o brasil no caminho da servidão, thiago magalhães

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  • 8/3/2019 O Brasil no Caminho da Servido, Thiago Magalhes

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    O Brasil no Caminho da ServidoThiago Magalhes

    15 de abril de 2005

    1. Introduo

    O capitalismo monopolista de estado a preparao

    material mais completa para o socialismo, sua

    ante-sala, um degrau na escada histrica entre o qual e

    o degrau chamado socialismo no h nenhum degrau

    intermedirio. Lnin

    Se Hayek fosse vivo e estivesse em visita ao Brasil, onde poderia constatar in loco a

    estrutura e o funcionamento do nosso Estado Burocrtico de Direito, certamente diria que

    o caminho da servido descrito em pormenores por ele em clebre obra homnima j foi em

    grande parte percorrido por esta nau que hodiernamente leva consigo cento e setenta

    milhes de pessoas, rumo a uma sociedade cujas caractersticas revelam-se cada vez mais

    contrrias quelas enunciadas historicamente nos discursos dos burocratas tupiniquins.

    Sob o argumento da premncia de se fazer justia social , estes donos do poder tmtomado medidas de cunho socializante, motivados pela v iluso de que possvel

    redistribuir renda por meio da interveno estatal com eficincia, atribuindo ao Estado, por

    conseguinte, um sem nmero de funes, criando uma burocracia monstruosa que s se

    sustenta com uma carga tributria acachapante. Amarram a economia regulando-a a no

    mais poder, imbudos da crena irrefletida de que o livre mercado quem concentra a renda

    da populao, e no precisamente as medidas tomadas no sentido de amordaar a mo

    1 Um ensaio jurdico, econmico e filosfico sobre a realidade brasileira contempornea, compreendida

    luz dos ensinamentos deixados por F. A. Hayek em O Caminho da Servido. Ensaio premiado no II

    Prmio Donald Sterwart Jr., promovido pelo Instituto Liberal do Rio de Janeiro - RJ. [Originalmente

    publicado no Laissez-Faire.]2 LENIN, V. I ., Estado, Ditadura do Proletariado e Poder Sovitico (organizado e traduzido por Antonio

    Bertelli), Ed. Oficina de Livros, Belo Horizonte, 1988, p. 304.3 Hayek, em Direito, Legislao e Liberdade Vol. II: A miragem da justia social, alm de ter anotado

    a redundncia desse termo, afirmando que no pode haver justia outra que no seja social, disse ao

    seu respeito: Evidentemente, a expresso traduziu desde o incio aspiraes que constituam a

    essncia do socialismo. Embora o socialismo clssico se tenha em geral caracterizado pela exigncia

    da socializao dos meios de produo, isso era, para ele, sobretudo um meio considerado essencial

    para a realizao de uma distribuio justa da riqueza; e, visto que os socialistas descobriram mais

    tarde que essa redistribuio poderia ser efetivada, em grande parte e com menor resistncia, por meio

    da tributao (e de servios governamentais por ela financiados), relegando muitas vezes na prtica

    suas exigncias anteriores, a realizao da justia social tornou-se a sua principal promessa.(HAYEK, F.A., Direito, Legislao e Liberdade Vol. II: A miragem da justia social, Ed. Viso, So

    Paulo, 1985, p. 83.)

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    invisvel smithiana.

    No parece haver dvidas tambm de que Hayek, nessa sua estada imaginria em terras

    que tm palmeiras e cantam sabis, se sentiria um pouco confuso se se lanasse a tipificar

    as nuances que delineiam e formatam o Estado brasileiro, as quais lhe imprimem o seu

    modus operandi. Afinal, notaria que no obstante receba os eptetos constitucionais de

    democrtico e de Direito, pouco se assemelha conceituao que o mestre austraco

    formulou de Estado de Direito, aquele em que todas as aes governamentais so regidas

    por normas previamente estabelecidas e divulgadas .

    Isso porque muito embora se possa dizer, por um lado, que o Brasil um pas democrtico

    regido por leis previamente estipuladas, grande parte da legislao ptria no se

    circunscreve a impor apenas e de antemo princpios gerais: o alcance das leis

    brasileiras to mais abrangente quanto penetrante, na medida em que concedem s

    autoridades estatais poder efetivo para agir da maneira que lhes parecer conveniente .

    Com elas, o Estado, atravs da pena do legislador, se imiscui nas relaes entre os entes

    privados, abandonando assim a funo que justifica a sua existncia mesma, consistente na

    edio restrita de normas que se aplicam a situaes universais. O resultado no haveria de

    ser outro seno o lento, gradual e quase imperceptvel arrefecimento da liberdade dos

    agentes individuais, culminando num estgio scio-patolgico em que a lei no mais cumpre

    a misso, que lhe nsita nas sociedades abertas e livres, de salvaguardar a estabilidade

    institucional e as liberdades fundamentais, transmutando-se ela prpria na maior

    transgressora dos direitos individuais.

    O panorama descrito uma fotografia fiel da atual situao poltica e econmica do Brasil.

    Enfrent-lo com honestidade empreitada de grande monta. A conhecida fbula do sapo

    que morre feliz quando cozido em fogo brando e salta da mesma panela repleta de gua

    fervendo sugere uma analogia macabra com as medidas governamentais de iniciativa dos

    estadistas brasileiros, sobretudo os que receberam dos votantes procurao para atuar

    frente da nao nos ltimos mandatos.

    Poucos acreditaro que um Estado democrtico de Direito investir contra as liberdades

    individuais dos sditos. Tal como o pobre sapo que no se revolta e at se conforta com o

    vagaroso processo que ocasionar a sua morte, possvel que os cidados de um

    determinado pas no ofeream resistncia s ingerncias governamentais nas relaesentre os indivduos, ainda mais quando a interveno estatal imposta calculadamente e em

    doses homeopticas, acompanhada de um aparato de propaganda que inculque na

    populao que ela tanto benfica quanto imprescindvel.

    A lei , a, o instrumento ideal a auxili-los no controle da economia, o qual acarreta, porm,

    o fracasso dos objetivos finais que os induzem a control-la. Os resultados so

    invariavelmente inversos aos pretendidos: insatisfao comum, ao invs do bem comum;

    exacerbao da concentrao da renda, ao invs da redistribuio da mesma, pela via

    estatal, populao mais necessitada; ameaa democracia e ao Estado de Direito, visto

    4 HAYEK, F.A., O Caminho da Servido, Ed. Instituto Liberal, 5 Edio, Rio de Janeiro, 1990, p. 86.5 HAYEK, F.A., Op. cit., p. 97.

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    que o controle da economia d ensejo concentrao de poderes e ao surgimento de

    dspotas. Esta ltima mas no menos nefasta conseqncia do planejamento econmico

    explicada por Hayek com o argumento inabalvel segundo o qual para ser submetida a um

    controle consciente, o complexo sistema de atividades inter-relacionadas que constitui uma

    economia ter de ser dirigido por uma nica equipe de especialistas, devendo a

    responsabilidade e o poder ltimos ficar a cargo de um chefe supremo, cujos atos no

    podero ser tolhidos pelos processos democrticos .

    A utilizao da lei para, sob o manto da democracia, arrebatar as liberdades individuais; a

    profuso difusa e premeditada de um aparato de propaganda para justificar, com retrica

    enganosa, o arrefecimento dessas liberdades; o sacrifcio da liberdade por parte da

    populao em busca de segurana e a intensa interveno do Estado na economia, que se

    d em concomitncia com a hipertrofia do aparelho estatal so expedientes que foram

    dissecados por Hayek em O Caminho da Servido e que, mais do que todos os outros

    enumerados por ele, apresentam-se de forma marcante no Brasil contemporneo.

    2. O uso da lei como instrumento de destruio do

    prprio Estado de Direito e o sacrifcio da liberdade

    em busca de segurana

    Uma sociedade em que as leis editadas pelo Estado so conhecidas previamente pelos

    cidados difere sobremaneira daquela em que os sditos so apanhados de surpresa pela

    edio de normas capazes de interferir com mo pesada na rotina de suas atividades. Sem

    embargos, pode-se dizer que no primeiro caso tem-se um Estado institucionalmenteestruturado, regido pelo que Hayek denominou normas formais, destinadas apenas a servir

    de meio a ser empregado pelos indivduos na consecuo dos seus objetivos . Alm de

    lhes serem postas de antemo, elas no interferem diretamente nas suas aes

    particulares, cabendo-lhes direcion-las em acordo com suas convices, posto que o

    poder de coero das autoridades estatais est a reduzido ao seu mnimo necessrio.

    O Brasil, definitivamente, encontra-se no segundo caso. A quantidade de leis, decretos e

    atos normativos que se publicaram em desrespeito aos princpios bsicos de um Estado de

    Direito so inmeros, e autorizam a classificar os recentes governos brasileiros como

    arbitrrios, nada obstante a imprensa e a nossa classe de intelectuais, em sua maioriaesquerdistas, entretenham-se celebrando o recente espetculo democrtico

    consubstanciado com a ltima alternncia do mandato presidencial. Exaltando a democracia

    como um fim em si mesmo e elevando-a ao degrau mximo da infalibilidade , ignoram e

    contaminam a populao com sua ignorncia em relao ao fato comprovado pelo

    testemunho histrico de que mesmo um governo democraticamente eleito capaz de

    perpetrar incurses descaradas contra a segurana jurdica, a propriedade e a liberdade dos

    cidados, e, o que pior, de faz-lo em nome do bem comum e do Estado democrtico

    de Direito. Vejamos alguns casos paradigmticos que convalidam essas assertivas.

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    HAYEK, F.A., Op. cit., p. 98.7 HAYEK, F.A., Op. cit., p. 87.8 HAYEK, F.A., Op. cit., p. 84.

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    Um dos exemplos mais representativos de atentado contra a segurana jurdica no Brasil a compulso frentica que o Poder Executivo tem por legislar atravs das famosas MedidasProvisrias (MPs), que encontram previso no art. 62 da Constituio da RepblicaFederativa do Brasil em vigor. O texto desse artigo diz que as MPs possuem fora de lei,

    e que o Presidente da Repblica poder lanar mo delas em situaes de urgncia erelevncia, quando se justificaria o atropelo do trmite habitual a que se deve submeter aaprovao de uma lei no Congresso Nacional.

    Os dados estatsticos dos governos democrticos brasileiros da era ps Diretas j quetraam um panorama do uso das MPs so estarrecedores, e mostram que esse mecanismolegislativo tornou-se a menina dos olhos do Poder Executivo. Os requisitos do art. 62 daConstituio Federal costumam ser respeitados em ocasies de excepcional raridade esensatez, razo pela qual a quantidade de Medidas Provisrias publicadas desde a criaodesse instituto at os dias de hoje assombrosa .

    A sofistica hbil e escorregadia dos polticos no tarda em justificar tamanho atentado contraa estabilidade jurdica em prol da governabilidade. Ressalte-se que o problema no estno instituto em si, visto que instrumentos legais anlogos existem em diversos pasesdesenvolvidos, com o diferencial de que em nenhum deles se tem noticia do seu usoabusivo. No Brasil, porm, ele se transfigurou em verso hiperblica e vociferante datradio estatutria latina, onde a lei no um reflexo acerca de fatos observados, mas umadoutrina deontolgica sobre o comportamento desejvel.

    Nem mesmo Luiz Incio Lula da Silva, que antes de ser eleito Presidente da Repblica eraum crtico contumaz da adoo de Medidas Provisrias, consideradas por ele e seuscolegas de partido quando estavam na oposio como ferramentas a servio doautoritarismo, destoou de seus antecessores: foram editadas sob o manejo da sua caneta,em pouco mais de dois anos de gesto presidencial, 143 MPs .

    As Medidas Provisrias revestem-se, na prtica institucional, de papel paralelo legislaooriunda do Congresso Nacional, com o agravante de que, sendo usadas pelo PoderExecutivo rotineiramente, acabam tornando o dia a dia dos brasileiros que se vemobrigados a planejar suas vidas sob os ditames do princpio constitucional da legalidade,

    pelo qual ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtudede lei , na anteviso do inferno.

    Feita esta breve digresso jurdica, voltemos s estatsticas sobre as Medidas Provisrias. impositivo pens-la luz do mecanismo de funcionamento de um Estado de Direitoverdadeiramente consolidado. Hayek explicou-o argindo que para que o indivduo possaempregar com eficcia seus conhecimentos na elaborao de planos, deve estar emcondies de prever as aes do Estado que podem afetar esses planos. Mas para que taisaes sejam previsveis, devem ser determinadas por normas independentemente de

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    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/Quadro/Governo_novo.htm10 Dados retirados do site oficial do Planalto http://www.planalto.gov.br/.11 Art. 5, II, da Constituio da Repblica Federativa do Brasil.

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    circunstncias concretas que no podem ser previstas nem levadas em conta de antemo

    e os efeitos especficos dessas aes sero imprevisveis .

    J se pode perceber a tremenda dificuldade que imposta a qualquer cidado que no Brasil

    pretenda planejar as suas atividades com um razovel grau de previsibilidade. O clima de

    insegurana gerado pelo Estado no se explica apenas pelo mar insano de normas editadas

    sorrateiramente: grande tambm a quantidade de leis dedicadas a favorecer com

    exclusividade determinados grupos especficos. Um Estado que ao invs de garantir a

    segurana do sistema jurdico violenta-a, e que age com freqncia no

    indiscriminadamente, mas favorecendo algumas faces em detrimento da totalidade da

    populao pagante de impostos jamais seria classificado por Hayek como um Estado de

    Direito. O Estado brasileiro , isto sim, um monstrengo amorfo cuja cabea, considerada a

    representao da sua vertente autoritria, se ergue ambiguamente sobre as pernas

    tortuosas da democracia e da Constituio.

    Um estudo detalhado de como a legislao brasileira constitui-se na maior transgressora

    dos princpios de um Estado de Direito extravasa as molduras limtrofes do presente

    trabalho. O mais desolador que essa transgresso tem origem ntida na prpria

    Constituio Federal, que, alm de ser excessivamente prolixa, contm verdadeiras prolas

    de insignificncia jurdica . Lidos em conjunto, fcil perceber que dos nove ttulos que a

    subdividem, poucos so os que no tecem uma ode a atuao positiva do Estado,

    convidando-o a participar da esfera dos mais diversos ramos do desenvolvimento humano,

    individual e coletivo. O Estado deve prover isso e mais aquilo expresso que se conta

    exaustivamente em nossa Constituio. Para ir alm nessa sanha por tutelar a tudo e a

    todos, s faltou que se propusesse a ensinar-nos a ler e a escrever.

    Roberto Campos, citando em seu colossal livro de memrias o constitucionalista Diogo de

    Figueiredo, assinalou que este ltimo apontara que nossa Constituio , ao mesmo tempo,

    um hino preguia e uma coleo de anedotas. Como dispositivos que so estimulantes da

    ociosidade e baluartes de privilgios imerecidos, podem-se ressaltar: reduo a seis horas

    dos turnos ininterruptos de trabalho; adicional de um tero no pagamento de frias; licena

    paternidade; aviso proporcional ao tempo de servio; proibio de distino entre

    trabalhadores braais e intelectuais; exagerada estabilidade no emprego e grevismo

    incentivado. Como curiosidade, Campos sublinhou alguns dados tanto excntricos quanto

    preocupantes: a palavraprodutividade s aparece uma vez no texto constitucional; a palavraeficincia figura duas vezes; fala-se, por outro lado, em garantias 44 vezes e em direitos 76

    vezes, enquanto que a palavra deveres mencionada apenas 4 vezes. A tendncia

    antiliberal do texto induvidosa: a palavra fiscalizao figura nele 15 vezes, e a palavra

    controle 22 vezes.

    Eis a outra conseqncia execranda da verborragia normativa que assola nosso

    12 HAYEK, F.A., Op. cit., p. 88.13 O legislador originrio concedeu status constitucional a assuntos que no mereceriam sequer a

    ateno de uma portaria minis terial. O art. 242, 2 da CF, que dispe que o Colgio Pedro II,localizado na cidade do Rio de Janeiro, ser mantido na rbita federal um timo exemplo disto.14 CAMPOS, Roberto, Lanterna na Popa, Ed. Topbooks, Rio de Janeiro, 1988, p. 1215.

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    ordenamento jurdico. O legislador no se contenta em redigir normas com clusulas gerais,

    deixando incumbncia dos cidados as escolhas que tomaro visando maximizar o seu

    bem estar. O Estado sempre avocou para si a funo de grandioso pai da nao brasileira,

    orientando os filhos em cada um de seus passos, desde o nascimento at a velhice. Papai

    Estado acha que os filhinhos no tm competncia para administrar sua poupana pessoal e

    se precaver de eventuais adversidades econmicas, e criou, para isso, o FGTS. Para

    cuidar dos pobres e idosos, tidos pelos bondosos polticos brasileiros como uma mistura de

    menores e imbecis , criou-se um sistema de previdncia compulsria, que na prtica

    representa a mais injusta engrenagem de transferncia de renda por meio da qual uns

    poucos so privilegiados com gordas aposentadorias, s custas de uma massa de

    contribuintes que nem de longe experimenta um retorno proporcional do dinheiro revertido

    em favor do INSS.

    Acostumados a tudo esperar do Estado e inseridos numa esfera social que condena

    moralmente o lucro e a livre iniciativa, os brasileiros tm entregado de bandeja sua liberdade

    s autoridades estatais. O mesmo processo foi detectado por Hayek em sua poca, acerca

    do qual opinou que, em face dele, no se pode censurar os jovens quando preferem o

    emprego seguro e assalariado ao risco do livre empreendimento, pois desde a mais tenra

    idade ouviram falar daquele como uma ocupao superior, mais altrusta e mais

    desinteressada. A gerao de hoje cresceu num mundo em que, na escola e na imprensa, o

    esprito da livre iniciativa apresentado como indigno e o lucro como imoral, onde se

    considera uma explorao dar emprego a cem pessoas, ao passo que chefiar o mesmo

    nmero de funcionrios pblicos uma ocupao honrosa . Ele dificilmente poderia

    imaginar que o diagnstico dirigido em especial Europa (mais precisamente Inglaterra e

    Alemanha) da dcada de 40 do sculo passado pudesse descrever, mais de meio sculo

    depois, uma sociedade to distante e distinta daquela, onde o fenmeno do sacrifcio da

    liberdade em busca de segurana se desenrola com ainda mais intensidade.

    Os nmeros no admitem controvrsias. Recente pesquisa feita com jovens brasileiros

    recm egressos das universidades indicou que apenas 2% deles pretendem ser

    empresrios, preferindo preterir-se dos riscos dessa atividade (e por via de conseqncia

    abrir mo da possibilidade de auferir lucros e gerar empregos) para se tornar empregados ou

    funcionrios pblicos, em carreiras nas quais podero desfrutar de estabilidade e privilgios

    legalmente institudos. E agora, com o PT no comando do governo federal, o sonho da

    brava gente brasileira de encostar-se numa repartio pblica pelo resto de suas vidaspoder ser integralmente realizado, tendo em vista o aumento vertiginoso do quadro de

    servidores que est em curso, constando dos planos da administrao central a contratao

    de aproximadamente 28.000 funcionrios s no servio pblico federal neste ano de 2005 .

    Na esfera municipal, o nmero de servidores aumentou 18,52%, com a criao, nos ltimos

    trs anos, de 628.633 novos cargos. Nem se fale das contrataes comissionadas de livre

    provimento: na Cmara dos Deputados e no Senado, 72% ingressam sem a realizao de

    15 CAMPOS, Roberto, Op. cit., p. 1207.16

    HAYEK, F.A., Op. cit., p. 131.17http://www.olavodecarvalho.org/textos/debate_usp_3.htm18http://www.centraldeconcursos.com.br/noticias.asp?id_noticia=188

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    concurso pblico .

    Neste cenrio catico, a interveno do Estado na economia apenas uma das muitas

    dimenses do controle estatal compreendido globalmente. Trata-se, porm, de uma das

    suas mais perversas e dissimuladas facetas, justamente porque de praxe se desvincular a

    liberdade de mercado da liberdade entendida em seu sentido mais amplo como se fosse

    possvel existir esta sem aquela. Hayek, na condio de intelectual que apreendeu de

    maneira mpar o momento histrico no qual estava inserido, marcado pela ascenso de

    regimes ditatoriais por quase toda a Europa, retirou da lies preciosas e nos legou valiosos

    ensinamentos, argumentando que esse um erro grave capaz de conduzir uma sociedade

    docilmente ao totalitarismo.

    3. A interveno do Estado na economia, sua

    conseqncia lgica e necessria e a mquinapanfletria de desinformao coletiva que a justifica

    Roberto Campos foi um dos intelectuais brasileiros que seguramente melhor compreendeu o

    Brasil e que, por outro lado, mais foi incompreendido por ele. Quando a elite pensante

    atribua a culpa por nossas mazelas a um suposto neoliberalismo que imaginavam orientar

    as polticas econmicas aqui implementadas, Campos, do alto de sua sabedoria adquirida

    nas muitas dcadas em que fez parte da mquina pblica, seja como Diplomata de carreira,

    como Ministro de Estado ou como Parlamentar, dizia incansavelmente que no era este o

    caso: o Brasil no sofre do excesso de capitalismo, mas da falta dele .

    Suas palavras jamais foram levadas a srio. De nada adiantou provar com slidos

    argumentos jurdicos, econmicos e filosficos que a sociedade brasileira encontra-se antes

    num estgio de capitalismo de estado, no qual incogitvel falar-se em liberdade de

    mercado. Lnin, um socialista de nomeada, elaborou interessante conceito a respeito do que

    vem ser o capitalismo de estado e que, embora formulado em referncia Rssia

    ps-revolucionria, explica formidavelmente o Brasil da era da redemocratizao.

    Em folheto panfletrio datado do ano 1918 , o lder bolchevique se mostrava preocupado

    com os rumos que a antiga URSS deveria tomar aps a revoluo. Notando que sobre a

    superfcie do regime econmico russo de sua poca flutuavam fragmentos que vagavamdesordenadamente do capitalismo ao socialismo, enumerou-os numa ordem hierrquica cujo

    pice era a sociedade socialista. No patamar mais inferior estavam, para ele, as

    componentes da economia camponesa patriarcal; em segundo vinha a pequena produo

    mercantil; em terceiro estava o capitalismo privado; em quarto, o capitalismo de estado e,

    por ltimo, o socialismo. A Rssia to grande e to complexa que nela se entrelaam

    todos esses tipos diferentes de economia social, disse o revolucionrio . Qualquer

    semelhana com o tambm grande e complexo Brasil e a mixrdia que impera em sua

    19 Instituto Liberal RJ, Comentrio do dia 27.04.2005.20

    CAMPOS, Roberto, Op. cit., p. 1257.21 LENIN, V. I., Op. cit., pp. 298-299.22 LENIN, V. I., Op. cit., p. 299.

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    economia no mera coincidncia.

    Mas a sua preocupao tinha um enfoque especfico. Lnin, que vislumbrava o caminho

    para o socialismo em etapas e via o capitalismo de estado como um estgio anterior e

    necessrio ao socialismo, estava convicto de que o maior empecilho para alcan-lo residia

    na resistncia oposta pela pequena burguesia e pelos defensores do capitalismo privado

    que, juntos, lutavam em comum acordo tanto contra o capitalismo de estado como contra o

    socialismo. Tem-se aqui o ponto chave pra compreender o que Lnin entendia por

    capitalismo de estado. Suas palavras so to esclarecedoras que seria um pecado capital

    deixar de cit-las ipsis literis: A pequena burguesia resiste a qualquer interveno do

    Estado, contabilidade e controle, seja capitalista de estado ou socialista de estado. Este

    um fato da realidade, absolutamente indiscutvel, em cuja incompreenso est toda uma

    srie de erros econmicos. O especulador, o saqueador do comrcio, o sabotador do

    monoplio; este o nosso principal inimigo interno, o inimigo das medidas econmicas do

    poder sovitico .

    Est claro que o capitalismo de estado nada mais , segundo o interessante conceito

    leninista, do que um estgio econmico no qual a iniciativa privada, bastante intimidada,

    convive com a ao engajada do Estado, que nela intervm e a ela controla. As palavras

    contabilidade e controle, ambas citadas por Lnin em sua definio, implicam,

    respectivamente,planejamento e interveno. Da para o socialismo, etapa em que os meios

    de produo concentrados nas mos do Estado com a ajuda do controle e da intensa

    interveno na economia consignados na fase do capitalismo de estado sero

    socializados, basta um escorrego.

    Dando um salto de quase cem anos na histria, continuemos no trato com a economia

    brasileira dos nossos dias, usando da anlise jurdica j esboada para adentrar o

    pantanoso terreno da economia. A Constituio Federal, mais uma vez, figurar nos

    comentrios arrolados, por tratar-se da principal fonte normativa a viabilizar o aparato de

    interveno e o planejamento da economia pelo Estado.

    O constitucionalista Diogo de Figueiredo, citado mais acima, comparou o texto magno da

    Carta de 1967/69 que segundo ele estava longe de ser considerada uma constituio

    suma (ou principiolgica) com a Constituio cidad de 1988, constatando que na

    anterior havia quatorze estatutos de interveno estatal, e que esta ltima contm quarentae um . Exatamente: so ao todo quarenta e um os dispositivos constitucionais da Carta de

    1988 que dispem sobre a interveno do Estado na ordem econmica, subdivididos pelo

    jurista em intervenes regulatrias (28 dispositivos), interveno concorrencial (1

    dispositivo), intervenes sancionatrias (5 dispositivos) e intervenes monopolistas (7

    dispositivos).

    Aps quinze anos de existncia e de ter sido emendada 45 vezes, fato que em si d mais

    uma amostra da gritante instabilidade de nosso sistema jurdico, no houve alterao

    23

    LENIN, V. I., Op. cit., p. 299.24 FIGUEIREDO, Diogo de, Ordem econmica e desenvolvimento na Constituio de 1988, Ed. APEC,

    Rio de Janeiro, 1989, pp. 89-90.

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    substancial nessa enxovalhada de normas constitucionais intervencionistas. Nem mesmoas privatizaes ocorridas na gesto do Presidente Fernando Henrique Cardoso e aestabilidade econmica que nela se promoveu serviram para suavizar o controle estatalsobre a economia . De fato, a tentativa foi vlida e teve, a despeito das crticas que se faz maneira como se deram as privatizaes, bons resultados, como no setor de

    telecomunicaes e no caso da Vale do Rio Doce, que hoje muito mais competitiva queoutrora. Ainda assim, a estrutura intervencionista que tem lugar no seio da Constituiopermaneceu, a bem da verdade, intocada.

    Ainda no que se refere s privatizaes, cabe dizer que o processo de saneamento estataliniciado por Fernando Collor e continuado mais timidamente por Fernando Henrique Cardosofoi no apenas estancado com a chegada de Lula presidncia, que, dando vazo suafria estatizante, imps-lhe um drstico refluxo, recolocando-nos nos caminhos daplanificao econmica. O Brasil contava com 145 empresas estatais no incio da gesto deFHC, e com 106 quando do seu trmino. Dados do Ministrio do Planejamento apontam que,at o ms de abril de 2005, elas so em 133, confirmando a tendncia socialistide dagovernana petista .

    Parece bvio que, sob um aparato constitucional nestes moldes, no h meios institucionaisde se evitar a proliferao de leis controladoras da economia. Some-se a estruturaconstitucional interventora com as suas incontveis extenses capilares infraconstitucionaise se ter a exata dimenso da arquitetura do nosso Estado dirigista. Lnin classificaria essemodelo sem hesitaes e com euforia como umcapitalismo de estado, em que ainiciativa privada e a burguesia, seus inimigos internos, opem-se interveno estatal naordem econmica. Longe de estarem praticando polticas econmicas liberais ou neoliberais,a burocracia verde e amarela encontra-se em fraternal reunio na ante-sala do socialismo. Asocializao dos meios de produo, tida como conditio sine qua non implantao de umasociedade socialista , nesse contexto, apenas a cereja a ser colocada sobre o bolo prontoe acabado do Leviat brasileiro.

    A colocao do Brasil no ranking da Heritage Foundation, que anualmente publica umcriterioso ndice de Liberdade Econmica (ILE) em que figuram todos os pases do globo,ratifica tudo o que se disse at aqui. A economia brasileira, situada em 90 lugar, foiconsiderada quase no livre, num estudo de ampla abordagem que levou em conta aspectos

    como polticas comerciais, carga fiscal, interveno do governo na economia, polticamonetria, investimento externo, preos e salrios, direito de propriedade, regulamentaoda economia e mercado informal .

    25 E nem poderia ser diferente. FHC j afirmou categoricamente em diversas entrevistas imprensaque no um neoliberal, e acredita, bom social-democrata que , que a economia deve ser fortementeregulamentada. Qualquer dvida a este respeito desaparece como que por encanto lendo-se adeclarao programtica do PSDB (http://www.psdb.org.br/opartido/programa.asp), uma ode interveno estatal e um manifesto de repdio ao liberalismo: como social-democratas, noconcordamos com as propostas neoliberais que propugnam um corte radical nas funes do Estado,sua reduo a um Estado mnimo que no interfira na economia e no tenha qualquer responsabilidade,

    a no ser demaggica, para com os mais pobres (...).26http://www.planejamento.gov.br/controle_estatais/conteudo/perfil/evolucao_estatais.htm27http://www.heritage.org/research/features/index/country.cfm?id=Brazil

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    A concluso no poderia ser outra. Em vista da carga fiscal brasileira que j est na casados 40% do PIB (cuja ascenso vertiginosa se iniciou no governo de FHC, saltando nosseus oito anos de mandato de aproximadamente 28% para 36% do PIB ), uma das maioresdo mundo; da estrutura arcaica e inflexvel de interveno estatal nas relaes entre

    empregadores e empregados, regida pela empoeirada Consolidao das Leis do Trabalho,que alm de engessar os contratos entre esses dois plos da relao trabalhista, estipulaum sem nmero de encargos a serem arcados pelos empregadores, sendo estas, alm daelevadssima carga fiscal, causas patentes do alto ndice de desemprego no Brasil,responsveis ainda por engrossar o setor informal da nossa economia; do relativismo queimpregna o princpio da propriedade privada, a qual deve se sujeitar, pelo mandamentoconstitucional, a atender a uma suspeita funo social , que tem servido para justificar asinvases de terra do MST por todo o territrio nacional; de uma Justia sustentada sobre umsistema recursal que incita as partes, especialmente as que no esto do lado da razo, procrastinarem a discusso por anos interminveis, no h argumentos terrenos quecontrariem a alegao de que o Estado brasileiro ele prprio, tal qual est dado, o motor dosubdesenvolvimento nacional.

    Estruturada dessa forma, uma economia no poderia mesmo ser atrativa ao investidorestrangeiro. Torna-se atrativa forosa e artificialmente mediante a adoo de altas taxas de

    juros pelo Banco Central, que, se servem a um tempo como remdio para controlar ainflao, impem de outra banda freios ao crescimento do pas. A reduo delas, entretanto, perfeitamente possvel e depende apenas de que se perpetre a meticulosa limpeza dosentulhos que se amontoam nas estantes do nosso Estado Cartorial.

    Tais so os motivos que explicam a vergonhosa classificao do Brasil no ranking daHeritage Foundation, situado atrs at de alguns pases africanos, como Qatar, Marrocos eNambia .

    Curiosamente, os pases que gozam de melhor classificao no ILE so tambm os maisdesenvolvidos do mundo. H uma estreita coincidncia entre estes e os melhoresclassificados no ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) , bem como entre os pioresclassificados nos dois indicadores, no havendo melhor forma de demonstrar que aliberdade econmica traz prosperidade generalizada.

    Mas porque, ento, mesmo frente a fatos e argumentos estrondosamente incontroversosque comprovam que as polticas adotadas pelos governantes brasileiros no possuemsequer o germe do liberalismo e representam, inversamente, um atentado cabal contra aliberdade econmica, insiste-se em dizer que liberalismo e liberdade econmica so ascausas da concentrao de renda, da pobreza e do atraso nacional?

    28http://www.abn.com.br/artbergamini1.htm29 Art. 5, XXIII da Constituio Federal. O novo Cdigo Civil trouxe ao mbito contratual esse mesmoprincpio. Veja-se o seu art. 421, que dispe que a liberdade de contratar ser exercida em razo e

    nos limites da funo social do contrato.30http://www.heritage.org/research/features/index/countries.cfm31http://hdr.undp.org/

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    Isso s possvel com o auxilio de uma organizada mquina de propaganda a servio dadesinformao coletiva, que no Brasil conta com a participao de professores, jornalistas,intelectuais e polticos. Eles bem sabem, como sabia Hayek, que embora seja necessrioescolher as idias e imp-las ao povo, elas devem converter-se nas idias do povo, num

    credo aceito por todos que leve os indivduos, tanto quanto possvel, a agir espontaneamente do modo desejado pelo planejador .

    Em O Imbecil Coletivo, Olavo de Carvalho apresentou um estudo minucioso dessefenmeno de dimenses portentosas, identificando o grau de penetrao das idiasintervencionistas e socialistas nos segmentos da sociedade brasileira. Retirados do poderem maio de 1964, os porta-vozes do marxismo no Brasil foram buscar acomodao nosmais diversos nichos sociais, sendo a mdia e as universidades as suas trincheiras porexcelncia, onde se aparelharam e se multiplicaram em favor da disseminao gramscianada ideologia marxista. Sedimentada no decurso de dcadas, a impregnao desse ideriofez nascer uma redoma quase impenetrvel aos argumentos que vm de fora dela,preparando com sucesso o retorno da militncia esquerdista ao poder, cuja apoteose deu-secom a eleio de Luiz Incio Lula da Silva para Presidente da Repblica em 2002.

    Cientes da necessidade de, para manter-se no poder, tornar as idias e os projetos dopartido nas idias e projetos do povo, o PT levou consigo Braslia a equipe deespecialistas em marketing que teve papel crucial na vitria da esperana sobre o medo,a qual, agora estampando chapa-branca, integra o aparelho da propaganda oficial.

    Estribada no castelo das tcnicas propagandsticas de Duda Mendona & CIA, ainoperncia do assistencialismo petista est devidamente resguardada de eventuaisretaliaes pblicas, de vez que, por inepta que seja a atuao estatal na promoo dajustia social redistributivista, a maquiagem que lhe sobrepe os profissionais domarketing capaz de transformar o pesadelo da ineficincia burocrtica no mais singeloconto de fadas. assim que programas como o Fome Zero, Bolsa Famlia e PrimeiroEmprego passam do status real de fiasco ao de veculos eficazes de incluso social .

    O Fome Zero baseia-se comprovadamente em superestimativa do nmero deesfomeados no Brasil. Ademais, os recursos do programa no chegam em seus

    destinatrios, perdendo-se de repartio em repartio num longo trajeto burocrtico que um verdadeiro ralo por onde escoam as verbas pblicas.

    O Bolsa Escola integrou uma coletnea de programas do governo anterior que,exprimidos na moldura da insgnia petista, se transformaram no Bolsa Famlia, mostrado

    32 HAYEK, F. A., Op. cit., p. 148.33 Em discurso proferido na cerimnia de abertura do encontro internacional As Dimenses ticas doDesenvolvimento, o Presidente Luiz Incio Lula da Silva disse sobre estes trs programas: O FomeZero , acima de tudo, um chamamento moral sociedade brasileira para extirpar uma chagaduplamente imperdovel em um pas com tanta abundncia. O Primeiro Emprego ir engajar milhares

    de empresas na tarefa de dar a jovens brasileiros uma oportunidade de tornarem-se cidados e cidadsprodutivos. A Bolsa-Escola um investimento da sociedade brasileira no seu prprio futuro.(http://www.radiobras.gov.br/integras/03/integra_030703_02.htm)

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    populao pela propaganda oficial como o milagre do maior e mais ambicioso programa de

    transferncia de renda da histria do Brasil . A realidade, no entanto, depe contra a

    propaganda governamental. So inmeras as denncias de corrupo em torno do Bolsa

    Famlia, a maior parte envolvendo pessoas que no preenchem os requisitos para receber

    o benefcio .

    O programa Primeiro Emprego mais um captulo na encenao fracassada do

    espetculo assistencialista. Criado para gerar, mediante a concesso de subsdios a

    empresrios, aproximadamente 250.000 empregos para jovens entre 16 e 24 anos, o

    programa logrou criar, at meados de maro deste ano, apenas 3.168 empregos. O governo,

    claro, nega o fracasso .

    A importncia estratgica de se justificar as polticas de justia social redistributivista

    (usadas como pretexto para aumentar a arrecadao mediante tributao) atravs de

    propagandas enganosas que acobertem a sua ineficincia to evidente que o PT, aps

    recente divulgao de pesquisa do IBGE apontando que no Brasil a obesidade um

    problema maior que a desnutrio (confirmando a desnecessidade dos programas

    assistencialistas to caros aos governantes brasileiros), resolveu submeter, num tpico

    arroubo totalitrio, a publicao das pesquisas dessa entidade prvia anlise do governo

    central . Se elas, por condizentes e comprometidas que sejam com a realidade, no

    interessarem s intenes petistas, sero evidentemente descartadas in limine.

    A ascenso s escadarias do Palcio do Planalto de demagogos socialistas eleitos

    democrtica e institucionalmente para representar a populao perfeitamente adequada a

    um pas formado por indivduos entorpecidos de marxismo em nveis que beiram as raias da

    overdose, onde a prtica de se estabelecer uma relao lgica entre causa e conseqncia

    fenmeno no mais que episdico. Num cenrio com estes contornos, natural que se

    atribua em coro afinado a responsabilidade pela absurda disparidade entre ricos e pobres

    no ao seu maior causador, isto , o Estado, mas ao mercado, e que os governantes,

    atendendo aos anseios dos eleitores, adotem polticas intervencionistas, restringindo a

    liberdade dos cidados e os conduzindo pelas mos condio de servos do Leviat.

    Todos esses fatores somados tiveram como reflexo automtico a esmagadora vitria da

    engenharia coletivista no Brasil, que se encerra na arena poltica pela constatao de que

    ambos os partidos mais poderosos da atualidade empunham propostas socialistas de todasas cores e matizes, no havendo entre eles diferena ideolgica alguma. O que coloca PT e

    PSDB em lados opostos , como reconheceu publicamente o prprio ex-presidente

    Fernando Henrique Cardoso, apenas e to somente a briga pelo poder .

    E quanto aos defensores da liberdade individual e da livre iniciativa? Estes, infelizmente,

    continuam a padecer da absoluta falta de representao poltica, contando, para no

    34 Site do Fome Zero (http://www.fomezero.org.br/).35http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=174211 [ligao entretanto invalidada]36

    http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/metassociais/fj3103200516.shtml37http://www.schwartzman.org.br/simon/IBGE%20atuonomo.htm38http://www.diegocasagrande.com.br/main.php?flavor=manchetes&id=6583

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    sucumbir e desaparecer em definitivo, com no mais que uns poucos adeptos ali e acolque sempre so vozes isoladas em seus meios. O sucesso do liberalismo depende dotriunfo da idia de liberdade corretamente compreendida entre os intelectuais, acontecimentoque est, acima de tudo por conta das razes escandalosamente anti-liberais da culturanacional, um tanto distante de se concretizar.

    4. Concluso

    Haver quem alegue que o diagnstico esboado neste breve ensaio por demaispessimista. Diro estes que o Brasil, pas em que se realizam eleies peridicas, longe seencontra dos modelos totalitrios que tiveram lugar na Europa e na URSS do sculopassado, e que ainda resistem em pases como Cuba e Coria do Norte.

    evidente que uma tal crena s se sustenta ignorando-se a real extenso dasconseqncias do planejamento da economia e da deteriorao do Estado de Direito. Aosincautos, deixa-se o imorredouro alerta de Hayek, proferido em aluso ao contexto jurdico eeconmico da Alemanha que elegeu democraticamente Adolf Hitler: A lei pode tornar legalaquilo que para todos os efeitos permanece uma ao arbitrria e, para possibilitar a gestocentral das atividades econmicas, -lhe necessrio fazer isso. Se a lei declara que umaautoridade ou comisso podem agir da maneira que lhes convm, todas as aes destassero legais mas no estaro sujeitas ao Estado de Direito. Conferindo-se ao governopoderes ilimitados, pode-se legalizar a mais arbitrria das normas; e desse modo ademocracia pode estabelecer o mais completo despotismo. (...) bem verdade que Hitlertenha adquirido poderes ilimitados de forma rigorosamente constitucional e que todas assuas aes sejam, portanto, legais no sentido jurdico. Mas quem concluiria, por essa razo,que o Estado de Direito ainda prevalece na Alemanha?

    Bibliografia

    CAMPOS, Roberto, Lanterna na Popa, Ed. Topbooks, Rio de Janeiro, 1988.

    FIGUEIREDO, Diogo de, Ordem econmica e desenvolvimento na Constituio de 1988,Ed. APEC, Rio de Janeiro, 1989.

    HAYEK, F. A., O Caminho da Servido, Ed. Instituto Liberal, 5 Edio, Rio de Janeiro,1990.

    HAYEK, F.A., Direito, Legislao e Liberdade Vol. II: A miragem da justia social, Ed.Viso, So Paulo, 1985.

    LENIN, V. I., Estado,Ditadura do Proletariado e Poder Sovitico (organizado e traduzido porAntonio Bertelli), Ed. Oficina de Livros, Belo Horizonte, 1988.

    39 HAYEK, F. A., Op. cit., p. 93

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    Sites consultados

    Agncia Brasileira de Noticias http://www.abn.com.br/

    Central de Concursos http://www.centraldeconcursos.com.br/

    Diego Casagrande http://www.diegocasagrande.com.br/

    Fome Zero http://www.fomezero.gov.br/

    Folha Online http://www.folhaonline.com.br/

    Heritage Foundation http://www.heritage.org/

    Instituto Liberal http://www.institutoliberal.org.br/

    Ministrio do Planejamento http://www.planejamento.gov.br/

    Olavo de Carvalho http://www.olavodecarvalho.org/

    ONU http://hdr.undp.org/

    Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) http://www.psdb.org.br/

    Presidncia da Repblica http://www.planalto.gov.br/

    Radiobrs http://www.radiobras.gov.br/

    Schwartzman.org.br http://www.schwartzman.org.br/

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