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[Governo do Futuro] [2013-10-17] Caetano Ferreira 1

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[Governo do Futuro]

[2013-10-17]Caetano Ferreira

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[Governo do Futuro]

1 – Enquadramento 3

2 – Três novas abordagens de «boa governação»

2.1 – «Envolver os cidadãos» 4

2.2 – «Governo Facilitador» 4

2.3 – «Tornar públicos os dados públicos» 5

3 – Génese dos conceitos 6

4 – Potencial económico e social 7

5 – Condições para funcionar 8

6 – Notas finais/Sugestões/Propostas 10

Caetano Ferreira 24-10-2013 (LIPP) 2

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[Governo do Futuro]

1 - Enquadramento

A má governação do final do séc. XX e início do séc. XXI e a exuberância irracional que simultaneamente ocorreu nas áreas económica e financeira, colocaram os países ditos desenvolvidos numa situação difícil, apenas com paralelo na grande depressão (anos 29/30 e seguintes do séc. anterior) e no pós II guerra mundial.

O resultado, foi uma crise sem precedentes a vários níveis (governos, sistema financeiro, economia, desemprego, etc.) e, consequentemente, entrámos numa era atípica, dominada pelas «perspectivas e gráficos da desgraça».

Com efeito:

As economias da EU, supostamente harmonizadas com suporte no Euro, ficaram «subitamente» divididas em 4 grupos distintos e constituídos em função das dívidas soberanas e dos défices públicos, destacando-se, pela negativa, um conjunto que conjuga dívida e défice híper-elevados, grupo em que Portugal se enquadra;

O investimento privado na UE27 teve, no período 2007/2011, uma queda superior a € 350 mil milhões, verba que mais que diluiu o crescimento das exportações e do Consumo público e se repercutiu numa descida do PIB acima de € 80 mi milhões (5 mil milhões em Portugal);

As perspetivas a longo prazo apontam para cenários caracterizados pela queda das receitas / dotações orçamentais / arrecadação de impostos e pelo aumento de custos (v.g. encargos com as 3ª e 4ª idades);

As repercussões negativas em temos orçamentais da reduzida natalidade e do aumento contínuo da esperança de vida persistem e adensam.

Perante a severidade desta conjugação de cenários, impõe-se fazer algo que a atenue e inverta.

Mas será que é suficiente dizer basta e que os problemas acabarão quando terminar a austeridade? Como e quando será tal possível?

Politicamente esgotadas que estão algumas teorias (Doing/Achieving more with less e outras derivações da mesma), é necessário dar passos concretos na consolidação de novas abordagens de «boa governação».

Apresenta-se a seguir a sinopse de um trabalho em powerpoint que aprofunda esta temática.

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2 – Três novas abordagens de «boa governação»

As sugestões que se seguem, afloram três dessas novas abordagens, perfeita e facilmente conciliáveis, a saber:

2.1 - «Envolver os cidadãos»/Doing More with More;2.2 - «Governo Facilitador»/Doing Less with Less, e2.3 - Tornar públicos os dados públicos (Government Open Data/PSI).

2.1 – «Envolver os cidadãos»/Doing More with More

O cerne da primeira abordagem1 é o Governo Aberto (onde se enquadra o eGovernment) e depende do grau de participação, no processo governativo, que é «permitido» aos cidadãos. O ambiente mais propício a este cenário é aquele que tem a transparência como objetivo, podendo o governo:

i) informar os cidadãos (pouco, muito, antecipada, postecipadamente, etc), ii) consultá-los casuística e pontualmente, iii) envolvê-los a ponto de lhes fazer entender as decisões tomadas, e por fim (situação desejável), iv) solicitar a sua participação, a sua colaboração e a sua co-criação de políticas, ao ponto de serem parceiros nas diferentes etapas da decisão, incluindo a análise de várias alternativas e a seleção daquela que melhor sirva os interesses de todos.

Assim se consegue fazer mais e melhor, porque mais – Governo + cidadãos + negócio/ instituições - são envolvidos na cadeia de decisão e na produção de melhores políticas em função das necessidades de todos e que aproveitam a todos.

1Ver trabalho apresentado sobre esta temática e proposta ao LIPP (Junho/2013)

2.2 – «Governo Facilitador»/Doing Less with Less

Relativamente à segunda abordagem – «Governo Facilitador» -, sendo certa a incapacidade que os governos têm para ultrapassar as crescentes restrições orçamentais, é necessário redistribuir esforços, facilitando a tarefa a ambas as partes (Governo Vs cidadãos), induzindo estes para comportamentos racionais e suscetíveis de absorverem menores recursos comuns e/ou de contribuírem mais para o bem comum.

O Governo e os organismos públicos orientam os cidadãos para «o sucesso» e para comportamentos «dentro da norma», apontando como exemplos desde a redução de consumos ao nível das «utilities» (Electricidade, Gaz, derivados do petróleo), ao aumento do pagamento atempado de impostos e outras contribuições para uma adequada execução orçamental e à redução da sinistralidade rodoviária, entre outras:

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Objectivo da medida Forma de induzir e/ou alterar comportamentosRedução de consumos Alertar se estamos abaixo ou acima da média, congratulando

os consumidores abaixo da média.Pagamento de impostos Informar qual a % dos que já pagaram. Quanto maior for a %

dos «bons pagadores» maior será o incentivo a integrar esse grupo.

Reduzir a sinistralidade Informar previamente os locais de fiscalização (radar). Reduz o nº de multas, mas certa e desejavelmente também reduz a sinistralidade.

Esta nova forma de fazer política já faz parte do dia a dia nos Estados Unidos e a Inglaterra, cujos governos as desenvolvem em parceria com órgãos públicos e instituições privadas, com resultados até agora alcançados muito encorajadores.

Em Portugal também já há organismos públicos que utilizam esta metodologia.

2.3 – «Tornar públicos os dados públicos»

A terceira abordagem assenta no facto de que «as administrações públicas estão positivamente “sentadas” numa mina de ouro de potencial económico não explorado: os grandes volumes de informação reunidos por inúmeras autoridades e serviços públicos».

A UE tem em curso diversas ações que a poderão colocar numa boa posição a nível mundial no que respeita à reutilização das informações do sector público e que contribuirão para impulsionar o sector económico, já altamente dinâmico, da transformação de dados em bruto em materiais de que dependem centenas de milhões de utilizadores das TIC, como, por exemplo, aplicações para telemóveis, mapas, informações de trânsito e meteorológicas em tempo real, ferramentas para comparação de preços e muitas outras. Outros grandes beneficiários são os jornalistas e os académicos.

A Vice-Presidente da Comissão Europeia Neelie Kroes declarou, a este respeito:«Hoje enviamos um sinal forte às administrações: os dados que se encontram nas vossas mãos valerão mais se os disponibilizarem. Chegou, portanto, a altura de o fazerem: utilizem o quadro que vos é oferecido para se juntarem aos outros líderes que, inteligentemente, já começaram a tirar partido da “abertura” dos dados. Os contribuintes já pagaram estas informações. O mínimo que podemos fazer, é devolvê-las aos que lhes quiserem dar uma nova utilidade prestando ajuda às pessoas e criando emprego e crescimento.»

Estudos recentes encomendados pela Comissão Europeia mostram que a indústria e os cidadãos ainda têm dificuldades em localizar e reutilizar as informações do sector público. Por outras palavras, a abertura dos dados ao público está ainda por desenvolver na generalidade dos países europeus. Por isso mesmo, na Agenda Digital para a Europa, a Comissão considerou a reutilização das informações do sector público, paralelamente ao acesso rápido e ultra-rápido à Internet, fundamentais para a criação de um mercado único digital (Pilar I).

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Aí reside o grande potencial desta área, pois há muito para explorar, sendo certo que no nosso dia a dia convivemos com situações de (re)utilização de PSI – Public Sector Information. Basta lembrar que assiduamente queremos saber como estará o tempo no(s) dia(s) seguinte(s) e que para tal ouvimos/vemos em um qualquer canal televisivo ou rádio a previsão metereológica: a fonte da informação não é o próprio canal televisivo/rádio, mas sim o IPMA. As rádios, os jornais e as televisões prestam um serviço público, ganham audiências, mas servem-se de dados públicos, o sentido em que são colididos por um organismo público.

Outro exemplo, também em Portugal, de reutilização da informação do setor público com carácter recorrente é o relevante serviço público que a agência noticiosa LUSA presta com a recolha que efectua (ela própria divulga apenas notícias através do seu site) e que diariamente dissemina por outros e diversos órgãos de comunicação social, que por sua vez, eles sim, as difundem pelos respetivos públicos-alvo.

3 – Génese dos conceitos

A origem das duas últimas abordagens acima sintetizadas é a mesma: o primeiro mandato de Barack Obama, nomeadamente no seu primeiro dia na Casa Branca (29/01/2009) e especificamente no «memorando» que na circunstância assinou e no qual fez assentar os alicerces da sua política:

Transparência (abertura de dados/accountability) Participação (dos cidadãos) Colaboração (inter departamental/estados/órgãos)

É de relevar a celeridade de alteração de paradigma que esta nova forma de estar na política gerou em poucos anos a nível interno (USA) e externo (Mundo e organizações internacionais).

No primeiro, a criação do portal Data.Gov despoletou a libertação de um gigantesco conjunto de dados (ver mapa abaixo), pois em apenas dois anos passou de 47 para 380.000 conjuntos/mapas de dados e de 2 milhões para 180 milhões de visitas/buscas de informação.

Quanto ao nível externo, o «Open Movement Data» contagiou muitos outros países/regiões/cidades e organizações internacionais como o Banco Mundial, esteve na génese do Open Government Partnership (iniciou em 2011 com 46 países) e impulsionou a Open Data Charter ao nível do G8 (Junho 2013).

Como não poderia ficar alheia a esta realidade, a União Europeia tem vindo a tomar iniciativas muito positivas na perspetiva de pelo menos acompanhar esta tendência, vertente que adiante abordaremos de novo.

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4 – Potencial económico e social

Mas qual o potencial económico e social efetivo da abertura de dados?Há avaliações teóricas e por aproximação, a vários níveis, sendo certo que em termos quantitativos, se estima que este novo mercado atinja para a UE27 o valor de 42 mil milhões, já em 2014!

A um nível mais restrito, um estudo efetuado em Espanha (2011 e revisto em 2012) sobre esta temática aponta para um cenário surpreendentemente interessante:

150 empresas, cujo «core business» assenta na re-utilização de PSI; Volume de negócios estimado entre 330 e 550 milhões de Euros/ano; De 3.700 a 4.300 empregos; A origem da informação reutilizada é diversa

Nos clientes do setor está incluída a própria administração pública

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5 – Condições para funcionar

O ambiente necessário e ideal para um adequado funcionamento da reutilização da PSI, assenta em três pilares cuja combinação e compatibilização atualmente estão reunidas:

Enquadramento político/Legislação adequada; Tecnologia à altura do desafio (TIC/web2.0, etc.); Utilizadores abertos à participação, à colaboração e à co-criação.

Quanto ao enquadramento político, diríamos que está ainda algo longe de ser perfeito, pois a EU ainda se debate com diferentes níveis de desenvolvimento, diferentes línguas, diferentes interesses, diferentes estádios ao nível da eficácia e eficiência dos respetivos governos, diferentes «máquinas», diferentes semânticas, isto é, numa só palavra, com problemas de interoperabilidade.

Existe contudo uma vontade indelével de melhorar e as iniciativas multiplicam-se sob o manto da Europa 2020, que enquadra a iniciativa Agenda Digital para a Europa e os seus diversos pilares:

Os Estados-Membros podem/devem contribuir para tornar os dados abertos uma realidade através da rápida adoção, transposição e aplicação da diretiva relativa à reutilização das informações do sector público agora Diretiva 2013/37/UE. Ao fazê-lo, estarão a criar condições

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para uma atividade económica baseada nos dados abertos e a estimular a criação de aplicações transfronteiras. Além disso, os Estados-Membros devem formular e aplicar políticas em matéria de dados abertos, inspirando-se nos exemplos de boas práticas provenientes de toda a EU (Dinamarca, Espanha, Irlanda e outros). Devem apoiar, por exemplo, projetos-piloto e concursos de dados abertos, em particular os que visem o desenvolvimento de produtos e serviços transfronteiras.

Por último, a Comissão tem vindo a apelar sucessivamente aos Estados-Membros para que contribuam para o desenvolvimento do portal de dados pan-europeu. A Comissão Europeia discutirá com os peritos dos Estados-Membros a melhor forma de dotar o portal com uma base sólida. Durante a fase de implantação, os Estados-Membros deverão disponibilizar uma vasta gama de conjuntos de dados através do portal para transformá-lo num serviço de sucesso e numa base para a atividade económica.

O Parlamento Europeu e o Conselho Europeu foram convidados, no âmbito das respetivas responsabilidades, a criarem as condições-quadro adequadas para a reutilização das informações do sector público em toda a União Europeia e a apoiarem os projetos e as infraestruturas que podem converter os dados públicos da Europa num motor de inovação, crescimento e transparência.

6 – Notas finais/Sugestões/Propostas

Decorridos pouco mais de 4 anos do marco histórico que fez vingar a forma de governar assente na transparência, na participação e na colaboração (memorando assinado por Barack Obama em 2009/01/21), é de relevar que o autor do mesmo, expandiu a sua «filosofia» pelo mundo, de que a OGP e a G8 Open Charter são os expoentes máximos e muitas organizações internacionais também aderiram ao «open data movement», nomeadamente o Banco Mundial que se posiciona como um grande repositório de informação sobre todos os países do mundo.

De notar que paralelamente à abertura da PSI há outros quadrantes que abraçaram o mesmo posicionamento. Destacam-se por um lado o movimento/realidade dos «big data» (ao nível das multinacionais/grandes organizações e que é caracterizado pelos 3V’s – Volume, velocidade e variedade) e por outro o movimento «Open Access», especificamente direccionado para a abertura do conhecimento científico às comunidades civil, estudantil e jornalística.

Portugal realizou, entre 2005 e 2010, um trabalho brilhante em termos de modernização da Administração Pública, nomeadamente através dos programas «Ligar Portugal» e «Simplex». O salto qualitativo foi gigantesco, pois o impulso modernizador foi enorme e actualmente continuamos a receber prémios internacionais em eventos de vida específicos/muito pontuais.

Contudo, o todo foi esquecido e temos vindo a assistir a uma estagnação, fazendo lembrar uma prova de ciclismo por etapas em que os «sprinters» têm os seus momentos de glória quando vencem etapas, sendo certo que o vencedor da prova é o único que «fica para a história».

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Com efeito, estudos recentes da OCDE, posicionam-nos num envergonhado 13º lugar dos países emergentes em termos de desenvolvimento no âmbito do e-government, muito longe do grupo que integra os 20 países mais desenvolvidos nessa matéria (Coreia do Sul, Holanda, Inglaterra, Dinamarca e Estados Unidos, são os cinco primeiros).

Para colocar fim à quase letargia em que ultimamente Portugal se deixou posicionar, revela-se fundamental, entre outras, tomar algumas medidas susceptíveis de nos (re)posicionar num nível mais condizente com o nosso ponto de partida do período 2005/2010, todas elas de relativamente simples concretização/materialização e que não exigem grandes esforços orçamentais, a saber:

i. Transpor para a legislação nacional, com a celeridade possível, a Diretiva 2013/37/EU de 26/07/2013. Não faz sentido e nada justifica que matéria desta relevância seja tratada com os timings habituais: a Diretiva anterior, 2003/98/CE só foi transposta decorridos mais de 3,5 anos após a entrada em vigor – 2003/12/31;

ii. Dinamizar o portal Data.gov , publicitando a todos os níveis as suas vantagens e induzindo os organismos públicos a participar nessa dinamização;

iii. Contribuir de forma ativa para a construção e dinamização do portal pan-europeu de dados que está em desenvolvimento no âmbito da Agenda Digital para a Europa (http://open-data.europa.eu/en);

iv. Contribuir para uma mais célere mitigação das barreiras ao nível da interoperabilidade intra EU (via ISA – Interoperability Solutions for European Public Administrations);

v. Aderir ao HOMER Project , criado e desenvolvido ao nível dos países europeus da «região MED», com excepção de Portugal;

vi. Aderir ao OGP – Open Government Partership , criado em 2011 por um grupo de 46 países e que, face às boas práticas que se propõe disseminar, tem vindo a crescer constantemente (já conta com 60 países);

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