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O custo da mão de obra Ano 22 - Edição 140 Março 2012 Revista Brasileira do Aço De 2004 a 2011, o custo da mão de obra nas empresas da distribuição de produtos siderúrgicos no Brasil cresceu consideravelmente. Só em São Paulo, dentro deste período, houve um aumento real de 25,5% em relação ao INPC – Índi- ce Nacional de Preços ao Consumidor. Um salário de R$ 100,00 em 2004, sofreu reajuste pelo INPC de 50,99%, passando para R$ 150,99. Já o mesmo salá- rio em uma distribuidora de aços sofreu reajuste de 89,49%, indo para R$ 189,49. A diferença entre os salários representa um ganho real de 25,5%. Na prática, isso significou um acréscimo real no custo da mão de obra de 2,89% ao ano. Esse índice representa um valor 55,5% acima da inflação. Uma coisa é observar o número percentual de ganho real – 1%, 2%, 3%... Outra é olhar o quanto esse número representa sobre a inflação do período - 20%, 40%, 60%. Da mesma forma, se compararmos o crescimento da mão de obra do setor siderúrgico com a evolução do sa- lário mínimo nacional, o resultado é inversamente pro- porcional, isso porque o salário mínimo tem estado bem acima da inflação. Nos últimos oito anos, o salário mínimo subiu 58,44% em relação à inflação medida pelo INPC, e representou um aumento de 26,16% frente ao crescimento da mão de obra de nosso setor. Já em dólar, o aumento foi quase quatro ve- zes maior: de US$ 82,00 em 31 de dezembro de 2003 para US$ 307,00 em 31 de dezembro de 2010. Em síntese, os índices acumulados foram: INPC = 50,99%, correção salarial do setor = 89,49%, e o salário mínimo = 139,23%. Além do crescimento de 25,6% do custo da mão de obra, as empresas também tiveram outros acréscimos, como por exemplo, os encargos incidentes sobre a folha de pagamen- to. Em 2009, foi criado o FAP – Fator Acidentário Previdenciá- rio –, que elevou o valor do encargo seguro de acidente (em média) em 1,5 vezes e, para a maioria de nossas empresas, passou dos 3,0% para 4,5% da folha de pagamento. Para ter ciência de quanto o acréscimo sofrido na mão de obra representa no custo de sua empresa, faz-se neces- sário saber qual o percentual que ela corresponde no custo final. Se por exemplo, for de 10% do custo total, neste caso, o crescimento representou (2,89% de 10%) o índice de 0,289% do custo total médio anual de 2004 a 2011. Índices de Reajustes Acumulados (%) INPC Reajuste Metalúrgicos SP Salário Mínimo 2004 6,13 10,00 15,38 2005 11,49 19,02 34,61 2006 14,63 24,97 46,15 2007 20,54 34,28 59,61 2008 28,35 48,35 78,84 2009 33,62 58,04 96,15 2010 41,38 72,26 109,61 2011 50,99 89,49 139,23 Dr. Carlos de Freitas Nieuwenhoff Consultor Jurídico Sindisider

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O custo da mão de obra

Ano 22 - Edição 140Março 2012

Revista Brasileira do Aço

De 2004 a 2011, o custo da mão de obra nas empresas da distribuição de produtos siderúrgicos no Brasil cresceu consideravelmente. Só em São Paulo, dentro deste período, houve um aumento real de 25,5% em relação ao INPC – Índi-ce Nacional de Preços ao Consumidor. Um salário de R$ 100,00 em 2004, sofreu reajuste pelo INPC de 50,99%, passando para R$ 150,99. Já o mesmo salá-rio em uma distribuidora de aços sofreu reajuste de 89,49%, indo para R$ 189,49. A diferença entre os salários representa um ganho real de 25,5%. Na prática, isso significou um acréscimo real no custo da mão de obra de 2,89% ao ano. Esse índice representa um valor 55,5% acima da inflação. Uma coisa é observar o número percentual de ganho real – 1%, 2%, 3%... Outra é olhar o quanto esse número representa sobre a inflação do período - 20%, 40%, 60%. Da mesma forma, se compararmos o crescimento da mão de obra do setor siderúrgico com a evolução do sa-lário mínimo nacional, o resultado é inversamente pro-porcional, isso porque o salário mínimo tem estado bem acima da inflação.

Nos últimos oito anos, o salário mínimo subiu 58,44% em relação à inflação medida pelo INPC, e representou um aumento de 26,16% frente ao crescimento da mão de obra de nosso setor. Já em dólar, o aumento foi quase quatro ve-zes maior: de US$ 82,00 em 31 de dezembro de 2003 para US$ 307,00 em 31 de dezembro de 2010. Em síntese, os índices acumulados foram: INPC = 50,99%, correção salarial do setor = 89,49%, e o salário mínimo = 139,23%. Além do crescimento de 25,6% do custo da mão de obra, as empresas também tiveram outros acréscimos, como por exemplo, os encargos incidentes sobre a folha de pagamen-to. Em 2009, foi criado o FAP – Fator Acidentário Previdenciá-rio –, que elevou o valor do encargo seguro de acidente (em média) em 1,5 vezes e, para a maioria de nossas empresas, passou dos 3,0% para 4,5% da folha de pagamento. Para ter ciência de quanto o acréscimo sofrido na mão de obra representa no custo de sua empresa, faz-se neces-sário saber qual o percentual que ela corresponde no custo final. Se por exemplo, for de 10% do custo total, neste caso, o crescimento representou (2,89% de 10%) o índice de 0,289% do custo total médio anual de 2004 a 2011.

Índices de Reajustes Acumulados (%)

INPCReajuste

Metalúrgicos SPSalário Mínimo

2004 6,13 10,00 15,382005 11,49 19,02 34,612006 14,63 24,97 46,152007 20,54 34,28 59,612008 28,35 48,35 78,842009 33,62 58,04 96,152010 41,38 72,26 109,612011 50,99 89,49 139,23

Dr. Carlos de Freitas Nieuwenhoff Consultor Jurídico Sindisider

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“2012 começou com boa demanda. É graças a isso, que o aço ainda tem liqui-dez, porém, com margens muito pequenas. Entre os distribuidores independen-tes mais importantes do Brasil é consenso que o nos-so resultado, nem de longe, remunera o investimento.

O ano iniciou também com excesso de oferta; tanto das usinas locais quanto dos importados, que hoje fazem o pa-pel de uma usina a mais no País. O maior motivo para isso é a dificuldade que passam os EUA e a Europa. A crise econômica na Europa, aliada com a dos EUA, tem forte impacto nos negócios de distribuição no Brasil. A baixa demanda por lá traz enorme oferta de produtos importados para cá: empurra o dólar para baixo, viabilizando a importa-ção e prejudicando a exportação. Tudo isso sem contar o fantasma da importação indireta. O aço importado hoje constrói carros inteiros no Brasil, subs-titui nosso produto em peças, máquinas e equipamentos que nossa indústria deixou de fabricar. As fábricas brasileiras perdem força e estamos nos desindustrializando. A China é o maior exportador de aço para o Brasil. O PIB chinês foi revisado para baixo: 7,5 %. Isso é aço sobrando!

Apesar das usinas chinesas dizerem que estão revendo os números de produção para reduzir o impacto sobre o mun-do, duvido que esta sobra de aço não venha em boa parte parar em nossos portos. É fundamental que as usinas locais estejam em sintonia e com olhos vigilantes no mercado internacional, com a in-tenção de regular o volume de material que entra no País, através de ações comerciais imediatas. Ao governo, além de zelar pelo câmbio, cabe o mesmo foco, e mais amplo ainda, enxergando os produtos acabados de aço que tem ingressa-do de forma inadequada ao mercado. Há motivos para entender que não haverá mudanças significativas em 2012. É prudente mantermos os estoques baixos e despesas reduzidas em função das margens peque-nas. Não há atratividades para novos investimentos. Apesar dos preços do aço estarem muito baixos, os custos com frete, entre outras despesas, não estão. E ago-ra teremos que conviver com os rodízios de placas na ci-dade de São Paulo e com as novas restrições de circulação de caminhões. Acredito também que a participação das usinas na dis-tribuição tem que se dar com mais responsabilidade, bus-cando resultados e competir com igualdade de condições com a rede independente, que foi cliente fiel das usinas por décadas (que teve, tem e sempre terá seu importante papel na colocação de produtos no mercado).

Ricardo Teixeira Posses – Cibraço Comércio e Indústria de Ferro e Aço Ltda

Divulgação

Ponto de vista

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INSCRIÇÃO COM 15% DE DESCONTO ATÉ 07/05/12

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Em janeiro, as vendas registraram alta de 9,8% em relação ao mês anterior, totalizando 356,6 mil toneladas. O mesmo ocorreu com as compras, que fecharam janeiro com aumento de 11,4% diante dezembro de 2011, na marca de 353,8 mil toneladas. As importações de janeiro apontaram queda de 11,6%, comparado ao mês anterior, com volume total de 183,6 mil toneladas. Assim, os estoques da distribuição totalizaram 997,9 mil toneladas, representando um declínio de 0,3% frente a dezembro, o que reduziu o giro de estoques para 2,8 meses. Para fevereiro, a expectativa da rede de distribuição é que compras e vendas apresentem queda em torno de 5%.

PRODUÇÃO MUNDIALDEZEMBRO

2011 2010 Var.%

117.563 115.105 2,1%

PRODUÇÃO AMÉRICA LATINADEZEMBRO

2011 2010 Var.%

5.875 4.916 19,5%

PRODUÇÃO BRASILJANEIRO

2012 2011 Var.%

2.780 2.764 0,6%

3 Prod

utos:

LCG,

BQ,

BF,

CZ, C

PP, C

AZ e

EGV.

1 Incluem importações informadas pelos associados2 Incluem os embarques das usinas para outros setores via distribuição

Estatisticas | 3

Estatísticas

Estoques controlados Por Oberdan Neves Oliveira

Unid:1000 ton.

PANORÂMICADO AÇO

DESEMPENHODOS ASSOCIADOS

ESTOQUE1

JANEIRO

2012 2011 Var.%

997,6 1.157,2 -13,8%

COMPRAS2

JANEIRO

2012 2011 Var.%

353,8 293,9 20,4%

VENDAS1

JANEIRO

2012 2011 Var.%

356,6 339,6 5,0%

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Realidade

Rescisões trabalhistase o pagamento do INSSAlgumas empresas ainda têm dúvidas sobre recolhimentos do INSS. É preciso ficar atento e sempre buscar orientação a fim de evitar gastos extras decorrentes de erros

Aristela MottaAdvogada especialista em Direito e Processo

do Trabalho e Diretora da Comissãode Comunicação da AATSP

Rescindir contratos é um momento complicado, delicado e que exige muita atenção e preparo. Mais do que saber falar e expor os motivos para dispensar um funcionário, é necessá-rio que a empresa esteja bem informada sobre o que incide ou não no INSS (caixa da Previdência Social responsável pelos pagamentos de aposentadorias e demais benefícios). De acordo com a advogada especialista em Direito e Pro-cesso do Trabalho e Diretora da Comissão de Comunicação da AATSP – Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo – Aristela Motta, só há recolhimento de INSS em caso de remuneração. “Recolhe INSS a totalidade dos rendimen-tos pagos, devidos ou creditados durante o mês, inclusive gorjetas e adiantamentos decorrentes de reajuste salarial. Já as indenizações estão ligadas somente a algo que o funcio-nário tinha direito e deixou de receber, como por exemplo, férias e 13º salário”, explicou a advogada.

Evitando erros A fim de evitar problemas, processos trabalhistas e despesas que podem comprometer o orçamento, as em-presas devem cumprir rigorosamente a legislação. Outra alternativa é manter uma estreita parceria com a conta-bilidade – área responsável pelos impostos que serão pagos. Aristela destacou que é importante também con-sultar um advogado especializado para que, por meio de uma análise trabalhista e previdenciária, certifiquem-se do procedimento correto a ser adotado nos recolhimentos que refletem na folha de pagamento.

Mudanças Os empregadores devem estar atentos as constantes mudanças que refletem sobre os recolhimentos. E uma delas foi trazida pela Lei 11.430 que adicionou o artigo 21-A e pará-grafos à Lei 8.213/91, além de instituir a aplicação do chama-do nexo técnico previdenciário. “Com essa aplicação, não mais cabe ao empregado pro-var, por exemplo, que a doença foi adquirida ou desencadeada pelo exercício de determinada função no trabalho. Com isso, as empresas podem pagar altas taxas de impostos com o incorreto enquadramento pelo INSS de uma enfermidade que não tenha qualquer relação com a atividade desenvol-vida”, contou Aristela. Neste caso, encaixar o benefício como auxílio doença acidentário (acidente de trabalho), quando, na verdade, de-veria ser auxílio doença previdenciário (acidente causado fora do ambiente de trabalho), faz com que a empresa tenha que efetuar o depósito mensal referente ao FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – para o empregado afastado, a estabilidade pelo período de 12 meses após a suspensão do benefício acidentário e o aumento do Fator Acidentário de Prevenção com a consequente correção do valor do Se-guro Acidente de Trabalho. “Todos esses prejuízos podem ser evitados com a contestação administrativa sempre que houver ‘erro’ por parte do INSS. Se a empresa não obtiver êxito na via ad-ministrativa, deverá pleitear na Justiça o afastamento do

nexo”, concluiu a advogada. Por todos esses motivos, os empregado-res devem consultar com frequência os be-nefícios por incapacidade de suas empresas, através do site da Previdência Social, e, se for o caso, apresentar contestação juntando todas

as provas que dispuserem.

4 | Realidade

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ICMS na base decálculo do Pis/Cofins*

Mudança

Como é sabido, a base de cálculo do PIS e da COFINS são contribuições sociais originadas sobre o faturamento bruto das empresas (há quem tache de inconstitucionais essas duas contribuições por bitributação). Partindo desta pre-missa, alguns contribuintes passaram a questionar a parti-cipação do ICMS na composição da base de cálculo do PIS e da COFINS, pois o ICMS, na sua concepção, é destacado nos documentos fiscais quando ocorrido o fato gerador e reco-lhido aos cofres públicos. O ICMS não faz parte do conceito de faturamento, pois nenhum agente econômico fatura o imposto, apenas as mer-cadorias ou serviços de venda. Desta forma, o valor do ICMS, destacado na nota fiscal, deve ser para simples registro contá-bil, e não deve ser incluído na base de cálculo da Cofins. E este é o debate que tem sido travado no Poder Judiciário nos dias de hoje, ou seja, o ICMS compõe ou não a base de cál-culo do PIS e da COFINS ? “Trata-se de uma ‘receita’ do poder público (Estados) que não pode ser confundida com receita do contribuinte, já que, como visto, quem ‘enriquece’ com o ICMS não é o contribuin-te, e sim os Estados. Alguns Juízes adotam inclusive o jargão de que ‘se alguém fatura ICMS, esse alguém é o Estado e não o vendedor da mercadoria’”, comentou Dr. Antonio Cesar Ribeiro, advogado da Delegacia Regional de Belo Horizonte, do Inda / Sindisider.

Majoritariamente, o Supremo Tribunal Federal, por seis votos pró-contribuinte contra um, afasta o ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS na forma referida aqui, sendo assim, o ICMS não pode ser confundido com receita ou fa-turamento. A questão não está definitivamente decidida, porém, mostra uma tendência da Corte Suprema. “Lembro aqui, em momento oportuno, que são 11 Mi-nistros na Corte Suprema. Caso a tese ‘contribuinte’ seja vi-toriosa, haverá um baque nas contas do Governo, estimado em R$ 15 bilhões/ano e, como visto, parece ser mesmo esta a tendência do judiciário: afastar da composição da base de cálculo do PIS e da COFINS, o ICMS”, explicou Ribeiro, que completou. “Tudo leva a crer que a matéria em questão será finalmente julgada este ano e ainda no primeiro semestre”. Recomenda-se que os contribuintes que ainda não te-nham ingressado com uma medida judicial visando o bene-fício da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/COFINS, revejam seu posicionamento quanto a decisão sobre a não propositura da ação antes da decisão definitiva do STF, sob pena de, posteriormente, perder o direito de pleitear em juízo tal benefício. O Inda e o Sindisider – entidades que defendem os inte-resses do setor, já tomaram todas as providencias cabíveis para este assunto, de forma que sua rede associada participe desta nova medida.

Uma discussão que perdura há algum tempo, mas que está prestes a ser resolvida: a exclusão do ICMS** da base de cálculo da Cofins. Essa questão está em fase final no Supremo Tribunal Federal

Mudança | 5

* PIS - Programas de Integração Social / COFINS - Contribuição para Financiamento da Seguridade Social** ICMS - Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias

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6 | Atualidade

Atualidade

Crimes contra aOrdem Tributária no BrasilAgora, contribuintes podem ser processados por crimes contra a ordem tributária antes de encerrada a discussão em fase administrativa. Será que a nova medida vai funcionar?

A recente e complicada decisão foi lançada pelo Mi-nistro Marco Aurélio Mello do Supremo Tribunal Regional (STF) e, de acordo com o advogado da Delegacia Regional de Belo Horizonte, do Inda / Sindisider, Antônio César Ri-beiro, não deve ser analisada como tendo aplicação genéri-ca, já que, a interpretação permite aplicabilidade quando é flagrado o débito fiscal e, consequentemente, o crime con-tra a ordem tributária. De acordo com o Ministro, sendo acessível a sonegação e o fato criminoso, como por exemplo, a utilização de notas fis-cais falsas, o Ministério Público poderá denunciar sem o refe-rendo do feito administrativo. A decisão causa controvérsias. “Enxergamos como arriscada a decisão, pois, em pri-meiro lugar e, com todo o respeito, não vemos no dia a dia, que o Ministério Público agirá com rigor no ajuizamento de denúncias. Isso porque levamos em consideração expe-riências vividas no passado e que precederam, inclusive a edição da Súmula Vinculante nº 24, onde, em vários casos e de maneira linear, o Ministério Público ofertava denún-cias em face dos contribuintes antes mesmo de esgotado o debate do tema tributário em sede administrativa em qual-quer caso”, posicionou Ribeiro. Outro ponto importante e que “tempera” este debate, está no fato de que o Poder Público, seja ele através de Mu-nicípios, Estados ou União, já viveu situações no passado em que o contribuinte, temendo o feito criminal, “passou por

cima” de discutir a questão tributária em sede administrativa e pagou o débito tributário, pois, naquele período, quitado ou parcelado o valor devido, o assunto estaria resolvido. Para o advogado do Inda, a decisão é polêmica e ques-tionável, pois “isto contribuirá para o esvaziamento dos Tri-bunais Administrativos, já que, vislumbrando a ausência da necessária discricionariedade do Poder Público, o con-tribuinte não terá razão para debater o tema tributário em sede administrativa”. Por último, é questionável também esta interpretação judicial ‘suprema’ ao argumento de que, até mesmo nos ca-sos de notas fiscais falsas (que foi um item ressalvado para se festejar a nova decisão), há um expressivo contingente de contribuintes que demonstram que, a despeito da “falsidade documental”, a operação tributária de fato ocorreu e que as cargas do tributo destacadas no documento intitulado de ‘falso’, foi suportado pelo destinatário. “Neste exemplo comentado, caso haja a denúncia antes da conclusão do processo administrativo, sabidamente tería-mos um cancelamento da autuação em sede administrativa, pois, a nota fiscal falsa não afastou a legitimidade da opera-ção tributária do ponto de vista da circulação da mercadoria e do pagamento do encargo destacado no documento fal-so’”, explicou Ribeiro. “Como dito e reiterando, a decisão da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal é bastante temerária aos contribuintes de um modo geral”, encerrou.

O que a lei defineOs artigos 1 e 2 da Lei 8.137/1990 definem o que são os crimes contra a ordem tributária. Confira alguns deles: Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em

documento ou livro exigido pela lei fiscal; III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.Pena: Reclusão de dois a cinco anos, e multa.

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Extremamente versátil: assim é o aço! Em seus mais diversos tipos, pode ser aplicado em atividades diferentes, como construção, tubulação, barras, peças de carros, avião, e muito mais. O que a maioria das pessoas não imagina é que ele também compõe belas obras de arte. O artista plástico, Lúcio Bittencourt, descobriu isso logo no início de sua carreira, em meados de 1970. Formado pela Universidade de Mogi das Cruzes, o escultor faz peças utili-zando sucatas de aço... Tudo se aproveita! “O aço é a minha principal fonte de matéria prima. É um material maleável, dá para esquentar e fazer o formato que se desejar”, contou o Bittencourt. “Trabalho sem alterar tanto a peça original. Um amassado ou ranhura já é arte”, declarou o artista. As esculturas feitas com aço são bonitas e têm maior du-rabilidade. “Se o material for bem escovado e pintado, dura por vários anos”, disse. A escolha do tipo de aço depende do gosto do cliente. “Se a peça ficar exposta no litoral, por exemplo, tenho que usar aço inox”, explicou o escultor. Graças a versatilidade do aço é possível produzir pe-ças de todos os tamanhos. “Tem de 3cm até 25m. Tudo de-pende do momento e das oportunidades. Existe época que fica mais parado, então, trabalho mais com troféu (peças pequenas). O que sempre vende bem são as peças figura-tivas, porque as pessoas normalmente precisam associar com algo que já conhecem. Complicado mesmo é fazer abstrato. Para cada 100 unidades figurativas vendidas, dez são abstratas”, contou Bittencourt, que começou fazendo esculturas de Dom Quixote.

Museu a céu aberto As peças em aço encantam moradores de todo o Brasil, tanto que Bittencourt tem peças em: São José dos Campos, SP, Pindamonhangaba, SP, São Bernardo do Cam-po, SP, São Caetano do Sul, SP, Rio de Janeiro, Minas Gerais etc. Ele já fez aproximadamente 12.500 peças com aço. Além do Brasil, ele tem esculturas em Portugal, Argentina, França e Costa Rica.

Atualmente, Ribeirão Pires está criando um museu a céu aberto. Algumas peças já estão espalhadas pelo centro da cidade e outras estão quase prontas para integrar o cená-rio. O projeto será inaugurado até o final do ano e contará com mais de 100 peças nas praças públicas do local. “As pessoas não tem tempo ou dinheiro para ir a um museu, e este é o grande diferencial das peças ficarem expostas. Uma obra feita de aço sempre chama atenção. Em algumas situações pode-se observar que as pessoas estão andando pela rua e quando notam o artefato, retornam, param e ficam ali, admirando por um tempo”.

Sustentabilidade Esculturas em aço são tão belas quanto sustentáveis! Isso porque enquanto se reaproveita peças não é necessário tirar minério da terra: descanso merecido ao meio ambiente. “Quando as escolas trazem as crianças para conhecer o ateliê, trabalho bastante o conceito de sustentabilidade. É bom que elas já percebam que tudo pode ser reciclado e cresçam com essa ideia fixa na mente”, declarou Bittencourt.

Arte

Beleza brutaEngana-se quem pensa que o aço é um material bruto utilizado apenas para construção. Ele pode se transformar em lindas obras de arte que encantam e despertam a curiosidade em milhões de pessoas

Conheça melhorVeja as obras de Lúcio Bittencourt pelo sitewww.bittencourtesculturas.com.br

Artista Plástico - Lúcio Bittencourt

Arte | 7

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O verbo incentivar remete a situações excitantes/es-timulantes, porém, nem sempre isso é bom. Há tempo se discute o combate entre Estados sobre benefícios fiscais de ICMS. Quando falamos de incentivos fiscais, é importante ter em mente os custos inerentes a perda de arrecadação e os impactos em termos de eficiência/competitividade na estru-tura produtiva dos setores econômicos beneficiados. De acordo com o economista e pesquisador de Finan-ças Públicas e Créditos do IBRE/FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gabriel Leal de Barros, “é preciso ficar atento à efe-tividade dos incentivos para conseguir ganhos de produti-vidade empresarial. Para que os incentivos fiscais resultem em rendimentos reais é necessário avaliá-los sob seus dife-rentes critérios: seletividade, extensão e duração. Ou seja, é importante lembrar que desenhar incentivos fiscais não é condição suficiente para que o incremento na competitivi-dade empresarial seja positivo”. Uma nova reforma do ICMS vem para tentar neutrali-zar esse problema. A mudança se refere a unificação em 4% das alíquotas de ICMS nas operações interestaduais com bens manufaturados importados. Barros explicou que o objetivo é neutralizar e acabar com a Guerra Fis-cal entre os Estados, e que em diferentes ocasiões, ca-minham na direção contrária das políticas definidas no âmbito federal. “A utilização deliberada da discriminação tributária pelos Estados impõe reflexos sobre a estrutura produtiva e industrial da economia brasileira, além de alterar os preços relativos entre produtos nacionais e importados”, declarou o economista da FGV. O diferencial de alíquotas de ICMS distorce os preços dos produtos e cria uma competitividade virtual que se sustenta na falta de regras e equilíbrio federativo entre os Estados. Com a unificação das alíquotas, cuja compensação para a perda de receitas dos Estados será via ampliação dos limites de investimento e captação de recursos com enti-dades multilaterais (como BID e Banco Mundial), a compe-tição entre Estados para atração de investimentos dá um grande salto qualitativo com possível melhora na infraes-trutura local. Tal medida põe fim a uma série de incentivos fiscais inconstitucionais.

Impactos na economia O uso indevido de incenti-vos fiscais cria um verdadeiro caos na já complexa estrutura tributária do Brasil, e desesti-mula nacionalmente as ativi-dades produtivas competitivas e eficientes. A médio e longo prazo, eles impulsionam a fragi-lidade na estrutura econômica do País, com reflexos sobre o nível de industrialização, em-prego, renda e contas públicas. “Sem dúvida é um retrocesso enorme”, declarou Barros.

Reflexos no setor O pesquisador do IBRE/FGV esclareceu que a carga tri-butária no Brasil, frente a outras economias emergentes e similares, é a mais elevada. Nesse sentido, pensar a refor-ma tributária como um movimento capaz de racionalizar e simplificar a estrutura de tributação das diferentes ativida-des econômicas é de extrema relevância para apoiar taxas de crescimento robustas da economia brasileira e ampliar a competitividade das empresas. De acordo com estudo realizado em 2010 pela Booz & Company para o Instituto Aço Brasil, a estrutura tributária aumenta o custo de produtos, como bobina quente e verga-lhão em 47,7% e 41,2%, respectivamente. Ainda de acordo com o estudo, os investimentos e as exportações de aço do Brasil frente as outras economias mostra-se superior. As empresas precisam ficar atentas ao comprar aço vin-do de estados com incentivos fiscais, caso de Santa Catarina e Espírito Santo, por exemplo. De acordo com decisão nor-mativa, quando a compra for efetuada por firmas paulistas, o ICMS deve ser recolhido a São Paulo. Além disso, nessa situ-ação, a escrituração do crédito está condicionada ao recolhi-mento do ICMS ao Estado paulista, sob pena de explicação desse crédito e aplicação de multa que pode chegar a até 100% do valor do crédito. A novidade está no fato de que agora a orientação fazendária é mais específica e focada por Estado, levando a crer que o número de autuações sobre es-sas matérias pode aumentar.

8 | Alerta

Alerta

Incentivos que nos levam aonde?Comprar aço de Estados com incentivos fiscais apresenta grande risco às empresas.Por isso é sempre bom ficar atento!

Gabriel Leal de BarrosEconomista e pesquisador de

Finanças Públicas e Créditos do IBRE/FGV

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