o campo da fé: territórios e territorialidades dos ... · parcial para obtenção de título de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA - PPGEO
ELITE FURTADO CECLIO E SILVA
O Campo da F: Territrios e territorialidades dos peregrinos sergipanos
na Jornada Mundial da Juventude. Rio de Janeiro 2013
So Cristvo, 2016
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Elite Furtado Ceclio e Silva
O Campo da F: Territrios e territorialidades dos peregrinos sergipanos
na Jornada Mundial da Juventude. Rio de Janeiro 2013
Dissertao apresentada como requisito parcial para obteno de ttulo de mestre em Geografia banca examinadora do Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal de Sergipe
Orientadora: prof. Dr Maria Augusta Mundim Vargas
So Cristvo, 2016
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Dedico este trabalho a minha me
Que sempre esteve comigo.
A Elite que foi guardi das
Histrias dos peregrinos sergipanos
Aos peregrinos sergipanos que buscam ao cu.
Maria Augusta que trilhou junto esse caminho.
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DECLARAO DE AMOR AO PAI ETERNO
Minha vida um brevssimo segundo Minha vida um s dia que escapa e que me foge
Tu bem sabes, oh meu Deus Tu bem sabes, oh meu Deus Para amar-Te neste mundo,
no tenho nada mais que hoje. (Celina Borges)
meu Pai, olha eu aqui de novo! Vim agradecer. Estou to feliz, mas to
feliz, que quero lhe encher de beijos, pular em teu pescoo, rodopiar contigo, dizer
aos quatro cantos o quanto te amo e o quanto sou grata a ti por me conceder tantas
coisas que a mim so incapazes de acontecer por mritos prprios. Em meio a
fraquezas, no duvidei de seu amor, de seus cuidados e de sua presena que
caminha comigo, por isso meu grito de Hosana. Nenhuma teoria cientfica,
zombarias, gracinhas, preconceitos religiosos ou mesmos as provaes do dia a dia
conseguiram arrancar de minha alma nosso intenso e verdadeiro caso de amor.
meu Pai, se soubessem o quanto bom ser amada de verdade, nunca te
abandonariam por nada!
Desejo a todos da academia, gegrafos e no gegrafos, um conhecimento
verdadeiro daquele que enraza e traz experincias to belas que transforma por
todo o sempre. Sabero, assim, que o poder edificante no aquele que prevalece
e determina os territrios, mas aquele capaz de gerar mudanas e fazer a nossa e
a vida dos outros melhor.
Obrigada pelos grandes intercessores que abriram meus caminhos a Nossa
Senhora que passou a frente e a So Miguel que me ensinou que no h ningum
como Deus, ao meu anjo da guarda protegendo de todos os perigos. Aos santos
que entregaram sua vida testemunhando sua f e como Santo Agostinho digo No
basta fazer coisas boas preciso faz-las bem.
Sabe meu Pai, nessa vida nunca me senti uma pessoa brilhante, comparada
as outras daquelas que se destaca como a melhor estudante, a melhor profissional,
a melhor amiga, enfim..., mas uma coisa eu sei admitir: o Senhor sempre colocou os
melhores em minha vida, por isso quero agradecer imensamente pelos irmos de
Cirene que encontrei e ajudaram meus dias serem melhores. Desta forma,
referencio alguns para receber minha gratido e estendo tambm a todos os outros
que fizeram parte no decorrer de minha caminhada at aqui.
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A Fundao de Apoio a Pesquisa e a Inovao Tecnolgica do Estado de Sergipe
FAPITEC- pela concesso de financiamento para realizao desta pesquisa.
A minha famlia, com quem pude contar sempre, muito bom saber que tenho para onde
voltar.
De um modo muito especial minhas avs (in memorian) que tinha o dom de acolher, amar
e reunir a todos.
Me, obrigada por sua mo entrelaar na minha e me conduzir por caminhos seguros, por
me apresentar um Deus to poderoso. Com sua simplicidade, testemunho e lutas,
descortinei um mundo cheio de esperana. Te amoooo demais!
A todos os meus irmos, em especial a Donizete que esteve sempre ao lado de minha me
em minha ausncia. Que Deus lhe conduza sempre!
A Roseane, Ana Lucia e Rosangela que me acolheram em suas casas. Vocs me deram
oportunidade de um novo recomeo.
A minha orientadora Maria Augusta pela acolhida em sua sala em 2011. Quem diria! J se
foram 5 anos e tantas coisas aconteceram... Orientaes, trabalhos, eventos, celebraes,
pesquisas e o fazer geogrfico. So vrios os motivos para agradecer.
s professoras Josefa Lisboa e Vera Frana, Josefa Eliane que me deram a oportunidade
de realizar um projeto de vida.
professora Rosana Batista que me recebeu em sua disciplina e contribuiu muito para
meu conhecimento. Grata pelo carinho e ateno.
professora Sonia, aquela que entende de cores e sabores, obrigada pelo olhar atento e
cuidadoso que dispensou em minha pesquisa.
Ao professor Magno por fazer parte de minha vida acadmica. Um apaixonado por festa
religiosa, que sabe tecer as palavras e tem um olhar sensvel s diferentes realidades.
Obrigada pelas contribuies.
A Douglas, o menino prodgio, Obrigada! pela ateno e competncia em fazer o mapa
tanto quanto foi necessrio.
A Auceia, obrigada pela sensibilidade s necessidades alheias. Voc foi o cuidado de Deus
em minha vida.
A Rodrigo e Angela, pelas contribuies no caminhar acadmico.
A Solimar, Obrigada pela generosidade, e oportunidade de conhecer Sergipe.
A Daniella Pereira, pela parceria acadmicas no turismo e na geografia.
Ronilse, pelas contribuies nas leituras e participao em minha vida.
Edvaldo, Obrigada pela prontido e generosidade durante o pesquisar.
Ao grupo Sociedade e Cultura obrigada pela oportunidade de crescimento.
A Izabela que com carinho e silncio me acompanhou pelo PIIC. Obrigada!
Ivan por contribuir no PIIC e nas bibliografias
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A Vanessa, obrigada pela oportunidade de pesquisas sergipanas.
A Daniele Santos e Luam, obrigada pela consultoria diria.
A Hebert e Marcos Obrigada pela transcrio, com competncia e seriedade.
Rosana Eduardo, Fabiana, Mariana e Mirtes pela solicitude na elaborao e execuo
do roteiro cultural. Juntamente com os monitores Moiss, Cyndiane e Hvida.
A Cyndiane pelos belssimos desenhos produzidos com beleza e simplicidade.
A Ctia, Fernando, Alexandre, Marlene que deixaram rastros de Deus em meu caminhar.
A todos os padres que visitaram os pores de minha alma e irradiaram luz, (com o
sacramento da reconciliao, pela sabedoria e direcionamento), de modo especial
Pe. Videlson, um semeador que procura terra boa, mas no cansa de lanar sementes.
Ao Pe. Anderson Pina que me ajudou a concretizar o roteiro cultural permitiu que o
acompanhasse na visita a fraternidade, por estar conosco na pastoral universitria.
Ao Daniel que permitiu acompanha-lo na programao que antecedeu a JMJ.
Ao Grupo de Universitrios Catlicos. Caminhamos, sonhamos e realizamos...
Ao Caminho de Luz pela oportunidade de me aproximar mais de Deus.
As comunidades Shalom, Cano Nova, Obra de Maria, Fora Jovem do Discpulo
Amado que abriram suas portas para minha pesquisa.
equipe da secretaria Gil, Everton, France e Mateus, obrigada!
Scheila- que contribuiu nas confeces das tabelas.
Aos professores do PPGEO, que contriburam para meu conhecimento.
A todos os autores que escreveram sobre o sagrado. obrigada por registrar sua
experincia, de um modo especial Rosendahl e Gil Filho
A todos os peregrinos sergipanos! orgulho de minha pesquisa que partilharam comigo
sua f e o desafio de seguir novos caminhos. Seu testemunho fortificou minha f. Que Deus
derrame copiosas bnos sobre vocs. Obrigada!
Aldejanes, Alexandre, Aline, Ana Paula, Ana Pureza, Anderson, Ane Caroline, Anne
Elise, Armando, Barbara, Breno, Carlos A, Carolina, Davi, Emanuela, Euza,
Fernando, Fabricio, Gladson, Glauber, Helenilson, Ildaci, Italo, Ivalci, Jacilene,
Jacira, Jackson, Jessica, Joo Vitor, Jose Fernandes, Jose Gilmar, Juciane, Juliane,
Keciane, Layla, Laryssa, Leila, Leonardo, Luiz Gustavo, Luiz Henrique, Manuel,
Marcelo, Marcos, Maria Aparecida, Maria Lilian, Marilia, Marines, Natan, Rogerio,
Sandra, Tatiane, Thais, Thayane, Tabita, Vania, Victor, Vinicius, Wagner, Zerlaide
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RESUMO
Escolhemos para nosso estudo a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que ocorreu em julho de 2013 no Rio de Janeiro, por possibilitar a anlise sobre os territrios e as territorialidades construdas pelos peregrinos sergipanos nesse evento. Dessa forma objetivamos: Identificar os territrios sagrados que se fizeram e se desfizeram na JMJ; Apreender as territorialidades do movimento leigo sergipano e sua participao na JMJ bem como compreendermos o significado e as atitudes dos peregrinos sergipanos antes durante e aps a JMJ. A pesquisa configurou-se como qualitativa. Utilizamos de levantamentos documental e fotogrfico, dirio de campo e entrevistas. Durante a JMJ a f e a fora do cristianismo se materializaram em vrios territrios sagrados como o palco central na praia de Copacabana, as catequeses realizadas na parte da manh e, em mltiplos micro territrios da Feira Vocacional e da ExpoCatlica, onde o sagrado se manifestou. A JMJ foi importante para os peregrinos sergipanos que se mobilizaram, congregaram e construram redes de amizades. Ela proporcionou a organizao de comunidades missionrias em nvel local, como em Sergipe, e, o encontro de jovens e comunidade de jovens de vrias partes do Brasil e de pases de todos os continentes. Os peregrinos sergipanos participaram de vrias atividades sociais e culturais como intercmbios trocas de souvenires e tambm como turistas religiosos, sem, contudo se afastarem da condio de peregrino. Os peregrinos sergipanos se mantiveram motivados e comprometidos com as aes missionrias tanto que aps a JMJ, pudemos acompanhar as atividades por eles desenvolvidas em 2014 e 2015, no Dia Nacional da Juventude. Nesse sentido afirmamos a importncia religiosa, social e econmica das prticas e vivncias ocorridas durante a JMJ, no somente para os peregrinos sergipanos, mas tambm nas escalas regional e mundial. Palavras Chaves: Territrios; Territorialidades; Peregrinos; Jornada Mundial da Juventude.
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RESUMEN
Elegimos para nuestro estudio la Jornada Mundial de la Juventud (JMJ), que ocurri
en julio de 2013 en Rio de Janeiro, por posibilitar el anlisis sobre los territorios y las
territorialidades "construdas" por peregrinos sergipanos en este evento. De esa
forma objetivamos: i. identificar los territorios sagrados que se hicieron y se
deshicieron en la JMJ; ii. apreender las territorialidades del movimiento leigo
sergipano y su participacin en la JMJ, as como comprender el significado y las
actitudes de los peregrinos sergipanos antes, durante y despus de la JMJ. La
investigacin se configur cualitativa. Utilizamos de levantamientos documental y
fotogrfico, diario de campo y entrevistas. Durante la JMJ, la fe y la fuerza del
cristianismo se materializaron en varios territorios sagrados como el escenario
central en la playa de Copacabana, las catequesis realizadas en la parte de la
maana y en mltiples micro territorios de la Feria Vocacional y de la ExpoCatlica,
donde el sagrado se manifest. La JMJ fue importante para los peregrinos
sergipanos que se movilizaron, congregaron y construyeron redes de amistades. El
evento proporcion la organizacin de comunidades misioneras en nivel local, como
en Sergipe, y el encuentro de jvenes y comunidades de jvenes de varias partes
del Brasil y de pases de todos los continentes. Los peregrinos sergipanos
participaron de varias actividades sociales y culturales como intercambios, cambios
de souvenirs y tambin como turistas religiosos, sin, con todo, alejarse de la
condicin de peregrino. Los peregrinos sergipanos se mantuvieron motivados y
comprometidos con las acciones misioneras, tanto que, despus de la JMJ, pudimos
acompaar las acciones desarrolladas por ellos en 2014 y 2015 en el Da de la
Juventud. En este sentido, afirmamos la importancia religiosa, social y econmica de
las prcticas y vivencias ocurridas durante la JMJ, no solamente para los peregrinos
sergipanos, pero tambin en las escalas regional y mundial.
Palabras clave: territorios; territorialidad; peregrinos; Da Mundial de la Juventud.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Selos lanados em homenagem a JMJ Rio de Janeiro 2013
65
Figura 02 Peregrinao dos smbolos da JMJ pelo Brasil Bahia e Sergipe 2011
67
Figura 03 Peregrinao da cruz e do cone de Nossa Senhora Aracaju/Sergipe, 2013
71
Figura 04 Cruz da JMJ na catedral de Aracaju. Aracaju Sergipe, 2013 71
Figura 05 Cruz da JMJ e o cone de Maria Peregrina no complexo penitencirio Municpio de Areia Branca Sergipe, 2013
72
Figura 06 Replica do Cristo Redentor em Aracaju Sergipe, 2013 74
Figura 07 Coral da Missa na semana missionria na comunidade Madre Paulina. So Cristvo Sergipe, 2013.
77
Figura 08 Missa na semana missionria na comunidade Madre Paulina. So Cristvo Sergipe, 2013
77
Figura 09 Divulgao da acolhida aos peregrinos da JMJ em Poo Redondo Diocese de Propri, Sergipe, 2013
79
Figura10 Dia de Lazer com os peregrinos franceses - Canind de So Francisco, Sergipe, 2013
81
Figura 11 Dia de Lazer com os peregrinos franceses com a comunidade Obra de Maria em Canind de So Francisco Sergipe, 2013
81
Figura 12 Visita dos jovens da Parquia Santa Tereza, Fraternidade Toca de Assis Aracaju, Sergipe. 2013
83
Figura 13 Visita dos jovens da Paroquia Santa Tereza ao Museu da Gente Sergipana. Aracaju, Sergipe, 2013
84
Figura 14 Interao dos jovens da Paroquia Santa Tereza no Museu da Gente Sergipana Santa Tereza. Aracaju Sergipe, 2013
84
Figura 15 Peregrinos Mexicanos no aeroporto Internacional
Galeo/Tom Jobim Rio de Janeiro, 2013
87
Figura 16 Carto de transporte e alimentao dos peregrinos da JMJ. Rio de Janeiro, 2013.
89
Figura 17 Kit dos peregrinos da JMJ Rio de Janeiro, 2013 89 Figura 18 Peregrinao dos jovens da JMJ para praia de
Copacabana Rio de Janeiro, 2013
100
Figura 19 Peregrinos aguardando a Missa de abertura - Praia de 102
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Copacabana. Rio de Janeiro, 2013 Figura 20 Flagelao de Jesus na Via Sacra Praia de Copacabana,
Rio de Janeiro, 2013 106
Figura 21 Cena dos jovens clamando pelos continentes na Via Sacra Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013
106
Figura 22 Jovens estudantes e cadeirantes na Via Sacra na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013
107
Figura 23 Tony Melendez atrao musical da viglia- na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013
111
Figura 24 Silncio e adorao na Viglia na - Praia de Copacabana Rio de Janeiro, 2013
115
Figura 25 Vista geral do acampamento aps a viglia Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013
116
Figura 26 Jovens estrangeiros animando noite praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013
117
Figura 27 Jovens estrangeiros aguardando a missa de envio. Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013
117
Figura 28 Pblico da JMJ na missa de envio Praia de Copacabana. Rio de Janeiro, 2013
120
Figura 29 Palco e altar da missa de envio de envio na Praia de Copacabana. Rio de Janeiro, 2013
120
Figura 30 Papa Francisco com lideres polticos na Missa de Envio na Praia de Copacabana. Rio de Janeiro, 2013
122
Figura 31 Coreografia Flasch Mob na Missa de Envio na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013
123
Figura 32 Bispo acompanhando coreografia Flasch Mob da missa de envio Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013
124
Figura 33 Grupo de bal na Expocatlica Rio de Janeiro, 2013 130
Figura 34 Produtos comercializados na Expocatlica Rio de Janeiro, 2013
132
Figura 35 Stand da Comunidade Cano Nova na Expocatolica. Rio de Janeiro, 2013
132
Figura 36 Stand do Estado de Sergipe na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013
134
Figura 37 Stand do Estado de Pernambuco na ExpoCatlica, Rio de Janeiro, 2013.
135
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Figuras 38 e 39 Stand do Estado da Bahia na Expocatlica. Rio de Janeiro, 2013
136
Figuras 40 e 41 Stand do Estado do Piau na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013
136
Figuras 42 e 43 Stands dos Estado do Paraba e Rio Grande do Norte na ExpoCatlica. Rio de Janeiro, 2013 .
137
Figuras 44 e 45 Stand do Estado do Cear na ExpoCatlica, Rio de Janeiro, 2013
138
Figuras 46 e 47 Stand do Estado do Par na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013
139
Figuras 48 e 49 Stand do Estado do Amazonas na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013
140
Figuras 50 e 51 Stand do Estado do Espirito Santo na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013
142
Figura 52 Stand do Estado do Rio de Janeiro na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013
142
Figura 53 Stand do Estado de Mato Grosso do Sul na ExpoCatlica. Rio de Janeiro, 2013.
143
Figura 54 Stand do turismo religioso do Estado do Paran na ExpoCatlica Rio Center Rio de Janeiro 2013.
143
Figura 55 Stand do Estado do Rio Grande do Sul na ExpoCatlica
Rio de Janeiro, 2013
144
Figura 56 Stand do Ministrio do Turismo na Expocatlica Rio de
Janeiro, 2013
Figura 57 e 58 Museu da Bblia na ExpoCatlica. Rio de Janeiro, 2013.
Figuras 59 e 60 Peregrinos na Feira Vocacional na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, 2013
153
Figuras 61 e 62 . Smbolos dos padroeiros e baluartes na Feira Vocacional Quinta da Boas Vista Rio de Janeiro, 2013
157
Figuras 63 Tirinha: Situao que os peregrinos enfrentaram na JMJ 168
Figura 64 e 65 Problemas ocorridos na JMJ relatados pelos peregrinos sergipanos Rio de Janeiro, 2013
169
Figura 66 Milhares de Jovens em direo Praia de Copacabana Rio de Janeiro, 2013
170
Figura 67 Milhares de jovens nas areias da Praia de Copacabana Rio de Janeiro, 2013
173
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Figura 68 Guaian Florena Pataxo Coroa Vermelha BA 175
Figura 69 Jaqueline Silva Pataxo Coroa Vermelha- BA 175
Figura 70 Encontro do Papa Francisco com ndios brasileiros Teatro Municipal. Rio de Janeiro, 2017
176
Figura 71 Charge: histrias narradas por uma peregrina sergipana 177
Figura 72 Charge: histria narrada por um guia de caravana sergipano
178
Figura 73 Peregrinos hospedados na Quadra Acadmicos do Grande Rio. Rio de Janeiro, 2013.
181
Figura 74 Evento Ecummico na PUC do Rio de Janeiro que antecedeu a JMJ: Rio de Janeiro, 2013
184
Figura 75 Trilhas oficiais da JMJ ofertada aos peregrino Rio de Janeiro, 2013
187
Figura 76 Segurana nas ruas durante a JMJ. Rio de Janeiro, 2013. 192
Figura 77 e 78 Eventos aps a JMJ na comunidade Shalom de Aracaju, Sergipe, Agosto de 2013
193
Figura 79 e 80 Comemorao da Comunidade Shalom de Aracaju, Sergipe, 2014.
194
Figura 81 Comemorao da Arquidiocese no Dia Nacional da Juventude Aracaju Sergipe, 2014
196
Figura 82 Comemorao da Arquidiocese no Dia Nacional da Juventude com Teatro, Shows e brincadeiras Aracaju Sergipe, 2014
197
Figura 83 Comemorao da Arquidiocese na Feira Vocacional no Dia Nacional da Juventude, Aracaju SE, 2014
197
Figura 84 Comemorao da Arquidiocese no Dia Nacional da Juventude atividades no Parque Tefilo Dantas Aracaju/Sergipe 2015
198
Figura 85 Comemorao da Arquidiocese Feira Vocacional no Dia Nacional da Juventude no Parque Tefilo Dantas Aracaju/Sergipe, 2015
199
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MAPA
Mapa 01 Origem dos Entrevistados de Sergipe por Municpio 2015 52
LISTA DE GRFICOS Grfico 01 Participao dos peregrinos sergipanos nas Jornadas 52
Grfico - 02 Escolaridade dos peregrinos sergipanos 2013 53
LISTA DE QUADRO
Quadro 01 A Construo da Geografia da Religio 28
Quadro 02 Os Conceitos da Categoria Simblica. 38
Quadro 03 Anlise de Contedo 50
Quadro 04 Sntese das reportagens internacionais da JMJ 58
Quadro 05 Reportagens de sites jornais sergipanos da Jornada Mundial da Juventude. Rio de Janeiro, 2013.
63
Quadro 06 Itinerrio da cruz da JMJ e do cone de N Senhora 69
Quadro 07 Programao da Semana Missionria em Aracaju 74
Quadro 08 Significado da JMJ para os peregrinos sergipanos 91
Quadro 09 Diferenas e semelhanas das Peregrinaes 98
Quadro 10 Significados da Missa de abertura para peregrinos sergipanos
103
Quadro 11 Significados da Via Sacra para peregrinos sergipanos 108
Quadro 12 Territrio da praia de Copacabana percebidos pelos peregrinos sergipanos
119
Quadro 13 Territrios da Expocatlica percebidos pelos peregrinos sergipanos
150
Quadro 14 Significados da Feira Vocacional para os peregrinos sergipanos
162
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SUMRIO
INTRODUO 20
1 O ARADO: BUSCANDO AS BASES PARA REFLEXO 27
2 OS CANTEIROS: O CAMINHO DA PESQUISA 43
2.1 Instrumental da pesquisa 44
2.2 Anlises dos dados 50
2.3 Perfil do peregrino sergipano 51
3 TERRITRIO E TERRITORIALIDADES DA JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
57
3.1 Lanando sementes 56
3.1.1 Divulgao/matrias - Propagao das sementes 56
3.1.2 Alm dos Sinos 65
3.1.3 Juntando as sementes 77
3.2 O Germinar das Sementes 84
3.2.1 Rio de Janeiro e a JMJ: ver e ouvir 84
3.2.2 Peregrinos nos caminhos da JMJ 93
3.3 Copacabana: um templo/ territrio que se faz e se refaz... 100
3.3.1 A acolhida 100
3.3.2 O caminho que se refaz 104
3.3.3 No Silncio da Madrugada... Uma voz que fala 109
3.3.4 O Recomear: a missa de envio 120
4 EXPOSITORES E CONSUMIDORES: A MATERIALIZAO
DA F 127
4.1 Expocatlica 127
4.2 A Feira Vocacional 150
5 CUIDANDO DOS BROTOS 165
5.1 Galhos em suspenso 167
5.2 Enxertos, podas e outros relatos 172
5.3 Relatos afins 177
5.4 A colheita 192
6 O OFERECER DOS FRUTOS: CONSIDERAES FINAIS 201
Referncias 210
Apndice 222
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A religio, creiam os seus gratuitos adversrios, o mais slido alicerce das instituies sociais. H quase dezoito sculos escrevia Plutarco: Percorrei a terra, e achareis cidades sem muros, sem cincias, sem artes, e sem rei; povos sem habitaes fixas, sem uso, sem conhecimento da moeda, sem exerccios do corpo, sem teatros, sem espetculos: mas no encontrareis um s sem Deus, sem culto e sem sacrifcio (A CRUZ, n.8, p.60, 14-04-1890).
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Introduo
"Espero poder encontrar-vos daqui a dois anos, na prxima Jornada
Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, Brasil. At l, rezemos uns
pelos outros, dando testemunho da alegria que brota de viver
enraizados e edificados em Cristo. At breve, queridos jovens", disse o
papa, em portugus. ( Bento XVI despedida na JMJ de Madri)
Vocs so tantos! Chegados de todos os continentes. Distantes, s vezes,
no s geograficamente, mas tambm do ponto de vista existencial,
cultural, social, humano. Mas hoje estamos aqui juntos, unidos para
compartilhar a f e a alegria do encontro com Cristo, de ser seus
discpulos. Esta semana, o Rio de Janeiro se converte no centro da
Igreja, em seu corao vivo e jovem, porque vocs responderam com
generosidade e entusiasmo ao convite que Jesus lhe fez. (Homilia na
acolhida do Papa Francisco na JMJ do Rio de Janeiro, 2013)
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20
INTRODUO
Sou marcado desde sempre Com o sinal do Redentor,
que sobre o monte, o Corcovado, abraa o mundo com Seu amor.
Cristo nos convida: Venham, meus amigos
Cristo nos envia: Sejam missionrios!1
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada entre os dias 23 e 28 de
julho de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, foi considerada pelo RankBrasil (site de
recordes brasileiros) o maior evento cristo at ento realizado no pas com a
participao de 3,5 milhes de fiis. Ainda foi confirmado o recorde do nmero de
turistas em uma nica cidade totalizando 2 milhes, dado da Prefeitura do Rio de
Janeiro e do Ministrio do Turismo pelo levantamento feito em parceria com a
Universidade Fluminense. Esse levantamento ressaltou que R$1,2 bilho circularam
na economia da cidade pelo consumo dos peregrinos.
A Jornada Mundial da Juventude foi criada em 1986 por Joo Paulo II. De
acordo com a Igreja Catlica, viu-se a necessidade de aproximar-se mais dos jovens
para renovao da f e da esperana, bem como professar a f catlica.
A Jornada Mundial da Juventude a semana de eventos criada pela Igreja Catlica para os jovens e com os jovens. Ela rene milhares de jovens de todo mundo para celebrar e aprender sobre a f catlica e para construir pontes de amizade e esperana entre continentes, povos e culturas. Site disponvel em: publicado em : 25/07/2013 acesso em: 10/12/2015.
A primeira JMJ ocorreu no mesmo ano de sua criao, em 1986, restrita
Diocese de Roma, e contou com a participao de 400 mil jovens. A sequncia das
Jornadas com especificao da cidade, pas, bem como o quantitativo de jovens
participantes a seguinte:
i) Buenos Aires (Argentina 1987); com a participao de 1 milho; ii)
Santiago de Compostela (Espanha 1989) com participao de 600 mil; iii)
Czestochowa (Polnia 1991) participao 1,5 milho; iv) Denver (Estados Unidos
1993); com participao de 500 mil; v) Manila (Filipinas 1995) com 4 milhes; vi)
1 Esperana do Amanhecer - Hino oficial da Jornada Mundial da Juventude, Rio, 2013
Composio: Pe. Jos Cndido
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21
Paris (Frana -1997) com participao de 1 milho; vii) Roma (Itlia 2000); com
participao de 2 milhes, viii) Toronto (Canad 2002) com participao de 800
mil; x)Colnia (Alemanha 2005); com participao de 1 milho; xi) Sidney
(Austrlia 2008); com participao de 500 mil; xii) Madri (Espanha 2011) com
participao de 2 milhes; xiii) Rio de Janeiro (Brasil 2013) com 3,5 milhes.
Observa-se que a JMJ nessas 13 edies j ocorreu em 5 continentes, exceto na
frica, e com duas edies na Amrica do Sul.
Diante deste fenmeno religioso que cria e recria periodicamente espaos
sagrados, optei por um tema imbricado com as questes que envolvem a Geografia
da Religio: os territrios e as territorialidades na JMJ de 2013, no Rio de Janeiro.
O Brasil, representado pelo Ministrio do Turismo e Embratur, tem divulgado
muito no exterior o potencial do pas quanto s belezas naturais e sua cultura. A JMJ
foi um megaevento que proporcionou ao Rio de Janeiro a experincia de receber
milhes de pessoas em uma nica semana. Foi um perodo em que se investiu nos
megaeventos pois, aps a JMJ, aconteceu a Copa do Mundo de Futebol (2014) em
alguns Estados brasileiros, bem como as Olimpadas que acontecer em 2016.
H um bom tempo esse evento suscitou em mim um grande interesse com a
possibilidade de um trabalho comparativo entre a Jornada Mundial e as grandes
festas religiosas de Sergipe. A Jornada Mundial da Juventude tem como
caractersticas de suas construes/constituies os peregrinos que se deslocam,
se movem e se fazem presentes pela f, mas tambm pela sociabilidade e pela
curiosidade em conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas e, nesse
sentido, constroem territrios sagrados.
Os megaeventos sempre me impressionaram principalmente em se tratando
de eventos religiosos. A dinmica da JMJ singular e difere de todos os outros, pois
proporciona uma experincia diferente dos eventos locais e regionais, nos quais
sempre participei. Vale ressaltar que minha relao com o Cristianismo vem desde
criana: minha famlia predominantemente catlica e cresci nesse ambiente
responsvel pela construo das minhas relaes sociais. Em Sergipe, com minha
participao no grupo de pesquisa Sociedade e Cultura, tive a oportunidade de
participar de pesquisas e discusses terico-metodolgicas sobre cultura e
manifestaes culturais especficas, dentre elas, as festas religiosas. Em seguida,
desenvolvi pesquisa como bolsista do PIIC (Pesquisa Institucional da Iniciao
-
22
Cientfica 2011/2012) sobre a festa da Imaculada Conceio em Aracaju (SE), o que
reforou ainda mais minha motivao para a pesquisa sobre a Geografia da
Religio2. Minha participao no Movimento Leigo preparatrio para a JMJ, desde os
meados de 2012, foi decisiva para a escolha da JMJ como objeto de estudo.
Assim, tomei os peregrinos sergipanos como sujeitos fiis que se deslocam e
constroem os espaos sagrados. Aproveitei minha experincia como peregrina e
pesquisadora para estudar a complexidade de um evento catlico mundial e produzir
conhecimento, bem como o entendimento da responsabilidade social como
gegrafa. Neste campo vastssimo da Geografia, entendemos que os fenmenos
religiosos se manifestam num momento histrico e no h fato religioso fora do
tempo (ROSENDAHL, 2009, p. 01).
Neste contexto, atentei para a Jornada Mundial da Juventude no sentido de
seus territrios e territorialidades, tecendo os seguintes questionamentos: como
seria a construo de uma viagem at ao Rio de Janeiro? Como se deu a
construo dos movimentos leigos sergipanos? Como se deslocaram para o Rio de
Janeiro? Em caravanas prprias, individualmente, por agencia de turismo, pelo
transporte areo ou terrestre? Como conseguiram recursos? Quais territrios foram
criados para os peregrinos por meio da JMJ (territrios sagrados, simblicos,
tursticos, itinerantes)? Esses questionamentos colaboraram para a ancoragem do
deste trabalho.
Lembramos ainda que a centralidade de nosso trabalho a vivncia, as
prticas, a construo dos relacionamentos, as territorialidades que esto presentes
mesmo antes da JMJ acontecer; so esses aspectos que realmente importam na
construo desta dissertao e que desencadearam os questionamentos
apresentados.
A partir desta informao, fui delineando os objetivos deste trabalho ao incluir
em minhas reflexes a anlise dos territrios sagrados e dos territrios que se
construram e se desconstruram na Jornada Mundial da Juventude, com a
inteno de apreender e compreender esses fenmenos religiosos que constituram
antes, durante e aps esse evento mundial.
2 Ver SILVA (2012)
-
23
Considerando a peculiaridade da pesquisa em estudar um evento j ocorrido,
so necessrias algumas consideraes antes de expor nossos objetivos
especficos. O primeiro ponto a ser esclarecido diz respeito ao desejo de aprofundar
nos estudos da Geografia da Religio e analisar a sua contribuio em nossa
pesquisa, com a pretenso de mapear os territrios sagrados que foram
construdos no Rio de Janeiro pela JMJ. O segundo aspecto diz respeito minha
participao como integrante do movimento leigo sergipano e, nesse sentido,
coloco-me no duplo papel de fiel participante e de pesquisadora atenta que procurou
registrar (atravs de dirio e fotos) os caminhos percorridos, os deslocamentos entre
o local da hospedagem e os eventos e tambm interagiu com outros movimentos e
pessoas antes, durante e aps a JMJ.
Essas colocaes nos remeteram para a possibilidade de apreender e
compreender o evento Jornada Mundial da Juventude como fenmeno conformador
dos territrios sagrados itinerantes, assim como analisar as motivaes e os
interesses do grupo sergipano e suas inter-relaes com os demais participantes.
No nos propomos a estudar o espao sagrado e o profano devido as peculiaridades
e dimenses da JMJ, j que a prpria estrutura do evento no permitia aos
peregrinos que se reunissem em locais sagrados como os templos. Por esse fato,
focamos nos territrios e territorialidades. Isto posto, so os seguintes objetivos
especficos de nossa pesquisa:
1. Identificar os territrios sagrados da Jornada Mundial da Juventude.
Com esse objetivo mapeamos os territrios sagrados de acordo com a
programao estabelecida, distinguindo-os com a inteno de refletir sobre as
motivaes do peregrino.
2. Apreender as territorialidades do movimento leigo sergipano e sua
participao na Jornada Mundial da Juventude;
Para isto, caracterizamos e apreendemos o perfil, a organizao e a participao do
movimento leigo sergipano na Jornada Mundial da Juventude; os movimentos de
preparao e as atividades e atitudes durante o evento.
3. Compreender o significado e as atitudes dos peregrinos na Jornada Mundial
da Juventude.
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24
Investigar o evento da Jornada Mundial da Juventude e a participao de
sergipanos foi uma oportunidade de compreender as relaes dos participantes e
fazer com que essas histrias chegassem at ns, pois seus rostos, a ateno, o
esforo, os registros destes momentos so valiosos. A ocupao dos territrios e as
teias que se formaram a partir deles foram uma forma de aprender sobre a vida, a
f, as relaes e espacialidades e territorialidades dos movimentos sergipanos. Este
trabalho no pretende levantar problemticas, oferecer respostas, levantar
bandeiras, mas relatar experincias nicas e profundas de um fenmeno religioso.
Nossa pesquisa teve como produto um roteiro cultural com um grupo de jovens da
Parquia de Santa Tereza de Aracaju para conhecerem e apreciarem sua cultura; a
produo de dois artigos em eventos internacionais; um captulo do livro e-book e
um documentrio intitulado O Recomear inscrito no Festival de Turismo e Cultura
(FIACULT).
Dessa forma, o presente texto encontra-se estruturado em quatro captulos
alm da introduo.
No primeiro captulo, intitulado O Arado: buscando as bases para reflexo,
trazemos os conceitos e as categorias, assim como os autores trabalhados. Nesse
sentido, usamos a metfora do arado que remove a terra para expor o caminho que
mexemos e revolvemos nossas ideias.
No segundo captulo, intitulado Os Canteiros: o caminho da pesquisa,
trazemos os esforos em abrir caminhos e oferecer ferramentas para relacionar o
terico e o emprico, os aportes tericos-metodolgicos para as anlises que foram
construdas no decorrer do trabalho.
O terceiro captulo, intitulado Resultados: Territrios e Territorialidades da
Jornada Mundial da Juventude, procuramos apresentar de forma analtica os dados
levantados de suas diversas fontes (documentais, fotogrficas, de observao como
participante e dos entrevistados). Os territrios e as territorialidades no esto
apresentados em ordem cronolgica dos fatos. Procuramos traz-los pela origem e
motivao e, dessa maneira, a JMJ enquanto ato mundial de evangelizao, foi
mostrada com suas diversas conotaes de escala, de carismas, mas tambm de
prticas e vivncias subjetivas. Esse captulo se subdivide em doze itens que
retratam desde a construo/organizao da 13 Jornada Mundial da Juventude at
a missa de envio ltima celebrao da JMJ.
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O Quarto captulo Intitulado Expositores e Consumidores: a materializao da
f. Nesse captulo evidenciaremos as prticas, exposies e comercializao dos
materiais produzidos nas comunidades, congregaes e institutos. Subdividimos
este captulo em dois grandes eixos: a ExpoCatlica, que ocupou as instalaes do
Rio Center e a Feira vocacional que se instalou na Quinta da Boa Vista.
No quinto captulo retratamos as dificuldades e os problemas mais
recorrentes relatados pelos peregrinos. Trazemos tambm as atitudes da Igreja
Catlica para com as representaes formais que se fizeram presentes na JMJ, bem
como as manifestaes que extrapolaram seu sentido. Apresentamos tambm os
atos e atitudes decorrentes da JMJ/2013 que aconteceram em Sergipe nos anos de
2014 e 2015.
No Sexto captulo, intitulado O Oferecer dos Frutos (consideraes finais),
procura-se apresentar as reflexes, sugestes e consideraes finais da
dissertao.
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O arado: buscando as bases para reflexo
Eu tinha me afastado da igreja e como universitrio eu me tornei
muito autossuficiente, ento eu j sabia o que queria da vida e como
conquistar. Porm, uma decepo amorosa me fez vulnervel e aceitei
um convite para ir a um acampamento de orao. No primeiro dia, eu
fiz uma experincia de saudade de Deus, mas, no fui eu que senti
saudade de Deus, eu sentia a saudade que Deus tinha de mim do
tempo que eu era prximo dele (A. M. A., missionrio, 27 anos).
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1 O ARADO: BUSCANDO AS BASES PARA REFLEXO
O Arado um instrumento antigo que prepara, revolve e lavra a terra para
receber a semente, buscar vida (FERREIRA, 2001); a terra disposio das
sementes ou mudas proporcionando a germinao. H uma expresso bblica que
diz: Quem pe a mo no arado e olha para trs, no est apto para o Reino de
Deus (Lc 9, 62). Desta forma esse captulo se constitui como que um remexer na
terra levando a uma reflexo aps intensas leituras, como se as ideias tivessem sido
tiradas do lugar. Assim, esse captulo retrata o caminho terico percorrido, traando
uma breve periodizao histrica que evidencia a origem da Geografia da Religio
no contexto da Geografia humanista.
De acordo com Luna (2000), a reviso terica tem por objetivo circunscrever
um dado problema de pesquisa em um quadro de referencial terico que pretende
explic-lo. Mendes e Pessa (2009) concebem a organizao de um referencial
terico como um recurso capaz de possibilitar a identificao e a representao de
fenmenos sociais e culturais responsveis pela manifestao de determinados
eventos, sendo a teoria a trajetria para conhecer e compreender os sujeitos, o
contexto e suas representaes. Para entender esse contexto buscamos na
Geografia da Religio razes que nos auxiliaram compreender o fenmeno religioso.
Rosendahl (2002) em seu artigo Construindo a Geografia da Religio no
Brasil, publicado no XIII Encontro Nacional de Gegrafo (ENG), afirma que falar de
Geografia e religio uma proposta ambiciosa e necessria para a Geografia
brasileira, mas, atravs da abordagem cultural, ela se torna mais rica e pluralista. Ela
cita ainda que a experincia religiosa de indivduos e grupos sociais pouco
investigada pelos gegrafos, apesar da importncia do sagrado e sua espacialidade
para a Geografia. Assim, enfatiza a importncia de examinar a diversidade dos
fenmenos religiosos, a distribuio de seus seguidores, a estrutura espacial criada
por seu comportamento e as paisagens religiosas delineadas atravs de suas
atividades como sugesto de roteiro de pesquisa.
A perspectiva humanista defende a dimenso subjetiva e a experincia vivida
pelo indivduo e pelos grupos sociais, considerando em sua anlise os sentimentos e
a compreenso das relaes entre o homem e seu mundo. Dessa forma, os estudos
da relao ontolgica entre Deus, o homem e o espao torna-se possvel.
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28
Rosendahl (1996, p. 11) afirma que a Geografia e a religio se encontram
atravs da dimenso espacial; uma porque analisa o espao, a outra porque, como
fenmeno cultural, ocorre espacialmente. Tanto o fenmeno cultural como o
religioso tm recrutado a ateno do gegrafo, que observa a transformao e
atuao do homem nas relaes sociais contribuindo em todas as categorias
geogrficas. A religio gera novos desafios para a Geografia pela dinmica
significativa da transformao no espao.
Bonjardim (2014, p. 53 a 63), em sua tese intitulada Sob o Domnio da Cruz:
a construo de um territrio e patrimnio cultural em Sergipe, faz um caminho para
identificar a relao da Geografia com a religio. Ela cita vrios autores que
contriburam para a construo dos variados conceitos e abordagens do fenmeno
como objeto de anlise da Geografia.
Quadro 01- A Construo da Geografia da Religio
Autores Contribuies
Deffontaines
(1948) Investigou as relaes entre as culturas e suas representaes
concretas no espao. Defendeu que a religio interfere nas escolhas
dos locais de povoamento e, por isso, estudou as habitaes
religiosas para a vida, para a morte e para as divindades, os meios
de deslocamentos, os obstculos que a religio impe aos gneros
de vida que surgem, etc.
Sorre (1957) Abordou as atividades religiosas e a influncia no espao. Incorporou
conceitos fundamentais para o nascimento, desenvolvimento e
consolidao do estudo da Geografia da religio.
Sopher
(1967) Seu estudo pautado nas paisagens e nas marcas da religiosidade,
classificando-as em grupos tanto na paisagem quanto na estrutura e
formas sagradas, organizao, distribuies espaciais, smbolos
religiosos na paisagem, etc. Desenvolveu a discusso do territrio
religioso ao tratar da organizao religiosa mundial, afirmando que
toda religio tem um territrio e se organiza a partir de um centro
mundial na expanso e dominao do espao sagrado.
Buttner
(1974) Escreveu o artigo Religion and geography: impulses for a new
dialogue between religions wissenschaftlern and geography, marco
para a consolidao dos estudos da religio na Geografia. Para ele,
o gegrafo da religio devia ir alm da paisagem e das relaes do
visvel.
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Moraes
(1989) Para o autor nessa poca, (...) o objeto de toda cincia (...) seria
aproximar o homem da divindade pela observao (...), a cincia
possui um dado de revelao. A religio era o todo e o todo a criao
de Deus.
Eliade
(1992) Para ele, o homem religioso e a natureza nunca so exclusivamente
naturais: est sempre carregada de um valor religioso.
Claval
(1992) Enfatizou que os gegrafos da religio deveriam priorizar o universo
das representaes mentais para compreender e explicar como elas
se inserem na paisagem e influem na organizao do espao dos
homens.
Fickeler
(1999) Todas as religies criam uma representao na paisagem, que so
espacial e temporalmente perceptveis por meio de eventos mgicos
ou simblicos. As religies devem ser consideradas sob o olhar, pois
marcam a paisagem nas cores, sons, smbolos, orientaes,
posies, influenciando na formao de territrios definidos.
Fonte: BONJARDIM (2014) ORG: SILVA, E. F.C.
Neste contexto observamos o quanto a Geografia tem a contribuir para a
compreenso dos fenmenos religiosos, seja atravs de suas espacialidades
sagradas ou vivncias cotidianas.
Se pretendermos, enquanto gegrafos, compreender, explicar e transformar o mundo a partir da Geografia acreditamos que o espao das religies torna-se indispensvel nesse processo de conscientizao e construo da cidadania, uma vez que a religiosidade e as religies so elementos integrantes do espao geogrfico (SANTOS, 2002, p. 5).
Como elementos integrantes do espao das religies, constroem vnculos de
participao, laos de amizades, valores religiosos e culturais. Nos construtos da
vida, entrelaam-se em todas as aes. Quando se tem uma amizade por meio de
laos religiosos, essa relao no se restringe ao territrio do sagrado, mas tende a
estender-se a outros vnculos. Por isso, torna-se invivel discutir as diversas
atuaes no campo religioso sem retratar as intervenes geogrficas.
Durkheim (1996, p. 16) posiciona que as representaes religiosas so
representaes coletivas que exprimem realidades coletivas, fazem parte intrnseca
de uma teoria da religio, ou melhor, de uma teoria do fato religioso. Nunes (2007,
p. 62) afirma que a religio para Marx, Durkheim e Weber apresenta-se como um
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problema a ser analisado para o entendimento da sociedade. J Gil Filho (2008, p.
24) refora que devemos Durkheim a autonomia das representaes sociais dos
parmetros puramente psquicos de sua gnese, nos quais tais representaes
seriam a prpria trama da vida social, tanto o indivduo como grupos sociais.
Bezerra (2012, p. 62) afirma que Durkheim e Weber consideram a religio
permanente, mesmo que no eterna. O interesse de Durkheim pela religio se deve
a sua compreenso da sociedade como realidade moral, expressa em forma
religiosa. Ainda na viso de Bezerra (2012, p. 62), Marx entende religio a partir dos
modos de produo e como uma realidade histrica que depende do
desenvolvimento das condies materiais de vida e da conscincia dos indivduos.
Para ele, a religio desaparecer dada a evoluo dos processos histricos e da
conscincia individual.
Eliade (2010) remete s relaes simblicas com as quais o homem religioso
impregna de significado o mundo. O autor indica o termo hierofania, que
corresponde prpria revelao de algo sagrado e possui um quadro de referncia
abrangente. Ele vai alm e estuda o fenmeno religioso, que transcende o
tempo/espao, e coloca como essencial os fenmenos histricos, a importncia de
se conhecer os mitos, ritos e smbolos que promovem uma volta as origens. Eliade
interroga a mitologia dos povos que tiveram diferentes influncias na histria da
Grcia, Egito, ndia para compreenso do homo religiosus. Ele busca as ligaes
que envolvem a experincia do sagrado e o que leva a contemplar o fenmeno da
religiosidade. Na viso de Eliade (1995, p.30), o homem percebe o sagrado, pois
ele um ato de manifestao.
Gil Filho (2007, p. 207), no artigo intitulado Geografia da religio:
reconstrues tericas sob o idealismo crtico, cita que a Geografia da religio foi
sistematizada como subdisciplina da Geografia humana clssica centrada na anlise
da distribuio geogrfica das religies na frequncia espacial que tem por objeto o
fenmeno religioso visto como um espao de relaes objetivas e subjetivas
consubstanciadas em formas simblicas mediadas pela religio. O autor mostra que
o fenmeno requer uma cognio especial, ou seja, necessrio ter sensibilidade
para captar suas caractersticas mais sutis e assim penetrar nos seus sentidos
ltimos e compreender o que dizem. Toda essa anlise de Gil Filho (2007) feita
sobre a fenomenologia elaborada por Cassirer (1944) e consiste na construo da
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realidade intuitiva. A anlise inicia-se com a diviso dos fenmenos sensveis e,
dessa forma, ao fenmeno individual atribudo um sentido especfico
correspondente ao centro de orientao sendo que o conhecimento objetivo est
ligado expanso deste processo em outras realidades.
Gil Filho (2007, p. 218) marcou o espao sagrado como conjunto de
significaes atribudas pelo homem religioso, apontando para uma radicalidade da
fixao espacial de suas experincias religiosas. Neste caso, o espao confere a
base da formulao das categorias do discurso antropolgico tanto sob seu aspecto
sensvel como seu aspecto inteligvel. So trs as categorias trabalhadas:
i) Espacialidade concreta de expresses religiosas: o espao sagrado
apresenta marcas distintivas da religio, conferindo-lhe as
singularidades peculiares aos mundos religiosos. Prprio do mundo da
percepo, os smbolos religiosos cumprem o papel da objetivao na
construo do mundo religioso. O espao sagrado permite que vrios
elementos religiosos possam ser postos em relaes mtuas; ele
estrutural, enquanto o profano apenas funcional.
ii) Na segunda espacialidade, a do pensamento religioso, o espao
sagrado apresentado no plano da linguagem na medida em que as
percepes religiosas so conformadas a partir da sensibilidade nas
formas tempo e espao. As coisas religiosas so configuradas como
formas da intuio explicitadas rumo s representaes e a linguagem
desempenha a funo lgica de conectar o mundo dos fatos ao mundo
dos smbolos. As representaes so identificadas pelo esquema da
linguagem tornando-as inteligveis em termos espaciais. O espao
sagrado forjado nas representaes de um espao das religies.
iii) A espacialidade das referncias simblicas refere-se a um espao
propositivo e sinttico que articula o plano sensvel ao plano das
representaes pelo conhecimento religioso e manifesto pelo homem
religioso em um complexo de convices hierarquizadas relacionadas
tradio e ao sentimento religioso.
No contexto de nosso objeto de estudo, a categoria territrio indispensvel
para entendermos as relaes que acontecem no fenmeno religioso que constitui a
JMJ, organizada por uma instituio to antiga como a Igreja Catlica, com
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estruturas hierarquizadas e especializadas para um fim. No dicionrio Aurlio, a
definio de territrio expressa:
Grande extenso de terra. rea de um pas, de um Estado, de uma cidade etc. rea de um pas sujeita a uma autoridade, a uma jurisdio qualquer: o territrio de uma regio militar. Espao terrestre, martimo, areo, sobre o qual os rgos polticos de um pas exercem seus poderes (FERREIRA, 2001, p. 670).
Durante muito tempo essa definio foi vlida para a Geografia, sendo o
territrio como rea e como elemento poltico para acoplar suas pores de terra.
Gottmann (2012), em seu artigo Evoluo do Conceito de Territrio, aborda desde
os conceitos trazidos por Plato em sua obra Leis, na qual h a ideia do controle
da populao em uma determinada rea isolada. A populao estaria agrupada no
centro do territrio e as relaes exteriores e as relaes de trocas estariam sob
responsabilidade de funcionrios pblicos; assim, percebe-se que sua teoria alegava
um alto grau de isolamento e intentava promover uma poltica para aliviar as
presses do crescimento populacional (MORAES, 1990, p. 74). Tais afirmaes
traduzem a doutrina do isolamento e constituem uma das teorias que envolvem o
territrio enquanto rea poltica e de dominao de um grupo. J Aristteles, aluno
de Plato, postulou que um territrio deveria ser de difcil acesso para o inimigo e
de fcil egresso para os habitantes.
Gottmann (2012) afirma que a repartio poltica que definia os territrios
permaneceu por muito tempo baseada em sistema de lealdade, seja relacionada
f religiosa, como nas divises entre o mundo Cristo e Islmico, seja ligada as
relaes entre indivduos, numa escala local, especialmente aquela do sistema
feudal. Assim, o termo territrio foi usado para definir a jurisdio ou a economia das
unidades governamentais como as cidades livres, os feudos e os reinos.
Essas definies foram se adaptando ao longo dos sculos e Saquet (2007),
em seu artigo intitulado As diferentes abordagens do territrio e a apreenso do
movimento e da materialidade, fez um resgate da reelaborao do conceito de
territrio. Por meio de Corra (1995), ele salienta que no perodo de 1870 e 1950, a
geografia denominada tradicional privilegiou os conceitos de paisagem e regio com
destaque para os aspectos descritivos da dinmica socioespacial. Neste perodo,
estava centrado o iderio do positivismo (emprico e lgico) e do historicismo.
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Neste contexto em que dominavam as produes sobre paisagem e regio,
Ratzel trouxe para a Geografia e para as cincias humanas o debate territorial
presente at ento somente nas cincias ditas naturais. Ratzel (1990) dividiu a
Geografia em trs grandes campos de pesquisa: a Geografia Fsica, a Biogeografia
e a Antropogeografia. Mas foi na Geografia do Homem, na Antropogeografia, que
ele dedicou a maior parcela de seu trabalho e nela o estudo da formao dos
territrios. No texto O povo e seu territrio, editado por Moraes (1990), Ratzel
evidencia que no possvel conceber um Estado sem territrio e que certo que a
considerao sobre o solo se impe mais na histria do Estado do que na da
sociedade.
Um dos fundamentos de indagao dos gegrafos nesse momento foi a
influncia que as condies naturais exerciam sobre a humanidade. Desse modo, a
evoluo das sociedades seria o objeto primordial da pesquisa antropogeogrfica.
Na evoluo da produo geogrfica, a categoria territrio perpassa por
vrias acepes; o que antes era valorizado pelo acumulo de reas, motivos de
guerras e invases, objeto de uma nova histria e toma novas dimenses, alm do
valor econmico e territorial propriamente dito, como nos revela Crespo (2010, p. 2):
O conceito de territrio, devido sua flexibilidade e ao seu carter multidimensional e multiescalar, representa uma ferramenta perfeitamente apropriada nos dias de hoje. Ele pode ser utilizado tanto para analisar produes econmicas ou polticas do espao (na sua perspectiva material), como tambm outras formas de relacionamento do homem com seu meio, tais como a religiosidade, a cultura ou as manifestaes tnicas (na sua perspectiva idealista).
O estudo do territrio pode valorizar, portanto, outras dimenses como os
espaos vividos e sua flexibilizao e ressignificao, sintetizados por Haesbaert e
Limonad (1999, p. 20) em trs vertentes bsicas:
i. A vertente poltica, que se refere ao espao do poder e a todas as relaes
espaciais. O territrio visto como um espao delimitado e controlado, relacionado
ao poder poltico do Estado.
ii. A vertente cultural, que prioriza a dimenso simblica e mais subjetiva em que o
territrio visto, sobretudo como produto da apropriao e valorizao simblica em
relao ao espao vivido.
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iii. A vertente econmica, menos difundida, que enfatiza a dimenso espacial das
relaes econmicas. Nessa vertente, o territrio compreendido como fonte de
recurso e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relao capital-
trabalho como produto de diviso territorial.
Haesbaert (2012, p. 122) cita Deleuze e Guattari (1997, p. 218), que afirmam
que o territrio cria o agenciamento. O territrio excede, ao mesmo tempo, o
organismo, o meio e a relao entre ambos; por isso, o agenciamento ultrapassa
tambm o simples comportamento.
Saquet (2010, p.111) discute o territrio como um conjunto de relaes
realizadas pelo homem na natureza compreendendo os ambientes naturais
construdos em sistemas a partir dos pressupostos filosficos da Fenomenologia,
que estuda grupos, comunidades, percepes/sentimentos do territrio, sua
organizao e seus signos. Em seu livro Abordagens e concepes de territrio, o
territrio e a territorialidade so produto do entrelaamento entre os sujeitos de cada
lugar com o ambiente e com os indivduos de outros lugares, sendo o territrio uma
construo coletiva e multidimensional. Nesse sentido, valoriza a importncia do
trabalho social e as representaes que so elos entre sociedade e natureza e a
dupla dimenso do homem.
Em se tratando de instituio, segundo Sack (1986), a Igreja Catlica controla
diferentes tipos de territrio, identificados em dois tipos primordiais:
O primeiro inclui os templos, os cemitrios, os pequenos oratrios beira da estrada e os caminhos percorridos pelos peregrinos que so, entre outros, os meios visveis pelos quais o territrio reconhecido e vivenciado; o segundo inclui sua prpria estrutura administrativa. A Igreja Catlica Apostlica Romana vem mantendo uma unidade poltico-espacial. Estamos nos referindo aos territrios demarcados, onde o acesso controlado e dentro dos quais a autoridade exercida por um profissional religioso. O territrio religioso constitui-se, assim, dotado de estruturas especficas, incluindo um modo de distribuio espacial e de gesto de espao. A hierocracia inscreve-se nos edifcios da Igreja, lugares sagrados, parquias e dioceses (SACK, 1986, p.102).
No caso do evento da Jornada Mundial da Juventude, o caminho percorrido
pelos peregrinos foram os bairros, as exposies, os museus, o Cristo Redentor, as
feiras, estdios etc. Contou com a participao dos peregrinos de vrios lugares do
mundo, num total de 175 pases inscritos, e que se alojaram por toda a cidade do
Rio de Janeiro e no entorno em chcaras e em cidades como Niteri, o que explicita
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a influncia da igreja em planejar e conseguir construir os territrios, mesmo que
por pouco tempo.
Para Rosendahl (2001, p. 21), o espao sagrado representa um campo de
foras e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, que o
transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existncia. Para Gil
Filho (2008, p. 111), a territorialidade do sagrado, seria a percepo das limitaes
imperativas do controle e da gesto de determinado espao sagrado por parte de
uma instituio religiosa. O autor ressalta tambm as relaes de poder, do controle
e da gesto do espao sagrado, que so, em ltima anlise, os laos de coeso que
estruturam a territorialidade e objetivam o territrio sagrado.
As vivncias e prticas durante a JMJ influenciaram toda uma populao em
suas prticas e vivncias. Foi decretado feriado na cidade do Rio de Janeiro para
que todos pudessem se deslocar e tambm foi criada a Lei n 12663 de 05 de junho
de 2012, que disps sobre as medidas relativas Copa das Confederaes FIFA
2013, Copa do Mundo FIFA 2014 e Jornada Mundial da Juventude de 2013.
Essas mudanas corroboraram com as consideraes de Rosendahl (2001, p. 10)
ao afirmar que: acontecimentos importantes induzem a uma transformao; mesmo
que seja visto como recuo ou avano, o territrio modificado aparecendo como o
que melhor corresponde afirmao do poder.
E, neste contexto h vrios sinais de f fixados no tempo atravs dos
calendrios litrgicos e regionais. Rosendahl (2001, p. 23) categoriza um tipo
particular de hierocracia, o poder do sagrado, que se manifesta espacialmente por
uma organizao territorial. Ao reconhecer a instituio religiosa como agente,
necessrio considerar a forma e a intensidade do poder desse agente. Esse poder
pode se d de vrias maneiras atravs de instituies ou da organizao do prprio
povo. Por isso a importncia em se analisar a convivncia, como nos relata Crrea:
Analisar sua participao no territrio sagrado, e perceber as relaes construdas ao longo do tempo, nos espaos distintos e nas instituies que influenciam a formao cultural de um povo. A criao de novos territrios, bem como a fragmentao ou a fuso de outros envolve inmeras localizaes regionais, nacionais e internacionais, a semelhana do papel tambm exercido pelas grandes corporaes (CORRA, 1997, p. 20).
A Jornada Mundial da Juventude promoveu um encontro que abarcou as trs
escalas: local, regional e internacional. Sua elaborao j foi pensada como um
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evento grandioso, com participao de diferentes povos e culturas em um nico
lugar. Alm disso, a promotora desse evento uma das instituies mais antigas, a
Igreja Catlica Apostlica Romana, que domina diferentes territrios atravs de
doutrinas, da construo de templos, cruzeiros, escolas, universidades, de uma
paisagem simblica presente em todo o mundo representada por nomes de cidades,
ruas, comrcios, meios de transporte, etc.
Nosso estudo busca analisar as relaes vividas e percebidas, relaes essas
que na Geografia tomamos como territorialidades. A territorialidade defendida por
Sack (1986) deve ser reconhecida como uma ao, uma estratgia de controle. J a
territorialidade religiosa
(...) significa o conjunto de prticas desenvolvidas por instituies ou grupos no sentido de controlar um dado territrio, onde o efeito do poder do sagrado reflete uma identidade de f e um sentimento de propriedade mtuo. A territorialidade fortalecida pelas experincias religiosas coletivas ou individuais que o grupo mantm no lugar sagrado e nos itinerrios que constituem seu territrio. De fato, pelo territrio que se encarna a relao simblica que existe entre cultura e espao (ROSENDAHL, 2005, p. 07).
no territrio encarnado de relaes simblicas da JMJ que observamos o
fortalecimento das experincias religiosas. O caminho foi extenso, com a ocupao
de diferentes locais por meio de roteiros tursticos da vivncia e da influncia dos
valores cristos. As redes sociais propiciaram tambm uma vivncia com pessoas
de outros pases que, atravs dos sites, informavam sobre o andamento da Jornada.
Saquet (2010, p.118), ao tratar sobre territrios e territorialidades, destaca
que:
(...) o territrio e a territorialidade so produtos do entrelaamento entre os sujeitos de cada lugar, deste com o ambiente e com os indivduos de outros lugares. (...) o territrio uma construo coletiva e multidimensional, com mltiplas territorialidades (poderes, comportamentos e aes).
A convivncia religiosa permitiu que as pessoas se deslocassem de seus
territrios habituais e construssem novos territrios; no caso deste evento, territrios
itinerantes, mas com grande simbologia religiosa na cultura e no espao. As
relaes construdas durante essas viagens e no perodo do evento renderam
muitas amizades, histrias, convivncias, geraram renda e fizeram histria, seja
atravs de suas vivncias, seja atravs de suas trocas, simbolizando a f e a
abertura de novos relacionamentos.
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Segalen (2005) e Mauss (2005), oferecem grandes contribuies s
discusses sobre a simbologia. Segalen (2005), no texto El rito, lo sagrado, el
smbolo, trata de conceitos como a diferenciao do profano e do sagrado, e
acredita que:
La nocin de sagrado es ambgua. Las fuerzas religiosas pueden ser benefactoras, guardianas del orden fsico y moral, dispensadoras de vida: cosas y personas santas que inspiran amor y reconocimiento. A la inversa, existen potencias malvadas e impuras. Estos dos aspectos opuestos de la vida religiosa estn estrechamente emparentados; ambos alimentan la misma relacin con los seres profanos (SEGALEN, 2005 p. 16 e 17).
Segalen (op.cit. p. 17) cita vrias vezes Durkheim a respeito do puro e do
impuro no serem dois gneros desconectados, mas variedades de um mesmo
gnero que engloba todas as coisas sagradas, com possibilidade de transmutao:
o que puro pode se transformar em impuro e tambm o inverso. Mauss (2002, p.
231), no livro Ensaios da Sociologia, em um captulo intitulado A Prece, evidencia
vrios aspectos como as razes de ocorrerem ritos: um rito s encontra sua razo
de ser quando se lhe descobre o sentido, isto , as noes que esto e estiveram na
sua base, as crenas s quais correspondem. O Quadro 02 ilustra os conceitos dos
autores sobre algumas categorias que mais se aproximam de nossa temtica, tais
como rito, ritual, signo, smbolo e mito.
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Quadro 02 - Os Conceitos de Categoria Simblica.
Rito Ritual Signo Smbolo Mito
MAUSS (2002) Atitude ou um ato realizado em vista
de coisas sagradas.
RAPPAPORT
(2001)
Se caracteriza como una
accin fuertemente
formalizada, estereotipada,
repetitiva etc.
Es uma representacin
cuyo carcter
representativo consiste en
una regla que determinar
su interpretacin.
Mito implica ritual, ritual
implica mito, son uno y el
mismo
TURNER (1974) So fases dentro do processo social
amplo cujo alcance e complexidade ao
tamanho e grau de diferenciao dos
grupos em que ocorrem.
Comportamento formal
prescrito para ocasies no
devotadas rotina, tendo
como referncia a crena em
seres ou poderes msticos.
a menor unidade do
ritual que ainda mantm as
propriedades especficas
do comportamento ritual
ELIADE (1998)
Los simbolos pueden
revelar una modalidade de
lo real o una estrutura del
mundo, que no son
evidentes en el plano de la
experincia inmediata.
Revela con mayor
profundidad lo que sera
imposible revelar a travs
de la experincia
racionalista
SCHWARZ
(2008)
Puede ser totalmente
arbitrrio, convencional,
seala generalmente
objetos o cosas
podemos tener acceso
diretamente.
Es una representacin
que hace aparecer un
sentido secreto; es la
epifania de un mistrio
Expressa una verdade que
revela la sacralidade, [...] le
da sentido y vitalidade
SEGALEN (2005) El rito se caracteriza por una
configuracin espacio-temporal
especfica.
ORG: SILVA, E. F.C.
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Pela anlise do quadro 02 percebemos ainda que esses conceitos contribuem
para o entendimento da dinmica social dos acontecimentos, dos conceitos que vo
se entrelaando e configurando novos sentidos para os fenmenos sociais e
religiosos. Como exemplificado por Bonnemaison (1981, p. 102), muitas vezes
pelo rito que uma sociedade exprime seus valores profundos e revela sua
organizao social, resgatando costumes antigos e criando novos de acordo com o
tempo.
Por meio dos diferentes olhares desses autores, observamos a importncia
desses conceitos para nosso trabalho, tendo em vista que o grande evento que se
constitui a Jornada Mundial da Juventude pode ser analisado por esses olhares.
Para Zanella (2006, p.01):
Evento uma concentrao ou reunio formal e solene de pessoas e/ou entidades realizada em data e local especial, com o objetivo de celebrar acontecimentos importantes e significativos e estabelecer contatos de natureza comercial, cultural, esportiva, social, familiar, religiosa, cientfica etc.
Todavia, os megaeventos so caracterizados pela
(...) grandiosidade em termos de pblico, mercado alvo, nvel de envolvimento do setor pblico, efeitos polticos, extenso de cobertura televisiva, construo de instalaes e impacto sobre o sistema econmico e social da sociedade anfitri (HALL, 2006, p.59).
Essas caractersticas nos fazem entender o nvel de abrangncia que os
megaeventos trazem por seu elevado grau de exigncia e de critrios com relao
mobilidade, segurana, alimentao, hospedagem, dentre outros.
Assim, percebemos a amplitude de ambos os conceitos, embora a JMJ, como
megaevento e por ser formal e solene, se diferencia pela abrangncia e nvel de
exigncia por meio das formas de envolvimento como o setor pblico e,
principalmente, pelo impacto social e econmico.
Outro ponto a ser discutido so as diferentes territorialidades construdas,
assim como o turismo, o qual no podemos negligenciar devido grande
participao do peregrino enquanto consumidor dos espaos oferecidos e dos
pontos tursticos visitados, gerando territorialidade, como nos explica o Saquet
(2009) em seu livro Leituras do Conceito de Territrio e de Processos Espaciais
atravs de uma citao feita por Soja.
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Territorialidade um fenmeno de comportamento associado organizao do espao e esferas de influncias ou territrios nitidamente diferenciados, considerando distintos e exclusivos, ao menos parcialmente por seus ocupantes ou pelo que os definem (SAQUET, 2009 apud SOJA, p. 41).
Como estamos analisando um fenmeno religioso, partimos do princpio que
a principal motivao dos participantes seja a f e que os deslocamentos na
atualidade para grandes eventos como estes podem ser analisados luz do turismo
na sua categoria turismo religioso que, para a Empresa Brasileira de Turismo
(EMBRATUR):
O turismo religioso configura-se pelas atividades tursticas decorrentes da busca espiritual e da pratica religiosa em espaos e eventos relacionados s religies institucionalizadas. Est relacionado s religies institucionalizadas tais como as de origem oriental, afro brasileiras, espritas, protestantes, catlica, compostas de doutrinas, hierarquias, estruturas, templos, rituais e sacerdcio. A busca espiritual e a prtica religiosa, nesse caso, caracterizam-se pelo deslocamento a locais e para participao em festas e comemoraes religiosas, apresentaes artsticas de carter religioso, encontros e celebraes relacionados evangelizao de fiis, visitao e espaos e edificaes religiosas (igrejas templos, santurios, terreiros e a realizao de itinerrios e percursos de cunho religioso e outros) (BRASIL, 2008, p. 19).
Observamos que o turismo religioso est em plena expanso e tem
chamado a ateno de estudiosos para este segmento. No entanto, esse tipo de
deslocamento configura-se como uma das prticas mais antigas, pois h registro de
deslocamentos para cultos e ritos desde os primeiros relatos escritos.
Dias (2003, p. 17) complementa que o turismo religioso:
Compreende romarias, peregrinaes e visitao e espaos, festas, espetculos e atividades religiosas. Como toda atividade turstica de modo geral, exige uma abordagem interdisciplinar, que contemple seus aspectos econmicos, sociais, espaciais e culturas envolvidos.
Desta forma, entendemos os participantes da JMJ como peregrinos. No
aspecto econmico, o turista insere-se como consumidor dos servios, dos
artesanatos, dos artigos religiosos, dentre outros. No aspecto social, o turista pode
usufruir da ambincia de congraamentos e encontros proporcionados pelos
eventos.
Dentre as atividades religiosas, a peregrinao est ganhando fora e
recebendo maior ateno do turismo religioso. Sobre isso, Lopes (2006, p. 18)
destaca que:
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A peregrinao a lugares sagrados uma das mais antigas formas de viajar. Na Grcia Antiga j ocorriam manifestaes do que podemos denominar de turismo religioso, com peregrinaes para regies como Delfos, [...] Durante a Idade Mdia cresceram as viagens por motivaes religiosa, peregrinaes a lugares santos como Roma, Jerusalm e Santiago de Compostela. Em outras partes do mundo ocorriam peregrinaes a lugares santos promovidos por hindus, budistas, mulumanos e outras crenas.
Essa prtica antiga se mantm como instrumento de f de vrias religies,
arrastando multides para lugares sagrados que se transformam nas datas
especiais. A peregrinao teve um fator marcante na Jornada Mundial da Juventude,
pois foi um pblico totalmente de peregrinos que comps esse cenrio. Como
participante, pude observar que, apesar de ser uma das formas mais antigas de
viajar, a tradio permanece muito viva nos locais sagrados; nesse caso, para o Rio
de Janeiro, que se transformou em local de encontro de jovens vindos de muitos
pases de todos os continentes. Nessa perspectiva, a Geografia tem grandes
contribuies de anlise devido produo de um espao gerado por um fenmeno
religioso.
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Os canteiros: o caminho da pesquisa
Voc tem contato com os peregrinos que conheceu? pessoal ou
religioso? Os dois; quando voc da igreja e assume isso para sua
vida, o pessoal est no religioso vivemos na totalidade (V. C. P. S
estudante, 28 anos).
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2 OS CANTEIROS: O CAMINHO DA PESQUISA
Os canteiros so formas que damos terra, que fica espera de uma
semente. Desta forma, esse captulo traz os esforos em abrir caminhos e oferecer
ferramentas para relacionar o terico e o emprico, e expe os aportes tericos
metodolgicos para as anlises que foram construdas no decorrer do trabalho.
Para que seus resultados sejam satisfatrios, a elaborao de uma
metodologia de pesquisa necessita de planejamento cuidadoso e reflexes
conceituais slidas. Baseamo-nos na Fenomenologia por abranger a essncia dos
fenmenos, ultrapassando suas aparncias imediatas. O pensamento
fenomenolgico traz para o campo de estudo da sociedade o mundo da vida
cotidiana, onde o homem se situa com suas angstias e preocupaes
(GOLDENBERG, 2007, p. 13).
Em nossa pesquisa trabalhamos com sujeitos participantes de um evento
religioso catlico que tem pilares e costumes tradicionais. Levando em conta o
fenmeno a ser estudado, optamos pela realizao de uma pesquisa qualitativa que
interpreta o fenmeno e tem o pesquisador como instrumento-chave em todo o
processo, do planejamento execuo e interpretao.
Ao estudar um problema social, utilizamos instrumentos variados tais como as
narrativas, a descrio e a histria, ancorados em procedimentos de captura
igualmente variados como dirio de campo, entrevistas, vdeos, fotos e sites e com
interpretao ancorada em anlise de contedo de Bardin (2011).
A pesquisa qualitativa , por vezes, criticada pelo carter subjetivista e
emprico de sua abordagem e, por esse motivo, exige do pesquisador a exposio
clara e minuciosa de seus procedimentos. Complementando as ideias anteriores,
autores destacam na pesquisa qualitativa o foco na interpretao dos fenmenos, as
abordagens de percepes, crenas, representaes, dentre outros, nas etapas de
levantamentos e, a observao, a entrevista, a histria oral e a pesquisa documental como
procedimentos importantes. (ALVES, MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2002)
importante salientar a eficcia da utilizao concomitante das abordagens
qualitativa e quantitativa para o melhor proveito das informaes necessrias para o
conhecimento, o reconhecimento e o envolvimento da/com a realidade, sobretudo
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porque a pesquisa se prope a encaminhamentos e sugestes a serem postos em
prtica (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 15).
Considerando esses pressupostos, a pesquisa em questo alude tambm a
um dos princpios da pesquisa qualitativa, que a descrio. A descrio tem como
vantagem possibilitar o conhecimento da realidade estudada, mas, sobretudo, a
anlise e o entendimento sobre o fenmeno analisado, nesse caso, a Jornada
Mundial da Juventude.
Analisando essas consideraes, de certo modo, esta tambm uma
pesquisa participante, pois foram feitas vrias observaes, elaborou-se um dirio
de campo e o contato do pesquisador com o objeto de estudo estabeleceu-se de
modo efetivo. O termo participante remete controvertida presena de um
pesquisador no campo de investigao formado pela vida cotidiana de indivduos,
grupos, comunidades ou instituies prximos ou distantes (SCHMIDT, 2006, p. 03).
2.1 Instrumental da pesquisa
Como j exposto, nossa pesquisa configura-se como qualitativa. Gil (2006)
classificaram os mtodos de acordo com a abordagem do problema em qualitativo e
quantitativo. A abordagem qualitativa volta-se aos aspectos da realidade que no
podem ser quantificados, ou seja, foca na interpretao e explicao das relaes
sociais e, por conseguinte, o pesquisador utiliza-se da variao e descrio
(LAKATOS; MARCONI, 2010).
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o
pesquisador como instrumento-chave. Com apoio terico na fenomenologia,
essencialmente descritiva e os resultados surgem numa totalidade que tem como
base a percepo de um fenmeno; por isso se utiliza de narraes, ilustraes,
fotografias, fragmentos e descrio, que buscam explicar a origem das relaes.
Com relao aos procedimentos, nossa pesquisa enquadra-se como
bibliogrfica e documental e ainda, segundo Gil (2006), ela explicativa, pois
procuramos aprofundar o conhecimento da realidade.
Para a realizao da pesquisa foram selecionados como instrumentos:
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i) Levantamento documental e levantamento fotogrfico;
ii) Entrevistas;
iii) Dirio de campo, observao;
Na etapa de levantamentos procedeu-se pesquisa em sites internacionais e
sergipanos referentes imagem e como o mundo divulgou a Jornada Mundial da
Juventude. Foram selecionados seis jornais internacionalmente renomados: os
jornais franceses Le Monde e Le Fgaro, o jornal ingls The Guardian, o espanhol El
Pas, o norte-americano The New York Times e o italiano Corriere Della Sera. Foi
elaborado um quadro composto por ttulo, resumo da matria, site e nome do
jornalista. Sua consecuo contribuiu para verificar como a imprensa internacional
divulgou esse evento e a imagem do Brasil. Tambm procedemos a pesquisa
documental em sites de Sergipe, no Jornal da Cidade e em outros jornais digitais. O
levantamento consistiu no fichamento de todas as matrias veiculadas no perodo de
22/12/2011 a 04/09/2013 no Jornal da Cidade, e nos sites com informaes locais
sobre os peregrinos sergipanos que se deslocaram para Jornada Mundial da
Juventude.
Todas as referncias bibliogrficas utilizadas serviram para dialogar e alinhar
as formas de experincia: a narrativa traduziu os acontecimentos do evento; a
construda evidenciou os territrios itinerantes, que se fez e se desfez, e a discutida
que traduziu a reviso bibliogrfica e os resultados encontrados.
Utilizamos a fotografia como instrumento metodolgico no levantamento das
imagens e na descrio do ritual durante todo o perodo do evento:
Cada foto um momento privilegiado, convertido em um objeto diminuto que as pessoas podem guardar e olhar outras vezes. (...) Se olhada com cuidado, se trata de uma imagem repleta de significaes e boa para pensar (SONTAG, 2004, p. 28).
Em nossa pesquisa contamos com um rico acervo de fotos captadas em
campo durante o perodo do evento por outros participantes que cederam
generosamente, alm da busca na internet. As fotos serviram para enriquecer e
visualizar os detalhes, os fatos e os rituais ocorrentes na JMJ: Trata-se de um
dilogo mudo, subliminar, sensvel e inteligente, que, diante de uma foto ou de um
conjunto de fotos, gestado entre o nosso olhar e a nossa mente (KOSSOY, 2007,
p. 147-148).
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A entrevista foi outro instrumento importante para a investigao e a
interligao com as categorias escolhidas. Sobre a importncia da entrevista
destaca-se:
(...) a entrevista face a face uma situao de interao humana, em que esto em jogo percepes do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretaes para os protagonistas: entrevistador e entrevistado (SZYMANSKI, 2002, p. 12).
Por meio deste instrumento (Apndice A), pudemos observar as diferentes
experincias e a percepo dos sujeitos. Como nos evidencia Ferrari (1982), o campo
possibilita intuir sobre determinada comunidade, sociedade, instituio e grupo social,
o que oferece uma representao mais completa e mais real dos fatos que tendem a
caracterizar o problema.
O tipo de entrevista escolhido foi a entrevista estruturada, uma das mais
utilizadas para levantamentos sociais, segundo Gil (1994), por possibilitar tambm o
tratamento quantitativo dos dados. A entrevista, composta de 17 questes, foi
sistematizada de acordo com o um roteiro de evento religioso, com perguntas
abertas e semi-estruturadas. Colognese e Mlo (1998) conceituam entrevista como
(...) uma tcnica de obteno de informaes realizada por meio de uma
conversao interesseira, atravs dela podemos, fazer novos direcionamentos, e
conhecer sujeitos e seus comportamentos.
As questes do roteiro foram subdividida em quatro contedos com
caractersticas distintas e que foram analisada luz da abordagem de contedo
desenvolvida por Bardin (2011). Compe o roteiro de entrevista:
i. perfil;
ii. motivaes para a Jornada e os espaos frequentados;
iii. os territrios sagrados e a participao como turistas;
iv. sensaes, religiosidade, apreenso, cidadania, solidariedade, trocas.
A realizao das entrevistas compreendeu a etapa do trabalho que
dispensou maior tempo e dedicao. O espao de aplicao dos questionrios foi
diversificado e os mais significativos foram os eventos como congresso da
renovao, carnaval, DNJ, Comunidade Cano Nova, Comunidade Schalom,
Universidade, praas, casa dos peregrinos, Parquia Senhor do Bomfim e Sagrada
Famlia, biblioteca, escolas, caladas, praas, restaurante, ou onde avistasse um
peregrino com a mochila nas costas. As entrevistas realizadas foram transcritas,
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considerando os que participaram da JMJ e dois que receberam peregrinos
franceses em Poo Redondo/SE enviados pela Diocese de Propri; ressalta-se,
entretanto, que esses dois sergipanos que receberam os estrangeiros no se
deslocaram para o Rio de Janeiro.
As entrevistas aps transcritas foram enviadas via e-mail para avaliao do
entrevistado. Dez responderam dizendo que no tinha nada acrescentar; trs
pediram para acrescentar algumas informes; os outros no se manifestaram.
Houve uma tentativa pelas redes sociais e correio eletrnico de entrevistar pessoas
da JMJ do Rio de Janeiro que receberam peregrinos estrangeiros; a moradora que
escolhi tinha recebido uma peregrina da Crocia. Ela se disponibilizou para
responder o roteiro de entrevista, mas o envio das respostas no aconteceu. Aps a
quarta cobraa das respostas desistimos. Houve tambm a tentativa de entrevistar
peregrinos estrangeiros, mas as respostas no foram enviadas. Reconsiderando os
pressupostos da pesquisa qualitativa e as especificidades do objeto de estudo, a
unidade de referncia nessa pesquisa considerou o que denominamos de sujeitos
da amostra. Apreende-se como sujeito:
quele a que se investiga em qualquer empreeendimento em que o ser humano o objeto de estudo numa acepo filosfica no qual sujeito significa (...) o eu enquanto realidade pensante, em contraposio ao objeto pensante, em contraposio ao objeto pensado (TURATO, 2003, p.353/356).
A escolha pelo termo sujeito nesta concepo justifica-se em funo das
proposis tericas que fundamentam esse trabalho e sua relao com o processo
de composio dos territrios da JMJ (simblicos e religiosos) e, da conformao
dos espaos sagrados que se constituiram durante o perodo de sua realizao. A
amostra da pesquisa em questo configura-se como proposital, intencional ou
deliberada, conforme nos esclarece Turato (2003, p.356):
escolhida como aquela de escolha deliberada de respondentes, sujeitos ou ambientes, oposta a amostragem estatstica, preocupada com a representatividade de uma amostra em relao a populao total. O autor do projeto delibera quem so os sujeitos que comporo seu estudo, segundo seus pressupostos de trabalho.
A insero dos sujeitos foi definida em funo de serem peregrinos
sergipanos identificados pelas variveis como sexo, idade, religio, comunidades
religiosas e participantes da organizao do evento.
Ainda segundo Turato (2003), mesmo com uma diversidade de identidades
biodemogrficas ou psiculturais, os indivduos se encontram reunidos pelo que o
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autor chama de homogeneidade fundamental, ou seja (...) pelo menos uma
determinada caracterstica ou variavel comum a todos os sujeitos da amostragem:
a caracterstica chave que os une o prprio tema do trabalho. Nesse sentido, os
peregrinos sergipanos estabeleceu a homogeneidade fundamental dessa amostra.
Em relao ao dirio de campo, este foi elaborado com a observao que
ocorreu em todo o perodo de pesquisa: desde o reconhecimento do campo no
perodo da pr-misso, passando pelo perodo de realizao do evento e aps o seu
trmino, com vrios eventos como as festas dos padroeiros de Sergipe e a
comemorao de 1 ano da Jornada, o Dia Nacional da Juventude.
Trivios (1987) expe que observar no simplesmente olhar, mas, sim
destacar algo especfico num conjunto (objeto, pessoas), aferindo ateno a suas
caractersticas (cor, tamanho, entre outras). A observao permite que a dimenso
singular seja estudada em seus atos, atividades, significados e relaes para captar
a essncia. Esses foram os balizamentos para a construo de nosso dirio de
campo construdo nas etapas que j participamos, ou seja, antes, durante e aps a
JMJ.
Ainda sobre a observao, Silva e Mendes (2013) asseveram que ela se
baseia no registro das experincias vivenciadas pelo pesquisador, em que so
utilizados os sentidos para obter as informaes acerca da realidade pesquisada,
tornando-se indispensvel em nossa pesquisa.
Outro recurso que utilizamos foram as tirinhas e as charges para as narrativas
dos peregrinos que reforaram a territorialidade e deram oportunidade para
evidenciar conflitos, narrar as histrias e partilhar as vivncias.
As tirinhas buscam representar as cenas que narram de maneira esttica, cristalizando no papel, atravs de imagens e textos, as aes, gestos, emoes, falas, entonaes etc. que a compem. Para produzir todos esses efeitos de sentido, o autor se utiliza de recursos visuais como a fonte, [...] os traos que marcam tempo e movimento, os bales etc. (MAIA; PESSOA, 2012. p.10).
Com esse recurso, dinamizamos a leitura e valorizamos as histrias narradas,
com o simples trao e formas voltamos aos cenrios narrados pelos peregrinos, que
partilharam de suas territorialidades. Foi utilizada a charge em dois momentos
relacionados aos conflitos e problemas ocorridos durante a JMJ. Tratando-se da
Geografia, abre-se muitas possibilidades para os recursos visuais devido ao
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apanhado de temas sociais e crticos apresentados no evento. O gnero charge
articula as duas linguagens a verbal e a no verbal. Ela demonstra que o sentido
da comunicao construdo na oscilao entre o que se sabe, ou seja, o
conhecimento pblico e divulgado e os aspectos subentendidos(ALVES, 2013, p
420). Nesse sentido, utilizamo-nos da charge para revelar melhor os fatos narrados
pelos peregrinos sergipanos que sedimentaram nosso entendimento sobre os
conflitos e as vivncias.
2.2 Anlise dos dados
A anlise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que
possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigao
(GIL, 1994, p. 166). As anlises quantitativa e qualitativa das informaes
levantadas, sobretudo das entrevistas, foram feitas com base nos procedimentos da
anlise de contedo de Bardin (2011), norteadas pelas categorias territrio e
territorialidade. Os demais contedos, sobretudo os levantamentos documentais e
as anotaes do dirio de campo, tambm receberam tratamento analtico luz
dessas categorias.
Nesse sen