Figura 2: Captura de ecrã ilustrativa dos resultados da análise de acessibilidade produzida pela aplicação tawdis.net

Susana Plácido

Página 11

Assunto: Fluxos migratórios e as novas sociedades multiculturais

Edição: Revista Eletrónica Inter-Legere/ N.º13 Data: Julho a dezembro

de 2013

URL: < http://www.cchla.ufrn.br/interlegere/13/pdf/es03.pdf>

ISSN: 1982-1662 Páginas: 75-101 Data de Leitura: Outubro 2013

Palavras-chave: migrações internacionais, multiculturalismo, mão-de-obra

qualificada, mobilidade internacional, transnacionalismo, diáspora, “brain drain”

globalização, mulheres

Área Científica: Ciências Sociais- Sociologia

Sub área: Migrações e Relações Interculturais

Resumo

O texto faz uma leitura das novas sociedades multiculturais, fruto dos

movimentos migratórios internacionais, relacionando conceitos como

globalização, transnacionalismo e multiculturalismo, que trazem mudanças

sociais e que parecem colocar em causa os processos de integração europeia e

mundial. Utilizando o caso português de forma empírica no decorrer do texto.

É sempre colocada em evidência a diversidade dos atuais movimentos

migratórios, que são hoje em dia compostos por um grande número de

mulheres e de indivíduos com qualificações acima da média (a chamada “fuga

dos cérebros” ou “brain drain”). Ao longo do texto retorna-se constantemente à

ideia de que é necessária uma reformulação das políticas migratórias a nível

europeu e a nível mundial, já que as atuais parecem não resguardar os direitos

humanos fundamentais dos cidadãos migrantes, colocando em causa a

soberania dos Estados Democráticos, enquanto estados protetores dos seus

cidadãos.

Professora Doutora Maria da Conceição Pereira Ramos é Professora na

Faculdade de Economia da Universidade do Porto e Investigadora no Centro de

Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), na Universidade

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 12

Aberta. As suas áreas de docência e pesquisa incidem sobre as Migrações

Internacionais e Diásporas, nomeadamente o caso português, domínios em que

tem publicado e orientado algumas teses.

Desenvolvimento

A autora não fixa nenhuma objetivo concreto ao longo do texto, não

definindo de forma clara e concisa o que pretende tratar. Procede a uma

divisão do texto em sete partes, e relativamente a cada uma delas são

particularmente relevantes as seguintes ideias: na primeira parte a autor

relaciona o processo de globalização com a internacionalização das migrações,

mostrando como estes movimentos migratórios estão atualmente a ser

diversificados com a presença de uma maior número de mulheres, que

integram os chamados setores ‘invisíveis’: “a feminização das migrações

internacionais é uma das principais características da nova era das imigrações”

(Castles e Miller apud Ramos, 2013: 76). Um outro fator de diversidade destes

movimentos humanos é a migração de indivíduos com mais qualificação, “ o

‘brain drain’ para os países desenvolvidos é um fenómeno crescente que afeta

sobretudo os países mais pobres. Os países desenvolvidos tentam captar

pessoal mais qualificado […]”(Docquier et al.; Dumont et al. apud Ramos,

2013: 78). Portugal é dado como exemplo para se constatar que os fluxos

migratórios qualificados estão, de facto, a intensificar-se.

Numa segunda parte Ramos (2013: 80) refere como as ideias de

“cidadania multicultural” e de comunidade transnacional como consequência

óbvia da globalização. Fala de sistemas de trocas e de intercâmbios entre os

países de origem e os países de acolhimento que surgem como práticas

transnacionais. Fala, também, da emergência de conceitos como redes sociais

(que fazem a ligação entre os locais de origem e os locais de destino) e capital

humano e social, entendidos como os conhecimentos e valores (entre outros)

que possuem e que transferem do país de origem para o país de acolhimento,

como consequência da sua migração.

No terceiro ponto a autora evidencia como a mobilidade internacional

tem tornado as sociedades recetoras muito mais diversificadas culturalmente,

Susana Plácido

Página 13

tem as tornado multiculturais. Essa dinâmica de diversidade tem tido

repercussões visíveis na área da educação, que passa a surgir como campo

propício à implementação políticas de integração que promovam a coesão social

no seio da multiculturalidade. Portugal, como país que passou de emigrantes a

imigrantes, serve como exemplo de como os movimentos migratórios estão

visíveis na educação e de como a multiculturalidade passa a estar presente no

meio escolar. No entanto, nem todos os países de acolhimento possuem

políticas de valorização da educação o que pode por vezes afetar a coesão

social dessas sociedades agora diversificadas, podendo significar também um

desperdício de recursos humanos valiosos.

Em quarto lugar a autora alude à ideia de que a existência de uma

sociedade diversificada a nível cultural cria a necessidade de uma gestão

intercultural, através da qual se pretende a integração das diferentes culturas

no funcionamento das organizações (Loth e Ramos apud Ramos, 2013: 85).

Isto implica uma reformulação das políticas educacionais, sociais e laborais, que

são, como já foi referido, importantes fatores de integração nos locais de

acolhimento, diminuindo os obstáculos no mercado de trabalho. A autora

refere, ainda, que neste contexto de mercado de trabalho, agora diversificado,

está patente alguma descriminação laboral (quer por género quer por etnia), e

que são os imigrantes que tendem a preencher os setores mais frágeis e mais

instáveis. Assim, a gestão intercultural iria facilitar a integração e naturalização

dos imigrantes, o que afetaria de forma positiva o acesso dos mesmos a um

sistema de proteção social e a empregos melhores e mais bem pagos.

No quinto ponto a autora diz-nos que há, sem dúvida, um interesse da

parte dos países membros da União Europeia (UE) no estímulo da mobilidade

humana dentro do espaço europeu, no entanto salienta que os fluxos

migratórios estão também a ser limitados dentro da UE. Fala-nos, então, de

uma

“dictomia entre a procura não reconhecida de mão-de-obra,

alimentada pelo declínio demográfico e pelas necessidades do

mercado de trabalho dos países de destino, e os obstáculos à

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 14

admissão de emigrantes, especialmente os menos qualificados, e

originários de países em desenvolvimento” (Ramos, 2013:80).

Se por um lado está latente o problema da sustentabilidade financeira da

segurança social e a penúria de mão-de-obra, por outro lado com o atual

contexto da crise surgiu a ideia de que a imigração tem efeitos negativos no

emprego e nos défices públicos (no país de chegada), o que levou à criação de

políticas restritivas da imigração, afetadas pela recessão económica, e que

poderão ser mais negativas que positivas, na medida que poderão levar à

criação, não só de uma migração irregular, como uma migração clandestina, ou

pior o surgimento de tráfico de migrantes como consequência da procura não

reconhecida de trabalhadores migrantes necessários em certos setores onde

existe um défice de mão-de-obra. É visível a necessidade de uma consciência

de direitos humanos universais, porque o risco de tráfico humano é real, e

porque os Estados adotaram políticas de seleção que assentam nas

qualificações, nos conhecimentos da língua, na posse de capital e nas previsões

acerca da capacidade de adaptação do migrante, políticas portanto excluvias.

Em sexto, um pouco na continuação do ponto anterior, a autora fala do

direito à mobilidade/à migração reconhecido como um direito humano

fundamental. Há que repensar as políticas em curso sobre as migrações, não se

trata mais de um “controlo migratório” mas de uma “gestão migratória” que

auxilie na integração social dos imigrantes, estabelecendo políticas de emprego,

de segurança social, de educação e de formação, baseando-se nos Direitos

Humanos e combatendo, assim, o tráfico humano.

No sétimo e último ponto, em jeito de conclusão, a autora afirma que a

integração dos imigrantes tem que caber tanto ao país de origem como ao país

de destino, só assim se podem diminuir os seus impactos negativos, já que

atualmente a imigração levanta inúmeras questões a nível global. Sendo ainda

referida a questão latente do agravamento da xenofobia, que parece basear-se

em razões de segurança e em receios sociais e económicos que surgem com o

aumento do desemprego e o possível aumento da concorrência aos empregos

nacionais pelos imigrantes. Neste ponto a autora reafirma a ideia que tem

Susana Plácido

Página 15

desenvolvido ao longo do texto de que as políticas de mobilidade já

repensadas, deveriam ser autênticos instrumentos de coesão social a todos os

níveis (local, nacional e internacional), combatendo as desigualdades, a

descriminação e a pobreza, especialmente nas áreas da saúde, educação e

trabalho, reconhecendo sempre os direitos humanos dos migrantes

internacionais.

A autora recorre frequentemente a obras suas, que vêm nesta linha de

pensamento sobre as migrações. Recorre, também, a relatórios da OCDE para

fundamentar os seus argumentos. Parece, no entanto, sobrepor dois conceitos

diferentes agregados a um mesmo termo: capital humano. Se por um lado ela

afirma que o movimento migratório pode afetar o desenvolvimento das

sociedades de origem de forma negativa em termos de capital humano (p. 79);

por outro lado afirma, também, que os migrantes efetuam para o país de

origem transferências de capital humano e social (p.81). Esta sobreposição

causa, de facto algum mau entendimento, mas que fique explicito que na sua

primeira utilização ela pretende referir-se a capital humano enquanto indivíduos

necessários ao progresso económico e social do país de origem; e na sua

segunda utilização ela pretende referir-se a capital humano enquanto

transferências de valores, acesso a redes sociais e trocas sociais e culturais.

A autora descreve-nos, assim, uma realidade atual alertando-nos para o

facto de que a ideia de Liberalismo, enquanto livre circulação de bens, capitais

e neste caso de pessoas, parece estar a ser posta em causa por novas políticas

de migração restritivas, numa altura em que os fluxos migratórios estão em

crescimento. Pondo, consequentemente, em causa certos direitos humanos

fundamentais patentes a cada cidadão europeu, só pelo facto de o ser.

O atual contexto de crise e de elevadas taxas de desemprego têm sido

grandes estímulos para os novos fluxos migratórios, inclusive em Portugal. No

entanto, a ideia de um modelo de sociedade desenvolvida com acesso à

proteção social, difundida pelos média é também aliciante. O que acontecerá,

então, se as atuais políticas migratórias, nos países desenvolvidos, forem

políticas de restrição à imigração? Certamente irão surgir formas de contornar o

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 16

sistema, recorrendo à imigração ilegal e a economias paralelas, que fornecerão

algum tipo de rendimento para estes indivíduos, alguns com elevados graus de

qualificação, e que se veem obrigados a abandonar o seu país de origem.

Haverá, ainda, a possibilidade de através destes meios os indivíduos verem

postos em causa os seus direitos enquanto cidadãos de um Estado de direito, já

que saindo da orla do seu Estado de origem e acedendo de forma ilegal a um

outro Estado, ele deixa de cair no manto protetor do seu Estado. Há, de facto,

uma necessidade de repensar as políticas migratórias e de torná-las em

políticas de gestão dos fluxos migratórios, para que possam favorecer a

integração destes indivíduos transnacionais nestas novas sociedades

multiculturais.

8. Conclusão

Após a revisão de toda a bibliografia que serve de base a este trabalho

não posso deixar de fazer umas reflexões próprias. Será que, como

consequência dos elevados níveis de desemprego, estamos a assistir a um

retorno à ideia de que os portugueses emigram em busca de melhores

condições porque vive uma situação de pobreza no seu país de origem? Com a

diferença de que os portugueses de hoje são, sem dúvida alguma, muito mais

qualificados do que aqueles da década de sessenta.

No entanto, não podemos deixar de relacionar este fenómeno mais

atual, que agora conhecemos como “fuga de cérebros”, com esse fenómeno

emigratório dos anos sessenta, já que em ambos os casos há efetivamente uma

procura por melhores salários, melhores acessos a cuidados de saúde, melhores

acessos a nível escolar, enfim melhores condições de vida, juntando-se a tudo

isto, atualmente, a possibilidade de progressão a nível da carreira profissional

(que não seria possível nos países de origem).

Susana Plácido

Página 17

O que há de efetivamente diferente entre os atuais fluxos migratórios e

os fluxos dos anos sessenta é que ao contrário dos trabalhadores não

qualificados dessa época, hoje em dia poucos são os trabalhadores qualificados

em situação ilegal nos países de acolhimento (Rato, 2008).

De acordo com a análise de Rato (2008) relativamente à emigração de

origem portuguesa, constata-se que há um aumento da população emigrante

com menos de vinte e nove anos, com paridade em ambos os sexos, e que há,

de facto, um aumento da emigração de trabalhadores mais qualificados.

Constata-se, então, que há efetivamente um aumento do fluxo migratório entre

as camadas com qualificações académicas superiores como consequência dos

elevados índices de desemprego. Ou seja, o desemprego está a causar, a “fuga

de cérebros”, os indivíduos mais qualificados e mais competentes, deparam-se

com a obrigatoriedade de procurar “fora de portas” uma carreira que aqui lhes

é negada, colocando ao serviço de outros países competências que tanta falta

faz aos próprios países de origem.

Quanto às metodologias técnicas que foram apreendidas na cadeira de

Fontes de Informação Sociológica, provaram ser essenciais para a execução

deste trabalho, que de outra forma não seria tão coeso e estruturado. Foram

mecanismos essenciais na delimitação do tema e na fundamentação do

argumento apresentado.

9. Referências Bibliográficas

Araújo, E., & Ferreira, F. (2013). A “Fuga de Cérebros”: um discurso multidimensional.

In E. Araújo, M. Fontes, S. Bento, & (eds.), Para um debate sobre Mobilidade

e Fuga de Cérebros (pp. 58-82). Braga: Centro de Estudos de Comunicação e

Sociedade.

Guimarães, N. A. (2008). O desemprego: desafio comum, formas variadas. Obtido em

26 de Novembro de 2013, de JANUS.ANUÁRIO:

http://www.janusonline.pt/2008/2008_4_2_15.html

Desemprego e Pouplação Qualificada: a “Fuga de cérebros”

Página 18

OCDE. (s.d.). Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD).

Obtido em 26 de Novembro de 2013, de

http://www.oecd.org/dev/poverty/braindrain-aworldoverview.htm

Rajado, P. J. (30 de Março de 2012). O desemprego em Portugal: Uma análise ao nível

dos concelhos entre 2001/2009. Dissertação de Mestrado . Coimbra:

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Ramos, M. d. (Julho a Dezembro de 2013). Revista Eletrônica Inter-Legere N.º 13 , pp.

75-101.

Rato, H. (2008). O novo paradigma das migrações internacionais. Obtido em 27 de

Novembro de 2013, de JANUS.ANUÁRIO:

http://www.janusonline.pt/2008/2008_4_3_4.html

ANEXO I- Página da Internet avaliada

ANEXO II- Texto de apoio à Ficha de

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