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1 UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA ÁREA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO A SEXUALIDADE NA ESCOLA EUNICE RENOSTRO Joaçaba 2007

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

ÁREA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

A SEXUALIDADE NA ESCOLA

EUNICE RENOSTRO

Joaçaba

2007

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

ÁREA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

A SEXUALIDADE NA ESCOLA

EUNICE RENOSTRO Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Educação da Universidade do

Oeste de Santa Catarina – Unoesc, Campus

de Joaçaba, para obtenção do grau de Mestre

em Educação, sob orientação do Prof. Dra.

Nadir Castilho Delizoicov

Joaçaba

2007

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RESUMO

O presente estudo teve como objetivo verificar qual o parecer de alunos egressos

do Ensino Médio que participaram do projeto “Vivendo e Adolescendo -

Prevenção as DSTs/HIV/AIDS, desenvolvido em uma escola pública estadual do

Município de Concórdia – SC. A temática central abordado no referido projeto foi

sexualidade, tema emergente e indispensável no contexto atual. O estudo

desenvolvido teve a finalidade de avaliar se houve contribuição do projeto para

uma conscientização dos jovens e adolescentes com relação a tomada de

decisões sobre sexualidade e prevenção. Na fundamentação teórica, apresenta-

se uma reflexão, a partir de vários autores, acerca da complexidade da educação

sexual na escola e apresenta-se concepções de sexualidade, gênero e

prevenção. Para a coleta de dados utilizou-se como instrumento de pesquisa a

entrevista semi-estruturada, junto a dez egressos do Ensino Médio. Para a análise

das entrevistas buscou-se o diálogo com alguns autores. Nas falas dos egressos

evidencia-se que, nas oficinas que constituíram o projeto, a sexualidade foi

abordada de forma a proporcionar conhecimentos para uma vivência mais

harmônica entre jovens e adolescentes, portanto, diferenciada daquela que,

comumente, é ensinada nas disciplinas de Ciências/Biologia, ou seja, um

conhecimento do código científico do aparelho reprodutor.

Palavras-chave : Sexualidade – Gênero – Prevenção

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ABSTRACT

This work has as central theme the sexuality prevention. Begning with the conception that the sexuality has its historical/ cultural roots and that the knowledge about the problem of prevention to the DSTs/HIV/AIDS is emergent, a called Project “Vivendo e Adolescendo” was developed - Prevention to the DSTs/HIV/AIDS. It was developped in a state public school of the city of Concordia. The Project was constituted, basically, of workshops on sexuality, as a transversal subject of the curricular matrix. The present study had as main objective to verify if it had some challenge in the behavior of these students related to sexuality prevention. In the theoric field I analyse many authors and concepts about sexual education at school, observing concepts as sexuality, genre and prevention. As metodology to obtain data I used interviews pre-structured. The analysis of interviews taking as main point the practise and theory crossing data with many other authors. That makes me conclude in conversations afterwards, the works presented to the students make them have a more harmonious knowledge about sexuality, I mean, different from that concepts teaching in the subjects of Biology/Science that just works the scientific code of the sexual parts of the body. Key Words: Sexuality, genre, prevention.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................07

CAPITULO I

1.1 Gênero e Sexualidade...........................................................................................12

1.2 Educação Sexual ou Orientação Sexual...............................................................24

CAPÍTULO II

2.1 A Sexualidade na escola......................................................................................31

2.2 Sexualidade/prevenção e a escola.......................................................................42

2.3 Prevenção às DSTs/HIV/AIDS: UNESCO/UNICEF.........................................46

CAPÍTULO III

3.1 Projeto: "Vivendo e Adolescendo Prevenção às DSTs/HIV/AIDS..................50

3.1.1 Contextualização ..........................................................................................50

3. 1. 2 OFICINA I...................................................................................................54

3. 1. 3 OFICINA II..................................................................................................60

3. 1. 4 OFICINA III.................................................................................................61

CAPÍTULO IV

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OS EGRESSOS E O PROJETO...............................................................................64

4.1 Procedimentos para obtenção de dados..............................................................64

4. 2 A análise das entrevistas....................................................................................65

4.2.1 Parecer sobre o projeto.....................................................................................66

4.2.2 A forma de trabalhar os conteúdos...................................................................69

4.2.3 Postura frente à prevenção................................................................................72

4.2.4 Gênero e Prevenção........................................................................................72

4.2.5 A escola frente à sexualidade.........................................................................79

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ......................................................................87

ANEXOS......................................................................................................................90

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INTRODUÇÃO

Refletir sobre qualquer questão que envolva o ser humano tende a tornar-

se bastante complexo, pois cada indivíduo é único, mesmo trazendo consigo toda

carga sócio-histórico-cultural de onde e com quem viveu. Apesar dessa

complexidade, a reflexão de qualquer um dos aspectos pertinentes à condição

humana se faz cada vez mais urgente e necessária a fim de que se possa

compreender de forma mais detalhada as condições e razões de sua existência.

Para o profissional da Educação há um grande número de situações e

oportunidades que lhe possibilitam, juntamente com seus alunos, o pensar e o

refletir sobre muitos aspectos da vida humana. Entre eles, as questões

relacionadas à sexualidade, sejam elas de gênero, sexo e/ou a prevenção, são

muito desafiadoras.

Nunes (1987) adverte que abordar a sexualidade não é tarefa das mais

fáceis, pois a riqueza dessa dimensão humana e as significações históricas

sedimentadas sobre ela “acabaram engendrando um, certo, estranhamento do

sujeito humano com sua própria sexualidade. Daí o seu caráter social explosivo”

(p. 13). Alerta, ainda, o autor, estar a sexualidade permeada “de valores morais,

determinados e determinantes de comportamentos, usos e costumes sociais que

dizem respeito a mais de uma pessoa” (p.13).

No decorrer de minha vida, especialmente na minha infância, tive pouca

oportunidade de falar ou saciar minhas curiosidades relativas a preconceitos e

tabus que envolvem a sexualidade.

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A questão das diferenças de gênero eram muito presentes, coisa de

meninos e de meninas. Meninas jogarem futebol, nem pensar! Por fazer parte de

uma família em que, até então, só havia meninas, podíamos e tínhamos que fazer

atividades de meninos para auxiliar as tarefas da família. Na igreja havia lugar

específico por sexo, masculino de um lado e feminino de outro, e na escola o

corredor que separava as meninas dos meninos era enorme.

Através de amigas e de um livrinho informativo, que não lembro o nome,

obtive as primeiras informações sobre menstruação, especialmente cuidados

higiênicos. Depois, fui aprendendo com amigas e, muitas coisas, sozinha.

Engravidar enquanto solteira era proibido.

Como professora de Ciências logo tive preocupação com as questões de

menstruação, funcionamento do corpo, reprodução e preservação de valores que

acabavam por reforçar muitos dos preconceitos vigentes.

O surgimento da AIDS e as constantes divulgações, especialmente pela

mídia, sobre o crescimento dos índices de contágio de DSTs, levaram-me a

estudos e participação em cursos e eventos sobre sexualidade e drogas. Passei

então a ter outra visão dessas questões, em especial que os jovens e

adolescentes querem e precisam saber mais do que cuidados higiênicos e

reprodutivos.

As leituras feitas e práticas profissionais, enquanto professora, levam-me a

concordar com Nunes (1987) e Bernardi (1985) quando afirmam que ainda existe

certa inquietação e dificuldade entre educadores para abrir diálogo e trazer a

sexualidade em nível da palavra, do permitido, do prazeroso e do humano.

Apesar das possíveis dificuldades, há uma necessidade urgente de se

discutir, na Escola, temas relacionados à sexualidade. O grande número de casos

de gravidez na adolescência e o crescimento de portadores do vírus HIV/AIDS

são razões suficientemente fortes para a premência de uma postura escolar

diferenciada.

É responsabilidade da Escola, além dos saberes científicos, discutir

assuntos pertinentes à faixa etária de seus alunos. Com as constantes

divulgações, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Ministério da Saúde,

sobre o crescimento de casos de AIDS e com grande freqüência com que o tema

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“sexualidade” aparece em distintos meios de comunicação, ora em forma de

debates, ora de entrevistas, em reportagens diversas e programas de propaganda

de partidos políticos, surge a necessidade do envolvimento da comunidade

escolar na discussão consciente dos temas ligados a sexualidade.

Nesse contexto, órgãos oficiais como Ministério da Saúde e Educação,

Secretarias de Educação, as ONGs e até mesmo as famílias têm apontado a

Escola como “saída” para minimizar tais questões, através da educação sexual.

Conscientes da necessidade social e motivados pela participação em um

curso sobre sexualidade e prevenção as DSTs/HIV/AIDS – através de oficinas –

desenvolvido pelo Centro de Treinamento de Enfermagem da Universidade do

Contestado de Concórdia, a equipe pedagógica e professores da Escola de

Educação Básica São João Batista de La Salle, do Município de Concórdia – SC,

questionaram-se sobre o papel social da escola definido em seu Plano Político

Pedagógico. Entendendo, assim, ser o momento de enfrentar a questão da

sexualidade na escola.

Partindo-se do pressuposto de que a sexualidade tem raízes histórico /

culturais e que o desenvolvimento pleno da sexualidade depende da satisfação de

necessidades humanas básicas, como desejo de contato, intimidade, expressão

emocional, prazer, ternura e amor, foi desenvolvido o Projeto denominado

“Vivendo e Adolescendo - Prevenção às DSTs/HIV/AIDS”. O projeto foi

constituído, basicamente de oficinas sobre sexualidade, como um tema

transversal da matriz curricular. As oficinas não visaram preencher lacunas

deixadas pelo ensino vigente, mas consistiam em um trabalho diferenciado por ir

além de considerar o corpo apenas como uma mera dimensão técnica do

movimento, que responde a estímulos decorrentes de sua função biológica, como

muitas vezes ele é considerado. Nas oficinas desenvolveram-se trabalhos que

buscavam possibilidades e apontavam limites. As oficinas tinham como

característica principal levar os alunos a uma reflexão/discussão sobre a questão

da sexualidade em suas variadas manifestações, e não apenas fornecer

informações prontas e prescritas. A interação com os jovens originou-se a partir

dos interesses manifestos por eles, suas dúvidas a respeito da sexualidade que

naquele momento marcaram suas vidas.

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Partindo de reflexões teóricas e do interesse em saber em que nível uma

escola responde e atende a anseios de seus alunos, realizei uma pesquisa

tomando o seguinte problema como possibilidade de análise:

Qual a percepção que egressos do projeto “Vivendo e adolescendo” têm a

respeito da contribuição do projeto, na construção de suas atitudes e

comportamentos diante da sexualidade e da prevenção de gravidez precoce e

DSTs?

As seguintes questões direcionaram à pesquisa:

1. Quais as contribuições do Projeto Vivendo e Adolescendo/ Prevenção das

DSTs HIV/AIDS para a conscientização de seu público alvo na adoção de atitudes

preventivas frente a gravidez e a contaminação de DSTs e HIV?

2. Os pesquisados atribuem ou reconhecem mudanças em suas atitudes com

relação à sexualidade?

3. As relações de gênero interferem (interferiram) na adoção de medidas

preventivas de sexo seguro pelo público alvo do Projeto?

4. A forma de desenvolvimento do Projeto Vivendo e Adolescendo/ Prevenção

das DSTs HIV/AIDS mostrou-se eficaz quanto ao estímulo, participação e

aproveitamento dos conteúdos trabalhados?

5. Cabe à Escola a discussão de temas voltados à sexualidade dos indivíduos?

No intuito de dar respostas a tais questões, inicialmente recorremos aos

registros existentes na Escola de Educação Básica São João Batista de La Salle.

Com relação às fontes, foram utilizados documentos do Ministério da Saúde e da

Educação, jornais, revistas, Dissertações de Mestrado e livros de vários (as)

autores (as) sobre sexualidade, gêneros, prevenção.

Nesta investigação, procuramos identificar a contribuição que o trabalho

sobre sexualidade/prevenção teve sobre seus participantes. Uma abordagem que

enfatizou à sexualidade com a natureza do próprio indivíduo e na sua relação com

os demais seres humanos. Para a consolidação de tal visão consideramos

importante ouvir os egressos concluintes do Ensino Médio e que participaram do

projeto.

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No desenvolvimento da pesquisa empírica, foi utilizada a entrevista semi-

estruturada, para a qual foi elaborado um roteiro (anexo1). Todas as entrevistas

foram gravadas, transcritas e analisadas.

O trabalho está estruturado da seguinte forma: no primeiro capítulo consta

o referencial teórico sobre gênero e sexualidade e os conceitos de educação

sexual e orientação sexual, na visão de alguns autores. No segundo capítulo o

referencial teórico aborda a sexualidade e a prevenção na escola e a postura da

Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), ( (UNESCO), e Grupo de

Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS) sobre a importância da

prevenção. No terceiro capítulo encontra-se uma contextualização do projeto

“Vivendo e Adolescendo - Prevenção as DSTs/HIV/AIDS”, o qual originou o

problema para o trabalho de dissertação. No quarto capítulo está a análise das

entrevistas. Por fim, nas considerações finais foram feitas ponderações a respeito

das respostas que as análises dos assuntos abordados permitiram, procurando

obter uma maior clareza sobre as questões centrais levantadas com o problema

central da pesquisa e os desdobramentos que se fizeram necessários.

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CAPÍTULO I

1. 1 Gênero e Sexualidade

Para Trindade (2003) a sexualidade ocupa em nossos dias posição

de destaque nos diálogos, mensagens dos meios de comunicação e no ambiente

familiar e escolar e em especial, no que diz respeito a riscos relativos à

transmissão de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e AIDS, bem como a

maternidade e paternidade na adolescência. No ambiente familiar, quando

conversado, não raro, as falas estão impregnadas de tabus, preconceitos,

vergonha, posturas denunciadoras e restritas dos aspectos prazerosos da

sexualidade. A autora ainda afirma que os profissionais da educação, em geral,

sentem-se despreparados para orientar os jovens. Postura semelhante ocorre

com os profissionais da saúde. Assim, comumente faz-se de conta que os

adolescentes não estão clamando por diálogos que esclareçam suas dúvidas,

seus anseios e curiosidades.

A sexualidade, embora envolva a genitalidade e a reprodução, não se limita

a essa prática somente, pois envolve todo o corpo. Apesar de ser vivenciada por

todo o ser humano, é vista ainda hoje, de modo preconceituoso e com pouco

diálogo. Além disso, desde muito cedo são transmitidos padrões de

comportamento diferenciados para homens e mulheres.

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Idéias como a de que “futebol é esporte para homens” ou “ginástica rítmica

é coisa de menina” ainda se manifestam na sociedade assim como no cotidiano

escolar. Entendemos que Educação Sexual não é responsabilidade apenas das

escolas, mas também da família, da igreja, do esporte, enfim, de toda a

convivência do ser humano.

Relações de gênero entram nos PCN como temas pouco tratados nas

escolas, pois elas muitas vezes reforçam os padrões culturais vigentes de

relações autoritárias entre homem e mulher.

O conceito de gênero diz respeito ao conjunto de representações sociais e

culturais, construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Historicamente,

essa diferença tem privilegiado os homens, uma vez que a sociedade não tem

oferecido as mesmas oportunidades a ambos os sexos (PCN-1997). Essa

parcialidade gera uma gama sem fim de tabus contra o sexo feminino.

Para Barbiere (1990), os sistemas sexo-gênero constituem conjuntos de

práticas e símbolos, representações, normas e valores sociais que as sociedades

elaboram a partir da diferença sexual anátomo-fisiológica e que dão sentido, em

geral, às relações entre pessoas sexuadas. Em outras palavras, o gênero designa

a identidade do homem e da mulher como determinada por condições sociais que

explicam as relações estabelecidas entre ambos.

Os preconceitos para com as mulheres tendem a surgir desde a infância,

quando meninas brincam com bonecas e meninos correm pelo pátio, sobem nas

árvores e jogam bola. Estes fatores culturais, pouco a pouco, determinam

capacidades diferentes entre homens e mulheres. Segundo Cooper & Cooper

(1972 apud ZIMMERMANN) “ felizmente, a sociedade começa a mudar suas

idéias por demais rígidas sobre o que constitui o comportamento feminino e

masculino apropriado”.

Segundo a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998), na antiguidade

tanto grega como romana, as divindades já eram, em sua maioria, para os seres

do sexo masculino. O homem não-escravo ocupava os lugares na vida pública,

seja na filosofia, política ou na administração. A mulher era vista como um ser

passivo, inferior e restrito ao âmbito privado.

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Segundo Nunes (1987), as relações entre homens e mulheres daquela

época são descritas da seguinte forma:

O ideal para a mulher é permanecer em casa, conter-se sexualmente,

dirigir a casa e promover o marido docilmente em todos seus gastos e quereres. O marido é o senhor da esposa e dos filhos, o chefe da casa e dos escravos e faz tudo para exercer ativamente seu poder, que é estimulado e esperado dele socialmente. A mulher é a dona obediente da casa e o marido, chefe da família, lhe dá “status” de esposa; que contém o nome, a casa a organização dos bens, sem contudo ser exigido dele alguma fidelidade conjugal sexual qualquer (NUNES,1987, p.47).

Em linhas gerais, complementando a historicidade do tratamento do

homem e a mulher, a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998), descreve

que, na Idade Média, com o aval da igreja, o ideal para o ser humano era o

celibato; porém o homem era o proprietário de tudo inclusive da esposa e dos

filhos. À mulher cumpria a função de servir seu senhor e educar os filhos. Na

Idade Moderna, o conhecimento científico passa a dominar tudo, inclusive coloca

em risco a supremacia da Igreja. Surge, nesse período, a moral burguesa, na qual

o homem é o cavalheiro, o protetor e a mulher é a rainha do lar, a protegida, a

dócil, a meiga a submissa.

Para Cabral (1995) a moral da nova classe burguesa privilegiou a idéia de

propriedade do marido sobre a esposa. Ele afirma:

A mulher passou a ser propriedade do homem também como ser dotado de personalidade, ou seja, de seu eu espiritual.(...) Embora, inicialmente se afirmasse a igualdade entre todos os seres humanos pela razão, também nos tempos modernos se acaba estabelecendo que o homem é superior à mulher por ser ele mais racional, ou seja, já não se busca uma razão externa no ser humano, mas uma razão nele mesmo ( CABRAL,1995, p. 129-30).

Segundo Nunes (1987), foi nos séculos XIX e XX, com as inúmeras

transformações sofridas no mundo capitalista, que se iniciaram as transformações

sobre as repressões da sexualidade. Iniciaram-se também os questionamentos

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sobre a dualidade homem-mulher. No século XX, a luta da mulher pela condição

de sujeito na sociedade tornou-se mais política, mais organizada e, portanto, mais

respeitada.

Nos mais diversos momentos da História, pode-se observar ações isoladas

ou coletivas contra a “opressão” da mulher. Atualmente, filmes e publicações

preocupam-se em divulgar e reconhecer essas ações. No século XIX, segundo

Louro (1997), surgiu o feminismo como movimento social. Na virada do século o

movimento buscou o direito do voto da mulher. Isto, mais tarde, foi reconhecido

como a “1ª onda” do feminismo. No final da década de 1960 o “Feminismo”, além

das preocupações sociais e políticas, iniciava estudos para as construções

teóricas do conceito de gênero, começando assim sua problematização.

Para Louro (1997), o movimento feminista, em seu princípio, estava ligado

diretamente a mulheres brancas de classe média em busca de seus interesses.

No ano de 1968, considerado o marco da rebeldia, em especial na Alemanha,

Estados Unidos, França e Inglaterra, os desencantos com os tradicionais arranjos

políticos e sociais levaram muitos grupos de intelectuais, estudantes, negros,

mulheres e jovens, a realizarem movimentos de protestos e ações concretas

contra o sistema vigente. Nesse contexto de transformações, o feminismo

ressurge e realiza muitos movimentos, em especial através das feministas

participantes do mundo acadêmico que questionam seu fazer intelectual com

paixão política, surgindo assim os estudos da mulher buscando definir seu papel

na sociedade contemporânea.

O grande objetivo das estudiosas feministas sempre foi tornar visível a

mulher, a qual sempre fora ocultada, como sujeito, inclusive como sujeito da

Ciência. Passou-se a desmistificar “o mundo doméstico, como o verdadeiro

universo da mulher que já vinha sendo rompido gradativamente por algumas

mulheres” (LOURO, 1997, p. 17), em especial aquelas da classe trabalhadora e

as camponesas que exerciam atividades fora do lar. Os estudos feministas

também demonstram e debatem sobre a ausência da mulher nas Ciências, nas

Letras e nas Artes, bem como as discriminações das condições de vida e de

trabalho das mulheres nos diversos espaços. Para Louro (1997), o caráter político

dos estudos feministas é sua marca mais significativa.

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As feministas anglo-saxãs passam a diferenciar gênero de sexo, pois

desejam acentuar através da linguagem, “o caráter fundamentalmente social das

distinções baseadas no sexo” (SCOTT, 1995, p.72, apud LOURO). “O conceito

passaria a ser uma ferramenta analítica e ao mesmo tempo política. Colocando

assim o debate no campo social, pois é nele que se constroem e se reproduzem

as relações(desiguais) entre os sujeitos” (LOURO, 1997.p.22).

Para Louro (1997), as justificativas para as desigualdades passam a ser

buscadas na História, no convívio social e nas condições de acesso aos recursos

da sociedade e nas formas de representações, passando assim o conceito de

gênero a ser usado como um forte apelo relacional.

A busca incessante dos estudos centraliza-se em entender gênero como

parte da identidade do sujeito. A mesma autora afirma que, em uma visão mais

crítica dos Estudos Feministas e Estudos Culturais, os sujeitos possuem

identidades múltiplas e que não são fixas, mas em transformação e podem, em

algum momento, ser contraditórias, entendendo assim que o sujeito pertence a

diferentes grupos – étnicos, sexuais, de classe, de gênero etc. “As diferentes

instituições e práticas sociais são constituídas pelos gêneros e são, também,

constituintes de gênero. Estas práticas e instituições fabricam os sujeitos”

(LOURO, 1997, p.25). Sendo assim, a autora entende que gênero vai além do

mero desempenho dos papéis masculino e feminino, mas faz parte do sujeito.

O conceito de gênero refere-se ao modo segundo como as características

sexuais são expressas na convivência social, “no gênero, a prática social se dirige

aos corpos” (ROBET CONNEL 1995, p. 189).

Segundo Louro (1997), o discurso sobre gênero de algum modo engloba as

questões da sexualidade. A autora faz uma análise para estabelecer algumas

distinções entre gênero e sexualidade. “Os sujeitos podem viver sua sexualidade

de diversas formas, eles podem viver seus desejos e prazeres corporais de

muitos modos” (LOURO, apud BRITZMAN, 1996). Para a autora, é na forma de

viver sua sexualidade que o sujeito constrói sua identidade sexual. A autora

procura ainda estabelecer uma distinção entre identidade de gênero e identidade

sexual, tendo a preocupação de que ao fazê-lo pode correr o risco de fazer uma

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esquematização, pois na prática social as identidades são, usualmente,

articuladas e confundidas.

Segundo Louro (1997), identidade sexual e identidade de gênero não são a

mesma coisa. Estão profundamente inter-relecionadas e, muitas vezes, por hábito

de linguagem, são confundidas. No entanto, a autora conceitua identidade de

gênero como a identificação social e histórica de, masculino e feminino e

identidade sexual através das formas como vivem sua sexualidade, com

parceiros/as de sexos diferentes, parceiros do mesmo sexo, de ambos os sexos

ou sem parceiros/as.

Louro (1997) ainda chama a atenção que ambas as identidades são

construídas e não dadas ou acabadas em um determinado momento. Elas estão

sempre se construindo e, portanto, são passíveis de transformações.

Precisamos compreender que os papéis de gênero são heranças culturais

e que podem e devem ser superados, para tanto precisam ser trabalhados em

inúmeras atividades e situações no cotidiano escolar.

Segundo os PCN, a abordagem das relações de gênero nas escolas é uma

tarefa delicada. O docente pode trabalhar relação de gênero em qualquer

situação de convívio escolar, especialmente estando atento ao comportamento

diferenciado entre meninas e meninos, intervindo de modo a diminuir as

discriminações, questionando os estereótipos associados ao gênero.

Os PCN chamam a atenção para a importância da valorização do corpo

como um todo integrado, de sistemas interligados, incluindo emoções,

sentimentos, sensações de prazer/desprazer, bem como mudanças ocorridas ao

longo do tempo, e que podem ser contempladas em áreas como as Ciências

Naturais, Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Arte e Educação

Física. Nas Ciências Naturais, que abordam a anatomia do corpo, é importante

incluir os sentimentos, as emoções e os pensamentos que se produzem a partir

do corpo. A Educação Física, que usa o corpo e a construção de uma “cultura

corporal”, pode trabalhar o respeito e a relação prazerosa com o corpo. Dança e

teatro podem ser tratados também em Arte.

Segundo a Revista Brasileira de Ciências do Esporte, (1998, vol. 21),

Helena Altemam concluiu em sua dissertação do mestrado que:

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Para os meninos, jogar futebol com as meninas não é um desafio e sim uma ameaça, porque jogar melhor do que elas não lhes creditam mérito especial e se jogar pior é um vexame, por ir contra a expectativa de superioridade masculina nesse universo. Para as meninas, por sua vez, superar as expectativas e ser melhor que os meninos no esporte é uma honra, motivo de consagração que, em algumas ocasiões entre alguns meninos, garantia – lhes legitimidade. Noutros momentos, porém, a desvalorização de sua prática esportiva e delas como mulher era uma maneira de resistir ao abalo que a presença delas nas quadras infligia ao domínio masculino daquele espaço, como quando chamadas de Marias – homem. (REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, vol. 21, nº. 1, pág. 113 a 114).

O trabalho pedagógico com relação de gênero, mencionado nos PCNs,

ambiciona o combate às relações autoritárias, o questionamento da rigidez dos

padrões de conduta instituído para homens e mulheres e apontar as

transformações que permitem expressão das singularidades de cada ser humano,

reprimidas pelos estereótipos.

Segundo Muraro, (1992), Mead (1998), Tannhill, (1983) pelo fato de os

primitivos não associarem a gravidez e o parto ao coito, a mulher era endeusada

pela sua capacidade de reproduzir, gerar filhos e os homens não. Ao descobrirem

a relação entre sexo e gravidez, o homem passou a tomar para si os méritos da

reprodução, “desprezando” a mulher. Com o desenvolvimento da Ciência e da

tecnologia e, conseqüentemente, com a comprovação da reprodução através da

relação sexual, os diferentes povos tiveram e têm suas próprias convicções e

atitudes quanto à relação sexual, sendo criadas regras, normas e proibições.

A contínua e crescente evolução da Ciência também foi utilizada para

influenciar o controle do sexo: “A partir da segunda metade do século XIX a

Ciência, principalmente no ocidente, se encarregou de assumir o controle do

sexo” (FOUCAULT, 1977, p. 38); e o resultado não foi melhor do que obteve a

Igreja, no vigor da Idade Média. “Os estudos da Ciência passaram absurdamente

a classificar o sexo como saudável e perverso, tratando da sexualidade à

impessoalidade da genitalidade sem nenhum vínculo com o prazer, amor ou

felicidade” (FOUCAULT, 1977, p.39).

Quanto à sexualidade, segundo Nunes (1987), esse termo, surgiu no

século XIX, numa ampliação do conceito de sexo. Dentro das Ciências Naturais,

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em sua hierarquia temática e classificatória, particularmente nos estudos de

Biologia o Homem foi definido como um ser natural, enquadrado na sua

corporeidade, representada e calcada sobre conceitos de sistemas e aparelhos,

numa concepção funcional e mecânica própria dos fundamentos das Ciências no

século XIX.

Para Furlani (2003), hoje, a literatura em geral só se refere ao termo sexo

quando se trata de prevenção, sexo seguro, relação sexual específica ligada ao

prazer e a reprodução, especialmente em livros técnicos, os demais, em sua

maioria, referem-se sempre a sexualidade.

De acordo com Duarte (1997), todos os seres humanos procuram prazer

em todas as fases da vida. Ela afirma que os latentes buscam prazer: o bebê,

quando mama, sente prazer. Ele está vivendo sua sexualidade, embora mamar

não seja prazer de sexo. A criança ou o adulto sentem necessidade de suprir

algumas faltas. “alimentar-se quando há fome; beber água quando há sede – tudo

proporciona prazer sempre renovado e bom; é sexualidade mas não é prazer

sexual” (DUARTE. P. 30.1997).

Duarte ainda faz a seguinte construção de conceito de sexualidade:

Dizer que a sexualidade, como a entendemos hoje, é uma invenção que faz parte de uma formação histórica, política e cientifica – e não um fenômeno natural que o bebê logo ao nascer já dispõe – implica em dizer que ela é um produto de relações de poder que produzem o atual contexto; que vai produzir um sujeito portador da sexualidade. Provavelmente a palavra que, primeiramente, associamos à sexualidade seja o prazer. Então, a sexualidade seria, por si, tudo o que tem a ver com prazer – sexual ou não – ou, pelo menos, que estimule esse prazer. Numa reflexão simplista, poderíamos dizer que o produto da sexualidade é que chamamos de felicidade humana, buscada a princípio nas relações de prazer (DUARTE, 1997, p. 31).

A leitura que Foucault (2004) faz de nossa sociedade, é que ela é

considerada o lugar privilegiado onde nossa verdade profunda é lida e dita, isto é,

para a sociedade só se saberá a verdade real de cada um ao se conhecer a sua

sexualidade. Esta, por sua vez, “não é fundamentalmente aquilo de que o poder

tem medo, mas é, sem dúvida, através dela que se exerce”

(FOUCAULT, 2004, p.236).

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Segundo a linha de pensamento da Proposta Curricular de Santa Catarina

(1998) e de Nunes (1987) o termo “sexualidade” está associado a um discurso

das Ciências Biológicas, que são um referencial à constituição e legitimação de

outros campos de cientificidade, como a sexologia, a pedagogia, a psiquiatria, a

psicanálise, entre outros. Isto nos leva a vincular sexualidade a diferentes visões,

tais como, as suas manifestações clínicas, aos desejos que estão dispersos nas

fantasias, nos sonhos, nas condutas tanto de adultos quanto das crianças e dos

adolescentes e, recentemente, reconhecida também, na conduta dos idosos. A

existência de um campo de conhecimento para a sexualidade nos leva a

reconhecer, em todos os humanos, fenômenos e práticas que associamos como

pertencentes ao campo da sexualidade. Neste campo surgem características,

construídas historicamente, consideradas corretas ou incorretas, a partir de

padrões estabelecidos pelo discurso cientifico.

A Proposta Curricular de Santa Catarina coloca de forma bem definida um

entendimento sobre sexualidade, segundo a qual:

a sexualidade não se reduz à união dos órgãos genitais e tampouco pode ser confundida com o ato sexual reprodutivo, pois este tanto pode estar inserido num relacionamento afetivo quanto indiferente a qualquer ligação amorosa. Ou seja, uma união genital pode acontecer por atração, desejo, prazer, como pode ser uma manifestação de poder, violência- prazer e opressão de uma ou mais pessoas sobre outrem. A atividade sexual genital, reprodutiva ou não, é caracterização biológica do ser humano enquanto espécie animal. Já a sexualidade se constitui numa elaboração histórica e cultural, que se explica e se compreende no contexto e nas relações nas quais produz. (PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA, 1998. p.17).

Conforme Caderno de Educação a Distância, UDESC (2002), a

sexualidade, atualmente, é entendida como a própria vida, englobando

sentimentos, relacionamentos, prazer, erotismo, direitos, deveres, sexo, enfim, o

ser humano em sua totalidade e, vivenciada através do corpo, que é o espaço

sensível do ser humano. À medida que se tem uma boa relação com o corpo, se

tem, também, grandes possibilidades de vivências significativas e plenas da

sexualidade. O corpo é apropriado pela cultura e suporte de significações sociais.

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Portanto, a sexualidade, que é exercida através corpo, está repleta de signos

sociais e culturais representativos da história individual, que se organizam a partir

da história coletiva dos indivíduos. Estas são boas razões para entendermos a

sexualidade como expressão fortemente política e não apenas como energia

biológica.

Então, sexualidade é uma dimensão exclusiva do ser humano. Nenhum

outro ser vivo é capaz de dar sentido, além do biológico, à questão da

sexualidade. Somente o ser humano pode estabelecer valores afetivos morais e

éticos a ela.

A sexualidade passa a ser um conceito, uma definição que explica algo da

vida e do modo de vida de cada um dos seres humanos.

Para Nunes (1987), todos os seres humanos são sexuados, em

permanente processo de educação. Cada um possui uma visão de mundo que,

dentre outras coisas, inclui o entendimento do que é sexualidade e sexo, com

reflexos imediatos em uma própria maneira de viver, incluindo o processo

permanente de educação sexual.

Para Nunes (1987) a educação da sexualidade deve ser abordada

estritamente como humana, assim se referindo a ela:

A sexualidade humana não está sujeita ao determinismo animal, restrita ao mundo natural. É uma esfera que passa além disso, ela contém a intencionalidade, no sentido de consciência e de experiência de sentido, no sujeito humano. É, portanto, dimensão existencial, original e criativa em sua expressão e vivencia. E esta dimensão é dinâmica, dialética, processual. Não pode reduzir a sexualidade a um substrato único, imutável, eterno [...] é histórica, processual e mutável (NUNES, 1987, p.17).

Romero (1998) chama atenção para o fato de que não existe uma única

definição do que é sexualidade e, por conseqüência, não existe um só modelo

padrão do que se possa chamar de educação sexual. Isso porque a partir da

história pessoal e da aprendizagem social é que se constroem concepções sobre

tudo, inclusive sobre sexualidade.

Vasconcelos (1971) apresenta uma definição clara sobre o que

compreende por sexualidade humana. Ele chama a atenção para a necessidade

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de uma conversão epistemológica no que se refere a esta temática, por não

tratar-se de uma sexualidade animal sem história e sem cultura.

Baseando-se na discussão apresentada pelos autores sobre os respectivos

estudos sobre sexualidade, para o propósito deste trabalho o termo sexualidade é

entendido como:

[...] sexualidade enquanto imersa na temporalidade, nela recebendo sua revelação vivencial, suas formalizações conceituais, sua expressão estética, seu tratamento moral e social. Que tudo isso faz da sexualidade humana o que ela pode ser: uma descoberta, uma elaboração, uma busca. Descoberta do corpo, como dimensão afetiva, que não “nasce” já determinada. Busca, enquanto a sexualidade humana é essencialmente erótica, isto é, voltada para o outro (VASCONCELOS, 1971 p.3).

O aprendizado da sexualidade acontece desde a mais tenra idade, de

forma gradativa. No entanto, a vida sexual na adolescência se diferencia,

principalmente, pela maneira como cada um é criado. Os meninos são

incentivados à sexualidade; as meninas, à afetividade. Dessa forma, as

expectativas serão muito diferentes: os meninos partem para o encontro com toda

a pressa, querendo o máximo de intimidade, se possível chegando à relação

sexual. As meninas procuram companhia e namoro, com beijos, mas sem

“transa”, evidenciando – se, assim, a questão de gênero transferida de geração

para geração.

Para trabalhar a questão da sexualidade com crianças e adolescentes, é

imprescindível uma revisão de conceitos, superação de preconceitos e

estereótipos, sendo necessário um olhar reflexivo sobre a própria sexualidade,

sabendo lidar com tabus e vergonhas. É fundamental dedicação e estudo.

Surgem também muitas dúvidas sobre o que os alunos podem perguntar. Será

que estamos preparados para responder? O que pensarão os pais?

Para Cabral, para tratar o assunto sexualidade e educação sexual

necessitamos, primeiro, a compreensão da nossa pessoa, entre as inúmeras

dimensões que somos. Assim, ela define o que é educar:

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Educar o outro é fundar a ação pedagógica na reflexão acerca da própria Educação. Ou seja, o educador ao se apropriar de um conhecimento passa por um processo de autotransformação, o que possibilita a produção e transmissão de novos conhecimentos. Assim, a transformação mais global se iniciará com o gesto, a palavra, a alegria, o afeto, a solidariedade e com o conhecimento científico, como um processo contínuo e questionador das relações amorosas, afetivas, conjugais e sexuais e do presente (CABRAL, 1999, p.153).

Ainda para Cabral (1999) é difícil encarar tudo isso com tranqüilidade. Por

isso, muitas escolas fogem do tema, preferindo tratar a sexualidade apenas na

visão biológica, por ser mais fácil.

Particularmente porque os livros didáticos, ainda muito presentes em sala de aula

levam muitos professores a seguirem o que nele está programado, sem uma

visão mais crítica. Geralmente os livros didáticos trazem apenas informações

sobre a anatomia do aparelho reprodutor e suas funções. As questões

emocionais, a aceitação da condição sexual de cada um e o relacionamento no

dia-a-dia entre os seres humanos não são abordados no livro didático, ficando

estas questões ao acaso, aos valores já incorporados pelos indivíduos e aqueles

divulgados pela mídia.

A prevenção às DST/HIV/AIDS é um dos temas que apresentam uma certa

demanda, desde a década de 80, porém com projetos isolados e na área das

Ciências Naturais. Os PCN chamam a atenção para a importância de desvincular a

sexualidade dos tabus e preconceitos e ligá-la ao prazer e a vida. Isto pode ser feito

quando do estudo das doenças sexualmente transmissíveis /AIDS, dando ênfase à

vida e não à morte.

Os PCNs dão ênfase aos temas transversais. A presença desses

documentos são de grande valia para fortalecer a elaboração e execução dos

planos políticos pedagógicos nas escolas.

Uma das dificuldades para o efetivo trabalho em Educação Sexual e das

questões relacionadas à sexualidade na escola é a falta de preparo do professor.

Os PCN enfatizam o tema, julgando a priori, que todo o(a) professor(a) tenha tal

formação, mas sabe-se que as universidades, mesmo nas licenciaturas, pouco ou

quase nada preparam os seus futuros docentes nas diversas modalidades dos

temas transversais.Outra dificuldade é o tempo de elaboração das propostas

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pedagógicas nas escola e os paradigmas existentes, nos quais Educação Sexual

e/ou Orientação Sexual é considerada exclusiva das Ciências Naturais, por

julgarem que os professores apresentam formação específica, mas em sua maioria

a formação é apenas biológica.

Cecília Meireles (1979) captou e registrou essa idéia fundamental para quem

se propõe a educar outros seres humanos: “ hoje desaprendo o que tinha

aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender. Todos os dias

desfaleço-me e desfaço-me em cinza efêmera: todos os dias reconstruo minhas

edificações em sonhos eternos” (MEIRELES,1979, p. 141). Para trabalhar

educação sexual é necessário tentar se reconstruir constantemente, ser educador-

presença, como diz Paulo Freire (2000) “ser presença em si mesma, que se sabe

presença, que intervém, que transforma, que fala do que faz, mas também do que

sonha”.

1. 2 Educação Sexual ou Orientação Sexual?

Muitas discussões giram em torno dos estudos de sexualidade quanto ao

uso dos termos Educação Sexual ou Orientação Sexual. Existem muitos trabalhos

acadêmicos voltados para o estudo da terminologia usada nos PCN, Orientação

Sexual. A revisão da produção acadêmico-científica brasileira sobre Educação

Sexual, foi efetuada por Mary Neide Damico Figueiró (1996). Na análise realizada

sobre a dicotomia da conceituação da educação sexual em livros, publicações

agrupadas, dissertações e teses, a pesquisadora mostra que em torno de 40%

dos trabalhos optaram pelo uso do termo Orientação Sexual como sinônimo de

Educação Sexual, ainda que manifestem diferenciação conceitual definindo

educação sexual como o trabalho da família e orientação sexual um trabalho

sistematizado e organizado feito pela escola,10% definiram Orientação Sexual

unicamente para denominar a orientação do desejo sexual e 50% defendem o uso

do termo Educação Sexual de forma exclusiva para designar prática educativa

para a sexualidade humana. Buscamos a visão de alguns autores (as) e

estudiosos(as) de sexualidade para entendermos ou tentamos entender o que é

Educação Sexual e o que é Orientação Sexual.

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Marta Suplicy (1998), diferencia educação sexual de orientação sexual. De

acordo com a autora, a educação sexual é atribuída à responsabilidade dos pais,

concebida como capacidade amorosa e erótica que o ser humano adquire na

família, para o desenvolvimento da sexualidade no decorrer da vida. É a

experiência do dia-a-dia que a criança recebe desde o útero materno. Já a

orientação sexual é atribuída à responsabilidade da escola e do Estado.

Conforme Suplicy, a orientação sexual como atividade desenvolvida na escola

“deriva do conceito pedagógico de Orientação Educacional, definindo-se como

processo de intervenção sistemática ao qual cabe preencher lacunas, erradicar

preconceitos, aprofundar informações e, mais do que tudo, propiciar uma visão

ampla e diversa das opiniões sobre os temas da sexualidade” (SUPLICY, 1998).

Ribeiro (1990), explica que a orientação sexual na escola, por não se

fundamentar em uma pedagogia de transformação dos padrões de

relacionamento sexual, não “[...] foge do conteúdo tradicional de sexualidade e no

máximo produz informação sexual, a pura e simples reprodução de definições e

conceitos que deveriam ser dados nas aulas de Biologia”.

Antonio Carlos Egypto (2003) chama de orientação sexual a definição de

objetivos e planejamentos que possam fazer pensar a sexualidade por meio de

programas desenvolvidos ao longo do trabalho escolar.

Ainda, para Egypto (2003), a sexualidade está presente na vida de todos

nós desde que nascemos até morrermos, e a educação sexual acontece

constantemente, de uma outra forma. Ele afirma que:

Estamos sempre sendo educados sexualmente, seja em casa, com posturas e opiniões dos pais e filhos, seja por meio da mídia, lendo reportagens de jornal e revistas, assistindo a programas na televisão, navegando na internet. Recebemos o tempo todo informações e uma carga de idéias e de preconceitos a respeito da sexualidade.[...] Quando vamos a um bar tomar um chope, conversar e contar piadas, festa, cinema, estamos sempre passando e recebendo informações a respeito da sexualidade (EGYPTO, 2003, p.13).

Egypto (2003) observa que a escola se nega a discutir a questão da

sexualidade. Tendo ele participado da elaboração dos PCN, uma das razões

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pelas quais defende o termo orientação sexual na escola, acreditando ser muito

importante conter nos temas transversais a orientação sexual, como um trabalho

sistematizado e de caráter educativo.

Nesta perspectiva o autor define Orientação Sexual como:

[...] um processo de intervenção que favorece a reflexão sobre a sexualidade: valores, posturas, preconceitos, vivências e informação. Caracteriza-se como um levantamento e esclarecimento de questões que favorecerão uma reflexão sobre valores e informações recebidas e vividas no decorrer da vida. Dessa forma, ressalta a importância de trabalhar a sexualidade da criança e do adolescente não somente no que tange aos aspectos sociais e afetivos dessa sexualidade. (EGYPTO, 1998, p.18).

O Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS) defende

o termo Orientação Sexual, como pode-se observar em seu Guia de Orientação

Sexual, objetivos e valores (1998), quando adotam o seguinte conceito: “A

Orientação Sexual, quando utilizada na área da educação, deriva do conceito

pedagógico de Orientação Educacional, definindo-se como o processo de

intervenção sistemática na área da sexualidade, realizado principalmente em

escola”.

O GTPOS entende que a Orientação Sexual se propõe a fornecer

informações sobre sexualidade e a organizar um espaço para reflexões e

questionamentos sobre postura, tabus, crenças e valores a respeito de

relacionamentos e comportamentos sexuais. A Orientação Sexual abrange

também o desenvolvimento sexual compreendido como saúde reprodutiva,

relações interpessoais, afetividade, imagem corporal, auto-estima e relações de

gênero. Enfoca as dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e espirituais

da sexualidade através do desenvolvimento das áreas cognitiva, afetiva e

comportamental, incluindo as habilidades para a comunicação eficaz e a tomada

responsável de decisões.

A Educação Sexual é vista pelo GTPOS como todo o processo informal

pelo qual aprendemos sobre sexualidade ao longo da vida, seja através da

família, da religião, da comunidade, dos livros e da mídia.

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Para Pinto (1995), o fundamental não é eleger um termo específico para

tratar de sexualidade e sim discutir as propostas metodológicas em que estão

embasados os trabalhos, pois mesmo reconhecendo a falta de padronização no

termo, afirma que isso não compromete a qualidade da produção científica e nem

mesmo o avanço do corpo teórico dessa prática educativa. A autora adota o

termo orientação sexual e o define:

[...] um processo sistemático e continuado de intervenção instrumental que se destina a ajudar no desenvolvimento de atividades com crianças e adolescentes acerca das questões da sexualidade. [...] Se diferencia da educação sexual informal que acontece na família; propicia uma visão ampla e profunda da sexualidade humana, favorecendo sobre a mesma, assim como estimula a liberdade de expressão abarcando os contextos sociais e político, nos quais a discussão sobre sexualidade está inserida (PINTO,1995, p.1,2).

A concepção de orientação sexual, compreendida como um conjunto de

informações e competências institucionais, para preencher lacunas sobre

sexualidade deixadas pela família, é difundida em amplos universos de agentes

educacionais. Precisa-se de questionamentos críticos sobre sexualidade, bem

como sua construção histórica e social sobre valores, normas e padrões sexuais.

Necessita de uma visão completa para tornar-se capaz de romper com modelos

padronizados e submissos ao sistema social existente.

A abordagem da sexualidade sob aspectos fisiológicos e psicológicos leva

a um conhecimento do “natural”, mostrando o senso comum com suas “verdades

e mentiras”. Precisa-se buscar uma compreensão histórica da sexualidade,

revestida de elementos conceituais e teóricos oferecidos pelos diversos campos

da ciência, de forma multidisciplinar de tratar à sexualidade, entendendo a

concepção de uma nova ética e uma nova moral, buscando elementos que

possibilitem a construção de uma sexualidade mais humana, mais responsável,

livre das amarras psicológicas e sociais e, portanto, que contribua para que “[...]

os homens e as mulheres possam se olhar como seres humanos, em vez de se

olharem como sexos” (VASCONCELOS, 1985, p.13).

No que se refere à Educação Sexual, Ferrer diz:

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Educação Sexual é a parte da educação geral que incorpora os conhecimentos biopsicossociais da sexualidade, como parte da formação integral do educando. Seu objetivo básico é atingir a identificação e integração sexual do indivíduo e capacita-lo para que crie seus próprios valores e atitudes que lhe permitam realizar-se e viver sua sexualidade de uma maneira sã e positiva, consciente e responsável dentro de sua cultura, sua época e sua sociedade (FERRER, 1992, p.37).

Para Vasconcelos (1971), “educação sexual é abrir possibilidade, dar

informações sobre aspectos fisiológicos da sexualidade, mas principalmente

informar sobre suas interpretações culturais e suas possibilidades significativas,

permitindo uma tomada lúcida de consciência” (p.111).

Outros autores como Dimenstein (1998), afirmam que educação sexual

significa “aquisição de conhecimentos sobre sexo e reprodução, de forma a garantir

que a pessoa obtenha prazer em seus relacionamentos, evite arriscar a sua saúde

e de seu companheiro e exerça o controle da reprodução”.

Apesar dessas considerações, convém lembrar que diversos estudiosos

estabelecem uma compreensão a respeito da educação sexual como um tema de

extrema importância, o qual deve ser aprofundado, e rigorosamente trabalhado no

meio educacional, servindo como um referencial a toda comunidade escolar.

Ribeiro (1990) adverte que a escola precisa fundamentar uma pedagogia

de transformação dos padrões de relacionamento sexual, ir além da informação

sexual e conceitos dados nas aulas de Biologia, deve buscar a sexualidade no

contexto social e defende educação sexual como um processo contínuo, dizendo:

que a educação sexual-constituída pelo e nos processos culturais contínuos que, desde o nascimento, de uma forma ou de outra, direcionam os indivíduos para diferentes atitudes e comportamentos, ligados à manifestação da sua sexualidade. Essa educação é dada indiscriminadamente na família, na escola, no bairro, com os amigos, pelos meios de comunicação etc. É a própria evolução da sociedade que determina os padrões sexuais de cada época e, conseqüentemente, a educação sexual do indivíduo (RIBEIRO, p.25).

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Marta Suplicy, que em seu livro Sexo para Adolescente, 1998, defende o

uso do termo orientação sexual na escola e educação sexual inerente à família,

mas declarou à Folha de São Paulo:

Educação sexual será o processo de preparar os orientandos para tomar suas próprias decisões entre uma variedade de alternativas concorrentes, sempre tendo como parâmetros os valores unânimes de uma sociedade democrática: honestidade, ausência de exploração, respeito da integridade do outro, pela condição do outro, respeito por si mesmo, igualdade de direitos entre homem e a mulher (Folha de São Paulo, 14 de junho de 1981,p. 3).

A sexualidade passa a ter uma maior importância hoje entre ao(as)

educadores(as), pois as estruturas da sociedade estão sendo marcadas por uma

sexualidade consumista e pela busca individual de uma forma de prazer refletindo

nos comportamentos, na linguagem, na forma de se vestir, na músicas e nas

formas de relacionamentos. Para Nunes (1987), uma verdadeira educação sexual

terá que colocar toda a cultura em questão e importa-nos mostrar que a

sexualidade, enquanto dimensão humana, não está fora de nós. De acordo com o

autor:

A educação sexual não é mera questão técnica, mas, sim, uma questão social, estrutural, histórica [...] Só é possível a educação sexual numa perspectiva dupla: de um lado, crítica de todas construções, significações e modelos históricos e sociais, que envolvem as proibições, os interditos e permissões; e, de outro, o pessoal, o afetivo, o existencial, que a educação tecnicista tende a sufocar num discurso objetivo distante. Deve-se buscar o justo meio de transmitir esta contradição de maneira honesta e significativa (NUNES, 1987, p. 14 e 18).

Para Nunes e Silva (1999), os(as) educadores(as) que usam o termo

orientação sexual para o trabalho pedagógico na escola são oriundos de um

processo de formação voltado para a Psicologia e a Medicina. Os autores

defendem o termo educação sexual na escola por entenderem que a mesma

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concebe a sexualidade numa dimensão histórica e faz sua abordagem

pedagógica na perspectiva de emancipação humana.

O uso do termo e o entendimento do conceito Educação Sexual ou

Orientação Sexual na escola difere entre autores (as) e estudiosos (as) da

sexualidade. Entretanto pode-se observar que há uma grande semelhança na visão

sobre sexualidade e a importância de ser abordada na escola.

A Proposta Curricular de Santa Catarina defende o uso do termo Educação

Sexual, sendo assim, as escolas catarinenses que trabalham de alguma forma a

sexualidade, por recomendação, utilizam também o termo Educação Sexual em

seus Projetos Políticos Pedagógicos.

Analisando essas ponderações optamos pelo termo Educação Sexual não

apenas por recomendação da Proposta Curricular, mas também por uma maior

identificação ao termo e conceituação por nós entendida. Entendemos que

Educação Sexual é um processo de Educação contínuo, sistematizado e que

possibilita ver o ser humano num todo.

Portanto, para uma maior compreensão acerca da sexualidade e educação

sexual, no capítulo seguinte, aborda-se questões relativas à sexualidade e à

prevenção, conceituando e contextualizando-as.

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CAPÍTULO II

2. 1 A Sexualidade na Escola

Com o avanço tecnológico que ora se apresenta, muitas pessoas têm

acesso aos mais diversos meios de comunicação, por inúmeros canais de TV,

cada vez mais atraentes, jornais, revistas, computador e conseqüentemente a

internet, estando, desse modo, conectados com o mundo inteiro.

Tudo isso desencadeia novos desafios e também novas ameaças, pois

muitas vezes o ser humano não está suficientemente preparado para seus efeitos

colaterais como a solidão, a perda da individualidade, a falta de calor humano,

gestos, por mínimos que forem, de carinho, de amor e ainda, a insensibilidade

com as questões sociais mais urgentes. Novos hábitos e formas de

comportamentos foram modificando os valores familiares e sociais. A escola, por

sua vez, tem se mostrado, muitas vezes, apática, conflituada e, de certa forma,

amedrontada diante do quadro socio-tecnológico em que vivemos.

A escola continua sendo um espaço privilegiado na implantação de ações

que promovam o fortalecimento da auto-estima e do auto-cuidado; a preparação

para a vivência democrática; o aumento dos níveis de tolerância às diversidades;

o estabelecimento de relações inter-pessoais mais respeitosas e solidárias; enfim,

em última instância, na qualidade de vida. E são inúmeras as experiências de

trabalhos educativos que nos têm mostrado sua importância e adequação aos

novos tempos. Sendo assim, a escola é um importante pólo de abrangência

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quando se trata de atingir jovens, dispondo de seu poder de divulgar e reforçar

valores.

Diante de tantos avanços tecnológicos, podemos dizer que vivemos a “era

tecnológica”, porém, temas como educação e sexualidade são, ainda, polêmicos

e importantes para todos, especialmente para quem trabalha “educando” outras

pessoas.

Muitos conceitos e métodos ainda são considerados e usados pela escola,

mas esquecidos por outros segmentos da sociedade. Essa disparidade acabou

criando um impasse muito grande frente a certos temas, como por exemplo, a

sexualidade. Muitos conceitos e pré-conceitos foram ficando em nossos currículos

escolares perpetuando reações e comportamentos resistentes a este mundo real.

Segundo os PCN, as discussões sobre a inclusão da temática da

sexualidade no currículo das escolas foram intensificadas a partir das décadas de

60 e 70, por ser, essa temática, considerada importante na formação global do

indivíduo. Desde meados da década de 80, passou a haver uma maior

preocupação com a sexualidade na escola, devido ao grande crescimento de

gravidez e os riscos de DSTs e HIV/AIDs1 entre jovens .

Os PCN apresentam alternativas capazes de promover

transformações qualitativas no contexto educacional. Esses documentos trazem

orientações e sugestões com objetivos claros de promaver alterações

significativas nas práticas pedagógicas. Além de indicar mudanças, na forma de

se fazer educação, propõem orientações gerais sobre o conteúdo básico a ser

1 A AIDS, causada pelo vírus da imunodeficiência humana-HIV, teve seu primeiro caso registrado no início da década de 80. No Brasil, os primeiros casos confirmados ocorreram em 1982, no estado de São Paulo, segundo dados do Ministério da Saúde. Inicialmente, foi associada, de forma estigmatizadora, a “ grupo de risco” , tais como homossexuais, prostitutas, dependentes químicos e hemofílicos, localizados sempre em grandes centros urbanos. A associação da doença aos “ grupos de risco” dissiminou a falsa noção de que as pessoas não pertencentes a estes “grupos” estariam “ a salvo da ameaça”. Por outro lado, reforçou preconceitos e estigmas vigentes contra algumas minorias. Em publicações da época, em revistas de circulação nacional, falava–se que seria uma doença sem grandes preocupações para os heterossexuais. Em entrevista a revista VEJA, em janeiro de 1986, o pesquisador francês David Klatzmanm, considera a AIDS como uma doença de difícil contágio e que tenderia a ficar confinada aos “grupos de riscos”. Chegou a declarar que para uma pessoa que não fosse homossexual, nem toxicômano e que não necessitasse de transfusões de sangue, o risco de contrair a AIDS seria infinitamente menor do que ser atropelado por um automóvel na rua. Paralelo a isso, sempre esteve o preconceito da Igreja, a qual não vê com bons olhos os métodos anticonceptivos e acredita na prevenção das DSTs apenas via fidelidade. Com tudo isso, a escola, de maneira geral, falou timidamente sobre AIDS, pregando ser um problema do “grupo de risco”, pouco questionando sexualidade e menos ainda a homossexualidade.

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ensinado e aprendido, visando uma melhoria na qualidade da aprendizagem,

através de um currículo nacional.

No contexto da proposta dos PCN se concebe a educação escolar como:

Uma prática que tem a possibilidade de criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os conteúdos necessários para construir instrumentos de compreensão da realidade e de participação em relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas, condições estas fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma sociedade democrática e não excludente ( PCN, 1997,p.45).

Os PCN propõem um avanço de enfoque em relação aos conteúdos

curriculares, um ensino no qual os conteúdos sejam vistos como um meio para

que os alunos desenvolvam as capacidades que lhes permitam produzir e usufruir

dos bens culturais, sociais e econômicos, demandando assim, uma relação de

conteúdos e exigindo uma ressignificação para os mesmos.

A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998), documento norteador do

ensino catarinense, optou pela concepção histórico-cultural da aprendizagem, que

em sua origem, tem como preocupação a compreensão de como as interações

sociais agem na formação das funções psicológicas superiores. Estas não são

consideradas uma determinação biológica. São resultado de um processo

histórico social. As interações sociais vividas por cada criança são, desta forma,

determinantes no desenvolvimento dessas funções. Sendo assim, a criança e o

conhecimento se relacionam através da interação social.

De acordo com Vygotsky (1984), a aprendizagem ocorre a partir de um

processo de interação social, através do qual o ser humano vai internalizando os

instrumentos culturais. As interações entre o professor, como um dos mediadores

em sala de aula, e os alunos, não se limitam aos aspectos cognitivos, a

afetividade é uma dimensão presente no processo interativo, exercendo influência

sobre a aprendizagem.

A escola está passando por um período de transformações importantes,

como acontece com outros setores da vida contemporânea, principalmente no

que diz respeito ao mundo do trabalho. Daí a importância do processo de

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ressignificação do compromisso para com a formação humana. Esse momento e

esse aspecto requerem a presença de um educador muito mais comprometido

com o ser humano, aluno ou aluna, presente em sala de aula. Mais relevante do

que os conteúdos curriculares, do que as técnicas e métodos é o ser humano,

com sede de aprender a viver numa sociedade em constante mudança. A escola

tem como compromisso a formação humana e a efetiva possibilidade de

convivência no complexo contexto da sociedade interligada.

Paulo Freire preocupou-se com uma pedagogia de educação concebida a

partir da realidade do educador e do educando, na qual houvesse uma troca,

através do diálogo, construindo juntos. Segundo Brandão (1983), um dos

pressupostos desse método é que ninguém educa ninguém e ninguém educa

sozinho. A educação deve ser baseada na coletividade, na solidariedade e no

amor, não devendo ser imposta. Sendo assim, a partir do momento em que, como

professores, levamos algo pronto, não damos oportunidade ao aluno para pensar,

criar, participar, e estamos impondo educação.

A proposta de Paulo Freire prevê o respeito ao homem como integrante do

mundo, com direito a uma educação dinamizadora que ressalta num processo de

mudança, por meio de sua atividade, do diálogo constante e participativo, que

amplia a compreensão e o domínio cultural. Para o autor, a educação pode ser

vista sob duas concepções: bancária e problematizadora. A educação bancária é

aquela em que existe um narrador de conteúdos e os educandos fazem o papel

de ouvintes pacientes do que está sendo narrado. A educação problematizadora

considera, fundamentalmente, a criatividade do educando, permitindo uma ação

crítica baseada numa reflexão verdadeira sobre a situação real. A educação deixa

de ser um ato dirigido, para tornar-se uma troca de experiências entre educador e

educando, na qual as duas partes ampliam seus conhecimentos.

A partir de 1996, as escolas brasileiras passaram a contar com apoio para

implantar, em seus Planos Pedagógicos, questões relacionadas à sexualidade,

através dos PCNs, elaborados pelo Ministério da Educação, com apoio de

diversos especialistas. Os PCNs trazem a importância de se abordar na escola

temas como: Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo e

Orientação Sexual. São temas que podem ser abordados em qualquer momento

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e por todas as disciplinas. Não existe obrigatoriedade em executar a proposta

mas, sem dúvida, trata-se de um importante incentivo para se incluir temas como

sexualidade e saúde reprodutiva no contexto educacional.

Para os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997) a Orientação

Sexual é um tema transversal, ou seja, a preocupação nesse documento é que

essa temática não seja abordada com caráter normativo, mas partindo-se das

necessidades e curiosidades dos alunos. Os PCN alertam para que os

professores devam estar atentos às ocasiões que surgem para a discussão do

tema e não trabalhá-lo como uma disciplina e em momento específico. Em caso

de necessidade de abordá-lo como conteúdo em determinado momento, que seja

de maneira a despertar o interesse atendendo as necessidades do aluno.

A Proposta Curricular de Santa Catarina usa o termo educação sexual e

também o trata como conteúdo transversal a ser trabalhado de forma

interdisciplinar, devendo ser pensada como temática integrante do Projeto Político

Pedagógico das escolas e dos sistemas de ensino. Reforça que a educação

sexual não é um tema a ser trabalhado numa disciplina específica da matriz

curricular e, tampouco, num momento específico, fechado.

A Proposta Curricular faz referência a escola e a família e observa que a

função de educar sexualmente fica num jogo de responsabilidades entre a escola

e a família: a escola deixa para a família e esta atribui à escola a

responsabilidade. Muitas vezes, a dificuldade de abordar a temática sexualidade

passa por não a percebermos como processo e, sim, por tentarmos buscar

respostas prontas e receitas para os “problemas” específicos. A Proposta

Curricular de Santa Catarina chama a atenção, ainda, que diante do temor as

DSTs e gravidez indesejadas as escolas promovem palestras sobre o tema,

geralmente com profissionais da área médica. Alheios a realidade da escola,

apesar do conhecimento médico-científico, não tratam a sexualidade como

processo. A escola enfrenta, também, a questão do despreparo de seus

profissionais para lidar com a temática. Uma das razões é fruto de sua formação,

pois os cursos raramente tratam o tema com a real importância.

A concepção de educação sexual, defendida na Proposta Curricular de

Santa Catarina, considera que o conhecimento científico e a linguagem afetiva

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devam ser trabalhadas/consideradas a partir do ingresso da criança na escola,

como uma das possibilidades de conquista da autonomia afetiva, da liberdade de

escolha e de uma vida prazerosa. Neste sentido, defende-se que as intervenções

pedagógicas devem ser planejadas e desenvolvidas pelo educador, independente

das crianças terem manifestado interesse, ou não, pelo tema.

Os PCNs, em seus temas transversais, tratam o tema sexualidade como

Orientação Sexual. A Proposta Curricular de Santa Catarina, consequentemente as

escolas catarinenses seguidoras da mesma, usam a terminologia Educação Sexual

por entenderem que educar está ligado à aprendizagem. O tema está ligado ao

exercício da cidadania.

As questões ligadas à sexualidade afloram naturalmente na cabeça dos

adolescentes, levando a alteração do comportamento e despertando mais

curiosidades. Descobrem seu próprio corpo e o interesse pelo sexo aumenta. Nesta

fase, a escola não pode fechar os olhos e nem transferir as responsabilidades só

para os pais. Os professores podem desempenhar papel importante para “informar”

os estudantes sobre sexualidade, uma vez que a escola não existe só para

preparar os jovens para o mercado de trabalho. Ela também deve contribuir para

formar cidadãos sem preconceitos.

Trabalhar sexualidade na escola não é exatamente uma tarefa nova, mas a

maneira de encará-la precisa ser mudada. É parte essencial da formação de

sujeitos e cidadãos, para que possam viver e atuar, no presente e no futuro, num

mundo em transformação, no qual o papel da escola também evolui para que ela

continue a fazer sentido para cada um de nós.

Camargo (1999), em seu livro Sexualidade(s) e Infância(s) aponta para

diversas formas de trabalhar sexualidade no âmbito escolar, relatando experiência

de projetos que mobilizaram e encantaram os alunos de séries iniciais de uma

escola. Para iniciarmos um projeto, precisamos repensar conceitos e preconceitos,

quebrando tabus. Na seqüência da sua argumentação o autor nos questiona como

nos vemos e vivemos, afirmando que:

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São anos e anos de adestramento em que a sexualidade vem sendo vigiada e normatizada. Nossa herança cultural deixou impregnadas em nossos corpos as relações entre o pecado e a carne: o sexo e a sexualidade restritos à genitalidade. A imposição de limites, de penalidades, de culpas reduziu a sexualidade ao que pode, ao que não pode; ao que é adequado e ao que é inadequado; ao que é normal e ao que é patológico (CAMARGO, 1999, p.141).

Para Camargo (1999) no processo civilizatório, em nossas relações do dia-

a-dia, queiramos ou não, estabeleceram-se “verdades” sobre a sexualidade que

dividem seres humanos em “normais” e “anormais” (p. 27). Daí a necessidade da

prática educativa voltada para a temática sexualidade humana ter urgência em

ser efetivada.

Nos PCNs, o tema transversal destinado à discussão da sexualidade (vol.

10) se divide em três eixos temáticos: 1) corpo: matriz da sexualidade, 2) relações

de gênero e 3) prevenção às doenças sexualmente transmissíveis/AIDS. Furlani

(2003) sugere que o primeiro eixo seja trabalhado nas primeiras séries do Ensino

Fundamental e tratado como “O nosso corpo muitas semelhanças e algumas

diferenças”. Acredita, ela, que o trabalho possa ser desenvolvido com argila

esculpindo um corpo de menino e um de menina, ambos nus, discutindo as

terminologias, científicas e de senso comum, dadas às partes dos corpos,

questões das fases da vida e de higiene, tornando a discussão sobre sexualidade

algo tranqüilo e comum.

Para o segundo eixo, Furlani (2003) sugere um jogo para desconstruir padrões

rígidos e fixos que associam, preconceituosamente, a sexualidade com o caráter

das pessoas, possibilitando também a ampliação do vocabulário das crianças e

jovens. O jogo consiste em um quadro de palavras construído através de simples

perguntas como: O que consideramos de maior valor numa pessoa? Que

qualidades procuramos num amigo ou numa amiga? O número de palavras

depende da série a ser aplicado. A autora recomenda o cuidado com o uso de

palavras/qualidades que reforcem o masculino tais como: “honesto e desonesto”,

“caridoso ou egoísta” e sugere o uso da palavras honestidade, desonestidade,

caridade e egoísmo.

Para o terceiro eixo, os PCN sugerem, inicialmente, um levantamento do

conhecimento prévio dos alunos sobre as DSTs/HIV/AIDS, para poder

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desmistificar as informações errôneas e equivocadas sobre elas. Na discussão

sobre as DSTs/AIDS o enfoque deve ser coerente com os princípios gerais da

Orientação Sexual, ou seja, desvincular a sexualidade dos tabus e preconceitos

relacionando-a ao prazer e à vida, não acentuando a ligação entre sexualidade e

doença ou morte.

Para Egypto (2003), a escola não pode fugir da responsabilidade de que a

sexualidade faz parte do conhecimento humano. Ela é um lugar onde se está

discutindo conhecimento, onde se está produzindo diálogo e reflexão. É, portanto,

um espaço com condições ideais para se discutir a sexualidade com as crianças e

adolescentes. Para começar um trabalho na escola, que ele classifica como uma

viagem desafiadora e apaixonante sugere iniciar com a leitura dos PCNs, temas

transversais sobre orientação sexual que apresenta de forma estruturada os

fundamentos para esta ação na escola. O autor reforça que é necessário outras

leituras para um bom entendimento sobre sexualidade.

Porém, não é só a leitura que importa para a formação do educador de

orientação sexual. A arte é fundamental. Ir ao cinema, ver diferentes filmes,

especialmente que abordem sexualidade, gênero e diversidades. Ir ao teatro,

concertos, dança e exposições de artes plásticas, tudo isso amplia o imaginário e

os horizontes e nos faz entender o desejo, a juventude, a vida.

Egypto (2003), afirma que não bastam textos, vídeos e dinâmicas para

trabalhar o tema. A questão da sexualidade deve ser um objeto de elaboração

pessoal e reflexão para se obter uma postura genuína de abertura para

discussões mais consistentes com os alunos.

Se por educação sexual entendemos um processo de intervenção que visa

favorecer a reflexão sobre a sexualidade e a saúde reprodutiva, contemplando

não só a informação sobre aspectos biológicos, mas também a discussão sobre

sentimentos, valores, crenças, preconceitos, experiências pessoais, é necessário

que o profissional da educação participe de um processo amplo e aprofundado de

formação, tanto em termos de conhecimento teórico quanto de uma metodologia

adequada. A sua formação é fundamental para que possa desenvolver seu

trabalho com segurança e para que os alunos se sintam tranqüilos e motivados

para expressarem suas opiniões sobre o assunto.

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Segundo Nunes (1987), para ser um agente no projeto de educação sexual

na escola, o profissional, além de seu conhecimento específico, deve buscar

conhecimento teórico e desenvolver uma postura crítica acerca de algumas

temáticas fundamentais tais como: as teorias sobre o desenvolvimento da

sexualidade ao corpo; relações de gênero; desenvolvimento das relações afetivas;

construção da auto-estima e formação da identidade sexual; métodos

contraceptivos; doenças sexualmente transmissíveis como a AIDS. Se, é

importante a formação do profissional, quem fará isso? Questiona-se por que as

universidades formadoras de profissionais em Educação não apresentam em suas

matrizes curriculares disciplinas que contemplem esse aspecto da formação dos

profissionais. Lembrando que esta formação vai além de conhecimentos técnicos,

ele precisa conhecer-se, entender sexualidade, despir-se de preconceitos e tabus

em seus atos, não apenas nos discursos.

Para Furlani, o papel da educação sexual na escola é, primeiramente,

desestabilizar as “verdades únicas”, os restritos modelos hegemônicos da

sexualidade normal, mostrando o jogo de poder e de interesses envolvidos na

intencionalidade de sua construção. Depois, apresentar as várias possibilidades

sexuais presentes no social, na cultura e na política da vida humana,

problematizando o modo como são significadas e como produzem seus efeitos

sobre a existência das pessoas.

De acordo com essa mesma autora, são nessas contradições conceituais

pré-estabelecidas, que a escola tem um papel fundamental de trazer a tona

debates, discussões, enfim, as mais variadas formas de outras possibilidades de

compreensão da relevância que é o tema educação sexual em nossa sociedade.

Furlani (2003), destaca ainda que a educação sexual, em qualquer nível de

ensino deve caracterizar-se pela continuidade, baseada em princípios claros de

um processo permanente, porque as crianças e os jovens são constantemente

bombardeados por informações que refletem as desigualdades sexuais, de

gênero, de raça, de geração, de religião, de classe, etc razão pela qual a

educação sexual deve ser sistemática, corajosa, honesta e politicamente

interessada com a crítica desses modelos de desigualdade.

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Para desenvolver um trabalho sobre sexualidade, a escola, na pessoa do

profissional, necessita também ter claro o tipo de linguagem a ser utilizado.

Segundo Furlani (2003) na escola, o currículo, as disciplinas, as normas

regimentais, as formas de avaliação, os materiais, a linguagem, possuem uma

estrutura própria e organizada que, via de regra, reforçam e produzem a diferença

de gênero, sexo, raça, etc..., podendo em muitos momentos incentivar o

preconceito, a discriminação, o sexismo. Furlani (2003) prioriza problematizar a

linguagem por considerá-la fundamental no processo de desconstrução da

normalidade. Acredita, ela, que as regras lingüísticas são criadas num contexto

histórico de poder e, dessa forma, podem ser modificadas.

Se a linguagem hegemônica normatizou o tratamento masculino como

forma genérica para se referir aos homens e mulheres, para Louro (1999), “a

linguagem institui e demarca os lugares dos gêneros não apenas pelo

ocultamento feminino, e sim, também, pelas diferenciadas adjetivações que são

atribuídas aos sujeitos” (p, 67). Furlani (2003) exemplifica, “a menina é carinhosa,

delicada, meiga e o menino é durão, corajoso, forte. Outra forma de a linguagem

atuar demarcando desiguais diferenças é pelo uso (ou não) do diminutivo

(menininha, bonequinha, princesinha) e o aumentativo para o menino (garotão,

meninão, filhão )” (p.70). A linguagem promove associações e comparações entre

determinadas qualidades ou comportamentos de gênero.

Ainda para Furlani (2003), a escolha das palavras, pelas (os) educadoras

(es), não é um processo neutro, sem implicações. Referir-se sempre na forma

masculina, não se trata de um ato inofensivo – aprisionado na comodidade da

norma instituída – favorece a manutenção de uma tácita “superioridade” de um

gênero que inviabiliza ser a menina, a mulher, a idosa. Além disso, pode tornar

confusa a compreensão de determinadas idéias ou informações, como, “o homem

é o principal responsável pela destruição do meio ambiente”, e muitas outras, ao

referir-se ao homem, fica questionável ou vago, quem é o homem.

Foi em 1152 (séc XII) que uma obra lexicográfica inclui em sua nominata,

pela primeira vez, a palavra “homem”; enquanto que “humanidade” data do século

XIV. Furlani faz uma reflexão sobre a terminologia da espécie humana:

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A linguagem no masculino não é um “reflexo do real”; é uma criação lingüística intencionalmente política. A escolha de “homem”- no latim homo – serviu para denominar a única espécie do planeta (Homo sapiens) , que tem sapiência, que raciocina, que possui inteligência, e por conseguinte, definiu, também, seu substantivo (humanidade). [...], se já tivessem sido feitos estudos literários, lingüísticos e semânticos sobre as representações e significados contido nas palavras em vez de usa como referência a palavra “homem” para designar a espécie, talvez a referência fosse a palavra “pessoa”, que em latim é persona (FURLANI, 2003 p. 71).

Segundo Furlani, se os livros de Biologia, Arqueologia e Antropologia

tivessem apresentado a história evolutiva da espécie na sucessão “persona

habilis, persona erectus e persona sapiens”, hoje, estaríamos familiarizados com

a nomenclatura persona, tanto quanto com homo. Sugere a autora que

educadoras e educadores, na forma verbal ou escrita e em qualquer nível de

ensino, evitem o tratamento exclusivamente no masculino, e estejam atentos a

linguagem dos livros didáticos permitindo-se a fazer uso de palavras alternativas

como “pessoas” ou homem e mulher. Como no momento não é possível mudar o

nome da espécie, pode-se usar espécie humana ou humanidade.

Outro questionamento da linguagem dos livros didáticos feito pelos estudos

de gênero, é o dos termos usados exclusivos na educação sexual. Ao se falar em

diferenças de meninos e meninas, logo vem a frase ou idéia “meninos tem pênis,

menina tem vagina”. Furlani (2003) e outros discordam da frase reescrevendo-a

“meninos tem pênis, meninas tem vulva”, justificando e explicando que vagina é

apenas uma parte da genitália feminina, interna e escondida que

intencionalmente, assim deve permanecer: escondida.

Sobre a questão que a menina tem vagina, Furlani (2003) arrisca-se a

dizer “que a frase está dentro da lógica de uma sexualidade reprodutiva, que

privilegia o ato sexual entre homem e mulher e que concebe apenas a penetração

vaginal como prática sexual” (p. 73). Admite que a sexualidade reprodutiva,

através da heterossexualidade, é, sem dúvida, o aspecto legítimo da sexualidade

humana. No entanto, existem outras possibilidades.

Segundo o raciocínio de Furlani (2003), frases como de que “a menina tem

vagina” é uma maneira de enfatizar o pensamento que o envolvimento sexual seja

exclusivamente entre seres de sexo oposto e implica também em legitimar a vida

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sexual das pessoas que estão no período reprodutivo, desconsiderando a

possibilidades da vivência da sexualidade na infância e na terceira idade. Limita a

prática sexual com penetração vaginal como “única” e “melhor”, favorecendo o

preconceito de outras práticas sexuais e da masturbação, além de dificultar o

entendimento e a aceitação de uma sexualidade objetivando o prazer, sem

intencionalidade de filhos. Tudo isso nos remete a questionar as atitudes das

professoras e professores frente à discussão da sexualidade na escola e o modo

de “olhar” e intervir sobre o livro didático.

A escola precisa também discutir que tipo de família temos hoje para

responder perguntas como: - Será sempre o “homem”o chefe da casa? - Por que

fulano (a) não tem pai? - Que fazer ou como tratar com alunos(as) que

apresentam comportamentos homossexuais? Estas e todas as outras situações e

vivências sexuais dos alunos somente serão respondidas pela escola se ela

estiver preparada para tal, tanto do ponto de vista biológico quanto histórico

social.

2. 2 Sexualidade/Prevenção e a Escola

Um dos grandes problemas na escola sobre as questões sexuais, versa

sobre “até que ponto a formação dos educadores” proporciona uma segurança

em termos de preparo para que haja uma elaboração de conteúdos que tenham

significação aos inúmeros alunos das escolas brasileiras?

A sexualidade nunca esteve tão evidenciada como na atualidade. A

televisão, as revistas, a música têm explorado até a exaustão o corpo da mulher,

as relações sexuais, o orgasmo e problemas como a falta de ereção. Parece-nos

que pouco resta à escola dizer sobre o assunto. Mas, longe disso, a realidade

tem-nos mostrado que, ainda, temos muito que dizer e fazer, especialmente em

momentos como este, em que nos damos conta da vulnerabilidade da população

jovem à AIDS e às doenças sexualmente transmissíveis, além dos inúmeros

casos de gravidez na adolescência e da dificuldade de relacionamentos entre os

seres humanos.

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As questões relacionadas à sexualidade vêm sendo contempladas não só

em seus aspectos biológicos, mas também em suas dimensões psicoafetivas e

socioculturais. A sexualidade vem sendo cada vez mais, entendida como um

fenômeno cultural que possui historicidade e que é moldado por influências

econômicas e políticas.

O crescente aumento dos casos de infecção pelo HIV entre os jovens e

adolescentes e a inexistência ou pouca eficácia dos registros de casos de

doenças sexualmente transmissíveis (DST), o pouco conhecimento dos jovens

em assuntos relacionados com a sexualidade, a idéia de que AIDS e as DST

estão associadas apenas aos homossexuais masculinos, usuários de drogas

injetáveis e prostitutas, e os programas educacionais insuficientes ou

inadequados tornam a questão da prevenção às DST/AIDS entre a população

jovem altamente preocupante. Some-se a isso o fato de o adolescente acreditar

que tudo pode acontecer com os outros, menos com ele.

Segundo o Ministério da Saúde, a epidemia (HIV/AIDS), ao longo dos anos

80 e 90 tem atingido homens, mulheres, jovens e crianças, indistintamente:

indivíduos de diferentes segmentos sociais, com graus de instrução diferenciados,

de diversas etnias, habitantes de grandes centros urbanos e cidades de pequeno

porte, nas mais remotas regiões do país, de diferentes religiões e de diferentes

orientações sexuais.

O fenômeno biomédico e social da AIDS “interfere no curso das relações

humanas, no estilo de vida, na organização das famílias, no livre arbítrio em

relação aos papéis sexuais” (SCHALL, 1999, p. 28).

O advento da epidemia lançou novos desafios no campo da ética,

impulsionando a reflexão sobre direitos humanos e a construção de uma

sociedade mais justa e solidária. O Mistério da Saúde, em 1999, sistematizou

algumas Diretrizes para o Trabalho com Crianças e Adolescente, entre as quais

destacamos algumas:

- promoção da educação sexual nos processos formais e informais de

ensino, considerando-se os aspectos psicoafetivos, biológicos e socioculturais, e

as relações de gênero, respeitando-se as etnias e as orientações sexuais, e tendo

como objetivo a construção da cidadania;

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- garantia de acesso e permanência na escola, que é o espaço privilegiado

de construção e socialização do saber, promoção da participação e integração da

família e da comunidade no processo educativo;

- garantia de acesso aos processos de promoção de saúde, prevenção,

assistência médica e social;

- respeito aos direitos fundamentais do adolescente definidos na

Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente;

- a prevenção das drogas e o tratamento do usuário devem ser prioritários

em relação à repressão ao uso;

- a classificação das drogas lícitas e ilícitas não deve ser utilizada como

critério discriminatório para a definição de prioridades nas ações de prevenção;

- promoção do protagonismo dos adolescentes e jovens nas ações de

prevenção;

- na capacitação de recursos humanos, as especificidades regionais devem

ser respeitadas, valorizando-se as informações epidemiológicas. A formação dos

profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social, deve contemplar

a sua atuação na área de prevenção das DST, AIDS e drogas.

O Ministério da Saúde, ao longo dos anos, vem desenvolvendo programas

de esclarecimento e de prevenção às DSTs/HIV/AIDS e gravidez, editando

material informativo, divulgando-os especialmente nos setores responsáveis pela

saúde e educação. Os Estados também buscam cumprir seus papéis na questão

prevenção, através de programas, propostas e formação dos profissionais, mas

em pleno século XXI o próprio Ministério da Saúde ainda registra altos índices de

crescimento de DST e de gravidez na adolescência.

Abordar questões sobre sexualidade, antes de se iniciar uma discussão

sobre as DST/AIDS, torna-se uma necessidade, uma vez que os adolescentes

vêm demonstrando um apelo à sexualidade em idades cada vez mais precoces,

adotando práticas e/ou comportamentos que os deixam sob maior risco de

infecção pelo HIV e outras DSTs sem se considerarem sujeitos à infecção.

Questões sobre papéis sócio-sexuais, desejos e pulsões, resposta sexual,

mitos, tabus e crendices sexuais, inadequações e disfunções, comportamentos

sexuais alternativos saíram da clandestinidade e estão desencadeando

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discussões acaloradas nos lares, nas escolas, nas ruas e na mídia em geral. Ora

de forma direta, clara, ora com deformações, estas questões deixam os jovens

freqüentemente desorientados com o excesso de informações recebidas.

Os adolescentes procuram satisfazer suas curiosidades de diversas

maneiras, principalmente, aquelas relacionadas ao sexo e à sexualidade. Buscam

na mídia, com os pais, com os colegas, com alguns professores. Algumas fitas de

videocassete para sessões em grupo são trocadas e passam por baixo das

carteiras escolares revistas ditas “pornográficas”. Eles discutem sobre

personagem da novela ser ou não “hermafrodita” e polemizam se a colega de

classe poderia ter evitado o aborto. Além disso, divulgações de casos de estupro,

prostituição infantil, assédio sexual que funcionários sofrem nos locais de

trabalho, aguçam a curiosidade dos jovens.

Todos os olhares, cheios de indagações, são dirigidos para o educador,

como se perguntassem: é certo ou errado? é normal ou anormal? De modo geral,

tais questões não são respondidas. Quando o são, na maioria das vazes

resumem-se ao aspecto biológico das dúvidas e questionamentos dos alunos.

Seja por sentir-se despreparado, incomodado com o tema ou mesmo por sentir-se

desconfortável, o educador esquiva-se de responder tais perguntas, manifestando

uma falsa neutralidade diante de um assunto que não pode mais ser indiferente à

escola e à Educação. A apatia da escola em relação a questões voltadas ao sexo

e a sexualidade reforçam e/ou disfarçam o aliena mento que o estudante já

partilha em sua família.

Claudia Fonseca (2002) afirma que descobertas científicas no século XX,

como a pílula anticoncepcional, a fertilização in vitro, a “barriga de aluguel”, os

exames de DNA para paternidade duvidosa, contribuíram para o estabelecimento,

hoje, de várias “estruturas familiares” no Ocidente. Quando “as rígidas

convenções morais foram cedendo a valores recentes, centrados na auto-

realização e satisfação emocional, as relações conjugais “[...] tornaram-se abertas

à negociação” (FONSECA, p.271) possibilitando o surgimento da “família pós-

moderna”, caracterizada pela pluralidade de conformações. Nas famílias

contemporâneas, encontram-se também aquelas constituídas por pessoas do

mesmo sexo, “[...] parceiros do mesmo sexo ganharam um espaço importante; se

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a afeição é a verdadeira base do relacionamento, por que o casal seria limitado a

um relacionamento heterossexual centrado em torno da reprodução biológica?”

(FONSECA, p. 272).

O profissional da escola deve estar ciente da realidade e desenvolver

atividades, com as crianças e adolescentes, sobre as diversas formas de

organização familiar e as diversas vivências sexuais, com conhecimento, sem

preconceito e de maneira que todos possam sentir-se cidadãos incluídos no

processo e na sociedade.

2. 3 Prevenção às DSTS/HIV/AIDS: UNESCO/UNICEF

O crescente número de casos de DSTs/HIV/AIDS na população mundial

passa a ser uma preocupação constante da Saúde Pública e dos órgãos que a

representa. Segundo a UNESCO, o objetivo central na prevenção do HIV é o

desenvolvimento de uma consciência crítica que favoreça a adoção de atitudes e

práticas que evitem a infecção pelo HIV e, por conseguinte a evolução da

epidemia. A Educação Preventiva as DSTs está vinculada a ao conhecimento dos

riscos de infecção e a capacidade do indivíduo de adotar práticas seguras que

evitem essa infecção. Para tanto, a UNESCO compreende que a Educação

Preventiva deve enfocar aspectos sócio-culturais que interferem na prevenção, na

perspectiva de desenvolver habilidades e sustentar a motivação necessária para

mudar o comportamento para a redução dos riscos e das vulnerabilidades.

A UNESCO Brasil está assentada sobre os seguintes eixos de ação:

• Incentivar a mudança de comportamento mediante a educação, focando

os jovens.

• Fortalecer jovens, adultos, trabalhadores da educação e da saúde,

organizações não- governamentais e profissionais da comunicação

social para lidar com os desafios da epidemia, diminuindo seus

impactos negativos sobre as pessoas, as instituições e as sociedades.

• Eliminar a discriminação e estigma daqueles que vivem direta ou

indiretamente com HIV/Aids mediante a disseminação de práticas

legislativas e políticas públicas de excelência.

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• Advogar a mensagem preventiva entre os principais formadores de

opinião (parlamentares, jornalistas, jovens, empresários etc).

• Contribuir com outros países para a replicação de práticas brasileiras de

reconhecido sucesso na contenção da epidemia em outros contextos

nacionais e regionais.

A ONU (Organização das Nações Unidas) definiu o combate a AIDS como

destaque entre suas metas para este milênio e a Unesco contribui para esse

esforço global, suas ações são dirigidas prioritariamente aos jovens,

considerando-os “a chave da luta contra a AIDS’, pelo fato de serem mais

vulneráveis a doença e chama a atenção para a importância de centrar atividades

educativas de prevenção nas escolas.

O boletim divulgado no dia 21 de novembro de 2006, pelo Ministro da

Saúde Agenor Álvares, com base nas notificações registradas no serviço de

saúde pública e privada em todo o país, apontam para uma queda acentuada nos

casos de transmissão vertical do HIV (quando o HIV é passado de mãe para filho,

durante a gestação, parto ou amamentação). De acordo com o boletim no período

de 1996 a 2005 a redução foi de 51,5%. O boletim da conta ainda de outros

dados interessantes para análise da situação do HIV no País, como por exemplo:

nas pessoas acima de 50 anos de idade houve, nesse mesmo período, um

crescimento significativo. Nos homens de 50-59 anos a taxa passou de 18,2%

para 29,8% e entre as mulheres nessa mesma faixa etária passou de 6% para

17,3%. E nos homens acima de 60 anos o índice passou de 5,9% para 8,8% e

nas mulheres acima de 60 anos passou de 1,7% para 4,6%.

Na população masculina, apesar do crescimento dos índices nos idosos,

há uma discreta queda de incidência de contágio do HIV, no período de 1996 a

2005 passou de 22,5% para 21,9%. Já nas mulheres, a taxa saltou de 9,3% em

1996 para 14,2% em 2005.

Ainda segundo o boletim do Ministro da Saúde, nos homossexuais

observa-se uma diminuição de casos, mas entre os bissexuais e heterossexuais

ocorre um aumento gradativo. Do total de casos do sexo masculino, o aumento

nos heterossexuais passou de 22,5% em 1996 para 44,2% em 2005. Esses

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índices revelam expressiva redução nos contágios dos homossexuais. Nas

mulheres a transmissão é quase que exclusiva heterossexual, sendo responsável

por 94,5% dos casos registrados em 2005. Dados ainda dão conta na queda em

71% na transmissão entre usuários de drogas e que 91% dos casos de

transmissão são através das relações sexuais.

O UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) é uma instituição

que tem como objetivo promover a defesa dos direitos das crianças, ajudar a dar

resposta às suas necessidades básicas e contribuir para o seu pleno

desenvolvimento. Na questão do HIV/AIDS sua atenção esta voltada

especialmente para a transmissão vertical, a qual depende exclusivamente da

orientação para a importância do teste de HIV antes ou durante a gestação e em

caso positivo o tratamento precoce é eficaz para reduzir as possibilidades de sua

transmissão aos bebês inclusive o leite materno deve ser substituído por outros

alimentos. O UNICEF acredita que com seu trabalho e colaboração dos órgãos da

saúde e da educação é possível reduzir ainda mais os índices de transmissão.

O UNICEF prioriza também a Educação dos adolescentes, acredita que as

campanhas globais podem atingir 80% dos adolescentes, levando até eles o

conhecimento necessário para a prevenção de contágio com HIV.

O Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS) é uma

Organização não Governamental, fundada em 1987 por psicólogos, pedagogos e

psicanalistas interessados no estudo das questões da sexualidade. Sua Missão

principal é contribuir para a construção de conhecimento e implementação de

ações críticas e inovadoras em relação à sexualidade nos âmbitos da educação,

da saúde e da comunidade, visando ao bem estar dos indivíduos.

O GTPOS tem uma proposta metodológica para a implantação de projetos

de Orientação Sexual em escolas, baseada na convicção que a escola tem a

responsabilidade social de contribuir para a saúde e bem estar sexual de crianças

e adolescentes.

Os objetivos principais do GTPOS2 são:

2 Dois membros do GTPOS tiveram participação na redação dos capítulos de Orientação Sexual dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação.

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• Capacitar educadores para o trabalho de Orientação Sexual em

escolas

• disseminar nossa concepção preventiva quanto às doenças

sexualmente transmissíveis, inclusive a Aids.

• Constituir uma rede de multiplicadores capacitados para o trabalho de

sexualidade e prevenção das DST/Aids.

• Produzir material didático/apoio ao trabalho dos educadores e

multiplicadores

• Produzir, a partir da prática, material teórico que dê subsídios e

consistência à metodologia desenvolvida.

• Responder às solicitações de veículos da mídia, disseminando

valores pluralistas acerca da sexualidade.

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CAPÍTULO III

3. 1 Projeto: “VIVENDO E ADOLESCENDO” Prevenção às DSTS/HIV/AIDS

3. 1. 1 Contextualização

A Escola de Educação Básica São João Batista de La Salle, uma escola

pública estadual, situada na periferia da cidade de Concórdia - SC, aceitou o

desafio de enfrentar a questão da sexualidade de forma abrangente, tal como ela

é.

Em 1999, quando o projeto foi desenvolvido, a escola contava com 770

alunos distribuídos em Educação Infantil, Ensino Fundamental nos turnos

matutino e vespertino e Ensino Médio oferecido em dois turnos matutino e

noturno. Hoje a escola conta hoje com 740 alunos distribuídos nos mesmos níveis

de ensino e turnos. A clientela, proveniente de famílias assalariadas, contava com

vários alunos-trabalhadores e apresentava recorrentes casos de gravidez. Muitos

adolescentes faziam referências orais agressivas e relacionadas ao sexo. Era

comum encontrar desenhos e palavras inadequadas voltadas à sexualidade,

escritos nos cadernos, carteiras e paredes, relacionados ao sexo, inclusive

expondo colegas – principalmente meninas – a situações embaraçosas. A

curiosidade e a falta de informações eram evidentes.

Geralmente a válvula de escape da rebeldia dos adolescentes está

diretamente ligada ao impróprio e ao proibido, segundo as convenções sociais

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vigentes. Tradicionalmente, os alicerces de muitas sociedades são formados

segundo tabus, regras e normas rígidas advindas de uma cultura sócio-histórico.

Tratar de um tema que acompanhou a História da Humanidade,

geralmente, subentendido nas entrelinhas dos relatos deixados há milênios,

constitui um desafio para educadores.

A equipe pedagógica da Escola de Educação Básica São João Batista de

La Salle elaborou o projeto VIVENDO E ADOLESCENDO - Prevenção às

DSTs/HIV/AIDS que teve seu início em 1998, com professoras de Biologia e

Especialistas em Educação.

O projeto apresentava, em seu contexto, um comprometimento com uma

Educação Sexual saudável, tanto no seu aspecto físico quanto afetivo,

fornecendo algumas informações e, principalmente problematizando questões

relacionadas à sexualidade relativas às necessidades dos jovens estudantes.

A escola, com a colaboração de seus educadores, funcionários e equipe

pedagógica procurou, através do referido projeto propiciar espaços para reflexões

e debates abertos, tendo como um dos objetivos ajudar jovens a enfrentarem

essa fase da vida com menos angústias ou rebeldias, através de uma relação de

confiança entre alunos e professores.

A direção da escola, juntamente com a orientadora educacional, iniciou as

atividades ofertando oficinas, inicialmente para os professores e funcionários.

Para a execução das oficinas, foram utilizados alguns recursos, tais como:

fitas de vídeo, retroprojetor, livros, jornais, reportagens, teatros, paródias,

esculturas, produção de textos, etc...

As atividades desenvolvidas junto aos professores e funcionários

abordaram assuntos relacionados a sexualidade como, por exemplo, uso indevido

de drogas, papel histórico-social da mulher, DSTs/HIV/AIDS e as formas de

contagio e prevenção. Isso aconteceu durante o dia de estudos do mês de

outubro de 1998, conforme previsto no calendário escolar. Participaram 32

professores, 04 funcionários, direção e orientação educacional.

A oficina iniciou com uma dinâmica de grupo com o objetivo de integrar e

descontrair os participantes. Posteriormente os delegados da Delegacia Regional

e da Delegacia da Mulher proferiram palestras sobre o uso de drogas,

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caracterizando os tipos e as possíveis razões de seu uso, tanto legais quanto

sociais.

Na continuidade dos trabalhos, a professora de Biologia, com o auxílio de

lâminas, proferiu uma palestra sobre as DSTs enfocando os meios de

transmissão, as suas características e conseqüências, bem como as formas de

prevenção. Durante esse trabalho houve muitos questionamentos dos

participantes sobre o tema.

Na continuidade da oficina, a orientadora escolar apresentou um relato

histórico sobre o papel social da mulher ao longo dos tempos, tendo como

fundamentação teórica, em especial, os estudos da pesquisadora Juçara

Terezinha Cabral em seu livro “A Sexualidade do Mundo Ocidental” (1999). Tendo

em vista que havia entre os participantes, professores das diversas áreas do

conhecimento, houve intensa troca de informações e debates sobre o tema.

Na seqüência, reunidos em quatro grupos distintos, os participantes da

oficina discutiram sua visão sobre Educação Sexual e como o tema era tratado,

principalmente pelo grupo de professores, tanto como indivíduos como

profissionais.

Pelos questionamentos e discussões, pode-se perceber idéias pré-

concebidas relacionadas a gênero, sexualidade e prevenção devido à história

pessoal de cada um.

Finalmente, a orientadora educacional apresentou os preservativos

masculino e feminino fazendo comentários desde os cuidados ao abrir a

embalagem até o uso correto dos mesmos.

Para encerrar as atividades do dia, foi feita uma avaliação oral do trabalho

desenvolvido, debatendo-se os vários aspectos expostos e discutidos. Os

professores demonstraram a validade/necessidade da elaboração e aplicação

para os alunos de um projeto que abordasse os temas sexualidade e prevenção

as DSTs/HIV/AIDS. A direção da escola e a orientação educacional

comprometeram-se junto aos professores na elaboração e aplicação do projeto

aos alunos.

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As mesmas oficinas realizadas com os professores foram desenvolvidas

com as mães pertencentes ao Clube de Mães3. Durante as atividades houve

grande envolvimento das participantes. Elas demonstraram muito interesse nas

discussões, pois o assunto supria sua carência de conhecimento tanto como

mães quanto como mulheres.

Após o término da oficina, foi feita uma avaliação oral do trabalho

desenvolvido, na qual as mães solicitaram que a escola assumisse a discussão

sobre questões relacionadas à sexualidade com os alunos por acreditarem que a

equipe estava preparada e por não apresentarem intimidade com o tema, além da

pouca liberdade de diálogo com os filhos.

Tendo como referência o Plano Político Pedagógico da Escola e em

consonância com o pedido das mães a equipe pedagógica da escola elaborou um

projeto para ser desenvolvido com os alunos a partir de 1999, visando

proporcionar-lhes uma oportunidade para questionarem e expressarem-se

abertamente sobre suas dúvidas e curiosidades relacionadas à sexualidade.

Por ser um tema abrangente envolvendo costumes, valores e

comportamentos dos jovens e adolescentes, o projeto denominou-se VIVENDO E

ADOLESCENDO - Prevenção às DSTs/HIV/AIDS e foi elaborado e desenvolvido

na escola atendendo os educandos desde a 7ª Serie do Ensino Fundamental até

a 3ª Série do Ensino Médio. Para cada série/faixa etária havia atividades/temas e

dinâmicas diferenciadas.

A escola, através da orientação educacional, professoras de Ciências,

Biologia, Arte e Relações Humanas, buscou levar aos seus educandos

discussões sobre sexualidade, gênero, adolescer, prevenção as DSTs.

A adaptação do projeto às séries foi oportunizada pelo momento e temas a

serem trabalhados, especialmente nas aulas de Ciências e Biologia, com

acompanhamento sistemático da orientação educacional no desenvolvimento das

atividades.

3 Associação formada por mães de alunos do educandário. O objetivo do clube era de proporcionar às mães um maior contato entre elas e a escola, no intuito de minimizar os problemas comuns que hoje circulam no ambiente escolar (uso de drogas, sexualidade, gravidez indesejada entre outros). O grupo reunia-se na escola na última sexta-feira de cada mês. A orientação educacional coordenava os trabalhos que incluíam leituras, discussões com palestras de profissionais e estagiários de várias áreas de acordo com as necessidades sentidas pelas mães ( dentistas do SESI, estagiários de Psicologia, pedagogia, Enfermagem, Direito e Biologia).

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Passo a dissertar sobre as oficinas que foram desenvolvidas com duas

turmas específicas por serem seus alunos o público alvo deste estudo, os quais

participaram de todas as atividades.

As oficinas que compunham o projeto e que foram desenvolvidas com o

Ensino Médio noturno, especificamente com as duas segundas séries, as quais

totalizavam 65 alunos, foi desenvolvida no ano de 1999 do século passado, e

consequentemente, com as turmas da 3ª série do ano de 2000, quando as duas

turmas concluíram o Ensino Médio com 52 alunos.

As oficinas que foram desenvolvidas no decorrer desses dois anos letivos

aconteciam nas duas turmas, envolvendo todos os seus alunos durante as aulas

de Biologia, História, Relações Humanas e Arte, de acordo com o horário escolar

e conforme o conteúdo a ser trabalhado em cada oficina.

Para o desenvolvimento das oficinas foi organizado um cronograma

dividido em 5 etapas, cada etapa compreendia a utilização de três aulas, sendo

que na etapa quatro por se tratar da especificidade do tema prevenção foram

utilizadas seis aulas, sendo desenvolvida essa etapa em três semanas com duas

aulas semanais. Definindo as atividades, as datas de execução, ainda que pré-

estabelecidas, eram adaptadas ao calendário escolar, sendo assim flexíveis as

possíveis mudanças de calendário. A oficina I foi desenvolvida de março a agosto,

sob a responsabilidade da professora de Biologia e a Orientadora Educacional da

escola. A oficina II de setembro a dezembro de 1999, pela professora de Arte e

coordenação da Orientadora Educacional e professora de Biologia, as quais

também coordenaram a oficina III, que aconteceu no decorrer de todo o ano letivo

de 2000.

3. 1. 2 OFICINA I

Constituiu-se num primeiro contato com os alunos que participariam do

desenvolvimento do projeto. Inicialmente, foi aplicado um pré-teste (anexo 2) com

o objetivo de verificar o interesse e o conhecimento dos estudantes sobre

sexualidade/prevenção DSTs/HIV/AIDS, além de melhor adaptar as oficinas a

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cada turma/série conforme suas necessidades e interesses de cada grupo. Esse

primeiro trabalho foi desenvolvido uma semana antes do início efetivo da oficina.

No primeiro dia efetivo de trabalho na oficina, após esclarecimentos gerais

sobre o desenvolvimento da mesma, foi realizada uma atividade objetivando

exercitar a expressão oral e descontração do grupo. A atividade foi iniciada com

uma música de ritmo rápido. Os alunos andavam livremente pela sala, buscando

ocupar o maior espaço possível. Com a orientação da professora de Biologia,

foram feitos movimentos corporais visando integrar e descontrair os participantes.

Em um segundo momento da etapa 1 dessa oficina, estando todos os alunos

sentados em forma de um círculo, foi distribuído para cada participante um palito

de fósforo. Cada aluno acendia o palito de fósforo que havia recebido e, com ele

aceso, fazia sua apresentação dizendo nome, idade, se morava com os pais,

suas preferências, suas expectativas e objetivos. Enfim, detalhes para que todos

se conhecessem melhor possível. Todo participante teve a liberdade de

expressar-se sem interrupções ou questionamentos, devendo encerrar sua

apresentação quando o palito apagasse.

Após as apresentações fez-se um debate sobre as emoções sentidas (medo,

impaciência, timidez) no momento de falar controlando a queima do fósforo.

Pôde-se observar o temor ao fogo, à pressa ou não em apresentar-se, a forma de

segurar o palito acesso – demonstrando, assim, a timidez de alguns e/ou a

vontade de se expor diante de outros, os quais lamentaram o momento que o

palito apagou. Também se discutiu sobre a questão do que o fogo representa

para cada um, desde a sua importância até o medo por ele causado. Esclareceu-

se sobre o uso do fogo ao longo dos tempos como forma de poder e repressão,

principalmente por parte da Igreja Católica que ainda amedronta seus fiéis com o

inferno. Lembrou-se, outrossim, que no período da Santa Inquisição (séculos XII a

XVI) inúmeros homens e mulheres foram queimados em praça pública acusados

de cometer heresias ou bruxarias. Outro fato histórico comentado foi aquele que

originou o Dia Mundial da Mulher, quando operárias foram queimadas, em uma

fábrica por reivindicarem melhores condições de trabalho. Não por acaso o grupo

de estudo e pesquisa de gênero formado por doze professores e alunos de quatro

instituições do ensino superior do Oeste catarinense, com sede dos

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encontros/estudos na Unochapecó-SC, denomina-se Fogueira, por entenderem

que mulheres e homens de todos os tempos elegem o fogo como símbolo de

destruição, de ameaça, de medo e de morte, mas também de paixão, de luta, de

purificação e de transformação.

Ainda na etapa 1, dessa oficina, como terceira atividade, desenvolveu-se a

dinâmica dos balões, cujo objetivo era fazer um amplo debate sobre a importância

de um trabalho coletivo, o quanto cada um é importante e necessário em um

grupo, bem como a questão da responsabilidade para com o todo e com o outro,

quando cada um faz a diferença, comparando-se assim a responsabilidade de

cada um num relacionamento afetivo/amoroso.

A dinâmica iniciou com cada aluno escolhendo um balão da cor de sua

preferência. Com ele na mão, cada um recebeu um número. Estando todos no

centro da sala, ao som de uma música, desenvolveu-se a atividade que consistia

em brincar com os balões sem deixá-los cair. Ao parar a música, a coordenação

da atividade chamava um ou mais números e dizia: - “Podem sentar”. Os demais

continuavam a cuidar dos balões, inclusive aqueles dos alunos que sentaram.

Esse procedimento se repetiu até permanecerem apenas três alunos no centro da

sala, cuidando dos balões. Evidentemente muitos já estavam ao chão. Então,

estando todos os alunos sentados em círculo, debateu-se sobre a atividade.

Questionou-se sobre como se sentiram aqueles que sentaram e permaneceram

assistindo os poucos colegas tentando controlar muitos balões; também sobre

como se sentiram os poucos colegas tentando controlar os muitos balões. Alguns

alunos declararam que aguardavam ansiosamente serem chamados para sentar,

já outros resistiram para não voltar à atividade e ajudar os companheiros a cuidar

dos balões. Poucos admitiram ter vontade de sentar mesmo não tendo sido

chamados, enquanto alguns fizeram o possível para controlar o número máximo

de balões. Outro questionamento foi sobre a ordem “podem sentar” a qual não

significava devem sentar.

Posteriormente foi feita a leitura do texto “ Pessoas do Sim”, com o intuito

de despertar no educando a importância de sua participação consciente no

projeto. O texto falava sobre as pessoas otimistas, colaboradoras, que acreditam

na vida, nas pessoas, e lutam por seus objetivos.

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A segunda etapa da oficina iniciou com a música “Diariamente”, de Nando

Reis e interpretada por Marisa Monte (anexo 3). O objetivo foi abordar as

diferentes opiniões e a diversidade de opções sobre comportamento sexual nos

dias atuais.

No início desta atividade cada participante recebeu a letra da música

incompleta. Em cada verso do texto faltava a última palavra, a qual deveria ser

completada pelo aluno conforme sua interpretação. Em seguida, cada um

recebeu a letra da música completa e, ao ouvi-la, fez-se a comparação da letra

original da música com as palavras por eles acrescentadas anotando-se as

coincidências. Todos “acertaram” poucas palavras e isso levou a um grande

debate visto que o texto era desconhecido para os alunos, basicamente por duas

razões: a composição era de 1991, quando a maioria tinha cerca de 8 ou 9 anos

de idade – e Marisa Monte não era muito apreciada pelo grupo participante.

Levando-se em consideração o contexto sócio-histórico-cultural do autor e

dos jovens participantes da oficina, compreende-se a divergência de termos

utilizada para preencher os espaços. Muitos dos vocabulários usados por Nando

Reis eram desconhecidos pelos jovens, pois, caíram em desuso, como “bobs” e

“verlon”. Outros, por condição cultural, não faziam parte de seu vocabulário

cotidiano como “marzipã”, “madrigal”, “krill”. Havia ainda algumas palavras ligadas

a contextos específicos como “para a menina que engorda: Hipofagin”

(medicamento para emagrecer muito em voga no início dos anos 80 do século

passado que mais tarde foi proibido). Outra situação específica era verso “ Para

escolher compota jundiaí”, uma marca específica que possivelmente fazia parte

do cotidiano de Nando Reis, mas desconhecida dos adolescentes. Muitos deles,

inclusive, desconheciam a palavra “compota”.

Cabe salientar que os “acertos” – “coincidências” no uso das palavras

chegou a um número de seis vocábulos. No entanto, mesmo com a disparidade

quantitativa entre os espaços em branco e os respectivos “acertos”, não foram

considerados “erros”, mas divergências de opiniões advindas da grande diferença

espaço temporal entre o autor e os adolescentes, consequentemente contextos

diferentes, “verdades” diferentes.

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Aproveitando a oportunidade oferecida pelo momento, iniciou-se um

questionamento relativo a conceitos e preconceitos referentes à diversidade de

cor, raça, credo, sexo, cultura, entre outros.

O grupo reconheceu que na maioria das vezes, pouco se conhece sobre a

razão/causa de qualquer preconceito e mesmo quais razões nos levam a aceitar

determinadas situações e comportamentos em detrimento de outros.

Como segunda atividade da etapa 2, dessa mesma oficina, trabalhou-se o

papel sócio-cultural da mulher na sociedade ocidental, com objetivo de conhecer

as razões históricas das desigualdades de gênero. Essa atividade foi

desenvolvida nas aulas de História, com auxilio de lâminas contendo breve

resumo (anexo 4) baseado em escritos de vários autores, em especial Juçara

Cabral. O texto foi dividido em duas partes: a primeira contemplou desde a Pré-

História até a Primeira Guerra Mundial. Para problematizar, utilizou-se a música

“Maria Fumaça”, de Kleiton e Kledir (anexo 5).

A segunda parte dos estudos foi realizada na etapa 3 da oficina, quando

foram desenvolvidos os estudos do papel sócio-cultural da mulher, desde a

Segunda Guerra aos anos 60, 70, 80 e 90 do século passado. “Ela é Bamba”

(anexo 6), música interpretada por Ana Carolina, despertou o interesse dos

alunos e abriu as discussões que giraram em torno do papel histórico-social da

mulher. De forma irônica, machista e bem humorada o primeiro texto enfatiza a

mulher como mercadoria de troca ( “seu pai é um próspero fazendeiro”...) e

geradora da prole (”só quero mesmo pra tirar cria”). As discussões giraram em

torno da mudança de família matriarcal para a patriarcal, onde a mulher assume

um papel secundário, ocorrendo o subjugo da mulher, a manutenção e

perpetuação do capital. Já o segundo texto apresenta a mulher em um contexto

mais contemporâneo conferindo-lhe um aspecto de independência, força e

resistência.

Se no primeiro texto a figura central é ocupada pelo homem, no segundo

há apenas uma referência ao masculino (“abre o olho com ela, meu rapaz”). O

restante do texto descreve alguns dos papéis contemporâneos ocupado pelas

mulheres, desde a preta do Pontal, mãe de cinco filhos, até a dona da boutique e

a apreciadora de blues e jazz, todas defendendo seu dia-a-dia sem deixar de

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sonhar (“Faz um jeito e já pensa que é atriz”, “Quer seu nome escrito numa letra

bem bacana”) e de ser dona de casa e em muitas situações a única responsável

pela família

A quarta etapa da oficina foi desenvolvida com a utilização de recursos

como vídeos, álbum seriado e lâminas informativas, livros e objetivando discutir

formas de contágio e de prevenção reconhecendo suas características, causas e

conseqüências. Essa atividade consistiu em assistir vídeos com debates sobre

prevenção, explanação por parte da professora sobre DSTs/HIV/AIDS, pesquisas

em livros com discussões sobre o tema e análise dos álbuns seriado sobre as

DSTs, formas de contágio e características dos portadores. Fez-se também, com

auxílio de dois voluntários, a demonstração de como vestir a camisinha

masculina, juntando as mãos e colocando o preservativo nos dedos indicadores e

médios.

Dando seqüência, fez-se a dinâmica de grupo intitulada “As Três

Caixinhas”, com o objetivo de estimular discussões sobre a angústia de esperar o

resultado de um exame com o resultado de uma possível DST/HIV/AIDS ou de

gravidez.

Para iniciar a atividade entregou-se uma caixinha, com outras duas dentro,

para os participantes do grupo enquanto tocava uma música. Essa caixinha era

repassada entre eles de mão em mão. Ao parar a música, quem estava com a

caixinha teve que abri-la. No início da atividade fora dito a todos que aquilo que

fosse encontrado dentro da caixinha, deveria ser usado diante de todos. Isso

gerou tanto expectativas quanto medo de expor-se. Na terceira e última caixa

havia apenas chocolates.

Para dar continuidade aos trabalhos, e com o intuito de mostrar o

distanciamento entre pais e filhos quando o assunto é sexualidade, na quinta e

última etapa, os participantes da oficina assistiram a uma curta metragem

chamada “Um Abraço”. O filme mostra um jornalista, pai de um jovem

adolescente que, sentindo dificuldade de falar diretamente com o filho, resolve

escrever-lhe uma matéria no jornal sobre as questões que permeiam as buscas e

anseios desta fase.

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Continuando as atividades, o grupo trabalhou na montagem do slogan da

oficina- “AIDS, ADOLESCENTES UNIDOS NA ESPERANÇA”. O objetivo era

discutir a importância de repassar para as pessoas de seu convívio cotidiano fora

da escola, os conhecimentos adquiridos durante os trabalhos da oficina. Essa

fase do projeto foi encerrada com aplicação do pós-teste (anexo 7) através do

qual, percebeu-se que as dúvidas demonstradas no pré-teste foram esclarecidas

no decorrer da oficina, uma vez que todos responderam bem as questões no pós-

teste.

3. 1. 3 OFICINA 2

A segunda oficina desse projeto desenvolveu-se nas aulas de Arte com a

construção, elaboração e criação de obras artísticas cujo tema era a prevenção

as DSTs/HIV/AIDS. A realização desses trabalhos aconteceu no decorrer dos

meses de setembro a dezembro de 1999, nas aulas de Arte. Porém, os conteúdos

da disciplina foram intercalados com as atividades do projeto, para que os alunos

tivessem tempo para pesquisa e amadurecimento do que iriam produzir em

relação a prevenção e o mesmo tempo dessem continuidade as aulas e

conteúdos da matriz curricular. Todas as atividades da oficina contavam com o

apoio da orientadora educacional e paralelamente as aulas de Artes, nas aulas de

Biologia eram debatidos os conceitos e conhecimentos adquiridos na oficina I.

Essas atividades envolveram um total de dez aulas de Arte. Os alunos de cada

uma das duas turmas distribuíram-se livremente em cinco grupos, totalizando 10.

Então, cada dois grupos trabalharam uma mesma modalidade artística:

O grupo 1, de cada turma, criou esculturas, a partir de sucata e blocos de

gesso, sobre os temas desenvolvidos nas oficinas. O símbolo, feito em madeira

com um metro de altura, até hoje é usado pela escola em trabalhos voltados para

a prevenção das DSTs/HIV/AIDS ( foto em anexo 8 ) também foi criação desse

grupo.

O grupo 2 criou paródias sobre os temas trabalhados. Inicialmente elas

foram apresentadas para os alunos da própria sala de aula que o grupo

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freqüentava e, no dia primeiro de dezembro de 1999, dia Mundial de Prevenção à

AIDS, para todo o educandário (anexo 9)

O grupo 3 elaborou e confeccionou painéis, murais e um outdoor

informativo, sobre DSTs/HIV/AIDS, prevenção e notícias que viessem ao encontro

dos temas. Esses murais foram expostos na escola e eram permanentemente

atualizados.

Já o grupo 4, escreveu e representou esquetes de teatro. Um dos textos

falava sobre a importância da prevenção e a difícil comunicação entre pais e filhos

quando o assunto era sair de casa a noite, horário de retorno e tipos de amigos.

Versava também sobre os bate papos entre amigos nos quais focalizavam

conselhos de prevenção. O outro esquete foi com fantoches, simulando uma

conversa entre colegas de escola após uma aula sobre sexualidade.

O quinto e último grupo organizou, criou e buscou patrocínio para a

confecção de panfletos informativos e adesivos para carros, os quais foram

distribuídos na escola, no bairro e no centro da cidade, juntamente com a

Secretaria Municipal de Saúde, no dia Mundial de Prevenção a AIDS (anexos

10 e 11).

Todos esses trabalhos foram reunidos e apresentados para toda a

comunidade escolar no primeiro de dezembro de 1999, com o objetivo de

socializar o que fora produzido durante essa oficina. No dia 3 de dezembro do

mesmo ano um grupo de alunos (as) participaram do programa “Papo Interativo”

na TV Concórdia, canal local.

3. 1 4 OFICINA 3

A terceira última oficina objetivou dinamizar e dar continuidade ao trabalho

de prevenção na escola com a criação do “Clube da Camisinha” , o qual estava

organizado na forma de uma associação, possuindo regimento interno, livro ata e

diretoria. Essa última oficina possuía uma equipe, denominada “equipe de

multiplicadores”, responsável pela organização e atualização de um mural

informativo escolar, que visava divulgar, esclarecer e discutir assuntos

relacionados a prevenção e outros pertinentes ao projeto. Paralelamente a essas

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atividades, os alunos/sócios acima de quatorze anos tinham o direito de receber

preservativos, gratuita e mensalmente, desde que com autorização e/ou

conhecimento dos pais. Essa distribuição - ocorria em reuniões mensais

realizadas na última semana do mês. Todos(as) os(as) alunos(as) do Ensino

Médio tornaram-se sócios(as), por considerarem os debates/ discussões de

temas recentes referentes a prevenção oportunos e interessantes, ainda que a

retirada de preservativos se restringia a pouco mais de 50% dos(as) sócios(as)

os(as) demais afirmavam não haver necessidade do mesmo. Todos os encontros

foram coordenados pela equipe de apoio do projeto, composta por especialistas

em educação, professora de Ciências/Biologia.

O projeto VIVENDO E ADOLESCENDO - Prevenção às DSTs/HIV/AIDS,

continua sendo desenvolvido na escola, sofrendo algumas modificações no

decorrer dos anos, hoje, a cargo basicamente da orientação educacional da

escola.

Em face ao seu envolvimento e bons resultados, a instituição, nas pessoas

da professora de Biologia e Direção da escola, ao final do ano de 2001, inscreveu

o projeto em nível de Estado para concorrer a uma das cinco vagas para projetos

de Ensino Médio para participar do Fórum Regional de Experiências no Ensino

Médio denominado de Escola para Escola. Sendo ele classificado foi apresentado

no referido fórum que se realizou em Florianópolis-SC de 16 a 18 de abril de

2002, com participação dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,

Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, cada estado apresentou cinco

trabalhos desenvolvidos no Ensino Médio. O objetivo do fórum foi criar condições

para que os profissionais e as escolas, através da divulgação e troca de

experiências, pudessem superar dificuldades e desafios postos pela nova

concepção curricular do Ensino Médio. O fórum contou com as parcerias do MEC,

UNESCO e Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina. Por ocasião da

apresentação cada escola participante recebeu da UNESCO, um prêmio no valor

de cinco mil reais para investir em projetos na unidade escolar.

No período de 8 a 11 de outubro de 2002, aconteceu em Florianópolis-SC,

o V Seminário Internacional Fazendo Gênero que, tradicionalmente reúne, a cada

dois anos, pesquisadoras e pesquisadores do Brasil e de universidades

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estrangeiras na América Latina, Estados Unidos e Europa com pesquisas e

publicações no campo dos estudos de gênero e dos estudos feministas. Por

ocasião do V Seminário, o projeto VIVENDO E ADOLESCENDO - Prevenção às

DSTs/HIV/AIDS foi apresentado em forma de comunicação.O projeto também foi

divulgado em várias oportunidades no jornal local (anexo 12, 13 e 14).

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64

CAPITULO IV

4. OS EGRESSOS E O PROJETO

4. 1 Procedimentos para obtenção dos dados

Para contato e seleção dos sujeitos da pesquisa, buscou-se nos arquivos

da Escola de Educação Básica São João Batista de La Salle – Concórdia – SC a

listagem dos alunos concluintes do Ensino Médio do ano de 2000. A primeira

seleção foi a partir da identificação, nos arquivos da escola, dos alunos

concluintes do ano de 2000, período no qual o projeto em questão foi

desenvolvido com etapas definidas e aplicadas. Após, buscou-se contato com os

mesmos para identificação do estado civil atual, pois nossa opção foi entrevistar

egressos com parceiros(as) fixos(as), casados(as) ou não, e solteiros(as) sem um

relacionamento fixo e, ainda, divididos por sexo, em número igual.

Sendo, assim, foram selecionados cinco do sexo masculino e cinco do

sexo feminino. Tínhamos a intenção de que cinco deles fossem solteiros e cinco

com parceiros fixos, o que não foi possível, pois decorrido o tempo do projeto, a

grande maioria já constituiu família. Alguns não mais residem na cidade, não

havendo possibilidades de contato.

Para proceder ao encaminhamento apropriado a investigação, na análise

das entrevistas, os sujeitos foram nomeados como egressos(as) E01, E02, E03,

E04, E05, E06, E07, E08, E09, E10.

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O grupo a ser entrevistado foi constituído por: 10 egressos; cinco de cada

sexo, sendo que 7 deles com parceiros fixos e destes três oficialmente casados,

sendo que um possui filho e dos 4 que apresentam parceiros fixos sem

casamento 2 também possuem filhos. Três entrevistados são solteiros, sendo 1

do sexo feminino e 2 do sexo masculino. A idade atual dos entrevistados varia

entre 23 a 28 anos. As profissões são diversas: sendo 2 mecânicos,1 auxiliar de

administração de supermercado, 1 garagista, 02 vendedores lojistas, 1 eletricista,

1 técnico em informática, 1 professor e 1 dona de casa. De todo o grupo, 3

freqüentaram curso superior, 2 complementaram estudos como técnicos em nível

de ensino médio e 5 não prosseguiram estudos. Todos(as) os(as)

entrevistados(as) participaram de todo o desenvolvimento do projeto, o qual durou

dois anos.

Egresso Sexo Estado civil

01 M parceira fixa

02 F casada

03 F solteira

04 F parceiro fixo

05 M parceira fixa

06 M solteiro

07 F casada

08 M casado

09 M solteiro

10 F parceiro fixo

4. 2 Análise das Entrevistas

Com base nos objetivos das questões formuladas aos entrevistados

a análise das entrevistas, foi direcionada por 5 elementos abstraídos do conteúdo

das respostas dos egressos.

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1. Parecer sobre o projeto

2. A forma de trabalhar o conteúdo

3. Postura frente à prevenção

4. Gênero e prevenção

5. A escola frente à sexualidade

4. 2.1 Parecer sobre o projeto

Quanto ao parecer dos egressos sobre o projeto pode-se abstrair das

entrevistas que todos aprovaram o projeto e sentiram-se beneficiados por terem

tido a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre

sexo/sexualidade/prevenção. Além disso, todos os participantes demonstraram

também preocupação com a prevenção da gravidez indesejada bem como das

DSTs/HIV/AIDS, como pode-se observar na fala do entrevistado:

“Eu acho que foi muito bom esse projeto que nós participamos, pois mostrava

para os alunos o que era importante, ensinava para a gente o que prevenir, foi um

aprendizado” ( E 05).

Assmann (1994) defende que a aprendizagem não depende apenas do

intelectual, mas também, da emoção e da valorização do corpo, tendo ligação

com o prazer e a vontade de aprender. Proporcionar ambientes e temas

significativos para o aluno, é investir na busca de bons resultados de

aprendizagem.

Não podemos esquecer que o entusiasmo é um requisito indispensável

para a motivação. Esta, por sua vez, impõe-se como condição básica para a

aprendizagem significativa. A fala do E 08: “.Falar de sexo e prevenção sempre

interessa para os jovens,...” evidenciou que o tema abordado no projeto era

importante e oportuno em virtude da fase da vida, pois sexualidade sempre

desperta interesse nos jovens.

O jovem adolescente vem para a escola com uma gama de conhecimentos

baseados no senso comum e, geralmente, trata-os como verdades únicas,

imutáveis e universais. Observa-se, no entanto que, com o aumento do número

de gravidez indesejada e do crescimento das DSTs/HIV/AIDS, cresce também a

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necessidade do adolescente buscar conhecimentos sobre medidas preventivas,

muitas das quais ele desconhece.

Faz-se necessário, outrossim, levar em consideração o imediatismo

adolescente. É característica da idade, viver o momento com total intensidade e

rapidez. Entretanto, quando questionados sobre seus “reais” conhecimentos a

respeito de práticas preventivas, o adolescente tende a silenciar, tanto por

ignorância quanto por medo de expor-se diante de seus pares. A fala de E 10

justifica a importância da participação no projeto: “Aprendi com ele, tive mais

liberdade de falar e foi dinâmico. Eram momentos gostosos de ir para a aula. O

projeto ajudou a sanar nossos medos. A gente fala, fala. Mas as vezes, só com os

colegas, não tem como tirar certas dúvidas” ( E 10).

A relevância do projeto foi pontuada pelo tema e pelo momento em que

aconteceu nas vidas dos alunos, além da forma como foi desenvolvido. Como se

pode afirmar pelas falas que seguem: “Eu ainda era bem menino e tudo o que se

falava era importante,...” (E 06) “Como na época eu tava na fase da adolescência

e nessa fase as coisas vão surgindo como: curiosidades, medo, insegurança ai a

gente fica meio perdida...” (E 07 ).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a adolescência é a fase

compreendida entre 10 e 20 anos (Ministério da Saúde, 1998). Este período é

caracterizado por inúmeras perguntas e dúvidas sobre todos os aspectos da vida:

família, religião, política, escola, amor, entre outros. Em relação a

sexo/sexualidade, os questionamentos são ainda maiores devido aos tabus e

preconceitos que tradicionalmente têm cercado o tema. Apesar disso, as

respostas que os adolescentes buscam devem ser despidas das idéias

preconcebidas trazidas desde outras gerações.

A Proposta Curricular de Santa Catarina afirma:

Somos seres em construção, inacabados, portanto educáveis. Educáveis no sentido do vir-a-ser, do que ainda não o é, sentido este que vem ao encontro da concepção materialista histórica, a qual entende o homem como produto de múltiplas relações sociais. Ou seja, um ser em movimento e em incessante transformação ( PROPOSTA CURRICULAR-SC, 1998. p.17).

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Para a geração atual de adolescentes, a sexualidade é concreta e

imediata. O corpo não é um objeto a ser escondido sob várias camadas de roupa

e seu despertar não mais ocorre entre quatro paredes do quarto matrimonial. O

jovem descobre o sexo cada vez mais cedo e dele desfruta seus prazeres sem

muitos questionamentos “morais”. Importa-lhe viver o momento pois, o futuro é

distante e abstrato.

Se em gerações passadas o papel de educar e formar o caráter do jovem

era da família e da igreja, atualmente este lugar é da mídia em seus diversos

meios. Ela dita normas e conceitos, gera modismos e padrões de comportamento

que têm a duração de uma novela ou onda musical momentânea. Como porta-

estandarte da propaganda e do marketing, a mídia – uma indústria com o papel

de tornar as outras indústrias vitais para o ser humano – é o principal fator de

influência do jovem/adolescente.

Neste sentido, a escola muitas vezes anda na contramão do pensamento

adolescente pois, o produto que oferece – o conhecimento – não é imediato e

nem sempre satisfaz os anseios dos jovens. Além disso, como instituição

histórica, a escola – que deveria oportunizar ao adolescente a reflexão e o

questionamento da razão de seus atos – opta por uniformizar e proibir padrões de

comportamentos, vestimentas e atitudes.

A adolescência não é marcada apenas por conflitos, mas também por

alegrias, disposição, vontade e necessidade urgente de mudar o mundo, além da

facilidade de amar e se apaixonar. Nesse período, é muito tênue a linha que

separa o amor do sexo: este vem em conseqüência daquele, como demonstração

concreta do abstrato.

As palavras de E 08 resumem o pensamento geral do grupo participante:

Foi um trabalho diferente e muito oportuno. Falar de sexo, prevenção

sempre interessa para os jovens. Mesmo com 19 ou 20 anos não se sabe

muito sobre valores. Se sabe transar e aí se percebe a verdadeira

importância de prevenção, do cuidado com os outros. (E 08 )

Segundo Trindade (2003) a realidade que vivemos nos mostra que o

adolescente inicia sua vida sexual ativa cada vez mais cedo. Para os rapazes,

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especificamente, é um modo de demarcar sua masculinidade, concretizada em

atos de conquista e no discurso de que já teve relações.

Já os modos de prevenção as DSTs/HIV/AIDs, e mesmo sua necessidade,

nem sempre são do conhecimento do adolescente. A família, em geral, se abstém

de discutir o tema; a mídia e as instituições governamentais não o fazem de forma

eficaz. Assim, a escola, quando a isso se propõe de forma ampla, despida de

preconceitos e tabus, preenche uma lacuna na vida do jovem. Ele sabe fazer sexo

mas nem sempre tem noção das dimensões e significações do ato tanto físico

quanto emocionalmente.

4. 2. 2 A forma de trabalhar o conteúdo

Quanto à forma como os conteúdos foram abordados no projeto o que mais

chamou a atenção dos participantes foi a oportunidade de se posicionarem,

tirarem dúvidas e serem os sujeitos de sua própria aprendizagem. Pode-se

perceber que houve um rompimento das barreiras existentes, na escola, entre a

informação e a ação. Ou seja, da aprendizagem mecânica/bancária (aquela em

que o sujeito recebe a informação), para a significativa (quando, além de ter

acesso à informação, o sujeito faz uso da mesma no dia-a-dia). Como se observa

nas falas de E 07 e E 08: “... era algo diferente, não era só copiar, copiar, ler,

responder perguntas e tal...”(07). ...”E outra parte importante do projeto foi a gente

ter oportunidade de criar coisas, como nosso grupo que fez teatro. Foi divertido e

sério. Afinal, além de passar a mensagem, tinha tempo determinado e não

podíamos sair muito do tema” (E 08).

É perceptível, pela fala dos entrevistados, a oportunidade dada aos

mesmos, no decorrer da realização do projeto, de serem ouvidos, o que muitas

vezes não ocorre nas aulas rotineiras, ouvir a voz dos alunos, saber considerar o

que pensam, sentem e propõem. É necessário seguir o olhar do aluno. Neste

sentido, o projeto apresentou uma estratégia diferente daquela a que os alunos

estavam acostumados, na medida em que lhes foi dada oportunidade para se

posicionarem, expressarem as suas dúvidas, questionarem e exporem-se sem

cobrança ou medo do ridículo pois foi criada uma situação de mútua confiança e

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colaboração entre os participantes, como observa-se nas falas: “... no projeto

pudemos falar, foi bastante especial, foi de forma da gente colocar o que se

entendia e que se queria saber...”(E 02); “Acho que foi bom, bem declarado. Todo

mundo pode participar nos grupos, nas falas. As reuniões foram muito boas. Acho

que todos tinham algo para passar para as pessoas”(E 03); “O jeito que foi

trabalhado dava oportunidade para a gente perguntar bastante e nos trabalhos

em grupo a gente ficava bem a vontade para falar. Nessa idade é o que mais se

gosta de falar e quando é com quem sabe e não tem vergonha de falar, é bom.

Nosso grupo, que devia fazer escultura, fez o símbolo da prevenção da AIDS e

lembro que ficou exposto no pátio da escola muito tempo” (E 06).

As oficinas proporcionaram um lugar para discutirem assuntos dificilmente

abordados em outros espaços institucionais, como a família ou o trabalho. Elas

representaram a oportunidade para começarem a refletir sobre as relações

sociais, em especial na questão da sexualidade, possibilitando a criação de maior

autonomia, necessária para tornar o jovem sujeito de sua própria sexualidade.

As oficinas de prevenção realizadas no projeto ofereceram condições para

o adolescente ser o sujeito dinâmico da reflexão, da ação e da práxis. Nesse

sentido, Freire e Vygotsky assinalam o caráter ativo do sujeito no processo do

conhecimento, quando o mesmo organiza tarefas de construção de significados a

partir de suas próprias experiências.

O projeto proporcionou aos seus participantes o direito a palavra, muitas

vezes cassada em sala de aula. Os espaços de discussões, presentes nas falas

dos entrevistados, nos remete a análise de que, no decorrer do projeto, pôde-se

discutir crenças e preconceitos existentes entre os jovens e, a partir disso,

reelaborar conhecimentos a cerca do tema.

A Proposta Curricular de Santa Catarina enfatiza que as crianças e jovens

trazem para a escola conceitos elaborados a partir de suas relações anteriores

aos bancos escolares. Alerta, ainda, para a necessidade da escola utilizar esses

saberes como pontos de partida e provocar o diálogo constante deles com os

conhecimentos das ciências, para garantir ao aluno a apropriação desses

conhecimentos, bem como da maneira científica de pensar.

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...às vezes você ficar na sala de aulas com teorias, vários dias e depois de um

mês você quase não lembra o que foi falado e escrito e com parte prática, o

aluno participando e criando coisas com o que aprendeu, pode se passar 20

anos e você ainda lembra do que fez e o que é importante pra você.(E 01)

A fala do entrevistado acima nos remete a linha de pensamento de Ausubel

quanto à aprendizagem significativa, a qual requer duas condições básicas: o

aluno precisa ter disposição para aprender e o conteúdo escolar tem que ser

potencialmente significativo.

Depoimentos dos entrevistados revelam a importância da participação de

outras disciplinas como o caso de Arte. E 05 diz: “... E não era só conteúdo. A

prática, inclusive nas aulas de Arte, foi muito interessante”. A prática a qual E 05

se refere foi um momento em que a escola estava envolvida no projeto e na

disciplina de Arte os alunos puderam demonstrar - através de esculturas e

pinturas nas paredes - sua preocupação e conhecimento sobre prevenção.

O modelo bancário e a divisão de disciplinas estão tão enraizados no aluno

que ao desenvolver atividades, teoricamente para eles da disciplina de Biologia,

em horários de outras disciplinas, o E 01 considerou “matar aula”. Ou seja, o

sistema que cada disciplina trabalha, isolada da outra, está tão presente no aluno

que, mesmo com um envolvimento tão criativo e produtivo, não foi suficiente para

um entendimento claro de que toda a escola trabalhava sexualidade naquele

momento. Na seqüência do depoimento, no entanto, ele reforça que dava mais

prazer ir para a aula.

A segunda parte do projeto, justamente o maior envolvimento com Arte, e

momento do aluno criar demonstrando seu conhecimento adquirido, foi bastante

lembrado por vários entrevistados. Foi o momento do projeto em que alguns

grupos deram sua contribuição para ações sociais junto a comunidade como diz E

04:

“Lembro que nosso grupo era responsável para panfletar na escola e, de

repente, foi tanta empolgação que conseguimos patrocínio e além de panfletos

conseguimos adesivos para carros. E aí participamos, junto com o pessoal da

saúde, de panfletagem no centro da cidade no final da tarde. Foi excelente ( isso

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foi no Dia Mundial de Prevenção da AIDS). E o orgulho nosso depois ver os

carros, com adesivo sobre AIDS com o nome da escola”.

A empolgação de E 08 em falar da oportunidade de criar e passar a

mensagem através da Arte demonstra a necessidade do aluno de ser o sujeito de

sua própria aprendizagem, ser um ser ativo na construção de seu papel social de

cidadão e em sua busca pela realização e felicidade pessoal.

A Proposta Curricular de Santa Catarina, em suas linhas gerais, afirma que

a aprendizagem transita entre a teoria e a prática da sala de aula e que a mesma

se pauta nas dimensões sócio-afetivas e devem se unir às dimensões cognitivas

para que os alunos possam iniciar seu processo de construção do conhecimento,

ou seja, a escola deve buscar o desenvolvimento do aluno na sua integralidade,

vendo-o como sujeito cognitivo, afetivo e social.

È importante aprender a conviver, num mesmo espaço, com outras

pessoas e respeitar as características e condições de cada um. A atividade

escolar, em um clima democrático, contribui para o enriquecimento dos

conhecimentos. A escola é um rico espaço social e popular de troca de

conhecimentos. Permitir a livre expressão de cada sujeito envolvido no processo

proporciona condições de um aprendizado mais significativo e duradouro.

4. 2. 3 Postura frente à prevenção

Quanto às mudanças que ocorreram na forma de pensar e de agir no

tocante a vida sexual dos entrevistados pode-se observar na análise das

entrevistas que a grande maioria trazia consigo certo grau de preocupação com a

prevenção tanto da gravidez quanto das DSTs. No entanto, a partir da

participação no projeto houve uma maior conscientização dos aspectos

mencionados, como se observa na fala de E 01: “Vou te dizer que eu não usava

sempre camisinha antes do projeto e mudou completamente. Após a gente saber

mesmo dos riscos de não usá-la, trabalhei meu psicológico e tive que aderir a

usá-la e passei a usar ou usar. Sei que tem gente que não gosta, mas no meu

caso “ sempre fui muito namorador não tinha outro jeito”(E 01).

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As falas dos entrevistados evidenciaram que o projeto proporcionou a eles

conhecimento sobre DSTs e sanou muitas dúvidas nas questões da vida sexual,

chamando a atenção para a importância da prevenção. Como diz E07: “Com

certeza. Como eu disse antes, a gente tinha muitas dúvidas. Depois eu sabia

como era, como prevenir...”

A participação nas oficinas, com debates e estudos, oportunizou as seus

participantes o conhecimento do que e como se prevenir. A escola deve ter a

preocupação com a constante formação do cidadão, para que ele saiba utilizar a

liberdade pessoal visando uma convivência solidária, valorizando sua vida em

todos os momentos.

A conscientização da necessidade de mudança de atitude é um processo

prolongado e depende da ação de vários determinantes, como a família, a mídia e

a escola. Neste sentido, o projeto representou o ponto inicial de um processo a

ser complementado pelo dia-a-dia dos jovens participantes com influência dos

determinantes acima citados.

A apreensão do conhecimento para a adoção de práticas sexuais seguras

é necessária, mas as formas utilizadas para envolver o jovem/adolescente na

discussão e adoção dessas práticas ainda têm se mostrado insuficientes, pois a

família e a mídia tendem a tratar o assunto como um tema já discutido e

absorvido, agindo de forma imperativa, como: “ Use camisinha!” “ Quem ama

cuida!” Seguindo esses parâmetros, também a escola, por razões históricas e

sociais, ainda tende a tratar a prevenção como um mero aspecto da questão

biológica-higienista. Neste sentido, o projeto mostrou a possibilidade de

construção e apreensão de conhecimentos de uma forma diferenciada: discussão

científica, histórica e social com o aluno das razões para prevenir-se e como fazê-

lo. Isso tudo objetivando a conscientização da necessidade de mudanças de

atitude no tocante a práticas preventivas tidas como “certas”. Para que tal se

efetivasse buscou-se trabalhar a importância/necessidade da existência de

valores pessoais relativos ao amor próprio, necessidade de prevenção e de

cuidado com a vida (sua e dos outros), prazer e felicidade.

Observou-se, nos depoimentos, diversas menções relativas à valorização

pessoal. E 02 diz: “ ...Nossa vida sexual é algo importante na nossa vida e se for

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com segurança, conhecimento e consciência não correndo riscos de gravidez ou

DSTs, dá mais liberdade e tranqüilidade.”

O entrevistado 03, sobre esse mesmo aspecto, conclui: Mudou. Eu já me

prevenia, tinha preocupação especialmente com gravidez. A partir daí ( do

projeto) a gente sentiu que precisa se prevenir e se preveni cada vez mais. Para

mim é fundamental e se deve passar para os outros a importância de se prevenir.

A sexualidade poderá ser extremamente gratificante se o

adolescente/jovem tiver a preocupação de escolher, criteriosamente, seu/sua

parceiro/a e o momento para tomar atitudes relativas a sua vida sexual. As

decisões sobre, a sexualidade e a atividade sexual prazerosa depende

exclusivamente de cada pessoa. Esse prazer não deve ser o prazer de momento,

é preciso ser consciente o suficiente para não acarretar problemas como gravidez

indesejada ou contrair alguma DST.

Os seres humanos com conhecimento têm mais oportunidade de “acertar”,

de não correr riscos, de se realizar pessoalmente e de viver sua sexualidade com

maturidade e segurança. O sexo é muito importante, mas sem medo e sem culpa,

sem perigo e sem qualquer risco. Proteção à saúde diz respeito aos cuidados

pessoais. Cada um é responsável por sua vida.

Pode-se resumir o pensamento do grupo participante com as falas: “ O dia

seguinte você fica tranqüila. Com segurança, você valoriza mais teu corpo” (

02); “A escola em si já faz diferença na vida da gente. Imagine um trabalho

criativo! Foram muitas lições para a vida e na questão sexual, então, nem se fala.

Ter consciência da importância de se prevenir é muito importante”. Como sou

solteiro e não tenho namorada, tenho mais que me prevenir sempre (E09).

Quanto ao tema prevenção, em conversas entre amigos e familiares os

entrevistados afirmam que atualmente emitem parecer sobre sexualidade quando

necessário.

Falar sobre qualquer assunto envolvendo o tema sexo/sexualidade é ainda

tabu na sociedade em que vivemos.

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As relações sexuais são relações sociais, construídas historicamente em determinadas estruturas, modelos e valores que dizem respeito a determinados interesses de épocas diferentes. Esses interesses não apenas consolidam modelos sociais hegemônicos de vivencia, como ditam as “verdades” sobre a sexualidade individual e coletiva (FURLANI, 2003. p.14).

Mesmo vivendo uma época de exposição e exploração de situações/fatos

ligados ao sexo/sexualidade amplamente presentes na mídia os pais dos

adolescentes continuam a reproduzir a modelo de seus pais e, ainda, por não

dominarem o assunto, ou por não sentirem-se confortáveis para discutir questões

relacionadas à sexualidade com seus filhos, preferem silenciar. Leve-se em

consideração aqui, também, o temor dos pais de que falar sobre sexo é incentivar

sua prática.

Se com a família não há muito espaço para discussão/conversa sobre

sexo, entre o grupo de amigos há uma maior oportunidade de abordar o tema.

Como o adolescente tende a viver em bando/formar grupos de identificação entre

seus pares, a troca de idéias sobre sexo ocorre de maneira mais aberta entre

eles. “Eu falo muito com minhas amigas, gosto muito de falar sobre prevenção e

com as pessoas que fico, faço o maior discurso em especial com quem não

valoriza o uso do preservativo” (E 03 ).

O Ocidente tem uma relação muito séria com a sexualidade, que pode ser encontrada na raiz de nossas limitações, medos e traumas. Em muitas vezes o silencio é a medida da repressão. “E é preciso encontrar categorias que façam emergir os pressupostos deste conflito repressor e reprimido” (NUNES, 1987, p.82).

Parte importante para o crescimento social é a necessidade sentida pelo

adolescente de viver em grupos de amigos. Estes funcionam como uma

sociedade em escala reduzida que lhe fornece segurança, pois, se encontra entre

quem tem as mesmas dúvidas e problemas. Esse processo intra-psíquico de

identificação no qual o adolescente assimila aspectos das pessoas com as quais

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se relaciona, colabora na consolidação da própria identidade que tem como

referência as experiências vividas ao longo da infância.

Para se sentir pertencente ao mundo e para melhorar sua auto-estima, o jovem tem que compartilhar com o grupo de amigos todos os seus empreendimentos;a maneira de falar e de se vestir; desmerecer os outros grupos, etc. somente assim, o adolescente sente que seu mundo tem um significado (COORDENAÇÃO NACIONAL DE DST E AIDS, 1998).

A fala de E 09 reproduziu uma outra faceta da sociedade no tocante ao

tema prevenção: há discussão aberta e efetiva do assunto somente quando o

sujeito sentir necessidade dela. Ele diz: “Não falo sobre isso com muita gente,

mas quando tenho algum relacionamento levo a sério a questão...”.

A declaração de E 05 nos apresenta mais uma faceta do modo de pensar

da sociedade: “... Eu sempre insisto com aqueles que gostam de falar que saem

com uma mulher ou outra, mas confesso que tem muitos que não levam a sério.

Eles sabem que deveriam se prevenir, mas acham ruim usar camisinha”.

4. 2. 4 Gênero e prevenção

Sobre a questão da maior responsabilidade para a prevenção às DSTs e

gravidez, ser do homem ou à mulher, a princípio, todos os entrevistados atribuem

a responsabilidade a ambos, homem e mulher. As justificativas mais citadas são a

prevenção de gravidez e DSTs, bem como critérios de valorização pessoal. No

entanto, quando questionados de quem é a responsabilidade quando possuem

parceiro(a) fixo(a)( casamento ou namoro), 3 dos 5 entrevistados do sexo

masculino ainda delegam à mulher este papel.

Segundo César Nunes (1987), Aristóteles foi o primeiro grande teórico que

se dedicou ao estudo das relações entre os sexos e muito influenciou as

concepções medievais dos papéis sociais de homens e mulheres. Com São

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Tomás de Aquino surge a concepção de uma complementaridade sexual

“natural”:

E foi para melhor viver que a natureza dispôs, como fez, o homem e a mulher. O primeiro é forte, o segundo contido pelo temor; um encontra sua saúde no movimento, o outro é inclinado a levar uma vida sedentária; um traz os bens para casa, o outro vela sobre a que aí está, um alimenta os filhos, o outro os educa (FOUCAULT,2003, p.157).

Apesar das significativas mudanças do papel da mulher na sociedade,

principalmente a ocidental, os homens ainda não se perceberam como também

sujeitos do ato conceptivo, relegando à mulher o principal – quando não único –

papel de evitar a gravidez indesejada pois, o processo histórico-social em que

está inserido lhe exime de envolvimento no que diz respeito à possibilidade

concreta de uma gravidez.

A fala de E 07 sinaliza essa separação de papéis e a obrigatoriedade

imposta à mulher de responder pelas conseqüências do ato sexual entre os

casais ainda que para sua consumação dois sujeitos estejam envolvidos, o

homem e sua parceira: “Eu acredito que é a mulher que ainda cobra mais. Pelo

que converso com amigas, a responsabilidade ainda está mais com a mulher”.

A opinião de E 08 ressalta ainda mais o enfoque machista historicamente

construído: “...quando alguém fala de um amigo que engravidou uma menina, no

primeiro momento vem a idéia: Mas ela é tão bobinha que não se preveniu? Aí,

revejo os conceitos e digo cara cada um assume o que faz!”

A opinião emitida por E 08 sintetiza dois pontos do pensamento vigente na

sociedade: primeiro, a mulher não parece ser sujeito atuante quando se trata de

sexo/reprodução (o homem “engravida” a mulher) e, segundo, cabe somente à ela

a prevenção da gravidez (quando não o faz, é “ bobinha”).

No primeiro aspecto, pode-se observar que o papel predominante e ativo

nas relações sexuais entre os casais, é do homem: ele “engravida” a mulher.

Expressões como esta (ou outras semelhantes), relegam à mulher um papel

secundário e passivo, na participação da vida sexual, bem como na possibilidade

de engravidar ou não. Cria-se a imagem de um corpo feminino fértil, porém

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passivo, isento de vontade e capacidade, o qual é encontrado por um homem e

seus espermatozóides dotados de capacidades de reproduzirem-se. Ao mesmo

tempo, o segundo aspecto impõe à mulher toda a carga de responsabilidade: “ela

é tão bobinha que não se preveniu”. Ou seja, além de não ser sujeito atuante na

reprodução também não é sujeito pensante para prevenir-se.

Apesar de refletir em sua fala toda a carga historicamente construída

quanto ao papel da mulher no tocante a prevenção da gravidez (passiva e

incapaz). E 08 termina a sua fala repensando seu próprio modo de pensar: “...Aí

eu revejo os conceitos e digo: - Cara, cada um assume o que faz!”

Assim sendo, apesar de não ter se desprendido totalmente dos conceitos

de seu grupo social e de seu tempo, E 08 verbaliza uma nova concepção dos

papéis de homem e mulher na racionalização da responsabilidade de prevenção

da gravidez: dois são os sujeitos na relação sexual, portanto dois são os sujeitos

responsáveis pelo que dela resultar.

Além da questão histórico/cultural, a resistência ao uso do preservativo

passa por uma visão de desconforto no uso, temor pelo comprometimento do

prazer. E 03 define assim: Por parte dos homens é uma coisa um pouco difícil,

nem todos gostam de usar a camisinha. As vezes alguns fazem de tudo pra fazer

a minha cabeça para transar sem camisinha. Tem homem que acha a camisinha

um “ estrovo” .

Outra questão que chamou a atenção é o fato de que a maioria dos que

possuem relacionamento com parceiros fixos (casados ou não) dispensam o uso

do preservativo, passando a contar apenas com a fidelidade. A intimidade com

o(a) parceiro(a) parece anular a necessidade de proteção as DSTs/HIV/AIDS ou a

ausência dos riscos, passando o não uso do preservativo a contar como uma

prova de fidelidade.

A questão de parceiros fixos foi debatida no projeto, uma vez que estamos

numa época em que não se fala mais em grupo de risco, mas em comportamento

de risco. Segundo o Ministério da Saúde constatou em pesquisas, o número de

heterossexuais contaminados por HIV tem aumentado proporcionalmente com a

epidemia nos últimos anos, principalmente entre mulheres. Entretanto, mesmo

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tais dados não nos dão o direito de duvidar da fidelidade dos casais envolvidos na

pesquisa.

Reconhecemos que o projeto quanto à questão de gênero não atingiu um

nível de igualdade de condições/responsabilidade entre homens e mulheres. Vale

ressaltar ainda que no seu desenvolvimento não foi trabalhado, especificamente,

gênero mas a questão da prevenção como um direito e um dever de todos, sem

distinção de identidade de gênero ou identidade sexual.

4. 2. 5 A escola frente à sexualidade

Quanto à questão da escola trabalhar temas relacionados à sexualidade,

as respostas de todos os entrevistados atribuem à escola a maior

responsabilidade das questões sobre sexualidade, isentando, de certa forma, a

família. Isto está de acordo com o citado na Proposta Curricular: há um jogo de

“empurra” entre as instituições as quais pouco estão assumindo as

responsabilidades. A fala de E 07 reflete os tabus e preconceitos historicamente

construídos sobre a questão da sexualidade, definindo-os como barreiras e

solicita que a escola comece cedo, a abordar a questão reforçando assim que a

família pouco faz: “...A escola ajuda quebrar barreiras e deve ser o quanto antes

possível e de maneira aberta”.

A história vem mostrando que tanto a família quanto a escola têm-se mantido mudas/caladas e omissas no que se refere à educação sexual. Por vezes ficam num jogo de encargos e responsabilidades no qual uma instituição atribui a outra a função de educar sexualmente ( PROPOSTA CURRICULAR DE SC,1998. P. 29).

Nunes (1987) e Egypto (2003) observam a importância de começar essa

abordagem de questões relacionadas à sexualidade dos indivíduos na escola pela

instrumentalização do profissional da educação. Somente um educador bem

preparado pode atuar com eficiência como mediador da educação

sexual/orientação na escola. Para os dois autores, sem conhecimento não é

plausível trabalhar tais temas. O senso comum ou conceitos pré-construídos

historicamente pelos profissionais da educação não dão conta e nem

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proporcionam os efeitos esperados. Para tanto, é necessário o preparo do

educador desde leituras, debates para uma revisão/superação de seus (pré)

conceitos quanto ao tema, além de um bom planejamento. O E 06 menciona a

importância do preparo do professor para tal atividade, dizendo: “Toda a escola

deveria ter alguém que se preparasse. Sei lá com cursos, para ensinar os alunos.”

( E 06).

Compreender as expressões e/ou manifestações sexuais da criança no cotidiano escolar está na ótica da aquisição de uma base científica e da perspectiva de transformação social, buscando uma nova ética e uma educação na perspectiva dialética, onde se pressupõe um trabalho de forma positiva, coerente, afetiva com crianças se assim a vivenciarmos (PROPOSTA CURRICULAR DE SC, 1998, P. 21).

E 01 lembra: “A escola é fundamental, porque na fase da adolescência o

jovem é rebelde e acha que sabe tudo, não quer ouvir ninguém. Daí a escola é

importante. O professor ainda é muito ouvido” (E 01).

E 10 confirma: “...Como em casa pouco se faz, a escola deve fazer bons projetos

sempre” ( E 10).

O ideal seria que os pais e os educadores conversassem livremente sobre

sexo e sexualidade com os adolescentes/jovens, esclarecendo-lhes dúvidas e

orientando-os sobre os riscos das DSTs.

Cabral (1995) vem ao encontro com os entrevistados:

[...] sexualidade e educação sexual com vistas à transformação passa primeiro pela compreensão da nossa pessoa, como sujeito histórico e sexuado, entre outras inúmeras dimensões que somos [...] Educar o outro é fundar a ação pedagógica na reflexão acerca da própria educação [...]. A transformação mais global se iniciará com o gesto, a palavra, a alegria, o afeto, a solidariedade e com conhecimento científico [...] ( CABRAL: 1995, p.153).

E 05 opina sobre a necessidade de abordar questões relacionadas à

sexualidade dos indivíduos na escola “...durante todo o ano. Ensinar para as

pessoas para elas irem crescendo já sabendo se valorizar”.

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A Proposta Curricular de Santa Catarina salienta justamente a importância

do cumprimento da função social da escola que é da produção e socialização do

conhecimento científico e não um trabalho isolado em uma disciplina.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A sexualidade e os demais temas nela envolvidos, como as práticas

sexuais, a gravidez, prevenção ás DSTs/HIV/AIDS, dentre outros, estão muito

relacionadas à cultura. Assim, torna-se difícil mudar essa realidade, seus valores

e crenças, pois o modo de ser das pessoas vem sendo transmitido desde

gerações passadas.

Pelas evidências apresentadas nessa pesquisa e por minha própria

experiência, acredito que esse tema, nem sempre teve espaço para a discussão,

devido, principalmente, às questões culturais vivenciadas pela sociedade, onde o

mesmo se apresentava/apresenta como um tabu.

A resistência em discutir esse tema tem múltiplas causas, que vão desde a

diversidade da formação cultural dos grupos sociais até o desconhecimento das

várias facetas da sexualidade humana, passando, inclusive, pela ignorância de

que ser um Ser Sexuado está além do ato físico e reprodutivo. Inclua-se aqui,

também, a “delicadeza” histórica do tema, imposta pela moral religiosa e social

que restringe o sexo à procriação nos relacionamentos abençoados pelos laços

matrimoniais.

Mesmo que a mídia e a indústria da propaganda façam uso da sexualidade

como mercadoria, algumas vezes de forma abusiva e discriminatória, ainda não

se conversa abertamente sobre sexo e sexualidade como já se faz ao discutir

política ou religião.

Quando o(a) aluno(a) chega à adolescência e os hormônios interferem

sobremaneira na sua conduta, a tendência da escola é promover palestras com

profissionais da área da saúde. No entanto, o que o(a) aluno(a) precisa saber é o

que fazer com aquela descarga de desejos que lhe percorre o corpo, como agir

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quando ele é invadido por sensações prazerosas tão condenadas pela sociedade

e, mais que tudo, como cuidar desse corpo que lhe parece tão estranho pois não

mais o governa, sendo-lhe muitas vezes quase que desconhecido.

A escola falha nesse momento, pois opta por fugir para não comprometer-se,

recriando o padrão em que foi concebida histórica e socialmente.

A escola é um lugar onde se estuda a vida do indivíduo e da coletividade,

sendo também um espaço para desenvolver, através do currículo, as dimensões

humanas. Sendo a sexualidade uma delas, não faz sentido a não abrangência

desta, num processo de desenvolvimento integral do indivíduo, objetivo inerente

às atividades escolares da prática educativa. A educação sexual precisa ser um

compromisso de todos e uma busca constante da escola, no sentido de

desenvolver um trabalho comprometido com a realização pessoal de indivíduo,

evolução política e a construção da cidadania, com bases no respeito mútuo.

Como resposta aos anseios dos adolescentes da escola em estudo,

elaborou-se e desenvolveu-se um projeto que visava auxiliar os jovens a viverem

e conviverem melhor com sua sexualidade, diante de um mundo conturbado pelas

muitas influências midiásticas.

Nas falas dos entrevistados, evidencia-se que o projeto atingiu seus

objetivos ao deixar de lado as imposições do que é “certo”, ou “errado” em termos

de sexualidade, não atribuindo um caráter moralista às discussões e, sim, uma

oportunidade de juntos sanar dúvidas e construir conceitos próprios.

A análise das falas dos(as) entrevistados(as), possibilitou-me avaliar que o

projeto em questão favoreceu uma troca de saberes, durante a qual os alunos

tiveram a oportunidade de ensinar e aprender. As oficinas favoreceram a troca de

experiências entre os participantes. Muitos deles tinham vida sexual ativa e outros

não. Porém mesmo entre os que mantinham relações sexuais com freqüência,

havia pouco conhecimento do verdadeiro sentido da sexualidade, havendo

inclusive certo desconhecimento biológico das genitálias. Mediados pela

coordenação do projeto e despidos de censuras prévias para se expressarem, os

participantes expunham seus pensamentos e questionavam livremente sobre sua

própria sexualidade e suas implicações como cidadãos e seres humanos.

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Acredito que ao oportunizar aos adolescentes atividades como as que

foram desenvolvidas durante o projeto, identificando com ele suas reais

necessidades e anseios e colaborando na busca de soluções/conhecimentos,

estaremos educando e contribuindo para o processo de auto-conhecimento e

construção da cidadania desses adolescentes. Através dessas oficinas eles

buscaram entender, aceitar e compreender melhor sua sexualidade, ir além dos

conteúdos voltados apenas a fatores biológicos, apresentado nas aulas de

Ciências além de superar os tabus impostos pela sociedade. Para tornar isso

possível os adolescentes necessitam de um espaço para discussão de questões

de seu interesse. Nenhum outro espaço é mais apropriado do que a escola. Ela

não pode fugir a responsabilidade de que a sexualidade faz parte do

conhecimento humano, pois como humanos somos “seres sexuados”.

Um projeto estruturado em oficinas, como um espaço aberto a discussões

que permita o diálogo franco e aberto, sem preconceitos ou falsos moralismos,

que leve à compreensão da própria sexualidade, de formas de prevenção e

valorização da vida, como o desenvolvido na escola em estudo, pode contribuir

para atender às necessidades de jovens e adolescentes.

Foi possível verificar, através de depoimentos de egressos que

participaram do projeto, que o mesmo foi por eles considerado válido e

necessário. As perguntas direcionadas a eles, foram abrangentes e procuravam

obter informações sobre a influência que o projeto teve em suas vidas.

Atualmente lhes é possível expressarem-se de maneira mais clara sobre suas

atitudes e vivências. Em pontos comuns de interesse, houve muitas coincidências

de respostas, causadas a partir da participação do projeto, o qual lhes apresentou

uma oportunidade ímpar de adquirir conhecimentos mais profundos sobre um

tema que lhes desperta o interesse sobremaneira, pois sentem a necessidade de

discutir e informarem-se. Associado ao projeto, há a maturidade natural adquirida

pela idade, uma vez que durante as oficinas os jovens adolescentes possuíam

entre 17 e 22 anos. Atualmente, ao serem entrevistados acerca dos resultados do

projeto em suas vidas, os mesmos estão com idade entre 23 e 28 anos.

Os jovens e adolescentes necessitam de atividades dinâmicas, pois é

natural da idade o movimento. Entretanto, a participação efetiva depende da

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relevância do assunto e sua forma de desenvolvimento. Neste sentido, o projeto

buscou, de forma participativa, ir além de “palestra” sobre sexualidade,

oferecendo aos adolescentes diferentes oportunidades de envolvimento e

liberdade para questionar, criar, discutir e (re)elaborar conceitos pré e pós

concebidos.

Na conversa com os entrevistados, pude perceber que falar de

sexo/sexualidade relacionado ao dia-a-dia é sempre oportuno. As discussões

foram espontâneas, pois o aluno sentiu-se mais à vontade e isso colaborou para

que o aprendizado fosse participativo, saudável e apresentasse resultados mais

duradouros.

Nossa educação, na sociedade em geral, ainda acontece de forma

machista. Como a maioria dos valores é passada de geração a geração, ainda é

muito grande o número de mulheres e homens que educam os filhos fazendo

distinção entre os papéis sociais dos sexos masculino e feminino.

Os entrevistados demonstram conscientização no tocante a prevenção e

igualdade de direitos entre os sexos. Isto não significa que ela esteja presente em

todos os tipos de relacionamentos e situações do cotidiano. Entre parceiros fixos,

por exemplo, na maioria dos casos, a responsabilidade de evitar a gravidez ainda

recai sobre a mulher.

O pensamento da sociedade ocidental floresceu sob esmagadora influência

e controle das teorias judaico-cristãs, as quais estabeleceram - por questões de

interesses vários - verdades absolutas sobre todos os aspectos da vida humana:

família, trabalho, fé, poder econômico. Para cada um desses aspectos, há

rigorosas “receitas” de como um agir. Seguir a “receita” era, e ainda é, garantia de

ir para o céu. Porém, de todos os aspectos da vida humana, talvez o mais vigiado

e controlado seja o sexo, baseando-se em especial que a igreja descorporizou o

homem, pois lhe interessava apenas o espírito. No entanto, para a alma ir para o

céu o corpo não deve ter pecado, e o sexo é um dos pecados que mais seduz o

corpo.

Mesmo na escola o corpo não é parte integrante do processo educativo.

Ele é objeto quase que exclusivo das aulas de Educação Física. A maioria das

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disciplinas quer que o aluno use a “cabeça”, como se ela pudesse existir sem o

corpo.

Os participantes do projeto, que foram entrevistados, hoje já adultos,

descarregam a responsabilidade para a escola e clamam para que a mesma, de

certa forma, continue a assumir o papel da família. Pode-se observar nas falas

dos entrevistados o quanto o projeto ainda está presente em suas vidas, as

lembranças fluíram normalmente e constantemente faziam um “ paralelo” entre o

antes e o depois do projeto. Ficou evidente que o projeto contribuiu para um

melhor entendimento a respeito da sexualidade humana e da prevenção às

DSTs/HIV/AIDS e mesmo tendo atendido a uma pequena parcela de jovens,

através deles os conhecimentos por eles elaborados chegaram e ainda chegam a

muitas outras pessoas.

Conforme constatado nas falas dos egressos a escola não pode omitir-se

diante de temas como sexualidade e prevenção às DSTs/HIV/AIDS. Nossos

jovens e adolescentes carecem e clamam por uma escola sensibilizada com a

importância dos assuntos e com o desejo de contribuir com a plenitude humana,

com a vivencia plena, responsável e consciente.

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A N E X O S

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ROTEIRO PARA A REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS

1- Como egresso participante do Projeto Vivendo e Adolescendo Prevenção `as DSTs/HIV/AIDS, da escola La Salle, qual seu parecer sobre ele?

2- A forma como o conteúdo foi trabalhado – oficinas – foi eficaz no

desenvolvimento dos trabalhos?

3- Após sua participação no projeto, quais mudanças ocorreram na sua forma

de pensar e agir no tocante a sua vida sexual?

4- Quando oportuno, você se posiciona quanto a questão da prevenção às

DSTs, com amigos(as) e familiares?

5- A quem você atribui a maior responsabilidade para a prevenção às DSTs e

gravidez, ao homem ou à mulher?

6- Em sua opinião, questões relacionadas à sexualidade dos indivíduos

devem ser abordadas / discutidas na escola?

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PRÉ - TESTE

1 Cite as formas de transmissão do HIV e respectivas medidas de prevenção. 2. Qual sua opinião sobre o HIV sob o ponto de vista social? 3. cite dois casos de testagem obrigatória para HIV admitido na legislação brasileira. 4. o aumento dos casos de AIDS em mulheres não pode ser atribuído a um comportamento sexual promiscuo. Qual então o fator de risco predominante? 5. Qual a relação entre uso de drogas e HIV? 6. Neste momento qual sua maior preocupação e o principal compromisso com o assunto em questão?

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PÓS - TESTE

1 Cite as formas de transmissão do HIV e respectivas medidas de prevenção. 2. Qual sua opinião sobre o HIV sob o ponto de vista social? 3. cite dois casos de testagem obrigatória para HIV admitido na legislação brasileira. 4. o aumento dos casos de AIDS em mulheres não pode ser atribuído a um comportamento sexual promiscuo. Qual então o fator de risco predominante? 5. Qual a relação entre uso de drogas e HIV? 6. Neste momento qual sua maior preocupação e o principal compromisso com o assunto em questão?

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Paródia ( Baseada na música de Zezé Di Camargo, Coração está em pedaço) Andam dizendo por ai que a AIDs se alastro Isso é motivo pra aumentar a prevenção Sua vida não tem preço E aprenda a dar valor Use sempre camisinha na hora de fazer amor Use, quem se cuida se ama Na cama ou em qualquer lugar Use use camisinha Valorize sua vida A AIDs pode matar Use, quem se cuida se ama Na cama ou em qualquer lugar Use-a com vontade Ela não tira seu prazer Usando camisinha os dois vão se proteger Diga que não quer acabar com sua vida Diga, diga sim Diga que voce não vai se arriscar assim Use, quem se cuida se ama Na cama ou em qualquer lugar Use use camisinha Valorize sua vida A AIDs pode matar

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