o desemprego a entrevista a um caso de sucesso

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Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso 2 Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atómica: a vontade.”. Albert Einstein

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

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“Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a

eletricidade e a energia atómica: a vontade.”.

Albert Einstein

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Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

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Nota introdutória

Pretende-se com este trabalho apresentar a técnica de entrevista enquanto técnica

fundamental de recolha de informação em qualquer estudo das ciências sociais e ao longo da

sua estrutura iremos abordar os vários conceitos, definições e diretrizes adstritas à entrevista e

a todos os métodos de preparação e execução da mesma, bem como a todos os fundamentos

que a suportam teoricamente. Pretende-se ainda expor a forma como abordamos a análise de

conteúdo, e de todo o enquadramento teórico que a sustenta, enquanto instrumento de estudo

da entrevista.

Ir-se-á também apresentar a forma como se efetuou a análise da informação recolhida

na entrevista e, por fim, a interpretação dos dados que permitiu descobrir os significados e os

sentidos fundamentados pelo quadro teórico.

Estas técnicas foram utilizadas no estudo de caso efetuado para a UC de Pobreza e

Exclusões Sociais e as suas aplicações visaram a recolha de dados sobre a criação do próprio

emprego como fator de resiliência ao desemprego, e, tratando o conceito de exclusão social,

partindo dos seus princípios norteadores, chegar ao desemprego enquanto fenómeno que afeta

cada vez mais indivíduos e cada vez mais de diferentes estratos sociais.

Esta abordagem, focada essencialmente na exclusão social de domínio económico

(parcos rendimentos ou inexistentes, impossibilidade de obtenção de bens e serviços

indispensáveis ao pleno funcionamento do indivíduo em sociedade), onde a situação de

desemprego assume um papel preponderante na fragilização da estrutura social do indivíduo e

das suas condições psicológicas, comportamentais e das relações familiares. Incidindo num

caso concreto de sucesso de criação do próprio emprego como determinante da inclusão

social, pretende-se ilustrar que este poderá ser um dos caminhos a seguir para evitar que a

pessoa se sinta ou seja excluída socialmente.

Enquanto Educadores Sociais, promotores da mudança social, pretendemos provocar a

sociedade com esta explicação positiva de criação do próprio emprego como alternativa

resiliente ao desemprego. Reconhecemos que esta resiliência, ao ser encarada como uma

estratégia a seguir, tende a servir de alavanca ao aumento da autoestima, valorização e auto

capacitação pessoal e coletiva.

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1. O campo de estudo

Este trabalho, baseado no desemprego enquanto fator de exclusão social, baliza-se na

linha de pensamento de Bruto da Costa, que considera que as pessoas são socialmente

excluídas quando se combinam a falta de meios económicos, o isolamento social o acesso

limitado aos direitos sociais e civis, bem como o acesso insuficiente aos recursos pessoais,

familiares, económicos e culturais. A conjugação de todos estes fatores pode, portanto, ser

definida como a fase extrema do processo de desenvolvimento da marginalização (Castel,

19901, citando em Costa, 1998). Quando falamos de exclusão social significa a exclusão n(d)a

sociedade, aqui vista como a rutura do conjunto de sistemas sociais básicos (sociabilidade,

económico, institucional, espacial e simbólico). Assim, a sua definição tende a ser mais

complexa do que a do conceito de pobreza, na medida em que não se depende apenas de

determinantes económicos mas em termos mais amplos de integração ou participação na

sociedade em um ou vários domínios desses sistemas sociais. É, pois, um processo dinâmico

dentro de qualquer sociedade e que representa uma acumulação contínua de fatores sociais e

económicos ao longo do tempo (problemas laborais, formas de educação e estilos de vida,

saúde, nacionalidade, alcoolismo, toxicodependência, violência…) (Costa, 1998).

A exclusão social e a pobreza são sem dúvida dos maiores desafios do nosso século, na

medida em que colidem com o exercício dos direitos fundamentais dos seres humanos.

Tomando como ponto de partida estes direitos fundamentais, abordaremos a exclusão social

(do tipo económico), enquanto “falta de acesso a fontes de recursos, que incluem o mercado

de trabalho, em função ao salário que se aufere; o sistema da segurança social, pelas pensões,

abonos, subsídios, etc.”. (Costa, 1998, p.15).

O conceito de desemprego, suportado pelo pensamento teórico de Maruani (2002), onde

esta autora, recorrendo a conceitos históricos, refere que foram as políticas sociais que

contribuíram para a invenção do desemprego enquanto construção social em constante

movimento e transformação, levou a que refletíssemos sobre a forma de olhar este conceito.

Entendemos, portanto, que estar/ser desempregado não significa estar apenas privado de

um trabalho remunerado, voluntária ou involuntariamente, mas também reconhecer como

legítimo a procura ativa de emprego. As próprias condições de inscrição e de direito ao

subsídio de desemprego, e que se estende numa enorme franja da nossa sociedade, não fazem

mais do que limitar as fronteiras desta mesma legitimidade. Estas condições sinalizam e

1 Castel, R., (1990). Extreme Cases of Marginalization, from Vulnerability to Desaffiliation, comunicação

apresentada no European Seminar on Social Exclusion, realizado em Alghero (Itália) em Abril de 1990.

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oficializam os limites do direito ao desemprego que só pode existir se houver direito ao

trabalho.

2. A entrevista enquanto técnica qualitativa de excelência

Na abordagem a este trabalho, como em qualquer trabalho realizado em ciências

sociais, foi necessário recorrer a métodos, técnicas, e estratégias específicas consoante o

assunto em questão (Albarello, Digneffe, Maroy, Ruquoy, D & Saint-Georges, 1995) e o seu

caráter indutivo permitiu-nos fazer a correspondência entre a observação e a realidade e parte

de questões particulares para chegar a conclusões generalizadas (Flick, 2005). Assente num

princípio qualitativo, que implica uma reflexão do estudo por parte do investigador, trata-se

do principal instrumento de recolha de dados onde este adota uma postura objetiva durante a

recolha desses mesmos dados (observa, participa e conversa …), assumindo, contudo, um

papel neutro.

A entrevista, enquanto técnica por excelência da investigação qualitativa (Guerra,

2006), permitiu que o participante narrasse, na sua própria linguagem, a forma como

interpretou a sua vivência ao ficar desempregado e a subsequente criação do seu próprio

emprego. Optámos por realizar a técnica de entrevista atendendo que esta seria a técnica que

provocaria maior interação entre o entrevistador e o entrevistado e que daí resultasse a

obtenção da informação pretendida (Haguette, 1997). Desta técnica foi ainda possível

desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como o participante interpretou uma

etapa (e outros aspetos) da sua vida e do meio envolvente (Bogdan & Biklen, 1994), pois a

informação recolhida diretamente e resultante da interação cara-a-cara entre investigador e

entrevistado é fruto de “(…) uma interacção social completa, um sistema de papéis, de

expectativas, de injunções, de normas e de valores implícitos, (…)”, segundo Nóvoa e Finger

(1988, p.25).

Esta técnica foi importante neste estudo, onde se pretendeu recolher junto do

entrevistado dados subjetivos, ou seja, relacionados com crenças valores, atitudes,

comportamentos, percepções e opiniões que permitiram a obtenção de informações e

elementos de reflexão muito mais ricos. Deste mesmo modo, a atenção do entrevistador

procurou captar ainda aspetos simbólicos da comunicação não-verbal para melhor interpretar

os dados recolhidos, onde o “(…) observar expressões faciais, entoações vernaculares vocais,

sinais não-verbais e outras formas de linguagem corporal são partes importantes nas

entrevistas (..)” (Dunbar, Rodriguez e Parker, 2002, p.293).

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Existem diversos tipos de entrevistas que têm sido classificadas de formas diferentes,

consoante os mais variados autores, sendo a sua escolha encarada não de forma rígida mas

sim rigorosa, isto é, não necessitamos seguir apenas um tipo de entrevista e com rigidez, mas

sim aplicar vários tipos com rigor. São adotadas grandes variedades de usos e uma grande

multiplicidade de formas que vão da mais comum (a entrevista individual falada) à entrevista

de grupo, ou mesmo às entrevistas mediatizadas pelo correio, telefone ou computador

(Fontana e Frey, 1994). Estes autores evocam uma vasta bibliografia de diversos pensadores

que defendem a existência de dois grandes tipos de entrevistas e cujos estudos se têm

centrado nos diferentes tipos desta técnica: estruturada (Babbie,1992; Bradburn et al.1979;

Kahn & Cannell, 1957); não estruturada (Denzin, 1989b; Lofland, 1971; Lofland & Lofland,

1984; Spadley, 1979).

Para Patton (1987), as entrevistas dividem-se entre quantitativas e qualitativas, sendo que

as qualitativas admitem três classificações: conversa informal, guiada e aberta. De uma forma

geral, e segundo este autor, as entrevistas implicam a definição prévia de questões a colocar.

Isto não obriga, porém, que o elenco de questões não possa ser alterado, enriquecido ou com

questões substituídas no decurso da entrevista, cabendo ao investigador a capacidade de fazer

essa avaliação tendo em conta a forma como a “conversa” for fluindo.

Já Ruiz Olabuenaga (1996) entende que a entrevista divide-se em duas modalidades:

estruturada e não estruturada. E, é na ligação destes dois tipos, que encontramos as

semiestruturadas, onde a recolha de dados consistiu, e indo ao encontro da definição

defendida por Quivy e Campehoudt (2008), no tipo de abertura e flexibilidade das questões

do guião, que levaram o participante a fazer uma leitura da fase concreta da sua vida.

Este tipo de entrevista não se quer nem muito rigorosa quanto à sua estrutura (baseada em

perguntas previamente formuladas que implicam o cuidado de não fugir a elas, pressupondo a

previsão de um conjunto de temas sob a forma de guião e que serão tratadas durante a

entrevista, permitindo obter dados mais sistemáticos e conclusões mais gerais), nem muito

flexíveis (não estruturadas – em que as perguntas não são pré-estabelecidas pelo investigador

e são definidas no decorrer da entrevista, e, por isso, surgem com o decorrer da interação entre

entrevistador e entrevistado, implicando desse modo uma grande bagagem do investigador).

Não obstante da entrevista semiestruturada implicar o controlo e direção do entrevistador,

embora tal não inclua qualquer rigidez quanto ao conteúdo ou à forma de desenvolver a

conversa, a sua “não diretividade” não significa que se recorra a perguntas exclusivamente

abertas, dado que nada impede o entrevistador de formular perguntas totalmente fechadas

quando as considerar necessárias. A não diretividade, defendida por Ruiz Olabuenaga (1996),

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não implica também a ausência total de um “guião orientador”, pelo contrário, “uma

entrevista sem guião não conduz, frequentemente, a lugar algum” (p.168).

Considerámos também que este seria o tipo de entrevista que mais se enquadrava no

nosso estudo, uma vez que possibilitaria a criação de um ambiente natural e que se aproxima

de uma conversa/diálogo, colocando o entrevistado mais à vontade (Bogdan & Biklen, 1994),

e que, deste modo, se realizasse num local proposto pelo participante - esplanada de um café.

Durante a entrevista, procedemos ao registo da mesma através de um gravador áudio,

sendo a utilização desta ferramenta, além de muito desejável em entrevistas, que apesar da sua

condição flexível contêm tópicos de condução Wenger (2002), evita que fosse necessário tirar

muitas notas durante o desenvolvimento e que podiam condicionar o entrevistado, e garante a

manutenção dos dados por tempo indeterminado o que possibilita posteriormente uma melhor

análise (Bogdan & Biklen (1994). Deste modo, é importante referir que quando o entrevistado

aceitou participar na entrevista, foi-lhe garantido o anonimato e a confidencialidade (através

de uma declaração de anonimato). No entanto quando realizámos a entrevista tivemos em

consideração necessidade de informar o entrevistado do tempo médio da entrevista e o

cuidado de

“(…) não esquecer as questões prévias a colocar no início das entrevistas, tais

como a explicitação do objecto de trabalho, a valorização do papel do entrevistado

no fornecimento de informações considerando o seu estatuto de informador

privilegiado, a duração e a licença para gravar, etc.”. (Guerra, 2006, p.60).

Não obstante todos os cuidados em cumprir os requisitos já referidos e do rigor ético

que pretendemos garantir, houve ainda a necessidade de superar alguma ansiedade do

entrevistado, provocada naturalmente quer pelas questões apresentadas quer pela presença do

gravador (Wenger, 2002), tendo sido indispensável elucida-lo de que o estudo se tratava de

um mero trabalho académico e reforçado a confidencialidade e anonimato dos dados.

Atenuado todo stresse identificado, toda a transcrição da entrevista foi efetuada na íntegra e

da forma como foi narrada, sem que fossem adulterados quaisquer dados, para que se

reproduzisse o discurso narrado onde a

(…) fidelidade aos dados orais deve ser o objectivo de toda a transcrição.

Queremos registar o que foi dito por um falante da forma como foi dito.

Uma transcrição não é e não pode seu uma edição da fala do entrevistado.

(Paiva, 2004, p.136)

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A transcrição foi suportada na sua leitura por um glossário (siglas) de normas, definido

por Flick (2005), sendo, posteriormente disponibilizada uma cópia da transcrição ao

participante.

2.1. Planeamento da entrevista

Entendemos que esta é uma das etapas mais importantes da entrevista, que requer algum

tempo e exige alguns cuidados. O planeamento da entrevista, tendo em conta o objeto de

estudo, o objetivo a alcançar e a escolha dos participantes são dos primeiros passos a efetuar.

Os participantes devem, dentro das possibilidades, ser conhecidos do investigador ou

apresentados já dentro do contexto a explorar, levando a que se crie uma certa empatia entre

investigador e participante e, logo, a pessoa fica mais à vontade e sente-se mais segura para

colaborar e mais confiante para responder às questões que lhe vão sendo colocadas (Bourdieu,

1999).

A oportunidade e disponibilidade do participante em conceder a entrevista, marcada

com antecedência para assegurar a sua realização, a ética do investigador ao garantir ao

participante o anonimato e a confidencialidade dos dados e, por fim, a preparação específica

do guião são os aspetos mais fundamentais nesta fase (Lakatos e Marconi (2003). Na mesma

linha de pensamento, Wenger (2002) refere que independentemente do tipo de aproximação

ao participante, este irá marcar definitivamente a relação da entrevista, e, nessa relação, será

importante também assegurar algum grau de reciprocidade. Outro aspeto enaltecido por este

autor é fazer com que a entrevista pareça uma conversa, em que resulte interação entre

investigador e participante. Assim, e seguindo o pensamento destes autores, elegemos o

participante a partir da proximidade existente entre o mesmo e um dos investigadores, que,

aproveitando o facto do seu caso (de sucesso) de criação do próprio emprego se tratar de um

acontecimento visível (criação de uma pastelaria de fabrico próprio e estabelecida na cidade

de Faro) não apresentava quaisquer barreiras na obtenção de dados e de onde resultou uma

natural e positiva interação entre ambos (já esperada). Esta entrevista, presencial, apresentou

também um vasto leque de vantagens, tais como,

(…) respostas mais precisas, devido à naturalidade contextual. (...) maior

probabilidade de respostas auto geradas. (...) distribuição simétrica de poder

interativo. (...) maior eficácia com questões complexas. (...) melhor para

entrevistados idosos ou com deficiência auditiva. (...) respostas mais atenciosas.

(...) resultados mais precisos permitem uma menor carga de trabalho para o

entrevistador. (...) melhores taxas de resposta. (...) melhor para os respondentes

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marginalizados. (...) melhor para pesquisas envolvendo questões sensíveis.

(Roger, 2002, pp.541-544).

No desenvolvimento da entrevista, o entrevistador absteve-se momentaneamente do seu

capital cultural evitando expressões ou linguagem muito técnica ou académica, para que

ambos se entendessem na perfeição (Bourdieu, 1999), tendo sido utilizada a linguagem

corrente e de acordo com a aplicada pelo participante. Esta forma de entrevistar evitou que o

participante se sentisse constrangido e que a interação entre ambos se tornasse difícil e

prejudicasse a recolha de dados.

Houve também o cuidado de verificar se o participante não apresentava quaisquer

dificuldades de comunicação e se não haveria a tentação de auxiliar nas respostas por parte do

entrevistador, o que poderia enviesar o rigor pretendido. Na verdade, quando o entrevistado

manifesta dificuldades discursivas, o entrevistador tende a sentir alguma tentação em colocar

as respostas pelo participante, terminando as frases ou palavras. Para além de poder conduzir

a interpretações erradas da informação, esta abordagem pode limitar muito os dados na

medida em que será mais fácil ao entrevistado confirmar as respostas dadas pelo entrevistador

do que corrigi-lo com a sua visão. (Wenger, 2002).

3. Análise de conteúdo

A análise de conteúdo, tal como definida por Krippendorf (1980), é “uma técnica de

investigação que permite fazer inferências, válidas e replicáveis, dos dados para o seu

contexto”. No mesmo raciocínio, Bardin (2008) diz que a análise de conteúdo não serve

apenas para se proceder à descrição dos dados apurados, atendendo que não se pretende

apenas reproduzir os conteúdos das mensagens através da técnica utilizada, mas sim

apresentar algumas significações dessas mesmas mensagens e que se traduzam em saber.

Assim, esta análise, foi conduzida indo ao encontro das etapas fundamentais

desenhadas por Bardin (2008). Numa primeira fase, denominada por pré-análise, foi realizada

uma leitura exaustiva das informações recolhidas (leitura flutuante), as quais nos orientaram

para as questões norteadoras, que nos sugeriram a explicação do fenómeno observado (criação

do próprio emprego). A escolha de índices que apontaram para o objetivo geral da

investigação (criação do próprio emprego como determinante da inclusão social), de acordo

com o seu quadro teórico, fundamentou toda a abordagem.

Quanto à constituição do corpus, defendido por Bardin (2008), foi definida toda a

panóplia de fundamentos teóricos que entendemos realçar e selecionar para serem submetidos

à respetiva análise e que definiram a organização da informação e deram respostas de forma:

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exaustiva, em que se esgotou a comunicação na sua totalidade e não se omitiu qualquer dado;

representativa, cuja amostra representou o universo; homogénea, em que os dados expuseram

o tema e em que a técnica e a recolha dos dados foram uniformes; pertinente, cujos

documentos adequaram-se quer ao conteúdo quer ao objetivo da entrevista; e exclusiva, cuja

classificação da categoria correspondeu apenas a um único elemento.

Com estes critérios, segundo Silva e Pinto (1986), procurou-se a existência de padrões e

regularidades existentes nos discursos de modo a preparar uma lista prévia de categorias de

codificação, sendo que uma “categoria é habitualmente composta por um termo-chave que

indica a significação central do conceito que se quer aprender, e de outros indicadores que

descrevem o campo semântico do conceito” (pp.110-111).

A segunda fase, definida por Bardin (2008) como a etapa da exploração do material,

compreendida pelo processo de transformação sistemática dos dados e agrupados em

unidades, permitiram uma descrição correta das caraterísticas importantes do conteúdo e que

implica a já referida categorização (que apesar de não ser uma etapa obrigatória de toda a

análise de conteúdo, a maioria dos procedimentos de análise de conteúdo organizam-se em

redor deste processo). Com o objetivo de alcançar o núcleo central do texto em função das

regras estabelecidas, partimos da análise de unidades de registo, que surgem como o momento

da aplicação do que foi trabalhado na pré-análise, e que, segundo Carmo e Ferreira (1998),

(…) é o segmento mínimo de conteúdo que se considera necessário para poder

proceder à análise, colocando-o numa dada categoria” e de unidade de contexto

que “constitui o segmento mais longo de conteúdo que o investigador considera

quando caracteriza uma unidade de registo, sendo a unidade de registo o mais

curto. (p.257)

E por último, o tratamento dos resultados e devida interpretação, e já na posse de um

corpus de informação trabalhado e organizado de acordo com os objetivos da investigação e

das questões levantadas, foi possível propor inferências e realizar interpretações de acordo

com o quadro teórico definido.

4. Discussão de resultados

Entendemos que a interpretação dos dados deva seguir uma estrutura e de acordo com

as dimensões/variáveis consideradas relevantes, que permita contribuir para a facilidade da

sua leitura.

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4.1. Exclusão Social e Desemprego

A partir dos dados obtidos e tendo por referência o quadro teórico definido

previamente para a pesquisa, constatou-se que o participante único da amostra conseguiu

travar o processo de exclusão social (de tipo económico) ao decidir criar o seu posto de

trabalho. O entrevistado optou por criar o seu próprio emprego, como alternativa a não

conseguir encontrar trabalho, sendo que essa opção já tinha sido ponderada anteriormente

quando se encontrava a trabalhar por conta de outrem. A mera situação de se encontrar

desempregado acarretava um conjunto de sentimentos e representações que o próprio

participante rejeitava e é observável quando, questionado acerca do seu estado de espírito

aquando da situação de desemprego, o mesmo refere que foi uma situação constrangedora

porque em primeiro lugar estava desocupado e em segundo lugar a situação financeira era

bastante desfavorável e que o levava a algumas inquietações quanto ao fato de não saber

como pagar as suas contas mensais.

Ainda que de uma forma algo subtil, foi possível perceber que o participante sentiu

algum grau de exclusão social quando refere que se sentiu «desamparado porque não tinha

nada para fazer» e algum isolamento social dada a distância física entre a família e entre os

amigos, uma vez que não é natural do Algarve e cujas distâncias não permitiram um apoio

mais próximo.

4.2. A resiliência no desemprego

O facto de o participante ter insistentemente procurado emprego e, paralelamente, ter

procurado aconselhamento junto de terceiros próximos, quanto à possibilidade de se lançar

por conta própria, confirma a existência de uma atitude de resiliência do participante. Esta

atitude comprova-se quando o mesmo indica que enquanto esteve desempregado procurou

ativamente emprego através do envio de currículos para diversas entidades. Como, não

conseguia voltar ao mundo do trabalho, optou por se aconselhar com familiares que o

ajudaram financeiramente e a planear como iria criar o próprio negócio. Consideramos que o

entrevistado, apesar de ter tido o apoio de familiares, mesmo sem esse apoio, embora o

processo de sair da situação de desemprego fosse mais moroso, possivelmente, arriscava na

mesma criar o seu próprio negócio e no limite ponderava procurar emprego fora de Portugal.

Achamos que é desta forma, dada a aparente persistência, «teimosia» e atitude lutadora com

que encarou esta fase da sua vida, que fundamenta a sua personalidade resiliente.

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4.3. Empreendedorismo VS Emprego

Nesta vertente, e pela análise dos dados podemos constatar que existiu uma atitude

empreendedora do participante, quer pelo facto de ter decidido arriscar no seu próprio negócio

quer, inclusive, por arriscar num negócio cuja área não tinha quaisquer conhecimentos. No

entanto é importante ressalvar que também tomou esta decisão porque tinha o apoio da sua

companheira, a qual já tinha experiência na área da pastelaria. Esta atitude permitiu-lhe

resolver as dificuldades que sentia em voltar ao mercado de trabalho enquanto trabalhador por

conta de outrem, que era a realidade vivida até ficar no desemprego.

Entendemos que, neste caso concreto, trata-se de um caso de empreendedorismo por

necessidade, atendendo ao facto do participante ter tido a iniciativa de criar o seu próprio

emprego por se encontrar na situação de desempregado, sem perspetivas de conseguir

encontrar qualquer emprego, levando-o a numa situação económica desfavorável e que de

alguma forma pôs em causa a sua subsistência. Esta estratégia de contornar a situação,

criando a alternativa favorável para a ultrapassar com a aposta da criação do próprio emprego

demonstra uma clara atitude empreendedora.

5. Conclusões

5.1. Metodológicas

Antes de realizar qualquer interpretação dos dados obtidos, pretendemos também

interpretar a influência da técnica utlizada (entrevista) e do tipo incrementado

(semiestruturado), bem como de todos os instrumentos inerentes para a obtenção desses

mesmos dados. Consideramos, assim, que apesar deste tipo de técnica se encontrar

fundamentado por diversos autores, o mesmo per se não é suficiente para a realização de

qualquer trabalho científico. Entendemos sim, que esta técnica, articulada e triangulada com

todas as formas de recolha de dados, modalidades e ferramentas, tornam o procedimento mais

diligente, conceptível e enriquecem qualquer investigação.

Contudo, e neste caso concreto de avaliação da entrevista, entendemos que além da

mesma permitir inferências sobre as dimensões identificadas, permitiu também melhorar a sua

aplicabilidade e operacionalização e aferir com maior relevo sobre os constrangimentos e

potencialidades quanto ao uso desta técnica. Neste campo metodológico, pretendemos

salientar a flexibilidade estrutural da entrevista como um dos aspetos que consideramos

positivo, visto permitir qualquer alteração ao referencial temático do decurso da entrevista. O

facto de se ter verificado algum constrangimento por parte do entrevistado pela utilização do

equipamento de gravação áudio, entendemos ser um aspeto menos positivo e que pode ter

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condicionado a entrevista. Foi observável que a presença deste instrumento, e tal como

defende Wenger (2002) não deixou o participante muito à vontade. É também de sinalizar

que, por vezes, a proximidade entre o participante e o investigador pode ser um dos fatores

menos positivos, onde o participante pode entender que a informação que se pretende pode

ser já do conhecimento do investigador e, logo, seja uma perda de tempo e/ou que o mesmo

crie dúvidas quanto à utilização do dados, contrariando desta forma, e resumindo-nos apenas

a esta caso concreto, ao que defende (Bourdieu, 1999). Desta forma, achamos que a opção da

entrevista ser conduzida por um investigador e participante desconhecido, desde que seja

dado o seu consentimento e devida elucidação do motivo do estudo, tende a recolher-se dados

mais profundos, sem subterfúgios e com maior objetividade.

Neste ponto do presente trabalho importa referir que a existência de um quadro teórico

de referência consistente, que permita abordar os aspectos e temas relevantes da investigação,

e a experiência empírica dos investigadores são fatores determinantes do produto final

(Bogdan & Biklen, 1994, p.206).

5.2. Teóricas VS Empíricas

É na relação entre o quadro teórico e o trabalho de campo que pretendemos equacionar

os dados recolhidos. Neste sentido, e sendo certo que o panorama socioeconómico português

atual não é dos mais favoráveis, seria, supostamente, fácil abordar o tema do desemprego e da

exclusão social tal como os defende teoricamente Bruto de Costa (1998). Contudo, encarando

o objeto de estudo como um forte desafio e pretendendo ir mais além entendemos, pela leitura

dos dados obtidos, que o estar/ser desempregado não significa estar apenas privado de um

trabalho remunerado, voluntária ou involuntariamente, mas também reconhecer como

legítimo a procura ativa de emprego. As próprias condições de acesso e direito ao subsídio de

desemprego, e que se estende a uma enorme franja da nossa sociedade, não fazem mais do

que limitar as fronteiras desta mesma legitimidade. Estas condições sinalizam e oficializam os

limites do direito ao desemprego que só pode existir se houver direito ao trabalho (Maruani,

2002). É nesta linha que a exclusão social ganha forma ao considerar que as pessoas são

socialmente excluídas quando se combinam a falta de meios económicos, o isolamento social

o acesso limitado aos direitos sociais e civis, bem como o acesso insuficiente aos recursos

pessoais, familiares, económicos e culturais (Costa (1998).

Apoiando-nos do pensamento de Louçã e Caldas (2009, citados em Santos, 2011), que

ironizando sobre o pensamento neoliberal apontam como evidente que os despedimentos de

hoje serão, talvez, o emprego de amanhã, recorremos a este ponto de vista para, numa

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inversão ideológica, propor o tema da criação do próprio emprego enquanto fator de

resiliência ao desemprego, resiliência essa bem patente nesta abordagem.

É, com atitudes empreendedoras, como a registada no nosso entrevistado, enquanto

respostas a necessidades específicas e conjunturais que devemos basear a nossa reflexão. O

empreendedorismo depende parcelarmente de estímulos de cariz económico (Baptista,

Teixeira, Portela, 2008), mas também é certo que a vontade, o crer, a criatividade e a

capacidade de iniciativa determinam a sua aplicação. Numa perspetiva norteada pelos

pensamentos de autonomia, capacitação, mudança e empowerment de Paulo Freire,

pretendemos inferir que o desemprego, visto por Boaventura de Sousa Santos (2011) como

um dos principais “detonadores da insolvência pessoal e familiar“ (p.69), por si só não poderá

continuar a ser entendido pela sociedade como um veículo propulsor de pobreza e de

endividamento das famílias e, logo, de exclusão social. Uma atitude empreendedora, de

criação do próprio emprego, exemplificada na presente abordagem, deverá ser encarada como

capacidade pessoal para resistir, lidar e reagir de modo positivo em situações adversas e, deste

modo, que rompa com a forma do desemprego, que apesar de ser um tipo de exclusão social,

apresente indícios de viragem para novas formas de encarar a vida e o mercado de trabalho.

Enquanto Educadores Sociais, e de acordo com Serapicos (2003), um dos grandes

desafios é preparar os indivíduos para questões como as da solidariedade e da tolerância para

que possa combater problemáticas, tais como, por exemplo, a exclusão social. E nas

perspetivas de Paulo Freire (1983) de educar para intervir (que se referem a mudanças reais

nas relações das pessoas e na sua autonomia, no trabalho, na educação e na saúde), e que

durante toda a sua vida procurou dar voz aos grupos mais oprimidos e excluídos da sociedade

para que pudessem ter domínio sobre a sua vida, entendemos que a situação de

vulnerabilidade criada pelo desemprego é um dos campos férteis da atuação da Educação

Social e pode ser um dos caminhos de mudança e que mostre às pessoas que podem criar os

meios para fazer uma reflexão constante sobre a sua vida e decidir conscientemente sobre ela.

É assim que

(…) no ato mesmo de responder aos desafios que lhe apresenta seu contexto de

vida, o homem se cria, se realiza como sujeito, porque esta resposta exige dele

reflexão, crítica, invenção, eleição, decisão, organização, acção. Todas essas

coisas pelas quais se cria a pessoa e que fazem dela um ser não somente adaptado

à realidade e aos outros, mas integrado. (Freire, 1980, p.15).

Como pista de uma futura investigação, e tendo em conta as características deste

trabalho, que serviu apenas como ilustração de uma das formas de encarar o desemprego, não

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

15

nos permitiram aferir que parcela da sociedade encara o risco calculado da criação do próprio

emprego como ponto de viragem à situação adversa do desemprego, e que parcela “cai na

subsidiodependência” que a leva ao débil modo de vida condigna, com apontamentos de

sobrevivência social, de forma a evitar qualquer tipo de exclusão e até mesmo de pobreza.

Seria, assim, de todo interessante estudar esta temática numa perspetiva mais macro

(por exemplo: com vários casos de sucesso/insucesso de uma comunidade), enquadrando no

estudo a perspetiva de educadores sociais e provocar a sociedade com registos e estratégias de

empowerment, autonomia, valorização, estímulo ao (re)aproveitamento de recursos, etc., que

despertem as comunidades e promovam o bem estar social.

Page 15: O desemprego  a entrevista a um caso de sucesso

Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

16

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Page 17: O desemprego  a entrevista a um caso de sucesso

Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

18

Índice Remissivo

Nota introdutória ........................................................................................................................ 3

1. O campo de estudo ................................................................................................................ 4

2. A entrevista enquanto técnica qualitativa de excelência ....................................................... 5

2.1. Planeamento da entrevista ....................................................................................... 8

3. Análise de conteúdo............................................................................................................... 9

4. Discussão de resultados ....................................................................................................... 10

4.1. Exclusão Social e Desemprego ............................................................................. 11

4.2. A resiliência no desemprego ................................................................................. 11

4.3. Empreendedorismo VS Emprego .......................................................................... 12

5. Conclusões ........................................................................................................................... 12

5.1. Metodológicas ....................................................................................................... 12

5.2. Teóricas VS Empíricas .......................................................................................... 13

Bibliografia ............................................................................................................................... 16

ANEXOS .................................................................................................................................. 19

Entrevista ........................................................................................................................ 22

Transcrição ...................................................................................................................... 22

Análise de categorias ...................................................................................................... 27

Análise de conteúdo ........................................................................................................ 30

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

19

ANEXOS

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

20

Guião de entrevista

Objetivo da entrevista

Pretende-se com a presente entrevista abordar o tema da criação do próprio emprego

enquanto fator de inclusão social. Isto é, pretendemos obter dados sobre a forma como lidou

com o facto de ficar desempregado e que capacidades pessoais sentiu e que o levou a resistir,

lidar e reagir de modo positivo com a situação adversa do desemprego pelo fato de ter criado

a sua atividade profissional atual.

Deste modo, vimos, por este meio, solicitar a sua preciosa colaboração, respondendo às

questões que lhe forem colocadas, garantindo-lhe o anonimato e confidencialidade dos dados.

1- Caraterização social do entrevistado

i. Idade;

ii. Naturalidade e nacionalidade;

iii. Área de residência;

iv. Habilitações literárias;

2- Experiência profissional

i. Profissão

ii. Que outras atividades profissionais exerceu?

iii. Qual a atividade profissional que mais se identifica? E porquê?

iv. Qual foi a sua última atividade profissional? Quanto tempo durou?

3- Situação de desemprego

i. Porque ficou desempregado?

ii. Já tinha estado desempregado anteriormente?

iii. Como se sentiu enquanto desempregado (psicologicamente e socialmente)?

iv. Enquanto esteve desmpregado sentiu-se excluído do seu gupo de amigos ou família?

Porquê?

v. Quanto tempo esteve desempregado até decidir iniciar o seu próprio negócio?

4- Atitude perante o desemprego/criação do próprio negócio

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

21

i. Que tentativas fez para regressar ao mercado de trabalho?

ii. Como encarou a situação?

iii. O que o motivou para criar o seu próprio emprego?

iv. Inspirou-se em alguém para avançar com o seu próprio negócio?

v. Sentiu alguns constrangimentos/dificuldades? Se sim, quais? E como os ultrapassou?

vi. Já tinha trabalhado anteriormente na área profissional em que iniciou o seu negócio?

vii. Que tipo de conhecimentos tinha na área? (optou por criar o seu próprio emprego)

viii. Porque é que escolheu abrir um negócio em vez de trabalhar por conta de outrem?

ix. Era algo que queria fazer antes de ter ficado desempregado, ou foi a uma opção de

recurso?

x. Que carateristicas pessoais considera ter que o ajudaram na criação do próprio

emprego?

xi. Sentiu que corria alguns riscos ao criar o próprio negócio? Quais?

xii. Como acha que seria a sua situação económica e social hoje se não tivesse optado por

criar o seu próprio negócio?

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

22

Entrevista

NOME LOCAL DATA HORA ENTREVISTADORA DURAÇÃO

--- Esplanada de

café 02-11-2013 15H58 Cecília Pires 00:19´41

Transcrição

E- Bom dia, desde já agradecemos a tua disponibilidade para a realização da

entrevista… Esta entrevista vai servir para um trabalho académico, e gostaríamos

de obter informação sobre a forma como lidaste com o desemprego, tendo em

conta que criaste o teu próprio negócio, garantindo desde já que os dados só serão

usados para este trabalho e com o total anonimato e confidencialidade…. Assim,

podemos dar início à entrevista?

e- Sim.

E- De um modo geral podes conceder-nos alguns dados pessoais?

e- Sim.

E- Qual a tua idade?

e- Tenho 30 anos.

E- De onde és natural?

e- Beja… Portugal.

E- E a área de residência?

e- Faro.

E- Quais são as tuas habilitações literárias?

e- Tenho o 12º ano

E- E::::: Qual é a tua profissão?

e- ::: Acho que já posso dizer::: empresário de pastelaria (risos).

E- [ E:::: que outras atividades profissionais exerceste?

e- Pois … já fui técnico de análise de águas … vendedor::: de produtos químicos

… e :::: programas para os putos da escola::: softwares e:::::: distribuidor.

E- Qual dessas todas que tiveste foi a que gostaste mais?

e- Análise de águas::: porque foi sem dúvida a mais interessante, por todo o

trabalho que realizava :::: analisar e tratar águas de rede, de hotéis, piscinas,

hospitais, fábricas.

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

23

E- Qual é que foi a última atividade profissional que tiveste antes desta?

e- Fui distribuidor .

E- E quanto tempo é que durou?

e- Trabalhei lá aproximadamente 4 anos::: ainda estive lá um bom tempo ::: Só saí

por falta de trabalho ::: a empresa tinha pouco movimento e tiveram necessidade

de reduzir o pessoal … infelizmente é uma realidade que se vê neste país.

E- Quanto tempo estiveste desempregado?

e- Estive cerca de um ano e dois meses [

E- [ E já tinhas estado desempregado numa outra altura?

e- Sim::: mas sempre por pouco tempo…

E- Como te sentiste quando estavas desempregado a:::: psicologicamente e

socialmente?

e- Foi algo que pesou um pouco em mim::: … é difícil … falta de dinheiro para

pagar as contas … e não ter aquela rotina::: andar sempre desocupado:::

E- Houve nesse período mais prolongado de desemprego::: algum momento em

que te sentisses::: assim::: excluído?

e- Por vezes::: os amigos estavam a trabalhar e eu sentia-me desamparado. E se

tivesse ficado mais tempo desempregado do que aquele que estive acho que a

situação se teria agravado. E::: a família não está perto::: a minha família está em

Beja e:::: estou aqui sozinho … Por mais que queiram apoiar, não é aquele apoio

constante::: devido à distância.

E- Mas::: isolaste-te de alguma forma?

e- ::: não. Sempre quis estar com os amigos e com a namorada. Não me sentia

deprimido, só estava mais sozinho porque eles não tinham tempo, ::::mas sabia

que era normal.

E- Estiveste desempregado um ano e dois meses sensivelmente::: e foi esse o

tempo que levaste até montar um negócio?

e- Nesse tempo fui pensando nessa possibilidade como alternativa ao facto de não

encontrar trabalho e também porque era algo que eu já queria fazer … e esta

situação veio também como uma escapatória do facto de estar desempregado [

E- [ Mas fizeste muitas tentativas para voltar ao mercado de trabalho?

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

24

e- Algumas::: procurava ativamente, entregava currículos e não me chamavam:::

E essa foi a forma que encontrei também para não estar parado::: e estava a ver o

tempo a passar e eu continuava sem trabalho.

E- Qual foi a alavanca que tiveste para avançar para a criação do teu próprio

negócio?

e- Falei com alguém que me ajudou a pensar::: a tomar a decisão::: colaborou

comigo no sentido de avançar. E essa pessoa foi também uma das pessoas que me

inspirou para abrir este negócio [

E- [ Mas, já tinha alguma referência na família que te tenha também inspirado?

e- Sim essa pessoa::: … que já tinha experiência como empresário:: uma pessoa

de negócios. Porque os negócios dele também eram nesta área [

E- [ Achas que o fato de teres trabalhado como comercial:: no passado ajudou-te?

e- Sim. Ajudou-me a lidar com o público (0.2), criou-me à vontade:::

E- Que tipo de dificuldades sentiste quando tomaste a decisão de criação do teu

próprio negócio?

e- Acho que as dificuldades que toda a gente sofre::: existem muitos entraves,

muita burocracia por parte da segurança social, finanças, câmaras::: licenças … é

muito complicado … leva o seu tempo (0.3). Só em burocracias demorei quase

um mês até conseguir abrir.

E- E que financiamento tiveste?

e- Fiz com o apoio de familiares, não tive que me (endividar) graças a Deus… é

uma vantagem::: porque há imensa gente que tem que recorrer a créditos. Mas,

hoje em dia também é difícil ter créditos, arranjar crédito não é assim tão fácil.

E- E microcrédito nunca te passou pela cabeça?

e- Não::: e não me queria meter nisso porque iriam ser mais problemas e preferi

assumir a dívida com os familiares.

E- Tens pessoas da família que formaram contigo sociedade?

e- Não, Não. Só me deram o apoio, confiaram em mim e avançaram.

E- Se não tivesses tido esse apoio, achas que terias avançado?

e- :::::::: talvez não. Se calhar escolhia sair de Portugal ou :::procurava um

emprego durante mais algum tempo.

E- Que tipo de conhecimentos tinhas na área da restauração?

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

25

e- Eu::::? tinha poucos ou nenhuns (0.1) mas a pessoa que está comigo já tinha

experiência, já tinha trabalho nisto e isso foi uma mais-valia, já não começámos

necessariamente do zero.

E- E porque escolheste abrir o teu negócio em vez de persistires na procura de

emprego?

e- (hhhh) Porque abrir o meu negócio para já é uma independência::: temos a

nossa independência ::: e fazemos o nossos serviço à nossa maneira::: criamos as

nossas próprias regras para que tudo corra bem … Não temos que estar sujeitos a

regras de outras pessoas::: aqui é diferente eu é que dou ordem … e tenho a

possibilidade de intervir quando vejo que alguém está mal … e vamos vendo

diariamente que alterações podemos fazer para melhor.

E- Mas já tinhas pensado nesta alternativa antes de teres ficado desempregado?

e- Sim::: Sempre me passou pela cabeça ((apontando o dedo)), o ter um negócio

meu (hhhhhhh). Não tinha pensado era em que área::: mas surgiu esta

oportunidade e foi nesta que fiquei ::: Gostava de ter criado negócio na área das

águas mas isso era mais difícil … tem que se ter outros licenciamentos, outros

conhecimentos … -- a nível de mercado também é diferente -- .

E- Que características pessoais consideras ter que te ajudaram na criação do próprio

emprego?

e- A teimosia::: É preciso ser teimoso e persistir no que se quer::: Eu quando não estou

contente com o resultado::: começo logo a pensar em maneiras diferentes::: para dar a

volta e::: no fundo chegar onde quero.

E- Sentiu que corria alguns riscos ao criar o seu próprio negócio?

e- Sim::: sem dúvida. Porque parar abrir negócio é preciso muitas burocracias… e para

abrir um estabelecimento tem que estar tudo nos conformes … caso contrário podesse

receber fiscalização e podia o fechar:::: Também podia o negócio correr mal e não

ganhar dinheiro sequer para pagar a quem me ajudou.

E- Consegues imaginar como era a tua situação económica hoje se não tivesses

optado por este caminho?

e- Continuava no desemprego::: se calhar teria a fazer uns biscates para ganhar

mais algum … E o mercado não está nada, nada, bom:::

E- Como te imaginas (profissionalmente) daqui a três anos, por exemplo?

e- Não sei, é difícil responder::: Mas acho que vai correr bem. Isto não é assim muito

difícil e é só manter a vidinha controlada e organizada::: até a crise passar. Eu também

não quero ficar rico:: só quero estar bem.

E- Como encaras o trabalho na tua vida?

Page 25: O desemprego  a entrevista a um caso de sucesso

Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

26

e- É uma forma de estar bem na vida e de se fazer o que se gosta:::não é aquela

forma de irmos para o trabalho já contrariados e mais um dia:::: é uma coisa

importante para mim::: estar ocupado ::: Não me imagino já sem trabalhar.

E- Damos por terminada a entrevista. Mais uma vez muito obrigado pela tua

disponibilidade e colaboração.

GLOSSÁRIO (Flick, 2005)

E: entrevistador

e: entrevistado

(xxx): Incompreensão de palavras ou segmentos.

(hipótese): hipótese do que se ouviu

MAIÚSCULA: Entoação enfática

...: Qualquer pausa

((minúscula)): Comentários gestual

-- --: Comentários que quebram a sequência temática da exposição

[: Sobreposição, simultaneidade de vozes

(...): Indicação de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto.

hhh: Inspirações/expirações audíveis de ar são transcritas como ´hhh´ (o número de hs

é proporcional à duração da inspiração/expiração)

(0.2): pausas em segundos

A::: - Sons prolongados: o prolongamento de sons é marcado com dois pontos, em

número proporcional à duração do prolongamento.

palavra sublinhada: mostra ênfase ou saliência.

Page 26: O desemprego  a entrevista a um caso de sucesso

Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

27

Análise de categorias

Categoria Sub-categorias Excertos da entrevista

Caraterização do

entrevistado

Caraterização social do

entrevistado

«[…] Tenho 30 anos[…]»

«Tenho 12º ano»

Experiência profissional

Profissão «Empresário de pastelaria»

Profissões anteriores

«[…] técnico de análise de

águas […] vendedor::: de

produtos químicos […]

distribuidor.»

Profissão de maior

satisfação «Análise de águas […]»

Última profissão antes do

desemprego

« Fui distribuidor

[…]Trabalhei lá

aproximadamente 4 anos

[…]»

Situação de desemprego

Motivo de desemprego

« […] Só saí por falta de

trabalho ::: a empresa tinha

pouco movimento e

tiveram necessidade de

reduzir o pessoal […]»

Duração do desemprego « Estive cerca de um ano e dois

meses »

Sentimento enquanto

desempregado

« Foi algo que pesou um pouco

em mim::: … é difícil … falta de

dinheiro para pagar as contas …

e não ter aquela rotina::: andar

sempre desocupado::: »

Excluído

« Por vezes::: os amigos estavam

a trabalhar e eu sentia-me

desamparado […] E::: a família

não está perto::: a minha família

está em Beja e:::: estou aqui

sozinho … Por mais que

queiram apoiar, não é aquele

apoio constante::: devido à

distância.»

«::: não. Sempre quis estar com

os amigos e com a namorada.

Não me sentia deprimido, só

estava mais sozinho porque eles

não tinham tempo, ::::mas sabia

que era normal.»

Enquanto desempregado «Nesse tempo fui pensando

nessa possibilidade (criar o

Page 27: O desemprego  a entrevista a um caso de sucesso

Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

28

próprio negócio) como

alternativa ao facto de não

encontrar trabalho e também

porque era algo que eu já queria

fazer … e esta situação veio

também como uma escapatória

do facto de estar desempregado»

Atitudeperante o

desemprego/ criação do

próprio negócio

Tentativas para voltar ao

mercado de trabalho

« […] procurava ativamente,

entregava currículos e não me

chamavam::: E essa foi a forma

que encontrei também para não

estar parado […]

Alavanca para criar

emprego

« […] Falei com alguém que me

ajudou a pensar::: a tomar a

decisão::: colaborou comigo no

sentido de avançar. E essa

pessoa foi também uma das

pessoas que me inspirou para

abrir este negócio»

Inspiração

« […] essa pessoa::: … que já

tinha experiência como

empresário: uma pessoa de

negócios. Porque os negócios

dele também eram nesta área»

Dificuldades

« […] Acho que as dificuldades

que toda a gente sofre::: existem

muitos entraves, muita

burocracia por parte da

segurança social, finanças,

câmaras::: licenças […] Só em

burocracias demorei quase um

mês até conseguir abrir.

Financiamento

« […] o apoio de

familiares, não tive que me

(endividar) graças a

Deus… é uma vantagem:::

[…]»

Criação do próprio

emprego

Microcrédito

« […] Não::: e não em queria

meter nisso porque iriam ser

mais problemas e preferi assumir

a dívida com os familiares.»

Conhecimento na área

« […] tinha poucos ou nenhuns

(0.1) mas a pessoa que está

comigo já tinha experiência, já

tinha trabalho nisto e isso foi

uma mais-valia, já não

começamos necessariamente do

zero.»

Opção de criar negócio em

vez de continuar a procurar

« […] Porque abrir o meu

negócio para já é uma

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

29

independência::: temos a nossa

independência ::: e fazemos o

nossos serviço à nossa maneira:::

criamos as nossas próprias

regras para que tudo corra bem

… Não temos que estar sujeitos

a regras de outras pessoas:::

[…]»

« […] Sempre me passou pela

cabeça ((apontando o dedo)), o

ter um negócio meu (hhhhhhh).

Não tinha pensado era em que

área::: mas surgiu esta

oportunidade e foi nesta que

fiquei ::: Gostava de ter criado

negócio na área das águas mas

isso era mais difícil … tem que

se ter outros licenciamentos,

outros conhecimentos … -- a

nível de mercado também é

diferente »

Pontos fortes na

personalidade

«A teimosia::: É preciso ser

teimoso e persistir no que se

quer::: Eu quando não estou

contente com o resultado:::

começo logo a pensar em

maneiras diferentes::: para dar a

volta e::: no fundo chegar onde

quero.»

Risco criar negócio

« Sim::: sem dúvida. Porque

parar abrir negócio é preciso

muitas burocracias… e para

abrir um estabelecimento tem

que estar tudo nos conformes …

caso contrário podesse receber

fiscalização e podia o fechar::::

Também podia o negócio correr

mal e não ganhar dinheiro

sequer para pagar a quem me

ajudou.»

Situação se não tivesse

criado negócio

« […] Continuava no

desemprego::: se calhar teria a

fazer uns biscates para ganhar

mais algum […]»

«:::::: talvez não. Se calhar

escolhia sair de Portugal ou

:::procurava um emprego

durante mais algum tempo.»

Futuro Espetativas para o futuro «Não sei, é difícil responder:::

Mas acho que vai correr bem.

Page 29: O desemprego  a entrevista a um caso de sucesso

Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

30

Isto não é assim muito difícil e é

só manter a vidinha controlada e

organizada::: até a crise passar.

Eu também não quero ficar rico::

só quero estar bem.»

Trabalho Forma de encarar o trabalho

« […] É uma forma de estar bem

na vida e de se fazer o que se

gosta:::não é aquela forma de

irmos para o trabalho já

contrariados e mais um dia:::: é

uma coisa importante para

mim::: estar ocupado ::: Não me

imagino já sem trabalhar.»

Análise de conteúdo

Problemática Análise Excerto

Experiência profissional

Atualmente o entrevistado

exerce a profissão de

empresário na área da

pastelaria. Tendo já

trabalhado como técnico de

análise de águas, vendedor

de produtos químicos. A

anterior profissão que

exerceu foi de distribuidor

durante 4 anos.

«empresário de pastelaria»

«[…] técnico de análise de

águas […] vendedor::: de

produtos químicos […]

distribuidor.»

«Análise de águas […]»

« Fui distribuidor

[…]Trabalhei lá

aproximadamente 4

anos […]»

Situação de desemprego

Foi dispensando do seu

trabalho como distribuidor,

porque a empresa

encontrava-se com poucos

clientes e sentiram

necessidade de reduzir o

pessoal.

Tendo o mesmo vivido a

situação de desemprego

durante um ano e dois meses.

Esta situação foi muito

constrangedora para ele,

porque viu-se com falta de

dinheiro para pagar contas e

sentiu-se desocupado.

Diariamente sentia-se

desamparado porque não

tinha nada para fazer, os

amigos encontravam-se a

trabalhar e a família

encontrava-se distante não o

conseguindo sempre o apoio

que necessitava.

« […] Só saí por falta de

trabalho ::: a empresa tinha

pouco movimento e tiveram

necessidade de reduzir o

pessoal […]»

« Tive cerca de um ano e

dois meses »

« Foi algo que pesou um

pouco em mim::: … é difícil

… falta de dinheiro para

pagar as contas … e não ter

aquela rotina::: andar sempre

desocupado::»

« Por vezes::: os amigos

estavam a trabalhar e eu

sentia-me desamparado […]

sentia me desamparado ::: a

minha família está em Beja

e:::: estou aqui sozinho …

Por mais que queiram apoiar,

não é aquele apoio

Page 30: O desemprego  a entrevista a um caso de sucesso

Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

31

Mesmo perante a situação de

desemprego, não se sentiu

deprimido e não se isolou. O

mesmo procurou sempre que

possível estar com os amigos

e a namorada.

Enquanto estava

desempregado e como não

encontrava trabalho pensou

na possibilidade de criar o

seu próprio negócio.

constante::: devido à

distância.»

« não. Sempre quis estar com

os amigos e com a namorada.

Não me sentia

deprimido(…)»

« Nesse tempo fui pensando

nessa possibilidade (criar o

próprio negócio)como

alternativa ao facto de não

encontrar trabalho e também

porque era algo que eu já

queria fazer … e esta

situação veio também como

uma escapatória do facto de

estar desempregado»

Atitude perante o

desemprego/criação do

próprio negócio

O entrevistado enquanto

esteve desempregado

procurava ativamente

emprego enviando

currículos. Essa foi a forma

que arranjou para não passar

os dias desocupado.

Teve alguém com quem se

aconselhou e que o ajudou

em todo o processo para

conseguir criar o seu próprio

negócio.

Essa pessoa já tinha

experiência como empresário

na área da hotelaria e

restauração.

O entrevistado sentiu

algumas dificuldades durante

esse processo devido a todas

as burocracias (Finanças,

Segurança Social…) que

estão inerentes à criação do

próprio negócio. Por esse

motivo é que demorou cerca

de um mês para conseguir

abrir o negócio.

Neste processo contou com

apoio financeiro de

familiares o que permitiu

com que não tivesse que

« […] procurava ativamente,

entregava currículos e não

me chamavam::: E essa foi a

forma que encontrei também

para não estar parado […]

« […] Falei com alguém que

me ajudou a pensar::: a tomar

a decisão::: colaborou

comigo no sentido de

avançar. E essa pessoa foi

também uma das pessoas que

me inspirou para abrir este

negócio»

« […] essa pessoa::: … que

já tinha experiência como

empresário: uma pessoa de

negócios. Porque os negócios

dele também eram nesta

área»

« […] Acho que as

dificuldades que toda a gente

sofre::: existem muitos

entraves, muita burocracia

por parte da segurança social,

finanças, câmaras::: licenças

[…] Só em burocracias

demorei quase um mês até

conseguir abrir.

« […] o apoio de familiares,

não tive que me (endividar)

graças a Deus… é uma

vantagem::: […]»

« […] Não::: e não em queria

meter nisso porque iriam ser

Page 31: O desemprego  a entrevista a um caso de sucesso

Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

32

recorrer a créditos. Porque se

tivesse recorrido a créditos

poderia vir a ter problemas.

Abriu o negócio numa área

em que nunca tinha

trabalhado mas contou com a

ajuda da companheira que já

tinha experiência,

Obtou por abrir o seu

negócio porque consegue

assim ter independência e

cria as suas próprias regras,

não ter que estar sobre sobre

o controle de terceiros.

Mesmo antes de estar

desempregado já tinha

pensando em abrir negócio

próprio mas não sabia era em

que área.

O entrevistado considera-se

teimoso e persistente e isso

foram duas das

características que o

ajudaram na criação do

próprio emprego. O mesmo

quando não está contente

com um resultado obtido

começa logo a pensar em

arranjar soluções para obter o

resultado esperado, o que

mostra que o mesmo também

é determinado.

Sentiu que corria alguns

riscos ao criar um negócio

próprio devido a todas as

burocracias que acarretam

estas situações. E, por outro

lado o negócio também podia

não correr como esperado e

não ter lucro nem para si,

nem para pagar a quem o

financiou neste projeto.

mais problemas e preferi

assumir a dívida com os

familiares.»

« […] tinha poucos ou

nenhuns (0.1) mas a pessoa

que está comigo já tinha

experiência, já tinha trabalho

nisto e isso foi uma mais-

valia, já não começamos

necessariamente do zero.»

« […] Porque abrir o meu

negócio para já é uma

independência::: temos a

nossa independência ::: e

fazemos o nossos serviço à

nossa maneira::: criamos as

nossas próprias regras para

que tudo corra bem … Não

temos que estar sujeitos a

regras de outras pessoas:::

[…]»

« […] Sempre me passou

pela cabeça ((apontando o

dedo)), o ter um negócio meu

(hhhhhhh). Não tinha

pensado era em que área:::

mas surgiu esta oportunidade

e foi nesta que fiquei ::: (…)»

« A teimosia::: É preciso ser

teimoso e persistir no que se

quer::: Eu quando não estou

contente com o resultado:::

começo logo a pensar em

maneiras diferentes::: para

dar a volta e::: no fundo

chegar onde quero.»

« Sim::: sem dúvida. Porque

parar abrir negócio é preciso

muitas burocracias… e para

abrir um estabelecimento tem

que estar tudo nos conformes

… caso contrário pudesse

receber fiscalização e podia o

fechar:::: Também podia o

negócio correr mal e não

ganhar dinheiro sequer para

pagar a quem me ajudou.

«:::::: talvez não. Se calhar

escolhia sair de Portugal ou

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Metodologias de Investigação

Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

33

O mesmo considera que se

não tivesse tipo o apoio que

teve para conseguir criar o

seu próprio negócio,

provavelmente teria optado

por emigrar ou persistia na

procura de emprego.

Se não tivesse criado o seu

negócio provavelmente ainda

estava desempregado e a

trabalhar por fora para

ganhar algum dinheiro.

:::procurava um emprego

durante mais algum tempo.»

« […] Continuava no

desemprego::: se calhar teria

a fazer uns PESCATOS para

ganhar mais algum […]»

Trabalho (visão do

entrevistado)

O entrevistado prefere

trabalhar porque é uma forma

de se sentir bem e de se

manter ocupado.

« […] É uma forma de estar

bem na vida e de se fazer o

que se gosta:::não é aquela

forma de irmos para o

trabalho já contrariados e

mais um dia:::: é uma coisa

importante para mim::: estar

ocupado ::: Não me imagino

já sem trabalhar.»