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1 Gabriela Tannus Branco de Araújo O custo da incontinência urinaria no Brasil Experiência do serviço de Uroginecologia da UNIFESP Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Titulo de Mestre em Ciências São Paulo 2009

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1

Gabriela Tannus Branco de Araújo

O custo da incontinência urinaria no Brasil

Experiência do serviço de Uroginecologia da UNIFESP

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Titulo de Mestre em Ciências

São Paulo 2009

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2

Araújo, Gabriela Tannus Branco de

O custo da incontinência urinária no Brasil-Experiência do serviço de Uroginecologia da UNIFESP. / Gabriela Tannus Branco de Araújo. -- São Paulo, 2009.

xiv, 37f. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde

Título em Inglês: Brazilian costs of urinary incontinence – UNIFESP Uroginecology service experience.

3

Gabriela Tannus Branco de Araújo

O custo da incontinência urinaria no Brasil

Experiência do serviço de Uroginecologia da UNIFESP

São Paulo 2009

4

Gabriela Tannus Branco de Araújo

O custo da incontinência urinaria no Brasil

Experiência do serviço de Uroginecologia da UNIFESP

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Titulo de Mestre em Ciências

.

Orientador: Prof. Dr. Manoel João Batista Castello Girão Co-Orientador: Dr. Marcelo Cunio Machado Fonseca

São Paulo 2009

5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE GINECOLOGIA SETOR DE UROGINECOLOGIA E CIRURGIA VAGINAL

PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE GINECOLOGIA Prof. Dr. Manoel João Batista Castello Girão

CHEFE DO DEPARTAMENTO DE GINECOLOGIA Prof. Dr. Afonso C. P. Nazário

6

Gabriela Tannus Branco de Araujo

O custo da incontinência urinaria no Brasil

Experiência do serviço de Uroginecologia da UNIFESP

Presidente da banca:

Prof. Dr. Manoel João Batista Castello Girão

BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Rogério Simonetti

Profa. Dra. Claudia C Takano Profa. Dra. Maria Cristina Sanches Amorim SUPLENTES Prof. Dr. José Carlos Truzzi Prof. Dr. Leonardo Bezerra

7

"Não sabendo que era impossível , foi lá e fez ". Jean Cocteau, artista francês

8

DEDICATÓRIA

A Deus, por nos dar a vida e a oportunidade infinita de aprendizado. Ao Mestre Jesus, que com sua eterna sabedoria nos deixou um legado em seu evangelho ao qual devemos seguir em todos os momentos e em todas as situações de nossas vidas. Paz e Caridade. A Marliene, minha mãe, minha amiga, minha irmã, que me ensinou que ser mulher não significa ser frágil ou dependente. Fortaleza. A Gabriel, meu pai, meu amigo, meu exemplo de conduta e de ética profissional. Sua firmeza de caráter e seu carinho sempre sigam ao meu lado. Equilibrio. A Lamiz, minha avó querida, exemplo vivo de uma palavra muito importante e que espero ter sempre. Resiliência. A, Laurinda, ou Laura, como gostava de ser chamada, minha outra avó querida, exemplo de mulher forte e determinada, mas com um olhar doce e sereno. Que ela sempre olhe por mim. Paciência. A Sérgio, marido e companheiro de longa jornada. Seu equilíbrio emocional e serenidade me auxiliam na rota desta existência e seu amor, dedicação a família e incentivo em todos os desafios e projetos que me lanço nutrem a certeza de que somos filhos bem amados de Jesus e nunca estamos desamparados. Minha Alma Gêmea. A Victor, meu querido filho, presente dos céus em minha vida. Que eu possa ter dedicação suficiente para atender a sua sede por saber e sua perspicácia e corresponder ao seu amor tão terno. Meu príncipe. A Isabela, minha querida filha, outro presente dos céus em minha vida. Que eu possa ter dedicação suficiente para atender a sua determinação e corrensponder ao seu amor e meiguice. Minha princesa. A Daniel, meu irmão, que me ensinou que não existem barreiras para nossos sonhos. Levo comigo nossas viagens quando adolescentes, quando tivemos a oportunidade de dividir tantos momentos felizes. Meu amigo.

9

AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Manoel João Batista Castello Girão por acreditar em mim e em meu projeto e assim permitir sua execução no departamento de Ginecologia e pela paciência em responder minhas intermináveis perguntas. A Profa. Dra. Marair Gracio Ferreira Sartori por permitir a inclusão de informações na ficha de atendimento as pacientes que ela havia desenvolvido e pela paciência em responder minhas intermináveis perguntas. Ao Dr. Marcelo Cunio Machado Fonseca. Não tenho palavras suficientes que possam expressar minha gratidão a este querido amigo que com o passar dos anos também se tornou meu irmão. Meu grande incentivador e professor, que colocou uma economista na rota da saúde. A Sra. Eliana Suelotto Fonseca, querida amiga que me auxiliou na condução do projeto e organização das fichas dentro da rotina de atendimento do setor. A Sra. Carolina, a Carol, que pacientemente colaborou com este projeto A Sra. Tânia Garcia, que pacientemente digitou várias informações para este trabalho e me auxiliou na montagem do mesmo. A Sra. Rachel Wapf Fonseca, que muito me auxiliou na correção e montagem do mesmo Aos médicos do setor de uroginecologia e cirurgia vaginal que pacientemente preencheram as fichas de coleta de dados durante o atendimento. A todas as pacientes do setor de uroginecologia e cirurgia vaginal. Espero que de alguma forma este trabalho tenha contribuído ou contribua futuramente com o atendimento de vocês.

10

SUMÁRIO

Dedicatória............................................................................................................V

Agradecimentos....................................................................................................VIII

Lista de figuras.....................................................................................................XIII

Lista de tabelas....................................................................................................XVI

Lista de abreviaturas e símbolos.........................................................................XVII

Resumo...............................................................................................................XVIII

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................7

2. OBJETIVOS...................................................................................................10

3. MÉTODOS.....................................................................................................11

3.1 Estudo observacional...................................................................................11

3.2 Desenho das fichas de coleta de informações das pacientes....................11

3.2.1 Ficha de primeira consulta.......................................................................11

3.3 População estudada...................................................................................17

3.4 Horizonte de tempo.....................................................................................17

3.5 Perspectiva e ambientação.........................................................................18

3.6 Banco de dados...........................................................................................18

3.7 Levantamento dos custos............................................................................18

3.8 Fontes de dados de custos..........................................................................19

4. RESULTADOS...............................................................................................22

11

4.1 Caracterização demográfica das pacientes...............................................22

4.1.2 Renda familiar mensal..............................................................................23

4.2 Caracterização clínica das pacientes...........................................................24

4.3 Custos com higiene relacionados à incontinência urinária.........................25

4.3.1 Proteção na roupa íntima..........................................................................25

4.3.2 Lavagem de roupas, decorrentes da incontinência urinária.........................26

4.4 Recursos utilizados para o tratamento da incontinência

urinária, anteriores a procura do serviço de Uroginecologia da

UNIFESP...................................................................................................26

4.5 Atendimento atual na UNIFESP.....................................................................28

4.5.1 Exames solicitados na primeira consulta, relativos ao diagnóstico da

incontinência urinária..............................................................................................28

4.6 Encaminhamento das pacientes para tratamento............................................28

5. DISCUSSÃO.......................................................................................................31

6.CONCLUSÃO......................................................................................................35

7.REFERÊNCIAS...................................................................................................36

Abstract

Bibliografia Consultada

12

LISTA DE FIGURAS

Figura1. Distribuição das pacientes por faixa etária..............................................22

Figura2. Estado Civil.............................................................................................22

Figura3. Distribuição das pacientes por raça.......................................................23

Figura 4 . Pacientes que já procuraram outro serviço médico.......................24

Figura 5 . Tipos de proteção utilizados na roupa íntima......................................25

Figura 6 . Tratamentos anteriores realizados pelas pacientes...............................27

Figura 7 . Exames solicitados na primeira consulta, para

diagnóstico da incontinência urinária....................................................28

13

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Informações coletadas pelo Setor de Uroginecologia

e Cirurgia Vaginal na primeira consulta das pacientes

até junho de 2006.................................................................................12

Tabela 2. Informações, incluídas ou readequadas, na ficha de

primeira consulta das pacientes após junho de 2006...........................15

Tabela 3. Fontes de custos ................................................................................19

Tabela 4. Fórmula de custos da lavagem de roupas utilizando

máquina de lavar roupas.....................................................................20

Tabela 5. Renda familiar mensal – Função quartil.............................................23

Tabela 6. Caracterização dos fatores de risco para desenvolvimento

de incontinência urinária feminina.......................................................24

Tabela 7. Gastos mensais, em reais (R$), com higiene pessoal

por causa da incontinência urinária - Função quartil.........................25

Tabela 8. Gastos mensais, em reais (R$), com lavagem de roupa,

por causa da incontinência urinária - Função quartil........................26

Tabela 9. Estimativa do custo de diagnóstico e tratamento.................................30

14

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

SUS Sistema Único de Saúde

BH Bexiga hiperativa

IUE Incontinência urinária de esforço

IUM Incontinência Urinária Mista

DATASUS Banco de dados do Sistema Único de Saúde

UNIFESP Universidade Federal de São Paulo

SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos

Socioeconômicos

R$ Reais

15

1. INTRODUÇÃO

Incontinência urinária é conceituada como toda condição na qual a perda

involuntária de urina (ABRAMS et al., 2002). Por estas características, afeta

sobremaneira a qualidade de vida das pacientes, interferindo de maneira

importante nas atividades diárias.

Podemos classificar a incontinência urinária em três tipos (ABRAMS et al., 2002):

• Incontinência urinária de esforço (IUE) – Perda de urina ao realizar esforços

• Bexiga hiperativa (BH) – Urgência associada a aumento da freqüência

urinária e urge-incontinência.

• Incontinência urinária mista (IUM)– Incontinência ao realizar esforços

associada a urge-incontinência

A existência de incontinência urinária e o respectivo tipo são detectados pelo

exame físico e exames subsidiários determinados pelo profissional que

acompanha a paciente.

A prevalência de incontinência urinária aumenta com a idade (CULLIGAN et

al.,2000), nas pacientes com mais de 65 anos que vivem em suas próprias casas

a prevalência fica entre 10% e 33%.(O´CONOR et al.,1998, STEEMAN et

al.,1998). Sabe-se que as mulheres têm duas vezes mais chances do que o

homem de desenvolverem incontinência urinária (STEEMAN et al.,1998; NKUDIC,

2006)

A idade, peso acima do ideal, múltiplas gestações e partos e histerectomia são os

fatores de risco mais comuns para o desenvolvimento da incontinência urinária

feminina (MILSOM et al.,1993; PEYRAT et al.,2002).

16

Para o tratamento da incontinência urinária existem diversas opções terapêuticas

tais como reabilitação da musculatura pélvica por meio de fisioterapia,

medicamentos que atuam na inervação e na musculatura de uretra e da bexiga e

procedimentos cirúrgicos a depender do tipo de IU.

A incontinência urinária não é uma doença que ameaça a vida dos pacientes

(NKUDIC, 2006), mas consome recursos da paciente, do sistema de saúde, enfim

da própria sociedade.

Os recursos da paciente são relativos às medidas de higiene necessárias para

contornar os problemas relacionados à perda involuntária de urina tais como: uso

de absorventes ou alternativas caseiras, fraldas geriátricas e lavagem mais

freqüente de roupa, entre outros.

Estes custos diretos com a higiene despendidos pela paciente fazem com que a

incontinência urinária pareça não ser como outras doenças crônicas onde o gasto

direto do paciente está mais relacionado a aquisição de medicamentos. Em

trabalhos internacionais, a maioria dos gastos diários vem do uso de produtos

sanitários e de higiene pessoal (DOWELL et al.1999).

No Brasil, pouco se sabe sobre quais são estes gastos e qual a ordem de

grandeza dos mesmos.

De acordo com o relatório de procedimentos hospitalares do SUS - DATASUS, no

ano de 2007 foram realizados 8.617 procedimentos cirúrgicos para correção da

incontinência urinária em mulheres (considerando os códigos de tratamento

cirúrgico da incontinência urinária por via vaginal e operação de “Burch”), o que

totalizou um gasto de R$ 2,95 milhões para o sistema público de saúde

(DATASUS, 2007). Estes valores são relativos apenas aos procedimentos

cirúrgicos, ou seja, pacientes que já tiveram sua doença diagnosticada e

17

encaminhada para uma das alternativas de tratamento da incontinência urinária, a

cirurgia, porém os custos associados ao diagnóstico, consumo de recursos da

paciente para sua higiene diária (por causa da incontinência), medicamentos e

fisioterapia não estão apresentados em fontes de informação pública.

As estimativas de custos variam nos diferentes estudos e populações. É difícil

compararmos estudos efetuados em diversos países, não só à metodologia de

avaliação como também pelas diferentes classificações de custos (TEDIOSI et al.,

2000) e formas como são apresentados.

No sistema de saúde como um todo, há grande demanda de serviços que

consumirão escassos recursos. Desta forma, num ambiente onde há grande

pressão para controlar os gastos e assegurar que os finitos recursos disponíveis

sejam utilizados adequadamente, existe preocupação e interesse em se obter

informações mais acuradas em relação ao custo global das doenças, sua

prevalência, sua morbidade e seu impacto econômico. Sendo assim,

desenvolvemos uma avaliação brasileira de custos da incontinência urinária.

Devemos ressaltar também que o impacto econômico de uma enfermidade

decorre não somente dos gastos diretos com o seu tratamento, como é o caso da

incontinência urinária feminina, mas também dos gastos enquanto a paciente

aguarda pela resolução de sua doença, destacando-se nesse caso particular

principalmente os custos diretos incorridos pela paciente.

18

2. OBJETIVOS

Nosso objetivo é estimar os custos diretos, médicos e não médicos, envolvidos no

diagnóstico, tratamento e cuidados diários de higiene das pacientes com

incontinência urinária, sob a perspectiva da fonte pagadora pública e das

pacientes.

19

3. MÉTODOS

3.1 Estudo observacional

Para atingirmos o objetivo determinado neste projeto, delineamos um estudo

observacional prospectivo.

No intuito de melhor conhecer no ambiente brasileiro o quanto a fonte pagadora

pública e as pacientes dispedem com o diagnóstico, tratamento e cuidados diários,

adaptamos o questionário já utilizado pelo Setor de Uroginecologia e Cirurgia

Vaginal da Disciplina de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo

(UNIFESP) para que o mesmo pudesse avaliar, além das questões

epidemiológicas e médicas, as questões relativas ao consumo de recursos e seus

respectivos custos.

3.2 Desenho das fichas de coleta de informações da s pacientes

3.2.1 Ficha de primeira consulta

Como já referimos, o Setor de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal já utilizava uma

ficha de dados na primeira consulta da paciente no qual eram coletadas as

informações dispostas na tabela 1

20

Tabela 1. Informações coletadas pelo Setor de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal na primeira

consulta das pacientes até junho de 2006.

Campo Detalhes

Informações cadastrais Nome

RG do hospital

Endereço

Telefone

Procedência

Informações pessoais Idade

Raça

Estado civil

Profissão

Queixa e duração Motivo (ou motivos) pela qual a paciente procurou o

atendimento médico e a quanto tempo tem este (ou estes

motivos)

História pregressa da moléstia atual

(HPMA)

Espaço para o detalhamento da queixa (ou queixas) da

paciente

Sintomas da fase de enchimento e

esvaziamento vesical

Perda de urina aos mínimos esforços

Perda de urina aos esforços moderados

Perda de urina aos grandes esforços

Incontinência de urgência

Dor à replicação vesical

Perda contínua de urina

Urgência miccional

Disuria

Polaciúria

Enurese noturna

Hematuria

Esvaziamento incompleto

Força para esvaziar a bexiga

Dificuldade início micção

Gotejamento terminal

Outros sintomas urinários

Número de micções Número médio de micções diurnas e noturnas da paciente

Antecedentes familiares Neoplasias

Doenças sistêmicas, urinárias, neurológicas

Outros

21

Antecedentes pessoais HAS

Diabetes

Cirurgias não ginecológicas

Doenças neurológicas, vasculares, urinárias

Outros

Antecedentes menstruais Menarca

Ciclos

DUM

Dismenorréia

Tensão pré-menstrual

Sintomas climatéricos

Menopausa

Antecedentes ginecológicos Clínicos

Cirurgias

Tempo de pós operatório das cirurgias

Antecedentes obstétricos Gestações

Partos

Abortamentos

Partos normais

Fórceps

Cesáreas (dentro e fora de trabalho de parto)

Idade primeira gestação

Idade última gestação

Peso menor RN

Peso maior RN

Intercorrências na gestação ou no puerpério

Utilização de drogas Etilismo

Tabagismo

Drogas

Outros

Medicações em uso Medicações que a paciente está utilizando no momento,

relacionadas ou não a queixa atual.

Exame físico Peso

Altura

Pressão arterial

Seguimento cefálico

Tórax

22

Membros

Geral.

Exame ginecológico Mamas

Abdome

OGE

OGI

Especular

Exame retal

Outras provas

Exame neurológico

Hipótese diagnóstica Qual o diagnóstico, baseado na história da paciente e no

exame físico, mais provável

Exames solicitados Exames solicitados para confirmação e suporte ao

diagnóstico

Orientação de caso O que dever ser feito com a paciente

Médico/aluno Médico/aluno que atendeu a paciente

Discutido com Chefe de grupo com o qual o caso foi discutido

Assim, para obtermos os dados de consumo de recursos e fornecer informações

médicas adicionais solicitadas pelos médicos do setor, esta ficha foi recomposta e

além dos dados anteriores (tabela 1) passou a permitir o registro dos dados

apresentados na tabela 2.

23

Tabela 2. Informações, incluídas ou readequadas, na ficha de primeira consulta das pacientes

após junho de 2006.

Campo Tipo Detalhes

Informações

pessoais

(Inclusões)

Inclusão para

mensuração dos custos

associados

Atividade remunerada - sim, não ou

aposentada

Renda Familiar – em Reais (R$)

Sintomas da fase

de enchimento

vesical

Adequação para

utilização da informação

pelo Setor

Aumento da freqüência urinária

Noctúria

Urgência

Enurese noturna

Incontinência urinária contínua

Incontinência urinária de esforço (IUE)

Incontinência urinária de urgência (IUU)

Incontinência urinária de mista (IUM)

Outros tipos de

incontinência

Adequação para

utilização da informação

pelo Setor

Perda durante o coito

Perda durante o orgasmo

Sensação vesical Adequação para

utilização da informação

pelo Setor

Normal

Aumentada

Diminuída

Ausente

Inespecífica

Sintomas da fase

de esvaziamento

vesical-micção

Adequação para

utilização da informação

pelo Setor

Hesitância

Fluxo intermitente

Fluxo Baixo

Força para urinar

Gotejamento terminal

Sintomas após a

micção

Adequação para

utilização da informação

pelo Setor

Sensação de esvaziamento incompleto

Gotejamento após a micção

Utilização de

proteção na roupa

íntima

Inclusão para

mensuração dos custos

associados

Não utiliza

Absorvente descartável

Absorvente reutilizável (paninhos)

Fralda descartável

Fralda de pano

Papel higiênico

24

Quantidade/trocas

por dia

Inclusão para

mensuração dos custos

associados

Quantas vezes por dia troca a proteção

da roupa íntima

Pela incontinência,

quantas vezes

troca a roupa

íntima por dia

Inclusão para

mensuração dos custos

associados

Quantas vezes por dia troca a própria

roupa íntima por causa da incontinência

Pela incontinência,

quantas vezes

troca a roupa por

dia

Inclusão para

mensuração dos custos

associados

Quantas vezes por dia troca a roupa

(Calça, saia ou vestido) por causa da

incontinência

Pela incontinência,

quantas vezes

troca a roupa de

cama por semana

Inclusão para

mensuração dos custos

associados

Quantas vezes por semana troca a roupa

de cama por causa da incontinência

Antecedentes

sexuais

Adequação para

utilização da informação

pelo Setor

Vida sexual ativa

Dispareunia

Libido

Orgasmo

Tratamento

anterior

Inclusão para

mensuração dos custos

associados e

para utilização pelo Setor

Paciente já passou por outro serviço

médico por causa desta queixa

Há quanto tempo (anos)

O que foi feito

Nada

Cirurgia – qual

Fisioterapia - qual

Tratamento medicamentoso - qual

Exames - quais

Estadiamento Adequação para

utilização da informação

pelo Setor

Matriz para avaliação do grau de

prolapso das pacientes

Infecção urinária Inclusão para

mensuração dos custos

associados e

para utilização pelo Setor

Paciente está com infecção urinária hoje

–sim ou não

Tratamento prescrito

Tempo de tratamento

25

Algumas das informações foram incluídas ou formatadas somente para

readequação do questionário já utilizado pelo Setor de Uroginecologia e Cirurgia

Vaginal, mas não foram analisadas por não fazerem parte do escopo deste

projeto.

As fichas foram impressas em papel carbonado, o que permitiu que as originais,

preenchidas pelos especialistas, fossem incorporadas ao prontuário das pacientes

e as cópias fossem utilizadas para digitação e formatação do banco de dados.

Estas cópias, além do banco do banco de dados eletrônico, encontram-se

arquivadas no Setor de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal.

3.3 População estudada

A população estudada compõem-se de todas as pacientes novas do Sistema

Único de Saúde (SUS), atendidas pelo Setor de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal

– Disciplina de Ginecologia – Escola Paulista de Medicina da Universidade

Federal de São Paulo (UNIFESP). Entenda-se por pacientes novas, aquelas, que

eram atendidas pela primeira vez no Setor e que, portanto, tiveram seus dados

coletados nas fichas de avaliação desenvolvidas.

3.4 Horizonte de tempo

Avaliamos as pacientes que iniciaram o seguimento, de Junho de 2006 a

Junho de 2007.

26

3.5 Perspectiva e ambientação

As análises apresentadas neste trabalho utilizam a perspectiva da fonte pagadora

pública – Sistema Único de Saúde (SUS) e a perspectiva da paciente, no

ambiente de saúde do Brasil de 2007.

3.6 Banco de dados

As informações obtidas foram compiladas em meio eletrônico sendo digitadas em

planilha Excel, permitindo assim a análise apurada e cruzamentos de dados que

se fizeram necessários durante o processo de análise.

3.7 Levantamento dos custos

O levantamento dos custos baseou-se nos:

• Valores reembolsados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aos

prestadores de serviços públicos que atendem pacientes deste sistema

• Valores pagos pelas pacientes em produtos de higiene pessoal e

higienização de suas roupas – Mercado varejista de São Paulo

o Considerando que estes são produtos de venda livre, ou seja, não

existe uma tabela oficial de preços, no intuito de não superestimar os

gastos utilizamos o menor valor disponível.

• Valores pagos pelas pacientes pela água utilizada para a higienização de

suas roupas – SABESP

• Valores pagos pelas pacientes pela energia elétrica consumida por uma

máquina de lavar para a higienização de suas roupas - Eletropaulo

• O custo associado à secagem elétrica das peças não foi considerado, tendo

em vista a realidade climática do Brasil, onde é possível e comum a

secagem natural.

27

3.8 Fontes de dados de custos

Os dados utilizados para a atribuição de valores aos gastos associados a

incontinência urinária feminina no Brasil advêm das fontes públicas de informação

apresentadas na tabela 3.

Tabela 3. Fontes de custos

Item Custo Denominação Referência (sites acessados

em 15/04/2008)

30.013.02-4 R$ 330,84 Tratamento cirúrgico da

incontinência urinária por via vaginal

DATASUS

www.datasus.gov.br

34.019.02-2 R$ 398,91 Cirurgia de Burch DATASUS

www.datasus.gov.br

11.112.05-0

R$ 4,18 Cultura de Urina com contagem de

colônias

Tabela SIA/SUS

www.datasus.gov.br

Somatória

17.101.02-6

17.101.03-4

17.101.06-9

17.101.09-3

17.102.01-4

R$ 34,49

R$ 7,67

R$ 7,67

R$ 7,67

R$ 7,67

R$ 3,81

Estudo Urodinâmico completo

Cistometria com cistômetro

Cistometria simples

Perfil de pressão uretral

Urofluxometria

Urodinâmica completa

Tabela SIA/SUS

www.datasus.gov.br

14.011.01-8 R$ 12,39 USG pélvica ginecológica Tabela SIA/SUS

www.datasus.gov.br

02.012.06-5 R$ 2,04 Consulta em ginecologia Tabela SIA/SUS

www.datasus.gov.br

18.061.02-8 R$ 4,45 Atendimento fisioterápico de

pacientes com disfunções

uroginecológicas

Tabela SIA/SUS

www.datasus.gov.br

Unidade de

absorvente

R$ 0, 29 Absorvente Intimus Gel Soft c/ Abas Drogaria Onofre

www.onofre.com.br

Unidade de fralda

geriátrica

R$ 1,43 Fralda Geriátrica Cremer Advanced Drogaria Onofre

www.onofre.com.br

Metro cúbico de R$0,33 0,135 metros cúbicos (água e SABESP

28

água – uma lavagem

em máquina

esgoto – valor mínimo) www.sabesp.com.br

Energia elétrica para

máquina de lavar

roupa

R$ 2,63 10,69 kWh – carga de 4,5 kg

(Dowell CJ e colaboradores,1999)

Eletropaulo

www.eletropaulo.com.br

Sabão em pó 1 Kg R$ 4,55 Sabão Omo Carrefour

www.carrefour.com.br

Para o cálculo dos custos da lavagem de roupa, utilizamos a fórmula publicada por

DOWELL et al.(1999) conforme demonstrado na tabela 4, com as adaptações de

custos necessárias para o Brasil, ou seja, calculados em valores locais e em Reais

(R$).

Tabela 4. Fórmula de custos da lavagem de roupas utilizando Máquina de lavar roupas

Itens (unidade de

medida)

Consumo Custo/unidade

(R$)

Custo total

(R$)

Eletricidade (kWh) 10,69 0,246 por kWh 2,63

Água (m3) 0,135 2,486 por m3 0,33

Sabão em pó (grama) 83,0 0,0045 por grama 0,38

Total 3,34

Itens típicos (peso seco, gramas)

Calcinha (50 gramas) 0,04

Calça feminina (421

gramas)

0,31

Saia (342 gramas) 0,25

Dois lençóis (1080 gramas) 0,80

Adaptado de DOWELL et al., 1999

29

Para cada peça de roupa detectada no levantamento com as pacientes durante a

consulta, utilizamos estes valores para multiplicar as unidades de roupa lavada e

assim medir o gasto da paciente com higienização das roupas.

30

4. RESULTADOS

Durante o período do estudo, deram entrada no Setor de Uroginecologia e Cirurgia

Vaginal 707 novas pacientes, sendo 645 pacientes com alguma queixa associada

a perda urinária – que deste ponto em diante serão consideradas nossa amostra –

45 pacientes com queixa somente de prolapso genital e 17 pacientes com outras

queixas.

4.1 Caracterização demográfica das pacientes

Das 645 pacientes avaliadas, 63,4% estão acima da faixa dos 50 anos (figura 1) e

mais da metade é casada (figura 2).Também foi observada a predominância de

pacientes brancas (figura 3).

Figura1. Distribuição das pacientes por faixa etária (n=645)

50 a 59 anos31%

40 a 49 anos22%60 a 69 anos

21%

30 a 39 anos9%

70 a 79 anos9%

80 a 89 anos3%

20 a 29 anos4%

Menos ou = 19 anos1%

Figura2. Estado Civil (n=645)

casada58%solteira

19%

viúva17%

divorciada5%

(em branco)1%

31

Figura3. Distribuição das pacientes por raça (n=645)

4.1.2 Renda familiar mensal

Das pacientes avaliadas, 53% não exercem atividade remunerada. Independente

do exercício ou não de atividade remunerada, o grupo de pacientes apresenta

renda familiar mediana de R$ 800,00, ou seja, 2,05 salários mínimos nominais

(DIEESE, 2007). A tabela 5 apresenta a função quartil da renda familiar mensal

Tabela 5. Renda familiar mensal – Função quartil

Função quartil Renda

Valor mínimo 50,00

1o. Quartil 500,00

Valor mediano 800,00

Terceiro quartil 1.300,00

Valor máximo 5.000,00

Branca56%parda

25%

(em branco)3%

amarela4%negra

12%

índio0%

32

4.2 Caracterização clínica das pacientes

A queixa mais comum feita pelas pacientes foi a perda de urina (60%) e o tempo

de queixa, ou seja, a quanto tempo a paciente tinha o sintoma que a fez procurar o

serviço médico foi em média 4,3 anos.

Outros achados muito freqüentes, além da idade, são a multiparidade,

principalmente partos via vaginal e a obesidade. A tabela 6 apresenta a

caracterização da amostra de pacientes em relação a, alguns fatores de risco.

Tabela 6. Caracterização dos fatores de risco para desenvolvimento de incontinência urinária feminina

Fatores de risco encontrados na amostra (n=645) Fator de risco

Resultado Detalhamento

Idade 63,4% Pacientes acima de 50 anos

Obesidade 64,4% Pacientes sobrepeso ou obesas

Gravidez 4 Gestações por paciente (mediana)

Parto normal 82% Total de Partos realizados

Histerectomia 9,9% Pacientes histerectomizadas

Foi perguntado às pacientes se antes de procurar o serviço de Uroginecologia da

UNIFESP elas haviam procurado outro serviço médico pela incontinência urinária.

A figura 4 apresenta as respostas obtidas.

Figura 4 . Pacientes que já haviam procurado outro serviço médico (n=645)

sim38%

branco6%

não56%

33

4.3 Custos com higiene relacionados à incontinência urinária

4.3.1 Proteção na roupa íntima

Obtivemos informação de 367 pacientes a respeito da utilização de algum tipo de

proteção na roupa íntima por causa da IU. 57% delas declarou utilizar algum tipo

de proteção. A figura 5 apresenta quais os tipos de proteção utilizados.

Figura 5 . Tipos de proteção utilizados na roupa íntima (n=367)

01020304050607080

Absorvente Paninhos Fralda descartável

77,5

17,36,8

% de

pacie

ntes

Tipo de proteção

Obs: A mesma paciente pode ter declarado a utilização de dois ou mais tipos de proteção

Considerando os custos apresentados na tabela 3 para itens de higiene pessoal e

na tabela 4 para lavagem de roupas, calculamos o gasto aproximado que estas

pacientes despedem mensalmente com produtos de higiene pessoal pela

incontinência urinária. A tabela 7 demonstra a função quartil dos gastos.

Tabela 7. Gastos mensais, em reais (R$), com higiene pessoal pela incontinência urinária - Função quartil (n=367)

Tipo de gasto Mediana

R$

Primeiro quartil

R$

Terceiro quartil

R$

Valor mínimo

R$

Valor máximo

R$

Absorventes 26,1 17,4 34,8 8,7 130,5

Fraldas descartáveis 128,7 85,8 171,6 42,9 214,5

Lavagem de "paninhos" 0,36 0,24 0,48 0,12 1,8

34

Assim, o gasto mensal mediano deste grupo de pacientes com higiene pessoal,

pela incontinência urinária, ponderado pelo percentual de participação de cada

item de higiene pessoal (figura 5) é de R$ 29,10.

4.3.2 Lavagem de roupas, pela incontinência urinári a

Do total de pacientes da amostra (n=645), 34,0% declararam trocar de roupa

íntima pela incontinência urinária; 19,2% declararam trocar de roupa (calça ou

saia) pela incontinência urinária e 16,5% declararam trocar os lençóis pela

incontinência urinária.

Considerando o custo apresentado na tabela 4 para lavagem de roupas,

calculamos o gasto aproximado que estas pacientes despedem mensalmente com

lavagem de roupas pela incontinência urinária. Considerando que a mesma

paciente pode apresentar gastos com lavagem tanto com roupa íntima como com

roupas como lençóis, calculamos o gasto com lavagem de roupas paciente a

paciente. A tabela 8 demonstra a função quartil dos gastos

Tabela 8. Gastos mensais, em reais (R$), com lavagem de roupa, pela incontinência urinária - Função quartil (n=206)

Tipo de gasto Mediana

R$

Primeiro quartil

R$

Terceiro quartil

R$

Valor mínimo

R$

Valor máximo

R$

Lavagem de roupa 7,7 2,4 18,7 1,2 54,9

Assim, o gasto mensal mediano deste grupo de pacientes com lavagem de

roupas, pela incontinência urinária é de R$ 7,70.

4.4 Recursos utilizados para o tratamento da incont inência urinária,

anteriores a procura do serviço de Uroginecologia d a UNIFESP

Das pacientes que procuraram outro serviço antes do serviço de Uroginecologia

da UNIFESP (n= 248), 31,7% das pacientes declararam já ter realizado cirurgia

35

para correção da incontinência. A figura 6 apresenta os tratamentos que as

pacientes declararam terem feito para a correção da incontinência urinária.

Figura 6 . Tratamento anteriores realizados pelas pacientes (n=248)

NOTA: a paciente pode ter declarado mais de um tipo de tratamento

A maioria das pacientes não soube precisar assim, o tipo de cirurgia, exames,

medicamentos e fisioterapia realizados. Para efeito de simulação, realizamos uma

estimativa de quanto as pacientes que declararam realizar cirurgia teriam custado

ao sistema de saúde público. Para este cálculo, consideramos uma média do valor

atual de custo para o sistema único de saúde (SUS) para a realização de cirurgias

de correção da incontinência urinária (tabela 3). Assim, as pacientes que

declararam terem realizado cirurgia de correção da incontinência urinária

anteriormente a procura pelo serviço de uroginecologia da UNIFESP já teriam

custado para o sistema, considerando os valores presentes de remuneração do

SUS, R$ 31.379,68 (86 pacientes, que haviam declarado ter realizado algum tipo

de cirurgia, multiplicadas pelo valor médio de R$ 364,87 – Valor médio calculado a

partir do reembolso do SUS de R$ 330,84 para tratamento cirúrgico da

incontinência urinária por via vaginal e do reembolso do SUS de R$ 398,91 para

cirurgia de Burch), podendo esta estimativa ser considerada como conservadora.

36

4.5 Atendimento atual na UNIFESP

4.5.1 Exames solicitados na primeira consulta, rela tivos ao diagnóstico da

incontinência urinária

Das pacientes da amostra (n=645), 73% tiveram solicitação para realização do

exame de urina tipo1, com o objetivo de verificar a presença de infecção urinária

para posteriormente realizarem o estudo urodinâmico. Em relação ao pedido direto

de estudo urodinâmico, 28% das pacientes já receberam solicitação para

realização deste exame. A figura 7 apresenta a rotina de exames relativos ao

diagnóstico de incontinência urinária, e o percentual de vezes que o mesmo foi

solicitado na primeira consulta das pacientes (todas as pacientes receberam

solicitação para pelo menos 1 exame)

Figura 7 . Exames solicitados na primeira consulta, para diagnóstico da incontinência urinária (n=

645)

73,6

28,0 27,9

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

Urina 1 EUD US pélvico

Per

cent

ual d

e pa

cien

tes

(%)

Considerando os valores de reembolso do SUS (Tabela 3), ponderados pelo

percentual de solicitações dos exames (figura7), o custo médio sob a perspectiva

do pagador público para realização da primeira consulta e dos exames prévios à

confirmação de diagnóstico e decisão pelo tratamento à ser realizado é de R$

40,32.

4.6 Encaminhamento das pacientes para tratamento

Das 645 pacientes da amostra, 123 (19%) pacientes foram encaminhadas para

tratamento durante os 12 meses de duração do estudo. Das pacientes

37

encaminhadas para tratamento, 54% foram para fisioterapia e 46% para cirurgia.

As pacientes que não tiveram encaminhamento para tratamento durante este

período saíram da primeira consulta com a solicitação dos exames

complementares e orientação para retorno após a realização dos mesmos. Do

grupo de pacientes que foram encaminhadas para tratamento, o tempo mediano

entre a paciente realizar a primeira consulta e o tratamento foi de 7 meses.

Utilizando os dados das pacientes que foram encaminhadas para tratamento no

total da amostra, estimamos o custo médico direto do tratamento da incontinência

urinária. Assim, as pacientes encaminhadas para cirurgia custariam, em média, R$

40, 32 para o diagnóstico da incontinência urinária e R$ 364,88 por cirurgia

realizada, totalizando uma estimativa de custo total de R$405,20 por paciente

atendida pelo sistema público de saúde no Brasil ( R$ 40,32 de custo na fase

diagnóstica + R$ 364,88 de custo para o tratamento cirúrgico).

Em relação às pacientes encaminhadas para fisioterapia, a estimativa de custos

depende diretamente do número de sessões prescritas e de posterior

encaminhamento, ou não, da paciente para cirurgia. Para termos uma estimativa

dos custos médicos diretos das pacientes encaminhadas para fisioterapia,

utilizamos o protocolo de fisioterapia do serviço de ginecologia da UNIFESP, onde

a paciente passa por pelo menos 20 sessões de fisioterapia. Assim, as pacientes

encaminhadas para fisioterapia custariam, em média, R$ 40,32 para o diagnóstico

da incontinência urinária e R$ 89,00 por 20 sessões de fisioterapia (R$ 4,45 por

sessão), totalizando uma estimativa de custo total de R$ 129,32.

Desta forma, se projetarmos os custos associados ao diagnóstico e tratamento

cirúrgico da incontinência urinária na população de pacientes novas atendida no

período do estudo pelo serviço de Uroginecologia da UNIFESP (n=645). A tabela

9 apresenta as estimativas utilizadas e cálculos realizados.

38

Tabela 9. Estimativa do custo de diagnóstico e tratamento (n=645)

Amostra de pacientes (quantidade de pacientes) 645% pacientes encaminhadas para cirurgia 46%% pacientes encaminhadas para fisioterapia 54%Aplicação do percentual de cirurgia na população total (46% de 645 pacientes) 297Aplicação do percentual de fisioterapia na população total (54% de 645 pacientes) 348Estimativa de custo médio da população com cirurgia (297 x R$ 405,20) R$ 120.344,40Estimativa de custo médio da população com fisioterapia (348 x R$ 129,32) R$ 45.003,36Estimativa de custo de diagn´sotico e tratamento da amostra (n=645) R$ 165.347,76

Assim, o sistema de saúde gastaria, em uma estimativa conservadora, R$

165.347,76 para o diagnóstico e tratamento destas pacientes. Vale a pena

destacar que se o tratamento que a paciente receber falhar, isto certamente

implicará em novos custos.

39

5. DISCUSSÃO

Este trabalho traz para discussão um fato que pode ser considerado como

relevante para o tratamento da incontinência urinária: Além dos custos gerados

para o sistema público de saúde com o tratamento cirúrgico e/ou fisioterápico, as

pacientes com incontinência urinária desembolsam mensalmente recursos

monetários próprios relativos a sua doença.

Diferente dos pacientes com outras doenças crônicas como hipertensão e

diabetes, nos quais o paciente também tem desembolso mensal de recursos

monetários próprios, principalmente com o tratamento medicamentoso as

pacientes com incontinência urinária realizam este desembolso para contornar a

doença e não para tratá-la, ou seja, os gastos mensais das pacientes com

incontinência urinária até obterem o tratamento definitivo da doença são oriundos

de cuidados com higiene pessoal e lavagem de roupas, e não com

medicamentos/tratamentos.

Estamos comparando a incontinência urinária feminina, apesar de ter cura, com

doenças crônicas, pois consideramos que o fato destas pacientes dispendem anos

até terem o diagnóstico e o tratamento, faz com que a incontinência urinária

feminina seja uma situação crônica para estas mulheres durante um longo período

de tempo (± 4,3 anos).

DUGAN et al. (1998) afirma que entre 30% e 50% das pessoas que sofrem de

incontinência urinária não relatam espontaneamente esse fato ao médico ou à

enfermeira, e só procuram o serviço de saúde após o primeiro ano do início dos

sintomas por acharem que a perda de urina é esperada com avançar da idade.

Considerando o tempo médio de queixa que as pacientes do serviço de

Uroginecologia da UNIFESP declaram na primeira é de 4,3 anos conforme

descrito na seção 4.2 e se somarmos a este tempo o tempo mediano para o

40

encaminhamento para tratamento, ou seja, 7 meses, as pacientes passaram em

média 5 anos gastando recursos próprios para contornarem sua doença até

obterem um desfecho, ou seja neste caso, cirurgia ou sessões de fisioterapia.

Desta forma, se considerarmos este tempo e os valores mensais medianos com

proteção de roupa íntima (R$ 29,10) e lavagem de roupa (R$ 7,70) pela

incontinência urinária levantados durante este trabalho, esta paciente

potencialmente gasta R$ 2.208,00 durante o período de 5 anos, desde o início da

queixa até o tratamento da incontinência urinária pelo serviço de uroginecologia.

O impacto mensal deste gasto despendido pela paciente com proteção de roupa

íntima e lavagem de roupa - R$ 36,8 (R$ 29,10+R$ 7,70) por causa da

incontinência pode ser considerado como importante, se avaliarmos seu impacto

no orçamento familiar mensal.

Se usarmos como comparador a renda familiar mediana do grupo de pacientes

levantadas neste trabalho, R$ 800,00, o valore mediano calculado representa

4,6% desta renda familiar.

Outro comparador interessante para avaliarmos o impacto neste orçamento

mensal é a cesta básica. Segundo o DIEESE, o valor da cesta básica, no Estado

de São Paulo, em junho de 2007 era de R$ 187,45. Assim, com o mesmo valor

que a paciente despende mensalmente com a incontinência urinária, a família

poderia comprar de 19,6% de uma cesta básica.

Estes valores, a primeira vista, podem causar espanto, mas devemos considerar

que estes gastos acontecem de forma dispersa durante o mês e que acabam

repercutindo nos diversos gastos familiares, principalmente nas compras de

mercado.

41

Outra comparação interessante é o quanto o valor despendido pela paciente para

contornar a incontinência urinária poderia render para a família se fosse aplicado

na caderneta de poupança. Escolhemos esta aplicação para cálculo por ela ainda

ser o investimento mais popular no Brasil, principalmente na população com

menos recursos monetários. Levando-se em conta a rentabilidade da caderneta

de poupança nos últimos 5 anos (rentabilidade mensal – 1º. dia de cada mês - de

01/01/2003 a 31/12/2007) segundo o Banco Central do Brasil, se o valor gasto

com higiene pessoal e lavagem de roupas pela incontinência urinária tivesse sido

depositado mensalmente na caderneta de poupança, em 5 anos a família teria

uma poupança de R$ 2.343,97, com uma rentabilidade de 20,18% no período.

Levando em consideração todos os gastos pessoais das pacientes, ou seja, os

custos diretos não-médicos do tratamento da incontinência urinária, poderíamos

chegar a conclusão de que estas pacientes deveriam ser tratadas quase que

imediatamente após a confirmação do diagnóstico, com o objetivo além de buscar

a cura desta incontinência, que a paciente passa a não gastar ou gastar menos

com sua doença e que deveria ter campanhas e/ou programas governamentais de

detecção precoce de incontinência urinária feminina com o intuito de melhorar a

vida destas pacientes e diminuir os gastos das pacientes.

Porém, para uma análise completa do panorama, devemos observar também os

custos diretos médicos deste tratamento. Se considerarmos o valor reembolsado

pelo Sistema Único de Saúde, considerando somente as pacientes do serviço de

Uroginecologia da UNIFESP, o governo gastaria mais de R$ 140 mil por ano para

tratar as pacientes com métodos cirúrgicos. A fisioterapia pode ser uma saída para

conter custos, somente se as pacientes aderissem a mesma e também se os

resultados das pacientes que realizaram a fisioterapia fossem considerados

satisfatórios e a paciente considerada como curada.

Assim, além da questão do desembolso da paciente, é necessário levar-se em

conta o impacto orçamentário que o tratamento em menor prazo de tempo destas

42

pacientes provocaria no sistema público de saúde e também na capacidade de

instalações dos serviços e hospitais que atendem a estas pacientes devem ter

para que todas as pacientes tenham este diagnóstico e tratamento em um período

mais curto de tempo.

Outra questão importante e necessária a ser levada em consideração, sob o ponto

de vista dos serviços que diagnosticam e operam estas pacientes, e que pode

gerar futuras investigações econômicas é se o valor reembolsado pelo SUS é

suficiente para cobrir todo o consumo de recursos e serviços profissionais

necessários ao diagnóstico e tratamento destas pacientes.

43

6. CONCLUSÃO

Os custos diretos médicos e não-medicos associados a incontinência urinária

feminina no Brasil estão relacionados ao gastos das pacientes com higiene

pessoal e lavagem de roupas e lençóis pela incontinência urinária e com os custos

para o diagnóstico e tratamento da mesma.

Os gastos com higiene pessoal e lavagem de roupa, pela incontinência urinária,

podem ter um impacto significativo no orçamento familiar das pacientes atendidas

pelo serviço de Uroginecologia da UNIFESP.

44

7. REFERÊNCIAS

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Acumulado de Janeiro de 2007 a Dezembro de 2007. Disponível na URL

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Italian women. A cross-sectional study. Gruppo di Studio Incontinenza.

Pharmacoeconomics. 2000 Jan;17(1):71-6

46

RESUMO Introdução: A incontinência urinária feminina não é uma doença que ameaça a vidas das pacientes, mas consome recursos da paciente e do sistema de saúde e, no Brasil, pouco se sabe sobre quais são estes gastos e qual a ordem de grandeza dos mesmos.Objetivo: Estimar os custos diretos, médicos e não médicos, envolvidos no diagnóstico, tratamento da incontinência urinária feminina e cuidados diários de higiene das pacientes sob a perspectiva da fonte pagadora pública e das pacientes.Método: Estudo observacional prospectivo, por meio de ficha estruturada para a coleta de informações. Foram considerados os custos relativos ao diagnóstico e ao tratamento. Os custos foram avaliados sob a perspectiva do reembolso governamental e para os custos das pacientes os preços do varejo. Resultados: 645 pacientes foram avaliadas e o tempo médio para a procura de um serviço médico desde o início dos sintomas de incontinência até o início de tratamento foi de 5 anos. O rendimento mediano familiar mensal destas pacientes é de R$ 800,00 e o gasto mensal mediano da paciente com a lavagem de roupas, por causa da incontinência urinária, foi estimado em R$ 36,80. O diagnóstico das pacientes tem reembolso do SUS de R$ 40,32 e o tratamento das pacientes tem reembolso mediano de R$ 405,20 para as que realizam cirurgia e R$ 129,32 para as sessões de fisioterapia. Conclusão: As pacientes com incontinência urinária despendem do próprio bolso R$ 2.208,00 desde o início dos sintomas até o encaminhamento para tratamento e este valor pode ter impacto significativo no orçamento familiar desta pacientes. A estimativa conservadora de reembolso do governo para o diagnóstico e tratamento das pacientes avaliadas neste trabalho foi de R$ 165.347,76.

47

ABSTRACT Introduction: Female urinary incontinence isn’t a menace for the patients life, but consume the patients and heath system resources and, in Brazil, we know just a little about what is and how much is this expendures. Objective: Direct costs estimation, medical an non-medical, involved in diagnosis and treatment of female urinary incontinence, by the public health perspective, and hygiene daily care by the patients perspective. Method: A cross sectional prospective study was developed using a structured questionnaire. Costs of medical services (diagnostics and treatment) were considered. Resource use was valued using government reimbursement for hospital services and retail prices for the patient’s expendures. Results: 645 patients were evaluated. The mean times from the beginning of the symptoms until the treatment outcome was 5 years. The mean monthly familiar incomes is R$ 800,00 and the mean patients expendure with laundry, because of the urinary incontinence, was estimated in R$ 36,8. The Diagnosis for urinary incontinence received R$ 40,32 reimbursed and the treatment had a mean reimbursement of R$ 405,20 for the surgery and R$ 129,32 for the physiotherapy sessions by the government. Conclusion: Female urinary incontinence have a estimated out-of-the-pocket expendure was R$ 2.208,00 form the first symptoms moment until the treatment outcome and this value can be a high impact on the familiar budget. The conservative estimative of reimbursement by the government for the diagnosis and treatment of the evaluated patients is R$ 165.347,76.

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