o campo da fé: territórios e territorialidades dos ... · parcial para obtenção de título de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO ELIÉTE FURTADO CECÍLIO E SILVA O Campo da Fé: Territórios e territorialidades dos peregrinos sergipanos na Jornada Mundial da Juventude. Rio de Janeiro 2013 São Cristóvão, 2016

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA - PPGEO

    ELITE FURTADO CECLIO E SILVA

    O Campo da F: Territrios e territorialidades dos peregrinos sergipanos

    na Jornada Mundial da Juventude. Rio de Janeiro 2013

    So Cristvo, 2016

  • Elite Furtado Ceclio e Silva

    O Campo da F: Territrios e territorialidades dos peregrinos sergipanos

    na Jornada Mundial da Juventude. Rio de Janeiro 2013

    Dissertao apresentada como requisito parcial para obteno de ttulo de mestre em Geografia banca examinadora do Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal de Sergipe

    Orientadora: prof. Dr Maria Augusta Mundim Vargas

    So Cristvo, 2016

  • Dedico este trabalho a minha me

    Que sempre esteve comigo.

    A Elite que foi guardi das

    Histrias dos peregrinos sergipanos

    Aos peregrinos sergipanos que buscam ao cu.

    Maria Augusta que trilhou junto esse caminho.

  • DECLARAO DE AMOR AO PAI ETERNO

    Minha vida um brevssimo segundo Minha vida um s dia que escapa e que me foge

    Tu bem sabes, oh meu Deus Tu bem sabes, oh meu Deus Para amar-Te neste mundo,

    no tenho nada mais que hoje. (Celina Borges)

    meu Pai, olha eu aqui de novo! Vim agradecer. Estou to feliz, mas to

    feliz, que quero lhe encher de beijos, pular em teu pescoo, rodopiar contigo, dizer

    aos quatro cantos o quanto te amo e o quanto sou grata a ti por me conceder tantas

    coisas que a mim so incapazes de acontecer por mritos prprios. Em meio a

    fraquezas, no duvidei de seu amor, de seus cuidados e de sua presena que

    caminha comigo, por isso meu grito de Hosana. Nenhuma teoria cientfica,

    zombarias, gracinhas, preconceitos religiosos ou mesmos as provaes do dia a dia

    conseguiram arrancar de minha alma nosso intenso e verdadeiro caso de amor.

    meu Pai, se soubessem o quanto bom ser amada de verdade, nunca te

    abandonariam por nada!

    Desejo a todos da academia, gegrafos e no gegrafos, um conhecimento

    verdadeiro daquele que enraza e traz experincias to belas que transforma por

    todo o sempre. Sabero, assim, que o poder edificante no aquele que prevalece

    e determina os territrios, mas aquele capaz de gerar mudanas e fazer a nossa e

    a vida dos outros melhor.

    Obrigada pelos grandes intercessores que abriram meus caminhos a Nossa

    Senhora que passou a frente e a So Miguel que me ensinou que no h ningum

    como Deus, ao meu anjo da guarda protegendo de todos os perigos. Aos santos

    que entregaram sua vida testemunhando sua f e como Santo Agostinho digo No

    basta fazer coisas boas preciso faz-las bem.

    Sabe meu Pai, nessa vida nunca me senti uma pessoa brilhante, comparada

    as outras daquelas que se destaca como a melhor estudante, a melhor profissional,

    a melhor amiga, enfim..., mas uma coisa eu sei admitir: o Senhor sempre colocou os

    melhores em minha vida, por isso quero agradecer imensamente pelos irmos de

    Cirene que encontrei e ajudaram meus dias serem melhores. Desta forma,

    referencio alguns para receber minha gratido e estendo tambm a todos os outros

    que fizeram parte no decorrer de minha caminhada at aqui.

  • A Fundao de Apoio a Pesquisa e a Inovao Tecnolgica do Estado de Sergipe

    FAPITEC- pela concesso de financiamento para realizao desta pesquisa.

    A minha famlia, com quem pude contar sempre, muito bom saber que tenho para onde

    voltar.

    De um modo muito especial minhas avs (in memorian) que tinha o dom de acolher, amar

    e reunir a todos.

    Me, obrigada por sua mo entrelaar na minha e me conduzir por caminhos seguros, por

    me apresentar um Deus to poderoso. Com sua simplicidade, testemunho e lutas,

    descortinei um mundo cheio de esperana. Te amoooo demais!

    A todos os meus irmos, em especial a Donizete que esteve sempre ao lado de minha me

    em minha ausncia. Que Deus lhe conduza sempre!

    A Roseane, Ana Lucia e Rosangela que me acolheram em suas casas. Vocs me deram

    oportunidade de um novo recomeo.

    A minha orientadora Maria Augusta pela acolhida em sua sala em 2011. Quem diria! J se

    foram 5 anos e tantas coisas aconteceram... Orientaes, trabalhos, eventos, celebraes,

    pesquisas e o fazer geogrfico. So vrios os motivos para agradecer.

    s professoras Josefa Lisboa e Vera Frana, Josefa Eliane que me deram a oportunidade

    de realizar um projeto de vida.

    professora Rosana Batista que me recebeu em sua disciplina e contribuiu muito para

    meu conhecimento. Grata pelo carinho e ateno.

    professora Sonia, aquela que entende de cores e sabores, obrigada pelo olhar atento e

    cuidadoso que dispensou em minha pesquisa.

    Ao professor Magno por fazer parte de minha vida acadmica. Um apaixonado por festa

    religiosa, que sabe tecer as palavras e tem um olhar sensvel s diferentes realidades.

    Obrigada pelas contribuies.

    A Douglas, o menino prodgio, Obrigada! pela ateno e competncia em fazer o mapa

    tanto quanto foi necessrio.

    A Auceia, obrigada pela sensibilidade s necessidades alheias. Voc foi o cuidado de Deus

    em minha vida.

    A Rodrigo e Angela, pelas contribuies no caminhar acadmico.

    A Solimar, Obrigada pela generosidade, e oportunidade de conhecer Sergipe.

    A Daniella Pereira, pela parceria acadmicas no turismo e na geografia.

    Ronilse, pelas contribuies nas leituras e participao em minha vida.

    Edvaldo, Obrigada pela prontido e generosidade durante o pesquisar.

    Ao grupo Sociedade e Cultura obrigada pela oportunidade de crescimento.

    A Izabela que com carinho e silncio me acompanhou pelo PIIC. Obrigada!

    Ivan por contribuir no PIIC e nas bibliografias

  • A Vanessa, obrigada pela oportunidade de pesquisas sergipanas.

    A Daniele Santos e Luam, obrigada pela consultoria diria.

    A Hebert e Marcos Obrigada pela transcrio, com competncia e seriedade.

    Rosana Eduardo, Fabiana, Mariana e Mirtes pela solicitude na elaborao e execuo

    do roteiro cultural. Juntamente com os monitores Moiss, Cyndiane e Hvida.

    A Cyndiane pelos belssimos desenhos produzidos com beleza e simplicidade.

    A Ctia, Fernando, Alexandre, Marlene que deixaram rastros de Deus em meu caminhar.

    A todos os padres que visitaram os pores de minha alma e irradiaram luz, (com o

    sacramento da reconciliao, pela sabedoria e direcionamento), de modo especial

    Pe. Videlson, um semeador que procura terra boa, mas no cansa de lanar sementes.

    Ao Pe. Anderson Pina que me ajudou a concretizar o roteiro cultural permitiu que o

    acompanhasse na visita a fraternidade, por estar conosco na pastoral universitria.

    Ao Daniel que permitiu acompanha-lo na programao que antecedeu a JMJ.

    Ao Grupo de Universitrios Catlicos. Caminhamos, sonhamos e realizamos...

    Ao Caminho de Luz pela oportunidade de me aproximar mais de Deus.

    As comunidades Shalom, Cano Nova, Obra de Maria, Fora Jovem do Discpulo

    Amado que abriram suas portas para minha pesquisa.

    equipe da secretaria Gil, Everton, France e Mateus, obrigada!

    Scheila- que contribuiu nas confeces das tabelas.

    Aos professores do PPGEO, que contriburam para meu conhecimento.

    A todos os autores que escreveram sobre o sagrado. obrigada por registrar sua

    experincia, de um modo especial Rosendahl e Gil Filho

    A todos os peregrinos sergipanos! orgulho de minha pesquisa que partilharam comigo

    sua f e o desafio de seguir novos caminhos. Seu testemunho fortificou minha f. Que Deus

    derrame copiosas bnos sobre vocs. Obrigada!

    Aldejanes, Alexandre, Aline, Ana Paula, Ana Pureza, Anderson, Ane Caroline, Anne

    Elise, Armando, Barbara, Breno, Carlos A, Carolina, Davi, Emanuela, Euza,

    Fernando, Fabricio, Gladson, Glauber, Helenilson, Ildaci, Italo, Ivalci, Jacilene,

    Jacira, Jackson, Jessica, Joo Vitor, Jose Fernandes, Jose Gilmar, Juciane, Juliane,

    Keciane, Layla, Laryssa, Leila, Leonardo, Luiz Gustavo, Luiz Henrique, Manuel,

    Marcelo, Marcos, Maria Aparecida, Maria Lilian, Marilia, Marines, Natan, Rogerio,

    Sandra, Tatiane, Thais, Thayane, Tabita, Vania, Victor, Vinicius, Wagner, Zerlaide

  • RESUMO

    Escolhemos para nosso estudo a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que ocorreu em julho de 2013 no Rio de Janeiro, por possibilitar a anlise sobre os territrios e as territorialidades construdas pelos peregrinos sergipanos nesse evento. Dessa forma objetivamos: Identificar os territrios sagrados que se fizeram e se desfizeram na JMJ; Apreender as territorialidades do movimento leigo sergipano e sua participao na JMJ bem como compreendermos o significado e as atitudes dos peregrinos sergipanos antes durante e aps a JMJ. A pesquisa configurou-se como qualitativa. Utilizamos de levantamentos documental e fotogrfico, dirio de campo e entrevistas. Durante a JMJ a f e a fora do cristianismo se materializaram em vrios territrios sagrados como o palco central na praia de Copacabana, as catequeses realizadas na parte da manh e, em mltiplos micro territrios da Feira Vocacional e da ExpoCatlica, onde o sagrado se manifestou. A JMJ foi importante para os peregrinos sergipanos que se mobilizaram, congregaram e construram redes de amizades. Ela proporcionou a organizao de comunidades missionrias em nvel local, como em Sergipe, e, o encontro de jovens e comunidade de jovens de vrias partes do Brasil e de pases de todos os continentes. Os peregrinos sergipanos participaram de vrias atividades sociais e culturais como intercmbios trocas de souvenires e tambm como turistas religiosos, sem, contudo se afastarem da condio de peregrino. Os peregrinos sergipanos se mantiveram motivados e comprometidos com as aes missionrias tanto que aps a JMJ, pudemos acompanhar as atividades por eles desenvolvidas em 2014 e 2015, no Dia Nacional da Juventude. Nesse sentido afirmamos a importncia religiosa, social e econmica das prticas e vivncias ocorridas durante a JMJ, no somente para os peregrinos sergipanos, mas tambm nas escalas regional e mundial. Palavras Chaves: Territrios; Territorialidades; Peregrinos; Jornada Mundial da Juventude.

  • RESUMEN

    Elegimos para nuestro estudio la Jornada Mundial de la Juventud (JMJ), que ocurri

    en julio de 2013 en Rio de Janeiro, por posibilitar el anlisis sobre los territorios y las

    territorialidades "construdas" por peregrinos sergipanos en este evento. De esa

    forma objetivamos: i. identificar los territorios sagrados que se hicieron y se

    deshicieron en la JMJ; ii. apreender las territorialidades del movimiento leigo

    sergipano y su participacin en la JMJ, as como comprender el significado y las

    actitudes de los peregrinos sergipanos antes, durante y despus de la JMJ. La

    investigacin se configur cualitativa. Utilizamos de levantamientos documental y

    fotogrfico, diario de campo y entrevistas. Durante la JMJ, la fe y la fuerza del

    cristianismo se materializaron en varios territorios sagrados como el escenario

    central en la playa de Copacabana, las catequesis realizadas en la parte de la

    maana y en mltiples micro territorios de la Feria Vocacional y de la ExpoCatlica,

    donde el sagrado se manifest. La JMJ fue importante para los peregrinos

    sergipanos que se movilizaron, congregaron y construyeron redes de amistades. El

    evento proporcion la organizacin de comunidades misioneras en nivel local, como

    en Sergipe, y el encuentro de jvenes y comunidades de jvenes de varias partes

    del Brasil y de pases de todos los continentes. Los peregrinos sergipanos

    participaron de varias actividades sociales y culturales como intercambios, cambios

    de souvenirs y tambin como turistas religiosos, sin, con todo, alejarse de la

    condicin de peregrino. Los peregrinos sergipanos se mantuvieron motivados y

    comprometidos con las acciones misioneras, tanto que, despus de la JMJ, pudimos

    acompaar las acciones desarrolladas por ellos en 2014 y 2015 en el Da de la

    Juventud. En este sentido, afirmamos la importancia religiosa, social y econmica de

    las prcticas y vivencias ocurridas durante la JMJ, no solamente para los peregrinos

    sergipanos, pero tambin en las escalas regional y mundial.

    Palabras clave: territorios; territorialidad; peregrinos; Da Mundial de la Juventud.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 Selos lanados em homenagem a JMJ Rio de Janeiro 2013

    65

    Figura 02 Peregrinao dos smbolos da JMJ pelo Brasil Bahia e Sergipe 2011

    67

    Figura 03 Peregrinao da cruz e do cone de Nossa Senhora Aracaju/Sergipe, 2013

    71

    Figura 04 Cruz da JMJ na catedral de Aracaju. Aracaju Sergipe, 2013 71

    Figura 05 Cruz da JMJ e o cone de Maria Peregrina no complexo penitencirio Municpio de Areia Branca Sergipe, 2013

    72

    Figura 06 Replica do Cristo Redentor em Aracaju Sergipe, 2013 74

    Figura 07 Coral da Missa na semana missionria na comunidade Madre Paulina. So Cristvo Sergipe, 2013.

    77

    Figura 08 Missa na semana missionria na comunidade Madre Paulina. So Cristvo Sergipe, 2013

    77

    Figura 09 Divulgao da acolhida aos peregrinos da JMJ em Poo Redondo Diocese de Propri, Sergipe, 2013

    79

    Figura10 Dia de Lazer com os peregrinos franceses - Canind de So Francisco, Sergipe, 2013

    81

    Figura 11 Dia de Lazer com os peregrinos franceses com a comunidade Obra de Maria em Canind de So Francisco Sergipe, 2013

    81

    Figura 12 Visita dos jovens da Parquia Santa Tereza, Fraternidade Toca de Assis Aracaju, Sergipe. 2013

    83

    Figura 13 Visita dos jovens da Paroquia Santa Tereza ao Museu da Gente Sergipana. Aracaju, Sergipe, 2013

    84

    Figura 14 Interao dos jovens da Paroquia Santa Tereza no Museu da Gente Sergipana Santa Tereza. Aracaju Sergipe, 2013

    84

    Figura 15 Peregrinos Mexicanos no aeroporto Internacional

    Galeo/Tom Jobim Rio de Janeiro, 2013

    87

    Figura 16 Carto de transporte e alimentao dos peregrinos da JMJ. Rio de Janeiro, 2013.

    89

    Figura 17 Kit dos peregrinos da JMJ Rio de Janeiro, 2013 89 Figura 18 Peregrinao dos jovens da JMJ para praia de

    Copacabana Rio de Janeiro, 2013

    100

    Figura 19 Peregrinos aguardando a Missa de abertura - Praia de 102

  • Copacabana. Rio de Janeiro, 2013 Figura 20 Flagelao de Jesus na Via Sacra Praia de Copacabana,

    Rio de Janeiro, 2013 106

    Figura 21 Cena dos jovens clamando pelos continentes na Via Sacra Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013

    106

    Figura 22 Jovens estudantes e cadeirantes na Via Sacra na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013

    107

    Figura 23 Tony Melendez atrao musical da viglia- na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013

    111

    Figura 24 Silncio e adorao na Viglia na - Praia de Copacabana Rio de Janeiro, 2013

    115

    Figura 25 Vista geral do acampamento aps a viglia Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013

    116

    Figura 26 Jovens estrangeiros animando noite praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013

    117

    Figura 27 Jovens estrangeiros aguardando a missa de envio. Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013

    117

    Figura 28 Pblico da JMJ na missa de envio Praia de Copacabana. Rio de Janeiro, 2013

    120

    Figura 29 Palco e altar da missa de envio de envio na Praia de Copacabana. Rio de Janeiro, 2013

    120

    Figura 30 Papa Francisco com lideres polticos na Missa de Envio na Praia de Copacabana. Rio de Janeiro, 2013

    122

    Figura 31 Coreografia Flasch Mob na Missa de Envio na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013

    123

    Figura 32 Bispo acompanhando coreografia Flasch Mob da missa de envio Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, 2013

    124

    Figura 33 Grupo de bal na Expocatlica Rio de Janeiro, 2013 130

    Figura 34 Produtos comercializados na Expocatlica Rio de Janeiro, 2013

    132

    Figura 35 Stand da Comunidade Cano Nova na Expocatolica. Rio de Janeiro, 2013

    132

    Figura 36 Stand do Estado de Sergipe na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013

    134

    Figura 37 Stand do Estado de Pernambuco na ExpoCatlica, Rio de Janeiro, 2013.

    135

  • Figuras 38 e 39 Stand do Estado da Bahia na Expocatlica. Rio de Janeiro, 2013

    136

    Figuras 40 e 41 Stand do Estado do Piau na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013

    136

    Figuras 42 e 43 Stands dos Estado do Paraba e Rio Grande do Norte na ExpoCatlica. Rio de Janeiro, 2013 .

    137

    Figuras 44 e 45 Stand do Estado do Cear na ExpoCatlica, Rio de Janeiro, 2013

    138

    Figuras 46 e 47 Stand do Estado do Par na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013

    139

    Figuras 48 e 49 Stand do Estado do Amazonas na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013

    140

    Figuras 50 e 51 Stand do Estado do Espirito Santo na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013

    142

    Figura 52 Stand do Estado do Rio de Janeiro na ExpoCatlica Rio de Janeiro, 2013

    142

    Figura 53 Stand do Estado de Mato Grosso do Sul na ExpoCatlica. Rio de Janeiro, 2013.

    143

    Figura 54 Stand do turismo religioso do Estado do Paran na ExpoCatlica Rio Center Rio de Janeiro 2013.

    143

    Figura 55 Stand do Estado do Rio Grande do Sul na ExpoCatlica

    Rio de Janeiro, 2013

    144

    Figura 56 Stand do Ministrio do Turismo na Expocatlica Rio de

    Janeiro, 2013

    Figura 57 e 58 Museu da Bblia na ExpoCatlica. Rio de Janeiro, 2013.

    Figuras 59 e 60 Peregrinos na Feira Vocacional na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, 2013

    153

    Figuras 61 e 62 . Smbolos dos padroeiros e baluartes na Feira Vocacional Quinta da Boas Vista Rio de Janeiro, 2013

    157

    Figuras 63 Tirinha: Situao que os peregrinos enfrentaram na JMJ 168

    Figura 64 e 65 Problemas ocorridos na JMJ relatados pelos peregrinos sergipanos Rio de Janeiro, 2013

    169

    Figura 66 Milhares de Jovens em direo Praia de Copacabana Rio de Janeiro, 2013

    170

    Figura 67 Milhares de jovens nas areias da Praia de Copacabana Rio de Janeiro, 2013

    173

  • Figura 68 Guaian Florena Pataxo Coroa Vermelha BA 175

    Figura 69 Jaqueline Silva Pataxo Coroa Vermelha- BA 175

    Figura 70 Encontro do Papa Francisco com ndios brasileiros Teatro Municipal. Rio de Janeiro, 2017

    176

    Figura 71 Charge: histrias narradas por uma peregrina sergipana 177

    Figura 72 Charge: histria narrada por um guia de caravana sergipano

    178

    Figura 73 Peregrinos hospedados na Quadra Acadmicos do Grande Rio. Rio de Janeiro, 2013.

    181

    Figura 74 Evento Ecummico na PUC do Rio de Janeiro que antecedeu a JMJ: Rio de Janeiro, 2013

    184

    Figura 75 Trilhas oficiais da JMJ ofertada aos peregrino Rio de Janeiro, 2013

    187

    Figura 76 Segurana nas ruas durante a JMJ. Rio de Janeiro, 2013. 192

    Figura 77 e 78 Eventos aps a JMJ na comunidade Shalom de Aracaju, Sergipe, Agosto de 2013

    193

    Figura 79 e 80 Comemorao da Comunidade Shalom de Aracaju, Sergipe, 2014.

    194

    Figura 81 Comemorao da Arquidiocese no Dia Nacional da Juventude Aracaju Sergipe, 2014

    196

    Figura 82 Comemorao da Arquidiocese no Dia Nacional da Juventude com Teatro, Shows e brincadeiras Aracaju Sergipe, 2014

    197

    Figura 83 Comemorao da Arquidiocese na Feira Vocacional no Dia Nacional da Juventude, Aracaju SE, 2014

    197

    Figura 84 Comemorao da Arquidiocese no Dia Nacional da Juventude atividades no Parque Tefilo Dantas Aracaju/Sergipe 2015

    198

    Figura 85 Comemorao da Arquidiocese Feira Vocacional no Dia Nacional da Juventude no Parque Tefilo Dantas Aracaju/Sergipe, 2015

    199

  • MAPA

    Mapa 01 Origem dos Entrevistados de Sergipe por Municpio 2015 52

    LISTA DE GRFICOS Grfico 01 Participao dos peregrinos sergipanos nas Jornadas 52

    Grfico - 02 Escolaridade dos peregrinos sergipanos 2013 53

    LISTA DE QUADRO

    Quadro 01 A Construo da Geografia da Religio 28

    Quadro 02 Os Conceitos da Categoria Simblica. 38

    Quadro 03 Anlise de Contedo 50

    Quadro 04 Sntese das reportagens internacionais da JMJ 58

    Quadro 05 Reportagens de sites jornais sergipanos da Jornada Mundial da Juventude. Rio de Janeiro, 2013.

    63

    Quadro 06 Itinerrio da cruz da JMJ e do cone de N Senhora 69

    Quadro 07 Programao da Semana Missionria em Aracaju 74

    Quadro 08 Significado da JMJ para os peregrinos sergipanos 91

    Quadro 09 Diferenas e semelhanas das Peregrinaes 98

    Quadro 10 Significados da Missa de abertura para peregrinos sergipanos

    103

    Quadro 11 Significados da Via Sacra para peregrinos sergipanos 108

    Quadro 12 Territrio da praia de Copacabana percebidos pelos peregrinos sergipanos

    119

    Quadro 13 Territrios da Expocatlica percebidos pelos peregrinos sergipanos

    150

    Quadro 14 Significados da Feira Vocacional para os peregrinos sergipanos

    162

  • SUMRIO

    INTRODUO 20

    1 O ARADO: BUSCANDO AS BASES PARA REFLEXO 27

    2 OS CANTEIROS: O CAMINHO DA PESQUISA 43

    2.1 Instrumental da pesquisa 44

    2.2 Anlises dos dados 50

    2.3 Perfil do peregrino sergipano 51

    3 TERRITRIO E TERRITORIALIDADES DA JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

    57

    3.1 Lanando sementes 56

    3.1.1 Divulgao/matrias - Propagao das sementes 56

    3.1.2 Alm dos Sinos 65

    3.1.3 Juntando as sementes 77

    3.2 O Germinar das Sementes 84

    3.2.1 Rio de Janeiro e a JMJ: ver e ouvir 84

    3.2.2 Peregrinos nos caminhos da JMJ 93

    3.3 Copacabana: um templo/ territrio que se faz e se refaz... 100

    3.3.1 A acolhida 100

    3.3.2 O caminho que se refaz 104

    3.3.3 No Silncio da Madrugada... Uma voz que fala 109

    3.3.4 O Recomear: a missa de envio 120

    4 EXPOSITORES E CONSUMIDORES: A MATERIALIZAO

    DA F 127

    4.1 Expocatlica 127

    4.2 A Feira Vocacional 150

    5 CUIDANDO DOS BROTOS 165

    5.1 Galhos em suspenso 167

    5.2 Enxertos, podas e outros relatos 172

    5.3 Relatos afins 177

    5.4 A colheita 192

    6 O OFERECER DOS FRUTOS: CONSIDERAES FINAIS 201

    Referncias 210

    Apndice 222

  • A religio, creiam os seus gratuitos adversrios, o mais slido alicerce das instituies sociais. H quase dezoito sculos escrevia Plutarco: Percorrei a terra, e achareis cidades sem muros, sem cincias, sem artes, e sem rei; povos sem habitaes fixas, sem uso, sem conhecimento da moeda, sem exerccios do corpo, sem teatros, sem espetculos: mas no encontrareis um s sem Deus, sem culto e sem sacrifcio (A CRUZ, n.8, p.60, 14-04-1890).

  • Introduo

    "Espero poder encontrar-vos daqui a dois anos, na prxima Jornada

    Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, Brasil. At l, rezemos uns

    pelos outros, dando testemunho da alegria que brota de viver

    enraizados e edificados em Cristo. At breve, queridos jovens", disse o

    papa, em portugus. ( Bento XVI despedida na JMJ de Madri)

    Vocs so tantos! Chegados de todos os continentes. Distantes, s vezes,

    no s geograficamente, mas tambm do ponto de vista existencial,

    cultural, social, humano. Mas hoje estamos aqui juntos, unidos para

    compartilhar a f e a alegria do encontro com Cristo, de ser seus

    discpulos. Esta semana, o Rio de Janeiro se converte no centro da

    Igreja, em seu corao vivo e jovem, porque vocs responderam com

    generosidade e entusiasmo ao convite que Jesus lhe fez. (Homilia na

    acolhida do Papa Francisco na JMJ do Rio de Janeiro, 2013)

  • 20

    INTRODUO

    Sou marcado desde sempre Com o sinal do Redentor,

    que sobre o monte, o Corcovado, abraa o mundo com Seu amor.

    Cristo nos convida: Venham, meus amigos

    Cristo nos envia: Sejam missionrios!1

    A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada entre os dias 23 e 28 de

    julho de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, foi considerada pelo RankBrasil (site de

    recordes brasileiros) o maior evento cristo at ento realizado no pas com a

    participao de 3,5 milhes de fiis. Ainda foi confirmado o recorde do nmero de

    turistas em uma nica cidade totalizando 2 milhes, dado da Prefeitura do Rio de

    Janeiro e do Ministrio do Turismo pelo levantamento feito em parceria com a

    Universidade Fluminense. Esse levantamento ressaltou que R$1,2 bilho circularam

    na economia da cidade pelo consumo dos peregrinos.

    A Jornada Mundial da Juventude foi criada em 1986 por Joo Paulo II. De

    acordo com a Igreja Catlica, viu-se a necessidade de aproximar-se mais dos jovens

    para renovao da f e da esperana, bem como professar a f catlica.

    A Jornada Mundial da Juventude a semana de eventos criada pela Igreja Catlica para os jovens e com os jovens. Ela rene milhares de jovens de todo mundo para celebrar e aprender sobre a f catlica e para construir pontes de amizade e esperana entre continentes, povos e culturas. Site disponvel em: publicado em : 25/07/2013 acesso em: 10/12/2015.

    A primeira JMJ ocorreu no mesmo ano de sua criao, em 1986, restrita

    Diocese de Roma, e contou com a participao de 400 mil jovens. A sequncia das

    Jornadas com especificao da cidade, pas, bem como o quantitativo de jovens

    participantes a seguinte:

    i) Buenos Aires (Argentina 1987); com a participao de 1 milho; ii)

    Santiago de Compostela (Espanha 1989) com participao de 600 mil; iii)

    Czestochowa (Polnia 1991) participao 1,5 milho; iv) Denver (Estados Unidos

    1993); com participao de 500 mil; v) Manila (Filipinas 1995) com 4 milhes; vi)

    1 Esperana do Amanhecer - Hino oficial da Jornada Mundial da Juventude, Rio, 2013

    Composio: Pe. Jos Cndido

  • 21

    Paris (Frana -1997) com participao de 1 milho; vii) Roma (Itlia 2000); com

    participao de 2 milhes, viii) Toronto (Canad 2002) com participao de 800

    mil; x)Colnia (Alemanha 2005); com participao de 1 milho; xi) Sidney

    (Austrlia 2008); com participao de 500 mil; xii) Madri (Espanha 2011) com

    participao de 2 milhes; xiii) Rio de Janeiro (Brasil 2013) com 3,5 milhes.

    Observa-se que a JMJ nessas 13 edies j ocorreu em 5 continentes, exceto na

    frica, e com duas edies na Amrica do Sul.

    Diante deste fenmeno religioso que cria e recria periodicamente espaos

    sagrados, optei por um tema imbricado com as questes que envolvem a Geografia

    da Religio: os territrios e as territorialidades na JMJ de 2013, no Rio de Janeiro.

    O Brasil, representado pelo Ministrio do Turismo e Embratur, tem divulgado

    muito no exterior o potencial do pas quanto s belezas naturais e sua cultura. A JMJ

    foi um megaevento que proporcionou ao Rio de Janeiro a experincia de receber

    milhes de pessoas em uma nica semana. Foi um perodo em que se investiu nos

    megaeventos pois, aps a JMJ, aconteceu a Copa do Mundo de Futebol (2014) em

    alguns Estados brasileiros, bem como as Olimpadas que acontecer em 2016.

    H um bom tempo esse evento suscitou em mim um grande interesse com a

    possibilidade de um trabalho comparativo entre a Jornada Mundial e as grandes

    festas religiosas de Sergipe. A Jornada Mundial da Juventude tem como

    caractersticas de suas construes/constituies os peregrinos que se deslocam,

    se movem e se fazem presentes pela f, mas tambm pela sociabilidade e pela

    curiosidade em conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas e, nesse

    sentido, constroem territrios sagrados.

    Os megaeventos sempre me impressionaram principalmente em se tratando

    de eventos religiosos. A dinmica da JMJ singular e difere de todos os outros, pois

    proporciona uma experincia diferente dos eventos locais e regionais, nos quais

    sempre participei. Vale ressaltar que minha relao com o Cristianismo vem desde

    criana: minha famlia predominantemente catlica e cresci nesse ambiente

    responsvel pela construo das minhas relaes sociais. Em Sergipe, com minha

    participao no grupo de pesquisa Sociedade e Cultura, tive a oportunidade de

    participar de pesquisas e discusses terico-metodolgicas sobre cultura e

    manifestaes culturais especficas, dentre elas, as festas religiosas. Em seguida,

    desenvolvi pesquisa como bolsista do PIIC (Pesquisa Institucional da Iniciao

  • 22

    Cientfica 2011/2012) sobre a festa da Imaculada Conceio em Aracaju (SE), o que

    reforou ainda mais minha motivao para a pesquisa sobre a Geografia da

    Religio2. Minha participao no Movimento Leigo preparatrio para a JMJ, desde os

    meados de 2012, foi decisiva para a escolha da JMJ como objeto de estudo.

    Assim, tomei os peregrinos sergipanos como sujeitos fiis que se deslocam e

    constroem os espaos sagrados. Aproveitei minha experincia como peregrina e

    pesquisadora para estudar a complexidade de um evento catlico mundial e produzir

    conhecimento, bem como o entendimento da responsabilidade social como

    gegrafa. Neste campo vastssimo da Geografia, entendemos que os fenmenos

    religiosos se manifestam num momento histrico e no h fato religioso fora do

    tempo (ROSENDAHL, 2009, p. 01).

    Neste contexto, atentei para a Jornada Mundial da Juventude no sentido de

    seus territrios e territorialidades, tecendo os seguintes questionamentos: como

    seria a construo de uma viagem at ao Rio de Janeiro? Como se deu a

    construo dos movimentos leigos sergipanos? Como se deslocaram para o Rio de

    Janeiro? Em caravanas prprias, individualmente, por agencia de turismo, pelo

    transporte areo ou terrestre? Como conseguiram recursos? Quais territrios foram

    criados para os peregrinos por meio da JMJ (territrios sagrados, simblicos,

    tursticos, itinerantes)? Esses questionamentos colaboraram para a ancoragem do

    deste trabalho.

    Lembramos ainda que a centralidade de nosso trabalho a vivncia, as

    prticas, a construo dos relacionamentos, as territorialidades que esto presentes

    mesmo antes da JMJ acontecer; so esses aspectos que realmente importam na

    construo desta dissertao e que desencadearam os questionamentos

    apresentados.

    A partir desta informao, fui delineando os objetivos deste trabalho ao incluir

    em minhas reflexes a anlise dos territrios sagrados e dos territrios que se

    construram e se desconstruram na Jornada Mundial da Juventude, com a

    inteno de apreender e compreender esses fenmenos religiosos que constituram

    antes, durante e aps esse evento mundial.

    2 Ver SILVA (2012)

  • 23

    Considerando a peculiaridade da pesquisa em estudar um evento j ocorrido,

    so necessrias algumas consideraes antes de expor nossos objetivos

    especficos. O primeiro ponto a ser esclarecido diz respeito ao desejo de aprofundar

    nos estudos da Geografia da Religio e analisar a sua contribuio em nossa

    pesquisa, com a pretenso de mapear os territrios sagrados que foram

    construdos no Rio de Janeiro pela JMJ. O segundo aspecto diz respeito minha

    participao como integrante do movimento leigo sergipano e, nesse sentido,

    coloco-me no duplo papel de fiel participante e de pesquisadora atenta que procurou

    registrar (atravs de dirio e fotos) os caminhos percorridos, os deslocamentos entre

    o local da hospedagem e os eventos e tambm interagiu com outros movimentos e

    pessoas antes, durante e aps a JMJ.

    Essas colocaes nos remeteram para a possibilidade de apreender e

    compreender o evento Jornada Mundial da Juventude como fenmeno conformador

    dos territrios sagrados itinerantes, assim como analisar as motivaes e os

    interesses do grupo sergipano e suas inter-relaes com os demais participantes.

    No nos propomos a estudar o espao sagrado e o profano devido as peculiaridades

    e dimenses da JMJ, j que a prpria estrutura do evento no permitia aos

    peregrinos que se reunissem em locais sagrados como os templos. Por esse fato,

    focamos nos territrios e territorialidades. Isto posto, so os seguintes objetivos

    especficos de nossa pesquisa:

    1. Identificar os territrios sagrados da Jornada Mundial da Juventude.

    Com esse objetivo mapeamos os territrios sagrados de acordo com a

    programao estabelecida, distinguindo-os com a inteno de refletir sobre as

    motivaes do peregrino.

    2. Apreender as territorialidades do movimento leigo sergipano e sua

    participao na Jornada Mundial da Juventude;

    Para isto, caracterizamos e apreendemos o perfil, a organizao e a participao do

    movimento leigo sergipano na Jornada Mundial da Juventude; os movimentos de

    preparao e as atividades e atitudes durante o evento.

    3. Compreender o significado e as atitudes dos peregrinos na Jornada Mundial

    da Juventude.

  • 24

    Investigar o evento da Jornada Mundial da Juventude e a participao de

    sergipanos foi uma oportunidade de compreender as relaes dos participantes e

    fazer com que essas histrias chegassem at ns, pois seus rostos, a ateno, o

    esforo, os registros destes momentos so valiosos. A ocupao dos territrios e as

    teias que se formaram a partir deles foram uma forma de aprender sobre a vida, a

    f, as relaes e espacialidades e territorialidades dos movimentos sergipanos. Este

    trabalho no pretende levantar problemticas, oferecer respostas, levantar

    bandeiras, mas relatar experincias nicas e profundas de um fenmeno religioso.

    Nossa pesquisa teve como produto um roteiro cultural com um grupo de jovens da

    Parquia de Santa Tereza de Aracaju para conhecerem e apreciarem sua cultura; a

    produo de dois artigos em eventos internacionais; um captulo do livro e-book e

    um documentrio intitulado O Recomear inscrito no Festival de Turismo e Cultura

    (FIACULT).

    Dessa forma, o presente texto encontra-se estruturado em quatro captulos

    alm da introduo.

    No primeiro captulo, intitulado O Arado: buscando as bases para reflexo,

    trazemos os conceitos e as categorias, assim como os autores trabalhados. Nesse

    sentido, usamos a metfora do arado que remove a terra para expor o caminho que

    mexemos e revolvemos nossas ideias.

    No segundo captulo, intitulado Os Canteiros: o caminho da pesquisa,

    trazemos os esforos em abrir caminhos e oferecer ferramentas para relacionar o

    terico e o emprico, os aportes tericos-metodolgicos para as anlises que foram

    construdas no decorrer do trabalho.

    O terceiro captulo, intitulado Resultados: Territrios e Territorialidades da

    Jornada Mundial da Juventude, procuramos apresentar de forma analtica os dados

    levantados de suas diversas fontes (documentais, fotogrficas, de observao como

    participante e dos entrevistados). Os territrios e as territorialidades no esto

    apresentados em ordem cronolgica dos fatos. Procuramos traz-los pela origem e

    motivao e, dessa maneira, a JMJ enquanto ato mundial de evangelizao, foi

    mostrada com suas diversas conotaes de escala, de carismas, mas tambm de

    prticas e vivncias subjetivas. Esse captulo se subdivide em doze itens que

    retratam desde a construo/organizao da 13 Jornada Mundial da Juventude at

    a missa de envio ltima celebrao da JMJ.

  • 25

    O Quarto captulo Intitulado Expositores e Consumidores: a materializao da

    f. Nesse captulo evidenciaremos as prticas, exposies e comercializao dos

    materiais produzidos nas comunidades, congregaes e institutos. Subdividimos

    este captulo em dois grandes eixos: a ExpoCatlica, que ocupou as instalaes do

    Rio Center e a Feira vocacional que se instalou na Quinta da Boa Vista.

    No quinto captulo retratamos as dificuldades e os problemas mais

    recorrentes relatados pelos peregrinos. Trazemos tambm as atitudes da Igreja

    Catlica para com as representaes formais que se fizeram presentes na JMJ, bem

    como as manifestaes que extrapolaram seu sentido. Apresentamos tambm os

    atos e atitudes decorrentes da JMJ/2013 que aconteceram em Sergipe nos anos de

    2014 e 2015.

    No Sexto captulo, intitulado O Oferecer dos Frutos (consideraes finais),

    procura-se apresentar as reflexes, sugestes e consideraes finais da

    dissertao.

  • 26

    O arado: buscando as bases para reflexo

    Eu tinha me afastado da igreja e como universitrio eu me tornei

    muito autossuficiente, ento eu j sabia o que queria da vida e como

    conquistar. Porm, uma decepo amorosa me fez vulnervel e aceitei

    um convite para ir a um acampamento de orao. No primeiro dia, eu

    fiz uma experincia de saudade de Deus, mas, no fui eu que senti

    saudade de Deus, eu sentia a saudade que Deus tinha de mim do

    tempo que eu era prximo dele (A. M. A., missionrio, 27 anos).

  • 27

    1 O ARADO: BUSCANDO AS BASES PARA REFLEXO

    O Arado um instrumento antigo que prepara, revolve e lavra a terra para

    receber a semente, buscar vida (FERREIRA, 2001); a terra disposio das

    sementes ou mudas proporcionando a germinao. H uma expresso bblica que

    diz: Quem pe a mo no arado e olha para trs, no est apto para o Reino de

    Deus (Lc 9, 62). Desta forma esse captulo se constitui como que um remexer na

    terra levando a uma reflexo aps intensas leituras, como se as ideias tivessem sido

    tiradas do lugar. Assim, esse captulo retrata o caminho terico percorrido, traando

    uma breve periodizao histrica que evidencia a origem da Geografia da Religio

    no contexto da Geografia humanista.

    De acordo com Luna (2000), a reviso terica tem por objetivo circunscrever

    um dado problema de pesquisa em um quadro de referencial terico que pretende

    explic-lo. Mendes e Pessa (2009) concebem a organizao de um referencial

    terico como um recurso capaz de possibilitar a identificao e a representao de

    fenmenos sociais e culturais responsveis pela manifestao de determinados

    eventos, sendo a teoria a trajetria para conhecer e compreender os sujeitos, o

    contexto e suas representaes. Para entender esse contexto buscamos na

    Geografia da Religio razes que nos auxiliaram compreender o fenmeno religioso.

    Rosendahl (2002) em seu artigo Construindo a Geografia da Religio no

    Brasil, publicado no XIII Encontro Nacional de Gegrafo (ENG), afirma que falar de

    Geografia e religio uma proposta ambiciosa e necessria para a Geografia

    brasileira, mas, atravs da abordagem cultural, ela se torna mais rica e pluralista. Ela

    cita ainda que a experincia religiosa de indivduos e grupos sociais pouco

    investigada pelos gegrafos, apesar da importncia do sagrado e sua espacialidade

    para a Geografia. Assim, enfatiza a importncia de examinar a diversidade dos

    fenmenos religiosos, a distribuio de seus seguidores, a estrutura espacial criada

    por seu comportamento e as paisagens religiosas delineadas atravs de suas

    atividades como sugesto de roteiro de pesquisa.

    A perspectiva humanista defende a dimenso subjetiva e a experincia vivida

    pelo indivduo e pelos grupos sociais, considerando em sua anlise os sentimentos e

    a compreenso das relaes entre o homem e seu mundo. Dessa forma, os estudos

    da relao ontolgica entre Deus, o homem e o espao torna-se possvel.

  • 28

    Rosendahl (1996, p. 11) afirma que a Geografia e a religio se encontram

    atravs da dimenso espacial; uma porque analisa o espao, a outra porque, como

    fenmeno cultural, ocorre espacialmente. Tanto o fenmeno cultural como o

    religioso tm recrutado a ateno do gegrafo, que observa a transformao e

    atuao do homem nas relaes sociais contribuindo em todas as categorias

    geogrficas. A religio gera novos desafios para a Geografia pela dinmica

    significativa da transformao no espao.

    Bonjardim (2014, p. 53 a 63), em sua tese intitulada Sob o Domnio da Cruz:

    a construo de um territrio e patrimnio cultural em Sergipe, faz um caminho para

    identificar a relao da Geografia com a religio. Ela cita vrios autores que

    contriburam para a construo dos variados conceitos e abordagens do fenmeno

    como objeto de anlise da Geografia.

    Quadro 01- A Construo da Geografia da Religio

    Autores Contribuies

    Deffontaines

    (1948) Investigou as relaes entre as culturas e suas representaes

    concretas no espao. Defendeu que a religio interfere nas escolhas

    dos locais de povoamento e, por isso, estudou as habitaes

    religiosas para a vida, para a morte e para as divindades, os meios

    de deslocamentos, os obstculos que a religio impe aos gneros

    de vida que surgem, etc.

    Sorre (1957) Abordou as atividades religiosas e a influncia no espao. Incorporou

    conceitos fundamentais para o nascimento, desenvolvimento e

    consolidao do estudo da Geografia da religio.

    Sopher

    (1967) Seu estudo pautado nas paisagens e nas marcas da religiosidade,

    classificando-as em grupos tanto na paisagem quanto na estrutura e

    formas sagradas, organizao, distribuies espaciais, smbolos

    religiosos na paisagem, etc. Desenvolveu a discusso do territrio

    religioso ao tratar da organizao religiosa mundial, afirmando que

    toda religio tem um territrio e se organiza a partir de um centro

    mundial na expanso e dominao do espao sagrado.

    Buttner

    (1974) Escreveu o artigo Religion and geography: impulses for a new

    dialogue between religions wissenschaftlern and geography, marco

    para a consolidao dos estudos da religio na Geografia. Para ele,

    o gegrafo da religio devia ir alm da paisagem e das relaes do

    visvel.

  • 29

    Moraes

    (1989) Para o autor nessa poca, (...) o objeto de toda cincia (...) seria

    aproximar o homem da divindade pela observao (...), a cincia

    possui um dado de revelao. A religio era o todo e o todo a criao

    de Deus.

    Eliade

    (1992) Para ele, o homem religioso e a natureza nunca so exclusivamente

    naturais: est sempre carregada de um valor religioso.

    Claval

    (1992) Enfatizou que os gegrafos da religio deveriam priorizar o universo

    das representaes mentais para compreender e explicar como elas

    se inserem na paisagem e influem na organizao do espao dos

    homens.

    Fickeler

    (1999) Todas as religies criam uma representao na paisagem, que so

    espacial e temporalmente perceptveis por meio de eventos mgicos

    ou simblicos. As religies devem ser consideradas sob o olhar, pois

    marcam a paisagem nas cores, sons, smbolos, orientaes,

    posies, influenciando na formao de territrios definidos.

    Fonte: BONJARDIM (2014) ORG: SILVA, E. F.C.

    Neste contexto observamos o quanto a Geografia tem a contribuir para a

    compreenso dos fenmenos religiosos, seja atravs de suas espacialidades

    sagradas ou vivncias cotidianas.

    Se pretendermos, enquanto gegrafos, compreender, explicar e transformar o mundo a partir da Geografia acreditamos que o espao das religies torna-se indispensvel nesse processo de conscientizao e construo da cidadania, uma vez que a religiosidade e as religies so elementos integrantes do espao geogrfico (SANTOS, 2002, p. 5).

    Como elementos integrantes do espao das religies, constroem vnculos de

    participao, laos de amizades, valores religiosos e culturais. Nos construtos da

    vida, entrelaam-se em todas as aes. Quando se tem uma amizade por meio de

    laos religiosos, essa relao no se restringe ao territrio do sagrado, mas tende a

    estender-se a outros vnculos. Por isso, torna-se invivel discutir as diversas

    atuaes no campo religioso sem retratar as intervenes geogrficas.

    Durkheim (1996, p. 16) posiciona que as representaes religiosas so

    representaes coletivas que exprimem realidades coletivas, fazem parte intrnseca

    de uma teoria da religio, ou melhor, de uma teoria do fato religioso. Nunes (2007,

    p. 62) afirma que a religio para Marx, Durkheim e Weber apresenta-se como um

  • 30

    problema a ser analisado para o entendimento da sociedade. J Gil Filho (2008, p.

    24) refora que devemos Durkheim a autonomia das representaes sociais dos

    parmetros puramente psquicos de sua gnese, nos quais tais representaes

    seriam a prpria trama da vida social, tanto o indivduo como grupos sociais.

    Bezerra (2012, p. 62) afirma que Durkheim e Weber consideram a religio

    permanente, mesmo que no eterna. O interesse de Durkheim pela religio se deve

    a sua compreenso da sociedade como realidade moral, expressa em forma

    religiosa. Ainda na viso de Bezerra (2012, p. 62), Marx entende religio a partir dos

    modos de produo e como uma realidade histrica que depende do

    desenvolvimento das condies materiais de vida e da conscincia dos indivduos.

    Para ele, a religio desaparecer dada a evoluo dos processos histricos e da

    conscincia individual.

    Eliade (2010) remete s relaes simblicas com as quais o homem religioso

    impregna de significado o mundo. O autor indica o termo hierofania, que

    corresponde prpria revelao de algo sagrado e possui um quadro de referncia

    abrangente. Ele vai alm e estuda o fenmeno religioso, que transcende o

    tempo/espao, e coloca como essencial os fenmenos histricos, a importncia de

    se conhecer os mitos, ritos e smbolos que promovem uma volta as origens. Eliade

    interroga a mitologia dos povos que tiveram diferentes influncias na histria da

    Grcia, Egito, ndia para compreenso do homo religiosus. Ele busca as ligaes

    que envolvem a experincia do sagrado e o que leva a contemplar o fenmeno da

    religiosidade. Na viso de Eliade (1995, p.30), o homem percebe o sagrado, pois

    ele um ato de manifestao.

    Gil Filho (2007, p. 207), no artigo intitulado Geografia da religio:

    reconstrues tericas sob o idealismo crtico, cita que a Geografia da religio foi

    sistematizada como subdisciplina da Geografia humana clssica centrada na anlise

    da distribuio geogrfica das religies na frequncia espacial que tem por objeto o

    fenmeno religioso visto como um espao de relaes objetivas e subjetivas

    consubstanciadas em formas simblicas mediadas pela religio. O autor mostra que

    o fenmeno requer uma cognio especial, ou seja, necessrio ter sensibilidade

    para captar suas caractersticas mais sutis e assim penetrar nos seus sentidos

    ltimos e compreender o que dizem. Toda essa anlise de Gil Filho (2007) feita

    sobre a fenomenologia elaborada por Cassirer (1944) e consiste na construo da

  • 31

    realidade intuitiva. A anlise inicia-se com a diviso dos fenmenos sensveis e,

    dessa forma, ao fenmeno individual atribudo um sentido especfico

    correspondente ao centro de orientao sendo que o conhecimento objetivo est

    ligado expanso deste processo em outras realidades.

    Gil Filho (2007, p. 218) marcou o espao sagrado como conjunto de

    significaes atribudas pelo homem religioso, apontando para uma radicalidade da

    fixao espacial de suas experincias religiosas. Neste caso, o espao confere a

    base da formulao das categorias do discurso antropolgico tanto sob seu aspecto

    sensvel como seu aspecto inteligvel. So trs as categorias trabalhadas:

    i) Espacialidade concreta de expresses religiosas: o espao sagrado

    apresenta marcas distintivas da religio, conferindo-lhe as

    singularidades peculiares aos mundos religiosos. Prprio do mundo da

    percepo, os smbolos religiosos cumprem o papel da objetivao na

    construo do mundo religioso. O espao sagrado permite que vrios

    elementos religiosos possam ser postos em relaes mtuas; ele

    estrutural, enquanto o profano apenas funcional.

    ii) Na segunda espacialidade, a do pensamento religioso, o espao

    sagrado apresentado no plano da linguagem na medida em que as

    percepes religiosas so conformadas a partir da sensibilidade nas

    formas tempo e espao. As coisas religiosas so configuradas como

    formas da intuio explicitadas rumo s representaes e a linguagem

    desempenha a funo lgica de conectar o mundo dos fatos ao mundo

    dos smbolos. As representaes so identificadas pelo esquema da

    linguagem tornando-as inteligveis em termos espaciais. O espao

    sagrado forjado nas representaes de um espao das religies.

    iii) A espacialidade das referncias simblicas refere-se a um espao

    propositivo e sinttico que articula o plano sensvel ao plano das

    representaes pelo conhecimento religioso e manifesto pelo homem

    religioso em um complexo de convices hierarquizadas relacionadas

    tradio e ao sentimento religioso.

    No contexto de nosso objeto de estudo, a categoria territrio indispensvel

    para entendermos as relaes que acontecem no fenmeno religioso que constitui a

    JMJ, organizada por uma instituio to antiga como a Igreja Catlica, com

  • 32

    estruturas hierarquizadas e especializadas para um fim. No dicionrio Aurlio, a

    definio de territrio expressa:

    Grande extenso de terra. rea de um pas, de um Estado, de uma cidade etc. rea de um pas sujeita a uma autoridade, a uma jurisdio qualquer: o territrio de uma regio militar. Espao terrestre, martimo, areo, sobre o qual os rgos polticos de um pas exercem seus poderes (FERREIRA, 2001, p. 670).

    Durante muito tempo essa definio foi vlida para a Geografia, sendo o

    territrio como rea e como elemento poltico para acoplar suas pores de terra.

    Gottmann (2012), em seu artigo Evoluo do Conceito de Territrio, aborda desde

    os conceitos trazidos por Plato em sua obra Leis, na qual h a ideia do controle

    da populao em uma determinada rea isolada. A populao estaria agrupada no

    centro do territrio e as relaes exteriores e as relaes de trocas estariam sob

    responsabilidade de funcionrios pblicos; assim, percebe-se que sua teoria alegava

    um alto grau de isolamento e intentava promover uma poltica para aliviar as

    presses do crescimento populacional (MORAES, 1990, p. 74). Tais afirmaes

    traduzem a doutrina do isolamento e constituem uma das teorias que envolvem o

    territrio enquanto rea poltica e de dominao de um grupo. J Aristteles, aluno

    de Plato, postulou que um territrio deveria ser de difcil acesso para o inimigo e

    de fcil egresso para os habitantes.

    Gottmann (2012) afirma que a repartio poltica que definia os territrios

    permaneceu por muito tempo baseada em sistema de lealdade, seja relacionada

    f religiosa, como nas divises entre o mundo Cristo e Islmico, seja ligada as

    relaes entre indivduos, numa escala local, especialmente aquela do sistema

    feudal. Assim, o termo territrio foi usado para definir a jurisdio ou a economia das

    unidades governamentais como as cidades livres, os feudos e os reinos.

    Essas definies foram se adaptando ao longo dos sculos e Saquet (2007),

    em seu artigo intitulado As diferentes abordagens do territrio e a apreenso do

    movimento e da materialidade, fez um resgate da reelaborao do conceito de

    territrio. Por meio de Corra (1995), ele salienta que no perodo de 1870 e 1950, a

    geografia denominada tradicional privilegiou os conceitos de paisagem e regio com

    destaque para os aspectos descritivos da dinmica socioespacial. Neste perodo,

    estava centrado o iderio do positivismo (emprico e lgico) e do historicismo.

  • 33

    Neste contexto em que dominavam as produes sobre paisagem e regio,

    Ratzel trouxe para a Geografia e para as cincias humanas o debate territorial

    presente at ento somente nas cincias ditas naturais. Ratzel (1990) dividiu a

    Geografia em trs grandes campos de pesquisa: a Geografia Fsica, a Biogeografia

    e a Antropogeografia. Mas foi na Geografia do Homem, na Antropogeografia, que

    ele dedicou a maior parcela de seu trabalho e nela o estudo da formao dos

    territrios. No texto O povo e seu territrio, editado por Moraes (1990), Ratzel

    evidencia que no possvel conceber um Estado sem territrio e que certo que a

    considerao sobre o solo se impe mais na histria do Estado do que na da

    sociedade.

    Um dos fundamentos de indagao dos gegrafos nesse momento foi a

    influncia que as condies naturais exerciam sobre a humanidade. Desse modo, a

    evoluo das sociedades seria o objeto primordial da pesquisa antropogeogrfica.

    Na evoluo da produo geogrfica, a categoria territrio perpassa por

    vrias acepes; o que antes era valorizado pelo acumulo de reas, motivos de

    guerras e invases, objeto de uma nova histria e toma novas dimenses, alm do

    valor econmico e territorial propriamente dito, como nos revela Crespo (2010, p. 2):

    O conceito de territrio, devido sua flexibilidade e ao seu carter multidimensional e multiescalar, representa uma ferramenta perfeitamente apropriada nos dias de hoje. Ele pode ser utilizado tanto para analisar produes econmicas ou polticas do espao (na sua perspectiva material), como tambm outras formas de relacionamento do homem com seu meio, tais como a religiosidade, a cultura ou as manifestaes tnicas (na sua perspectiva idealista).

    O estudo do territrio pode valorizar, portanto, outras dimenses como os

    espaos vividos e sua flexibilizao e ressignificao, sintetizados por Haesbaert e

    Limonad (1999, p. 20) em trs vertentes bsicas:

    i. A vertente poltica, que se refere ao espao do poder e a todas as relaes

    espaciais. O territrio visto como um espao delimitado e controlado, relacionado

    ao poder poltico do Estado.

    ii. A vertente cultural, que prioriza a dimenso simblica e mais subjetiva em que o

    territrio visto, sobretudo como produto da apropriao e valorizao simblica em

    relao ao espao vivido.

  • 34

    iii. A vertente econmica, menos difundida, que enfatiza a dimenso espacial das

    relaes econmicas. Nessa vertente, o territrio compreendido como fonte de

    recurso e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relao capital-

    trabalho como produto de diviso territorial.

    Haesbaert (2012, p. 122) cita Deleuze e Guattari (1997, p. 218), que afirmam

    que o territrio cria o agenciamento. O territrio excede, ao mesmo tempo, o

    organismo, o meio e a relao entre ambos; por isso, o agenciamento ultrapassa

    tambm o simples comportamento.

    Saquet (2010, p.111) discute o territrio como um conjunto de relaes

    realizadas pelo homem na natureza compreendendo os ambientes naturais

    construdos em sistemas a partir dos pressupostos filosficos da Fenomenologia,

    que estuda grupos, comunidades, percepes/sentimentos do territrio, sua

    organizao e seus signos. Em seu livro Abordagens e concepes de territrio, o

    territrio e a territorialidade so produto do entrelaamento entre os sujeitos de cada

    lugar com o ambiente e com os indivduos de outros lugares, sendo o territrio uma

    construo coletiva e multidimensional. Nesse sentido, valoriza a importncia do

    trabalho social e as representaes que so elos entre sociedade e natureza e a

    dupla dimenso do homem.

    Em se tratando de instituio, segundo Sack (1986), a Igreja Catlica controla

    diferentes tipos de territrio, identificados em dois tipos primordiais:

    O primeiro inclui os templos, os cemitrios, os pequenos oratrios beira da estrada e os caminhos percorridos pelos peregrinos que so, entre outros, os meios visveis pelos quais o territrio reconhecido e vivenciado; o segundo inclui sua prpria estrutura administrativa. A Igreja Catlica Apostlica Romana vem mantendo uma unidade poltico-espacial. Estamos nos referindo aos territrios demarcados, onde o acesso controlado e dentro dos quais a autoridade exercida por um profissional religioso. O territrio religioso constitui-se, assim, dotado de estruturas especficas, incluindo um modo de distribuio espacial e de gesto de espao. A hierocracia inscreve-se nos edifcios da Igreja, lugares sagrados, parquias e dioceses (SACK, 1986, p.102).

    No caso do evento da Jornada Mundial da Juventude, o caminho percorrido

    pelos peregrinos foram os bairros, as exposies, os museus, o Cristo Redentor, as

    feiras, estdios etc. Contou com a participao dos peregrinos de vrios lugares do

    mundo, num total de 175 pases inscritos, e que se alojaram por toda a cidade do

    Rio de Janeiro e no entorno em chcaras e em cidades como Niteri, o que explicita

  • 35

    a influncia da igreja em planejar e conseguir construir os territrios, mesmo que

    por pouco tempo.

    Para Rosendahl (2001, p. 21), o espao sagrado representa um campo de

    foras e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, que o

    transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existncia. Para Gil

    Filho (2008, p. 111), a territorialidade do sagrado, seria a percepo das limitaes

    imperativas do controle e da gesto de determinado espao sagrado por parte de

    uma instituio religiosa. O autor ressalta tambm as relaes de poder, do controle

    e da gesto do espao sagrado, que so, em ltima anlise, os laos de coeso que

    estruturam a territorialidade e objetivam o territrio sagrado.

    As vivncias e prticas durante a JMJ influenciaram toda uma populao em

    suas prticas e vivncias. Foi decretado feriado na cidade do Rio de Janeiro para

    que todos pudessem se deslocar e tambm foi criada a Lei n 12663 de 05 de junho

    de 2012, que disps sobre as medidas relativas Copa das Confederaes FIFA

    2013, Copa do Mundo FIFA 2014 e Jornada Mundial da Juventude de 2013.

    Essas mudanas corroboraram com as consideraes de Rosendahl (2001, p. 10)

    ao afirmar que: acontecimentos importantes induzem a uma transformao; mesmo

    que seja visto como recuo ou avano, o territrio modificado aparecendo como o

    que melhor corresponde afirmao do poder.

    E, neste contexto h vrios sinais de f fixados no tempo atravs dos

    calendrios litrgicos e regionais. Rosendahl (2001, p. 23) categoriza um tipo

    particular de hierocracia, o poder do sagrado, que se manifesta espacialmente por

    uma organizao territorial. Ao reconhecer a instituio religiosa como agente,

    necessrio considerar a forma e a intensidade do poder desse agente. Esse poder

    pode se d de vrias maneiras atravs de instituies ou da organizao do prprio

    povo. Por isso a importncia em se analisar a convivncia, como nos relata Crrea:

    Analisar sua participao no territrio sagrado, e perceber as relaes construdas ao longo do tempo, nos espaos distintos e nas instituies que influenciam a formao cultural de um povo. A criao de novos territrios, bem como a fragmentao ou a fuso de outros envolve inmeras localizaes regionais, nacionais e internacionais, a semelhana do papel tambm exercido pelas grandes corporaes (CORRA, 1997, p. 20).

    A Jornada Mundial da Juventude promoveu um encontro que abarcou as trs

    escalas: local, regional e internacional. Sua elaborao j foi pensada como um

  • 36

    evento grandioso, com participao de diferentes povos e culturas em um nico

    lugar. Alm disso, a promotora desse evento uma das instituies mais antigas, a

    Igreja Catlica Apostlica Romana, que domina diferentes territrios atravs de

    doutrinas, da construo de templos, cruzeiros, escolas, universidades, de uma

    paisagem simblica presente em todo o mundo representada por nomes de cidades,

    ruas, comrcios, meios de transporte, etc.

    Nosso estudo busca analisar as relaes vividas e percebidas, relaes essas

    que na Geografia tomamos como territorialidades. A territorialidade defendida por

    Sack (1986) deve ser reconhecida como uma ao, uma estratgia de controle. J a

    territorialidade religiosa

    (...) significa o conjunto de prticas desenvolvidas por instituies ou grupos no sentido de controlar um dado territrio, onde o efeito do poder do sagrado reflete uma identidade de f e um sentimento de propriedade mtuo. A territorialidade fortalecida pelas experincias religiosas coletivas ou individuais que o grupo mantm no lugar sagrado e nos itinerrios que constituem seu territrio. De fato, pelo territrio que se encarna a relao simblica que existe entre cultura e espao (ROSENDAHL, 2005, p. 07).

    no territrio encarnado de relaes simblicas da JMJ que observamos o

    fortalecimento das experincias religiosas. O caminho foi extenso, com a ocupao

    de diferentes locais por meio de roteiros tursticos da vivncia e da influncia dos

    valores cristos. As redes sociais propiciaram tambm uma vivncia com pessoas

    de outros pases que, atravs dos sites, informavam sobre o andamento da Jornada.

    Saquet (2010, p.118), ao tratar sobre territrios e territorialidades, destaca

    que:

    (...) o territrio e a territorialidade so produtos do entrelaamento entre os sujeitos de cada lugar, deste com o ambiente e com os indivduos de outros lugares. (...) o territrio uma construo coletiva e multidimensional, com mltiplas territorialidades (poderes, comportamentos e aes).

    A convivncia religiosa permitiu que as pessoas se deslocassem de seus

    territrios habituais e construssem novos territrios; no caso deste evento, territrios

    itinerantes, mas com grande simbologia religiosa na cultura e no espao. As

    relaes construdas durante essas viagens e no perodo do evento renderam

    muitas amizades, histrias, convivncias, geraram renda e fizeram histria, seja

    atravs de suas vivncias, seja atravs de suas trocas, simbolizando a f e a

    abertura de novos relacionamentos.

  • 37

    Segalen (2005) e Mauss (2005), oferecem grandes contribuies s

    discusses sobre a simbologia. Segalen (2005), no texto El rito, lo sagrado, el

    smbolo, trata de conceitos como a diferenciao do profano e do sagrado, e

    acredita que:

    La nocin de sagrado es ambgua. Las fuerzas religiosas pueden ser benefactoras, guardianas del orden fsico y moral, dispensadoras de vida: cosas y personas santas que inspiran amor y reconocimiento. A la inversa, existen potencias malvadas e impuras. Estos dos aspectos opuestos de la vida religiosa estn estrechamente emparentados; ambos alimentan la misma relacin con los seres profanos (SEGALEN, 2005 p. 16 e 17).

    Segalen (op.cit. p. 17) cita vrias vezes Durkheim a respeito do puro e do

    impuro no serem dois gneros desconectados, mas variedades de um mesmo

    gnero que engloba todas as coisas sagradas, com possibilidade de transmutao:

    o que puro pode se transformar em impuro e tambm o inverso. Mauss (2002, p.

    231), no livro Ensaios da Sociologia, em um captulo intitulado A Prece, evidencia

    vrios aspectos como as razes de ocorrerem ritos: um rito s encontra sua razo

    de ser quando se lhe descobre o sentido, isto , as noes que esto e estiveram na

    sua base, as crenas s quais correspondem. O Quadro 02 ilustra os conceitos dos

    autores sobre algumas categorias que mais se aproximam de nossa temtica, tais

    como rito, ritual, signo, smbolo e mito.

  • 38

    Quadro 02 - Os Conceitos de Categoria Simblica.

    Rito Ritual Signo Smbolo Mito

    MAUSS (2002) Atitude ou um ato realizado em vista

    de coisas sagradas.

    RAPPAPORT

    (2001)

    Se caracteriza como una

    accin fuertemente

    formalizada, estereotipada,

    repetitiva etc.

    Es uma representacin

    cuyo carcter

    representativo consiste en

    una regla que determinar

    su interpretacin.

    Mito implica ritual, ritual

    implica mito, son uno y el

    mismo

    TURNER (1974) So fases dentro do processo social

    amplo cujo alcance e complexidade ao

    tamanho e grau de diferenciao dos

    grupos em que ocorrem.

    Comportamento formal

    prescrito para ocasies no

    devotadas rotina, tendo

    como referncia a crena em

    seres ou poderes msticos.

    a menor unidade do

    ritual que ainda mantm as

    propriedades especficas

    do comportamento ritual

    ELIADE (1998)

    Los simbolos pueden

    revelar una modalidade de

    lo real o una estrutura del

    mundo, que no son

    evidentes en el plano de la

    experincia inmediata.

    Revela con mayor

    profundidad lo que sera

    imposible revelar a travs

    de la experincia

    racionalista

    SCHWARZ

    (2008)

    Puede ser totalmente

    arbitrrio, convencional,

    seala generalmente

    objetos o cosas

    podemos tener acceso

    diretamente.

    Es una representacin

    que hace aparecer un

    sentido secreto; es la

    epifania de un mistrio

    Expressa una verdade que

    revela la sacralidade, [...] le

    da sentido y vitalidade

    SEGALEN (2005) El rito se caracteriza por una

    configuracin espacio-temporal

    especfica.

    ORG: SILVA, E. F.C.

  • 39

    Pela anlise do quadro 02 percebemos ainda que esses conceitos contribuem

    para o entendimento da dinmica social dos acontecimentos, dos conceitos que vo

    se entrelaando e configurando novos sentidos para os fenmenos sociais e

    religiosos. Como exemplificado por Bonnemaison (1981, p. 102), muitas vezes

    pelo rito que uma sociedade exprime seus valores profundos e revela sua

    organizao social, resgatando costumes antigos e criando novos de acordo com o

    tempo.

    Por meio dos diferentes olhares desses autores, observamos a importncia

    desses conceitos para nosso trabalho, tendo em vista que o grande evento que se

    constitui a Jornada Mundial da Juventude pode ser analisado por esses olhares.

    Para Zanella (2006, p.01):

    Evento uma concentrao ou reunio formal e solene de pessoas e/ou entidades realizada em data e local especial, com o objetivo de celebrar acontecimentos importantes e significativos e estabelecer contatos de natureza comercial, cultural, esportiva, social, familiar, religiosa, cientfica etc.

    Todavia, os megaeventos so caracterizados pela

    (...) grandiosidade em termos de pblico, mercado alvo, nvel de envolvimento do setor pblico, efeitos polticos, extenso de cobertura televisiva, construo de instalaes e impacto sobre o sistema econmico e social da sociedade anfitri (HALL, 2006, p.59).

    Essas caractersticas nos fazem entender o nvel de abrangncia que os

    megaeventos trazem por seu elevado grau de exigncia e de critrios com relao

    mobilidade, segurana, alimentao, hospedagem, dentre outros.

    Assim, percebemos a amplitude de ambos os conceitos, embora a JMJ, como

    megaevento e por ser formal e solene, se diferencia pela abrangncia e nvel de

    exigncia por meio das formas de envolvimento como o setor pblico e,

    principalmente, pelo impacto social e econmico.

    Outro ponto a ser discutido so as diferentes territorialidades construdas,

    assim como o turismo, o qual no podemos negligenciar devido grande

    participao do peregrino enquanto consumidor dos espaos oferecidos e dos

    pontos tursticos visitados, gerando territorialidade, como nos explica o Saquet

    (2009) em seu livro Leituras do Conceito de Territrio e de Processos Espaciais

    atravs de uma citao feita por Soja.

  • 40

    Territorialidade um fenmeno de comportamento associado organizao do espao e esferas de influncias ou territrios nitidamente diferenciados, considerando distintos e exclusivos, ao menos parcialmente por seus ocupantes ou pelo que os definem (SAQUET, 2009 apud SOJA, p. 41).

    Como estamos analisando um fenmeno religioso, partimos do princpio que

    a principal motivao dos participantes seja a f e que os deslocamentos na

    atualidade para grandes eventos como estes podem ser analisados luz do turismo

    na sua categoria turismo religioso que, para a Empresa Brasileira de Turismo

    (EMBRATUR):

    O turismo religioso configura-se pelas atividades tursticas decorrentes da busca espiritual e da pratica religiosa em espaos e eventos relacionados s religies institucionalizadas. Est relacionado s religies institucionalizadas tais como as de origem oriental, afro brasileiras, espritas, protestantes, catlica, compostas de doutrinas, hierarquias, estruturas, templos, rituais e sacerdcio. A busca espiritual e a prtica religiosa, nesse caso, caracterizam-se pelo deslocamento a locais e para participao em festas e comemoraes religiosas, apresentaes artsticas de carter religioso, encontros e celebraes relacionados evangelizao de fiis, visitao e espaos e edificaes religiosas (igrejas templos, santurios, terreiros e a realizao de itinerrios e percursos de cunho religioso e outros) (BRASIL, 2008, p. 19).

    Observamos que o turismo religioso est em plena expanso e tem

    chamado a ateno de estudiosos para este segmento. No entanto, esse tipo de

    deslocamento configura-se como uma das prticas mais antigas, pois h registro de

    deslocamentos para cultos e ritos desde os primeiros relatos escritos.

    Dias (2003, p. 17) complementa que o turismo religioso:

    Compreende romarias, peregrinaes e visitao e espaos, festas, espetculos e atividades religiosas. Como toda atividade turstica de modo geral, exige uma abordagem interdisciplinar, que contemple seus aspectos econmicos, sociais, espaciais e culturas envolvidos.

    Desta forma, entendemos os participantes da JMJ como peregrinos. No

    aspecto econmico, o turista insere-se como consumidor dos servios, dos

    artesanatos, dos artigos religiosos, dentre outros. No aspecto social, o turista pode

    usufruir da ambincia de congraamentos e encontros proporcionados pelos

    eventos.

    Dentre as atividades religiosas, a peregrinao est ganhando fora e

    recebendo maior ateno do turismo religioso. Sobre isso, Lopes (2006, p. 18)

    destaca que:

  • 41

    A peregrinao a lugares sagrados uma das mais antigas formas de viajar. Na Grcia Antiga j ocorriam manifestaes do que podemos denominar de turismo religioso, com peregrinaes para regies como Delfos, [...] Durante a Idade Mdia cresceram as viagens por motivaes religiosa, peregrinaes a lugares santos como Roma, Jerusalm e Santiago de Compostela. Em outras partes do mundo ocorriam peregrinaes a lugares santos promovidos por hindus, budistas, mulumanos e outras crenas.

    Essa prtica antiga se mantm como instrumento de f de vrias religies,

    arrastando multides para lugares sagrados que se transformam nas datas

    especiais. A peregrinao teve um fator marcante na Jornada Mundial da Juventude,

    pois foi um pblico totalmente de peregrinos que comps esse cenrio. Como

    participante, pude observar que, apesar de ser uma das formas mais antigas de

    viajar, a tradio permanece muito viva nos locais sagrados; nesse caso, para o Rio

    de Janeiro, que se transformou em local de encontro de jovens vindos de muitos

    pases de todos os continentes. Nessa perspectiva, a Geografia tem grandes

    contribuies de anlise devido produo de um espao gerado por um fenmeno

    religioso.

  • 42

    Os canteiros: o caminho da pesquisa

    Voc tem contato com os peregrinos que conheceu? pessoal ou

    religioso? Os dois; quando voc da igreja e assume isso para sua

    vida, o pessoal est no religioso vivemos na totalidade (V. C. P. S

    estudante, 28 anos).

  • 43

    2 OS CANTEIROS: O CAMINHO DA PESQUISA

    Os canteiros so formas que damos terra, que fica espera de uma

    semente. Desta forma, esse captulo traz os esforos em abrir caminhos e oferecer

    ferramentas para relacionar o terico e o emprico, e expe os aportes tericos

    metodolgicos para as anlises que foram construdas no decorrer do trabalho.

    Para que seus resultados sejam satisfatrios, a elaborao de uma

    metodologia de pesquisa necessita de planejamento cuidadoso e reflexes

    conceituais slidas. Baseamo-nos na Fenomenologia por abranger a essncia dos

    fenmenos, ultrapassando suas aparncias imediatas. O pensamento

    fenomenolgico traz para o campo de estudo da sociedade o mundo da vida

    cotidiana, onde o homem se situa com suas angstias e preocupaes

    (GOLDENBERG, 2007, p. 13).

    Em nossa pesquisa trabalhamos com sujeitos participantes de um evento

    religioso catlico que tem pilares e costumes tradicionais. Levando em conta o

    fenmeno a ser estudado, optamos pela realizao de uma pesquisa qualitativa que

    interpreta o fenmeno e tem o pesquisador como instrumento-chave em todo o

    processo, do planejamento execuo e interpretao.

    Ao estudar um problema social, utilizamos instrumentos variados tais como as

    narrativas, a descrio e a histria, ancorados em procedimentos de captura

    igualmente variados como dirio de campo, entrevistas, vdeos, fotos e sites e com

    interpretao ancorada em anlise de contedo de Bardin (2011).

    A pesquisa qualitativa , por vezes, criticada pelo carter subjetivista e

    emprico de sua abordagem e, por esse motivo, exige do pesquisador a exposio

    clara e minuciosa de seus procedimentos. Complementando as ideias anteriores,

    autores destacam na pesquisa qualitativa o foco na interpretao dos fenmenos, as

    abordagens de percepes, crenas, representaes, dentre outros, nas etapas de

    levantamentos e, a observao, a entrevista, a histria oral e a pesquisa documental como

    procedimentos importantes. (ALVES, MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2002)

    importante salientar a eficcia da utilizao concomitante das abordagens

    qualitativa e quantitativa para o melhor proveito das informaes necessrias para o

    conhecimento, o reconhecimento e o envolvimento da/com a realidade, sobretudo

  • 44

    porque a pesquisa se prope a encaminhamentos e sugestes a serem postos em

    prtica (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 15).

    Considerando esses pressupostos, a pesquisa em questo alude tambm a

    um dos princpios da pesquisa qualitativa, que a descrio. A descrio tem como

    vantagem possibilitar o conhecimento da realidade estudada, mas, sobretudo, a

    anlise e o entendimento sobre o fenmeno analisado, nesse caso, a Jornada

    Mundial da Juventude.

    Analisando essas consideraes, de certo modo, esta tambm uma

    pesquisa participante, pois foram feitas vrias observaes, elaborou-se um dirio

    de campo e o contato do pesquisador com o objeto de estudo estabeleceu-se de

    modo efetivo. O termo participante remete controvertida presena de um

    pesquisador no campo de investigao formado pela vida cotidiana de indivduos,

    grupos, comunidades ou instituies prximos ou distantes (SCHMIDT, 2006, p. 03).

    2.1 Instrumental da pesquisa

    Como j exposto, nossa pesquisa configura-se como qualitativa. Gil (2006)

    classificaram os mtodos de acordo com a abordagem do problema em qualitativo e

    quantitativo. A abordagem qualitativa volta-se aos aspectos da realidade que no

    podem ser quantificados, ou seja, foca na interpretao e explicao das relaes

    sociais e, por conseguinte, o pesquisador utiliza-se da variao e descrio

    (LAKATOS; MARCONI, 2010).

    A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o

    pesquisador como instrumento-chave. Com apoio terico na fenomenologia,

    essencialmente descritiva e os resultados surgem numa totalidade que tem como

    base a percepo de um fenmeno; por isso se utiliza de narraes, ilustraes,

    fotografias, fragmentos e descrio, que buscam explicar a origem das relaes.

    Com relao aos procedimentos, nossa pesquisa enquadra-se como

    bibliogrfica e documental e ainda, segundo Gil (2006), ela explicativa, pois

    procuramos aprofundar o conhecimento da realidade.

    Para a realizao da pesquisa foram selecionados como instrumentos:

  • 45

    i) Levantamento documental e levantamento fotogrfico;

    ii) Entrevistas;

    iii) Dirio de campo, observao;

    Na etapa de levantamentos procedeu-se pesquisa em sites internacionais e

    sergipanos referentes imagem e como o mundo divulgou a Jornada Mundial da

    Juventude. Foram selecionados seis jornais internacionalmente renomados: os

    jornais franceses Le Monde e Le Fgaro, o jornal ingls The Guardian, o espanhol El

    Pas, o norte-americano The New York Times e o italiano Corriere Della Sera. Foi

    elaborado um quadro composto por ttulo, resumo da matria, site e nome do

    jornalista. Sua consecuo contribuiu para verificar como a imprensa internacional

    divulgou esse evento e a imagem do Brasil. Tambm procedemos a pesquisa

    documental em sites de Sergipe, no Jornal da Cidade e em outros jornais digitais. O

    levantamento consistiu no fichamento de todas as matrias veiculadas no perodo de

    22/12/2011 a 04/09/2013 no Jornal da Cidade, e nos sites com informaes locais

    sobre os peregrinos sergipanos que se deslocaram para Jornada Mundial da

    Juventude.

    Todas as referncias bibliogrficas utilizadas serviram para dialogar e alinhar

    as formas de experincia: a narrativa traduziu os acontecimentos do evento; a

    construda evidenciou os territrios itinerantes, que se fez e se desfez, e a discutida

    que traduziu a reviso bibliogrfica e os resultados encontrados.

    Utilizamos a fotografia como instrumento metodolgico no levantamento das

    imagens e na descrio do ritual durante todo o perodo do evento:

    Cada foto um momento privilegiado, convertido em um objeto diminuto que as pessoas podem guardar e olhar outras vezes. (...) Se olhada com cuidado, se trata de uma imagem repleta de significaes e boa para pensar (SONTAG, 2004, p. 28).

    Em nossa pesquisa contamos com um rico acervo de fotos captadas em

    campo durante o perodo do evento por outros participantes que cederam

    generosamente, alm da busca na internet. As fotos serviram para enriquecer e

    visualizar os detalhes, os fatos e os rituais ocorrentes na JMJ: Trata-se de um

    dilogo mudo, subliminar, sensvel e inteligente, que, diante de uma foto ou de um

    conjunto de fotos, gestado entre o nosso olhar e a nossa mente (KOSSOY, 2007,

    p. 147-148).

  • 46

    A entrevista foi outro instrumento importante para a investigao e a

    interligao com as categorias escolhidas. Sobre a importncia da entrevista

    destaca-se:

    (...) a entrevista face a face uma situao de interao humana, em que esto em jogo percepes do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretaes para os protagonistas: entrevistador e entrevistado (SZYMANSKI, 2002, p. 12).

    Por meio deste instrumento (Apndice A), pudemos observar as diferentes

    experincias e a percepo dos sujeitos. Como nos evidencia Ferrari (1982), o campo

    possibilita intuir sobre determinada comunidade, sociedade, instituio e grupo social,

    o que oferece uma representao mais completa e mais real dos fatos que tendem a

    caracterizar o problema.

    O tipo de entrevista escolhido foi a entrevista estruturada, uma das mais

    utilizadas para levantamentos sociais, segundo Gil (1994), por possibilitar tambm o

    tratamento quantitativo dos dados. A entrevista, composta de 17 questes, foi

    sistematizada de acordo com o um roteiro de evento religioso, com perguntas

    abertas e semi-estruturadas. Colognese e Mlo (1998) conceituam entrevista como

    (...) uma tcnica de obteno de informaes realizada por meio de uma

    conversao interesseira, atravs dela podemos, fazer novos direcionamentos, e

    conhecer sujeitos e seus comportamentos.

    As questes do roteiro foram subdividida em quatro contedos com

    caractersticas distintas e que foram analisada luz da abordagem de contedo

    desenvolvida por Bardin (2011). Compe o roteiro de entrevista:

    i. perfil;

    ii. motivaes para a Jornada e os espaos frequentados;

    iii. os territrios sagrados e a participao como turistas;

    iv. sensaes, religiosidade, apreenso, cidadania, solidariedade, trocas.

    A realizao das entrevistas compreendeu a etapa do trabalho que

    dispensou maior tempo e dedicao. O espao de aplicao dos questionrios foi

    diversificado e os mais significativos foram os eventos como congresso da

    renovao, carnaval, DNJ, Comunidade Cano Nova, Comunidade Schalom,

    Universidade, praas, casa dos peregrinos, Parquia Senhor do Bomfim e Sagrada

    Famlia, biblioteca, escolas, caladas, praas, restaurante, ou onde avistasse um

    peregrino com a mochila nas costas. As entrevistas realizadas foram transcritas,

  • 47

    considerando os que participaram da JMJ e dois que receberam peregrinos

    franceses em Poo Redondo/SE enviados pela Diocese de Propri; ressalta-se,

    entretanto, que esses dois sergipanos que receberam os estrangeiros no se

    deslocaram para o Rio de Janeiro.

    As entrevistas aps transcritas foram enviadas via e-mail para avaliao do

    entrevistado. Dez responderam dizendo que no tinha nada acrescentar; trs

    pediram para acrescentar algumas informes; os outros no se manifestaram.

    Houve uma tentativa pelas redes sociais e correio eletrnico de entrevistar pessoas

    da JMJ do Rio de Janeiro que receberam peregrinos estrangeiros; a moradora que

    escolhi tinha recebido uma peregrina da Crocia. Ela se disponibilizou para

    responder o roteiro de entrevista, mas o envio das respostas no aconteceu. Aps a

    quarta cobraa das respostas desistimos. Houve tambm a tentativa de entrevistar

    peregrinos estrangeiros, mas as respostas no foram enviadas. Reconsiderando os

    pressupostos da pesquisa qualitativa e as especificidades do objeto de estudo, a

    unidade de referncia nessa pesquisa considerou o que denominamos de sujeitos

    da amostra. Apreende-se como sujeito:

    quele a que se investiga em qualquer empreeendimento em que o ser humano o objeto de estudo numa acepo filosfica no qual sujeito significa (...) o eu enquanto realidade pensante, em contraposio ao objeto pensante, em contraposio ao objeto pensado (TURATO, 2003, p.353/356).

    A escolha pelo termo sujeito nesta concepo justifica-se em funo das

    proposis tericas que fundamentam esse trabalho e sua relao com o processo

    de composio dos territrios da JMJ (simblicos e religiosos) e, da conformao

    dos espaos sagrados que se constituiram durante o perodo de sua realizao. A

    amostra da pesquisa em questo configura-se como proposital, intencional ou

    deliberada, conforme nos esclarece Turato (2003, p.356):

    escolhida como aquela de escolha deliberada de respondentes, sujeitos ou ambientes, oposta a amostragem estatstica, preocupada com a representatividade de uma amostra em relao a populao total. O autor do projeto delibera quem so os sujeitos que comporo seu estudo, segundo seus pressupostos de trabalho.

    A insero dos sujeitos foi definida em funo de serem peregrinos

    sergipanos identificados pelas variveis como sexo, idade, religio, comunidades

    religiosas e participantes da organizao do evento.

    Ainda segundo Turato (2003), mesmo com uma diversidade de identidades

    biodemogrficas ou psiculturais, os indivduos se encontram reunidos pelo que o

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    autor chama de homogeneidade fundamental, ou seja (...) pelo menos uma

    determinada caracterstica ou variavel comum a todos os sujeitos da amostragem:

    a caracterstica chave que os une o prprio tema do trabalho. Nesse sentido, os

    peregrinos sergipanos estabeleceu a homogeneidade fundamental dessa amostra.

    Em relao ao dirio de campo, este foi elaborado com a observao que

    ocorreu em todo o perodo de pesquisa: desde o reconhecimento do campo no

    perodo da pr-misso, passando pelo perodo de realizao do evento e aps o seu

    trmino, com vrios eventos como as festas dos padroeiros de Sergipe e a

    comemorao de 1 ano da Jornada, o Dia Nacional da Juventude.

    Trivios (1987) expe que observar no simplesmente olhar, mas, sim

    destacar algo especfico num conjunto (objeto, pessoas), aferindo ateno a suas

    caractersticas (cor, tamanho, entre outras). A observao permite que a dimenso

    singular seja estudada em seus atos, atividades, significados e relaes para captar

    a essncia. Esses foram os balizamentos para a construo de nosso dirio de

    campo construdo nas etapas que j participamos, ou seja, antes, durante e aps a

    JMJ.

    Ainda sobre a observao, Silva e Mendes (2013) asseveram que ela se

    baseia no registro das experincias vivenciadas pelo pesquisador, em que so

    utilizados os sentidos para obter as informaes acerca da realidade pesquisada,

    tornando-se indispensvel em nossa pesquisa.

    Outro recurso que utilizamos foram as tirinhas e as charges para as narrativas

    dos peregrinos que reforaram a territorialidade e deram oportunidade para

    evidenciar conflitos, narrar as histrias e partilhar as vivncias.

    As tirinhas buscam representar as cenas que narram de maneira esttica, cristalizando no papel, atravs de imagens e textos, as aes, gestos, emoes, falas, entonaes etc. que a compem. Para produzir todos esses efeitos de sentido, o autor se utiliza de recursos visuais como a fonte, [...] os traos que marcam tempo e movimento, os bales etc. (MAIA; PESSOA, 2012. p.10).

    Com esse recurso, dinamizamos a leitura e valorizamos as histrias narradas,

    com o simples trao e formas voltamos aos cenrios narrados pelos peregrinos, que

    partilharam de suas territorialidades. Foi utilizada a charge em dois momentos

    relacionados aos conflitos e problemas ocorridos durante a JMJ. Tratando-se da

    Geografia, abre-se muitas possibilidades para os recursos visuais devido ao

  • 49

    apanhado de temas sociais e crticos apresentados no evento. O gnero charge

    articula as duas linguagens a verbal e a no verbal. Ela demonstra que o sentido

    da comunicao construdo na oscilao entre o que se sabe, ou seja, o

    conhecimento pblico e divulgado e os aspectos subentendidos(ALVES, 2013, p

    420). Nesse sentido, utilizamo-nos da charge para revelar melhor os fatos narrados

    pelos peregrinos sergipanos que sedimentaram nosso entendimento sobre os

    conflitos e as vivncias.

    2.2 Anlise dos dados

    A anlise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que

    possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigao

    (GIL, 1994, p. 166). As anlises quantitativa e qualitativa das informaes

    levantadas, sobretudo das entrevistas, foram feitas com base nos procedimentos da

    anlise de contedo de Bardin (2011), norteadas pelas categorias territrio e

    territorialidade. Os demais contedos, sobretudo os levantamentos documentais e

    as anotaes do dirio de campo, tambm receberam tratamento analtico luz

    dessas categorias.

    Nesse sen