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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CURSO DE PSICOLOGIA O CORPO FEMININO NA CONTEMPORANEIDADE: REPRESENTAÇÕES ACERCA DE TRATAMENTOS ESTÉTICOS EM MULHERES DE MEIA-IDADE Fabrício Carlo Bellei Caxias do Sul Julho, 2006

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

CURSO DE PSICOLOGIA

O CORPO FEMININO NA CONTEMPORANEIDADE:

REPRESENTAÇÕES ACERCA DE TRATAMENTOS ESTÉTICOS

EM MULHERES DE MEIA-IDADE

Fabrício Carlo Bellei

Caxias do Sul

Julho, 2006

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

CURSO DE PSICOLOGIA

O CORPO FEMININO NA CONTEMPORANEIDADE:

REPRESENTAÇÕES ACERCA DE TRATAMENTOS ESTÉTICOS

EM MULHERES DE MEIA-IDADE

Fabrício Carlo Bellei

Orientadora: Profa. Dra. Cristina Lhullier

Trabalho de conclusão de curso apresentado como

requisito parcial para a obtenção do grau de Psicólogo

Caxias do Sul

Julho, 2006.

Dedicatória À minha família por acreditar no meu potencial e pelo apoio que me foi dado em todos esses anos.

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Agradecimentos

À minha orientadora, Profa. Dra. Cristina Lhulier, pela dedicação na construção desse trabalho e pelos sábios momentos de orientação. À Profa. Ms. Helena Mariani por acreditar na minha capacidade, e pelo incentivo durante o curso. Aos professores Dr. Dino De Lorenzi e Dra. Vania Herédia pela oportunidade de vivenciar o ambiente de pesquisa e contribuir para minha formação. À FAPERGS e à UCS pelos quatro anos de bolsa de pesquisa científica. Aos meus amigos, colegas e professores pelo apoio e colaboração, e sem os quais não atingiria meus objetivos. À minha namorada Ana Lia pelos anos de apoio, compreensão, incentivo e dedicação.

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SUMÁRIO RESUMO ..........................................................................................................................8

INTRODUÇÃO.................................................................................................................9

OBJETIVO ......................................................................................................................12

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................13

MÉTODO ........................................................................................................................27

Participantes.................................................................................................................27

Delineamento...............................................................................................................29

Instrumento..................................................................................................................30

Procedimentos .............................................................................................................31

Análise dos Dados .......................................................................................................32

RESULTADOS ...............................................................................................................34

Percepção sobre o processo de envelhecimento ..........................................................38

Olhar(es): Construção do corpo feminino ...................................................................38

Freqüência na academia e preenchimento do tempo ...................................................38

Freqüência na academia e o espaço de socialização....................................................39

A atividade física e os benefícios físicos e psíquicos..................................................39

Influências na realização da atividade física ...............................................................40

Percepção do corpo feminino ......................................................................................40

Modificações do papel da mulher na sociedade ..........................................................41

DISCUSSÃO...................................................................................................................42

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................58

APÊNDICE A - Dados de Identificação .........................................................................63

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......................................64

APÊNDICE C - Questões Norteadoras ...........................................................................65

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SUMÁRIO DE TABELAS

Tabela 1 – Dados de Identificação das Participantes. .....................................................29

Tabela 2 – Categorias e Indicadores................................................................................35

7

RESUMO

A mulher sempre esteve associada à beleza, e isso faz com que o corpo feminino tenha

destaque na sociedade. Na contemporaneidade, chama a atenção que mulheres da meia-

idade tem buscado por investir em tratamentos de beleza, como atividades físicas

intensas. Logo, o estudo teve como objetivo investigar as representações do corpo

feminino na contemporaneidade em mulheres de meia-idade, as quais originam

comportamentos como investimentos em tratamentos de beleza e práticas esportivas

intensas. Trata-se de um estudo qualitativo, o qual teve as informações analisadas pela

Análise de Conteúdo de Bardin (2000). A técnica de pesquisa utilizada foi uma

entrevista semi-estruturada com questões norteadoras. A amostra constituiu-se de seis

mulheres na meia-idade, entre 44 e 52 anos. A partir das falas das entrevistadas,

emergiram oito categorias, que foram discutidas na perspectiva da psicanálise,

ocupando-se de conceitos como narcisismo e estádio do espelho. Utilizou-se também

como aporte teórico o histórico da construção do ideal de beleza atual, além de

considerações atuais sobre o corpo feminino.

Palavras-chave: Corpo feminino, contemporaneidade, psicanálise.

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INTRODUÇÃO

Nossa sociedade vive um momento em que possuir o corpo perfeito significa

garantia de sucesso e de felicidade. A imagem deste corpo está estampada nos meios de

comunicação e, com isso, passa a ter um caráter idealizante através dos discursos

científicos, tecnológicos, publicitários, médicos e estéticos (Novaes & Vilhena, 2003;

Cabeda & Guareschi, 2004; Volich, 2005). Nas revistas especializadas em cirurgia

plástica, há imagens de mulheres, na faixa de 40-50 anos, que a mídia transformou em

ícones de “beleza madura”, as quais continuam a provocar a libido masculina e são

apresentadas como deslumbrantes e sedutoras, apesar de estarem em processo de

envelhecimento. Existe uma sustentação de rostos de idade indefinida, aparentando

segurança e felicidade, sem apresentar os sinais de envelhecimento, como rugas e

flacidez (Cabeda & Guareschi, 2004).

Considerando que a meia-idade feminina é também um período de perdas para a

mulher – como a cessação da menstruação e da capacidade reprodutiva, a aposentadoria,

entre outras – e de mudança de percepções sobre aspectos de sua vida, como aquelas

decorrentes do processo de envelhecimento que afetam a auto-imagem feminina, o

corpo passa a ser um objeto de destaque. Entre outras razões, o processo de

envelhecimento da mulher faz com que pareçam menos desejáveis na medida em que

perdem sua aparência jovem (Papalia & Olds, 2000). O envelhecimento, na nossa

sociedade, significa afastar-se da exigência do corpo perfeito, uma vez que a beleza e a

juventude estão relacionadas ao ideal de saúde vigente (Mori & Coelho, 2004).

A relação entre mulher e beleza sempre esteve presente nas sociedades

ocidentais. Na contemporaneidade, período caracterizado pela individualização e

afastamento das tradições populares, o corpo torna-se a fronteira que diferencia um

indivíduo de outro (Novaes & Vilhena, 2003). Muitas mulheres, hoje, destinam parte de

9

seu tempo a atividades físicas intensas e tratamentos estéticos em clínicas especializadas

na busca de um corpo idealizado (Galvão, 2002). Os cuidados físicos são a forma

encontrada para enfrentar os julgamentos e as expectativas sociais: “o investimento

destinado aos cuidados pessoais com a estética vincula-se à visibilidade social que o

sujeito deseja atingir – evitar o olhar do outro, ou a ele se expor, está diretamente

relacionado às qualidades estéticas do próprio corpo” (Novaes & Vilhena, 2003, p.17).

A busca pelo corpo perfeito pode evidenciar um sintoma social contemporâneo,

ocasionando uma modificação no âmbito do imaginário corporal (Novaes & Vilhena,

2003; Battaglia, 2005). Esta mudança esconde aspectos importantes da vida da mulher.

Um deles refere-se à falta de simbolização e, conseqüentemente, à dificuldade em lidar

com o real que se apresenta a todo instante. Volich (2005) afirma que todos os

investimentos em tratamentos de beleza

[...] buscam dar conta de um mal-estar que, mesmo que referido ao corpo,

geralmente tem pouco a ver com ele. Tentativas muitas vezes vãs de aplacar

inquietações, angústias e experiências mais profundas de vazio que apenas no

corpo encontram um porta-voz de mensagens incompreensíveis, de pedidos de

socorro que não conseguem se fazer ouvir de outra forma (p. 31).

Entre os aspectos considerados na proposta deste trabalho está o corpo feminino,

o qual está inscrito num determinado tempo e espaço – a contemporaneidade –, e que

produz um discurso simbólico (Galvão, 2002; Mori & Coelho, 2004). Outro ponto

abordado é a saúde da mulher, pois não se sabe ao certo qual é a fronteira entre a saúde

do corpo e a saúde mental, ou seja, se há um limite do comportamento feminino

considerado saudável em relação às práticas de tais tratamentos estéticos (Volich,

2005). O terceiro aspecto é justamente esse comportamento feminino frente ao

momento atual de vida, à incompatibilidade de lidar com as situações reais do cotidiano

e que buscam dar conta pelo viés do corpo (Galvão, 2002; Volich, 2005).

10

Consideram-se como possíveis representações que possam simbolizar tal

comportamento o início de mudanças familiares – saída dos filhos de casa, perda da

maternidade e aposentadoria –, a mudança de função da mulher na sociedade em

decorrência da perda da maternidade, a proximidade do envelhecimento e as mudanças

corporais (Galvão, 2002; Novaes & Vilhena, 2003; Mori & Coelho, 2004).

Os aspectos abordados na revisão teórica foram a história do corpo feminino e

dos padrões de beleza até o padrão atual no ocidente. Em seguida, foi abordada a

questão do corpo na contemporaneidade, destacando o corpo idealizado pela mídia

através dos discursos médico e publicitário, entre outros. Serão utilizados conceitos

psicanalíticos, como o estádio do espelho, na perspectiva de Lacan, e o narcisismo, do

ponto de vista de Freud e Lacan, para compreender a constituição da imagem corporal,

bem como a formação do imaginário corporal.

Um dos fatores que impulsionaram a realização deste estudo é decorrente da

pesquisa Vivências femininas em relação à menopausa, coordenada pelo Prof. Dr. Dino

De Lorenzi, da qual faço parte como bolsista de pesquisa e que se encontra em fase de

conclusão. O objetivo principal da pesquisa era investigar o impacto da menopausa em

mulheres pós-menopáusicas (um ano ou mais de amenorréia espontânea). Nos relatos

das entrevistadas, ficou evidente uma preocupação exagerada com o corpo e a aparência

física em comparação a outros aspectos da vida, principalmente no que se refere ao

aumento de peso e à proximidade do envelhecimento.

Este estudo tem como objetivo investigar as representações do corpo feminino

na contemporaneidade em mulheres de meia-idade, as quais originam comportamentos

como investimentos em tratamentos de beleza – massagem estética, drenagem linfática,

aplicação de produtos especializados, entre outros – e práticas esportivas intensas.

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OBJETIVO

Descrever as representações do corpo feminino na contemporaneidade em

mulheres de meia-idade, que apresentam comportamentos como práticas esportivas

intensas e investimentos em tratamentos de beleza.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Lipovetsky (2000), nas sociedades primitivas, a beleza não estava

vinculada somente à mulher, mas também à figura masculina. A condição de ser

mulher, nas formações sociais selvagens, estava intrinsecamente relacionada à

fecundidade, o que, de acordo com o autor, não dependia da ordem natural do gênero

feminino, mas de uma ordem simbólica, pois não era o sexo anatômico, nem a perda da

virgindade que lhe daria essa condição. A beleza, nessas sociedades, não era associada

propriamente ao sexo feminino, por ser considerada uma forma de poder. Os homens,

por sua vez, o detinham e o exploravam da forma como lhes era apropriado.

Lipovetsky (2000) afirma que o reconhecimento social da beleza feminina está

vinculado ao aparecimento do Estado e das classes sociais, trazendo como exemplo a

cultura grega. Mas é na Renascença que se idolatra o belo sexo, o feminino. O

humanismo da Renascença é apontado como “uma nova significação da beleza

feminina, em ruptura com sua diabolização tradicional” (Lipovetsky, 2000, p.115),

marcada pelas sociedades anteriores. É na concepção moderna que a beleza passa a ser

considerada uma característica estritamente física em detrimento de valores morais.

Del Priore (2000) enfatiza que os conceitos de beleza não são mais do que

construções culturais que obedecem a critérios de uma determinada época. A autora

destaca o início do discurso médico e higienista na Europa a partir do século XIX,

referindo que os mesmos apontavam para as vantagens físicas e morais dos exercícios,

contrapondo à obesidade que persistiu como ideal de beleza até então. Muitas práticas,

com atenção especial aos músculos e articulações, segundo Del Priore (2000),

potencializavam as forças físicas como uma espécie de crítica aos esportes praticados

pela aristocracia – equitação e esgrima – e da brutalidade dos jogos populares.

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É a partir da metade do século XIX que a moda tem início como sistema

organizado, alavancada em parte pelo início das produções em série – confecção e alta-

costura (De Carli, 2002). A autora relaciona o surgimento da moda, no sentido atual do

termo, a algo sedutor, a sedução da moda:

Por ser da ordem do artifício, do signo, do ritual, segundo a ótica de alguns, (...)

a sedução afirma-se avessa à natureza do sexo, à intimidade do cotidiano, à

exposição do real, à interpretação psicológica, à verdade nua e crua (De Carli,

2002, p. 115).

Conforme Del Priore (2000), é no início do século XX que a moda da mulher é

ser magra, sendo aprovado, assim, os “corpos esbeltos, leves e delicados” (p.66),

passando a usar roupas justas, de forma anatômica ao corpo. É também nesse século que

a mulher se despiu através dos meios de comunicação ou mesmo nas praias,

banalizando-se sexualmente. Para mostrar-se nua, a mulher cultua o corpo, utilizando

produtos de embelezamento, vislumbrado por uma estética esportiva. Essa busca

incessante, conforme a autora, é uma fonte inesgotável de ansiedade e frustração por se

sobressair a uma sensualidade imaginária e simbólica.

Lipovetsky (2000) retoma o histórico do boom da beleza, destacando o

desenvolvimento da cultura industrial e midiática, representada por revistas femininas e

pela publicidade que exaltavam o uso de produtos cosméticos, caracterizando uma nova

fase da beleza feminina, a fase mercantilista: “o culto do belo sexo ganhou uma

dimensão social inédita: entrou na era das massas” (p.129).

Junto a isso, de acordo com Del Priore (2000), muitos são os aparatos utilizados

para deixar as mulheres mais belas, ou no caso de não serem belas, torná-las, com o

avanço da indústria de cosméticos e produtos farmacêuticos, a divulgação de roupas da

moda através de concursos de beleza e desfiles promovidos por estilistas famosos e

produções cinematográficas; assim como o discurso voltado às práticas desportivas.

14

Segundo Bicalho (1992), em Del Priore (2000), esse discurso da aparência não mais é

do que a transformação do corpo da mulher em um objeto de desejo fetichista, passando

de uma representação de mulher sensual para objeto de consumo.

Sant’Anna (1995) aponta para este mesmo aspecto, quando as revistas femininas

enfatizavam mais os efeitos curativos dos cosméticos do que as possíveis sensações

agradáveis que, porventura, poderiam sentir. Para essa autora, o lugar que o médico

ocupava nesse período era fundamental para a organização moral e social das famílias, e

a falta de beleza era traduzida em termos de doença. Logo, os cosméticos eram

vendidos como receitas médicas ou remédios para a beleza. Mulheres desprovidas de

beleza estavam associadas a expressões de dor, de desânimo e de doença.

Apesar de toda mudança dos discursos publicitário, médico e higienista,

Sant’Anna (1995) afirma que, até a metade do século XX, a beleza da mulher ainda era

vista como divina, um dom da Natureza. Segundo a autora, a maior parte dos

conselheiros de beleza eram homens, principalmente médicos e escritores moralistas. A

beleza, até essa época, dificilmente era aceita como fruto do trabalho individual e

cotidiano da mulher, ao mesmo tempo em que era considerado perigoso intervir no

próprio corpo em nome de objetivos pessoais e dos caprichos da moda. Assim, a

manipulação dos ideais de beleza não era considerada um direito legítimo da mulher.

Engel (2004) afirma que a construção da imagem feminina como um ser da natureza

implica em qualificar a mulher como “frágil, bonita, sedutora, submissa, doce” (p.332),

onde quaisquer atributos contrários a esses seriam considerados antinaturais.

O discurso para investir em beleza, de acordo com Sant’Anna (1995), muda a

partir da década de 1950, sendo que mulheres belas e famosas aconselhavam outras

mulheres através de revistas criadas na época, com discurso informal e didático. Os

produtos de beleza, que deixam de ser considerados remédios, segundo a publicidade da

época, podem influenciar até mesmo o psiquismo da mulher “tornando-a não somente

15

mais bela como também mais feliz e satisfeita com ela mesma” (Sant’Anna, 1995,

p.128).

Lipovetsky (2000) aborda a questão da beleza feminina neste período,

enfatizando cada vez mais a magreza, em que há um empenho para não ter um corpo

flácido, gordo ou mole: “Já não basta não ser gorda, é preciso construir um corpo firme,

musculoso e tônico, livre de qualquer marca de relaxamento ou de moleza” (p. 133). A

partir disso, existem duas normas que permeiam o universo feminino: o antipeso e o

antienvelhecimento. De acordo com Del Priore (2000), o envelhecer passa a ser

associado à perda de prestígio e ao afastamento do convívio social, da mesma forma que

a velhice é associada diretamente à gordura. A obesidade torna-se um critério de feiúra,

tornando-se oposta aos novos tempos, onde o corpo magro é sinônimo de agilidade e

rapidez.

De acordo com Sant’Anna (1995), a partir da década de 1960, há um modelo

feminino circulando na mídia que parece não precisar mais da aprovação de outrem:

“São mulheres sempre jovens, que se querem “iguais a todo mundo” e que sugerem um

contentamento único e solitário: aquele de cuidar do próprio corpo” (p. 133). Outra

característica é que esse modelo está extraindo prazer do seu próprio corpo através das

imagens publicitárias, além da mídia utilizar muitas propagandas com água abundante,

fazendo com que o corpo feminino torne-se mais acessível ao olhar do consumidor.

Do ponto de vista psicológico, Sant’Anna (1995) aborda a questão dos conselhos

de beleza que sugerem a mulher tocar o seu corpo, se auto-conhecer, ter amor pelo

próprio corpo, sendo que a harmonia conjugal continua sendo uma das principais

finalidades do embelezamento. Em outras palavras, “embelezar-se é necessário não

somente para garantir um bom casamento, mas para cultivar “o prazer de se curtir””

(Sant’Anna, 1995, p. 136).

16

De acordo com Canto-Sperber (2003), o corpo da moda é um corpo produzido e

idealizado pela mídia de massa, tornando-se assim um objeto de encenação e de

exploração através do consumo, do lazer e da publicidade. Os interesses sociais

convergem para esse corpo, porém a admiração do corpo idealizado esconde a verdade

do corpo real que jamais é aceito enquanto tal. Volich (2005) afirma que ao mesmo

tempo em que se promove o culto ao corpo, mostrando-o à sociedade, ele também

decepciona, causando um mal-estar no próprio sujeito. Todos os esforços são destinados

a responder a expectativas e a ideais de beleza, não mensurando qualquer tipo de risco

físico ou psíquico. Na tentativa de acalmar esse mal-estar sentido através do corpo,

muitos são os recursos utilizados como tratamentos estéticos, atividades esportivas e

cirurgias plásticas. Porém, essas inquietações, angústias e experiências de vazio

encontram no corpo um porta-voz para o sofrimento sentido: “Diante da dificuldade de

encontrar em si mesmo uma imagem que satisfaça, busca-se no olhar do outro, no social

a imagem que possa agradar” (Volich, 2005, p. 31).

Canto-Sperber (2003) refere-se ao corpo como estando cada vez mais submetido

a tabus sociais, sendo que só pode ser aceito se é conforme os modelos culturais e

sociais: “uma das conseqüências disso (...) é que meu corpo não é mais meu corpo, mas

um corpo de empréstimo” (p.359). Como resultado, em resposta à moral social e

cultural do domínio biológico e da responsabilidade pessoal pela aparência física, a

imagem ideal de beleza masculina só aceita um corpo sem defeitos e musculoso, e o

ideal de beleza feminina só aceita um corpo magro. A autora ainda revela uma realidade

que apavora:

(...) se toda sociedade propõe um “ideal” do corpo, espelho no qual cada um

tenta se reconhecer, deplorando sempre não se assemelhar suficientemente a ele,

nossa sociedade caracteriza-se pelo ideal de um corpo cada vez mais irreal e

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inacessível, e que afinal impede homens e mulheres de viverem seu próprio

corpo e de aceitá-lo em sua realidade (Canto-Sperber, 2003, p.359).

De acordo com Novaes e Vilhena (2003), os cuidados físicos tornam-se uma

forma de enfrentar os julgamentos e as expectativas sociais. A imagem da mulher está

justaposta à de beleza, saúde e juventude, a qual reflete um corpo super trabalhado,

sexuado e sempre respondendo ao desejo do outro. A beleza, nesse caso, é representada

como um dever cultural, lembrando que o ser bela é ser magra. Peres (2004), ao fazer

uma reflexão sobre a prática da atividade física, afirma que os exercícios físicos já não

são mais algo prazeroso, mas uma obrigação moral: “o narcisismo dessas atividades

físicas possui um caráter persecutório, de reforço disciplinar” (s.n.).

Cabeda e Guareschi (2004) chamam a atenção à proposta de revistas em relação

à forma como “seduzem” as mulheres a praticar exercícios e dietas como “o ingresso no

grupo das destinadas à felicidade” (p. 20). Essas revistas, segundo Malysse (1998), em

Cabeda e Guareschi (2004), “são espaços de fantasias coletivas referentes às identidades

corporais” (p. 20), as quais são uma fonte de difusão do ideal feminino e práticas de

condutas. Para tanto, se utilizam fotos, imagens e textos com a finalidade de oferecer

modelos para serem copiados e para demonstrar a eficiência dos procedimentos

estéticos. Os rostos que ali aparecem são de idade indefinida, e aparentam segurança e

felicidade.

Durif (1990), em Novaes e Vilhena (2003), também reforça a idéia de que a

imagem oferecida aos leitores pelas revistas a respeito de seus próprios corpos investe

num jogo de espelhos entre o corpo e o olhar do outro, interferindo na construção da

auto-estima e da auto-imagem. Santaella (2004) partilha dessa mesma idéia, afirmando

que a percepção do corpo em geral, e do seu próprio, está dominada pelas imagens

encenadas nos videoclipes, publicidades e bancas de revistas, que destituem de sentido

as aparências que não se enquadram nos seus moldes.

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Novaes e Vilhena (2003) afirmam que o discurso do corpo fala das relações da

sociedade, ao mesmo tempo em que expressa a busca pela felicidade. Esse corpo é um

paradoxo, pois da mesma forma que almeja a singularidade, tenta negar a diferença e a

alteridade. As autoras destacam os discursos normatizadores da saúde, da medicina e do

erotismo, que tamponam o real, o mal-estar e a finitude.

De acordo com Brasil (2002), a estética produz um saber que vai além da ordem

da racionalidade, por nossa relação com o corpo não ser natural, mas uma construção:

“a constituição de sua imagem e mesmo de sua funcionalidade exige trabalho psíquico”

(p.134). Ao compor uma imagem corporal, deve haver uma negociação entre os olhares

dos outros que ocupam uma posição de espelho. A autora aborda ainda a questão dos

sacrifícios realizados pelas mulheres de hoje, em comparação às mulheres de

antigamente, na busca de atingir os padrões atuais de beleza:

E até os espartilhos, que reduziam a cintura de uma mulher até o tamanho da

circunferência de um pescoço masculino, chegando a deslocar órgãos internos

pelo seu uso constante, podem perder seu caráter de tortura, se compararmos às

milhares de horas na academia, às lipoaspirações e às cirurgias plásticas a que as

mulheres se submetem, para poderem fazer uso de sua liberdade de mostrar o

corpo (Brasil, 2002, p. 135).

Novaes e Vilhena (2003) afirmam que as mulheres estão aprisionadas ao próprio

corpo e a serviço dele, isto é, se antigamente havia uma preocupação com a beleza, logo

havia um dever social, hoje elas são responsáveis pela beleza, havendo um dever moral:

“o fracasso não se deve mais a uma impossibilidade mais ampla, mas a uma

incapacidade individual” (p.25). Caso a mulher não aparente o corpo ideal, contudo, ela

será considerada negligente e culpada por isso. Esse nível de exigência de beleza

representa um ideal inatingível que, segundo as autoras, levam a duas escolhas: “ou

encarna o corpo da moda e não pode mais conviver com o seu corpo mortal, ou

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desenvolve uma relação de ódio a esse ideal inacessível e a si próprio” (Novaes &

Vilhena, 2003, p.27).

Brasil (2002) afirma que a moda se ocupa de indicar um corpo ideal. Ela não é

mais do que um reflexo daquilo que a sociedade legitimou para a mulher. Logo, a

mulher seduz, enquanto poder e dever de fazê-lo, ao mesmo tempo em que tem o direito

à futilidade: “Quando a moda serve à alienação, perde seu caráter estético, interligado

ao sujeito desejante, tornando o corpo palco para o espetáculo da potência do Outro”

(Brasil, 2002, p.139).

Novaes e Vilhena (2003), ao abordar as atitudes da mulher frente à feiúra, seja

para ver-se feia ou para atribuir feiúra a outrem, há uma mudança na forma de lidar com

o corpo. Essa mudança está relacionada à transformação no âmbito do imaginário

corporal, quando a imagem da mulher e do feminino estão associadas à beleza, não

tolerando desvios nos padrões estéticos estabelecidos pela sociedade. Barthes (1982),

em Novaes e Vilhena (2003), aponta a imagem corporal como uma resultante da

influência do ambiente sobre o sujeito, sendo que as representações corporais estão em

constante transformação: “meu corpo é para mim mesmo a imagem que eu creio que o

outro tem deste corpo” (p. 18).

A constituição da imagem corporal e, conseqüentemente, a formação do

imaginário corporal é um conceito fundamental para compreendermos essa relação entre

a história das modificações corporais e o corpo idealizado na contemporaneidade.

Schilder (1999), ao abordar a relação entre libido e corpo em Freud, afirma que a

criança recém nascida possui apenas a libido narcísica, ou seja, há um investimento em

si só, desconsiderando o mundo que a cerca. Esse momento em que a criança se

encontra, segundo Nasio (1997a), é denominado de narcisismo primário, sendo que o

primeiro modo de satisfação da libido seria o auto-erotismo, isto é, o prazer que um

órgão retira de si mesmo. As pulsões parciais procuram sua satisfação no próprio corpo,

20

onde os objetos investidos são as próprias partes do corpo. A posição que os pais se

encontram nessa constituição é o de atribuir ao filho todas as perfeições e projetam nele

todos os sonhos a que eles mesmos tiveram de renunciar. Logo, o narcisismo primário

representa uma espécie de onipotência que se cria no encontro entre o narcisismo

nascente do bebê e o narcisismo renascente dos pais.

Magalhães (1985) aborda a estrutura narcisista como a constituição do espaço

que os pais trabalham ativamente para designar ao seu filho, ou seja, é um lugar, um

desejo de outros. Segundo a autora, isso pode ser entendido como o narcisismo

primário, pois essa referência do lugar do sujeito é fruto da história e de um projeto que

o antecede. A criança é investida, pelos pais, de desejos revestidos de onipotência e

idealizações que outrora eram desejos seus, que se tornaram insatisfeitos e foram

recalcados, e que buscam satisfação na criança.

Nasio (1997b) segue apontando para a constituição do narcisismo secundário,

que corresponderá ao narcisismo do eu, a partir do narcisismo primário. Para que ocorra

isso, é necessário que se produza um retorno do investimento dos objetos, transformado

em investimento do eu. Segundo o autor, a criança sai do narcisismo primário, pois o

seu eu se vê confrontado com um ideal que foi formado fora dela e que lhe é imposto. A

criança percebe que seu objeto de amor, no caso a mãe, a deseja, mas também deseja

fora dela, lhe causando uma ferida narcísica de não ser completa. Seu objetivo passa a

ser reconquistar esse amor, porém está sujeito a exigências do ideal do eu, que são as

representações culturais e sociais. A partir da instauração do narcisismo, está formada

uma imagem do objeto e uma imagem do eu. Garcia-Roza (2000) aborda as diferenças

entre o narcisismo primário e secundário:

Há um primeiro narcisismo que se relaciona à imagem corporal e um segundo

narcisismo que implica a relação ao outro. No primeiro caso, há uma

identificação à imagem unificada do próprio corpo e dá lugar ao eu ideal; no

21

segundo caso, há uma identificação ao outro e dá lugar ao ideal de eu. Enquanto

o narcisismo primário se dá no plano do imaginário, o segundo narcisismo é

marcado pelo simbólico (p. 66).

Freud (1914/1974) aborda a questão do narcisismo secundário formando o ideal

de eu, que também está possuído de perfeição, assim como existia a perfeição no

narcisismo primário. Do mesmo modo que o sujeito tenta retomar a perfeição narcísica

no narcisismo primário investindo em objetos externos a si, no narcisismo secundário a

busca pela perfeição se dá em um processo de idealização, na forma desse ideal de eu:

A idealização é um processo que diz respeito ao objeto; por ela, esse objeto, sem

qualquer alteração em sua natureza, é engrandecido e exaltado na mente do

indivíduo. A idealização é possível tanto na esfera da libido do ego quanto na da

libido objetal. (Freud, 1914/1974, p. 111)

Complementando, Garcia-Roza (2000) refere que o ideal de eu se constitui por

exigências externas ao indivíduo, por imperativos éticos dos pais, às quais o sujeito será

regido para satisfazer. Essas exigências são veiculadas pela linguagem e isso faz com

que haja uma ruptura na mediação entre o eu e o outro, superando a relação dual

imaginária. Assim, o simbólico se sobrepõe ao imaginário com o objetivo de organizá-

lo. O autor caracteriza esse momento como identificação narcísica secundária, isto é,

identificação ao outro como o ideal de eu.

Lacan (1966/1998) aborda a formação do eu a partir do estádio do espelho, que

se dá em torno dos seis aos dezoito meses de vida da criança. O estádio do espelho,

segundo o autor, deve ser compreendido como uma identificação, ou seja, há uma

“transformação produzida no sujeito quando ele assume uma imagem” (Lacan,

1966/1998, p. 97). A função do estádio do espelho, logo, é estabelecer uma relação do

sujeito orgânico com sua realidade psíquica. Esse período produz no sujeito fantasias

que sucedem uma imagem despedaçada do corpo até uma forma de totalidade, para

22

enfim assumir uma identidade alienante, marcando seu desenvolvimento mental por

uma estrutura rígida.

Para Garcia-Roza (2000), o eu do estádio do espelho é uma representação

complexa relacionada à imagem corporal, sendo que essa imagem é a que confere uma

unidade primeira ao sujeito. De acordo com o autor, “a imagem corporal não é,

portanto, a única que dá forma ao eu, ela é apenas a forma primeira mas não a

definitiva” (Garcia-Roza, 2000, p.56). Isso é o que caracteriza o eu ideal, uma imagem

dotada de perfeições criada pelos pais. O autor aponta que Lacan faz a distinção entre eu

ideal e ideal de eu, pois o primeiro se situa num plano imaginário e o segundo num

plano simbólico, ou seja, o ideal de eu é externo ao sujeito.

Rappaport (1992) afirma que o estádio do espelho deve ser entendido como uma

metáfora, onde há um confronto entre o corpo e a imagem do corpo próprio no espelho.

Nesse estágio, a criança apreende esse corpo como próprio e essa imagem como sua, ou

seja, atribui-se subjetivamente uma imagem. De acordo com Dor (1992), é no estádio

do espelho que a criança irá conquistar a imagem do seu próprio corpo. O estádio do

espelho organiza-se em três momentos fundamentais. No primeiro deles, a criança

percebe a imagem do seu corpo como um ser real, gerando, assim, uma confusão entre

si e o outro. Esse momento inicial assujeita a criança ao registro do imaginário. O

segundo momento corresponde a um processo identificatório, pois a criança é levada a

descobrir que o outro do espelho é uma imagem e não um outro real. O terceiro

momento assegura a criança de que a imagem no espelho nada mais é do que seu

próprio reflexo, recuperando a dispersão do corpo esfacelado numa totalidade unificada:

“a imagem do corpo é, portanto, estruturante para a identidade do sujeito, que através

dela realiza assim sua identificação primordial” (Dor, 1992, p. 80).

Esse movimento de passagem dos fragmentos corporais ao corpo unificado,

segundo Rappaport (1992), leva ao narcisismo. Lacan (1966/1998) aborda justamente

23

essa passagem do eu especular ao eu social como o encerramento do estádio do espelho.

Esse momento “inaugura, pela identificação com a imago do semelhante e pelo drama

do ciúme primordial (...), a dialética que desde então liga o eu a situações socialmente

elaboradas” (p.101).

Chemama (1995) aborda a fase do espelho como o momento em que a criança

reconhece a imagem de seu corpo, na medida em que esta se volta para a mãe na espera

de que ela lhe autentifique sua descoberta. Para tanto, a mãe lhe olha, lhe nomeia, lhe

insere no mundo familiar e social, lhe dá um lugar. O autor afirma que a criança nunca

se vê com seus próprios olhos, mas com os olhos de quem a ama ou a detesta. Logo,

para que a criança possa assumir a sua imagem e interiorizá-la, ela necessita ter um

lugar no grande Outro (nesse momento representado pela mãe). Para Battaglia (2005), o

Outro não só fornece a imagem ideal do corpo como também o marca através das

pulsões sexuais que o percorrem, deixando marcas. Costa (2004), ao abordar a questão

do eu na formação narcísica, afirma que a identidade egóica é formada pela imagem

corporal em reposta a demanda do outro.

Nasio (1993) caracteriza o corpo de três formas: o corpo sexual, o corpo falante

e o corpo imaginário. O corpo sexual está relacionado ao gozo, este entendido como o

impulso da energia do inconsciente. O gozo é sexual porque a sua meta é sexual, ou

seja, “tudo o que ele toca e acarreta em seu fluxo sexualiza-se, quer seja numa ação,

uma palavra, uma fantasia, ou um dado órgão do corpo que se tenha tornado erógeno”

(Nasio, 1993, p. 148). O corpo falante refere-se à linguagem, um corpo construído como

um conjunto de significantes. O corpo imaginário, e o mais importante nesse momento,

é o corpo entendido como imagem. Não a imagem refletida pelo espelho, mas a imagem

que nos é passada pelo outro, um outro que é representado, não apenas por uma pessoa,

mas qualquer objeto do mundo:

24

O corpo como imagem seria, antes, este relógio, meu relógio, ou então essa

luminária de couro, ou ainda esta casa em que lhes falo. Esses objetos são

imagem, minha imagem, desde que este relógio, esta luminária ou esta casa

estejam carregados de um valor afetivo (Nasio, 1993, p.150).

Battaglia (2005) afirma que o corpo é o lugar de introjeções de ideais de

identificação e da sexualidade, tornando-se objeto do Outro. Segundo a autora, a

imagem unificada do corpo fornece uma configuração da distribuição dos objetos,

organizando, assim, o espaço e o campo onde estes aparecem, porém assujeitado ao

desejo do Outro:

Essa imagem fornecida pelo Outro, marcada por sua sexualidade, e que é tão

fundamental para a constituição do eu e do sujeito, revela, ao mesmo tempo, um

drama: a imposição do desejo do Outro, em contraposição ao próprio desejo.

Essa imagem fornece elementos para compreender o que Lacan denominou

registro Imaginário, o campo dos ideais introjetados e sedimentados pelo Outro,

o registro do engodo das imagens ideais e globalizadoras (Battaglia, 2005, p.

17).

Para que se possa escapar desse confronto entre a imagem de si mesmo e do

trauma sexual a que o sujeito é submetido pelo Outro, é necessário que se sustente o

próprio desejo. Costa (2004) afirma que o sujeito usa a imagem corporal para dar

sustento ao interesse do outro por si: “O outro – pais, adultos significativos, figuras

culturais ideais – atribui ao sujeito uma completude física, emocional e moral

proporcional à sua fantasia de perfeição e exige em troca a submissão a este ideal” (p.

73). Logo, o eu utilizará a imagem corporal como moeda de troca na transação com o

outro idealizado, pois o desejo aqui referido é o de fazer o outro desejar.

A imagem corporal, segundo Costa (2004), é um fato mental constituído das

qualidades da intencionalidade, privacidade e representacionalidade. Intencional por

25

fazer referência a um outro que lhe é externo e que estimula o sujeito a se representar de

diversas maneiras. Privado por unir a existência e a emergência do eu, caracterizando-o

como uma experiência exclusiva do próprio eu. E representacional pelo corpo ser

marcado por um discurso organizado, com aspectos conscientes ou inconscientes:

O desejo de usar a representação do corpo como imagem pode se opor à

tendência do corpo físico em manter o equilíbrio e a presteza para agir,

provocando uma fratura na experiência da identidade do eu. O apelo do outro

para que o sujeito se torne, sobre tudo, uma mera “imagem” pode desequilibrar a

economia da satisfação do esquema corporal. Este é o sentido do conflito entre

intencionalidade mental e intencionalidade física (Costa, 2004, p. 71-72).

Laznik-Penot (1994) destaca o órgão fundamental nesse processo identificatório,

o olho, pois é a partir do ato de olhar que a imagem será percebida pelo sujeito.

Conforme a autora, o olho deve ser entendido como “o signo de um investimento

libidinal, muito mais que o órgão suporte da vista” (p. 32), é o olhar no sentido de

presença. Brasil (2002) aponta que o olhar do outro, enquanto semelhante, erotiza e

marca o corpo como desejável: “(...) se trata aqui da constituição de todo sujeito

humano, que constrói a imagem de si, na dependência do olhar do outro, aqui, o outro

materno (primeiro representante do que Lacan chamou o grande Outro)” (p. 136).

26

MÉTODO

Participantes

Os critérios de seleção das participantes utilizados para esta pesquisa foram: ser

mulher de meia-idade e que praticasse atividades físicas intensas e/ou tratamentos

estéticos.

As mulheres consideradas cronologicamente na meia-idade são aquelas

pertencentes a um grupo entre 40 e 65 anos. Entre outros aspectos, nesse período da

vida da mulher ocorrem diversas mudanças físicas, sendo que as rugas e a flacidez

podem ser indícios da proximidade do envelhecimento. Assim, pode haver um esforço

maior de tempo e dinheiro na busca de uma aparência mais jovem, já que a nossa

sociedade é orientada à juventude (Papalia & Olds, 2000).

De acordo com o Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina

do Esporte, Leitão, Lazzoli, e Oliveira (e col.) (2000) referem que no momento de

prescrever as melhores práticas esportivas para mulheres, tem que se considerar a

relação risco/benefício, ou seja, os parâmetros que devem ser observados são a

modalidade, duração, freqüência, intensidade e modo de progressão. Segundo os

autores, geralmente é recomendado a prática de exercícios aeróbicos durante 30

minutos, três vezes por semana com intensidade moderada. Entretanto, têm-se estudado

outros modelos, podendo-se chegar a uma prática diária, contínua ou não, de 30 a 90

minutos por sessão. A realização de atividades físicas em intensidades superiores a isso

em mulheres não atletas pode proporcionar desconforto e fadiga excessivos.

O tipo de amostragem utilizada foi intencional, que, segundo Richardson e Peres

(1999), é representativa ao assegurar a presença de sujeitos que caracterizam uma

determinada parte da população. De acordo com Deslandes (2002), na pesquisa

qualitativa, a definição da amostragem não se baseia pelo critério numérico para

27

garantir a sua representatividade, e sim pela escolha dos sujeitos certos que possibilitem

abranger o problema de pesquisa.

A amostra, portanto, é constituída de 6 (seis) mulheres com idade entre 44 e 52

anos. A média de idade das participantes foi 48 anos, sendo que todas são casadas e têm

filhos. Com relação à escolaridade, três mulheres (M1, M2, e M3) têm 3º grau

completo, duas (M5 e M6) têm 3º grau incompleto e uma (M4) possui o ensino médio

completo. Nenhuma das participantes é aposentada. Com relação ao climatério, três

mulheres (M2, M3 e M5) estão vivenciando ou já vivenciaram a menopausa e três (M1,

M4 e M6) ainda não manifestaram qualquer tipo de sintoma próprio desse período.

Quanto à realização de cirurgia plástica com finalidade estética, duas mulheres (M2 e

M3) já realizaram e quatro (M1, M4, M5 e M6) não realizaram qualquer tipo de

intervenção dessa natureza.

A freqüência semanal para práticas esportivas no ambiente de academia, em

média, foi de 5 vezes na semana, em torno de 2 horas e 40 minutos por dia. O tempo de

prática esportiva no local atual, em média, é de 7 anos. Entretanto, o período de prática

das atividades ocorre, em média, há 20 anos. Duas mulheres (M2 e M5) responderam

que praticam outras atividades físicas além da academia, enquanto que quatro (M1, M3,

M4 e M6) não praticam outras atividades. Os mesmos percentuais se repetem em

relação à realização de tratamentos estéticos, sendo que quatro das participantes (M1,

M3, M4 e M6) não buscam esse tipo de tratamento. Estas informações podem ser

observadas na Tabela 1, a seguir.

28

Tabela 1 – Dados de Identificação das Participantes.

Academia

Participantes Idade (em anos) Freqüência

Semanal Freqüência

Diária Freqüência

no local

Tratamentos estéticos

Outras atividades

M1 47 6x 2 horas 1 ano Não Não

M2 47 5x 3 horas 3 anos Sim Sim

M3 52 5x 3 horas 15 anos Não Não

M4 46 5x 1,5 hora 7 anos Não Não

M5 52 4x 2 horas 3 meses Sim Sim

M6 44 5x 3 horas 10 anos Não Não

Delineamento

Para a realização desse estudo, foi utilizado um delineamento qualitativo.

Justifica-se essa escolha pelo fato do objeto de estudo ser as representações do corpo

feminino, apreendidas através da fala das mulheres entrevistadas.

Lefèvre e Lefèvre (2005) afirmam que, quando o objeto de pesquisa trata-se do

pensamento humano, a pesquisa quantitativa não permite que se tenha uma apreensão

correta, pois geralmente as pessoas têm que escolher alternativas já fixadas. Já as

pesquisas qualitativas permitem que se recupere e se resgate, de forma indutiva, os

pensamentos que estão na consciência das pessoas.

De acordo com Minayo (2002), a pesquisa qualitativa responde a questões

específicas de um nível da realidade que não pode ser quantificado: “ela trabalha com o

universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que

corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos

que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (p. 21-22).

De acordo com Bauer e Gaskell (2002), a pesquisa quantitativa lida com

números e utiliza modelos estatísticos para explicitar dados; enquanto que a pesquisa

29

qualitativa evita essa abordagem por lidar com interpretações das realidades sociais.

Para esses autores, a utilização da pesquisa qualitativa está desmistificando o uso da

pesquisa quantitativa como único meio de se chegar a resultados significativos, uma vez

que a pesquisa numérica também é passível de interpretação.

Triviños (1987) refere que a pesquisa qualitativa não necessita seguir uma

seqüência rígida das etapas de desenvolvimento como na pesquisa quantitativa. Isso

ocorre porque o pesquisador não é orientado por hipóteses levantadas a priori, de

maneira que, no decorrer do estudo, ao encontrar novas informações, possa seguir um

caminho diferente. Logo, o pesquisador deve estar preparado para eventuais mudanças

que possam ocorrer frente às suas expectativas iniciais.

Instrumento

Inicialmente, foi utilizado um questionário para coleta de informações das

participantes (apêndice A), a fim de se obter as características essenciais ao estudo,

como idade, estado civil, freqüência semanal na academia, etc. Com essas informações,

foi possível identificar se a participante tinha condições de prosseguir no estudo.

Em seguida, foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido

(apêndice B), o qual foi lido juntamente com a participante e assinado pela mesma, que

ficou de posse de uma cópia. Esse instrumento tem sido utilizado em pesquisas com

seres humanos para garantir o sigilo ético dos participantes. Outra finalidade é informar

aos participantes o tema que está sendo pesquisado e o objetivo do estudo.

Após essa etapa, foi realizada uma entrevista semi-estruturada, tendo como base

algumas questões norteadoras (apêndice C) que foram desenvolvidas a partir do

objetivo da pesquisa. Conforme Neto (2002), a entrevista é o procedimento mais

utilizado em pesquisa qualitativa, sendo que o pesquisador busca na fala dos

30

entrevistados absorver a vivência deles numa determinada realidade que está sendo

focalizada.

A entrevista semi-estruturada, para Laville e Dionne (1999), é uma série de

perguntas abertas, aplicadas verbalmente numa seqüência prevista pelo pesquisador, na

qual se podem acrescentar perguntas para esclarecimentos. É um instrumento flexível

que possibilita um contato mais íntimo entre o entrevistador e o entrevistado,

favorecendo a exploração em profundidade de seus saberes, suas representações,

crenças, valores, ou seja, tudo o que reconhecemos como objeto de investigação

baseado no testemunho.

Procedimentos

Inicialmente, foram contatadas academias da cidade para buscar pessoas

interessadas em participar da pesquisa, desde que estivessem dentro do perfil desejado –

mulheres entre 40 e 55 anos, que praticassem atividade física intensa considerando a sua

faixa etária. No total, foram visitadas em torno de 11 academias, todas elas da região

central da cidade. As participantes, entretanto, são freqüentadoras de apenas quatro

desses locais.

O contato com duas participantes (M5 e M6) se deu por telefone, o qual foi

cedido previamente pelas academias, e quatro delas (M1, M2, M3 e M4) foi

pessoalmente, na própria academia. Em seguida, foram agendadas as entrevistas e o

local das mesmas conforme a disponibilidade e preferência das participantes. Quatro

entrevistas (M2, M3, M4 e M6) foram realizadas nas próprias academias, por esses

locais cederem um espaço propício para a realização das mesmas. As outras duas

entrevistas (M1 e M5) foram realizadas nas casas das participantes.

31

As entrevistas duraram, em média, de 30 a 45 minutos. Todas elas foram

gravadas e, posteriormente, transcritas na íntegra, com a finalidade de poder analisá-las

na forma escrita.

Análise dos Dados

Para a análise das informações obtidas nas entrevistas, foi utilizada a Análise de

Conteúdo proposta por Bardin (2000). Segunda a autora, a Análise de Conteúdo tem

duas funções principais. A primeira delas se refere ao enriquecimento na exploração de

pesquisa, pois aumenta as chances de descoberta sobre um determinado tema. A

segunda diz respeito às hipóteses criadas sob a forma de questões ou de afirmações

temporárias para que sirvam como diretrizes. A partir disso, a sua análise sistemática

servirá para serem confirmadas ou não tais hipóteses, no caso de uma pesquisa

quantitativa. Na pesquisa qualitativa, por não se utilizar hipóteses, a análise se dará

considerando os objetivos da pesquisa e as falas das participantes.

Franco (2003) se refere à Análise de Conteúdo como uma mensagem, podendo

ser verbal – oral e/ou escrita, documental, ou de outras forma, mas sempre expressando

um significado e um sentido.

Segundo Gomes (2002) e Franco (2003), a Análise de Conteúdo segue os

seguintes passos:

a) Pré-análise – é o primeiro contato que se tem com o material de análise. A partir

disso, é feita uma leitura flutuante, que consiste em conhecer o material a ser analisado,

deixando as suas primeiras impressões.

b) Exploração do material – Esta é a fase mais longa e exaustiva da pesquisa. Consistem

em codificar, categorizar e quantificar a informação, através de repetidas leituras do

material em questão.

32

c) Tratamento dos resultados obtidos – Inicialmente se quantifica os resultados obtidos

da fase anterior, para posteriormente realizar a interpretação qualitativa das

informações. A codificação, segundo Richardson e Peres (1999), é uma transformação

das informações do texto em unidades que permitam uma representação desse conteúdo.

Para que se possa organizar essa codificação, o próximo passo é definir as unidades de

análise, que se diferenciam em unidades de registro e unidades de contexto. Nesse caso,

se optou pela unidade de registro tema, que seguirá a análise do tema ou análise

temática.

33

RESULTADOS

Os passos seguidos para a obtenção das categorias foram os seguintes: primeiro,

a leitura flutuante das entrevistas, a fim de se obter o primeiro contato com o material de

pesquisa. Em seguida, foram destacadas, de cada resposta das entrevistadas, as unidades

de registro e codificadas de acordo com os seus depoimentos. O passo seguinte foi

transformar esses códigos em indicadores da pesquisa. A partir desses indicadores,

emergiram as categorias de análise, que serão abordadas a seguir na Tabela 2.

34

Tabela 2 – Categorias e Indicadores

CA

TEG

OR

IA

Percepção sobre o processo de

envelhecimento

Olhar(es): Construção do corpo feminino

Freqüência na academia e

preenchimento do tempo

Freqüência na academia e o espaço

de socialização

A atividade física e os benefícios físicos

e psíquicos

Influências na realização da

atividade física

Percepção do corpo feminino

Modificações do papel da mulher na

sociedade

Maior preocupação com estética e bem-estar físico M1

Todo mundo olha – o olhar do outro, mas não precisa mais disso M1

Desloca ocupação do tempo: cuidar dos filhos a cuidar de si – atividade física M1

Academia como local de socialização, conhecer novas pessoas M1

Distração M1 Influência do discurso médico M1

Emagreceu = reeducação alimentar e exercício físico M1

Envolvimento dos filhos na atividade física M1

Envelhecer bem M1 Comparação M2 Mais tempo pra se cuidar M1

Na academia se conquista espaço / não apenas aparecer M1

Se sentir melhor como pessoa M1

Influência médica para iniciar atividade física M1

Corpo está um caos M6

Falta de tempo das pessoas atualmente para fazer exercício / correria do dia-a-dia M6

Ociosidade / envelhecimento - busca-se praticar exercício físico M1

Comparação com a sua faixa etária e com mulheres mais jovens M2

Tempo de academia é para ocupar tempo ocioso M2

Espaço para convivência social M2

Academia como hobby, terapia, esquecer dos problemas M2

Mídia e sociedade ditam o padrão, mas isto não pode tornar-se escravidão M1

Satisfação com o corpo hoje M6

Bem-estar pro marido também, melhora o relacionamento M6

Envelhecer bem pra não precisar de ajuda M1

Comparação, o outro como espelho M2

Substituição dos afazeres, das responsabilidades do dia-a-dia M2

Academia como local de convivência social M3

Academia como terapia, bem-estar, distração M3

Cirurgia plástica -influência de outras pessoas no consultório médico / comparação M1

Corpo como máquina, precisa se movimentar M1

Mulher mais completa – interfere na relação com o marido e com a família M5

Não se aceita ficar velha - relação entre envelhecimento e estética M1

As pessoas se escondiam antigamente, hoje se está mais a mostra M4

Não consegue ficar sem M4

Ambiente da academia ensina a ter hábitos saudáveis M5

Bem-estar físico faz sentir-se bem interiormente / mais disposta M4

Roupas que não servem - obrigação de iniciar atividade física M1

Ir na academia - já é uma preocupação estética, deixar o corpo em ordem M1

Mudança de papéis / funções sociais da mulher M4

IND

ICA

DO

RES

Exercício para o corpo desejado e “bom” envelhecimento M1

Comparação com outras mulheres / competição M4

Afastamento da rotina da casa M4

Vir pra academia representa prazer M3

Esquece dos problemas M4

Mais disposição no dia-a-dia com a atividade física M1

Satisfação com o resultado M2

Troca de papéis / funções sociais da mulher de antigamente e de

M3

34

35�

Bem-estar físico, sem dores M1

Resultado positivo da atividade física – mulher gosta de se olhar no espelho, se gosta mais M4

Tempo para cuidar de si mesma M4

Atingir o limite próprio / liberar adrenalina e o estresse M4

Dedicação para melhorar o corpo para si própria e pro marido M1

Malhar é cuidar de si M2 Mulher liberal M3

Relação de ociosidade com adoecimento M1

Mulher de 50 anos está no auge M4

Solidão – filhos estudam fora e marido passa o dia fora M4

Saúde e disposição M4

Ficar em casa é igual a sedentarismo M1

Gosta do próprio corpo M3

Hoje existe mais recurso pra mulher ficar bonita M5

Preocupação com o envelhecimento M2

Comparação com outras mulheres da mesma faixa etária M5

Academia como válvula de escape para a solidão M4

Se o visual está bem, ela é mais feliz M5

Apelo da mídia influencia a mulher M3

Manter o corpo que quer – desejo pessoal M3

Medo da velhice – desejo de não envelhecer M2

O corpo está mais bonito M4

Academia como ocupação M4

Atividade física ajudou no momento de perdas e doenças como depressão M5

Início das atividades após consulta médica, mas por conta própria M3

Corpo modificou bastante com a atividade física / manutenção do corpo jovem M3

Busca por qualidade de vida na velhice M2

Fazer coisa pra mim – referencia o corpo M4

Atividade física ajuda na melhora do humor e disposição M5

Influência da mídia M3

Mais cuidados com o corpo M4

Envelhecimento, preocupação em não envelhecer ou envelhecer com qualidade M3

Fazer atividade física é uma ocupação M6

Bem-estar psíquico depende do bem-estar físico M6

Mulher em evidência por influência dos meios de comunicação M4

Está dentro do que almejava quando era jovem M5

IND

ICA

DO

RES

Saúde, qualidade de vida M3

Atividade física benéfica para estética e saúde M6

Exigência da sociedade M5

Corpo saudável / bonito nessa idade é uma conquista a longo prazo M5

35

36�

Medo em relação a velhice - de ficar dependente M3

Manter o espírito jovem M6

Há uma exigência maior hoje pela perfeição da mulher, mas já existia a cobrança M5

Cirurgia plástica estética à seios M1

Academia pra cuidar da saúde / qualidade de vida M4

Exigência própria da natureza feminina M5

Desejo de fazer cirurgia plástica M1

Musculação –previne problemas de saúde e retorno melhor na velhice M4

A mulher se exige, quer estar de bem com ela M5

Medo de ficar masculina M2

Preparar bem pra velhice, evitar dificuldades da velhice M4

Preocupação com a aparência – busca por tratamentos estéticos M3

Falta de conscientização e vontade das pessoas / acomodação M6

Academia pra cuidar da saúde / qualidade de vida M4

Velhice atrelada à feiúra M5

Beneficia a chegada à terceira idade M5

IND

ICA

DO

RES

Conscientização da importância da qualidade de vida M5

36

37

Percepção sobre o processo de envelhecimento

Das seis mulheres entrevistadas, cinco (M1, M2, M3, M4 e M5) referiram a prática

de atividade física como uma etapa preparativa ao envelhecimento ou manifestaram medo

em relação ao envelhecer. Foram identificados 19 indicadores, sendo os de maior destaque:

maior preocupação com estética e bem-estar físico; envelhecer em boas condições para não

precisar ser dependente na terceira idade; busca por qualidade de vida na velhice;

preocupação com a aparência física em função do envelhecimento do corpo.

“Olha, a mulher tá mais preocupada, não é!? Em não envelhecer, eu acho. (...) eu

acho que a mulher tá voltada, tá com a preocupação de não envelhecer, ou envelhecer com

qualidade” (M3).

Olhar(es): Construção do corpo feminino

Quatro mulheres (M1, M2, M4 e M5) relacionaram a prática de exercícios físicos à

comparação com o corpo de outras mulheres da mesma faixa etária ou de idades mais

jovens. Nessa categoria, surgiram 10 indicadores, dentre os quais: o olhar do outro como

espelho; competição entre mulheres; mulher da meia-idade no auge da beleza física e

maturidade; os corpos, atualmente, aparecem mais que antigamente.

“A mulher olha pra uma outra já olhando o corpo, né, competindo com a outra, se

tá bem ou não...” (M4).

Freqüência na academia e preenchimento do tempo

Quatro entrevistadas (M1, M2, M4 e M6) referiram a permanência na academia

como preenchimento do tempo que destinavam a outras atividades, como cuidar dos filhos

e afazeres domésticos – rotinas domésticas. Uma entrevistada (M4) referiu sentir solidão a

38

partir do momento em que os filhos saíram de casa para estudar. Logo, a academia serve

como uma válvula de escape para a solidão.

“É, sozinha, tem as gurias, elas estudam fora, elas saem na segunda e voltam na

sexta, e eu fico sozinha, o marido sai de manhã, então acaba...necessitando de uma válvula

de escape pra não ficar neurótica em casa (risos).” (M4).

Freqüência na academia e o espaço de socialização

Das seis entrevistadas, quatro (M1, M2, M3 e M5) apontaram a academia como um

espaço de socialização, de convívio social. Dentre os seis indicadores surgidos, destacam-

se: academia como um espaço para se conhecer novas pessoas; academia como local de

convivência social; ambiente da academia ensina a ter hábitos saudáveis; o ambiente da

academia como algo prazeroso.

“Aí depois é uma maneira de tu se socializar também. Eu já lido com um monte de

pessoa, mas é mais é criança, e tu tem o grupo de professores, no caso. Mas tu sempre

conhece gente diferente, tu conversa com pessoas diferentes.” (M1).

A atividade física e os benefícios físicos e psíquicos

Todas as entrevistadas (M1, M2, M3, M4, M5 e M6) referiram algum tipo de

benefício psíquico decorrente da atividade física. De acordo com 5 participantes (M1, M3,

M4, M5 e M6), a auto-estima da mulher se eleva conforme o bem-estar físico. Duas

entrevistadas (M2 e M4) referiram afastar-se dos problemas do cotidiano quando estão

realizando atividade física.

“(...) eu venho pra cá porque me faz um, faz um bem-estar enorme vir a academia,

faz bem pra mim, é uma terapia. Ao invés de ir num psiquiatra, isso aqui p...de repente é a

39

tua válvula de escape, né. Tipo ah...vem aqui, fica fazendo um monte de exercícios, e é

uma, pra mim é um prazer porque tu conversa, brinca, ri, se diverte.” (M3).

Influências na realização da atividade física

Quatro participantes (M1, M3, M4 e M5) mencionaram fontes de influência externa

na prática do exercício físico. A mídia foi referida por três entrevistadas (M1, M3 e M4)

como um instrumento que dita o padrão de beleza a ser seguido. Outros indicadores – 17 no

total – que surgiram nessa categoria foram: influência do discurso médico, motivando o

início das atividades físicas e cuidados com a beleza; desejo de realizar cirurgia plástica ou

outros tratamentos estéticos pela preocupação com a aparência física; roupas que não

servem mais; dedicação para melhorar o corpo para si mesma e para o marido.

“(...) quem estabelece o padrão é a sociedade, é a mídia, não tem, né, que

estabelece é lá, tu pode vê que tudo é novinho, bonitinho, tudo no lugar, qualquer

manequim que botá cai bem, né. Lá ninguém trabalha, então é a mídia, não adianta, é a

sociedade mesmo, que, que a tv ajuda, que os computador ajuda, hoje a gente é tudo

rodiado por máquinas, né.” (M1).

Percepção do corpo feminino

As seis participantes (M1, M2, M3, M4, M5 e M6) manifestaram-se quanto ao

corpo da mulher na contemporaneidade. Três participantes (M3, M5 e M6) referiram

estarem satisfeitas com a situação do seu corpo atualmente, considerando que estão na

meia-idade. Três mulheres (M1, M3 M5) referiram como conseguem manter o corpo

saudável e em forma: reeducação alimentar, exercício físico, conquista a longo prazo / anos

realizando exercício físicos. No total, foram levantados 13 indicadores, dos quais foram

40

citados: o corpo feminino está um caos; corpo como máquina, necessitando ser

movimentado; preocupação estética para deixar o corpo em ordem; manter o corpo de

acordo com o desejo pessoal.

“(...) eu lembro da minha infância que eu via as minhas tias com 50, e eu pensava

“meu Deus, como elas estão velhas, como elas estão feias”. Claro, eu tinha talvez 8, 10

anos. Mas a mulher aparentava muito mais. E agora uma mulher de 50 ela tá bem, ela tá

ótima. Ela tá perfeita, completa.” (M5).

Modificações do papel da mulher na sociedade

Cinco mulheres (M1, M3, M4, M5 e M6) relacionaram a atividade física com a

mudança de papéis da mulher tanto na família como na sociedade em geral. Dos sete

indicadores que surgiram, destacam-se: a mulher está mais liberal e vai a busca de seus

objetivos; mudança de papéis da mulher de antigamente comparando com os dias atuais;

mulher está mais completa, o que interfere nas relações com o marido e com a família;

bem-estar para o marido e, conseqüentemente, a melhora da relação do casal; a mulher está

com mais atividades e falta tempo para preocupar-se com si mesma.

“A mulher da meia-idade, assim oh, no geral (...) são poucas as mulheres que fazem

atividade física. Se tu vai analisar, tu vem aqui na academia, é muito pouca, muito pouca.

Então eu acho falta conscientização, sabe, uma vontade, sei lá. Acho que tá todo mundo

muito acomodado hoje, quanto a isso. A vida tá muito corrida, então elas não tiram tempo

pra vir pra academia, se cuidá, fazê um exercício. Pra melhorá a saúde, né. E a aparência

física também.” (M6).

41

DISCUSSÃO

A partir da emergência das categorias e, considerando o objetivo inicial da pesquisa,

será realizada a discussão dos resultados, relacionando-os com o referencial teórico. Deve-

se ressaltar um aspecto importante para a seqüência do trabalho. Apesar de estarem

constituídas separadamente, as categorias estão relacionadas umas com as outras. Logo, na

medida em que a entrevistada se refere a uma representação do corpo feminino, podem-se

fazer inter-relações entre estas e os demais conteúdos abordados.

Como ponto de partida, será abordada a categoria Percepção do corpo feminino,

que surgiu a partir das falas das participantes sobre o corpo feminino, no geral, e em relação

ao próprio corpo. Retomando o conceito do estádio do espelho, período no qual a criança

cria uma imagem corporal, vale destacar que o processo de constituição dessa imagem está

atrelado ao outro. A possível relação existente é que a imagem não é própria, mas dada pelo

outro. Santaella (2004), ao destacar esse período na obra de Lacan, aborda a constituição do

Eu ligado à imagem do próprio corpo e, inevitavelmente, através da imagem do outro pois é

ele quem a possui.

O que se quer dizer com isso é que quando as participantes falam da sua percepção

de corpo, elas podem estar se referindo para além do corpo em si, desde as suas relações

vigentes na sociedade, quanto à imagem que se cria do próprio corpo em relação a outras

mulheres. Um exemplo disso é a fala da participante M6, que refere o seguinte:

“O corpo feminino hoje tá um caos. Tá um caos, tem meninas, né, que com 15 anos

já estão assim, muito, muito gordas. E com muita celulite, muita gordura

localizada, e elas não se conscientizam. Eu sei pela minha própria filha (risos), né,

42

assim porque eu pratico atividade física há muito, eu gosto disso. E acho

importante, não só estético como saúde. Hoje mais saúde do que estético” (M6).

Quando M6 diz que o corpo feminino está um caos, está comparando o seu corpo,

um corpo da meia-idade, com o corpo jovem, como exemplo o de sua filha. Mais adiante

ela refere satisfação com o seu corpo: “Meu corpo tá ótimo, eu tô adorando meu corpo

hoje” (M6).

Aqui, há uma manifestação do imaginário corporal, tanto de si mesma quanto das

mulheres de uma forma geral. Novaes e Vilhena (2003) afirmam que,

contemporaneamente, houve uma mudança no imaginário corporal da mulher, e que isso

reflete na própria maneira de lidar com o corpo. Atualmente, a imagem da mulher está

associada à beleza, e não se toleram desvios desse padrão exigido. A participante, que está

constantemente em busca desse ideal de corpo, se refere à gordura e à celulite como um

caos, algo inaceitável para o padrão de beleza.

Outro aspecto a ser destacado nessa categoria são as intervenções possíveis de

serem feitas no corpo atualmente. Sant’Anna (1995) afirma que até a metade do século XX

a beleza da mulher ainda era vista como divina, um dom da Natureza. A partir da década de

1950, a mídia passa a valorizar o esforço que a mulher pode fazer para ser bela ou

permanecer bela. Até então, os produtos de beleza eram considerados como remédios, e

esse status deixa de existir no momento em que mulheres belas e famosas passam a

aconselhar outras com um discurso informal e didático, através de revistas especializadas.

Percebe-se isso nos discursos das entrevistas quando elas se referem às formas com

que se pode emagrecer. Deixa de se considerar a beleza como algo divino, e passa-se a

intervir no próprio corpo em busca desse ideal proposto pela mídia. Uma fala representativa

disso é de M1:

43

“Ah, eu já diminui de agosto pra cá dez quilos. Só fazendo re-educação alimentar e

exercício, por conta, ah, por conta própria não, fui na endócrino, né, e ela só me

passou o que dava e o que não dava pra comer e tal, e exercício físico. Já

caminhava, depois parei. Aí a caminhada depois de um tempo tu não, não te

adianta mais só isso, né. E já mudou, que eu tinha problema de muita dor nas

pernas, não tenho mais porque as varizes sumiram, quase todas...” (M1).

Na medida que M1 não está insatisfeita com a sua saúde do seu corpo e com a sua

aparência física, vai em busca de melhorá-lo. O discurso médico, nesse exemplo, foi o que

autorizou a mulher a buscar essa melhora. Mas ela vai além desse discurso, passa a investir

no próprio corpo em busca não apenas da saúde física, mas de uma aparência física exigida

socialmente.

Estas mulheres, quando chegam à meia-idade, ultrapassam a natureza, via

tecnologia, com um corpo construído por exercícios. Segundo Brasil (2002), a estética

produz um saber que vai além do racional, por nossa relação com o corpo ser uma

construção. Novaes e Vilhena (2003) afirmam que as mulheres estão aprisionadas ao

próprio corpo e a serviço dele, isto é, se antigamente havia uma preocupação com a beleza,

logo havia um dever social, hoje elas são responsáveis pela beleza, havendo um dever

moral.

Neste sentido, o corpo feminino é passível de superar a beleza natural dado os

recursos oferecidos. Se o meu corpo não me satisfaz, posso modificá-lo, sem dar satisfações

para os outros, ou justamente para satisfazê-los, uma vez que se busca no olhar do outro o

reconhecimento de si mesma. A mídia divulga os modelos a serem seguidos; o social, por

sua vez, exige que a mulher dê uma resposta a esse estímulo; a própria mulher passa a

exigir de si um padrão de beleza, na grande maioria, inacessível a ela, fazendo com que

44

haja um sofrimento psíquico. Del Priore (2000) afirma que essa busca incessante é uma

fonte inesgotável de ansiedade e frustração por se sobressair a uma sensualidade imaginária

e simbólica.

A categoria Percepção sobre o processo de envelhecimento merece destaque já que

nas falas dessas mulheres surgem preocupações com a saúde, a qualidade de vida e o

aspecto estético, sempre em relação à terceira idade. Questões de dependência nesse

período também surgiram, pois há o temor de ficar dependente de outras pessoas. Nos

discursos se ressalta o aspecto estético, já que nossa sociedade exige um corpo saudável e

perfeito, respondendo ao desejo do outro. Um corpo flácido e com rugas já não tem espaço

no social. Conforme foi abordado no referencial teórico, o envelhecer, na

contemporaneidade, significa afastar-se da exigência do corpo perfeito, já que beleza e

juventude estão relacionadas ao ideal de saúde vigente (Mori & Coelho, 2004).

Foi a partir da década de 1950 que ocorreu a mudança do discurso feminino, onde a

mulher deixou de se considerar naturalmente bela e passou a conquistar a sua beleza com o

próprio esforço. Foi nesse mesmo período que o corpo passou a estar mais exposto na

mídia. Retomando Del Priore (2000), a qual afirma que o envelhecer passa a ser associado

à perda de prestígio e ao afastamento do convívio social, entende-se, pelos depoimentos das

participantes, essa busca de um corpo considerado ideal. Na medida em que se mantém um

corpo jovem, e conseqüentemente uma aparência agradável, a mulher se mantém ativa

perante o social. Como referem Papalia e Olds (2000), a meia-idade é um período que

culmina com a perda da maternidade e a aposentadoria, ou seja, duas funções da mulher no

contexto social. Ao deixar de produzir socialmente, cabe a essa mulher manter a aparência

física idealizada culturalmente pelas sociedades ocidentais e legitimada na

contemporaneidade pela mídia principalmente.

45

Esses aspectos relacionados com a proximidade do envelhecimento feminino

acarretam mudanças no imaginário da mulher. Um dos aspectos norteadores desta pesquisa

foi a falta de simbolização da vivência desse período. Retomando Volich (2005), que

afirma que os investimentos em tratamento de beleza buscam dar conta de uma

incapacidade psíquica de lidar em determinadas situações, pode-se pensar que os

investimentos dessas mulheres são um retrato disso. Uma das categorias emergidas foi A

atividade física e os benefícios físicos e psíquicos, que, dentre os indicadores, apresentava o

exercício físico relacionado ao bem-estar psíquico. Logo, busca-se uma satisfação no corpo

para acalmar as angústias vivenciadas.

A facilidade para modificar o corpo acaba por torná-lo vitrine do sintoma de

sofrimento interno, como se ao melhorar o corpo, o psíquico pudesse também ser tratado.

M5 refere isso ao falar da sua percepção do corpo feminino hoje:

“Ela não qué nunca se vê ah....decaída, mal com ela. Então, se o corpo tá bem, se

ela consegue mantê um visual mais ou menos bem pra ela, ela também vai se senti

mais feliz. Mais completa (...)”. (M5)

Uma relação possível de pensar a partir disso é que o processo de investimento

corporal está relacionado ao narcisismo primário vivenciado nos primeiros anos de vida,

onde se buscava no próprio corpo uma forma de satisfação. A analogia é que os pais

atribuem, nessa fase, o ideal de perfeição na criança. No caso do adulto, mais

especificamente das participantes da pesquisa, quem idealiza essa perfeição é o social,

através de diversos discursos, como o médico e o publicitário. Dessa forma, a mulher passa

a investir no próprio corpo, buscando a satisfação em si mesma e tentando dar conta das

situações do cotidiano. Sant’Anna (1995) destaca, a partir da década de 1960, modelos

femininos circulando na mídia, extraindo prazer do próprio corpo através de imagens

46

publicitárias. Além disso, tem-se a sugestão de conselheiros de beleza sugerindo que a

mulher toque seu corpo, se autoconheça, tenha amor pelo próprio corpo.

Uma das entrevistadas (M3), ao fazer uma relação da atividade física com o seu

momento atual de vida, responde o seguinte:

“eu venho pra cá porque me faz um, faz um bem-estar enorme vir a academia, faz

bem pra mim, é uma terapia. Ao invés de ir num psiquiatra, isso aqui p...de repente

é a tua válvula de escape, né. Tipo ah...vem aqui, fica fazendo um monte de

exercícios, e é uma, pra mim é um prazer porque tu conversa, brinca, ri, se diverte.”

(M3).

Partindo dessa fala, fica mais claro contextualizar a relação entre o bem-estar físico

e psíquico, referido anteriormente, da mulher contemporânea. Através do corpo, busca-se

dar conta de dificuldades do cotidiano ou mesmo de eventos passados na vida da mulher.

Volich (2005) refere que as inquietações, angústias e experiências de vazio encontram no

corpo um porta-voz para o sofrimento. Além disso, busca-se no olhar do outro uma imagem

que possa agradar.

Outra fala que ilustra isso é de M6:

“eu na verdade se eu não tô bem (...) com o meu corpo, eu não tô bem com a minha

cabeça também. Então até eu acho que eu sou um pouquinho estressada com isso,

sabe. Então eu tenho que tá bem” (M6).

Aborda-se novamente Canto-Sperber (2003) quando afirma que o corpo só pode ser

aceito se estiver submetido aos modelos culturais e sociais vigentes. Como conseqüência

disso, o corpo passa a ser um corpo de empréstimo, e não mais o próprio corpo. Outra

característica que a autora aponta é o corpo exigido sendo cada vez mais irreal e

inacessível, e isso impede as mulheres de viverem e aceitar seu próprio corpo.

47

Relacionando isso com a fala de M6, percebe-se a necessidade que o corpo, a

aparência física, gera na mulher. O bem-estar psíquico passa a estar atrelado ao bem-estar

físico, e não o inverso. Pode-se pensar, então, no sofrimento psíquico que, não apenas as

participantes desse estudo, mas uma grande parcela das mulheres, de uma maneira geral,

experienciam essa exigência feita pelo social.

A partir daqui, se faz uma relação com as possíveis influências que a mulher sofre

no dia-a-dia para ser bela. A categoria Influências na realização da atividade física surgiu

da percepção das mulheres sobre o que elas acreditam que mais influencia na busca desse

corpo ideal. A mídia foi eleita como a grande responsável por esse apelo feito à mulher.

Lipovestsky (2000) aponta para a fase mercantilista da beleza feminina, a partir do

desenvolvimento da cultura midiática. Cabeda e Guareschi (2004) se referem às revistas de

beleza como um instrumento de sedução à prática de exercícios físicos. Além disso,

oferecem modelos a serem copiados, geralmente de idade indefinida e aparentando

segurança e felicidade.

“Quando tu tá muito fora do padrão, complica, né. (...) quem estabelece o padrão é

a sociedade, é a mídia, não tem, né, que estabelece é lá, tu pode vê que tudo é

novinho, bonitinho, tudo no lugar, qualquer manequim que botá cai bem, né. Lá

ninguém trabalha, então é a mídia, não adianta, é a sociedade mesmo, que, que a tv

ajuda, que os computador ajuda, hoje a gente é tudo rodiado por máquinas, né”

(M1).

O discurso de M1 é representativo disso que está sendo abordado. A mídia exige

uma mulher bonita, jovem e que desfruta do seu bem-estar. Uma mulher, ao mesmo tempo

que não demonstra sofrimento, nem precisa se esforçar. Paradoxalmente, há produtos de

48

beleza e recursos suficientes na mídia para fazer com que a mulher trabalhe o seu corpo, se

esforce na busca desse modelo feminino.

A partir disso, faz-se uma relação com uma categoria central nesse estudo:

Olhar(es): construção do corpo feminino. A preocupação com o processo de

envelhecimento vai além do aspecto estético, já que o velho, na cultura ocidental, já não

produz como um jovem, seu corpo não é mais objeto de desejo, de consumo, e passa a ter

um valor secundário. Esses aspectos estão interligados com a categoria referida, pois, como

conseqüência do envelhecimento do corpo, as mulheres mais jovens passam a ter destaque

em relação às da meia-idade pela aparência física, e por serem consideradas ativas perante a

sociedade (maternidade e produção no trabalho).

A preocupação das entrevistadas com a aparência física se refere às adolescentes e

às mulheres da faixa dos 30 anos. Elas comentaram que hoje em dia existem mais

condições para cuidar do corpo do que quando elas eram jovens. Ao mesmo tempo, elas

destacam que o esforço das mulheres da meia-idade em comparação com as mais jovens é

muito maior, caracterizando assim essa faixa etária como a mais bela. Um exemplo é a fala

da entrevistada M2:

“(...) a mulher tá muito mais moderna, ela se cuida mais. Eu só vejo a juventude

muito atirada, as gurias novas não se cuidam muito, mas a mulher da minha faixa

etária é uma mulher que se cuida muito (...)”. (M2)

Aqui fica claro uma valorização da mulher da meia-idade em detrimento da mais

nova, entretanto, na continuação da entrevista surge um momento de ambigüidade na fala

de M2:

49

“(...) eu tô bem satisfeita com o meu corpo. Dentro da minha faixa etária, né, pelos

47, né. Claro que eu não posso sonhar com uma guria que tá com 20 anos com o

corpinho bonitinho, né. Mas dentro da faixa etária eu tô bem satisfeita (...)”. (M2)

Essa fala demonstra a satisfação pelo corpo que se conquistou até hoje, mas valoriza

a beleza dos 20 anos, como algo inatingível pela sua idade. O corpo da mulher da meia-

idade é construído a partir do momento em que não se pode mais desfrutar da sua

juventude.

O reconhecimento do outro pelo olhar é parte constituinte do sujeito, como refere

Brasil (2002). Há uma expectativa de reconhecimento por parte da mulher no que diz

respeito ao olhar do outro como retorno do investimento libidinal em relação à atividade

física. Ao cuidar do próprio corpo, a mulher está dando uma resposta à exigência feita pelo

social, que é ter o corpo perfeito. Ao mesmo tempo, ela exige esse reconhecimento através

do olhar do outro. Há duas frases representativas de M4 e M5 para ilustrar isso:

“pra ela se gostá mais. No momento que ela vê que a atividade física tá dando

resultado ela se gosta, gosta de se olha no espelho, né” (M4).

“é uma alegria, não vem dizê que qual é a mulher que não gosta de ganhá um

elogio, de achá que ela tá bem, que ela não aparenta aquela idade (...) então é

importante isso tu podê tá bem, ganhá elogios, isso tudo deixa a mulher bem, sabe,

feliz, contente. Então, eu acho que além de tudo, de tá bem interiormente (...) tu

ouvi elogios e vê que tá, que o corpo tá legal ainda (...) então acho isso tudo é

lucro, é bom, é, é maravilhoso. Então além de tudo isso, de todas essas coisas que

eu falei, de, de bem-estar, de saúde, de energia, de astral bom, de felicidade, de

tudo, ainda tem a vantagem dos elogios, de ganha elogios e passa assim até como

se tivesse um pouquinho menos de idade” (M5).

50

Na frase de M4, o espelho pode ser entendido como uma metáfora social. Ao

mesmo tempo em que ela se reconhece pela sua imagem vista no espelho, as pessoas lhe

dirigem o olhar a ela e reconhecem o seu esforço em manter o corpo saudável, a beleza do

corpo. Já M5 refere diretamente a satisfação em ser reconhecida como mais jovem, e isso

tem reflexo no seu psiquismo, pois refere sentir-se feliz e bem consigo mesma.

Esses aspectos são importantes pois atuam diretamente no imaginário da mulher.

Faz-se uma analogia com o narcisismo secundário, pois é o ideal formado fora da criança,

segundo Nasio (1997b), que faz com que ela deixe de investir no próprio corpo e vá em

busca de ser reconhecida pelo investimento feito fora dela. De certa forma isso ocorre com

essas mulheres, pois o investimento no próprio corpo não é suficiente para satisfazê-las.

Logo, espera-se que o investimento na aparência física retorne de alguma forma e de

satisfação à mulher.

Tem que se fazer uma ressalva em relação ao investimento corporal que a mulher

faz, buscando satisfação em si mesma, e em relação ao outro, esperando o retorno libidinal.

Costa (2004) afirma que o sujeito utiliza a imagem corporal para dar sustento ao interesse

do outro por si, ou seja, esse outro, que é representado por pessoas importantes na vida da

pessoa e por padrões culturais construídos socialmente, atribui ao sujeito uma completude

repleta de fantasias de perfeição e exige que se submeta a isso.

Junto a isso, destaca-se o papel que a mídia exerce como divulgadora desses ideais

de perfeição. A mídia instiga a mulher ao auto-erotismo, a buscar prazer no próprio corpo.

Paradoxalmente, exige que a mulher invista no próprio corpo para retornar ao social e

satisfazer o desejo do outro. M5 representa isso ao falar dos cuidados com o corpo, e a

satisfação psíquica que isso gera nela, além de poder satisfazer as pessoas que convivem

com ela diariamente:

51

“além da sociedade exigir, do mundo, de tudo, a mulher mesmo exige. Ela não qué

nunca se vê ah....decaída, mal com ela. Então, se o corpo tá bem, se ela consegue

mantê um visual mais ou menos bem pra ela, ela também vai se senti mais feliz.

Mais completa pro, pro marido, pro companheiro, pra família” (M5).

O ambiente da academia também foi referido como algo importante para as

mulheres, o que gerou duas categorias importantes nesse contexto: Freqüência na

academia e o espaço de socialização e Freqüência na academia e preenchimento do tempo.

O período em que se permanece na academia como preenchimento do tempo tem relação

com o espaço de socialização que existe nesse local. A meia-idade é um período da vida da

mulher, como referiram Papalia e Olds (2000), de perdas e mudanças de percepções sobre

aspectos da vida, de troca de papéis da mulher reconhecidas socialmente.

Os modelos de beleza que circulam na mídia, segundo Sant’Anna (1995), aparentam

não precisar do outro para sobreviver, além de sugerirem um contentamento único e

solitário, que é o de cuidar do próprio corpo. Pensando dessa forma, as relações sociais

tendem a se esvaziar.

Com isso, o ambiente da academia foi referido por quatro participantes (M1, M2,

M3 e M5) como um espaço para se conhecerem pessoas novas, como um local agradável de

se estar. Percebe-se nos discursos que a academia gera um bem-estar nas mulheres e que

isso as motiva a continuarem a prática da atividade física:

“(...) o convívio, um convívio social muito bom, o ambiente é bom, as pessoas são

agradáveis, tanto é que eu tô aqui, podia, tem “ene” academias aqui em Caxias, e

eu tô aqui. Tem um convívio aqui, tem que tê um, tu tem que tê um entrosamento,

tem que tê uma liga pra qualquer atividade que tu for fazê tu tem que tá entrosado,

senão...a coisa não vai (...)” (M3).

52

“(...) pra mim não é só vim aqui malhá o corpo, eu faço amizade aqui dentro, eu,

eu, eu relaxo, acabo esquecendo qualquer problema, então, pra mim academia não

é só também a, o corpo, é também um monte de coisa” (M2).

“Não é “cheguei, abafei”. Tem que conquistar esse espaço, também, na academia,

com o pessoal lá, e eu acho legal porque depois que o pessoal vê que tu tá lá com

uma preocupação, né, não é só de aparecer, tu cria vínculo...” (M1).

Esse ambiente referido como um local para socialização, pode esconder um aspecto

de mudança na vida dessas mulheres. Se há um esvaziamento das relações sociais pelo

apelo da mídia ao individualismo, esse espaço deve ser preenchido de alguma forma, uma

vez que o sujeito é constituído na relação com o outro.

M4 relaciona a atividade física e o ambiente da academia com a saída das filhas de

casa e o pouco convívio diário com o marido:

“É, sozinha, tem as gurias, elas estudam fora, elas saem na segunda e voltam na

sexta, e eu fico sozinha, o marido sai de manhã, então acaba...necessitando de uma

válvula de escape pra não ficar neurótica em casa (risos)” (M4).

Ao mesmo tempo, outra categoria emergida relaciona-se com essas duas:

Modificações do papel da mulher na sociedade. A mudança de papéis sociais e econômicos

do feminino na sociedade, vem ocorrendo com grande destaque desde o período após a

Segunda Guerra Mundial, segundo De Carli (2002), ao passo em que a mulher rompe com

os cuidados do lar e passa a ocupar novos espaços. A mescla entre o espaço do lar e a vida

de trabalho fora de casa provoca modificações pessoais e nas relações com os outros. M3

faz referência a este aspecto, pois percebe a mulher mais independente do que a mulher de

antigamente:

53

“Minha época, se casava, cuidava dos filhos, da casa, hoje não. Hoje essa

meninada que tá vindo aí, tá, tá com pique total, né. Não tem, né, pra ti ficá em

casa cuidando...queres, se preocupa com seu corpo e...então tem gente que não

fica, né, esperando pelo marido, né, a mulher tá bem liberal” (M3).

Entre as participantes, duas mulheres (M4 e M6) eram donas de casa. No discurso

delas, percebe-se que a rotina doméstica, num determinado momento, gera um vazio na

vida dessas mulheres:

“(...) por eu ser dona de casa, eu fico em casa, bastante tempo. Então na academia

eu vejo que é um modo de eu sair de, me afastar de tudo aquilo que eu, de casa,

deixá por um tempo as coisas que eu faço pra cuidá de mim” (M4).

“Já que eu não faço outra coisa a não ser cuidar dos filhos e da casa, né, eu tenho

que fazê alguma coisa pra me senti bem. Porque eu sei que se eu ficasse em casa

sem fazer nada, ia tá com a minha cabeça muito mal. Com o passar da idade tem

isso também, né, a gente não é mais jovem, então tem que fazê alguma coisa pra se

manter jovem, o espírito jovem. E a atividade física ajuda muito nisso” (M6).

A própria mudança de papéis da mulher na sociedade, cria essa angústia na mulher,

pois a mulher conquistou um espaço no mercado de trabalho, que hoje, somente cuidar dos

filhos pode parecer pouco em comparação a outras atividades.

54

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o objetivo inicial desse estudo, que era investigar e descrever as

representações do corpo feminino na contemporaneidade em mulheres de meia-idade que

apresentam comportamentos como práticas esportivas intensas e investimentos em

tratamentos de beleza, acredita-se que o trabalho atingiu essa meta.

A meia-idade, como foi possível observar, é um período de mudanças físicas,

psicológicas e sociais para a mulher. Esses três aspectos são os pilares que constituem o ser

humano. Destaca-se nesse estudo a abordagem que foi dada às representações do corpo

feminino, na medida em que não é possível referenciar apenas as representações de corpo

propriamente dito nesse período. A análise desse estudo foi além disso, abordando questões

como os aspectos que envolvem a proximidade da mulher ao envelhecimento, as

modificações nas relações sociais, a troca de funções da mulher, as construções do

imaginário social referentes ao ideal de beleza da mulher, as formas que a mulher tem

encontrado para lidar com as influências externas na busca de um ideal de corpo, o

ambiente da academia percebido como um espaço de socialização e preenchimento do

tempo, além das próprias construções que a mulher faz do seu próprio corpo a partir da sua

percepção.

Acredita-se que o estudo tenha contribuído na compreensão dos aspectos que

envolvem a mulher nesse período. Considerando as fases do desenvolvimento humano, a

meia-idade, em especial a feminina, tem carecido de maiores estudos para compreender

esse período fundamental da vida, uma vez que trata-se de um período de passagem entre a

fase adulta e a terceira idade. Entretanto, deve-se ressaltar que a mulher sempre tem tido

maior destaque como objeto de estudo, já que historicamente a mulher sempre esteve

55

associada à beleza, independente do padrão estético de cada época, e, logo, isso faz com

que seu corpo esteja mais exposto a críticas em comparação ao masculino.

Do ponto de vista do aspecto psicológico que envolve a mulher, viu-se que há uma

pressão em torno dela. O que chama a atenção nos resultados obtidos é a situação paradoxal

a que as mulheres estão expostas. Exige-se, através da mídia principalmente, que a mulher

tenha um corpo perfeito e idealizado, o qual deve gerar desejo no outro. Ao mesmo tempo,

essa mulher, influenciada por propagandas especializadas, deve extrair do próprio do corpo

uma satisfação, levando ao individualismo. Percebe-se pelas entrevistas que o discurso das

mulheres apresentam ambigüidades relacionadas a isso.

A mulher contemporânea está exposta a diversos discursos que perpassam o corpo,

dentre eles o publicitário e o médico, que valorizam a aparência física em detrimento de

valores do ser humano que podem ser fundamentais para auxiliar a mulher nessa fase de

sua vida. Isso causa sofrimento psíquico, e o corpo torna-se um sintoma manifesto da nossa

cultura.

Enfim, acredita-se que o trabalho pode contribuir na elucidação das representações

do corpo feminino. Entretanto, esse foi um viés escolhido para trabalhar com essa temática.

Outros estudos, de outras áreas inclusive, também podem contribuir para aprofundar todos

os aspectos que envolvem a mulher. A visão integrada da mulher é necessária, pois, como

referido anteriormente, os pilares que constituem o ser humano são o físico, o psicológico e

o social.

56

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61

APÊNDICE A

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Data:________________ Telefone: ______________________________

1) Nome completo:__________________________________________________________

2) Idade (em anos):__________________________________________________________

3) Estado civil: ( ) solteira ( ) casada ( ) divorciada ( ) viúva ( ) outro:_______

4) Filhos: ( ) sim ( ) não Se sim, quantos:______________________________

5) Escolaridade (último ano/ série da escola que completou): ________________________

6) Ocupação / Profissão: _____________________________________________________

7) Aposentada: ( ) sim ( ) não Se sim, quanto tempo:__________________________

8) Menopausa: ( ) sim ( ) não Se sim, quanto tempo: _________________________

9) Já realizou algum tipo de intervenção cirúrgica para fins estéticos? ( ) sim ( ) não

Se sim, em que parte do corpo: __________________________________________

10) Academia:

Freqüência semanal: ________________________________________________________

Freqüência diária: __________________________________________________________

Período em que iniciou as atividades no local:____________________________________

11) Pratica outras atividades físicas: ( ) sim ( ) não Se sim, especificar as atividades e a

freqüência com que pratica: __________________________________________________

12) Tratamentos estéticos (se sim, especificar a freqüência com que pratica):

( ) Massagem estética_______________________________________________________

( ) Drenagem______________________________________________________________

( ) Bronzeamento artificial___________________________________________________

( ) Outros: ________________________________________________________________

62

APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A senhora está sendo convidada a participar de um estudo científico, tendo como

responsável o acadêmico Fabrício Carlo Bellei, cujo título do trabalho é O Corpo da Moda

em Mulheres Adultas: Representações Acerca de Tratamentos Estéticos. Este estudo

constitui-se como requisito para a Graduação em Psicologia. Antes de decidir se você

deseja participar, queremos que você saiba do que trata o assunto. Você poderá fazer

perguntas a qualquer momento. Se você decidir participar do estudo, se pedirá que assine

este formulário de consentimento. Você receberá uma cópia deste documento.

Caso aceite participar, terá de responder a uma entrevista, gravada, que contém

perguntas sobre a senhora e suas opiniões em relação ao corpo e aos tratamentos estéticos.

Sua participação será de apenas uma vez. Além disso, seus dados pessoais serão mantidos

em sigilo.

Você não receberá nenhum pagamento, ou outro benefício direto, para participar

deste estudo. Mas você não estará renunciando a nenhum direito legal ao assinar este

formulário de consentimento. Você também não terá nenhum custo relacionado com a

participação neste estudo.

As informações coletadas a partir das entrevistas serão vistas pelas pessoas que

trabalharem neste estudo e os resultados podem ser publicados em revistas científicas.

Entretanto, você não será pessoalmente identificada em nenhuma publicação resultante da

informação recolhida neste estudo.

Sua participação é importante e totalmente voluntária. Ainda assim, se desejar,

poderá se recusar a participar da pesquisa ou desistir a qualquer momento da entrevista.

Com base nas informações acima, aceito participar no estudo acima descrito. Entrevistada: _________________________ _____________________________ Nome legível da participante Assinatura Entrevistador: _________________________ _____________________________ Nome legível do entrevistador Assinatura Data: ___________________

63

APÊNDICE C

QUESTÕES NORTEADORAS

1) De uma forma geral, como você percebe o corpo feminino hoje?

2) Em relação a isso que você comentou, como você percebe o seu corpo?

3) Que relação você faz entre as suas atividades estéticas (citá-las) com a sua vivência, com

o seu momento atual? Explique.

4) O que estas práticas representam para você?

64