o campo científico da comunicação no brasil

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RICHARD ROMANCINI O campo científico da Comunicação no Brasil: institucionalização e capital científico Volume I Tese apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção do título de doutor em Ciências da Comunicação, na Área de Concentração Teoria e Pesquisa em Comunicação Orientadora: Profª Drª Maria Immacolata Vassallo de Lopes São Paulo 2006

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  • RICHARD ROMANCINI

    O campo cientfico da Comunicao no Brasil: institucionalizao e capital cientfico

    Volume I

    Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincias da Comunicao da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, como requisito parcial para a obteno do ttulo de doutor em Cincias da Comunicao, na rea de Concentrao Teoria e Pesquisa em Comunicao

    Orientadora: Prof Dr Maria Immacolata Vassallo de Lopes

    So Paulo 2006

  • i

    Errata

    Pg. 3 Linha 28 - onde se l nas superao, leia-se na superao Pg. 5 Linha 3 (nota 3) onde se l buscarim, leia-se buscariam Pg. 12 Linha 1 - onde se l das proposio de Lakatos,), leia-se da proposio de Lakatos) Pg. 12 Linha 28 - onde se l existem instncia, leia-se existam instncias Pg. 30 Linha 5 onde se lm se objetivar-se-, leia-se objetivar-se- Pg. 52 Linha 7 onde se l deixarim, leia-se deixariam Pg. 53 Linha 10 onde se l transdiciplinaridade, leia-se transdisciplinaridade Pg. 57 Linha 1 (nota 20) onde se l contorversas, leia-se controversas Pg. 61 Linha 15 onde se l transdiciplinaridade, leia-se transdisciplinaridade Pg. 71 Linha 10 (nota 24) - onde se l quea, leia-se que a Pg. 75 Linha 4 - onde se l operamde, leia-se operam de Pg. 85 Linha 6 onde se l Liede Filho, leia-se Liedke Filho Pg. 97 Linha 19 onde se l sermarcados, leia-se ser marcados Pg. 142 Linha 19 onde se l, CNPq (seguinte, leia-se CNPq (seguindo Pg. 144 Linha 17 onde se l pode-se dizer a rea a Comunicao tende a receber menos

    investimentos que as reas aqui vistas, como j disse, leia-se pode-se dizer que a rea a Comunicao tende a receber menos investimentos que as reas aqui vistas, como j se disse,

    Pg. 145 Linha 30 onde se l aos investimento, leia-se aos investimentos Pg. 146 Linha 26 onde se l iroresponder, leia-se iro responder Pg. 156 Linha 9 onde se l sedidados, leia-se sediados Pg. 160 linha 11 onde se l posicionamente, leia-se posicionamento Pg. 167 Linha 5 onde se l se explicam, leia-se se explica

    Linha 10 onde se l nomeclatura, leia-se nomenclatura Pg. 179 Linha 9 onde se l tem como, leia-se tm como Pg. 180 Linha 5 onde se l produo feitos coordenados por, leia-se produo coordenados por Pg. 183 Linha 10 onde se l alcancaram, leia-se alcanaram Pg. 186 Linha 7 onde se l internalizao, leia-se internacionalizao Pg. 218 - Linha 14 onde se l etapas prximas de uma cincia prxima da idia de cincia

    normal, leia-se etapas prximas de um estgio de cincia normal Pg. 219 - Linha 16 onde se l da, leia-se d Pg. 224 - Linha 3 onde se l gerados novos., leia-se gerados novos argumentos. Pg. 228 - Linha 2 - Frana, Hohfeldt, Martino garantem tem essa, leia-se Frana, Hohfeldt e

    Martino garantem essa Pg. 232 - Linha 3 onde se l do matria, leia-se do material

    Linha 12 onde se l digitveis, leia-se digitvamos Linha 21 - onde se l , leia-se e Linha 25 - esse material tem tem, leia-se esse material tem

    Pg. 233 - Linha 12 - onde se l da cincias scias, as citaes formam em, leia-se das cincias sociais, as citaes foram em

    Pg. 235 Linhas 3 e 5 onde se l uniautorias, leia-se uniautorais Pg. 236 - Linha 4 onde se l dois, leia-se duas Pg. 237 - Linha 1 onde se l 7.11, leia-se Tabela 7.11 Pg. 238 - Linha 4 - onde se l, relativos as citaes, leia-se relativos s citaes

  • ii

    Linha 7 - onde se l, A Tabela 12 no mostra um padro de aumentou, leia-se A Tabela 7.12 no mostra um padro de aumento

    Pg. 239 - Linha 1 - A variao, leia-se H variao Pg. 242 - Linha 3 - onde se l na primeiro, leia-se na primeira

    Linha 26 onde l usados pesquisa, leia-se usados na pesquisa Pg. 246 - Linha 11 onde se l bem citado vrios, leia-se bem citado em vrios

    Linha 12 - onde se l Levy, leia-se Lvy Pg. 245 - Linha 5 onde se l existe, leia-se existem Pg. 251 (numerada como 231) - Nmero de pgina correto - 251 Pg. 252 - Linha 6 onde se l tem, leia-se tem, leia-se tm

    Linha 12 onde se l era, leia-se rea Pg. 254 Linha 5 onde se l existe, leia-se existem

    Linha 6 onde se l Mello, leia-se Melo Pg. 255 (numerada como 247) - Nmero de pgina correto - 255 Pg. 256 - Linha 7 onde se l mantm-se, leia-se mantm-se Pg. 257 (numerada como 249) - Nmero de pgina correto - 257 Pg. 258 - Linha onde se l Comunicao e demandaria, leia-se Comunicao demandaria Pg. 259 - Linha 20 - onde se l interaturar, ler interatuar Pg. 260 - Linha 3 onde se l compreener melhor o acentuado de capital, leia-se compreender

    melhor o acentuado grau de capital Linha 6 onde se l mais maior, leia-se maior Linha 11 onde se l transdiciplicinar, leia-se transdisciplinar Linha 28 onde se l externa, leia-se so externas

    Pg. 261 - Linha 10 onde se l espero leia-se esperamos

  • iii

    Narrar-se-ia toda uma vida se se fizesse a narrativa de todas as portas que se fecharam, que se abriram, de todas as portas que se gostaria de reabrir. Mas o mesmo ser aquele que abre uma porta e aquele que a fecha? Gaston Bachelard (1988, 255)

  • iv

    Richard Romancini

    O campo cientfico da Comunicao no Brasil: institucionalizao e capital cientfico

    Banca Examinadora

    Presidente: _____________________________________________ Prof Dr Maria Immacolata Vassallo de Lopes

    Membros: _____________________________________________

    _____________________________________________

    _____________________________________________

    _____________________________________________

    So Paulo, de de 2.00 .

  • v

    Agradecimentos

    Apesar do risco de parecer demaggico, gostaria de agradecer em primeiro lugar minha

    orientadora. Nesses quase dez anos de convivncia, aprendi lies que vo muito alm da vida

    acadmica.

    Agradeo tambm a meus pais e ao meu irmo pela compreenso e auxlio. Vrios amigos

    tambm tornaram essa trajetria menos rdua: Alejandra Nicolosi, Cludia Lago, Cludia

    Mogadouro, Claudemir Viana, Fabiano Cataldo, Gustavo de Carvalho, Llian Escorel, Luciana

    Flix, Mariana Klinke Pandolfi, Patrcia Horta, Ricardo Bergamo e Valdinete de Souza.

    Os professores doutores Alberto Efendy Maldonado (UNISINOS), Antonio Adami (UNIP),

    Ana Paula Goulart (UFRJ), Anna Lcia Enne (UFF), Antonio Albino Canelas Rubim

    (UFBA), Dione Moura (UNB), Eduardo Duarte (UFPE), Ferno Ramos (UNICAMP), Jiani

    Adriana Bonin (UNISINOS), Denise Arajo (UTP), Mrcio Simeone (UFMG), Paulo Rocha

    Dias (UNILESTE-MG), Sandra Reimo (UMESP), Vera Frana (UFMG) merecem minha

    lembrana pela colaborao na coleta de dados dos PPGCOM, de modo geral, a partir da

    indicao dos estudantes que fizeram esta tarefa sob minhas orientaes. A estes estudantes

    de graduao, Bruno de Moraes Castro (UFMG), Daniele I. B. Consolino (UNICAMP),

    Dbora R. Ertel (UNISINOS), Dbora de Morais (UNB), rika Mendona (UFPE), Patrcia

    Petreca (UMESP) Ragi Gonalves (UTP) e Sara G. M. Ucha (UFBA), meu muito obrigado.

    Agradeo tambm aos professores doutores Elisabeth Saad Corra (USP) e Jos Luiz Aidar

    (PUCSP), que participaram da banca de qualificao desse trabalho e contriburam com

    sugestes. Tambm gostaria de lembrar dos professores Afrnio Mendes Catani, Jos

    Marques de Melo e do saudoso professor Octavio Ianni, com os quais tive o prazer de

    aprender durante disciplinas ao longo do doutorado.

    Anna Paula Muniz, Carolina Alves Marra, Daniele C. Lima, Graziella Oliveira, Ndia

    Marques e Cristine Vargas Pereira, bolsistas e ex-bolsistas de IC do NUPEM, colaboram

    tambm de modo fundamental. Agradeo em particular ltima, que me acompanha desde o

    mestrado, e a quem peo desculpas pelas broncas em momentos de menor tranqilidade.

    Agradeo ainda ao CNPq, pela bolsa de doutorado, no ltimo ano de realizao do trabalho,

    tornando-o possvel.

  • vi

    RESUMO ROMANCINI, Richard. O campo cientfico da Comunicao no Brasil: institucionalizao e capital cientfico. So Paulo, 2006. Tese (Doutorado) Escola de Comunicaes e Artes, Universidade de So Paulo. RESUMO: A pesquisa tem como objeto a rea dos estudos de Comunicao no Brasil. Como

    desenvolve-se basicamente no meio acadmico, foram privilegiados aspectos e dados

    relativos a todos os Programas de Ps-Graduao em Comunicao (PPGCOM)

    reconhecidos pela CAPES no ano de 2004.

    Buscou-se discutir a possvel conformao de um campo cientfico (Bourdieu) da

    Comunicao, a partir da anlise de dados institucionais, quanto insero de sua pesquisa

    no sistema de C&T do pas, sua auto-representao e seu capital cientfico. Este ltimo

    aspecto foi analisado atravs de um estudo bibliomtrico de teses e dissertaes dos

    PPGCOM. Buscou-se desenvolver uma metodologia para a anlise de reas ou disciplinas

    cientficas e, para tanto, faz-se uma reelaborao do modelo de Galtung (1965), sobre a

    interao entre grupos acadmicos.

    Quanto aos resultados, constatou-se uma circulao relevante de capital cientfico entre

    os pesquisadores da rea, sendo esse um elemento que mostra que o grupo de

    investigadores no se encontra num modelo segmental de interao. Existem indcios de

    um modelo conflitivo-construtivo, o que favorece a consolidao do campo cientfico da

    Comunicao.

    Identificou-se tambm a existncia de um ncleo disciplinar, composto por autores dos

    PPGCOM que recebem nmero significativo de citaes bibliogrficas em vrias das

    subreas da rea da Comunicao.

    Palavras chave: Campo cientfico Comunicao Capital cientfico Bibliometria

    Pesquisa em Comunicao

  • vii

    ABSTRACT

    The research has as its object the area of Communication Studies in Brazil. As it is

    developed basically in the academic field, it was privileged the aspects and data related to

    all the Postgraduates Programs in Communication (PPGCOM) recognized by CAPES in

    the year 2004.

    This research tried to argue about the possible conformation of a scientific field

    (Bourdieu) in the Communication, by analyzing institucional data referring to the insertion

    of its research in the C&Ts system in its country, its self-representation and its scientific

    capital. This last aspect was analyzed in a bibliometric study of thesis and dissertations of

    the PPGCOM. It tried to develop a methodology for the analysis of scientific areas and

    disciplines and for that one re-elaboration of Galtungs model (1965) about the interaction

    between academics groups.

    About the results, it was evidenced a relevant circulation of scientific capital between the

    researchers of this area. This is an element that shows a group of investigators who is not

    placed in a segmental model of interaction. There are indications of a conflictive-

    constructive model, which favors the consolidation of a scientific field in the

    Communication.

    The research also identified the existence of a discipline nucleus, composed by authors

    of the PPGCOM, who receive a significant number of bibliographical citations in the

    several sub-areas of the Communication Area.

    Keywords: Scientific Field Communication Scientific Capital Bibliometry

    Research in Communication

  • viii

    Sumrio

    VOLUME I

    INTRODUO ........................................................................................................ 6 Objetivos............................................................................................................................ 6

    Hipteses ......................................................................................................................... 11

    Justificativas do estudo.................................................................................................... 13

    Estrutura do trabalho e metodologias empregadas .......................................................... 21

    CAPTULO 1 - A cincia e o projeto cientfico ................................................... 24 1.1. O paradigma hegemnico da cincia .................................................................... 28

    1.2. O projeto cientfico segundo Granger ...................................................................... 32

    CAPTULO 2 - As cincias sociais, as cincias da comunicao e as novas epistemologias da cincia ........................................................... 36

    2.1. Ianni: a cincia como uma das narrativas da modernidade ...................................... 38

    2.2. Passeron: as cincias sociais como espao no-popperiano ................................. 42

    2.3. Kuhn: discusso de suas idias luz do exposto...................................................... 45

    2.4. Santos, Morin: novos contedos para a definio da cincia ................................... 50

    2.5. O que a reflexo precedente aporta ao estudo .......................................................... 54

    CAPTULO 3 - O conceito de campo cientfico: preliminares terico- metodolgicas de seu uso na investigao ................................. 64

    3.1. A nova sociologia da cincia ................................................................................ 64

    3.2. Bourdieu: o conceito de campo em seu projeto sociolgico .................................... 70

    3.3. As propriedades dos campos, campo e capital cientficos e o progresso da razo... 75

    3.4. O conceito de campo em abordagens da sociologia da cincia sobre a rea da Comunicao ............................................................................................................ 83

    3.5. O modelo de Galtung sobre a interao entre grupos acadmicos e o conceito de campo: possibilidades de integrao ........................................................................ 85

    CAPTULO 4 - Perfil Institucional das Cincias da Comunicao no Brasil: histrico e indicadores de insero na rea cientfica ............ 90

    4.1. A institucionalizao das cincias sociais no Brasil e a Comunicao .................... 91

    4.2. A ps-graduao em Comunicao no Brasil......................................................... 100

  • ix

    4.3. A populao estudantil dos PPGCOM ................................................................... 108

    4.4. O corpo docente dos PPGCOM.............................................................................. 116

    4.5. O fomento pesquisa: bolsas e investimentos realizados pelas agncias governamentais....................................................................................................... 129

    4.6. Sntese anlitica sobre os dados referentes ao perfil institucional da rea da Comunicao .......................................................................................................... 145

    CAPTULO 5 - Padres de associao, pesquisa e produo nas Cincias da Comunicao no Brasil..... ........................................................ 148

    5.1. Os Grupos de Pesquisa em Comunicao no Diretrio do CNPq.......................... 149

    5.2. As Associaes Cientficas dos pesquisadores da Comunicao.. ......................... 164

    5.3. As publicaes peridicas tcnico-cientficas da rea da Comunicao.. .............. 168

    5.4. A produo bibliogrfica e os projetos de pesquisa dos docentes-pesquisadores.. 175

    5.5. A produo (teses e dissertaes) dos PPGCOM - 1974-2004.. ............................ 180

    5.6. Perspectiva geral sobre os dados ............................................................................ 184

    CAPTULO 6 - Organizao e representao dos discursos da Comunicao e de sua produo cientfica..................................................... 188

    6.1. A representao da pesquisa realizada: propostas de taxonomia ........................... 191

    6.2. Anlise da produo cientfica: teses e dissertaes .............................................. 200

    6.3. Anlise das reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa dos PPGCOM ............. 210

    6.4. Os programas de pesquisa em Comunicao...................................................... 218

    CAPTULO 7 - O capital cientfico da Comunicao em suas referncias .... 221 7.1. Os estudos mtricos e a citao como medida do capital cientfico....................... 222

    7.2. Anlise bibliomtrica da bibliografia de acesso aos PPGCOM ............................. 226

    7.3 Anlise bibliomtrica da bibliografia das Teses e Dissertaes dos PPGCOM: metodologia e caractersticas gerais do padro de citaes.................................... 231

    7.4. O capital cientfico da rea da Comunicao evidenciado nas referncias das teses e dissertaes.. ............................................................................................... 238

    CONCLUSES FINAIS ...................................................................................... 259

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................... 262

  • x

    NDICE DE QUADROS

    Quadro 3.1 Modelos de interao entre grupos acadmicos... ............................................................ 88

    Quadro 6.1 Exemplo tpico de dupla categorizao de trabalho em subreas................................... 203

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 4.1 Escolas/Cursos de Graduao em Comunicao no Brasil............................................. 94

    Tabela 4.2 PPGCOM reconhecidos pela CAPES (2005).... ........................................................... 100

    Tabela 4.3 Ano do Incio dos Cursos de Mestrado em Comunicao...... ...................................... 101

    Tabela 4.4 Distribuio regional dos PPGCOM..... ....................................................................... 101

    Tabela 4.5 Natureza institucional das IES...................................................................................... 102

    Tabela 4.6 PPGCOM na Amrica Latina por pas e nvel.............................................................. 107

    Tabela 4.7 Titulados por rea de Conhecimento (2003)... ............................................................ 109

    Tabela 4.8 - Titulados em Cincias Sociais Aplicadas e Cincias Humanas (2003)......................... 110

    Tabela 4.9 Titulados em Comunicao, Economia, Arquitetura e Urbanismo, Histria e............. 112 Sociologia no qinqnio 1999-2003..... ............................................................................

    Tabela 4.10 Docentes dos PPGCOM distribudos por tipo de vnculo institucional...................... 117

    Tabela 4.11 - Titulao (Doutorado) dos professores colaboradores dos PPGCOM (2004)............. 119

    Tabela 4.12 - Titulao (Doutorado) dos professores permanentes dos PPGCOM (2004)............... 120

    Tabela 4.13 - Titulao (Doutorado) dos professores permanentes dos PPGCOM (2004), por ano de obteno do ttulo.... ............................................................................................... 123

    Tabela 4.14 Pases em que os professores permanentes dos PPGCOM (2004) obtiveram o ttulo de doutor, por ano........................................................................................................ 124

    Tabela 4.15 reas de doutorado dos primeiros docentes dos PPGCOM e dos atuais docentes permanentes (2004)... .................................................................................................. 125

    Tabela 4.16 Titulaes ps-doutorais obtidas pelos professores permanentes dos PPGCOM (2005)... ...................................................................................................................... 127

    Tabela 4.17 Pases das instituies nos quais foram feitos os Ps-Doutorados pelos docentes permanentes dos PPGCOM (2005)... .......................................................................... 128

    Tabela 4.18 Bolsas de Formao no Pas do CNPq e da CAPES distribuio por programa e Grande rea de conhecimento... ................................................................................. 131

    Tabela 4.19 Bolsas de Formao no Exterior do CNPq e da CAPES distribuio por programa e Grande rea de conhecimento.................................................................................. 135

    Tabela 4.20 Bolsas de Pesquisa do CNPq: distribuio por modalidade e Grande rea de conhecimento............................................................................................................... 137

    Tabela 4.21 Bolsas de Formao no pas do CNPq e CAPES: distribuio por rea de138 conhecimento............................................................................................................... 138

    Tabela 4.22 Bolsas de Formao no Exterior do CNPq e CAPES: distribuio por rea de conhecimento............................................................................................................... 139

    Tabela 4.23 Bolsas de Pesquisa do CNPq: distribuio por rea de conhecimento... .................... 140

    Tabela 4.24 Bolsistas de Produtividade em Pesquisa no CNPq.... ................................................. 140

  • xi

    Tabela 4.25 Investimentos realizados pelo CNPq por linha de ao segundo Grande rea do conhecimento - 1999-2004.. ....................................................................................... 141

    Tabela 4.26 - Total dos investimentos realizados pelo CNPq em bolsas e no fomento pesquisa por rea do conhecimento - 1999-2004.. ..................................................................... 142

    Tabela 4.27 - Investimentos (em mil reais) realizados pelo CNPq em bolsas e no fomento pesquisa por rea do conhecimento - 2001-2004......................................................... 143

    Tabela 5.1 Grupos de Pesquisa no Diretrio do CNPq, por Grandes reas (1993-2004).............. 150

    Tabela 5.2 Grupos de Pesquisa no Diretrio do CNPq, por reas de Conhecimento (1993-2004)............................................................................................................................................................. 151

    Tabela 5.3 - Distribuio dos pesquisadores e doutores segundo a rea de Conhecimento predominante nas atividades do Grupo (Censo - DGP/CNPq 2004)............................. 152

    Tabela 5.4 Grupos de Pesquisa em Comunicao segundo o nmero de pesquisadores doutores (Censo - DGP/CNPq 2004)............................................................................ 153

    Tabela 5.5 Grupos de Pesquisa em Comunicao, por Instituio (Censo - DGP/CNPq 2004) .... 153

    Tabela 5.6 Distribuio Regional dos Grupos de Pesquisa em Comunicao ............................... 156

    Tabela 5.7 Natureza das IES dos Grupos de Pesquisa em Comunicao....................................... 156

    Tabela 5.8 Nmero de Linhas de Pesquisa dos Grupos de Pesquisa em Comunicao ................. 157

    Tabela 5.9 Linhas de Pesquisa dos Grupos de Pesquisa em Comunicao..................................... 157

    Tabela 5.10 - Grupos de Pesquisa (exceto de Comunicao) que utilizam o termo comunicao como parte do nome, da LP ou palavra-chave............................................................ 161

    Tabela 5.11 Associaes cientficas do campo da Comunicao (2006).. ..................................... 166

    Tabela 5.12 Temticas dos NP da INTERCOM e GT da COMPS (2006).................................. 167

    Tabela 5.13 - Peridicos brasileiros de Comunicao: responsveis pela edio.. ........................... 169

    Tabela 5.14 - Peridicos brasileiros de Comunicao: diviso por regies.. .................................... 170

    Tabela 5.15 - Peridicos brasileiros de Comunicao: diviso temtica........................................... 171

    Tabela 5.16 Projetos de pesquisa em desenvolvimento pelos docentes dos PPGCOM .. .............. 175

    Tabela 5.17 Publicaes dos docentes permanentes dos PPGCOM.............................................. 177

    Tabela 5.18 Mdia de publicaes dos docentes NRD6 de 2001 e permanentes dos PPGCOM de 2004.. ..................................................................................................................... 179

    Tabela 5.19 - Produo PPGCOM Dissertaes (Mestrado) e Teses (Doutorado) (1974-2004) ... 181

    Tabela 5.20 - Produo PPGCOM Dissertaes (Mestrado) e Teses (Doutorado) (1974-2004) ... 182

    Tabela 5.21 - Produo de Dissertaes (Mestrado) e Teses (Doutorado) por PPGCOM (1974-2004) ........................................................................................ 183

    Tabela 6.1 - Classificao Atual da rea de Comunicao no CNPq............................................... 192

    Tabela 6.2 - Classificao da rea da Comunicao proposta por Lopes, Braga e Samain no 193 mbito da COMPS..................................................................................................... 193

    Tabela 6.3 - Classificao da rea da Comunicao, para efeito da TAC, proposta pela rea ao CNPq ....................................................................................................................... 199

    Tabela 6.4 - Classificao das teses dos PPGCOM em subreas ...................................................... 204

    Tabela 6.5 - Classificao das dissertaes dos PPGCOM em subreas........................................... 205

    Tabela 6.6 - Classificao da produo (teses e dissertaes) dos PPGCOM em subreas .............. 207

    Tabela 6.7 Interfaces entre subreas, conforme a classificao dos trabalhos ............................... 208

  • xii

    Tabela 6.8 reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa dos PPGCOM (2006) ........................... 212

    Tabela 6.9 Classificao das Linhas de Pesquisa dos PPGCOM por Subreas.............................. 216

    Tabela 7.1 Autores nacionais e estrangeiros nas bibliografias de acesso dos PPGCOM ............... 226

    Tabela 7.2 Autores nacionais e pertencentes a programas em Comunicao nas bibliografias de acesso dos PPGCOM.................................................................................................... 226

    Tabela 7.3 Autores de PPGCOM nas referncias das bibliografias para ingresso nos Programas citaes externas e internas........................................................................................... 227

    Tabela 7.4 Autores nacionais indicados nas bibliografias para ingresso nos PPGCOM................ 228

    Tabela 7.5 Autores estrangeiros indicados nas bibliografias para ingresso nos PPGCOM............ 229

    Tabela 7.6 Mdia de citaes nas Dissertaes e Teses dos PPGCOM ......................................... 233

    Tabela 7.7 Mdia de citaes por PPGCOM (2004) ...................................................................... 234

    Tabela 7.8 Tipos de documento pela nacionalidade dos autores (amostra -%) .............................. 235

    Tabela 7.9 Tipos de documento pela temporalidade das citaes (amostra -%) ............................ 236

    Tabela 7.10 Tipos de documento pela lngua utilizada (amostra -%) ............................................ 236

    Tabela 7. 11 - Tipos de documentos pela nacionalidade dos autores (amostra -%) .......................... 237

    Tabela 7.12 Citaes a autores nacionais e estrangeiros na teses dos PPGCOM........................... 238

    Tabela 7.13 Citaes a autores nacionais e estrangeiros, por PPGCOM (2004)............................ 239

    Tabela 7.14 Citaes a autores nacionais e de docentes dos programas, por PPGCOM (2004) .... 240

    Tabela 7.15 Citaes a autores nacionais em 1977, 1983, 1990 e 1997, por PPGCOM ................ 241

    Tabela 7.16 Autores estrangeiros mais citados em 1977, 1983, 1990 e 1997, por PPGCOM ....... 243

    Tabela 7.17 Autores nacionais mais citados em 2004.................................................................... 244

    Tabela 7.18 Citaes a autores estrangeiros, por PPGCOM (2004) autores mais citados .......... 245

    Tabela 7.19 Citaes a autores de PPGCOM (2004) autores mais citados ................................. 247

    Tabela 7.20 Citaes a autores-docentes dos programas, por PPGCOM (2004), contagem com excluso das auto-citaes autores mais citados....................................................... 249

    Tabela 7.21 Influncias / circulao do conhecimento entre os PPGCOM.................................... 251

    Tabela 7.22 Autores dos PPGCOM mais citados por subreas da Comunicao .......................... 253

    Tabela 7.23 Autores nacionais mais citados por subreas da Comunicao .................................. 255

    Tabela 7.24 Autores estrangeiros mais citados por subreas da Comunicao.............................. 257

    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 5.1 - Peridicos brasileiros de Comunicao (1965-2003)................................................... 168

  • xiii

    VOLUME II

    Anexos 1. Dados estatsticos

    Pesquisa e Formao de Recursos Humanos no Brasil: Distribuio do Fomento por agncia ........................................................................................................................... 281

    Bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq em Comunicao, por instituio .. 282

    2. Grupos de Pesquisa

    Grupos de Pesquisa em Comunicao da rea e de Artes (cinema) no Censo 2004 do Diretrio de GP do CNPq.............................................................................................. 283

    Linhas de Pesquisa dos GP em Comunicao (AP: Comunicao e AP: Artes/cinema) classificadas por subreas.............................................................................................. 300

    GP (exceto de Comunicao) que utilizam o termo comunicao como parte do nome, da LP ou palavra-chave desta ........................................................................................ 310

    3. Ata da Reunio com proposta de entidades e representantes da Comunicao sobre a TAC com lista de subrea e especialidades............316 4. Detalhamento da classificao das teses e dissertaes dos PPGCOM (2004)

    em subreas Detalhamento da classificao das teses em subreas................................................... 322

    Detalhamento da classificao das dissertaes em subreas ....................................... 323

    5. Lista das reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa dos PPGCOM,

    produo dos mesmos (teses e dissertaes) dos anos de 1977, 1983, 1990, 1997, 2004, submetida anlise bibliomtrica, projetos de pesquisa desenvolvidos pelos docentes dos Programas e relao dos docentes USP................................................................................................................................ 324

    UFRJ.............................................................................................................................. 361

    UNB............................................................................................................................... 375

    PUCSP........................................................................................................................... 382

    UMESP.......................................................................................................................... 405

    UNICAMP..................................................................................................................... 414

    UFBA............................................................................................................................. 420

    PUCRS........................................................................................................................... 428

    UNISINOS..................................................................................................................... 439

    UFRGS .......................................................................................................................... 449

    UFMG............................................................................................................................ 454

  • xiv

    UFF................................................................................................................................ 459

    UTP................................................................................................................................ 463

    UFPE ............................................................................................................................. 467

    UNIP.............................................................................................................................. 471

    UERJ.............................................................................................................................. 474

    UNESP........................................................................................................................... 477

    UNIMAR....................................................................................................................... 481

    PUCRJ ........................................................................................................................... 483

    UFSM ............................................................................................................................ 484

    ESPM............................................................................................................................. 484

    6. Bibliografia de acesso aos PPGCOM

    Tabela com autores e obras referidas nas bibliografias para ingresso nos PPGCOM .. 485

    7. Listas de autores mais citados nas teses e dissertaes dos PPGCOM de 1977,

    1983, 1990 e 1997 distribudos por Programa Autores estrangeiros ...................................................................................................... 489

    Autores nacionais .......................................................................................................... 491

    8. Listas de autores mais citados nas teses e dissertaes dos PPGCOM de 2004,

    distribudos por Programa Autores estrangeiros ...................................................................................................... 493

    Autores nacionais .......................................................................................................... 496

    Autores pertencentes aos PPGCOM.............................................................................. 498

    9. Clculo amostral do corpus de citaes

    Frmula e amostragem das teses e dissertaes ........................................................... 505

  • xv

    Lista de abreviaturas e siglas

    INSTITUIES DE ENSINO CEFET/PR - Centro Federal de Educao Tecnolgica do Paran (PR) ECA Escola de Comunicaes e Artes da USP (SP) ECO Escola de Comunicaes da UFRJ (RJ) ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing (SP) FLACSO - Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (Santiago Chile) FEEVALE - Centro Universitrio Feevale (RS) FTC - Faculdade de Tecnologia e Cincias de Salvador (BA) FURB - Fundao Universidade Regional de Blumenau (SC) MACKENZIE - Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) PUCCAMP - Pontifcia Universidade Catlica de Campinas (SP) PUCMG - Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (MG) PUCSP Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (SP) PUCRJ Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (RJ) PUCRS - Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (RS) UCB-DF - Universidade Catlica de Braslia (DF) UAM Universidade Anhembi Morumbi (SP) UEL Universidade Estadual de Londrina (PR) UEM Universidade Estadual de Maring (PR) UEMG Universidade Estadual de Minas Gerais (MG) UEPB Universidade Estadual da Paraba (PB) UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro (RJ) UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (BA) UFAL Universidade Federal de Alagoas (AL) UFAM Universidade Federal do Amazonas (AM) UFBA Universidade Federal da Bahia (BA) UFC Universidade Federal do Cear (CE) UFES Universidade Federal do Esprito Santo (ES) UFF Universidade Federal Fluminense (RJ) UFG Universidade Federal de Gois (GO) UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (MG) UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (MS) UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso (MT) UFPE - Universidade Federal de Pernambuco (PE) UFPI Universidade Federal do Piau (PI) UFPR Universidade Federal do Paran (PR) UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS) UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ) UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte (RN) UFSCAR Universidade Federal de So Carlos (SP) UFS Universidade Federal de Sergipe (SE) UFSM Universidade Federal de Santa Maria (RS) UFV Universidade Federal de Viosa (MG) UMESP Universidade Metodista de So Paulo (SP) UNB Universidade de Braslia (DF) UNEB - Universidade do Estado da Bahia (BA) UNESP Universidade Estadual Jlio de Mesquita Filho (SP) UNICAMP Universidade Estadual de Campinas (SP) UNICEUB - Centro Universitrio de Braslia (DF) UNICID - Universidade Cidade de So Paulo (SP) UNICRUZ - Universidade de Cruz Alta (RS) UNIFOR - Universidade de Fortaleza (CE) UNIMAR Universidade de Marlia (SP) UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba (SP) UNINOVE Universidade Nove de Julho (SP) UNIP Universidade Paulista (SP) UNIPAC - Universidade Presidente Antnio Carlos (MG)

  • xvi

    UNIPAR - Universidade Paranaense (PR) UNISANTOS Universidade Catlica de Santos (SP) UNISO Universidade de Sorocaba (SP) UNISUL Universidade do Sul de Santa Catarina (SC) UNIT Universidade Tiradentes (SE) UNIVALI - Universidade do Vale do Itaja (RS) UNIVAP - Universidade do Vale do Paraba (SP) UNIVS - Universidade do Vale do Sapuca - MG UNOCHAPECO - Universidade Comunitria Regional de Chapec (SC) UPF - Universidade de Passo Fundo (PR) URCAMP - Universidade da Regio da Campanha (RS) USP Universidade de So Paulo (SP) UTP Universidade Tuiut do Paran (PR)

    ASSOCIAES/AGNCIAS/RGOS Abracorp - Associao Brasileira de Pesquisadores de Comunicao Organizacional e Relaes Pblicas ABPC Associao Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura ALAIC - Asociacin Latinoamericana de Investigadores de la Comunicacin ANPOCS Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em Cincias Sociais BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informao em Cincias da Sade CAPES - Coordenao do Aperfeioamento de Pessoal de Ensino Superior COMPS - Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em Comunicao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria FACEPE - Fundao de Amparo Cincia e Tecnologia do Estado de Pernambuco FAPEMIG - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPERGS - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul FAPERJ - Fundao de Amparo Pesquisa do Rio de Janeiro FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos FIOCRUZ - Fundao Oswaldo Cruz FORCINE - Frum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual FUNCAP - Fundao Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico IAMCR - International Association for Media and Communication Research INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao MCT - Ministrio da Cincia e Tecnologia MEC Ministrio da Educao PORTCOM - Rede de Informao em Comunicao dos Pases de Lngua Portuguesa REVCOM - Coleo Eletrnica de Revistas em Cincias da Comunicao SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia SBPJor - Associao Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo SOCINE - Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema

    OUTROS C&T Cincia e Tecnologia Gr / GP Grupo de Pesquisa GT Grupo de Trabalho Li Lder de Grupo de Pesquisa LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao LP Linha de Pesquisa NP Ncleo de Pesquisa PG Ps-Graduao PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica PICDT - Programa Institucional de Capacitao Docente e Tcnica PNE Plano Nacional de Educao PNPG Plano Nacional de Ps-Graduao PPG Programa de Ps-Graduao PPGCOM Programas de Ps-Graduao em Comunicao PROF - Programa de Fomento Ps-Graduao PROEX - Programa de Excelncia Acadmica Prossiga - Programa de Informao para Gesto de Cincia, Tecnologia e Inovao do Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia PROSUP - Programa de Suporte Ps-Graduao de Instituies de Ensino Particulares SciELO - Scientific Electronic Library Online TAC Tabela de reas do Conhecimento

  • 1

    Introduo

    Seria interessante comear esse trabalho com uma narrativa que envolve o autor (e por isso

    a primeira pessoa se impe). Pois bem, antes ainda da metade do curso de doutorado,

    combinara assistir com uma amiga ao filme Razes do Brasil, o documentrio de Nelson

    Pereira dos Santos sobre Srgio Buarque de Hollanda. Marcamos o encontro no prprio

    cinema. Era um dia de chuva e como estava indo de nibus ao encontro, preocupei-me com

    um possvel atraso, o que me fez caminhar boa parte do cruzamento da Consolao com a

    Paulista at a Rua Augusta em passo acelerado. Por sorte, chegara a tempo (antes de minha

    amiga), e bem pouco depois notei que uma moa que estava comigo no nibus tambm iria

    ver este filme. Por uma circunstncia que agora no recordo, ela possua ingressos extras e

    me ofereceu dois (eu havia dito que esperava algum).

    Agradeci e nos dirigimos fila que comeara a se formar. Iniciamos uma conversa no qual

    fiquei sabendo que ela era estudante de Filosofia na USP e ela, por sua vez, demonstrou

    interesse em saber o que eu pesquisava, quando soube que eu cursava o doutorado em

    Comunicao1. Tentei explicar que procurava pesquisar como determinados agentes

    compunham, ao longo do tempo, o campo de pesquisa em Comunicao, em outros

    termos, como se dava a construo da rea cientificamente. Ela parecia ouvir atentamente,

    porm, ao fim de minha breve dissertao pareceu refletir um pouco, antes de indagar-me,

    com o que julguei um tanto de ironia filosfica e desdm, mas tambm certo interesse:

    Mas a Comunicao uma cincia?.

    Realmente me vi surpreendido e um tanto paralisado, e quando iria esboar a resposta, a

    fila comeou a andar! Pois bem, era impossvel segui-la, j que esperava minha amiga que

    ainda no chegara. No entanto, essa pergunta irrespondida (no revi a moa ao fim do

    filme, nem nunca mais) sempre esteve em minha cabea, durante todo esse tempo. Oxal,

    ao longo dessa tese eu consiga tirar o mximo proveito dessa pergunta, no to ingnua e

    maliciosa assim. 1 Sempre que o termo referir-se disciplina ser grafado em letra inicial maiscula, para distingui-lo dos objetos de estudo da rea, bem como suas prticas profissionais e demais possveis sentidos.

  • 2

    Com efeito, Roberto Schwarz (1987) nota, num inteligente ensaio, que muitas vezes as

    perguntas mais banais encerram um questionamento importante em sua aparente (e por

    vezes real) despretenso. Uma pergunta desse tipo (Para que servem as cincias sociais no

    Paraguai?, conforme o exemplo do autor) pode atingir questes de fundamento, que se

    desdobram em indagaes igualmente densas. A pergunta sobre a natureza cientfica da

    Comunicao, pois, implica aclarar um entendimento sobre o que uma cincia, tendo em

    conta tanto suas caractersticas intrnsecas quanto o ambiente que a torna possvel, e o que

    seria esta potencial cincia da Comunicao neste quadro.

    Neste trabalho, pois, submeto esta indagao a recortes temticos, expostos nessa

    introduo, com objetivo de explorar a natureza do campo da Comunicao, no sentido

    que Bourdieu d a esse termo, analisando sua natureza e especificidades. As dificuldades

    do trabalho naturalmente, no so poucas.

    Vamos primeira e fundamental questo que, em razo disso, acaba percorrendo todo

    estudo. Aqui, naturalmente, essa indagao s pode receber uma tentativa de resposta, que,

    por um vis irnico, certo, sinaliza impasses e caminhos importantes, que ultrapassam a

    prpria Comunicao, ainda que a pergunta seja dirigida a ela.

    Pois bem. O que se est dizendo ao dizer comunicao, como um campo especfico de

    conhecimento cientfico: Adorno, Lazarsfeld ou Abraham Moles? Aristteles, Jakobson,

    Pierce, Greimas ou Umberto Eco? Harold Lasswell, Norbert Weiner, Armand Mattelart ou

    McLuhan? Baudrillard ou Martn-Barbero? Edward T. Hall ou Stuart Hall? Walter

    Benjamin? Desde que foi realmente lanada como disciplina e profisso na primeira

    metade do sculo XX, sobretudo pelos norte-americanos, a autoproclamada rea das

    Cincias da Comunicao no foi perturbada apenas por uma proliferao de teorias,

    mtodos, teses e tcnicas. Isso afinal era de se esperar: a prpria polissemia que envolve o

    termo comunicao torna-o passvel de mltiplas abordagens. A rea impelida por

    caminhos fantasticamente diferentes em funo de idias fantasticamente diferentes sobre

    aquilo a que se refere, como costumamos dizer o tipo de conhecimento, o tipo de

    realidade e o tipo de objetivo que se espera que ela alcance. Vista de fora, pelo menos, a

    Comunicao no parece um campo nico, dividido em escolas e especialidades da

  • 3

    maneira habitual. Parece um sortimento de investigaes dspares e desconexas, reunidas

    numa mesma classe pelo fato de todas se referirem, de um modo ou de outro, a tal ou qual

    coisa a que se chama processo de comunicao. Dezenas de personagens procura de

    um texto.

    O pargrafo precedente, na verdade (e essa sua natureza irnica), consiste numa pardia

    de um texto do antroplogo Clifford Geertz (2001) sobre a Psicologia. No entanto, essa

    operao discursiva tem a vantagem de, ao mesmo tempo em que retrata uma situao que

    parece verdadeira (no que tem de caricatural, e num olhar sobretudo exterior, vista de

    fora, como diz Geertz) sobre a rea da Comunicao, mostrar que essa condio no lhe

    totalmente especfica. De fato, quanto mais se avana na leitura da produo atual das

    diferentes cincias sociais e humanas sobre suas epistemologias locais, mais se percebem

    similaridades em graus diversos, evidentemente com o contexto exposto (o da

    Psicologia e da Comunicao).

    Exemplos bastante ilustrativos dessa tendncia so encontrados em algumas anlises sobre

    o estado contemporneo de diferentes reas. Entre outras, a Histria que, de acordo com

    Cardoso (1997), apresenta uma tenso entre um paradigma moderno e outro ps-

    moderno, a Antropologia, dividida em correntes que questionam ou insistem na

    centralidade do trabalho de campo na disciplina (contra ou pr-etnografia, conforme

    Peirano, 1992). Alm de reas de estudo mais recentes, como a Educao, na qual se fala,

    nem sempre positivamente, em uma diversificao e diversidade da teoria (Oliveira e

    Alves, 2006). Todos esses casos encontram-se na discusso nacional e no foram resultado

    de uma busca sistemtica, provvel que outros campos produzam discursos similares.

    De outro lado, possvel pensar, mais globalmente, no caso da Sociologia: locus

    privilegiado do dissenso de avaliao, ligado incomensurabilidade de prticas

    heterogneas e disperso das lnguas tericas: a maioria das snteses unificadoras s se

    constri na excomunho recproca (Passeron, 1995, 75). O tema da crise da sociologia,

    e das cincias sociais como um todo recorrente, como mostra tambm a discusso de

    Merton (1979b [1975]), que acreditava, entretanto, nas superao de tal estado.

  • 4

    Essa exemplificao colabora com a identificao de um elemento crtico comum s

    cincias humanas, situao no exclusiva da rea da Comunicao. O problema lido em

    diferentes chaves, que oscilam entre extremos de frustrao e crtica inexistncia de um

    nico paradigma a unificar determinado campo e o elogio ao pluralismo terico e

    metodolgico, qui um vis interdisciplinar, de determinada rea ou disciplina. Num

    caminho intermedirio e talvez mais realista, so feitas diferentes reflexes

    epistemolgicas e propostas. H, por exemplo, o reconhecimento de que a existncia de

    mltiplas vias interpretativas exige de cada posio a explicitao de seus fundamentos,

    seno o embate entre cada uma das perspectivas, naquilo que corresponde s suas zonas de

    compatibilidade (quanto a questes empricas, por exemplo) ou comensurabilidade (em

    termos da estrutura conceitual eventualmente similar das proposies). Ou seja, por meio

    do debate projeta-se algum aprimoramento ou desenvolvimento num determinado campo

    de investigao. Mais e melhores pesquisas sobre problemas definidos com um grau de

    preciso, ainda que com certa heterogeneidade, mais elevado.

    De qualquer forma, parece-nos claro que as interpretaes sobre o conhecimento social nos

    dias atuais mostram bem menos certezas do que outrora. Invoca-se, ademais, a estreita

    relao entre o tempo histrico (de aceleradas mudanas nos dias de hoje, como

    sabemos) e o tempo lgico da cincia2. A articulao entre esses tempos, de modo mais

    constante e tenso nas cincias do homem do que nas cincias lgico-formais e da natureza,

    fazem com que autores como Passeron (1995) identifiquem no cerne do raciocnio das

    cincias sociais o reconhecimento de seu carter de cincias histricas. Assim, reforada

    a idia de que seus enunciados no podem ser desindexados dos contextos de que so

    tirados os dados que tm um sentido para suas asseres (idem, 87).

    Em outra possibilidade interpretativa, essa situao exigiria, em tempos de acentuadas

    transformaes, a reformulao ou abandono de terminados conceitos, bem como a

    necessidade de novas elaboraes e snteses como ocorre na discusso de Ianni (1996),

    sobre a globalizao como novo paradigma das cincias sociais. A esse contexto

    podem acrescentar-se ainda as discusses que envolvem a cincia como um todo em busca

    de novos valores, fundados, por exemplo, na complexidade (Morin) ou na ps-

    modernidade (Sousa Santos). 2 Victor Goldschmidt (1963) discute essa recorrente viso da realidade da cincia.

  • 5

    Dessa forma, os analistas tendem tambm a apresentar menos segurana sobre o futuro e a

    noo de progresso aplicada s cincias, em particular s humanas, do que j houve em

    dcadas anteriores. (Ou ento, como mostraremos, a prpria noo de progresso

    redefinida.) De qualquer forma, certo que ningum mais enunciaria, ao menos com tanto

    segurana, como Merton no fim da dcada de 1940, a otimista necessidade e possibilidade

    de esquecer os clssicos e os fundadores de determinada rea de estudos nas cincias

    sociais. A proposio de que um progresso continuado, garantido pelo labor cotidiano

    tornado cumulativo, permitiria construir teorias sobre o mundo social melhor formuladas,

    mais gerais e integradas, a partir de mais especficas e convergentes teorias de mdio

    alcance, tem certamente ainda apelo entre parte dos cientistas. Mas isso no faz com que a

    idia de que os clssicos possam ser deixados de lado, vistos como superados, tenha

    muitos partidrios.

    Ao contrrio, pode-se inclusive caracterizar, se no positiva pelo menos intrinsecamente,

    as cincias sociais como possuidoras do dom da eterna juventude (Schwartzman, 1971).

    Neste caso, vrios autores retomam uma idia cara a Weber (1991), a respeito das

    disciplinas histricas, que so duplamente condicionadas: os fatos que estudam esto

    situados num tempo/espao especfico e estes so dotados de um valor ou sentido

    tambm histrico. A releitura ou revalorizao da sociologia do conhecimento de

    Mannheim tambm est ligada a este quadro: o conceito de conhecimento relacional,

    com efeito, chama a ateno para as construes conceituais que emergem no fluxo da

    experincia histrica (Mannheim, 1976, 105)3. As diferenas de nfase, nesse enfoque,

    aqui so igualmente bastante variadas, h desde os que acreditam que esse aspecto no

    altera a unidade profunda da cincia, quanto os que insistem nas diferenas entre as duas

    culturas cientficas do que em suas convergncias.

    O contexto dessa discusso no simples, pois as premissas de que partem muitos dos

    estudiosos so irreconciliveis. Encarar as cincias sociais a partir da lgica e da

    epistemologia mais tradicional das cincias formais e naturais (por exemplo, impondo a

    noo de falsificabilidade popperiana como meta de toda construo de conhecimento)

    3 interessante notar que, em parte, essa revalorizao vem se dando a partir de uma nova leitura do conceito de conhecimento relacional. Enquanto em Mannheim ele se aplicaria fundamentalmente s cincias histricas, os autores do chamado programa forte da sociologia da cincia buscarim operacionaliz-lo para mostrar que todo o conhecimento cientfico histrico e socialmente ancorado, relacional.

  • 6

    projeta um ideal cientfico para as cincias sociais bastante diferente do que quando se

    admite, igualmente em diferentes graus, que elas possuem especificidades, ligadas tanto ao

    seu objeto, quanto ao tipo de raciocnio utilizado e s suas normas de produo de

    conhecimento vlido.

    suficiente dizer, nesse momento, que essa discusso no improdutiva ou impertinente

    para este trabalho: na verdade, implica, muitas vezes, uma tomada de posio por parte do

    pesquisador. por isso, pois, que iniciamos a Introduo desta pesquisa com estas breves

    reflexes que posicionam o marco do estudo em relao quilo que lhe interessa

    fundamentalmente: a constituio de um campo de estudo (a Comunicao) num momento,

    se no de crise, certamente de repensar a cincia e o fazer cientfico.

    Objetivos: uma viso de dentro

    Ser necessrio retomar alguns dos pontos vistos at aqui, na continuidade do trabalho, em

    nvel mais local e especfico, bem como com maior aprofundamento. Deve-se ainda situar

    melhor essa discusso a respeito da temtica que a relaciona Comunicao. Ser isso que

    permitir, ademais, avanar para a explicao do que o tema da cincia, dos limites

    disciplinares, bem como de outros problemas conexos, aporta para as questes principais

    da pesquisa. Por isso, voltamo-nos agora especificamente aos objetivos, hipteses e

    justificativas do trabalho. Por fim, apresentamos a estrutura que ser assumida nos

    captulos do estudo.

    Como foi dito, a rea de estudos em Comunicao parece mostrar uma srie de divises,

    possveis inconsistncias, sobretudo no alto grau apontado, no nosso entender, quando

    vista de fora. Isso resultado, em grande parte, dessa perspectiva externa. No que o que

    ocorra realmente seja o oposto disso: uma rea de pesquisa plenamente madura, que

    possua um linguajar terico e metodolgico, ou um paradigma comum, bastante coerente

    e aceito sem discusso por todos os seus praticantes. A verdade est em algum ponto desse

    espectro e nas nuances que ele admite, sendo que os extremos desse continuum podem

    ser inclusive redefinidos. E devem ser mesmo, no contexto de uma discusso mais ampla,

  • 7

    que indague sobre esse processo no tempo atual, e o vincule a reflexo sobre a cincia que

    se faz hoje.

    De qualquer forma, interessante ressaltar que um olhar de fora captura, por vezes,

    principalmente o extico, anmalo ou extravagante sob o parmetro de outro contexto

    Isso natural a qualquer rea de pesquisa e entre as prprias disciplinas existem olhares

    nos quais se manifesta um estranhamento em relao s prticas de outros grupos.

    O que se percebe como extico no necessariamente falso, porm, como demonstra

    todo o discurso da Antropologia clssica, somente uma viso interna (da metodologias

    como a observao participante etc.) do fato social permitir elaborar uma efetiva

    compreenso do que de faro ocorre em determinado contexto. Pois no processo de

    obteno de conhecimento sob esse olhar interno h uma redefinio de categoriais

    mentais que modifica o prprio olhar do observador. Em suma, adquire-se uma percepo

    mais exata de diferenas e similaridades entre diferentes culturas, que no se deixam ver

    pelo olhar distanciado.

    Ressaltamos, nesse aspecto, menos uma filiao antropolgica do que uma postura

    prxima ao do sentido de que Fausto Neto (2002, 33) falava, num encontro de

    pesquisadores da ps-graduao da rea, quanto necessidade de

    nos vermos por dentro, de nossas estruturas, de nossos projetos, e procedimentos. H a necessidade de uma dinmica que nos permita elaborar a compreenso de nosso prprio debate interno, ou o projeto interno de cada programa [de ps-graduao] enfim de um prprio campo. Qual a nossa causa?4

    Assim, a perspectiva assumida busca compreender o que tem significado com nfase no

    estado atual da rea o conhecimento em Comunicao para os seus praticantes (esse

    projeto interno de que fala Fausto Neto, levado a cabo pelos pesquisadores); bem como,

    construir um olhar ao mesmo tempo prximo e crtico em termos dos esforos relativos

    constituio da Comunicao como uma disciplina de pesquisa. A proximidade explica-se

    tanto do ponto de vista da relao sujeito-objeto quanto do estudo de elementos internos

    da rea. E se colabora, tambm pode constituir um srio obstculo obteno de um

    4 Para fazer justia reflexo do autor, deve-se notar que ele tambm falava na necessidade complementar da rea da Comunicao no Brasil deixar-se ver, de fora por diferentes lentes e sistemas de leitores.

  • 8

    conhecimento vlido, por isso a necessria tarefa de buscar recortes metodolgicos e

    aportes tericos que auxiliem a investigao.

    Vamos primeiro, pois, explicitar a temtica e os objetivos da pesquisa. O desdobramento

    de cada um dos termos relevantes do ttulo da tese ser til para esta tarefa. O trabalho

    intitula-se O campo cientfico da Comunicao no Brasil: institucionalizao e capital

    cientfico. Assim, o mbito de problemas a ser desenvolvido, implica na consecuo das

    seguintes tarefas:

    1) Utilizar o conceito de campo cientfico, conforme os trabalhos de Bourdieu, para

    discutir o quanto o mesmo pode ser vlido para a rea de estudos em Comunicao no

    Brasil. Conforme discutiremos esta uma escolha e uma estratgia, dentre outras

    possveis abordagens de uma sociologia do fazer cientfico, que tem potencialidades

    interpretativas importantes em termos da compreenso de um grupo de pesquisadores e

    suas caractersticas buscando superar vises internalistas ou externalistas sobre a

    cincia.

    2) Como o conceito de campo no est separado de uma noo sobre cincia e nem ao

    debate sobre ela, assim necessrio discutir determinados parmetros definidores dessa

    atividade. Por conseguinte, os contedos que caracterizam a produo do conhecimento

    cientfico devem ter nfase, bem como a descrio de propostas de novas

    epistemologias para os quais, por contraste, necessrio descrever as tradicionais.

    Isso tem relevo ainda por refletir-se na discusso ocorrida no prprio espao interno da

    Comunicao.

    3) O campo cientfico, de maneira geral, possui um conjunto de aspectos institucionais

    que lhe garantem existncia, um sentido prtico e coletivo. Estes elementos no so

    dados, mas sim construdos pelos agentes da pesquisa ao procurar garantir condies

    para desenvolver seu trabalho. Dessa forma, busca-se descrever e analisar traos

    institucionais da construo realizada at aqui e, quando possvel, em comparao

    com a diacronia do campo e do contexto latino-americano ou internacional dos estudos

    em Comunicao. Essa tentativa de traar um quadro contextual no qual se realiza a

    investigao na rea decorre do fato de que nesse espao que so dadas as condies

    de produo e circulao do capital cientfico gerado na rea. Um elemento

  • 9

    importante deste quadro, diz respeito ao fato de que a partir dele que os agentes do

    grupo constroem (auto)representaes e pressuposies sobre o conhecimento vlido

    (por exemplo, os programas e linhas de pesquisa) na rea, alm de compor um

    campo semntico e um lxico (que pode ser observado pelas citaes feitas). Por

    conseguinte, isso determina a prpria natureza do capital cientfico produzido e em

    disputa.

    4) Com efeito, o conceito de capital cientfico, tambm derivado de Bourdieu, outro

    componente central da tese; assim uma tarefa importante a tentativa de procurar

    analisar esse capital. Isso ocorrer principalmente por meio da anlise das referncias

    bibliogrficas utilizadas pelos pesquisadores. Existem aqui duas estratgias de anlise

    que j pertinente mencionar: 1) a anlise bibliomtrica de Teses e Dissertaes da

    rea e 2) a anlise de contedo de Linhas de Pesquisa, das produes cientficas e das

    taxonomias que os pesquisadores tentam produzir. O que se espera que essas

    estratgias ajudem a notar as convergncias, bem como as disputas que caracterizam o

    espao de discusso.

    5) Procuramos, numa tarefa seguinte, articular esses elementos de anlise ao modelo de

    Galtung (1965) sobre a interao entre grupos cientficos. Ainda que tenha que ser feita

    uma adequao aos termos conceituais que torne vlida a aproximao com a noo de

    campo, esse modelo oferece princpios de legibilidade aos dados, em nosso entender,

    bastante interessantes e compatveis com o marco mais geral. Em particular, o modelo

    til para o entendimento, a partir da interao efetiva que poderemos evidenciar pelas

    citaes e convergncias disciplinares nas Linhas de Pesquisa e nas Teses e

    Dissertaes. Nesse sentido, interessante refletir e utilizar uma noo como a de

    programa de pesquisa (Lakatos, 1979), pois embora no se possa utiliz-la num

    sentido estritamente lakatiano, oferece tambm um princpio de legibilidade para os

    dados, a partir de uma definio mais aberta do que a original.

    6) importante ressaltar, finalmente, no plano dos objetivos e tarefas da tese, que da

    combinao das estratgias metodolgicas realizadas resultar um modelo para

    compreenso/avaliao de uma rea cientfica. Este o objetivo central. Temos claro

    que tanto as anlises scio-histricas da institucionalizao de uma rea, quanto as

    tcnicas bibliomtricas e de anlise de contedos de dados de produo e de

  • 10

    autorepresentao dos Programas (Linhas de Pesquisa que estruturam reas de

    Concentrao) tm limites. Elas no so capazes de dizer tudo sobre a natureza de

    um campo de estudos, porm, aportaro elementos significativos e, em sua

    combinao, podem propiciar marcos de inteligibilidade sobre o estado de uma rea de

    conhecimento. Com efeito, para a rea da Comunicao no Brasil, o trabalho

    representa um empreendimento indito principalmente quanto abrangncia nacional

    comparada que possui. Quanto ao quadro mais geral da produo cientfica no pas,

    possvel que existam outras propostas de modelo de inteligibilidade de reas de

    pesquisa. No entanto, a nossa combinao metodolgica um resultado especfico da

    tese, e a proposta poder talvez ser apropriada, em parte ou no todo, por pesquisadores

    de outras reas.

    Em resumo, o objetivo principal conduz produo de um diagnstico sobre a rea da

    Comunicao no Brasil hoje, a partir dos marcos conceituais citados, procurando, desse

    modo, responder indagao forte da pesquisa a Comunicao constitui um campo

    cientfico, em que medida, com quais caractersticas?

    Os objetivos secundrios so dois. De um lado, a elaborao de anlises a respeito da

    configurao institucional do campo da Comunicao hoje, de sua auto-representao

    (dados Linhas de Pesquisa e taxonomias propostas) e dos indicadores de Teses e

    Dissertaes (bibliomtricos e de contedos dos trabalhos). De outro lado, a produo e

    aplicao de um modelo para o estudo de reas de conhecimento que ser discutido em

    termos de suas possibilidades e limites.

  • 11

    Hipteses

    Conforme etapas preliminares da investigao demonstraram (discutidas em particular nos

    Captulo 4 e 5) possvel notar um estgio de institucionalizao alcanado pela rea de

    estudos em Comunicao no Brasil, que o correlaciona, ao menos parcialmente, noo de

    campo cientfico, de Bourdieu. Esse fato alicerou a hiptese geral de que se

    estruturou, ao menos parcialmente, um campo cientfico da Comunicao no Brasil

    tal como em outros pases, com estruturas scio-culturais, similares ao Brasil, em

    particular, o Mxico.

    A essa institucionalizao segue-se atualmente uma tendncia crtica ao estado de

    conhecimento da rea, e portanto pode-se dizer, a partir da teoria dos campos, que o campo

    cientfico da Comunicao encontra-se no mbito geral do campo cientfico brasileiro

    numa posio de menor legitimidade, pois: Diversamente de uma prtica legtima, uma

    prtica em vias de consagrao coloca incessantemente aos que a ela se integram a questo

    de sua prpria legitimidade (Bourdieu, 1992, 155).

    Paradoxalmente e ao mesmo tempo, essa preocupao com a legitimidade, com os

    fundamentos cientficos da rea, que instaura de acordo com nossa primeira hiptese

    especfica, as condies necessrias para a edificao do campo cientfico em padres de

    maior autonomia. Isso ocorre na medida em que a situao de disputa pelos agentes que se

    inserem no campo a respeito do discurso dominante e legtimo favorece a autonomia e

    construo de conhecimento interno rea. E estas disputas propiciaro o acmulo de

    capital cientfico. Ser esta, pois, nossa segunda hiptese especfica: a de que existe um

    acmulo de capital cientfico produzido no campo da Comunicao no pas.

    Falar na existncia de um capital cientfico comum pressupe que existe um padro de

    interao entre os agentes que atua em favor da existncia do campo. Por isso, tem-se a

    terceira hiptese secundria: de que o padro de interao assumido pelos

    pesquisadores da rea da Comunicao tem um perfil de conflito-construtivo

    (conforme reconceitualizao do modelo de Galtung, 1965).

    O quanto o capital que circula mais ligado disciplina como um todo, adquirindo

    legitimidade como seu ncleo de base ou pelo menos configurando diferentes programas

  • 12

    de pesquisa (conforme uma discusso/reconceitualizao das proposio de Lakatos,)

    um questionamento importante. No entanto, podemos postular quase como uma certeza

    que no existe um paradigma predominante nos estudos em Comunicao. Porm,

    acreditamos que ser possvel perceber, pela anlise do capital cientfico referente s

    citaes, a existncia de determinados programas de pesquisa, vlidos para a rea

    em geral, e que agrupam determinados autores. Esse aspecto , pois, nossa quarta

    hiptese especfica.

    Seriam esses capitais acumulados em diferentes subreas de pesquisa ou tradies de

    investigao, com maior ou menor integrao num nvel mais geral, que dariam identidade

    ao campo da Comunicao. possvel pensar, ademais, que no embate entre esses

    programas que os critrios principais de pertencimento ao campo da Comunicao

    seriam estabelecidos e, dessa forma, contribuiriam para uma maior integrao ou

    fortalecimento do mesmo. Naturalmente, isso aconteceria desde que os programas atuem

    com algumas zonas de contato e consensos mnimos, e no isolados (condio que a

    anlise pretende verificar).

    Tal questionamento forma a quinta e ltima hiptese especfica, de que havendo um

    capital local e a ltima exposta, em seu desdobramento lgico, no sentido de que havendo

    um (hiptese segunda) capital local este circula internamente no subcampo da pesquisa

    que observado na ps-graduao.

    Destacamos essa categoria de capital cientfico, pois ela que, no s sustenta nossas

    hipteses, mas permite, no desenho da investigao, articularmos muitos dos aspectos dos

    subcampos, para procurarmos perceber o grau de construo de um discurso legtimo na

    rea. Esse capital cientfico ser observado principalmente por meio da anlise

    bibliomtrica e da anlise de contedo de diferentes materiais, conforme o mbito que se

    pretende estudar. Com efeito, a anlise documental e dos trabalhos cientficos alm do

    ndice de reconhecimento que tm estes trabalhos em funo de sua incorporao por meio

    de citaes em outras pesquisas pode mostrar como os mesmos garantem legitimidade e

    fundam hierarquias de prestgio em reas do conhecimento como a Comunicao.

  • 13

    Dessa forma, os objetivos e hipteses da pesquisa expostos convergem para o estado atual

    do campo da Comunicao no Brasil, de modo a perceber o quanto os termos fundamentais

    do conceito de campo, segundo Bourdieu, encontram-se na rea de estudos. De outro lado,

    a investigao prope um certo modelo de anlise para a rea cientfica, de maneira mais

    geral, que em seu teste e discusses nessa pesquisa resulta numa proposta a ser

    criticamente apropriada por outros pesquisadores.

    Justificativas do estudo

    Para qu hacer investigacin y para quin, son siempre dos interrogantes que hay que plantearse antes de definir cmo hacer la investigacin. Desde dnde investigar y hacia dnde apuntar con la investigacin son otros dos interrogantes que hay que hacerse de manera explcita en la produccin de conocimiento, y especficamente en la definicin de cualquier poltica de investigacin. Orozco Gmez (1997, 85)

    Mesmo atravs de um acompanhamento superficial das referncias em Comunicao,

    possvel notar um aumento expressivo, nos ltimos anos, de anlises reflexivas sobre essa

    rea no Brasil. De certo modo, o movimento tambm internacional embora a tendncia

    local reflita com algum atraso o debate no exterior. Assim, pode-se dizer que na dcada de

    1980 a trajetria de crescimento do campo (nmero de pesquisas, temticas abordadas etc.)

    parecia apontar para sua consolidao. por isso saudada por seus pesquisadores, como

    mostram vrios artigos em nmero de 1983 do Journal of Communication

    significativamente intitulado Ferment in the Field.

    A despeito de crticas e reticncias sobre o estado do campo, o que transparece como tom

    geral desse nmero um panorama de crescimento da pesquisa, como de fato ocorreu. Isso

    contrariava a idia formulada pelo pesquisador (pioneiro no desenvolvimento da anlise

    de contedo em Comunicao) Bernad Berelson que, em 1958, afirmara que a rea

    tenderia a definhar (whithering away), com o desinteresse por ela de pesquisadores

    pioneiros, na tradio norte-americana (como Paul Lazarsfeld, Kurt Lewin e outros), em

    favor das disciplinas de origem dos mesmos (Cincia Poltica, Psicologia etc.).

  • 14

    A formulao de Berelson foi tomada como um mote para esse nmero do Journal of

    Communication que os artigos contrariavam. Nesse sentido, chama a ateno a analogia

    do pesquisador norte-americano Wilbur Schramm (1983) que via a histria do campo de

    estudos da Comunicao como uma espcie de osis num deserto, no qual muitos

    (socilogos, psiclogos, cientistas polticos, lingistas etc.) haviam passado. No entanto,

    segundo ele, depois de muito tempo, alguns os pesquisadores que se identificaram com o

    osis passaram a nele residir e faziam projetos nesse sentido: so criados

    departamentos e carreiras, oferece-se um treinamento especfico etc. Tais planos indicam o

    desejo de enraizamento no osis, vontade de mape-lo e ocup-lo em diferentes direes.

    Essa parece ser, grosso modo, a tnica do fermento no campo: mais institucionalizao e

    pesquisas na rea, em variadas linhas, o que se explica em razo tambm de demandas

    tecnolgicas e novas circunstncia sociais5, que requeriam produo de conhecimento.

    Porm, uma dcada depois a mesma revista publica um volume (com dois nmeros)

    chamado The Future of the Field, no qual dessa vez muitos textos apontam para

    dificuldades correntes, que poderiam comprometer o futuro do campo de estudos. O

    subttulo do nmero chamava a ateno para um ncleo de questionamento e tenso que

    os artigos refletiam forte: Between Fragmentation and Cohesion. A subdiviso da

    disciplina acadmica da Comunicao em tradies diversas, sua fragilidade terica e

    continuidade da dependncia conceitual de certas disciplinas das cincias sociais, entre

    outros pontos, faziam com que o campo, nesse balano, pudesse ser caracterizado mais

    pela fragmentao do que pela fermentao (Rosengren, 1993, 9). O isolamento e falta de

    contato entre as tradies de pesquisa atuantes na rea fariam com que houvesse pouco

    confronto e cooperao entre elas.

    Ao mesmo tempo, as proposies sobre teorias substantivas, modelos formais e dados

    empricos seriam com freqncia no somente incompatveis, mas inexistentes. Ou seja, a

    interpenetrao entre estas esferas, entendida como vital para a maturidade de um campo

    de estudos, por propiciar processos de confrontao e cooperao entre diferentes escolas

    de pensamento, estaria sendo negligenciada nas emergentes tradies de pesquisa em

    Comunicao. Est a opinio de Rosengren (1993), por exemplo, que v nisso um 5 A adoo e consolidao da TV em larga escala era uma delas.

  • 15

    paralelo com o que estaria ocorrendo no mbito das humanidades e das cincias sociais

    naquele momento (idem, 10).

    Posies como essa, no debate travado ento, foram relativizadas (ou relidas) por outros

    argumentos. A pertinncia lgica da constituio da Comunicao como disciplina

    questionada (Sheperd, 1993); interpreta-se o estado de incerteza terica da rea a partir de

    uma transformao mais geral das cincias humanas, que afetaria tambm a Comunicao

    (Craig, 1993). Prope-se, ainda, a superao de uma suposta situao de dissenso

    mitologizado como tolerncia pelo desenvolvimento cooperativo de uma teoria da

    comunicao comunicacional (Dervin, 1993, 47). O que se observa, portanto, que os

    ocupantes do osis mostravam diferentes concepes sobre como traar as fronteiras do

    territrio, quais os melhores caminhos e meios de conhec-lo. Eram bem menos otimistas

    do que haviam sido na dcada anterior e apresentam diferentes vises sobre quais seriam as

    tarefas mais prementes. O consenso situava-se, sobretudo, no plano da insatisfao com o

    estado do campo ou da prpria pertinncia do debate nos termos em que ele era colocado.

    Aqui, nesse exemplo histrico do contexto internacional, o que importa notar a existncia

    dessa franca zona de dissenso, com maior ou menor descontentamento segundo cada autor.

    Por outro lado, no todo, essa discusso resulta numa franca esfera de debate sobre os

    fundamentos de cientificidade do campo.

    No Brasil, o movimento de autocrtica e reflexo sobre a investigao realizada pelos

    pesquisadores em Comunicao ganha mais fora a partir de meados da dcada de 1990.

    No que antes no tivessem sido publicados trabalhos metacientficos, como inventrios

    gerais de produo (Marques de Melo, 1984), patrocinados por associaes de

    investigadores da rea; ou balanos do estado da pesquisa, geralmente levando em conta as

    temticas abordadas (Marques de Melo, 1983); ou os estudos mais genricos (Capparelli,

    1980, Dencker, 1988) e relatrios de diagnstico (estes tambm genricos), levados a cabo

    por encomenda governamental (ligada representao da rea do CNPq, como Capparelli

    e Marques de Melo, 1990). No entanto, bastante minoritria essa preocupao, quando

    expressa em termos quantitativos em comparao a outros temas de pesquisa, at o

    momento referido.

  • 16

    Assim, em reviso da pesquisa brasileira em Comunicao das dcadas de 1960 e 1970,

    realizada por investigadores da rea (Marques de Melo, 1983), so discutidos 14 temas

    (jornalismo impresso, rdio, televiso, msica popular, entre outros), mas

    nenhuma linha terica ou metodolgica. Alis, como mostra Lopes (2000), a produo

    especificamente terica e metodolgica da rea da Comunicao tende historicamente a ser

    baixa: numa amostra de trabalhos, das primeiras produes at 1995, apenas 2,5% do total

    dos textos registrados tinham estas caractersticas, conforme a categorizao elaborada6.

    No que faltassem at esse momento modelos tericos pesquisa, mas eram sobretudo

    importados, com uma produo local pequena e de baixo impacto. Alguns pesquisadores,

    como Lima (1983) apontavam as diferentes concepes de comunicao concorrentes e

    a necessidade de desenvolver a teoria na rea, levando em conta a realidade concreta e

    histrica da sociedade [brasileira] para a qual se destina (Lima, 1983, 98). Porm,

    malgrado o terreno aparentemente pouco propcio a reflexes como essa, o volume da

    produo voltada ao conhecimento do campo sobretudo com uma perspectiva mais

    crtica , aumenta e se diversifica principalmente a partir de meados dos anos de 1990.

    Os amparos ou promoes institucionais para esse tipo de investigao continuam

    importantes, porm, parece que a prpria demanda por este tipo de reflexo aumentou, bem

    como o nmero de pesquisadores ligados ao tema. Pode-se dizer que a discusso dos

    tempos recentes mantm preocupaes anteriores quanto anlise de tendncias de

    pesquisa e perspectivas da investigao (por exemplo, Kunsch e Dencker, 1997). Mas o

    leque temtico ampliou-se, passando a discutir aspectos antes pouco problematizados,

    como o objeto da Comunicao (Weber, Bentz e Hohfeldt, 2002) ou sua epistemologia

    (Lopes, 2003) em ambos os casos, reunies de artigos de pesquisadores da rea dos

    Programas de Ps-Graduao em Comunicao (PPGCOM), no mbito de encontros de

    sua associao (COMPS) voltados a essas temticas. E mesmo recentes mestrados da

    rea passam a inventariar a produo e analisar problemticas de pesquisa, autores e

    conceitos utilizados nos PPGCOM, particularmente na regio Sul (Soares, 2004, Vanz,

    2004).

    6 A despeito disso, ocorre a curiosa situao de que o registro de projetos de pesquisadores aponta a especialidade de Teoria da Comunicao como a que contempla mais projetos. Eram 24 (50% do total) em 2004. Isso, como ser discutido no Captulo 6, deve-se a problemas de classificao/organizao da pesquisa, que se refletem numa taxonomia da rea desatualizada e pouco adequada.

  • 17

    Tambm a produo de Grupos de Trabalho em congressos da rea espelha essas

    preocupaes que atravessam o debate latino-americano sobre o campo (caso do livro de

    Lopes e Fuentes, 2001, que rene papers do GT da Asociacin Latinoamericana de

    Investigadores de la Comunicacin - ALAIC). Com efeito, vlido reafirmar que essa

    tendncia geral, de repensar o campo de estudos em Comunicao, atinge vrios pases

    como a discusso do Journal of Communication tambm evidenciou. Por outro lado,

    tambm interessante apontar desde j que no espao latino-americano que se situa o

    principal ambiente de interlocuo sobre essas questes, no caso dos pesquisadores

    brasileiros. Isso natural, dada s vrias semelhanas estruturais entre os pases e o modo

    de configurao da rea da Comunicao nos mesmos.

    A respeito das anlises elaboradas, deve-se notar que nelas h uma recorrente crtica ao

    estado da rea, no seu mbito cientfico, em especial no caso brasileiro. Os aspectos

    negativos e criticados so diversos, em parte similares aos abordados no debate

    internacional, em parte mais especficos. Entre os comuns, esto a crtica ausncia de

    marcos conceituais internos consistentes ou mesmo acordos dos pesquisadores sobre a

    natureza do campo de modo a permitir seu progresso (Martino, 2001a), dicotomia entre a

    pesquisa realizada (no nvel de estudos ps-graduados) e a concepo mais tcnica de

    saber que predomina na graduao (Capparelli e Stumpf, 2001; Lima, 2001).

    J entre as questes vistas com reservas, de um ponto de vista mais local, so discutidos

    pontos como: a disperso temtica da pesquisa para alm de questes estritamente

    comunicacionais (ou, conforme a terminologia adotada em relatrios de avaliao,

    pertinentes rea) (Peruzzo, 2002; Capes, 2001), predomnio de um padro discursivo

    (ensaio) menos cientfico do que o do artigo (Gomes, 2003). Embora esse tema possa ser

    visualizado tambm no plano internacional como o embate, entre os que tm uma

    concepo de cincia dura, emprica (dependendo do contexto) e os que defendem

    uma concepo terica, interpretativa (tambm com variao nos termos conforme

    quem o enuncia).

    No marco da Justificativa desse trabalho, porm, menos pertinente do que apontar todas as

    perspectivas crticas, os tipos de enfoque e modalidades de investigao terica ou

  • 18

    emprica que sustentam cada uma das argumentaes nos trabalhos citados, importa

    perceber a existncia dessa possvel esfera de discusso que colabora com o

    amadurecimento da rea. Assim, ressaltamos que o trabalho proposto situa-se num mbito

    parecido com as das preocupaes que animam este tipo de debate interno e que talvez

    estejam configurando uma linha de pesquisa, no nosso entender bastante importante para a

    rea da Comunicao. Pois na noo bourdieana de campo cientfico central a idia da

    fora do debate interno como sendo o prprio conflito cientfico que pode dar forma ao

    campo. Se h uma verdade, que a verdade um objeto de luta, nota Bourdieu (1983,

    74). Acreditamos, pois que e a irrupo de trabalhos como os mencionados um elemento

    para fortalecer a disciplina. Ao invs de apenas insistir sobre o carter jovem ou recente

    da rea, no mbito das cincias sociais (da o carter pouco maduro), nota-se um

    alargamento da discusso e do confronto de posies para temas que, ou eram pouco

    discutidos, ou eram tomados como consensuais.

    Ao mesmo tempo, esta tese situa-se no contexto de um debate atual, e nossa convico

    que ele traz elementos novos que se no so originais, pelo menos possuem uma

    perspectiva de aprofundamento temtico e sntese para a discusso travada at aqui.

    Sustentamos, pois, que a utilizao dos conceitos de campo cientfico e capital

    cientfico representam possibilidades de compreenso de problemticas da pesquisa,

    sobretudo em articulao com dados empricos que o estudo ir produzir e analisar. Com

    efeito, faltam informaes e dados sobre nossa rea de estudos, pois freqentemente eles

    esto dispersos ou so de produo relativamente complexa e trabalhosa. Busca-se ainda

    analisar estas informaes a partir de um contexto de discusso sobre a natureza da

    Comunicao, contexto que no estabilizado, comum a todos os praticantes da

    disciplina, justamente pelo estado de disputa no campo.

    Para Martino (2001), a epistemologia contempornea contemplaria trs formas possveis

    de abordagem sobre a natureza e objeto do campo de estudo da Comunicao. Uma de

    natureza emprica tomando como base de anlise as instituies relacionadas com a

    comunicao , outra de natureza lgico-formal pela definio, nesses termos, do objeto

    de estudo e, por fim, uma abordagem no tempo, isto , atravs de uma anlise

    diacrnica, procurando situar a gnese do campo dessa disciplina (Martino, 2001, 83). O

  • 19

    autor observa que a primeira definio no normativa apresentar dificuldades devido

    diversidade de respostas que tende a encontrar, indicando

    uma constelao de prticas sociais, em si mesma testemunha de importantes variaes no sentido do termo comunicao, que ainda que estejam supostamente ligadas de maneira mais ou menos coerente, dificilmente se deixam sintetizar em um conceito unvoco e em todo o caso pouco formalizado. (Martino, 2001, 84)

    A definio formal ou ideal, por sua vez, no estaria descomprometida com o que

    efetivamente pesquisado, no entanto, procuraria aliar a observao in loco dos processos

    de formao de entendimento dos sujeitos com uma atividade especulativa. Os dados da

    investigao emprica alimentam e regulam as reflexes elaboradas, impedindo abusos nas

    elaboraes. Porm aspectos como a polissemia do termo comunicao e a questo da

    interdisciplinaridade do objeto, tornam tambm uma definio formal-ideal inalcanvel.

    Por essas razes, para o autor, estes dois caminhos, que acabam conformando um sistema,

    so insuficientes para construir uma definio do que seria a natureza e o objeto da

    Comunicao. Assim, o mbito privilegiado nesta reflexo de Martino (2001) o da

    anlise da gnese do campo, isto , as novas prticas comunicativas, cuja anlise deveria

    ser o centro da disciplina, explicando seu objeto. Interessa mais destacar aqui, como o

    autor tambm observa, que os outros mbitos no so improdutivos embora no possam

    resolver plenamente as questes de base da disciplina.

    O presente estudo mais relevante no uma suposta estabilizao normativa sobre os

    objetos e natureza da rea que a proposta de Martino intenta , mas sim compreender, a

    partir da articulao entre o dado emprico e a discusso terica, tendncias da produo e

    a interao entre pesquisadores, que dariam maior ou menor concretude ao conceito de

    campo. O que o projeto procura e isso sim, deve-se avaliar compreender certo

    momento de interao/tenso entre os que participam do debate constitutivo do campo,

    num contexto cientfico tambm marcado pelo debate. H uma dialtica implcita ao

    modelo do campo cientfico entre a organizao institucional e a ordem intelectual

    alcanada. Em poucas palavras, quanto mais autnomo e organizado um campo, mais ele

    tende a concentrar suas discusses em critrios internos de validao. Os debates e

    conflitos gerados nas discusses internas so admitidos, porm necessrio que existem

    instncia de interao, bem como o desejo dos participantes de realizar realmente os

    debates.

  • 20

    Pelo que foi dito, acreditamos que a questo da importncia relativa de uma investigao

    dentro do presente contexto histrico esteja bem equacionada, pois nos ajudar a justificar a

    escolha do tema em anlise, no plano da carncia de determinado conhecimento por certa

    rea, em termos da necessidade de conhecimento da rea sobre a si mesma.

    O potencial de uso social da investigao por determinados grupos (o quem), como

    elemento de discusso e compreenso dos mesmos (o por qu), por conseguinte, foram

    aspectos nos quais procuramos refletir ao delinear o projeto de pesquisa. Esperamos,