o contexto do contestado

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O Contexto do Contestado LUIZ ALVES Página 1

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O livro Contexto do Contestado é um resgate histórico a base de rima e verso (poesia), do conflito armado acorrido entre os anos de 1912 a 1916 entre os Estados do Paraná e Santa Catarina.

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O Contexto do Contestado

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O Contexto do Contestado

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Prefácio

Foram inúmeras as causas que acenderam o estopim que

levou a “Guerra do Século, o famoso contexto do contestado. Após a

queda da monarquia, o país estava completamente falido e sem

nenhum recurso financeiro, porque os Imperadores sempre adotaram

o regime Feudalista que enforcava mortalmente o panorama de

igualdade social, levando os menos favorecidos a terem somente uma

opção, trabalhar como escravos com uma mínima bonificação mensal

aos protegidos do regime imperialista”.

A “lei do ventre livre” foi a primeira grande derrota dos

senhores de engenho, que tiraria de suas mãos o filete de ouro, a

futura mão-de-obra produtiva. Em 1888 a princesa Isabel legaliza a

“lei Áurea”, abolindo todo e qualquer regime de escravidão. O que

levou os senhores de engenho ao completo desespero, e

consecutivamente ao princípio de sua falência econômica, privando-os

dos luxos nos salões da corte imperial. Pois, a partir daquele

momento humanitário histórico, teriam de pagar por seus serviços

braçais, não obrigá-los a trabalhar e nem colocá-los no tronco para

serem açoitados.

E na calada da noite em 1889, os parlamentares, políticos

provincianos, empresários e comerciantes, ministros e os marechais

das forças armadas compram dos Estados Unidos da América um

regime republicano corrompido, corrupto e capitalista, que levaria

toda a população brasileira a mais completa miséria social e

econômica. A monarquia cai e toma posse o poder republicano.

Parlamentares, ministros e os marechais julgavam ter em suas mãos

um país rico e próspero, mas encontram um país em completa falência

econômica e social. E, outra vez compram dos Estados Unidos da

América a idéia de venda de títulos coronelistas aos senhores de

engenhos, visando economicamente tirá-los desse buraco sem fim.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 3

Em meio a todo esse caos da república, em 1893 o almirante

Custódio de Melo revolta-se tendo sob o seu comando vários navios

de guerra ancorados em pontos estratégicos do Rio de Janeiro.

Convoca todos os poderes na época a lutar por novas eleições

republicanas, sob a ameaça de detonar os seus canhões contra tudo e

todos. A revolta armada força o Presidente Marechal Floriano

Peixoto e parlamentares, a convocarem eleições urgentemente,

contendo no ambiente à podridão da manipulação de conveniência e o

cheiro podre da corrupção.

Os Estados Unidos fazem a sua parte no acordo, faltando

somente o poder republicano fazer agora a sua parte. Nesse momento

histórico se inicia o maior de todos os pecados capitais: Empresas

públicas e empresas privadas que comandavam a economia são

vendidas aos empresários americanos.

O país, que já estava naufragado na completa miséria

econômica e social, acaba se transformando praticamente numa

sucata ambulante e quase sem nenhum valor comercial. Os

empresários americanos como sempre, são filantrópicos e

humanitários com o resto do mundo, assim como as nuvens de

gafanhotos são com as plantações, firmam um contrato com o poder

republicano na construção de uma ferrovia do estado de São Paulo ao

estado do Rio Grande do Sul, cobrando a simples bagatela de vinte

contos de réis por quilômetro construído, depois reajustado por

quarenta contos de réis, além de terem a posse de quinze quilômetros

em ambos os lados da ferrovia, onde poderiam explorar todos os

recursos naturais e povoar com emigrantes europeus.

Só que o governo republicano brasileiro se esquece que,

dentro dos limites da ferrovia construída, e nesses trinta quilômetros,

já moravam famílias que herdaram as propriedades de seus

antepassados, pela própria lei natural e verdadeira eram os donos, não

precisando de nenhum papel para provar que aquelas terras eram

suas.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 4

Na época da construção, chegam uma autoridade do

governo, representante do grupo Farquhar e os seus pistoleiros,

dizendo que a terra onde nasceu o seu bisavô, seu avô, seu pai, ele e

todos os seus filhos não era mais sua, porque tinham comprado do

governo e teria de sair das terras, porque já tinham vendido aos

emigrantes estrangeiros.

Caros leitores imaginem só como fica a cabeça de um

simples caboclo, nascido e criado no sertão brasileiro. Com toda

certeza, deixaria qualquer um que não tem sangue de barata, furioso e

perderia a sua própria razão e até poderia levar o acontecimento às

últimas conseqüências. E foi o que realmente aconteceu,

desencadeando a “Guerra do Século”.

Veremos agora o outro lado da questão, a emigração de

europeus no sul do país. O grupo Farquhar tinha feito um negócio da

China, cria na Europa uma grande propaganda enganosa na venda de

acres de terra num país de futuro. Os acres são comercializados a

peso de ouro aos emigrantes, sendo que já estavam desanimados com

a crise e a guerra em seu continente, havendo diversas nações falidas

ou a beira da falência social e econômica.

Os emigrantes chegam ao sul do país em banheiras

flutuantes, que o grupo chamava-o de navio, viajando na mesma

situação deplorável dos navios negreiros que trouxeram escravos do

continente africano. E quando os emigrantes chegam ao sul do país,

dão de cara com a dura realidade, vendo à sua frente uma terra

praticamente despida de recursos naturais, logicamente com um solo

de grande riqueza em recursos agropecuários.

Mas mesmo assim, eram terras brutas, que com certeza

teriam muito trabalho para deixá-la igual à terra dos sonhos. E no

decorrer de sua árdua batalha diária, em tornar a terra produtiva,

surgem caboclos revoltados, dizendo que aquela propriedade era sua

e a queriam de volta, e que se fosse preciso iriam até as últimas

conseqüências.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 5

Caros leitores, com quem os emigrantes iriam reclamar? O

grupo Farquhar já estava construindo a ferrovia Madeira Mamoré no

Amazonas, tiram e levam centenas de cargas de madeiras nobres em

navios para o continente europeu e americano e que os seus legítimos

proprietários se contentem com o osso que lhes deixaram. Iriam

reclamar com o poder republicano na época? Sendo que os

parlamentares e políticos provincianos estavam mais preocupados em

gastarem a sua fortuna com a alta sociedade parisiense, com o status

de novos milionários. Reclamar com o Presidente da Republica na

época? O mesmo estava mais preocupado em saber qual cobra seria a

que lhe morderia primeiro, porque as tentativas de golpes de estado

eram uma constante.

O presidente tinha uma nação falida em suas mãos, mesmo

assim a concorrência era enorme. Como se não bastassem os

parlamentares boicota o seu governo, ainda um conjunto de

empresários brasileiros, europeus e americanos patrocinaram

revoluções centralizadas, visando desestabilizar o atual governo.

Isso sem contar com a rivalidade entre os marechais e

almirantes nas forças armadas brasileira. Naquela época o nosso país

enfrentava um verdadeiro caos interno, transformando-se numa “torre

de babel” e tendo em seu poder uma grande “caixa de pandora”.

O contrato do governo republicano com o grupo Farquhar

consta que, o contratante forneceria toda mão-de-obra bruta na

construção da ferrovia e para o desmatamento, nos estados de São

Paulo até o Rio Grande do Sul.

Os cargos administrativos ficariam com os empresários

americanos, além de pagar vinte e após quarenta contos de réis,

cedendo o direito de explorar o transporte na linha férrea por vinte

anos, tendo exclusividade e direito na renovação do contrato.

Como no Brasil existia pouca mão-de-obra bruta, devida ser

tarefa dos escravos libertos e o governo não querer que essa bomba

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O Contexto do Contestado

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explodisse em suas mãos, pois os escravos libertos não eram

confiáveis para a realização do serviço.

A opção que lhe restou, foi fechar um acordo com marginais

da sociedade de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e os

jagunços de Conselheiro na guerra de Canudos, garantindo-lhes que

seriam postos em liberdade se cumprissem a sua parte.

Mas ao final da ferrovia, deixam um terço jogado a sua

própria sorte e na completa miséria num sertão desconhecido,

enquanto os parlamentares, republicanos e o grupo Farquhar saem

transportando muitos baús abarrotados de ouro.

A opção que restou a esses miseráveis, excluídos da

sociedade foi adaptar-se nessa terra estranha, trabalhar para os

emigrantes europeus ou servir de jagunços a algum coronel. Aos

demais, restou ir para a terra que vertia leite e mel, melhor dizendo, o

Arraial de Bom Jesus do Taquaruçú.

Um dos principais pivôs no conflito do século foi o coronel

Albuquerque - intendente da vila de Curitibanos. O coronel era um

forte comerciante e dono de terras, possuindo uma fortuna bastante

considerável. Era um homem que tinha ambição pelo poder

provinciano e também um temperamento violento, se fosse

contrariado. Era portador de uma mania obsessiva em perseguição

política, julgando que os seus adversários políticos queriam lhe tomar

o poder. E para complicar mais a situação o coronel era presidente da

câmara dos deputados, vice-governador e compadre do coronel

Felippe Schimidt. Se o coronel fosse pelo menos um pouco inteligente

e se estivesse preocupado com a miséria social da vila, com toda

certeza não teria acontecido o conflito no contestado.

Os coronéis Felippe Schimidt e Vidal Ramos, governadores

de Santa Catarina, também tiveram uma expressiva participação nos

assassinatos dos errantes do século, por terem enviado tropas de

soldados estaduais para exterminar, a até então fanática irmandade

pacífica. Outro ponto crucial foi à cobrança tributária, que gerou mais

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O Contexto do Contestado

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revolta entre os pequenos fazendeiros e comerciantes, ocasionados

pelo desleixo de ambos os governos na demarcação de limites entre

os dois estados sulistas. À frente dessa ociosidade dos governos

paranaense e catarinense, acaba se transformado numa terra de

ninguém, onde os pequenos fazendeiros e comerciantes teriam de

pagar os seus impostos duas vezes.

Outros governantes que acenderam o estopim da revolta

foram os Dr. Afonso Alves de Camargo e Carlos Cavalcânti do

Paraná, que também ficaram ociosos com a demarcação de limites

entre os estados, devido não cobrar dos parlamentares e do presidente

da república uma solução definitiva para o problema.

E para alterar mais o fato conflituoso, Dr. Afonso prestava

serviços de assistência jurídica ao grupo Farquhar, causa principal na

revolta dos caboclos no contestado. O governador Afonso trabalhava

pelos seus próprios interesses e particulares, ficando ocioso com a

crescente miséria social no sertão, empurrando os sertanejos

excluídos da sociedade corrupta e capitalista, a uma guerra impossível

de vencer. Em suas visões, nem que para isso os cordeiros levassem o

caso até as últimas conseqüências, foi o que de fato aconteceu, a

guerra do século.

A onipresença da Igreja Católica Apostólica Romana nos

sertões da área contestada foi outro motivo muito marcante que

agravou o conflito. O santo, Frei Rogério, fez com toda certeza, a sua

parte como apóstolo de Cristo, mas uma simples andorinha sozinha

não faz verão diante da imensidão do sertão catarinense. Levaria

vários anos para o santo padre visitar os mais distantes vilarejos e o

povo ficaria exposto e à mercê de diversas superstições e de mitos

espirituais, que dominavam a crendice popular do humilde caboclo.

Como toda a população do contestado encontrava-se

esquecida pela Igreja Católica, há muito tempo, se entregam às

crendices populares diante de sua fragilidade espiritual. Nesse

momento entram os benzedores e curandeiros, principia com o monge

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O Contexto do Contestado

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João Maria D’Agostin que peregrinou seis anos após a Revolução

Farroupilha, entre os anos de 1851 a 1856. O monge era uma pessoa

muito inteligente, receitava poções e chás naturais, aconselhava o

humilde sertanejo e também fazia previsões. O santo monge segundos

os depoimentos na época foi em direção à Sorocaba no estado de São

Paulo, após nada mais consta de concreto.

Devido ao abandono da região do rio Iguaçu até os campos

de Palmas, o ditador paraguaio Francisco Solano Lópes decide

invadir e tomar o território em Novembro de 1864, visando

presentear uma cortesã alemã que conheceu em Paris, inclusive

possuir um eixo de ligação com o Oceano Atlântico, facilitando o

comércio da nação emergente.

O conflito se estende até Novembro de 1870, com a morte

de Solano Lópes. Vários oficiais do alto comando, anos mais tarde

viriam a proclamar a república no Brasil. Evitando novas invasões

estrangeiras, povoam a região com emigrantes europeus,

simpatizantes e familiares de políticos, inclusive centenas de oficiais e

soldados que participaram na Guerra do Paraguai. Outro fato

importante, nesse conflito foi os milhares de escravos negros, com a

promessa de ganhar a sua liberdade.

Nos anos de 1893 a 1895, acontece a Revolução Federalista,

nascida no Rio Grande do Sul, tendo como objetivo de derrubar o

marechal Floriano Peixoto da presidência da república, também que

destituísse do cargo o presidente do estado Júlio de Castilhos,

concedendo-lhes o sagrado direito político e financeiro na província,

além de estar aliado ao saudosismo Monárquico.

Aparece na área contestada o monge de nome Atanás

Marcaff, muito idêntico ao monge João Maria, o qual os sertanejos

acreditavam ser o mesmo santo. O monge Atanás também era muito

inteligente, benzia, receitava poções e chás naturais, aconselhava e

fazia muitas previsões aos sertanejos. Os mais sépticos que não

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O Contexto do Contestado

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acreditavam ser o monge João Maria, julgavam que era a encarnação

do santo profeta.

Aproveitando as peregrinações dos monges: João Maria

D’Agostin e Atanás Marcaff, ou João Maria de Jesus na área do

conflito, inesperadamente surge Miguel Lucena Boaventura, vulgo

José Maria, intitulando-se irmão do santo profeta, mas na realidade

era um benzedor místico vindo da vila de Campos Novos. José Maria

era mais um visionário e fanático com as idéias monarquistas e

revolucionárias, tinha um pouco de instrução intelectual, sabia usar as

palavras ao que lhe convinha, conforme os seus revolucionários

pensamentos. Sendo assim, incentivou o coração doentio e místico

que os desesperançados sertanejos tinham, desencadeando a guerra

do contestado. O José Maria foi um mal necessário no instante e que

marcou o tempo de um povo esquecido pela Igreja e pelo poder

republicano.

A notícia da construção da ferrovia percorreu os quatros

cantos do país, sendo um colírio para os olhos de grileiros de terra e

coronéis inescrupulosos. Como se não bastassem às ameaças intimida

tórias de pistoleiros do grupo Farquhar, surgem diversos grileiros

patrocinados por inúmeros coronéis, que os ameaçavam de morte se

não deixassem as suas propriedades. E após, vendiam a um preço

insignificante ao grupo Farquhar, com isso aumentando a tensão no

contestado.

A miséria social na área contestada levava a população

menos favorecida a um mar de sacrifícios diários, assim como todos

os matutos caboclos do sertão. Muitos perderam a posse de terras, e

ainda os republicanos queriam tirar também a sua dignidade, como ser

humano. Pois na longa história do Brasil, todos os seus governantes

olhavam sempre as suas ambições e gula pelo poder, e naquela época

não iria ser diferente da atual.

Certos estavam os ditados populares antigos: “Todos os

políticos são cegos porque nunca vêem as necessidades e os anseios

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da nação” ou “Todo político não tem cérebro porque depois de eleito

esquecem as propostas de campanha e quem os elegeu”. O sertanejo

não tinha nenhuma perspectiva melhor de vida, porque os

governantes não lhes davam essa opção, tendo somente a escolha em

sobreviverem as suas vidas miseráveis no presente que tinham à

frente.

Caros amigos, as causas da guerra do contestado foram

muitas, mas esse acontecimento histórico deixou inúmeras seqüelas

que até nos dias de hoje nos apavora, mediante tanta injustiça sofrida

por esse povo do sertão, com a sua humildade intelectual, sua

simplicidade de vida que não continha quase nenhuma ambição. A

meu ver, meus amigos, os eternos causadores da guerra do

contestado montaram a mentira do século ao resto do país, forçando

os jagunços a lutar por seus direitos violentados, construindo uma

grande armadilha para eles em seus mínimos detalhes, jogando-os na

descrença popular por mais de noventa anos.

Meus amigos, para que vocês tenham uma explícita idéia dos

fatos, a imprensa dos Estados Unidos e os países da Europa deram

muitas manchetes em seus jornais, como uma injustiça imperdoável ao

que se estava fazendo com o povo humilde do sertão. Eram políticos

corruptos e empresários desumanos que jogavam na lama o

verdadeiro sentimento humano. Uns poucos historiadores são

merecedores de créditos, se esforçaram ao máximo para reverter à

situação, e hoje o Brasil e todo o mundo conhecem a história que

anteriormente era: “Os errantes do século” e agora conhecida como:

“Os injustiçados do século”.

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O Contexto do Contestado

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A Paisagem

Encravada em zona temperada

Numa área mais fria do país

Às vezes com muita geada

Lugar de um povo contente e feliz.

É nessa amada terra

Com muita plantação

Que vimos planaltos e serras

E todo tipo de criação.

Aqui aparecem os serras acima

Identificando seus habitantes

Que vivem o seu gostoso clima

Em afazeres diários e constantes.

Dando o visual a paisagem

Vê-se de tudo nessa região

Campos limpos, sujos e pastagem

Pinheiros, imbuías e muita vegetação.

Foi nesse rico terreno

Hoje quase todo devastado

Vendidos pelo antigo governo

Que se deu o contestado.

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O Contexto do Contestado

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Povoamento

Nesta terra do índio Brasileiro

Kaigang, Xocleng e até Guarani

Conquistado pelo estrangeiro

Como terra de ninguém, chegam aqui.

Vinha gente de todo lado

Portugueses, espanhóis e bandeirantes

Não só para achar caminho para o gado

Mas também, escravizar o índio errante.

E neste vai e vem, o gado levando

Vão aparecendo grandes pousadas

As vilas vão se formando

Nestas incansáveis caminhadas.

Nestes ranchos e tropeiros

Caminhavam todos os anos

Os incontáveis aventureiros

De onde surgiu Curitibanos.

Nesta grande caminhada

Que começa e nunca acaba

Segue a enorme manada

Para as feiras de Sorocaba.

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O Contexto do Contestado

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O Homem do Contestado

Quando procuramos a origem

Do homem do contestado

Embrenhado em mata virgem

O Caboclo é encontrado.

Proletário do campo, roça e sertão

Lá estava o Sertanejo, Caipira acanhado

Lento ao pensar e falar, afeito em superstição

Corajoso, instintivo e violento, leal e honrado.

O rosto queimado, pele pardacenta e trabalhador

Não enjeitava empreitada, era caçador e mateiro

Criador, peão, agregado, soldado e até lenhador

Amava sua família, vivia sempre faceiro.

Um bom trago de cachaça e um cigarro de palha

Gostava de exibir-se e mostrar sua valentia

Na cintura um bom revolver, faca e até navalha

Contar mentiras em suas façanhas, bem que ele sabia.

Morava num rancho tosco, sujo e enegrecido

Coberto com taboinhas e sem nenhuma divisão

Por tudo o que lhe fazia, ficava logo agradecido

Era hospitaleiro, nunca faltava café e chimarrão.

Amante de música campeira dançava chote e vanerão

Místico e religioso, eterno devoto de João Maria

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O Contexto do Contestado

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Na capelinha guardava a imagem do Santo para proteção

Este é o Caboclo que em nosso sertão vivia.

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O Contexto do Contestado

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Os Monges

Em seus ensinamentos

Os Monges pregavam

Dar bom tratamento

A todos que ali chegavam.

Sempre com muita pureza

Tratar bem o próximo e animais

Ter muito amor á natureza

Para ela ser farta demais.

Cultivar a terra com carinho

Preservar a pureza das águas

Para matar a sede no caminho

Evitando dores e futuras mágoas.

A doutrina era moralista

Pregada ao povo do sertão

Evitar todo mal, fantasma ou realista

Que prejudicava o coração.

Com grande simplicidade

Em muitas caminhadas que fizeram

Enchiam-se de felicidade

A todos que com ele tiveram.

Todos os que os seguiam

Pediam curas e bênçãos

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 16

Pois assim eles pretendiam

Voltar para casa curados e sãos.

Vários Monges apareceram

Cá pra banda do sertão

Todos eles padeceram

Com o povo deste rincão.

O primeiro João Maria

Profeta e curandeiro

Nos lugares onde dormia

O povo erguia um cruzeiro.

O segundo João Maria

Profeta e milagroso

Nos lugares onde dormia

O povo erguia um cruzeiro.

Outro era José Maria

Que pregava liberdade

Curava todos com sua magia

Propagava sempre a igualdade.

Para entender a história

Do santo monge José Maria

É bom refrescar a memória

A rebeldia que dele surgia.

Fotografias do Monge faziam

Não importa os donos

Pois nem fotógrafos existiam

Em toda a região de Curitibanos.

Page 17: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 17

É muito impressionante dizer que Monge José Maria

Foi soldado do exercito e até praça da policia

No entanto ninguém provava nada aquilo que dizia

Tentando desmoralizá-lo pondo em tudo malícia.

O governo não sabendo como explicar

O descaso sofrido pelo povo deste sertão

Tenta impingir falsa moralidade até no falar

Do Monge que só agia sem ódio no coração.

Assim os Coronéis tinham motivo de sobra

No desempenho desta grande disputa

Ter o governo compromisso prá cumprir a manobra

Em afastar de suas terras, Sertanejos em luta.

Tudo não passava de trama

Para continuar no poder

Justificando assim a fama

De nunca lutar pra perder.

Mesmo o povo estando longe

Sem escola e nem hospital

Buscava o santo Monge

A cura para o seu mal.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 18

Os Monges Segundo os Sertanejos

Vejam só o que cantavam

Os trovadores em seus versos

Assim eles contavam

Não existia Monges perversos.

Maraviá queli feiz

Inda tão pra si contá

Inscrevi eim deiz livru

Memo sim, não caberá.

Eli é um santu cá Du campu

Mio padinho São Juão Maria

Faiz cura, faiz reza

Cum palavrá qui lumiá.

Beim pur oje só cantemú

Eim lovô a Juão Maria

Eli é um santu cá di fiesta

Padruerô da famía.

Veio u mundu Juão Maria

Caminhô nossu sirtão

Judá nóis na vida

I fazendu a devução

Insinô nóis tê rispeitu

I zelá da criaçãou.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 19

Baitá migo, pai i sinhô

Juão Maria iera siu nomi

Ieli andavá nesti mundu

Iensinava todus sier homê.

Pisava nossu carrero

Só faziá quiera bão

Iera santu, bão veínho

Tinhá bastanti curaçãou.

Pur sumbrero, só carrigava

Um simpre barretinhu

Ié qui tudá sua furtuná

Iera um simpre bastãozinhu.

Juão Maria cuandu campava

Du fuguinhu qui cindia

U povu qui rudiáva

Tuda cinza recoíá.

Eli tê bunitu nomi

Qui si chamá Zé Maria

Tudu mundu tá piensandu.

Traiz pur nomi Zé Maria

Primu irmão di Juão Maria

Chega genti, vorta genti

Duma grandi romariá.

Lá vêim eli maxandinhú

Num cavalu sanhaçú

Sua andança é mudá

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 20

Pru lugá tuaquarucú.

Carecemú é di chéfi

Qui sirá Zé Maria

Eli tudu ciertará

Não demorá bastanti dia.

Beim purissu, titicá quieru, titicá ispéru

Vô mimbora, vô cumpri a miá sina

Procurá otras terá qui tão livri

À lonjura cá di Santa Catarina.

Zé Maria não era tolú

Era homê já di calu

Tê u pelu xamuscadu

Não fací imbascá-lú

Tumô rumu pra vitá-lú.

Page 21: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 21

Os Monges na Visão dos Coronéis

Agora leia esses versos

Encomendados pelos Coronéis

Para contar outra história

E mostrar que eram perversos

Os Monges que aqui tiveram.

Somente assim justificavam

As próprias safadezas

Comprados, os capangas cantavam

Os seus versos, sem grandezas.

Foi assim que descreveram

Com mentiras descabidas

A vida que aqui tiveram

Os Monges em suas lidas.

O primeiro era o cacique

O grande São João Maria

Saia de qualquer lugar

Lá noutro lugar

Quando juntava gente

O povo fanatizando

De crenças ele enchia.

O Monge era um finório

Um homem de muitos tatus

A fama que aqui deixou

Page 22: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 22

Se soma de muitos fatos

Por isso é considerado

Um santo, por esses matos.

Mas em vez outro aparece

O senhor José Maria

Espalhando que era irmão

Do profeta João Maria

O povo saiu correndo

Como vaca atrás da cria.

Entocou-se em Taquaruçú

Logo fez um fanatismo

Ele, três virgens e dezenas de famílias

Fundam um comunismo

Que daí, foi o começo

Do famoso Jaguncismo.

Muito logo encrespou

Nossa grande autoridade

Já saiu reunindo forças

Acampando na cidade

Intendente Albuquerque

Era contra a irmandade.

Para voltar a monarquia

Era mais o que berravam!

Nossas leis republicanas

Era o que mais desprezavam

O governo e os funcionários

Era quem eles odiavam.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 23

Era um mundo de forasteiro

Estão aqui já acampado

Albuquerque o intendente

Diz que esta preocupado.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 24

Monge José Maria

José Maria quem diria

Passa a ser vitima

Da última, mas cruel

Tirania do coronel.

O famoso intendente

Pensando ser prudente

Telegrafa ao Presidente

Dizendo ter vindo de longe

Um tal de santo monge

Que andava pelas cercanias

Chamado José Maria.

Dizendo ser farsante

Um viajante errante

Monge aventureiro

Que neste chão brasileiro

Prega a todos monarquia

E com certeza sempre dizia.

É preciso eliminar

O seu poder no sertão

Pois passa a dominar

Reunir grande multidão.

O monge que prega a paz

Chama o povo e lhe diz

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 25

Que fugindo também se faz

Um povo viver feliz.

Assim manda comparsa

Confabular com o monge

Pedindo que se desfaça

O ajuntamento e vá pra longe.

Evitando uma guerra

Irá pra outro lugar

Aonde todos tenham terra

Sem ser preciso lutar.

Assim o grande profeta

Parte logo dali

Acompanhado, se projeta

Pros campos de Irani.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 26

A Fuga

Pelos sertões desta terra

Onde todos se abrigavam

Existiam negociatas

Subindo e descendo a serra.

Os governos só queriam

Repartir os seus quinhões

Não importando o resultado

Do conflito já esboçado

Com as balas dos canhões.

De repente: o entrevero

Pra banda do interior

O intendente só queria

Por fim ao seu desespero

Mandando o povo partir

Lá pros lados de Irani.

O Monge que tudo sabia

Curava e até benzia

Dizia ao povo temente

Que seria lugar tenente

No combate inconseqüente

Que logo ali chegaria.

Lá foram os mais valentes

Fugindo do intendente

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 27

Na certeza de encontrar

Um lugar santo pra ficar.

Mas de repente

Um mensageiro traz noticia

Da chegada tão urgente

Do batalhão de policia

Pra guerra começar.

Em campos de Irani

O entrevero aconteceu

O Paraná que vinha prender

Os caboclos acampados

Acabou por conhecer

a morte de seus soldados.

Depois da luta acabada

Partiram em retirada

Levando seu chefe e guia

Enquanto caboclos choravam

A morte de José Maria.

Page 28: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 28

Causas da Guerra

Vamos enumerar as causas desta guerra

Fixação de limites interestaduais

Acirrada disputa pela posse de terra

E exploração de riquezas naturais.

Por causo disso todos se apresentaram

Peões, lavradores, posseiros, fazendeiros

Por um pedaço de terra eles lutaram

Parecendo um bando de aventureiros.

Não esquecendo o messianismo

Que resultou de diversas razões

Assim nascia no sertão o fanatismo

Que se espalhou por todos os rincões.

É muito interessante se pensar

Que o caboclo no sertão vivia...

Vivia em paz sempre a cantar

Enquanto a tropa atrás dele corria.

Não se pode entender o fato

Dizer que houve guerra de caboclos

Os soldados enfiados no mato

Enfrentando um bando de loucos.

Vejam a grande e tremenda covardia

Os caboclos lutam com canivetes e espadas de pau

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 29

O exército com aviões, canhões e artilharia

Mas mesmo assim, o exército várias vezes se deu mal.

Page 30: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

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A Guerra Santa

Nesta guerra santa

Predita pelo Monge e profeta

A fé, então era tanta

O povo a guerra decreta.

No sertão corria boatos

Da volta de João Maria

E o povo todo dizia:

É bom aguardar os fatos.

Ergueu-se em Taquaruçú

A grande cidade santa

De um povo seminu

Apesar da fome, ainda canta.

No final da grande contenda

Os fanáticos se espalharam

Levando junto com sua tenda

Amigos e parentes que restaram.

Já em terras Catarinenses

Cresce a crença na ressurreição

E todos se preparam

Esperando uma nova visão.

E lá em Perdizes grandes

Todos rezavam ao padroeiro

Page 31: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 31

Que traga o exército encantado

E seja deles o santo guerreiro.

Foi logo se formando

A grande confraria

E o povo sempre rezando

pela volta de José Maria.

Durante todas as tardes

Formam-se os quadros santos

Onde todos unidos

Em rezas e muitos cantos

Gritavam com grande zumbidos

Viva! Viva a monarquia!

E também o santo José Maria.

Mas neste sertão agitado

Praxedes - o delator

Traindo o povo coitado

Vai correndo ao intendente

E pede que seja telegrafado

Prá o senhor governador.

Não satisfeito se empenha

Em levar Frei Rogério

Pede que este venha

Desfazer o grande mistério.

Mas o povo cada vez mais crente

Não desiste do seu intento

E por esta razão muito gente

Adere ao movimento.

Page 32: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 32

Fracassou o missionário

Que tentou dissuadir o povo

Do seu costume diário

Desrespeitando o emissário

Manoel, o chefe novo

Considerando-o adversário

Chamou-o de cachorro e corvo.

Não entendendo aquela história

O Frei pergunta angustiado:

Euzébio por que estás aqui?

Por São Sebastião, o rei da glória.

Após a partida do Frei

Avisos chegam a cidade santa

Dizendo que tropas legais

Vinham impor nova lei

Onde todos seriam iguais.

Diante do fato contado

Manoel faz previsão:

O Monge com exército encantado

Vem salvar os sertanejos

E cumprir sua missão.

Estavam todos preparados

Esperando para começar

O entrevero anunciado

Entre eles e os soldados

E vitória então cantar.

Page 33: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 33

Mas em véspera da guerra

Manoel com naturalidade

Como chefe e senhor da terra

Achando não ser maldade

Queria com as virgens dormir.

Diante da imoralidade

Levou uma surra de vara

Perdendo a santidade

E com vergonha na cara

Tratou de logo sumir.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 34

Maria Rosa

A jovem Maria Rosa

Era alegre e independente

Não sabendo ler, era prosa

Nos momentos importantes

Estava sempre à frente.

Gostava de animais

Dominava toda a gente

Nas procissões matinais

Ia com a bandeira importante.

Levando a grande bandeira

Guiava o povo temente

Nas lutas pela clareira

Pra a vitória daquela gente.

Como chefe e visionária

Comandava o povo guerreiro

Dando ordem diária

Com ajuda de conselheiros.

Como juíza do povo

Ordenava o que fazer

Se chegasse algum caminho

Tinha que ficar ou desaparecer.

Fêmea do divino

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O Contexto do Contestado

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Pecado do homem

Fé em desatino

Prova o que se tem

A gula no destino.

Foste Afrodite

Heras do apocalipse

A quem acredite

Lançou seus olhos de lince

Lutando contra o injusto

Matando e morrendo a todo custo.

Foste à tentação no sertão

O pecado do divino

Dominava homens sem razão

Guerreiros e jagunço

Impondo no reduto

Leis e obediências

Caboclos matutos

Feras sem temências

Na guerra do século.

Page 36: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 36

A Santa Religião

Pra ser soldado de José Maria

Tinha que ser purificado

Dessa forma ele até podia

Pedir graças e ser perdoado.

Dentro do acampamento

Precisava ter nome de santo

Para escapar do tormento

Participava das rezas e do canto.

O respeito á família era prática usual

Quem desrespeitasse uma mulher

Onde os usos de rígida moral

Perderia a vida como a lei ali requer.

Quem a lei desobedecesse

Sofreria penalidade bem visível

Receberia logo que o chefe ordenasse

Sete varadas com vara flexível.

Todos os moradores de longe

Que contrários se faziam

As idéias pregadas pelo Monge

Suas propriedades perderiam.

Este era o tipo de religião

Que o sertanejo em sua rebeldia

Page 37: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 37

Seguia no recôndito sertão

Em nome do Monge José Maria.

A religião era muito simples

De grande e real beleza

Amar e entender a Deus

Por obra da natureza.

Esse era o ensinamento

Do Monge João Maria

um homem de bom conselho

E de grande sabedoria.

Porém a doutrina do Monge

Da guerra ficou ausente

Olho furava olho

Dente arrancava dente.

A doutrina de João Maria

Foi posta logo de lado

Na guerra não há perdão

E nada é tolerado

Não serve pra guerreiro

E menos pra soldado.

Page 38: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 38

Festejos de Tradição

Fiéis a sua tradição

Todavia aconteciam os festejos

Onde felizes e sem coração

Vibravam os sertanejos.

De festas mais caseiras

Estava a de Santo Antônio

Onde as moças casamenteiras

Buscavam o matrimônio.

E como se não bastasse

As fogueiras de São João

Para que melhor ficasse

Não faltava música e quentão.

A do divino era a mais empolgante

Onde se elegia o novo imperador

Fato para festa muito importante

Ter mo próximo ano continuar.

Em roda de prosa, versos e trovas

São Pedro e São Paulo também relembram

Todos se punham á prova

Subir no pau de sebo e prêmios ganhar.

Não esquecendo o santo guerreiro

Sendo por todos o mais venerado

Page 39: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 39

São Sebastião, um caboclo padroeiro

Em toda a campanha do contestado.

Page 40: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 40

O Intendente do Holocausto

Aumentando a fé na ressurreição

E do monge José Maria

Em Curitibanos decrescia

A fama do intendente

Pois enquanto a noite caia

Foi pego nas cercanias

Com a mulher de um comerciante.

Levando um tiro do caixeiro

O intendente correu

Apesar de não ser certeiro

O político estremeceu

E na vila então ficou

Jurando ser mentira

O fato que aconteceu.

Assim o Coronel

Desmentindo o seu papel

De amante enternecido

Além de novo adversário

O intendente atrevido

Voltou-se contra o vigário

Para ver-se bem sucedido.

Coronel do holocausto

Destruiu e matou a paz

Levando caboclos a guerra

Page 41: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 41

Como folhas ao vento

Nada mais trás

Apaga a mancha na terra

E revive os errantes do século.

Coronel incoerente

Ser sem consciência

Faz o mal sem tenência

O rosto da morte

Retrato do inferno

De tudo o que sente

Raiz do eterno.

Page 42: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 42

Ataque a Taquaruçú

Pra atacar Taquaruçú

Vários planos esboçados

Atacariam do norte e do sul

Os sertanejos por todos os lados.

Mas os caboclos bem armados

Na mata escondidos

Esperavam os soldados

Pra serem bem sucedidos.

Matutos saiam de todo lado

Copa de árvores, fundo da mata

Dentro do banhado

Gritavam como fera

E sem muito entrevero

Os soldados em desespero

Fogem em grande alarido

E outra vez...

O reduto não foi invadido.

Sendo atacado novamente

Por tropas do coronel Dinarte

Que por dias manteve o bombardeio

Destruindo casas, velhos, mulheres e crianças

Fogo igual ao demônio

Pondo em fuga os jagunços

Indo pra outro reduto

Page 43: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 43

Gritam os vitoriosos

Lamentam os derrotados

Porque caiu o Taquaruçú.

Page 44: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 44

Incêndio de Curitibanos

Em 26 de setembro

Um grupo de bandoleiro

Viajando o dia inteiro

Da vila se aproximou.

As vésperas do ataque final

Da vila todos fugiram

Uns foram pra Blumenau

Outros em Lages surgiram.

Apenas o delegado

A vila defendia

Porém sendo cercado

As pressas também fugia.

A vila quase vazia

Foi pelos Jagunços tomada

Dando viva a monarquia

Iniciaram a grande queimada.

Destruíram a intendência

E a casa do Coronel

Sem nenhuma resistência

Queimaram vendas e papel.

Depois da grande queimada

Os Jagunços abandonaram

Page 45: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 45

A vila sobressaltada

Levando tudo que puderam.

A felicidade era tanta

Que partiram em disparada

Vingaram a cidade santa

Pela intendência arrasada.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 46

Reduto Santa Maria

Por ordem de Adeodato

Mudou-se o acampamento

Porém ele com pouco tato

Deu novo rumo ao movimento.

Neste novo reduto

Com paz e calmaria

Ficaria o matuto

No lugar de santa Maria.

Neste lugar sagrado

Veio gente de toda terra

Pra o acampamento armado

Nas íngremes ladeiras da serra.

Naquele vale famoso

Um povoado surgiu

Guiado por chefe ardiloso

Sua lei a risca seguiu.

No meio deste sertão

Levantou-se grande cruzeiro

E a igreja de São Sebastião

Seu santo guerreiro.

No meio do ajuntamento

Apareceu muita doença

Page 47: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 47

Dizimando o acampamento

Provocando grande matança.

Page 48: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 48

Combate de Caraguatá

Após a grande vitória

Houve muita euforia

Todos contavam história

Das lutas naquele dia.

Com a confiança no reduto

E o sertanejo radiante

Começa a cobrar tributo

Até do fazendeiro mais distante.

Fazendas são assaltadas

Muita gente assustada

Fazendeiros maltratados

Ou simplesmente fuzilados.

O pânico enche toda região

Famílias fogem pra cercanias

Havia muita inquietação

Nas serras, campos e pradarias.

De repente a noticia

Uma mudança repentina

Novo ataque da policia

Mudaria aquela sina.

A virgem Maria Rosa

Puxava a procissão

Page 49: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 49

Ela sempre garbosa

Indicava a direção.

Em busca de paz e harmonia

O sertanejo caminhava

De noite e também de dia

Parecendo que nunca chegava.

Em fila sempre andavam

Velhos, jovens e crianças

Enquanto isso cantavam

Renovando as esperanças.

Sempre tocando cargueiro

Lá se foi o sertanejo

Num cortejo faceiro

Pra o esperado lugarejo.

As ordens dadas eram francas

Formar uma nova cidade

Por banda de Pedras Brancas

Um lugar de felicidade.

Nova vila se percebe

Entre colinas e matagal

De palha cada casebre

Tendo uma praça central.

Page 50: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 50

A Rendição

A frente de tanta penúria

Faltando alimentos e munição

Sobrando sofrimentos e angustia

E começa haver a rendição.

De Campos Novos ao Serrito

Os fanáticos caminhavam

De todos ouviam-se os gritos:

Que os Jagunços se entregavam.

Apesar da debanda

Entregando-se ao Setembrino

Toda gente era tratada

Com descaso e sem destino.

Alguns eram libertos

Outros aprisionados

Muitos não se sabe o certo

Eram na mata assassinados.

Page 51: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 51

Reduto Rio das Antas

Reduto Rio das Antas

Lindo lugarejo

As terras eram tantas

Nas mãos do sertanejo.

Com a vinda do estrangeiro

Do lugar colônia fizeram

Expulsaram o fazendeiro

Antigos donos que eram.

O caboclo expolido

Pelo Americano malvado

De sua terra foi enxotado

Como se fosse um cão danado.

Porém um belo dia

Incomodado estava

O caboclo então queria

A terra que habitava.

Avisados os novos colonos

Pra sua terra abandonar

Pois os seus antigos donos

Nelas voltariam habitar.

Conseguindo resistir

Ao ataque do piquete

Page 52: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 52

Fazendo-os fugir

Perdendo muita gente.

Assim o estrangeiro

Animado pela vingança

Tira do pobre posseiro

A sua última esperança.

Armando uma fogueira

Queimaram sobre grimpa

Os corpos em fileira

Como se fosse uma limpa.

Page 53: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 53

Os Assaltos

Curitibanos

Incendiada

Salseiro

Ocupada.

Iracema

Tomada

Como se fosse um poema

Também Moema

Foi saqueada.

O pessoal do Aleixo

Ocupou o Salseiro

Sem apetrecho

Correndo risco

Assaltou Corisco.

A ordem dada era invadir

A fazenda do seu João

Não deixar nada e nem discutir

Matar a todos sem perdão.

Arrebanhar a bicharada

Queimar a casa e o galpão

Não deixar rastos e nem nada

Levar tudo para o sertão.

Page 54: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 54

Ouve-se gritos por todo lado

Começa o ataque na escuridão

Agindo de modo desordenado

Mataram todos a fio de facão.

Page 55: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 55

Reduto de Timbózinho

No vale de Timbózinho

Vivia o caboclo sozinho

Defendendo os seus ervais

Dos Coronéis, seus rivais.

Desta forma aparece

Novo reduto no sertão

E logo fazem prece

Em São Sebastião.

No reduto de São Sebastião

Faziam formas e se agrupavam

Menina, moço e ancião

Deste modo todos rezavam

Pedindo benção e proteção.

Os governos dos estados

Não sabendo o que fazer

Ficavam todos parados

Vendo os fatos acontecer.

Nesta grande disputa

O governo paranaense

Acirra a sua luta

Pela terra catarinense.

Page 56: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 56

A Vila de Canoinhas

Parte de Canoinhas o comandante Ribeiro

Com a tropa bem preparada

Pra tomar a guarda de Salseiro

Assaltando de repente a Jagunçada.

Finalmente vitoriosa a tropa adormeceu

Os Jagunços resistiram na guarda dos Freitas

Com linha telefônica a tropa guarneceu

Mas a sorte e certeza de todos foram desfeitas.

As linhas foram cortadas

A base da coluna ameaçada

Desavenças nas tropas eram notadas

Pois sabiam que a sorte estava selada.

Os matutos agora invadem

Canoinhas e vizinhança

Os soldados os repelem

Evitando a grande vingança.

Os Jagunços atacam acampamento

Com os soldados em desespero

A confusão se torna tormento

De todos no entrevero.

A tropa em retirada

Pelo reduto vão passando

Page 57: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 57

Recolhendo a cacalhada

Que os Jagunços foram deixando.

Canoinhas é atacada

Por Jagunços furiosos

Muita gente ficou apavorada

Dá-se lugar aos vitoriosos.

Os defensores apressados

No local abandonam tudo

Os fanáticos muito animados

Deixam ferido o Papudo.

Page 58: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 58

A Serraria Lumber

Pra trabalhar na ferrovia

Trouxeram gente de todo lugar

O Percival a todos oferecia

muita riqueza e terra para morar.

De São Paulo veio muita gente

Minas Gerais, norte e nordeste

E até do Rio de janeiro

Pra colocar todo o dormente

Passavam o dia inteiro.

Depois da arrumação

Começa os trilhos assentar

Rasgando o grande sertão

E o caboclo não tendo onde morar.

Mas a Lumber, além da linha

Começou a mata virgem devastar

Por contrato que então tinha

Os pinhais começou a serrar.

Não satisfeitos com a devastação

Percival promete colonizar

As terras do grande sertão

Pra estrangeiros de além mar.

Como se isso não bastasse

Page 59: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 59

Percival o caboclo expulsou

Pra que ali montasse

Uma serraria em terras que ganhou.

Por isso vejam as conseqüências

De cada ato ali praticado

E por não terem consciência

Provocaram o caboclo do contestado.

Page 60: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 60

Chacina do Iguaçu

Os piquetes de vaqueanos

Do coronel Setembrino

Procuraram impedir

Permitir...

Que munição e alimentos

E também armamentos

Chegassem ao seu destino.

Homens sem sorte

São aprisionados

E numa barca forte

São assassinados.

Mas Saturnino envergonhado

Chorando diz a Setembrino

Que foi um desalmado

No grande massacre

Feito naquele ataque

Nas margens do Iguaçu.

E assim contando

Parece uma mentira

Mas não foi uma ilusão

Por terem matado

Os matutos caipiras

E ainda ficaram sem punição.

Page 61: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 61

É fatos vergonhosos

Atos dramáticos

O tratamento de outrora

Que foi dado aos fanáticos

Na célebre degola

Do Rio Iguaçu.

Page 62: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

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Capitão Potyguara

Em União da Vitória

Estabeleceu um quartel general

Inicia-se outra história

A por fim todo mal.

O general Setembrino previa

Várias frentes atacar

O reduto de santa Maria

E todos os que na redondeza achar.

Em Canoinhas se organizou

Um grande destacamento

Potyguara se deslocou

Com todos os soldados armados.

Era chefe desapiedado e temerário

Pois todo Jagunço aprisionado

Seria tratado como adversário

Recebendo o castigo combinado.

No reduto de Caçador e Santa Maria

Potyguara e seus soldados

Pôs fogo em toda casaria

Fazendo presos e os mortos sepultados.

No reduto de Santa Maria

Potyguara foi entrincheirado

Page 63: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 63

Por inúmeros Jagunços com suas armarias

Deixando o general apavorado.

E saindo pela velha tapera

Soldados ajuda foram buscar

Depois de muita espera

A coluna sul começa chegar.

Agora fortalecidos

Potyguara e seus soldados

Criam coragem e ficam enfurecidos

Começam lutar por todos os lados.

Após a luta terminada

A noticia se espalha

Na vitória das forças armadas

Contra os fanáticos que restaram.

Assim exterminaram

Desta terra os rebeldes posseiros

E quase de graça distribuíram

A mesma ao estrangeiro.

Page 64: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 64

Coronel Adeodato

Após a morte de Francisco

Traidor do movimento

Surge além do Corisco

Outros chefes de acampamento.

Enquanto tudo se definia

Lá pra banda de São Francisco

Adeodato ainda resistia

Em chefiar os redutos.

Depois de haver consultado

Os amigos de outrora

E ainda ter sonhado

Que ele tocava agora.

Havendo uma revolta

No reduto de Caçador

Elias impõe derrota

Aos vacilantes com horror.

Francisco Alonso atrevido

Combatendo em Rio das Antas

Num entrevero indevido

Atracou-se em retrancas.

Sendo gravemente ferido

Pelos seus inimigos capturados

Page 65: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 65

Soltando grande gemido

Semi vivo foi queimado.

Cumprindo o que sonhou

Adeodato novo chefe foi aclamado

Com a revolta que se desencadeou

O reduto de Caçador é ensangüentado.

Dessa forma o acampamento

Que era antes fanatismo

Tornou-se um movimento

De puro e simples banditismo.

Adeodato assassinava

Até mesmo os companheiros

Assim ele dominava

O seu povo com entreveros.

Após de muito lutar

O exército exterminou

Com os Jagunços do lugar

Mas Adeodato escapou.

Depois de tanto fazer

Lá no mato se escondia

Já não tendo o que comer

Arrimo agora ele pedia.

Disfarçado de mendigo

Morto de fome e cansado

Nos Thibes pediu abrigo

Para não se sentir ameaçado.

Page 66: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 66

Já com comida na mesa

Foi por eles reconhecido

Sendo pego de surpresa

Desarmado e detido.

Entregue as autoridades

Que marcaram o seu destino

Condenado em várias cidades

Era o fim de um assassino.

Na prisão em pobre cela

Como célebre prisioneiro

Ludibriou a sentinela

E o pobre do carcereiro.

Só que o matuto Adeodato não sabia

Da ordem vinda da capital

Viver mais ele não merecia

Tinha de retornar a seu império infernal

Ser condenado por todo seu mal

Tormento que ele conhecia.

Para fugir da penitenciaria

Apossou-se de um fuzil descarregado

E numa armadilha caiu

Em sua fúria sanguinária

Pelo diretor foi alvejado

E do peito a sua vida saiu.

Levado para a enfermaria

Morreu esse sacripanta

Page 67: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 67

O homem que marcaria

O triste fim da guerra santa.

Dessa forma desapareceu

O grande e valente chefão

Mas muito cruel

Que a história descreveu

Como último Jagunço do sertão.

Page 68: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 68

Pânico Geral

Depois de Calmon atacada

E destruída São João

A noticia é espalhada

Do ataque na estação.

Geral é a confusão

Todos fogem a lamentar

Soldados saem da composição

Prontos para atacar.

Da mata saem os fanáticos

Trava-se um tiroteio

E como se fossem lunáticos

O trem se parte ao meio.

Matos Costa fica sozinho

Com um punhado de soldados

E no meio do caminho

Foram todos atacados.

O capitão fica ferido

Os soldados assassinados

Ouvindo-se grande gemido

Alguns fogem apavorados.

E no meio da confusão

A noticia então correu

Page 69: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 69

Da morte do capitão

Que a todos enterneceu.

Depois dessa matança

O pânico foi geral

A população em sua andança

Foram dormir no matagal.

Page 70: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 70

A Queima das Estações

Do reduto de Caçador

Parte homens bem armado

Com tom ameaçador

Para acabar com os safados.

Calmon foi atacada

No inicio de setembro

A Lumber incendiada

Disso eu bem me lembro.

Poupadas só mulheres e crianças

Arrasada toda a estação

Revistaram as vizinhanças

Depois partiram para São João.

Matavam todos que encontraram

Inclusive os conserveiros

Contra o governo protestaram

Exigindo terras para os brasileiros.

No trem da inspeção

A população procurou fugir

Com medo da invasão

Pois não tinha como resistir.

Page 71: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 71

Os Bombeiros

Na guerra do contestado

Para ter o fato certeiro

Escolhiam homem adestrado

Para servir como bombeiro.

Ele tinha que espionar

Os acampamentos inimigos

Pra depois entregar

Os planos aos seus amigos.

Passando por vendilhão

Em tudo prestava atenção

Pois como bom espião

Passava aos chefes as instruções.

Até o general Setembrino

Foi muitas vezes enganado

Não conhecendo seu tino

Teve seus planos roubados.

Assim o sertanejo

Em sua simplicidade

Ficava no lugarejo

Em plena liberdade.

Page 72: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 72

Os Doze Pares de França

Livro de cabeceira de José Maria

Os doze pares de França

O caminho era que sentia

Não importa a matança

Era o que o povo dizia.

Escolhiam os matutos valentes

Criaram uma tropa de elite

Que abriam frentes

A tiros, facões e sangue

Buscam a liberdade

Razão da verdade

Tornar uma realidade

A saudosa monarquia.

Em tempos difíceis

Roubavam para matar a fome do reduto

Soldados quase invencíveis

Diziam todo o exército

Continha sentimento de respeito

Mas nunca de medo

Porque aprenderam vencer a derrota

Lutar contra os valentes

Bravamente com unhas e dentes.

Quem diria que Carlos Magno

Faria um livro de revolução

Page 73: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 73

Levaria um povo em desatino

Guerrear contra uma nação

O império republicano

Trouxe a injustiça

Holocausto pleno

Uma eterna sentença.

Os valentes matuto

Se diziam guerreiros de São Sebastião

O exército encantado

Tendo Deus no coração

E foram os errantes do século

Drama de uma geração

Que pôs fogo no sertão

Buscando liberdade

A paz na realidade.

Page 74: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 74

As Visões de Euzébio

Os Jagunços a Taquaruçú voltam

Esperando a chegada de José Maria

Que desceria montado num cavalo branco

Trás o exército encantado no vento

Realizando o que desconhecia

Com guerreiros que retornam

Derrotar o dragão

Essa lei de cão

Que tiravam suas terras

Onde sua paz se enterra.

Constroem o reduto da morte

No centro uma cruz pra dar sorte

Terra onde as crianças nunca ficaria velho

E o velho nunca morria

Fazem orações de flagelos e autoflagelos

Impõe leis, cantam em versos

Que outra vez Deus nasceria

E a paz retornaria.

E novamente Euzébio se preparava

Lutar contra a república

Fazer valer seus direitos

A liberdade dos fanáticos

Guerra violenta

Contexto do contestado

Nação injusta

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 75

Pelo tempo em carne viva

Apocalipse do mundo.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 76

O Espião Henrique Wolland - Alemãozinho

No palácio da república

O ministro da guerra

Um espião é escolhido

Não podia ser brasileiro

Tinha de ser estrangeiro.

E na maior mentira do século

A escolha foi Alemãozinho

Que se infiltrou na Jagunçada

Que dominava a área contestada.

Logo de inicio recebeu confiança

Por não ter nenhuma temença

Foi cavaleiro dos pares de França

Depois promovido chefe de um reduto

Fez fama por sangue frio

Um sanguinário

Que vendeu a Jagunçada

E toda a luta contestada.

Soldado revolucionário

Viveu um risco temerário

Traiu gente simples do sertão

Mostrando todos os redutos

Henrique sem coração

Entregou pedaço de uma razão

Como beijo de Judas em Cristo

Page 77: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 77

Depois fugiu como corisco

Deixando sangue na terra

Ao final da guerra.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 78

Soldados do Século

Tudo começa por Euzébio

Era um fanático temerário

Elias foi chefe dos pares de França

Caboclo sem nenhuma temença

Benevenuto mulato baiano

Tinha temperamento violento

Fizeram história no contestado.

Também tinha Conrado Glober

Franco atirador de primeira

Religioso tendo um dever

Ajudar salvar a irmandade

Outro era Aleixo que é catarinense

Caboclo experiente e valente

Chico Alonso, Antônio Tavares

Irmãos Sampaio, Bonifácio papudo

Paulino Pereira, soldados do sertão

Fizeram a guerra do século.

Outro foi Carneirinho

Castelhano

Ignácio Vieira, Salvador Vieira

Jucá Ruivo, Gregório de Lima

Beata Maria Rosa

E o flagelo de Deus

Que parecia o próprio Diabo

Nunca pensava nos seus

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 79

Só em seu orgulho

Fazer um inferno

Em toda terra do contestado.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 80

Os Corruptos da República

Tudo começa pelo coronel Albuquerque

Que sentiu o seu poder ameaçado

Detonou a guerra pra todo lado

Massacrando os matutos do sertão

Fez verter sangue em nosso chão.

O advogado do diabo Deocleciano Martyr

Acendeu o resto do estopim

E na capital se portou como mártir

Do genocídio sem fim

Foi outro que se vendeu ao Percival

Porque era um governante sem moral

Que desencadeou todo esse mal.

A república estava falida

Vendia títulos de coronéis

Para não ver destruída

Mantinham quartéis

Faziam revoluções

A injustiça no sertão

Dando terra dos caboclos

Aos ladrões de todos os tempos

Colocam fogo num pedaço da nação

Sem nenhuma emoção

Impõem leis

Fazem papéis

Criando a revolta

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 81

Aos errantes do século.

Felippe derruba Vidal Ramos

Alia-se a Carlos Cavalcânti do Paraná

Hermes, presidente do holocausto

Trás ao sul nova Canudos

A Cabanada do Pará

Os ministros da guerra

Mancham a nossa terra.

Corruptos republicanos

Tecem um inferno no sertão

Trucidam os fanáticos

Com fogos e trovão

Dragão do inferno

Lágrimas de vaqueanos

Sangue de soldados

Vida miserável

Ato abominável

Vergonha do mundo.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 82

Monarquia

Congregados numa irmandade

Os caboclos do sertão

Sonhavam com liberdade

E com muita paz no coração.

O que os caboclos queriam

Obedecer a santa religião

Só assim eles teriam

Proteção de São Sebastião.

Quando falam em monarquia

Falam da lei lá do céu

Pois o povo todo queria

Da farsa tirar o véu.

Dentro desta ideologia

Defendiam os seus ideais

Pois cheios de nostalgia

Queriam agora todos iguais.

Quando defendiam monarquia

Pensavam no seu grande rei

O santo José Maria

Defender de toda lei.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 83

Governador Coronel Felippe Schimidt

O governador Felippe

Envia tropas para o combate

Pra acabar com o levante

Prender ou matar os rebeldes

Extinguir toda verdade.

O intendente da vila de Curitibanos

Ficou contente ao ver as tropas

De imediato deu ordens: trucidar os fanáticos

E trazer as suas cabeças.

Ao chegar em Taquaruçú

Os matutos combateram como valentes

Saindo do pântano, atrás de arvores

A até mesmo do topo das arvores

Os sobreviventes fogem

Perdendo toda a coragem

Findando o combate de Taquaruçú.

Com a derrota o intendente

Comunicou ao governador Felippe

Que o ataque foi um desastre

Poucos sobreviveram.

De imediato telegrafou para o Rio de Janeiro

Pedindo pra deslocar um regimento

Pra varrer os redutos Jagunço

Page 84: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 84

E exterminar os rebeldes fanáticos.

Page 85: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 85

Governador Afonso Alves de Camargo

No contexto entre Paraná e Santa Catarina

Não se procurou uma solução

Gerou muita injustiça

Criando muita confusão.

José Maria e os Jagunços

Fogem da represaria do intendente

Indo para o Irani

Havendo lá o conflito

Com sangue e morte

Fato igual nunca vi.

O governador Carlos e Afonso que era advogado

Empregado do grupo Farguhar

Julgando que foi invadido

Mandou tropas para guerrear

Não deixou o caboclo nem sonhar.

Houve um entrevero violento

Muitos foram mortos sem razão

e Afonso não expressou nenhum sentimento

Porque não agiu com o coração

Somente por ambição.

Com a triste derrota

Telegrafou pra capital da nação

Querendo logo uma resposta

Page 86: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 86

Pra acabar com a revolução.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 87

Capitão Matos Costa

O capitão peregrinava o sertão

Como caixeiro viajante

Era um homem de visão

E muito inteligente.

Também era um naturalista

Contra o desmatamento

Simpatizante do sertanejo

Achava uma injustiça

A guerra do contestado.

Filosofou o capitão aos amigos

Pra que o governo desse mais atenção aos sertanejos

Alimentos invés de munição

Invés de ameaçar dar mais instrução

Justiça invés de violência

Viver em democracia

Essa era sua filosofia.

Denunciou os falsários

Sendo vitima de uma armadilha

Era capitão temerário

Como igual não havia.

Venuto e seu bando

Com medo matou o capitão

E por esse feito histórico

Page 88: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 88

Foi morto pelo chefão

Contrariado pelo acontecido

E que deixou todos sentido.

O que os caboclos não sabiam

Que tinham matado a sua esperança

Somente os seus sonhos revelariam

Foi morto por vingança

Fato que muito lamentariam.

Page 89: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 89

A Força Aérea no Contestado

O exército e o presidente

Contrataram um piloto Alemão

Um coronel e um espião

Um fingia ser viajante

O outro especialista em infiltração

que embrenharam no sertão.

O avião sobrevoava as matas

A procura de reduto

O piloto traçava o mapa

Entregando os matutos

Que só queriam viver em paz.

Muito poucos redutos foram vistos

Quase não justificou a ação

Pois o avião bateu contra pinheiros

Matando o alemão

Foi outro que morreu sem razão.

O fato histórico acontecido no sertão

Foi a primeira vez no mundo

Que usaram um avião

Como um pássaro de reconhecimento

Injustiçando um povo matreiro

Que levou o entrevero

A sua completa dizimação.

Page 90: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 90

Holocausto nos Redutos

As forças estaduais e federais

Trituram a fragilidade dos Jagunços

Pondo fogo nos carrascais

Queimando com grimpa os mortos.

Nessa guerra desumana

Não existia lei e ordem

Sua cabeça era cortada

Isto é que escondem.

Foi caindo reduto após reduto

Seus habitantes sacrificados

Ficando somente o luto

E a injustiça de tantos.

Coronel Setembrino dizia

Jagunço bom era Jagunço morto

Era o ódio que conduzia

A guerra do contestado.

Foi um genocídio violento

Onde todos perderam a razão

E toda força do sentimento

Da alma e de seu coração.

O chão dos redutos

Foram manchados de sangue

Page 91: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 91

Praças dos dois exércitos

E também de diversos inocente.

Com a guerra ganhou os parlamentares

O presidente e o grupo Farguhar

Restou morte aos familiares

Do caboclo que pensou ganhar

A guerra dos errantes

Revolução de rebelde.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 92

General Setembrino

Setembrino - general republicano

Trouxe o inferno em Canudos

Matando a justiça

Injustiça de uma raça

Que queriam viver em paz

Sem nenhuma miséria

Mas o império não trás

O alimento da alma

Tão pouco a igualdade social.

Por ordens do ministro da guerra

Chegou com suas tropas nessa terra

Sufocar uma revolução

Sangrar o coração de outra nação

Fanáticos igual Canudos

Lá Conselheiro

Aqui José Maria

E se tornou o carrasco dos mundos

Queimou guerreiros

Que lutavam por que desconhecia.

General do império e republicano

Trouxe morte, trouxe luto

Destruiu Taquaruçú, Caraguatá

Aleixo, Santo Antônio, Tamanduá

Poço Preto, Raiz da Serra e Butiá

Coruja, perdizes, Traição e Cemitério

Page 93: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 93

Conrado Glober, Tapera e Pinheiros

Reinchart, Irani, Timbó e Ferreiros

Envergonhando a nação.

General de ferro

Destruiu, matou e prendeu

Jagunço nos redutos

General de ferro

Apesar de tudo reconheceu

A injustiça dos matutos

O pecado dos corruptos

Extermínio no contestado.

General de ferro

Ministro da guerra

Conhecia o erro republicano

Que cortou nossa terra

Vendendo ao estrangeiro

O pouco de dignidade

A mentira da verdade

Na guerra do século.

Page 94: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 94

Tenente - Coronel Dinarte

O tenente - coronel Dinarte

Com 750 homens, 150 cargueiros

Duas seções de metralhadoras, artilharia

Um esquadrão de cavalaria andava na frente

E Taquaruçú foi atacado

Destruído por canhões de artilharia.

Os jagunços resistiram quatro dias

Dia e noite sem temença

Jogaram milhares de granadas

Estraçalhando velhos, mulheres e crianças

Os homens tiveram de fugirem

Pra não morrerem.

Coronel Dinarte incendiou o sertão

Com o sabor de vitória

O fel da inglória

Queimando-os com grimpas

Cadáveres e o sertão

Madrugada chuvosa

Genocídio da razão.

Coronel Dinarte confidenciou aos governantes

Não queria combater patrícios ignorantes

Que viviam em desesperos

Por causo dos traficantes de províncias

Coronéis ambiciosos

Page 95: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 95

Sindicato de incoerências

Trouxe o pecado

Todo esse mundo errado

O extermínio no sertão.

Page 96: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 96

Coronel Capitulino

Coronel Capitulino atacou Caraguatá

Enfrentou a fúria jagunça

Sendo um enorme nó para desata

Tendo de recuar como tática

E avançar atacando

Mas os caboclos viam gritando

Não temendo a morte.

O combate no vai e vem danado

Ora vencendo e ora perdendo

Ordens desesperadas

Gritarias medonhas

Tiveram de recuar novamente.

O coronel ordenou retirada

Quando surgiu o nevoeiro

Sentiu a derrota

O fogo de entrevero

Recuar pra não morrer

Conhecer e desconhecer

A força do fanático.

O coronel e sua tropa dois dias depois

Derrotados chegam a serraria

Mais uma vez os republicanos

Ouviram gritos de vitória

Que tremia todo o sertão contestado.

Page 97: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 97

O Líder Elias

Elias era juiz de paz

Foi comandante da guerra

Levou respeito aos carrascais

Rebeldia não se enterra

Somente faz uma revolução.

Em Taquaruçú ganhou e perdeu

Caraguatá também

Santa Maria se perdeu

Não levando um vintém

Somente a sua valentia

Que parte do sertão desconhecia.

Foi chefe dos pares de França

Também líder interino

Pois guerreiro não descansa

Pronto pra qualquer entrevero.

Cansado de lutar

Decidiu ir pro Rio Grande

Não querendo ficar

E no meio do caminho tentou atirar

Foi morto por vaqueanos de Chico Ruivo

Tragédia do destino

De um homem que foi grande.

Page 98: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 98

O Líder Aleixo

Chefe dos pares de França

Também comandou reduto

Fez fama a distância

Impôs ao mundo republicano

Que não era cordeiro

Um leão com certeza

Por causo de sua destreza.

Combateu em Taquaruçú

Onde ganhou e perdeu

Igual em Caraguatá

Venceu e perdeu

Foi para Santa Maria

Devoto de João Maria

Pôs fogo no sertão.

O líder Aleixo

Sua valentia era de cair o queixo

Mas foi morto por Adeodato

Com medo de rebelião

Aleixo matuto valente

Agia com o coração

Morreu de forma covarde.

Page 99: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 99

O Líder Alonso

Alonso era temerário

Medo não tinha em seu dicionário

Rebelde por natureza

Valente com certeza

Fez um pouco da revolução.

Foi chefe de reduto

Também guerreiro matuto

Matou muitos soldados

Muitos foram os seus entreveros

Em que a fama permaneceu.

Nas batalhas sem éticas iniciais

Ditou tantos finais

Muitas venceu

Outras perdeu

Alonso era um valente.

Mas como todos erram

Alonso atacou a fazenda

Não se sabe quantos eram

E quando viu a luta perdida

Tentou fugir, foi morto por Adeodato

Então degolaram e cortaram o corpo inteiro

Dessa forma morreu Alonso

Líder do contestado.

Page 100: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 100

O Guerreiro Benedito

Quando era moço caiu no mundo

Foi empregado da ferrovia

Tropeiro e vaqueiro

Quase nada temia

Era o lema de Benedito

Um matuto nunca igual visto

Fez história no sertão.

Ajudou seu pai tirar o santo Padre

Das mãos dos fanáticos

E levou até a vila de Curitibanos

Onde deixou entregue

Pediu uma reza

Devoto se entrega

E volta ao reduto

Vendo o seu próprio luto

Fogo do contestado.

Foi guerreiro em muitos redutos

Também meio líder entre os jagunços

Após fugiu de Santa Maria

Levando quarenta

Escapando da fome até então desconhecia

Também da peste negra

Fugiu o guerreiro

Nasceu o matuto.

Page 101: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 101

Benedito não temia nada

Devoto do divino

Logrou a vida

Atrasou o destino

E velho morreu

Levando consigo

A fé que viveu

Valentia que conheceu

Morreu Benedito

Jagunço e guerreiro

Do contexto do contestado.

Page 102: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 102

O Líder Castelhano

Castelhano impôs pavor

Mentiroso e violento

Mas não era mentor

Somente guerreiro

Nos entreveros do sertão.

Castelhano dizia filho de Saraiva

Encarava combate em campo aberto

Bandoleiro de nascimento

Gostava de corridas em coxilha

Contrariava os lideres

E se aventurava no sertão.

Se julgando invencível

Atacou grandes cidades

Achando tudo possível

Nos vales da morte.

Decidiu atacar Lages

Enfrentou piquetes

O seu grupo fugiu

Deixando sozinho

E Castelhano sentiu

A dor em ter as orelhas cortadas

Enviadas pra capital

Morto e jogado num formigueiro

Final...

Page 103: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 103

Do bandoleiro do contestado.

Page 104: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 104

O Comerciante Jagunço Praxedes

Quando o intendente decidiu atacar

Mandou avisar a irmandade

Sendo um simpatizante

Mas se cuidava ao redor

Dos amigos do intendente.

Devoto de João Maria

Amigo de José Maria

Também de Euzébio

Não era um visionário

Mas um jagunço comerciante.

O coronel soube do carregamento

A guarda apreendeu as armas

Querendo de volta

Tudo que tinham tomado

Por ordem do intendente.

O coronel se indignou

E Praxedes mandou matar

O mundo jagunço se revoltou

O intendente queriam também matar.

O coronel Albuquerque soube do ataque

Fugiu pra outra cidade

Covarde de verdade

Deixou o coronel marcos na intendência

Page 105: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 105

Que não tinha nenhum contra ataque

E a vila foi incendiada

Papéis foram queimados

Revolta anunciada

Na guerra do século.

Page 106: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 106

O Poder do Grupo Farquhar

Percival capitalista

Comprou a revolução

Vendeu terra

Explorou a natureza

Construiu a ferrovia

Criando ódio no sertão.

Montou várias serrarias

Navios foram carregados

Com madeiras dos carrascais

Formam um legado

Humilhando o sertão.

Percival comprou a nação

De corruptos da república

Vendeu a floresta do sertão

Emigrou com povo da Europa

Expulsando os caboclos das terras

Então a paz se enterra

Revoltando o contestado

A raiz do contexto

Rebeldes do século.

Page 107: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 107

Chica Pelega do Taquaruçú

Ela foi guerreira

Perdeu quase tudo na guerra

Sua infância, seu sonho de criança

Lutou sem temença, com esperança

Foi virgem guerreira

Uma mulher de verdade

Força da liberdade.

Chica do sertão

Véu de sangue

Rebelde de coração

Fera em batalha

Onça que ruge

Oferecendo mortalha.

Chica... Menina moça

Foi mulher inocente

Uma líder, a esperança

Muitos dizem que você morreu

Mas não morreu

Porque você vive em cada mulher

Talvez de forma diferente

Mas sempre... Uma menina moça

Guerreira de uma raça.

Chica... Guerreira santa

Sua valentia era tanta

Page 108: O contexto do contestado

O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 108

Fez história nos carrascais

Sendo contra a república dos injustos

Era o temor em confrontos nos matagais

Temida até pelos jagunços.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 109

Os Presidentes da República

Tudo começou com marechal Deodoro

Floriano Peixoto

Que derrubam o império

E sem mistério

Vendem os sonhos de uma nação.

Depois veio Prudente de Moraes

Que leva miseráveis aos carrascais

Sacrifica aos milhares

Viva ambição de dólares

Vazão da razão.

O próximo, Campos Sales

Seguido por Rodrigues Alves

Prosseguem à injustiça

Não conseguem vetar

Deputados e senadores

Fio da revolta começa

Incendiando o sertão.

Segue por Afonso Pena

Nilo Peçanha

Hermes da Fonseca

Protetor dos coronéis

Pôs soldados em quartéis

Massacrando o fanático.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 110

E por fim, Venceslau Brás

Um estranho no ninho

Decide findar a revolta

Envia o general de ferro

Que trás o holocausto no contestado.

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O Contexto do Contestado

LUIZ ALVES Página 111

Epílogo

Amigos leitores, os Jagunços do sertão contestado não

tiveram nenhuma atitude social humanitária dos governantes da

época, empurraram sem piedade a uma guerra que era impossível de

vencer, tirando dos mesmos o mais importante do sentimento

humano, a perspectiva melhor de vida, ou a esperança em dar uma

vida decente a seus filhos e a seus netos. O sistema republicano foi

criado diante de muitas falhas na revolução francesa, deixou a nação

polvorosa num caos político e numa terra de ninguém, onde todos

queriam mandar e ninguém fazia nada pelos anseios da população.

Décadas depois implantado pelos Estados Unidos da América

com uns ajustes e poucas melhoras, mesmo assim continua sendo um

sistema de inúmeros pecados capitais, que sufocava qualquer grito de

liberdade democrática, ainda permanecendo o preconceito social,

racial e religioso, contendo leis autoritárias e completamente injustas

com toda uma sociedade carente ou menos favorecida.

Meus amigos, esse foi o poder que o sistema republicano

brasileiro comprou a preço de muitas vidas e por uma verdadeira mina

de ouro, um sistema que privilegia os ricos ou milionários e deixando

os demais na mais completa miséria.

Os caboclos dos sertões catarinenses e paranaenses perderam

praticamente tudo o que herdaram de seus antepassados, e para terem

um pouco de esperança acreditam em suas crendices populares numa

força superior, e dela criaram fantasias e fanatizam outro mundo,

conforme os seus sonhos. E desse sonho fazem a sua razão de viver,

nem que isso os levasse a morte, foi o que aconteceu na realidade.

A guerra dos Canudos, acontecido anteriormente era prova

real da injustiça social do poder republicano, pois denegriu a

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O Contexto do Contestado

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democracia e um completo genocídio humano. Como em Canudos

tinha Antônio Conselheiro, aqui no contestado tivemos José Maria.

Com esse episódio histórico os senhores da república não aprenderam

a lição, e tornaram a fazer no sul do País. Como disse o capitão

Matos Costa: Que o problema do contestado, poderia ser resolvido

com um pouco de boa vontade dos governantes. Alimento em vez de

munição, instrução em vez de ameaças e justiça em vez de violência.

Caros leitores, somente para ter uma idéia da armadilha do

século, contra a irmandade de São Sebastião, utilizam pela primeira

vez na história da humanidade a aviação militar para reconhecimento

de reduto dos fanáticos, tendo um coronel Alemão como piloto

revolucionário. A história prova que na melhor das hipóteses, a

guerra já tinha vencedor, mesmo antes de seu princípio. Os

historiadores chamam a guerra do contestado, que no real e

verdadeiro chamo a guerra dos injustiçados do século.

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