o cerceamento de liberdade como Último …siaibib01.univali.br/pdf/adelmo de morais.pdf · pena, a...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – CEJURS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
O CERCEAMENTO DE LIBERDADE COMO ÚLTIMO RECURSO À SER APLICADO PELO ESTADO
ADELMO DE MORAIS
Itajaí (SC), maio de 2007
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – CEJURS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
O CERCEAMENTO DE LIBERDADE COMO ÚLTIMO RECURSO À SER
APLICADO PELO ESTADO
ADELMO DE MORAIS
Monografia submetida à Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. MSc. Rogério Ristow
Itajaí (SC), maio de 2007
Meus Agradecimentos:
À minha amiga Helidiane Francisco
Almeida e ao professor Rogério Ristow.
Este trabalho dedico:
Aos meus familiares, em especial aos
meus pais José Alípio de Morais e
Iracema Gonçalves de Morais (in-
memorian), meus irmãos e cunhados
Alcilina e Dercilio, Neri e Margarida,
Elenir e Vilim, Ivete e Celso, todos desde
o inicio de alguma forma me apoiaram,
ajudaram, e ainda o fazem, motivo pelo
qual se tornou possível a realização de
um sonho e minha maior conquista até
dia de hoje que foi a conclusão do curso
de Direito.
“Ainda que a figueira não floresça, nem
haja fruto na vide, ainda que o produto
da oliveira falhe, e os campos não
produzam mantimento, ainda que as
ovelhas sejam exterminadas, e nos
currais não haja gado,
todavia eu me alegrarei no Senhor,
exultarei no Deus da minha salvação.
O Senhor é a minha força; torna os meus
pés como os das corças, e me faz andar
sobre os lugares altos”.
[Habacuque 3.17 - 19]
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de
Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo
graduando Adelmo de Morais, sob o título O CERCEAMENTO DE LIBERDADE
COMO ÚLTIMO RECURSO À SER APLICADO PELO ESTADO, foi submetida em
29 de junho de 2007, à Banca Examinadora composta pelos seguintes
Professores: Prof. MSc. Rogério Ristow (Orientador e Presidente da Banca),
MSc. Natan Bem-hur Braga (Membro) e Renato Massoni Domingues
(Membro), e aprovada com a nota 9,5.
Itajaí (SC), 29 de junho de 2007.
Prof. MSc Antônio Augusto Lapa Coordenação de Monografia
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total
responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho,
isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do
Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer
responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí (SC), 29 de junho de 2006.
Adelmo de Morais Graduando
vii
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CP Código Penal
CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
LEP Lei de Execução Penal
UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí
CEJURPS Centro de Ciências Jurídicas Políticas e Sociais
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos
operacionais.
Apenado:
“Indiciado condenado em processo penal e que cumpre regularmente a
sanção aflitiva em estabelecimento penal” 1.
Cerceamento:
“Assim se entende quando a ação vem no intuito de impedir que alguém
se locomova ou manifeste seus pensamentos” 2.
Estado:
“[...] conjunto de normas, aplicáveis a nacionais e estrangeiros em seu
território. Está investido de poder coercitivo” 3.
Execução Penal:
“É a atividade desenvolvida pelos órgãos judiciais para dar atenção à
sanção que se realiza através dos processos de igual nome, mediante os
meios executórios de aplicações jurídicas e práticas nele contidas”4.
Liberdade:
“[…] exprime a faculdade de se fazer ou não fazer o que se quer, de
pensar como se entende, de ir e vir a qualquer atividade, tudo conforme
a livre determinação da pessoa, quando não haja regra proibitiva para a
1 SOIBELMAN, Leib. Dicionário geral de Direito, São Paulo: J. Bushatsky,1973. v. 2. p. 526.
2 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico..21. ed. Rio de Janeiro:Forense, 2003. p. 164.
3 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à teoria do Direito.Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos.1962. p. 212.
4 BENET, Sidnei Agostinho. Execução penal. São Paulo: Saraiva. 1996. p. 43.
ix
prática do ato ou não se institua princípio restritivo ao exercício da
atividade” 5.
Pena:
“[...] a pena é a expiação ou o castigo, estabelecido por lei, no intuito de
prevenir e de reprimir a prática de qualquer ato ou omissão de fato que
atente contra a ordem social, o qual seja qualificado como crime ou
contravenção” 6.
Pena Privativa de Liberdade:
“[...] são aquelas que afetam a jus libertatis do condenado, através de seu
enclausuramento em estabelecimento penal”.
Preso:
“Indivíduo recolhido a prisão, por agentes policias ou autoridade judicial,
para apuração de crime ou já sentenciado”7.
Prisão:
“[...] tomado para exprimir o ato pelo qual se priva a pessoa de sua
liberdade de locomoção, isto é, da liberdade de ir e vir, recolhendo-a a
um lugar seguro ou fechado, de onde não poderá sair” 8.
Ressocialização:
“Ato ou efeito de ressocializar, socializar-se novamente. Assistir o preso
psicológica e profissionalmente, para que possa voltar à sociedade como
um cidadão útil, após o cumprimento da pena”9.
5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 21.ed. Rio de Janeiro: Forense . 2003. p. 490.
6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 21.ed. Rio de Janeiro: Forense . 2003. p. 597.
7 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário jurídico. 5. ed. São Paulo: Riddee. 2003. p. 438.
8 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 21.ed. Rio de Janeiro: Forense . 2003. p. 640.
9 XIMENES, Sergio. Minidicionario Ediouro da língua portuguesa..2. ed. São Paulo:Ediouro. 200. p. 815.
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................. XIII
INTRODUÇÃO.........................................................................................................1
Capítulo 1 ..................................................................................................................4
A PENA DE PRISÃO ................................................................................................4
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE .......................4
1.1.1 A Pena Privativa de Liberdade na antiguidade .......................................5
1.1.2 A Pena Privativa de Liberdade na idade média......................................6
1.1.3 A Pena Privativa de Liberdade na idade moderna .................................8
1.1.4 Os reformadores: Beccaria, Howard e Benthan.......................................8
1.2 SISTEMAS PENITÉNCIÁRIOS ...........................................................................13
1.2.1 Sistema pensilvânico ou celular ..............................................................14
1.2.2 Sistema Auburniano ..................................................................................15
1.2.3 Sistemas progressivos................................................................................17
1.3 TEORIAS DA PENA..........................................................................................18
1.3.1 Teoria absoluta ou retributiva...................................................................18
1.3.2 Teoria preventiva .......................................................................................19
1.3.3 Teoria mista ou unificadora ......................................................................19
1.3.4 Teoria da prevenção geral positiva ........................................................20
Capítulo 2 ................................................................................................................22
A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE NO DIREITO BRASILEIRO .............................22
2.1 NOÇÕES PRELIMINARES ACERCA DA PENA ................................................22
xi
2.1.1 Classificação constitucional da Pena.....................................................24
2.1.2 Classificação das Penas de acordo com Código Penal ......................24
2.2 A LEI DE EXECUÇÃO PENAL (LEP) .................................................................24
2.2.1 Aspectos históricos....................................................................................25
2.2.2 Objetivo ......................................................................................................27
2.2.3 Objeto .........................................................................................................28
2.3 ESPÉCIES DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ..............................................29
2.3.1 Reclusão .....................................................................................................29
2.3.2 Detenção....................................................................................................29
2.3.3 Prisão simples.............................................................................................30
2.4 REGIMES PENITENCIÁRIOS ............................................................................30
2.4.1 Regime fechado ........................................................................................30
2.4.2 Regime semi-aberto..................................................................................31
2.4.3 Regime aberto ...........................................................................................32
2.5.3 Regime especial ........................................................................................32
2.5.4 Regime disciplinar diferenciado..............................................................33
2.5 INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA ......................................................................35
2.6 DIREITOS E DEVERES DOS PRESOS.................................................................36
Capítulo 3 ................................................................................................................40
A CRISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO, OBSTÁCULOS À RESSOCIALIZAÇÃO E TENDÊNCIAS DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.........40
3.1 EFEITOS SOCIOLÓGICOS PRODUZIDOS PELA PRISÃO.................................40
3.2 EFEITOS PSICOLÓGICOS PRODUZIDOS PELA PRISÃO..................................42
3.3 O ATUAL PROBLEMA CARCERÁRIO E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA................................................................................................45
xii
3.4 TENDÊNCIAS ACERCA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE .......................48
3.4.1 Penas e medidas alternativas conforme as regras de Tóquio .............50
3.4.2 A Lei 9.099/95 .............................................................................................53
3.4.3 A Lei 9.714/98 .............................................................................................55
3.4.4 A suspensão condicional da Pena Privativa de Liberdade ..................56
3.4.5 A substituição da Pena Privativa de Liberdade pela restritiva de direitos..................................................................................................................58
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................60
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ..................................................................64
RESUMO
Trata a presente monografia de um estudo acerca da
Pena Privativa de Liberdade no ordenamento jurídico brasileiro, com
ênfase na questão de aplicação do cerceamento de Liberdade como
último recurso a ser aplicado pelo Estado. O trabalho está dividido em três
capítulos, sendo o primeiro, destinado à evolução histórica da Pena
Privativa de Liberdade no mundo, com uma abordagem histórica, e uma
breve explicação do surgimento dos sistemas penitenciários e a teoria das
penas e seus reformadores da época. O segundo capítulo destina-se a
Pena privativa de Liberdade no Direito brasileiro e sua evolução, com uma
abordagem da lei de Execução Penal, tratando ainda das espécies de
Pena de Prisão e os regimes penitenciários. Finalmente, no terceiro
capitulo destina-se à crise do sistema prisional brasileiro e seus obstáculos a
ressocialização com ênfase as tendências mundiais em relação a as
Penas Privativas de liberdade, chegando-se a conclusão neste último, que
a Pena Privativa de Liberdade não cumpre com o objetivo de ressocializar
o Preso, e que o instituto da Pena Privativa de Liberdade só deve ser
aplicada como último recurso aos acusados ou condenados, sendo esta
a tendência mundial.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objeto "o Cerceamento
de Liberdade como último recurso a ser aplicado pelo Estado” e, como
objetivo: produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel
em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; pesquisar no
âmbito do Direito Penal brasileiro, os reflexos advindos do Cerceamento
de Liberdade em face da aplicação da Lei de Execução Penal; e, analisar
a função ressocializadora da Pena Privativa de Liberdade.
Portanto, não se circunscrevem na sua temática, as
Penas de multa e restritivas de direito, em razão do objeto do trabalho que
se aprofundará na Pena Privativa de Liberdade.
O tema é atual e relevante, pois, diante das inúmeras
controvérsias e discussões geradas entre os profissionais de Direito e
doutrinadores, acerca do sistema prisional brasileiro, demonstra-se a
posição atualmente adotada pela doutrina, bem como, os efeitos
produzidos.
Para encetar a investigação adotou-se o método
indutivo10, operacionalizado com as técnicas do referente11, da
categoria12, dos conceitos operacionais13 e da pesquisa de fontes
10 “O método indutivo é, na condição de base lógico-investigatória, o de menor complexidade, uma vez que
nele se opera com coleta de elementos que são reunidos e concatenados para caracterizar o tema
pesquisado”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do
direito, p. 92.
11 “Referente é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático
e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. PASOLD, César Luiz.
Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 63.
12 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia”. PASOLD,
César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 37.
2
documentais. Para relatar os resultados da pesquisa, empregou-se o
método dedutivo14, em conjunto com as técnicas propostas por Colzani15.
A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as
seguintes hipóteses: a) conforme bibliografia sobre o assunto, a Prisão tem
cumprido seu objetivo de ressocializar o condenado, e, b) a Prisão deve
ser utilizada apenas em caso de extrema necessidade.
O trabalho será dividido em três capítulos.
O primeiro tratará da Pena de Prisão. O seu
desenvolvimento constará de uma noção introdutória da evolução da
Pena Privativa de Liberdade, seguida dos sistemas penitenciários e teorias
da Pena.
O segundo, abordará a Pena Privativa de Liberdade
no Direito brasileiro. Neste, se apresentará noções preliminares acerca da
Pena, a Lei de Execução Penal, espécies de Pena Privativa de Liberdade,
regimes penitenciários, individualização da Pena e, direitos e deveres do
Preso.
Por fim, o terceiro e último capítulo, finalizará com a
crise do sistema penitenciário brasileiro, obstáculos à Ressocialização e
tendências da Pena Privativa de Liberdade. Para o desenvolvimento
lógico deste raciocínio, ter-se-á os efeitos sociológicos e psicológicos
produzidos pela Prisão, o atual problema carcerário e o princípio da
dignidade da pessoa humana, e por fim, tendências acerca da Pena
13 “O método dedutivo tem a peculiaridade de requerer a seleção prévia de uma formulação geral que será
sustentada pela pesquisa e, por conseguinte, terá tal dinâmica exposta em seu relato de pesquisa”. PASOLD,
César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 51.
14 “Conceito operacional (= cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal
definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica:
idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 51.
15 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico, p. 49 - 50.
3
Privativa de Liberdade.
Nas considerações finais apresentam-se breves sínteses
de cada capítulo e se demonstra se as hipóteses básicas da pesquisa
foram ou não confirmadas.
Capítulo 1
A PENA DE PRISÃO
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
Não é a intenção e nem isto seria possível, neste
capítulo, discorrer longamente sobre toda a evolução da Pena Privativa
de Liberdade, mas apenas apresentar noções básicas visando ao
entendimento do tema deste trabalho.
Os povos primitivos não utilizavam a privação da
Liberdade como uma forma de cumprimento de Pena, pois, esta era
usada para evitar a fuga dos acusados, garantindo assim, sua presença
no momento da aplicação da Pena
Seu objetivo primordial era assegurar a aplicação da
lei penal, seguido este de morte ou de castigos corporais terríveis, motivo
pelo qual, acredita-se que os acusados jamais esperavam
voluntariamente por sua sentença.
Corroborando o entendimento, explica Oliveira16:
Os povos primitivos ignoravam quase que completamente
as penas privativas de liberdade e as prisões. Utilizavam a
pena de morte como uma medida suprema, pura e simples,
e para os crimes reputados graves e atrozes, apenavam os
culpados com suplícios adicionais, de efeitos
amedrontadores.
Ainda, Mirabete17 destaca que “mesmo na época da
Grécia Antiga e do Império Romano, predominavam a Pena de capital e
16 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, 2. ed. Florianópolis:Editora Ufsc. 1996. p. 43.
17 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 10 ed. São Pulo: Atlas , 2002 p. 244.
5
as terríveis sanções do desterro, açoites, castigos corporais, mutilações e
outros suplícios”, ou seja, a Pena de Prisão até então não possuía caráter
punitivo.
Ainda, àquele tempo, os estabelecimentos prisionais
não eram construídos como os atuais, Oliveira18 explica os meios à época:
[...] Como as condições econômicas e sociais da época
não permitiam a construção de estabelecimentos penais
adequados, usavam-se os mais variados sistemas de
aprisionamentos. Eram utilizados até buracos em forma de
fossa, onde o condenado era remetido para ser exposto e
lhe aplicarem suplícios. Lá, apodreciam na imundície, no
meio de vermes.
Como se pode observar, “estas formas de prisões não
constituíam penas propriamente ditas, nem eram ligadas a crimes
definidos”19, representavam mais a garantia da aplicação de um castigo
vindouro.
Isto posta, até o final do século XVIII o objetivo
primordial da Prisão servia apenas para assegurar a aplicação de castigos
corporais.
1.1.1 A Pena Privativa de Liberdade na antiguidade
Oliveira20 traz considerações necessárias quanto à
existência e aplicação da Pena Privativa de Liberdade na idade antiga:
É só no “Livro de Esdras”, que pela primeira vez, o
aprisionamento é considerado Pena. [...] Contudo, pouco
foi usada, a não ser como meio de impedir a fuga dos
acusados ou para forçar certos devedores a pagar suas
18 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social.p. 43.
19 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 44.
20 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 44.
6
dívidas, em que os juizes determinavam uma multa e
tinham o direito de acrescentar uma prisão de cinco dias,
com entraves nos pés, nas prisões públicas.
Continuando, a autora acrescenta que “em muitas
passagens, falavam em prisões, fossa e entraves, como medidas
preventivas em que os acusados aguardavam o julgamento”21, quer dizer,
a Pena de Prisão atuava de forma acessória, ou seja, não era
reconhecida ainda, como instrumento principal de punibilidade.
Assim, esta era semelhante ao pelourinho, servindo
como meio e detenção para aplicar os suplícios aos condenados.
1.1.2 A Pena Privativa de Liberdade na idade média
A igreja na idade Média foi á precursora na utilização
da Pena de Prisão, utilizando-se da mesma para punir o clero que
cometesse crimes religiosos de heresia ou descrença, e, também, para
evitar a Pena capital e torturas físicas.
“A Pena de Prisão teve sua origem nos mosteiros da
Idade Média, como punição imposta aos monges ou clérigos faltosos,
[...]”22.
A Igreja foi a “mãe” da Pena de Prisão e esta aos
poucos foi sendo adotada pelo Estado. Ensina Oliveira23 que:
Foi na sociedade cristã que a prisão tomou forma de
sanção. De início, foi aplicada temporariamente e, após
como detenção perpetua e solitária, em cela murada. A
prisão celular, nascida no séc. V, teve inicialmente
aplicação apenas nos mosteiros. A Igreja não podia aplicar
penas seculares, especialmente a Pena de morte, daí
21 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 44.
22 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, p. 249.
23 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p.45.
7
encarecer o valor da segregação que favorecia a
penitencia. O encarceramento na cela, denominado “in
pace”, deu origem à chamada prisão celular, [...]. [...] A
Igreja instaura com a prisão canônica o sistema da solidão e
do silêncio. A sua reforma tem profundas raízes espirituais. A
prisão eclesiástica é para os clérigos e se inspira nos
princípios da moral católica: o resgate do pecado pela dor,
o remorso pela má ação, o arrependimento da alma
manchado pela culpa. Todos esses fins de reintegração
moral se alcançam com a solidão, a meditação e a
prece24.
Assim, tem-se que o direito canônico valeu-se
largamente desse tipo de punição na sua luta contra a heresia.
Na medida em que o Estado aplicava a Pena de
Prisão, a Pena de morte e outras Penas graves como o suplício foram aos
poucos substituídas pela Pena Privativa de Liberdade, porém, ainda
permanecia com um caráter assessório desta.
O século XVIII marca o início de uma grande
mudança, como ensina Oliveira25:
Só no século XVIII é que foi reconhecida como Pena
definitiva em substituição à Pena de morte. Antes, a simples
prisão não era considerada suficiente, acrescentando-se
outras privações: carência alimentar, utilização de cintos,
entraves, colar de ferro e outros.
Observa-se então, que, a Pena de Prisão, como
sanção autônoma e principal forma de punição, percorreu um longo
caminho antes de se fixar definitivamente como sanção.
24 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 45.
25OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 45.
8
1.1.3 A Pena Privativa de Liberdade na idade moderna
Finalmente, o Código Penal Francês de 1810, e sua
revisão de 1932 deixaram de lado todos os demais suplícios, as medidas
de exasperação e os trabalhos forçados perderam seus objetivos.
Explica Oliveira26:
Tornando-se a prisão um tipo de Pena autônoma, as
primeiras experiências registram-se na Europa. “Uma delas,
talvez a que assuma prioridade, é a casa de força de
Gand, [...]. [...] é o começo de uma tradição que lançou
raízes profundas na organização Penitenciária belga.
Fundodou-a Vilain XIV. [...] As casas de força apareceram
no séc. XVI e eram destinadas a internar os mendigos,
vagabundos, prostitutas e jovens entregues a uma vida
desonesta, os quais estavam sujeitos a um regime de
trabalho obrigatório. Assinala Prins, “que as primeiras casas
desta classe se estabeleceram em Londres (1550),
Nuremberg (1558), Amsterdam (1595)..
As pessoas detidas nestes estabelecimentos, eram
torturados fisicamente, obrigados a realizar trabalhos penosos, passavam
fome e sede, não havia cuidados higiênicos, tinham falta até de ar.
As conseqüências foram o surgimento de doenças,
febres infecciosas, e contagiosas, que eram transmitidas não só entre a
população interna detida, como também para a população externa,
ocasionando assim, muitas mortes.
1.1.4 Os reformadores: Beccaria, Howard e Benthan
Os reformadores e humanizadores da Pena de Prisão
Privativa contribuíram grandemente para que um grande trunfo fosse
conquistado.
26 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 46.
9
Césare Beccaria e Howard, esses, nas obras “Dos
delitos e das Penas”, de Césare Beccaria, publicado em 1764, e “O Estado
das prisões na Inglaterra e País de Gales”, de Howard, publicado em 1776,
deram início a humanização da Pena e as críticas, além de
questionamentos sobre as regras disciplinares enfrentada naquela época
pelos detentos, que sofriam todo tipo de abuso, torturas e privações
alimentares.
Cesare Bonesana Marquês de Beccaria nasceu e
morreu em Milão 1738–1794. Em sua juventude estudou literatura, filosofia e
matemática no Colégio dos Jesuítas.
Beccaria, foi um jovem que aos vinte seis anos de
idade, inconformado com as injustiças processuais e as torturas que os
Presos sofriam e a estrutura das prisões, escreveu um livro contendo
quarenta e sete itens nos quais em alguns desses o autor:
[...] reclama que o Direito Penal seja certo, as leis claras e
precisas, o juiz não admitido sequer interpretá-las, mas só
aplicá-las nos seus estritos termos, exigência com que reagia
contra o arbitrário da justiça penal daquela época27.
Ele defendia, além disso, o princípio da estrita
legalidade, da proporcionalidade entre a infração e a Pena e da
humanização do direito criminal.
De acordo com o humanizador, como explica
Silvinkas28:
[...] para que a pena não seja a violência de um ou de
muitos contra o cidadão particular, deverá ser
essencialmente pública, rápida, necessária, a mínima
dentre as possíveis, nas dadas circunstâncias ocorridas,
27 BRUNO, Aníbal. Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 50.
28 SILVINKAS, Luís Paulo. Introdução ao estudo do Direito Penal.São Paulo: Saraiva, 2003. p. 33.
10
proporcional ao delito e ditada pela lei.
Continuando:
[...] trouxe à baila questões importantes relacionadas ao
direito penal, como, por exemplo, o principio da legalidade.
Esse movimento teve forte influência na elaboração da
Constituição Americana em 1787. Na França, eclodiu a
Revolução Francesa e, concomitantemente foi proclamada
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em
178929.
Portanto, suas contribuições ao mundo jurídico fora de
grande importância, pois seus efeitos perduram até os dias atuais.
De acordo com Oliveira30:
John Howard, era filho de um comerciante inglês, que
em 1755, viajou de barco na tentativa de ajudar a socorrer as vítimas do
terremoto ocorrido em Lisboa, durante a viagem o barco foi atacado por
um navio francês, ele foi aprisionado e levado para França, lá foi posto em
uma Prisão subterrânea onde sofreu todo tipo de humilhação, tortura,
fome falta de ar, permaneceu por alguns anos nessa situação até que
conseguiu prova que era inocente então foi libertado.
Ao regressar à Inglaterra, foi eleito juiz de paz do
condado de Bedford em 1773, e passou a se dedicar inteiramente à obra
de reforma do estado das prisões.
Foi Howard quem inspirou uma corrente penitenciaria
preocupada em construir estabelecimentos apropriados
para o cumprimento da pena privativa de liberdade. [...]
Howard teve especial importância no longo processo de
29 SILVINKAS, Luís Paulo. Introdução ao estudo do Direito Penal, p. 36.
30 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 56.
11
humanização e racionalização das penas31.
Sua preocupação como sistema penitenciário
despertou muita atenção, pois sustentava que a prisão deveria ser
apropriada ao cumprimento das penas.
Howard dedicou praticamente toda sua vida ao
estudo e pesquisa sobre as condições e melhoramento carcerário. Em
1774 e 1779 apresentou, por duas vezes, à câmara dos Comuns, seu
projeto de reforma carcerária e por duas vezes, não logrou aprovação.
Após criticar o mundo condenado dos cárceres de seu
tempo, o imortal humanista fixou essas bases para remediá-
los: a)higiene e alimentação; b)disciplina diversificada para
os presos provisórios e os condenados; c)educação moral e
religiosa; d) trabalho; e)sistema celular mais humanizado32.
Os presos eram tratados de forma desumana, não
possuíam quaisquer direito, utilizavam-se da prisão como forma de castigo,
sem qualquer preocupação quanto a condição física, psicológica ou
com a sua sobrevivência enquanto permanecesse preso, Horvard era
conhecedor e totalmente contrário a este tratamento.
[...] Pretendia-se, com essas idéias, humanizar as prisões,
proporcionando aos delinqüentes condições de higiene
básica. Ele sustentou essas posições em seu livro O estado
das previsões na Inglaterra e País de Galé33.
A obra de Howard foi fruto de uma pesquisa, realizada
por ele através de visitas a varias prisões em vários países e sem dúvida
alguma da experiência própria sentida quando esteve preso, com a
publicação de seu livro trouxe reflexos mundiais sobre a humanização das
31 BITENCURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 10.ed. São Paulo: Saraiva, 2006. V. 1. p.51
32 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal parte gera. 2. ed .Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 145.
33 SILVINKAS, Luís Paulo. Introdução ao estudo do direito penal, p. 33.
12
prisões e o surgimento de um direito penitenciário.
Howard propôs a seguinte divisão dos presos: a) os
processados – deveriam ter um regime especial de prisão,
não se trata de castigo; b) os condenados – seriam
encarcerados de acordo com a decisão judicial; e c) os
devedores – seriam separados dos demais delinqüentes.
Propôs, ainda, a separação de presos: homens das mulheres
e menores dos adultos. Sustentou a necessidade de
constante fiscalização nas prisões pelo magistrado34.
Em 1775 e 1781, na Inglaterra foram construídas duas
penitenciarias da forma que prescrevia Howard, a 1° foi Penitenciary-
house e a 2° Mondham Norfolk, ele faleceu aos 64 anos de idade devido a
uma doença contraída em uma de suas visitas aos cárceres.
Com a morte da Howard, suas idéias lograram
continuidade através do criminalista e filosofo inglês, Geremias, Bentham
(1748-1832), que apresentou um modelo de estabelecimento prisional de
forma diferente, conhecido como panótico.
O panótico era uma Prisão celular diferenciando-se
das demais por sua arquitetura, uma construção em forma de anel de
celas individuais, todas voltadas para o centro onde ficava a torre com
um guarda de onde podia ver todos os Presos em suas celas com maior
segurança.
A obra principal de Bentham, “Teoria das penas e das
Recompensas”, foi lançada em 1818. Seu livro, denominado
“Memória”, foi enviada à Assembléia Legislativa francesa,
em 1791, objetivando a reforma das leis criminais, [...]. [...]
Nesta obra o autor menciona três sistemas de organização
Penitenciária: a) prisão cloaca que é um lugar de
corrupção total, sem intervalos para a reflexão, que
endurece o homem para a vergonha; b) prisão da
34 SILVINKAS, Luís Paulo. Introdução ao estudo do direito penal, p. 33 - 34.
13
soledade absoluta, que preserva os reclusos do contágio
moral e lhes permite a reflexão e o despertar do
arrependimento. [...] prisão de cela múltipla, capaz de
conter vários prisioneiros, escolhidos pela idade, caráter,
grau de criminalidade e perversidade35.
O sistema panótico embora tenha sido aprovado pelo
parlamento inglês mais não foi o primeiro a implantar esse sistema.
Analisadas estas questões, passa-se à um breve estudo
dos sistemas penitenciários.
1.2 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS
Historicamente a expressão penitenciária teve sua
origem na igreja católica da palavra em latim “inpacem” que significa
penitencia, em que o transgressor do clero era enclausurado em uma cela
sozinho para que se arrependesse do pecado e se reconciliasse com
Deus.
Na segunda metade do século XVIII, consolida-se a
corrente de pensamento contrária à crueldade e aos abusos que se
cometiam em nome do Direito Penal absolutista.
As idéias político-filosófico e jurídicas emergentes já
não admitiam que o direito pudesse utilizar-se, com tanta freqüência e de
forma tão abusiva, dos castigos e da pena de morte.
O terreno político-filosófico, adubado pelas idéias cristãs e
humanitárias, estava devidamente preparado para a
prática do penitenciarismo, sistema punitivo que tem na
prisão sua pena principal. Os espetáculos de terror
representados pela execução das penas corporais em
praças públicas e os suplícios infligidos aos condenados
passam a ser considerados demasiadamente cruéis
35 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 50.
14
desumanos e desnecessários36.
Os primeiros sistemas penitenciários surgiram nos
Estados Unidos. Continuando, Oliveira37 contribui ensinando:
É mais precisamente nos séculos XVII e XVIII, que surge
grande número de estabelecimentos de Detenção para
condenados, com os mais distintos nomes não obedecendo
a nenhum princípio penitenciário, excluídas, ainda, todas as
normas de higiene, pedagogia e moral.
As prisões eram geralmente subterrâneas, apresentavam-se
insalubres, infectas e repelentes. Tais estabelecimentos,
verdadeiras masmorras do desespero e da fome, se
abarrotavam de condenados, criando situações tenebrosas
e insuportáveis. Os prisioneiros eram ali jogados e relegados,
ao mais completo abandono, sofrendo cruéis torturas!38.
Quanto à execução das penas de liberdade, são
apontados três sistemas penitenciários: o sistema de Filadélfia ou
pensilvânico, belga ou celular, o de Auburn e o sistema Progressivo Inglês
ou Irlandês, sistemas estes que serão estudados na seqüência.
1.2.1 Sistema pensilvânico ou celular
Também conhecido como Sistema de Filadélfia por ter
iniciado naquela Cidade em 1.790, este sistema era um regime de
Reclusão, chamada “Solitary Confinement”, devido à forma de
cumprimento de Prisão pelos condenados.
Em sua obra, Leal39 ressalta que:
[...] O condenado deveria permanecer todo o tempo de
36 LEAL, João Jose. Direito Penal geral. São Paulo: Atlas, 1998. p. 324.
37 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p.46.
38 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 46.
39 LEAL, João José. Direito Penal geral, p. 325.
15
cumprimento de pena encarcerado em cela individual
(isolamento celular dia e noite), completamente separado
de seus companheiros de prisão e submetidos a um silêncio
absoluto (solitary system) .
No sistema Filadélfia, utilizava-se o isolamento celular
absoluto, com passeio isolado em um pátio circular, sem trabalho ou
visitas, incentivando-se a leitura da Bíblia como forma de se tentar a
ressocialização do Apenado.
A assistência moral, religiosa e medica era recebida pelo
presidiário na própria cela. Também o trabalho, de natureza
artesanal, ali deveria ser realizado. Imbuído da idéia cristã
de purificação espiritual através da penitência, da
meditação e do isolamento do “meio social pernicioso”, o
sistema pensilvaniano objetivava recuperar moralmente o
infrator, mediante um regime de absoluta reclusão
silenciosa40.
Infelizmente muitos se suicidavam, pois permaneciam
por um longo tempo solitário em uma sala vazia, durante todo o tempo,
sem uma cama ou qualquer outro tipo de moveis. Outros logo no inicio da
segregação desencadeava-se nestes um estado de loucura.
A realidade é que, na prática, os resultados foram
desastrosos. Os poucos diretores que o seguiram a risca, em vez da
ressocialização desejada levaram muitos dos presos à loucura41.
O sistema pensilvânico continuou tratando os
condenados de forma desumana além de mantendo-los em isolamento
absoluto e os castigos corporais ainda persistirem não lhes era permitido
qualquer contato externo com seus familiares.
1.2.2 Sistema Auburniano
40 LEAL, João José. Direito Penal gera. p. 325
41 LEAL, João José. Direito Penal geral, p. 325.
16
O sistema auburniano que deveria ser a evolução do
sistema pensilvânico, na verdade muito pouco mudou, ambos impuseram
a Pena Privativa de forma punitiva e retributiva.
De acordo com Bitencourt42:
Os dois sistemas tinham idéias ou uma ideologia que
evidenciava a finalidade ressocializadora do recluso, fosse
através do isolamento, do ensino dos princípios cristão, da
dedicação ao trabalho, do ensino de um ofício, ou mesmo
pela imposição de brutais castigos corporais.
Em 1821, oposto ao sistema anterior, surgiu o modelo
auburniano, em New York, exigindo, também, silencio absoluto, mas um
regime de comunidade durante o dia e isolamento noturno.
Característica desse sistema penitenciário era a
exigência de absoluto silêncio entre os condenados, mesmo quando em
grupos o que levou a ser chamado de silent system.
Naquele sistema, “[...] a quebra do silêncio era motivo
de castigo corporal. O chicote era instrumento usado para quem rompia
com o mesmo; [...]”43.
Embora os sistema, pensilvanico e auburniano
tivessem melhorado um pouco o regime de reclusão, a situação dos
detentos, no sistema prisional ainda continuava sendo desumano, por
suas proibições e omissões em relação aos condenados.
Foram largamente censurados, pois, impunham a
proibição de visitas, falta de lazer e de exercícios físicos, demonstrando
uma total indiferença ao estudo e profissionalização do condenado.
42 BITENCURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p.165.
43 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 53.
17
1.2.3 Sistemas progressivos
Ainda no século XIX, mais precisamente em 1846,
desponta, na Inglaterra, um novo sistema de prisão, denominado
progressivo, atribuído a um capitão da Marinha Real Inglesa, Alexandre
Maconochie.
Tal forma de execução da pena foi bem recebida,
passando a vigorar em inúmeras prisões da Inglaterra, daí o nome de
sistema progressivo inglês.
[...] segundo esse sistema, a duração da Pena não era
determinada exclusivamente pela sentença condenatória,
mas dependia da boa conduta do Preso, de seu trabalho
produzido e da gravidade do delito. O condenado recebia
marcas ou vales quando seu comportamento era positivo e
os perdia quando não se comportava bem44.
De acordo com este sistema, “[...] a Sorte do
condenado ficava, assim em suas próprias mãos, podendo progredir ou
regredir no sistema de acordo com as suas atitudes” 45.
Como ensina Teles46, a forma de cumprimento da Pena
se dava em três períodos, havendo uma progressão do regime mais
rigoroso par um mais brando.
[...] No primeiro período, o condenado seria mantido
completamente isolado. Depois, seria mantido o isolamento
noturno, com trabalho diurno e manutenção do silêncio. Em
seguida o condenado seria transferido para uma
44 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 55.
45 MUKUAD, Irene Batista. Pena privativa de liberdade.São Paulo: Atlas,1996. p.47.
46 TELES, Ney Moura. Direito Penal geral – II. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 39.
18
penitenciária industrial ou agrícola, onde trabalharia
durante o dia, sem obrigação de silêncio e, por último,
ganharia o livramento condicional. [...] O sistema constituiu
significativo avanço e foi adotado por todos os povos
civilizados do mundo, com adaptações e particularizações
as mais diversas, todas elas no sentido do abrandamento da
execução da pena.
O sistema progressivo nasceu pela necessidade e
consciência, de que a execução de Pena de Prisão deveria ser aplicada
como forma de tratamento e busca da ressocialização dos presos, a
finalidade desse sistema é ter um bom comportamento individual do
Preso, de modo a possibilitar a progressão do regime em que o
condenado esta cumprindo para um mais brando, possibilitando o
contato deste com a sociedade antes mesmo do termino de sua
condenação, modelo este adotado e melhorado pela maioria dos países
inclusive pelo Brasil.
1.3 TEORIAS DA PENA
Diante o direito e o dever do Estado em punir o agente
pelo cometimento de um crime através de uma Pena de Prisão, surgiram
algumas teorias a respeito da natureza e a finalidade da aplicação da
Pena, que serão analisadas na seqüência.
Dentre as diversas classificações de teorias da Pena,
encontram-se a teoria absoluta ou retributiva, teoria preventiva, teoria
mista ou unificadora e teoria da prevenção geral positiva, que serão
analisadas na seqüência.
1.3.1 Teoria absoluta ou retributiva
Para a Escola Clássica, a pena era tida como
puramente retributiva, não havendo qualquer preocupação com a
pessoa do delinqüente, o delinqüente deveria sofrer o mesmo mau cujo
qual havia causado.
19
Para Bitencourt47:
Uma teoria da pena que se fundamenta na retribuição do
fato (pecado) cometido, que necessita de castigo para sua
expiação, identifica-se melhor com as argumentações
religiosas do que jurídicas.
As teorias absolutas apontam a retribuição e expiação
do delito praticado como finalidade da Pena. A sanção é simplesmente a
conseqüência jurídica do delito. Não há, pois que se cogitar de qualquer
outro sentido à pena, pois ela é justa em si mesma.
1.3.2 Teoria preventiva
Para a teoria preventiva, a pena não visa retribuir o
fato delitivo cometido, mas sim prevenir a sua comissão.
Nas palavras de Oliveira48, tem-se:
A pena deve ser aplicada por ser útil e necessária à
segurança da sociedade e à defesa social. O delito já não
é mais fundamento da pena, mas seu pressuposto. Não se
castiga porque pecou, mas para que não peque.
Neste caso, a Pena se apresenta como intimidação
para todos da sociedade, ao ser cominado abstratamente, e para o
criminoso, ao ser imposta no caso concreto.
1.3.3 Teoria mista ou unificadora
Neste momento, passou-se a entender que “a Pena,
por sua natureza, é retributiva, tem seu aspecto moral, mas sua finalidade
é não só a prevenção, mas também um misto de educação e correção”,
47 BITENCURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p.117.
48 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 64.
20
é o que ensina Mirabete49.
[...] Tal teoria trata de juntar os princípios absolutos e os
princípios relativos, associando à pena um fim socialmente
útil e um conceito relativo, associando à pena um fim
socialmente útil e um conceito retributivo. Pune-se porque
pecou e para que não peque50.
Quer dizer, não sendo alcançado o primeiro objetivo
da pena, o que ocorre quando o indivíduo comete o crime, a pena
destina-se a prevenir a continuidade do sujeito na atividade agressiva.
1.3.4 Teoria da prevenção geral positiva
Nesta, a pena tem missão de prevenir a ocorrência de
novos delitos. Sendo assim, tem-se nos ensinos de Mirabete51 o que segue:
[...] O fim da pena é a prevenção geral, quando intimida
todos os componentes da sociedade, e de prevenção
particular, ao impedir que o delinqüente pratique novos
crimes intimidando-os e corrigindo-o.
Oliveira52 destaca que “[...] a prevenção é geral
quando a sanção representa um modo de evitar as violações futuras,
agindo sobre a generalização, das pessoas”.
Ou seja, nesta teoria, a pena tem por finalidade
impedir, através da intimidação, que os indivíduos, considerados como um
todo pratique delitos.
Vista a noção introdutória da evolução da Pena
Privativa de Liberdade, seguida dos sistemas penitenciários e teorias da
49 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, p. 245.
50 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 64.
51 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, p. 245.
52 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 64.
21
Pena, tem-se agora o segundo capítulo. Este é de suma importância, pois,
apresenta a Pena Privativa de Liberdade no Direito brasileiro.
Capítulo 2
A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE NO DIREITO BRASILEIRO
2.1 NOÇÕES PRELIMINARES ACERCA DA PENA
“A Pena, em sua origem remota, nada mais significava
senão a vingança, revide à agressão sofrida desproporcionada com a
ofensa e aplicada, sem a preocupação de justiça”53.
[...] Segundo Manoel Pedro Pimentel, o confronto das
informações históricas contidas nos relatos antropológicos,
oriundos das mais diversas fontes, autoriza uma forte
suposição de que a pena, como tal, tenha tido
originariamente caráter sacral 54.
No Brasil, a aplicação de penas corporais como
punição já era realizada nas civilizações que aqui viviam, muito antes de
seu descobrimento, de acordo com Gonzaga55:
As penas corporais foram comumente empregadas,
embora não se tenha noticia de métodos torturantes. A
pena de morte era executada com o uso do tacape,
recorrendo-se também a venenos, sepultamento de
pessoas vivas, especialmente crianças, e enforcamento. A
pena de açoites [...].
Assim como os demais povos na antiguidade o povo
indígena no Brasil no período da descoberta se utilizava da Prisão como
forma de se evitar a fuga e para aplicação dos sacrifícios.
Após o descobrimento do Brasil a aplicação da Prisão
53 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, p. 35.
54 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, p. 35.
55 GONZAGA, João Bernardino. O Direito penal indígena: à época dos descobrimentos do Brasil. São Paulo: Max Limonad. p. 171.
23
teve início com as Ordenações Afonsinas de forma preventiva, e fazer
com que o autor pagasse a Pena pecuniária.
Nas Ordenações Manuelinas56:
“[...] A prisão é encontrada como medida de coerção
pessoal até o julgamento e a condenação [...]. [...] a privação da
liberdade como sansão propriamente dita é pouco utilizada”.
Nas leis extravagantes57:
[...] A prisão continua a ser prevista como meio para obrigar
ao pagamento de dividas (natureza coercitiva) e também
como expressão retributiva, com fixação em tempo certo:
dez, vinte, trinta dias ou dois meses.
Nas Ordenações Filipinas58, “[...] em nada se distinguia
das Manuelinas acrescidas pelas leis extravagantes”.
[...] As Ordenações Filipinas – assim como as anteriores –
desvendaram durante dois séculos a face negra do Direito
penal. [...] eram impostas as mais variadas formas de
suplícios com a execução das penas de morte, de
mutilação e a perda da liberdade, além das medidas
infamantes59.
“A pena de prisão com o caráter a definição e
objetivo que hoje conhecemos percorre um longo caminho, para
Damásio60:
[...] pena é a sanção efetiva imposta pelo Estado, mediante
ação penal, ao autor de uma infração (penal), como
56 DOTT, René Ariel. Curso de direito penal parte geral, p. 182.
57 DOTT, René Ariel. Curso de direito penal parte geral, p. 182.
58 DOTT, René Ariel. Curso de direito penal parte geral, p. 182
59 DOTT, René Ariel. Curso de direito penal parte geral, p. 182
60 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal parte geral. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. V. 1.p. 519.
24
retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de
um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos delitos.
A Pena, na reforma de 1984, passou a apresentar
natureza mista: é retributiva e preventiva, conforme dispõe o artigo 59,
caput, do Código Penal.
De acordo com a Constituição Federal do Brasil em seu
artigo 5°, XLV, são caracteres da Pena, deve ser personalíssima, só
atingindo o autor do crime, a sua aplicação é disciplinada pela lei, é
inderrogável, no sentido da certeza de sua aplicação, é proporcional ao
crime.
2.1.1 Classificação constitucional da Pena
A Constituição da República Federativa do Brasil prevê
as seguintes Penas em seu art. 5°. XLVI privação ou restrição da Liberdade,
perda de bens, multa, prestação social alternativa, suspensão ou
interdição de direitos.
A mesma Carta Magna em seu art. 5°. XLVII, proíbe a
Pena de morte no Brasil, salvo em caso de guerra declarada, a de caráter
perpetuo, de trabalhos forçados, de banimento e as cruéis.
2.1.2 Classificação das Penas de acordo com Código Penal
De acordo com o Código Penal, as Penas podem ser,
privativas de Liberdade, restritivas de direito, pecuniárias.
São Penas restritivas de direito prestação pecuniárias,
perda de bens e valores, prestação de serviços à comunidade ou a
entidades publica, interdição temporária de direitos e limitação de fim se
semana.
2.2 A LEI DE EXECUÇÃO PENAL (LEP)
A lei 7210/84 que entrou em vigor em 13 de julho de
25
1985 no Brasil veio ao encontro de uma necessidade clamada e tentada
por diversas vezes por nossos legisladores através de vários anteprojetos.
Embora a LEP seja considerada até hoje uma conquista e de primeiro
mundo por seu conteúdo, o nosso judiciário nunca sequer chegou próximo
ao cumprimento da referida lei, que não passou e não passa a nosso ver
de uma utopia a redação dessa lei.
O resultado não poderia ser diferente haja vista que
nossos legisladores na ânsia de se ter uma lei de Execução Penal fizeram
uma copia de parte de uma declaração da ONU sobre o tratamento que
deveria ser dispensado aos presos e da Lei de Execução Penal do EUA,
País considerado de primeiro mundo, o nosso judiciário não estava
preparado de uma maneira geral de estrutura física, financeira e de
pessoal para por em pratica a Lei de Execução Penal assim como na
atualidade não esta de modo a possibilita a aplicação integral da LEP,
pelos órgãos responsáveis.
2.2.1 Aspectos históricos
O processo penal somente é exeqüível quando
dotado de legislação própria que dê autonomia ao Direito de Execução
Penal. Este, por sua vez, compreende o “conjunto de normas jurídicas
relativas à execução das Penas e das medidas de segurança” 61.
Havia a necessidade de se ter um código ou uma lei
que regulamentasse a Execução Penal pondo fim aos abusos cometidos
por juizes e diretores penitenciários e seus funcionários, pois anteriormente
as leis de Execução conduziam a aplicação das Penas conforme queriam.
MIRABETE62, explica de forma simples e objetiva, a
61 MUKUAD, Irene BATISTA. Pena privativa de liberdade, p. 28.
62 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários à lei n°7.210, de 11 de 07-84. São Paulo: Atlas,1987. p.
38 – 39.
26
evolução e toda a trajetória da lei de execução penal em nosso país.
No Brasil, a primeira tentativa de uma codificação a
respeito das normas de execução penal foi o projeto de
Código Penitenciário da Republica, de 1933, elaborado por
Cândido Mendes, Lemos de Brito e Heitor Carrilho, que veio
a ser publicado no Diário do Poder Legislativo, Rio de
Janeiro, edição de 25 de fevereiro de 1937.
Nessa época discutia-se no Brasil a implantação do
Código Penal de 1940, mais foi abandonado, além do mais, porque
discordava do referido Código, o nosso ordenamento jurídico não possuía
uma lei que regulasse a Execução das Penas Privativa de Liberdade,
motivo pelos quais a doutrina clamava pela necessidade de uma lei de
Execução penal, dando-se inicio a projeto:
[...] de 1951, do Deputado Carvalho Neto, resultou a
aprovação da Lei n° 3.274, de 2 de outubro de 1957, que
dispôs sobre normas gerais penitenciários. Tal diploma legal,
porém, carecia de eficácia por não prever sanções para o
descobrimento do principio e das regras contidas na lei, o
que a tornou letra morta no ordenado jurídico do País. Em
28 de abril de 1957 era apresentado ao Ministro da Justiça
um anteprojeto de Código Penitenciário, elaborado por
uma comissão de juristas sob a presidência de fato do Vice-
presidente Oscar Penteado Stevensom.[...].
Novamente esse projeto foi abandonado, somente seis
anos depois surge um novo anteprojeto de um código de Execução
Penal, redigido por Roberto Lyra um dos maiores jurista, não chegando
sequer em projeto por falta de interesse do autor. Em 1970, foi elaborado
um novo anteprojeto de Código de Execuções Penais e mais uma vez não
foi aceito.
[...] Enfim, em 1981, uma comissão instituída pelo Ministro da
Justiça e composto pelo Professor Francisco de Assis Toledo,
René Ariel Dotti, Miguel Reale Junior, Ricardo Antunes
Andreucci, Rogério Lauria Tucci, Sérgio Marcos de Moraes
27
Pitombo, Benjamim Moraes Filho e Negi Calixto apresentou o
anteprojeto da nova Lei de Execução Penal. Foi ele
publicado pela Portaria n° 429, de 22 de julho de 1981, para
receber sugestões e entregue, com estas, à comissão
revisora constituída por Francisco de Assis Toledo, René Ariel
Dotti, Jason Soares Albergaria e Ricardo Antunes Andreucci,
que contaram com a colaboração dos Professores Everardo
d Cunha Luma e Sérgio Marcos Moraes Pitombo. O trabalho
da comissão revisora foi apresentado em 1982 ao Ministro
da Justiça. Em 29 de junho de 1983, pela mensagem n° 242,
o Presidente da Republica João Figueiredo encaminhou o
projeto ao Congresso Nacional63.
Depois de um longo percurso a lei de Execução Penal
7.210/84 que vigora em nosso ordenamento jurídico, sem qualquer
alteração de foi aprovada e promulgada em 11 de julho de 1984 e
publicada no dia 13 seguinte e entrou em, vigor simultaneamente com a
lei de reforma da Parte Geral do Código Penal.
O ordenamento jurídico brasileiro clamava e
necessitava com urgência uma lei que viesse a regulamentar a Execução
das Penas Privativas de liberdade.
2.2.2 Objetivo
A LEP tem como objetivo final a ressocializacão do
Apenado de forma a lhe possibilitar o retorno e conviveu em sociedade, a
política da Execução Penal deve estar ligada de forma a humanizar o
condenado, reeducando através de tratamento terapêutico e
pedagógico.
[...] A finalidade das penas privativas de liberdade, quando
aplicadas, diz Everardo da Cunha Luna, é ressocializar,
recuperar, reeducar ou educar o condenado, tendo uma
63 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários à lei n°7.210, p. 38 – 39.
28
finalidade educativa que é de natureza jurídica. [...]64.
A Lei de Execução penal tem por objetivo ao
presidiário, um mínimo de repressão e um Maximo de eficácia na ação
ressocializadora, quanto à educação proporcionar condições de
harmonia e integração social do delinqüente, a preocupação com a
dignidade humana.
2.2.3 Objeto
A LEP tem por objeto a regulamentação da Execução
Penal tanto para os órgãos responsáveis como para os próprios Presos
contendo nestes seus direitos e deveres.
[...] A execução penal tem por objeto efetivar as
disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado65.
[...] resulta claro que não se trata apenas de um direito
voltado à execução das penas e medidas de segurança
privativas de liberdade, como também ás medidas
assistenciais, curativas e de reabilitação do condenado, o
que leva à conclusão de ter – se adotado em nosso direito
positivo o critério de autonomia de um Direito de Execução
penal ao invés do restrito de Direito Penitenciário66.
O Estado devera o proporcionar oportunidades de
ressocialização, o que o Estado democrático em que vivemos não pode
fazer é impor ao condenado os valores predominantes em nossa
sociedade, restringindo-se a propô-lo, ao encarcerado cabendo a este o
direito refutá-los, se entender o caso, recusando adaptar–se às regras
fundamentais coletivas.
64 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários à lei n°7.210, p. 39.
65 KUEHNE, Maurício. Lei de Execução Penal anotada.Curitiba: Juruá,1999. p. 47.
66 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários à lei n° 7.210, p. 36.
29
2.3 ESPÉCIES DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
As penas Privativas de Liberdade dividem-se em duas
que são as de reclusão e a de detenção a única distinção de acordo
com o artigo 33 do Código Penal que se faz em relação a estas é quanto
ao cumprimento das penas já que a pena de reclusão poderá ser iniciada
desde o início em regime aberto ficando ao critério do juiz conforme o
artigo 59 do código penal, e a gravidade do delito para aplicação,
quanto ao regime de detenção não poderá ser aplicado de inicio em
regime fechado salvo necessidade de transferência para o fechado.
2.3.1 Reclusão
Conforme dispõe o art. 33, caput, 1° parte, a Pena de
reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi–aberto ou aberto.
Damásio67 relata que:
Considera–se regime fechado a execução da pena
privativa de liberdade em estabelecimento de segurança
máxima ou media (§ 1°, a). No regime semi-aberto, a
execução da pena se faz em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar (al. B). No regime aberto, a
execução de pena ocorre em casa de albergado ou
estabelecimento adequado (al. C.).
2.3.2 Detenção
A Pena de detenção deve ser cumprida em regime
semi-aberto ou aberta, salvo a necessidade de transferência para regime
fechado (art. 33 caput, 2° Parte).
Assim, a primeira diferença entre as duas modalidades
de Penas, que seria o regime de seu cumprimento, não existe, pois tanto a
Pena de reclusão, quanto a de detenção, pode ser cumprida em
67 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal parte geral, p. 523
30
quaisquer dos regimes.
2.3.3 Prisão simples
Uma das Penas principais, na contravenção privativa
da Liberdade, cumprida em seção especial de Prisão comum, separado
dos outros Presos, sem o rigor penitenciário em estabelecimento especial
em regime aberto ou semi-aberto.
2.4 REGIMES PENITÉNCIÁRIOS
Em nosso ordenamento jurídico a Execução das Penas
Privativas de Liberdade é regulada de acordo com o Código Penal em
seu art. 33caput, o qual contém os três regimes de Prisão que são
aplicados no país sendo os seguintes: fechado semi-aberto, e aberto,
cabendo ao juiz decidir de acordo com o artigo 59 do código Penal em
qual dos regimes o Preso iniciara o cumprimento de sua pena, as quais
deveram ser executadas de acordo com a lei de Execução Penal n°
7.210/84 cuja qual estabelece as regras para sua execução.
2.4.1 Regime fechado
No início do cumprimento da Pena em regime
fechado, o condenado será submetido a exame criminológico de
classificação para individualização da execução.
No regime fechado a pena é cumprida em penitenciaria
(art. 87 da LEP) e o condenado fica sujeito a trabalho no
período diurno e isolamento durante o repouso noturno em
cela individual com dormitório, aparelho sanitário e
lavatório, (art. 88 da LEP). [...] São requisitos básicos da
unidade celular; (a) salubridade do ambiente pela
concorrência dos fatores de aeração; (b) área mínima de
seis metros quadrados (art. 88, parágrafo único, da LEP)68.
Quem cumpre Pena em regime fechado não tem
68 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários à lei n°7.210, p. 255.
31
direito a freqüentar cursos, quer de instituição publica ou particular
profissionalizante. E o trabalho externo só é possível (ou admissível) em
obras ou serviços públicos, desde que o condenado tenha cumprido, pelo
menos, um sexto da Pena.
2.4.2 Regime semi-aberto
A prisão semi-aberta foi instituída na Suíça após a
construção da prisão de Witzwill, O estabelecimento prisional situava-se na
zona rural, obrigava-se aos condenados que trabalhavam como colono
de uma fazenda, com pouca vigilância e confiavam-se nos condenados.
O condenado, no início do cumprimento da pena, pode
também ser submetido a exame criminológico de
classificação para a individualização da execução. Embora
o art. 35, caput, do CP, preveja a obrigatoriedade, de ver–
se que o art. 8°. Parágrafo único, da LEP, fala em simples
faculdade. Como as duas normas entraram em vigor na
mesma data, diante do conflito, entendemos que deve
prevalecer o que mais beneficia o condenado: trata–se, por
isso, de simples faculdade do juiz 69.
O cumprimento do regime semi-aberto não há o
isolamento durante o repouso noturno, o condenado terá direito de
freqüentar cursos profissionalizantes, de instrução de 2° grau ou superior,
ficará sujeito ao trabalho em comum durante o período diurno, em
colônia agrícola, industrial ou em estabelecimento similar, o trabalho
externo é admissível até em empresa privada.
[...] o juiz da condenação, na própria sentença, já poderá
conceder o serviço externo. Ou então, posteriormente, o juiz
da execução poderá concedê-lo desde o início do
cumprimento da pena. A exigência de cumprimento de um
sexto da pena verifica-se apenas quando tal benefício for
concedido pela Direção do Estabelecimento Penitenciário
69 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal parte geral, p. 525
32
[...]70.
Ele fica sujeito a trabalho em comum durante o
período diurno em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar,
ao contrario do regime fechado o próximo passo após o regime semi-
aberto será o livramento condicional.
2.4.3 Regime aberto
O regime de prisão aberta teve sua origem no Estado
de New York teve a primeira experiência, através do probation system,
ingressado depois no Direito britânico, belga, sueco, tcheco-eslovaco,
australiano e francês . No Brasil surgiu o regime com o Provimento n° XVI,
de do Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo,
substituído no ano seguinte pelo.
Este regime Baseia–se disciplina e senso de
responsabilidade do condenado.
[...] o juiz da condenação, na própria sentença, já
poderá conceder o serviço externo. Ou então, posteriormente, o juiz da
Execução poderá concedê-lo desde o início do cumprimento da Pena. A
exigência de cumprimento de um sexto da pena verifica-se apenas
quando tal beneficio for concedido pela direção do Estabelecimento
Penitenciário.[...] 71..
Nele, o condenado devera, fora do estabelecimento e
sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade
autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos
dias de folga.
2.5.3 Regime especial
70 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 557.
71 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p. 557.
33
A CRFB/88 garantiu às mulheres os direitos de cumprir
Pena em estabelecimento distinto e ter os filhos consigo no período de
amamentação art. 5°, XLVIII e L. A LEP, por sua vez, determina que os
estabelecimentos penais destinados a mulheres sejam dotados de
berçário, onde as condenadas possam amamentar seus filhos art. 83, § 2°,
criado pela Lei n° 9.046/95.
A LEP estabelece, ainda, que a mulher e o maior de 60
anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento próprio e
adequados à sua condição pessoal art. 82, § 1°, com redação dada pela
Lei n° 9.460/ 97.
As mulheres haverão de cumprir a pena em
estabelecimentos próprios, vele dizer, em seção adequada
ao sexo, em estabelecimento próprio da mulher. Suas
condições diversas, de natureza fisiológica ou psicológica,
impõem a especialidade do regime. Somente assim
poderão ser observados os deveres inerentes à sua
condição pessoal, como determina a norma72.
O regime especial foi uma conquista importantíssima e
merecedora para as mulheres, que realmente merecem um tratamento
adequado a sua condição, embora na pratica pouco mudou, ou quase
nada em relação ao cumprimento das penas por mulheres.
2.5.4 Regime disciplinar diferenciado
Esta lei é desumana, cruel, altamente criminógena,
fomentadora de delinqüentes e reincidentes, com a referida lei
regredimos alguns séculos a época dos sistemas alburniano e pensilvanico,
os quais não passaram de fabricas de torturas físicas e psicológica,
levando à população carcerária a loucura e ao suicídio.
O Projeto n. 5.073/2001, proposto pelo Poder Executivo,
72 COSTA, Júnior Paulo José da. Curso de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1995 p. 142.
34
que ensejou a edição da Lei n. 10.792/2003, modificou o artigo 52 da Lei
de Execução Penal (Lei n. 7.210/84), instituindo o regime disciplinar
diferenciado com a seguinte redação73:
Art. 52. A pratica de fato previsto como crime doloso
constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina
interna, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção
Penal, ao regime disciplinar diferenciado, como as seguintes
características:
I – duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem
prejuízo de repetição da sanção por nova falta de mesma espécie, até o
limite de um sexto da Pena aplicada;
II – recolhimento em cela individual;
III- visitas semanais de duas pessoas, sem contar as
crianças, com duração de duas horas;
IV – a preso terá direito à saída da cela por duas horas
diárias para banho de sol.
§ 1° O regime disciplinar diferenciado também poderá
abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que
apresentam alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento
Penal ou da sociedade.
§ 2° Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar
diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam
fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer titulo,
em organizações criminosas, quadrilha ou bando”.
73 Lei n° 7210, de 11de julho de 1984. Institui a lei de Execução Penal. Disponível em: www.
previdência.gov.br/legislação.
35
Enquanto a tendência mundial se volta para a
descriminalização, um direito penal mínimo, penas alternativas o Brasil
infelizmente, por meio de seus legisladores altamente politiqueiros, a cada
fato novo ocorrido em seguida sobem aos palanques com mais um
projeto, discursando sobre leis mais severas, um verdadeiro absurdo.
2.5 INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
A individualização da Pena é o instrumento cujo qual o
Juiz na aplicação da Pena não poderá se desviar, pois sempre que o fizer
deverá atender o que reza o artigo 59do Código Penal. O juiz ao prolatar
uma sentença tanto par a quantificar como para fundamentar deverá
fazê-lo tendo em vista e seguindo a individualização da pena.
A tarefa judiciária da fixação da pena é regulada por
princípios e regras de natureza constitucional (art. 5°, XLVI) e
legal (CP, arts. 59 e s. e CPP, art. 387), que obrigam a
individualização da medida concreta, devidamente
fundamentada (CF, art. 93, IX). O art. 59 do CP estabelece
um roteiro para a fixação da pena que tem um caráter de
discricionariedade74.
[...] Pode–se suster que a individualização opera em três
planos, ou seja, no momento se de sua cominação
(individualização legislativa), de sua aplicação
(individualização jurídica)75.
A individualização legal é a estabelecida pela própria
lei penal que quando prevê as circunstancias agravante Código Penal
artigos 61a 66 e as causas especiais de amento ou diminuição de Pena.
O juiz atendendo ainda ao inciso IV do art. 59 do CP
de acordo com a individualização da pena poderá substituir a Pena.
74 DOTT, René Ariel. Curso de Direito Penal parte geral, p. 513.
75 LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. 2 ed. Porto Alegre:Sergio Antonio Fabris Editora, 2003 p. 182.
36
Sublinhe-se que a pena privativa de Liberdade pode
ser substituída por pena restritiva de direito ou multa, isto é, por uma pena
substitutiva. Embora o inciso ora considerado (IV) mencione substituição
por outra espécie de pena, na verdade, impede recordar que a Prisão, no
nosso sistema também pode ser substituída por medida de segurança,
[...]76.
A individualização judicial é a procedida pelo juiz,
tomando como referencia básicos os indicadores dos artigos 59 e 60 do
Código Penal. A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a
personalidade do agente, os motivos, as circunstancias e as
conseqüências do crime, bem como o comportamento da vitima são
dados para que o magistrado possa fixar a Pena necessária e suficiente
para reprovação do crime.
2.6 DIREITOS E DEVERES DOS PRESOS
Os direitos do presidiário foram consagrados na própria
Constituição. O artigo 5°, LXIII, determina que o Preso será informado de
seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo – lhe
assegurado a assistência da família e de advogado. Tem ele ainda direito
a identificação dos responsáveis por sua Prisão ou por seu interrogatório
policial (inc. LXVI).
O artigo 3°, da LEP encontra–se vazado,
substancialmente, nos mesmos termos do presente dispositivo: “Ao
condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não
atingido pela sentença ou pela lei”.
Os deveres específicos do condenado encontram-se
descritos no artigo 39da LEP.
76 GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão. São Paulo: Revista dos tribunais.1999. p. 28 - 29.
37
Art. 39. Constituem deveres específicos do condenado:
I – comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II – obediência ao servidos e respeito a qualquer
pessoa com quem devera relacionar – se;
III – urbanidade e respeito no trato com os demais
condenados; IV – conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos
de fuga ou de subversão à ordem ou disciplina;
V – execução do trabalho, das tarefas e das ordens
recebidas;
VI – submissão a sanção disciplinar imposta;
VII – indenização a vitima aos seus sucessores;
VIII – indenização ao Estado quando possível, das
despesas realizadas com sua manutenção, mediante desconto
proporcional da remuneração do trabalho;
IX – higiene pessoal a asseio da cela ou alojamento; X –
conservação dos objetos de uso pessoal.
O rol de direitos e deveres, como esclareceu a LEP,
não é taxativo, outros poderão vir a ser adicionados, desde que tendentes
a propiciar condições para a harmônica integração social do condenado
e do internado.
Alem disso, estabelecem–se exaustivamente na lei os
direitos do Preso, conforme dispõe a seguinte redação77:
Art.41. Constituem direitos do preso:
77 Lei n° 7210, de 11de julho de 1984. Institui a lei de Execução Penal. Disponível em: www.
previdência.gov.br/legislação.
38
“[…] I – alimentação suficiente e vestuário;
II – atribuição de trabalho e sua remuneração;
III – previdência social;
IV – constituição de pecúlio;
V – proporcionalidade na distribuição do tempo para o
trabalho, o descanso e a recreação;
VI – exercício das atividades profissionais, intelectuais,
artísticas, e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a
execução Pena;
VII – assistência material, á saúde, jurídica,
educacional, social e religiosa;
VIII – proteção contra qualquer forma de
sensacionalismo;
IX – entrevista pessoal e reservada com o advogado; X
– visita do conjugue, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados;
XI – chamamento nominal;
XII – igualdade de tratamento salvo quanto à
exigência da individualização da Pena;
XIII – audiência especial com o diretor do
estabelecimento;
XIV – representação e petição a qualquer autoridade,
em defesa do direito;
XV – contato com o mundo exterior por meio de
39
correspondência, de leitura e de outros meios de informações que não
comprometam a moral e os bons costumes.
Observa-se na pratica que estes direitos a maioria deles
nunca saiu do papel, os apenados e os presos provisórios nos estabelecimentos
em que estão segregados e da maneira que são tratados na atualidade com
raras exceções, recebem um tratamento muito pior ao dado aos animais.
Feitas estas considerações acerca da Pena Privativa
de Liberdade no Direito brasileiro, parte-se agora para a crise do sistema
penitenciário, obstáculos à Ressocialização e tendências da Pena
Privativa de Liberdade.
Capítulo 3
A CRISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO, OBSTÁCULOS À RESSOCIALIZAÇÃO E TENDÊNCIAS DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE
3.1 EFEITOS SOCIOLÓGICOS PRODUZIDOS PELA PRISÃO
A Prisão como vem sendo executada causa danos
sociológicos irreparáveis aos Presos, eles são isolados da sociedade por
muros e grades, perdendo quase que completamente o contato com a
sociedade em que viviam. Na maioria das prisões não é permitido visitas
aos detentos por pessoas que não sejam da família e esta visita ainda é
restrita a uma vez na semana.
A prisão, segundo Goffman, em sua natureza fundamental,
é uma instituição total. Para o sociólogo americano, toda
instituição absorve parte do tempo e do interesse de seus
membros, proporcionando-lhes, de certa forma, um mundo
particular, tendo sempre uma tendência absorvente. [...] A
tendência absorvente ou totalizadora está simbolizada
pelos obstáculos que se opõem à interação social com o
exterior e ao êxodo de seus membros, que geralmente,
adquirem forma material: portas fechadas, muros
aramados, alambrados, rios, bosques, pântanos e etc. um
dos aspectos que suscitam sérias dúvidas sobre as
possibilidades ressocializadoras da prisão é o fato de esta.
Como instituição total, absorve toda a vida do recluso,
servindo, por outro lado, para demonstrar sua crise78.
O fato de as prisões terem como objetivo principal a
proteção da sociedade é um dos aspectos que sugerem profundas
contradições em relação ao objetivo ressocializador que se atribuiu à
78 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo: Saraiva:
2004. p. 164 – 165.
41
Pena privativa de Liberdade.
Na instituição total há um antagonismo entre o pessoal e os
internos. Esse antagonismo expressa-se por meio de rígidos
estereótipos: o pessoal tende a julgar os internos como
cruéis, velhacos e indignos de confiança. Os internos, por
sua vez, tendem a considerar o pessoal petulante,
despótico e mesquinho. O pessoal tem um sentimento de
superioridade em relação aos internos, e estes tendem a
sentir-se, mesmo inconscientemente, inferiores àqueles,
débeis, censuráveis e culpados. Esses sentimentos
antagônicos são um grande obstáculo, especialmente
quando se pretende aplicar técnicas de tratamento
dirigidas à recuperação do recluso79.
Na instituição total, geralmente, não se permite que o
interno seja responsável por alguma iniciativa, e o que interessa
efetivamente é a sua adesão às regras do sistema penitenciário no qual
ele faz todos os dias às mesmas coisas da mesma forma.
A instituição total produz no interno, desde que nela
ingressa, uma série de depressões, degradações,
humilhações e profanações do ego. A mortificação do ego
é sistemática, embora nem sempre seja intencional. A
barreira que as instituições totais levantam entre o interno e
a sociedade exterior representa a primeira mutilação.
Desde o momento em que a pessoa é separada da
sociedade, também é despojada da função que nela
cumpria80.
[...] A segregação de uma pessoa do seu meio social
ocasiona uma desadaptação tão profunda que resulta
difícil conseguir a reinserção social do delinqüente,
especialmente no caso de pena superior e há dois anos. A
segregação sofrida, bem como a chantagem que
poderiam fazer os antigos companheiros de cela, podem
79 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 166.
80 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 166 - 167.
42
ser fatores decisivos na definitiva incorporação ao mundo
criminal81.
Esse afastamento do Preso da família e amigos e da
sociedade em geral faz com que ele inicie uma nova vida em sociedade
interna na qual vive à margem da sociedade, em um mundo
completamente diverso da sociedade livre. No momento em que a
pessoa é presa aquela convivência em sociedade é “congelada”, a
maneira de falar, se vestir, hábitos, costumes, o acesso a informações, o
aprendizado e a evolução natural do ser humano em sociedade tudo é
“congelado”, o Preso inicia sua vida em outra sociedade e se quiser
sobreviver a ela terá de se adaptar-se a ela. Depois de alguns anos,
quando o Preso é solto e retorna em Liberdade, a sociedade livre agora é
outra, completamente diferente, e ele terá muita dificuldade de
relacionamento e a sociedade também terá dificuldade em aceitá-lo,
pois este é um ex-presidiário e seus hábitos em geral agora são outros. Ai a
“Ressocialização” aconteceu mais para a vida carcerária e não para a
convivência em Liberdade, além de tudo isso ainda tem os problemas
psicológicos gerados devido a esta situação.
3.2 EFEITOS PSICOLÓGICOS PRODUZIDOS PELA PRISÃO
Foi só no final do século XIX que surgiu a dúvida sobre a
existência da psicose carcerária a qual foi investigada pela primeira vez
por Rudin, mas há relatos de enfermidades mentais de todas as espécie
nas prisões desde o início de sua utilização.
Bitencourt82 assim relata:
[...] O ambiente penitenciário perturba ou impossibilita o
funcionamento dos mecanismos compensadores na psique,
que são os que permitem conservar o equilíbrio psíquico e a
81 LUZ, Orandir Teixeira. Aplicação de penas alternativas. Goiânia: AB, 2000. p. 110.
82 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p.195.
43
saúde mental. Tal ambiente exerce uma influencia tão
negativa que a ineficácia dos mecanismos de
compensação psíquica propicia a aparição de
desequilíbrios que podem ir desde uma simples reação
psicopatia momentâneas até um intenso e duradouro
quadro psicótico, segundo a capacidade de adaptação
que o sujeito tenha”.
Continuando:
[...] Entre os presos preventivos é comum produzir-se um
quadro clinico denominado “furor dos encarcerados” a que
Seelig chama reação explosiva à prisão, que ocorre
imediatamente após o ingresso no cárcere. [...]83..
Os transtornos psicológicos e agressividade dentro das
prisões muitas vezes é uma maneira do Preso se comunicar exteriorizando
seu sentimento interno por extinto de sobrevivência.
Os que sofrem a pena privativa de liberdade por um longo
período apresentam uma série de quadros que evidenciam
claro matiz “paranóide”. Entre esses transtornos, pode-se
citar o complexo de prisão, a patologia psicossomática e as
depressões reativas. Estas são especialmente importantes, já
que, por vários motivos, os reclusos podem desenvolver um
quadro depressivo clássico de indiferença, inibição,
desinteresse, perda de memória ou incapacidade para usá-
la, perda de apetite bem como uma idéia autodestrutiva
que pode chegar ao suicídio 84.
O suicídio é algo que sempre ocorreu desde que se
tem notícia da existência do encarceramento e infelizmente é um mau
que ainda hoje ocorre com muita freqüência não só em nossas prisões
como no restante do mundo, fica evidente os graves transtornos
psicológicos pelos quais passam ou que ocorre nos condenados.
83 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 195 -196.
84 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 197.
44
[...] A prisão violenta o estado emocional, e, apesar das
diferenças psicólogicas entre as pessoas, pode-se afirmar
que todos os que entram na prisão – em maior ou menor
grau – encontram-se propensos a algum tipo de reação
carcerária85.
Haja vista todos os transtornos e reações psicológicos
pelos quais os Presos passam se torna impossível sequer pensar buscar
através da Prisão a sonhada Ressocialização do condenado.
Bitencourt86 continua a discorrer, agora sobre os efeitos
psicológicos e sociológicos produzidos nos Presos pela abstinência sexual
que sofrem.
[...] A repressão do instinto sexual propicia a perversão da
esfera sexual e da personalidade do indivíduo. Enfim, é
impossível falar de ressocialização em um meio carcerário
que de forma e desnatura um dos instintos fundamentais do
homem.
A relação e o desejo sexual é inerente e necessária ao
ser humano, a abstinência sexual traz graves problemas físicos,
psicológicos e sociais ao Preso.
[...] não deve abstinência sexual ser mantida por períodos
prolongados, porque contribui para o desequilíbrio e
favorece condutas inadequadas. Os desequilíbrios podem
ser de tal gravidade que, em certos casos, o recluso pode
transformar-se em um psicopata. Tanto o equilíbrio orgânico
como o nervoso dependem do equilíbrio sexual. Mesmo em
condições favoráveis, o autocontrole e a repressão dos
instintos sexuais constituem tarefa difícil. [...]87.
[...] Na etiologia de muitas das psicoses agudas, também
85 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 198 - 199.
86 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 202.
87 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 204.
45
denominadas “psicoses carcerárias”, encontra-se a
abstinência sexual forçada. A masturbação durante o
período prolongado pode causar efeitos tão negativos que
o indivíduo pode ficar incapacitado para retomar suas
atividades sexuais normais 88.
Os resultados da abstinência sexual nas prisões são a
ocorrência de um alto número de relações homossexuais e casos de
abusos sexuais entre os Presos.
[...] Violador e vítima sofrem desequilíbrios distintos em suas
personalidades, que são incompatíveis com os objetivos
ressocializadores da pena privativa de liberdade. Para o
agredido, particularmente, a violência sexual pode destruir
sua personalidade, danificando seriamente sua auto-
imagem e sua auto-estima 89.
Não são raros os casos que se ouve e assiste-se pelos
meios de comunicação de atentado violento ao pudor praticado dentro
das prisões aumentando cada vez mais os casos de Presos contaminados
com o vírus da Aids.
3.3 O ATUAL PROBLEMA CARCERÁRIO E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
As prisões no Brasil, pouco evoluíram em relação às da
antiguidade quanto as suas estruturas as quais são úmidas e imundas,
escuras e sufocantes, o espaço físico é mínimo, os responsáveis não tem
qualquer controle sobre os detentos, eles possuem leis própria, cometem
todo tipo de crimes lá dentro sem interferência da administração. Lá
prevalece à lei do mais forte pondo a prova todo o extinto animalesco e a
crueldade do ser humano como forma de manterem-se vivos.
O Estado não tem garantido a integridade física e
88 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 208.
89 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 211.
46
psicológica dos Presos, não obedecendo aos preceitos legais contidos na
Constituição Federal e na Lei de Execução Penal quanto ao tratamento
que deveria dispensar ao Preso.
[...] Além dos problemas de superlotação e de escassez de
recursos que afligem os sistemas prisionais brasileiros, há este
dilema universal das prisões: a violência faz parte de sua
natureza, é algo inseparável delas. Não existem prisões não-
violentas; umas podem apenas ser menos violentas do que
outras. [...]90.
Nossas prisões são violentas lá são cometidos todos os
tipos de crime, eles possuem leis próprias ditadas por eles e na maioria das
vezes a pena é capital.
[...] Na “sociedade dos cativos” o furto dos menores objetos
é punido de forma severíssima, não raro com a morte, é o
código dos presos sempre assegura que a vitima (quando
sobrevive) não apelará à autoridade legal, e que o agressor
não será conhecido da administração: ninguém vê, ouve
ou fala91.
A disciplina, a segurança dos Presos e a relativa
tranqüilidade nas prisões dependem fundamentalmente da vontade da
massa carcerária em submeter-se espontaneamente e em cooperar entre
si e com a Administração. Esta por sua vez não exerce e não tem poder
algum dentro da maioria das prisões.
[...] Como instituição total, a prisão necessariamente
deforma a personalidade, ajustando-a à subcultura prisional
(preconização). A reunião coercitiva de pessoas do mesmo
sexo num ambiente fechado, autoritário, opressivo e
violento corrompe e avilta. O homossexualismo, por vezes
90 COELHO, Edmundo Campos. A oficina do diabo: crises e conflitos no sistema penitenciário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Espaço e tempo,1987. p.15.
91 COELHO, Edmundo Campos. A oficina do diabo: crises e conflitos no sistema penitenciário do Rio de Janeiro, p.15.
47
brutal, é inevitável. A delação punida com a morte. [...]92.
Nossos encarcerados sobrevivem em um ambiente
deprimente, degradação resultante da promiscuidade, conseqüência da
falta de espaço para o alojamento de Presos gerando uma lotação de
Presos que se comprimem em instalações exíguas e inadequadas.
(...) O cárcere é um submundo à parte, corrompido da
direção ao faxineiro; a demonstração da falência da
instituição prisional com homens vivendo à margem da
sociedade pondo por terra qualquer pretensão
ressocializável93.
A Prisão hoje representa uma violência ao ser humano
que delinqüiu, e muito pior ao suspeito de ter delinqüido. Ela como é posta
hoje rompe, com todos os direitos inerentes ao Preso, principalmente o
Principio da Dignidade da pessoa Humana , além de destruí o segregado
fisicamente e psicologicamente, ainda causa um sofrimento imaginável
aos familiares dos mesmos ao verem um dos seus: filhos, irmãos, marido,
pais, naquela situação e quando lhes é permitido à visita, passam por uma
verdadeira humilhação, tanto na revista quanto no tratamento, dado pela
administração.
[...] A declaração Universal dos Direitos do Homem, em seu
art. 5°, estabelece que “ninguém será submetido a
tratamento degradante. A Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José), tratando dos direitos
à incolumidade pessoal, prevê proteção à integridade
moral do condenado na aplicação e execução da pena
(art. 5°, n. 1),“respeito devido à dignidade interna ao ser
humano” (n.2) e “à sua honra” (art. 11, n. 2). Nessa linha, a
Carta Magna de 1988 assegurou aos presos respeito à
integridade moral (art. 5°, XLIX), segundo a regra de que
“ninguém será submetido a tratamento degradante” (art.
92 LUZ, Orandir Teixeira. Aplicação de penas alternativas, p.101.
93 LUZ, Orandir Teixeira. Aplicação de penas alternativas, p.102..
48
5°, III), mandamentos aplicáveis às penas restritivas de
direitos. E a LEP, em seu art. 40, impõe a todas as
autoridades respeito à integridade moral dos detentos,
determinado que a execução da pena “tem por objetivo
proporcionar condições para a harmônica integração
social do condenado”, o que não se obterá se ficar sujeito
ao escárnio da coletividade em face de natureza da
sanção imposta. [...]94.
O respeito à dignidade deve ser respeitado não só as
medidas não privativa de Liberdade, deveram estas ser imposta de
acordo com a profissão do delinqüente. Quanto às Penas privativas de
Liberdade, estas deveram ser administradas com humanidade e respeito
pela dignidade do ser humano, pois qualquer privação sofrida pelo
indivíduo, que atinja sua dignidade, seja qual for material, moradia, saúde,
cultura religião, informação, o desrespeito a qualquer destas será
considerada antijurídica, Desumana, cruel.
3.4 TENDÊNCIAS ACERCA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
Hoje há uma tendência mundial em minimizar o
Maximo possível a aplicação da Pena privativa de Liberdade utilizando-se
das Penas alternativas. Esse é o chamado mecanismo do Direito Penal
mínimo, ou da mínima intervenção, somente deve se utilizar das Penas
Privativas de Liberdade para os casos grave em que não haja outra
possibilidade a não ser esta, pois é de conhecimento geral de que a Prisão
no passado e no presente nunca atendeu aos objetivos nela buscados,
esta mesma corrente prega a descriminação e a despenalização.
A tese de se recorrer à pena de prisão somente em última
instância, reservando-se o cárcere apenas a situações
extremas, como a verdadeira medida de segurança, para a
segregação dos delinqüentes mais perigosos, foi e é
defendido tanto pelos adeptos da Defesa Social (Fillipo
94 JESUS, Damásio E. de. Penas alternativas: anotação a lei nº 9.714, de novembro de 1988, p. 38.
49
Gramática, Marc Ancel) quanto pelos neoclássicos, como
Luigi Ferrajoli, [...]95.
[...] A referida ocorrente advoga, portanto, além da
descriminalização de condutas devido à influência
crimonógena de uma excessiva criminalização, a
despenalização e, fundamentalmente, a descarcerização
com a “drástica redução dos conflitos penais, confinado e
procurando incrementar uma resposta mais social, informal
e resolutiva que meramente decisória96.
Na atualidade os países mais desenvolvidos
juridicamente buscam a intervenção penal mínima buscando Penas
alternativas haja vista o fracasso total da Prisão desde seu início.
A respeito deste assunto, D’Urso97, assevera que:
“Nos objetivos da Policia Criminal nacional devem estar
a redução dos níveis de criminalidade o quanto possível, juntamente com
a garantia dos cidadãos, e para tal algumas sugestões são elencadas;”
[...] a) Exata adequação da utilização da pena privativa de
liberdade, nos moldes de utilização mínima, à luz de um
Direito Penal mínimo também, servindo a cadeia somente
para aqueles que revelam periculosidade. [...] Maior
abrangência das penas alternativas é absolutamente
necessário; b) Um programa que possibilite a
descriminalização e a desjudicialização. [...] afastar do
elenco de tipos algumas condutas que, pela conjuntura,
mereçam afastar-sedo campo penal; afastar de algumas
condutas, ainda previstas pela lei penal, a pena severa, [...];
c)[...]A aplicação das penas alternativas, como mecanismo
de resposta penal ressocializador. [...] existem pessoas que,
apesar dos delitos que cometeram, não podem ser presas,
95 CARDOSO, Franciele Silva. Penas e medidas alternativas: analise da efetividade de sua aplicação. São Paulo:
Método, 2004.p. 80.
96 CARDOSO, Franciele Silva. Penas e medidas alternativas: analise da efetividade de sua aplicação, p. 80.
97 D’ URSO, Luiz Flávio Borges. Direito criminal na atualidade, São Paulo: Atlas, 1999. p. 24.
50
pois à prisão lhes fará mais mal, e ela e à sociedade ao final,
do que o mal do delito cometido.
Essa discussão em torno da aplicação de Penas
alternativas é antiga e teve seu início e disseminação mundial através de
uma resolução da ONU, sobre os problemas enfrentados pelos Presos.
[...] Em 1955, quando da realização do 1° Congresso da
ONU, adotaram-se as denominadas Regras MÍNIMAS para
Tratamento de Reclusos, sendo esse um dos primeiros textos
das Nações Unidas voltados para a pessoa detida. No 6°
Congresso das Nações Unidas, realizado em Caracas (1980),
expediram-se as resoluções 8° e 10°, e, no 7° Congresso, a
Resolução 16, destacando-se em todas elas a necessidade
de não somente reduzir o número de reclusos, mas,
sobretudo, de explorar melhor a possibilidade de soluções
alternativas à prisão. Finalmente, no 8° Congresso da ONU,
em 14.12.1990, recomendou-se a adoção das Regras
Mínimas, sobre penas Alternativas aprovadas por meio da
resolução 45 da Assembléia Geral, passando a ser
consideradas como Regras de Tóquio 98.
Nota-se que o sofrimento pelos quais passam os
encarcerados, a falência da Pena da Prisão a desumanidade da forma
com que são tratados é algo que ocorre mundialmente motivo pelo qual
a maior e mais humanitária das organizações que é a ONU trouxe a baila
esse acordo com declarações do início ao fim de emprego de medidas
não Privativas de Liberdade e aplicação de medidas alternativas.
3.4.1 Penas e medidas alternativas conforme as regras de Tóquio
A resolução 45 também chamada de Regra de Tóquio
foi um acordo internacional realizado em Tóquio pela ONU na qual costa
uma declaração de princípios básicos de direitos humanos, sobre regras
mínimas de medidas não privativas de Liberdade com a finalidade de
98 CARDOSO, Franciele Silva. Penas e medidas alternativas: analise da efetividade de sua aplicação, p. 80-81.
51
promover a participação da sociedade na administração do judiciário no
tratamento dos delinqüentes.
Em todo o texto das Regras de Tóquio a expressão “medida
não-privativa de liberdade” refere-se a qualquer
providência determinada por decisão proferida por
autoridade competente, em qualquer fase de
administração da Justiça Penal, pela qual uma pessoa
suspeita ou acusada de um delito, ou condenada por um
crime, submete-se as certas condições ou abrigações que
não incluem da Prisão. A expressão faz referência especial
às sanções impostas por um delito, em virtude das quais o
delinqüente deva permanecer na comunidade e obedecer
a determinadas condições99.
As Regras de Tóquio almeja estimular, deste modo a
criação e aplicação, de Penas e medidas alternativas à Prisão, devendo-
se idealizar as medidas não-privativas de Liberdade em seu sentido amplo.
[...] Os Estados-membros devem introduzir medidas não-
privativas de liberdades em seus sistemas, jurídicos para
proporcionar outras opões, reduzindo deste modo a
aplicação das penas de Prisão”... Na Regra 2.3 se lê: “Com
o objetivo de assegurar maior flexibilidade, compatível com
o tipo e gravidade do delito, com a personalidade e os
antecedentes do delinqüente e com a proteção da
sociedade, e para evitar a aplicação desnecessária da
pena de Prisão”... Na Regra 14.3 proclama-se que “o
insucesso de uma medida não-privativa de liberdade não
deve aplicar automaticamente na imposição de medida
privativa de liberdade”; 9.1: “A autoridade competente terá
à sua disposição uma grande variedade de medidas
alternativas para evitar a Prisão100..
A evolução da Pena no mundo mostrou-se necessária
haja vista os problemas relacionados às Penas de Prisão e há um interesse
99JESUS, Damásio E. de. Penas alternativas: anotações à lei nº 9.714, de 25 de novembro de 1988, p. 219.
100 GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão, p. 28 - 29.
52
mundial em encontrar meios eficientes para o tratamento dos
delinqüentes em sociedade sem recorrer à Prisão.
[...] e considerando, de outra parte, que a pena de prisão
na atualidade, para além do seu fracasso, constitui a síntese
mais emblemática punições torturante, desumana,
degradante e cruel, não se pode deixar de reconhecer que
é dessa regra fundamental que devemos partir para a
compreensão e estudo das penas e medidas alternativas à
prisão. [...]101.
O desrespeito aos direitos humanos resulta em atos de
crueldade, humilhante à humanidade.
[...] As medidas substitutivas da Prisão preventiva devem ser
aplicadas o quanto antes possível na fase inicial do
procedimento Penal. A Prisão preventiva não deve durar
mais do que o tempo necessário para alcançar os objetivos
indicados nas Regras 5.1 e deve ser administrada com
humanidade e respeito pela dignidade inerente ao ser
humano102.
A Prisão preventiva só deve ser usada como último
recurso, levando em conta o princípio da presunção de inocência e a
proteção da sociedade e da vítima.
[...] devem ser oferecidas alternativas à prisão preventiva
tão logo quanto possível durante o procedimento Penal.
Além disso, sempre que se alterarem as circunstâncias que
concorram para a manutenção de um acusado em prisão
preventiva deve ser oferecido oportunidade de uma
audiência na qual seja considerada a possibilidade de
colocá-lo em liberdade. [...]103.
A regra de Tóquio tem como objetivos fundamentais,
101 GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão, p. 19.
102JESUS, Damásio E. de. Penas alternativas: anotações à lei nº 9.714, de 25 de novembro de 1988, p. 241.
103 JESUS, Damásio E. de. Penas alternativas: anotações à lei nº 9.714, de 25 de novembro de 1988, p. 242.
53
princípios básicos as Regras Mínimas das Nações Unidas sobre as Medidas
Não-privativas da Liberdade que são:
Promover o emprego de medidas não-privativas de
Liberdade, a premissas do Direito Penal Mínimo, incentivar a cominação e
aplicações das Penas alternativas, o devido respeito às garantias mínimas
das pessoas que a elas se submetem, um equilíbrio entre os interesses do
infrator e da vítima e da comunidade, o Estado deve recorrer à
cooperação da comunidade nas atividades de execução das Penas e
das medidas de segurança.
3.4.2 A Lei 9.099/95
O Brasil iniciou o movimento que deu origem a lei
9099/95 atendendo a orientações de resoluções e tratados que assumiu
junto a ONU e AEA, após ter participado do IX congresso das Nações
Unidas de prevenção do crime e tratamento do delinqüente, dando início
ao chamado Direito Penal Mínimo.
A Lei 9099/95, significou para o Brasil o maior avanço
no sistema processual-penal brasileiro, pois é uma lei despenalizadora que
foi criada no intuito de propicia a modernização e rapidez aos processos
criminais considerados de menor potencial ofensivo.
A aprovação deste diploma legislativo representou um
grande avanço, na medida em que “o Poder Político
(Legislativo e Executivo), dando uma reviravolta na sua
clássica política criminal fundada na ‘crença’ dissuasório da
pena severa. [...] pondo em prática um dos mais avançados
programas de “despenalização” do mundo (que, ressalte-
se, não se confunde com descriminalização) 104.
[...] A fim de se evita nos crimes de menor gravidade a
imposição ou execução da pena. Parte-se do principio de
104 CARDOSO, Franciele Silva. Penas e medidas alternativas: analise da efetividade de sua aplicação, p. 84.
54
que o que mais importa ao Estado não é punir, mas integrar
ou reintegrar o autor da infração penal e reconduzi-lo à
sociedade105.
Através da lei 9.099/95 se deu início formalmente as
Penas alternativas no Brasil, o delinqüente poderá ter esse beneficio desde
que atendidas as exigência contida na lei, diante da gravidade do delito
e os antecedentes criminais do delinqüente é que o juiz vai conceder ou
não a transação penal.
[...] A Lei 9.099/95, é bem verdade, não cuidou de nenhuma
descriminalização, isto é, não retirou o caráter ilícito de
nenhuma infração penal do nosso ordenado jurídico. Mas
disciplinou, isso sim, quatro medidas despenalizadoras
(medidas penais ou processuais alternativas que procuram
evitar a pena de prisão) que são: 1) nas infrações de menor
potencial ofensivo de iniciativa privada ou publica
condicional, havendo composição civil, resulta extinta a
punibilidade (art. 74, parágrafo único); 2) não havendo
composição civil ou tratando-se de ação pública
incondicionada, a lei prevê a aplicação imediata de pena
alternativa (restritiva ou multa) (art. 76); 3) as lesões corporais
culposas ou leves passam a requerer representação (art.
88); 4) os crimes cuja pena mínima não seja superior a um
ano permitem a crimes cuja pena mínima não seja superior
a um ano permitem a suspensão condicional do processo
(art. 89). O que há de comum, pelo menos no que pertine a
três desses institutos despenalizadores, é o consenso (a
conciliação)106.
Com a aplicação da lei 9.099/95 o Direito Penal
brasileiro iniciou o modelo clássico, as tendências mundiais
contemporâneas, uma política criminal de aplicação do Direito Penal
mínimo.
105 MARTINS, Jorge Henrique Shaefer. Penas alternativas. 2.ed.Curitiba: Juruá,2005. p. 54.
106 GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão, p. 62.
55
Assim, a aplicação imediata de pena não privativa de
liberdade, antes mesmo do oferecimento da acusação,
não só rompe o sistema tradicional do nulla poema sine
judicio, como até possibilita a aplicação da pena sem antes
discuti a questão da culpabilidade107.
As medidas alternativas as Penas Privativas de
Liberdade de acordo com a lei 9.099/95, proposta pelo ministério público
não significa o reconhecimento da culpabilidade penal ou civil pela
pessoa acusada cuja qual aceita a transação penal.
3.4.3 A Lei 9.714/98
A Lei 9.714/98, ampliou o número de Penas alternativas
contidas na lei 90.99/95 de modo a se evitar ainda mais encarceramento
do condenado, haja vista a realidade dos cárceres e as manifestações
por estudiosos no assunto e da própria sociedade tendo-se ainda exemplo
de outros paises em que a medida que aumentam as penas alternativas
menos reincidência ocorrem.
Gomes108 relata que:
O discurso das penas alternativas, embora se saiba que elas
isoladamente não significam a solução para o grave
problema carcerário, é muito atual e importante, porque o
Brasil, que as aplica para apenas 2% dos condenados, está
incomparavelmente atrás da Alemanha, Cuba e Japão
(que impõem tais penas em 85% dos casos), Estados Unidos
(68%), Inglaterra (50%) etc. países com melhores condições
econômicas adotam difusamente as penas alternativas e o
índice de reincidência é de 25%. No nosso pobre e
equivocado modelo penitenciário, que deposita fé no
encarceramento de todos os criminosos, a taxa de
reincidência é de 85% e ainda nos damos ao “luxo” de
gastar quinhentos reais por mês, em média, com cada um
107 MARTINS, Jorge Henrique Shaefer. Penas alternativas, p. 46.
108 GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão, p. 28 - 29.
56
dos cerca de 45 mil pessoas não violentas, cujos delitos
causaram prejuízo médio de mais ou menos cem reais. [...].
Com a nova lei em nosso ordenamento jurídico após a
reforma legislativa, teve um aumento significativo da penas alternativas a
pena de prisão, havendo quase que um consenso de que a busca e
implantação de novas penas alternativas, a se evitar o cárcere á o melhor
caminho a ser seguido pela humanidade.
3.4.4 A suspensão condicional da Pena Privativa de Liberdade
A suspensão condicional da Pena surgiu na França e
foi desenvolvida na Bélgica em 1888 sendo o primeiro Pais europeus a
adotar o sursis. Os condenados eram postos sob vigilância permanente e,
se não se comportassem a contento, seriam efetivamente recolhidos às
prisões.
A lei brasileira, a partir do Decreto n° 16.588/24, após
frustradas tentativas anteriores, preferiu adotar o sursis, que
se mostram mais justa porque, antes de restringir a liberdade
da pessoa, verifica a certeza de o réu ser ou não de fato
culpado. Todavia, como pairavam muitas dúvidas quanto à
sua denominação, empregou inicialmente a expressão
“condenação condicional”. A Consolidação das Leis penais
de Vicente Piragibe manteve o instituto, o mesmo
ocorrendo com o Código Penal de 1940, que em lugar da
denominação citada, em seu art. 57 possibilita a suspensão
da execução da pena, termos em que persiste até nossos
dias109.
O Código Penal em seu art. 77 estabelecem os
requisitos a que deve ajustar-se suspensão condicional da pena, A
execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 anos, poderá
ser suspensa, por 2 a 4 anos, desde que: I – o condenado não seja
reincidente em crime doloso; II – a culpabilidade, os antecedentes, a
109 MUKUAD, Irene Batista. Pena privativa de liberdade, p. 71.
57
conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias autorize a concessão do beneficio; III – não seja indicada
ou cabível a substituição prevista no art. 44 do Código Penal.
[...] a suspensão condicional da pena que é a mais
importante medida de política criminal incorporada ao
nosso Código Penal é um incidente do arbítrio julgador uma
vez preenchidos seus requisitos objetivos e subjetivos”. Na
lição de Mirabete: “é a suspensão condicional da pena
uma alternativa penal, ou seja, uma reação de natureza
peculiar, com características tipicamente sancionatórias,
consiste na restrição da liberdade e na satisfação de
encargo e condições e não está mais ‘prevista’ como
incidente de execução, mas como instituto de direito
substantivo. [...]110.
No Brasil em 1906 houve uma tentativa de inserir o
sistema de condenação condicional, através do projeto formulado por
Esmeraldino Bandeira, mas não foi aprovado.
A Reforma Penal de 1984 manifestou profunda
preocupação com as penas privativas de liberdade ditas
de curta duração: curtas para finalidade ressocializadora,
são suficientemente longas para iniciar o criminoso primário
na graduação do crime. Assim que, dentre as alternativas
possíveis a essas penas curtas, redimensionou o instituto da
suspensão condicional, dando-o de maiores exigências,
com a finalidade de torná-lo mais eficaz, visando a
prevenção especial sem descurar da prevenção geral
[...]111.
A suspensão condicional deve ser revogada, nos casos
estabelecidos no art. 81, quando o condenado é novamente condenado
por crime doloso, em sentença irrecorrível, o período de prova será
prorrogado automaticamente, sempre que o condenado estiver sendo
110 MUKUAD, Irene Batista. Pena privativa de liberdade, p.73.
111 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, p.777.
58
processado.
3.4.5 A substituição da Pena Privativa de Liberdade pela restritiva de direitos
As penas Privativas de liberdade poderão ser
substituída, por uma pena restritiva de direito, mediante conversão, da
Privativa por uma restritiva, desde que atenda os requisitos exigidos no
artigo 44 do Código Penal o qual reza que:
A pena privativa de liberdade, não superior a 4
anos, poderá ser convertida em restritiva de direitos, desde que:
I- o condenado a esteja cumprindo em regime aberto;
II- tenha sido cumprido pelo menos um quarto da
pena;
III- os antecedentes a personalidade do condenado
indiquem ser a conversão recomendável.
O condenado por crime doloso a pena privativa de
liberdade igual ou superior a um ano, que não exceda a
dois anos, poderá obter a conversão em pena restritiva de
direitos, desde que esteja cumprindo em regime aberto, já
tenha cumprido pelo menos um quarto de seu tempo e
possua antecedentes e personalidade que recomendem a
conversão. [...] Dessa forma, mesmo condenado a pena
superior a um ano, por crime doloso, o condenado a pena
igual ou inferior a dois anos, de reclusão ou detenção,
poderá tê-la convertida em pena restritivas de direitos, se
estiver cumprindo-a em regime aberto, e após ter cumprido
¼ da pena privativa de liberdade112.
A suspensão condicional da pena representou uma
nova e a maior evolução em matéria de política criminal no nosso
112 MUKUAD, Irene Batista. Pena privativa de liberdade, p.84.
59
ordenamento jurídico. É um dever de o Estado propor essa medida uma
vez preenchida seus requisitos objetivos e subjetivos, e um direito do
acusado. A suspensão condicional da pena é alternativa penal.
Por tudo exposto, observa-se a necessidade de que as
lacunas deixadas pelo legislador, quanto aos efeitos causados pelo
Cerceamento de Liberdade venham a ser repensadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo investigar, à
luz da legislação e da doutrina nacional, o Cerceamento de Liberdade
como ultimo recurso a ser aplicado pelo Estado.
O interesse pelo tema abordado, precipuamente, deu-
se em função das inúmeras controvérsias e discussões geradas entre os
profissionais do Direito e doutrinadores, acerca da matéria e, ainda, por se
tratar de um campo do Direito dotado de inesgotáveis fontes de pesquisa
e aprendizado.
Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi dividido
em três capítulos.
O primeiro, tratou-se da evolução histórica da Pena,
Privativas de Liberdade do surgimento a idade moderna, dos
reformadores contrários ao sistema prisional, o surgimento e evolução do
sistema prisional da época e teorias das Penas. Conforme disposto
naquele capítulo, obteve-se em linhas gerais que o surgimento da Pena
de Prisão como sanção única só teve inicio no século XX, anterior a esta
data só se utilizavam-se como meio de garantir a aplicação da Pena
corporal, a prisão teve inicio pela Igreja a qual aplicava ao seu clero em
mosteiros. Quanto aos reformadores estes se insurgiram contra as estruturas
e a maneira que eram tratados os presos, Beccaria foi o primeiro e mais
importante dos humanizadores, a se opor contra aquele sistema
escrevendo um livro no qual em 47 itens dentre as quais relatou sua
indignação e o maneira que deveria ser feito do processo ao
cumprimento da pena, foi o pai do devido processo legal, Harward sentiu
na pela a prisão e posteriormente dedicou sua vida ao estudo das prisões,
escreveu um livro a respeito sendo este considerado uma manual para os
61
administradores prisionais. Os sistemas prisionais pensilvanico, auburniano,
eram cruéis desumanos e foram ambos muito criticados, o progressivo
representou uma evolução se expandindo pro resto do mundo, ante as
teorias da Pena analisada, consideramos que a da prevenção geral
positiva é que deve ser buscada em nossos dias.
O segundo capítulo foi destinado a analisar a Pena
Privativa de Liberdade e sua evolução no Direito brasileiro, a qual se
constatou que aqui no Brasil a Prisão era utilizada pelos indígenas também
como meio de assegurar aplicação da Pena corporal. Os nossos
descobridores também se utilizaram, das penas corporais durante muito
tempo, as torturas e penas capital eram comum, tendo-se como exemplo
não tão distante a punição de Tira Dentes, o qual foi enforcado e
decapitado, quanto à lei n° 7.210/84 de Execução Penal, foi uma luta
muito grande e demorada até sua implantação, uma lei importantíssima
se fosse cumprida, pois temos há quase vinte três anos e muito pouco dela
foi colocado em pratica até hoje, em relação aos regimes penitenciários
o Brasil infelizmente regrediu sua política criminal, com a implantação do
regime diferenciado este regime é desumano e cruel um verdadeiro
afronto a todos os princípios inerentes ao ser humano. Quanto a
individualização da Pena na pratica muito bem aplicada só é utilizada na
hora da aplicação da Pena, quanto aplicação da mesma no
cumprimento da pena não passa de uma utopia.
No terceiro e último capítulo, estudou-se a crise do
sistema penitenciário, obstáculos à ressocialização e tendências da Pena
Privativa de Liberdade. Conforme entendimento daquele capítulo,
observou-se que o atual sistema penitenciário brasileiro encontra-se num
caos, superlotado, pouco mudou em relação às instalações e quanto ao
tratamento dado aos presos na antiguidade, nosso sistema prisional
62
encontra-se falido este é o entendimento da maioria dos doutrinadores
que discorrem sobre o sistema prisional brasileiro, é dado à maioria de
nossos presos um tratamento pior do que se da aos animais, como
poderam ser ressocializados nessas condições, são espancados pelos
companheiros, abusados sexualmente, em muitas das prisões os próprios
administradores são os agressores, é indiscutível os traumas sociológicos e
psicológicos que os presos sofrem e muitos deles irreversíveis. Quanto às
tendências em relação às penas privativas de Liberdade hoje há uma
tendência mundial em minimizar as penas privativas de Liberdade ao
Maximo, só aplicam-doas em último recurso, inclusive a chamada regra
de Tóquio da essa mesma orientação, ficou demonstrado também
através de comparações com outros países de que as penas alternativas
são melhores eficazes haja vista que nos países em que se aplicam mais
Penas alternativas menor é a reincidência quanto. As prisões como estão
hoje em nosso país tudo o que oferece aos presos é uma “escola, curso
superior, pós, mestrado, doutorado e PHD em crime” dependendo do
tempo que lá ficarem vai ser a formação com a qual vai sair, infelizmente
a prisão é a pior coisa que existe só servido para humilha castiga, tortura o
ser humano e seus familiares, motivo pelo qual só devem ser utilizadas
como último recurso.
Por fim, retornam-se as duas hipóteses básicas da
pesquisa: a) no que foi demonstrado a primeira hipótese restou
confirmada uma vez que se constatou com a pesquisa que a Pena
Privativa de Liberdade aplicada no Brasil, não vem cumprindo sua função
ressocializadora; e b) a segunda hipótese restou igualmente comprovada,
pois como se demonstrou através da pesquisa, a Prisão deve ser utilizada
como último recurso para punição do criminoso. As prisões como estão
hoje em nosso país tudo o que oferece aos presos é uma “escola, curso
superior, pós, mestrado, doutorado e PHD em crime” dependendo do
tempo que lá ficarem vai ser a formação com a qual vai sair, infelizmente
63
a prisão é a pior coisa que existe só servido para humilha castiga, tortura o
ser humano e seus familiares, motivo pelo qual só deve ser utilizada como
último recurso
Dessa forma, espera-se ter contribuído para com o
mundo jurídico, apresentando breves considerações quanto o
Cerceamento de Liberdade como último recurso a ser aplicado pelo
Estado.
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS
BENETI, Sidnei Agostinho. Execução penal. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 43.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e
alternativas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 396 p.
_____________________. Tratado de Direito Penal: parte geral. 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 2006. v. 1. 913 p.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível
em: www.previdencia.gov.br/legislação.
_____________________.Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984. Altera
dispositivos do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código
Penal, e dá outras providencias. Disponível em:
www.previdencia.gov.br/legislação.
_____________________.Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de
Execução Penal. Disponível em: www.previdencia.gov.br/legislação.
BRUNO, Aníbal. Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2005. 256
p.
CARDOSO, Franciele Silva. Penas e medidas alternativas: análise da
efetividade de sua aplicação. São Paulo: Método, 2004. 128 p.
COELHO, Edmundo Campos. A oficina do diabo: crise e conflitos no
sistema penitenciário do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Espaço e tempo,
1987. 173 p.
COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico.
Curitiba: Juruá, 2001. 233 p.
65
COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Curso de Direito Penal. São Paulo: Saraiva,
1995. 244 p.
DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2005. 779 p.
D’URSO, Luiz Flávio Borges. Direito criminal na atualidade. São Paulo: Atlas,
1999. 140 p.
GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão. São Paulo:
Revista dos Tribunais. 1999. 185 p.
GONZAGA, João Bernardino. O Direito Penal indígena: à época do
descobrimento do Brasil. São Paulo: Max Limonad.
GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Jurídico. 5. ed. São Paulo:
Riddeel, 2003. p. 438.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à teoria do Direito. Rio de
Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1962. 316 p.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: parte geral. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2000. v. 1. 313 p.
_____________________. Penas alternativas: anotações à Lei nº 9.714, de 25
de novembro de 1998. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 313 p.
KUEHNE, Maurício. Lei de Execução Penal anotada. Curitiba: Juruá, 1999.
531 p.
LEAL, João José. Direito Penal geral. São Paulo: Atlas, 1998. 494 p.
LUIZI, Luis. Os princípios constitucionais penais. 2. ed. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris Editor, 2003. 327 p.
66
LUZ, Orandyr Teixeira. Aplicação de penas alternativas. Goiânia: AB, 2000.
162 p.
MIRABETE, Julio Frabbrini. Execução penal. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
______________________. Execução penal: comentários á Lei nº 7.219, de 11-
07-84. São Paulo: Atlas, 1987. 500 p.
______________________. Manual de Direito Penal: parte geral. 19. ed. São
Paulo: Atlas, 2003. v. 1. 455 p.
MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas alternativas. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2005. 242 p.
MUAKAD, Irene Batista. Pena privativa de liberdade. São Paulo: Atlas, 1996.
205 p.
OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social. 2. ed. Florianópolis:
Editora UFSC, 1996. 247 p.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática de pesquisa jurídica - idéias e ferramentais
úteis para o pesquisador do direito. 7. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. 243
p.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2003. 878 p.
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Introdução ao estudo do Direito Penal. São Paulo:
Saraiva, 2003. 343 p.
SOIBELMAN, Leib. Dicionário geral de Direito. São Paulo: J. Bushatsky, 1973.
v. 2. 526 p.
TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral – II. 2. ed. São Paulo: Atlas,
1998. v. 2.
67
XIMENES, Sérgio. Minidicionario Ediouro da língua portuguesa. 2. ed. São
Paulo: Ediouro, 2000. 815 p.