o campo da comunicação

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16 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 30 • agosto 2006 • quadrimestral O CAMPO DA COMUNICA˙ˆO O campo da Comunicaçªo: sua constituiçªo, desafios e dilemas RESUMO A origem de campos de estudos como a Comunicação pro- vém de um duplo movimento. O primeiro é um movimento interno da própria ciência, que é de convergência e de sobreposição de conteúdos e metodologias, e que se faz no- tar de forma crescente no desenvolvimento histórico recente das Ciências Sociais. O segundo é o movimento de ruptura histórica ocasionado pelo que se convencionou chamar de processo de globalização. No presente texto dou seguimento a reflexões anteriores sobre o tema, para agora enfocar o duplo movimento acima assinalado, problematizando: 1) os sentidos da noção de campo e de campo acadêmico; 2) a disciplinarização que norteou o nascimento e desenvolvimento das Ciências Soci- ais e em seqüência, os estudos de Comunicação; 3) a socieda- de global como sociedade da comunicação; 4) os dilemas da institucionalização do campo da Comunicação no Brasil. ABSTRACT The origin of the Communication field is a double movement. The first one is an internal movement of the proper science, a movement of convergence and overlapping of contents and methodologies, and that it is noticed in the recent historical development of Social Sciences. The second one is the movement of historical rupture caused by what we called the globalization process. In the present text I reflect upont that to focus on the double movement above to discuss: 1) the meaning of the notions of field and academic field; 2) the “disciplinarização” that guided the birth and development of Social Sciences and after that, the studies of Communication; 3) the global society as a communication society; 4) the dilemmas of the institutionalization of the Communication field in Brazil. PALAVRAS-CHAVE (KEY WORDS ) - Campo acadêmico (Academic field) - Epistemologia (epistemology) - Transdisciplinaridade (transdisciplinarity) Maria Immacolata V. de Lopes ECA/ USP Dividimos e relacionamos o saber de três modos distintos: intelectualmente como disci- plinas; organizacionalmente como estrutu- ras corporativas; e culturalmente como co- munidades de estudiosos que compartilham certas premissas básicas. Immanuel Wallerstein Acho que o inconsciente de uma disciplina é a sua história; as condições sociais de pro- dução ocultadas, esquecidas, são o incons- ciente: o produto separado de suas condi- ções sociais de produção muda de sentido e exerce um efeito ideológico. Pierre Bourdieu Inscrever na ordem do dia a multidis- ciplinaridade. Não aquela das grandes construções prometéicas de uma nova En- ciclopédia, mas aquela que provoca o en- contro ao redor de um mesmo objeto de es- tudo de pesquisadores pertencendo a metodologias múltiplas. Estabelecer com eles alianças, aproveitando o prestígio atu- al da comunicação e prevenindo-se contra as tendências à hegemonia das antigas dis- ciplinas. Armand Mattelart 1 Os sentidos da noçªo de campo e de campo acadŒmico A produção da ciência depende intrinseca- mente das suas condições de produção. Es- tas são dadas pelo contexto discursivo que define as condições epistêmicas de produ- ção do conhecimento e pelo contexto social que define as condições institucionais e só- cio-políticas dessa produção. A autonomia relativa do “tempo lógico” da ciência em relação ao “tempo histórico” é que faz da sociologia da ciência ou do conhecimento um instrumento imprescindível para “dar força e forma à crítica epistemológica ou

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Sua constituição, desafios e dilemas.

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16 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 30 • agosto 2006 • quadrimestral

O CAMPO DA COMUNICAÇÃO

O campo daComunicação:sua constituição,desafios e dilemasRESUMOA origem de campos de estudos como a Comunicação pro-vém de um duplo movimento. O primeiro é um movimentointerno da própria ciência, que é de convergência e desobreposição de conteúdos e metodologias, e que se faz no-tar de forma crescente no desenvolvimento histórico recentedas Ciências Sociais. O segundo é o movimento de rupturahistórica ocasionado pelo que se convencionou chamar deprocesso de globalização. No presente texto dou seguimentoa reflexões anteriores sobre o tema, para agora enfocar oduplo movimento acima assinalado, problematizando: 1) ossentidos da noção de campo e de campo acadêmico; 2) a disciplinarizaçãoque norteou o nascimento e desenvolvimento das Ciências Soci-ais e em seqüência, os estudos de Comunicação; 3) a socieda-de global como sociedade da comunicação; 4) os dilemas dainstitucionalização do campo da Comunicação no Brasil.

ABSTRACTThe origin of the Communication field is a doublemovement. The first one is an internal movement of theproper science, a movement of convergence and overlappingof contents and methodologies, and that it is noticed in therecent historical development of Social Sciences. The secondone is the movement of historical rupture caused by whatwe called the globalization process. In the present text Ireflect upont that to focus on the double movement aboveto discuss: 1) the meaning of the notions of field and academicfield; 2) the “disciplinarização” that guided the birth anddevelopment of Social Sciences and after that, the studies ofCommunication; 3) the global society as a communicationsociety; 4) the dilemmas of the institutionalization of theCommunication field in Brazil.

PALAVRAS-CHAVE (KEY WORDS )- Campo acadêmico (Academic field)- Epistemologia (epistemology)- Transdisciplinaridade (transdisciplinarity)

Maria Immacolata V. de LopesECA/ USP

Dividimos e relacionamos o saber de trêsmodos distintos: intelectualmente como disci-plinas; organizacionalmente como estrutu-ras corporativas; e culturalmente como co-munidades de estudiosos que compartilhamcertas premissas básicas.

Immanuel Wallerstein

Acho que o inconsciente de uma disciplinaé a sua história; as condições sociais de pro-dução ocultadas, esquecidas, são o incons-ciente: o produto separado de suas condi-ções sociais de produção muda de sentido eexerce um efeito ideológico.

Pierre Bourdieu

Inscrever na ordem do dia a multidis-ciplinaridade. Não aquela das grandesconstruções prometéicas de uma nova En-ciclopédia, mas aquela que provoca o en-contro ao redor de um mesmo objeto de es-tudo de pesquisadores pertencendo ametodologias múltiplas. Estabelecer comeles alianças, aproveitando o prestígio atu-al da comunicação e prevenindo-se contraas tendências à hegemonia das antigas dis-ciplinas.

Armand Mattelart

1 Os sentidos da noção de campo ede campo acadêmico

A produção da ciência depende intrinseca-mente das suas condições de produção. Es-tas são dadas pelo contexto discursivo quedefine as condições epistêmicas de produ-ção do conhecimento e pelo contexto socialque define as condições institucionais e só-cio-políticas dessa produção. A autonomiarelativa do “tempo lógico” da ciência emrelação ao “tempo histórico” é que faz dasociologia da ciência ou do conhecimentoum instrumento imprescindível para “darforça e forma à crítica epistemológica ou

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crítica do conhecimento, pois permite reve-lar os supostos inconscientes e as petiçõesde princípios de uma tradição teórica”(Bourdieu, 1975:99).

É dentro dos marcos da sociologia daciência que Pierre Bourdieu desenvolvesua noção de campo científico. De antemão,vale-se de sua noção de campo:

Um campo é um espaço social estru-turado, um campo de forças - há do-minantes e dominados, há relaçõesconstantes, permanentes, de desigual-dade, que se exercem no interior des-se espaço - que é também um campode lutas para transformar ou conser-var este campo de forças. Cada um, nointerior desse universo, empenha emsua concorrência com os outros a força(relativa) que detém e que define suaposição no campo e, em conseqüên-cia, suas estratégias (Bourdieu, 1997:57).

Fazer sociologia da ciência, segundo oautor, é analisar as condições sociais deprodução desse discurso e que são a estru-tura e o funcionamento do campo científi-co. O campo científico é análogo ao acadê-mico, pois residem aí tanto as condições deprodução (sistema de ciência) como de suareprodução (sistema de ensino).

Seguindo Bourdieu (1983: 122-155), ocampo científico, enquanto sistema de rela-ções objetivas entre posições adquiridas, éo lugar, o espaço de jogo de uma luta con-correncial pelo monopólio da autoridade ci-entífica definida, de maneira inseparável,como capacidade técnica e poder político;ou, se quisermos, o monopólio da compe-tência científica, compreendida enquanto ca-pacidade de falar e de agir legitimamente,isto é, de maneira autorizada e com autori-dade, que é socialmente outorgada a umagente determinado. Essa legitimidade é,portanto, reconhecida socialmente peloconjunto dos outros cientistas (que sãoseus concorrentes) à medida que crescemos recursos científicos acumulados e, corre-

lativamente, a autonomia do campo.Ao sublinhar a indissolubilidade en-

tre o saber especializado e o reconhecimen-to social presente na autoridade do cientista,Bourdieu afirma que a posição de cada umno campo é tanto uma posição científicacomo uma posição política e que suas es-tratégias para manter ou conquistar lugarna hierarquia científica possuem sempreesse duplo caráter. Correlativamente, osconflitos epistemológicos são, sempre, insepa-ravelmente, conflitos políticos e, assim, umapesquisa sobre o poder no campo científicopoderia perfeitamente só comportar ques-tões aparentemente epistemológicas. Re-sulta, então, ser “inútil distinguir entre asdeterminações propriamente científicas eas determinações propriamente sociais (po-líticas) das práticas essencialmente sobrede-terminadas” dos agentes envolvidos (Bour-dieu, 1983:124).

A importância da noção de campo ci-entífico de Bourdieu é essencialmente heu-rística por diversas razões. Em primeiro lu-gar, por permitir romper com a imagem ha-giográfica que vem normalmente incorpo-rada à noção de “comunidade científica”,mesmo em autores como Kuhn (1976), quedá lugar ao conflito em sua teoria funciona-lista da evolução científica. Em segundo lu-gar, porque dentro da concepção estrutura-lista que está na base de sua análise docampo, Bourdieu analisa dialeticamente asposições estruturadas com as práticas es-truturantes dos agentes1 . As práticas sãovistas como estratégias, portanto, comoações refletidas, sempre com o duplo cará-ter indicado acima (científico e político) eque se orientam como estratégias de conserva-ção/sucessão ou estratégias de subversão. Essasestratégias dependem das posições ocupa-das pelos agentes no campo, isto é do capi-tal científico e do poder que ele lhes confe-re. Os agentes chamados por Bourdieu dedominantes dedicam-se às estratégias deconservação ou de sucessão (através deseus discípulos) visando assegurar a ma-nutenção da ordem científica com a qual seidentificam. Essa ordem, a que ele chama

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de ciência oficial, não se reduz ao conjuntode recursos científicos herdados do passa-do que existem no estado objetivado, sob aforma de instrumentos, obras, instituições,etc., e no estado incorporado sob a forma dehábitos científicos, sistemas de esquemasgerados de percepção, de apreciação e deação. São também uma espécie de ação pe-dagógica que torna possível a escolha dosobjetos, a solução dos problemas e a avali-ação das soluções, que é a essência do siste-ma de ensino. Complementarmente, existeminstâncias especificamente encarregadas daconsagração (academias, prêmios) e aindao sistema de circulação constituído pelasrevistas científicas, livros e congressos, queoperam em função de critérios oficiais deavaliação.

Temos aí delineado um quadro deanálise de grande densidade explicativa. Aciência acaba sendo definida por Bourdieucomo um campo de práticas institucionali-zadas de produção (pesquisa), reprodução(ensino) e circulação de capital e poder ci-entíficos. Entretanto, devido à distinçãoque ele traça entre formas objetivadas daspráticas (rituais) e formas subjetivadas des-sas práticas (estruturas mentais interioriza-das, isto é, habitus), é possível identificar aío que outros autores trabalham como sen-do as representações sociais (Moscovici).As representações sociais da ciência funcio-nam como matéria prima das identidadescientíficas, fruto das formas simbólicas in-trojetadas, isto é, da cultura científica inte-riorizada. Cabe aqui retomar idéias deações estratégicas dos sujeitos agentes(agency) antagônicas - e que o antagonis-mo, seguindo Bourdieu, é o princípio daestrutura e da transformação de todo cam-po social - que agem no sentido da conti-nuidade (estratégias de conservação) e damudança (estratégias de subversão). Bour-dieu, diferente de Kuhn, acredita ter havi-do uma revolução inaugural na ciênciaquando ela se autonomizou dos campospolítico e religioso, com a revolução coper-nicana, “que nos dá o paradigma no verda-deiro sentido da palavra” (p.141). Com o

crescimento da autonomia do campo cientí-fico, o próprio funcionamento deste, como“ciência normal”, passa a se definir atravésde “revoluções ordenadas”, como diz Ba-chelard, ou revoluções permanentes, queestão inscritas na própria lógica da históriada ciência, isto é, da polêmica científica. Oque leva Bourdieu a afirmar que o campocientífico “encontra na ruptura contínua overdadeiro princípio de sua continuidade”(p.143). É que o campo provê permanente-mente as condições tácitas da discussãoque se desenha entre a ortodoxia e a hete-rodoxia, entre o controle e censura, por umlado, e a invenção e ruptura, por outro.

Esta extensa reprodução da análise docampo científico feita por Bourdieu justifi-ca-se, a meu ver, pelas seguintes razões:1) para criticar aqueles que apressadamen-te vêem nas mudanças internas de uma “ci-ência normal” sempre sinais de “crise deparadigmas”;2) para impedir que se identifique automa-ticamente lutas institucionais com lutasepistemológicas ou, dito de outro modo, asconquistas institucionais são condições ne-cessárias, porém não garantem per se o for-talecimento teórico de um campo;3) para evitar que se confunda o subcampodo ensino (reprodução) com o subcampoda pesquisa (produção) dentro do campoacadêmico.

Acredito que esse delineamento bási-co ajudará a esclarecer a questão da disci-plinarização do campo da comunicação.

2 A difícil herança do estatuto dis-ciplinar da Comunicação

A crítica da ciência não é nova. Qualquerestudo é sempre feito dentro dos quadrosde referência herdados do passado de umaciência, do que é sua história ou sua tradi-ção. Porém, os objetos de estudo, por seucaráter histórico, dinâmico e mutável, colo-cam permanentemente em cheque essa tra-dição no sentido de sua renovação e revi-são. A tradição é vista como um ponto de

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partida, na qual enraiza-se a identidade deuma ciência, porém, nunca no sentido defechar um saber, mas de abri-lo para darcontinuidade à sua construção, pois um sa-ber não é, em essência, nem estático, nemdefinitivo. É sobre a tensão constante entrea tradição e a mudança no campo científicoque reside a base do surgimento de estu-dos e diagnósticos que buscam sua reestru-turação. Como afirma Octavio Ianni:

Se as ciências sociais nascem e desen-volvem-se como formas de auto-cons-ciência científica da realidade social,pode-se imaginar que elas podem serseriamente desafiadas quando essa re-alidade já não é mais a mesma. Ocontraponto de pensamento e pensa-do, ou de lógico e histórico, pode alte-rar-se um pouco, ou muito, quandoum dos termos modifica-se; e maisainda quando ele se transfigura (1992:171).

Tomada como novo paradigma histó-rico-social, a sociedade global produz umaruptura histórica de amplas proporções eem todas as dimensões. No dizer de Ianni,“com as metamorfoses do ‘objeto’ e a si-multânea alteração das possibilidades quese abrem ao ‘sujeito’ da reflexão, colocam-se novos desafios não só metodológicos eteóricos, mas também epistemológicos”(Ianni, 1994:34).

Na pesquisa de comunicação, as di-versas tradições teórico-metodológicas, talcomo nas ciências sociais em escala maisampla, têm sido postas em revisão nos últi-mos anos. Em trabalhos anteriores (Lopes,2000, 2003), registrei o aumento das análisesauto-reflexivas no campo da Comunicação. Amultiplicação de propostas de reformula-ção teórica dos estudos da comunicaçãomanifesta uma insatisfação generalizadacom o estado atual do campo e a urgênciade repensar seus fundamentos e de reori-entar o exercício de suas práticas. São análi-ses convergentes, se bem que nem semprecomplementares, análises que realizam re-

visões, redefinições, reestruturações, rein-terpretações e rupturas com categorias ana-líticas, esquemas conceituais, métodos deinvestigação. Não obstante, são análises re-veladoras da complexidade e multidimen-sionalidade dos fenômenos comunicativosnum mundo cada vez mais globalizado,multiculturalizado e tecnologizado, mas tam-bém cada vez mais fragmentado e desigual.

O que se nota é um movimento deconvergência de saberes especializados so-bre a comunicação, entendido mais comomovimento de intersecção que não é, em hi-pótese alguma, uma amálgama ou síntesede saberes. É, antes, um produto das rela-ções entre o objeto de estudo, a especifici-dade das contribuições analíticas e a parti-cularidade da evolução histórica entre am-bos. São os percursos disciplinares já trilha-dos nas tradições dos estudos da comuni-cação que autorizam parafrasear Canclinique diz: “Estudar a (cultura) comunicaçãorequer converter-se num especialista de in-tersecções” (Canclini, 1999: 69).

Por outro lado, isso significa abrirmão das certezas disciplinares e do poderdado pela ortodoxia, a que Giddens chamade “consenso ortodoxo”. Ao contrário, opensamento heterodoxo impele a estratégi-as de mudança, como vimos em Bourdieu,e nos leva de volta ao caráter institucionaldo campo científico.

3 A institucionalização das Ciênci-as Sociais

O relatório da Comissão Gulbenkian para a re-estruturação das ciências sociais, presidida porImmanuel Wallerstein, e intitulado Abrir asciências sociais (1996), está estruturado acer-ca de uma discussão histórica dos proces-sos de disciplinarização das ciências sociaisdesde o século XVIII até a atualidade.

Há dois pontos polêmicos que cons-tam do Relatório Gulbenkian sobre a reestru-turação das ciências sociais.

O primeiro é o de que a divisão inter-na das ciências sociais em múltiplas disci-

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plinas resultou principalmente de decisõesinstitucionais que quase sempre mantive-ram laços fracos com o debate propriamen-te epistemológico. E o segundo ponto é aproposta de trabalho transdisciplinar combase na crítica da prática interdisciplinar.

O Relatório Gulbenkian tem por base ahistória dessas ciências feita com base emseu crescente processo de institucionaliza-ção e de mudanças nas formas organizati-vas do trabalho científico. Detém-se nasmudanças ocorridas a partir de 1945, nopós-guerra, com o desenvolvimento daguerra fria, os investimentos no desenvol-vimento científico e a concentração dos pó-los científicos em alguns países, com a he-gemonia dos Estados Unidos. Entre as con-seqüências destas mudanças em nívelmundial sobressai a questão da validade dasdistinções no interior das ciências sociais, basea-da em clivagens estabelecidas pelo para-digma da ciência do século XIX para as en-tão nascentes ciências sociais, que passa aser profundamente contestada. Essas cliva-gens eram: a) a demarcação entre o estudodo mercado (a economia), do estado (a ci-ência política) e da sociedade civil (a socio-logia); b) a divisão entre o estudo do mun-do moderno/ocidental (a economia, socio-logia e política) e o mundo não-moderno/não-ocidental (a antropologia); c) do mun-do presente (a economia, sociologia e polí-tica) e o mundo passado (a história). Poste-riormente a 1945, a inovação acadêmicamais importante foi, segundo o relatório, acriação de estudos por áreas ou regiões(URSS, China, América Latina, África, Euro-pa Central, Sudeste Asiático, etc), umanova categoria institucional (a geográfica)que levou a um reagrupamento do traba-lho intelectual. Esses novos estudos porárea eram, por definição, “multidisciplina-res” e as “motivações políticas subjacentesà sua origem eram bastante explícitas”(p.60). Chama-se a atenção para o fato deque os estudos por áreas atraíram para ointerior de uma estrutura única pessoascuja filiação disciplinar atravessava trans-versalmente as três clivagens já referidas. Ci-

entistas sociais de origens e inclinações di-ferentes encontraram-se frente a frente comgeógrafos, historiadores da arte, estudiososdas literaturas nacionais, epidemiologistase até geólogos. Passaram a produzir currícu-los em conjunto, a participar nas bancas dedoutoramento dos alunos uns dos outros, aassistir congressos organizados por especia-listas de cada área e, principalmente, passa-ram a ler os livros uns dos outros e a publicarartigos nas novas revistas transdisciplinaresde cada especialidade. Estas práticas vie-ram pôr a nu o muito que havia de artificialnas rígidas divisões institucionais do conhe-cimento associado às ciências sociais.

Considero importante transcrever aavaliação que o Relatório faz desse movi-mento de convergência e de sobreposiçãoentre as disciplinas.

Não só se tornou cada vez mais com-plicado achar linhas de diferenciaçãonítidas entre elas, quer no respeitanteao seu objeto concreto de estudo, querno que concerne às modalidades detratamento dos dados, como tambémsucedeu que cada uma das discipli-nas se tornou cada vez mais heterogê-nea, devido ao alargamento das bali-zas dos tópicos de investigação consi-derados aceitáveis. Uma das formasde lidar com esta situação foi a tentati-va de criar novas designações ‘inter-disciplinares’, como sejam os estudosda comunicação, as ciências da admi-nistração e as ciências do comporta-mento (p.72-3).

Estes campos “interdisciplinares” ma-nifestaram um “questionamento internoconsiderável em torno da coerência dasdisciplinas e a legitimidades das premissasintelectuais que cada uma delas havia utili-zado para defender seu direito a uma exis-tência autônoma” (p.72-3).

O segundo ponto polêmico do Relató-rio é a proposta de reestruturar as ciênciassociais com base no estabelecimento, no in-terior das estruturas universitárias, de pro-

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gramas integrados de investigação transversaisàs balizas de demarcação tradicionais, osquais seriam “novas vias de diálogo e detroca para além das disciplinas e não apenasentre elas” (p. 124).

A crítica à interdisciplinaridade é ex-plicita e, não obstante reconhecer-se que seconstituiu numa forma de abordagem cria-tiva, ela não teria implicado uma frutuosafertilização recíproca entre as disciplinas,condição única que faria a interdisciplinari-dade merecedora de um maior aprofunda-mento e desenvolvimento.

Em trabalho anterior, Wallerstein(1991) já criticara os méritos da pesquisa edo ensino interdisciplinar em seu duplosentido. O primeiro é o da combinação deperspectivas de diversas disciplinas sobreum objeto (por exemplo, o trabalho) e a ló-gica dessa abordagem leva à formação deuma equipe multidisciplinar ou a um sópesquisador estudando diversas discipli-nas relacionadas ao objeto. O segundo sen-tido é o da localização do objeto nas fron-teiras de duas ou mais disciplinas, sendoque a lógica desta abordagem pode dirigir-se eventualmente ao desenvolvimento deuma nova disciplina autônoma (é o queaconteceu com a lingüística, por exemplo).

Sabe-se que as múltiplas disciplinasexistem desde que há múltiplos de-partamentos acadêmicos nas universi-dades em todo o mundo, cursos degraduação nessas disciplinas e associ-ações nacionais e internacionais depesquisadores destas disciplinas. Istoé, nós sabemos politicamente que dife-rentes disciplinas existem. Elas têmuma organização delimitada, estrutu-ra e pessoal para defender seus inte-resses coletivos e assegurar sua repro-dução coletiva. Mas isto nada nos dizacerca da validade das exigências inte-lectuais da separação, exigências quepresumivelmente justificam só a redeorganizativa (Wallerstein, 1991: 239).

Por isso, os méritos do trabalho inter-

disciplinar nas ciências sociais não chega-ram a solapar significativamente a forçados aparatos organizacionais que protegemas disciplinas separadas. E mesmo o con-trário pode ser verdadeiro. Um pesquisa-dor, ao justificar que precisa aprender dooutro o que não pode conseguir no seupróprio nível de análise com suas metodo-logias específicas e que o “outro”conheci-mento é pertinente e significante para a re-solução dos problemas intelectuais sobreos quais está trabalhando, tende a reafirmare não a embaralhar os dois conhecimentos.O trabalho interdisciplinar não é, per se,uma crítica da compartimentação existentenas ciências sociais, além de lhe faltar o to-que político para afetar as estruturas insti-tucionais existentes.

Mas, pergunta o autor: as várias disci-plinas das ciências sociais são disciplinas?

Etimologicamente, a palavra disciplinaé vinculada a discípulo ou estudante e éantitética à doutrina que é a propriedade dodoutor ou professor. Portanto, doutrinaconcerne à teoria abstrata e disciplina é re-lativa à prática e ao exercício. A primeiratem a ver com a produção e a segunda coma reprodução do conhecimento.

Na história das ciências sociais, umadisciplina só aparece depois de um longotrajeto de prática quando torna-se doutrina,ensinada e justificada pelos doutores e pro-fessores. Mas, com isso, pergunta-se o au-tor, atingiu-se um nível defensável e coe-rente de análise ou apenas separou-se umassunto?

Todas as divisões em assuntos deriva-ram intelectualmente da ideologia liberaldominante no século XIX que argumentavaque o estado e o mercado, a política e aeconomia, eram setores analiticamente se-parados, cada um com suas regras ou“lógicas”particulares. Sabemos o que as di-ficuldades de fronteiras causaram nos itine-rários intelectuais dos campos (sociologia,política, economia e antropologia), e queeles foram complexos e variados. Porém,como o mundo real evoluiu, a linha de con-tato entre “primitivo” e “civilizado”, “polí-

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tico” e “econômico” embaraçou-se. Inva-sões intelectuais tornaram-se comuns, po-rém, os invasores moveram as estacas, masnão as quebraram.

A questão diante de nós, hoje, é se háalgum critério intelectual que possa serusado para assegurar de um modo relati-vamente claro e defensável as fronteiras en-tre as quatro presumidas disciplinas de an-tropologia, economia, ciência política e so-ciologia. A “análise do sistema-mundo”(world systems analysis), proposta pelo autor,responde com um inequívoco “não” a estaquestão. “Todos os critérios presumidos -nível de análise, objeto, métodos, teorias -ou não são verdadeiros na prática ou, sesustentados, são linhas divisórias para umconhecimento adicional mais do que estí-mulos para a sua criação” (p. 241).

Ou, colocado de outro modo, as dife-renças dentro de uma disciplina tendem aser maiores do que as diferenças entre elas.Isto quer dizer, na prática, que a sobreposi-ção é substancial e, na história desses cam-pos, ela tem crescido todo o tempo. Istonão quer dizer que todos os cientistas soci-ais devam fazer um trabalho idêntico. Hásempre necessidade de especialização emcampos de estudo (fields of inquiry). O autor dáum exemplo esclarecedor de que especiali-zação e disciplinarização não são sinôni-mos, mas que a segunda é uma forma pró-pria do século XIX para controlar a primei-ra. Entre 1945 e 1955 as disciplinas separa-das botânica e zoologia fundiram-se emuma única disciplina chamada biologia.Desde então a biologia tem sido uma disci-plina florescente e gerou muitos sub-cam-pos, mas nenhum que tenha os contornosda botânica ou da zoologia.

Portanto, os campos de estudo aparecemcomo um novo padrão emergente a que sepode chamar transdisciplinarização ou pós-disciplinarização (Fuentes, 1998), quer dizer,um movimento para a superação dos limi-tes entre especialidades fechadas e hierar-quizadas, e o estabelecimento de um cam-po de discurso e práticas sociais cuja legiti-midade acadêmica e social vai cada vez

mais depender da profundidade, extensão,pertinência e solidez das explicações queproduza, do que do prestígio institucionalacumulado.

Em resumo, a crítica à compartimenta-ção das ciências sociais tem, portanto, a vercom clivagens colocadas por paradigmashistórico-intelectuais do século XIX e que,segundo o Relatório Gulbenkian, são mais cli-vagens ideológicas e organizativas do tra-balho intelectual do que propriamente de-rivadas de exigências internas do conheci-mento, isto é, epistemológicas, teóricas emetodológicas

4 Sociedade global, Ciências Soci-ais e Comunicação

Há, entretanto, outro aspecto que deveriaser acrescentado a esse poderoso argumen-to. Trata-se da relação orgânica entre as ciên-cias sociais e a comunicação na medida emque a sociedade moderna foi sendo cadavez mais plasmada nas formas da comuni-cação moderna. Dois exemplos são sufici-entes: um saber como o da antropologianão seria possível sem o encontro entre ci-vilizações e grupos humanos diferentes emescala cada vez mais intensa, e um estudocomo o de Habermas sobre a opinião públi-ca revelando a importância desta na consti-tuição da sociedade civil moderna, e a emer-gência da idéia de esfera pública ligada aosmecanismos da informação e da comunica-ção social. Daí, no dizer de Vattimo:

As ciências humanas, ciências quenascem de fato somente na moder-nidade, estão condicionadas, em umarelação de determinação recíproca,pela constituição da sociedade mo-derna como sociedade da comunica-ção. As ciências humanas são ao mes-mo tempo efeito e meio do posteriordesenvolvimento da sociedade da comu-nicação generalizada (1992:20-21).

Chega-se, assim, a definir a intensifi-

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cação dos fenômenos comunicativos, aacentuação da circulação das informaçõesnão somente como um aspecto a mais damodernização, senão como o próprio cen-tro e o sentido mesmo deste processo.

É no objeto-mundo “com sentido”que as ciências humanas e a comunicaçãose encontram. No mundo “comunicado”,que tanto os media como as ciências huma-nas nos oferecem, constitui-se a objetivida-de mesma do mundo e não somente inter-pretações diferentes de uma “realidade” dealguma maneira “dada”. A realidade domundo como algo que enfim não é umareunião de visões disciplinares do empiris-mo ingênuo, mas algo que se constróicomo contexto de múltiplas narrativas. Te-matizar o mundo nestes termos é precisa-mente a tarefa e o significado das ciênciashumanas. É neste sentido, também, que odebate metodológico passa a ocupar umamplo espaço nas ciências sociais de hoje,porque discutir a realidade globalizada oumundializada, como paradigma social eepistemológico, passa a ser uma questãocentral e substantiva para desdogmatizaras ciências sociais e discutir a própria cons-trução da ciência como discurso. Admitir ocaráter intrinsecamente histórico desse dis-curso (epistemologia histórica de Bache-lard) é reconhecer nas ciências sociais asformas de autoconsciência social em queelas sempre se constituíram (Ianni), atravésda revelação das pluralidades dos meca-nismos e das armaduras internas de suaconstrução.

Na nova percepção de espaço e o tem-po que configura este começo de séculodesdobra-se um mapa de sintomas e desa-fios para as Ciências Sociais, uma agendanova para a investigação (Martín-Barbero,2001). Especificamente no que aqui proble-matizo, na dificuldade das ciências sociaisem tratar do fenômeno comunicacional, háalgo mais que o déficit de legitimidade aca-dêmica de que este padece como “objetode estudo” recente.

Parece mais, pois diríamos que soció-logos, antropólogos e cientistas políticos

perceberam de forma obscura o estalidodas fronteiras que a Comunicação carregapela configuração de seus objetos móveis,nômades, de contornos difusos, impossí-veis de encerrar nas malhas de um saberpositivo e rigidamente parcelado. Nastransformações que emergem da experiên-cia comunicacional há um fermento de mu-danças no próprio saber.

Mudanças de época sempre são acom-panhadas por mudanças na socialidade ena cognição, o que leva Octavio Ianni(1994) a afirmar que as rupturas históricasnem sempre acarretam rupturas epistemo-lógicas, mas quase sempre vêm acompa-nhadas por estas.

De acordo com este autor, as CiênciasSociais são filhas de rupturas históricas – arevolução francesa e a revolução industrial- e se desenvolveram dentro do paradigmahistórico-epistemológico da sociedade na-cional ou da modernidade. Frente ao novoobjeto, a sociedade global, as Ciências Soci-ais são postas diante de novos desafios his-tóricos e epistemológicos. Nas palavras deIanni:

Muito dos seus conceitos, categoriase interpretações são postos em cau-sa. Alguns tornam-se obsoletos, ou-tros perdem parte de sua vigência ehá os que são recriados. Mas logo secoloca o desafio de criar novos. Àmedida em que a realidade socialpassa por uma verdadeira revolu-ção, quando o objeto das ciências so-ciais se transfigura , nesse contextodescortinam-se outros horizontespara o pensamento. (...) Como a pro-blemática da globalização se encon-tra em processo de equacionamentoempírico, meto-dológico e teórico,apenas começa a ser percebida emsuas implicações epistemológicas,como as questões de espaço e tem-po, sincronia e diacronia, micro emacro, singular e universal, indivi-dualismo e holismo, pequeno relatoe grande relato (1994 154;156).

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5 Comunicação e transdisciplina-ridade

Como vimos, para nós, estudiosos da co-municação, este é um momento históricoparticular, pois vemos colocada a comuni-cação no centro da sociedade contemporâ-nea e no seu próprio sentido. É nesse mo-mento que residem as explicações maisplausíveis para a “explosão da comunica-ção”, a explosão dos cursos de comunica-ção e, principalmente, a explosão da im-portância dos estudos de comunicação. Es-tamos longe das enganosas explicações so-bre as fantasias midiáticas dos jovens quefariam crescer vorazmente as faculdades decomunicação ou sobre a inespecificidadedos estudos de comunicação.

É no entroncamento dos processos deinstitucionalização acelerada dos estudosde comunicação com o crescimento da insa-tisfação generalizada com a sua disciplina-rização no contexto das ciências sociais(Wallerstein) e, também, com a sociedadeda comunicação, (Vattimo) que se podeidentificar a institucionalização transdiscipli-nar dos estudos de comunicação a que remeteo sociólogo italiano Mario Morcellini. Paraa comunicação, vale a sua metáfora de quea comunicação é “indisciplinada” (Morce-llini e Fatelli, 1996), o que a torna um “pa-radoxo” em face à aceleração do seu proces-so de institucionalização acadêmica, pelomenos desde a última década 2 . É a preocu-pação com esse mesmo paradoxo que levaCapparelli e Stumpf a afirmar:

A Comunicação, na sua dimensãoinstitucional, procura se organizar deforma autônoma, mas não em termosepistemológicos. Não que os objetosde estudo tivessem se tornado parti-culares ou que os pressupostos teóri-cos fossem próprios. Na verdade, amassa crítica sobre o fenômeno criounichos de pesquisadores situados, emtermos profissionais ou burocráticos,nos chamados departamentos de co-municação. Em outras palavras, o

campo institucional procurou se espe-cializar. Um paradoxo: procurou seespecializar institucionalmente nomomento em que a fragmentação au-menta em termos de interfaces e deperspectivas teóricas (1998: 9).

Não obstante à correção do diagnósti-co, meu esforço é demonstrar que esse pa-radoxo é aparente, sustentando que, nocaso dos estudos de comunicação no Brasil,a sua institucionalização como campo aca-dêmico é concomitante a uma progressivaafirmação de seu estatuto transdisciplinar.Em outros termos, é um caso de luta paraafirmar-se institucionalmente um campo acadê-mico transdisciplinar e para afirmar-se o estatu-to transdisciplinar da comunicação. Este esta-tuto, como tratei de mostrar aqui, não consti-tui um caso isolado, mas, antes, deve ser en-tendido como fazendo parte de movimentocontemporâneo de reconstrução histórica eepistemológica das ciências sociais.

Duas observações decorrem dessa posi-ção. A primeira é que a reestruturação trans-disciplinar das ciências sociais não implicaem dissolver a formação de pesquisadoresnem a prática científica em generalidades,mas sim em articular nela a experiência e osrecursos de diversos ramos e enfoques emuma síntese que, na proliferação de objetosde estudo abordados, conflua enquanto lógi-ca científica para a produção de conhecimen-to pertinente e consistente, e que responda àsnecessidades sociais, mais além das “gru-pais”, que, em todo caso, somariam-se emuma identidade maior para assim fortalecer-se. A segunda observação é que a transdisci-plinarização assim entendida não supõeuma arbitrária e radical dissolução da estru-tura disciplinar no institucional, e menos nocognoscitivo ou enquanto processo de forma-ção. É precisamente através da conquista dorigor teórico-metodológico e da ampliação econsolidação do domínio dos saberes atéagora fragmentados em disciplinas que nós,pesquisadores nas ciências sociais, podere-mos avançar a partir do espaço acadêmico,juntamente com o nosso tempo sociocultural.

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6 O campo da Comunicação no Bra-sil e seus dilemas (A pesquisaacadêmica de comunicação noBrasil ou o paradoxo da insti-tucionalização da transdis-ciplinaridade de um campo)

O pensamento epistemológico no campoda Comunicação no Brasil constitui umaperspectiva recente que se manifesta nocrescimento de análises auto-reflexivas .Elas têm se expressado, por exemplo, emtrabalhos de reconstrução histórica do cam-po e de teorização dos objetos de pesquisade comunicação no Brasil feitos, entre ou-tros, por José Marques de Melo, AntonioFausto Neto, M. Immacolata V. Lopes, LuizMartino, José Luiz Braga, Lucrécia Ferrara,Muniz Sodré, Ciro Marcondes Filho, LúciaSantaella e Francisco Rüdiger. Assim, den-tro desse corpo sistemático de reflexões, faz-se necessário aprofundar a questão da condi-ção disciplinar da pesquisa da Comunicação.

Como já afirmei, acredito que estapreocupação epistemológica deve-se a umimperativo do momento atual. Em verda-de, trata-se dos desafios cognitivos trazidospelos processos de globalização e que se tra-duzem na chamada “crise de paradigmas”.

Como novo constructo teórico-metodológi-co e macrocategoria das Ciências Sociais, aglobalização envolve necessariamente a dia-lética singular-diverso e universal-global.O que implica em não priorizar um mo-mento em detrimento do outro, mas em re-conhecer que ambos se constituem recipro-camente, articulados de modo harmônico,tenso e contraditório, envolvendo múlti-plas mediações

Segue-se, então, a questão que maisnos interessa. É que a reflexão sobre a soci-edade global transborda os limites conven-cionais desta ou daquela ciência social elogo fica evidente que qualquer análise en-volve necessariamente várias ciências. Osmúltiplos aspectos da sociedade globalpõe em dúvida se ainda há algum critérioque possa ser usado para assegurar, comrelativa clareza e consistência, as fronteiras

entre as disciplinas sociais. No dizer deWallerstein (1990:402): “Todos os critériospresumíveis – níveis de análise, objetos,métodos, enfoques teóricos – ou não sãomais verdadeiros na prática, ou, se manti-dos, são obstáculos a conhecimentos poste-riores, antes do que estímulos para a suacriação”.

Para o campo da Comunicação, estepode ser um contexto privilegiado, a serpositivamente apropriado, uma vez quetambém os seus limites disciplinares sãocolocados em contestação, exigindo assimum olhar crítico sobre o passado da suaprática de pesquisa.

Podemos dizer que os estudos da Co-municação foram marcados desde os seuscomeços, entre os anos 20 e os 30, pelo pa-radigma de Lasswell, responsável por umavisão fragmentada e parcelar do processode comunicação que se mantém até hoje:estudos do emissor, do canal, da mensa-gem e do receptor. Em cada um dessesfragmentos como que houve uma “especia-lização” em determinados aportes discipli-nares. Assim, os estudos do emissor naeconomia política ; os estudos do canal naanálise tecnológica; os da mensagem na lin-güística e os do receptor na sociologia ouna psicologia e, mais recentemente, na an-tropologia.

Acrescido a esse problema epistemo-lógico do resgate da totalidade e da inte-gração do processo de comunicação, a prá-tica da pesquisa de Comunicação, segundoMoragas (1985), tem sido meramente pluri-disciplinar, isto é, feita com a colaboraçãode distintas disciplinas para o reconheci-mento de um objeto comum, cada uma de-las a partir de sua ótica particular, o queleva apenas a uma justaposição de conheci-mentos díspares e não à sua integração. Se-gundo o autor, o desenvolvimento do cam-po caracteriza-se hoje como interdiscipli-nar, pois implica o confronto e o intercâm-bio de métodos e pontos de vista. Para ele,um grau superior de colaboração dar-se-iana transdisciplinaridade, etapa ainda nãoalcançada, que não se limitaria a posicionar

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um objeto comum, a compartilhar ou com-plementar enfoques metodológicos, senãoque trabalharia com conceitos e teorias co-muns às distintas ciências sociais. A solu-ção destes problemas, para o autor, deveser confiada à investigação epistemológicadas próprias Ciências Sociais, onde se inse-re a Comunicação. Mas para o meio tem-po, enquanto isso não acontece, Moragasfaz uma proposta factível de interdiscipli-naridade através do manejo da bi-discipli-naridade (psico-sociologia, economia-polí-tica, sócio-linguística) dentro do estudo derelações bipolares entre emissor-canal,mensagem-receptor, mensagem-canal, etc.

Mesmo que se discorde da proposta,o mérito de Moragas estava em proceder auma discussão teórica sobre o estatuto dis-ciplinar da Comunicação, e que parece es-tar sendo retomada depois de mais de 15anos, agora de forma convergente, a partirde uma perspectiva epistêmica, no meio dachamada “crise dos paradigmas” das Ciên-cias Sociais.

Um aspecto central para esse avançoé, sem dúvida, o acerto de contas da pes-quisa de Comunicação com suas herançasepistêmicas positivistas, dedutivistas efuncionalistas que devem ser desmontadascriticamente para dar lugar a lógicas maiscomplexas e pertinentes à multidimensio-nalidade do objeto da Comunicação.

É o caso do exercício do paradigmada complexidade (Morin, 1986;1991) e doparadigma do sistema-mundial (Wallers-tein) ou da globalização (Ianni) nos estudosde Comunicação. Trata-se de um paradig-ma epistemológico transdisciplinar, por-que foi constituído por um certo tipo derelação lógica extremamente forte entre no-ções mestras, noções-chave e princípios-cha-ve das mais diversas origens disciplinares.

Contrário à simplificação, Morin(1986:246) define paradigma da complexi-dade “como o conjunto de princípios de in-teligibilidade que, ligados uns aos outros,poderiam determinar as condições de umavisão complexa do universo físico, biológi-co, antropossocial”. Assim, segundo ele, o

paradigma da complexidade não produznem determina a inteligibilidade. Pode so-mente incitar a estratégia-inteligência dosujeito investigador a considerar a comple-xidade do problema estudado. Incita a dis-tinguir e fazer comunicar em vez de isolare de disjuntar, a reconhecer os traços singu-lares, originais, históricos do fenômeno emvez de ligá-los pura e simplesmente a de-terminações ou leis gerais, a conceber aunidade-multiplicidade de toda a entidadeem vez de torná-la heterogênea em catego-rias separadas ou de homogeneizá-la numatotalidade indistinta. Incita a dar conta doscaracteres multidimensionais de toda a rea-lidade estudada. O pensamento complexosó se manifesta à custa de uma recriaçãointelectual permanente, pois de outromodo arrisca-se a degradar-se, isto é, a sim-plificar-se. Hoje, um dos sintomas da “crisedos paradigmas” está na simplificação dateoria. Segundo Morin, a simplificação dateoria é de triplo espectro. Primeiro, elaestá na degradação tecnicista, conservando-seda teoria aquilo que é operacional, mani-pulador, o que pode ser aplicado; a teoriadeixa de ser logos para tornar-se tecné. Se-gundo, a simplificação esta na degradaçãodoutrinária, pela qual a teoria torna-se dou-trina, ou seja, torna-se cada vez menos ca-paz de abrir-se à prova da experiência, aoconfronto do mundo exterior. E, terceiro, napop-degradação, quando através da elimina-ção das dificuldades reduz-se a teoria a umafórmula de choque, à sua vulgarização.

Por outro lado, o passado das Ciênci-as Sociais foi feito de certezas conflitantesentre si e achamo-nos num presente carac-terizado por grandes questionamentos, osquais incluem o próprio questionamentoda possibilidade intrínseca de se possuircertezas. É ao mesmo a que se refere, emoutros termos, Prigogine com o “fim dascertezas” (1997).

A tônica em que insisto vai para aqui-lo que é complexo, temporal, instável e quecorresponde a um movimento transdisci-plinar que se afirma progressivamente. Acrítica central recai sobre a artificialidade

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dos limites disciplinares construídos nota-damente no século XIX, tanto entre os do-mínios das Ciências Exatas, das CiênciasSociais e das Humanidades, como entre asdisciplinas dentro de cada domínio, limitesesses que foram mantidos mais por tradi-ções institucionais do que intelectuais. Osdesafios trazidos pela compreensão de no-vos objetos, como é a Comunicação, enca-minham para a formação de novas síntesesdisciplinares ou convergências disciplinares,isto é, de transdisciplinas ou pós-disciplinas.

A possibilidade de que a Comunica-ção aproveite positivamente dessa e de ou-tras maneiras as conjunturas epistemológi-cas e metodológicas que a “crise dos para-digmas” nas Ciências Sociais abriu, podeadvir paradoxalmente do fato de ela serum espaço de conhecimento onde a institu-cionalização disciplinar tem sido mais dé-bil. Apesar das condições desfavoráveisque isso supõe, talvez daí ela tenha arran-cado o sentido crítico e transformador quetem sido uma das marcas distintivas do pen-samento latino-americano em Comunicação.

Entretanto, a proposta transdisciplinartem causado tensões e polêmicas na medi-da em que a institucionalização de um cam-po supõe sua especialização disciplinar.

A atual tendência latino-americanatem se expressado na proposta de inserir apesquisa de Comunicação no espaço dasCiências Sociais e no desenvolvimento doenfoque sócio-cultural. Aí são vistos obstá-culos à delimitação de um objeto próprio eà sua legitimação acadêmica. Por isso, tor-na-se necessário aumentar no campo daComunicação o movimento de auto-reflexi-vidade que se espraia em todo o campodas Ciências Sociais, com particular aten-ção à reflexão epistemológica crítica e atua-lizada. Acreditamos que a prática transdis-ciplinar pode se produzir através de movi-mentos de convergências e de apropriaçõesmútuas, tais como, a partir da Comunica-ção são trabalhados processos e dimensõesque incorporam perguntas e saberes histó-ricos, antropológicos e estéticos ao mesmotempo que a sociologia, a antropologia e a

ciência política começam a se voltar, de for-ma não marginal, para os meios e os mo-dos como operam as indústrias culturais.

A consciência crescente do estatutotransdisciplinar do campo permite dar con-ta da multidimensionalidade de que na so-ciedade se revestem os processos comuni-cativos e de sua crescente importância paraa produção da modernidade em paísescomo os da América Latina. É o que levaMartín-Barbero a afirmar que:

A transdisciplinaridade de modo al-gum significa a dissolução dos pro-blemas-objeto do campo da comuni-cação nos de outras disciplinas sociais,mas a construção de articulações –intertextualidades - que fazem possívelpensar os meios e as demais indústriasculturais como matrizes de desorgani-zação e reorganização da experiênciasocial e da nova trama de atores e deestratégias de poder (1996:62).

Em conclusão, o paradigma da trans-disciplinaridade ou pós-disciplinaridade éconseqüência de fatores “internos” - a con-vergência que se nota nas modernas análi-ses das Ciências Sociais e de fatores “exter-nos” - o processo histórico da globalização,que se acumularam sobre o campo da Co-municação e que fazem dele um lugar estra-tégico para o debate da modernidade.

6.1 O campo de Pós-Graduação deComunicação no Brasil

Segundo Bourdieu (1983), os estados inici-ais de um campo científico são sempremarcados por poucos recursos científicosacumulados e por um grau de heterogenei-dade mais elevado entre os seus agentes; daía concorrência científica ser mais reduzida. Aevolução de um campo científico se dá entãono sentido da indiferenciação para a diferenciaçãointerna, sendo que este movimento é corre-lato ao aumento da concorrência científica.

A competição que se instala num cam-

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po é, ao mesmo tempo, científica e econô-mica. Por um lado, à medida que crescemos recursos científicos acumulados, que seexpressam nos avanços da pesquisa, au-menta o grau de homogeneidade entre osconcorrentes e isso faz aumentar a competi-ção científica. Por outro lado, o crescimentoda competição científica torna mais acirra-da a luta pelos recursos econômicos docampo, que já são, por definição, escassos.Identificamos claramente esse percurso per-corrido pela pós-graduação no campo da Co-municação. Conforme observa Capparelli:

A área da pós-graduação em Comuni-cação no Brasil está passando por mu-danças poucas vezes observadas antes.Mestrados e doutorados antigos, algunsdeles com mais de 20 anos, sofremreestruturações profundas; cursos no-vos são criados; parcerias interinstitu-cionais, testadas; e, pela primeira vezassiste-se a uma descentralização geo-gráfica dos programas de pós-gradua-ção stricto sensu no país (1996:3).

Atualmente (2006) existem na área deComunicação 22 mestrados e 12 doutora-dos credenciados pela CAPES.

De acordo com a tabela, nos 20 pri-meiros anos da pós-graduação em Comuni-cação foram criados 6 programas, e desde adécada de 1990 foram abertos 16 progra-mas, ou seja, quase 3 vezes mais do quenas décadas de 1970 e 1980.

Cinco cursos de Mestrado começarama funcionar na década de 70 (USP, UFRJ,UnB, PUC-SP e UMESP), um na década de80 (UNICAMP), 6 na década de 90 (UFBA,PUC-RS, UNISINOS, UFRGS, UFMG e UFF)e 10 nos anos 2000.

Dos 12 cursos de Doutorado, 3 inicia-ram na década de 80 (USP, UFRJ e PUC-SP),4 na de 90 (UFBA, UMESP, PUC-RS e UNI-SINOS) e 5 nos anos 2000 (UNICAMP, UFR-GS, UnB, UFF e UFMG).

Se até o final dos 80 houve uma ex-trema concentração geográfica desses cur-sos (de 6 cursos, 5 estavam localizadosno eixo São Paulo-Rio), na primeira meta-de dos anos 1990, ocorreu uma importan-te descentralização regional, com a cria-ção do primeiro curso no Nordeste(UFBA) e em seguida de 3 cursos no Sul(PUC-RS, UNISINOS e UFRGS, todos noRio Grande do Sul).

Na década de 1980, 4 cursos são pú-blicos e 2 são privados confessionais; nadécada de 1990, 8 são públicos e 4 são pri-vados confessionais; nos anos 2000, 12 sãopúblicos, 6 são privados confessionais e 4são privados.

Entretanto, como assinala FaustoNeto (2002), a pesquisa de pós-graduaçãono país é fundamentalmente acadêmica epública, o que possivelmente se deve aofato das universidades públicas vincula-rem com mais afinco e continuidade apesquisa ao processo de capacitação deseus professores.

Segundo o Documento de Área daCAPES (2001-2003), o quadro global mos-tra 417 professores doutores nos PPG-COM e 2277 estudantes, sendo 65% mes-trandos e 35% doutorandos.

Entre 1996 e 2003, a área apresentou3.315 titulados, sendo 2.505 mestres e 810doutores.

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7 Perspectivas atuais da pós-gra-duação de Comunicação no Brasil

A expansão da pós-graduação em Comuni-cação foi marcada por dois movimentos,um no sentido de sua regionalização (comofoi visto acima), e outro no sentido de umadelimitação temática mais rigorosa, o que as-sinala uma organização dos programascom perfis de estudo mais específicos, nocaminho de uma maior diferenciação inter-na, como apontada por Bourdieu.

Essa identificação das áreas de estudotem sido caracterizada por um processobastante moroso e complexo. Na década de1970, em virtude da juventude dos progra-mas e de seu número reduzido, a oferta deáreas era superdimensionada, o que levavaa esses programas praticamente “a abarcartudo” e as linhas de pesquisa mal eramexercidas, muitas vezes levando a situa-ções de “um professor uma linha de pes-quisa”. Foi uma época de graves confusõesentre os conceitos de “programa” equiva-lente ao curso como um todo), de “área depesquisa” (área de concentração de pesqui-sa) e de “linha de pesquisa” (temática deestudo mais específica), o que expressava aindefinição de rumos. Na década de 1980,quando se iniciaram os doutorados, a situ-ação pouco se alterou. A estruturação dosdoutorados foi desenhada como um pro-longamento dos mestrados, mantendo-seas mesmas áreas e linhas que funcionavamneste nível. Somente no final dos 90 é quecomeçam a aparecer tentativas de especifi-cação do doutorado, com programas queoferecem áreas e linhas de pesquisa exclu-sivas neste nível de pós-graduação.

De todo modo, é na década de 1990,com o surgimento de novos programas, quese torna visível o processo de caráter identitá-rio na pós-graduação de Comunicação, nosentido dos programas dotarem-se de maioridentidade científica. É evidente que isso sópode ser exercitado na medida em que crescea competência e os recursos científicos docampo, acompanhados pelo aumento dacompetição científica, no dizer de Bourdieu.

Atualmente, as áreas temáticas (chamadasáreas de concentração) nos Programas depós-graduação de Comunicação encon-tram-se firmadas em torno de uma tríade:comunicação, cultura e tecnologia. As linhasde pesquisa que mais se consolidam po-dem ser identificadas em alguns blocos. Noprimeiro bloco, temos: teoria, tecnologias ediscurso; no segundo: cultura e mídias; e noterceiro: organizações e política .

Com apenas 34 anos de existência (oprimeiro mestrado data de 1972 e o primei-ro doutorado de 1980, ambos da USP), após-graduação de Comunicação percorreuum caminho que lhe tem conferido pro-gressiva legitimidade acadêmica. Há muitoainda por fazer, principalmente testar no-vas experiências, trabalhar por uma maiorcompetência científica dos programas, poruma identificação mais definida, bem comopor sua maior inserção regional. Pelo ma-peamento que acabo de fazer, não resta dú-vidas de que se trata de um campo em pro-cesso de expansão, tanto quantitativo comoqualitativo .

Notas

1 Apesar de não reduzir a importância do livro de Giddens(1989), muitos elementos de sua teoria da estruturaçãojá se encontram desenvolvidos em Bourdieu, tantoconceitualmente nas categorias de campo e de habitus comono trabalho de pesquisa sobre a categoria do gosto.

2 Essa crescente institucionalização do campo acadêmicoda Comunicação possui características próprias em al-guns países da Europa, como a Itália, onde os cursos degraduação em Comunicação são criação recente, dosanos 90, e se dão num movimento contrário ao queaconteceu no Brasil e na América Latina. Lá, até então,os cursos eram de pós-graduação, tanto como cursos deespecialização profissional (Master) como cursos de dou-torado, o que fez com que a atividade de pesquisa ante-cedesse a de ensino no campo.

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