o complexo produtivo da saúde e sua articulação com o...

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RSP 177 Revista do Serviço Público Brasília 64 (2): 177-199 abr/jun 2013 O complexo produtivo da saúde e sua articulação com o desenvolvimento socioeconômico nacional Laís Silveira Costa, Carlos Augusto Grabois Gadelha, José Maldonado, Marcelo Santo e Antoine Metten Introdução O protagonismo da saúde na agenda de desenvolvimento do Brasil tem sido amplamente reconhecido e valorizado. Isso decorre do fato de que políticas e ações de saúde, além de proporcionar o bem-estar da população, apresentam benefícios que extrapolam a especificidade do setor, a exemplo de seu impacto na geração de renda e emprego nacionais. Não bastassem essas qualidades, o papel estratégico da saúde no processo de desenvolvimento é realçado por articular um sistema produtivo, de base industrial (química, biotecnológica, mecânica, eletrônica e de materiais) e de serviços, de forma interdependente e sistêmica, designado como complexo econômico- industrial da saúde (CEIS) 1 . O arcabouço conceitual do CEIS reconhece tanto a importância social da saúde, como também sua função enquanto produtora de insumos e produtos para a prestação de serviços essenciais, pontuando seu caráter sistêmico.

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177Revista do Serviço Público Brasília 64 (2): 177-199 abr/jun 2013

Laís Silveira Costa, Carlos Augusto Grabois Gadelha, José Maldonado, Marcelo Santo e Antoine Metten

O complexo produtivo dasaúde e sua articulação com o

desenvolvimento socioeconômiconacional

Laís Silveira Costa, Carlos Augusto Grabois Gadelha, José Maldonado,Marcelo Santo e Antoine Metten

Introdução

O protagonismo da saúde na agenda de desenvolvimento do Brasil tem sido

amplamente reconhecido e valorizado. Isso decorre do fato de que políticas e

ações de saúde, além de proporcionar o bem-estar da população, apresentam

benefícios que extrapolam a especificidade do setor, a exemplo de seu impacto

na geração de renda e emprego nacionais.

Não bastassem essas qualidades, o papel estratégico da saúde no processo de

desenvolvimento é realçado por articular um sistema produtivo, de base industrial

(química, biotecnológica, mecânica, eletrônica e de materiais) e de serviços, de

forma interdependente e sistêmica, designado como complexo econômico-

industrial da saúde (CEIS)1. O arcabouço conceitual do CEIS reconhece tanto a

importância social da saúde, como também sua função enquanto produtora de

insumos e produtos para a prestação de serviços essenciais, pontuando seu caráter

sistêmico.

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Nesse contexto, que relaciona a lógicaprodutiva e social, o complexo da saúde écapaz de apresentar oportunidades para asuperação da tensão observada entre asdimensões econômicas e sócio-sanitárias,uma vez mediados os interessesconflitantes envolvidos na saúde.

Não obstante a importância do CEISpara o desenvolvimento nacional e o seupotencial para estabelecimento de umarelação virtuosa entre os interesses diversosno campo da saúde (VIANA; NUNES; SILVA,2011), ainda persiste uma visão limitada doseu caráter sistêmico, conforme enfatizamGadelha et al. (2012). Essa limitação temimplicações negativas no desenvolvimentoda base produtiva nacional com reflexosinsatisfatórios para a saúde coletiva e para odesenvolvimento econômico, observadosno crescente déficit da balança comercialda saúde.

Tal realidade pontua desafios e ame-aças à manutenção de um sistema universaldo porte do brasileiro, em especial ao seconsiderar a transição demográfica e oscustos crescentes da saúde. Cabe observarque, sem a superação da fragilidade da baseprodutiva, persistirão obstáculos à ofertauniversal de bens e serviços, acentuando avulnerabilidade do sistema de saúde(GADELHA e COSTA, 2013).

A relevância desse estudo deriva dapercepção de que somente avançando noconhecimento sobre essa base produtivapoder-se-á aprimorar o entendimentosobre os desafios que se apresentam paraa efetividade do sistema nacional de saúdee, adicionalmente, qualificar a elaboraçãoe implementação de políticas públicas parao fortalecimento do complexo da saúde.

Dito isso, este artigo objetivaaprofundar o conhecimento sobre o CEISe a dinâmica de seus subsistemas, com ointuito de melhor entender os processos

inovativos da saúde. Vale notar que, aoconsiderar a institucionalidade do CEIS,que é, a um só tempo, pública e privada,adota-se neste artigo uma abordagemsistêmica propiciada tanto pelo arcabouçoda economia política, que envolve o estudodas relações sociais de produção e deacumulação de capital, quanto pelo instru-mental teórico dos sistemas de inovação(SI), que entende o caráter essencialmentesocial dos processos de geração de ino-vação (FREEMAN, 1987; LUNDVALL, 1988;NELSON, 1993).

Além desta introdução, o texto estru-tura-se a partir da relação estabelecida entresaúde e desenvolvimento e do detalha-mento dos subsistemas do complexo eco-nômico-industrial da saúde. Contextualizatambém a relevância do sistema nacionalde inovação em saúde, de forma a tornarsustentável o sistema de saúde como umtodo. Por fim, ressalta a importância dodesenvolvimento da base produtiva einovativa da saúde no País, de modo aatender às necessidades sociais, e, nessecontexto, enfatiza a influência do Estadonessa arena política.

O complexo da saúde na agendade desenvolvimento nacional

Este artigo analisa a saúde sob umolhar sistêmico que abrange, além da suadimensão social, seu contexto deprodução. Para isso, o recorte de análise éo complexo econômico-industrial da saú-de, uma vez que esse articula simultanea-mente variáveis sociais, econômicas einovativas, questões-chave no atual cená-rio mundial de globalização assimétrica ecompetitiva.

Adota a perspectiva teórica de Furtado(1964), para quem o desenvolvimentorepresenta “um processo de mudança

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“... a saúde vemenfrentando desafiosque impõem claroslimites àconsolidação de umsistema de saúdeque se pretendeuniversal, integral eequânime ...”

social pelo qual o crescente número denecessidades humanas (...) são satisfeitasatravés de uma diferenciação no sistemaprodutivo, gerado pela introdução deinovações tecnológicas” (FURTADO, 1964,p. 27). Ou seja, trata de uma concepção dedesenvolvimento diferenciada que reco-nhece a influência de variáveis econômicase inovativas no bem-estar coletivo.

Ademais, chama-se atenção para o fatode que, na sociedade contemporânea doconhecimento, a inovação merece destaque,uma vez que se torna um diferencial estra-tégico na definição do posicionamento deordem econômica e produtiva de um paísdiante dos demais, exercendo, inclusive,forte influência nas condições de vida daspopulações.

Para Furtado (1998), um modelo dedesenvolvimento ideal deveria interrompera reprodução dos padrões de consumo dasminorias privilegiadas e buscar a satisfaçãodas necessidades fundamentais do con-junto da população (FURTADO, 1998). Nessesentido, a inovação tecnológica deveria serreorientada para a busca do bem-estarcoletivo.

Seguindo essa perspectiva, pode-seaferir que o desenvolvimento de um paísencontra-se intimamente relacionado àsoportunidades disponibilizadas à suapopulação com vistas ao seu bem-estar,reafirmando-se a necessidade tanto desubsidiar quanto de orientar a indução dataxa de progresso técnico, para que asnovas tecnologias sigam rumos social-mente desejáveis e sustentáveis (COSTA etal., 2012), chamando atenção para o fatode que um determinado padrão de desen-volvimento tecnológico representa ummodelo particular de sociedade, evice-versa.

Parte-se do reconhecimento de que o“desenvolvimento tecnológico não é

neutro” e que é estabelecida uma duplarelação de causalidade, em que tanto aorientação do desenvolvimento tecnológicoinfluencia um determinado padrão desociedade, como a orientação socioeco-nômica e as institucionalidades influenciamo desenvolvimento tecnológico de umadeterminada nação (TIGRE, 2006).

Esse enfoque nos remete à pertinênciado uso de uma abordagem estruturalistado campo da economia política e do

arcabouço teórico dos sistemas deinovação, uma vez que processos deinovação são, por natureza,contextualizados socialmente em econo-mias complexas do capitalismo (FREEMAN,1987; SOETE; VERSPAGEN; WEEL, 2010).Ademais, esses enfoques reconhecem opapel dos diversos atores, de suasinterações e interesses, que levam à

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conformação dos sistemas de saúde, bemcomo sua importância para a conformaçãode um modelo nacional de desenvolvi-mento.

Entre os trabalhos desenvolvidos nocampo da saúde utilizando essa linhateórica vale mencionar algumas análises.Viana e Elias (2007) reconhecem apossibilidade de combinar crescimentoeconômico, mudanças na estrutura pro-dutiva e melhora do padrão de vida dapopulação. Machado et al. (2008) chamamatenção para a relevância do estudo darelação entre saúde e desenvolvimento,necessária para instrumentalizar osgrandes objetivos da reforma sanitária.Gadelha (2007) alerta para a inadequaçãode uma abordagem que desconhece ocaráter sistêmico da base produtiva dasaúde. A desarticulação histórica entreesses elementos que conformam ossistemas de saúde apresenta impactosdeletérios para a instituição do modelo debem-estar social, conforme preconizadona Carta Magna de 1988.

A promulgação da ConstituiçãoFederal de 1988 (CF/88) realça e conso-lida no Brasil a interdependência mútuaentre saúde e desenvolvimento. Ao estabe-lecer que a saúde é um direito de todos eum dever do Estado, a CF/88 consagrou-a como um elemento estruturante doEstado de Bem-Estar, expressando deforma inequívoca sua importância comoparte inerente ao processo de desenvol-vimento. Acolhem-se, assim, os anseios domovimento reformador da saúde, especial-mente quanto à visão ampliada da saúde,entendida como um direito de cidadaniaque, em termos gerais, significa condiçõesdignas de vida, acesso igualitário e universalàs ações e serviços de promoção, proteçãoe recuperação da saúde em todos os seusníveis (PAIM, 1997).

No entanto, a promulgação da CF/88não foi suficiente para impulsionar oSistema Único de Saúde (SUS). A concre-tização da saúde como um direito funda-mental exige ainda um grande esforço,especialmente no que se refere ao acessoigualitário a bens e serviços de saúde paratoda a população.

Mendes (1996) ressalta que, no Brasil, ainstituição do modelo de bem-estar e auniversalização da saúde ocorreram nacontramão da história, dado que coincidiramcom a adoção do modelo hegemôniconeoliberal que, entre outras diretrizes, pregavaa diminuição da participação do Estado.

Nesse contexto, Gadelha (2006)aponta que o processo que culminou coma criação do SUS não considerou que umsistema de saúde que se pretenda universalé composto não somente pela demandasocial por bens e serviços de saúde, mastambém por organizações voltadas àprovisão desses serviços, pressupondo ofortalecimento de sua base produtiva. Aretração da participação do Estado naspolíticas industriais, assim como a aber-tura abrupta do mercado brasileiro, carac-terísticos da década de 1990 no Brasil(GADELHA; MALDONADO; COSTA, 2012),tiveram efeitos devastadores para a baseindustrial da saúde2. De acordo comManfredini (2006, p. 161), “uma série deprodutos que havia sido incorporada àprodução local nas décadas anterioresdeixa de ser produzida no País, como, porexemplo, marcapassos implantáveis,aparelhos de laboratório mais complexose equipamentos radiológicos”.

Considerando especificamente oimpacto desse contexto no estágio dedesenvolvimento do CEIS, Viana e Elias(2007) também identificam contradições noque tange à desmercantilização do acessoà saúde que pautou o aumento da demanda,

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concomitante à adoção de um modelopolítico liberal que afastou o Estado nacio-nal de sua função de indutor e mediadorda produção industrial da saúde e dosinteresses envolvidos na mesma.

Extrapolando a análise do CEIS,Faveret e Oliveira (1990) destacam que aausência ou inadequação de investimentosindutores de inovação tecnológica motivouo Estado brasileiro a transferir parte de suaresponsabilidade com o sistema de saúderecém-criado ao setor privado, polarizandoainda mais as dimensões sociais e econô-micas envolvidas no bojo da saúde.

Sobre os interesses públicos eprivados no âmbito dessa agenda, Ugá eMarques (2005) defendem a tese de queo SUS foi criado em um momento em queo setor privado já se encontrava consoli-dado no País. Essa linha de argumentocorrobora a percepção de que essa resig-nação do Estado, ou seja, a diminuiçãode seu protagonismo explica, mesmo quenão integralmente, o fato de que ainda nãose alcançou no Brasil o círculo virtuosoentre saúde e desenvolvimento. Questãoessa preocupante no que se refere tantoao atendimento das demandas de saúdeda população quanto à inserção competi-tiva internacional; ainda mais quando seconsideram as fragilidades enfrentadaspor um país do porte do Brasil e com omodelo institucional do SUS.

Ainda que iniciativas diversas estejamsendo empreendidas visando à superaçãodesse quadro via o fortalecimento do CEIS,a saúde vem enfrentando desafios queimpõem claros limites à consolidação deum sistema de saúde que se pretendeuniversal, integral e equânime, sugerindoa necessidade de se aprofundar o conheci-mento sobre a dinâmica desse complexo.A ideia é elevar a capacidade de análise parasubsidiar a formulação de políticas públicas

capazes não somente de lograr competiti-vidade internacional, mas também demediar os conflitos entre interesses econô-micos e sócio-sanitários envolvidos naagenda de saúde. Desse modo, espera-seminimizar a vulnerabilidade do sistema desaúde, assim como promover ocrescimento sustentado nacional.

A base produtiva da saúde

O complexo econômico-industrial dasaúde (Figura 1) é caracterizado como umaglomerado de atividades econômicasinseridas em um contexto institucional cujossegmentos industriais são responsáveis pelaprodução de insumos e produtos que vãoconfluir para a base produtiva envolvida naprestação de serviços de saúde.

Seu caráter estratégico é crescentementerelacionado ao fato de que o CEIS é inten-sivo em inovação. Tanto no Brasil quantono mundo, esse complexo constitui osegundo setor mais intensivo em atividadesinovativas, respondendo por mais de 20%do esforço em pesquisa e desenvolvimentomundial (GLOBAL BOOZ AND COMPANY’S,2012). Além disso, articula tecnologias deuso dual (RUNDVALT e ALBUQUERQUE, 2012)que, apesar de voltadas para um determi-nado setor, apresentam repercussões poten-ciais sobre a atividade econômica como umtodo, como é o caso da nanotecnologia,biotecnologia, entre outros cujo potencialde aplicação a outros setores da economia écada vez mais evidente.

Esse complexo produtivo diferencia-se, ademais, por envolver um arranjoinstitucional público e privado e se destacapelo caráter sistêmico, uma vez que reco-nhece não somente a demanda da socie-dade por bens e serviços de saúde, comotambém uma estrutura responsável pelasofertas dos mesmos.

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Ademais, ao relacionar as dimensõessocial e produtiva, o CEIS apresentapotencial para a superação da dicotomiaobservada entre a lógica econômica e asanitária, no que se refere às políticas parao desenvolvimento nacional. É pertinenteobservar que as estratégias tecnológicasem países líderes, no âmbito internacio-nal, vêm passando por um processo deprofundas transformações estruturais noque tange ao seu padrão de competi-tividade (GADELHA; QUENTAL; FIALHO,2003). Essas transformações permitemtecer algumas constatações no que serefere ao complexo da saúde.

Uma dessas constatações é que, nossegmentos intensivos em tecnologia doCEIS, o espaço para pequenas empresasde base tecnológica, que não se associemou tenham parcerias para superar asbarreiras econômicas, tecnológicas eregulatórias vigentes no mercado global, é

bastante reduzido (GADELHA et al., 2012).Outra é a verificação de evidências indi-cando que empresas líderes estão interes-sadas em aproveitar as oportunidades quese abrem em economias emergentes queapresentam potencial de crescimentosustentado3, a exemplo dos BRICS (Brasil,Rússia, Índia, China e África do Sul)(GADELHA et al., 2012). Por último, tal comose evidencia nos diversos programas depolíticas públicas voltados para o fortaleci-mento do CEIS, os Estados nacionaisreconhecem que o complexo está setornando um espaço competitivo e que, noBrasil, inicia-se a busca de uma intervençãosistêmica entre a sua base industrial e deserviços.

Tais constatações justificam a necessi-dade de se adensar o conhecimento sobreessa base produtiva, para melhor com-preender os desafios e as oportunidadescolocadas ao complexo e qualificar a ação

Figura 1: Morfologia do complexo econômico-industrial da saúde

Setores Prestadores de Serviço

Hospitais Ambulatórios Serviços de Diagnósticose Tratamento

Indústriade Vacinas

Indústria deHemoderivados

Indústria deReagentes paraDiagnósticos

Indústria de FarmecêuticaFármacos/Medicamentos Hemoderivados

Indústria deEquipamentos

Médicos e InsumosAparelhos não-eletrônicos

Aparelhos EletrônicosAparelhos de Prótese e

ÓrteseMaterial de Consumo

ESTADO-PROMOÇÃO

E

REGULAÇÃO

Indústria Produtora de Bens

Fonte: Gadelha, 2003.

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pública voltada para o setor. Isso implica,por sua vez, conhecer as características e adinâmica da cada um de seus subsistemas.

A indústria de base química ebiotecnológica da saúde

O subsistema de base química ebiotecnológica é composto pelas indústriasfarmacêuticas e por aquelas responsáveispela produção de vacinas, hemoderivados ereagentes para diagnóstico. Esse subsistemaagrega um conjunto de segmentos produ-tivos que se destacam tanto por sua impor-tância econômica, como por sua relevânciano domínio de novas tecnologias em áreasestratégicas para o País (VARGAS et al., 2010).Entre os subsistemas do CEIS, o de basequímica e biotecnológica constitui o maisdinâmico em termos de geração e difusãode inovação. (GADELHA et al. 2012).

Por sua vez, vale notar que a indústriafarmacêutica lidera a dinâmica competitivado subsistema e se caracteriza por ser oprincipal segmento de geração e difusãode inovações de base química e biotec-nológica. Marcado por elevado grau deinternalização da produção e intensaconcentração de mercado, o segmentofarmacêutico pontua a existência de inte-resses diversos, além dos sanitários, relacio-nados ao seu processo produtivo detecnologias estratégicas, como a nanotec-nologia, biotecnologia e química fina(ANGELL, 2007). Tanto Temporão (2002)quanto Gadelha (2002) chamam atençãopara o acirramento competitivo dosubsistema de base química e biotecno-logia, em que as empresas líderes farma-cêuticas invadem e submetem os demaissegmentos às suas estratégias de inovação.Dados do IMS Health4 mostram que aconcentração de mercado no segmentofarmacêutico encontra-se adstrita a dezgrandes empresas que, no total de suas

vendas, somaram quase a metade de todoo mercado farmacêutico mundial em 20105.Essa liderança decorre de duas caracterís-ticas presentes em suas estratégias compe-titivas, quais sejam: barreiras a novosentrantes no mercado, devido aos vultososinvestimentos em P&D e marketing neces-sários, e o monopólio temporário mediantepatentes, operando sobre produtos cujademanda é particularmente inelástica(GADELHA et al. 2012).

Ainda sobre as estratégias das empre-sas líderes, é importante observar que emseus processos de internacionalizaçãoconcentram as atividades de maior densi-dade tecnológica e só descentralizam, aospaíses da periferia do sistema internacional,aquelas de menor valor agregado. Nessespaíses, observa-se uma dissociação entre asnecessidades locais e os esforços privados

“... pode-sedizer que avulnerabilidadeda base produtivada saúde – etambém do sistemade saúde comoum todo – decorreda baixa capacidadede inovação damesma.”

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em P&D. Essa dinâmica é ressentida, espe-cialmente pela insuficiência – e, em muitoscasos, pela ausência – de pesquisas direcio-nadas aos principais agravantes da saúde, aexemplo de doenças tropicais (MALDONADO,2012; GADELHA; MALDONADO; COSTA, 2012).

A respeito da concentração desse mer-cado e dos prejuízos sofridos pelos paísesque não dominam essas tecnologias da baseprodutiva da saúde, Oliveira, Labra eBremudez (2006) destacam que as 100maiores empresas farmacêuticas sãoresponsáveis por 90% da produçãomundial, sendo que 75% é consumida nosEUA, Japão e União Europeia. Nos últimos10 anos, nenhuma das vinte empresas demaior faturamento bruto mundial lançouum único medicamento para qualquer umadas doenças negligenciadas (MÉDICOS SEM

FRONTEIRA, 2001).

A indústria de base mecânica,eletrônica e de materiais da saúde

O subsistema de base mecânica, eletrô-nica e de materiais envolve as indústriasde equipamentos e instrumentos mecânicose eletrônicos, órteses e próteses e materiaisde consumo em geral. Suas atividades sãofortemente associadas às práticas médicas,determinando muitas vezes a tecnologia in-corporada nos procedimentos adotados, noque se refere à prevenção, diagnóstico etratamento de doenças (GADELHA;MALDONADO; COSTA, 2012; MALDONADO etal., 2013).

Vale destacar, nesse subsistema, o papelda indústria de equipamentos – tanto peloseu potencial de inovação, ao incorporar osavanços associados ao paradigma micro-eletrônico, quanto pelo seu impacto nosserviços, – que representa, de acordo comGadelha, Maldonado e Costa (2012), umafonte constante de mudanças nas práticasassistenciais e que, por sua vez, municia a

tensão permanente entre a lógica da indústria(econômica) e a sanitária (social).

A exemplo do subsistema de basequímica e biotecnológica, o presente subsis-tema também se caracteriza como umoligopólio6 baseado na diferenciação de seusprodutos, bastante especializados e comconstantes atualizações tecnológicas emespaço de tempo relativamente curto (LEÃO;OLIVEIRA; ALBORNOZ, 2008). Essa atuali-zação pressiona sobremaneira os custos daatenção à saúde, em especial porque asindústrias desse subsistema geralmentecompetem por meio do lançamento de equi-pamentos mais modernos e sofisticados.

Uma importante diferenciação dosubsistema de base mecânica, eletrônica ede materiais, em relação ao previamenteestudado, refere-se ao fato de que ele agregaà sua estrutura outros segmentos bastantediversificados; envolve desde bens de capitalde alta complexidade (como diagnóstico porimagem), até materiais de consumo de usorotineiro, passando por instrumentos,material cirúrgico e ambulatorial, seringas,entre outros.

De acordo com Maldonado et al. (2012),essa heterogeneidade, ao contrário dosegmento farmacêutico, permite queempresas de menor porte oriundas de paísesem desenvolvimento ocupem posiçõesrelativamente importantes, abrindo-se,assim, nichos de mercado para a indústrialocal. No caso brasileiro, o subsistema debase mecânica, eletrônica e de materiaisbeneficia-se de uma base produtiva razoa-velmente bem estruturada, fruto da políticade substituição de importações vigente noperíodo entre 1950 e 1980. Apesar de essaindústria ter sido bastante prejudicada pelaabertura comercial da década de 19907, orecente movimento de ampliação de acessoaos serviços de saúde dinamizou a demandapor equipamentos e materiais hospitalares

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e odontológicos, levando ao crescimento de114,3% das vendas reais entre 1999 e 2009(MALDONADO et al., 2012, p. 32).

Serviços de saúdeO subsistema de serviços é aquele de

maior peso econômico do complexo dasaúde, uma vez que responde por 64% dageração de bens e serviços de saúde noPaís8 (IBGE, 2012; BRASIL, 2008). Suaimportância é enfatizada tanto por serestruturante do sistema de bem-estarquanto por seu papel na atividade econô-mica e no sistema nacional de inovação,uma vez que também articula novastecnologias que emergem no esteio da 3a

Revolução Industrial, designadas detecnologias portadoras de futuro, e que sereferem a atividades produtivas intensivasem C&T. Essas características dos serviçosde saúde reforçam a ideia de que esse com-plexo produtivo possui potencial tanto paraadensar o tecido produtivo quanto paradirecioná-lo, de modo a compatibilizar aestrutura de oferta com a demanda socialde saúde (GADELHA, 2007).

Vale notar que os serviços dinamizama relação estabelecida com os demaissubsistemas de base industrial do CEIS,estabelecendo o caráter sistêmico do mesmo,em especial por sua função de consumidore demandante, muitas vezes influenciandoe sendo influenciado pela produção deequipamentos médico-hospitalares, pro-dutos farmacêuticos, imunoderivados, sorose demais insumos (ALBUQUERQUE;CASSIOLATO, 2000; COSTA et al., 2012). Logo,é na interação entre setores com objetivosàs vezes não consonantes que se buscamsoluções para atender aos desafios postospela conjugação das novas característicasepidemiológicas e da necessidade de reduçãodos crescentes custos com cuidados desaúde (COSTA et al., 2012).

Note-se que não é trivial acomodar osinteresses públicos e privados situadosnessa agenda, não somente por sua impor-tância social e econômica, como tambémpor seu caráter estratégico e pelo porte eassimetria dos interesses envolvidos. Valeenfatizar que são vários os interesses emjogo quando se pensa em estruturar umsistema de saúde. Lassey et al. (1997 apudIBAÑEZ, 2011) chamam atenção, emespecial, para os interesses referentes aoacesso, relevância econômica, caracterís-ticas e tamanho do mercado industrial,pressão de custos, incorporação tecno-lógica, composição do financiamento ealterações das características epidemioló-gicas e demográficas.

Para se ter a dimensão desse mercado,Santos e Passos (2010) estimam que osgastos globais em serviços de saúdesomaram US$ 4 trilhões em 2007. No casobrasileiro, de acordo com o IBGE (2012),os serviços de saúde representam umademanda de aproximadamente R$ 250bilhões – se consideramos a manutençãoda participação dos serviços observada noPIB de 2009, de 5,6%, para o ano de 2012.

Assim, além das questões mais obvia-mente relacionadas à dinâmica dessesubsistema (acesso e perfil sanitário), todoo arcabouço político-institucional dasaúde, os interesses econômicos envol-vidos, as tecnologias articuladas pelasindústrias do complexo da saúde, e oscondicionantes da geração de conheci-mento influenciam sobremaneira a dinâ-mica dos serviços de saúde. Nesse sentido,cabe refletir sobre o papel da AgênciaNacional de Saúde Suplementar (ANS) noque tange à regulação dos planos de saúde,uma vez que os mesmos impactamsobremaneira o padrão de consumo e,logo, as tecnologias incorporadas nosistema nacional de saúde.

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Justamente porque lidam com seg-mentos tão dinâmicos da economia, osserviços de saúde têm-se organizado cres-centemente como uma indústria, em basesempresariais de grande escala, tendo nacapacidade de inovação o principal fatorde dinamismo, competitividade e auto-nomia. Isso reafirma a importância de umaabordagem sistêmica e de seguir adensandoo conhecimento desse subsistema(GADELHA et al., 2012), sob risco de osinteresses privados manterem-se soberanosem relação aos sociais também nosubsistema de serviços de saúde.

O desafio da inovação no com-plexo produtivo da saúde

Nos últimos anos, vem-se observandono Brasil a expansão do acesso aos serviçosde saúde concomitante a mudanças nascaracterísticas epidemiológicas, resultante domodelo político institucional do SUS, daevolução das condições socioeconômicas dapopulação, da transição demográfica emcurso e da veloz incorporação tecnológicapor parte dos serviços de saúde. Comoconsequência, observa-se, entre outrascoisas, um expressivo aumento da deman-da por insumos relacionados à prestação ecuidados da saúde que, em contrapartida,ocasionou o crescimento das importaçõesde insumos e produtos de saúde, refletindouma situação de dependência, insustentávelno médio e longo prazo.

Nesse contexto, tornou-se evidente afragilidade da base produtiva da saúde,observada no crescimento do déficit dabalança comercial do CEIS, particular-mente a partir dos anos 2000. Tal cenáriorepresenta uma dupla ameaça, dado que,por um lado, decorre da fragilidadeprodutiva nacional em segmentostecnológicos portadores de futuro e, por

outro, traduz-se em um limitante para oprojeto de universalização do SUS. Aponta,dessa forma, para a necessidade de forta-lecer a dinâmica inovativa do CEIS, demaneira a desenvolver a produção nacionalde insumos de saúde.

Como reflexo dessas evidências, ocaráter estratégico do CEIS tem sidoreconhecido em distintas políticas públicasa partir dos anos 2000. A política industriale tecnológica e de comércio exterior(PITCE), lançada em 2003, foi pioneiranesse aspecto, ao reconhecer o potencialda cadeia produtiva farmacêutica paraalavancar a incorporação de tecnologiasportadoras de futuro, a exemplo dananotecnologia, biotecnologia e químicafina, entre outras (BRASIL, 2003). Em 2007,no âmbito do Programa Mais Saúde, foireconhecida a necessidade de fortaleci-mento da base produtiva do CEIS parareduzir a dependência externa em relaçãoaos insumos críticos para a saúde e,portanto, a vulnerabilidade da política desaúde brasileira (BRASIL, 2007).

Por sua vez, em 2008, a política dedesenvolvimento produtivo (PDP)priorizou o complexo da saúde ao estimulara transferência de conhecimento científico-tecnológico para a redução da vulnerabi-lidade do sistema nacional de saúde (BRASIL,2008). Em 2011, o Plano Brasil Maiordestacou o complexo produtivo da saúdecomo uma das prioridades estratégicas parao desenvolvimento nacional. Por fim, em2012, a Estratégia Nacional de Ciência,Tecnologia e Inovação enfatizou a necessi-dade de promoção de mecanismos deestímulo à inovação em saúde.

No entanto, apesar da crescenteinstitucionalização da importância da saúde,a fragilidade do CEIS permanece evidente,conforme se verifica pela evolução do déficitde sua balança comercial (Gráfico 1).

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Ressalte-se que esse déficit saiu de umpatamar de US$ 3 bilhões em 2003, paraultrapassar US$ 10 bilhões em 2012, reve-lando a vulnerabilidade do sistema de saúdeno Brasil e da inserção competitiva inter-nacional.

No que se refere à participação dos seg-mentos produtivos no déficit da balançacomercial da saúde em 2012 (Gráfico 2), osubsistema de base química e de biotecno-logia representa um saldo negativo de cercade US$ 8 bilhões9. Desse total, US$ 2,8bilhões são decorrentes do déficit com aimportação de medicamentos, US$ 2,4bilhões com a importação de insumosfarmoquímicos e US$ 1,8 bilhão com aimportação de hemoderivados. O restanterefere-se à aquisição externa de vacinas, dereagentes para diagnóstico e de soros etoxinas, que totaliza cerca de US$ 1 bilhão.

Conforme se observa no Gráfico 2, odéficit gerado pela importação de fármacose medicamentos foi responsável por cercade metade de todo o resultado negativo do

balanço comercial do CEIS. De tal modoque, atualmente, esse setor revela particularvulnerabilidade da saúde, representandorisco implícito para a implementação depolíticas universais e integrais de acesso aosbens e serviços de saúde.

Vale notar que essa debilidade, obser-vada nas indústrias do subsistema de basequímica e biotecnologia, é igualmentepercebida nas indústrias do subsistema debase mecânica, eletrônica e de materiais,especialmente naqueles segmentos demaior complexidade tecnológica, cujodéficit atingiu, em 2012, o montante deUS$ 2,2 bilhões (Gráfico 2).

A despeito da baixa competitividade,é importante mencionar que essesubsistema – que reúne um conjunto parti-cular de atividades com grande heteroge-neidade tecnológica – oportuniza aexistência de nichos competitivos em queo Estado pode atuar, no sentido de incen-tivar o fortalecimento da indústria nacional(GADELHA; MALDONADO; COSTA, 2012).

Gráfico 1: Evolução da Balança Comercial da Saúde – CEIS 2012(Valor em US$ bilhões, atualizado pelo IPC/EUA)

Fonte: Elaborado por GIS/ENSP/FIOCRUZ, a partir de dados da Rede Alice / MDIC. Acesso em janeiro/2013.

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Quanto aos serviços de saúde, convémpontuar que os Gráficos 1 e 2 refletem,ainda que não completamente, a demandapelos insumos, produtos e bens que sãoutilizados nesse subsistema. Ademais, atransição demográfica em curso e as novascaracterísticas epidemiológicas10 implicarãotanto o aumento quanto a transformaçãodas condições de demanda. Consequen-temente, observar-se-á grande pressãosobre o sistema industrial por novasvacinas, medicamentos, equipamentos e,sobretudo, sobre a produção de serviçoshospitalares, ambulatoriais e de diagnós-tico, representando custos que o sistemade saúde, já subfinanciado11, não tem comosuportar.

Nesse sentido, no que tange às fragili-dades do CEIS, a principal questão a serenfrentada é como estimular o desenvolvi-mento de produtos com alto valor social,de modo a reverter o quadro de vulnera-bilidade ao qual o sistema de saúde encon-tra-se exposto, tendo em vista, inclusive, ainserção competitiva internacional. Vale

destacar que, no Brasil, se observa umabaixa competitividade do CEIS em face domercado mundial, em função de fatoresdiversos atinentes tanto ao próprio modeloe estrutura do Estado12 quanto a questõesmais setoriais.

O grande dilema que se apresenta aocomplexo é que o contexto nacional secaracteriza por uma dupla desarticulação.Por um lado, em que pesem todas as inicia-tivas governamentais recentes em relaçãoà saúde, esta ainda não é abordada de formasistêmica na agenda de desenvolvimentonacional. Por outro, a despeito da basecientífica instalada no País e da existênciade base industrial diversificada, esta não éinovativa, uma vez que a natureza e inten-sidade das interações estabelecidas entreambas não têm propiciado processosinovativos. Observa-se, dessa forma, oafastamento da empresa em relação à basecientífica do País, decorrente de caracte-rísticas e desarticulações do sistema nacio-nal de inovação, que está marcado por umabaixa capacidade inovativa. Por esses

Gráfico 2: Participação dos Segmentos do CEIS no Déficit da Balança Comercialda Saúde – 2012

Fonte: Elaborado por GIS/ENSP/FIOCRUZ, a partir de dados da Rede Alice/MDIC. Acesso em janeiro/2013.

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motivos, no Brasil, a base produtiva dasaúde é o elo fraco do sistema nacional deinovação em saúde.

Além disso, Chaves e Albuquerque(2006) apontam a existência de um “limiarde produção científica” necessário parainiciar circuitos virtuosos entre ciência etecnologia, situado em 150 artigos pormilhão de habitantes. De acordo com osautores, em meados dos anos 2000, o Brasilalcançava a marca de 63 artigos por milhãode habitantes, portanto abaixo do citadolimiar. Cabe lembrar que a produçãobibliográfica científica não basta por si sópara gerar inovações, uma vez que essaprecisa ser articulada com a base industrial.

Em função dessas evidências, pode-sedizer que a vulnerabilidade da base produ-tiva da saúde – e também do sistema desaúde como um todo – decorre da baixacapacidade de inovação da mesma.

Cabe ressaltar, ademais, que caracte-rísticas do arcabouço institucionaltambém não têm incentivado que asinovações se orientem socialmente. Apertinência dessa questão encontra eco emCosta e Gadelha (2012) e em Viana, Silvae Elias (2007), na medida em que sepercebe que a incorporação tecnológicano Brasil enfrenta forças assimétricasquanto aos interesses sanitários e econô-micos, responsáveis pelo estabelecimentode uma relação hierárquica mais favorávelaos interesses econômicos (VIDOTTI;CASTRO; CALIL, 2008).

Visando a aprofundar o entendimentosobre processos inovativos da saúde, tem-se utilizado o arcabouço teórico dosistema nacional de inovação em saúde(SNIS). A partir de estudos seminaiselaborados por Freeman (1987), Lundvall(1988) e Nelson (1993), autores diversos,a exemplo de Albuquerque e Cassiolato(2002), vêm propondo a aplicação do

conceito de sistema nacional de inovação(SNI) ao setor da saúde13. Dentro dessacorrente teórica, a geração, uso e difusãode inovações são percebidos comorespostas aos “processos sistêmicos quepermitem às empresas e demais organi-zações aprender, usar e acumular capaci-tações e desenvolver novos produtos eprocessos” (LASTRES; CASSIOLATO, 2007,p. 153). No caso do SNIS, essas interaçõesenvolvem atores diversos: universidadese instituições de pesquisa; hospitais,clínicas e postos de saúde; instituição deregulação (Agência Nacional de VigilânciaSanitária); indústria farmacêutica, deequipamentos e materiais hospitalares; eórgãos públicos voltados para a área dasaúde pública. A Figura 2 apresenta o con-junto dos atores envolvidos e suas intera-ções no caso de SNIS maduro.

Ressalta-se que, pelo fato de o SNISenvolver uma forte institucionalidadepúblico-privada, surge uma janela deoportunidade para potencializar oprocesso de geração de inovação emsaúde, dado o marcante protagonismo doEstado – que, a um só tempo, se confi-gura como importante demandante ecomprador de bens e serviços, comotambém responde pelo aparato institu-cional desse sistema, além de outrasquestões relacionadas a investimento,prestação de serviços de saúde etc.

Assim, numerosas iniciativas foramempreendidas visando ao fortalecimento doCEIS, que se configura como o elo frágildo SNIS, por meio da intensificação dasinterações entre atores públicos e privadose de medidas de fortalecimento das indús-trias nacionais relacionadas ao CEIS, aexemplo da transferência de tecnologia entreempresas farmoquímicas e laboratóriosoficiais, e programas para o fortalecimentoda base produtiva e inovativa nacional.

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Vale ressaltar uma particularidadenacional, referente à existência de uma redede laboratórios oficiais capazes de poten-cializar a atuação pública e a orientação socialdo desenvolvimento tecnológico nacional.Um exemplo emblemático refere-se à expe-riência pioneira da produção do Efavirenzpelo laboratório público Farmanguinhos daFiocruz (em parceria com três empresasfarmoquímicas nacionais), que serviu de basepara que o Ministério da Saúde institucio-nalizasse, em 2009, uma política de desen-volvimento produtivo, viabilizando parceriassimilares com um marco legal mais estável.Destaca-se, ainda, a consolidação da redenacional de laboratórios públicos com a cons-trução da Hemobrás em Pernambuco, donovo Instituto Nacional de Traumatologia eOrtopedia (INTO) e do novo CampusIntegrado do Instituto Nacional do Câncer(INCA) no Rio de Janeiro, evidenciando amobilização do Estado no campo dainovação em saúde.

Por fim, as vultosas compras públicasde insumos de saúde para o funcionamento

do SUS também têm potencial para insuflara dinâmica inovativa do CEIS, por meiodo uso do poder de compra do Estado14.

No entanto, apesar dessas importantesiniciativas, ainda não se alcançou um nívelsatisfatório de interação entre os atoresenvolvidos, notadamente entre indústriae institutos de pesquisa/universidades noSNIS, de maneira a fortalecer a dinâmicainovativa do CEIS, como evidenciado pelocrescente déficit de sua balança comercial.

Adicionalmente, Costa et al. (2012)chamam atenção para limitações viven-ciadas por instituições de regulação, aexemplo da ANVISA15, assim como paraa necessidade de aprimoramento do marcoregulatório no que se refere às políticasvoltadas para o desenvolvimento produ-tivo (uso do poder de compra do Estado,transferência tecnológica, margem depreferência). Nessa mesma linha, sugere-se a revisão do papel da ANS no que serefere à mediação dos interesses público-privados vigentes na agenda da saúde, nosentido de incentivar um padrão de

Figura 2: Fluxos de informações científicas e tecnológicas no sistema de inova-ção do setor saúde: o caso de países com sistemas maduros

Fonte: Chaves e Albuquerque (2006, p. 525).

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consumo em saúde que seja socialmenteinclusivo.

Nesse contexto, o complexo mostra-se pouco articulado tanto com relação àbase de conhecimento nacional – reconhe-cidamente forte na área da saúde – quantopara o desenvolvimento de um sistemanacional equânime e universal em saúde.O que suscita, assim, a necessidade nãosomente de se definir prioridades nofomento à competitividade das indústriasnacionais de saúde (que muito avançounos últimos anos), como de se qualificare intensificar as políticas e mecanismosde fomento à capacidade produtiva e deinovação do CEIS. A ideia é conduzi-lopara patamares de maior densidadetecnológica e buscar uma produção queseja orientada socialmente, retomando oconceito de Furtado, para quem “desen-volvimento” relaciona-se tanto comhomogeneização social quanto com odesenvolvimento de um sistema produtivoeficiente que apresente uma relativa auto-nomia tecnológica (FURTADO, 1964).

Advoga-se, nesse sentido, pela supe-ração da histórica polaridade moderni-zação-marginalização nacional (FURTADO,1964; ALBUQUERQUE, 2007; SABOIA;CARVALHO, 2007). De forma análoga, casoo complexo da saúde não seja abordadode forma sistêmica e não se mediem osinteresses sociais e econômicos, corre-se orisco de se observar um crescente distancia-mento das indústrias da saúde em relaçãoaos princípios do SUS.

Considerações finais

A pertinência da utilização do arca-bouço teórico da economia política e doinstrumental dos sistemas de inovação naanálise é evidenciada quando se busca umolhar sistêmico da saúde, que inclui a sua

vertente social, mas não se limita a essa. OCEIS, ao relacionar também a dimensãoeconômica da saúde, revela seu carátersistêmico, apresentando potencial para asuperação da dicotomia observada entre alógica econômica e a sanitária.

Uma articulação virtuosa entre essasduas dimensões, em especial considerando-se o caráter estratégico das tecnologias porela relacionadas, pode orientar um padrãode inovação tecnológica, público e privado,que aproxime a produção das necessidadeslocais e que, adicionalmente, permita umsalto qualitativo em um ambiente interna-cional extremamente competitivo.

No entanto, na atualidade o CEISenfrenta um duplo desafio. Por um lado,apesar de ter sido objeto de uma série deprogramas de políticas públicas nos últimosanos, a saúde ainda não é abordada integral-mente de forma sistêmica na agenda dedesenvolvimento nacional. Por outro, suabase produtiva ainda não apresenta umadinâmica inovativa capaz de torná-la compe-titiva em nível internacional, como seevidencia ao analisar a evolução da balançacomercial do CEIS. Cabe destacar que essesdesafios não são exclusivamente relacio-nados às indústrias desse complexo, mascondicionam a capacidade do País parauniversalizar de fato seu sistema de saúde.

Para reverter esse quadro, é necessárioadensar o conhecimento acerca da dinâ-mica inovativa da base produtiva da saúde.Nesse sentido, o arcabouço teórico doSNIS constitui uma ferramenta conceitualrica em perspectivas para nortear umaagenda futura de pesquisa, com o intuitode formular políticas públicas capazes deorientar socialmente o desenvolvimentotecnológico e produtivo da saúde. Aintensificação e qualificação do uso dopoder de compra do Estado, das parceriaspara o desenvolvimento produtivo, além

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do fortalecimento da rede de laboratóriospúblicos e o aprimoramento do marcoregulatório relativo ao fortalecimento doCEIS constituem opções promissoras paraalcançar tamanho objetivo.

A partir do exposto no artigo, sugere-se que se intensifique o uso de tais instru-mentos de ação pública, de maneira a

conferir autonomia à base produtiva dasaúde, tornando, dessa maneira, sustentávelo projeto de universalização do SistemaÚnico de Saúde, conforme estabelecido naConstituição de 1988.

(Artigo recebido em janeiro de 2013. Versãofinal em junho de 2013).

Notas

1 Neste artigo, as terminologias “complexo da saúde”, “complexo produtivo” ou “complexoeconômico-industrial da saúde” (CEIS) serão utilizadas como sinônimos ao se referirem aoconjunto de segmentos produtivos (industriais e de serviços) que estabelecem uma relaçãosistêmica entre si, envolvidos na prestação de serviços de saúde.

2 A retração do Estado e a falta de política industrial no período afetam todo o parqueprodutivo brasileiro. Além disso, dado a saúde ser intensiva em tecnologias portadoras de futuro,os efeitos deletérios da abrupta abertura comercial dos anos 1990 foram de grande alcance,também no que diz respeito à competitividade internacional da economia brasileira.

3 De acordo com a prospecção do mercado farmacêutico desenvolvida pelo IMS Health(2012), o gasto total dos países emergentes deve quase dobrar no período 2011-2016, passandode US$ 194 bilhões em 2011 para US$ 359 bilhões em 2016 (no mesmo período, o mercadobrasileiro deve dar um salto de US$ 30 bilhões para US$ 55 bilhões).

4 Dados extraídos da apresentação institucional da Secretaria de Ciência, Tecnologia e InsumosEstratégicos do Ministério da Saúde (2009).

5 Disponível em: www.Pharmexec/article/article. Acessado em: 20/12/2011.6 A concentração deste mercado é tamanha, que as vinte maiores empresas de equipamentos

e materiais médico-hospitalares respondem por cerca de 70% da produção em nível mundial(THE WORLD MEDICAL MARKETS FACTS BOOK, 2010).

7 De acordo com Maldonado (2012, p. 6), “a década de 1990 foi marcada por transfor-mações estruturais no funcionamento desta indústria [de equipamentos e materiais hospitalares]em decorrência do processo de abertura comercial, o que significou uma crescente dependênciado País em relação às importações de equipamentos, sobretudo de maior densidade tecnológica”.

8 Segundo dados do IBGE (2012), a saúde respondeu por 8,8% do PIB em 2009; desses,5,6% referem-se somente aos serviços.

9 Dados elaborados por GIS/ENSP/FIOCRUZ, 2012, a partir de dados da Rede Alice/MDIC. Acesso em: janeiro/2012.

10 As características epidemiológicas da população apontam para significativas transformaçõesno que tange ao aumento de doenças crônicas.

11 O subfinanciamento da saúde, em especial, no que se refere à parcela de origem pública,é incompatível em um país como o Brasil, onde 76% da população depende exclusivamente do

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Sistema Único de Saúde e a participação pública nos gastos sanitários gira em torno de 46%(GADELHA; COSTA, 2012). Este, inclusive, representa um dos principais desafios setoriais queprecisam ser vencidos para a superação da fragilidade do SUS.

12 A exemplo das características do sistema tributário nacional, da infraestrutura instalada, dosistema educacional e sua consequências para a formação das competências nacionais, entre outros.

13 Outros autores já tinham delineado pistas teóricas nesse sentido, a exemplo de Hicks e Katz(1996), ao apontar a existência de um sistema biomédico de inovação, e de Gelinjs e Roseberg(1995), ao estudar interações entre universidades e indústrias na geração de inovações médicas.

14 A Lei no 12.349/2010, regulamentada pelo Decreto no 7.546/2011, que prevê margem depreferência de até 25% para a compra a produtores nacionais (sendo possível considerar nocálculo geração de emprego e renda, impacto na arrecadação de impostos, desenvolvimentonacional), constitui um instrumento importante para materializar esse potencial.

15 O prazo médio de aprovação de um remédio por parte da Anvisa, afetada por uma estru-tura de recursos humanos subdimensionada, chegou, no final de 2012, a 640 dias, contra ummáximo de 180 dias para produtos considerados como estratégicos nos Estados Unidos (OEstado de São Paulo, 26/11/2012).

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O complexo produtivo da saúde e sua articulação com o desenvolvimento socioeconômico nacional

Resumo – Resumen – Abstract

O complexo produtivo da saúde e sua articulação com o desenvolvimento socio-econômico nacionalLaís Silveira Costa, Carlos Augusto Grabois Gadelha, José Maldonado, Marcelo Santo e Antoine MettenO objetivo deste artigo é aprofundar o conhecimento sobre o complexo econômico-industrial

da saúde (CEIS) e a dinâmica de seus subsistemas, identificando os principais desafios dessecomplexo no Brasil e as ameaças à manutenção de um sistema de saúde que se pretende universal.A relevância desse estudo situa-se no reconhecimento de que, não obstante a importância dasaúde e de sua base produtiva na agenda de desenvolvimento nacional, sua fragilidade representacrescente vulnerabilidade para o sistema de saúde nacional, enfatizando, inclusive, a necessidadede adensar a base de conhecimento científico sobre o tema. Para a sua elaboração, adotou-seuma abordagem sistêmica, propiciada tanto pelo arcabouço da economia política quanto peloinstrumental teórico dos sistemas de inovação (SI).

Palavras-chave: saúde; complexo econômico-industrial da saúde; setor produtivo; desen-volvimento

El complejo productivo de la salud y su articulación con el desarrollo socioeconómiconacionalLaís Silveira Costa, Carlos Augusto Grabois Gadelha, José Maldonado, Marcelo Santo y Antoine MettenEl objetivo de este trabajo es profundizar en el conocimiento del complejo económico-

industrial de la salud (CEIS) y de la dinámica de sus subsistemas, identificando los principalesdesafíos de este complejo en Brasil y las amenazas para el mantenimiento de un sistema de saludque se pretende que sea universal. La importancia de este estudio radica en el reconocimientode que, a pesar de la importancia de la salud y de su base de producción en la agenda nacional dedesarrollo, su fragilidad representa la creciente vulnerabilidad del sistema nacional de salud, conénfasis en la necesidad de aumentar la base de conocimientos científicos sobre el tema. Para suelaboración, hemos adoptado un enfoque sistémico, impulsado tanto por el marco de la economíapolítica como las herramientas teóricas de los sistemas de innovación (SI).

Palabras clave: salud; complejo económico-industrial de la salud; sector productivo;desarrollo

Health Economic-Industrial Complex and national economic and social developmentLaís Silveira Costa, Carlos Augusto Grabois Gadelha, José Maldonado, Marcelo Santo and Antoine MettenThe aim of this paper is to deepen the knowledge about the Health Economic-Industrial

Complex (CEIS) and dynamics of its subsystems, identifying the main challenges of this complexin Brazil and threats to maintaining a health care system that is intended to be universal. Therelevance of this study lies in the recognition that despite the importance of health and itsproduction base in the national development agenda, its fragility means increased vulnerabilityfor the national health system, emphasizing the need to increase the base of scientific knowledgeon the subject. For its elaboration, we adopted a systemic approach, fostered by both theframework of political economy as the theoretical tools of innovation systems (IS).

Keywords: health; health economic-industrial complex; productive sector; development

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Laís Silveira Costa, Carlos Augusto Grabois Gadelha, José Maldonado, Marcelo Santo e Antoine Metten

Laís Silveira CostaÉ doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fiocruz (ENSP/Fiocruz) e mestreem Development Studies pela London School of Economicis and Political Science. É Analista de Gestão da Inovação emSaúde da Fiocruz, coordenadora adjunta do Grupo de Pesquisa de Inovação em Saúde da Fiocruz e coordenadora cientí-fica do Boletim Informativo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde. Contato: [email protected]

Carlos Augusto Grabois GadelhaÉ doutor em Economia pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem atuado comoSecretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, coordenador do mestrado profissionalem Política e Gestão de CT&I em Saúde da ENSP/Fiocruz e coordenador do Grupo de Pesquisa de Inovação em Saúdeda Fiocruz. Contato: [email protected]

José MaldonadoÉ doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador adjunto domestrado profissional de Política e Gestão em CT&I em Saúde da ENSP/Fiocruz e pesquisador do Grupo de Pesquisa deInovação em Saúde da Fiocruz. Contato: [email protected]

Marcelo SantoÉ doutorando em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fiocruz (ENSP/Fiocruz) epesquisador do Grupo de Pesquisa de Inovação em Saúde da Fiocruz. Contato: [email protected]

Antoine MettenÉ mestre em Sciences de Gouvernement Comparées pela Institut d’Étude Politique de Grenoble e membro do Grupo dePesquisa de Inovação em Saúde da Fiocruz. Contato: [email protected] / [email protected]