o bolo de rolo: a ressignificaÇÃo de um patrimÔnio

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O BOLO DE ROLO: A RESSIGNIFICAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO IMATERIAL NA ECONOMIA PERNAMBUCANA Sandra Simone Moraes de Araújo UPE/Campus Mata Norte [email protected] RESUMO Tradição e modernidade são categorias centrais na composição deste trabalho, cujo o objetivo é refletir sobre a ressignificação do bolo de rolo no contexto cultural pernambucano. Esse bolo se tornou um patrimônio imaterial do Estado de Pernambuco, a partir da publicação da Lei Estadual 13.436/2008, e se encontra presente nos cardápios dos importantes cafés e restaurantes da cidade ou em embalagens à venda em feiras livres, bodegas etc. É um produto que movimenta a economia local, principalmente no setor de eventos e turismo. A sua característica tradicional se constitui em um bolo roliço, de finas camadas, recheado com doce de goiaba. No entanto, atualmente, a sua forma original vem sendo modificada, não só no que diz respeito ao recheio, mas também na maneira de apresentação. Pensar sobre a relação entre as mudanças e permanências de uma receita tradicional é refletir sobre a ressignificação do seu uso nas relações culturais contemporâneas e evidenciar o entrecruzamento da tradição com a modernidade. Ao pesquisar o bolo rolo na atividade econômica pernambucana, compreende-se que este produto, embora sofra algumas modificações, continua presente no cotidiano das coisas do povo e expressa a tradição dos saberes populares transmitidos de geração em geração. Palavras Chaves: Bolo de Rolo, Tradição, Modernidade ABSTRACT Tradition and modernity are categories present in this text, whose objective is to reflect on the re-signification of the roll cake in the cultural context of Pernambuco. The roll cake is an immaterial patrimony of the State of Pernambuco and is present, either in the menus of the important cafes and restaurants of the city, or in packaging for sale in open markets, warehouses etc. Its traditional characteristic is a type of thin layer rocambole, with guava filling, currently both the original shape has been modified and its filling that is often not used the usual guava jam. To think about the relation between the changes and permanences of a traditional recipe is to reflect on the re-signification of its use in contemporary cultural relations and to highlight the dialogue between tradition and modernity. Tradition when still active can remain in the face of change, but it does not remain intact, because nothing can remain inert in the face of the dynamism inherent in life. Key Words: Roll Cake, Tradition, Modernity

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O BOLO DE ROLO: A RESSIGNIFICAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO

IMATERIAL NA ECONOMIA PERNAMBUCANA

Sandra Simone Moraes de Araújo

UPE/Campus Mata Norte

[email protected]

RESUMO

Tradição e modernidade são categorias centrais na composição deste trabalho, cujo o

objetivo é refletir sobre a ressignificação do bolo de rolo no contexto cultural

pernambucano. Esse bolo se tornou um patrimônio imaterial do Estado de Pernambuco,

a partir da publicação da Lei Estadual 13.436/2008, e se encontra presente nos cardápios

dos importantes cafés e restaurantes da cidade ou em embalagens à venda em feiras livres,

bodegas etc. É um produto que movimenta a economia local, principalmente no setor de

eventos e turismo. A sua característica tradicional se constitui em um bolo roliço, de finas

camadas, recheado com doce de goiaba. No entanto, atualmente, a sua forma original vem

sendo modificada, não só no que diz respeito ao recheio, mas também na maneira de

apresentação. Pensar sobre a relação entre as mudanças e permanências de uma receita

tradicional é refletir sobre a ressignificação do seu uso nas relações culturais

contemporâneas e evidenciar o entrecruzamento da tradição com a modernidade. Ao

pesquisar o bolo rolo na atividade econômica pernambucana, compreende-se que este

produto, embora sofra algumas modificações, continua presente no cotidiano das coisas

do povo e expressa a tradição dos saberes populares transmitidos de geração em geração.

Palavras Chaves: Bolo de Rolo, Tradição, Modernidade

ABSTRACT

Tradition and modernity are categories present in this text, whose objective is to reflect

on the re-signification of the roll cake in the cultural context of Pernambuco. The roll

cake is an immaterial patrimony of the State of Pernambuco and is present, either in the

menus of the important cafes and restaurants of the city, or in packaging for sale in open

markets, warehouses etc. Its traditional characteristic is a type of thin layer rocambole,

with guava filling, currently both the original shape has been modified and its filling that

is often not used the usual guava jam. To think about the relation between the changes

and permanences of a traditional recipe is to reflect on the re-signification of its use in

contemporary cultural relations and to highlight the dialogue between tradition and

modernity. Tradition when still active can remain in the face of change, but it does not

remain intact, because nothing can remain inert in the face of the dynamism inherent in

life.

Key Words: Roll Cake, Tradition, Modernity

O gosto pelo doce

Os pratos locais, ligados a produtos locais,

evidentemente existem desde sempre...

Massimo Montanari

Ao longo do tempo, a comida se constituiu num elemento de identificação cultural.

Obras como: A História da Alimentação do Brasil e a História da Alimentação

evidenciam as identidades étnicas por meio das preferências e hábitos alimentares e

constroem uma cartografia sobre os produtos e receitas que possibilitam diversificar as

predileções dos diferentes agrupamentos culturais espalhados pelo mundo. Observa

Montanari que “entre as várias formas de identidade sugeridas e comunicadas pelos

hábitos alimentares, uma que hoje nos parece óbvia é a do território: o comer geográfico

(MONTANARI: 2013, p. 135).

A alimentação típica de um determinado território não se caracteriza simplesmente

pela oferta de produtos em determinada região, mas também pelo simbolismo atribuído

às maneiras de fazer, ao momento que cada alimento deve ser servido, o tipo de alimento

para cada faixa etária, à comida dos rituais religioso, às festividades, etc. A comida como

expressão da cultura se constitui em um “sistema alimentar não definido pela

“naturalidade”, mas como resultado e representação de processos culturais que preveem

a domesticação, a transformação e reinterpretação da natureza”. (MONTANARI: 2013,

p. 15).

Observa Lévi-Strauss que “nenhuma análise real permite aprender o ponto de

passagem entre fatos da natureza e os fatos da cultura, além do mecanismo de articulação

deles” (LEVI-STRAUSS: 1982, p. 47), ambos se encontram entrelaçados. O alimento que

brota do solo ou de origem animal está no plano da natureza, é universal, mas as atividades

que envolvem a produção, caça, mistura, cozimentos, predileções alimentares, maneiras

de fazer e de atribuir significado, se inscrevem no plano da cultura.

No entanto, para o consumo de alguns alimentos ou bebidas cada contexto cultural

evoca a natureza quando se estabelecem proibições, sejam elas etárias ou por definição

do sexo. Esta relação dialógica talvez seja infinita, mas ilustra as conexões estabelecidas

entre a necessidade biológica da alimentação e o que caracteriza a diversidade alimentar,

com suas permissões, proibições, maneiras de fazer e servir.

Na dialogia entre a natureza e a cultura vai se tipificando as predileções

proporcionadas pela diversidade dos alimentos, refinando o gosto que “é sutil, descoberto

a medida em que desperta o prazer que cada coisa pode nos conceder. É subjetivo e

singular e é responsável pela escolha que fazemos dos cheiros e sabores.” (ARAUJO:

2019 p. 12). “O olfato e o paladar exaltam a relação natureza/cultura. O homem degusta

os alimentos, sente os odores das coisas ao seu redor e os atribui significados, diferente

das outras espécies que comem depressa e farejam a caça” (ARAUJO: 2011, p. 142).

Essas predileções são influenciadas pelo entrecruzamento da oferta do alimento em

determinada região e a história das relações entre os diferentes povos que misturam seus

costumes, saberes e fazeres, e, ao longo do tempo, aprendemos as características das

dietas italiana, francesa, portuguesa, espanhola, africanas, indígenas, etc.

No Brasil, como mostrou Câmara Cascudo (2011), as raízes da alimentação nacional

estão sedimentadas na mistura dos saberes e fazeres das culturas indígenas, africanas e

europeia. Em cada estado brasileiro é possível encontrar um ou vários pratos típicos que

caracterizam os hábitos alimentares geográfico, nos quais evidenciam essa mistura. O

feijão com farinha de mandioca, feijoada, tapioca, buchada, pamonha, cuscuz, beiju,

pirão, doce de goiaba, bolo de fubá, dentre outros, são alguns desses hábitos.

Tanto Gilberto Freyre, quanto Câmara Cascudo consideram a doçaria uma

característica da cozinha europeia. O doce e o bolo foram especiarias trazidas pelos

portugueses para as cozinhas dos engenhos brasileiros. O alimento doce que

tradicionalmente era adoçado com o mel de abelhas, teve na indústria açucareira colonial

um protagonismo no cardápio da época e ainda se faz presente em nossos dias.

O açúcar advindo dos canaviais é o ingrediente primordial da doçaria. Câmara

Cascudo, no seu Livro História da Alimentação do Brasil, considerou que o doce nunca

amargou. Certamente, essa ideia não corresponde as duras condições de trabalho

impulsionada pela indústria açucareira que do século XVI ao XIX foi responsável pela

violência da escravidão do negro no Brasil e posteriormente, pelo trabalho precário nos

canaviais do Nordeste brasileiro. Do canavial, passando pela produção do açúcar, pela

cozinha da casa colonial até chegar à mesa dos donos de engenhos ou do branco

colonizador, o doce que adoçava as receitas saiu das amargas dores dos escravos e

escravas.

Dentro da extrema especialização de escravos no serviço doméstico das casas-

grandes, reservam-se sempre dois, às vezes três indivíduos, aos trabalhos da

cozinha (...). Foram estes os grandes mestres da cozinha brasileira. Inclusive

da doçaria (FREYRE: 2011, p. 193)

Para além dos afazeres nos canaviais, da fabricação do açúcar e do trabalho

doméstico, os escravos ainda eram usados como vendedores de “quitutes feitos em casa

e vendidos na rua em cabeças de negros, mas em proveito das senhoras” (FREYRE: 2011,

p. 194). Hoje esse amargo pode ser sentido nas dificuldades enfrentadas pelos

trabalhadores do corte da cana, como considera Ferreira Gullar (2000: p. 165), em seu

poema intitulado: O Açúcar:

O branco açúcar que

adoçará meu café

Nesta manhã de

Ipanema

Não foi produzido por

mim

Nem surgiu dentro do

açucareiro por milagre.

Vejo-o puro

E afável ao paladar

Como beijo de moça,

água

Na pele, flor

Que se dissolve na boca.

Mas este açúcar

Não foi feito por mim.

Este açúcar veio

Da mercearia da esquina

e

Tampouco o fez o

Oliveira,

Dono da mercearia.

Este açúcar veio

De uma usina de açúcar

em Pernambuco

Ou no Estado do Rio

E tampouco o fez o

dono da usina.

Este açúcar era cana

E veio dos canaviais

extensos

Que não nascem por

acaso

No regaço do vale.

Em lugares distantes,

Onde não há hospital,

Nem escola, homens

que não sabem ler e

morrem de fome

Aos 27 anos

Plantaram e colheram a

cana

Que viraria açúcar.

Em usinas escuras,

homens de vida amarga

E dura

Produziram este açúcar

Branco e puro

Com que adoço meu

café esta manhã

Em Ipanema.

A dialogia entre o amargo e o doce faz parte da história e do cotidiano do Nordeste

brasileiro. Em Pernambuco, a cana-de-açúcar é plantada na região da na zona da mata “na

chamada zona canavieira, há quase 5 séculos. A área cultivada tem cerca de 12 mil km2,

fica situada próxima ao Oceano Atlântico, possui solos ricos para a agricultura, onde não

há ameaças de secas e os rios são perenes” (GASPAR 2019).

Da extensão de terra ocupada pelo plantio da cana-de-açúcar se espalha o gosto

pelo doce muito doce, presente no hábito alimentar da maioria dos pernambucanos, seja

no simples ato de adoçar um café, seja na quantidade de açúcar utilizada nas receitas.

Esse doce muito doce data de muitos anos, como observa Freyre, desde a instalação da

produção do açúcar, no século XVI.

A cozinha das casas-grandes de Pernambuco pode-se dizer que nasceu debaixo

dos cajueiros e se desenvolveu à sombra dos coqueiros, com o canavial sempre

de lado a lhe fornecer açúcar em abundância; e perto da água do mar, na do

rio, na das lagoas, no mangue, na horta, na mata – quase ao alcance da mão da

cozinheira (...) o araçá, o jenipapo, a manga-jasmim, o maracujá, a goiaba, o

abacaxi, a canela, a fruta-pão, o sapoti, o tamarindo (...) “fixou-se aqui uma

série de doces caracteristicamente brasileiros – talvez demasiado doce para o

gosto europeu, (...) mas não para o brasileiro, sobretudo o do Nordeste, que

nasce sentindo o cheiro e quase o gosto do açúcar no ar. (FREYRE: 2007, p.

80 e 82)

Na cozinha dos engenhos brasileiros muitas receitas foram adaptadas por meio

de combinações dos “modos tradicionalmente portugueses de fazer doces e conservas

com as frutas da terra” (FREYRE: 2007, p. 70). O pão de ló, o bolo de bacia e o arroz

doce de origem portuguesa, juntaram-se à castanha confeitada e aos doces de: abacaxi,

jaca, abricó, jerimum, laranja, caju, manga, mangaba, banana, araçá e a outros doces tais

como: cocada, compota de melão, bananada, manuê de milho, beijos, pudim quero mais,

sonhos, suspiros, manjá do céu à pernambucana, queijadinha de Iaiá, baba de moça,

toucinho do céu, geleia de tapioca, geleia de goiaba e a goiabada, etc, este último, é um

tipo de doce que substituiu a marmelada portuguesa, no período colonial, devido a falta

do marmelo na cozinha brasileira. Além desses doces, também faz parte as receitas dos

bolos: pé-de-moleque, beata, divindade, sogra, mandioca, milho, amor, macaxeira, São

João, goma, batata, ouro e prata, festa, sem nome, fruta-pão, bolo de coco de Sinhá Dona,

brasileiro, rolo pernambucano, dentre outros.

O bolo é uma iguaria presente na vida social portuguesa (CASCUDO 2011), tem

sua origem no Egito Antigo, num tipo de pão adoçado com xarope de tâmaras e passas.

Na Grécia e em Roma, principalmente no período do renascimento, o bolo foi

aperfeiçoado, recebendo a técnica da fermentação. Seus inumeráveis tipos figuram em

diferentes comemorações tais como: aniversários, casamentos, formaturas, etc, além de

fazer parte do café da manhã, dos lanches, como acompanhamento de chás. Um costume

de outrora que ainda se faz presente nas casas dos pernambucanos é oferecer café com

um pedaço de bolo as visitas que veem ver um doente ou um recém-nascido ou por

quaisquer outros motivos.

Compreende-se que essa tradição boleira e doceira em Portugal replantou-se

imediata e profundamente no Brasil, servindo-se dos elementos locais,

reunindo-se aos recursos trazidos da Europa, farinha de trigo, ovos,

especiarias. Desde o primeiro século da colonização a doçaria portuguesa

estava aclimatada e pujante em todos os centros e povoamento. (CASCUDO:

2011, p. 307)

Embora tenha como principais ingredientes o trigo, ovo, manteiga e leite, sua

massa pode ser elaborada de diversas maneiras, combinando diferentes especiarias, com

ou sem fermentação. Na doçaria brasileira, na época da colonização, encontram-se bolos

que são feitos a partir da mistura dos ingredientes locais e os trazidos pelos portugueses

e africanos. Na culinária, seja ela pernambucana ou não, alguns bolos para além da

quantidade de açúcar utilizada nas receitas, ficam mais doces devido aos seus recheios e

coberturas, como é o caso do bolo de rolo pernambucano, cujo recheio é o doce de goiaba.

O Bolo de Rolo Pernambucano

De acordo com registros históricos, os portugueses trouxeram para a cozinha

brasileira o bolo Colchão de Noiva, uma receita da região de Algarve, a qual consiste em

um tipo de pão-de-ló recheado com amêndoas. Como na cozinha colonial não havia essa

especiaria, o bolo Colchão de Noiva foi adaptado aos ingredientes locais, recebendo o

recheio de doce de goiaba, além de ser servido na forma de um rolo, dando origem ao

Bolo Rolo Pernambucano. Embora tenha um formato roliço, ele não é um rocambole.

O rocambole não leva gordura, ele é uma massa de pão-de-ló bem aerada. Já o

bolo de rolo tem uma massa de estrutura cremosa, por conta da gordura".

Quanto aos ingredientes, portanto, a principal diferença é a ausência de gordura

no rocambole e a presença de manteiga ou margarina no bolo de rolo. Em

compensação, o rocambole leva mais ovos e também fermento, insumos que

trabalham a massa para deixá-la alta e macia (ALVES, 2020)

O preparo do bolo de rolo consiste na mistura dos ingredientes: açúcar, manteiga,

ovos, farinha de trigo e recheio de doce de goiaba ou creme de goiaba. Para ser

considerado um bolo de rolo é importante ter camadas bem finas.

Figura 1 – Bolo de Rolo Tradicional

Foto: Sandra Simone

Na contemporaneidade, o bolo de rolo deixou de ser uma iguaria presente apenas

nas cozinhas e mesas dos lares pernambucanos, também passou a ser um produto que

aquece a economia local e faz parte dos cardápios dos importantes cafés, restaurantes e

delicatéssen. Também é comercializado nos semáforos das ruas de grande movimentação,

nas feiras livres, bodegas e em locais turísticos, a exemplo do aeroporto do Recife.

Figura 2 -Venda Ambulante de Bolo de Rolo

Foto: Sandra Simone

O preço de um pacote, com aproximadamente 400 grs., varia entre R$ 5,00 a R$

40,00. Uma generosa fatia, em um renomado café do Recife, pode custar R$ 25,00. Outra

forma de comercialização é a oferta de cursos, cujo conteúdo consiste no ensino da técnica

de preparo do bolo de rolo. As aulas têm duração entre 8h/a e 12h/a com custos entre R$

150,00 a R$ 450,00.

É importante salientar que o uso da receita do bolo de rolo vem, ao longo do

tempo, sendo ressignificado, se por um lado preserva a massa de pão de ló, por outro

diversifica o sabor desta massa. Algumas doceiras acrescentam essências e corantes, e

também trocam o tradicional doce de goiaba por recheios de brigadeiro gourmet, doce de

leite, churros, limão, milho, paçoca. prestígio, leite ninho, Nutella, café e romeu e julieta.

Outra mudança é o formato que passa também a se apresentar na forma de naked com

folhas finas, tal qual as imagens abaixo:

Figura 3 – Bolo de Rolo de Chocolate

Foto: Sandra Simone

Figuras 4 e 5– Naked de Bolo de Rolo

Foto: Sandra Simone

Figura 6 – Naked de Bolo de Rolo

Foto: Sandra Simone

Figura 7 – Variação de formato

Foto: Sandra Simone

Figura 8 – Torta de bolo de rolo

Foto: Sandra Simone

Figura 9 – Torradinha de bolo de rolo

Foto: Sandra Simone

A diversidade de receitas que tem como base o bolo de rolo tradicional e a sua

popularização, através do tempo, foi um elemento fundamental para a aprovação da Lei

Estadual nº 13.436 de 24 de abril de 2008, cujo objetivo foi atribuir à esta iguaria o título

de Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco, passando a fazer parte da

identidade da culinária pernambucana.

As mudanças na forma de apresentação e dos recheios, a cada dia tornam-se mais

presentes na culinária pernambucana e além de serem apresentadas nas doçarias, cafés,

festas, etc., também é tema do cordel Dona Chita Bolo de Rolo, de autoria de Davi

Teixeira e Meca Moreno, cujos trechos versam assim:

Fico com água na boca

Ao falar dessa iguaria

Famoso Bolo de Rolo

Sua massa tem magia

Recheio de goiaba

Com sabor de poesia

Bolo “Colchão de

Noiva”

De origem portuguesa

Sofreu adaptações

Na pernambucana mesa

Perdeu recheio de

amêndoas

Mas nozes há com

certeza

Teve a nossa goiaba

Melhor adaptação

Nos quintais em abundância

Por toda a região

Mas hoje outros sabores

Merecem atenção

Ameixa e milho verde

Limão e maracujá

Chocolate e panetone

Abacaxi e cajá

Morango e queijo do reino

Outros mais ainda há

Bolo de noiva

Gostosa variedade

Mais laranja e prestígio

Eita, que felicidade!

Pra poder servir a todos

Com beleza e qualidade (...)

(TEIXEIRA; MORENO, [s.d] p.2,3)

Na poesia e na mesa, o bolo de rolo expressa a relação entre os saberes e fazeres

da tradição e da modernidade. Neste sentido, compreender a ressignificação da receita

desta iguaria é corroborar com a ideia de Georges Balandier ao considerar que a tradição

“age enquanto portadora de dinamismo que lhe permite a adaptação, dando-lhe a

capacidade de tratar o acontecimento e de explorar algumas das potencialidades

alternativas” (BALANDIER: 1997, p. 38). Os saberes populares transmitidos de geração

em geração é um meio de expressão do encontro entre o novo e o antigo, num movimento

continuum de mudanças, adaptações e permanências, que na contemporaneidade constrói

um sistema de interpretação de mundo, construção de identidade e ressignificações.

Referências Bibliográficas

ALVES, Caroline de Brito. Entrevista. In Gazeta do Povo. Disponível em:

https://www.gazetadopovo.com.br/bomgourmet/produtos-ingredientes/bolo-de-rolo-

nao-e-rocambole-conheca-as-diferencas/. Acesso 20/08/2020

ARAUJO, Sandra Simone Moraes de. Quantas feiras? Memórias e histórias sobre feiras

de Pernambuco. Recife. EDUPE. 2019.

_____________. Narradores do sensível: um estudo sobre o imaginário e a cegueira na

cidade do Recife (versão para quem enxerga). Tese (Doutorado) – Universidade Federal

de Pernambuco, CFCH. Programa de Pós-Graduação em Antropologia, 2011.

CASCUDO. Luís Câmara Cascudo. História da alimentação do Brasil. 4ª ed. São

Paulo. Global. 2011.

GASPAR, Lucia. Usinas de Açúcar de Pernambuco. Disponível em

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=artic

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GULLAR, Ferreira. Toda poesia. 9ª ed. Rio de Janeiro. José Olympio. 2000.

FREYRE, Gilberto. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do

nordeste do Brasil. 5ª ed. São Paulo. Global. 2007.

LEVI-STRAUSS. Claude. O cru e o cozido. Mitológicas I. São Paulo. Cosac & Naify.

2004.

MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. 2ª ed. São Paulo. Editora SENAC. São

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TEIXEIRA, Davi; MORENO, Meca. Dona Chita Bolo de Rolo. Literatura de Cordel.

Texto mimeo. s/n.