o castelo de zumbis

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Cordel. Um castelo aparece no meio do Nordeste, com uma surpresa desagradável.

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Page 1: O Castelo de Zumbis
Page 2: O Castelo de Zumbis

Cárlisson Galdino nasceu em 1981 no município de Arapiraca, Alagoas, sendo Membro Efetivo da Academia Arapiraquense de Letras e Artes (ACALA) desde 2006, com a cadeira de número 37, do patrono João Ribeiro Lima.

Poeta, contista e romancista, possui um livro de poesias publicado em papel, além de dois romances, diversos contos e poesias publicados na Internet, em seu sítio pessoal:

http://bardo.castelodotempo.com.

Como cordelista, iniciou publicando o Cordel do Software Livre, que foi distribuído para divulgação dos ideais desse movimento social.

Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Alagoas, onde hoje trabalha, é defensor do Software Livre e mantém alguns projetos próprios, hoje disponíveis no sítio web http://www.c yaneus.net .

O Castelo de Zumbis Cárlisson Galdino 2

Page 3: O Castelo de Zumbis

O Castelo de Zumbis

Lá no meio de AlagoasNum povoado distanteMorava um certo sujeitoConhecido como RandEra o nome mais ligeiroPois seu nome verdadeiroEra Ronaldo Alexandre

Rand vivia tranqüiloLonge de qualquer estradaFazia tudo na terraMexia com boi e enxadaMas a sua vaidadeTava na realidadeDe não ter medo de nada

Rand ainda costumavaQuando já no fim da tardeDe ler um livro qualquerQuando ia pra cidadeDebatia com o irmãoTinha sempre opiniãoEssa era outra vaidade

Acontece que o RandGostava de caminharDe noite pra todo ladoPara a mente descansarJá que ele não tem medoNem precisa voltar cedoTenha Lua ou sem luar

Numa dessas caminhadasFoi que teve um caso estranhoEle andava lá no sítioOnde dormia o rebanhoE andando nessa terraFoi que viu formar na serraUm castelo bem tamanho

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Page 4: O Castelo de Zumbis

Um castelo tão giganteApareceu de repenteQue coisa mais sem sentido!Que coisa mais diferente!Sendo Rand curiosoLogo partiu ansiovoPro castelo à sua frente

Cada pedra do casteloEra cinza e rocha nuaHavia um clima estranhoNuvens tapando a LuaSem ter vento e a noite friaE aos poucos se sentiaUm cheiro de carne crua

Rand achou curiosoQuando chegou no portãoUm barulho que se ouviaParecia assombraçãoE ele quis ver de pertoO portão estava abertoE ele empurrou com a mão

Nem dava para ver nadaNaquele escuro de fossaO salão era enormeTão escuro, minha nossa!Ele triste "Pois danou-seQue nem lanterna eu trouxePra poder ver qualquer jossa"

Foi então que se lembrouDo que estava bem aliBem no bolso da camisaO que teima em possuirUm isqueiro bem bonitoAquele vício malditoPruma coisa ia servir...

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Page 5: O Castelo de Zumbis

Feliz por ter encontradoAlgo bom pra clarearAcionou o tal isqueiroPra poder se orientarE um barulho sem sentidoLhe chegou no pé do ouvidoComo a morte a sussurrar

"Mas que barulho sinistroTou ouvindo lá de dentroSe não for a CinderelaSorrindo e se escondendoCoçando a unha do péTenho certeza que éAssombração se movendo"

Eram pés desengonçadosE uma barulheira bravaEnquanto gemia estranhoAlguém os pés arrastavaAo invés de se mandarRand foi é investigarQue coragem não faltava

Isqueiro pouco iluminaNesse escuro tão danadoRand foi se aproximandoCurioso e sossegadoQuando viu uns dedos sujosEsticados, de rabujosApontando pro seu lado

Era qualquer coisa estranhaParecida com humanoQue queria lhe alcançarE estava se esticandoRand esticou o isqueiroE assim pôde ver ligeiroQuem estava ali chegando

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Page 6: O Castelo de Zumbis

Era uma criaturaConhecida por zumbiMas não era um guerreiroQual no passado daquiQue na Serra da BarrigaConduzia uma brigaNão era ele aquele ali

Era um bicho que de mortoJá nem tinha mais assuntoE que mesmo sem ser vivoNão queria ser defuntoAo ouvir barulho ou falaSe arrastava pela salaQuerendo lhe chegar junto

Com a cara deformadaBabando muita nojeiraCom as roupas aos pedaçosFazendo uma barulheiraVinha se aproximandoRand encarou e foi quandoReagiu dessa maneira

Deu um chute no zumbiCom toda a força no péQue ele tombou pra trásComo um saco de caféGritando talvez de dorNo chão o zumbi rolou"Vai-te embora, seu mané!"

"Onde foi que já se viuEsse tipo de figuraQue vem querendo abraçarOu morder, mas que secura!Vai-te embora com seu trapoQue com gente assim nem tratoPra não perder a postura"

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Page 7: O Castelo de Zumbis

E seguiu por essa salaProsseguindo na jornadaFoi então que encontrouUma porta escancaradaE pra ver o que é que tinhaFoi que entrou na cozinhaTão escura e esticada

Ao entrar naquele cantoUma alegria daquelasEm cima de uma mesaTinha um monte de velasE Rand tratou ligeiroDe usar o seu isqueiroPara botar fogo nelas

Logo assim que terminouNem pôde aproveitarUma desordem danadaComeçou a escutarPassos e um barulho horrendoBando de gente gemendoNaquele estranho lugar

Tudo estava iluminadoQuando aquele povo entrouNa cozinha se arrastandoNa gemedeira de dorZumbi que n'acaba maisE outros tantos vinh'm atrásFoi quando Rand falou

"Acho que estou numa friaComo vim pra esse inferno?Que castelo tenebroso!Me pareceu tão fraterno...Quando cheguei pelo ventoNem sonhei que aqui dentroVive esse horror eterno"

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Page 8: O Castelo de Zumbis

Mas enquanto ele falavaNão ficaram ali paradosSó prestando atençãoCom os seus braços cruzadosNada! Vinha a trupe mortaMais e mais cruzavam a portaCom seus corpos estragados

Logo eles chegaram pertoComo o lobo e sua presaRand tratou bem depressaDe saltar logo pra mesaE correu rapidamentePro longe de tanta genteE no fim, uma surpresa

A cozinha nem tem portaPara onde ele caminhaAtrás os zumbis vêm vindoJá tomam toda a cozinhaRand decidi ir em frente E corre bem calmamente Voltando por onde vinha

Correndo em cima da mesaMas sem tropeçar em nadaNenhuma vela derrumaLonge da gente afobadaTodo zumbi tá lá dentroRand sai, num movimentoTranca a porta de entrada

Logo Rand se encontravaNaquela sala no escuroOs zumbis tão na cozinhaAqui deve estar seguroE ele vai bem calmamenteContinua indo em frenteSem medo de outro apuro

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Page 9: O Castelo de Zumbis

Parece ter outra portaLogo mais ali na frenteE ele vai de curiosoVer se lá é diferentePensando encontrar alguém"Será que por cá só temDaquele tipo de gente?"

Nessa porta um corredorDe tamanho tão giganteQue Rand quis percorrerPara ver mais adianteQuinze portas de um ladoEstava tudo trancadoFoi o que viu o andante

Com isqueiro pôde verPois sobrava combustívelA sugeira dessa estradaQue de imunda estava horrívelMuito grude pelo chãoMarcas de pé e de mãoUm mau cheiro indescritível

E no fim do corredorAlgo dava para ouvirNão dava pra ver o que eraMas Rand quis descobrirMesmo sabendo que o somNão deve ser algo bomNum lugar como esse aqui

E abriu a última portaQue mostrou sem resistênciaO interior da salaCom toda sua presençaE o que viu à sua frenteDe tudo era diferenteFoi estranha a experiência

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Page 10: O Castelo de Zumbis

Mas Rand soube escaparDo Castelo dos zumbisE tudo o que aconteceuÉ assim como ele dizFoi uma estranha viagemMas mesmo com sua coragemSó escapou por um tris

Nunca mais teve notíciaDesse castelo depoisVez ou outra some umNessas bandas, até doisNinguém sabe o que aconteceCom quem vai, desaparecePerto do monte de bois

E o que viu naquela salaNaquela estranha visãoEra a origem dos zumbisE causou uma confusãoNa sua sabedoriaEra que o zumbi nasciaÉ de ver televisão

Por isso, caro leitorSeja logo alguém astutoAprenda por conta própriaA deduzir sobre tudoPensamento e decisão É o que dá distinçãoDo homem pro bicho bruto

Não acredite de prontoEm tudo o que você vêEstude e queira pensarPois isso é bom pra vocêE leia o que conseguirPra não virar um zumbiCriado pela TV

-- Cárlisson Galdino-- http://bardo.castelodotempo.com

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