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7 o . ano – 1º. volume Filosofia LIVRO DO PROFESSOR

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Page 1: o. ano – 1º. volume Filosofia - Educacional · Deve-se entender, portanto, a expressão filosofia para crianças, nesse primeiro sentido, como uma tentativa de levar a prática

7o. ano – 1º. volume

Filosofia

Livro do Professor

Page 2: o. ano – 1º. volume Filosofia - Educacional · Deve-se entender, portanto, a expressão filosofia para crianças, nesse primeiro sentido, como uma tentativa de levar a prática

© Editora Positivo Ltda., 2011

P926 Prendin, Andrea.Filosofia : 7º. ano / Andrea Prendin, Michele Czaikoski

Silva; ilustrações Divanzir Padilha ... [et al.]. – Curitiba: Positivo, 2012.

v. 1 : il.

Sistema Positivo de Ensino.7º. ano – Regime 9 anos.ISBN 978-85-385-5766-1 (Livro do aluno)ISBN 978-85-385-5767-8 (Livro do professor)

1. Filosofia. 2. Ensino fundamental – Currículos. I. Silva, Michele Czaikoski. II. Padilha, Divanzir. III. Título.

CDU 372.8

Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

Diretor-Superintendente:Diretor-Geral:

Diretor Editorial:Gerente Editorial:

Gerente de Arte e Iconografia:Autoria:

Edição de Conteúdo:Revisão:Edição:

Analista de Arte:Pesquisa Iconográfica:

Crédito das imagens de abertura:Edição de Arte:

Ilustração:

Projeto Gráfico: Editoração:

Produção:

Impressão e acabamento:

Contato:

Ruben FormighieriEmerson Walter dos SantosJoseph Razouk JuniorMaria Elenice Costa DantasCláudio Espósito GodoyAndrea Prendin e Michele Czaikoski SilvaLysvania Villela CordeiroLúcia Burzynski BialliKathia Danielle Gavinho ParisJoice Cristina da CruzJúnior Guilherme MadalossoPriscila Sanson (ilustração)Angela Giseli de SouzaDivanzir Padilha, Lemes, Marcos Guilherme e Priscila SansonO

2 ComunicaçãoDanielli Ferrari CruzEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 17480440-120 – Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599Gráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 50081310-000 – Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452E-mail: [email protected]@positivo.com.br

Se preferir, utilize o endereço http://www.saibamais.com.br e digite o código no local indicado.

Neste livro, você encontra ícones com códigos de acesso aos conteúdos digitais. Veja o exemplo:

Acesse o portal e digite o código na Pesquisa Escolar.

@HIS111Olimpíadas@HIS111

@

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A Filosofia nasceu entre adultos. Aliás, entre um reduzido número de adultos, corajosos o bastante para pensar, de forma rigorosa sobre si mesmos, a realidade que os cercava e o próprio ato de pen-sar, entregando-se à vertigem de questionar percepções, crenças e práticas. Desde então, inúmeros filósofos dedicaram-se a reflexões acerca da verdade no conhecer e da liberdade no agir, o que se desdobra em diversos temas, entre os quais encontramos a infância e a educação.

Desde as origens, a Filosofia viu-se ligada à educação, pois foi entendida, ao mesmo tempo, como atitude e forma de conhecimento responsável pela formação humana, com vistas à excelência ética e intelectual. Ainda assim, a ideia de incluí-la nos currículos das séries iniciais desperta polêmica, mesmo entre os que aceitam plenamente a transposição didática de conteúdos científicos, técnicos e artísticos para tal contexto.

Estender essa transposição a conteúdos e métodos filosóficos é uma ideia recente, inaugurada por Mathew Lipman, na década de 60 do século XX. Ideia cujo ponto de partida foi o reconhecimento de semelhanças fundamentais entre os olhares dos filósofos e das crianças para o mundo, ambos caracterizados pela capacidade de maravilhar-se e pela curiosidade.

Tais características, inatas ao ser humano, permitiriam a entrada das crianças num universo de problematizações, hipóteses e investigações reflexivas, aproximando-as, gradualmente, da Filosofia e de seus procedimentos.

A Filosofia é uma disciplina que leva em consideração formas alternativas de agir, criar e falar. Para descobrir essas alternativas, os filósofos persistentemente avaliam e examinam o que outras pessoas normalmente têm como certo e es-peculam imaginativamente sobre quadros de referência cada vez mais amplos. (LIPMAN, 1994, p. 143).

Antes dessa proposta, até se pensava em uma Filosofia da educação preocupada com a infância, mas não em uma Filosofia na educação dessa mesma infância.

Atualmente, cerca de 30 anos após as primeiras publicações de Lipman, voltadas diretamente ao público infantil, mais de 30 países, entre os quais o Brasil, pesquisam e aplicam sua proposta teórica, metodológica e curricular – conjunto que ficou conhecido como Filosofia para crianças.

Por outro lado, um grande contingente de pesquisadores dedica-se a uma avaliação crítica dessa iniciativa, mesmo quando reconhece o seu indiscutível valor fundante – reconhecimento que considera, em especial, a sistematização metodológica do ensino dessa disciplina para crianças e a relação direta dos conteúdos priorizados com a História da Filosofia.

Deve-se entender, portanto, a expressão filosofia para crianças, nesse primeiro sentido, como uma tentativa de levar a prática da filosofia às crianças, tentativa de tornar a história da filosofia acessível para que as crianças filosofem com ela. Pois bem, num sentido mais amplo, ela não só designa a tentativa particular de Lipman quanto uma nova área ou campo de interesse da própria filosofia, a de fazer filosofia com crianças. [...] A importância singular de Lipman deriva de ser – como Freud para a Psicanálise, Saussure para a Linguística, ou Weber para a Sociologia – um iniciador, um fundador e, ao mesmo tempo, de tentar levar à prática o caminho por ele fundado. Mas de forma alguma sua proposta esgota as possibilidades de tal campo. Apenas as inicia. (KOHAN, 2000, p. 14).

Concepção de ensino

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Ainda assim, não dispomos de parâmetros curriculares nacionais específicos para essa disciplina, já inserida nas grades do Ensino Fundamental de muitas escolas e que desperta o entusiasmo de educa-dores que desejam, nas séries iniciais, uma formação voltada a determinados aspectos, tais como: senso crítico – pensamento problematizador e fundamentado em critérios; e postura ética, reflexiva e aberta ao diálogo. Logo, é natural haver muitas dúvidas sobre qual Filosofia ensinar às crianças e como fazê--lo. Somem-se ao quadro a escassez ou a ausência de conteúdos filosóficos na formação básica – e até mesmo superior – das décadas seguintes à instauração do Regime Militar e a distância que se fez entre a Filosofia acadêmica e a escolar.

Atualmente, o retorno da Filosofia como disciplina obrigatória dos programas de Ensino Médio e sua inserção em alguns vestibulares alimentam a reconstrução de currículos e metodologias. Enquanto isso, educadores do Ensino Fundamental avaliam as novas, diversas e, muitas vezes, contraditórias propostas curriculares e metodológicas para a inclusão da Filosofia nas séries iniciais. Entre elas, muitas defendem a transversalidade dos temas – em vez de uma disciplina específica – ou incentivam uma mera troca de opiniões entre os alunos, sem ultrapassar o senso comum.

Outras se empenham em garantir a especificidade da Filosofia, numa relação harmônica com as especificidades da infância, reconhecendo a consistência de alguns fundamentos de Lipman, conside-rando críticas ao seu método – o qual se baseia em novelas filosóficas de aplicação bienal –, bem como buscando alternativas em relação a elas e às necessidades de uma geração e de uma cultura diferentes daquelas em que o primeiro caminho foi sistematizado.

Nessa perspectiva, em lugar de uma aprendizagem exaustiva de teorias, métodos e sistemas filosófi-cos historicamente constituídos, buscamos uma propedêutica, ou seja, uma preparação à Filosofia, com ênfase no progressivo filosofar sobre temas de interesse das crianças e da humanidade, o que chamamos de sensibilização filosófica. Essa escolha implica atenção a alguns elementos:

K habilidades cognitivas relacionadas à reflexão e à práxis filosófica – divididas por Lipman em quatro grupos: raciocínio, investigação, formação de conceitos e interpretação/tradução. Estas, por sua vez, devem desdobrar-se em atitudes éticas no diálogo filosófico – ouvir, considerar e respeitar opiniões diferentes, entre outras. Sendo assim, preferimos designá-las por habilidades cognitivas e éticas;

K formas de pensar que considerem aspectos lógicos, estéticos/epistemológicos e éticos – o que Lipman denomina, respectivamente, de pensamento crítico, criativo e cuidadoso, ou, ainda, pensar de ordem superior e, mais recentemente, pensamento multidimensional;

K conceitos e questionamentos propostos por filósofos nas diversas áreas da reflexão filosófica – Metafísica, Axiologia, Ética, Política, Estética, Lógica, Antropologia, Epistemologia, etc.;

K reconhecimento do caráter falível e histórico de opiniões e saberes, bem como da necessidade de sua avaliação e reconstrução intersubjetivas;

K construção de pilares cognitivos e éticos para o exercício da cidadania;

K diálogo livre e democrático, mas organizado e investigativo, como método para elaborar, avaliar e reelaborar conhecimentos;

K estímulo ao encantamento, à alegria e à ludicidade no processo reflexivo;

K perguntas como instrumentos de problematização e construção de conhecimentos;

K ênfase na elaboração de conceitos, juízos e raciocínios coerentes;

K relevância das razões e dos critérios para julgar e argumentar;

K coerência e rigor nas discussões e raciocínios filosóficos – que diferem dos míticos, dos religiosos, dos científicos ou do senso comum;

K aprendizagem cooperativa, considerando a autonomia de cada aluno, a importância da partici-pação dialógica e a mediação do professor no processo investigativo;

K reflexão filosófica sobre limites e possibilidades do filosofar, bem como de outros saberes – senso comum, Arte, Ciência, etc.;

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K contato com diferentes linguagens e pontos de vista, por meio da pesquisa e do diálogo;

K respeito à diversidade de opiniões e de culturas;

K reflexão sobre valores;

K visão reflexiva de mundo, considerando diferentes ideias sobre o ser (efetividade) e o dever-ser (normatividade).

Por outro lado, cabe ressaltar que defendemos o ensino da Filosofia como disciplina, uma vez que a interdisciplinaridade se faz no diálogo entre os diversos campos do saber humano, cada qual com suas especificidades. Nesse contexto, entendemos o ensino como prática de mediação do professor na ela-boração e na avaliação de conceitos e raciocínios. Cabe a ele a problematização e não a transmissão de conhecimentos. Assim, a aprendizagem pode constituir-se de forma ativa e reflexiva.

Além disso, consideramos algumas críticas à aplicação integral do método de Lipman em nosso contexto pedagógico, histórico e social, tais como:

K a ênfase no estudo da Lógica formal aristotélica, frente à relevância de outras áreas da Filosofia e à necessidade de vincular a ação ética e cidadã não só ao pensamento lógico mas também à reflexão política;

K a necessidade de repensar a efetividade da democracia e não apenas a sua normatividade;

K a ênfase em modelos, cujo possível caráter ideológico merece exame, representados por novelas para crianças e manuais para o professor.

Sendo assim, este material insere-se no campo de novos caminhos em construção, que não des-consideram fundamentos passados nem horizontes futuros. Para uma melhor aplicabilidade, requer uma pesquisa constante por parte dos professores em relação à História da Filosofia e ao percurso da chamada Filosofia para crianças – para o que sugerimos iniciar pela leitura das obras indicadas no item Referências –, bem como das principais discussões relacionadas a concepções de ensino e aprendizagem, didática e avaliação. Afinal, a práxis filosófica deve ser libertadora e reflexiva em qualquer contexto, sempre pautada pela autonomia e pelo senso crítico de todos os atores envolvidos.

objetivos gerais

A proposta de filosofar com crianças tem como fundamento a noção de comunidade de investigação, elaborada por Lipman e seus colaboradores. Entre outras, ela teve a influência do modelo de comunida-de científica de Charles Peirce – na qual o conhecimento é considerado falível e dinâmico, enquanto a investigação (com base em dúvidas e hipóteses) tem prioridade para reavaliar crenças e torná-las cada vez mais verdadeiras, sem a pretensão de obter uma verdade definitiva.

Na comunidade de investigação, a criança deve aprender a pensar por si mesma, porém considerando as opiniões e os pontos de vista dos demais, numa atitude, ao mesmo tempo, rigorosa, aberta e sensível. Tal processo envolve um método dialógico e reflexivo, além de um currículo que contemple conceitos e procedimentos filosóficos, de acordo com os seguintes objetivos:

K estimular a reflexão filosófica;

K buscar significados e elaborar conceitos;

K argumentar com clareza e coerência;

K desenvolver a autonomia, mas também a intersubjetividade no pensar;

K desenvolver os pensamentos crítico, criativo e cuidadoso, por meio da descoberta e aplicação de habilidades cognitivas e éticas;

K construir bases para uma cidadania democrática e responsável;

K refletir sobre conceitos, valores, ideias e raciocínios estabelecidos.

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Conteúdos privilegiados

Raciocínio Formação de conceitos Investigação Interpretação/tradução

• Comparar e contrastar• Tecer analogias• Perceber e evitar

contradições e ambiguidades

• Identificar e propor boas razões

• Definir e avaliar critérios• Inferir por indução e

dedução

• Relacionar e distinguir• Definir (significados)• Classificar• Graduar e sequenciar• Generalizar e particularizar• Exemplificar e

contraexemplificar• Explicar

• Observar• Problematizar• Criar e explorar hipóteses• Prever e avaliar

consequências• Descrever• Exemplificar e

contraexemplificar• Sintetizar e concluir• Autocorrigir-se• Imaginar• Buscar sentidos

• Prestar atenção e ouvir• Interpretar criticamente• Parafrasear• Inferir pressupostos e

visões de mundo• Ter empatia• Respeitar• Dialogar• Considerar sentimentos

Além dos conteúdos descritos na programação anual de cada série, é importante que as aulas contemplem a abordagem explícita de habilidades cognitivas e éticas – relacionadas aos pensa-mentos crítico, criativo e cuidadoso –, num diálogo em que todos possam ser ouvidos, respeitados e estimulados à autocorreção. Entre essas habilidades, destacamos as seguintes, sob a forma de uma síntese da classificação proposta por Lipman:

É importante o cuidado para não transformar as aulas em mero treinamento retórico das formas de raciocínio e expressão. As habilidades cognitivas citadas, as quais possuem desdobramentos éticos e vínculos com o exercício de uma cidadania participativa, devem ser aplicadas no diálogo sobre os conte-údos, além de serem tematizadas e relacionadas entre si, em reflexões e atividades que permitam o seu desenvolvimento, favorecendo uma práxis investigativa capaz de equilibrar autonomia e cooperação mútua.

Vale destacar o fato de que tais habilidades também são úteis em outras áreas de conhecimento e que não garantem, se isoladas, uma discussão filosófica. Esse tipo de discussão – caracterizada pelo rigor conceitual e argumentativo, profundidade e multiplicidade das perspectivas consideradas, progresso e autocorreção na elaboração de conceitos, juízos e raciocínios – depende, ainda, de outros elementos postos em relação:

K temas de natureza filosófica;

K ênfase na elaboração de conceitos;

K critérios e argumentos coerentes;

K ausência de dogmas e flexibilidade nos pressupostos;

K reflexão progressiva e metacognição (avaliação do processo de conhecimento vivenciado);

K relação entre lógica e experiência (não contradição, causalidade);

K comparação/contraste entre a normatividade e a efetividade;

K consideração crítica de valores;

K participação crítica e sensível na elaboração e no cumprimento de regras.

As discussões podem se desenvolver a partir das perguntas das crianças sobre o significado de alguma ideia. Depende do professor aproveitar essas oportu-nidades e usá-las como ponto de partida para a exploração filosófica. Se uma

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criança quiser saber o significado da palavra autoridade, ou da palavra cultura, ou da palavra mundo, ou da palavra respeito, ou da palavra direitos, o professor pode usar qualquer uma delas como ponto de partida para conseguir tantos pontos de vista como quantas crianças há na classe, oferecendo aos alunos pontos de vista adicionais que foram desenvolvidos por filósofos, examinando as consequências de manter um ou outro ponto de vista e esclarecendo o significado das pressupo-sições dos diferentes pontos de vista. (LIPMAN, 1994, p. 152).

Sendo assim, o currículo deve ser construído como recorte significativo de um todo formado por temas, áreas, habilidades, princípios e instrumentos da Filosofia, a serem postos em discussão e avaliação pelos alunos, sob as formas de diálogo, raciocínio e reflexão.

Tal abordagem pretende aproximar gradualmente as crianças de uma práxis filosófica, sem jamais desconsiderar sua experiência concreta nem as características afetivas, sociais e cognitivas de cada faixa etária. Por isso, não despreza o lúdico em favor de uma complexidade fora do alcance infantil. Também não se define tudo o que precisa ser dito sobre cada um dos temas e, sim, abrem-se possibilidades para o que pode ser dito e pensado pelos envolvidos.

Os conteúdos da Filosofia são temáticas que se apresentam na forma de certas perguntas e para as quais há diversas respostas, algumas das quais presentes com mais força no cultural de cada época histórica. Essas temáticas precisam estar sempre sendo examinadas, avaliadas e, eventualmente, reelaboradas ou mesmo substituídas. Não só: faz parte dos conteúdos da Filosofia uma maneira própria de trabalhar as temáticas, as perguntas e as respostas. Essa maneira própria, ou o método, torna-se conteúdo à medida que é constantemente examinado, estudado, avaliado e reconstruído. (LORIERI, 2002, p. 51-52).

Os elementos metodológicos, ou procedimentais, visados pelo currículo são habilidades e regras decorrentes, sugeridos em cada unidade como matéria para construção, reflexão, correção e aplicação.

Já os temas partem de conceitos e questões historicamente relevantes para as diversas áreas da Filosofia:

K Antropologia Filosófica – o homem como ser racional, afetivo e cultural, como indivíduo e ser social.

K Metafísica – mundo, natureza, essência e aparência das coisas.

K Axiologia – valores, preferências (em especial éticos e estéticos).

K Ética – bem, justiça, certo e errado, escolhas e regras.

K Política – autoridade, liberdade, direitos e deveres.

K Estética – beleza, gosto, arte e prazer.

K Teoria do Conhecimento ou Epistemologia – razão, verdade, ideias, pensar, conhecer e saber.

K Lógica – coerência, contradição e regras para o raciocínio.

K Filosofia da Linguagem ou Analítica – significados e jogos de linguagem.Das mesmas áreas, surgem as perguntas a serem propostas ou elaboradas para compor a discussão

filosófica dos temas, bem como a serem inseridas pelo professor durante a mediação que irá realizar, com vistas ao desenvolvimento e à aplicação das habilidades já mencionadas.

Vejamos alguns exemplos:

K perguntas metafísicas – buscam essências e modos de ser, para elaborar conceitos – O que é natureza? O que é uma pessoa? O que é liberdade?

K perguntas éticas – questionam valores morais subjacentes a juízos e ações – Essa é uma boa atitude? É certo desrespeitar essa regra?

K perguntas estéticas – tratam da sensibilidade e dos valores subjacentes ao gosto e à arte – O que faz uma coisa ser bela? Qual o papel da arte?

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organização didática

K perguntas epistemológicas – referem-se aos processos de pensar e conhecer – Os pensa-mentos são reais? Como surgem nossas ideias?

K perguntas lógicas – questionam a coerência formal do raciocínio – Isso não contradiz o que foi dito antes? Essa explicação foi clara? O que se pode concluir dessa afirmação?

Professor como mediadorO trabalho do professor nesta proposta de ensino de Filosofia, na qual a prática dialógica é a estrutura

metodológica predominante, possui caráter significativo. O diálogo deve ser construído em sala por meio da postura do professor, que assume, principalmente nas atividades reflexivas, o papel de mediador da produção filosófica. A mediação é a presença do professor que acompanha todos os raciocínios e ordena as falas, alimenta a discussão com novas perguntas, solicita exemplos para esclarecer opiniões, questiona pensamentos confusos e incompletos, apresenta contraexemplos para ampliar pontos de vista, procura manter a turma concentrada no que está sendo dito e no tema que está sendo trabalhado.

Dentro dessas condições – de uma aula dialógica –, a opinião do professor sobre o assunto não deve aparecer, pois o mediador deve construir com os alunos a reflexão, colocando que é o desenvolvi-mento dos pensamentos dos alunos que constrói o “novo” pensamento. A inovação aqui surge como a oportunidade de se garantir que são os alunos, por meio de seus raciocínios, análises, questionamentos e conclusões, que formulam sua opinião sobre o que está sendo discutido. A contribuição do professor é dar o suporte metodológico para esse filosofar a partir de sua postura consciente e capaz de perceber as habilidades que estão sendo trabalhadas.

Ainda sobre a condução da discussão filosófica, é importante assegurar que todos os participantes da turma tenham voz e vez. A constituição de regras para o diálogo torna-se fundamental para que a parti-cipação seja garantida, incentivando os alunos que falam menos ou os que receiam expor-se oralmente bem como demonstrando a importância de ouvir e formar uma comunidade onde todas as vozes têm o mesmo peso. Dessa forma, é possível perceber que a investigação é aberta, o que não significa aceitar todas as colocações sem interferência. Pensamentos que são simplesmente ecos do senso comum devem ser questionados, e mesmo opiniões sem justificativas devem ser orientadas para a busca de argumentos.

Essa mediação, portanto, apresenta-se rigorosa no que diz respeito à seriedade dos critérios de um diálogo filosófico mesmo que o tema seja descontraído, como a alegria ou a amizade, e o próprio processo dialógico seja lúdico.

Cada volume possui uma unidade de trabalho, a qual será desenvolvida por meio de textos, ima-gens, discussões, atividades de sensibilização e de aprofundamento. Esses elementos poderão constar em algumas seções, cujo objetivo é subsidiar as diferentes etapas do desenvolvimento de determinado tema. A seguir, apresentamos tais seções e as etapas que elas favorecem.

A fim de proporcionar múltiplas abordagens de um tema e aprofundar a reflexão sobre ele, são apresentados elementos correspondentes às diversas linguagens artísticas, tais como: pinturas, fotografias, músicas, poemas e outros.

Visando à relação entre os conteúdos e a prática social apresentam-se variados textos, fatos, recursos e atividades com esse enfoque. O objetivo é gerar atitudes de participação e cidadania, individuais ou coletivas, sobre as reflexões em sala de aula.

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Busca a visão dos alunos sobre assuntos ligados à adolescência e aos temas filosóficos do volume. Promovendo oportunidades de reflexão, expressão e au-toconhecimento, utilizam-se recursos e atividades, tais como: debate, pesquisa, produção escrita, levantamento de problemas e proposta de soluções viáveis.

São apresentadas imagens, além de textos, histórias e outros recursos, com os objetivos de despertar o interesse dos alunos para um tema filosófico (sen-sibilização) ou mostrar novos aspectos deste, a fim de enriquecer a reflexão, ampliando as possibilidades de abordagem (aprofundamento).

Propõe atividades lúdicas para sensibilização e reflexão, tais como: brincadeiras, jogos, desenhos, etc. O objetivo é aproximar os alunos da Filosofia por meio de vivências agradáveis e experiências significativas.

Contemplando a sistematização dos conhecimentos, propõem-se o registro das reflexões realizadas, a elaboração de conceitos, a expressão de opiniões sustentadas por argumentos, entre outras possibilidades. Requer a produção individual ou coletiva, principalmente por meio da escrita.

Possibilita a abordagem de um tema a partir de tópicos de teorias que fazem parte da história do pensamento filosófico. Eles são apresentados brevemente, em linguagem acessível, de forma contextualizada e não dogmática, a fim de despertar a reflexão dos alunos.

São propostas atividades reflexivas para serem realizadas em equipes, como preparação e/ou alternativas para o diálogo filosófico.

* Nos diálogos filosóficos, sob a mediação do professor, a turma poderá desenvolver habilidades cognitivas e éticas, tais como: ouvir uns aos outros, opinar, argumentar, elaborar conceitos, refletir sobre os pressupostos implícitos nas opiniões e sobre os critérios que orientam os julgamentos subjetivos.

** Prevê a integração entre conteúdos conceituais e procedimentais, com ênfase para os últimos, aos quais correspondem as habilidades cognitivas e éticas necessárias à prática do filosofar.

Pretende salientar perguntas, problemas e conceitos relacionados aos temas do volume e que merecem maior atenção dos alunos.

São propostas oportunidades de pesquisas ou entrevistas, a fim de ampliar os conhecimentos sobre o tema em questão e relacioná-los às reflexões realizadas em sala.

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A avaliação tem grande relevância nas aulas de Filosofia. Contínua e processual, deve ter cunho diagnóstico, formativo e contar com a participação dos alunos para estabelecer processos autocorretivos.

É importante que professores e alunos, juntos, avaliem, por exemplo, o modo como transcorreu uma discussão temática e que ganhos ela trouxe em termos de aprendizagem – o que implica a compreensão de conceitos e a aplicação de habilidades, bem como das regras enfatizadas.

A participação dos alunos é de grande relevância para a avaliação dos processos de ensino e apren-dizagem, tanto na elaboração de metas quanto na observação de resultados. Por exemplo: definem-se, em comum, as regras de levantar a mão para falar e ouvir uns aos outros, observando-se em que medida elas estão sendo cumpridas, ou priorizam-se as habilidades de oferecer razões e evitar contradições, verificando as dificuldades e os progressos na aplicação de tais regras.

Pesquisas, questões críticas e subjetivas, produções de textos e outros instrumentos, envolvendo oralidade e escrita, podem ser utilizados para compor a avaliação em termos de conteúdo, ou seja, da progressiva elaboração de conceitos e juízos, fundamentados em argumentos. Contudo, é preciso evitar a expectativa por “respostas certas”. Afinal, o consenso é raro em questões filosóficas, importando mais a argumentação que sustenta os pontos de vista e a clareza na exposição de conceitos.

Em vez de verificar o cumprimento de uma agenda de conteúdos e a apreensão de determinados conhecimentos, devem-se avaliar o desenvolvimento de habilidades cognitivas e éticas, os traços de um pensar crítico, criativo e cuidadoso, manifestados pelos alunos durante a abordagem dos temas, bem como a autonomia e a autocorreção de seus pensamentos.

Com base nisso, sugerimos a criação de um dossiê de cada um dos alunos ou da turma, para registrar toda a produção realizada durante o estudo dos temas – desenhos, textos, frases, entrevistas e/ou pesquisas. Além disso, as produções que tiverem caráter de maior sistematização do conheci-mento elaborado devem ficar num portfólio, individual ou coletivo, que pode ser usado para compor

Avaliação

* No primeiro volume, a seção Diálogo filosófico apresenta os princípios que deverão nortear as discussões realizadas pelos alunos em sala, ressaltando a importância do cumprimento das regras por eles estabelecidas, sob a mediação do professor. Passo a passo, tais diálogos conduzirão os alunos à busca e elaboração de conceitos, ou seja, de significados. Esse objetivo será realizado, em especial, a partir do segundo volume, embora, desde o primeiro, os alunos encontrem oportunidades para refletir sobre a questão conceitual “o que é?”.** A seção Dica filosófica está presente, com maior ênfase, nos volumes do 6º. ano, pois indica os conteúdos apresentados na programação anual sob o título Filosofar, os quais se referem aos funda-mentos metodológicos do filosofar adotados neste material.

Etapas favorecidas pelas seções K Sensibilização – encantamento e despertar da curiosidade sobre o tema.

K Interpretação e problematização de um texto ou de uma obra de arte.

K Discussão filosófica – investigação por meio de perguntas, assim como elaboração de conceitos e de argumentos ou Atividades envolvendo habilidades cognitivas e éticas.

K Atividades de aprofundamento sobre o tema discutido – produção escrita, novas leituras, pesquisa, entre outras.

K Metacognição – avaliação participativa do conhecimento elaborado e do processo cognitivo--dialógico realizado numa aula (Exemplos: O que aprendemos e o que ainda queremos aprender sobre o tema? Como participamos, ouvimos, argumentamos e o que pode ser melhorado?).

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a avaliação. Convencionalmente, as orientações para o professor, inseridas em cada volume, utilizam as formas dossiê da turma e portfólio da turma, quando houver indicação de inserir determinada produção em um ou em outro.

Programação anual

temas abordados sob aspectos sensíveis e inteligíveis

1°. volume 2°. volume

1. Olhar ao redor• Olhar: observar, admirar, refletir• Filosofar: perguntas, pressupostos, argumentos, critérios• Admirar a natureza: conceito de natureza, beleza na

natureza• Admirar a beleza: conceito e critérios para definir o

belo, coisas belas

2. Olhares diferentes• Olhares: olhar e pensar, imaginação e criatividade• Filosofar: hipóteses e relações• Pensamentos belos: o belo na arte, sonhos, possível

e impossível

temas abordados sob aspectos subjetivos e sociais

3°. volume 4°. volume

3. Olhar para dentro• Sentir: prazer e desprazer, sentimentos belos• Filosofar: contradições• Alegria: tipos, causas e consequências• Autoestima: gostar-se, cuidar-se, reconhecer suas

qualidades e potenciais

4. Olhar para quem me olha• Olhar como os outros olham: empatia, amizade• Filosofar: compreender e respeitar• Atitudes belas: solidariedade• Comunidade: respeito à diversidade, beleza cultural

temas abordados sob aspectos sensíveis e inteligíveis

1°. volume 2°. volume

1. Descobrir o que existe• Percepção: diversidade e mudança• Realidade e aparência: tudo é como parece?, ficção• Formas de existência: natural, artificial, cultural,

virtual

2. Descobrir o que sabemos• Verdade: pontos de vista, provas• Formas de saber: experiência, observação, raciocínio• Sabedoria: dúvidas, crenças, certezas, enganos• Pensamento cooperativo: falibilidade, autocorreção

temas abordados sob aspectos subjetivos e sociais

3°. volume 4°. volume

3. Descobrir quem somos• Individualidade: consciência de existir, experiências

pessoais, personalidade• Autenticidade: o que significa ser você mesmo?,

sinceridade

4. Descobrir como julgamos• Gosto: o que nos agrada?, o que depende da moda?• Comportamento: influências do grupo social• Julgamentos: estereótipos e preconceitos

6º. ano: FILOSOFIA E BELEZA (Admirar)

7º. ano: FILOSOFIA E VERDADE (Saber)

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referências

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais – ética. 3. ed. Brasília: MEC, 2001.

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LORIERI, Marcos Antonio. Filosofia: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. (Docência em formação: Ensino Fundamental).

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referências para o professor sobre História da filosofia

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ABRÃO, B. S. História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2004. (Os pensadores).

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2003. (v. 1-7).