o campo científico da comunicação no brasil
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RICHARD ROMANCINI
O campo cientfico da Comunicao no Brasil: institucionalizao e capital cientfico
Volume I
Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincias da Comunicao da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, como requisito parcial para a obteno do ttulo de doutor em Cincias da Comunicao, na rea de Concentrao Teoria e Pesquisa em Comunicao
Orientadora: Prof Dr Maria Immacolata Vassallo de Lopes
So Paulo 2006
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Errata
Pg. 3 Linha 28 - onde se l nas superao, leia-se na superao Pg. 5 Linha 3 (nota 3) onde se l buscarim, leia-se buscariam Pg. 12 Linha 1 - onde se l das proposio de Lakatos,), leia-se da proposio de Lakatos) Pg. 12 Linha 28 - onde se l existem instncia, leia-se existam instncias Pg. 30 Linha 5 onde se lm se objetivar-se-, leia-se objetivar-se- Pg. 52 Linha 7 onde se l deixarim, leia-se deixariam Pg. 53 Linha 10 onde se l transdiciplinaridade, leia-se transdisciplinaridade Pg. 57 Linha 1 (nota 20) onde se l contorversas, leia-se controversas Pg. 61 Linha 15 onde se l transdiciplinaridade, leia-se transdisciplinaridade Pg. 71 Linha 10 (nota 24) - onde se l quea, leia-se que a Pg. 75 Linha 4 - onde se l operamde, leia-se operam de Pg. 85 Linha 6 onde se l Liede Filho, leia-se Liedke Filho Pg. 97 Linha 19 onde se l sermarcados, leia-se ser marcados Pg. 142 Linha 19 onde se l, CNPq (seguinte, leia-se CNPq (seguindo Pg. 144 Linha 17 onde se l pode-se dizer a rea a Comunicao tende a receber menos
investimentos que as reas aqui vistas, como j disse, leia-se pode-se dizer que a rea a Comunicao tende a receber menos investimentos que as reas aqui vistas, como j se disse,
Pg. 145 Linha 30 onde se l aos investimento, leia-se aos investimentos Pg. 146 Linha 26 onde se l iroresponder, leia-se iro responder Pg. 156 Linha 9 onde se l sedidados, leia-se sediados Pg. 160 linha 11 onde se l posicionamente, leia-se posicionamento Pg. 167 Linha 5 onde se l se explicam, leia-se se explica
Linha 10 onde se l nomeclatura, leia-se nomenclatura Pg. 179 Linha 9 onde se l tem como, leia-se tm como Pg. 180 Linha 5 onde se l produo feitos coordenados por, leia-se produo coordenados por Pg. 183 Linha 10 onde se l alcancaram, leia-se alcanaram Pg. 186 Linha 7 onde se l internalizao, leia-se internacionalizao Pg. 218 - Linha 14 onde se l etapas prximas de uma cincia prxima da idia de cincia
normal, leia-se etapas prximas de um estgio de cincia normal Pg. 219 - Linha 16 onde se l da, leia-se d Pg. 224 - Linha 3 onde se l gerados novos., leia-se gerados novos argumentos. Pg. 228 - Linha 2 - Frana, Hohfeldt, Martino garantem tem essa, leia-se Frana, Hohfeldt e
Martino garantem essa Pg. 232 - Linha 3 onde se l do matria, leia-se do material
Linha 12 onde se l digitveis, leia-se digitvamos Linha 21 - onde se l , leia-se e Linha 25 - esse material tem tem, leia-se esse material tem
Pg. 233 - Linha 12 - onde se l da cincias scias, as citaes formam em, leia-se das cincias sociais, as citaes foram em
Pg. 235 Linhas 3 e 5 onde se l uniautorias, leia-se uniautorais Pg. 236 - Linha 4 onde se l dois, leia-se duas Pg. 237 - Linha 1 onde se l 7.11, leia-se Tabela 7.11 Pg. 238 - Linha 4 - onde se l, relativos as citaes, leia-se relativos s citaes
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Linha 7 - onde se l, A Tabela 12 no mostra um padro de aumentou, leia-se A Tabela 7.12 no mostra um padro de aumento
Pg. 239 - Linha 1 - A variao, leia-se H variao Pg. 242 - Linha 3 - onde se l na primeiro, leia-se na primeira
Linha 26 onde l usados pesquisa, leia-se usados na pesquisa Pg. 246 - Linha 11 onde se l bem citado vrios, leia-se bem citado em vrios
Linha 12 - onde se l Levy, leia-se Lvy Pg. 245 - Linha 5 onde se l existe, leia-se existem Pg. 251 (numerada como 231) - Nmero de pgina correto - 251 Pg. 252 - Linha 6 onde se l tem, leia-se tem, leia-se tm
Linha 12 onde se l era, leia-se rea Pg. 254 Linha 5 onde se l existe, leia-se existem
Linha 6 onde se l Mello, leia-se Melo Pg. 255 (numerada como 247) - Nmero de pgina correto - 255 Pg. 256 - Linha 7 onde se l mantm-se, leia-se mantm-se Pg. 257 (numerada como 249) - Nmero de pgina correto - 257 Pg. 258 - Linha onde se l Comunicao e demandaria, leia-se Comunicao demandaria Pg. 259 - Linha 20 - onde se l interaturar, ler interatuar Pg. 260 - Linha 3 onde se l compreener melhor o acentuado de capital, leia-se compreender
melhor o acentuado grau de capital Linha 6 onde se l mais maior, leia-se maior Linha 11 onde se l transdiciplicinar, leia-se transdisciplinar Linha 28 onde se l externa, leia-se so externas
Pg. 261 - Linha 10 onde se l espero leia-se esperamos
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Narrar-se-ia toda uma vida se se fizesse a narrativa de todas as portas que se fecharam, que se abriram, de todas as portas que se gostaria de reabrir. Mas o mesmo ser aquele que abre uma porta e aquele que a fecha? Gaston Bachelard (1988, 255)
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Richard Romancini
O campo cientfico da Comunicao no Brasil: institucionalizao e capital cientfico
Banca Examinadora
Presidente: _____________________________________________ Prof Dr Maria Immacolata Vassallo de Lopes
Membros: _____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
So Paulo, de de 2.00 .
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Agradecimentos
Apesar do risco de parecer demaggico, gostaria de agradecer em primeiro lugar minha
orientadora. Nesses quase dez anos de convivncia, aprendi lies que vo muito alm da vida
acadmica.
Agradeo tambm a meus pais e ao meu irmo pela compreenso e auxlio. Vrios amigos
tambm tornaram essa trajetria menos rdua: Alejandra Nicolosi, Cludia Lago, Cludia
Mogadouro, Claudemir Viana, Fabiano Cataldo, Gustavo de Carvalho, Llian Escorel, Luciana
Flix, Mariana Klinke Pandolfi, Patrcia Horta, Ricardo Bergamo e Valdinete de Souza.
Os professores doutores Alberto Efendy Maldonado (UNISINOS), Antonio Adami (UNIP),
Ana Paula Goulart (UFRJ), Anna Lcia Enne (UFF), Antonio Albino Canelas Rubim
(UFBA), Dione Moura (UNB), Eduardo Duarte (UFPE), Ferno Ramos (UNICAMP), Jiani
Adriana Bonin (UNISINOS), Denise Arajo (UTP), Mrcio Simeone (UFMG), Paulo Rocha
Dias (UNILESTE-MG), Sandra Reimo (UMESP), Vera Frana (UFMG) merecem minha
lembrana pela colaborao na coleta de dados dos PPGCOM, de modo geral, a partir da
indicao dos estudantes que fizeram esta tarefa sob minhas orientaes. A estes estudantes
de graduao, Bruno de Moraes Castro (UFMG), Daniele I. B. Consolino (UNICAMP),
Dbora R. Ertel (UNISINOS), Dbora de Morais (UNB), rika Mendona (UFPE), Patrcia
Petreca (UMESP) Ragi Gonalves (UTP) e Sara G. M. Ucha (UFBA), meu muito obrigado.
Agradeo tambm aos professores doutores Elisabeth Saad Corra (USP) e Jos Luiz Aidar
(PUCSP), que participaram da banca de qualificao desse trabalho e contriburam com
sugestes. Tambm gostaria de lembrar dos professores Afrnio Mendes Catani, Jos
Marques de Melo e do saudoso professor Octavio Ianni, com os quais tive o prazer de
aprender durante disciplinas ao longo do doutorado.
Anna Paula Muniz, Carolina Alves Marra, Daniele C. Lima, Graziella Oliveira, Ndia
Marques e Cristine Vargas Pereira, bolsistas e ex-bolsistas de IC do NUPEM, colaboram
tambm de modo fundamental. Agradeo em particular ltima, que me acompanha desde o
mestrado, e a quem peo desculpas pelas broncas em momentos de menor tranqilidade.
Agradeo ainda ao CNPq, pela bolsa de doutorado, no ltimo ano de realizao do trabalho,
tornando-o possvel.
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RESUMO ROMANCINI, Richard. O campo cientfico da Comunicao no Brasil: institucionalizao e capital cientfico. So Paulo, 2006. Tese (Doutorado) Escola de Comunicaes e Artes, Universidade de So Paulo. RESUMO: A pesquisa tem como objeto a rea dos estudos de Comunicao no Brasil. Como
desenvolve-se basicamente no meio acadmico, foram privilegiados aspectos e dados
relativos a todos os Programas de Ps-Graduao em Comunicao (PPGCOM)
reconhecidos pela CAPES no ano de 2004.
Buscou-se discutir a possvel conformao de um campo cientfico (Bourdieu) da
Comunicao, a partir da anlise de dados institucionais, quanto insero de sua pesquisa
no sistema de C&T do pas, sua auto-representao e seu capital cientfico. Este ltimo
aspecto foi analisado atravs de um estudo bibliomtrico de teses e dissertaes dos
PPGCOM. Buscou-se desenvolver uma metodologia para a anlise de reas ou disciplinas
cientficas e, para tanto, faz-se uma reelaborao do modelo de Galtung (1965), sobre a
interao entre grupos acadmicos.
Quanto aos resultados, constatou-se uma circulao relevante de capital cientfico entre
os pesquisadores da rea, sendo esse um elemento que mostra que o grupo de
investigadores no se encontra num modelo segmental de interao. Existem indcios de
um modelo conflitivo-construtivo, o que favorece a consolidao do campo cientfico da
Comunicao.
Identificou-se tambm a existncia de um ncleo disciplinar, composto por autores dos
PPGCOM que recebem nmero significativo de citaes bibliogrficas em vrias das
subreas da rea da Comunicao.
Palavras chave: Campo cientfico Comunicao Capital cientfico Bibliometria
Pesquisa em Comunicao
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ABSTRACT
The research has as its object the area of Communication Studies in Brazil. As it is
developed basically in the academic field, it was privileged the aspects and data related to
all the Postgraduates Programs in Communication (PPGCOM) recognized by CAPES in
the year 2004.
This research tried to argue about the possible conformation of a scientific field
(Bourdieu) in the Communication, by analyzing institucional data referring to the insertion
of its research in the C&Ts system in its country, its self-representation and its scientific
capital. This last aspect was analyzed in a bibliometric study of thesis and dissertations of
the PPGCOM. It tried to develop a methodology for the analysis of scientific areas and
disciplines and for that one re-elaboration of Galtungs model (1965) about the interaction
between academics groups.
About the results, it was evidenced a relevant circulation of scientific capital between the
researchers of this area. This is an element that shows a group of investigators who is not
placed in a segmental model of interaction. There are indications of a conflictive-
constructive model, which favors the consolidation of a scientific field in the
Communication.
The research also identified the existence of a discipline nucleus, composed by authors
of the PPGCOM, who receive a significant number of bibliographical citations in the
several sub-areas of the Communication Area.
Keywords: Scientific Field Communication Scientific Capital Bibliometry
Research in Communication
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Sumrio
VOLUME I
INTRODUO ........................................................................................................ 6 Objetivos............................................................................................................................ 6
Hipteses ......................................................................................................................... 11
Justificativas do estudo.................................................................................................... 13
Estrutura do trabalho e metodologias empregadas .......................................................... 21
CAPTULO 1 - A cincia e o projeto cientfico ................................................... 24 1.1. O paradigma hegemnico da cincia .................................................................... 28
1.2. O projeto cientfico segundo Granger ...................................................................... 32
CAPTULO 2 - As cincias sociais, as cincias da comunicao e as novas epistemologias da cincia ........................................................... 36
2.1. Ianni: a cincia como uma das narrativas da modernidade ...................................... 38
2.2. Passeron: as cincias sociais como espao no-popperiano ................................. 42
2.3. Kuhn: discusso de suas idias luz do exposto...................................................... 45
2.4. Santos, Morin: novos contedos para a definio da cincia ................................... 50
2.5. O que a reflexo precedente aporta ao estudo .......................................................... 54
CAPTULO 3 - O conceito de campo cientfico: preliminares terico- metodolgicas de seu uso na investigao ................................. 64
3.1. A nova sociologia da cincia ................................................................................ 64
3.2. Bourdieu: o conceito de campo em seu projeto sociolgico .................................... 70
3.3. As propriedades dos campos, campo e capital cientficos e o progresso da razo... 75
3.4. O conceito de campo em abordagens da sociologia da cincia sobre a rea da Comunicao ............................................................................................................ 83
3.5. O modelo de Galtung sobre a interao entre grupos acadmicos e o conceito de campo: possibilidades de integrao ........................................................................ 85
CAPTULO 4 - Perfil Institucional das Cincias da Comunicao no Brasil: histrico e indicadores de insero na rea cientfica ............ 90
4.1. A institucionalizao das cincias sociais no Brasil e a Comunicao .................... 91
4.2. A ps-graduao em Comunicao no Brasil......................................................... 100
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4.3. A populao estudantil dos PPGCOM ................................................................... 108
4.4. O corpo docente dos PPGCOM.............................................................................. 116
4.5. O fomento pesquisa: bolsas e investimentos realizados pelas agncias governamentais....................................................................................................... 129
4.6. Sntese anlitica sobre os dados referentes ao perfil institucional da rea da Comunicao .......................................................................................................... 145
CAPTULO 5 - Padres de associao, pesquisa e produo nas Cincias da Comunicao no Brasil..... ........................................................ 148
5.1. Os Grupos de Pesquisa em Comunicao no Diretrio do CNPq.......................... 149
5.2. As Associaes Cientficas dos pesquisadores da Comunicao.. ......................... 164
5.3. As publicaes peridicas tcnico-cientficas da rea da Comunicao.. .............. 168
5.4. A produo bibliogrfica e os projetos de pesquisa dos docentes-pesquisadores.. 175
5.5. A produo (teses e dissertaes) dos PPGCOM - 1974-2004.. ............................ 180
5.6. Perspectiva geral sobre os dados ............................................................................ 184
CAPTULO 6 - Organizao e representao dos discursos da Comunicao e de sua produo cientfica..................................................... 188
6.1. A representao da pesquisa realizada: propostas de taxonomia ........................... 191
6.2. Anlise da produo cientfica: teses e dissertaes .............................................. 200
6.3. Anlise das reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa dos PPGCOM ............. 210
6.4. Os programas de pesquisa em Comunicao...................................................... 218
CAPTULO 7 - O capital cientfico da Comunicao em suas referncias .... 221 7.1. Os estudos mtricos e a citao como medida do capital cientfico....................... 222
7.2. Anlise bibliomtrica da bibliografia de acesso aos PPGCOM ............................. 226
7.3 Anlise bibliomtrica da bibliografia das Teses e Dissertaes dos PPGCOM: metodologia e caractersticas gerais do padro de citaes.................................... 231
7.4. O capital cientfico da rea da Comunicao evidenciado nas referncias das teses e dissertaes.. ............................................................................................... 238
CONCLUSES FINAIS ...................................................................................... 259
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................... 262
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NDICE DE QUADROS
Quadro 3.1 Modelos de interao entre grupos acadmicos... ............................................................ 88
Quadro 6.1 Exemplo tpico de dupla categorizao de trabalho em subreas................................... 203
NDICE DE TABELAS
Tabela 4.1 Escolas/Cursos de Graduao em Comunicao no Brasil............................................. 94
Tabela 4.2 PPGCOM reconhecidos pela CAPES (2005).... ........................................................... 100
Tabela 4.3 Ano do Incio dos Cursos de Mestrado em Comunicao...... ...................................... 101
Tabela 4.4 Distribuio regional dos PPGCOM..... ....................................................................... 101
Tabela 4.5 Natureza institucional das IES...................................................................................... 102
Tabela 4.6 PPGCOM na Amrica Latina por pas e nvel.............................................................. 107
Tabela 4.7 Titulados por rea de Conhecimento (2003)... ............................................................ 109
Tabela 4.8 - Titulados em Cincias Sociais Aplicadas e Cincias Humanas (2003)......................... 110
Tabela 4.9 Titulados em Comunicao, Economia, Arquitetura e Urbanismo, Histria e............. 112 Sociologia no qinqnio 1999-2003..... ............................................................................
Tabela 4.10 Docentes dos PPGCOM distribudos por tipo de vnculo institucional...................... 117
Tabela 4.11 - Titulao (Doutorado) dos professores colaboradores dos PPGCOM (2004)............. 119
Tabela 4.12 - Titulao (Doutorado) dos professores permanentes dos PPGCOM (2004)............... 120
Tabela 4.13 - Titulao (Doutorado) dos professores permanentes dos PPGCOM (2004), por ano de obteno do ttulo.... ............................................................................................... 123
Tabela 4.14 Pases em que os professores permanentes dos PPGCOM (2004) obtiveram o ttulo de doutor, por ano........................................................................................................ 124
Tabela 4.15 reas de doutorado dos primeiros docentes dos PPGCOM e dos atuais docentes permanentes (2004)... .................................................................................................. 125
Tabela 4.16 Titulaes ps-doutorais obtidas pelos professores permanentes dos PPGCOM (2005)... ...................................................................................................................... 127
Tabela 4.17 Pases das instituies nos quais foram feitos os Ps-Doutorados pelos docentes permanentes dos PPGCOM (2005)... .......................................................................... 128
Tabela 4.18 Bolsas de Formao no Pas do CNPq e da CAPES distribuio por programa e Grande rea de conhecimento... ................................................................................. 131
Tabela 4.19 Bolsas de Formao no Exterior do CNPq e da CAPES distribuio por programa e Grande rea de conhecimento.................................................................................. 135
Tabela 4.20 Bolsas de Pesquisa do CNPq: distribuio por modalidade e Grande rea de conhecimento............................................................................................................... 137
Tabela 4.21 Bolsas de Formao no pas do CNPq e CAPES: distribuio por rea de138 conhecimento............................................................................................................... 138
Tabela 4.22 Bolsas de Formao no Exterior do CNPq e CAPES: distribuio por rea de conhecimento............................................................................................................... 139
Tabela 4.23 Bolsas de Pesquisa do CNPq: distribuio por rea de conhecimento... .................... 140
Tabela 4.24 Bolsistas de Produtividade em Pesquisa no CNPq.... ................................................. 140
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Tabela 4.25 Investimentos realizados pelo CNPq por linha de ao segundo Grande rea do conhecimento - 1999-2004.. ....................................................................................... 141
Tabela 4.26 - Total dos investimentos realizados pelo CNPq em bolsas e no fomento pesquisa por rea do conhecimento - 1999-2004.. ..................................................................... 142
Tabela 4.27 - Investimentos (em mil reais) realizados pelo CNPq em bolsas e no fomento pesquisa por rea do conhecimento - 2001-2004......................................................... 143
Tabela 5.1 Grupos de Pesquisa no Diretrio do CNPq, por Grandes reas (1993-2004).............. 150
Tabela 5.2 Grupos de Pesquisa no Diretrio do CNPq, por reas de Conhecimento (1993-2004)............................................................................................................................................................. 151
Tabela 5.3 - Distribuio dos pesquisadores e doutores segundo a rea de Conhecimento predominante nas atividades do Grupo (Censo - DGP/CNPq 2004)............................. 152
Tabela 5.4 Grupos de Pesquisa em Comunicao segundo o nmero de pesquisadores doutores (Censo - DGP/CNPq 2004)............................................................................ 153
Tabela 5.5 Grupos de Pesquisa em Comunicao, por Instituio (Censo - DGP/CNPq 2004) .... 153
Tabela 5.6 Distribuio Regional dos Grupos de Pesquisa em Comunicao ............................... 156
Tabela 5.7 Natureza das IES dos Grupos de Pesquisa em Comunicao....................................... 156
Tabela 5.8 Nmero de Linhas de Pesquisa dos Grupos de Pesquisa em Comunicao ................. 157
Tabela 5.9 Linhas de Pesquisa dos Grupos de Pesquisa em Comunicao..................................... 157
Tabela 5.10 - Grupos de Pesquisa (exceto de Comunicao) que utilizam o termo comunicao como parte do nome, da LP ou palavra-chave............................................................ 161
Tabela 5.11 Associaes cientficas do campo da Comunicao (2006).. ..................................... 166
Tabela 5.12 Temticas dos NP da INTERCOM e GT da COMPS (2006).................................. 167
Tabela 5.13 - Peridicos brasileiros de Comunicao: responsveis pela edio.. ........................... 169
Tabela 5.14 - Peridicos brasileiros de Comunicao: diviso por regies.. .................................... 170
Tabela 5.15 - Peridicos brasileiros de Comunicao: diviso temtica........................................... 171
Tabela 5.16 Projetos de pesquisa em desenvolvimento pelos docentes dos PPGCOM .. .............. 175
Tabela 5.17 Publicaes dos docentes permanentes dos PPGCOM.............................................. 177
Tabela 5.18 Mdia de publicaes dos docentes NRD6 de 2001 e permanentes dos PPGCOM de 2004.. ..................................................................................................................... 179
Tabela 5.19 - Produo PPGCOM Dissertaes (Mestrado) e Teses (Doutorado) (1974-2004) ... 181
Tabela 5.20 - Produo PPGCOM Dissertaes (Mestrado) e Teses (Doutorado) (1974-2004) ... 182
Tabela 5.21 - Produo de Dissertaes (Mestrado) e Teses (Doutorado) por PPGCOM (1974-2004) ........................................................................................ 183
Tabela 6.1 - Classificao Atual da rea de Comunicao no CNPq............................................... 192
Tabela 6.2 - Classificao da rea da Comunicao proposta por Lopes, Braga e Samain no 193 mbito da COMPS..................................................................................................... 193
Tabela 6.3 - Classificao da rea da Comunicao, para efeito da TAC, proposta pela rea ao CNPq ....................................................................................................................... 199
Tabela 6.4 - Classificao das teses dos PPGCOM em subreas ...................................................... 204
Tabela 6.5 - Classificao das dissertaes dos PPGCOM em subreas........................................... 205
Tabela 6.6 - Classificao da produo (teses e dissertaes) dos PPGCOM em subreas .............. 207
Tabela 6.7 Interfaces entre subreas, conforme a classificao dos trabalhos ............................... 208
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Tabela 6.8 reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa dos PPGCOM (2006) ........................... 212
Tabela 6.9 Classificao das Linhas de Pesquisa dos PPGCOM por Subreas.............................. 216
Tabela 7.1 Autores nacionais e estrangeiros nas bibliografias de acesso dos PPGCOM ............... 226
Tabela 7.2 Autores nacionais e pertencentes a programas em Comunicao nas bibliografias de acesso dos PPGCOM.................................................................................................... 226
Tabela 7.3 Autores de PPGCOM nas referncias das bibliografias para ingresso nos Programas citaes externas e internas........................................................................................... 227
Tabela 7.4 Autores nacionais indicados nas bibliografias para ingresso nos PPGCOM................ 228
Tabela 7.5 Autores estrangeiros indicados nas bibliografias para ingresso nos PPGCOM............ 229
Tabela 7.6 Mdia de citaes nas Dissertaes e Teses dos PPGCOM ......................................... 233
Tabela 7.7 Mdia de citaes por PPGCOM (2004) ...................................................................... 234
Tabela 7.8 Tipos de documento pela nacionalidade dos autores (amostra -%) .............................. 235
Tabela 7.9 Tipos de documento pela temporalidade das citaes (amostra -%) ............................ 236
Tabela 7.10 Tipos de documento pela lngua utilizada (amostra -%) ............................................ 236
Tabela 7. 11 - Tipos de documentos pela nacionalidade dos autores (amostra -%) .......................... 237
Tabela 7.12 Citaes a autores nacionais e estrangeiros na teses dos PPGCOM........................... 238
Tabela 7.13 Citaes a autores nacionais e estrangeiros, por PPGCOM (2004)............................ 239
Tabela 7.14 Citaes a autores nacionais e de docentes dos programas, por PPGCOM (2004) .... 240
Tabela 7.15 Citaes a autores nacionais em 1977, 1983, 1990 e 1997, por PPGCOM ................ 241
Tabela 7.16 Autores estrangeiros mais citados em 1977, 1983, 1990 e 1997, por PPGCOM ....... 243
Tabela 7.17 Autores nacionais mais citados em 2004.................................................................... 244
Tabela 7.18 Citaes a autores estrangeiros, por PPGCOM (2004) autores mais citados .......... 245
Tabela 7.19 Citaes a autores de PPGCOM (2004) autores mais citados ................................. 247
Tabela 7.20 Citaes a autores-docentes dos programas, por PPGCOM (2004), contagem com excluso das auto-citaes autores mais citados....................................................... 249
Tabela 7.21 Influncias / circulao do conhecimento entre os PPGCOM.................................... 251
Tabela 7.22 Autores dos PPGCOM mais citados por subreas da Comunicao .......................... 253
Tabela 7.23 Autores nacionais mais citados por subreas da Comunicao .................................. 255
Tabela 7.24 Autores estrangeiros mais citados por subreas da Comunicao.............................. 257
NDICE DE GRFICOS
Grfico 5.1 - Peridicos brasileiros de Comunicao (1965-2003)................................................... 168
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VOLUME II
Anexos 1. Dados estatsticos
Pesquisa e Formao de Recursos Humanos no Brasil: Distribuio do Fomento por agncia ........................................................................................................................... 281
Bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq em Comunicao, por instituio .. 282
2. Grupos de Pesquisa
Grupos de Pesquisa em Comunicao da rea e de Artes (cinema) no Censo 2004 do Diretrio de GP do CNPq.............................................................................................. 283
Linhas de Pesquisa dos GP em Comunicao (AP: Comunicao e AP: Artes/cinema) classificadas por subreas.............................................................................................. 300
GP (exceto de Comunicao) que utilizam o termo comunicao como parte do nome, da LP ou palavra-chave desta ........................................................................................ 310
3. Ata da Reunio com proposta de entidades e representantes da Comunicao sobre a TAC com lista de subrea e especialidades............316 4. Detalhamento da classificao das teses e dissertaes dos PPGCOM (2004)
em subreas Detalhamento da classificao das teses em subreas................................................... 322
Detalhamento da classificao das dissertaes em subreas ....................................... 323
5. Lista das reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa dos PPGCOM,
produo dos mesmos (teses e dissertaes) dos anos de 1977, 1983, 1990, 1997, 2004, submetida anlise bibliomtrica, projetos de pesquisa desenvolvidos pelos docentes dos Programas e relao dos docentes USP................................................................................................................................ 324
UFRJ.............................................................................................................................. 361
UNB............................................................................................................................... 375
PUCSP........................................................................................................................... 382
UMESP.......................................................................................................................... 405
UNICAMP..................................................................................................................... 414
UFBA............................................................................................................................. 420
PUCRS........................................................................................................................... 428
UNISINOS..................................................................................................................... 439
UFRGS .......................................................................................................................... 449
UFMG............................................................................................................................ 454
-
xiv
UFF................................................................................................................................ 459
UTP................................................................................................................................ 463
UFPE ............................................................................................................................. 467
UNIP.............................................................................................................................. 471
UERJ.............................................................................................................................. 474
UNESP........................................................................................................................... 477
UNIMAR....................................................................................................................... 481
PUCRJ ........................................................................................................................... 483
UFSM ............................................................................................................................ 484
ESPM............................................................................................................................. 484
6. Bibliografia de acesso aos PPGCOM
Tabela com autores e obras referidas nas bibliografias para ingresso nos PPGCOM .. 485
7. Listas de autores mais citados nas teses e dissertaes dos PPGCOM de 1977,
1983, 1990 e 1997 distribudos por Programa Autores estrangeiros ...................................................................................................... 489
Autores nacionais .......................................................................................................... 491
8. Listas de autores mais citados nas teses e dissertaes dos PPGCOM de 2004,
distribudos por Programa Autores estrangeiros ...................................................................................................... 493
Autores nacionais .......................................................................................................... 496
Autores pertencentes aos PPGCOM.............................................................................. 498
9. Clculo amostral do corpus de citaes
Frmula e amostragem das teses e dissertaes ........................................................... 505
-
xv
Lista de abreviaturas e siglas
INSTITUIES DE ENSINO CEFET/PR - Centro Federal de Educao Tecnolgica do Paran (PR) ECA Escola de Comunicaes e Artes da USP (SP) ECO Escola de Comunicaes da UFRJ (RJ) ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing (SP) FLACSO - Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (Santiago Chile) FEEVALE - Centro Universitrio Feevale (RS) FTC - Faculdade de Tecnologia e Cincias de Salvador (BA) FURB - Fundao Universidade Regional de Blumenau (SC) MACKENZIE - Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) PUCCAMP - Pontifcia Universidade Catlica de Campinas (SP) PUCMG - Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (MG) PUCSP Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (SP) PUCRJ Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (RJ) PUCRS - Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (RS) UCB-DF - Universidade Catlica de Braslia (DF) UAM Universidade Anhembi Morumbi (SP) UEL Universidade Estadual de Londrina (PR) UEM Universidade Estadual de Maring (PR) UEMG Universidade Estadual de Minas Gerais (MG) UEPB Universidade Estadual da Paraba (PB) UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro (RJ) UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (BA) UFAL Universidade Federal de Alagoas (AL) UFAM Universidade Federal do Amazonas (AM) UFBA Universidade Federal da Bahia (BA) UFC Universidade Federal do Cear (CE) UFES Universidade Federal do Esprito Santo (ES) UFF Universidade Federal Fluminense (RJ) UFG Universidade Federal de Gois (GO) UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (MG) UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (MS) UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso (MT) UFPE - Universidade Federal de Pernambuco (PE) UFPI Universidade Federal do Piau (PI) UFPR Universidade Federal do Paran (PR) UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS) UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ) UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte (RN) UFSCAR Universidade Federal de So Carlos (SP) UFS Universidade Federal de Sergipe (SE) UFSM Universidade Federal de Santa Maria (RS) UFV Universidade Federal de Viosa (MG) UMESP Universidade Metodista de So Paulo (SP) UNB Universidade de Braslia (DF) UNEB - Universidade do Estado da Bahia (BA) UNESP Universidade Estadual Jlio de Mesquita Filho (SP) UNICAMP Universidade Estadual de Campinas (SP) UNICEUB - Centro Universitrio de Braslia (DF) UNICID - Universidade Cidade de So Paulo (SP) UNICRUZ - Universidade de Cruz Alta (RS) UNIFOR - Universidade de Fortaleza (CE) UNIMAR Universidade de Marlia (SP) UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba (SP) UNINOVE Universidade Nove de Julho (SP) UNIP Universidade Paulista (SP) UNIPAC - Universidade Presidente Antnio Carlos (MG)
-
xvi
UNIPAR - Universidade Paranaense (PR) UNISANTOS Universidade Catlica de Santos (SP) UNISO Universidade de Sorocaba (SP) UNISUL Universidade do Sul de Santa Catarina (SC) UNIT Universidade Tiradentes (SE) UNIVALI - Universidade do Vale do Itaja (RS) UNIVAP - Universidade do Vale do Paraba (SP) UNIVS - Universidade do Vale do Sapuca - MG UNOCHAPECO - Universidade Comunitria Regional de Chapec (SC) UPF - Universidade de Passo Fundo (PR) URCAMP - Universidade da Regio da Campanha (RS) USP Universidade de So Paulo (SP) UTP Universidade Tuiut do Paran (PR)
ASSOCIAES/AGNCIAS/RGOS Abracorp - Associao Brasileira de Pesquisadores de Comunicao Organizacional e Relaes Pblicas ABPC Associao Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura ALAIC - Asociacin Latinoamericana de Investigadores de la Comunicacin ANPOCS Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em Cincias Sociais BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informao em Cincias da Sade CAPES - Coordenao do Aperfeioamento de Pessoal de Ensino Superior COMPS - Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em Comunicao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria FACEPE - Fundao de Amparo Cincia e Tecnologia do Estado de Pernambuco FAPEMIG - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPERGS - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul FAPERJ - Fundao de Amparo Pesquisa do Rio de Janeiro FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos FIOCRUZ - Fundao Oswaldo Cruz FORCINE - Frum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual FUNCAP - Fundao Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico IAMCR - International Association for Media and Communication Research INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao MCT - Ministrio da Cincia e Tecnologia MEC Ministrio da Educao PORTCOM - Rede de Informao em Comunicao dos Pases de Lngua Portuguesa REVCOM - Coleo Eletrnica de Revistas em Cincias da Comunicao SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia SBPJor - Associao Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo SOCINE - Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema
OUTROS C&T Cincia e Tecnologia Gr / GP Grupo de Pesquisa GT Grupo de Trabalho Li Lder de Grupo de Pesquisa LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao LP Linha de Pesquisa NP Ncleo de Pesquisa PG Ps-Graduao PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica PICDT - Programa Institucional de Capacitao Docente e Tcnica PNE Plano Nacional de Educao PNPG Plano Nacional de Ps-Graduao PPG Programa de Ps-Graduao PPGCOM Programas de Ps-Graduao em Comunicao PROF - Programa de Fomento Ps-Graduao PROEX - Programa de Excelncia Acadmica Prossiga - Programa de Informao para Gesto de Cincia, Tecnologia e Inovao do Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia PROSUP - Programa de Suporte Ps-Graduao de Instituies de Ensino Particulares SciELO - Scientific Electronic Library Online TAC Tabela de reas do Conhecimento
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1
Introduo
Seria interessante comear esse trabalho com uma narrativa que envolve o autor (e por isso
a primeira pessoa se impe). Pois bem, antes ainda da metade do curso de doutorado,
combinara assistir com uma amiga ao filme Razes do Brasil, o documentrio de Nelson
Pereira dos Santos sobre Srgio Buarque de Hollanda. Marcamos o encontro no prprio
cinema. Era um dia de chuva e como estava indo de nibus ao encontro, preocupei-me com
um possvel atraso, o que me fez caminhar boa parte do cruzamento da Consolao com a
Paulista at a Rua Augusta em passo acelerado. Por sorte, chegara a tempo (antes de minha
amiga), e bem pouco depois notei que uma moa que estava comigo no nibus tambm iria
ver este filme. Por uma circunstncia que agora no recordo, ela possua ingressos extras e
me ofereceu dois (eu havia dito que esperava algum).
Agradeci e nos dirigimos fila que comeara a se formar. Iniciamos uma conversa no qual
fiquei sabendo que ela era estudante de Filosofia na USP e ela, por sua vez, demonstrou
interesse em saber o que eu pesquisava, quando soube que eu cursava o doutorado em
Comunicao1. Tentei explicar que procurava pesquisar como determinados agentes
compunham, ao longo do tempo, o campo de pesquisa em Comunicao, em outros
termos, como se dava a construo da rea cientificamente. Ela parecia ouvir atentamente,
porm, ao fim de minha breve dissertao pareceu refletir um pouco, antes de indagar-me,
com o que julguei um tanto de ironia filosfica e desdm, mas tambm certo interesse:
Mas a Comunicao uma cincia?.
Realmente me vi surpreendido e um tanto paralisado, e quando iria esboar a resposta, a
fila comeou a andar! Pois bem, era impossvel segui-la, j que esperava minha amiga que
ainda no chegara. No entanto, essa pergunta irrespondida (no revi a moa ao fim do
filme, nem nunca mais) sempre esteve em minha cabea, durante todo esse tempo. Oxal,
ao longo dessa tese eu consiga tirar o mximo proveito dessa pergunta, no to ingnua e
maliciosa assim. 1 Sempre que o termo referir-se disciplina ser grafado em letra inicial maiscula, para distingui-lo dos objetos de estudo da rea, bem como suas prticas profissionais e demais possveis sentidos.
-
2
Com efeito, Roberto Schwarz (1987) nota, num inteligente ensaio, que muitas vezes as
perguntas mais banais encerram um questionamento importante em sua aparente (e por
vezes real) despretenso. Uma pergunta desse tipo (Para que servem as cincias sociais no
Paraguai?, conforme o exemplo do autor) pode atingir questes de fundamento, que se
desdobram em indagaes igualmente densas. A pergunta sobre a natureza cientfica da
Comunicao, pois, implica aclarar um entendimento sobre o que uma cincia, tendo em
conta tanto suas caractersticas intrnsecas quanto o ambiente que a torna possvel, e o que
seria esta potencial cincia da Comunicao neste quadro.
Neste trabalho, pois, submeto esta indagao a recortes temticos, expostos nessa
introduo, com objetivo de explorar a natureza do campo da Comunicao, no sentido
que Bourdieu d a esse termo, analisando sua natureza e especificidades. As dificuldades
do trabalho naturalmente, no so poucas.
Vamos primeira e fundamental questo que, em razo disso, acaba percorrendo todo
estudo. Aqui, naturalmente, essa indagao s pode receber uma tentativa de resposta, que,
por um vis irnico, certo, sinaliza impasses e caminhos importantes, que ultrapassam a
prpria Comunicao, ainda que a pergunta seja dirigida a ela.
Pois bem. O que se est dizendo ao dizer comunicao, como um campo especfico de
conhecimento cientfico: Adorno, Lazarsfeld ou Abraham Moles? Aristteles, Jakobson,
Pierce, Greimas ou Umberto Eco? Harold Lasswell, Norbert Weiner, Armand Mattelart ou
McLuhan? Baudrillard ou Martn-Barbero? Edward T. Hall ou Stuart Hall? Walter
Benjamin? Desde que foi realmente lanada como disciplina e profisso na primeira
metade do sculo XX, sobretudo pelos norte-americanos, a autoproclamada rea das
Cincias da Comunicao no foi perturbada apenas por uma proliferao de teorias,
mtodos, teses e tcnicas. Isso afinal era de se esperar: a prpria polissemia que envolve o
termo comunicao torna-o passvel de mltiplas abordagens. A rea impelida por
caminhos fantasticamente diferentes em funo de idias fantasticamente diferentes sobre
aquilo a que se refere, como costumamos dizer o tipo de conhecimento, o tipo de
realidade e o tipo de objetivo que se espera que ela alcance. Vista de fora, pelo menos, a
Comunicao no parece um campo nico, dividido em escolas e especialidades da
-
3
maneira habitual. Parece um sortimento de investigaes dspares e desconexas, reunidas
numa mesma classe pelo fato de todas se referirem, de um modo ou de outro, a tal ou qual
coisa a que se chama processo de comunicao. Dezenas de personagens procura de
um texto.
O pargrafo precedente, na verdade (e essa sua natureza irnica), consiste numa pardia
de um texto do antroplogo Clifford Geertz (2001) sobre a Psicologia. No entanto, essa
operao discursiva tem a vantagem de, ao mesmo tempo em que retrata uma situao que
parece verdadeira (no que tem de caricatural, e num olhar sobretudo exterior, vista de
fora, como diz Geertz) sobre a rea da Comunicao, mostrar que essa condio no lhe
totalmente especfica. De fato, quanto mais se avana na leitura da produo atual das
diferentes cincias sociais e humanas sobre suas epistemologias locais, mais se percebem
similaridades em graus diversos, evidentemente com o contexto exposto (o da
Psicologia e da Comunicao).
Exemplos bastante ilustrativos dessa tendncia so encontrados em algumas anlises sobre
o estado contemporneo de diferentes reas. Entre outras, a Histria que, de acordo com
Cardoso (1997), apresenta uma tenso entre um paradigma moderno e outro ps-
moderno, a Antropologia, dividida em correntes que questionam ou insistem na
centralidade do trabalho de campo na disciplina (contra ou pr-etnografia, conforme
Peirano, 1992). Alm de reas de estudo mais recentes, como a Educao, na qual se fala,
nem sempre positivamente, em uma diversificao e diversidade da teoria (Oliveira e
Alves, 2006). Todos esses casos encontram-se na discusso nacional e no foram resultado
de uma busca sistemtica, provvel que outros campos produzam discursos similares.
De outro lado, possvel pensar, mais globalmente, no caso da Sociologia: locus
privilegiado do dissenso de avaliao, ligado incomensurabilidade de prticas
heterogneas e disperso das lnguas tericas: a maioria das snteses unificadoras s se
constri na excomunho recproca (Passeron, 1995, 75). O tema da crise da sociologia,
e das cincias sociais como um todo recorrente, como mostra tambm a discusso de
Merton (1979b [1975]), que acreditava, entretanto, nas superao de tal estado.
-
4
Essa exemplificao colabora com a identificao de um elemento crtico comum s
cincias humanas, situao no exclusiva da rea da Comunicao. O problema lido em
diferentes chaves, que oscilam entre extremos de frustrao e crtica inexistncia de um
nico paradigma a unificar determinado campo e o elogio ao pluralismo terico e
metodolgico, qui um vis interdisciplinar, de determinada rea ou disciplina. Num
caminho intermedirio e talvez mais realista, so feitas diferentes reflexes
epistemolgicas e propostas. H, por exemplo, o reconhecimento de que a existncia de
mltiplas vias interpretativas exige de cada posio a explicitao de seus fundamentos,
seno o embate entre cada uma das perspectivas, naquilo que corresponde s suas zonas de
compatibilidade (quanto a questes empricas, por exemplo) ou comensurabilidade (em
termos da estrutura conceitual eventualmente similar das proposies). Ou seja, por meio
do debate projeta-se algum aprimoramento ou desenvolvimento num determinado campo
de investigao. Mais e melhores pesquisas sobre problemas definidos com um grau de
preciso, ainda que com certa heterogeneidade, mais elevado.
De qualquer forma, parece-nos claro que as interpretaes sobre o conhecimento social nos
dias atuais mostram bem menos certezas do que outrora. Invoca-se, ademais, a estreita
relao entre o tempo histrico (de aceleradas mudanas nos dias de hoje, como
sabemos) e o tempo lgico da cincia2. A articulao entre esses tempos, de modo mais
constante e tenso nas cincias do homem do que nas cincias lgico-formais e da natureza,
fazem com que autores como Passeron (1995) identifiquem no cerne do raciocnio das
cincias sociais o reconhecimento de seu carter de cincias histricas. Assim, reforada
a idia de que seus enunciados no podem ser desindexados dos contextos de que so
tirados os dados que tm um sentido para suas asseres (idem, 87).
Em outra possibilidade interpretativa, essa situao exigiria, em tempos de acentuadas
transformaes, a reformulao ou abandono de terminados conceitos, bem como a
necessidade de novas elaboraes e snteses como ocorre na discusso de Ianni (1996),
sobre a globalizao como novo paradigma das cincias sociais. A esse contexto
podem acrescentar-se ainda as discusses que envolvem a cincia como um todo em busca
de novos valores, fundados, por exemplo, na complexidade (Morin) ou na ps-
modernidade (Sousa Santos). 2 Victor Goldschmidt (1963) discute essa recorrente viso da realidade da cincia.
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5
Dessa forma, os analistas tendem tambm a apresentar menos segurana sobre o futuro e a
noo de progresso aplicada s cincias, em particular s humanas, do que j houve em
dcadas anteriores. (Ou ento, como mostraremos, a prpria noo de progresso
redefinida.) De qualquer forma, certo que ningum mais enunciaria, ao menos com tanto
segurana, como Merton no fim da dcada de 1940, a otimista necessidade e possibilidade
de esquecer os clssicos e os fundadores de determinada rea de estudos nas cincias
sociais. A proposio de que um progresso continuado, garantido pelo labor cotidiano
tornado cumulativo, permitiria construir teorias sobre o mundo social melhor formuladas,
mais gerais e integradas, a partir de mais especficas e convergentes teorias de mdio
alcance, tem certamente ainda apelo entre parte dos cientistas. Mas isso no faz com que a
idia de que os clssicos possam ser deixados de lado, vistos como superados, tenha
muitos partidrios.
Ao contrrio, pode-se inclusive caracterizar, se no positiva pelo menos intrinsecamente,
as cincias sociais como possuidoras do dom da eterna juventude (Schwartzman, 1971).
Neste caso, vrios autores retomam uma idia cara a Weber (1991), a respeito das
disciplinas histricas, que so duplamente condicionadas: os fatos que estudam esto
situados num tempo/espao especfico e estes so dotados de um valor ou sentido
tambm histrico. A releitura ou revalorizao da sociologia do conhecimento de
Mannheim tambm est ligada a este quadro: o conceito de conhecimento relacional,
com efeito, chama a ateno para as construes conceituais que emergem no fluxo da
experincia histrica (Mannheim, 1976, 105)3. As diferenas de nfase, nesse enfoque,
aqui so igualmente bastante variadas, h desde os que acreditam que esse aspecto no
altera a unidade profunda da cincia, quanto os que insistem nas diferenas entre as duas
culturas cientficas do que em suas convergncias.
O contexto dessa discusso no simples, pois as premissas de que partem muitos dos
estudiosos so irreconciliveis. Encarar as cincias sociais a partir da lgica e da
epistemologia mais tradicional das cincias formais e naturais (por exemplo, impondo a
noo de falsificabilidade popperiana como meta de toda construo de conhecimento)
3 interessante notar que, em parte, essa revalorizao vem se dando a partir de uma nova leitura do conceito de conhecimento relacional. Enquanto em Mannheim ele se aplicaria fundamentalmente s cincias histricas, os autores do chamado programa forte da sociologia da cincia buscarim operacionaliz-lo para mostrar que todo o conhecimento cientfico histrico e socialmente ancorado, relacional.
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6
projeta um ideal cientfico para as cincias sociais bastante diferente do que quando se
admite, igualmente em diferentes graus, que elas possuem especificidades, ligadas tanto ao
seu objeto, quanto ao tipo de raciocnio utilizado e s suas normas de produo de
conhecimento vlido.
suficiente dizer, nesse momento, que essa discusso no improdutiva ou impertinente
para este trabalho: na verdade, implica, muitas vezes, uma tomada de posio por parte do
pesquisador. por isso, pois, que iniciamos a Introduo desta pesquisa com estas breves
reflexes que posicionam o marco do estudo em relao quilo que lhe interessa
fundamentalmente: a constituio de um campo de estudo (a Comunicao) num momento,
se no de crise, certamente de repensar a cincia e o fazer cientfico.
Objetivos: uma viso de dentro
Ser necessrio retomar alguns dos pontos vistos at aqui, na continuidade do trabalho, em
nvel mais local e especfico, bem como com maior aprofundamento. Deve-se ainda situar
melhor essa discusso a respeito da temtica que a relaciona Comunicao. Ser isso que
permitir, ademais, avanar para a explicao do que o tema da cincia, dos limites
disciplinares, bem como de outros problemas conexos, aporta para as questes principais
da pesquisa. Por isso, voltamo-nos agora especificamente aos objetivos, hipteses e
justificativas do trabalho. Por fim, apresentamos a estrutura que ser assumida nos
captulos do estudo.
Como foi dito, a rea de estudos em Comunicao parece mostrar uma srie de divises,
possveis inconsistncias, sobretudo no alto grau apontado, no nosso entender, quando
vista de fora. Isso resultado, em grande parte, dessa perspectiva externa. No que o que
ocorra realmente seja o oposto disso: uma rea de pesquisa plenamente madura, que
possua um linguajar terico e metodolgico, ou um paradigma comum, bastante coerente
e aceito sem discusso por todos os seus praticantes. A verdade est em algum ponto desse
espectro e nas nuances que ele admite, sendo que os extremos desse continuum podem
ser inclusive redefinidos. E devem ser mesmo, no contexto de uma discusso mais ampla,
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7
que indague sobre esse processo no tempo atual, e o vincule a reflexo sobre a cincia que
se faz hoje.
De qualquer forma, interessante ressaltar que um olhar de fora captura, por vezes,
principalmente o extico, anmalo ou extravagante sob o parmetro de outro contexto
Isso natural a qualquer rea de pesquisa e entre as prprias disciplinas existem olhares
nos quais se manifesta um estranhamento em relao s prticas de outros grupos.
O que se percebe como extico no necessariamente falso, porm, como demonstra
todo o discurso da Antropologia clssica, somente uma viso interna (da metodologias
como a observao participante etc.) do fato social permitir elaborar uma efetiva
compreenso do que de faro ocorre em determinado contexto. Pois no processo de
obteno de conhecimento sob esse olhar interno h uma redefinio de categoriais
mentais que modifica o prprio olhar do observador. Em suma, adquire-se uma percepo
mais exata de diferenas e similaridades entre diferentes culturas, que no se deixam ver
pelo olhar distanciado.
Ressaltamos, nesse aspecto, menos uma filiao antropolgica do que uma postura
prxima ao do sentido de que Fausto Neto (2002, 33) falava, num encontro de
pesquisadores da ps-graduao da rea, quanto necessidade de
nos vermos por dentro, de nossas estruturas, de nossos projetos, e procedimentos. H a necessidade de uma dinmica que nos permita elaborar a compreenso de nosso prprio debate interno, ou o projeto interno de cada programa [de ps-graduao] enfim de um prprio campo. Qual a nossa causa?4
Assim, a perspectiva assumida busca compreender o que tem significado com nfase no
estado atual da rea o conhecimento em Comunicao para os seus praticantes (esse
projeto interno de que fala Fausto Neto, levado a cabo pelos pesquisadores); bem como,
construir um olhar ao mesmo tempo prximo e crtico em termos dos esforos relativos
constituio da Comunicao como uma disciplina de pesquisa. A proximidade explica-se
tanto do ponto de vista da relao sujeito-objeto quanto do estudo de elementos internos
da rea. E se colabora, tambm pode constituir um srio obstculo obteno de um
4 Para fazer justia reflexo do autor, deve-se notar que ele tambm falava na necessidade complementar da rea da Comunicao no Brasil deixar-se ver, de fora por diferentes lentes e sistemas de leitores.
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8
conhecimento vlido, por isso a necessria tarefa de buscar recortes metodolgicos e
aportes tericos que auxiliem a investigao.
Vamos primeiro, pois, explicitar a temtica e os objetivos da pesquisa. O desdobramento
de cada um dos termos relevantes do ttulo da tese ser til para esta tarefa. O trabalho
intitula-se O campo cientfico da Comunicao no Brasil: institucionalizao e capital
cientfico. Assim, o mbito de problemas a ser desenvolvido, implica na consecuo das
seguintes tarefas:
1) Utilizar o conceito de campo cientfico, conforme os trabalhos de Bourdieu, para
discutir o quanto o mesmo pode ser vlido para a rea de estudos em Comunicao no
Brasil. Conforme discutiremos esta uma escolha e uma estratgia, dentre outras
possveis abordagens de uma sociologia do fazer cientfico, que tem potencialidades
interpretativas importantes em termos da compreenso de um grupo de pesquisadores e
suas caractersticas buscando superar vises internalistas ou externalistas sobre a
cincia.
2) Como o conceito de campo no est separado de uma noo sobre cincia e nem ao
debate sobre ela, assim necessrio discutir determinados parmetros definidores dessa
atividade. Por conseguinte, os contedos que caracterizam a produo do conhecimento
cientfico devem ter nfase, bem como a descrio de propostas de novas
epistemologias para os quais, por contraste, necessrio descrever as tradicionais.
Isso tem relevo ainda por refletir-se na discusso ocorrida no prprio espao interno da
Comunicao.
3) O campo cientfico, de maneira geral, possui um conjunto de aspectos institucionais
que lhe garantem existncia, um sentido prtico e coletivo. Estes elementos no so
dados, mas sim construdos pelos agentes da pesquisa ao procurar garantir condies
para desenvolver seu trabalho. Dessa forma, busca-se descrever e analisar traos
institucionais da construo realizada at aqui e, quando possvel, em comparao
com a diacronia do campo e do contexto latino-americano ou internacional dos estudos
em Comunicao. Essa tentativa de traar um quadro contextual no qual se realiza a
investigao na rea decorre do fato de que nesse espao que so dadas as condies
de produo e circulao do capital cientfico gerado na rea. Um elemento
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9
importante deste quadro, diz respeito ao fato de que a partir dele que os agentes do
grupo constroem (auto)representaes e pressuposies sobre o conhecimento vlido
(por exemplo, os programas e linhas de pesquisa) na rea, alm de compor um
campo semntico e um lxico (que pode ser observado pelas citaes feitas). Por
conseguinte, isso determina a prpria natureza do capital cientfico produzido e em
disputa.
4) Com efeito, o conceito de capital cientfico, tambm derivado de Bourdieu, outro
componente central da tese; assim uma tarefa importante a tentativa de procurar
analisar esse capital. Isso ocorrer principalmente por meio da anlise das referncias
bibliogrficas utilizadas pelos pesquisadores. Existem aqui duas estratgias de anlise
que j pertinente mencionar: 1) a anlise bibliomtrica de Teses e Dissertaes da
rea e 2) a anlise de contedo de Linhas de Pesquisa, das produes cientficas e das
taxonomias que os pesquisadores tentam produzir. O que se espera que essas
estratgias ajudem a notar as convergncias, bem como as disputas que caracterizam o
espao de discusso.
5) Procuramos, numa tarefa seguinte, articular esses elementos de anlise ao modelo de
Galtung (1965) sobre a interao entre grupos cientficos. Ainda que tenha que ser feita
uma adequao aos termos conceituais que torne vlida a aproximao com a noo de
campo, esse modelo oferece princpios de legibilidade aos dados, em nosso entender,
bastante interessantes e compatveis com o marco mais geral. Em particular, o modelo
til para o entendimento, a partir da interao efetiva que poderemos evidenciar pelas
citaes e convergncias disciplinares nas Linhas de Pesquisa e nas Teses e
Dissertaes. Nesse sentido, interessante refletir e utilizar uma noo como a de
programa de pesquisa (Lakatos, 1979), pois embora no se possa utiliz-la num
sentido estritamente lakatiano, oferece tambm um princpio de legibilidade para os
dados, a partir de uma definio mais aberta do que a original.
6) importante ressaltar, finalmente, no plano dos objetivos e tarefas da tese, que da
combinao das estratgias metodolgicas realizadas resultar um modelo para
compreenso/avaliao de uma rea cientfica. Este o objetivo central. Temos claro
que tanto as anlises scio-histricas da institucionalizao de uma rea, quanto as
tcnicas bibliomtricas e de anlise de contedos de dados de produo e de
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10
autorepresentao dos Programas (Linhas de Pesquisa que estruturam reas de
Concentrao) tm limites. Elas no so capazes de dizer tudo sobre a natureza de
um campo de estudos, porm, aportaro elementos significativos e, em sua
combinao, podem propiciar marcos de inteligibilidade sobre o estado de uma rea de
conhecimento. Com efeito, para a rea da Comunicao no Brasil, o trabalho
representa um empreendimento indito principalmente quanto abrangncia nacional
comparada que possui. Quanto ao quadro mais geral da produo cientfica no pas,
possvel que existam outras propostas de modelo de inteligibilidade de reas de
pesquisa. No entanto, a nossa combinao metodolgica um resultado especfico da
tese, e a proposta poder talvez ser apropriada, em parte ou no todo, por pesquisadores
de outras reas.
Em resumo, o objetivo principal conduz produo de um diagnstico sobre a rea da
Comunicao no Brasil hoje, a partir dos marcos conceituais citados, procurando, desse
modo, responder indagao forte da pesquisa a Comunicao constitui um campo
cientfico, em que medida, com quais caractersticas?
Os objetivos secundrios so dois. De um lado, a elaborao de anlises a respeito da
configurao institucional do campo da Comunicao hoje, de sua auto-representao
(dados Linhas de Pesquisa e taxonomias propostas) e dos indicadores de Teses e
Dissertaes (bibliomtricos e de contedos dos trabalhos). De outro lado, a produo e
aplicao de um modelo para o estudo de reas de conhecimento que ser discutido em
termos de suas possibilidades e limites.
-
11
Hipteses
Conforme etapas preliminares da investigao demonstraram (discutidas em particular nos
Captulo 4 e 5) possvel notar um estgio de institucionalizao alcanado pela rea de
estudos em Comunicao no Brasil, que o correlaciona, ao menos parcialmente, noo de
campo cientfico, de Bourdieu. Esse fato alicerou a hiptese geral de que se
estruturou, ao menos parcialmente, um campo cientfico da Comunicao no Brasil
tal como em outros pases, com estruturas scio-culturais, similares ao Brasil, em
particular, o Mxico.
A essa institucionalizao segue-se atualmente uma tendncia crtica ao estado de
conhecimento da rea, e portanto pode-se dizer, a partir da teoria dos campos, que o campo
cientfico da Comunicao encontra-se no mbito geral do campo cientfico brasileiro
numa posio de menor legitimidade, pois: Diversamente de uma prtica legtima, uma
prtica em vias de consagrao coloca incessantemente aos que a ela se integram a questo
de sua prpria legitimidade (Bourdieu, 1992, 155).
Paradoxalmente e ao mesmo tempo, essa preocupao com a legitimidade, com os
fundamentos cientficos da rea, que instaura de acordo com nossa primeira hiptese
especfica, as condies necessrias para a edificao do campo cientfico em padres de
maior autonomia. Isso ocorre na medida em que a situao de disputa pelos agentes que se
inserem no campo a respeito do discurso dominante e legtimo favorece a autonomia e
construo de conhecimento interno rea. E estas disputas propiciaro o acmulo de
capital cientfico. Ser esta, pois, nossa segunda hiptese especfica: a de que existe um
acmulo de capital cientfico produzido no campo da Comunicao no pas.
Falar na existncia de um capital cientfico comum pressupe que existe um padro de
interao entre os agentes que atua em favor da existncia do campo. Por isso, tem-se a
terceira hiptese secundria: de que o padro de interao assumido pelos
pesquisadores da rea da Comunicao tem um perfil de conflito-construtivo
(conforme reconceitualizao do modelo de Galtung, 1965).
O quanto o capital que circula mais ligado disciplina como um todo, adquirindo
legitimidade como seu ncleo de base ou pelo menos configurando diferentes programas
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de pesquisa (conforme uma discusso/reconceitualizao das proposio de Lakatos,)
um questionamento importante. No entanto, podemos postular quase como uma certeza
que no existe um paradigma predominante nos estudos em Comunicao. Porm,
acreditamos que ser possvel perceber, pela anlise do capital cientfico referente s
citaes, a existncia de determinados programas de pesquisa, vlidos para a rea
em geral, e que agrupam determinados autores. Esse aspecto , pois, nossa quarta
hiptese especfica.
Seriam esses capitais acumulados em diferentes subreas de pesquisa ou tradies de
investigao, com maior ou menor integrao num nvel mais geral, que dariam identidade
ao campo da Comunicao. possvel pensar, ademais, que no embate entre esses
programas que os critrios principais de pertencimento ao campo da Comunicao
seriam estabelecidos e, dessa forma, contribuiriam para uma maior integrao ou
fortalecimento do mesmo. Naturalmente, isso aconteceria desde que os programas atuem
com algumas zonas de contato e consensos mnimos, e no isolados (condio que a
anlise pretende verificar).
Tal questionamento forma a quinta e ltima hiptese especfica, de que havendo um
capital local e a ltima exposta, em seu desdobramento lgico, no sentido de que havendo
um (hiptese segunda) capital local este circula internamente no subcampo da pesquisa
que observado na ps-graduao.
Destacamos essa categoria de capital cientfico, pois ela que, no s sustenta nossas
hipteses, mas permite, no desenho da investigao, articularmos muitos dos aspectos dos
subcampos, para procurarmos perceber o grau de construo de um discurso legtimo na
rea. Esse capital cientfico ser observado principalmente por meio da anlise
bibliomtrica e da anlise de contedo de diferentes materiais, conforme o mbito que se
pretende estudar. Com efeito, a anlise documental e dos trabalhos cientficos alm do
ndice de reconhecimento que tm estes trabalhos em funo de sua incorporao por meio
de citaes em outras pesquisas pode mostrar como os mesmos garantem legitimidade e
fundam hierarquias de prestgio em reas do conhecimento como a Comunicao.
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Dessa forma, os objetivos e hipteses da pesquisa expostos convergem para o estado atual
do campo da Comunicao no Brasil, de modo a perceber o quanto os termos fundamentais
do conceito de campo, segundo Bourdieu, encontram-se na rea de estudos. De outro lado,
a investigao prope um certo modelo de anlise para a rea cientfica, de maneira mais
geral, que em seu teste e discusses nessa pesquisa resulta numa proposta a ser
criticamente apropriada por outros pesquisadores.
Justificativas do estudo
Para qu hacer investigacin y para quin, son siempre dos interrogantes que hay que plantearse antes de definir cmo hacer la investigacin. Desde dnde investigar y hacia dnde apuntar con la investigacin son otros dos interrogantes que hay que hacerse de manera explcita en la produccin de conocimiento, y especficamente en la definicin de cualquier poltica de investigacin. Orozco Gmez (1997, 85)
Mesmo atravs de um acompanhamento superficial das referncias em Comunicao,
possvel notar um aumento expressivo, nos ltimos anos, de anlises reflexivas sobre essa
rea no Brasil. De certo modo, o movimento tambm internacional embora a tendncia
local reflita com algum atraso o debate no exterior. Assim, pode-se dizer que na dcada de
1980 a trajetria de crescimento do campo (nmero de pesquisas, temticas abordadas etc.)
parecia apontar para sua consolidao. por isso saudada por seus pesquisadores, como
mostram vrios artigos em nmero de 1983 do Journal of Communication
significativamente intitulado Ferment in the Field.
A despeito de crticas e reticncias sobre o estado do campo, o que transparece como tom
geral desse nmero um panorama de crescimento da pesquisa, como de fato ocorreu. Isso
contrariava a idia formulada pelo pesquisador (pioneiro no desenvolvimento da anlise
de contedo em Comunicao) Bernad Berelson que, em 1958, afirmara que a rea
tenderia a definhar (whithering away), com o desinteresse por ela de pesquisadores
pioneiros, na tradio norte-americana (como Paul Lazarsfeld, Kurt Lewin e outros), em
favor das disciplinas de origem dos mesmos (Cincia Poltica, Psicologia etc.).
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A formulao de Berelson foi tomada como um mote para esse nmero do Journal of
Communication que os artigos contrariavam. Nesse sentido, chama a ateno a analogia
do pesquisador norte-americano Wilbur Schramm (1983) que via a histria do campo de
estudos da Comunicao como uma espcie de osis num deserto, no qual muitos
(socilogos, psiclogos, cientistas polticos, lingistas etc.) haviam passado. No entanto,
segundo ele, depois de muito tempo, alguns os pesquisadores que se identificaram com o
osis passaram a nele residir e faziam projetos nesse sentido: so criados
departamentos e carreiras, oferece-se um treinamento especfico etc. Tais planos indicam o
desejo de enraizamento no osis, vontade de mape-lo e ocup-lo em diferentes direes.
Essa parece ser, grosso modo, a tnica do fermento no campo: mais institucionalizao e
pesquisas na rea, em variadas linhas, o que se explica em razo tambm de demandas
tecnolgicas e novas circunstncia sociais5, que requeriam produo de conhecimento.
Porm, uma dcada depois a mesma revista publica um volume (com dois nmeros)
chamado The Future of the Field, no qual dessa vez muitos textos apontam para
dificuldades correntes, que poderiam comprometer o futuro do campo de estudos. O
subttulo do nmero chamava a ateno para um ncleo de questionamento e tenso que
os artigos refletiam forte: Between Fragmentation and Cohesion. A subdiviso da
disciplina acadmica da Comunicao em tradies diversas, sua fragilidade terica e
continuidade da dependncia conceitual de certas disciplinas das cincias sociais, entre
outros pontos, faziam com que o campo, nesse balano, pudesse ser caracterizado mais
pela fragmentao do que pela fermentao (Rosengren, 1993, 9). O isolamento e falta de
contato entre as tradies de pesquisa atuantes na rea fariam com que houvesse pouco
confronto e cooperao entre elas.
Ao mesmo tempo, as proposies sobre teorias substantivas, modelos formais e dados
empricos seriam com freqncia no somente incompatveis, mas inexistentes. Ou seja, a
interpenetrao entre estas esferas, entendida como vital para a maturidade de um campo
de estudos, por propiciar processos de confrontao e cooperao entre diferentes escolas
de pensamento, estaria sendo negligenciada nas emergentes tradies de pesquisa em
Comunicao. Est a opinio de Rosengren (1993), por exemplo, que v nisso um 5 A adoo e consolidao da TV em larga escala era uma delas.
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paralelo com o que estaria ocorrendo no mbito das humanidades e das cincias sociais
naquele momento (idem, 10).
Posies como essa, no debate travado ento, foram relativizadas (ou relidas) por outros
argumentos. A pertinncia lgica da constituio da Comunicao como disciplina
questionada (Sheperd, 1993); interpreta-se o estado de incerteza terica da rea a partir de
uma transformao mais geral das cincias humanas, que afetaria tambm a Comunicao
(Craig, 1993). Prope-se, ainda, a superao de uma suposta situao de dissenso
mitologizado como tolerncia pelo desenvolvimento cooperativo de uma teoria da
comunicao comunicacional (Dervin, 1993, 47). O que se observa, portanto, que os
ocupantes do osis mostravam diferentes concepes sobre como traar as fronteiras do
territrio, quais os melhores caminhos e meios de conhec-lo. Eram bem menos otimistas
do que haviam sido na dcada anterior e apresentam diferentes vises sobre quais seriam as
tarefas mais prementes. O consenso situava-se, sobretudo, no plano da insatisfao com o
estado do campo ou da prpria pertinncia do debate nos termos em que ele era colocado.
Aqui, nesse exemplo histrico do contexto internacional, o que importa notar a existncia
dessa franca zona de dissenso, com maior ou menor descontentamento segundo cada autor.
Por outro lado, no todo, essa discusso resulta numa franca esfera de debate sobre os
fundamentos de cientificidade do campo.
No Brasil, o movimento de autocrtica e reflexo sobre a investigao realizada pelos
pesquisadores em Comunicao ganha mais fora a partir de meados da dcada de 1990.
No que antes no tivessem sido publicados trabalhos metacientficos, como inventrios
gerais de produo (Marques de Melo, 1984), patrocinados por associaes de
investigadores da rea; ou balanos do estado da pesquisa, geralmente levando em conta as
temticas abordadas (Marques de Melo, 1983); ou os estudos mais genricos (Capparelli,
1980, Dencker, 1988) e relatrios de diagnstico (estes tambm genricos), levados a cabo
por encomenda governamental (ligada representao da rea do CNPq, como Capparelli
e Marques de Melo, 1990). No entanto, bastante minoritria essa preocupao, quando
expressa em termos quantitativos em comparao a outros temas de pesquisa, at o
momento referido.
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Assim, em reviso da pesquisa brasileira em Comunicao das dcadas de 1960 e 1970,
realizada por investigadores da rea (Marques de Melo, 1983), so discutidos 14 temas
(jornalismo impresso, rdio, televiso, msica popular, entre outros), mas
nenhuma linha terica ou metodolgica. Alis, como mostra Lopes (2000), a produo
especificamente terica e metodolgica da rea da Comunicao tende historicamente a ser
baixa: numa amostra de trabalhos, das primeiras produes at 1995, apenas 2,5% do total
dos textos registrados tinham estas caractersticas, conforme a categorizao elaborada6.
No que faltassem at esse momento modelos tericos pesquisa, mas eram sobretudo
importados, com uma produo local pequena e de baixo impacto. Alguns pesquisadores,
como Lima (1983) apontavam as diferentes concepes de comunicao concorrentes e
a necessidade de desenvolver a teoria na rea, levando em conta a realidade concreta e
histrica da sociedade [brasileira] para a qual se destina (Lima, 1983, 98). Porm,
malgrado o terreno aparentemente pouco propcio a reflexes como essa, o volume da
produo voltada ao conhecimento do campo sobretudo com uma perspectiva mais
crtica , aumenta e se diversifica principalmente a partir de meados dos anos de 1990.
Os amparos ou promoes institucionais para esse tipo de investigao continuam
importantes, porm, parece que a prpria demanda por este tipo de reflexo aumentou, bem
como o nmero de pesquisadores ligados ao tema. Pode-se dizer que a discusso dos
tempos recentes mantm preocupaes anteriores quanto anlise de tendncias de
pesquisa e perspectivas da investigao (por exemplo, Kunsch e Dencker, 1997). Mas o
leque temtico ampliou-se, passando a discutir aspectos antes pouco problematizados,
como o objeto da Comunicao (Weber, Bentz e Hohfeldt, 2002) ou sua epistemologia
(Lopes, 2003) em ambos os casos, reunies de artigos de pesquisadores da rea dos
Programas de Ps-Graduao em Comunicao (PPGCOM), no mbito de encontros de
sua associao (COMPS) voltados a essas temticas. E mesmo recentes mestrados da
rea passam a inventariar a produo e analisar problemticas de pesquisa, autores e
conceitos utilizados nos PPGCOM, particularmente na regio Sul (Soares, 2004, Vanz,
2004).
6 A despeito disso, ocorre a curiosa situao de que o registro de projetos de pesquisadores aponta a especialidade de Teoria da Comunicao como a que contempla mais projetos. Eram 24 (50% do total) em 2004. Isso, como ser discutido no Captulo 6, deve-se a problemas de classificao/organizao da pesquisa, que se refletem numa taxonomia da rea desatualizada e pouco adequada.
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Tambm a produo de Grupos de Trabalho em congressos da rea espelha essas
preocupaes que atravessam o debate latino-americano sobre o campo (caso do livro de
Lopes e Fuentes, 2001, que rene papers do GT da Asociacin Latinoamericana de
Investigadores de la Comunicacin - ALAIC). Com efeito, vlido reafirmar que essa
tendncia geral, de repensar o campo de estudos em Comunicao, atinge vrios pases
como a discusso do Journal of Communication tambm evidenciou. Por outro lado,
tambm interessante apontar desde j que no espao latino-americano que se situa o
principal ambiente de interlocuo sobre essas questes, no caso dos pesquisadores
brasileiros. Isso natural, dada s vrias semelhanas estruturais entre os pases e o modo
de configurao da rea da Comunicao nos mesmos.
A respeito das anlises elaboradas, deve-se notar que nelas h uma recorrente crtica ao
estado da rea, no seu mbito cientfico, em especial no caso brasileiro. Os aspectos
negativos e criticados so diversos, em parte similares aos abordados no debate
internacional, em parte mais especficos. Entre os comuns, esto a crtica ausncia de
marcos conceituais internos consistentes ou mesmo acordos dos pesquisadores sobre a
natureza do campo de modo a permitir seu progresso (Martino, 2001a), dicotomia entre a
pesquisa realizada (no nvel de estudos ps-graduados) e a concepo mais tcnica de
saber que predomina na graduao (Capparelli e Stumpf, 2001; Lima, 2001).
J entre as questes vistas com reservas, de um ponto de vista mais local, so discutidos
pontos como: a disperso temtica da pesquisa para alm de questes estritamente
comunicacionais (ou, conforme a terminologia adotada em relatrios de avaliao,
pertinentes rea) (Peruzzo, 2002; Capes, 2001), predomnio de um padro discursivo
(ensaio) menos cientfico do que o do artigo (Gomes, 2003). Embora esse tema possa ser
visualizado tambm no plano internacional como o embate, entre os que tm uma
concepo de cincia dura, emprica (dependendo do contexto) e os que defendem
uma concepo terica, interpretativa (tambm com variao nos termos conforme
quem o enuncia).
No marco da Justificativa desse trabalho, porm, menos pertinente do que apontar todas as
perspectivas crticas, os tipos de enfoque e modalidades de investigao terica ou
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emprica que sustentam cada uma das argumentaes nos trabalhos citados, importa
perceber a existncia dessa possvel esfera de discusso que colabora com o
amadurecimento da rea. Assim, ressaltamos que o trabalho proposto situa-se num mbito
parecido com as das preocupaes que animam este tipo de debate interno e que talvez
estejam configurando uma linha de pesquisa, no nosso entender bastante importante para a
rea da Comunicao. Pois na noo bourdieana de campo cientfico central a idia da
fora do debate interno como sendo o prprio conflito cientfico que pode dar forma ao
campo. Se h uma verdade, que a verdade um objeto de luta, nota Bourdieu (1983,
74). Acreditamos, pois que e a irrupo de trabalhos como os mencionados um elemento
para fortalecer a disciplina. Ao invs de apenas insistir sobre o carter jovem ou recente
da rea, no mbito das cincias sociais (da o carter pouco maduro), nota-se um
alargamento da discusso e do confronto de posies para temas que, ou eram pouco
discutidos, ou eram tomados como consensuais.
Ao mesmo tempo, esta tese situa-se no contexto de um debate atual, e nossa convico
que ele traz elementos novos que se no so originais, pelo menos possuem uma
perspectiva de aprofundamento temtico e sntese para a discusso travada at aqui.
Sustentamos, pois, que a utilizao dos conceitos de campo cientfico e capital
cientfico representam possibilidades de compreenso de problemticas da pesquisa,
sobretudo em articulao com dados empricos que o estudo ir produzir e analisar. Com
efeito, faltam informaes e dados sobre nossa rea de estudos, pois freqentemente eles
esto dispersos ou so de produo relativamente complexa e trabalhosa. Busca-se ainda
analisar estas informaes a partir de um contexto de discusso sobre a natureza da
Comunicao, contexto que no estabilizado, comum a todos os praticantes da
disciplina, justamente pelo estado de disputa no campo.
Para Martino (2001), a epistemologia contempornea contemplaria trs formas possveis
de abordagem sobre a natureza e objeto do campo de estudo da Comunicao. Uma de
natureza emprica tomando como base de anlise as instituies relacionadas com a
comunicao , outra de natureza lgico-formal pela definio, nesses termos, do objeto
de estudo e, por fim, uma abordagem no tempo, isto , atravs de uma anlise
diacrnica, procurando situar a gnese do campo dessa disciplina (Martino, 2001, 83). O
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autor observa que a primeira definio no normativa apresentar dificuldades devido
diversidade de respostas que tende a encontrar, indicando
uma constelao de prticas sociais, em si mesma testemunha de importantes variaes no sentido do termo comunicao, que ainda que estejam supostamente ligadas de maneira mais ou menos coerente, dificilmente se deixam sintetizar em um conceito unvoco e em todo o caso pouco formalizado. (Martino, 2001, 84)
A definio formal ou ideal, por sua vez, no estaria descomprometida com o que
efetivamente pesquisado, no entanto, procuraria aliar a observao in loco dos processos
de formao de entendimento dos sujeitos com uma atividade especulativa. Os dados da
investigao emprica alimentam e regulam as reflexes elaboradas, impedindo abusos nas
elaboraes. Porm aspectos como a polissemia do termo comunicao e a questo da
interdisciplinaridade do objeto, tornam tambm uma definio formal-ideal inalcanvel.
Por essas razes, para o autor, estes dois caminhos, que acabam conformando um sistema,
so insuficientes para construir uma definio do que seria a natureza e o objeto da
Comunicao. Assim, o mbito privilegiado nesta reflexo de Martino (2001) o da
anlise da gnese do campo, isto , as novas prticas comunicativas, cuja anlise deveria
ser o centro da disciplina, explicando seu objeto. Interessa mais destacar aqui, como o
autor tambm observa, que os outros mbitos no so improdutivos embora no possam
resolver plenamente as questes de base da disciplina.
O presente estudo mais relevante no uma suposta estabilizao normativa sobre os
objetos e natureza da rea que a proposta de Martino intenta , mas sim compreender, a
partir da articulao entre o dado emprico e a discusso terica, tendncias da produo e
a interao entre pesquisadores, que dariam maior ou menor concretude ao conceito de
campo. O que o projeto procura e isso sim, deve-se avaliar compreender certo
momento de interao/tenso entre os que participam do debate constitutivo do campo,
num contexto cientfico tambm marcado pelo debate. H uma dialtica implcita ao
modelo do campo cientfico entre a organizao institucional e a ordem intelectual
alcanada. Em poucas palavras, quanto mais autnomo e organizado um campo, mais ele
tende a concentrar suas discusses em critrios internos de validao. Os debates e
conflitos gerados nas discusses internas so admitidos, porm necessrio que existem
instncia de interao, bem como o desejo dos participantes de realizar realmente os
debates.
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Pelo que foi dito, acreditamos que a questo da importncia relativa de uma investigao
dentro do presente contexto histrico esteja bem equacionada, pois nos ajudar a justificar a
escolha do tema em anlise, no plano da carncia de determinado conhecimento por certa
rea, em termos da necessidade de conhecimento da rea sobre a si mesma.
O potencial de uso social da investigao por determinados grupos (o quem), como
elemento de discusso e compreenso dos mesmos (o por qu), por conseguinte, foram
aspectos nos quais procuramos refletir ao delinear o projeto de pesquisa. Esperamos,